Avaliação Nutricional
Avaliação Nutricional
Avaliação Nutricional
2014
Downloaded from: Biblioteca Digital da Produção Intelectual - BDPI, Universidade de São Paulo
Hospital Universitário da Universidade de São Paulo
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Esta obra está disponível em: www.hu.usp.br/emtn-manual
132 p.
ISBN 978-85-60064-53-3
CDD 610
Karina Sichieri
Enfermeira. Especialista em Terapia Intensiva e Economia em Saúde. Mestre em Ciências. Enfermeira, chefe de seção
da UTI de adulto (2010-2013), chefe do Serviço de Ensino e Qualidade do Departamento de Enfermagem do Hospital
Universitário da Universidade de São Paulo.
Lúcia Caruso
Nutricionista. Mestre em Nutrição Humana Aplicada – Faculdade de Ciências Farmacêuticas/USP. Especialista em
Nutrição Clínica – Faculdades Integradas São Camilo – SP. Especialista em Nutrição Enteral e Parenteral – Sociedade
Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral. Nutricionista (Unidade de Terapia Intensiva adulto) e Coordenadora do
Programa de Aprimoramento Profissional em Nutrição Hospitalar da Divisão de Nutrição e Dietética. Coordenadora
técnica da Equipe de Terapia Nutricional do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo. Docente do Centro
Universitário São Camilo – São Paulo.
Maki Hirose
Médico graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Residência em Pediatria pela FMUSP.
Pediatra da Divisão de Clínica Pediátrica do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo.
Silvana Cordelini
Nutricionista graduada pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Mestre em Nutrição Humana
Aplicada pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo, atuando em Nutrição Materno
Infantil. Nutricionista na área clínica do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo.
PREFÁCIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Nágila Raquel Teixeira Damasceno
INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Lúcia Caruso, Soraia Covelo Goulart
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 8
NUTRIÇÃO ENTERAL: ASPECTOS GERAIS EM PEDIATRIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
Silvana Cordelini, Soraia Covelo Goulart
CAPÍTULO 9
NUTRIÇÃO NO PERÍODO NEONATAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
Gabriel Alberto Brasil Ventura
CAPÍTULO 10
CUIDADOS DE ENFERMAGEM EM SONDAS NASOENTERAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
Fernanda Rodrigues Biz Silva, Karina Sichieri, Débora Regina Guedes, Fabiana Pereira das Chagas
CAPÍTULO 11
GASTROSTOMIA (GTT): ASPECTOS GERAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
Karin Emilia Rogenski, Noemi Marisa Brunet Rogenski, Rosana Santiago Vilarinho, Karina Sichieri,
Fabiana Pereira das Chagas, Fernanda Rodrigues Biz Silva, Débora Regina Guedes
CAPÍTULO 12
FONOAUDIOLOGIA EM TERAPIA NUTRICIONAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
Milena Vaz Bonini, Karina Elena Bernardis Bühler
CAPÍTULO 13
TERAPIA NUTRICIONAL PARENTERAL: ASPECTOS GERAIS EM ADULTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
Lúcia Caruso, Lucas Fernandes de Oliveira, Altamir Benedito de Sousa
CAPÍTULO 14
TERAPIA NUTRICIONAL PARENTERAL: ASPECTOS GERAIS EM PEDIATRIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
Andréa Maria Cordeiro Ventura
CAPÍTULO 15
ASPECTOS FARMACOLÓGICOS EM TERAPIA NUTRICIONAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
Altamir Benedito de Sousa, Cristina Akiko Takagi, Sandra Cristina Brassica
CAPÍTULO 16
CUIDADOS DE ENFERMAGEM NA NUTRIÇÃO PARENTERAL (NP) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123
Fabiana Pereira das Chagas, Karina Sichieri, Fernanda Rodrigues Biz Silva, Débora Regina Guedes
CAPÍTULO 17
INDICADORES DE QUALIDADE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
Lúcia Caruso
PREFÁCIO
Dra. Nágila Raquel Teixeira Damasceno
Profa Assoc. do Departamento de Nutrição (HNT-FSP-USP)
Diretora da Divisão de Nutrição e Dietética (DND-HU-USP)
Cada vez mais os profissionais da área de saúde médicos, enfermeiros, farmacêuticos, fonoaudiólogos
entendem a importância da multidisciplinaridade como e nutricionistas, exercendo a multidisciplinaridade no
instrumento capaz de identificar as necessidades dos âmbito da Nutrição nas unidades de enfermaria e terapia
pacientes e permitir uma visão assistencial mais integrada intensiva pediátrica e de adultos.
e efetiva. A 1ª edição do Manual da Equipe Multidisciplinar de
Com a publicação da Portaria MS/SNVS nº 272, de Terapia Nutricional (EMTN) do HU-USP nasce na forma
8 abril de 1998, que aprovou o Regulamento Técnico de um e-book, seguindo a concepção de ensino que tem
sobre os requisitos mínimos exigidos para a Terapia de orientado todas as atividades do hospital. Sob essa forma
Nutrição Parenteral, seguida da Portaria nº 337, de 14 de de apresentação, profissionais, residentes, internos e estu-
abril de 1999, esta revogada pela Resolução da Diretoria dantes dos diversos cursos da área de saúde, que têm o
Colegiada da ANVISA RDC nº 63, de 6 de julho de 2000, hospital como plataforma de ensino, poderão acessar, de
que fixou os requisitos mínimos exigidos para a Terapia modo rápido e fácil, conceitos, diretrizes e protocolos roti-
de Nutrição Enteral, houve o reconhecimento da Nutrição neiramente utilizados e aprovados na prática assistencial.
dentro do contexto da assistência ao paciente. A partir Esse e-book como instrumento de ensino visa não
dessas leis, definiu-se que a “Equipe Multiprofissional somente contribuir para a formação dos profissionais
de Terapia Nutricional (EMTN)” seria um grupo formal e, da área de saúde da USP, mas terá acesso livre ao público
obrigatoriamente, constituído de pelo menos um profis- externo. A decisão dos autores de seguir a trajetória
sional médico, farmacêutico, enfermeiro e nutricionista, das mais renomadas editoras científicas internacionais
habilitados e com treinamento específico para a prática baseia-se no conceito de universalidade e excelência do
da terapia nutricional. conhecimento amplamente estimulados pela Universidade
Com essas definições, nos últimos anos a Nutrição de São Paulo.
passou a ser um importante elo entre profissionais de Conceitualmente, os capítulos do Manual estão dis-
saúde e pacientes pediátricos e adultos, servindo de base tribuídos em suporte nutricional pediátrico e do adulto,
e estímulo para a formação das Equipes Multidisciplinares onde os capítulos de triagem nutricional, cálculo das
de Terapia Nutricional (EMTN) em diversos hospitais do necessidades nutricionais e síndrome de realimentação
Brasil. introduzem conceitos e procedimentos fundamentais ao
Em 2005, por meio das Portarias 131 e 343 da Agência adequado planejamento da assistência nutricional.
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) estabeleceu-se Quanto as vias de acesso ao suporte nutricional, o
no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) a organização Manual apresenta informações gerais sobre a Terapia
e implantação da assistência de alta complexidade em Nutricional Enteral (TNE) e Terapia Nutricional Parenteral
terapia nutricional. Essas portarias reconheceram a (TNP) e, específicas, onde as gastrostomias, os cuidados
necessidade da existência da EMTN, destacando que a de enfermagem com a sonda e o papel da fonoaudiologia
inexistência dessa equipe seria um impeditivo para a na terapia nutricional são destacados de forma objetiva
execução da terapia nutricional. e prática. Particularmente na TNP são destacados os cui-
Tendo por base esses marcos históricos, a EMTN do dados farmacológicos e de enfermagem com a adminis-
Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HU- tração, interações fármaco-nutrientes e monitoramento
USP) criada em 2006 tem como membros profissionais do suporte nutricional parenteral.
11
O Manual termina apresentando um capítulo de como permite a revisão permanente dos procedimentos
Indicadores Nutricionais, onde metas calóricas e pro- de terapia nutricional.
teicas, horas de jejum, frequência de diarreia e recupe- Por fim, parabenizo os profissionais da área de saúde
pela oportunidade de usufruírem desse Manual na
ração da ingestão oral são rotineiramente aplicados no
sua prática clínica, assim como os pacientes, que terão
monitoramento de pacientes mais críticos. A evolução seu suporte nutricional introduzido de modo precoce,
positiva desses indicadores traduz a eficiência do trabalho seguindo diretrizes atualizadas, testadas e aprovadas pela
multidisciplinar realizado pela EMTN do HU-USP, assim EMTN do HU-USP.
12 Prefácio
INTRODUÇÃO
Lúcia Caruso, Soraia Covelo Goulart
No Hospital Universitário da USP, a instituição da Equipe Desde 2005 vem sendo criado um banco com dados
Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) foi sugerida sobre o acompanhamento dos pacientes que recebem
pelo Serviço de Nutrição e Dietética, atualmente Divisão terapia nutricional por via enteral e parenteral na UTI
de Nutrição e Dietética (DND), para o plano de metas de adultos. Essa árdua tarefa só foi possível graças ao projeto
2003, mas foi só em 2006 que foi legitimada pela Portaria de pesquisa que incluiu os alunos do Aprimoramento
542, emitida pelo superintendente, Prof. Dr. Paulo Andrade em Nutrição Hospitalar, o que possibilitou a aplicação de
Lotufo. Desde então, diversos profissionais já integraram indicadores de qualidade (IQ), originando-se daí várias
essa equipe, que atualmente tem a composição relacionada publicações. Também foram levantados dados e aplicados
no final desta introdução. IQ na UTI pediátrica. A análise desses indicadores favorece
As atividades iniciais da EMTN incluíram a padroni- a discussão sobre estratégias para melhoria contínua da
zação de condutas relacionadas à Terapia Nutricional assistência prestada.
Enteral (NE) e Parenteral (NP). Em 2005, antes mesmo Com a intenção de sistematizar a assistência, a EMTN
da publicação da portaria que oficializou a equipe, foi reuniu neste manual condutas padronizadas em relação
implantado o uso do sistema fechado para a administração à nutrição enteral e parenteral, visando divulgá-las e
da Nutrição Enteral, assim como foram desenvolvidos constituir material de consulta ou de apoio para todos
protocolos de introdução e progressão da velocidade de profissionais e alunos dos diferentes cursos e programas
infusão para os pacientes internados na Unidade de Terapia
existentes no HU, assim como para o público externo.
Intensiva de adultos. Posteriormente, esses protocolos
Cabe considerar que se trata de um processo dinâmico e
foram adaptados e implantados também para os pacientes
que é essencial explicitar o agradecimento a todos que já
internados nas clínicas pediátrica, cirúrgica, médica e no
integraram a equipe.
pronto-socorro.
Em relação à Nutrição Parenteral, desde 1982 o Serviço
de Farmácia manipulava a NP em módulo de fluxo laminar EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA
e realizava os controles físico-químico e microbiológico NUTRICIONAL – HU – USP (DEZEMBRO DE 2013)
dela. Após a promulgação da Portaria 272/MS, essa ins- Coordenadora Técnica
tituição terceirizou a aquisição da NP, baseando-se nas Nutric. Lúcia Caruso – DND
visitas técnicas das empresas para definir as condições do
edital de aquisição. Coordenadores Clínicos
Assim que instituída, o objetivo da EMTN foi seguir as Dra. Andrea Maria Cordeiro Gomes Ventura – DCP
determinações da Resolução 63 (ANVISA, 2000), que dispõe Dr. Lucas Fernandes de Oliveira – DCM/UTI
sobre as atividades dessa equipe, mesmo considerando que Nutric. Soraia Covelo Goulart – DND
todos os profissionais desenvolvem atividades em seu setor, Nutric. Silvana Cordelini – DND
além de integrarem a EMTN. Enfa. Karina Sichieri – DE/UTI Adulto
É importante considerar que o Hospital Universitário Farm. Altamir Benedito de Sousa – SF
tem como missão assistência, ensino e pesquisa e que desde Farm. Cristina Akiko Takagi – SF
sua fundação sempre preocupou-se com o atendimento Profa. Dra. Isabela Judith Martins Benseñor – DCM/CPC
humanizado. Talvez essa seja uma das razões pelas quais Fonoaud. Milena Bonini – DM
todos os profissionais sempre se preocuparam em exercer Enfa. Fabiana Pereira das Chagas – DE/UTI Pediátrica
a interdisciplinaridade, mesmo antes das discussões sobre Enfa. Fernanda R. Biz Silva – DE/ Cl. Méd.
sua importância. Isso favoreceu o empenho de todos os Enfa. Débora Guedes – DCC
integrantes da EMTN. Profa. Dra. Nágila Raquel Teixeira Damasceno – DND
13
CAPÍTULO
1
TRIAGEM E AVALIAÇÃO
NUTRICIONAL EM ADULTOS
Lúcia Caruso
15
Tabela 1: Descrição do Malnutrition Screening Tool (MST) 2.1. Avaliação Nutricional Subjetiva
Questionário A Avaliação Nutricional Subjetiva (ANS) foi proposta
por Detsky et al. em 1984. Trata-se de um questionário que
Pergunta Escore
considera alterações da composição corporal (perda de
Você vem perdendo peso, mesmo sem querer? peso, redução de massa gordurosa e muscular e presença
de edema); alterações na ingestão alimentar e no padrão
( ) Não 0
( ) Sim 2
de dieta; função gastrointestinal (náuseas, vômitos,
( ) Não sabe 2 diarreia e anorexia); demanda metabólica associada ao
diagnóstico; e, também, alterações da capacidade fun-
Se sim, quanto peso em kg você perdeu?
cional do paciente.
( ) 1 a 5 kg 1 Permite um diagnóstico nutricional mais rápido e sub-
( ) 6 a 10 kg 2 jetivo. Na Tabela 2 está descrito o questionário adaptado
( ) 11 a 15 kg 3 que é utilizado no Hospital Universitário, o qual agrega
( ) > 15 kg 4 algumas outras informações e é baseado na proposta de
Você vem se alimentando mal porque seu apetite Garavel (Waitzberg e Ferrini, 1995), cujo diagnóstico final
diminuiu? é obtido a partir da somatória dos pontos conferidos a
cada etapa.
( ) Não 0
( ) Sim 1 Esse método tem a vantagem de ser simples, ter baixo
custo, não ser invasivo e poder ser realizado à beira do
Somatória total do Escore _______ leito. Por ser subjetivo, a desvantagem apontada é que
Interpretação: Score total ≥ 2 indica que o sua precisão depende da experiência do observador e,
paciente encontra-se em risco nutricional por isso, o treinamento anterior à execução é funda-
mental. A avaliação subjetiva permite o conhecimento
Fonte: adaptado de Ferguson et al. 1999
do estado nutricional prévio para aqueles pacientes que
não contaram com um diagnóstico nutricional anterior à
A partir do resultado da triagem nutricional e levando admissão, sendo de grande valia para o direcionamento
em conta a condição clínica, é possível estabelecer o nível da terapia nutricional, bem como da necessidade da rea-
de assistência nutricional, que pode ser descrito resumi- lização da avaliação objetiva.
damente como: A rotina do Serviço de Nutrição Clínica é aplicar a ANS
• Primário: Paciente não apresenta risco nutricional e nos pacientes cuja triagem nutricional foi positiva, isto é
não requer terapia nutricional específica; ≥ 2, indicando risco (Tabela 1).
• Secundário: Paciente com risco nutricional mediano
ou que apresenta condição clínica que implica em 2.2. Avaliação Nutricional Objetiva
determinada alteração dietética; Neste item são abordados alguns dos principais
• Terciário: Paciente com alto risco nutricional e com parâmetros utilizados na avaliação nutricional objetiva,
necessidade de terapia nutricional específica. lembrando que o leitor interessado deverá recorrer à
O estabelecimento do nível de assistência permite literatura específica.
a sistematização do atendimento nutricional de forma Nessa avaliação é essencial levar em conta alguns
a priorizar o acompanhamento de pacientes em risco conceitos atuais. Em virtude do reconhecimento da contri-
nutricional. buição do estado inflamatório no processo de desnutrição,
a caquexia tem sido caracterizada como um processo pró-
-inflamatório sistêmico, associado a anorexia e alterações
metabólicas, como a resistência a insulina e proteólise
2. AVALIAÇÃO NUTRICIONAL
(Jensen et al. 2009). Neste contexto, para o diagnóstico das
A avaliação nutricional pode ser realizada de forma síndromes de má nutrição no adulto, sugere-se que o pro-
subjetiva ou objetiva, conforme abordado a seguir. cesso inflamatório seja considerado, conforme o Figura 1.
16 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
Tabela 2: Formulário da Avaliação Nutricional Subjetiva Global utilizado no Hospital Universitário
A – Anamnese
1. Peso corpóreo
Altura _______ IMC _______
[1] Mudou nos últimos seis meses ( ) Sim ( ) Não
[1] Continua perdendo atualmente ( ) Sim ( ) Não
Peso atual _______ Kg Peso habitual _______ Kg
Perda de peso (PP) _______ % [2] se>10% ( ) Em quanto tempo? _______
[1] se<10% ( )
Total parcial de pontos _______
2. Dieta
(1) Mudança de dieta ( ) Sim ( ) Não
A mudança foi para:
[1] ( ) Dieta hipocalórica
[2] ( ) Dieta pastosa hipocalórica
[2] ( ) Dieta líquida > 15 dias ou solução de infusão intravenosa > 5 dias
[3] ( ) Jejum > 5 dias
[2] ( ) Mudança persistente > 30 dias
Total parcial de pontos _______
(0) Normal
(+1) Leve ou moderadamente depletado
(+2) Gravemente depletado
( ) Perda gordura subcutânea (tríceps, tórax)
( ) Músculo estriado
( ) Edema sacral
( ) Ascite
( ) Edema tornozelo
Total parcial de pontos _______
C – Categorias da ANSG
18 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
Da mesma forma que a albumina, é uma proteína de Com a síntese diminuída na reação de fase aguda,
fase aguda negativa, ou seja, cuja concentração é dimi- também não constitui um indicador do estado nutricional
nuída durante a reação de fase aguda, não refletindo a nessa situação (Rossi et al. 2010).
subnutrição nesse caso. No entanto, em virtude da meia No Quadro 1 está relacionada a classificação da
vida mais curta, reflete de forma mais sensível o retorno subnutrição segundo os níveis das proteínas séricas.
à fase anabólica. Se for possível obter um valor inicial na Reforçando-se que o diagnóstico nutricional é possível por
admissão do paciente na UTI, será uma boa referência meio desses indicadores quando refletem que a síntese foi
para monitorar o estresse fisiológico. Quando os níveis diminuída por deficiência da oferta nutricional.
começarem a se elevar, há indicação de que o estresse
está diminuindo, sendo um indicador de prognóstico mais
Balanço Nitrogenado
sensível (Rossi et al 2010).
O balanço nitrogenado permite a avaliação do ritmo do
catabolismo proteico, bem como a monitoração da terapia
C - Transferrina nutricional frente a esse catabolismo, podendo direcionar
de forma mais eficaz a oferta proteica. É um dos parâ-
metros mais utilizados em UTI, no entanto deve-se estar
atento para suas limitações. Em situações de diarreias,
Fórmula 1: Estimativa da Transferrina Plasmática
fístulas digestivas de alto débito ou sudorese excessiva,
Quadro 2: Classificação do estado nutricional de adultos (20 a < 10% / > 10% / > 20% /
60 anos) segundo o IMC 6 meses 6 meses 6 meses
< 18,50 Baixo peso Quadro 5: Fatores intervenientes nos parâmetros objetivos
convencionais para o diagnóstico e acompanhamento nutri-
18,50 – 24,99 Normal cional da subnutrição.
≥ 30 Obesidade
20 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
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Management Committee. J Am Diet Assoc. 1994;94(8):838-9. Report Series, 894).
2
CÁLCULOS NUTRICIONAIS
EM ADULTOS
Lúcia Caruso
Soraia Covelo Goulart
Nágila Raquel Teixeira Damasceno
Este capítulo aborda como devem ser efetuados os Para obtenção do gasto energético diário devem ser
cálculos para a estimativa da oferta diária de calorias e aplicados fatores de correção às equações, conforme
proteínas para o paciente adulto, a fim de direcionar a relacionado no Quadro 1 e no Quadro 2.
terapia enteral e parenteral. Outra opção é estimar o gasto energético diário utili-
zando a fórmula de bolso, que consiste em: 25 - 30 kcal/kg
A - Cálculo da necessidade energética de peso corpóreo/dia (Kreymann et al. 2006).
Para a definição da necessidade energética diária é
necessário, em primeiro lugar, definir o gasto energético B - Recomendações de proteínas
do paciente adulto.
O cálculo da oferta diária de proteínas deve levar em
A calorimetria indireta é o método mais indicado para
conta a doença de base e a função renal, conforme espe-
o cálculo do gasto energético, desde que adequadamente
cificado no Quadro 1.
interpretado, porém ela é pouco utilizada pela dificuldade
A escolha do peso corpóreo a ser adotado para os
operacional.
cálculos depende dos dados disponíveis e do estado nutri-
Existem várias equações para a estimativa do gasto
energético basal (GEB), sendo a mais utilizada a proposta cional do paciente, conforme a Figura 1.
por Harris & Benedict: Além da escolha criteriosa do peso a ser adotado para
• Homens: 66,5 + [13,8 × P (kg)] + [5,0 × A (cm)] – [5,8 × o cálculo da meta nutricional, devem-se levar em conta a
I (anos)] condição clínica e os diagnósticos associados do paciente
• Mulheres: 66,5 + [9,6 × P (kg)] + [1,9 × A (cm)] – [4,7 × no momento do estabelecimento da terapia nutricional.
I (anos)] Essa etapa envolve a escolha adequada de acordo com as
Em que: P = peso (kg); A = altura (cm); e I = idade (anos). recomendações de energia e proteínas (Quadro 1).
23
Quadro 1: Meta nutricional para pacientes conforme condição clínica
Fonte: adaptado de Toigo et al. 2000, Sobtka 2000, ASPEN 2002, Dickerson et al. 2002, Kreymann et al. 2006, McClave et al, 2009, Thibault & Pichard,
2010; Martins et al. 2011, Miller et al.2011
Legenda: SIDA: Síndrome da Imunodeficiência Adquirida; FA: Fator Atividade (1,2 para pacientes acamados e 1,3 para os que deambulam); FI: Fator
Injúria (considerar o grau de catabolismo que envolve a doença – Quadro 2); PI: Peso Ideal; Patual: Peso Atual; UTI: Unidade de Terapia Intensiva; TFG:
Taxa de Filtração Glomerular
24 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
Figura 1: Escolha do peso para cálculo da meta nutricional
26 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
ANEXO 1 Quadro 1.2: Classificação da compleição em adultos
Tabelas de referência para estimativa do “Peso Ideal” Compleição Pequena Média Grande
172 63-66 65-70 68-77 162 51-57 56-62 60-68 17 - 17,9 17,8 18,4 18,9 19,5 21,1 23,4 24,9 26,1 28,3
18 - 24,9 18,8 19,6 20,1 21,0 23,0 25,5 27,2 28,5 31,0
175 64-67 66-72 70-79 165 52-58 57-63 61-70
25 - 29,9 19,5 20,4 21,1 21,9 24,3 27,0 28,5 30,0 32,8
177 65-69 68-73 71-81 167 54-60 58-65 63-71 30 - 34,9 19,9 21,0 21,9 23,0 25,1 27,8 29,3 30,5 32,9
35 - 39,9 19,7 21,0 21,9 23,3 25,6 28,0 29,5 30,6 32,8
180 66-70 69-75 72-83 170 55-61 60-66 64-73
40 - 44,9 20,4 21,5 22,2 23,4 26,0 28,5 29,9 31,0 32,5
183 67-72 70-76 74-85 172 56-62 61-67 66-75 45 - 49,9 20,1 21,5 22,4 23,5 26,0 28,6 30,1 31,2 33,4
50 - 54,9 19,9 21,1 22,0 23,3 25,9 28,2 30,1 31,3 33,3
185 68-74 72-78 75-86 175 58-64 62-69 67-76
55 - 59,9 19,8 21,3 22,1 23,5 26,1 28,5 30,2 31,6 33,6
187 70-75 74-80 77-88 178 59-65 64-70 68-78 Mulheres 5 10 15 25 50 75 85 90 95
190 71-77 75-82 79-91 180 61-66 65-71 70-79 16 - 16,9 17,7 18,3 18,7 19,3 21,1 23,5 25,7 26,8 30,1
17 - 17,9 17,1 17,9 18,7 19,6 21,4 24,0 26,2 27,5 32,1
192 73-79 77-84 81-93 183 62-68 66-73 71-80
18 - 24,9 17,7 18,4 19,0 19,9 21,4 24,5 26,5 28,6 32,1
Fonte: Krause M.V., Mahan L.K. Alimentação, nutrição e dietoterapia. São 25 - 29,9 18,0 18,8 19,2 20,1 22,3 25,6 28,4 30,8 34,3
Paulo: Roca, 1991 (apêndice 947)
30 - 34,9 18,5 19,4 19,9 20,8 23,1 27,2 30,4 33,0 36,6
35 - 39,9 18,7 19,5 20,2 21,3 23,8 28,0 31,0 33,1 36,9
40 - 44,9 18,8 19,8 20,5 21,5 24,2 28,3 31,6 33,7 36,6
Fórmula 1.2: Determinação da compleição física (C):
45 - 49,9 19,0 20,1 20,8 21,9 24,5 28,6 31,4 33,4 37,1
Estatura ( cm) 50 - 54,9 19,2 20,3 21,0 22,4 25,2 29,2 32,0 33,8 36,5
C=
Perímetro punho ( cm) 55 - 59,9 19,2 20,5 21,3 22,8 25,7 30,1 32,7 34,7 38,2
Fonte: Frisancho AR. New standards of weight and body composition by
frame size and height for assessment of nutrition status of adults and
the eldery. Am J Clin Nutr. 1984; (40):808-19.
Quadro 3.1: Distribuição em percentis de IMC (Índice de Massa 80 18,83 21,14 23,41 26,24 28,44
Corpórea) segundo gênero e faixa etária
Fonte: Barbosa AR, Souza JMP, Lebrão ML, Laurenti R, Marucci MFN.
Anthropometry of elderly residents in the city of São Paulo, Brazil. Cad
Mulheres Saúde Pública. 2005;2(6):1929-38.
Percentis
Idade 10 25 50 75 90
(anos)
28 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
CAPÍTULO
3
TRIAGEM E AVALIAÇÃO
NUTRICIONAL EM PEDIATRIA
Silvana Cordelini
O método de triagem nutricional pediátrica vem ainda é bastante negligenciada, seja pelas condições
sendo aplicado desde 2002 nas Unidades de Terapia precárias dos serviços de atendimento e/ou pela falta
Intensiva Neonatal (UTIB) e Pediátrica (UTIP), bem como ou inadequação da triagem, avaliação e intervenção
nas Enfermarias da Pediatria (CPI e CPP) para estimar a nutricional por parte da equipe de saúde, o que contribui
existência de risco nutricional nos pacientes e definir a para a ocorrência de complicações e hospitalizações
complexidade do atendimento, visando à diminuição dos prolongadas (Ista & Joosten, 2005; Cavendish et al.2010;
agravos de sua condição clínica por meio de uma inter- Prado et al.2010).
venção precoce. Tal ferramenta encontra-se em processo Segundo Cruz et al.(2009) e Sarni et al.(2009), a pre-
de informatização e validação. Todavia, ao longo desses valência de desnutrição pediátrica é superior a 50%
anos, sua aplicação tem demonstrado simplicidade e das crianças hospitalizadas, sendo que a presença de
agilidade, sendo também um método não invasivo e de condições clínicas agudas ou cirúrgicas pode elevar essa
baixo custo, tornando-se um instrumento essencial para frequência para aproximadamente 60% quando o tempo
que os profissionais da área conheçam as condições de de internação se prolonga por 15 dias ou mais (Zamberlan,
saúde dos pacientes pediátricos imediatamente após sua 2009).
admissão no setor de internação (Raslan et al.2008; SBP,
2009; Cruz et al.2009; Hartman et al.2012).
Para a população pediátrica, a definição da comple- TRIAGEM NUTRICIONAL
xidade do atendimento, ou seja, do nível de assistência
Desde 2001, todos os casos pediátricos de internação no
nutricional, é preconizada em até 48 horas do momento
HU são submetidos à triagem nutricional pelo profissional
de sua admissão hospitalar, pois as crianças expressam os
nutricionista para que sejam classificados em níveis de
sinais clínicos da deficiência nutricional mais acentuada
assistência segundo a complexidade do atendimento:
e rapidamente do que os adultos. Isso se deve à acelerada primário ao terciário.
fase de crescimento e desenvolvimento, que exige maior
demanda energético-proteica, além das crianças serem
mais sensíveis às variações de oferta de nutrientes
(Dornelles et al.2009; Prado et al.2010; Hulst et al.2010).
AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL
Apesar da prevalência mundial de subnutrição em Após definido o nível de assistência nutricional, os
crianças ser amplamente descrita na literatura, a ava- pacientes pediátricos que obtiveram a classificação ter-
liação do estado nutricional no ambiente hospitalar ciária, ou seja, aqueles que necessitam de atendimento de
29
alta complexidade, tem seu estado nutricional avaliado Índices antropométricos: São associações entre as
de acordo com a ordem e os critérios a seguir: medidas antropométricas segundo o sexo e a idade. Na
Assistência Nutricional Pediátrica do HU são adotados
os índices:
1. AVALIAÇÃO NUTRICIONAL OBJETIVA
• Peso × Idade: Avaliação em crianças menores de 2
Sabendo-se que as fases infância e adolescência anos de idade.
caracterizam-se por alterações fisiológicas expressivas nas WHO (2006a) - do nascimento aos 5 anos de idade.
funções orgânicas e na composição corpórea, o conheci-
• Comprimento ou estatura × Idade: Crianças a partir
mento do estado nutricional deve ser pautado por vários
critérios cuja interpretação é realizada conjuntamente dos 2 anos de idade completos.
para a obtenção de diagnósticos nutricionais específicos WHO (2006a) - do nascimento aos 5 anos de idade;
que auxiliem no estudo de prognósticos e terapêuticas WHO (2007a) - dos 5 aos 19 anos de idade.
adequados às diferentes condições clínicas (Almeida & • Peso × Comprimento ou estatura: Crianças a partir
Ricco, 1998; Heird, 2001; Ista & Joosten, 2005). dos 2 anos de idade completos, em associação com o
índice anterior.
1.1. Avaliação antropométrica WHO (2006a) - do nascimento aos 5 anos de idade;
Medidas de dimensão corporal: Consideram-se as WHO (2007a) - dos 5 aos 19 anos de idade.
informações sobre o peso e o comprimento ou estatura
• IMC (Índice de Massa Corporal) × Idade: Avaliação
já obtidas na triagem, complementando-as, quando
em adolescentes a partir dos 10 anos completos.
necessário, com a tomada de outras medidas indicadas
Conde, Monteiro (2006) - dos 2 aos 19 anos de idade.
para a avaliação nutricional na população pediátrica
hospitalizada. • DCT × Idade: Adotado para todas as faixas de idade,
Peso atual: Obtido pelo profissional de enfermagem para comparação intramedidas ou ao padrão de refe-
no momento da admissão no setor de internação ou no rência.
pronto-socorro infantil.
Frisancho (1990).
Peso habitual: Informado pelo cuidador ou acompa-
• CMB × Idade: Adotado para todas as faixas de idade,
nhante ou pelo próprio paciente, quando não é possível
a tomada direta da medida. para comparação intramedidas ou ao padrão de refe-
Peso ideal: Valor correspondente à mediana ou per- rência.
centil 50 do padrão de referência segundo o sexo e a idade. WHO (2006a).
Peso estimado: Valor correspondente ao percentil 3 do • PC × Idade: Para crianças até 5 anos de idade com-
padrão de referência segundo o sexo e a idade, adotado
pletos.
como alternativa para o cálculo inicial das necessidades
Euclydes (2000).
energéticas em casos de subnutrição grave (nível crítico
abaixo do percentil 3 do padrão de referência). Padrões de referência: São utilizados como valores
Comprimento ou estatura: A medida deitado (com- esperados em uma população sadia.
primento) e a medida em pé (estatura) são realizadas com Cálculos do percentil e do z escore: Realizados por
o uso de antropômetro ou estadiômetro no momento da
intermédio de programa informatizado de domínio
admissão no setor de internação.
público divulgado e disponibilizado pela World Health
Dobra Cutânea Tricipital (DCT): Realizada pelo pro-
fissional de nutrição ou pela equipe médica com o uso de Organization (WHO). Os softwares estão gravados na área
fita métrica inextensível e de adipômetro. de trabalho dos computadores utilizados pela equipe
Circunferência Muscular do Braço (CMB): Realizada de Nutrição da área clínica: Anthro (WHO, 2006b) para
pelo profissional de nutrição ou pela equipe médica com
crianças menores de 5 anos e Anthro Plus (WHO, 2007b)
o uso de fita métrica inextensível.
para crianças dos 5 aos 19 anos.
Perímetro Cefálico (PC): Realizada pelo profissional
de nutrição ou pela equipe médica com o uso de fita Os quadros 1 e 2 descritos a seguir abordam a classifi-
métrica inextensível. cação do estado nutricional.
30 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
Quadro 1: Classificação do estado nutricional segundo indica- 1.2. Avaliação dietética
dores antropométricos
Realizada pelo profissional nutricionista por meio da
INDICADORES complementação das informações obtidas no momento
da triagem nutricional, quando é avaliado o “hábito
Peso × Comprimento Peso ×
IMC × alimentar” (tipos de alimento habitualmente ingeridos)
Idade ou estatura × Comprimento
Idade associado ao grau de desenvolvimento esperado para
Idade ou estatura
a idade. Acrescenta-se a esses dados um detalhamento
Muito Muito baixo Magreza Magreza
das quantidades, caso seja necessário averiguar riscos
baixo para para idade acentuada acentuada
alimentares para o desenvolvimento futuro de doenças
idade
Baixo para Baixo para Magreza Magreza
crônico-degenerativas, bem como para estimar a ingestão
a idade a idade de energia, macro e micronutrientes (WHO, 2003). As
Adequado Adequado Eutrofia Eutrofia preferências e as aversões alimentares também são consi-
para a para a idade deradas a fim de programar a composição individual das
idade refeições junto ao Serviço de Nutrição Clínica da Divisão
Elevado Risco de Sobrepeso de Nutrição e Dietética do HU.
para a _____ sobrepeso
idade Sobrepeso Obesidade
Obesidade Obesidade
1.3. Avaliação clínica
grave O nutricionista observa a presença de doenças pree-
Legenda: IMC (Índice de Massa Corpórea) xistentes de acordo com a avaliação médica e investiga
Fonte: WHO, 2006a e 2007a a presença de sinais clínicos de desnutrição por meio
da inspeção (Duarte, 2010), associando tais resultados à
Quadro 2: Classificação nutricional segundo os níveis críticos avaliação da equipe médica e de enfermagem.
adotados
32 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
CAPÍTULO
4
CÁLCULOS NUTRICIONAIS
EM PEDIATRIA
Silvana Cordelini
33
Quadro 1: Alterações e consequências da subnutrição grave NECESSIDADE ENERGÉTICA
Alterações Consequências É estimada através das recomendações nutricionais
ou de equações padronizadas e ajustadas de acordo
Atrofia do córtex renal Baixa taxa de filtração com a condição clínica e o estado nutricional, embora o
glomerular método mais indicado, especialmente nos casos graves,
seja o da calorimetria indireta, pois os demais critérios,
Aumento da permeabilidade Aumento de citocinas e
elaborados, por exemplo, de acordo com a avaliação
e lesão endotelial radicais livres
da ingestão alimentar, tendem a superestimar as
Ineficiência Bomba de Sódio Edema celular recomendações de energia (White et al. 2000; Briassoulis
e Potássio et al. 2000). O Quadro 2 resume os diferentes métodos
cuja aplicação varia, basicamente, segundo a condição
Redução do pool circulante Aumento da gravidade clínico-nutricional e o objetivo terapêutico.
de proteínas viscerais da doença, inflamação,
(pré-albumina, albumina, infecção, subnutrição
transferrina)
1. MANUTENÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL EM
Secreção ineficiente de Retenção de sódio e água PACIENTES PREVIAMENTE HÍGIDOS
Hormônio Anti-Diurético
O valor do peso utilizado para cálculo deve corresponder
(vasopressina)/Sistema
ao atual ou habitual informado pelo cuidador ou
Renina Angiotensina
Aldosterona
acompanhante, quando não for possível a tomada direta
da medida. Na ausência desses dois valores, utiliza-se o
Fonte: modificado de Lima (2010) peso ideal.
Hígida Manutenção do estado Dietary Reference Intakes/ Peso atual, habitual ou ideal
nutricional Recommended Dietary
Allowances (DRI/RDA):
energia diária ou kg peso
DRI: equações
Kcal/kg peso corporal
Cuidados terapêuticos intensivos Manutenção ou Equação preditiva Peso atual, habitual, ideal
em ventilação mecânica (> 2 anos; recuperação do estado ou estimado
não queimados) nutricional
34 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
O método proposto pelo IOM (2002) está exposto no Quadro 4: Energia de crescimento de acordo com a faixa etária
Quadro 3.
Energia de crescimento
Intervalo de idade (meses)
(kcal)
Quadro 3: Recomendações energéticas diárias (kcal) segundo
idade, peso esperado na presença fisiológica de crescimento e 0a3 175
atividade física
4a6 56
Faixa etária Peso Energia/ Energia
(meses/anos) (kg) kg de peso (kcal) 7 a 12 22
1-3 11 79 869
Idade: 3 a 18 anos
Sexo masculino 4-8 20,4 70,6 1.441
Meninas
9 - 13 35,8 58,1 2.079 NE = {135,3 – 30,8 x idade (a) + AF x [10,0 x peso (kg) + 934 x
estatura (m)] + Energia cresc (kcal)}
14 - 18 58,8 53,0 3.116
Meninos
Sexo feminino 4-8 22,9 64,9 1.487
NE = {88,5 – 61,9 x idade (a) + AF x [26,7 x peso (kg) + 903 x
estatura (m)] + Energia cresc (kcal)}
9 - 13 36,4 52,4 1.907
Fonte: adaptado de IOM (2002)
14 - 18 54,1 42,6 2.302
Coeficiente (AF)
Categoria de
A seguir estão especificadas as equações para o cálculo atividade física
Meninas Meninos
das necessidades energéticas (NE) segundo intervalos de
idade, na presença fisiológica de crescimento e atividade
Sedentário 1,00 1,00
física (AF), assim como os quadros que definem a energia
de crescimento de acordo com a faixa etária e o coeficiente Leve 1,13 1,13
de atividade física.
Energia de
Intervalo de crescimento (kcal)
Idade: 0 a 2 anos idade (anos)
Meninas e Meninos
NE = GET (kcal/dia) = [89 x peso da criança (kg) – 100] +
energia de crescimento 3a8 20
12 – 17 30 – 60 Pós-operatório 10 - 30
Trauma 20 - 60
2. RECUPERAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL EM Fonte: adaptado de Lopez (1988); Chwals (1988)
PACIENTES PREVIAMENTE HÍGIDOS
Além dos métodos descritos anteriormente, pode-se
utilizar as recomendações a seguir, levando-se em conta 3. MANUTENÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL EM
que o organismo que deve ser recuperado permanece CASOS DE SOBREPESO OU OBESIDADE ENTRE
acamado e pode estar gravemente doente, sendo 3 E 18 ANOS DE IDADE
necessário avaliar a pertinência do acréscimo de gastos A seguir estão relacionadas equações de acordo com
de energia com a condição clínica atual (presença ou o gênero.
não de injúria ou estresse fisiológico). Nesse caso, essa Meninas
forma pode ser a mais indicada, por considerar os GEB (kcal/dia) = 516 – 26,8 x idade (a) + 347 x
gastos de energia separadamente e diminuir os riscos estatura (m) + 12,4 x peso (kg)
de hiperestimativas do gasto energético. O valor do peso GET= para a manutenção do peso
utilizado deve corresponder ao atual, caso não esteja em GET = {389 – 41,2 x idade (a) + AF x [15,0 x peso (kg) +
ganho ponderal insuficiente, ou ao habitual. Se a condição 701,6 x estatura (m)]}
clínica for de estabilidade, pode-se utilizar o peso ideal. Meninos
GEB (kcal/dia) = 420 – 33,5 x idade (a) + 418 x
estatura (m) + 16,7 x peso (kg)
Quadro 8: Recomendações energéticas diárias (kcal)
na infância, segundo diversos gastos de energia (basal, GET= para a manutenção do peso
crescimento, atividade e total) GET = {114 – 50,9 x idade (a) + AF x [19,5 x peso (kg) +
1.161,4 x estatura (m)]}
Idade
Basal Crescimento Atividade Total % GEB
(anos)
Quadro 10: Coeficiente segundo gênero, de acordo com
Muito 47 67 15 130 36 categoria de atividade física
baixo
peso Coeficiente (AF)
Categoria de
< 1 ano 55 40 15 110 50 atividade física
Meninas Meninos
36 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
4. RECUPERAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL EM Caso não haja possibilidade de realizar a tomada da
CASOS DE SUBNUTRIÇÃO OU ENFERMIDADES medida de estatura, podem-se utilizar equações para
GRAVES a estimativa segundo medidas de segmento corpóreo,
conforme o Quadro 13.
Feminino 0-3 61,0 (P) – 51 Quadro 14: Fator atividade física de acordo com faixa etária e
3 - 10 22,5 (P) + 499 categoria de atividade
10 - 18 17,5 (P) + 651
Quadro 17: Distribuição de macronutrientes na dieta expressa em porcentagem do Valor Energético Total (VET)
Faixa etária
38 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
enterais industrializadas, com o auxílio do Serviço Social são acompanhados pelo Ambulatório de Nutrição, com o
na fase de programação de alta. Em geral, esses casos propósito de dar continuidade ao atendimento.
Quadro 18: Recomendações para carboidrato, lipídio, fibra, cálcio, ferro, fósforo, vitamina A, vitamina C e vitamina B12 para
indivíduos entre 0 e 18 anos
Faixa Etária
Item dietético Lactentes (meses) Crianças (anos) Meninos (anos) Meninas (anos)
Carboidrato (g) 60* 95* 130* 130* 130* 130* 130* 130*
Cálcio (mg) 210* 270* 500* 800* 1.300* 1.300* 1.300* 1.300*
Fósforo (mg) 100* 275* 460 500 1.250 1.250 1.250 1.250
Fibra (g) ND ND 19* 15,8** 25* 20,8** 31* 25,8** 38* 31,7** 26* 21,7** 26* 21,7**
Vit. A (μg) 400* 500* 300 400 600 900 600 700
Vi. B12 (μg) 0,4* 0,5* 0,9 1,2 1,8 2,4 1,8 2,4
Quadro 19: Recomendações para sódio e potássio para indivíduos entre 0 e 18 anos
Faixa etária
40 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
CAPÍTULO
5
SÍNDROME DE
REALIMENTAÇÃO
NO ADULTO
Lúcia Caruso
Lucas Fernandes de Oliveira
Altamir Benedito de Souza
41
Alterações laboratoriais Cuidados
–– Dosagens seriadas de eletrólitos (principalmente
–– Hipofosfatemia (alteração mais relevante)
fósforo e magnésio) e reposição endovenosa
–– Hipomagnesemia –– Introdução gradual da terapia nutricional: cálculo
–– Hipocalemia da meta nutricional e início com 25% da meta, com
progressão a cada 48 horas até atingir meta em
–– Deficiência de vitaminas
aproximadamente uma semana, com monitoração
dos minerais plasmáticos
–– Evitar excesso de líquidos
42 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
Quadro 1: Repercussões orgânicas da Síndrome de Realimentação
Intolerância à glicose
Sistemas e órgãos Hipofosfatemia Hipomagnesemia Hipocalemia
e líquidos
Cardíaca Alteração da função do Arritmia, taquicardia Arritmia, parada ICC, morte súbita,
miocárdio, arritmia, cardíaca, hipotensão hipotensão arterial
morte súbita ortostática, alteração
no ECG
Hematológico Alteração da - - -
morfologia das
hemácias, anemia
hemolítica,
trombocitopenia,
diminuição da
função das plaquetas,
hemorragia, disfunção
dos leucócitos
44 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
CAPÍTULO
6
SÍNDROME DE
REALIMENTAÇÃO
EM PEDIATRIA
Maki Hirose
Selma Lopes Betta Ragazzi
45
Quadro 2: Fatores de risco para Síndrome da Realimentação volume circulatório e uma maior demanda cardíaca,
nas crianças e nos adolescentes antes mesmo da recuperação miocárdica, podendo assim
ocorrer insuficiência cardíaca por sobrecarga de volume.
Pacientes com menos de 80% do peso ideal
Por esse motivo, alterações de pressão arterial e edema
Anorexia nervosa devem ser monitorados com cuidado na fase inicial da
Jejum ou baixa oferta nutricional por mais de 10 - 14 dias realimentação.
Gastrointestinal
Fisiopatologia A atrofia da mucosa intestinal e a insuficiência
pancreática podem gerar dor abdominal, diarreia ou
A hipofosfatemia é a principal alteração encontrada
obstipação intestinal, além de náuseas e vômitos. Podem
na Síndrome da Realimentação, podendo acometer até
ocorrer também leve elevação das enzimas hepáticas e
um quarto dos pacientes que iniciam terapia nutricional.
canaliculares e da bilirrubina nas primeiras semanas,
Durante a fase de carência nutricional ocorre esgotamento
devido ao abrupto aumento da deposição de glicogênio
nas reservas de fosfato e quando a oferta de alimento
e gorduras.
é abruptamente elevada há liberação de insulina, que
provoca aumento da captação celular de fosfato. Isso se
deve ao estímulo da produção intracelular de substâncias Neurológico
contendo fosfato, como a adenosina trifosfato (ATP) e o As alterações hidroeletrolíticas podem provocar
2-3 difosfoglicerato. tremores, parestesias e até convulsões. A deficiência
A ausência de elementos fosfatados produz hipoxia de tiamina por elevação da demanda intracelular pode
celular e tecidual, que geram disfunção miocárdica e provocar encefalopatia, disfunção oculomotora e marcha
falência respiratória. Além disso, a mesma insulina acima atáxica.
citada estimula maior reabsorção renal de sódio, com
consequente sobrecarga volumétrica. A realimentação
Prevenção e tratamento
também é acompanhada pelo retorno de necessidades
vitamínicas, principalmente a de tiamina (vitamina B1) A prioridade na prevenção da Síndrome da
e de outros minerais. Realimentação está em reconhecer os pacientes com risco
para o distúrbio antes mesmo do tratamento e monitorizá-
los clínica e laboratorialmente desde os primeiros dias.
Quadro clínico A programação da terapêutica nutricional deve ter
Cardiovascular como alvo inicial uma oferta calórica pouco acima do
A letalidade decorrente da Síndrome da Realimentação gasto energético em repouso para o peso e a idade da
se relaciona às complicações cárdiovasculares. Durante criança, com aumento lento e gradual ao longo das
a instalação da desnutrição, a musculatura cardíaca vai primeiras semanas. Quando se trata de reintrodução de
se tornando atrófica e, consequentemente, reduz-se a dieta em pacientes que estiveram por semanas em jejum
capacidade contrátil, porém adaptada à menor demanda. ou com oferta calórica desprezível, devemos começar
No início da terapêutica nutricional, há um aumento do prescrevendo 25 - 75% do gasto energético em repouso e
46 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
programar aumento diário de 10 a 25% até a meta inicial. Quadro 4: Exames laboratoriais na Síndrome da
A oferta proteica inicial poderá ser aquela recomendada Realimentação
para cada idade, mas uma restrição hidrossalina discreta
Fósforo
poderá ser interessante no começo do tratamento, para
prevenir retenção de volume. Magnésio
O acompanhamento da condição cardiorrespiratória
deve ser realizado através de seguimento clínico, Potássio
verificando-se o surgimento de edemas, alteração de
Tiamina
frequência cardíaca e medidas de pressão arterial
(Quadro 3). A dosagem de eletrólitos para monitorar Enzimas hepáticas
hipofosfatemia, hipomagnesemia, hipocalemia e
deficiência de tiamina deve ocorrer antes do início da Cálcio
realimentação e ao longo das primeiras semanas de
Vitamina D
acompanhamento (Quadro 4). A dose de 100 mg de tiamina
poderá ser prescrita antes do início do tratamento. Albumina
Quanto pior for o estado de desnutrição inicial e a
privação alimentar na última semana, maior rigor deve Hemograma
ser adotado no monitoramento da criança, sendo que nos
Ferritina
casos mais graves o paciente deverá ser internado para
acompanhamento clínico diário e controles laboratoriais
(eletrólitos e enzimas hepáticas), que podem variar de
diários a semanais conforme a gravidade e a presença Quadro 5: Tratamento dos distúrbios hidroeletrolíticos na
de alterações nos resultados iniciais. Síndrome da Realimentação
Se a Síndrome de Realimentação for diagnosticada,
Tratamento da hipofosfatemia
a oferta dietética deverá ser reduzida, o suporte
cardiorrespiratório iniciado de acordo com a gravidade Intravenoso: infusão (6 - 12 h): 0,08 - 0,24 mmol/kg - máximo
do caso e o(s) distúrbio(s) hidroeletrolítico(s) corrigido(s) 15 mmol/dose e 1,5 mmol/kg/dia
através de suplementação. O restabelecimento da condição Oral:
clínica e laboratorial deve preceder a continuidade Se fósforo sérico ≥ 1,5 mg/dL (0,48 mmol/L): 1 mmol/kg/dia
do aumento da oferta nutricional. Em relação ao de fósforo elementar (mínimo 40 mmol e máximo 80 mmol),
tratamento dos principais distúrbios eletrolíticos, a divididos em três ou quatro tomadas (pode ser misturado
suplementação desses eletrólitos deverá ser realizada por no leite)
via intravascular ou oral, conforme Quadro 5. Se fósforo sérico < 1,5 mg/dL (0,48 mmol/L): 1,3 mmol/kg/dia
O trabalho em conjunto de equipe multiprofissional de fósforo elementar (máximo 100 mmol), divididos em três
ou quatro tomadas (pode ser misturado no leite)
é fundamental para esses casos. O pediatra, com uma
visão global da criança, deve avaliar e monitorar cada Tratamento da hipomagnesemia
passo do tratamento do ponto de vista clínico-laboratorial,
Intravenoso: infusão IV (em 4 h): 25 - 50 mg/kg/dose–
programando com a equipe de nutrição a dietoterapia de
máximo de 2000 mg/dose
acordo com a evolução da criança; serviços de psicologia
e assistência social, além da equipe de reabilitação, que Oral: 240 a 1000 mg (20 - 80 meq ou 10 - 40 mmol)
deve participar do caso.
Tratamento da hipocalemia
1. Características:
Composição:
Fosfato de sódio monobásico anidro .........138,12 mg; sendo 1 ml= 29,99 mg P e 26,06 mg Na
Sódio = 26 mg/ml
Fósforo = 39 mg/ml
Potássio = 23 mg/ml
Concentração em mEq/ml:
Osmolaridade da solução:
pH:
2. Para prescrição:
Acrescentar 0,5 ml da formulação para cada 20 ml de leite e dar por boca a cada xxx horas.
48 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
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7
NUTRIÇÃO ENTERAL:
ASPECTOS GERAIS
NO ADULTO
Lúcia Caruso
Lucas Oliveira
Fabiana Pereira das Chagas
Fernanda R. Biz Silva
Definição Indicações
A Nutrição Enteral (NE) é definida, de acordo Para início da nutrição enteral, o trato digestório deve
com a Resolução 63 da ANVISA (Ministério da Saúde estar funcionante, caso contrário checar indicações de
BR, 2000), como “alimentos para fins especiais, com nutrição parenteral (Arends et al. 2006; Bankhead et al.
ingestão controlada de nutrientes, na forma isolada 2009; Kreymann et al. 2006; McClave et al. 2009; Marik
ou combinada, de composição química definida ou 2009; Miller et al. 2011):
estimada, especialmente elaborada para uso por sondas • Aceitação via oral < 60% da meta por mais de 10 dias
ou via oral, industrializados ou não, utilizados exclusiva em pacientes bem-nutridos. Em paciente com evidência
ou parcialmente para substituir ou complementar a de desnutrição calórico-proteica deve ser iniciada
alimentação oral em pacientes desnutridos ou não, imediatamente.
conforme suas necessidades nutricionais, em regime • Comprometimento da deglutição (rebaixamento do
hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, usando a síntese nível de consciência, disfunção de orofaringe).
ou manutenção de tecidos, órgãos ou sistemas”. –– Paciente crítico com intubação orotraqueal, iniciar
Pela definição da ANVISA (Ministério da Saúde-BR, preferencialmente dentro das primeiras 48 horas.
2000), a Nutrição Enteral inclui também os complementos –– Paciente desnutrido, com baixa aceitação via
que podem ser ingeridos por via oral e apresentam oral, que será submetido a cirurgia de trato
composição definida, mas vale considerar que nesse gastrointestinal, iniciar 5 - 7 dias antes da cirurgia.
manual serão abordados aspectos relacionados à via –– Pacientes com pancreatite aguda grave, com a
enteral, ou seja, quando a nutrição enteral é oferecida observação de iniciar dentro das primeiras 24 horas
por sondas ou ostomias. de internação, preferencialmente locar em jejuno.
51
Recomendação hídrica Classificação das fórmulas enterais
É importante considerar no volume diário se as A partir da determinação das recomendações de
necessidades hídricas foram contempladas e, caso energia e proteínas, determina-se a fórmula enteral,
necessário, incluir prescrição de água. A recomendação considerando a densidade energética e a concentração
proteica e consequentemente estabelecendo-se o volume
para adultos é de 25 - 30 mL/kg/dia. Considerar que
diário. O Quadro 1 e o Quadro 2 descrevem aspectos
situações que aumentam a perda hídrica, como febre
relacionados à Terapia Nutricional Enteral (TNE).
e diarreia, implicam em reposição, sendo necessário
No que se refere à complexidade dos nutrientes, vale
acompanhar o balanço diário (Sobotka 2000). ressaltar que a fórmula polimérica é prescrita nos casos
Os cálculos nutricionais, assim como a escolha do em que o trato gastrointestinal encontra-se íntegro e com
peso corpóreo a ser adotado estão descritos em capítulo funcionamento normal. Quando as capacidades digestiva
específico. e absortiva encontram-se diminuídas é interessante a
Sistema
Forma de administração Especificidades
de infusão
Fechado Contínua por bomba de infusão Não implica em manipulação. Fórmula industrializada pronta para uso,
cujo processo permite a validade para uso por 24h e não necessita de
refrigeração.
52 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
indicação de fórmulas oligoméricas ou elementares, que de forma mais gradativa, de acordo com avaliação da
facilitam a digestão e a absorção. equipe. A determinação do período em que a fórmula
A osmolaridade da fórmula enteral deve ser observada enteral será oferecida depende da dinâmica de cada setor.
especialmente quando a sonda tem posição pós-pilórica, É interessante que sejam reservadas algumas horas para
pois soluções hiperosmolares podem resultar em diarreia. rotinas diárias como banho, fisioterapia. Na UTI adulto,
Com relação ao aporte e tipo de substrato calórico, o período estabelecido para oferta da nutrição enteral é
a condição clínica é que deverá nortear a escolha, por de 22h. Já na Enfermaria de Clínica Médica, o período é
exemplo, no caso de necessidade de controle do volume de 18h, sendo realizada a pausa noturna.
oferecido, uma fórmula com maior densidade energética
(1,5 kcal/mL) poderá ser utilizada.
FÓRMULAS ENTERAIS DISPONÍVEIS NO HU
Prescrição
As características das fórmulas em sistema fechado
A prescrição da nutrição enteral deve ser realizada de infusão que foram padronizadas para utilização em
em conjunto, envolvendo equipe médica e nutricionistas, adultos estão relacionadas no Quadro 3. Vale ressaltar que
por meio do cálculo da meta nutricional, escolha da os produtos disponíveis podem ter pequena variação de
fórmula enteral mais adequada e definição de via de composição, de acordo com o fornecedor da época, pois
administração: gástrica ou pós-pilórica. a compra é realizada por sistema de pregão.
Decidido o volume final de dieta enteral a ser
infundida, água filtrada deve ser acrescentada por
sonda, em intervalos, de 3 em 3 horas, para suprir as
Complicações
necessidades hídricas. As complicações da nutrição podem ser de origem
Utilizamos no Hospital Universitário a nutrição enteral mecânica, metabólica ou gastrointestinal, sendo as últimas
em sistema fechado, iniciando com 25 mL/h, cuja evolução as mais prevalentes. O Quadro 4 reúne as principais.
da velocidade de infusão ocorre conforme protocolos, Algumas condutas podem auxiliar na prevenção das
descritos a seguir. Vale ressaltar que em alguns casos de complicações a partir da análise das causas, conforme
cirurgias abdominais a evolução poderá ser realizada especificado no Quadro 5.
Tipo de Densidade
Complexidade Osmolaridade
fórmula energética Prot. (g/L) CH* (g/L) Lip. (g/L) Fib. (g/L)
dos nutrientes (mOsmol/L)
enteral (kcal/mL)
Obs: *Nenhum dos produtos contém sacarose em sua composição de carboidratos; **Essa especificação pode incluir fórmulas poliméricas
Legenda: Prot.: proteínas; CH: carboidratos; Lip.: lipídios; Fib.: fibras
54 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
PROTOCOLO DE INTRODUÇÃO DA NUTRIÇÃO CONTÍNUA - POSIÇÃO PÓS-PILÓRICA - UTI ADULTO
Complicação/causas Prevenção
1 - Náuseas e vômitos:
Infusão rápida Progredir lentamente
Hiperosmolaridade Fórmulas isotônicas
Estase gástrica Reduzir oferta de volume, posicionamento pós-pilórico
Intolerância a lactose Fórmula isenta de lactose
Alto resíduo gástrico Suspender a infusão, utilizar pró-cinéticos, cabeceira elevada
2 - Diarréia:
Velocidade e método de infusão Progredir lentamente
Hiperosmolaridade Fórmulas isotônicas
Contaminação da dieta Higiene rigorosa
Sonda duodenal/jejunal Sonda pré-pilórica
Formulação Uso de fibra solúvel
3 - Complicações metabólicas:
Desidratação e/ou hiper-hidratação Oferta hídrica adequada
Distúrbios de glicemia Aporte adequado de energia
Distúrbios eletrolíticos Acompanhamento dos níveis plasmáticos com reposição e
intervenções medicamentosas conforme necessidade
4 - Perda ou migração Fixação adequada da sonda
Restrição mecânica do paciente, quando necessário
5 - Obstrução da sonda Lavar sonda com água após administração de medicamento
Pausa da dieta e teste de refluxo
6 - Aspiração pulmonar Administrar dieta com decúbito elevado
Testar posição da sonda
7 - Perfuração Utilizar sonda de tamanho adequado
Respeitar a técnica de passagem de sonda
Fonte: adaptado de Sobotka 2000
56 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
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8
NUTRIÇÃO ENTERAL:
ASPECTOS GERAIS
EM PEDIATRIA
Silvana Cordelini
Soraia Covelo Goulart
59
• Ingestão alimentar via oral inferior a 60% das – de poliuretano (sonda gástrica Levine) ou silicone com
necessidades nutricionais em pacientes subnutridos duplo lúmen.
(início em 5 a 7 dias da admissão) ou hígidos (início Na enfermaria é utilizada o tipo polivinil atóxico em
em 7 a 9 dias da admissão) posição gástrica quando a formulação é administrada via
• Insuficiência respiratória que impossibilite a sistema de infusão aberto.
alimentação via oral O Quadro 1 reúne informações sobre o posicionamento
• Necessidade de suporte ventilatório invasivo ou não da sonda, o Quadro 2, sobre as formas de administração e
invasivo o Quadro 3, sobre os tipos de fórmulas e outros produtos,
• Pacientes com necessidades energéticas aumentadas apresentados a seguir.
(doença cardíaca congênita, fibrose cística agudizada,
pré ou pós-operatório, queimaduras moderadas e Quadro 1: Requisitos para o posicionamento da sonda enteral
graves, sepse, trauma)
• Pacientes portadores de enterostomias (gastrostomia, Posição Requisitos
jejunostomia, ileostomia)
Gástrica ou Duração: curta (até 3 dias)
• Síndrome do Intestino Curto pré-pilórica
60 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
Quadro 2: Formas de administração da NE em Pediatria no HU/USP
Sistema de
Administração Requisitos
infusão
Quadro 3: Tipos de fórmulas infantis, engrossantes, espessantes e módulos nutricionais segundo a indicação, a descrição dos
nutrientes, a especificação do uso e a forma de prescrição
Natural Prematuridade Pronta para o uso Diluição: sem Leite materno cru (LMC)*
≥ 30 dias Polimérica completa Osmolal: isosmol Leite materno pasteurizado (LMP)
Hipo, normo ou Kcal/100 mL: Leite humano pasteurizado (LHP)
hipercalórica tipo 1: < 59,9 kcal Volume parcial
Normoproteica tipo 2: 60 a 74,9 kcal Frequência
tipo 3: < 75 kcal
Prot./100 mL: 1,5 g
Padrão 1 a 6 meses Polimérica Diluição: 12,9 a 13,8% Fórmula Infantil de Partida (FIPa)
Na ausência de Normocalórica Osmolal: 223 a 272 Volume parcial
leite materno Normo a hiperproteica mOsmol/kg água Frequência
ou para Kcal/100 mL: 66 a 68 Ex.: Aptamil 1®, NAN PRO 1®, Enfamil 1
complementação Prot./100 mL: 1,2 a Premium®, Similac 1®, etc.
1,4 g
*Contraindicação: RNPT com Peso ao Nascer ≤ 1.500 g e sem resultado de sorologia materna para CMV
Fonte: YONAMINE et al. 2012; materiais técnicos dos laboratórios
1 a 10 anos Pronta para o uso Diluição: sem Fórmula Infantil Polimérica (FIPo)
Uso exclusivo via Polimérica Osmolal: 220 a 235 Volume total
sonda Normocalórica mOsmol/kg água Tempo de infusão
Normoproteica Kcal/100 mL: 100 Volume parcial/hora
Isenta de sacarose, Prot./100 mL: 2,5 g Ex.: Frebini Original®, Nutrini Standard®,
lactose e glúten etc.
Com ou sem fibras
Infusão em sistema
fechado
10 a 15 anos Pronta para o uso Diluição: sem Fórmula Polimérica para a Idade (FoPoI)
Uso exclusivo Polimérica Osmolal: 250 a 432 com ou sem fibras
via sonda ou Normo a hipercalórica mOsmol/kg água Volume parcial
complementação Normo a hiperproteica Kcal/100 mL: 100 a 150 Frequência ou volume total
via oral *Isenta de sacarose, Prot./100 mL: 3,8 a Tempo de infusão
lactose e glúten 4,56 g Volume parcial/hora
Com ou sem fibras Ex.: Trophic Basic®, IsoSource Standard®,
Infusão em sistema Nutrison®, Fresubin Original®, Nutrison
aberto ou fechado Energy Multifiber®, etc.
Especializada Prematuridade Polimérica Diluição: 13,8 a 16% Fórmula Infantil para Prematuridade (FIPre)
Na ausência de Hipercalórica Osmolal: 263 a 360 Volume parcial
leite materno Hiperproteica mOsmol/kg água Frequência
ou para Kcal/100 mL: 68 a 80 Ex.: Aptamil Pre®, Pre Nan®, Enfamil Pre
complementação Prot./100 mL: 2,1 a Premium®, etc.
2,5 g
1 a 12 meses Pronta para o uso Diluição: sem Fórmula Infantil Polimérica (FIPo)
Aumento das Polimérica Osmolal: 350 mOsmol/ Volume parcial
necessidades Hipercalórica kg água Frequência
nutricionais Normoproteica Kcal/100 mL: 100 Ex.: Infatrini®, etc.
Prot./100 mL: 2,6 g
Lip./100 mL:5,4 g
*Contraindicação: RNPT com Peso ao Nascer ≤ 1.500 g e sem resultado de sorologia materna para CMV
Fonte: YONAMINE et al. 2012; materiais técnicos dos laboratórios
62 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
Quadro 3: Tipos de fórmulas infantis, engrossantes, espessantes e módulos nutricionais segundo a indicação, a descrição dos
nutrientes, a especificação do uso e a forma de prescrição (Continuação)
1 mês a 1 ano Polimérica à base de Diluição: 12,9 a 16% Fórmula Infantil Polimérica à base de Proteína
Síndromes de proteína de soja Osmolal: 160 a 200 de Soja (FIPoSoja)
má absorção por Normocalórica mOsmol/kg água Volume parcial
deficiência de lactase Normo a hiperproteica Kcal/100 mL: 66 a 72 Frequência
Prot./100 mL: 1,8 a 2,3 g Ex.: Aptamil Soja®, Nan Soy®, Enfamil
ProSobee Premium®, Isomil Advanced®, etc.
10 a 15 anos Pronta para o uso Diluição: sem Fórmula Oligomérica para a Idade (FoOlI)
Síndromes de Oligomérica Osmolal: 270 a 535 Volume total
má absorção por Normocalórica mOsmol/kg água Tempo de infusão
deficiência de lactase Normoproteica Kcal/100 mL: 100 Volume parcial/hora
Infusão em sistema Prot./100 mL: 4,0 g Ex.: Nutrison Advanced Peptisorb®, Peptamen
fechado com Prebio®, etc.
*Contraindicação: RNPT com Peso ao Nascer ≤ 1.500 g e sem resultado de sorologia materna para CMV
Fonte: YONAMINE et al. 2012; materiais técnicos dos laboratórios
Aditivo do leite Alcance da oferta Energia Diluição: 1,4% (início) e Acrescentar o termo “aditivo do leite humano”
humano hídrica de 100 mL/ Carboidrato 2,8% (após 2 a 3 dias) após a prescrição com o respectivo percentual
kg/dia Proteína Osmolal: 35 (2,8%) (%)
Lipídios mOsmol/kg água Ex.: Human Milk Fortifier®, etc.
Minerais: Ca, P, Mg e Fe Kcal/g: 5,7
Eletrólito: Na Carboid./g: 0,14 g
Prot./g: 0,4 g
Lip./g: 0,36 g
Proteína ≥ 4 meses Energia Diluição: 2,5%; 5% e 10% Acrescentar o termo “hiperproteico” após a
Aumento da oferta Proteína Osmolal: 23 (10%) prescrição da fórmula, seguido pelo respectivo
proteica mOsmol/kg água percentual (%)
Kcal/g: 36 (10%) Ex.: Nutri Protein®, Caseical®, ReSource
Prot./g: 9 g (10%) Protein®, ProteinPT®, etc.
*Contraindicação: RNPT com Peso ao Nascer ≤ 1.500 g e sem resultado de sorologia materna para CMV
Fonte: YONAMINE et al. 2012; materiais técnicos dos laboratórios
64 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
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9
NUTRIÇÃO NO
PERÍODO NEONATAL
Gabriel Alberto Brasil Ventura
67
vista funcional e metabólico, as etapas seriam as seguintes: exemplo, o leite humano contém galacto-oligosacarídeos
transporte de aminoácidos com 14 semanas, transporte e fruto-oligosacarídeos que estimulam o crescimento de
intestinal de glicose com 18 semanas, atividade enzimática bífidobacterias (Millar et al. 1993; Boehm et al. 2002).
gástrica e pancreática com 20 semanas, secreção de sais e Probióticos e principalmente os lactobacilos são
ácidos biliares com 22 semanas, absorção de ácidos graxos organismos vivos que exercem uma função de proteção
com 24 semanas e capacidade de sucção com 32 semanas na medida em que competem ou atrasam o crescimento
(Hyman et al. 1983; Jirsova et al. 1996). de microrganismos patogênicos. Estudos sugerem que o
Ao termo, o intestino mede entre 250 e 300 cm e a uso de probióticos poderia reduzir a incidência de sepse
capacidade do estômago é de 30 mL. Durante o segundo e de enterocolite necrosante em RNPT (Hoyos, 1999).
trimestre da gravidez aparecem os glicocálices e a borda
em escova é estruturalmente bem definida, ainda que
permaneça imatura até o terceiro trimestre. Células
2. NUTRIÇÃO ENTERAL NO PERÍODO NEONATAL
endócrinas bem identificadas e grânulos contendo
gastrina, secretina, motilina, colecistocinina, serotonina A composição da dieta a ser ofertada no período
e somatomedina estão presentes entre 12 e 18 semanas neonatal depende primeiramente da disponibilidade de
de gestação. leite materno (LH) da própria mãe ou, na sua falta, da
As enzimas envolvidas na digestão de açúcares tais existência de um banco de leite humano (BLH) na unidade
como as alfaglicosidases, as dipeptidases e as sucrases de cuidados neonatais. Em não havendo LH, as fórmulas,
são funcionais ao final do segundo trimestre. A atividade geralmente à base de leite de vaca, podem ser subdivididas
da lactase, com 24 semanas, é de apenas 25% daquele em fórmulas para RN de termo (FLT) ou fórmulas para
encontrada no RN de termo, assim como a atividade da RN pré-termo ou prematuros (RNPT). De maneira menos
maltase é de 50% a 75% com 24 semanas, havendo um frequente é necessário recorrer a fórmulas específicas
aumento brutal da sua atividade com 32 a 34 semanas. para situações excepcionais, como suspeita de alergia a
As secreções gástricas, pancreáticas e biliares estão proteína do leite de vaca ou erros inatos do metabolismo.
diretamente envolvidas na inibição do crescimento Com efeito, inúmeros estudos com altos níveis de
bacteriano pela sua atividade proteolítica. O que sugere evidência científica confirmam, já há algum tempo, que
que a introdução precoce da alimentação por via enteral a melhor dieta a ser oferecida ao RN de qualquer peso, de
em RNPT de muito baixo peso pode contribuir na redução qualquer idade gestacional, em qualquer situação clínica
da incidência de infecções nesse período (Berseth, 2006). é o LH e, se possível, da própria mãe. As contraindicações
Algumas funções de defesa do organismo parecem ao aleitamento materno são excepcionais e podem ser
estar mediadas por nutrientes enterais. Os mais estudados resumidas em: mães portadoras de infecção pelos vírus
são a glutamina, a arginina, alguns ácidos graxos de cadeia HIV, HTLV-I e II, tuberculose ativa, lesões herpéticas no
longa, nucleotídeos e probióticos. seio, galactosemia neonatal e o uso pela mãe de algumas
Vários estudos recentes sugerem que a introdução medicações específicas.
precoce de dieta enteral está relacionada ao que se O leite humano pode ser ofertado cru ou pasteurizado,
convencionou chamar de “programação” da infância nesse caso originário de BLH. Sempre que possível, o LH
e da vida adulta e de algumas doenças crônicas não deve ser o da própria mãe, ordenhado recentemente ou
transmissíveis. Assim, RNs que nascem com restrição conservado no lactário em condições técnicas rigorosas
de crescimento intrauterino ou peso excessivamente de controle térmico e sanitário.
alto estão expostos a apresentar no futuro síndrome Assim, a prescrição deve sempre privilegiar o
metabólica. Essa reúne um conjunto de patologias aleitamento materno no próprio seio e, quando não
da atualidade, como hipertensão arterial sistêmica, houver tal possibilidade, que seja ofertado LH cru ou
diabetes melitus, obesidade, hipercolesterolemia e suas pasteurizado por via oral ou sonda, dependendo do
consequências cardiovasculares, responsáveis pelas paciente. A única contraindicação atual ao uso de LH cru
principais causas de morte no adulto. A alimentação seria para os RN de peso ≤ 1.500 g ou de idade gestacional
do RN à base de leite materno exclusivamente teria um ≤ 32 semanas, ainda que não haja uma recomendação
efeito de proteção da criança, prevenindo a obesidade, a mundial nem nacional para tal restrição, no HU-USP ela
hipertensão arterial do adolescente e o diabetes tipo 2. faz parte da rotina.
Prebióticos são definidos como substâncias (ou Sempre que possível, a nutrição do RN deve ser feita
açúcares, para certos autores) não digeríveis que pela via enteral, seja por administração oral ou sonda. A
estimulam ou favorecem o crescimento de algumas via oral só é possível quando o RN atinge a maturidade e
cepas de microorganismos não patogênicos. Por a capacidade de gerenciar a sucção com a deglutição sem
68 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
correr o risco de sufocação ou aspiração, o que geralmente e precioso critério que pode indicar precocemente uma
acontece em torno de 34 a 35 semanas de idade gestacional alteração do estado geral do paciente. Com efeito, nas
cronológica ou corrigida. Isto é, em torno desse período situações em que há resíduos em quantidades crescentes,
o RN deve ser capaz de sugar de maneira espontânea, de aspecto bilioso ou, ainda, sanguinolento, eles devem
eficaz e segura o volume de dieta esperado para sua ser considerados elementos indicativos de alguma piora
idade e peso, de maneira a assegurar um crescimento no quadro clínico do paciente e, em particular, um quadro
satisfatório. Ainda que na média os RNs de 35 semanas clínico relacionado à infecção, na forma de íleo paralítico
sejam autônomos, nem todos o são, podendo haver ou mesmo de enterocolite necrosante.
importantes variações interindividuais. Assim, é possível Quando o volume de resíduos gástricos ultrapassar
que um RN de 32 semanas ou até menos possa ser capaz de 20% do volume infundido ou quando o aspecto for bilioso,
sugar e deglutir o leite materno no peito, enquanto que um o paciente deve ser examinado, deve ser verificada a
RN de 38 semanas pode não ter alcançado tal autonomia, posição da sonda e a dieta deve ser revista. É possível
dependendo das diferentes intercorrências que possam suspender transitoriamente uma ou duas refeições,
ter ocorrido e das doenças associadas. retornando-se em seguida ou mantendo-se em jejum na
Por diferentes razões, a oferta de dieta pela via oral não suspeita de uma piora do quadro clínico.
pode e não deve ser realizada sob risco de complicações As recomendações nutricionais no período neonatal
para pacientes que, após uma avaliação cuidadosa da (Agostoni et al. 2010; Ziegler, 2011; Willemijin et al.
equipe multidisciplinar que dá assistência ao RN (médica, 2011; Koletzko et al. 2005; Thureen & Hay, 2012) estão
de enfermagem e de fonoaudiologia) em conjunto com a essencialmente direcionadas ao RNPT, já que o RNT
mãe, não oferecerem condições de segurança. Como já estaria, em princípio, em aleitamento exclusivo no
dissemos acima, cada caso é um caso que merece análise seio materno (Quadro 1). O LH proveniente do BLH é
individualizada. prioritariamente reservado aos pacientes prematuros.
Quando a via oral não é possível ou não é segura, De forma geral a nutrição do RN pode ser assim
a dieta pode ser administrada por sonda que, por sua esquematizada:
vez, pode ser introduzida, seja por via oral ou nasal, Para o RNT sadio deve ser ofertado o seio materno em
podendo estar locada no duodeno (pós-pilórica) ou, livre demanda (SMLD) em alojamento conjunto, iniciando-
mais frequentemente, no estômago. As diferentes vias se as primeiras mamadas já na sala de parto, dentro da
possíveis, assim como a posição da sonda e seu material, primeira hora de vida e de maneira prática a cada 3 horas.
dependem de vários fatores que resumidamente seriam: Para o RNT enfermo, quando o estado geral não
a idade do paciente, a idade gestacional (cronológica ou permite a dieta no seio materno, pode ser ofertado leite
corrigida), o peso, as doenças associadas, a tolerância materno ordenhado (LMO) ou, na ausência desse, LH do
da dieta, o tipo, a frequência e a consistência da dieta Banco de Leite ou ainda FLT. Caso o paciente não esteja
oferecida. Considerando que a respiração do RN se faz em condições de receber dieta enteral, deve ser prescrito
essencialmente pela via nasal, essa deve estar ao máximo um aporte hídrico e calórico via parenteral, na forma
livre de obstáculos. Nesse sentido, a oferta de dieta enteral de carboidratos associados a proteínas já nos primeiros
via sonda nasal deve ser, em princípio, de uso excepcional. dias de vida, progredindo-se em seguida para as soluções
A dieta enteral via sonda deve ser monitorada e seu completas de nutrição parenteral (NPE), que podem ser
volume, controlado. O ritmo de administração da dieta exclusivas ou complementares.
pode ser contínuo ou, mais frequentemente, em bolus ou Para os RNPT com peso acima de 2.500 g, a conduta é
intermitente. A dieta enteral contínua ou infundida em praticamente similar aos RNT. Entre 2.000 e 2.500 g, na
longos períodos por uma ou duas horas é recomendada medida do possível deve ser priorizada a dieta enteral
quando o paciente apresentar resíduos relacionados ao oferecida via oral, seja no seio materno, em copinho ou,
esvaziamento gástrico retardado. De forma geral, a regra é a ainda, em mamadeira. Caso o paciente apresente alguma
infusão em bolus ou apenas pela gravidade, o que facilitaria morbidade que impossibilite a via oral, pode ser ofertada
o estímulo às secreções gástricas, pancreáticas, biliares e dieta via sonda, de maneira exclusiva ou complementar
intestinais de maneira mais próxima do ritmo fisiológico. à dieta oral.
O controle da tolerância da dieta é feito sempre antes Em geral, pacientes maiores de 2.000 g recebem
da infusão, verificando a presença de resíduos gástricos dieta via sonda e, na maior parte das vezes, é possível
para os quais devem ser considerados o volume, o nutri-los apenas pela via enteral, sem necessidade de
aspecto, o conteúdo e a tendência das últimas dietas, recorrer à NPE. Já naqueles que pesam entre 1.500 e
além da avaliação clínica do abdômen e do estado geral 2.000 g é muito frequente que a nutrição deva ser pela
do paciente. O controle dos resíduos é um interessante via parenteral, ainda que complementar da via enteral.
70 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
Quadro 2: Quantidade de proteína e energia necessárias para atingir ganho de peso fetal
Peso (g)
500 - 700 700 - 900 900 - 1.200 1.200 - 1.500 1.500 - 1.800 1.800 - 2.200
Proteínas g/kg/dia
Perdas 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0
Crescimento 2,5 2,5 2,5 2,4 2,2 2,0
Aporte necessário
Parenteral 3,5 3,5 3,5 3,4 3,2 3,0
Enteral 4,0 4,0 4,0 3,9 3,6 3,4
Energia kcal/kg/dia
Perdas 60 60 65 70 70 70
Basal 45 45 50 50 50 50
Outras 15 15 15 20 20 20
Crescimento 29 29 36 38 39 41
Aporte necessário
Parenteral 89 192 101 108 109 111
Enteral 105 118 119 127 128 131
Proteína g/kg/dia
Parenteral 3,9 3,8 3,5 3,1 2,9 2,7
Enteral 3,8 3,7 3,4 3,1 2,8 2,6
Líquidos (ml)
peso < 1,5 kg 160 - 180 Imediatamente 80 - 90 mL/kg/dia
peso > 1,5 kg 140 - 160 imediatamente 60 - 80 mL/kg/dia
Carboidratos (g) 11,5 - 18,0 (8 - 12,5 mg/kg/mn) Imediatamente 5,8 - 11,5 g/kg/dia (4 – 8 mg/kg/mn)
72 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
Quadro 6: Composição do LH de prematuro e da mistura LH com fortificante (HMF)
74 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
CAPÍTULO
10
CUIDADOS DE ENFERMAGEM
EM SONDAS NASOENTERAIS
Fernanda Rodrigues Biz Silva
Karina Sichieri
Débora Regina Guedes
Fabiana Pereira das Chagas
Neste capítulo são abordados os procedimentos injeção de 20 mL de ar; aspirar o conteúdo gástrico até
relacionados aos cuidados de enfermagem com sondas observar presença de secreção na sonda; medir o pH
nasoenterais em adultos e em pacientes pediátricos e do líquido aspirado, que deve ser ≤ 4;
neonatais. • Fixar a sonda, com atenção para não tracionar a asa
do nariz;
• Solicitar radiografia simples de abdome para confirmar
1. PACIENTES ADULTOS o posicionamento.
75
• Confirmar a posição gástrica da sonda: auscultar • Lavar a sonda com 20 mL de água filtrada;
ruído, com estetoscópio em região epigástrica, durante • Preencher o equipo e conectá-lo à sonda;
injeção de 20 mL de ar; aspirar o conteúdo gástrico até • Abrir a pinça rolete e controlar para que a dieta seja
observar presença de secreção na sonda; administrada em tempo médio de 30 a 60 minutos;
• Introduzir aproximadamente 400 mL de ar pela sonda • Observar sinais de desconforto durante o procedimento;
(com auxílio de uma seringa); • Após o término da dieta, lavar a sonda com 20 mL de
• Posicionar o paciente em decúbito lateral direito; água filtrada;
• Introduzir mais 15 cm da sonda lentamente, até • Manter a sonda fechada;
atingir a progressão da marca feita com fita adesiva; • Documentar o resíduo gástrico e o volume de dieta
se houver resistência, tracionar os 5 cm introduzidos infundido na folha de controles da unidade.
anteriormente e reiniciar a partir desse ponto; se não
progredir, interromper o procedimento;
*Se não houver sucesso de localização na primeira Administração de dieta contínua (sistema fechado)
tentativa, retirar a sonda e reiniciar o procedimento; ao • Checar o rótulo do frasco de dieta com a pulseira de
invés da insuflação de 400 mL de ar, administrar uma identificação do paciente e prescrição médica;
ampola de metoclopramida por via intravenosa, conforme • Verificar dieta quanto ao volume e aspecto;
prescrição médica; • Verificar o posicionamento da sonda;
• Retirar o fio guia e fixar a sonda; • Mensurar o resíduo gástrico e retornar esse conteúdo
• Solicitar raio-x de abdome para confirmar a posição ao estômago;
da sonda. • Lavar a sonda com 20 mL de água filtrada;
• Na UTI adulto a sonda será locada, preferencialmente, • Colocar o equipo na bomba de infusão e preenchê-lo;
em posição pós-pilórica, visando a prevenção da • Programar a bomba de infusão, conectar o equipo à
aspiração pulmonar. Se após duas tentativas não for sonda e iniciar a administração da dieta;
possível a posição pós-pilórica, iniciar a dieta pela • Checar na prescrição médica o horário de instalação
sonda nasoenteral em posição gástrica, avaliando da dieta;
a progressão da dieta por 12 horas. Se houver boa *Obs: Após aberta, a dieta tem validade de 24 h, assim
tolerância, manter a sonda em posição gástrica, caso como o equipo;
contrário comunicar equipe médica.
• No final de cada plantão, a bomba de infusão de dieta
• Nas unidades de internação e pronto-socorro, visando
deve ser “zerada” e o volume infundido anotado na
a agilidade no início da dieta, as sondas enterais
folha de controles da unidade.
poderão ser locadas em posição gástrica (pré-pilórica).
Em caso de dificuldade para a progressão da dieta ou
algum sinal de intolerância, optar pelo posicionamento Resíduo gástrico
pós-pilórico. • A posição da sonda e o resíduo gástrico devem ser
conferidos a cada 6 h;
Administração de dieta intermitente • Após a verificação do resíduo gástrico, o volume
(sistema aberto) aspirado deve ser reintroduzido no estômago;
• Quando o volume residual for maior ou igual a 50% do
• Checar o rótulo do frasco de dieta com a pulseira de
volume administrado nas últimas duas horas:
identificação do paciente e prescrição médica;
• Verificar dieta quanto ao volume, aspecto e temperatura; –– Manter a velocidade de infusão e aguardar o
• Agitar o frasco da dieta, evitando que fiquem próximo horário de verificação;
sedimentos depositados no fundo; –– Se no horário seguinte persistir esse volume de
• Posicionar a cabeceira a 30º ou mais; resíduo gástrico, manter a velocidade de infusão
• Verificar o posicionamento da sonda antes da e verificar a possibilidade de prescrição de
instalação da dieta; pró-cinético;
• Verificar o resíduo gástrico (refluxo) e retornar esse –– Seguir acompanhando o resíduo gástrico a cada 6 h;
conteúdo ao estômago; • Quando o volume residual for maior ou igual a 100%
*Obs: Caso o resíduo gástrico seja maior ou igual do volume administrado nas últimas 2 horas, executar
a 100% do volume administrado na infusão anterior os passos do fluxograma a seguir.
é recomendado não administrar a dieta e aguardar o • Documentar o volume do resíduo gástrico na folha de
próximo horário; controles da unidade.
76 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
Administração de medicamentos o que permite pausas durante o dia para os cuidados de
enfermagem, da fisioterapia ou outros procedimentos.
• Pausar a bomba de infusão, se dieta enteral contínua;
• Para evitar complicações, a equipe de enfermagem
• Lavar a sonda com 20 mL de água antes e após a
deve lavar a sonda com 20 mL de água quando desligar
administração de medicamentos e entre medicamentos
a dieta, à noite, e quando reiniciá-la, pela manhã, além
diferentes;
de checar a posição da sonda e o refluxo nos dois
• Administrar cada medicamento separadamente.
momentos.
• Os medicamentos que são administrados em jejum
Pausa noturna devem ser aprazados para as 4 h.
• A pausa noturna realizada nas enfermarias (Clínica • A pausa noturna pode acontecer nas unidades de
Médica e Clínica Cirúrgica) permite o processo internação, sem prejuízo para a obtenção da meta
fisiológico de acidificação gástrica, auxiliando calórica diária.
no controle da população bacteriana no trato
gastrointestinal. Além de permitir maior conforto ao Administração de água via sonda enteral
paciente, que pode manter decúbito baixo durante • Nas enfermarias, o volume de água a ser administrada,
a noite, e favorecer a administração das medicações a cada 3 horas, via sonda enteral, deve estar na
em jejum. prescrição médica e ser aprazada pela enfermeira.
• Em geral, a pausa é feita das 24 h às 6 h e a infusão do • Infundir a água no “Y” da sonda, sem pausar a bomba;
volume total da dieta é calculada em um tempo de 16 h, • Administrar o conteúdo prescrito;
78 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
• Calçar as luvas; • Agitar o frasco da dieta, evitando que sedimentos
• Seguir as instruções do fabricante para colocar o fiquem depositados no fundo;
lubrificante, se vier com a sonda; • Conectar o equipo ao frasco de dieta e preenchê-lo;
• Tracionar o fio guia verificando sua mobilidade e • Colocar o RN/criança em decúbito elevado, deixando-o
prender o mandril dentro da sonda; numa posição confortável;
• Umidificar 6 cm da ponta distal da sonda com água • Calçar as luvas;
destilada para reduzir a fricção e o trauma na área; • Certificar-se de que a fixação da sonda permanece na
• Segurar a sonda com a extremidade apontada para marca preestabelecida;
baixo e iniciar a introdução lentamente; • Testar o posicionamento da sonda: auscultar ruído, com
• Introduzir a sonda até a posição gástrica (1ª marcação). estetoscópio em região epigástrica, durante injeção de
Confirmar sua posição com o método auscultatório em ar e aspirar o conteúdo gástrico;
flanco esquerdo, injetando de 3 a 5 mL de ar. Se a sonda • Ao retornar resíduo gástrico na seringa, observar
apresentar uma via: Retirar a tira de fita adesiva da suas características e volume, injetar o conteúdo
1ª marcação, introduzir a sonda até 2ª marcação. Se novamente; o volume a ser administrado deverá ser
a sonda apresentar duas vias: A cada centímetro a diferença entre o volume prescrito e o volume do
introduzido, injetar simultaneamente 2 a 5 mL de ar resíduo gástrico;
até a 2ª marcação; • Retirar a seringa e conectar o equipo de dieta à sonda;
• Observar sinais de desconforto como dispneia, cianose
• Controlar a infusão da dieta para que ela seja lenta;
e tosse, que podem indicar que a sonda está na
• Observar sinais de desconforto do RN/criança durante
traqueia; nesse caso, retirar imediatamente e reiniciar
o procedimento;
o procedimento;
• Após o término da dieta, desconectar o equipo e lavar a
• Posicionar o paciente em decúbito lateral direito;
sonda com água filtrada, utilizando volume de acordo
• Testar o posicionamento da sonda aspirando com
com o calibre da sonda (nº 4 – 0,5 mL e nº 6 – 1 mL);
seringa de 20 mL; quando em posição entérica,
• Fechar a sonda;
percebe-se resistência negativa ou presença de
• Documentar o resíduo gástrico e o volume de dieta
secreção biliosa; caso ocorra retorno de ar ou secreção
infundido nos impressos específicos de cada unidade.
gástrica, tracionar a sonda aproximadamente 5 a 10
cm, reintroduzindo e injetando ar concomitantemente;
• Remover o fio guia cuidadosamente, guardar no Administração de dieta contínua (sistema fechado)
invólucro da sonda e identificar; • Checar o rótulo do frasco de dieta com a pulseira de
• Retirar as luvas; identificação do paciente e com a prescrição médica;
• Fixar uma haste da fita adesiva elástica em forma de H • Preencher impresso próprio para identificação do
em região supralabial; fixar uma das extremidades da frasco de dieta (folha utilizada também para identificar
outra haste em espiral na sonda e a outra extremidade soros);
ao redor da sonda, próximo ao lábio superior; • Verificar o posicionamento da sonda;
• Fixar a fita crepe datada no espaço médio entre a • Mensurar o resíduo gástrico e retornar esse conteúdo
marcação e a conexão da sonda;
ao estômago;
• Verificar o posicionamento da sonda através de
• Colocar o equipo na bomba de infusão e preenchê-lo;
radiografia simples de abdome.
• Programar a bomba de infusão, conectar o equipo à
sonda e iniciar a administração da dieta;
Administração de dieta intermitente (sistema • Checar na prescrição médica o horário de instalação
aberto) da dieta;
• Conferir na prescrição médica: data, horário, tipo e *Obs: A dieta, após aberta, tem validade de 24 h, assim
volume da dieta a ser oferecida; como o equipo.
• Conferir dados de identificação da dieta com os dados • No final de cada plantão, a bomba de infusão de dieta
do RN/criança; deve ser “zerada” e o volume infundido anotado
• Explicar o procedimento à criança e acompanhante e na folha de “controle de ingeridos e eliminados”;
solicitar cooperação; na UTI Pediátrica e Neonatal, a bomba de infusão é
• Higienizar as mãos; reprogramada a cada 4 h, para melhor controle do
• Verificar a temperatura da dieta; volume infundido.
80 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
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11
GASTROSTOMIA (GTT):
ASPECTOS GERAIS
Karin Emilia Rogenski
Noemi Marisa Brunet Rogenski
Rosana Santiago Vilarinho
Karina Sichieri
Fabiana Pereira das Chagas
Fernanda Rodrigues Biz Silva
Débora Regina Guedes
83
• Comunicar à equipe médica quando ocorrer remoção após 24 horas do procedimento ou de acordo com
acidental ou intencional da sonda; é prioritário evitar prescrição médica.
o fechamento precoce da fístula gastrocutânea; se a • Após administração de dieta e/ou medicamentos e/ou
remoção ocorrer entre o 7º e 10º dias após a realização aspiração de resíduo gástrico, lavar a sonda com 10 a
da gastrostomia, a sonda deverá ser repassada no setor 20 mL de água morna filtrada. Se houve administração
de endoscopia; se o ostoma já se encontrar formado, de dieta de forma contínua é imprescindível lavar a
o médico ou a enfermeira poderão repassar a sonda sonda a cada 4 h.
pelo mesmo orifício; • Pacientes neonatais e pediátricos toleram menores
• A vida média da sonda é de 3 a 6 meses; dependendo volumes e utilizam sondas de menores calibres (14Fr e
do cuidado dispensado a ela, esse período pode ser 16Fr). Portanto, a lavagem da sonda deve ser realizada
prolongado por até 18 meses, desde que a sonda com volumes menores – 5 a 10 mL de água morna filtrada.
se mantenha integra; após esse período deverá ser • Antes de infundir a dieta, verificar o resíduo
gástrico com o auxílio de uma seringa. Se o volume
substituída;
for maior que 100 mL, devolvê-lo ao estômago e
• Manter a sonda fechada nos intervalos da alimentação;
não infundir a dieta desse horário. Após, lavar a
se ocorrer a quebra da tampa da sonda, pode-se utilizar
sonda com 10 a 20 mL de água morna filtrada.
um extensor para sonda ou a tampa de uma sonda
*Obs.: Em pediatria não é verificado resíduo gástrico
vesical de 3 vias;
para pacientes com GTT, é necessário que a equipe
• Inflar o balão da sonda com água destilada no volume
esteja atenta para distensão abdominal, náuseas e
recomendado pelo fabricante; não utilizar ar ou soro
vômitos antes e durante a administração da dieta.
fisiológico para inflar o balão, pois o ar poderá vazar
• Administrar a dieta em temperatura ambiente e
e causar o esvaziamento do balão e o soro fisiológico
lentamente, para evitar quadros de diarreia, flatulência
poderá cristalizar, causando obstruções;
e desconforto abdominal.
• O volume da água do balão da sonda deverá ser • Durante a administração da dieta e por mais 1 hora,
checado a cada 7 dias; é importante comparar o volume manter a cabeceira da cama do paciente elevada entre
retirado com o volume original infundido; a perda de 30° e 45°, a menos que contraindicado, para evitar a
volume superior a 5 mL sugere vazamento de líquido; regurgitação e possível aspiração.
nas sondas de menores calibres considerar perda de • Realizar higiene oral do paciente no mínimo 3 vezes ao
volume superior a 1mL, pois são preenchidas com dia, conforme procedimento institucional.
menor volume: de 3 a 5 mL.
Absolutas Relativas
Lesão ulcerada, infiltrativa ou infectada em parede abdominal Fístula esofágica, proximal do intestino delgado ou varizes
ou em mucosa gástrica no local de inserção da sonda esofágicas
Ausência de motilidade intestinal Peritonite difusa
Ascite
84 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
• Girar a sonda 360º uma vez por semana, para evitar • Peritonite;
aderências à pele. • Fasceite necrotizante;
• Verificar diariamente a presença de vazamento de
• Hemorragia;
secreção gástrica ou de dieta e examinar a inserção da
• Pequenos hematomas;
sonda para sinais e sintomas de infecção como: eritema,
edema, dor, presença de exsudato com odor fétido ou • Obstrução da sonda;
febre. Se presentes, comunicar equipe médica. • Aspiração;
• Remoção ou deslocamento precoce da sonda;
Complicações • Dermatite;
• Infecção local (sinais de dor, eritema, edema e exsudato • Sepultamento do retentor interno.
purulento); O Quadro 2 relaciona outras complicações e cuidados.
Complicações Cuidados
Hiperemia - Realizar higiene da pele periestoma com água e sabão neutro três vezes ao dia e sempre que
necessário;
- Aplicar protetor cutâneo ou creme barreira na pele periestoma;
- Manter roldana externa da sonda ajustada à pele.
Vazamento periestoma - Realizar higiene da pele periestoma com água e sabão neutro três vezes ao dia e sempre que
necessário;
- Verificar a quantidade de água destilada no balão da sonda e ajustá-la ao volume indicado na sonda;
- Aplicar protetor cutâneo ou creme barreira na pele periestoma;
- Se necessário, manter espuma de poliuretano entre a pele e o anel;
- Manter anel da sonda ajustado à pele/espuma de poliuretano.
Granuloma - Realizar higiene da pele periestoma com NaCl 20% e manter gaze embebida com a solução por 10
minutos, três vezes ao dia;
- Secar a pele ao retirar a compressa;
- Aplicar protetor cutâneo ou creme barreira na pele periestoma;
- Manter anel da sonda ajustado à pele.
Monília - Realizar higiene da pele periestoma com água boricada 3% no mínimo três vezes ao dia;
- Aplicar protetor cutâneo ou creme barreira na pele periestoma;
- Manter anel da sonda ajustado à pele;
- Se persistir, aplicar hidrofibra com prata (Aquacel®) na inserção da sonda de gastrostomia, cobrir
com gaze estéril e Micropore® e trocar a cada três dias ou se necessário.
86 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
CAPÍTULO
12
FONOAUDIOLOGIA
EM TERAPIA
NUTRICIONAL
Milena Vaz Bonini
Karina Elena Bernardis Bühler
87
intubação orotraqueal prolongada, da traqueostomia, realização de avaliações complementares e procedimentos
da ventilação mecânica e do uso de vias alternativas de necessários ao diagnóstico e ao tratamento da disfagia
alimentação. Várias pesquisas apresentam evidências e estabelecer o tipo de terapia indicada para cada caso
sugerindo que a permanência da IOT por mais de 48 horas (Furia, 2003; ASHA, 2002).
pode causar pelo menos prejuízo transitório à laringe,
seguindo-se a redução da eficácia dos mecanismos de
A - Quando solicitar
proteção de vias aéreas. A presença do tubo orotraqueal
As indicações mais frequentes para a avaliação
parece alterar mecano e quimiorreceptores da mucosa
fonoaudiológica em beira de leito são:
da faringe e laringe, causando alteração no reflexo de
• População pediátrica (Arvedson, Brodsky, 2002)
deglutição (Solh et al. 2003).
–– Baixo ganho ponderal ou perda de peso;
–– Incoordenação das funções de sucção e deglutição;
1.3. Avaliação clínica –– Alterações respiratórias;
A avaliação da dinâmica da deglutição é a base para –– Apnéia e quedas de saturação associadas à alimentação;
o planejamento das estratégias de gerenciamento. –– Irritabilidade severa ou problemas de comportamento
Os objetivos da avaliação em questão são: identificar durante a alimentação;
a possível causa da disfagia, avaliar a habilidade de –– Histórico de infecções recorrentes de vias aéreas;
proteção de vias aéreas e os possíveis riscos de aspiração, –– Tempo de alimentação prolongado (> 40 min);
determinar a possibilidade de alimentação por via oral –– Sialorréia persistente;
e a melhor consistência da dieta alimentar, indicar a –– Náusea;
88 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
–– Refluxo nasofaríngeo; B - Como solicitar
–– Tosse ou engasgos recorrentes durante a alimentação;
–– Diagnóstico de alguma afecção que cursa com Setor Como proceder
Alterações neurológicas Prematuridade, Síndrome Arnold-Chiari, tumor de sistema nervoso, trauma crânioencefálico,
acidente vascular encefálico, doenças neuromusculares, asfixia perinatal
Alterações anatômicas do trato Anomalias congênitas ou adquiridas (fissuras lábiopalatinas, paresia ou paralisia de pregas
aerodigestivo vocais, cleft-laríngeo, fístula tráqueoesofágica, laringomalácia, traqueomalácia, anel vascular)
Iatrogênico (traqueostomia)
Condições que afetam a Laringomalácia, prematuridade, atresia de coanas, displasia broncopulmonar, doença
coordenação das funções de cardíaca, vírus respiratório sincicial
sucção/respiração/deglutição
Alterações estruturais Divertículo de Zenker, cicatrizes pós-operatórias, tumores orofaríngeos, osteófitos e anomalias
esqueléticas, más-formações congênitas
Alterações do sistema Acidente vascular cerebral, traumatismo crânioencefálico, paralisia cerebral, Síndrome Guillain-
nervoso Barrè, Parkinson, Coréia de Huntington, esclerose lateral amiotrófica, tumores, Alzheimer,
neuropatia diabética
Doenças musculares Dermatomiosite ou polimiosite, distrofia miotônica, distrofia oculofaríngea, miastenia Gravis,
sarcoidose, síndromes paraneoplásicas
90 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
REFERÊNCIAS Furia, CLB. Abordagem interdisciplinar na disfagia orofaríngea.
In: Rios, IJA, editor. Conhecimentos essenciais para atender bem
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13
TERAPIA NUTRICIONAL
PARENTERAL: ASPECTOS
GERAIS EM ADULTO
Lúcia Caruso
Lucas Fernandes de Oliveira
Altamir Benedito de Sousa
93
e pré-albumina e eletrólitos, para permitir a avaliação 1 litro de solução ou emulsão, com progressão a partir
inicial bem como acompanhamento. No Quadro 1 estão do segundo dia para volume suficiente para garantir a
especificados exames e frequência. oferta nutricional total, conforme tolerabilidade. Deve-se
avaliar os exames bioquímicos e se houver desequilíbrios
Início e descontinuidade é recomendada a reposição ou revisão da composição da
O ideal é iniciar a nutrição parenteral com volume emulsão escolhida ou, ainda, manter o volume abaixo
que proporcione metade da meta calórica, ou com da meta até que a tolerância metabólica seja alcançada,
Quadro 1: Exames bioquímicos a serem solicitados antes e durante a Nutrição Parenteral (NP)
ACOMPANHAMENTO
Hemograma completo × ×
Eletrólitos: × × ×
Sódio
Potássio
Cloreto
Magnésio
Bicarbonato
Fósforo
Cálcio
Glicemia × × ×
Colesterol total × ×
HDL
LDL
Triglicérides × ×
Balanço nitrogenado × ×
Uréia urinária de 24 h
94 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
de acordo com cada caso. Paralelamente ao aumento do 25 mL/h, para prevenção da atrofia pelo jejum digestório
volume da NP, a prescrição de soro glicosado deve ser (McClave, 2009).
revista de forma a não levar a balanço hídrico positivo.
Por outro lado, quando se for programar a interrupção
Fórmulas disponíveis
da NP, seja para transição para nutrição enteral, ou oral,
é importante que ela seja gradativa, em 1 a 2 dias, pelo Na tabela 1 estão especificados os 7 tipos de fórmulas
menos, com substituição parcial do volume de NP por soro disponíveis para adultos no HU-USP, seis para uso
glicosado, de forma a não promover alterações abruptas em cateter central e um – HU7 – para uso em infusão
no volume circulante. Sugere-se diminuição do volume periférica, e na tabela 2 estão os oligoelementos e
de NP em 1/3, 2/3 e suspensão. multivitamínicos disponíveis. Cabe considerar que
A via de alimentação pelo trato gastrointestinal sempre pacientes catabólicos apresentam maior necessidade
deve ser priorizada. Portanto, uma vez que haja condições proteica e que muitas vezes existe um acréscimo da
para o uso do trato digestório e o paciente aceitar mais solução de aminoácidos a 10%, de forma a contemplar a
de 50% a 75% da meta calórica por via oral ou enteral, quantidade diária requerida, conforme exemplo descrito
a nutrição parenteral deve ser suspensa. Em algumas a seguir. Um paciente com peso ideal de 70 kg em estado
situações de baixa tolerância digestória pode-se manter catabólico, com necessidade de 1.750 kcal (25 kcal/kg) e
uma oferta pequena por via enteral, por exemplo de 88 g (1,25 g/kg) de proteínas precisará da fórmula de NP
Hu-7
Composição Hu-1 Hu-2 Hu-3 Hu-4 Hu-5 Hu-6
(via periférica)
ÁGUA PARA INJEÇÃO 31,70 28,24 30,00 30,00 5,75 9,63 230,70
GLUCONATO DE CÁLCIO 10% 6,00 5,71 10,00 10,00 8,77 5,45 6,00
VOLUME FINAL DA SOLUÇÃO (mL) 1.000 1.000 700 1.000 1.000 1.000 1.000
fósforo (P) em pacientes recebendo NP. Por isso, nessas Colecalciferol (vit. D) 400 UI
situações é necessário prover aproximadamente 10 - Tocoferol (vit. E) 25 mg
15 mmol de P para cada 1.000 kcal ofertadas. Os pacientes Nicotinamida (vit. B3) 50 mg
severamente subnutridos podem desenvolver Síndrome Piridoxina (vit. B6) 7,5 mg
de Realimentação, verificar capítulos específicos.
Riboflavina (vit. B2) 2,5 mg
Vale a pena considerar em paralelo os suplementos
Ácido ascórbico (vit. C) 250 mg
de vitaminas e minerais disponibilizados para uso em
NP (Quadro 2), o que pode permitir um ajuste, quando Dexpantenol (vit. B5) 12,5 mg
Recomendações/dia (adulto
Nutriente Recomendações ASPEN** (24 h)
saudável)*
Minerais
Ferro 10 mg Não adicionado rotina
Zinco 12 - 15 mg 2,5 - 5,0 mg
Cobre 2 - 3 mg 0,3 - 0,5 mg
Cromo 0,05 - 0,2 mg 10 - 15 µg
Selênio 55 - 70 µg 20 - 60 µg
Manganês 0,15 - 0,8 mg 60 - 100 µg
Molibdênio 0,15 - 0,5 mg Não adicionado rotina
Vitaminas
A 1.000 UI 3.300 UI
D 400 UI 200 UI
E 12.-.15 UI 10 UI
K 1 µg/kg 150 µg
Tiamina 1 - 1,5 mg 6 mg
Riboflavina 1,1 - 1,8 mg 3,6 mg
Piridoxina 1,6 - 2,2 mg 6 mg
B12 2 - 3 µg 5 µg
Niacina 14 - 20 mg 40 mg
Ácido pantotênico 4 - 10 mg 15 mg
Biotina 80 - 100 µg 60 µg
Ácido Fólico 180 - 200 µg 600 µg
Ácido ascórbico 45 - 60 mg 200 mg
Obs: *baseada nas Recommended Dietary Allowance (RDA), 1989; **Mirtallo et al. 2004
96 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
Quadro 2: Suplementos disponíveis para uso em Nutrição Parenteral
Glicose 50%
Micronutrientes Complexo B
Multivitamínico
Oligoelementos Adulto
Polivitamínico A+B
Polivitamínico A+B C 12
Selênio 4 mcg/mL
Heparina 5.000UI/ml
Insulina Simples
98 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
REFERÊNCIAS Kitchen P, Alastair F. Parenteral nutrition. Curr Opin Gastroenterol.
2003;19(2):144-7.
Angelico M, Della Guardia P. Review article: hepatobiliary
Klein CJ, Stanek GS, Wiles CE. Overfeeding macronutrients to
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critically ill adults: metabolic complications. J Am Diet Assoc.
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McClave SA, Martindale RG, Vanek VW, McCarthy M, Roberts
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in adult and pediatric patients. JPEN J Parenter Enter Nutr.
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2002;26(1):1SA-138SA.
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Enteral Nutr. 2009;33(3):277-316.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância Sanitária.
Mirtallo J, Canada T, Johnson D, Kumpf V, Petersen C, Sacks G, et al.
Portaria Nº 272, de 8 de abril de 1998. Dispõe sobre o regulamento
técnico para terapia de nutrição parenteal. Diário Oficial da União, Safe practices for parenteral nutrition. JPEN J Parenter Enteral
Hiperglicemia Glicemia > 250 mg/ Infusão rápida, sobrecarga de Tratamento das causas (sepse, infecção) e
dL glicose, diabetes, trauma e sepse infusão lenta de insulina
Hipoglicemia Glicemia < 50 mg/dL Retirada súbita de soluções ricas Inserir solução de glicose a 10% por 8
em glicose horas após a suspensão da infusão da NP
Hipertrigliceridemia TG > 200 mg/dL Sobrecarga lipídica (> 2 g/kg/dia) Menor velocidade de infusão lipídica
Acidose pH arterial < 7,3 + Insuficiência renal, excesso de Administrar sódio, potássio e fosfato;
hiperclorêmica Clˉ > 115 mmol/L cloro melhorar a função renal
Hipofosfatemia Fósforo sérico abaixo Oferta insuficiente e sobrecarga 20 mmol para cada 1.000 kcal
de 2,7 mg/dL de glicose
Hipocalemia Potássio sérico Oferta insuficiente, sobrecarga de Redução da ingestão de glicose e aumento
abaixo de 3,5 mEq/L glicose e perda renal da administração de potássio
Hipercalemia Potássio sérico acima Acidose metabólica, insuficiência Parar a infusão de potássio; administrar
de 5 mEq/L renal e infusão rápida de NP glicose ou insulina
Disfunção hepática AST > 40U/L; ALT > Mecanismo pouco conhecido: Tratar a hiperalimentação, iniciar com
40U/L sepse, hiperalimentação ingestão hipocalórica oral/enteral
100 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
Anexo 2: Complicações hepáticas relacionadas à nutrição parenteral (NP)
Esteatose Acúmulo de Oferta de quantidades elevadas de Pode ser realizado com a suplementação
hepática gordura nos glicose, o que determina acúmulo de lipídica (EL). Porém a infusão excessiva
hepatócitos, acetil-coA e desencadeia aumento de lipídica deve ser evitada, visto que também
especialmente síntese de ácidos graxos; pode causar esteatose hepática quando
na forma de Diminuição da oxidação de ácidos prescrita em dosagem > 4 g /kg/dia (Btaiche,
triglicérides graxos, particularmente se houver Khalidi, 2004). A recomendação máxima de
e ésteres de deficiência de carnitina; dosagem lipídica é de 1 g/kg/dia em adultos
colesterol Diminuição da síntese de lipoproteína (Btaiche, Khalidi, 2004).
(Btaiche, Khalidi, devido à desnutrição ou deficiência O controle do tratamento com medicamentos
2004), sem de ácidos graxos (Buchman, 2001; que potencializam a esteatose e a
evidências de Angelico, Della Guardia, 2000); esteatohepatite como amiodarona, análogos
inflamação, A síndrome de sobrecarga de glicosídeos e metotrexato também é
colestase ou gordura é caracterizada por recomendado para reduzir ou prevenir
necrose hepática hipertrigliceridemia, febre, essas complicações. Do mesmo modo,
(Reimund et al., hepatoesplenomegalia, coagulopatia a exposição a agentes hepatotóxicos
2004) e disfunção de múltiplos órgãos (álcool e medicamentos) deve ser evitada,
(Btaiche, Khalidi, 2004). particularmente quando a fibrose é
histologicamente detectada na biopsia
hepática (Kitchen, Alastair, 2003).
Colestase Falência no fluxo Adultos com a fosfatase alcalina É reversível desde que a NP seja
da bile (Bhogal, elevada podem apresentar colestase. descontinuada antes de ocorrerem danos
2013) Os fatores de risco são: sepse, NP irreversíveis ao fígado. A iniciação precoce
prolongada, NP contínua, excesso de alimentação enteral ou oral e o desmame
de aminoácidos, uso inadequado de da NP têm sido vistos como a melhor
lipídeos, deficiência de nutrientes, prevenção, pois o jejum relacionado com a
como glutamina, metionina, colina e falta de estimulação do trato digestório, de
carnitina, condições do paciente que forma prolongada, predispõe à colestase
promovam a translocação bacteriana (Robeau, Rolandelli, 2004).
(Robeau, Rolandelli, 2004).
14
TERAPIA NUTRICIONAL
PARENTERAL: ASPECTOS
GERAIS EM PEDIATRIA
Andréa Maria Cordeiro Ventura
A nutrição parenteral consiste na administração Com relação à oferta hídrica ressalta-se que a criança
intravenosa de nutrientes para indivíduos com criticamente enferma apresenta grande potencial para
impossibilidade de ingerir ou absorver os nutrientes ativação de mecanismos fisiopatológicos que levam à
por via oral ou enteral. “Solução ou emulsão, composta retenção hídrica, como secreção inadequada do hormônio
basicamente de carboidratos, aminoácidos, lipídios, vasopressina, ativação do eixo renina-angiotensina-
vitaminas, estéril e apirogênica, acondicionada em aldosterona, além de falências ou insuficiências orgânicas
recipiente de vidro ou plástico, destinada à administração (renal, cardíaca), juntamente com oferta excessiva de
intravenosa em pacientes desnutridos ou não, em regime líquidos por meio de medicações de infusão contínua,
hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando a síntese antibióticos, entre outros. Desse modo, o cálculo da
ou manutenção dos tecidos, órgãos ou sistemas” (Portaria oferta hídrica preconizado por Hollyday-Segar (Tabela
n. 272, 1998, ANVISA). 1) pode resultar em excesso de líquidos para a criança
As indicações de nutrição parenteral (NP) estão citadas criticamente doente e deve ser individualizado levando-
no Quadro 1. Considera-se em termos de momento do se em consideração o balanço hídrico. Por outro lado, as
início da NP a impossibilidade ou limitação da via enteral perdas excessivas devem ser monitoradas e acrescidas na
por 1 - 3 dias em lactentes ou 4 - 5 dias em crianças maiores oferta hídrica, tais como: vômitos, diarreia ou aumento
e adolescentes. Convém ressaltar que, uma vez indicada do débito por ostomias, febre, sudorese excessiva,
a NP, é necessária uma reavaliação frequente quanto à hiperventilação (aumento das perdas insensíveis).
possibilidade de introdução de dieta oral ou enteral. A NP Com relação à oferta calórica, as estimativas se baseiam
poderá ser administrada por acesso central ou periférico em fórmulas ou, mais raramente, em calorimetria
(Quadro 2). indireta. As fórmulas geralmente superestimam o gasto
Uma vez indicado o suporte nutricional parenteral, energético que, dependendo da doença, da fase evolutiva
deve -se decidir sobre os componentes da dieta na unidade de terapia intensiva e das medidas terapêuticas
individualizados, incluindo-se água, oferta de energia não empregadas, pode estar limitado à taxa metabólica basal.
proteica, aminoácidos, eletrólitos, vitaminas e minerais, Dessa forma é imprescindível a monitoração clínica e
resumidos no Tabela 1. laboratorial (Tabela 2) para prevenção do excesso ou
103
Quadro 1: Indicações de nutrição parenteral para pacientes pediátricos
Pacientes que falham um teste de nutrição enteral* e não alcançam suas necessidades proteico-energéticas
NP central NP periférica
Impossibilidade de alcançar as necessidades nutricionais (vide Possibilidade de alcançar as necessidades nutricionais (vide
metas calóricas) metas calóricas)
104 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
Tabela 1: Recomendações para suporte nutricional parenteral em Pediatria
Necessidades de CH (mg/kg/min) 4 - 12
Selênio 2 2-3 30 - 40
Iodo 1 1
E (mg) 7 10
C (mg) 80 100
B1 (mg) 1,2 3
B3 (mg) 1 4
B5 (mg) 17 40
B6 (mg) 5 15
B7 (µg) 20 60
B12 (µg) 1 5
Peso Diário ✓ ✓
Estatura 1x/semana ✓ ✓
CMB 1x/semana ✓ ✓
PT 1x/semana ✓ ✓
PC À admissão ✓
Albumina 1x/semana ✓ ✓
Pré-albumina 1x/semana ✓ ✓
Transferrina 1x/semana ✓ ✓
Hemograma 1x/semana ✓ ✓
Perfil ferro ✓
Dosagem de vitaminas e ✓
elementos traço
CMB: circunferência média do braço; PT: prega tricciptal; PC: perímetro cefálico
Quadro 3: Complicações da NP
Metabólicas:
Relacionadas a eletrólitos, vitaminas, minerais ou elementos traço
Doença hepática associada à NP
Doença óssea
Super ou subalimentação
Síndrome de Realimentação
Alergias
106 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
Quadro 4: Cálculos úteis
1 g N = 6,25 g proteína
Dividir total CNP por gramas de nitrogênio
CNP:N
80:1 pacientes para criticamente doentes;
100:1 para pacientes doentes;
150:1 para pacientes sem estresse grave.
Osmolaridade
mOsm/L = {[aminoácidos (g) × 11] + [dextrose (g) × 5,5] + [lipid. (g) × 0,3] + [cations (mEq) × 2]}/total volume (L)
Calorias não-proteicas
Balanço nitrogenado
Balanço
108 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
CAPÍTULO
15
ASPECTOS FARMACOLÓGICOS
EM TERAPIA NUTRICIONAL
Altamir Benedito de Sousa
Cristina Akiko Takagi
Sandra Cristina Brassica
109
110 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
Tabela 1: Nutrição Parenteral Neonatal
Registro
Setor: Peso (kg):
Hospitalar:
Período
No. de Frascos para infundir em 24 h:
Infusão:
mEq/Kg cloreto de sódio 3,42 mEq/mL 0,00 mEq/Kg sulfato de Mg = 9,86 mg/ 0,00
20% magnésio mL = 0,81 mEq/
10% mL
g/Kg emulsão lipídica 0,2 g/mL 0,00 mcg/Kg sulfato de Zn=230 mcg/ 0,00
20% com TCM/ zinco mL = 0,0069
TCL mEq/mL
mg/Kg fósforo orgânico P= 1 mmol = 0,00 UI/mL heparina 0,00 UI
31 mg/ml e
Na= 2 mmol =
2 mEq/mL
mL/Kg gluconato de Ca = 8,92 mg/ 0,00 mL/Kg Volume Final 0,00
cálcio 10% mL = 0,46 (mL)
mEq/mL
mL/Kg oligoelementos 0,00 automático água 0,00
infantil bidestilada
ATENÇÃO Zinco #DIV/0! Conferência (farmácia)
total(mcg/Kg)
Aporte #DIV/0! Conferência (enfermagem)
calórico (kcal/
kg/dia)
SE PRESCRITO LIPÍDEOS Calorias não #DIV/0! Via de ( ) Central ( ) Periférica
E HEPARINA, ADICIONAR proteicas/g N administração
POLIVITAMÍNICO
CÁTIONS DIVALENTES ATÉ 16 Cátions #DIV/0!
divalentes
ÁGUA BIDESTILADA
AMINOÁCIDOS 10%
OLIGOELEMENTOS ADULTO
OLIGOELEMENTOS INFANTIL
HEPARINA UI
INSULINA SIMPLES UI
VOLUME FINAL:
OBSERVAÇÕES:
Nº DA OP: Nº DO PEDIDO:
112 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
900 mOsmol/L podem ser infundidos por acessos venosos 10 - Em caso de dúvida ou discordância durante
periféricos. Valores superiores a 900 mOsmol/L devem ser qualquer etapa do processo, checar com o prescritor e,
administrados exclusivamente por acesso venoso central se necessário, solicitar nova prescrição.
ou PICC (cateter central de inserção periférica). 11 - Após a avaliação das prescrições, elas devem ser
6 - As ofertas dos íons sódio e do íon potássio devem
entregues ao farmacêutico da dispensação assinadas e
ser verificadas com especial atenção aos campos “Sódio”
carimbadas pelo farmacêutico que as realizou.
e “Potássio total”, dependendo da planilha utilizada, pois
A seguir, o fluxograma ilustra a triagem da prescrição
esses íons podem ser oriundos de mais de um composto.
Assim, por exemplo, o sódio pode ser proveniente de da NP e as planilhas utilizadas para a elaboração da
acetato de sódio, cloreto de sódio e fósforo orgânico; o fórmula. Na Tabela 1. Nutrição parenteral neonatal – que
potássio, de cloreto de potássio e de fosfato de potássio. está disponível no programa Excell® –, os itens em cor
7 - Verificar qual fosfato será utilizado no preparo cinza são para preenchimento pelo médico responsável.
(orgânico ou inorgânico), para o estabelecimento das Já os itens em azul são automaticamente preenchidos
possíveis incompatibilidades. pelo programa. O objetivo é facilitar o processo e evitar
8 - Em caso de uso de fósforo inorgânico observar que erros, considerando as interações entre os diversos
a concentração dos íons cálcio e magnésio deve ser menor componentes, bem como as concentrações de cada
que 250 mEq/L.
um deles, de forma a levar em conta a prevenção de
9 - No caso de NP com adição de emulsão lipídica,
complicações, tais como flebite e obstrução de capilares
observar: cátions divalentes (Ca 2+ e Mg 2+), pois nas
por precipitados. Por outro lado, a Quadro 2. Nutrição
misturas 3:1 a concentração desses não deve exceder
16 mEq/L, sob risco de separação de fases. Observar se parenteral pediátrica, está disponível em papel, de
há adição de heparina, pois em caso positivo deve ser forma a compilar as informações necessárias para sua
adicionado polivitamínico, ao menos 0,1 mL/kg, a fim de elaboração. Vale considerar que essas formulações são
impedir a coalescência da mistura. individualizadas.
Aminoácidos
Minerais
Selênio 40 mcg/mL
Zinco 10 mg/mL
Tabela 2: Comparativo entre soluções de aminoácidos prescritos para pacientes pediátricos e adultos
L-Isoleucina 6,40 g 5g
L-Cisteína 0,38 g
L-Serina 9,03 g
L-Tirosina 5,49 g
L-Glicina 14,00 g
114 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
3. COMPOSIÇÕES UTILIZADAS EM NP 4. FÁRMACOS E ALTERAÇÕES METABÓLICAS
A seguir são apresentados quadros que relacionam Os quadros abaixo mostram os principais fármacos
a composição de vários nutrientes para NP, pois estão que podem desencadear distúrbios metabólicos. Deve-se
disponíveis no mercado vários tipos de soluções para sempre avaliar a possibilidade de troca do medicamento
manipulação da nutrição parenteral, sendo importante o ou redução da oferta do micronutriente ou macronutriente
conhecimento dessas para a prescrição adequada. envolvido (Reents, Ceymour, 1999).
Cálcio, gluconato 10 % amp 0,224 mmol/1 mL 0,46 mEq/1 mL 8,92 mg/1 mL de cálcio
Magnésio, sulfato 10% amp 0,41 mmol/1 mL 0,81 mEq/1 mL 9,86 mg/1 mL de magnésio
Magnésio, sulfato 50% amp 2,05 mmol/1 mL 4,05 mEq/1 mL 49,5 mg/1 mL de magnésio
Potássio, cloreto xarope 6% 0,80 mmol/1 mL 0,80 mEq/1 mL 31,3 mg/1 mL de potássio
Potássio, cloreto 19,1% amp 2,56 mmol/1 mL 2,56 mEq/1 mL 99,92 mg/1 mL de potássio
Sódio, bicarbonato 8,4 % amp 1,0 mmol/1 mL 1,0 mEq/1 mL 23,0 mg/1 mL de sódio
61,0 mg/1 mL de bicarbonato
Sódio, cloreto 20% amp 3,42 mmol/1 mL 3,42 mEq/1 mL 78,7 mg/1 mL de sódio
116 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
Composição por mL da Infantil
Infantil Adulto
solução de oligoelementos diluído
Enalapril Propranolol
Amilorida Ibuprofeno
Ciclosporina Penicilina g
Enalapril Ramipril
Betametasona Metilprednisolona
Espironolactona Tacrolimus
Cortisona Prednisolona
Fosinopril Trandolapril
Dexametasona Prednisona
Heparina Valsartam
Hidrocortisona Bicarbonato de sódio
Manitol Triancinolona
118 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
(Btaiche, Khalidi, 2004). Existem alguns medicamentos molecular, solubilidade, lipofilicidade e estabilidade; e
que podem desencadear a colelitíase como reação as variáveis fisiológicas podem ser: motilidade gástrica,
adversa, como mostra o Quadro 16, assim como Colestase, pH no sítio de absorção, área da superfície de absorção,
descrito no Quadro 17 (Reents, Ceymour, 1999). fluxo sanguíneo no mesentério, eliminação pré-sistêmica
O Quadro 18 mostra um protocolo de reposição de e ingestão com ou sem alimento (Wohlt, 2009).
fósforo em diferentes concentrações plasmáticas (Robeau, Muitos pacientes na UTI estão sedados por estarem sob
Rolandelli, 2004; Weinstein, 2001; Grant, 1996). ventilação mecânica. Portanto, não se alimentam pela
via oral. Normalmente, sua nutrição é realizada por via
enteral. Portanto, é necessário atentar para a interação
entre fármacos administrados por via enteral e a dieta
5. INTERAÇÃO DA DIETA ENTERAL COM
enteral, observando-se que essa interação pode ser um
MEDICAMENTOS
fator que afeta a absorção do medicamento. É importante
A via de administração do medicamento, quando diferenciar se a dieta enteral é administrada de modo
não é intravenosa, depende das propriedades químicas intermitente ou de modo contínuo, usando-se bomba de
do fármaco e das variáveis fisiológicas do sítio de infusão. Para pacientes críticos, veja os medicamentos
administração. As propriedades químicas que interferem mais utilizados que sofrem interação medicamento-
na absorção dos fármacos são: natureza química, peso alimento no Quadro 19.
Quadro 13: Fármacos que podem desencadear Quadro 16: Fármacos que desencadeiam colelitíase
hipomagnesemia como reação adversa
Hidroclorotiazida Ciclosporina
Fenitoína Tiabendazol
Fosinopril Ticlopidina
Quadro 15: Fármacos que desencadeiam necrose hepática
como reação adversa Furosemida Trandolapril
Acetaminofeno Fosinopril
Alopurinol Labetalol
Quadro 18: Tratamento empírico da hipofosfatemia
Captopril Lisinopril
Concentração sérica de Dose de suplementação de
Sulfametoxazol + trimetoprima Propiltiouracil fósforo (mg/dL) fosfato i.v. (mmol/kg)
120 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Reents S, Ceymour J. Clinical pharmacology; Version 1.19. Tampa, Bula AminoPed 10%. Fresenius Kabi Brasil LTDA.
Flórida: Elsevier; 1999. Bula Aminoesteril. Fresenius Kabi Brasil LTDA.
Reimund JM, Arondel Y, Joly F, Messing B, Duclos B, Baumann R. Boh LE pharmacy practice manual: a guide to the clinical
Potential usefulness of olive oil-based lipid emulsions in selected experience. 2nd ed. Philadelphia, PA : Lippincott Williams &
situations of home parenteral nutrition-associated liver disease. Wilkins; 2001.
Clin Nutr. 2004;23(6):1418-25. Kfouri Filho M, Akamine D. Terapia nutricional parenteral. 2a
Robeau JL, Rolandelli RH. Nutrição clínica: nutrição parenteral. ed. São Paulo: Atheneu; 2005.
3a ed. São Paulo: Roca; 2004. 576 p. Koda-Kimble MA, Young LY, Kradjan WA, et al., eds. Applied
Wohlt PD, Zheng L, Gunderson S, Balzar SA, Johnson BD, Fish JT. Therapeutics: TheClinical Use of Drugs. 8th ed. Philadelphia, PA:
Recommendations for the use of medications with continuous Lippincott Williams & WilkinApplied therapeutics: the clinical
enteral nutrition. Am J Health Syst Pharm. 2009;66(16):1458-67. use of drugs; 2005.
Weinstein S.M. Parenteral nutrition. In: Weinstein S.M. Plumer’s Micromedex® Inc. 2.0 [site]. Disponível em: < http://www.
principles & practice of intravenous therapy. 7th ed. Philadelphia, micromedex.com/ >. Acesso em: 15 de nov. de 2012.
PA : Lippincott Williams & Wilkins; 2001. p.1-64.
Grant JP. Nutrição parenteral. 2a ed. Rio de Janeiro: Revinter:
1996. 384p.
Btaiche IF, Khalidi N. Metabolic complication of parenteral
nutrition in adults, part 1. Am J Health-System Pharm.
2004;61:1938-49.
16
CUIDADOS DE ENFERMAGEM NA
NUTRIÇÃO PARENTERAL (NP)
Fabiana Pereira das Chagas
Karina Sichieri
Fernanda Rodrigues Biz Silva
Débora Regina Guedes
123
–– Composição, osmolaridade, via de acesso (central ou • Manter a infusão de NP durante procedimentos de
periférica); volume total e velocidade de infusão (na cirurgia, exames, transporte e outros. Suspendê-la
área materno infantil confirmar com a prescrição somente por ordem médica.
de dieta parenteral infantil individualizada). • Sempre que interromper o uso da NP em pacientes
adultos, por qualquer motivo, instalar solução de
• Não adicionar qualquer substância na bolsa de NP.
glicose a 10% na mesma velocidade de infusão por
• Manter a bolsa de NP envolta em capa para proteção
pelo menos 8 horas. Em pacientes pediátricos fica a
da luz.
critério médico.
• A NP é infundida em bomba de infusão (BI), de forma • Evitar desconexão e interrupções da infusão da NP, pois
contínua, em 24 horas. Alterações da velocidade de a abertura do sistema de infusão aumenta o risco de
infusão devem ser evitadas e o volume infundido, contaminação da solução e de colonização do cateter.
rigorosamente controlado. • Realizar o balanço hídrico durante tratamento com NP.
• Utilizar equipo de bomba de infusão sem filtro Nas enfermarias, documentar volume infundido a cada
de partículas. Para a administração em pacientes 6 horas em folha de controles da unidade.
pediátricos e neonatais, utilizar equipo fotossensível • Realizar glicemia capilar a cada 6 horas.
• Verificar a temperatura corporal no mínimo a cada
ou envolve-lo com capa para proteção da luz.
8 horas.
• O equipo de bomba de infusão deve ser trocado
• Observar a pele e mucosas para detectar sinais de
juntamente com a bolsa de NP a cada 24 horas.
desidratação ou hiper-hidratação.
• A a d m i n i s t r a ç ã o d e N P c o m m e d i c a m e nto s • Observar presença de sinais de hipo ou hiperglicemia.
não é recomendada. Em último caso, solicitar • Anotar apresentação de reações adversas e
ajuda ao farmacêutico para verificar possíveis intercorrências relacionadas à infusão e comunicar
incompatibilidades da NP com medicamentos. equipe médica e serviço de farmácia.
124 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA National Institute for Clinical Excellence. Nutrition support for
adults oral nutrition support, enteral tube feeding and parenteral
Conselho Federal de Enfermagem (BR). Resolução COFEN –
277/2003. Estabelece normas de procedimentos a serem utilizadas nutrition: methods, evidence and guidance; 2006.
pela equipe de Enfermagem na Terapia Nutricional. Reghim R, Zeitoun SS. Total parenteral nutrition - an integrative
Ferreira IKC. Terapia nutricional em unidade de terapia intensiva.
literature review. Online Brazilian Journal of Nursing.
Rev Bras Ter Intens. 2007;19(1):90-7.
Mirtallo J, Canada T, Johnson D, et al. Safe practices for parenteral 2012;11(3):865-77. Available from: <http://www.objnursing.uff.
nutrition. JPEN J Parenter Enter Nutr. 2004; 28(6):S38-70. br/index.php/nursing/article/view/3774>
17
INDICADORES DE
QUALIDADE
Lúcia Caruso
Os Indicadores de Qualidade (IQ) em Terapia Nutricional Terapia Nutricional, seja enteral ou parenteral, está sendo
(TN) constituem um método de avaliação da assistência conduzida (Waitzberg 2008, Waitzberg 2010).
nutricional num serviço de saúde (Waitzberg 2010). Esse Esses IQ têm sido aplicados na Unidade de Terapia
processo permite analisar a logística do serviço e verificar Intensiva (UTI) de adulto do HU-USP, sendo que vários
resultados já foram publicados (Cartolano et al. 2009,
a aplicação das condutas propostas pelas diretrizes em TN
Oliveira et al. 2010). A avaliação contínua permite a revisão
na prática clínica.
de processos e a adoção de estratégias, de forma a garantir
A Força Tarefa de Nutrição Clínica do International a melhoria da assistência prestada.
Life Sciences Institute – Brasil (ILSI), visando o controle A seguir são apresentadas algumas fichas técnicas
de qualidade em TN, publicou os indicadores que dos IQ que temos aplicado. Essas fichas resumem as
permitem avaliar na prática a qualidade com que a informações dos IQ.
Quadro 1: Indicador de frequência da medida ou estimativa do gasto energético e necessidades proteicas em pacientes em TN
127
Quadro 2: Indicador de frequência de doentes com tempo de jejum inadequado antes do início da TN (> 48 h)
Fonte de dados Prontuários dos pacientes, folha de controle diário do paciente, fichas de
acompanhamento nutricional e Dietários*
Frequência Anual
Fórmula ÁxÂ
x 100
CxD
A: N° de dias com aporte calórico entre 20 - 40 kcal/kg/dia
B: N° de pacientes que receberam aporte calórico entre 20 - 40 kcal/kg/dia
C: N° total de dias do período avaliado
D: N° total de pacientes que receberam TN no período avaliado
Fonte de dados Prontuários dos pacientes, folha de controle diário do paciente, fichas de
acompanhamento nutricional e Dietários**
Frequência Anual
128 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
Quadro 4: Indicador de frequência de jejum digestório > 24 h em pacientes em TN
Fonte de dados Prontuários dos pacientes, folha de controle diário do paciente, fichas de
acompanhamento nutricional e Dietários*.
Devem ser computados os pacientes que ficaram pelo menos uma vez em jejum por
mais de 24 h (mesmo que o paciente tenha ficado mais de uma vez em jejum > 24 h,
conta-se como 1 paciente)
Frequência Anual
Meta ≤ 10%
Fonte de dados Prontuários dos pacientes, folha de controle diário do paciente, fichas de
acompanhamento nutricional e Dietários*.
Frequência Anual
Objetivo Avaliar a frequência da recuperação da ingestão por via oral em pacientes com TN
Descrição Frequência de pacientes em TN que recuperaram a ingestão via oral até o momento da
alta hospitalar
Justificativa Conhecer a frequência da em pacientes em TN que voltaram a alimentar-se por via oral
Fonte de dados Prontuários dos pacientes, folha de controle diário do paciente, fichas de
acompanhamento nutricional e Dietários*.
Frequência Anual
Responsável pela tomada de decisão Fonoaudiólogo, nutricionista e médico responsável pela unidade
Frequência Anual
Meta 100%
Responsável pela tomada de decisão Nutricionista, fonoaudiólogo e médico responsável pela unidade
*Incluem-se entre os exames bioquímicos: Hemoglobina, Hematócrito, PCR, Uréia, Creatinina, AST, ALT, Bilirrubina total e direta, Na, K, Mg
130 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP
Quadro 8: Saída inadvertida de sonda enteral em pacientes em TNE
Fonte de dados Prontuários dos pacientes, folha de controle diário do paciente, fichas de
acompanhamento nutricional e Dietários*.
Frequência Anual
Responsável pela tomada de decisão Enfermeiro, nutricionista e médico responsável pela unidade.
Quadro 9: Indicador de frequência de pacientes com volume de nutrição enteral (NE) infundido maior que 70% do prescrito
Fonte de dados Prontuários dos pacientes, folhas de controle diário dos pacientes, fichas de
acompanhamento nutricional e Dietários*.
Considerar a média de cada paciente de % de volume administrado/volume para
meta de TNE que esteja > 70%
Frequência Anual
Meta > 80% para TNE e > 90% para TNP (meta internamente estabelecida)
132 Manual da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP