Relatrio Missoemergenciala Brumadinho
Relatrio Missoemergenciala Brumadinho
Relatrio Missoemergenciala Brumadinho
Brasília
Fevereiro de 2019
2019 Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH). Esta obra
é disponibilizada nos termos da Licença Creative Commons – Atribuição – Não
Comercial – Compartilhamento pela mesma licença 4.0 Internacional. É permitida a
reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte. O CNDH disponibiliza,
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de-direitos-humanos-cndh
Presidente
Leonardo Penafiel Pinho- Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários do
Brasil - UNISOL
Vice-Presidente
Deborah Duprat - Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão/MPF
Mesa diretora
Leonardo Penafiel Pinho - Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários do
Brasil UNISOL
Deborah Duprat - Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão/MPF
Fabiana Galera Severo – Defensoria Pública da União
Leandro Gaspar Scalabrin - Associação Nacional dos Atingidos Por Barragens
Sandra Elias de Carvalho - Justiça Global
Poder Público
Procuradoria-Geral da República/MPF
Titular: Raquel Elias Ferreira Dodge
1º Suplente: Deborah Duprat
2ª Suplente: Domingos Sávio Dresch da Silveira
2
Conselho Nacional de Justiça
Titular: Mauro Campbell Marques
1º Suplente: Márcio Schiefler
2º Suplente: Jaíza Maria Pinto Fraxe
Ministério da Justiça
Titular: Maria Fernanda Jorquera Briceño
1º Suplente: Andréa Maria de Oliveira Farias
2º Suplente: Maria Florentino da Cruz
Departamento de Polícia Federal
Titular: Thiago Hauptmann Borelli Thomaz
Suplente: Priscila Santos Campêlo Macorin
Senado Federal
Situação (Maioria): vago
Oposição (Minoria): vago
Titulares eleitos/as:
Leonardo Penafiel Pinho - Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários do
Brasil - UNISOL Brasil
Iêda Leal de Souza - Movimento Negro Unificado
Eneida Canêdo Guimarães dos Santos - União Brasileira de Mulheres
Ismael José César - Central Única dos Trabalhadores
Sandra Elias de Carvalho - Plataforma de Direitos Humanos Dhesca Brasil
3
Leandro Gaspar Scalabrin - Associação Nacional dos Atingidos Por Barragens
Cristina de Castro - Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
Marco Antônio da Silva Souza - Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua
Rogério Giannini - Conselho Federal de Psicologia
Suplentes eleitos/as:
Paulo Tavares Mariante - Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis,
Transexuais e Intersexos
Camila Lissa Asano - Associação Direitos Humanos em Rede - CONECTAS
Romero José da Silva - Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do
Adolescente
Cibele Kuss - Fundação Luterana de Diaconia
Leonildo José Monteiro Filho - Movimento Nacional de População de Rua
Philip Carvalho Ferreira Leite - Centro Popular de Formação da Juventude
Marcelo Kimati Dias - Associação Brasileira de Saúde Mental
Ayala Lindabeth Dias Ferreira - Setor de Direitos Humanos do MST
Lívia Ferreira da Silva - União Nacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais
Secretaria Executiva
Caroline Dias dos Reis - Coordenadora-Geral
Comunicação
Cecília Bizerra Sousa
Luiza de Andrade Penido
Mariana Marins de Carvalho
Assessoria Administrativa
Claudia de Almeida Soares
Kátia Aparecida Lima de Oliveira
Kell Adorno Rodrigues Porto
Rosane Farias Silva
Assessoria Técnica
Ana Carolina Freitas de Andrade Saboia
Bárbara Roberto Estanislau
Diony Maria Oliveira Soares
Isabelle de Oliveira Ribeiro
Natália Cassanelli
Raíssa Pereira Maciel Comini Christófaro
4
C755
Conselho Nacional dos Direitos Humanos
Relatório da missão emergencial a Brumadinho/MG após rompimento
da Barragem da Vale S/A – Brasília: Conselho Nacional dos Direitos
Humanos; 2019.
27 p.
CDU. 342.7
5
Sumário
I. Introdução ............................................................................................... 7
II. Missão emergencial do CNDH ............................................................... 8
III. Sobre o rompimento da barragem ......................................................... 10
IV. Relatórios das visitas, reuniões e audiências públicas com os atingidos
e órgãos públicos ......................................................................................... 14
V. Conclusões e recomendações................................................................ 19
6
I. Introdução
1
O Ministério Público Estadual solicitou a prisão temporária de três pessoas, os quais informaram em
documentos recentes que as estruturas das barragens se encontravam em consonância com as normas
de segurança responsáveis, atestando a estabilidade das barragens da Vale S.A; e de outras duas pessoas
(gerente de meio ambiente, saúde e segurança do complexo minerário, e o gerente executivo operacional
responsável pelo complexo minerário Paraopeba), que coordenavam a segurança do complexo
minerário onde ocorreu a tragédia. A justiça estadual mineira decretou a prisão temporária das cinco
pessoas por 30 dias, referindo que poderá ser prorrogado por mais 30 e deferiu a busca e apreensão nas
residências dos referidos e de seus celulares, autorizando a Polícia Judiciária a acessar o conteúdo das
mensagens de texto, agenda, dados e mensagens de áudio, vídeo e fotos constantes dos aparelhos, e em
qualquer e todos os aplicativos existentes, em especial no WhatsApp. Na decisão de prisão a justiça
estadual refere que há os documentos firmados “declarações de estabilidade das barragens, informando
que aludidas estruturas se adequavam às normas de segurança, o que a tragédia demonstrou não
corresponder o teor desses documentos com a verdade”. Também há referência na decisão que a
existência de “sensores capazes de captar, com antecedência, sinais do rompimento, através da umidade
do solo, medindo de diferentes profundidades o conteúdo volumétrico de água no terreno e permitindo
aos técnicos avaliar a pressão extra provocada pelo peso líquido, o que nos faz concluir que havia meios
de se evitar a tragédia”. Fonte: http://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/noticias/justica-decreta-prisao-de-
funcionarios-e-engenheiros-da-vale.htm#.XFBSuVxKjIV
7
No dia 30 de janeiro, os relatores especiais da ONU para substâncias tóxicas
(Baskut Tuncak), para a água (Leo Heller) e o Grupo de Trabalho da ONU sobre empresas
e direitos humanos se manifestaram 2 a respeito tragédia, dizendo ser essencial a
investigação completa e imediata do colapso da barragem e a punição dos responsáveis,
com imparcialidade. Os especialistas também ressaltaram que a remediação deve ser feita
por meio de processos legítimos, o que importa a participação direta das comunidades
atingidas, diferentemente do que ocorreu no caso do rompimento da barragem de Fundão,
ocorrido em 2015. Por fim, criticaram a desregulamentação da proteção ambiental que
vem ocorrendo no Brasil nos últimos anos e conclamaram o governo brasileiro a não
autorizar a instalação de novas barragens de rejeitos até que se possa atestar a segurança
dessas estruturas3.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos também se manifestou por meio
de comunicado 4 da Relatora Especial para Direitos Econômicos, Sociais, Culturais e
Ambientais, Soledad García Muñoz, no dia 30 de janeiro de 2019. O texto conclamou as
autoridades brasileiras e a empresa envolvida a tomar todas as medidas necessárias para
mitigar e evitar o agravamento dos danos ao meio ambiente, bem como assistir e facilitar
mecanismos de reparação às vítimas e seus familiares.
2 https://www.ohchr.org/EN/NewsEvents/Pages/DisplayNews.aspx?NewsID=24128&LangID=E
3
Os relatores especiais de Direitos Humanos da ONU sobre as implicações para os direitos humanos do
gerenciamento e disposição de substâncias tóxicas e rejeitos; para os direitos humanos à água potável
segura e ao esgotamento sanitário; para os direitos humanos e o meio ambiente; e o o Grupo de Trabalho
sobre direitos humanos e corporações transacionais e outras empresas ao se manifestarem
publicamente sobre Brumadinho “pediram uma investigação imediata, completa e imparcial do colapso
da barragem de rejeitos”. Os relatores incitaram o governo brasileiro a “a agir decisivamente em seu
compromisso de fazer tudo o que estiver ao seu alcance para evitar mais tragédias desse tipo e levar à
justiça os responsáveis pelo desastre”, em especial “a priorizar as avaliações de segurança das barragens
existentes e a retificar os processos atuais de licenciamento e inspeção de segurança para evitar a
recorrência desse trágico incidente”, assim como, manifestaram preocupação em relação “as medidas
de desregulamentação em matéria de proteção ambiental e social tomadas nos últimos anos no Brasil”.
Em relação à Vale os relatores conclamaram que a mesma atue “de acordo com sua responsabilidade
para identificar, prevenir e mitigar impactos adversos nos direitos humanos; a cooperar plenamente com
as autoridades que investigam o desastre; e prover, ou cooperar, na remediação de danos causados
através de processos legítimos” (Disponível em: http://acnudh.org/pt-br/brasil-relatores-da-onu-pedem-
investigacao-sobre-colapso-letal-de-barragem/).
4 http://www.oas.org/es/cidh/prensa/comunicados/2019/019.asp
8
No dia 30 de janeiro de 2019, os integrantes da missão do CNDH realizaram
visitas à Faculdade ASA de Brumadinho, onde fica o centro operacional das equipes de
resgate, incluindo os comandos da Defesa Civil, das brigadas de bombeiros e da polícia
militar. O espaço serve, ainda, de base para as equipes das secretarias do governo do
estado de Minas Gerais, de órgãos do governo federal e da própria Vale. A missão visitou
também a Estação Conhecimento – Fundação Vale, ponto principal de atendimento às
comunidades e aos familiares das vítimas por parte da empresa. Na Estação realiza-se o
registro das pessoas atingidas e desaparecidos. No local há um posto de atendimento
itinerante da Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais. Em seguida, os membros
deslocaram-se até a comunidade de Parque das Cachoeiras, visitando o Posto de
Atendimento ali existente, realizando a escuta do Presidente da Associação de Moradores
do Parque da Cachoeira, de vereador da Câmara Municipal de Brumadinho, de moradores
atingidos por barragens e de voluntários. Em seguida, houve o deslocamento para a Rua
São Tomás de Aquino, onde um atingido permitiu o ingresso na propriedade na qual
trabalha como meeiro, na qual tivemos acesso a diversos locais atingidos pela lama, casas
e outras edificações destruídas e atingidas, bem como às equipes de busca e resgate de
desaparecidos.
Após essas atividades, houve o deslocamento da missão para Córrego do Feijão
pela estrada interna da Mineradora Vale, haja vista que a outra estrada utilizada pela
comunidade foi destruída pela lama e o outro caminho possível era fazer um contorno
que demoraria aproximadamente duas horas. A estrada da Vale, por dentro da mineradora,
está com barreiras das forças policiais de MG, que exercem o poder de polícia de definir
os casos e quem pode transitar pela mesma, sendo que a Comissão teve sua passagem
negada e somente posteriormente depois de inúmeras justificativas pode-se utilizar a
mesma, que permite o acesso à comunidade em quinze minutos. Na comunidade, a missão
pôde acompanhar o primeiro sepultamento de uma pessoa identificada e morta pelo
rompimento das barragens da Vale e em seguida realizou uma audiência pública em frente
ao centro comunitário. Durante a audiência aconteceu uma tempestade, com fortes ventos,
pedras de granizo e raios, que ocasionou a sua interrupção. O salão comunitário está sendo
controlado por pessoas sem identificação oficial que se apresentam como “voluntários”
ou “voluntários da Vale”. No local são preparadas e distribuídas refeições e lanches para
as pessoas da comunidade e equipes. Durante o temporal, muitas pessoas foram
impedidas de entrar no prédio da comunidade, inclusive mulher com criança de colo e
idosos, mesmo havendo espaço para isso no mesmo. As pessoas foram impedidas de
9
entrar porque alguns voluntários negaram-se a otimizar o espaço para acolher as pessoas,
gritando e ofendendo quem pedia que isso fosse feito, sem que nenhum coordenador os
impedissem.
No dia 31 de janeiro, em Belo Horizonte, a missão participou da reunião
convocada na sede da Defensoria Pública do Estado de MG, que reuniu representantes do
sistema de justiça estadual de MG e federal para discutir medidas emergenciais
necessárias após o rompimento das barragens em Brumadinho.
5
Segundo a empresa “a barragem foi construída em 1976, pela Ferteco Mineração (adquirida pela Vale em
27 de Abril de 2001), pelo método de alteamento a montante. A altura da barragem era de 86 metros, o
comprimento da crista de 720 metros. Os rejeitos dispostos ocupavam uma área de 249,5 mil m2 e o
volume disposto era de 11,7 milhões de m3” http://brumadinho.vale.com/Esclarecimentos-sobre-a-
barragem-I-da-Mina-de-Corrego-do-feijao.html
10
No dia 26 a empresa informou que estava “realizando a drenagem da Barragem 6
com o uso de bombas, para reduzir a quantidade de água”6, sendo que no dia 27 a estrutura
apresentou risco de rompimento, com o acionamento do plano de emergência, alarme de
sirenes e evacuação dos moradores de Parque da Cachoeira e possivelmente outras
localidades. Em decorrência dessa situação, segundo o porta-voz do Corpo dos Bombeiros,
tenente Pedro Aihara, aproximadamente 24 mil pessoas ficaram em área de risco 7, nos bairros
Pires, Centro, Progresso, Parque da Cachoeira, Tejuco e Córrego do Feijão, sendo-lhes
determinado que deveriam sair de suas casas “e se abrigar em um dos pontos seguros
indicados pela corporação”, enfatizando que “É importante que as pessoas não menosprezem
esse aviso”. Os locais indicados para se deslocarem foram “a igreja Matriz, no centro da
cidade, o quartel da Polícia Militar e o morro do Querosene”. No dia 27de janeiro a entrada
de pessoas na cidade foi proibida8. A evacuação das pessoas foi interrompida a partir das
15h10’, quando foi divulgado novo comunicado indicando a “normalização no risco de
novo rompimento em uma das barragens de água (B6) da empresa Vale”.
Os dados da Defesa Civil confirmam que 727 pessoas foram expostas a risco de
vida e ficaram em situação de desaparecidas no dia do rompimento da barragem. Desse
total de 727 pessoas, 394 pessoas foram “localizadas” (sendo 225 funcionários da Vale e
169 de empresas terceirizadas e da comunidade), em decorrência dos esforços de buscas
da população e da defesa civil. Deste total de 727 pessoas, 134 foram mortas no desastre
6
Disponível em: http://brumadinho.vale.com/Vale-atualiza-informacoes-sobre-o-rompimento-da-
Barragem-1-em-Brumadinho-e-o-apoio-a-populacao.html acesso em 04-2-2019)
7
Este número é confirmado por outros meios de comunicação: https://oglobo.globo.com/brasil/sirenes-
tocam-em-brumadinho-alertam-moradores-sobre-risco-de-novo-rompimento-23406012
8
http://www.correiodeminas.com.br/site/novo-risco-24-mil-pessoas-devem-sair-de-casa-em-brumadinho/
D
11
e outras 199 seguem desaparecidas (resultando num total de 333 mortos e desaparecidos,
conforme os dados divulgados em 04-2-2019 – Disponível em:
http://www.defesacivil.mg.gov.br/). A defesa civil informa ainda que 108
famílias/pessoas foram desabrigadas e 06 ainda estão hospitalizados.
Em 31 de janeiro, o Governo do Estado de MG, através das Secretarias de
Estado de Saúde (SES); de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD); e
de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SEAPA), de posse dos resultados iniciais do
monitoramento feito pelo Governo de Minas no Rio Paraopeba, após o rompimento da
Barragem B1 (Mina do Feijão), em Brumadinho (MG), constatou que a água apresentava
riscos à saúde humana e animal, emitindo “Alerta para uso de água em Brumadinho” e
indicando a não utilização da água bruta do Rio Paraopeba para qualquer finalidade, até
que a situação seja normalizada9. A Emater de MG está realizando levantamentos sobre
o número de produtores rurais e das áreas de atividades agropecuárias prejudicados pelo
rompimento da barragem da Vale, tendo como foco inicial os municípios que ficam no
trecho onde os rejeitos da barragem possam atingir a água do rio Paraopeba: Betim,
Cachoeira da Prata, Caetanópolis, Curvelo, Esmeraldas, Felixlândia, Florestal, Igarapé,
Inhaúma, Juatuba, Maravilhas, Mário Campos, Papagaios, Pará de Minas, Paraopeba,
Pequi, Pompeu, São Joaquim de Bicas e São José da Varginha
(http://www.emater.mg.gov.br/portal.do?flagweb=novosite_pagina_interna&id=23085).
Os impactos constatados no rompimento da barragem do Fundão indicados
pela União e pelos Estados de MG e do ES (ACP Processo 69758-61.2015.4.01.340)
podem ser descritos para fins de análise dos danos socioambientais que poderão ser
constatados no rompimento da B1 em Córrego do Feijão:
a) Destruição de habitat e extermínio da ictiofauna em extensão dos rios
atingidos;
b) Contaminação da água dos rios atingidos com lama de rejeitos de
minério;
c) Suspensão das captações de água para atividades econômicas,
propriedades rurais e pequenas comunidades;
d) Assoreamento do leito dos rios e dos reservatórios das barragens de
geração de energia;
e) Soterramento das lagoas e nascentes adjacentes ao leito dos rios;
9
Disponível em :
http://www.meioambiente.mg.gov.br/images/stories/2019/ASCOM_DIVERSOS/Informativo_3_IGA
M_COPASA_CPRM.pdf e http://www.agenciaminas.mg.gov.br/noticia/alerta-para-uso-de-agua-em-
brumadinho
12
f) Destruição da vegetação ripária e aquática;
g) Interrupção da conexão com tributários e lagoas marginais;
h) Alteração do fluxo hídrico;
i) Destruição de áreas de reprodução de peixes;
j) Destruição das áreas “berçários” de reposição da ictiofauna (áreas de
alimentação de larvas e juvenis);
k) Alteração e empobrecimento da cadeia trófica em toda a extensão do
dano;
l) Interrupção do fluxo gênico de espécies entre corpos d’água;
m) Perda de espécies com especificidade de habitat (corredeiras, locas,
poços, remansos, etc);
n) Mortandade de espécimes em toda a cadeia trófica;
o) Piora no estado de conservação de espécies já listadas como ameaçadas
e ingresso de novas espécies no rol de ameaçadas;
p) Comprometimento da estrutura e função dos ecossistemas aquáticos e
terrestres associados;
q) Comprometimento do estoque pesqueiro - impacto sobre a pesca;
r) Impacto no modo de vida e nos valores étnicos e culturais de povos
indígenas e populações tradicionais;
13
parâmetros, além de zinco total e níquel total apresentaram violação desse
limite apenas nos pontos mais próximos ao rompimento, ou seja BPE2 e BP068
(a jusante da captação da Copasa, em Brumadinho).
14
Um outro morador que acompanhou os integrantes do CNDH relatou que sua casa
fora totalmente destruída e que seus filhos pequenos estão apresentando sinais de trauma
como insônia.
Vários moradores apresentaram relatos de que não aceitam a mudança para os hotéis
oferecidos pela empresa e reivindicam o aluguel de casas na comunidade para que possam
continuar trabalhando, ou na cidade. Muitos não querem mais ficar na comunidade em
razão do trauma ou da interrupção da circulação de veículos entre pontos do Município,
em razão da destruição de uma estrada municipal.
O fornecimento de informações pouco claras e desencontradas pela Vale também foi
levantado de forma recorrente. Também a preocupação de que medidas sejam desenhadas
sem a devida consulta às pessoas atingidas.
Um vereador de Brumadinho acompanhou as visitas e ressaltou sua preocupação com
a situação das crianças e adolescentes das comunidades atingidas e a interrupção de
projetos sociais como o Projeto Cidadão do Futuro.
Os integrantes da missão do CNDH também tiveram oportunidade de interagir com
voluntários - socorristas, psicólogos e religiosos - da região e de outras partes do país que
vieram a Brumadinho.
15
O presidente da associação de moradores da comunidade falou da união da
comunidade. Relatou que houve boatos de que a comunidade iria depredar outra
mineradora (que também possui uma barragem com risco de rompimento). Mas ele
ressaltou que na comunidade do Córrego do Feijão há pessoas trabalhadoras e que se trata
de uma comunidade unida, portanto não há risco de depredação. Sua fala levantou
também a questão do direito de ir e vir dos integrantes da comunidade, tendo em vista
que o desastre destruiu a estrada que leva a Córrego do Feijão. Falou também da perda de
renda de muitos integrantes da comunidade, pois eles vivem da pesca e agora não há mais
rio. Com relação a isso, ele ressaltou que a comunidade não quer depender de doações.
Foi relatado que a comunidade sempre buscou manter sua subsistência e isso não é mais
possível. O líder comunitário afirmou que os 100 mil reais oferecidos pela Vale não
pagam a perda de entes queridos e todos os danos sofridos. Segundo ele, o sepultamento
que tinha acabado de ocorrer feito foi sem dignidade, sem o aparato necessário para isso.
Ele também ressaltou que não é a prefeitura que deve prestar assistência aos atingidos,
mas sim a Vale, que é responsável pelo rompimento da barragem. O presidente da
associação também ressaltou que uma advogada da Vale teria assegurado à comunidade
que a barragem era segura. Segundo ele, a Vale sabia que iria romper e só cortava custos,
o que compromete a segurança. Com relação às crianças da comunidade, ele relatou a
existência de um projeto social que atendia 65 crianças com financiamento da MIB
mineração. Porém, a empresa, diante de toda essa situação, cortou a verba do projeto,
gerando o receito de que o projeto será extinto. Ele falou também que houve um
treinamento com sirenes, inventário de bens nas casas, e que representantes da Vale
falaram para as pessoas da comunidade guardarem pastas com documentos, entre outras
coisas que indicavam, na visão de alguns da comunidade, que a Vale sabia que a barragem
iria romper. Segundo ele, as pessoas não dormem mais tranquilas com o risco de um novo
rompimento. Por fim, ele ressaltou que a comunidade espera que as pessoas que estavam
lá naquele dia fazendo atendimento permaneçam lá, mantenham o seu engajamento no
caso.
Um atingido indagou se o Ministério Público e a Defensoria Pública não poderiam
dar uma alternativa junto à Vale e à prefeitura para o ir e vir de Brumadinho. Com a
destruição da estrada que leva Córrego do Feijão a Brumadinho, muitas pessoas ficaram
com a locomoção comprometida. Forças de segurança não permitem que os atingidos
passem por dentro da Vale sem batedor e, com isso, os atingidos têm que ir quase até
16
Belo Horizonte para poder ir a Brumadinho. Pessoas que trabalham em Brumadinho hoje
não conseguem ir trabalhar.
Um morador pontuou com indignação que no campo “local de falecimento”
constava “Evento de Brumadinho” nas certidões de óbito das vítimas identificadas da
tragédia, o que amenizaria a gravidade do ocorrido e a responsabilidade da empresa Vale.
A audiência pública foi interrompida pela tempestade por aproximadamente uma
hora. Após a mesma ter sido retomada, foram ouvidos alguns participantes, mas após
serem consultados decidiram suspender os trabalhos porque a maioria das pessoas teve
que ir embora.
O encaminhamento da audiência foi de que na sexta feira seria realizada uma
assembleia para escolha da comissão de representantes dos atingidos, que ficará com a
tarefa de organizar os mesmos e apresentar suas demandas perante os órgãos públicos e
empresa. A escolha seria realizada no dia 1º de fevereiro, com a participação de
representantes do Ministério Público Estadual.
O MPE também se comprometeu a ver a questão do acesso entre Parque da
Cachoeira e Córrego do Feijão e entre este e a sede do Município, e ainda sobre os casos
de concessão de moradia às pessoas desabrigadas ou atingidas pelo desastre.
Claudia Spranger (MPE-DH-MG) informou que o Ministério Público do Estado
de Minas Gerais (MPMG) propôs ação perante a Justiça Estadual em Brumadinho, na
primeira vara cível, (processo n. 0001827-69.2019.8.13.0090) o qual possui como objeto
a garantia de acolhimento (moradia) para as famílias, participação das mesmas na escolha
dos locais, assistência multidisciplinar (médico, psicólogo, assistente social e arquiteto),
local de apoio e alimentação para quem busca e aguarda notícias de desaparecidos, e
também o fornecimento de informações de 6 em 6 horas. A justiça deferiu esses pedidos
e o bloqueio de 5 bilhões (em recursos ou bens) da Vale, mas conforme constatado através
dos relatos na audiência pública, a liminar não está sendo efetiva, nem cumprida
integralmente pela empresa.
A Defensoria Pública Estadual de MG e Defensoria Pública da União informaram
que estarão estabelecendo postos de atendimento à população em Brumadinho, no Centro
da Cidade, no Parque da Cachoeira, Córrego do Feijão e na Estação do Conhecimento.
17
No dia 31 de janeiro, em Belo Horizonte, a missão participou da reunião
convocada na sede da Defensoria Pública do Estado de MG, que reuniu representantes do
sistema de justiça estadual de MG e federal para discutir medidas emergenciais
necessárias após o rompimento das barragens em Brumadinho. O principal ponto
levantado pela representante do CNDH na reunião, Camila Lissa Asano, foi a necessidade
urgente de incluir representantes das comunidades atingidas nesse processo.
Ficou acordado que o CNDH seguirá acompanhando as reuniões futuras do grupo.
A próxima foi agendada para dia 4 de fevereiro de 2019 e teve a presença da conselheira
Camila Lissa Asano. O ponto sobre participação foi atendido e a reunião contou com
representantes das comunidades do Córrego do Feijão, do Parque da Cachoeira e do
MAB.
4.4 – Principais questões das reuniões com atingidos, visitas e audiências públicas
com integrantes dos movimentos sociais, entidades e associações.
18
g) interrupção no tráfego do Município;
h) ausência de informação sobre áreas de risco;
i) assédio de advogados/as, visando à captação de clientela, para buscar
reparações judiciais;
j) ausência de participação dos próprios atingidos ou seus representantes nas
instâncias que têm coordenado todos os trabalhos de buscas, mitigação e reparação;
k) ausência de responsáveis pela empresa para atender às demandas da população
atingida.
Os moradores de Ponte do Gama afirmaram que não tinham “a menor noção do
que era uma barragem e do efeito que podia causar”, “não sabia que [o rejeito] podia
chegar lá”. “Sirene não tinha, treinamento não houve”. Atualmente, as pessoas têm medo
de permanecer nos locais próximos à tragédia, com receio “de acontecer tudo de novo”.
As narrativas sobre o momento da tragédia evidenciam o trauma causado nas
pessoas. Pessoas que pensaram que todos seus familiares haviam morrido; crianças que
ficarão um mês sem escola e estão abaladas até hoje; pessoas que passaram a noite no
mato; casas saqueadas.
Sobre a doação de R$100 mil anunciada pela empresa diretamente na imprensa,
sem qualquer negociação coletiva ou informação direta, havia muitas dúvidas, revoltas
de quem foi contemplado. Essa situação gerou um fato inusitado no dia seguinte ao seu
anúncio, com filas de pessoas, aproximadamente uma centena, junto ao Fórum local, para
receber a “doação”.
Sobre as famílias desabrigadas, narraram todas angústias e sofrimentos que
passaram.
V. Conclusões e recomendações
a) Conclusões
A primeira conclusão da missão emergencial a Brumadinho remete às
recomendações do próprio CDDPH - Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa
Humana, o qual, reunido em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, no dia 22 de novembro
de 2010, aprovou relatório da Comissão Especial que, durante quatro anos, analisou
denúncias de violações de direitos humanos no processo de implantação de barragens no
Brasil. Aquele relatório permanece atual e pertinente para o caso de Brumadinho com
suas mais de 600 páginas relatando a violação de direitos humanos que as populações
19
atingidas por barragens têm sofrido em várias partes do Brasil 10 . Assim, a primeira
constatação da missão é que a maioria das recomendações do CDDPH aos órgãos
públicos (federais, estaduais e municipais) e às empresas, que poderiam ter evitado
violações de direitos humanos, não foram acatadas.
Todavia, o caso de Brumadinho possui uma especificada única em relação aos
casos estudados pelo CDDPH e pelo próprio CNDH (Belo Monte, Santo Antônio e Jirau),
pois estes tratam do “padrão vigente” que ocorrem nesses grandes projetos levados a cabo
por empresas com violações de direitos humanos.
A especificidade do que aconteceu em Brumadinho decorre da magnitude de
vítimas e dos impactos sociais ambientais, gravíssimos, e que materializam a reincidência
da empresa Vale nesse tipo de violações, repetindo o ocorrido na Bacia do Rio Doce em
05 de novembro de 2015. O que aconteceu no Rio Doce não se trata de mero “evento”
como consta no TAC firmado entre empresas e Estado, constituindo verdadeiro “desastre
tecnológico e criminoso”. Do mesmo modo, o que aconteceu em Brumadinho não se trata
de “evento” como constou na certidão de óbito de uma das vítimas apresentado à missão.
A segunda constatação da missão é de que as recomendações do CNDH, no seu
“Relatório sobre o Rompimento da Barragem de Rejeitos da Mineradora Samarco e seus
Efeitos sobre a Bacia do Rio Doce”, de maio de 2017, pensadas e formuladas como
medidas de prevenção e não repetição de novos danos (novas violações de direitos
humanos), não foram seguidas pelas empresas e pelo Estado Brasileiro. Entre as
recomendações apresentadas pelo CNDH, destacam-se as seguintes:
● ao Congresso Nacional e à Presidência da República: a revisão do Novo Marco
Regulatório da Mineração;
● ao Congresso Nacional e à Presidência da República: a criação de mecanismos de
prevenção eficazes no marco regulatório da Lei Nacional de Segurança de
Barragens;
● ao Congresso Nacional: a aprovação do PL 29/2015 que institui a Política
Nacional de Direitos dos Atingidos por Barragens;
● à Assembleia Legislativa de Minas Gerais: a aprovação do Projeto de Lei
3.312/2016 que institui a Política Estadual dos Atingidos por Barragens; a
10
O relatório completo está disponível no site:
http://www.direitoshumanos.gov.br/conselho/pessoa_humana/relatorios e
https://www.mdh.gov.br/informacao-ao-cidadao/participacao-social/conselho-nacional-de-direitos-
humanos-cndh/copy2_of_RelatriodaBarragemdoRioDoce_FINAL_APROVADO.pdf
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aprovação do Projeto de Lei que trata do licenciamento e fiscalização ambiental
de barragens de rejeitos industriais e de mineração em MG e do projeto de lei que
institui a Taxa e Cadastro relativos a exploração de recursos minerários, ambos
propostos pela Comissão Extraordinária das Barragens da ALMG;
● ao Estado de Minas Gerais: a revogação da Lei Estadual 21.972, de 21 de janeiro
de 2016, que alterou o licenciamento ambiental;
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b) Recomendações
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espirituais, a perda de meios de subsistência e a interrupção da frequência escolar
e das atividades extracurriculares e socializantes.
d. Defensores e defensoras de direitos humanos: Assegurem a proteção de
defensores e defensoras de direitos humanos, por meio de políticas e programas
direcionados, como o Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos,
atuando de maneira firme para prevenir e reprimir represálias, intimidações e
outras formas de violência e cerceamento à sua livre atuação.
e. Assessoria técnica: Exijam da empresa a contratação de assessorias técnicas
independentes para os atingidos, seguindo a escolha destes.
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b.3) Ao Estado de Minas Gerais
a. Resgate e identificação dos corpos: A Defesa Civil, o Corpo de Bombeiros e
demais entidades envolvidas na operação de resgate devem continuar os esforços
de buscas pelas pessoas desaparecidas após o rompimento da barragem. O
processo de identificação dos corpos que forem encontrados deve ser facilitado
pelos entes responsáveis. Além disso recomendação que conste na certidão de
óbito das pessoas mortas no desastre o local onde efetivamente foram encontradas
e não “evento de brumadinho” como constou em certidão de óbito fornecida pelo
IML e apresentada a comissão, devendo haver a retificação das certidões já
fornecidas;
b. Segurança pública e policiamento: A Polícia Militar do Estado de Minas Gerais
deve garantir a segurança das comunidades atingidas e proteger as propriedades
atingidas contra saques, roubos, furtos e outros delitos que possam vir a ocorrer
em decorrência do deslocamento de famílias atingidas;
c. Segurança das moradias: A Defesa Civil estadual, com apoio da Defesa Civil
municipal, deverá empreender esforços para a imediata perícia dos imóveis
afetados pelo rompimento da barragem, de forma dar informações seguras e
definitivas à população sobre os riscos de habitabilidade de tais unidades;
d. Contenção dos vazamentos: Execute as obras de infraestrutura necessárias para
a imediata interrupção do vazamento de rejeitos das barragens, com posterior
ressarcimento, pela Vale, quanto aos gastos públicos despendidos em função do
desastre
e. Direito de ir e vir: Requisite através da defesa civil a utilização da estrada de
propriedade da Vale por dentro da mineradora ligando as comunidades de Parque
da Cachoeira e Córrego do Feijão até o restabelecimento das vias públicas, para
garantir o direito de ir e vir das pessoas.
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acesso à justiça pelos atingidos, em todas as esferas (administrativa/ judicial,
cível/penal), e em âmbito municipal, estadual ou federal;
c. Estancamento e remoção do volume de rejeitos: Apresente às autoridades
públicas um plano para evitar novos vazamentos e para a retirada dos rejeitos de
minério do leito e margens do rio Paraopeba, bem como das áreas cobertas nas
comunidades. A retirada não deverá implicar em novas violações de direitos nem
danos ambientais. A empresa deverá consultar as comunidades atingidas sobre os
métodos, a destinação e os momentos adequados para a remoção do volume dos
resíduos;
d. Mecanismos de reclamação: Disponibilize canais de escuta e reclamação aos
atingidos que sejam acessíveis, previsíveis, transparentes e que ofereçam soluções
e reparações em conformidade com parâmetros internacionais de direitos
humanos, nos termos do Princípio 31 dos Princípios Orientadores da ONU sobre
Empresas e Direitos Humanos;
e. Defensoras e defensores de direitos humanos: Colabore com a proteção dos
líderes comunitários e dos defensores e defensoras de direitos humanos, abstendo-
se de tomar quaisquer medidas, inclusive no âmbito judicial, que tenham por
efeito direto ou indireto, cercear o direito à liberdade de manifestação, expressão
e associação;
f. Direito à água: Até que, em consequência do rompimento das barragens da mina
do Córrego do Feijão, se comprove que a água é adequada para o consumo
humano, animal e agrícola, forneça água potável às pessoas atingidas e água
adequada para as demais finalidades acima, de maneira ordenada e não
discriminatória. Deverá criar canais específicos de distribuição para o
atendimento das necessidades de pessoas portadoras de necessidades especiais,
pessoas com mobilidade reduzida (em decorrência de enfermidades ou outras
condições transitórias), idosos e demais grupos vulneráveis;
g. Direito ao trabalho e renda: Respeite integralmente o direito à liberdade sindical
e reconheça a estabilidade no emprego dos trabalhadores da empresa e suas
terceirizadas, não suspendendo seus vencimentos, inclusive as participações nos
lucros e resultados;
h. Direito de ir e vir: Realize, com a máxima urgência, a desobstrução de estradas
que ligam as comunidades atingidas ao centro da cidade de Brumadinho.
Enquanto perdurarem os bloqueios, que libere o uso da estrada de propriedade da
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empresa por dentro da mineradora ligando as comunidades de Parque da
Cachoeira e Córrego do Feijão até o restabelecimento das vias públicas. Caso a
empresa considere necessário deve garantir a segurança mediante a instalação de
sinalização adequada e outros equipamentos, e oferta de veículos de escolta e
ônibus ou outros meios de transporte coletivos;
i. Identificação e transparência: Os funcionários da Vale alocados nos postos de
atendimento e os encarregados de dialogar com as comunidades devem
identificar-se como tal. A Vale deve informar às comunidades, em forma, tempo
e linguagem acessíveis, todas as medidas, em curso e planejadas, sobre ações
emergenciais e aquelas relativas à toxicidade dos rejeitos, à qualidade da água, à
prestação de auxílio financeiro e à restauração de eletricidade, saneamento,
alimentação e outras necessidades básicas;
j. Participação informada: recomenda-se à empresa o custeio de assessoria técnica
independente escolhida pelas comunidades atingidas, para garantir seu direito à
efetiva participação informada em todo o processo de auto-organização autônoma,
de levantamento de dados e perdas, e também no processo de negociações com os
órgãos de Estado e com a empresa;
k. Auxílio emergencial: que seja implantado imediatamente pagamento mensal
emergencial a todas as pessoas atingidas, deslocadas ou não, afetadas em suas
atividades produtivas, o qual não possui caráter indenizatório haja vista visar a
garantia de subsistência das famílias até o restabelecimento das condições
anteriores ao desastre, estabelecendo os parâmetros de concessão e os valores do
mesmo em processo de negociação coletiva com as comissões de atingidos;
l. Cadastro dos atingidos: que o cadastro dos atingidos não seja realizado pela Vale,
nem por outras empresas por ela contratadas, mas pelas entidades e instituições
escolhidas em processo de negociação coletivas com as comissões de atingidos e
instituições públicas, seguindo-se os parâmetros já definidos para a realização de
um levantamento emergencial através de formulário, para as medidas
emergenciais;
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inspeção in loco do andamento das ações emergenciais e resposta humanitária,
elaborar e dar publicidade a relatórios de visita em campo, e propor
recomendações aos atores públicos e privados, assim como ações no âmbito
legislativo para que novos crimes não venham a ocorrer.
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