Chernobyl - A Catástrofe
Chernobyl - A Catástrofe
Chernobyl - A Catástrofe
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Graduado em História - E-mail: [email protected]
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Doutorado em História. Universidade Católica Dom Bosco - Email: [email protected]
RESUMO: Na madrugada de 26 de abril de 1986 o pior acidente nuclear para fins pacíficos aconteceu na extinta
URSS. O acidente liberou cerca de 50 toneladas de produtos radioativos provenientes da fissão, pegando carona em
nuvens que praticamente viajou em toda Europa chegando até a costa leste dos EUA. Por meio das chuvas e outros
fatores climáticos foram depositados produtos como o césio-137 que tem sua meia-vida de 30 anos, o que levará séculos
para que alguns locais possam ser habitados novamente. As regiões que receberam as maiores taxas de contaminação
foram a Ucrânia país que abrigava o reator, a Rússia e a Belarus somando 145 mil quilômetros quadrados que não pode
receber nenhum morador, lavoura ou animais. No momento do acidente quase sete milhões de pessoas residia próxima à
usina, sendo que 350 mil foram expulsas dos seus lares levando apenas a roupa do corpo. As vítimas da catástrofe estão
sendo esquecidos pela história como os moradores e os liquidadores, termo produzido na época para trabalhadores de
várias áreas que fizeram a limpeza da zona de exclusão. A pesquisa se valeu de textos especializados, principalmente
em fontes oficiais e órgãos não governamentais reconhecidos internacionalmente, por sua luta contra a instalação e a
manutenção de usinas e armas nucleares. Outras fontes tais como livros e artigos também serviram de base para se
confrontar com os documentos (oficiais ou não), possibilitando revelar a micro-história e os motivos da memória e
esquecimento de fato tão importante.
CHERNOBYL - CATASTROPHE
ABSTRACT: At dawn on April 26, 1986 the worst nuclear accident happened for peaceful purposes in the former
URSS. The accident released about 50 tons of radioactive fission products from, piggybacking on clouds that virtually
traveled throughout Europe coming to the EUA east coast. Through rainfall and other climatic factors products such as
cesium -137 has a half -life of 30 years, which will take centuries to some areas may be inhabited again were deposited.
The regions receiving the highest contamination rates were Ukraine country that housed the reactor, Russia and Belarus
totaling 145 square kilometers that can not receive any resident, farming or animals. At the time of the accident nearly
seven million people lived close to the plant, and 350,000 were expelled from their homes taking only the clothes on
their backs. The disaster victims are being forgotten by history as locals and liquidators, produced in term time for
workers in various areas that have cleaned the exclusion zone. The research made use of specialized texts, mostly on
official sources and non-governmental agencies internationally recognized for his fight against the installation and
maintenance of power plants and nuclear weapons. Other sources such as books and articles were also the basis for
confronting the documents (official or not), allowing reveal the micro - history and the reasons for memory and
forgetting in fact so important.
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aconteceu o acidente. Ainda existiam dois de bombas nucleares, mas a questão das
reatores em construção no momento da usinas estava atrasada em comparação ao
tragédia, mas os dois últimos complexos só ocidente, já que a preocupação naquele
tiveram suas obras paralisadas após três anos. momento era a produção do plutônio. A
Em dezembro de 2000 foram definitivamente construção de uma bomba nuclear que os
desativados todos os reatores, mas ainda hoje soviéticos desejavam tinha como principal
existem pessoas que trabalham em Chernobyl, combustível o plutônio, que pode ser
tais como: militares, funcionários da usina produzido apenas artificialmente.
que atuam no controle da radiação e na Era necessária a produção em grande
administração. escala para desenvolver reatores específicos
para fabricação deste elemento químico. Esse
1 Finalidades da usina nuclear processo gera energia térmica, antes de se
pensar em usinas para produção de energia
A construção desta usina teve como elétrica esse calor resultante da transformação
estratégia sua localização geográfica para de urânio em plutônio causava dor de cabeça
beneficiar a União Soviética, e além de aos pesquisadores. “A quantidade imensa de
oferecer energia para cidades industriais e calor que produziam era tida como
residenciais. A fabricação de bombas inconveniente pelos projetistas” (HAWKES
nucleares era o aspecto mais sombrio da et al., 1986, p. 36). Os locais de produção
usina, já que o contexto geopolítico neste eram semelhantes às usinas nucleares,
período tornava indispensável à produção e a existindo barras de contenção para controlar
corrida armamentista entre duas potências: nêutrons, água ou gás, chamados de
EUA e URSS. Na segunda guerra mundial os refrigerante, para a refrigeração que se torna
EUA detonaram duas bombas atômicas nas vapor, com os mesmos princípios de usinas
cidades japonesas de: Hiroshima e Nagasaki. termoelétricas que utilizam o vapor para girar
Essa arma fez com que vários cientistas turbinas e produzir energia elétrica, com
soviéticos voltassem seu trabalho para a força algumas vantagens, e uma delas era em
do átomo, esse esforço representava o orgulho quantidade de combustível utilizado. “A
tecnológico que uma sociedade socialista energia contida em um quilo de urânio
podia criar. Em 1942 a URSS deu início ao utilizado em um reator, quando liberada,
programa nuclear soviético, com seus equivale à fornecida pela quantidade de 3.000
engenheiros apelidados de especialistas toneladas de carvão em usina convencional”
vermelhos pelos engenheiros ocidentais. (HAWKES et al., 1986, p. 34). A produção
Esses cientistas soviéticos conheciam e de energia foi uma consequência das
dominavam o desenvolvimento e construção pesquisas para desenvolvimento de armas
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nucleares, e isso aconteceu em todos os países de usinas assim como os engenheiros
que fizeram instalação e tais usinas. ocidentais.
Produzir plutônio era um orgulho para
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a engenharia da União Soviética, sendo
totalmente projetada pelos especialistas
A forma com que este projeto era visto
vermelhos e sendo alimentado de urânio com
pelo ocidente refere-se a mentalidade
menor índice de enriquecimento.
discriminatória pelo regime adotado na
URSS. Alguns pesquisadores como Michele Para reduzir os riscos com o urânio, a
Lee e Oliver MacDonald examinaram a maioria dos reatores ocidentais esfriados
com água usa urânio altamente
engenharia empregada na usina de Chernobyl. enriquecido, a taxa de 3,5%. Para
economizar, os russos planejaram a usina
Em entrevista concedida para revista New de Chernobyl com reatores onde o urânio
Left Review de maio/junho de 1986 esses está enriquecido a 1,8% e é guardado
dentro de blocos de grafite. O grafite é
pesquisadores não atacam a usina ou o colocado em torno do urânio para manter
a eficiência da operação (REVISTA
projeto, mas explicam de forma racional
VEJA, 1986, p. 39).
vários pontos que naquele momento ainda era
uma dúvida: da evolução do reator PWR para A facilidade na troca do combustível
o modelo em questão, sendo bastante feita por um guindaste sobre trilho também
sofisticada exemplificando a eficiência foi fator importante para utilização deste
individual de cada tubo que armazena o modelo de reator, já que não era necessário o
combustível, de como é fácil trabalhar com os desligamento total do reator, a queima não
bastões sendo retirados individualmente e os acontecia de forma regular. O núcleo sofria
motivos, na visão deles, para construção da maior deteorização se comparadas com as
usina (MEDVEDEV, 1987). extremidades, então era necessário fazer
Examinando em fontes publicadas no várias trocas, tornando este ponto do sistema
período, que para outros pesquisadores do desfavorável. À medida que substituía as
assunto tudo não passou de mais um erro varetas era necessário fazer perfurações
grotesco do sistema comunista. É certo que a enfraquecendo a tampa do reator. O tamanho
utilização do reator RBMK “Reactor Bolshoy do reator e a ponte móvel impedia a
Moshchnosty Kanalny” (reator de canaletas construção de um vasilhame metálico de
de alta potência) devia-se a vários fatores, contenção que cobrisse toda a estrutura
tanto econômico, político e militar, mas sem (GROSS, 1987).
dúvida os especialistas vermelhos eram A única proteção era uma tampa de
capazes de aplicar os conhecimentos cimento que pesava em torno de 700
matemáticos, técnicos e científicos na criação toneladas Ainda assim esse modelo foi
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implementado em outros locais da URSS, o O ponto principal era saber se as
que trazia a instabilidade do reator era ser turbinas conseguiriam alimentar as bombas de
operado em baixa potência e os engenheiros refrigeração do núcleo por inércia no tempo
soviéticos não tinham conhecimento até o mínimo de 40 segundos até que as bombas a
acidente. diesel fossem ligadas. A melhor maneira de
fazer este procedimento seria o desligamento
3 O acidente do reator, pois o mesmo tinha que ser operado
por controles manuais. Em circunstâncias
A usina tinha recebido ordens do normais o sistema automático não tinha a
comitê estatal para uso da energia atômica e programação para execução de tal manobra.
para fazer manutenção de rotina no reator nº4 Os operadores sabiam que uma parada total
no dia 25 de abril de 1986. Aproveitando a levaria dias para religar completamente o
ocasião seriam realizados testes sobre a reator, devido ao fenômeno de
capacidade de refrigeração na falta de energia. envenenamento por xenônio 135, essa atitude
As usinas nucleares não apenas produzem auxiliou a gerar o acidente.
energia, mas também consomem para acionar O experimento que estava prestes a ser
as bombas responsáveis pela circulação do feito foi realizado no pior momento, pois
refrigerante que vai para o núcleo e sistemas vários pontos cruciais que levariam a
auxiliares. Se uma usina está acima de 20% instabilidade estavam prontos para entrar em
de produção ela própria se mantém, quando choque, tais como: todos os sistemas de
está abaixo deste valor precisa de energia segurança foram desligados, a barra de
externa (ESTEVES, 2013). combustível estava em seu ciclo final, neste
Caso falte energia o sistema de momento a falta de resfriamento ficou mais
segurança entra em ação ligando os geradores perigosa já que o produto da fissão no final de
de emergência movidos a diesel. Não é ciclo gerou uma quantidade maior de calor e
explícito, mas é certo que o motivo maior do ficou altamente instável. “O período final do
teste na refrigeração era o medo de um ataque combustível é onde tem maior acúmulo de
como ocorreu na central nuclear no Iraque em resíduo nuclear, resultado da fissão do urânio,
1981 pelos israelenses. com isso o risco de vazamento também
A primeira parada programada da unidade aumentou” (DALAVIA, 2014, p. 2).
4 seria aproveitada para um experimento
que consistia em reduzir a potência ao Inicialmente os testes estavam
mínimo e desligar o reator junto com o programados para começar à 1h da
corte da energia externa, simulando um
blecaute (DALAVIA, 2014, p. 2). madrugada do dia 25 de 1983. Às 14h houve
o que se pode considerar como um dos pontos
cruciais no acidente, o desligamento do
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sistema de resfriamento de emergência o que acumulando. Em consequência disso, o
reator, da mesma forma que um carro
evitava seu funcionamento durante os testes. afogado, só pode ser ligado depois que se
No mesmo momento houve um aumento na tiver passado tempo suficiente para que o
xenônio 135 decaia (HAWKES et al.,
demanda de energia adiando o teste para o 1986, p.79).
próximo turno. Às 00h houve a troca dos 256
O reator não respondia de forma
funcionários para grupo da noite que
eficiente e o controlador não conseguia elevar
assumiria a usina, o sistema de emergência
a potência devido ao envenenamento, pois a
continuava desativado. A potência na
atitude feita contrariava todas as normas de
madrugada do dia 25 estava em 3.200MWth e
segurança. O reator possuía um total de 211
foi reduzida até 1.600MWth. Manteve-se esta
barras de controle, mas o máximo de barras
situação até as 00h005min do dia 26, ocasião
que poderia ser removida seria de 181, porém
em que foi reduzida para 720MWth e
foram deixadas pelo operador apenas 6.
continuava diminuindo. Segundo o relatório
“Optou-se pela remoção das barras de
para execução dos procedimentos a potência
controle, aumentando a potência do reator
segura do reator para execução seria de
entrando num regime de funcionamento
700MWth a 1.000MWth. Por ordem do
instável, com risco de sofrer elevações
engenheiro supervisor Anatoly Dyatlov
incontroláveis de potência” (ESTEVES,
Stepanovich responsável pelo procedimento o
2013).
reator teria sua potência diminuída até
Normalmente o reator funciona com
200MWth para dar inicio aos testes. O
quatro bombas de refrigeração, o que é
operador responsável pela potência não
suficiente para manter a pressão de água e
conseguiu operar o sistema com a destreza
vapor adequada dentro dos tubos, sendo
necessária para balancear a força do reator,
extremamente importante devido à condição
caindo para 30MWth, nesse momento
do tipo de reator. Neste dia as quatro bombas
começou o processo de envenenamento por
estavam em funcionamento e foram
xenônio 135.
adicionadas mais duas; posteriormente foi
Os produtos de fissão produzidos durante ligada ao sistema mais duas bombas ficando
a operação de reator figura o xenônio 135,
um gás que apresenta uma alta taxa de com um total de oito.
absorção de nêutrons. Quando o reator
esta em operação total há nêutrons Estava criada, no entanto, uma situação
suficientes para que essa absorção não irregular, com oito bombas funcionando e
represente nenhum problema, mas quando o reator em potência de apenas 200MW, e
ele funciona a baixa potência ou é não de 500MW conforme estabelecida no
completamente desativado, o acumulo de programa. [...] Como decorrência, a
xenônio 135 fica insignificante. Depois da residência hidráulica do sistema de
desativação total, o iodo 135 presente no circulação (núcleo com os canais de
núcleo continua a sofrer decaimento, combustível e as próprias bombas) atingiu
produzindo mais xenônio 135, que vai se um ponto sensivelmente menor do que o
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valor previsto para o funcionamento Os operadores ainda não tinham
normal e seguro do reator. Como havia
menos vapor – e, portanto, menos pressão conhecimento do que estava acontecendo no
– nos sistemas de circulação, o volume de núcleo, lembrando que todos os sistemas de
água em circulação aumentou
enormemente, até atingir 56.000 a segurança foram desativados, neste momento
58.000m³/h. Trata-se de regime proibido,
pois implica risco de danificação das a última opção para evitar o desastre.
bombas e produz vibrações nos principais Quando foi percebido o que estava
sistemas de resfriamento (com ocorrência
de cavitação), criando ainda uma fonte acontecendo, o chefe de turno ordena que
adicional de calor (GROSS, 1987, p. 32).
fossem inseridas as barras, o operador aperta
o botão AZ-5, responsável por inserir todas as
O fluxo de vapor no controlador caiu
barras de controle no núcleo. O calor no
devido ao volume de água disparando os
interior do reator era tão intenso que
alarmes, ao invés da manobra ser
deformou as barras de combustível impedindo
interrompida e o reator desligado, o
a passagem das barras de controle. Em uma
controlador desligou o alarme. A combinação
medida desesperada as barras foram soltas
de menos barra de controle com um fluxo
dos motores que faziam a inserção. Todo o
maior de água e xenônio 135 no primeiro
grafite que existia no núcleo fez com que a
momento ajudou a manter o nível de nêutrons
força armazenada nos combustíveis fosse
no núcleo, já que a água retém essa partícula.
amplificada, quando as barras de controle
Quando o teste propriamente começou, foram
foram inseridas ao invés do reator reduzir, ele
fechadas as válvulas de entrada da turbina e a
aumentou sua capacidade. “Com a inserção
energia das bombas d’água foi desligada,
das barras, houve o deslocamento da água que
diminuindo assim o fluxo de água no núcleo.
refrigera os elementos combustíveis para dar
Às 1:23:04h foram fechadas as válvulas lugar ao encamisamento e, no primeiro
que controlam o fluxo de vapor para o
turbo gerador nº8, iniciando-se assim run instante, houve uma subida brusca na potência
– down propriamente dito. Desligou-se ao
ao invés do efeito desejado que era o de
mesmo tempo o sistema de proteção que
entra automaticamente em operação reduzir a potência” (ESTEVES, 2013).
quando o gerador funciona em condições
irregulares (GROSS, 1987, p. 33). Neste momento não existia nenhuma
possibilidade de reversão da situação, o que
O reator deixa a estagnação e começa estava por vir seria o fim do reator e o início
o aumento na reação criando vapor devido à do maior desastre nuclear para fins pacíficos
falta de água para manter refrigerado. O do mundo. O nível de potência salta de 7%
espaço entre as bolhas não consegue absorver para 50% em apenas três segundos
os nêutrons, permitindo sua passagem (HAWKES et al., 1986, p. 82).
gerando o processo em cadeia e dessa forma O excesso de vapor fez com que todo
torna-se, a formação de vapor é incontrolável. o sistema começasse a vibrar, a força exercida
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no sistema era além do que o projeto podia urânio e grafite altamente contaminados
suportar; a pressão acumulada fez com que foram ejetados para fora da usina.
um equipamento de 200 ton. caísse sobre o Fontes divergem sobre a quantidade
sistema de refrigeração agravando ainda mais de material lançado para a atmosfera, uns
o problema. Ouve-se um primeiro estrondo, calculam a liberação cerca de 50 ton. de
era o vapor destruindo o reator, uma explosão produtos nucleares, outros assinalam 3
hidráulica fazendo com que a tampa de milhões de terabecqueréis, e outros
contenção que pesava 700 t. fosse levantada, consideram 10 vezes mais do que a bomba de
que na sua queda destruiu boa parte do prédio. Hiroshima.
O reator n° 4 de Chernobyl estava com
Os reatores de Leningrado não contam
com vaso de contenção, nem com sistema seu futuro selado, liberando radioatividade
de vaporização por canais e sistema sem nenhum controle pelos próximos oito
alternativo de desativação, tais como os
adotados na Inglaterra. Contudo, o meses até que a limpeza e construção do
problema mais importante parece ser o de
projetar e demonstrar um sistema de sarcófago fossem finalizadas, tornando-se um
contenção do núcleo que possa resistir à problema ainda maior para a URSS.
pressão do vapor no caso de rompimento
dos tubos pressurizados (HAWKES et al.,
1986, p. 85). 4 A cidade de Pripyat e os moradores
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Quando o acidente aconteceu sua nenhum habitante, tornando-se cidades-
população tinha cerca de 49.000 habitantes, fantasmas que ainda hoje abriga objetos dos
segundo o documentário - O desastre de seus antigos moradores. Segundo o
Chernobyl produzido pelo Discovery Chanel, Greenpeace Brasil (2011) cerca de sete
que é reconhecido pela embaixada da Ucrânia milhões de pessoas estavam em zonas
no Brasil por meio de documento contaminadas no período do acidente, e foi
disponibilizado como fonte fidedigna. Tal estimado que trezentos e cinquenta mil
documentário atesta que só após trinta horas pessoas deixaram seus lares nas zonas mais
do ocorrido as medidas de precaução foram contaminadas.
tomadas para os habitantes, como a
distribuição de pílulas de iodo e a evacuação 5 Possíveis vítimas
em massa. O prazo para evacuação foi de
duas horas, literalmente a população saiu com Por mais perturbador e absurdo que
a roupa do corpo abandonado sua casa e vida possa parecer, as informações oficiais sobre
naquela cidade. Segundo essa mesma fonte mortes no primeiro momento foi de apenas
todas as pessoas foram evacuadas em apenas duas pessoas, posteriormente esse número foi
três horas e meia, sem nenhum tipo de pânico, alterado. Ainda hoje algumas fontes divergem
ônibus levaram os primeiros refugiados sobre a contagem dos mortos, a Organização
atômicos da Europa. A evacuação aconteceu Mundial da Saúde (OMS) e fontes oficiais
sem nenhum tipo de desespero, mas não assinalam em um total de 59 mortes
foram sem recusa, uma vez que muitos relacionadas diretamente ao acidente, outras
moradores em alguns locais convocaram fontes apontam 31 ou 33 pessoas.
assembleias para evitar a saída das pessoas. As primeiras pessoas a morrerem no
Alguns idosos não acreditavam em um acidente foram alguns funcionários que
inimigo invisível, chegavam a esconder-se em trabalhavam no interior da usina, nem todos
porões e quando achados pelos militares morreram imediatamente ou devido às altas
ficaram aos prantos por ter que abandonar doses de radiação, alguns ficaram presos, ou
suas terras. A cidade de Chernobyl só foi sofreram queimaduras em todo o corpo. As
evacuada no dia 27, essa cidade era maior que primeiras pessoas que não trabalhavam
Pripyat, a estratégia para levar as pessoas a diretamente na usina foram os bombeiros que
um local com melhores condições foram as rapidamente atenderam o chamado. A
mesmas executadas nas primeiras cidades e explosão ejetou em todas as direções grafite
vilas. em chamas altamente radioativos, que se
As cidades, vilas e casas rurais dentro tornou quase impossível à extinção das
da zona de exclusão nunca mais iriam receber chamas com os métodos tradicionais. Todos
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os bombeiros receberam doses muito elevadas Outro grupo que esteve no centro do
de radiação, o equipamento de proteção não problema foi apelidado de biorobôs, jovens
era adequado para tal situação, a temperatura com a tarefa de limpar o telhado onde seria
do local chegou a derreter a sola dos sapatos erguida a estrutura do sarcófago. Quando os
destes homens. Algumas horas depois foi engenheiros descobriram que o resto do
solicitado o reforço, os que tentavam apagar o telhado que resistiu a explosão estava cheio
fogo começavam a mostrar os primeiros de grafite contaminado, decidiram jogar o lixo
sintomas de contaminação, os primeiros de volta para dentro do prédio, já que a
bombeiros morreram imediatamente ou em estrutura cobriria tudo. Optou-se em utilizar
alguns dias depois. robôs. Depois de algum tempo em
A limpeza do desastre ficou por conta funcionamento esse equipamento foi
dos liquidadores, um apelido dado às pessoas seriamente danificada devido ao alto grau de
que trabalharam em qualquer função radioatividade que emanava do núcleo, a
relacionada à limpeza e contenção da alternativa seria utilizar pessoas para fazer
radiação. Esse termo está ligado a questão de esse trabalho. Os homens selecionados para
“liquidar Chernobyl” ou “acabar com o função tiveram que adaptar placas de chumbo
problema”. Os liquidadores eram: ao seu corpo para minimizar os efeitos da
engenheiros, reservistas, militares das forças contaminação, o trabalho tinha que ser rápido
armadas, bombeiros, civis, mineiros, e só podiam permanecer no local por no
trabalhadores de construção, médicos e máximo 40 segundos.
policiais. Essas pessoas fizeram parte de uma Esses homens sacrificaram suas vidas
operação gigantesca que envolvia a limpeza para evitar um desastre sem precedentes.
na zona de exclusão, caça aos animais Combateram o incêndio, diminuíram o nível
contaminados, construção de um túnel de radioatividade, e limparam da melhor
embaixo do reator avariado para instalação do forma possível a zona de exclusão. Alguns
sistema de refrigeração, fiscalização dos homens não foram reconhecidos como
limites, construção do sarcófago entre outras liquidadores, foram excluídos dos méritos e
funções. Uma estimativa do contingente de da história, fizeram o trabalho que nem as
pessoas foi de seiscentas mil, todas máquinas suportavam. Foram os verdadeiros
contaminadas de alguma forma sofrendo os heróis que evitaram algo ainda pior e estão
efeitos até os dias de hoje. Essas pessoas sendo esquecidos.
ficaram fisicamente incapacitadas e seus
auxílios constantemente são reduzidos,
deixando sua situação ainda mais precária.
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6 Como o mundo soube da tragédia ucraniana reconhece que a nuvem com
material tóxico fez seu passeio em
A União Soviética escondeu o que praticamente toda a Europa, alcançando
estava acontecendo ao máximo. A Suécia foi pontos do litoral leste dos EUA. Em outra
o primeiro país que achou que havia algo fonte também é citado o tamanho da
errado, devido ao seu programa rígido de dimensão “[...] praticamente toda a Europa,
controle nas usinas, notaram que a poeira na parte da Ásia e, em menor escala, a América
roupa dos trabalhadores apresentava do Norte foram contaminadas pelos
radioatividade muito acima do normal. Nesse radionuclídeos liberados no acidente”
momento todos os alarmes soaram e deixaram (PASCHOA, 1987, p. 36).
os suecos preocupados; medidas foram Após alguns dias o líder Mikhail
tomadas sem saber o que tinha acontecido, Gorbachev fez um pronunciamento revelando
não estava no seu país mais sim no seu o que tinha acontecido. A ocasião inédita que
vizinho. Depois de uma extensa verificação marcou a história foi o pedido de auxílio que
percebeu-se que nada tinha acontecido nas fez ao ocidente. Foi o próprio Gorbachev que
suas usinas, voltaram suas dúvidas para os convidou Hans Blix na época presidente da
soviéticos. A Suécia tem em todo o território Agência Internacional de Energia Atômica
sensores que podem verificar qualquer (1981-1997), para inspecionar as
variação na radioatividade, assim consequências do desastre, sendo o primeiro
comunicaram à Casa Branca (EUA), que no ocidental designado para tal função. Para
primeiro momento não deu atenção ás alguns o acidente em Chernobyl foi um golpe
informações afirmando que poderia ser gases duro para URSS.
que escaparam do subsolo devido aos testes.
Os sensores sísmicos que foram instalados 7 Contaminados por radiação e
para verificar testes nucleares no subsolo não esquecimento
detectaram qualquer movimentação e os
isótopos que estavam viajando junto com as A contabilização das mortes que já
nuvens apontavam que algo mais grave aconteceram e ainda vão acontecer para a
ocorrera. OMS, chegou à casa de quatro mil vítimas. O
Os soviéticos só assumiram que algo curioso nos dados que são apresentados por
tinha acontecido dentro de suas fronteiras dois este órgão internacional ligado as Nações
dias depois, enquanto isso, satélites espiões já Unidas é a forma branda que a pesquisa leva
vasculhavam para verificar o que tinha em conta a aceitabilidade das pessoas
acontecido dentro da cortina de ferro. O permanecerem em locais contaminados. Ela
mesmo documento cedido pela embaixada julga que cerca de cinco milhões de pessoas
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ainda residem em locais onde se deve tomar estas percepções é um sentimento
exagerado os perigos para a saúde da
medidas defensivas para diminuir o nível de população exposta a radiação. Os afetados
contaminação, e assume que essas pessoas apresentam uma crença generalizada de
que as pessoas expostas são de alguma
estão recebendo algum tipo de radiação forma condenadas a uma expectativa de
vida mais curta. Esse fatalismo também
lentamente. O documento dá a entender que é está ligado a uma perda de iniciativa para
aceitável o nível de radiação destes locais, por resolver os problemas de sustentar uma
renda e dependência de ajuda do Estado
mais que as pessoas estão sendo envenenadas (FORUM DE CHERNOBY, 2005, p. 36 -
tradução nossa).
aos poucos.
Para Dupuy (2007), o modelo usado Segundo a jornalista, política e
pelos pesquisadores e autoridades para definir escritora Alla Yaroshinskaya pesquisadora
o número de pessoas afetadas ou as mortes é sobre o tema, que em sua carreira publicou
um cálculo que analisa o nível de radiação vários trabalhos e livros sobre Chernobyl e
recebida proporcionalmente (modelo linear indicada ao prêmio Nobel da paz em 2005,
limiar), ou seja, não existe nenhum tipo de teve acesso aos documentos secretos enquanto
carga que se possa receber sem que afete os ela fazia parte do Supremo Soviético em 1990
seres em geral, o que vai contra o relatório quando a URSS estava se desfazendo.
acima citado. Segundo esta autora os documentos
O mesmo documento estima que até comprovam que a alta cúpula do partido
quatro mil crianças receberam doses modificou deliberadamente os níveis
suficientes para desenvolver câncer de aceitáveis de radiação que uma pessoa pode
tireóide no dia do acidente. Identificou-se receber, diminuindo as taxas de pessoas
também (de acordo com o mesmo contaminadas. Essa foi uma das decisões
documento) que as pessoas de baixa renda macabras que o governo soviético decidiu
econômica resistiram em sair, mas como o fazer, os motivos certamente seria a sua
nível de radiação estava acima dos padrões, permanência no poder, manter o controle
tais pessoas sofreram grande radiação. sobre as pessoas e a imprensa e diminuir os
Como observado no relatório de
gastos com o acidente. Segundo
Chernobyl Fórum de Saúde, o impacto
sobre a saúde mental de Chernobyl é o Yaroshinskaya além dos materiais
maior problema de saúde pública
desencadeada pelo acidente até hoje. radioativos, o reator liberou outro produto que
Sofrimento psíquico decorrente do afetou apenas os lideres da URSS à mentira
acidente e suas consequências tem tido
um impacto profundo sobre o ou como ela cita “a mentira de 82” fazendo
comportamento individual e da
comunidade populações em áreas afetadas um jogo de palavras com o césio 137.
exibem atitudes fortemente negativas na Um documento que comprova que a
auto-avaliações de saúde e de bem-estar e
um forte sentimento de falta de controle sociedade afetada e os órgãos de pesquisa não
sobre suas próprias vidas. Associado a
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chegaram ao um consenso sobre as mortes e no cálculo para não reconhecer essas pessoas
vítimas, foi produzido pelo parlamento como vítimas. O relatório do fórum de
Europeu em onze de abril de 2011 com este Chernobyl reconhece que a radiação pode
registro: B5-0325/2001 que trata sobre a modificar ou matar.
segurança nuclear quinze anos depois do
Interação da radiação ionizante (alfa, beta,
acidente. Este documento relata a divergência gama e outros tipos de radiação) com
matéria viva pode danificar as células
de opiniões da seguinte forma:
humanas, causando a morte de alguns e
Considerando que, até à data, as modificando outras. A exposição à
consequências do acidente reconhecidas radiação ionizante é medida em termos de
oficialmente se limitam a 33 mortos e a energia absorvida por unidade de massa,
1800 crianças e adolescentes vítimas de isto é, a dose absorvida. A unidade de
cancro da tiróide; que o relatório 2000 do dose absorvida é o gray (Gy) (FORUM
UNSCEAR sobre esta matéria apenas DE CHERNOBY, 2005, p. 36).
reforça esta atitude, apesar de este
balanço oficial ser veemente e O mesmo relatório aponta que a
continuamente contestado pelas vítimas e
pelos especialistas e os cientistas ligados radiação mais forte foi recebida pelos
a este domínio; que organismos oficiais trabalhadores da usina e pelos bombeiros, já a
como a Organização Mundial de Saúde
(OMS) e o Serviço das Nações Unidas população não sofreu com uma dose de corpo
para a Coordenação dos Assuntos
inteiro, não mais do que o mesmo nível da
Humanitários têm uma posição muito
diferente (PARLAMENTO EUROPEU, radiação de fundo. O impacto
2011, p. 2).
socioeconômico reconhecido foi enorme nas
quando o assunto torna-se alvo das atenções, quatro mil em 2002 (FORUM DE
morreram ou tiveram suas vidas afetadas. O governamental Greenpeace (2006) aponta que
aos problemas econômicos. Em 1986 a pode alcançar a marca próxima de cem mil
segunda crise do petróleo e a demanda de vítimas nos três países mais afetados. O
energia barata fez com que a URSS mesmo documento acredita que só na Rússia
mortes, pois era necessário que a opinião sessenta mil, e na Belarus e Ucrânia o número
pública não interferisse em questões nucleares é de cento e quarenta mil vítimas, contestado
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pelo relatório da UNO como na seguinte 3. Residentes dos territórios menos (mas
ainda perigosos) contaminados; e
passagem: 4. Crianças nascidas em famílias de
qualquer um dos 3 grupos acima.
Apesar das dificuldades para dimensionar (GREENPEACE, 2006b, p. 3).
o real número de vítimas, os resultados do
relatório do Greenpeace comprovam que
Não se pode analisar o pós-tragédia
as estatísticas oficiais da Agência
Internacional de Energia Atômica sem levar em conta todas as estruturas em que
(AIEA), divulgadas em setembro último e
que falam em 4 mil vítimas, subestimam essas pessoas vivem atualmente. Não é
de forma grosseira o número de mortes
possível isolar o homem e analisar só sua
provocadas pelo acidente, numa atitude
desrespeitosa para com as vítimas saúde, sua alimentação, pois cada fator
(GREENPEACE, 2006a).
influencia o outro. Essa pesquisa evidencia
Quando analisado esse documento na como os governos escondem juntos com
íntegra, identificam-se pontos controvertidos órgãos a real dimensão da tragédia. Essas
quanto ao número de mortes. políticas só causam mais mortes, e menos
acesso à verdade e são ligadas ao
Apesar da seriedade e extensão geográfica
documentada da contaminação causada esquecimento.
pelo acidente, a totalidade de impactos em Segundo a revista online Exame
ecossistemas, saúde humana, desempenho
econômico e estruturas sociais continua (26/04/2011) as perdas no acidente já somam
desconhecida. Em todos os casos,
impactos assim tendem a ser extensos e 180 bilhões de dólares alcançando 10% do
duradouros (GREENPEACE, 2006b, p. orçamento anual da Ucrânia, sem contar com
3).
as indenizações e auxílios pagos ainda hoje.
Na pesquisa se leva em conta tudo que Recentemente jornais do mundo todo
afeta a vida das pessoas, e é detalhada os tipos noticiaram que houve desabamento do teto do
de doenças que as pessoas podem sarcófago, sendo necessária a construção de
desenvolver, tais com: problemas uma nova estrutura que cobrirá toda a unidade
respiratórios, digestivos, hormonais e diversos 4. Seu custo foi estimado em 1,8 bilhões de
tipos de câncer. Além disso, em nenhum outro dólares, sem essa nova contenção o material
estudo analisado foi discriminado quais que está armazenado no interior do prédio
grupos de pessoas ficaram mais suscetíveis a pode voltar a expelir radiação para a
essas doenças. atmosfera (ver mapa a seguir).
1. Trabalhadores de limpeza ou
‘liquidatários’, incluindo civis e
militares designados a continuar com
suas atividades de limpeza e construir a
camada protetora para o reator;
2. Evacuados de territórios perigosamente
contaminados num raio de 30km ao
redor da usina;
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Mapa - Escala continental do acidente de Chernobyl detectou-se (por acaso) um vazamento de
estrôncio e césio radioativos de um
deposito de lixo atômico durante uma
obra na usina.Só então percebeu que o
vazamento já vinha ocorrendo há uns
quatro anos. Enquanto se investigava esse
problema, encontrou-se outro grande
vazamento em uma estrutura próxima,
provavelmente ainda mais antigo que o
primeiro, talvez com sete anos de
existência (HAWKES et al., 1986, p. 44.)