Exercícios de Mec Analítica
Exercícios de Mec Analítica
Exercícios de Mec Analítica
∗
Rafael Wagner
8 de dezembro de 2017
1 Questão 1
Mostre que a geodésica na superfície de um cilíndro circular reto é um segmento de
hélice.
Essa é uma questão típica para introdução ao cálculo variacional. Provavelmente está relacionado
ao Capítulo 6 do livro do Marion & Thornton que é um capítulo introdutório sobre essas noções
de princípio variacional (que futuramente converge à noção de princípio de minimização e na
formulação hamiltoniana da mecânica clássica). Vale a leitura, desse capítulo em especial, das
seções 6.2-6.4. No caso ele define de modo bastante simples o que é uma geodésica no começo do
exemplo 6.4 e eu cito aqui
A geodesic is a line that represents the shortest path between any two points when the path
is restricted to a particular surface.
Isso significa que nós temos que obter a equação da curva que corresponda à menor distância
entre dois pontos na superfície de um cilíndro circular reto. Geodésicas podem então ser obtidas a
partir de um processo de minimização de funcionais relacionados às superfícies de cada problema
em questão. Definimos uma curva γ(z) := (R, θ(z), z) ∈ R3 qualquer com domínio [zi , zf ] ⊂ R
inteiramente contida num cilindro circular de raio R. As coordenadas estão parametrizadas com
relação à coordenada z de modo que
seja o comprimento de arco elementar em coordenadas cilíndricas que mede o comprimento da curva
γ. Então o funcional relacionado à medida dessa curva, no intervalo definido no seu domínio, será
definido por (θ0 := dθ/dz)
∗
[email protected]
1
v !
Z zf
u 2
u
t R2 dθ
S[γ] := + 1 dz
zi dz
R2 θ 0
d
√ =0
dz R2 θ02 + 1
Portanto nós encontramos que a parte de dentro é uma constante que nós vamos chamar de C.
Desse modo nós teremos que
R2 θ 0
√ = C =⇒
R2 θ02 + 1
R4 θ02 = C 2 (R2 θ02 + 1) =⇒
R4 θ02 − C 2 R2 θ02 = C 2 =⇒
02 C2
θ = 4 (1)
R − C 2 R2
Onde nós colocamos a condição C 6= ±R. Assim, nós vamos ter que
dθ(z) C/R
=√ ⇐⇒ θ(z) = AC,R z + B
dz R2 − C 2
Onde B é uma constante de integração e AC,R := √RC/R 2 −C 2 . A integração foi muito simples dado
que nós só temos uma constante e nenhuma dependência em z. Com isso nós concluímos que
a curva que minimiza a distância entre dois pontos contidos num cilindro circular de raio R é
a curva γ(z) := (R, AC,R z + B, z) para z ∈ [zi , zf ]. Note que a curva está parametrizada em
coordenadas cilíndricas o que significa que se passarmos para coordenadas cartesianas nós vamos
ter a parametrização para a curva γ por:
C 2 = R4 − C 2 R2
2
√
Se tomarmos R := 2C então C 2 = 16C 4 − 4C 4 = 12C 4 =⇒ 1 = 12C 2 =⇒ C = ±1/ 12.
Tomemos C > 0 pois R = 2C > 0 logo temos algumas condições impostas na solução para termos
uma solução particular que pode ser construida graficamente
1 1
γ(z) = √ cos(z), √ sin(z), z , z ∈ [0, 10] (2)
3 3
Se construirmos graficamente essa curva resulta na figura abaixo:
3
2 Questão 2
Mostre que a geodésica em uma superfície esférica é um grande círculo, isto é, um
circulo cujo centro está no centro da esfera.
Essa questão é muito parecida com a questão anterior e é clássica. No Marion é um exemplo
(Seção com exemplo 6.4 pg. 217 Marion & Thornton), no livro do professor Nivaldo Lemos este
corresponde também a um exemplo (Seção com exemplo 2.1.2, pg. 47, capítulo 2), enfim, esse é
um exercício bastante conhecido e vamos resolvê-lo o mais detalhadamente aqui. Sabemos que o
comprimento de arco elementar em coordenadas esféricas se escreve como
Nós queremos que esse S[γ] seja o menor possível de modo que esse seja um processo de mini-
mização. Nesse caso nós vamos ter então que as Equações de Euler-Lagrange são uma condição
necessária para que isso ocorra de modo que nós teremos que, se a curva é a menor possível
(uma geodésica pensando na definição dada pelo livro Marion & Thornton citada na Questão 1) é
necessário que seja satisfeito que
!
d sin2 (θ)ϕ0
p =0
dθ 1 + sin2 (θ)ϕ02
logo nós vamos ter que, seja A uma constante qualquer de integração, valerá que (definimos
ϕ0 := dϕ/dθ e à := 1/A)
q
sin (θ)ϕ = A 1 + sin2 (θ)ϕ02 ⇐⇒ Ã sin4 (θ)ϕ0 = 1 + sin2 (θ)ϕ02
2 0
logo
1 1 1 csc4 (θ)
ϕ02 = = =
à sin4 (θ) − sin2 (θ) sin4 (θ) à − sin21(θ) à − csc2 (θ)
Com isso nós temos a seguinte equação diferencial que pode ser resolvida com integração direta
4
csc2 (θ)
Z
ϕ= q dθ
2
à − csc (θ)
E nós colocamos a constante de integração de ϕ dentro da constante de integração dessa nova
integral. Então nós teremos que fazendo a substituição csc2 (θ) = 1 + cot2 (θ) então teremos que
z = Mx + Ny (8)
√ √
Onde M, N são constantes (M := K sin(C) e N := K cos(C)). Essa é a equação geral de
um plano que passa pela origem. Isso significa que teremos que a curva é a intersecção de duas
superfícies: uma esfera e um plano que passa pela origem, i.e., um grande círculo. Uma outra
maneira de ver que se trata de um grande círculo (altamente moderna) é plotar essa curva em três
dimensões utilizando a solução dada para ϕ = ϕ(θ).
5
Figura 2: Curva parametrizada dada pela Equação paramétrica (em θ) de (9)
Podemos também utilizar que a união da superfície com a solução resulta na curva desejada.
Teremos que a superfície é mostrado na imagem, junto com a equação que define a solução (8)
Figura 3: As duas superfícies do problema, a superfície que a partícula está restrita a caminhas
(vínculo) e a superfície solução do problema de minimização
Se deixarmos somente a parte que é intersecção dessas duas superfícies teremos a curva abaixo
6
Figura 4: Apenas a curva que define a intersecção das duas superfícies da figura anterior
3 Questão 3
Considere a luz passando de um meio de índice de refração n1 para outro de índice
de refração n2 . Utilize o princípio de Fermat para minimizar o tempo de percurso da
luz e deduza a lei da refração: n1 sin(θ1 ) = n2 sin(θ2 )
Essa questão é muito clássica de exercícios de mecânica como introdução ao princípio variacional
e ao princípio de minima ação de Hamilton. Nós temos que a distância entre dois pontos no plano
cartesiano pode ser descrita pela integral (notando que uma curva pode ser parametrizada nesse
caso por γ := {(x, y(x)) ∈ R2 , x ∈ R})
q
Z xf 1 + dy 2
dx
S[y] := dx (10)
xi v
Onde nós simplesmente usamos que a distância elementar escrita em coordenadas cartesianas é
ds2 = dx2 + dy 2
Com isso nós temos que minimizar o funcional S[y] e nós temos (y 0 (x) := dy/dx).
p
L(x, y, y 0 ) := 1 + y 02
Nesse caso, para que tenhamos um tempo mínimo (L/v é o tempo que leva para a luz sair de um
ponto à outro), precisamos que o funcional seja tal que satisfaça as equações de Euler-Lagrange.
7
Note que tiramos v do funcional mas ele depende de y pois que a luz muda de meio então podemos
escrever que v = c/n(y) onde c é de fato uma constante e n(y) varia com o meio. Mas note também
que num mesmo meio esse valor é constante. Então vamos considerar primeiro para um meio geral
n(y) = n, de modo que teremos L da forma acima. Com isso nós obtemos que as equações de
Euler-Lagrange resultam
!
d y0
p =0 (11)
dx 1 + y 02
Agora basta notar que na nossa maneira de descrever nós temos como foi exposto abaixo no
diagrama
θ1
n1 x
n2
θ2
cot(θ1 )
= cos(θ1 ) = A
csc(θ1 )
Onde A é uma constante com relação à x. Se nós colocarmos como anteriormente nós vamos ter,
manipulando de modo inteligente
√
1 − sin2 (θ1 ) = A2 =⇒ sin(θ1 ) = 1 − A2 := Ã
8
n1
sin(θ1 ) = Ã = constante
c
Agora notamos que deve ser verdade para a mesma constante à que
n2
sin(θ2 ) = Ã
c
pois (11) vale para todo x real. Apenas tomamos o cuidado de notar que n = n(y) e então
separamos os y e a equação se mantém a mesma. Assim nós teremos que vale
4 Questão 4
Seja dado um sistema mecânico com um grau de liberdade cuja lagrangiana é L =
L(q, q̇, t). (a) Para esse sistema, enuncie de forma clara o princípio da mínima ação.
(b)Mostre que, admitindo-se a validade das Equações de Euler-Lagrange, concluímos
que o princípio da mínima ação também é válido.
o princípio de mínima ação diz que a minimização do funcional A faz com que obtenhamos as
equações de movimento corretas para a descrição do sistema mecânico relacionado à lagrangiana
L. Em símbolos, dizemos que A é minimizado quando δA = 0 (um abuso de linguagem, isso
significa na verdade que estamos encontrando um extremo do funcional A). Então, fazer δA = 0
vai implicar em obtermos as equações que descrevem corretamente o movimento do sistema; esse
é o conteúdo do princípio de mínima ação.
9
Onde esse valor λ > 0 é um valor real que seja pequeno, ou seja, λ << 1. Na verdade ele pode
ser arbitrário entretanto eventualmente vamos tomar o limite (sobre números reais) de λ → 0.
Definimos então a variação δA como o diferencial de Gâteaux do funcional A na direção de q.
Podemos expandir L em série de Taylor com respeito à λ em torno de λ = 0 de modo que teremos
∂L ∂L
L(t, q + λϕ, q̇ + λϕ̇) = L(t, q, q̇) + λ ϕ(t) + ϕ̇(t) + O(λn ) (17)
∂q ∂ q̇
Onde n ≥ 2. Integrando em ambos os lados nós temos que (deprezando os termos de ordens
maiores )
Z tf
∂L ∂L
A[q + λϕ] = A[q] + λ ϕ(t) + ϕ̇(t) dt (18)
ti ∂q ∂ q̇
Se fizermos agora uma integral por partes para desaparecer com o termo de ϕ̇ nós teremos
Z tf
A[q + λϕ] − A[q] ∂L d ∂L
= + ϕ(t)dt (19)
λ ti ∂q dt ∂ q̇
Nós temos então que
Z tf
∂L d ∂L
δA = + ϕ(t)dt (20)
ti ∂q dt ∂ q̇
Se tivermos que as equações de Euler-Lagrange são válidas então nós vamos ter imediatamente
que δA = 0.
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5 Questão 7
Um sistema "pêndulo-mola"consiste de uma massa m amarrada num dos extremos
de uma mola de massa desprezível e constante k cujo outro extremo está fixo a um
suporte. Quando a mola está suspensa livremente, seu comprimento é L. Assuma que
o movimento ocorre no plano vertical.
Figura 6: Apenas fixamos a mola sem colocar peso nenhum no sistema. A mola tem um peso que
consideramos muito menor (desprezível com relação à) que a massa m. L é o comprimento dessa
mola nessa situação.
Em seguida colocamos um peso m acoplado à mola de modo que ela se deforma e esperamos até
11
que a mola pare de vibrar. Medimos esse tamanho novo da mola r0 > L com relação ao centro de
massa do peso. Esse é o comprimento de repouso e ele é dado pela relação
Figura 7: Acoplamos uma massa m à mola de modo que ela se deforma e esperamos que ela
permaneça estável (parada) com relação à nossa origem O.
Onde colocamos o sistema Oxy como y para cima e x para a direita com relação ao leitor. Nesse
caso r0 fica
mg
r0 = +L (22)
k
Agora vamos parametrizar as coordenadas da massa m. Para isso fazemos as considerações contidas
na Figura 8
12
Figura 8: Como definimos as nossas coordenadas e como elas estão relacionadas às coordenadas
polares usuais (r, θ). Desculpe pelo desenho meio tosco.
Note que quando o pêndulo faz seu movimento existem movimentos radiais e eles são tais que r
a posição instantânea pode ser maior ou menor do que r0 a posição do equilíbrio. Pode ser, caso
a força da mola seja suficientemente grande, que inclusive r seja menor do que L. O desenho da
Figura 8 representa apenas uma situação possível.
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Com isso temos a seguinte parametrização:
(
x = r sin(θ) = (ρ + r0 ) sin(θ)
(23)
y = −r cos(θ) = −(ρ + r0 ) cos(θ)
Donde concluímos que
(
ẋ = ρ̇ sin(θ) + ρθ̇ cos(θ) + r0 θ̇ cos(θ)
(24)
ẏ = −ρ̇ cos(θ) + ρθ̇ sin(θ) + r0 θ̇ sin(θ)
Quadrando essas equações temos que
ẋ2 = ρ̇2 sin2 (θ) + 2ρρ̇θ̇ sin(θ) cos(θ) + 2r0 ρ̇θ̇ sin(θ) cos(θ) + ρ2 θ̇2 cos2 (θ) + 2r0 ρθ̇2 cos2 (θ) + r02 θ̇2 cos2 (θ)
ẏ 2 = ρ̇2 cos2 (θ) − 2ρρ̇θ̇ cos(θ) sin(θ) − 2r0 ρ̇θ̇ cos(θ) sin(θ) + ρ2 θ̇2 sin2 (θ) + 2r0 ρθ̇2 sin2 (θ) + r02 θ̇2 sin2 (θ)
m 2 k
L= ρ̇ + θ̇2 ρ2 + θ̇2 r02 + 2r0 ρθ̇2 − (ρ + r0 − L)2 + mg(ρ + r0 ) cos(θ) (30)
2 2
Notamos que a nossa L = L(θ, θ̇, ρ, ρ̇) de modo que teremos duas equações de Euler-Lagrange para
obter:
14
Equação em ρ:
Equação em θ:
d ∂L
= mρ2 θ̈ + 2mρρ̇θ̇ + mr02 θ̈ + 2mr0 ρθ̈ + 2mr0 ρ̇θ̇ = mθ̈(ρ + r0 )2 + 2mρ̇θ̇(ρ + r0 ) (36)
dt ∂ θ̇
Concluímos que
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(b)Resolva as equações do movimento para aproximações de pequenos ângulos e pe-
quenos deslocamentos em relação à posição de equilíbrio. Considere condições iniciais
θ0 = 0, ρ0 = A, ρ̇0 = 0 e θ̇0 = gB/r0 com A e B duas constantes.
Agora temos que fazer as seguintes aproximações. Primeiro que θ << 1 e então teremos que
cos(θ) = 1 e que sin(θ) = θ. Teremos também que como os movimentos são pequenos devemos ter
que ρ << r0 e que ρ̇ e θ̇ também são pequenos, donde quaisquer termos quadráticos podem ser
negligenciados.
Fazendo essas apriximações nas equações de Euler-Lagrange obtidas teremos que
θ̇2 ≈0
mρ̈ − mθ̇2 (ρ + r0 ) + k(ρ + r0 − L) − mg cos(θ) = 0 ⇒
cos(θ)≈1
mρ̈ + k(ρ + r0 − L) − mg cos(θ) = 0 ⇒
mρ̈ + k(ρ + r0 − L) − mg = 0
Agora usamos que
mg
k(ρ + r0 − L) = k(ρ + ) = kρ + mg (39)
k
Logo
(39)
⇒ mρ̈ + kρ = 0 (40)
A solução dessa equação de movimento harmônico é dada por
αρ cos(0) = A (43)
Portanto teremos que
ρ̇θ̇≈0
θ̈(ρ + r0 ) + 2ρ̇θ̇ + g sin(θ) = 0 ⇒
ρ<<r0
θ̈(ρ + r0 ) + g sin(θ) = 0 ⇒
sin(θ)≈θ
θ̈r0 + g sin(θ) = 0 ⇒
θ̈r0 + gθ = 0
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Com isso teremos que θ também satisfaz uma equação harmônica. Agora para um valor ω̃0 =
p
g/r0 teremos que
αθ cos(δθ ) = 0 (46)
O que nos implica que δθ = ±π/2 é solução. Note que a solução positiva não pode ocorrer por
causa da segunda condição inicial (o seno é uma função ímpar) e nós temos que B > 0.
αθ = ω̃0 (48)
Temos então que
r r
g r π
θ(t) = B cos t− (49)
r0 r0 2
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