Imigração Italiana - Os Dalla Vecchia
Imigração Italiana - Os Dalla Vecchia
Imigração Italiana - Os Dalla Vecchia
OS DALLA VECCHIA
RS 1875-1890
PELOTAS - 2011
A nossos pais
A nossos filhos
A nossos netos
Aos que nos deram raízes
E esperanças
APRESENTAÇÃO
5
ÍNDICE
APRESENTAÇÃO........................................................................5
7
2.2. Luis Serafini Dalla Vecchia..........................................113
2.3. João Serafini Dalla Vecchia..........................................114
2.4. Carlos Serafini Dalla Vecchia.......................................114
2.5. Pedro Serafini Dalla Vecchia........................................115
2.6. Maria Serafini Dalla Vecchia........................................117
2.7. Luiza Serafini Dalla Vecchia.........................................117
2.8. Rosina Serafini Dalla Vecchia.......................................118
2.9. Pierina Serafini Dalla Vecchia.......................................118
2.10. Ermínia Serafini Dalla Vecchia....................................119
2.11. Ricardo Serafini Dalla Vecchia....................................119
2.12. Antonieta Serafini Dalla Vecchia.................................119
2.13 e 2.14. Gêmeas...............................................................119
BIBLIOGRAFIA...............................................................223
9
INTRODUÇÃO
A FAMÍLIA DALLA VECCHIA
11
Desembarcaram, portanto, em Porto Alegre,
Domenica (viúva), Ângelo com 18 anos e Pietro com
14.
1 – EM VENEZA
6
Guia de Italia, pg 93.
7
Guia de Itália pg. 94
14
também por habitantes de Ravena, Altinum e Aquiléia
que lá mantinham ancoradouros e um comércio costeiro.
Somente no século V, entretanto, iniciou-se o
estabelecimento de novos grupos na área. Em virtude
das invasões bárbaras, elementos de Aquiléia e
localidades vizinhas refugiaram-se nas várias ilhotas,
organizando-se um tipo de comunidade ainda muito
rudimentar. Segundo Cassiodoro (Favius Magnus
Aurelius Cassiodorus Senator; (480-575), em 537-538
viviam esses habitantes em casas semelhantes a „ninhos
de pássaros aquáticos‟ , gozando de liberdade,
autonomia e igualdade entre si. A autoridade política
estava confiada a um „tribuno marítimo‟, que zelava
pelo monopólio dos transportes na região, enfrentando
italianos e bizantinos”8
11
Mirador, Venezia, pg 11344
16
1.3 Entre os francos e Bizâncio.
12
Mirador, Veneza, pg 11344 e 11345.
13
Guia de Italia, pg 94.
19
Veneza e suas gôndolas
1.4 República
20
a ratificar as decisões do conselho dos sábios que cerca
o doge, perdendo assim a sua iniciativa legislativa.
Nesse mesmo ano aparece a “comuna de Veneza”,
instituição que agrupava as mais ricas famílias patrícias,
dispostas a coibir qualquer intervenção no governo
ducal por parte dos não-nobres.
Além disso, os sábios, eleitos nos diversos
bairros da cidade, passam a constituir um conselho
permanente adjudicado ao doge, emitindo deliberação
com efeito executivo, em contraposição ao conselho
privado ducal. Nessas duas novas instituições já se
delineiam o grande conselho e o pequeno conselho”.14
14
Mirador, pg 11345.
21
política, enquanto o doge se via obrigado a obedecer a
uma severa legislação restritiva de seus poderes” 15
16
As Cruzadas, são uma guerra “santa” que a Europa feudal e, para interesse
também do comércio em mãos dos judeus, empreenderá contra os islamitas
árabes e turcos que dominavam os lugares santos de Jerusalém e arredores. Isto
tudo sob o efeito do medo do fim do mundo no virar do primeiro para o
segundo milênio. A Primeira Cruzada foi em 1096, a oitava e última em 1270.
23
constitucional, agregando 35 membros em 1200, 430
em 1261, 577 em 1276, até ultrapassar mil membros no
séc. XIV. Já em 1232 manifestava-se como poder
legislativo autônomo, e em 1250 seus atos tinham
precedência sobre os do doge e do Pequeno Conselho.
17
Mirador, pg. 11345.
18
Nesta conspiração deveriam estar envolvidos os Dalla Vecchia que,
perseguidos, se exilam no continente perto de Schio e Vicenza.
24
reação criou-se o Conselho dos Dez encarregado de
descobrir e julgar os crimes contra a segurança do
Estado. Em 1335 ele se fez permanente com poderes
acima de todos os Conselhos e do próprio doge. Assim
em 1354 o doge Marino Faliero (1274-1355)
aproveitando o descontentamento popular pela guerra
contra Gênova pretende restaurar a autoridade ducal e se
fazer príncipe: o Conselho dos Dez o prende e decapita
na Praça de São Marcos.
25
hegemonia, do poder e da riqueza do império marítimo
veneziano”.19
22
“os homens foram feitos por Deus: uns para trabalhar, outros para rezar e
outros para guerrear e mandar”.
27
Constantinopola na 4a. cruzada em 1204
introduz Veneza em seu primeiro apogeu
comercial
c) “A partir do século XII Veneza já possuía o
controle absoluto do Adriático, com estações e
entrepostos em vários pontos. Gradativamente
seus contatos se estenderam de Constantinopla
ao Mar Negro, Criméia e Mar de Azov.
Possuíam entrepostos no litoral da Ásia Menor,
no Sul do Egeu, na costa e interior da Síria,
assim como no Oriente Muçulmano. Para o
Norte, atingiam Iconium e Armênia. A
administração das colônias ficava a cargo de
um chefe em Constantinopla, um visconde ou
bailio na Síria e um cônsul nomeado pela
República em Alexandria.
24
Mirador, pg. 11347.
25
Mirador, pg. 11347.
30
Sevilha ou Lisboa, para onde haviam se deslocado
a maioria dos banqueiros judeus que haviam
enriquecido em Veneza, Gênova e Florença. Aí
esses produtos serão bem mais baratos. Assim
Veneza fica fora da rota para o comércio com o
Oriente e o Mediterrâneo que, durante dois mil
anos fora o grande mar do comércio e da cultura é
substituído pelo Atlântico, tendo à frente Portugal
e depois Espanha.
32
transforma-se em potência européia de
segunda categoria.
1669 Veneza perde Creta
1718 paz de Passarowitz consagra o fim da
influência veneziana no Oriente.
1797 pela paz de Campofórmio, o Vêneto e
Veneza conquistados por Napoleão, ficarão
sob o domínio austríaco ou francês até 1814.
26
Interessante observar um episódio típico de cidade comercial como Veneza
traduzido em sua vida noturna e sexual. Por influência da Igreja, no auge da
atividade comercial (Sec. XIII), as prostitutas que serviam os comerciantes
marítimos em Veneza, foram expulsas da cidade por significar imoralidade.
Assim elas se refugiaram em Pádova. Pouco tempo depois, porém, eclodiu em
Veneza uma situação ainda mais constrangedora para os parâmetros da
moralidade: por falta de prostitutas os marinheiros visitantes mantinham
relações sexuais com rapazes (e o homossexualismo grassou). Para evitar esse
escândalo o Grande Conselho decidiu chamar de volta as prostitutas e ficar
com o “mal menor”. Contactadas e organizadas as prostitutas exigiram como
condição para seu retorno: seguro saúde, aposentadoria vitalícia pagas pelo
Estado. E Veneza aceitou. Para anunciar que as “mulheres” estavam de volta
exigiu-se que elas, no alto de uma ponte mais visível do Canal Grande
expusessem seus seios nus. Essa ponte até hoje é conhecida como a ponte
“delle tete”.
33
A Itália com os Alpes no alto e seus limites a leste
34
2. EM VICENZA
36
Vicenza – Palazzo Ducale – Os Dalla Vecchia ofereceram
materiais para a sua construção, especialmente pedras talhadas.
37
Ruth Zanotelli ante o palácio Ducale em Vicenza
39
Jandir João Dalla Vecchia Zanotelli – em Vicenza
40
Vicenza - o centro da cidade
41
Após 1700 o avanço dos estudos e da ciência
agrária incentivada pelos iluministas vênetos voltará sua
atenção novamente para a agricultura, com novos
métodos, novas técnicas e melhor produtividade. A
racionalização da atividade agrária recobrará força.
27
A lei 379/00 de 14 de dezembro de 2000 permite aos descendentes de
trentinos emigrados, igualdade com os descendentes de outras regiões da Itália
quanto à aquisição de cidadania italiana.
42
uma das cidades italianas com mais monumentos
arquitetônicos e com um núcleo histórico invejável28
28
( cf. Guia de Itália, pg 123).
43
da mão-morta (de comunidades religiosas) e outros
inalienáveis” 29
29
IANNI, Homens sem Paz, Rio, Civilização Brasileira, 2a. edição, 1972, pg.
75.
30
FROSI-MIORANZA, Imigração italiana no Nordeste do Rio Grande do Sul,
POA, Movimento, 1975 pg.12.
31
( 400 campos vicentinos= 1545 pérticas censitárias; 10 pérticas censitárias=
1 hectare)
44
de 40, 212 com menos de 60, 211 com menos de 100,
141 com menos de 200, 78 com menos de 400”32
2.2.2 - A Educação
38
Cf. P. Beltrão ...
39
AZEVEDO, 1975, pg. 52.
48
3. A EMIGRAÇÃO.
49
Milão, Turim ao norte da Itália; a deficiência alimentar
gerando epidemias como as da pelagra40.
40
Pelagra é uma doença causada pela falta de niacina (ácido nicotínico ou
vitamina B ou vitamina PP) ou do aminoácido essencial triptofano e conhecida
por seus três sintomas que começam com a letra D. São eles: o aparecimento
de uma cor escura na pele (Dermatite, que fica seca e áspera. Mais tarde
aparecem Diarreias e alterações mentais (Demência); também conhecida como
doença dos três D's. O nome 'vitamina PP' faz referência à ação Preventiva à
Pelagra.
50
A pressão das comunas por livrar-se do encargo
cada vez maior dos pobres que não conseguiam se
manter com suas próprias mãos, e do interesse de alguns
em comprar pequenas frações de terra por preço
irrisório, também estimulavam a emigração.
41
Para elucidar melhor o contexto de vida dos emigrantes Dalla Vecchia desde
Vicenza no final do século XIX remetemos ao nosso trabalho Zanotelli, a Saga
de um Imigrante Trentino que analisa a vida ao norte da Itália naquela época.
Acrescente-se que, pelo fato de o Vêneto integrar o novo Estado italiano desde
1866, sobre os pobres agricultores da região recaíram novos impostos e
gravames que tornaram a vida ainda mais difícil.
42
O texto a seguir, sobre o Brasil que aguardava os imigrantes é extraído, com
pequenas modificações, da obra Zanotelli, A Saga de Um Imigrante Trentino,
de autoria de Jandir João Zanotelli.
51
esperados, novas terras e novos fiéis cristãos), o Brasil
não contava nos planos dos „descobridores‟ senão como
terra de especiarias (pau brasil para pinturas...) e que
necessitava ser defendida dos países rivais e
concorrentes, como a França, por exemplo, cujo rei, ao
ser notificado por Portugal para que respeitasse as terras
brasileiras que eram de sua propriedade, propriedade
essa decorrente da descoberta, respondeu que não
aceitava a divisão do mundo entre Portugal e Espanha
patrocinada pelo papa porque desconhecia que o
testamento de Adão e Eva assim tivesse dividido o
mundo.
53
O Brasil colonial vai concentrar sua monocultura
no açúcar até por volta de 1657. Os holandeses,43 que
invadiram o Brasil em 1620, aprenderam a técnica da
produção do açúcar e, saindo em 1657, vão produzí-lo
nas Antilhas. Portugal já não tem, então, a quem vender
o açúcar. E nem quem o refine e comercialize na
Europa. Lembremos que sempre foi a Holanda quem
refinava e comercializava o açúcar português para a
Europa e que , com o refino e a venda lucrava mais do
que Portugal com a produção e transporte até a Holanda.
Agora Holanda e Inglaterra dominam o comércio
mundial44 e Holanda domina a produção e
comercialização também do açúcar.
43
É importante lembrar que Portugal desde 1580 estava sob o domínio
espanhol (O Brasil, portanto, como colônia portuguesa estava sob o domínio da
Espanha). Os Países Baixos (Bélgica e Holanda) que também eram domínio
espanhol lutavam por sua independência. Para atacar a Espanha invadem o
Brasil em 1620 e aqui ficam, especialmente em Pernambuco, até 1657.
Holanda e Bélgica se independizam pelo tratado de Westfália (1648) que põe
fim às guerras de religião. Os holandeses que deveriam, portanto, ter deixado o
Brasil em 1648, só saem daqui em 1657, depois das lutas que Portugal lhes
move.
44
Em 1654 Portugal , por um tratado secreto, vai permitir à Inglaterra vender
todas as suas manufaturas (e a Inglaterra era a „oficina do mundo‟) em
Portugal e suas colônias e Portugal só poderá vender para a Inglaterra e suas
colônias vinho, azeite e bacalhau. O maior produto de Portugal ( o açúcar ) não
poderá ser vendido nos domínios ingleses. Este tratado será ratificado pelo de
Methuen em 1703.
54
considerando que a Espanha havia esgotado suas minas
do México e do Peru.
45
Depois da expulsão dos jesuítas ( mais de 500 do Brasil, 2.000 da América
Latina) em 1759 e 1767, realizada pelo iluminismo liberal de Pombal, primeiro
ministro português, o ensino primário no Brasil, especialmente, ficou um caos.
Eles eram os melhores professores, eles tinham os melhores manuais e
métodos, agora o ensino decairá. D. João VI, rei de Portugal veio com a mãe
D. Maria (a louca), avisado que foi pelo exército inglês de que a França
invadiria Portugal, veio trazido por navios ingleses e com um ministro inglês
encarregado das relações comerciais com a Inglaterra. Portugal era
praticamente uma colônia inglesa. Ao chegar ao Rio de Janeiro inúmeras
famílias foram desalojadas de suas casas para dar lugar aos 15.000 nobres que
chegavam. O Rio só tinha 45.000 habitantes.
ficava livre o senhor daquele encargo. E livre o escravo para morrer de fome e
miséria.
58
É interessante observar que a independência do
Brasil (1822) não modificará em nada a condição dos
escravos bem como da maioria da população brasileira.
Apenas mudam os donos do poder.
47
citado por Maranhão et alii in Brasil História, vol 2 pg. 273 .
59
anos para compensar o custo de sua criação. Em 1888 é,
finalmente, declarada extinta a escravidão no Brasil. A
escravidão formal foi extinta, as condições de
escravidão e semi-escravidão perduram, para alguns, até
os dias de hoje.
48
De BONI e COSTA, 1979, pg 27.
60
Por outro lado os proprietários de latifúndios
(obtidos, ou por doação do Governo ou por estratagemas
cartoriais), subdividem suas propriedades em colônias e
vendem-nas aos colonos. Ao longo do rio dos Sinos
nascem Mundo Novo em 1847 (Taquara), Padre Eterno
em1850, Sapiranga e Picada Verão. Em 1846 Bom
Princípio, em 1848 Caí, em 1857 Montenegro e, por fim
Nova Petrópolis. Ao longo do rio Taquari, em 1853
surgem Lageado e Estrela, em 1868 Teotônia. A
Província cria em 1849 Santa Cruz e, em 1855 Santo
Ângelo (Agudo). Rheinghanz , em 1858 cria a colônia
de S. Lourenço, perto de Pelotas.
50
De BONI e COSTA, R .1979: 28 e 63.
51
FRANCESCHINI in GROSSELLI, 1987, pg 240.
62
matas, difíceis para a criação do gado, ficariam os
imigrantes. Essa lei possibilitava também a
naturalização voluntária dos imigrantes, após dois anos
de permanência no país e os dispensava das obrigações
militares.
52
GROSSELLI, 1987, pg. 241
53
CARNEIRO in GROSSELLI, 1987, pg. 238.
64
adequados à colonização européia; a proximidade das
colônias aos latifúndios que desestimulava os colonos e
impedia o desenvolvimento da pequena propriedade”54
54
GROSSELLI, 1987, 238.
55
De BONI e COSTA, pg. 29
65
desenvolvimento desses países europeus. Como se o
progresso deles não estivesse ligado diretamente às
condições de troca de nossa matéria prima (paga a
preços cada vez mais aviltantes e fixados por eles) com
os produtos industrializados por eles (e cujos preços
cada vez mais elevados eram também fixados por eles).
Como se nosso modelo colonial, latifundiário,
exportador e escravagista fosse o mesmo que o da
Europa.
57
Os colonos açorianos que foram trazidos por Portugal para Santa Catarina e
depois para o Rio Grande do Sul a partir de 1746, para povoar de uma vez essa
região reivindicada pelos castelhanos, localizaram-se na Barra do Rio Grande e
São José do Norte e, após o ataque de Ceballos de 1763 deslocaram-se para
Viamão e Porto dos Casais (Porto Alegre), para Rio Pardo, Triunfo e Taquari,
alguns para Pelotas. Foram ao todo cerca de 5.000 colonos. Lembremos que a
população do RS em 1800 era de cerca de 60.000 habitantes.
67
Império brasileiro dentro do Estado de Cristandade e na
institucionalização do padroado. O Sul do Brasil
poderia transformar-se numa zona dominada pelos
protestantes.
63
GROSSELLI, 1987 pg 179.
72
Enquanto eram demarcados os primeiros 500 lotes
em Conde d‟Eu a Província do Rio Grande do Sul
contratava com Caetano Pinto a entrada de 40.000
imigrantes no espaço de 10 anos ao preço de 60.000 réis
para cada adulto e 25.000 réis para cada menor de 10
anos. Estes valores eram a diferença do preço da
passagem Europa-EU e Europa-Brasil. Essa vantagem
visava compensar o atrativo que os EU ofereciam e
assim procurar captar imigrantes para o Brasil.
64
A data oficial da imigração italiana é 20 de maio de 1875. Antes , porém ,
devem ter chegado alguns italianos e trentinos (então austríacos). A Província
do RS registra de 1859 a 1875 o ingresso de 729 italianos provindos de
Montevideo e Buenos Aires. Por outro lado, em Pelotas, RS, registra-se a
entrada dos primeiros imigrantes italianos provindos de Montevideo em 1843-
44, certamente por influência de Garibaldi que, nesta época havida deixado a
luta Farroupilha e com 1.000 cabeças de gado como pagamento vai vendê-las
em Montevideo. Em Montevideo é contratado para defender Montevideo
contra Buenos Aires, criando então seu exército de camisas vermelhas
73
Relação das principais colônias criadas no RS após
187065
74
Colônias Criação Mudanças Emancip. Municípios
s Atuais
Conde d‟Eu 18 1875 - Imper. 1884 Garibaldi -
(Prov) 7 Carlos
5 Barbosa
Dona 24-5- 1875 - Imper. Bento
Izabel 18751875 1884 Gonçalves
(Prov)
Fundos Nova 11-3-1887 Caxias do Su -
Palmira 1875
- ( Colônia 1884 Flores da
Imper) Caxias Cunha –
Farroupilha -
S. Marcos
Encantado 1882 1915 Encantado -
(partic) Arroio do
Meio (1934)
-Nova Brescia
(1964)-
Guaporé
(1886) - Anta
Gorda (1964)
-Ilópolis
(1964) -
Capitão
(1992) -
Arvorezinha
(1964)
Relvado
(1992)
Silveira Martins 1877 1882 Silveira
- (Imperial) Martins
Alfredo Chaves 1884 Veranópolis -
(Imperial) Nova Prata -
Nova Bassano
- Cotiporã
Antônio 1885 Antônio Prado
Prado -
Imperial
Mariana 1888 Mariana
Pimentel Pimentel
(Imperial)
75
Guaporé 1892 1886 Guaporé -
(Partic) Muçum -
Serafina
Correa
Vila Nova de 1888 Vila Nova
Sto. Antônio
(Imperial)
Barão do 1888 Triunfo
Triunfo
(Imperial)
Jaguari 1889 Jaguari
(Imp)
Ernesto Alves 1890
(Imperial)
Marques do 1891 S. José do
Herval Herval
(Repúbl)
Marau 1892 Marau - Vila
(Partic) Maria
Nova Araçá 1892 Nova Araçá
(Particular)
Ciríaco 1892 Ciríaco
(Partic.)
Paraí 1892 Parai
(Partic.)
Davi Canabarro 1892 Davi
(Particular) Canabarro
Erechim 1908 Erechim -
(Partic.) Aratiba -
Itatiba do Sul
- Três Arroios
- Jacutinga -
Vila Áurea -
Viadutos -
Guarama
Severiano de
Almeida
Marcelino 1908 Marcelino
Ramos Ramos
(Particular)
76
Um império (o único na América; os outros
países da América se independizaram como repúblicas)
que produzia gado, café e algodão, sendo que no
passado tinha produzido açúcar e ouro para Portugal; em
latifúndios escravagistas e monocultores.
Independente politicamente de Portugal desde
1822, vivia um neo-colonialismo capitalista dependente
especialmente da Inglaterra. Uma oligarquia rural lutava
para manter a escravatura e uma burguesia liberal
pretendia eliminá-la para adequar-se aos parâmetros do
capitalismo inglês e do liberalismo francês...
A religião oficial do Império era o catolicismo
compreendido no horizonte do Estado de Cristandade e
nas concordatas do padroado. O liberalismo positivista e
maçônico já levantava suas teses: ensino público e não
particular, separação de Estado e Igreja, subordinação da
Religião ao Estado (bispos foram presos porque
acompanharam o papa na condenação à maçonaria),
anti-clericalismo, a religião tida como mentalidade
obscurantista e que não permite a „liberdade‟
preconizada pela Revolução Francesa; as ciências
„positivas‟ como única forma legítima de conhecimento;
a República (e não a monarquia) como única forma
democrática de governo...
77
3.4 A VIAGEM- para o Brasil –
para o RS –
para Dona Isabel (linha Janzen)
66
Beniamino Dalla Vecchia, nascido aos 5/3/1819, em Montecchio Maggiore,
nas proximidades de Montemezzo, província de Vicenza, era filho de Ângelo
Dalla Vecchia e de Orsola Pozzan (conforme consta do Livro de Casamentos
da Paróquia S. Maria e S. Vitole pg. 41, número 3). Era neto de Antônio Dalla
Vecchia e de Maddalena Colla.Beniamino casou com Domenica Dalla Barba
nascida em 26/8/1820, em Montemezzo, Vicenza.
78
anticlerical, à semelhança das repúblicas e do
liberalismo na Europa.
67
Entre os descendentes comentou-se que Domenica, por ignorância e medo de
que alguém pudesse acusá-la da morte do marido, pôs nos bolsos do falecido o
dinheiro razoável com que vinham e, assim, perdeu-se no mar a chance de uma
nova vida mais tranqüila na América.
79
Dona Isabel, que depois se chamará Bento Gonçalves e
hoje pertencente ao município de Farroupilha .68
4. NO BRASIL –
68
ZANOTELLI, 1997, pg. 103. A Linha Janzen, com sua Vila Janzen e sua
colônia hoje pertence ao município de Farroupilha.
80
os primeiros meses, como já dissemos. Pinhões
abundantes, caça e pesca, raízes e frutos do mato
aliviavam a situação.
81
7/6/1880 sendo celebrante o P. Giovanni Menegoto69.
Angela era filha de Carlo Serafini e Maria Danda
naturais de Chiampo, Vicenza. Tiveram 15 filhos, sendo
que duas gêmeas faleceram pequenas e um menino
também morreu criança. Viúvo de Angela, Ângelo
casou, depois, com Fortunata Grazziola e com ela teve
mais 10 filhos, como se especifica na árvore
genealógica.
69
Livro de Casamentos n.1 pg. 84 n. 34 Paróquia S. Bento de D. Izabela
(Bento Gonçalves). “Ângelo Dalla Vecchia, fu Beniamino e Domenica Dalla
Barba - de Montemezzo, Vicenza - nascido em 6.2.1860, residente na linha
Janzen, 143 da Izabela, contadino. Spozato a 7.6.1880 com Angela Serafini
figlia de Carlo Serafini e Maria Danda nascida em Chiampo, Vicenza em
2.8.1859, agricultora, menor. Pe. Giovanni Menegoto”.
82
Fertilíssimas várzeas do Rio Taquari entre Encantado e Roca
Sales
83
Igreja de Encantado em 1933. In FERRi, 100 anos pg. 61.
84
com Páscoa Censi com quem teve outros 11 filhos,
como se verá.
70
Sirva como exemplo: Beniamino ou Benjamim, o filho primogênito de
Ângelo que, em 1932 sai de Encantado e fixa-se em Ponte Serrada, município
de Cruzeiro (atual Joaçaba) no oeste de Santa Catarina..
88
Atualmente, no contexto de modernização e
urbanização do Brasil, os Dalla Vecchia, já
não podem ser identificados como
prioritariamente agricultores, muito embora os
Dalla Vecchia trazem na alma e nos calos das
mãos o gosto rude da terra. Dentre eles há
muitos intelectuais, sacerdotes, profissionais
liberais, artistas, comerciantes, políticos,
industriais, pecuaristas...71
71
Benjamim Dalla Vecchia, filho mais velho de Ângelo Dalla Vecchia e
Angela Serafini, casado com Rosa Pretto, nascido em Linha Janzen, Bento
Gonçalves, e tendo migrado para Jacarezinho no final do século XIX, saiu de
Jacarezinho (Auxiliadora) para Xapecozinho, município de Cruzeiro ( hoje
Joaçaba) em 1932. Acompanhado de seus filhos (eram 11), sendo que as filhas
freiras Maria, Ana e Pierina, ficaram nos conventos do RS. Com toda a
mudança carregada num pequeno caminhão Chevrolet, num Domingo à tarde
de abril, deixa Jacarezinho e sobe até Passo Fundo onde chega 3 a.feira ao meio
dia (A distância entre essas localidades não superava a 200 kms). Toma o trem
(Maria Fumaça) 4a. feira às 22 hs., e, passando por Marcelino Ramos, chega
em Cruzeiro na 5a. feira à tardinha. Na 6a. feira, com outro caminhão
Chevrolet, viaja (90 kms.) para Ponte Serrada, chegando lá Sábado à tarde. Na
memória desses migrantes permanece viva até hoje a imagem da chuva, dos
atoleiros, da quase inviabilidade das estradas e picadas.
De 9 de abril até final de maio de 1932, a família de Benjamim, é
hospedada em casa de João Dalla Vecchia (de alcunha João Sapateiro) que era
irmão de Benjamim. Era casado com Maria Spezato e já residia há alguns anos
em Ponte Serrada. Dias depois da chegada, João e Antônio filhos de
Benjamim, acompanhados do tio João (Sapateiro) deslocam-se até
Xapecozinho onde já residia Ângelo Dalla Vecchia (filho de Pedro Dalla
Vecchia), casado com Leonora (Nori) Dellazzari e que já residia ali há alguns
anos, para localizarem a gleba de Benjamim e construirem nela uma casa.
Benjamim comprara as terras da Cia. Ângelo de Carli em Caxias do Sul que,
por sua vez adaquirira a área (Fazenda Ressaca) de Zeferino de Almeida
Bueno, um grande fazendeiro de Palmas. Pronta a nova moradia (uma casa de
madeira de 9,50m por 6 ms.) para lá vai a família de Benjamim e ali fica até
1971.Benjamim morre em Xapecozinho em setembro de 1949. Os filhos casam
e se dispersam pelo Brasil. Antônio, em 1971 se desloca para a cidade de
Anchieta. Duas observações que Antônio guardou até hoje: por muitos anos era
grande a saudade do Rio Grande (as comunicações eram dificílimas); os
89
Em tudo, o trabalho dos Dalla Vecchia lembra o
lema : esser Paron
90
confundem, o caráter comunitário original faz falta para
encontrar saídas à participação política, não só para
estas famílias, mas para as perspectivas da nacionalidade
brasileira.
91
Aspectos de Jacarezinho, Encantado.
92
Em Jacarezinho, entre a Igreja de S. Carlos e a
de N.S. Auxiliadora, numa casa semelhante a essa, em
frente a qual estão situados os descendentes de Zanotelli
Dalla Vecchia nasceram João Zanotelli, seu filho Leonel
Zanotelli e o neto Jandir João Dalla Vecchia Zanotelli.
93
A cachoeira do rio Xapecozinho em Santa Catarina dividia as
terras de Ângelo DV filho de Pedro (acima) e moviam seu
alambique, das de Benjamim Serafini DV(abaixo).
94
Antonio, solidário nas dívidas do irmão Ângelo, pagou
as dívidas com o suor de todos os filhos. Cinquenta
anos depois, Angelo, retornou ao Pinhão, para onde
havia migrado Antônio, reencontrou o irmão Antonio
para uma reconciliação.
95
Igreja de Xapecozinho.
O primeiro à direita é Antonio Luiz Dalla Vecchia filho de
Benjamim DV, este filho de Ângelo. À esquerda, o último é
Ângelo Dalla Vecchia filho de Pedro DV.
96
Xapecozinho– casa de Antonio Dalla Vecchia –construída por
elel próprio. Terras novas desafios e auto-determinação, e a
capacidade técnica aprendida junto aos pais, abrem espaço.
97
`Filhos de Antonio: Fiorindo, Faustino, Antonio,
Dosolina, Sírio, Agostinho e Vendelino..
98
Igreja de Barra do Rio Azul, município de Erechim, RS, para
onde emigraram Dalla Vecchia em 1938. Ruth, revendo raízes.
99
Em Barra do Rio Azul, na casa de Maria Dadalt Dalla
Vecchia casada com Emílio Bagatini aparecem, sentados: Maria
Dadalt Dalla Vecchia e Emílio Bagatini com a neta. De pé:
Itelvina Dalla Vecchia Zanotelli e Jandir João DV Zanotelli, netos
de Antônio e bisnetos de Pedro Dalla Barba DV.
100
A linha Pinhão – Barra do Rio Azul – vista do alto –. Para aqui
Antônio Dalla Vecchia e Francisca Dadalt migraram em 1938. Na
foto Itelvina neta de Antônio e seu marido Basílio Michelon
101
102
II - DESCENDENTES DE ANGELO DALLA
BARBA DALLA VECCHIA
103
Família de Angelo Dalla Barba Dalla Vecchia e Fortunata
Graziola: José, Augusto, Ângela, Maria Luiza, Inês, Gema,
Dosolina, Josefina, Romana e Jorge. Fortunata, sentada, está com
uma criança no colo e Ângelo com suas botas características.
104
A seguir, os filhos de Ângelo com a respectiva
descendência:
105
Família de Benjamim Serafini Dalla Vecchia cc Rosa Pretto.
Irmã Pierina (Santos SP) Ir. Maria (Encantado RS), Ir. Ana
(Casca RS), com a mãe Rosa Pretto Dalla Vecchia, sendo que as
irmãs são netas de Angelo Dalla Vecchia
106
A viúva Rosa Pretto com os netos em Xapecozinho, Santa
Catarina.
108
Ao lado de Padre Foscalo está José Pretto (Tita Galina), pai de
Rosa casada com Benjamim Serafini Dalla Vecchia
109
Fiorindo Bocchi Dalla Vecchia (à esquerda) cc Adelaide Capeletti
e seus oito filhos
110
Regina, Ir. Pierina, Ir. Faustino e Ir. Rosina todos Dalla Vecchia.
111
Ércules cc com Edna de Mello. Os filhos:Alexander de Mello
Dalla Vecchia cc Selma Valkíria Alves Dalla Vecchia com a filha
112
2. -Luiz Serafini Dalla Vecchia, casou com
Fortunata Bagatini, em Encantado e teve 7 filhos: 1.
Albino cc Ítala Pretto; 2. Clemente cc Gema Zanotta; 3.
Guerino cc Cândida De Conto; 4. Rafael cc Messia
Lorenzon; 5. Maria cc Guido de Conto; 6. Madalena cc
Martin Pederiva; 7. Ângelo falecido pequeno.
(Em ordem, da esquerda: Maria, Fortunata, Madalena,
Albino, Luis e Angelo)
113
3-João Serafini Dalla Vecchia, casado com Maria
Spezato, era sapateiro na Linha Macaquinho,
Encantado. Teve dificuldades para saldar dívidas de
empréstimo e foi morar em Ponte Serrada SC. Teve 3
filhos: 1. Belarmino; 2. Angelo (Angelin); 3.
Gomercindo
116
Pais e irmãos da esposa Leonel Dalla Vecchia,Elza Zanata ; fotos
da família de Leonel, filho de Pedro e Neto de Angelo Serafini
Dalla Vecchia.
117
8.Rosina Serafini Dalla Vecchia, irmã carlista,
trabalhava em hospital. Faleceu em Jundiaí SP
118
10.Ermínia Serafini Dalla Vecchia casada com
Eurico Fontana e seus três filhos: Deosene, Erasmo e
Mercedes.
119
DESCENDENTES DE ANGELO DALLA BARBA
DALLA VECCHIA CASADO COM FORTUNATA
GRAZZIOLA
121
Acima, fotos da família de Leonel Dalla Vecchia
122
Família de Martin Pederiva casado com DV
123
III = DESCENDENTES DE PEDRO
DALLA BARBA DALLA
VECCHIA
Reordemos que a família Dalla Vecchia provém
da cidade e da República de Veneza. No século XIII
desloca-se para o interior de Vicenza, localizando-se nas
montanhas desde Schio, Lê Rocchete e Montemezzo.
124
Beniamino é filho de Ângelo Colla Dalla Vecchia
e de Orsola Pozzan72. Ângelo tinha sete (7) irmãos:
Rosa, Maddalena, Verônica, Palma Oliva, Giovanni,
Cornélio e Pietro Luigi.
72
Livro de Casamentos da Paróquia Santa Maria e S. Vitola pg. 41, nº 3
(Montemezzo, Itália)
73
Beniamino nasceu em 05/03/1819 em Montemezzo, Montechi Maggiore –
Vicenza Itália e morreu no mar em 1878
74
Domenica nasceu em 26 de agosto de 1820 e o casamento com Beniamino
aconteceu em 23/02/1859. Cf. Livro 1 Casamentos da Paróquia Santo Antonio
de Bento Gonçalves RS (Izabela) pg 84, nº 34. Conforme tb. Registro do
Estado Civil da Paróquia de S. Bartolomeo, em Montemezzo de Sovizzo dos
anos de 1849 a 1870 nº 2.
75
Ângelo nasceu em 06/02/1860 em Montecchi Maggiore, Montemezzo,
Vicenza Itália e faleceu em 05/08/1946 em Jacarezinho, Auxiliadora,
Encantado RS onde está sepultado.
76
Pietro, nasceu em Montemezzo, Vicenza, em 25 de fevereiro de 1864 e
faleceu em Jacarezinho, Auxiliadora, em 05/11/1940.
125
Pedro Dalla Barba Dalla Vecchia, irmão de Ângelo,
casou com Catarina Censi77 e com ela teve 3 filhos:
77
Pedro casou com (Catarina) Luzia Censi filha de
Francesco Censi e Catharina Maziero, em 11 de fevereiro de
1888, em Encantado, casamento, “intra missam” presidido pelo
padre João Menegotto, sendo testemunhas Ezichiel Conzatti e
João Batista Rossi conforme Livro 1 de Casamentos de
Encantado pg. 76, nº10. Viúvo, casou com a irmã de Luzia Censi,
Páscoa, nascida em 23 de maio de 1876 e falecida em 19 de julho
de 1942
126
1.Antônio c.c. Francisca Dadalt. 2. Ângelo c.c. Leonora
(Nori) Dellazzari. 3. Catarina c.c. Pedro Dellazzari.
127
Pedro era músico, agricultor, carpinteiro e muito
respeitado em todas estas profissões. Dirigia o coral da
capela, participava do coral de Encantado. O altar da
Igreja de Encantado foi produzido e esculpido por
Pedro. Os instrumentos de trabalho também foram
criados por ele.
128
O ancinho é também obra de Pedro.
129
A pá, de cedro, para joeirar o feijão, feitura original de Pedro
78
Em sociedade com Antonio, Angelo construiu um moinho movido a água
nos altos da Sagrada Família. Este moinho depois foi vendido a Giacomo
Cristani para onde eu (Jandir) ia montado em meu burrinho, com um saco (60
kg) de milho ou trigo para moer e trazer farinha, farelo e semolina. A cada saco
de milho retornava cerca de 50 kg de farinha e 4 de farelo. A cada saco de
trigo bom, cerca de 45 kg de farinha, cinco a sete kg de semolina e 5 ou 6 kg
de farelo. Pagava-se a moagem em dinheiro (1.500 réis) ou descontava-se o
equivalente em farinha. Quando Angelo migrou para Xapecozinho SC, c oube
a Antonio liquidar as Liquidadas as dívidas restantes do moinho. Honradas as
dívidas, com o alambique, Antonio, deixa as ”terras velhas” de Encantado e
vai, em 1938, para Pinhão –Aratiba com toda a família para dívidas tentar nova
sorte (em “terras novas”)
132
3 Catarina Censi Dalla Vecchia casou com Pedro
Dellazari e viveu na linha Sagrada Família, em
Encantado e teve 8 filhos: Albino, Severino, Luiza cc
Antenor Valandro, Inês cc Bernardo Bagatini, Teresinha
cc Balduíno Berté, Catarina, Maria cc Avelino Barbieri
e Adelaide cc -Laste.
133
5 .Luiz Censi Dalla
Vecchia, casado com
Marta De Conto, fixou
residência na Linha São
Luiz, em Encantado (seus
descendentes foram para
Descanso SC ou Nova
Bréscia RS) e teve 12
filhos: 1. Adolfina cc Jandir
Nieckel; 2. Ciro cc Raquel
Dellazzari; 3. Emílio cc
Cesira Berté; 4. Adelino cc
Ana Dellazzari; 5. Vinícios
cc Neusa Dellazzari; 6.
Deonilo cc Schena; 7. Gino;
8. Demétrio; 9. Olindo cc
Barbieri; 10. Ana; 11. Zélia;
12. Davide
136
Família de Antônio Vicenzi Dalla Vecchia e Francisca Dadalt-
137
138
A família de Antônio Censi Dalla Vecchia em 1918 com os filhos
José, Albino João, Ana e Maria.
142
João Dadalt Dalla Vecchia, casado com Maria Bagatini e seus
filhos.Casou em Encantado e precedeu o pai indo para as terras
novas da Linha Pinhão em Aratiba, então Erechim, em 1937.
143
Maria Dadalt Dalla
Vecchia, casada com Emílio
Bagatini em Encantado em 9 de
setembro de 1939, dias antes de
seu pai Antônio ir para Pinhão-
Aratiba, teve 11 filhos: 1. Irino
cc Roselita Albertoni; 2. Olir cc
Lurdes Rigo; 3. Valdir cc Ana
Pavan; 4. Teresinha (+ criança);
5.Jovita cc Genuíno Serraglio; 6.
Dilce (freira); 7. Flavina cc
Eusébio Muraro; 8. Jacir cc
Vilma Chaquine; 9. Valcir; 10.
Neodir cc Salete Strapasson; 11.
Zélia cc Ezílio Fabiani.
Casou, no dia 9 de setembro de
1938, 15 dias depois de Leonel e
Ana. Uma semana depois
Antônio e Francisca iriam morar
no Pinhão. O pai de Emílio
morreu assassinado na Barra do
Jacarezinho, por questões de
terras. Emílio era amigo de cartas
e noitadas com Leonel
Zanotelli...
144
Ana Dadalt Dalla Vecchia, casada com Leonel
Agostini Zanotelli em Encantado, residiu depois em
Linha Pinhão, Bentevi (Aratiba), e depois retornou para
Encantado, Soledade e Canoas RS, tendo 11 filhos: 1.
Jandir cc Ruth Machado Ávila; 2. Geni (+ criança); 3.
Gino cc Helena Schmit; 4. Irma cc Marcial Nardin; 5.
Itelvina cc Basílio Michelon; 6. Ilva cc José Queiroz; 7.
Castilo cc Rosa Xavier e, viúvo casou com Neiva
Teresinha Pertile; 8. Clasi cc Carlos Pagnussatt; 9. Olir
cc Gisele Barbosa; 10. Lírio cc Gislaine Barbosa; 11.
Dinasir cc Maria Inês Pagnussatt.
145
José Dadalt Dalla
Vecchia cc Amélia.
Casou no Pinhão,
morou nas cabeceiras
da Linha Pinhão. O
fruto do trabalho e das
terras vendidas
empregou em
sociedade com
Ângelo na Barra do
Rio Novo e, no
insucesso da
sociedade, comprou
terra e alambique no
Saltinho, onde
faleceu.
146
Rosa Dadalt Dalla
Vecchia, casou em
Encantado com José
Frigeri e teve 7
filhos: 1. Vilson cc
Élide Fachini; 2.
Valdir; 3. Vani; 4.
Volmir; 5. Valmor;
6. Vladis; 7. Vilma.
Morou na Linha
Anita, em
Encantado. Depois
foi morar em
Jacarezinho, onde
faleceu. Pequeno
comerciante, foi
tropeiro e
agricultor.
148
Augusto Dadalt Dalla
Vecchia, casou com Maria
Pilatti na Linha Pinhão,
Aratiba. Augusto e
Avelino herdaram as terras
dos pais para sustentá-los
ao final da vida.
Casou, viveu e morreu no
Pinhão. Teve 10 filhos: 1.
Dioclides cc Ângelo
Mezzarruba; 2.Eri cc
Lucila Hendges; 3. Egídio;
4. Valdir cc Neusa
Menegat; 5. Olir cc Neide
Minella; 6. Gentil cc Maria
Franco; 7. Rita cc Orides
Strapasson; 8. Lírio; 9.
Jair; 10 Davi.
149
Leonel Ana
151
Jandir João Dalla Vecchia Zanotelli cc
Ruth Machado Ávila
152
Dinasir e Ma.Inês Pagnussat Lírio e Gislaine Barbosa
153
4 José Censi Dalla Vecchia. Na página anterior, de pé: Ida,
Dervile, Ivo, Genuíno, Mário, Remígio e Olinda. Sentados:
Adélia, Gelindo, José, Catarina, Avelino e Jovila.
154
Ida De Conto Dalla Vecchia,
casada com Manoel Bagatini tem
10 filhos: 1. Jovila cc Aquilino
Pederiva, com 3 filhos – Graciela,
Zaquiela e Muriel; 2. Neodir cc
Irene Casaril, com 2 filhos –
Gustavo e Emanuel; 3. Lurdes cc
NNeodir Pederiva; 4. Inês cc
Jaime, com um filho André; 5.
Roni cc Solani De Conto; 6.
Ivanor; 7. Sérgio cc Marisa
Radaelli, com 2 filhos – Kely....;
8.Sônia; 9. Catarina cc Longo,
com um filho; 10. Lenira.
155
Gelindo De Conto Dalla
Vecchia, casado com Nédia
Batisti tem 5 filhos: 1.Paulo;
2. Luiz; 3. Sônia; 4. Silvana;
5. Sílvio cc ......, com dois
filhos- Hugo e Sílvio.
156
Ivo De Conto Dalla Vecchia
casado com Edi Secchi,
residente na Linha
Auxiliadora, Encantado, tem
6 filhos: 1. Clarice cc Gabriel
Diogo Hamilton, com dois
filhos – Pedro e....2. Jovir; 3.
Joacir; 4. Iraci; 5. Gilberto; 6.
Silvana.
157
Adélia De Conto Dalla Vecchia cc
Alfeu Miotto, tem 3 filhos: 1. José
Marcelo cc Valquíria e com um
filho; 2. Simone; 3. Carla.
158
159
IV– ASPECTOS IDENTITÁRIOS
DA FAMÍLIA DALLA VECCHIA
1. Organização econômica
2. O trabalho
79
Cf. Zanotelli. A Saga de um Imigrante Trentino, pg. 89 ss.
163
Assim o comando competia ao homem mais
velho. Comprar, vender, decidir o que plantar era
assunto dos homens, muito embora as mulheres dessem
sua opinião. Os trabalhos tidos como de menor
importância eram atribuídos às meninas.
Era trabalho de criança apanhar água na fonte,
abastecer de achas de lenha (cortadas pelos adultos) a
caixa (baú e assento) que ficava atrás do fogão80 e levar
recados.
Era função das meninas e mulheres cuidar da
casa, preparar a alimentação, lavar a louça no “secier”81,
lavar a roupa no arroio ou em tanques próximos à casa
quando uma fonte permitisse; cuidar das aves e da
ordenha, costurar, remendar, trançar palhas de trigo
(drezze) e, com elas, fazer chapéus e bolsas (sportole),
cuidar das flores e jardins82, cultivar verduras, legumes e
temperos na horta, cuidar das crianças ( do alimento,
higiene, vestuário, saúde, bons modos), dar afeto e
carinho, ensinar o catecismo e vigiar para que todos
cumprissem os deveres elementares de cristão (como os
de ir à missa ou à reza do terço aos domingos, confessar
seguidamente e comungar, não blasfemar etc).
80
Nos primeiros tempos, os imigrantes dependuravam as panelas em correntes
aproximando-as mais ou menos do fogo. Depois, uma chapa de ferro fundido,
sobre umas muretas de tijolos e barro, eram o “focolar”. Depois vieram os
fogões a lenha, de ferro esmaltado, com forno e caldeira para água quente.
81
O “secier” era uma pia de madeira construída com tábuas e sobre a qual
eram lavadas as louças e que servia também como mesa auxiliar da cozinha.
As águas servidas escorriam do “secier” por uma canaleta também de madeira,
para fora da cozinha e servindo de beberagem aos animais domésticos.
82
“A gente conhece o amor de uma mulher por seu marido e sua família pelo
jardim de sua casa” dizia Maria Zanotelli às filhas.
164
Além disso, e acima de tudo, a mulher também
trabalhava lado a lado com o homem na lavoura e
acompanhava-o em passeios e visitas. Dupla jornada de
trabalho? Se considerarmos que uma jornada de trabalho
ia de sol a sol, a mulher sempre tinha uma dupla
jornada.
A comemoração dos dias festivos, como armar
um pequeno presépio no Natal, também era tarefa
feminina. A honra de uma mulher consistia também em
mostrar uma casa ajardinada e florida, a alimentação
saborosa com quitutes e doces, a roupa asseada de todos
os familiares, embora fosse remendada, e uns panos
bordados que enfeitavam mesas, janelas e paredes e,
muitas vezes, com mensagens morais e religiosas tais
como: “Deus abençoe este lar”, “Nesta casa não se
blasfema” .
Para os meninos e rapazes desde cedo, além de
ajudar na lavoura, estavam reservados os trabalhos
como o manejo de bois, terneiros, porcos, cavalos. A
capina dos pomares e parreirais, a festa de amassar a
uva com os pés na época da vindima, ir ao moinho, à
venda, levar recados e, sempre que possível estar no
lombo de um cavalo, eram coisas de menino.
Um rapaz deixava de ser adolescente quando
mostrava que era capaz de lidar com a carroça, com os
bois e cavalos, e arar a terra. Para isso era necessária
força como também habilidade. Essa iniciação à vida
adulta acontecia por volta dos 15 anos.
Para o homem adulto, além do domínio de todas
as atividades econômicas da produção, do planejamento
165
do plantio, da limpeza e da colheita, dos negócios, cabia
a direção. Os cuidados com a reprodução animal,
acasalamento, parto e saúde, o abate de animais
(crianças e meninas não deveriam ver), a derrubada das
matas também eram tarefas para o homem adulto.
O sol, o suor, o cansaço e a alegria do fruto
colhido cabia a todos.
A jornada de trabalho iniciava antes de clarear o
dia e terminava depois do sol posto. Por volta das 4
horas da manhã os pais e os filhos mais velhos se
levantavam para tomar chimarrão perto do fogão a
lenha, e combinar as tarefas do dia.
Uma polenta brustolada83 na chapa do “focolare",
um pouco de salame ou queijo, uma xícara de leite ou
chá e lá se vão os trabalhadores para a lavoura. Quando
o dia amanhece já estão a postos a lavrar, a capinar... É a
hora mais fresca do dia e o trabalho rende mais.
Por volta das 9 horas um dos meninos ou meninas
que não foram à escola, leva o café para os que estão na
lavoura (geralmente a lavoura ficava no alto das
montanhas e a mais de um quilômetro de casa). O café (
la collazzione) servia também para uma pausa no
trabalho. Depois, o trabalho ia até meio dia.
Normalmente os trabalhadores não retornavam
para casa para o almoço. Este era levado à lavoura,
especialmente no tempo da colheita do trigo e do feijão.
83
Sapecada sobre a chapa do fogão. A polenta que sobrava da janta anterior e
cortada em fatias era sapecada na chapa e consumida com queijo e salame.
166
Após o almoço, assim como em casa, estiravam-
se à sombra de uma árvore e sesteavam uma boa hora. O
trabalho reiniciava por volta das 15 horas e estendia-se
até o escurecer.
Indo ao trabalho de manhã, ou retornando à noite
(a carroça carregada de mantimentos colhidos ou de
pasto para os animais) cantava-se e rezava-se. Chegados
em casa, já escuro, as meninas e moças cuidavam da
ordenha, dos pintos, das galinhas, da janta... os rapazes
da alimentação dos animais vacuns, eqüinos, suínos...
Um rápido banho para retirar o pó mais denso, e
depois, na varanda, homens e mulheres a cantar.
Canções de amor, de amor às montanhas, aos vales, à
Itália longínqua, os “mazzolin di fiori” ... canções de
vindima , canções religiosas...canções burlescas e
satíricas: “El véccio trivelin”...
Depois da janta, infalivelmente a reza do terço.
O trabalho amainava um pouco aos sábados à
tarde quando se fazia o pão para a semana, algumas
bolachas, melado, limpeza da casa e da roupa. Também
preparava-se a lenha para o fogão e o “pasto” para os
animais.84 Depois, ao entardecer o banho no arroio, tão
festejado pelos meninos.
Domingo era o dia da missa (os Dalla Vecchia
levantavam-se de madrugada para ir até Encantado), da
84
Tendo em vista que o número de animais domésticos era maior do que a
capacidade de alimentação das pastagens dos potreiros, plantava-se para eles
forrageiras diversas que eram trazidas da roça ao final do dia e mais ainda aos
sábados.
167
reza na capela, dos encontros e namoros, do jogo de
cartas e bochas bem como da “morina”85
E esta jornada e estes trabalhos estiravam-se por
toda a vida, até que as forças permitissem. E os Dalla
Vecchia eram longevos86.
A previdência social para a doença, para a
velhice, viuvez ou orfandade, diuturnamente, vinha do
trabalho e, em casos extremos, da solidariedade da
comunidade. Muitas vezes um dos filhos mais jovens
restava morando com os pais e cuidava deles na velhice.
É bom lembrar que os agricultores, no Brasil, iniciam a
ter alguns direitos sociais (como proteção à saúde,
aposentadoria por velhice, auxílio natalidade) só bem
entrada a segunda metade do século XX.
Trabalhar para que? Ora, para que?!
Trabalhar para sobreviver, para ganhar o pão com
o suor do rosto. Trabalhar porque é educativo e faz bem
(quem não trabalha e é vagabundo é mau), trabalhar
para a prosperidade da família, para capitalizar-se um
pouco, trabalhar também para alegrar os pais e merecer
seu reconhecimento e a recompensa de, ao final da
semana, realizar “aquela pescaria”...
85
A “mora” e a “morina” é um jogo de aposta na soma dos dedos
apresentados sobre a mesa pelos dois contendores que, ao mesmo tempo da
apresentação e numa velocidade incrível, gritam espalhafatosamente o número.
Um juiz controla quem faz pontos. O perdedor cede imediatamente lugar ao
vizinho. E assim segue. O perdedor paga o copo de vinho.
86
A longevidade dos Dalla Vecchia é quase proverbial. A morte para uma
familiar que não fosse criança ou acidental era lastimada enormemente quando
ocorresse abaixo dos 50 anos. Grande parte ultrapassou sobranceiramente os
80 anos, a começar com Ângelo e Pedro Dalla Vecchia.
168
Os imigrantes italianos tinham verdadeira ojeriza
aos vagabundos, identificados com escravos e negros
(“brasiliani”). Alguém que fosse observado em dias
úteis a passear ou a festejar, e o desprezo, a ironia, a
chacota caíam sobre ele: “Até parece que não tem o que
fazer”! Os assalariados, geralmente não descendentes de
italianos, eram aproximados aos vagabundos e
preguiçosos, incapazes. Tanto eram vistos como
incapazes que, se dizia, “nem tem terra própria”.
Brincar durante o trabalho ou nas horas
reservadas ao trabalho, que eram praticamente todas, era
inadmissível. Os minutos de brinquedo eram “roubados”
nos momentos em que os adultos descansavam. O
pequeno diálogo que segue e que foi real revela o que
esses “italianos” pensavam do trabalho:
À noite, depois da janta e da reza do terço,
enquanto os adultos jogavam um carteado de quatrilho,
o menino de 8 anos está brincando sob a mesa com sua
“canguinha de carretéis vazios de linha”87. O pai
pergunta:
então, meu filho, não vais estudar a lição? Tu só pensas
em brincar?
mas pai, o dia não foi feito p‟ra brincar?
tu já estás muito grande para ficar brincando como
criança.
e tu, pai, o que estás fazendo? Jogar carta é trabalhar?
87
Uma miniatura de carroça cujos rodados eram dois carretéis de linha vazios.
169
Diante do olhar severo e irado do pai, o menino
compreendeu que deveria ir para outra sala. Na verdade
esgueirou-se para a cama.
O trabalho das crianças, que eram tratadas como
pequenos adultos, deveria render quase como o dos
adultos. Os horários, os rigores, a seriedade do trabalho
eram para todos.
Pode-se imaginar o cansaço das crianças ao final
do dia. Por isso, à noite, mal terminada a janta, enquanto
se iniciava a reza do terço, cada qual de joelhos e
escorado no espaldar de uma cadeira, iam as crianças
silenciando uma a uma, caindo sentadas sobre os
calcanhares e adormecendo. Os pais insistentemente
procuravam manter acordadas as crianças e jovens para
que respondessem aos “Pai-Nossos e Ave-Marias”, mas
ao final as crianças não alcançavam uma “Ave Maria”
completa. Os cochilos, os recomeços são recordados
pelos filhos de imigrantes com hilaridade.
Para os Dalla Vecchia, o trabalho é condição
humana, ascese, meio de sobrevivência e de
capitalização, bem como caminho de salvação. Do
trabalho sempre intensivo deveria extrair-se, não só o
pão nosso de cada dia, mas também a garantia do futuro
e a melhoria de vida.
A dureza das condições de trabalho, fizeram
muitos filhos de imigrantes depois de casados,
referirem-se aos tempos de solteiro como de
“exploração intensa” por parte dos pais. Como se os
pais quisessem aproveitar a força e juventude de seus
filhos para arrumar a sua própria vida e sobrevivência.
170
Nem sempre, e sempre parcimoniosamente, os
pais ajudavam financeiramente os filhos quando estes
constituíam uma nova família. A comunidade se unia
para isso. Em mutirão, cada vizinho e parente ajudava a
constituir o pequeno dote dos cônjuges, e isto
representava um grande motivo de união comunitária.
Aos poucos e ao sucederem-se as gerações estes
costumes foram sendo modificados. O individualismo
do mercado penetrou profundamente também entre
esses filhos de imigrantes.
O sentido ascético e purificador do trabalho era
marcante entre os Dalla Vecchia. Como se, com o suor,
o corpo expelisse também os pecados. Assim o trabalho
era vivido como expiação de culpas e portanto como
castigo, como dor, como sofrimento. Um trabalho que
não importasse em dor e sofrimento não seria
considerado propriamente um trabalho. Os ferimentos
oriundos da dureza do trabalho e seu riscos, muitas
vezes exacerbados, eram mostrados especialmente pelos
rapazes e homens adultos como troféus, como
bandeiras.
O prazer, o lazer, o descanso, o feriado, o
domingo, como um intervalo entre dois trabalhos e para
dar maior produtividade e intensidade ao trabalho,
parecia, àqueles impenitentes lavradores, como se fosse
um roubo, algo tolerado mas nunca louvado e benquisto
em si mesmo. E, como não poderia deixar de ser, o
assunto das horas de folga ainda era o trabalho.
O trabalho media-se pelo rendimento, pelo
volume, pela quantidade mas também pela qualidade.
171
O trabalho como entre-ajuda era também muito
comum para os Dalla Vecchia e seus vizinhos. Por
ocasião de enfermidades que impossibilitassem a um
chefe de família trabalhar sua terra; em caso de viuvez
de uma senhora vizinha; na hora da vindima ou da
colheita do trigo, reuniam-se todos os vizinhos em
mutirão ou “puxirão” de trabalho e se ajudavam
mutuamente.
A viúva, geralmente carregada de filhos
pequenos, tinha na cooperação de seus vizinhos a
garantia do cultivo e produção de sua gleba.
Normalmente revezavam-se os vizinhos de tal forma
que em todos os dias da semana alguém estivesse
cultivando a terra da viúva ou do vizinho doente. Com
isso, era comum que essas pessoas em dificuldades
conseguissem maior volume de produto do que teriam
feito sozinhas. Esse era também um modo de
previdência e assistência social exercido pelos próprios
colonos. Ainda hoje subsistem alguns sinais desses
costumes.
Trilhar o trigo, previamente cortado e
empilhado em medas pela família, requeria o trabalho
conjunto de muitas pessoas (ao redor de 15) e isso se
fazia em mutirão. Era sempre uma festa da vizinhança.
Os meninos, especialmente, encarregados de afastar a
palha, rolavam pelos montes dela na maior algazarra.
Ao meio dia, a família anfitriã, oferecia um almoço
reforçado e regado a vinho. Assim, o trabalho era fator
decisivo de integração.
172
Festa semelhante acontecia na vindima da uva.
Colhia-se a uva com a “brítola”88, depositando os
cachos maduros em grandes cestos de vime.89 Os
rapazes carregavam as cestas da suculenta uva, para ser
amassada com o pisotear dos meninos. O suco, com as
cascas era depositado no “mastelo”, tal como se fosse
uma pipa cortada ao meio. Alguns dias, e a fermentação
separava as cascas do suco. Depois da fermentação o
suco era trasladado para uma pipa e daí, depois de
decantado, era “stravazado” para uma pipa definitiva,
onde era curtido por 3 geadas, no mínimo. E o vinho
tinha o sabor da vida. À noite, nos dias de vindima, os
vizinhos degustavam junto o suco de uva ainda não
fermentado: o vinho doce.
O parreiral, componente essencial da estrutura
produtiva da “colônia”, estava sempre num lugar
apropriado, bem ensolarado, nas proximidades da
residência, e entre muitas pedras e ladeiras. Trazer da
Itália, o maior número de variedades de parreira
possível, era a recomendação que os imigrados davam a
parentes e amigos que quisessem imigrar também.
3. Instrumentos de trabalho
90
ZANOTELLI, Jandir. Zanotelli, A saga de um imigrante trentino, pg 109.
176
O processo consistia em depositar o feijão com
vagens secas numa lona e bater sobre ele com uma vara
amarrada a outra que servia de cabo para fazer vibrar a
primeira sobre a eira. Assim não era necessário dobrar o
corpo para bater. Batidas as vagens, retirava-se a palha e
ventilava-se o feijão contra uma aragem mais forte,
como no primeiro caso.
179
4. Produção e Comércio
180
toucinhos. Do leite de vaca: queijos, requeijão ( “puina”),
natas e mil quitutes.
Da farinha do trigo: pães, massas (“agnolini”,
“tagliadele”, “bigoli”, “gnocchi”, “grostoli”,
“cappeletti”, “fregoloti”), doces, e comidas a milanesa.
O amendoim, a pipoca, o aipim, a cana de açúcar
com seu caldo (garapa) e os melados e açúcar mascavo, e
pés de moleque (as delícias das noites de inverno) tudo
era produzido pelo próprio colono.91
A erva mate, que crescia nativa e abundante,
preparada em casa e secada em carijos era de excelente
qualidade e os colonos, desde cedo, aprenderam dos
gaúchos a utilizá-la como chá e como chimarrão.
Os Dalla Vecchia sempre produziram feijão. Uma
boa colheita resultava em pouco mais de 100 sacos: 90%
para o comércio, e 10% para o consumo e para semente
da próxima safra.
O trigo com colheita previsível de cerca de 50
sacos era reservado em 50% para o consumo e 50% para
o comércio.
O milho que servia para o prato diário da polenta,
para alimento dos animais especialmente dos porcos e
galinhas, tinha pouco excedente para a venda.
As aves (galinhas, perus, faisões, patos, marrecos,
pombas, galinhas d‟Angola “faraona”) e os ovos, quando
eram vendidos, cobriam os pequenos gastos diários de
91
Zanotelli, pg. 115
181
sal, botões, linha, e temperos, alguns cadernos e lápis, e
as “lousas” para a escola...
Os suínos, no início eram todos utilizados para
alimento: carnes, embutidos, banha. Depois que surgiram
os frigoríficos (década de 1930...) um bom número de
porcos era vendido, ficava sempre uma dúzia para o
abate e utilização doméstica.
Vacas e bois raramente eram vendidos. Eram
entregues (um a cada seis meses) para o açougueiro que,
abatia e vendia ou entregava a carne aos colonos. O
animal entregue era devolvido em porções semanais.
Assim o colono sempre tinha carne fresca sem despender
dinheiro. Quando as cotas se esgotavam o colono
entregava nova rês.
Ovelhas e cabras eram raras nos potreiros dos
Dalla Vecchia.
O vinho e as frutas (muitas e variegadas, agregadas
às frutas de origem européia), como bananas, ananás e
abacaxis também não eram destinados ao comércio. O
excedente perdia-se, doava-se...
Queijos, salames, copas, banha... serão também
vendidos, só bem entrado o século XX.
Mais tarde, os Dalla Vecchia também diziam que o
sucesso vem do comércio... e do moinho. Os Dalla
Vecchia dedicaram-se ao comércio e tiveram sucesso
como comerciantes. São testemunhas disso as cidades de
Soledade, Encantado, Erechim, Ponte Serrada, Aratiba, o
Oeste paranaense e hoje Rondônia e Mato Grosso... como
também na Itália.
182
O moinho colonial, com mós de pedra, para moer o
milho e o trigo era, para os colonos um lugar de
contradição. O agricultor levava 60 quilos de trigo e
esperava mais do que 45 quilos de farinha. O moinheiro
entregava menos e, além do custo da moagem, regateava
ficar com o farelo, a quirela... E assim como o colono
sempre desconfiava da balança do vendeiro localizado no
núcleo da comunidade (onde estava a capela, o cemitério,
a escola, e um salão de festas), assim sempre deitava
suspeitas sobre o moinheiro. E os Dalla Vecchia também
estavam dos dois lados: como comerciantes e moinheiros
e como colonos que se serviam do moinho e da venda.
183
do telhado (su sora). Os telhados, em duas águas,
permitiam janelas grandes nas extremidades altas.
Entre os dois prédios, uma espaçosa varanda coberta
e aberta, ao nível do primeiro piso, servia de entrada da
casa e lugar comum de estar para as prosas familiares e
as canções em noites de verão. Os corrimões que
cercavam a varanda e a entrada da casa eram sustentados
por colunetas (às vezes simples tábuas), adornadas com
motivos artísticos, tanto quanto também as abas do
telhado.
As tábuas eram serradas manualmente: a tora de
pinho (araucária brasiliensis), com 5,80 ms. de
comprimento e com cerca de 0,80 ms. de diâmetro, era
erguida sobre um pequeno estrado ou cavalete e, um
homem embaixo, outro em cima da tora, puxavam a serra
manual no melhor alinhamento possível. Daí a expressão:
“serrar de cima” como privilégio e “serrar de baixo”
como castigo ou sofrimento, uma vez que a serragem
toda caía por cima deste último.
Para os galpões, usavam-se também pranchas
lascadas com cunhas, tendo em vista que o pinheiro é
muito próprio para lascar. Do pinheiro também extraíam
as telhas (candole), pequenas tábuas, primeiramente
lascadas e em seguida alisadas com uma lâmina de aço
puxada com as duas mãos.
Muito embora a dificuldade de conseguir vidraças
para as janelas, estas eram amplas, possibilitando
arejamento, iluminação e visão do vale. As fechaduras?
Taramelas (tramelas) de madeira tanto para janelas como
para as portas sendo que as portas de saída tinham uma
184
pequena tranca interna que era erguida por fora por um
cordão.
Os móveis, poucos e rústicos (camas, assentos,
armários, mesas, gamelas, bacias, etc.) eram feitos em
casa, pelo próprio colono, sendo que os Dalla Vecchia
eram exímios nisso, com madeira de pinho ou de lei
(cedro, canela, imbuia, angico, louro, grápia etc.).
Para se avaliar a capacidade de carpintaria dos
Dalla Vecchia é muito significativo ver o altar-mor da
Igreja de São Pedro de Encantado, elaborado
artesanalmente por Pedro Dalla Vecchia no início do
século XX.
6. Alimentação e Consumo
7. Poupança
188
8. Organização social
8.1- Família
92
Dentre os critérios utilizados para o consentimento ao noivado poderíamos
enumerar: ser católico praticante; não ter antecedentes morais negativos; ser de
origem italiana; não ser negro, bugre, mulato...; acenar com bens suficientes (ser
proprietário)... A convivência mudará aos poucos esses critérios. Hoje, pode-se
dizer que eles inexistem. O homossexualismo era inadmissível.
190
O casamento era uma festa não só da família mas
de toda a comunidade. Ao rito religioso (que tinha
validade civil93), seguia-se o almoço mais variegado e
suculento possível (era questão de demonstração de
status), com música, canções, brincadeiras picarescas, até
o final da tarde quando os noivos sumiam para seu novo
lar.
A falta de informação e a inexperiência sexual
geravam, então, os quadros mais cômicos se não fossem
quase trágicos e que só bem mais tarde os homens e
mulheres repartiam a seus pares com hilaridade.
A sensualidade e o prazer eram reservados para o
homem, quando aconteciam, e eram sempre vistos como
luxúria, quase pecado. Impensáveis para a mulher. A
mulher tolerava (poucas aceitavam prazerosamente) o ato
sexual como meio para a procriação. E esta sempre era
difícil e trabalhosa. Muitas mulheres confessavam, já
velhas e até viúvas, que nunca tinham experimentado um
orgasmo, muito embora tivessem mais de dez filhos.
Mas a convivência do casal, se não podia ser
completa, sempre era prazerosa. E aqueles agricultores,
nos parâmetros ditados pela religião do Estado de
Cristandade, contentavam-se com essas alegrias como se
fossem naturais.
93
No Brasil, assim como era definido no Estado de Cristandade, o casamento
religioso tinha validade civil, assim como seu registro (e o de nascimento e
óbito) que era feito sempre nos livros da Igreja. A separação do casamento
religioso do casamento civil só aconteceu com o advento da República (1891)
mas o registro civil só aconteceu em 1916. Assim, para encontrar registro dos
Dalla Vecchia, antes desta data, deve-se recorrer aos registros religiosos
recolhidos à Secretaria das dioceses respectivas.
191
Infidelidade? Nem pensar. E, afora raríssimas e
deploradas exceções, o casal levava à risca o
compromisso que anunciara no altar: “até que a morte
nos separe”. Assim, mesmo em condições quase
desumanas de convivência e de tolerância, o casal
mantinha o casamento até o fim da vida. Por outro lado,
mostrava que, mesmo acima do prazer e até contra o
prazer, era preciso ser homem, cristão, fiel e passar esse
exemplo aos filhos e netos.
O Estado de Cristandade, com o dualismo anti-
cristão de sofrimento contra o prazer, só será superado,
aos poucos quando o Concílio Vaticano II (1962-1965),
exigir uma renovação da vida cristã buscando nas raízes
do amor, da comunidade, da justiça e da alegria a fonte
do viver.
Família numerosa: não só pela alta taxa de
natalidade como pela baixa taxa de mortalidade infantil
em confronto com as altíssimas taxas de mortalidade
experimentadas por eles na Itália, incluindo o Vêneto. Lá
a situação difícil para a família era causada por falta de
alimentação adequada (cf. a pelagra...), por péssimas
condições de moradia e de higiene. Sirva de exemplo o
número de filhos das primeiras famílias originadas de
Ângelo Dalla Vecchia, filho de Beniamino.
Sabemos que Beniamino teve 3 filhos na Itália. Ele
próprio e uma filha (Catarina) faleceram na viagem. Seus
dois filhos remanescentes, Pedro e Ângelo, tiveram
respectivamente 15 e 21 filhos. Estes, por sua vez
tiveram, em média, mais de 10 filhos.
192
A necessidade de braços para trabalhar a terra, o
isolamento dos grupos de imigrantes dentro de um país
que, em tudo, lhes era estranho embora acolhedor, fez
com que a família Dalla Vecchia vivesse (e para isso
fosse incentivada pela comunidade religiosa e pelo clero)
à mística dos muitos filhos, à mística de ter todos os
filhos que Deus quisesse lhes dar, de a mulher passar
bem mais de 10 anos da vida grávida, e de trabalhar de
sol a sol nestas condições e com filhos pequenos a cuidar.
Porque numerosa e extensa, a família era
incentivada a ser também solidária.
Em primeiro lugar, os filhos aprendiam a repartir
tudo o que havia sem reclamar: os sapatos, as roupas, os
livros, dos mais velhos passavam para os mais jovens tão
logo lhes deixassem de servir. Os irmãos mais velhos (às
vezes com 7 ou 8 anos) encarregavam-se de cuidar dos
menores enquanto os pais trabalhavam na lavoura.
A solidariedade de todos para com os doentes (que
gozavam da prioridade dos poucos recursos disponíveis)
levava a todos ao exercício muito freqüente da renúncia,
do sacrifício, da poupança, da frugalidade até como
ascese religiosa cristã.
Por outro lado, na grande família extensa Dalla
Vecchia, o auxílio mútuo, os empréstimos, os socorros,
as festas de aniversários, casamentos congraçaram
sempre seus membros que aprenderam a traduzir o
espírito de comunidade cristã em forma de solidariedade
familiar e de parentesco.
193
Algumas vezes, porém, essa solidariedade foi
usada para alguns trapacearem os outros, tendo em vista
o alto grau de mútua confiabilidade (porque eram
parentes) e pela informalidade das transações daí
decorrentes.
194
Livro de missa cantada copiada e composta por Pedro Dalla
Vecchia
E os ensaios davam às noites enluaradas um
caráter sagrado e quase místico que fazia bem à alma e à
esperança daqueles lavradores. Eles eram os professores,
e todos os jovens e adultos, em princípio eram candidatos
ao coral da Igreja.
À noite, logo antes ou depois da janta e do terço,
cada família era um coral na varanda a entoar canções do
folclore italiano. E as canções com várias estrofes
traziam sempre como estribilho (“ritornello”) e pano de
fundo: as montanhas, o namoro, o amor, a guerra, o mar,
a dor, a religiosidade, o congraçamento que se faz
harmonia afinada bem pertinho do ouvido do outro.(cf.
Zanotelli, a Saga de um Imigrante Trentino).
195
O primeiro canto da missa a três vozes copiada por Pedro Dalla
Vecchia
196
ser encontrados nas relações familiares, de vizinhança, de
comunidade etc.
As relações sociais intra-familiares eram marcadas
pelos laços do familismo: porque eram muitos os irmãos,
sempre havia um irmão ou irmã que era o confidente, o
mais íntimo, e isto dava um sabor de ternura às relações
fraternas. Mesmo que houvesse rixa com um ou mais
irmãos, haveria outro que ouviria, que amparava, que
animava.
O mesmo se diga dos grupos de adolescentes e
jovens (quase gangues) dos primos contra outras
famílias. Se, com os pais e mais velhos, aprendia-se a
severidade da hierarquia (os pais não beijavam nem
acariciavam os filhos...a exigência de disciplina era o
melhor carinho) com os irmãos exercia-se a igualdade.
O centro de convivência e de relacionamento
social mais claro era constituído pela capela (numa
encruzilhada ou no meio de uma linha em terras de um
colono que, cedendo-as, também tinha interesse de
valorizar suas terras) ao redor da qual estavam: um salão
comunitário que, muitas vezes, servia como escola; um
cemitério dentro do qual não se enterravam suicidas ou
não católicos); uma “bodega” (pequena casa comercial de
“secos e molhados”); nunca poderia faltar sob pena de
“lesa traição à tradição” uma cancha de bochas e mesas
para o jogo de mora e de quatrilho.
Na hora do ato litúrgico, fechavam-se as casas e os
jogos e todos, invariavelmente todos, iam ao terço ou à
missa.
197
Aos domingos, por ocasião do rito religioso, ou nas
visitas familiares, as mulheres reuniam-se com as
mulheres, os homens adultos entre si, as crianças e os
jovens ficavam mais a vontade.
De quando em quando, longe das capelas, surgia,
por iniciativa de um colono ou de um grupo de vizinhos,
um “capitel”: pequena capela dedicada a um santo de
devoção especial e para pagar promessas. Esses oratórios,
às vezes, na festa do santo, reuniam um bom número de
fiéis.
O mesmo se diga de inúmeras “grutas” que se
transformavam em capitéis. E a festa na gruta era sempre
memorável.
198
mulherengo, pouco afeito ao trabalho e sem perspectivas
de futuro melhor.
Quanto mais pobre, e na lógica crescente do
capitalismo, mais discriminado e excluído.
E o sucesso econômico (a inclusão social também)
era atribuído ao trabalho, ao esforço pessoal sem olhar as
condições do modo de produção em que estavam os
colonos inseridos.
Os Dalla Vecchia, como imigrantes italianos,
tinham, portanto, uma visão etnocêntrica e quase racista
marcada pela situação da Itália e pela escravidão no
Brasil: A Itália vivia em beligerância com os negros da
África especialmente Abissínia..; os imigrantes vieram
para substituir a mão de obra escrava, porque mais
qualificados que os escravos... Os preconceitos de lá e de
cá não deixaram de afetar sua cultura...
Os Dalla Vecchia nunca conceberiam que um filho
ou filha casasse com um negro ou mulato, aos quais eles
associavam os brasileiros (“brasiliani”) como também
não conceberiam, até bem passado 1950, que um Dalla
Vecchia casasse com uma alemã (os alemães eram
preponderantemente protestantes...).
Embora tudo isso, porém, os negros conviveram
bem com os Dalla Vecchia: trabalhavam como
assalariados para os Dalla Vecchia, tomavam as refeições
à mesa como todos os familiares; eram ajudados com
donativos, no exercício da caridade e da piedade. A
discriminação racial e religiosa, era para os primeiros
199
Dalla Vecchia no Brasil, um fator de manutenção da
auto-estima e da identidade.
Hoje, a integração social, a miscigenação, a
tolerância mudaram estes pre-conceitos, muito embora
permaneçam como brasas debaixo das cinzas, no riso
zombeteiro dos mais velhos.
As relações sociais de vizinhança eram guardadas
com muito cuidado, considerando a necessidade que cada
vizinho tinha do outro. Um atrito de vizinhos era o menos
recomendável. As trocas de pequenos presentes (uma
costela de porco por ocasião do abate, frutas
excepcionais...especialmente queijos e ovos às mulheres
quando davam à luz uma criança) reforçavam os laços. O
trabalho conjunto na abertura e conservação das estradas
também. Os maiores atritos derivavam quase sempre dos
prejuízos causados por animais que fugiam do cercado e
das traquinagens das crianças e jovens.
94
Cf. Zanotelli, a saga... pg 19 ss.
200
mãos de poucos senhores (alguns deles bispos), a
submissão ao poder se mostrava antes de mais nada pela
religião. O poder emana da religião. “Deus é o dono do
mundo, o papa é o representante de Deus na terra e os
bispos e sacerdotes representam o papa”...era o
argumento definitório do Estado de Cristandade95.
E a religião católica, na senda da teologia medieval
que era inspirada na visão indo-européia de Platão,
insistia equivocadamente em dizer que Deus criou os
homens em 3 categorias: uns para trabalhar, outros para
comandar e guerrear e outros para rezar. Cada homem
teria assim uma vocação dada pela natureza que Deus
criou em cada um: assim uns são “chamados”, têm
vocação para o sacerdócio, outros para governar e outros
para trabalhar. A obediência a essas vocações geraria a
justiça e a paz. Haveria, assim, três estamentos, quase
castas, com superposição e subordinação clara.
Entre os imigrantes italianos o status mais elevado
era do clero e dos religiosos. Depois vinha o status do
político e dos pais. Por fim o status de trabalhador, com
mais consideração ao artesão do que ao colono lavrador.
O poder tinha, então, hierarquia e, assim, era exercido.
O controle social mais forte era exercido pela
96
Igreja . O que o padre dizia era sagrado e absoluto.
95
Cf. o Estado de Cristandade in Zanotelli a Saga de um Imigrante Trentino.
96
O Estado de Cristandade centrado no Estado, através do Padroado, para os
Dalla Vecchia, conflitava com a idéia de centralização da Igreja e da Religião na
pessoa do Papa e da Hierarquia. A Romanização da Igreja brasileira acontecia
desde o Concílio Vaticano I, de 1859... No Brasil esta romanização gerou
conflitos como a Questão Religiosa de 1872, quando dois bispos foram presos e
obrigados a trabalhos forçados pelo Império Brasileiro.
201
Deveria ser seguido e obedecido sem discussão. Afinal
de contas ele era entendido nas leis de Deus e da Igreja e
a elas tudo estava subordinado. Essas leis não eram a
expressão de convenções humanas mas refletiam a
própria natureza das coisas. A fé era o modo mais
profundo e absoluto do conhecimento. Obedecer aos
mandamentos de Deus e da Igreja (sempre decorados no
catecismo) fazia com que todas as coisas estivessem no
seu devido lugar.
Havia, assim, um controle de quem ia ou não ia à
missa ou à reza do terço na capela, aos domingos e dias
santificados, (quem não fosse era “comunista”); a
confissão auricular assídua e a comunhão não apenas
uma vez por ano... o batismo imediatamente logo após o
nascimento, o casamento entre noivos virgens, em tudo
vigorava o poder e o controle hierarquizado.
A prática dos ritos e a manutenção dos mitos
misturados com teologia97 reforçavam o poder dos
ministros religiosos (verdadeiros “intelectuais orgânicos”
dos imigrantes italianos).
As armas da “excomunhão”, da “interdição” e da
“Inquisição” embora vistas como longínquas e quase
inaplicáveis, permaneciam, no entanto, sempre no
horizonte da possibilidade do controle da conduta
individual e social, e da ameaça verbal.
97
Muitas explicações eram atribuídas à Bíblia ou à história de Cristo, sem
fundamento nenhum na realidade. Assim para explicar o racismo dizia-se:
“quando Deus andava na terra...e fugiu para a África...os negros não o
acataram...foram amaldiçoados”. O mesmo se dizia para explicar porque o
quero-quero não pousa em árvores etc...
202
A maldição, porém, era uma ameaça concreta e
sempre possível, tanto ( e sempre pior ) quando provinha
do padre, como quando provinha dos pais que, em casa,
conduziam e controlavam a conduta ( “a bachetta”). O
filho amaldiçoado pelos pais (especialmente pelo pai) ou
pelo padre, estava perdido. Não teria mais sossêgo nem
esperança possível. Por isso a maldição, dizia-se, era
reservada aos quase endemoninhados.
A religião, introjetada ideologicamente, realizava o
controle dos desejos, sentimentos e emoções (sempre
vistos como perversos, como maus, como demoníacos) e
exaltava a ascese corporal, do sofrimento como mística,
como santificação. O fato de que muitas mulheres (mais
mulheres do que homens), entre os Dalla Vecchia,
buscaram o caminho da vida religiosa e fugiram do
casamento, indica que o casamento era para elas um
“perigo” de salvação, e isso por dois motivos: pelo prazer
do sexo, visto como tentação e pelo acúmulo de trabalhos
que o casamento trazia para todos, especialmente para a
mulher. Distraídos, dispersos nos trabalhos “do mundo”,
os casados não tinham tempo para se dedicar à alma e à
salvação. E, para que se vive neste mundo, senão para
salvar a alma?
O celibato era decantado como o ideal de vida para
todos. “Infelizmente, nem todos são capazes de viver
celibatariamente”, dizia-se. E então, “é melhor casar-se
do que abrasar-se”.
Este ideal celibatário ocupava o mundo simbólico
de muito jovem que adotava maneirismos de fuga ao
feminino, confundido às vezes com comportamentos
203
efeminados ou homossexuais, encobrindo um vulcão de
sexualidade não expressa. Mesmo a maior virilidade e
saúde hormonal masculina era sempre mantida nos
limites precisos demarcados pela religião e pela fé. Pelo
que se sabe poucos deveriam ser os casos de
masturbação, de relações sexuais antes e fora do
casamento, e menos ainda contatos com animais.
Esse controle quase heróico tinha como suporte a
religião, a moral sempre lembrada pelos pais e pelos
padres, a participação efetiva nas congregações e
movimentos religiosos...Quando eram poucos os padres,
quando apenas funcionava o padre leigo, as coisas
deveriam ser mais difíceis... A religião do Estado de
Cristandade permeava, orientava, fundava e controlava a
vida dos Dalla Vecchia sempre e em toda parte. O tempo,
o espaço, a vida, a morte, tudo era embebido no sentido
religioso da Cristandade.
Os símbolos do poder estavam por toda parte: O
pai que pouco falava, (o silêncio é um símbolo), sentado
à cabeceira da mesa e servido em primeiro lugar; a
mulher servindo a todos e cuidando da cozinha e da casa;
o cinto dependurado à parede (como instrumento para
bater e castigar); os negócios realizados só pelo marido
(mulher não se mete em negócios), embora à noite o
casal dialogasse sobre os negócios, pois negócio é coisa
de homens e entre os homens; o marido controla o
dinheiro, os filhos pouco dinheiro vêem, as filhas menos
ainda; a razão sempre está com os pais e especialmente
com o pai; os pais decidem o casamento dos filhos; a
blasfêmia (embora poucos Dalla Vecchia a
empregassem) só proferidas por homens, eram
204
demonstração de insubordinação, de autonomia frente
aos padres e às normas religiosas vistas ou vividas como
normas políticas.
Dentre os símbolos mais evidentes do poder estão
a capela ( a melhor casa da comunidade, com um potente
sino que lembra, define, marca impecavelmente as horas
de rezar e trabalhar); o latim como língua dos cultos, e
tanto mais importante quanto mais incompreensível; e ser
associado à diretoria da igreja (fabriqueiro, festeiro,
“padre leigo” puxador de terço, dos cantos e litânias
polifônicas, dos sepultamentos com ritual em latim e
cantado) ou ter um padre ou uma freira na família... Era o
mesmo que guindar a família ao topo da hierarquia
social. Um pouco dessa posição passava para quem
estudasse no convento ou seminário para padre ou freira.
Era uma clara forma de ascensão social. Era uma coisa
lícita, querida por todos e a melhor de todas. Mas era
preciso ter vocação...
98
Lembranças de Jandir João Dalla Vecchia Zanotelli, autor majoritário do texto.
208
com buscar vinho e salames no porão, com os trabalhos
mais pesados e em circunstâncias mais difíceis ( chuva,
frio...). As meninas aprendiam a varrer e arrumar a casa,
lavar a louça, a fazer todo tipo de comidas e temperos, a
conhecer todas as ervas e suas valias, a tirar leite das
vacas, a cuidar dos pintos e galinhas, a cuidar dos irmãos
em casa, a lavar a roupa, a remendar, a trançar palhas
para fazer chapéus e cestos (drezze), a recatar-se e
silenciar por trás dos homens (pai e irmãos...).
Na hora do trabalho da lavoura, não havia
distinção de sexo... a dureza era para todos... E no meio
do trabalho, as crianças se “perdiam” brincando... não
havia outro espaço para brincar. Aprendia-se a viver
vivendo.
Os hábitos de vestir, muito embora a precariedade
da situação, mantiveram sempre um ar senhoril, como se
pode ver nas fotografias (gravatas, relógios, paletós,
vestidos rendados...)
Pode-se dizer o mesmo dos mínimos hábitos de
higiene, de alimentação, de acolhimento às visitas.
Sua visão de mundo se expressa também nas artes
que cultivavam: de marcenaria, carpintaria, música, com
seus corais, suas bandas.
210
11. Religião - moral e ética - desejos e ascese
211
todos os membros da família ajoelhados no chão e
escorados no assento das cadeiras.
Depois vinham as ladainhas (às vezes cantadas em
coral) de Nossa Senhora, depois, orações pelos mortos,
pelos doentes, ou pela chuva que demorava a cair.
Vinham depois (às vezes individualmente ao pé da cama)
os “Atos de fé, de Esperança e de Caridade”, os Salmos,
o “Santo Anjo do Senhor, meu zelozo guardador...” e o
pedido para que Deus concedesse a graça de uma boa
morte, antecedida por uma boa “Confissão e Comunhão”.
Ao clarear do dia, ao meio dia e ao escurecer o
sino da capela com três batidas repetidas três vezes e
repicando solto depois lembrava a todos a hora da oração
da manhã, do almoço e do anoitecer: a hora da Ave
Maria.
O falecimento era também anunciado pelo sino,
assim como o convite para as cerimônias religiosas
dominicais. A voz do sino, - o melhor possível para
marcar o status de uma comunidade -, era a voz que
todos entendiam, que se fez familiar e íntima como se
fosse a voz da consciência. Para os meninos, geralmente
quem morasse mais próximo à capela, era uma honra
tocar o sino, ao mesmo tempo que ocasião das maiores
cabriolices, subindo e descendo dependurados nas
cordas.
O cemitério, ao lado da igreja, era o “campo
santo”, a terra abençoada para onde iriam os restos
mortais dos fiéis católicos. Quem não fosse batizado,
crente ou católico e especialmente os suicidas, tinham
lugar próprio fora dos muros do cemitério.
212
Domingo de manhã, um pouco antes do almoço, as
crianças reunidas (e eram sempre muitas) decoravam o
catecismo que era tomado como lição na capela ou aos
sábados à tarde ou no domingo antes da liturgia.
As celebrações da Paixão e Morte de Cristo, na
Semana Santa eram marcantes: penitências, silêncio
absoluto na Sexta Feira, jejum e abstinência de carne
durante toda a Quaresma, cinza na fronte na Quarta Feira
de Cinzas, culminando com a procissão do beija pé de
Cristo morto. E todos cumpriam rigorosamente o preceito
de se confessar e comungar pela Páscoa da Ressurreição.
Na Igreja, duas carreiras de genuflexórios e
assentos, um para os homens (lado direito) e outro para
as mulheres (lado esquerdo), estabelecendo uma barreira
geográfica para cada sexo. As mulheres de cabeça
coberta por um véu preto, vestido longo, mangas até os
punhos, sem decote, era sinal de recato e submissão ao
homem e à religião. Os homens de cabeça descoberta
simbolizando o poder masculino e a autoridade. Na igreja
imperava o silêncio total: era o lugar da oração
Ao redor do pescoço, o escapulário de pano com a
efígie de Na. Sra. para que ela se lembrasse do fiel na
hora da morte. No bolso dentro de uma pequena cápsula
de metal, uma relíquia ou a imagem de Santo Antônio. E
a oração do “Si quaeris miracula” para Santo Antônio
fazia com que se encontrassem as coisas perdidas. Assim,
orações, corais, missais e livros religiosos, lugares e
tempos marcados pelo sagrado, comemorações e nomes,
proibições e permissões, tudo se liga pela religião. A arte
213
e a religião, a educação e a religião, a política e a religião
tudo é unificado.
Aos poucos e em tudo a religião vai integrando o
céu e a terra, a vida e a morte, a alegria e a tristeza,
transformando a vida numa totalidade de sentido.
Se um dos motivos fundamentais para deixarem a
pátria Itália e se aventurarem nas condições difíceis que
as colônias do Brasil ofereciam, era a de salvar a família
e os valores religiosos postos em perigo pelo liberalismo
e industrialização, aqui, os Dalla Vecchia fizeram da
religião seu refúgio e a garantia de sua sobrevivência.
Diante do desconhecido e difícil, a união comunitária e
familiar, embalada na religiosidade, era uma exigência. A
absoluta falta de clero para ministrar os sacramentos e a
orientação religiosa, era suprida com o “padre leigo”,
escolhido pelos colonos entre os que tinham melhor nível
de escolarização e de liderança moral. Os Dalla Vecchia,
a começar por Pedro e Ângelo sempre estiveram ligados
a essas funções.
Ângelo foi um dos primeiros fabriqueiros da Igreja
de Encantado, Pedro produziu o altar da mesma igreja,
ambos fundaram a capela de N. Sra. Auxiliadora com os
outros colonos.
Dentre os Dalla Vecchia oriundos de Ângelo e
Pedro contam-se numerosos (dezenas) sacerdotes e
religiosos, seminaristas e juvenistas, tudo indicando que
o padre representa para eles, como para toda a
colonização italiana do RS, o “intelectual orgânico” dos
imigrantes.
214
É interessante considerar que, entre os Dalla
Vecchia, bem como entre os imigrantes das colônias de
Garibaldi, Encantado, Caxias, Farroupilha e toda a vasta
área de colonização italiana posterior a 1875, não existem
liberais, maçons, positivistas, em número expressivo.
Alguns anarquistas, mais garibaldinos e mazzinianos que
anarquistas, não chegam a marcar significativamente a
visão de mundo desses colonos. Lembremos que os Dalla
Vecchia resultam de um grupo algo aristocrata em
Vicenza e que não traziam em si perspectivas socialistas
ou anarquistas.
A religião zelava para que cada um harmonizasse
seu comportamento com sua consciência (a consciência
cristã do Estado de Cristandade), para que os valores do
ascetismo, da renúncia, da resignação, da aceitação do
sofrimento, da lealdade e obediência marcassem toda a
existência.
O prazer, controlado dentro dos parâmetros do
permitido, era por isso mesmo, sublimado, postergado ou
simplesmente negado. O carinho, o afago, a ternura,
incluindo a atividade sexual (até dentro do próprio
matrimônio), eram tolerados, nunca incentivados, quando
não vistos como fraqueza, moleza, falta de verdadeiro
espírito cristão, ou simplesmente picardia. Para os
homens, especialmente, isto era severo: um homem não
beijava ninguém em público, nem o filho, nem a filha,
nem a esposa. O afago, o abraço, o beijo era
“compreendido” se feito para as crianças e isto porque
“inocente” e feito também com muita parcimônia.
215
Quando os pais e filhas dos descendentes de
portugueses, negros e índios mostraram para o Brasil
outro modo de relação, mais afetuosa, as filhas dos
descendentes de italianos, neles abrangendo também os
Dalla Vecchia, geraram uma crise familiar. Por que
nossos pais não nos beijam? Não nos afagam? Nossos
pais terão menos afeto? Não gostam de nós? Foi difícil
entender que para os italianos a disciplina, a ordem, a
autoridade eram formas de afeto e carinho. E que, para
eles, acariciar um filho era “perder” a autoridade.
A religião funcionou como ideologia e fundamento
de toda a estrutura social: do trabalho, da família, da
sexualidade, do poder, do divertimento, da educação, da
política. Na religião estavam os mais altos valores, os
decisivos critérios, as derradeiras sanções. As lideranças
religiosas eram, ao mesmo tempo as que detinham o mais
alto poder na comunidade bem como as que permitiam a
vinculação com a Igreja do mundo inteiro representada
pelo papa, no Estado de Cristandade. Os sacerdotes eram,
sem dúvida, repitamos, os intelectuais orgânicos das
comunidades de imigrantes. Os Dalla Vecchia situam-se
perfeitamente nessa perspectiva.
Por isso mesmo, a vida religiosa e o sacerdócio
representaram para os imigrantes e acentuadamente para
os Dalla Vecchia, o mais fácil, efetivo e mais bem quisto
canal de ascensão social.
Diante de tamanha expressão religiosa da vida
resta sempre um questionamento: seria a religião uma
forma doentia de alienação? A vida desses colonos cuja
invejada longevidade beira aos 100 anos teria sido
216
desumana, menos saudável, menos plena de significado e
realização? Não evidenciariam doenças mentais (eram
raríssimos os casos), porque o ambiente comum era já
doentio? Seria menos saudável, o viver comunitário e
familiar, sem muito espaço para o individualismo e o
solipsismo sado-masoquista do autismo que hoje ronda
tantos de nós? O certo é que, embora os múltiplos
constrangimentos e sofrimentos, mortificações e
silêncios, há na vida desses Dalla Vecchia um cerne vital,
uma saudabilidade, que faz os pósteros ter saudades
dessas raízes.
Contudo, é importante salientar a perspectiva
também ideológica que a religião às vezes tomava:
quando a sociedade e os homens eram injustos, Deus era
sempre o grande e supremo justiceiro. O mundo era
apenas uma passagem, um vale de lágrimas, muito
embora uma boa colheita fosse motivo de ação de graças.
Transferir para o céu o que é tarefa da terra, sublimando,
negando, fugindo, não é uma atitude saudável. Os Dalla
Vecchia, porém, sabiam distinguir as coisas: sabiam
muito bem que a boa política cuida dos interesses de
todos e que a cafajestice política era hedionda e
abominável. Resguardavam, contudo, o último espaço
para a religião, lá onde o homem é intocável em sua
liberdade e salvação; onde o homem tem a ver-se
pessoalmente, face à face com Deus.
Suportar estoicamente os reveses da vida, o
desprezo pela dor, pelos ferimentos, pelo trabalho quase
desumano eram indicação de fortaleza, bravura,
honorabilidade....e religiosidade.
217
Avelino de Conto Dalla Vecchia, filho de José e
218
Da esquerda: o 3º é Leonel DV filho de Pedro. O último é
Guerino DV, filho de Luís DV e Fortuna Bagatini. Nas
festas de “sagra”, em honra do padroeiro da capela,
galinhas, churrascos, cucas, bolachas.
O chimarrão e as rodas de chimarrão fazem parte da vida
Faustino Bocchi Dalla
Vecchia, irmão de São
Camilo, alcançando
um chimarrão ao
sobrinho. Isto mostra
como os costumes
brasileiros e gaúchos
integram a tradição da
família Dalla Vecchia.
Assim como as
tradições italianas
integram os costumes
gaúchos hoje.
219
12. Lazer
221
Um copo de vinho rega a alegria
222
Coral sinfônico de Encantado – o mestre é Pedro.
223
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