Art20190701 03
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0073
ESTADO DE GOIÁS
PODER JUDICIÁRIO
COMARCA DE INHUMAS
JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E CRIMINAL
SENTENÇA
Trata-se de Ação de Indenização por Danos Materiais e Morais proposta por ________
________ em face de TELEFÔNICA BRASIL S/A.
Extrai-se dos autos que o autor alega que em 24/11/2017, recebeu uma mensagem via
aplicativo WhatsApp, às 15h29min, no grupo “Hum Associados”, do integrante Dr. ________,
através do seu número cadastrado ([62]________), o qual indagou aos colegas sobre quem
utilizava o aplicativo do Banco do Brasil.
Narra que a transferência bancária solicitada por __________ era destinada a contas de
terceiros, sob a justificativa que o seu limite de transferências do dia havia excedido e, mediante
solicitação do interlocutor, realizou 03 (três) transferências, nos valores de R$ 1.000,00 (mil reais),
R$ 950,00 (novecentos e cinquenta reais) e a última no valor de R$ 550,00 (quinhentos e cinquenta
reais), perfazendo o total de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais).
Verbera que seu colega ________, por sua vez, realizou apenas uma transferência
bancária no valor de R$ 1.000,00 (mil reais) e logo suspeitou se tratar de um golpe, diante de outros
pedidos de transferências, razão pela qual não atendeu as solicitações.
Aduz, ainda, que ________, desconfiado, tentou ligar para o interlocutor a fim de verificar
a autenticidade dos pedidos, mas suas ligações eram recusadas e caiam diretamente na caixa
postal, razão pela qual ligou para a esposa de ________, Sra. _______________ (__________),
que lhe informou que o pedido de transferência não partiu de seu esposo, porque este se
encontrava em sua fazenda, noutra cidade.
Alega que a linha telefônica de __________ era vinculada à operadora Vivo S/A, ora
promovida, a qual é, portanto, responsável pela segurança do terminal telefônico, sendo que a
mencionada fraude somente poderia ter êxito com o apoio de funcionários da operadora, conforme
noticiado em matérias jornalísticas colacionadas à exordial.
Logo, por consequência lógica, tem-se que o valor pretendido a título de reparação por
dano material perfaz a quantia de R$2.500,00 (dois mil e quinhentos reais), sendo o valor
remanescente atribuído à causa (R$26.120,00 – vinte e seis mil cento e vinte reais) o suposto
montante pleiteado pelo dano moral sofrido.
Nesse sentido, esclareço que o §3º do artigo 292, do Código de Processo Civil permite
a correção de ofício e por arbitramento do valor da causa. Da mesma forma, o art. 322, §2º do
mesmo compêndio estabelece que “a interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação
e observará o princípio da boa-fé”.
Pois bem.
Nos termos do artigo 186, do Código Civil, “aquele que, por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral,
comete ato ilícito”.
No mesmo sentido, o artigo 927, do Código Civil, prescreve que “aquele que por ato
ilícito causar dano a outrem fica obrigado a repará-lo”.
Por acreditarem se tratar de um pedido feito por alguém de seu convívio e confiança, as
vítimas realizam o pagamento solicitado e somente depois descobrem que a linha telefônica estava
em posse de meliantes.
In casu, restou demonstrado que o chip do Sr. __________ foi desabilitado de seu
aparelho
e habilitado no aparelho de um estelionatário, o qual instalou o aplicativo de mensagens descrito e
continuou a ação criminosa, lesando os contatos da linha telefônica clonada/hackeada, dentre eles,
o reclamante.
Nesse diapasão, em que pese a demandada não ter relação ou ingerência com o
aplicativo WhatsApp, verifica-se que o uso da plataforma pelo fraudador só foi possível mediante
intervenção de funcionário da operadora, que viabilizou a troca do chip e o acesso aos dados do
cliente (__________), sem tomar as cautelas necessárias ou eventualmente em conluio com o
estelionatário.
Tal condição, aliás, poderia ser facilmente comprovada pela própria requerida, pois
certamente possui acesso às movimentações realizadas na linha telefônica na data e horário
descritos, especialmente se tratando da desabilitação do chip em determinado aparelho e
habilitação em outro, bem como qual de seus prepostos realizou a operação.
Por outro turno, não se desincumbiu a reclamada do ônus de comprovar que tal troca
existiu e foi legítima, devendo, portanto, ser responsabilizada pela conduta perpetrada.
Saliento que a culpa aquiliana não se limita a alcançar quem, por ato próprio, venha a
ferir bem alheio, mas abrange também o dever de vigilância sobre objetos e coisas por parte do
proprietário, bem como sobre empregados, prepostos ou pessoas dependentes.
A culpa in eligendo, por sua vez, é oriunda da má escolha do agente de seus empregados,
representantes, prepostos ou terceiros contratados, os quais, por inaptidão, inabilidade, negligência
ou imprudência, acabam ocasionando prejuízos a terceiros.
Assim sendo, se a requerida não adotou todas as cautelas necessárias para evitar a
fraude, assumiu o risco de produzir o resultado lesivo que é plenamente imputado à atividade que
desempenha.
E apenas por apreço ao debate, esclareço que não há na presente hipótese eventual
culpa concorrente do autor (vítima), como fez acreditar a defesa da ré em sede de audiência una,
porque o requerente foi induzido a acreditar que conversava com seu colega de trabalho, advogado,
uma vez que o estelionatário foi cuidadoso, inclusive, com o modo de escrever as mensagens, sem
erros de ortografia.
Portanto, merece o autor ser reparado pelo dano material sofrido, no importe em que foi
lesado, ou seja, em R$2.500,00 (dois mil e quinhentos reais).
É, no entanto, pacífico que cabe esta hercúlea tarefa ao magistrado, valendo-se sempre
do bom senso e das regras da experiência, para apreender dos autos todo o sofrimento suportado.
De todo o modo, o juiz não é obrigado a deferir a integralidade do valor pleiteado pela
parte, cuja estipulação deve atender as peculiaridades de cada caso concreto.
É certo que o valor não deve ser tão alto a ponto de enriquecer a parte, nem tão baixo
que se torne inexpressivo ante a capacidade econômica do ofensor.
Assim, tenho que o valor de R$8.000,00 (oito mil reais) afigura-se apto a compensar o
dano sofrido, bem como a desestimular futuras práticas assemelhadas por parte do ente
demandado.