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Curso on-line PARA BEM ESCREVER NA LÍNGUA PORTUGUESA – Prof. Carlos Nougué

TERCEIRA AULA DO CURSO


“PARA BEM ESCREVER NA LÍNGUA PORTUGUESA”

AS CLASSES GRAMATICAIS

Carlos Nougué

I. A linguagem reflete de algum modo em suas construções a própria


constituição da realidade. É o que se dá com as diversas classes de palavras, as
quais expressam de alguma maneira as DEZ CATEGORIAS ou GÊNEROS MÁXIMOS

DO ENTE,1 a saber: a substância e seus nove acidentes: quantidade, qualidade,


relação, lugar (ou onde), tempo (ou quando), situação (ou posição), hábito (ou
posse, etc.), ação e paixão (ou ser paciente de uma ação). Com efeito, olhe-se
para qualquer homem, que é uma substância assim como o é qualquer
laranjeira ou qualquer cisne, e constatar-se-á, por exemplo, que tem
determinada altura e determinado peso (quantidade); que é branco ou negro
(qualidade); que é pai ou filho de alguém (relação); que está numa fazenda ou
numa cidade (lugar ou onde); que vive em tal ou qual década de dado século
(tempo ou quando); que está de pé ou sentado (situação); que está calçado ou se
cobre com um sobretudo (hábito); que caminha ou toca um violino (ação); e
que é molhado pela chuva ou queimado pelo sol (paixão).

Não é difícil concluir que a classe do SUBSTANTIVO exprime as substâncias ou


os acidentes tratados como substância; que o ADJETIVO corresponde à
qualidade – e à relação, à situação, à posse, etc., atribuídas ao modo da
qualidade; que o VERBO expressa, propriamente, a ação e a paixão, mas também
a posse entendida como ação de possuir, etc.; e que o ADVÉRBIO se ocupa do
tempo e do lugar (além, naturalmente, de aplicar-se à indicação do modo, etc.).

II. Segundo o que se acaba de dizer, são as seguintes as classes gramaticais:

1. A dos SUBSTANTIVOS. Valemo-nos do SUBSTANTIVO ou NOME para


significar coisas ou pessoas entendidas, de algum modo, como substâncias.

1 São as famosas DEZ CATEGORIAS descobertas por Aristóteles.

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Assim, quando dizemos rio, cão, homem, alma, etc., significamos verdadeiras
substâncias, ou seja, entes completos que existem ou subsistem por si (ou que
ao menos assim são pensados); e, quando dizemos negrura, alegria, saudade,
suavidade, decisão, etc., significamos acidentes, ou seja, entes que não existem
por si mas somente nas coisas – os quais, porém, são aqui pensados
separadamente, como se se tratasse de efetivas substâncias. Pois bem, os
substantivos ou nomes com que significamos verdadeiras substâncias são os
CONCRETOS, enquanto aqueles com que significamos acidentes entendidos ao
modo de substâncias são os ABSTRATOS.

a. Os substantivos concretos podem ser COMUNS, se nomeiam uma espécie


de substâncias ou uma substância de qualquer espécie por algum aspecto
essencial (mar, vegetal, árvore, animal, urso, etc.) ou ainda por algum aspecto
acidental (professor, aluno, tio, sobrinho, etc.);2

b. ou PRÓPRIOS, se só podem dizer-se de uma e determinada coisa:


Alagoas, Pedro, Medievo, etc.

c. Os substantivos abstratos, por sua vez, dividem-se em várias espécies: de


sentimento, de ação, etc.

OBSERVAÇÃO. Para indicar o GÊNERO, o NÚMERO eo GRAU dos substantivos,


usam-se ao final deles certas FLEXÕES: menina, livros, casinha, etc.3

2. Os ADJETIVOS (que também se dizem nomes) são as palavras que


determinam ou modificam os substantivos. E fazem-no porque significam
acidentes ou aspectos acidentais das substâncias exatamente enquanto
acidentes – ou que ao menos sejam considerados tais.4 Subdividem-se
duplamente:

2 Com efeito, não se é professor senão com relação a um aluno, e vice-versa, nem se é
tio senão com relação a um sobrinho, e vice-versa.
3 Como já se verá, todavia, o absolutamente indicativo do gênero dos substantivos em
português são os ARTIGOS.
4 Ou seja, trata-se do contrário do que temos com os substantivos abstratos, que
significam conceitos de acidentes ao modo de substâncias.

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• se significam algo que modifique intrinsecamente a substância, ou seja,


uma qualidade, chamam-se QUALIFICATIVOS: obra profunda, mar azul, gato
gordo, longa estrada, comportamento filial, pessoa sentada, etc.;5

• se significam algo que modifique extrinsecamente a substância, ou seja,


como certa medida, chamam-se DETERMINATIVOS. Tal medida pode dar-se em
razão de diversas coisas: da posse, e teremos os adjetivos possessivos (nossa
criança); do lugar ou do tempo, e teremos os adjetivos demonstrativos (essa
criança); da quantidade indeterminada, e teremos os adjetivos indefinidores
ou indeterminadores (algumas crianças, muitas crianças); e do número, e
teremos os adjetivos numerais, que indicam quantidade PRECISA (quatro
crianças).

OBSERVAÇÃO 1. Os adjetivos determinativos também são propriamente


chamados pronomes adjetivos, como se verá abaixo.

OBSERVAÇÃO 2. O adjetivo ou se atribui diretamente ao substantivo, pondo-


se-lhe adjunto (antes ou depois dele), ou se lhe atribui ao modo predicativo,
função sintática também exercida não só por outro substantivo, mas ainda por
um advérbio: Este rio é caudaloso (adjetivo); Sócrates é homem (substantivo);
A vida é assim (advérbio). Estudá-lo-emos em seu devido momento.

OBSERVAÇÃO 3. Para indicar o GÊNERO, o NÚMERO eo GRAU dos adjetivos,


usam-se ao final deles as mesmas FLEXÕES que se usam, para o mesmo fim, ao
final dos substantivos: bela, altos, pequenininho, etc., além de alguns que lhe
são próprios: cultíssimo, etc.

§ Os PRONOMES não podem dizer-se classe senão por certo ângulo ou


aspecto, ou seja, porque compõem paradigmas (que se estudarão em outra
aula); mas reduzem-se a substantivos ou a adjetivos. Como indica seu
mesmo nome,6 com efeito, podem comutar-se por algum substantivo ou por
algum adjetivo, ou, ainda, por algum grupo substantivo, por alguma oração
substantiva ou por alguma oração adjetiva.7

5 Como se vê, trata-se ou de qualidade propriamente dita, ou de qualquer outro


acidente que possa considerar-se como modificação intrínseca – a quantidade
contínua, a relação, a posição.
6 Do lat. pronomen, ĭnis, de pro-, “em lugar de”, + nomen, “nome”, modelado por sua
vez sobre o gr. anth nymos, de antí, “em lugar de”, + ónoma, atos, “nome”.
7 Chamamos GRUPO SUBSTANTIVO ao conjunto de duas ou mais palavras, excluídos os
verbos, que tenha caráter substantivo: por exemplo, a minha pessoa (que pode

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a. Os PRONOMES SUBSTANTIVOS subdividem-se, por sua vez, em:

• PESSOAIS (eu, tu, ele, me te, se, lhe, etc.);

• DEMONSTRATIVOS (isto, isso, aquilo).

• INDEFINIDOS (algo, alguém, etc.).

b. Os PRONOMES ADJETIVOS (que, insista-se, são adjetivos determinativos)


subdividem-se como exposto mais acima.

 Quando usados em referência a substantivo apenas elíptico e não em


lugar dele, os pronomes não podem dizer-se propriamente pronomes
substantivos; seguem sendo propriamente pronomes adjetivos. Vejam-se
exemplos: Meu filho já entrou para a escola – e o teu (filho)?; Consideremos
este assunto, não aquele (assunto); Ontem vieram alguns representantes,
hoje não virá nenhum (representante), etc.

c. Os PRONOMES IMPROPRIAMENTE DITOS, ou seja:


 os RELATIVOS (que, quem; quanto, quanta, quantos, quantas; cujo, cuja,
cujos, cujas; além das locuções o qual, a qual, os quais, as quais), os quais só
podem dizer-se pronomes de certo modo, por representarem o antecedente para
servir de elo subordinante da oração que iniciam, além de que são
cumulativamente conectivos, porque também servem para ligar
subordinativamente duas orações;
 e o “pronome apassivador” se, que mais ainda só pode dizer-se pronome
de certo modo, porque indica uma significação passiva para uma configuração
ativa (alugaram-se as casas) em lugar de uma própria configuração passiva (as
casas foram alugadas).
OBSERVAÇÃO 1. O “pronome indeterminador” se, por sua vez, merecerá
tratamento à parte (não só ao estudarmos os pronomes, mas ainda ao
estudarmos as vozes verbais).

substituir-se pelo pronome pessoal eu). – Eis, ademais, um exemplo de oração


substantiva: Disse que viajaria (que pode substituir-se pelo pronome isso ou pelo
pronome o); e um exemplo de oração adjetiva: O livro que é de João (que pode
substituir-se pelo pronome adjetivo seu).

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OBSERVAÇÃO 2. Os por vezes chamados advérbios relativos (onde e aonde)


também podem dizer-se pronomes relativos, como veremos dentro de algumas
aulas.
§ Os ARTIGOS reduzem-se, por sua vez, a adjetivos determinativos ou
pronomes adjetivos. Às vezes não é senão por eles que sabemos o GÊNERO eo
NÚMERO de alguns substantivos: o amálgama, uns leva e traz, etc. Neste caso,
sua função é de mera ordenação paradigmática. Mas também são DEFINIDORES,

por indicar que o substantivo se refere a algo preciso que se supõe conhecido:
o(s) e a(s); ou INDEFINIDORES, por indicar que o substantivo designa algo vago,
impreciso ou ainda desconhecido: um(ns), uma(s).8
§ Os NUMERAIS, como os pronomes, compõem paradigmas, mas,
diferentemente dos paradigmas pronominais, trata-se aqui de paradigmas
potencialmente infinitos; e, como os pronomes, são ou adjetivos determinativos
ou substantivos.
a. Os numerais adjetivos subdividem-se em:
• CARDINAIS: três cães, cento e cinco livros, etc.;
• ORDINAIS: a segunda porta, o centésimo colocado, etc.;
• FRACIONÁRIOS: Compre meio quilo de carne, etc.
b. Os numerais substantivos, por sua vez, subdividem-se em:
• MULTIPLICATIVOS: Ganhamos o dobro do que esperávamos, etc.;
• FRACIONÁRIOS: Três quartos do romance são bons, etc.
OBSERVAÇÃO 1. “Três quartos” também se pode entender como locução
numeral.
OBSERVAÇÃO 2. Naturalmente, o nome dos algarismos é substantivo: o três,
o trinta e quatro, etc.
3. OS VERBOS constituem, de longe, a classe mais complexa, e por diversas
razões.
• Antes de tudo, tal como os adjetivos, atribuem-se a substantivos.
Diferentemente dos adjetivos, todavia, atribuem-se a substantivos enquanto

8 Somos forçados, aqui também, a discrepar da terminologia tradicional: os ARTIGOS


não podem ser “definidos” ou “indefinidos”, porque o que fazem, como adjetivos
determinativos que de fato são, é justamente definir ou determinar e indefinir ou
indeterminar os substantivos – donde a nossa maneira de chamá-los.

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estes são sujeitos de oração e enquanto eles mesmos, os verbos, são o predicado
(ou núcleo do predicado) que se atribui ao sujeito.9
• Depois, mediante o verbo não só se atribui a um substantivo (pessoa ou
coisa) antes de tudo ação ou paixão,10 mas ainda se COSSIGNIFICA TEMPO,

enquanto o substantivo ou nome significa sem tempo. O que quer dizer


cossignificar tempo pode entender-se facilmente pela diferença entre um nome
de ação – (a) luta, por exemplo – e um verbo conjugado – lutam, por exemplo.
Ambos significam ação, mas só a forma verbal o faz cossignificando tempo. E,
como o verbo, ainda quando não indica estrita ação ou estrita paixão, o faz como
se se tratasse de ação, e como a ação é medida pelo tempo, nada mais
consequente, portanto, que o verbo sempre cossignifique tempo: é o que se dá,
de certa maneira, até com os mesmos verbos de cópula ou ligação.11
• Ademais, enquanto, como visto, o substantivo e o adjetivo têm três tipos de
ACIDENTES (gênero, número e grau), o verbo tem quatro: modo e tempo, número
e pessoa. Estes dois pares, todavia, são muito distintos entre si (por razões que
não se podem aprofundar aqui, mas que são estudadas largamente ainda em
nossa Suma Gramatical).
• Por outro lado, já é complexo por si o próprio quadro dos MODOS do verbo.
O modo INDICATIVO expressa antes a realidade da ação verbal (embora, como o
veremos, ação perfeitamente atual e pois perfeitamente real só a dê o presente
do indicativo); o modo SUBJUNTIVO empresta à ação caráter não de realidade,
mas antes de possibilidade, potencial, desejo, condição, etc.; e o modo

9 Naturalmente, oração, sujeito e predicado estudar-se-ão nas aulas de Sintaxe.


10 Como se verá na hora certa, aliás, é elástica a noção de ação implicada no verbo.
Assim, por exemplo, a posse pode ser significada pelo verbo ao modo de ação (Têm
uma vasta biblioteca). Mais ainda, porém: a própria paixão pode, em alguns poucos
casos, ser expressa ao modo de ação: é o que se dá, por exemplo, em O enfermo padece
muitas dores, em que se tem o verbo na voz ativa conquanto pelo significado do
mesmo verbo o sujeito seja paciente. Por outro lado, a própria ação pode ser expressa
ao modo de paixão: É chegado o rei, em que se tem o verbo na voz passiva conquanto
pelo significado do mesmo verbo o sujeito seja agente. Estamos numa fronteira de
tensão extrema entre forma e configuração, como explicamos extensamente na Suma
Gramatical da Língua Portuguesa, e como explicaremos, conquanto bem mais
sucintamente, já neste curso (na aula sobre as vozes verbais).
11 Caso à parte, como veremos, constituem os modos nominais. – Diga-se ademais que,
nas línguas em que perdeu (ou nunca teve) flexões modo-temporais, o verbo passa a
significar por si a pura ação, e caberá a um advérbio ou a um prefixo emprestar-lhe a
noção que lhe falta.

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IMPERATIVO expressa o ser devido. O que há pelo menos um século nossas


gramáticas vêm chamando FUTURO DO PRETÉRITO (dormiria, dormirias,
dormiria, etc.) faz parte de fato do modo indicativo, enquanto significa ação ou
paixão levadas a efeito em tempo posterior a dado pretérito (Chegou à cidade de
noite e ainda daria aula); mas, quando empresta à ação caráter de
possibilidade condicionada (Ele o faria, se pudesse), então “poderia”
considerar-se modo à parte.12
• Conta o verbo português, além disso, com modos chamados nominais: o
INFINITIVO, de caráter antes substantivo; o GERÚNDIO, de caráter ora adverbial,
ora adjetivo; e o PARTICÍPIO, que se divide em passado e presente (este de mais
raro uso nos dias de hoje), sempre de caráter adjetivo. Nenhum destes modos
conta com desinências modo-temporais; e, se o gerúndio e os particípios
tampouco contam com desinências número-pessoais, não assim em português
(e em galego) o infinitivo, que se pessoaliza. – Estudar-se-ão, no devido lugar,
três problemas relativos a estas formas: o primeiro, se podem de fato ser
nominais e verbais ao mesmo tempo; o segundo, se o infinitivo flexionado ainda
se pode dizer nominal; o terceiro, se o particípio, que, como visto, se divide em
passado e presente, de fato não cossignifica tempo (como não o fazem as outras
formas nominais).
• Por fim, ordenam-se os verbos portugueses em TRÊS PARADIGMAS OU

CONJUGAÇÕES (a primeira em -ar, a segunda em -er e a terceira em -ir: louvar,


ceder, partir).13 O verbo pôr, que pareceria constituir uma quarta conjugação,
reduz-se porém à segunda (por provir do latino ponĕre). Todas as conjugações
têm seus verbos IRREGULARES, que o podem ser, como veremos, por
irregularidade na desinência flexional (est-ou) ou por irregularidade no radical
(troux-e). E alguns verbos, mais que irregulares, são ANÔMALOS.
4. Os ADVÉRBIOS, conquanto não sejam da complexidade dos verbos, são
porém de mais difícil definição. Por e a princípio invariáveis, modificam antes
de tudo o verbo (meditam intensamente), e estão para este assim como os
adjetivos estão para o substantivo. Mas também podem modificar o adjetivo
(muito forte), outro advérbio (muito bem) e até uma oração inteira

12 Deixamos para mais adiante que nome, neste caso, se lhe deve dar.
13 O latim e o italiano contam com quatro conjugações; o espanhol com três; o francês
também com três, a terceira das quais, porém, de grande irregularidade, se subdivide
em outras três.

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(Infelizmente não foi possível deter-lhe o desvario). Mais ainda:


aparentemente, podem modificar ainda um substantivo ou um pronome
substantivo (muito homem, quase major, até ele). Quanto a isto, a N.G.B. optou
por uma fórmula de compromisso que de fato não o explica.14 Alguns poucos
gramáticos, por seu lado, consideram tal muito, tal quase e tal até como efetivos
adjetivos (de origem adverbial), porque não caberia senão ao adjetivo modificar
o substantivo. Outros poucos, ainda, consideram porém que os advérbios
podem aplicar-se a toda forma passível de receber mais ou menos ou certa
modalidade, o que incluiria o substantivo. Pois bem, cremos ter solucionado
esta árdua questão em nossa Suma Gramatical; aos alunos de nosso curso
mostraremos, no momento devido, o resultado a que chegamos ali. – Por ora,
todavia, o que nos interessa mostrar é que o advérbio se divide em subclasses:
a. a dos advérbios modificadores tão somente de verbos, os quais por sua vez
se subdividem em de LUGAR (aqui, ali, atrás, etc.), de TEMPO (hoje, amanhã,
logo, etc.), de ORDEM (antes, depois, etc.), de MODO (bem, mal, devagar, etc.),
etc.;
b. a dos advérbios modificadores tanto de verbos como de adjetivos e/ou
advérbios (e/ou substantivos e/ou orações, talvez), os quais por sua vez se
subdividem em de INTENSIDADE (pouco, muito, mais, etc.), de MODO (muitos
terminados em -mente, etc.), etc.
OBSERVAÇÃO 1. Em português, com efeito, como se verá, há um modo
universal de formação de advérbios: pelo acréscimo do sufixo -mente ao adjetivo
(sãmente, tenazmente, belamente, etc.).
OBSERVAÇÃO 2. Nem sempre é de todo nítida a fronteira entre adjetivo e
advérbio, como se verá também no devido momento. E, como no advérbio de
algum modo “lateja” o adjetivo, passam alguns advérbios a admitir, igualmente,
flexões de grau (pertinho, etc.).15 Por isso podem dizer-se nominais certos
caracteres não só dos substantivos e ainda dos adjetivos, mas até destes mesmos
advérbios.

14 Com efeito, foi por não considerar possível que o advérbio determine também um
substantivo (e ainda uma oração inteira) que a N.G.B. classificou os advérbios que
aparentemente o fazem como “palavras denotativas”. Isto não faz senão tornar ainda
mais obscuro o assunto; mas a maioria dos gramáticos o segue.
15 E note-se ainda que muitos adjetivos podem tornar-se advérbios (Trabalham
rápido) ou usar-se como advérbios impróprios ou acidentais (As águas fluíam
tranquilas).

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OBSERVAÇÃO 3. Ademais, há certas formas tradicionalmente consideradas


advérbios que, no entanto, nos parece devem tratar-se à parte. É o caso
sobretudo das NEGATIVAS não, nem, tampouco, nunca, jamais (estas duas
últimas com superposição de aspecto temporal), mas também das AFIRMATIVAS
sim, certamente, etc., das DUBITATIVAS talvez, acaso, etc. – et reliqua.
Aprofunda-se o tema na Suma Gramatical.
II. Há porém palavras que são, por sua própria natureza, distintas das vistas
até agora: não significam substâncias nem acidentes de tipo algum, mas são
antes ligações intervocabulares que expressam certas relações entre as ideias.
Dividem-se duplamente.
1. Temos antes de tudo os CONECTIVOS ABSOLUTOS, ou seja, as PREPOSIÇÕES
e as CONJUNÇÕES.
a. As PREPOSIÇÕES, como o próprio nome indica, põem-se sobretudo antes
de palavras que expressem ideia subordinada a outra: ficou [subordinante] EM

casa [subordinada]; feito [subordinante] POR Maria [subordinada]; útil


[subordinante] A todos [subordinada]; etc. Mas põem-se também antes do verbo
em forma nominal justamente para subordinar sua oração a outra: EM
chegando à cidade [subordinada], telefone-nos [subordinante]; POR rejeitar a
proposta indecorosa [subordinada], passaram a persegui-lo [subordinante]; A
persistirem os sintomas [subordinada], informe-o a seu médico [subordinante];
etc. Há PREPOSIÇÕES que só o são (a, ante, após, até, com, contra, de, desde,
diante, em, entre, para, perante, por, sem, sob, sobre, trás); mas há palavras
oriundas de outra classe gramatical, em geral adjetivos ou particípios, que, por
contiguidade semântica, podem usar-se como preposições (conforme,
consoante, tirante, etc.).
b. As CONJUNÇÕES, por sua vez, são antes de tudo enlaces de coordenação
ou de subordinação entre orações, razão por que se dividem em COORDENATIVAS

e SUBORDINATIVAS. As COORDENATIVAS dividem-se em copulativas ou aditivas


(cujo modelo é e), disjuntivas ou alternativas (cujo modelo é ou),
adversativas (cujo modelo é mas). As SUBORDINATIVAS, por seu turno,
dividem-se em integrantes (cujo modelo é que), condicionais (cujo modelo é
se), causais (cujo modelo é porque), finais (cujo modelo é a locução para
que), comparativas (cujo modelo é como), concessivas (cujo modelo ora é
embora, ora é a locução ainda que), temporais (cujo modelo é quando),
proporcionais (cujo modelo é a locução à medida que) e correlativas ou

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consecutivas (sempre em par com certos advérbios de intensidade, e cujo


modelo é tão ... que). De mais difícil classificação são as conjunções
conclusivas ou ilativas (cujo modelo é portanto) e as continuativas (cujo
modelo é pois ou ora), enquanto as explicativas (cujo modelo pode ser pois) e
as modais ou conformativas (cujo modelo podem ser como ou conforme)
têm sua mesma existência não raro negada.
→ Mas as conjunções também podem ligar palavras (moça boa E bela,
pessoa bela MAS fútil, livro bom AINDA QUE árduo, etc.), razão por que podem
ligar partes da oração, ou seja, núcleos do sujeito (Pedro E Paulo chegaram a
Roma, por exemplo), de um complemento (Trouxe canetas E lápis, por
exemplo), etc. – Como se mostra e explica na Suma Gramatical, tais palavras e
núcleos são partes análogas da oração.
2. Depois, os CONECTIVOS NÃO ABSOLUTOS: são os PRONOMES RELATIVOS. A
diferença entre a conjunção e o relativo é que a conjunção se interpõe entre duas
orações tão somente para manter entre elas uma relação de coordenação ou de
subordinação, ao passo que o pronome relativo, que se refere sempre a um
nome antecedente, repete ou reapresenta de algum modo a ideia deste na
oração seguinte – é como um traço de continuidade entre as duas orações. Por
isso, diferentemente dos conectivos absolutos, os relativos exercem função
sintática: podem ser sujeito, objeto, etc., como se verá em seu momento.
Insista-se por ora, todavia, em suas outras notas principais. Em primeiro lugar,
o relativo funciona sempre como uma juntura, um engaste, uma “dobradiça” de
duas orações – o que o faz identificar-se com todo e qualquer conectivo. Mas,
em segundo, é sempre subordinativo, razão por que se identifica com a
conjunção subordinativa.
III. Tem-se por fim a classe à parte das INTERJEIÇÕES: ah!, oh!, etc. As
interjeições expressam tão somente um afeto ou uma impressão súbita da alma,
razão por que se aproximam de signos naturais como um gemido de dor ou um
rosto lívido. Não são, porém, signos naturais, porque, diferentemente destes, se
impõem convencionalmente na linguagem.
OBSERVAÇÃO. Há ainda interjeições como força!, coragem!, adiante!, etc.,
que são originalmente nomes e advérbios modificadores ou complementares de
verbos: Tenha força!, Encha-se de coragem!, Siga adiante!, etc. Trata-se de
caso semelhante ao de formas de agradecimento como Obrigado: Estou

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obrigado a retribuir o favor que me fez, que resultam de elipse de quase toda a
oração.

 Como se há de ter notado, vimo-nos obrigado a romper com muitos


modos tradicionais de classificação gramatical das palavras. Por outro lado,
porém, tivemos a permanente preocupação de aproveitar todo o possível da
classificação tradicional, pelo fato mesmo de ser tradicional.

 Como também se há de ter notado, já várias vezes fizemos


classificações duplas ou triplas. E não o pudemos fazer senão porque, assim
como em Química se diz que um composto é polifuncional quando participa
de mais de uma função, assim também, analogamente, deve dizer-se em
Gramática que certo elemento, certa palavra ou certa classe ou subclasse de
palavras são POLIFUNCIONAIS por participar, respectivamente, de mais de uma
função elementar, de mais de uma função morfológica ou de mais de uma
função sintática.

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