Discipulado 03 - Voltado para o Próximo PDF
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1) O PADRÃO BÍBLICO
Antes mesmo de Cristo ser mencionado nas Escrituras, Deus conecta essas lições à própria criação
por intermédio da família. Pondere como Deus nos torna pais: ele embute em nossa natureza o desejo de
dar uma enorme atenção amorosa à criação de uma pessoa e ao cuidado de nutri-la e conduzi-la à
maturidade.
Assim, no antigo Israel, ele usa o poder desses relacionamentos parentais para que atuem como
canais através dos quais flui a água de sua Palavra. Dessa forma, Moisés outorga os Dez Mandamentos.
Ele diz ao povo de Israel que ame a Deus, e depois o instrui: “E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão
no teu coração. Tu as ensinarás com diligência a teus filhos, e falarás a respeito delas quando te sentares
em tua casa, quando caminhares, quando te deitares e quando te levantares” (Dt 6.6, 7). Aqui, Deus nos
dá uma grande lição prática acerca de como discipular outro ser humano. Discipular envolve a transmissão
do conhecimento de Deus e de sua Palavra em cada momento da vida.
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Além da própria família, a Bíblia está repleta de relacionamentos de discipulado nos quais uma
pessoa ensina outra. Pense como Moisés treinou Josué para sucedê-lo, como Eli fez com Samuel e Elias
com Eliseu.
O discipulador mais famoso de todos, sem dúvida, é Jesus Cristo. O cristianismo não teve início com
o lançamento de um produto em larga escala. Não houve cobertura da mídia 24 horas por dia durante
sete dias da semana a respeito das viagens de Jesus. Ele começou com uma série de encontros pessoais
entre um pequeno grupo de homens, por um período de três anos.
É verdade que com frequência multidões vinham a Jesus, e o relato de seus milagres às vezes se
espalhava como rastilho de pólvora. Mas em meio a essas grandes multidões havia um grupo menor de
discípulos que Jesus chamava para si. Ele investiu de forma particular neles. O Evangelho de Marcos nos
diz que Jesus “chamou para si aqueles que quis, e eles vieram até ele. E ele designou doze (a quem
também chamou apóstolos) para que estivessem com ele e ele os enviasse a pregar” (Mc 3.13,14).
Esses Doze confessavam que Jesus era o Messias. Eles permaneceram a maior parte do tempo com
ele. E Jesus queria que eles “estivessem com ele” (gosto muito dessa expressão!). Dentre os Doze, ele se
dedicava de modo especial a três: Pedro, Tiago e João.
Mas você pode dizer: “Jesus é assim! Claro que ele fez isso. Ele é Deus!”.
Consideremos, então, o exemplo do apóstolo Paulo. Atos 16 descreve umas de suas viagens
missionárias. O capítulo, todavia, começa apresentando-nos um discípulo chamado Timóteo, e em
seguida nos diz: “Paulo queria que Timóteo o acompanhasse” (v. 3). À semelhança de Jesus em relação
aos discípulos, Paulo desejava que Timóteo estivesse com ele, viajasse com ele e se unisse a ele na obra
do reino. Não é difícil supor que Paulo discipulasse Timóteo como um pai do Antigo Testamento
discipulava seu filho, ensinando-lhe a Palavra de Deus com diligência enquanto eles caminhavam, quando
se deitavam e se levantavam.
Décadas depois, Paulo diria a Timóteo que fizesse o mesmo com outras pessoas: “O que ouviste de
mim, diante de muitas testemunhas, transmite a homens fiéis e aptos para também ensinarem a
outros” (2 Tm 2.2). O intuito de Paulo para o discipulado era que este alcançasse várias gerações. Ele
desejava ter bisnetos espirituais. Timóteo (filho) deveria encontrar homens fiéis (netos), capazes de
ensinar a outros (bisnetos).
2) TRABALHO E LUTA
O que significaria, para você, entregar-se a esse padrão bíblico de investir em filhos espirituais? Este
curso abordará essa questão, mas Colossenses 1.28, 29 estabelece um ponto de partida útil.
Neles, Paulo escreve à igreja de Colossos, cidade que se localizaria hoje na Turquia Ocidental. Ele
relembra aos cristãos dessa cidade o que havia feito em favor deles: “A ele anunciamos, advertindo e
ensinando todos com toda a sabedoria, para que possamos apresentar a todos maduros em Cristo. Para
isso eu trabalho arduamente, lutando com toda a sua energia, a qual ele faz atuar em mim com poder”
(Cl 1.28, 29).
Paulo trabalha arduamente. Ele luta. Se desejamos fazer o bem ao próximo, devemos agir da mesma
forma.
Você já se perguntou como exercer poder espiritual? Talvez algumas pessoas lhe digam: “Diga essas
palavras”; “Faça essa oração”; “Leia esse autor”; “Tenha essa experiência”; “Vá a essa conferência”;
“Olhe para dentro de si”.
Não! O poder espiritual é exercido quando nos doamos de forma extenuante (que cansa) em favor
do outro. A palavra usada com o sentido de luta em Colossenses 1.29 também pode ser traduzida por
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“agonia”. Isso equivale a dizer que agonia, e não êxtase, é o caminho para o poder espiritual. Você deseja
conhecer o poder de Deus e ter uma fé atuante? Então entregue-se à luta que é trabalhar pelo bem do
próximo, como se o próprio Cristo estivesse trabalhando e lutando pelo nosso bem.
A verdadeira fé cristã não é preguiçosa; é uma fé atuante, como a de Paulo.
4) ANUNCIAR E APRESENTAR
Observe as duas palavras, “anunciar” e “apresentar” desses mesmos versículos que nos dizem o
que Paulo deseja fazer: “A ele anunciamos, [...] para que possamos apresentar a todos maduros em
Cristo”. Ele anuncia para poder apresentar. Anuncie a Palavra de Deus agora; apresente os santos
perfeitos em Cristo assim que ele vier. Essas duas palavras nos revelam como Paulo trabalha e luta
(mediante esse anúncio), bem como o motivo de ele trabalhar e lutar (a fim de apresentar).
Paulo também explica o que está envolvido no anúncio: “A ele anunciamos, advertindo e ensinando
todos com toda a sabedoria”. O anúncio de Paulo envolve advertir e ensinar. Ele adverte as igrejas a se
afastarem do que é desprovido de valor e nocivo e as ensina a se unirem nas riquezas e na sabedoria do
evangelho. E ele não só adverte e ensina todas as pessoas e de forma abstrata; ele adverte e ensina a
todos — um de cada vez.
Poucos versículos depois, Paulo descreve seu desejo em relação aos colossenses: que eles possuam
“todas as riquezas do pleno entendimento” (2.2, NVI). Observe no acúmulo de bens: todas as riquezas
do pleno entendimento! Existem tesouros de sabedoria e conhecimento a serem encontrados aqui! Parte
da maturidade é saber discernir entre o certo e o errado, o verdadeiro e o falso, o precioso e o desprovido
de valor. É assim que Paulo deseja apresentar o povo de Deus plenamente maduro e totalmente
desenvolvido.
O trabalho de fazer discípulos ocorre aqui e agora, mas tem os olhos fixados no Último Dia. Demanda
que pensemos em longo prazo; requer que tenhamos a mentalidade de um investidor, sabendo que o
retorno é eterno. E o investimento ocorre por meio da Palavra de Deus. Precisamos anunciar. A Palavra
de Deus é a semente que frutifica no fim, mesmo que não vejamos o fruto em curto prazo. Semeie a
Palavra agora. Semeie-a com seu cônjuge e seus filhos. Semeie-a com outros membros da igreja. E confie
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em que a Palavra de Deus não voltará vazia. Você verá a colheita mais tarde. Crentes maduros estarão
prontos para receber a Cristo quando ele vier.
Viver para o próximo tipifica toda a vida de Paulo. Ele chegou até a escrever cartas a cristãos que
não conhecia — como essa aos colossenses —, a fim de encorajá-los no evangelho. Podemos dizer que a
vida dele era cruciforme (moldada no padrão da cruz). Ele obedeceu ao chamado para tomar a cruz de
Cristo e segui-lo. À semelhança de Jesus, ele sofreu em obediência a Deus pelo bem do próximo.
Você é assim? Imagine como seria trabalhar “com toda a sua [de Deus] energia, a qual ele faz atuar
em [você] com poder”!
A fé cristã verdadeira não se assemelha à alimentação de porcos. Ela não procura apenas a
satisfação própria e tampouco é preguiçosa. Assim como Paulo, ela é ativa: trabalha em favor do próximo.
Ela opera com a energia suprida pelo Deus que atua com poder em nós. Age por meio da pregação, da
admoestação e do ensino. Tudo isso para que o próximo seja apresentado maduro em Cristo no dia de
sua vinda.
Nem sempre vemos o fruto imediato. Para discipular, é preciso ser como o fazendeiro paciente que
semeia na confiança de que as sementes acabarão por brotar. Confiamos em que Deus usará sua Palavra,
mesmo que jamais vejamos o fruto. Como disse um escritor: “A semente pode jazer sob os torrões de
terra enquanto ficamos à espera e num belo dia brotar!”.1
Discipular é a única maneira pela qual podemos evangelizar não cristãos e preparar cristãos numa
dimensão temporal na qual jamais poderemos estar presente: o futuro além da nossa vida. Discipular
outras pessoas, agora, é como tentar deixar bombas-relógio da graça.
Um discípulo é alguém que discipula. Ele anuncia agora para poder apresentar mais tarde. Assim,
lembre-se do nome de duas pessoas de sua vida que você adoraria apresentar maduras e piedosas no
Último Dia. Está com o nome delas em mente? E então, como você está anunciando o evangelho a elas,
neste momento, a fim de prepará-las para esse dia?
1
Charles Bridges, The Christian ministry: with na inqyuiry into the causes of its inefficiency (Carlisle: Banner of Truth, 1959), p.
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