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Revista Trimestral de
Jurisprudência
COMISSÃO DE REGIMENTO
COMISSÃO DE JURISPRUDÊNCIA
COMISSÃO DE DOCUMENTAÇÃO
COMISSÃO DE COORDENAÇÃO
PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
PRIMEIRA TURMA
Pág.
ACÓRDÃOS ................................................................................................ 371
ÍNDICE ALFABÉTICO ................................................................................... I
ÍNDICE NUMÉRICO .............................................................................. XXIII
ACÓRDÃOS
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA QUESTÃO DE ORDEM
NA AÇÃO CAUTELAR 738 — SP
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Segunda Turma, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade de votos, não conhecer dos embargos de declaração,
nos termos do voto do Relator. Ausente, justificadamente, neste julgamento, a Ministra
Ellen Gracie.
Brasília, 17 de maio de 2005 — Celso de Mello, Presidente e Relator.
374 R.T.J. — 197
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Celso de Mello: Esta colenda Segunda Turma, ao apreciar
questão de ordem suscitada na Ação Cautelar n. 738/SP, referendou, integralmente,
por seus próprios fundamentos, a decisão do Relator que deferiu, em parte (fls. 522/
526), o pedido de medida cautelar formulado pela parte ora embargante.
Embora ainda não publicado o acórdão consubstanciador desse julgamento, os
ora recorrentes opuseram embargos de declaração a tal decisão colegiada (fls. 576/
582).
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Celso de Mello (Relator): Não conheço dos presentes embargos de
declaração, eis que deduzidos extemporaneamente.
É que — tal como acentuado no Relatório — o acórdão consubstanciador do
julgamento em causa sequer foi objeto de formal publicação.
Isso significa, portanto, que o recurso em questão foi interposto prematuramen-
te, pois deduzido sem que ainda existisse, formalmente, o acórdão que a parte recorren-
te deseja impugnar.
Cabe assinalar, por necessário, que a intempestividade dos recursos tanto pode
derivar de impugnações prematuras (que se antecipam à publicação dos acórdãos),
como sucede no caso, quanto resultar de oposições tardias (que se registram após o
decurso dos prazos recursais).
Em qualquer das duas situações — impugnação prematura ou oposição tardia —, a
conseqüência de ordem processual é uma só: o não-conhecimento do recurso, por
efeito de sua extemporânea interposição.
No caso, como precedentemente referido, os embargos declaratórios foram dedu-
zidos antes da publicação formal do acórdão consubstanciador do julgamento da
questão de ordem que referendou a decisão que havia deferido, em parte, o pedido
formulado pelos ora embargantes.
Impende acentuar, neste ponto, que o prazo para interposição de recurso contra
decisões colegiadas só começa a fluir da publicação da súmula do acórdão no órgão
oficial (CPC, art. 506, III). Na pendência dessa publicação, qualquer recurso eventual-
mente interposto considerar-se-á intempestivo, além de destituído de objeto.
Daí a orientação que tem prevalecido no âmbito desta Suprema Corte, cujas
sucessivas decisões, no tema, proclamam que “o prazo para recorrer só começa a
fluir com a publicação da decisão no órgão oficial, sendo prematuro o recurso que a
antecede” (AI 437.126-AgR/RS, Rel. Min. Carlos Britto — grifei).
Com efeito, a simples notícia do julgamento, além de não dar início à fluência
do prazo recursal, também não legitima a interposição de recurso, por absoluta falta
de objeto, conforme tem advertido o magistério jurisprudencial firmado pelo Supremo
R.T.J. — 197 375
Tribunal Federal (RTJ 187/498, Rel. Min. Celso de Mello — AI 152.091-AgR/SP, Rel.
Min. Moreira Alves — AI 286.562/DF, Rel. Min. Maurício Corrêa — AI 406.483-
AgR/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes — HC 81.675-ED/SP, Rel. Min. Sydney Sanches —
RE 194.090-ED/RS, Rel. Min. Ilmar Galvão — RE 232.115-ED-AgR/CE, Rel. Min.
Ilmar Galvão — RE 320.440-AgR/RJ, Rel. Min. Ellen Gracie, v.g.):
“O termo inicial do prazo para recorrer extraordinariamente pressupõe que
o acórdão tenha sido lavrado, assinado e publicadas as suas conclusões, não
bastando a simples publicação da notícia do julgamento, ainda que em minuciosa
súmula do decidido.”
(RTJ 88/1012, Rel. Min. Cordeiro Guerra — grifei)
“Ação direta de inconstitucionalidade — Medida cautelar deferida —
Acórdão não publicado — Embargos de declaração (...).
A interposição de recurso que se antecipe à própria publicação formal do
acórdão revela-se comportamento processual extemporâneo e destituído de
objeto. O prazo para interposição de recurso contra decisão colegiada só começa
a fluir, ordinariamente, da publicação da súmula do acórdão no órgão oficial.
Por isso mesmo, os pressupostos de cabimento dos embargos de declaração —
obscuridade (...), contradição ou omissão — hão de ser aferidos em face do inteiro
teor do acórdão a que se referem. A simples notícia do julgamento efetivado não
dá início ao prazo recursal.”
(RTJ 143/718-719, Rel. Min. Celso de Mello)
“Embargos de declaração. Oposição contra acórdão que não conheceu
de idêntico recurso, porquanto interposto antes de publicado o acórdão que se
pretendia impugnar.
O acórdão embargado não conheceu dos embargos de declaração, por
haverem se antecipado à publicação da decisão impugnada.”
(RE 204.378-ED-ED/RS, Rel. Min. Ilmar Galvão — grifei)
“O prazo para interposição de recurso conta-se a partir da publicação do
acórdão. Não serve como termo inicial a mera notícia do julgamento.”
(Pet 1.320-AgR-AgR/DF, Rel. Min. Nelson Jobim — grifei)
Os fundamentos que dão suporte a essa orientação jurisprudencial põem em
evidência a circunstância de que a publicação do acórdão gera efeitos processuais
específicos, pois, além de formalizar a integração dessa peça essencial ao processo,
confere-lhe existência jurídica e fixa-lhe o próprio conteúdo material. É mediante a
efetiva ocorrência dessa publicação formal que se viabiliza, processualmente, a
intimação das partes, inclusive para efeito de interposição, opportuno tempore, dos
recursos pertinentes.
Daí a advertência feita por Moacyr Amaral Santos (“Primeiras Linhas de
Direito Processual Civil”, vol. 3/26, 21ª ed., 2003, Saraiva), cuja lição, na matéria ora
em exame, ressalta que “É da publicação que se conta o prazo para interposição do
recurso” (grifei).
376 R.T.J. — 197
EXTRATO DA ATA
AC 738-QO-ED/SP — Relator: Ministro Celso de Mello. Embargantes: Primo
Schincariol Indústria de Cervejas e Refrigerantes S.A. e outro (Advogados: Waldir Luiz
Braga e outro e Celso Renato D’Avila e outros). Embargada: União (Advogada: PFN –
Lígia Scaff Vianna).
Decisão: A Turma, por votação unânime, não conheceu dos embargos de declara-
ção, nos termos do voto do Relator. Ausente, justificadamente, neste julgamento, a
Ministra Ellen Gracie.
Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Carlos
Velloso, Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Ausente, justificadamente, a Ministra
Ellen Gracie. Subprocurador-Geral da República, Dr. Francisco Adalberto da Nóbrega.
Brasília, 17 de maio de 2005 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.
caput, da Lei n. 6.815/80. Não pode ser deferido pedido de extradição com
base em imputação de delito, cuja apuração, em inquérito, encontra-se em
fase inicial de investigações e, portanto, ainda carente de indicações
precisas sobre o fato supostamente criminoso.
2. Extradição. Passiva. Delitos de burla qualificada e falsificação
de documento. Arts. 217º, n. 1, 218º, n. 2, a, e 256º, n. 1 e 3, do Código Penal
português, e 171 e 298 do Código Penal brasileiro. Contrafação de che-
ques depositados pelo acusado em sua conta corrente, e cujos valores
foram sacados por ele em dinheiro após o creditamento. Falsum cuja
potencialidade lesiva se exaure na fraude elementar da burla qualificada,
ou estelionato. Absorção daquele por este. Aplicação do princípio da
consunção. Inexistência de concurso formal. Pedido deferido apenas
quanto ao crime de burla qualificada. Se a potencialidade lesiva da
falsificação de cheques se exaure na fraude que figura o elemento
constitutivo do delito de burla qualificada, ou estelionato, consistente na
obtenção de vantagem indevida com o levantamento dos valores dos
títulos depositados na conta do acusado, o primeiro crime é absorvido
pelo segundo.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, sob a Presidência do Ministro Nelson Jobim, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade, conce-
der, em parte, o pedido de extradição, autorizando-a, tão-somente, com relação ao
crime de burla qualificada, nos termos do voto do Relator. Ausentes, justificadamente,
os Ministros Carlos Velloso, Ellen Gracie e Carlos Britto. Falou pelo extraditando o
Dr. Paulo Guanabara Leal de Araújo.
Brasília, 28 de setembro de 2005 — Cezar Peluso, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Trata-se de pedido de extradição do cidadão portu-
guês Mário Sérgio Taborda Barata, deduzido pelo Governo de Portugal, com aquies-
cência aos compromissos formais previstos no art. 91 da Lei n. 6.815/80.
O parecer do Exmo. Sr. Procurador-Geral da República assim expõe o presente
caso:
“1. A República Portuguesa formaliza pedido de extradição do português
Mário Sérgio Taborda Barata, contra quem foi expedido mandado de captura
com eficácia internacional pela MM. Juíza de Instrução Criminal do Tribunal
Central, Dra. Airisa Caldinho — fls. 6/7, pelo cometimento dos crimes de ‘burla
qualificada, p.p. nos arts. 217º 1 e 218º/2ª) do CP com pena de dois a oito anos,
falsificação, p.p. no art. 256º/1ª) e 3 do CP com pena de seis meses a cinco anos
de prisão ou multa de sessenta a seiscentos dias, e associação criminosa, p.p. no
378 R.T.J. — 197
VOTO
O Sr. Ministro Cezar Peluso (Relator): 1. O pedido de extradição é oriundo de
mandado de detenção internacional extraído do Processo de Inquérito n. 378/03.4
JFLSB, que corre pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal.
Conforme a motivação constante do referido mandado:
“- Evidenciam os autos indícios da prática pelo arguido Mário Sérgio
Taborda Barata de crime de burla qualificada, p.p. nos arts. 217º/1 e 218º/2ª) do
CP com pena de dois a oito anos, falsificação, p.p. no art. 256º/1º) e 3 do CP com
pena de seis meses a cinco anos de prisão ou multa de sessenta a seiscentos dias,
e associação criminosa, p.p. no art. 299º/1 e 2 do CP com pena de um a cinco anos,
consubstanciados no facto de, no âmbito de um grupo organizado de âmbito
internacional, se haver apoderado de cheques emitidos a empresas italianas, e às
mesmas remetidos por correio, sem que estas os chegassem a receber. Com os
nomes dos respectivos beneficiários alterados e/ou endossos falsificados viriam
tais cheques a ser depositados na conta bancária do arguido na CGD, ou apresen-
tados pelo próprio a pagamento numa agência do BPN, em Lisboa. O montante
global dos cheques contrafeitos ultrapassa os 80 mil euros, sendo que o arguido
ainda conseguiu levantar cerca de 10.800 euros antes da intervenção do banco ao
suspeitar da fraude.
- A força dos indícios advém da análise da prova documental e por declara-
ções reunida (sic) já na investigação, sendo que o próprio arguido já tem conheci-
mento da pendência do inquérito uma vez que já foi interrogado pela autoridade
policial. Nem por isso deixou de se ausentar para parte incerta, suspeitando-se que
presentemente se encontrará no estrangeiro, juntamente com sua família, o que
inviabilizou a execução dos mandados de detenção anteriormente emitidos nos
autos na sequência do despacho de fls. 173.
- Em cumprimento do despacho judicial de 06/05/2003, foram emitidos,
contra o arguido, mandados de detenção para apresentação ao Juiz e subsequente
aplicação de medida de coacção, configurando-se séria possibilidade de lhe ser
aplicada a medida de prisão preventiva.
- A necessidade de proceder à extradição activa da pessoa a deter ao abrigo
do disposto nos arts. 69º e seguintes da Lei n. 144/99 de 31 de agosto” (fls. 06/07).
2. O documento não atende, em parte, aos requisitos previstos no art. 80, caput, da
Lei n. 6.815/80, que exige “indicações precisas” sobre o local, data, natureza e
circunstâncias do fato criminoso. Resta examinar, pois, se tais indicações estariam
alhures.
No pedido de detenção, elaborado pela Polícia Judiciária (fls. 72/79), lê-se:
“Trata-se aqui da contrafacção, já identificada, de cinco cheques, num
montante global de 84.510 Euros, de Instituições de Crédito nacionais e estran-
geiras, os quais foram integralmente depositados na conta bancária do argüido.
De facto, o arguido Sérgio Barata surge, nos presentes autos, como o único
titular da conta bancária através da qual se consumou a fraude bancária, com
recurso à contrafação dos títulos de crédito.
380 R.T.J. — 197
Na Ext n. 654 (Rel. Min. Néri da Silveira), o Plenário, por maioria, entendeu
que as acusações de um incêndio de primeiro grau e de quatro homicídios de primeiro
grau deveriam ser reduzidas a um só crime, o do art. 250, caput, cc. art. 258 do CP
brasileiro.
Posto não seja incontroverso o tratamento do tema da absorção do falsum pelo
estelionato na Corte, não há negar, neste caso, a imperiosidade da aplicação do
princípio da consunção, com base no saudoso Francisco de Assis Toledo:
“O mesmo ocorre com certas modalidades de falsum e estelionato, quando
aquele se exaure na fraude, que constitui elemento essencial deste último. Isso
acontece, por exemplo, na falsificação de um documento que, usado como fraude
para obtenção de lucro patrimonial indevido, se esgota em sua potencialidade
lesiva, permanecendo sem qualquer outra finalidade ou possibilidade de uso (ex.:
alguém falsifica a assinatura do correntista em um cheque e obtém, no banco
sacado, o pagamento indevido). Como o cheque esgotou-se na consumação do
estelionato, não podendo mais ser utilizado para outros fins, o crime-fim de
estelionato absorve o falsum” (Princípios básicos de direito penal. 5ª ed., 10ª tir.
São Paulo: Saraiva, 2002, p. 53).
Retomo, aqui, a descrição dos fatos dada pela Polícia Judiciária portuguesa:
“Efectivamente, os cinco cheques contrafeitos e constantes dos autos foram
depositados, na sua totalidade, naquela conta, sendo que, o arguido, após
creditação, procedeu desde logo a levantamentos, em cash, no montante de
10.800 Euros - vd. fls. 62 a 65 e 84 a 89.” (Fls. 72/73).
Não há dúvida, portanto, de que a potencialidade lesiva dos cheques falsificados
pelo extraditando se esgotou ao serem depositados na conta do ora extraditando, sem
nenhuma possibilidade de voltarem a ser usados para quaisquer outros fins.
A tese do concurso formal de crimes somente poderia ser acolhida se não se
caracterizasse a exaustão da potencialidade lesiva dos instrumentos falsificados. Va-
lho-me, uma vez mais, daquele ilustre penalista:
“Assim, porém, não ocorre na falsificação de certos documentos que,
utilizados na prática do estelionato, continuam com a potencialidade lesiva
para o cometimento de ouros delitos da mesma ou de variada espécie. Nesta
hipótese verifica-se o concurso formal de crimes (falso e estelionato), como
ocorre, por exemplo, com a falsificação de um instrumento de mandato para a
emissão de cheque do pretenso mandante e seu recebimento no Banco sacado.
Consumado o estelionato, a procuração, se contiver poderes para outros
saques ou para outros fins, não se exaure na fraude daquele delito” (op. e loc.
cits.).
Por tais razões, indefiro o pedido de extradição, no que diz respeito ao crime de
falsificação, previsto no art. 256º, n. 1 e 3, do Código Penal português.
4. Resta por analisar o pedido no que tange à burla qualificada, objeto dos arts.
217, n. 1, e 218, n. 2, alínea a, do Código Penal português:
R.T.J. — 197 383
EXTRATO DA ATA
Ext 931/República Portuguesa — Relator: Ministro Cezar Peluso. Requerente:
Governo de Portugal. Extraditando: Mário Sérgio Taborda Barata (Advogados: Renato
Guanabara Leal de Araújo e Paulo Guanabara Leal de Araújo).
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, concedeu, em parte, o pedido de extradi-
ção, autorizando-a, tão-somente, com relação ao crime de burla qualificada, nos termos
do voto do Relator. Ausentes, justificadamente, os Ministros Carlos Velloso, Ellen
Gracie e Carlos Britto. Falou pelo extraditando o Dr. Paulo Guanabara Leal de Araújo.
Presidiu o julgamento o Ministro Nelson Jobim.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Celso de Mello, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Joaquim
Barbosa e Eros Grau. Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando Barros e
Silva de Souza.
Brasília, 28 de setembro de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
384 R.T.J. — 197
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, por seu Tribunal Pleno, sob a Presidência do Ministro Nelson Jobim,
na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de
votos, deferir o pedido de extradição, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 19 de dezembro de 2005 — Carlos Ayres Britto, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto: O Governo dos Estados Unidos da América
pediu a extradição do nacional norte-americano William Henry Howard Ogle ou
Pierre Jacques Delannoy, processado por crimes de tráfico de drogas. Para tanto,
encaminhou os documentos formalizadores e de justificação do pedido (fls. 4/160).
2. Pois bem, segundo a Nota Verbal, o extraditando “trabalhou como piloto das
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Fuerzas Armadas Revolucionarias de
Colômbia) (‘FARC’), pilotando pequenas aeronaves, carregadas de cocaína da Colôm-
bia para outros países da América do Sul, incluindo o Brasil, e para a América Central,
sendo que parte da cocaína era destinada aos Estados Unidos.
R.T.J. — 197 385
3. Deu-se que, em 24 de setembro de 2003, Willian Henry Howard Ogle foi preso
pela polícia brasileira após haver sido pego fazendo transporte aéreo de uma carga de
200 quilos de cocaína, proveniente da Colômbia para Itú, no Brasil. De acordo com um
informante do DEA, Willian Henry Howard Ogle trabalhou para as Farc durante muitos
anos, tempo em que transportava cocaína de propriedade das Farc da Colômbia para o
México e outros países da América Central e América do Sul, parte da qual era
destinada aos Estados Unidos.
4. Os documentos encaminhados pelo governo requerente dão conta de que foi
expedido mandado de prisão contra o extraditando, tendo por base o Indictment
(pronúncia) n. 04-212, proferido pela Corte Distrital dos Estados Unidos para o Distrito
de Columbia, no dia 29 de abril de 2004, nos seguintes termos (fls. 70/71):
“A partir de 2001, ou em alguma ocasião nesse ano, a data exata sendo
desconhecida pelo Grande Júri, e continuando depois disso até a data do registro
desta pronúncia, inclusive na República da Colômbia e em outros lugares, os réus
(...), William Henry Howard Ogle t.c.c. ‘Pierre Jacques Dellanoy’ e (...), de forma
propositada e intencional combinaram, conspiraram, confederaram e concorda-
ram com outros conhecidos e desconhecidos pelo Grande Júri, incluindo os co-
conspiradores não indiciados na presente, para cometer os seguintes delitos
contra os Estados Unidos: propositadamente e intencionalmente fabricar e distri-
buir cinco quilogramas ou mais de uma mistura e substância que continha uma
quantidade detectável de cocaína, uma substância controlada da Lista II, com a
intenção e o propósito de que tal substância fosse ser importada ilegalmente para
os Estados Unidos, em violação ao Título 21 do Código dos Estados Unidos,
Seções 959 e 960".
5. Ante esse panorama, e tendo por fundamento o art. 81 da Lei n. 6.815/80, c/c o
art. VIII do Tratado de Extradição firmado entre o Brasil e os Estados Unidos da
América (Decreto n. 55.750/65), decretei a prisão do extraditando.
6. Avanço neste relato para anotar que, por meio do Aviso n. 4.249, o Exmo. Sr.
Ministro da Justiça informou quanto à notificação do extraditando sobre o mandado de
prisão preventiva para fins de extradição, como informou ainda, S. Excelência, que o
estrangeiro já se encontrava preso em razão de processo-crime a que também responde
perante a Justiça brasileira.
7. Na seqüência do processo, deu-se o interrogatório do extraditando, que, apesar
de intimado, deixou de constituir advogado. Razão por que lhe foi nomeada defensora
ad hoc, substituída, em seqüência, por agente dos quadros da Defensoria Pública da
União. Defensoria que de logo sustentou que o artigo 1º do Decreto 55.750/65 só prevê
o instituto da entrega recíproca para os indivíduos que “tenham sido processados ou
condenados” por qualquer dos crimes ou delitos especificados no artigo II do Tratado
de Extradição. Daí aduzir que tanto a pronúncia quanto o mandado de prisão preven-
tiva são requisitos formalizadores do pedido de extradição, mas não extinguem o
processo. Mais: argumenta que “o indictment, ou melhor, a pronúncia somente possui
o condão de dar início à ação penal”, de sorte a concluir pela impossibilidade do
deferimento da extradição, já que o tratado exige que o extraditando já esteja em
situação de processado ou condenado.
386 R.T.J. — 197
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto (Relator): Feito o relatório, passo ao voto.
Fazendo-o, começo por dizer que a instrução do processo me parece atender às exigên-
cias do artigo IX do Tratado Bilateral de Extradição Brasil/Estados Unidos, bem como
as do art. 80 da Lei n. 6.815/80. Também tenho como preenchido o requisito da dupla
tipicidade, uma vez que o extraditando é acusado de “conspiração” para fabricar e
distribuir cinco quilos ou mais de cocaína, com o propósito de que a droga fosse
introduzida ilegalmente nos Estados Unidos. Isso em ofensa à legislação penal daquele
País (USC, Título 21, Seções 963, 959, 960 (a) (3) e 960 (b) (1) (B) (ii) e Título 18,
Seções 2 e 3.551 e seguintes (fls. 61/68))1. Delitos que correspondem, no Brasil, aos
crimes descritos nos arts. 12, 13 e 14 da Lei n. 6.368/76, inclusive com a incidência do
art. 18 da mesma lei, que prevê o aumento de pena para o “caso de tráfico com o
exterior ou de extraterritorialidade da lei penal”.
12. Nesse rumo de idéias, acrescento que o Tratado de Extradição prevê como
extraditáveis os autores dos “crimes ou delitos contra as leis relativas ao tráfico, uso,
ou produção ou manufatura de narcóticos ou ‘canabis';” (item 27 do art. II).
13. De outra banda, tanto pela legislação brasileira como pela lei estadunidense,
há que se considerar a pretensão punitiva quanto aos crimes imputados ao extraditan-
do, ocorridos entre os anos de 2001 e 2003. E, segundo a legislação do Estado
requerente, só não são puníveis os crimes cuja pronúncia (indictment) ocorrer após
cinco anos da respectiva conduta (Título 18, seção 3.282, do Código dos Estados
Unidos — fl. 66). Já pelo Ordenamento Jurídico brasileiro, a prescrição se dá em 20
anos (inciso I do art. 109), o que significa a legítima persistência da pretensão punitiva
do Estado, dado que houve prática de crimes até o ano de 2003.
1 “Título 21, do código dos Estados Unidos, Seção 959 — Posse, fabricação ou distribuição de
substâncias controladas
(a) Fabricação ou distribuição com a finalidade de importação ilegal
Será ilegal para qualquer pessoa a fabricação ou distribuição de uma substância controlada da Lista
I ou II (...)
(1) com intuito de que tal substância ou substância química seja ilegalmente importada para os
Estados Unidos ou para águas a uma distância de 12 metros da costa dos Estados Unidos
(2) com o propósito de que tal substância ou substância química seja ilegalmente importada para os
Estados Unidos ou para águas a uma distância de 12 metros da costa dos Estados Unidos”
R.T.J. — 197 387
“Título 21, do Código dos Estados Unidos, Seção 963 — Tentativa de conspiração
Qualquer pessoa que tentar ou conspirar para cometer qualquer delito definido neste capítulo estará
sujeita às mesmas penalidades previstas para o delito cujo cometimento foi objeto da tentativa ou
conspiração”
“Título 18, do Código dos Estados unidos, Seção 2 — Principais
(a) Aquele que cometer um delito contra os Estados Unidos ou ajudar, participar, aconselhar,
comandar, induzir ou encomendar o seu cometimento é punível como principal”
388 R.T.J. — 197
EXTRATO DA ATA
RECLAMAÇÃO 1.013 — RJ
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, sob a Presidência do Ministro Carlos Velloso, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por maioria de votos,
julgar procedente a reclamação, vencido o Relator.
Brasília, 7 de junho de 2000 — Nelson Jobim, Relator para o acórdão.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Ao proceder ao exame do pedido de concessão de
medida acauteladora e indeferi-la, assim retratei a espécie:
O Instituto Nacional do Seguro Social evoca o que decidido, no campo
precário e efêmero da liminar, na Ação Declaratória n. 4-6, para sustentar o
cabimento desta reclamação. O pano de fundo é único e diz com o deferimento,
pelo Juízo da 2ª Vara da Comarca de Três Rios, da tutela antecipada, restabelecen-
do, assim, o pagamento de benefício previdenciário. O Reclamante assevera que
tal providência judicial conflita com o preceito do artigo 1º da Lei n. 9.494, de 10
de setembro de 1997, cuja constitucionalidade foi proclamada, liminarmente, na
citada declaratória, e pleiteia, destarte, seja concedida liminar para suspender a
eficácia do ato judicial referido, ou seja, afastar-se do cenário jurídico a tutela.
O Ministro Carlos Velloso, no exercício da Presidência, despachou à folha
30, determinando a requisição de informações, diante das quais seria apreciado o
pedido de suspensão liminar da tutela.
390 R.T.J. — 197
VOTO
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Ao indeferir a liminar, assim me expressei:
Em primeiro lugar, ressalte-se a pertinência do agravo contra decisões
prolatadas em antecipação de tutela. O recurso é cabível para o tribunal a que
esteja vinculado o autor do citado ato judicial, podendo este deferir o efeito
suspensivo. Em um segundo passo, vale registrar que esta Corte, julgando a
Questão de Ordem na Declaratória n. 1, assentou, fiel ao texto do § 2º do artigo
102 da Constituição Federal, que o efeito vinculante, relativamente aos provi-
mentos nas ações declaratórias de constitucionalidade de lei ou ato normativo
federal, está jungido às decisões definitivas de mérito, com as quais não se
confunde mera providência acauteladora. Acresce, ainda, que, como bem salien-
tado pelo Juízo, o artigo 1º da Lei n. 9.494/97 não alberga controvérsia sobre
benefício previdenciário. Aliás, a premência que cerca tal espécie de pleito
direciona a considerar-se a adequação da tutela (folhas 47 e 48).
A par dos aspectos supra, consentâneos com o ordenamento jurídico constitucio-
nal, tem-se que o próprio Instituto, antes de ingressar com esta medida reclamatória,
interpôs agravo de instrumento perante o Tribunal Regional Federal da 2ª Região,
atacando, na via própria, a tutela deferida. Entrementes, veio a utilizar nova via,
escolhendo o Órgão para exercer crivo, ou seja, o Supremo Tribunal Federal. O
agravo foi interposto em 17 de dezembro de 1998, sendo que esta reclamação foi
formalizada em fevereiro de 1999 — folha 68. Vê-se o paradoxo a que levou a
R.T.J. — 197 391
VOTO
O Sr. Ministro Nelson Jobim: Sr. Presidente, o STF, na ADC 4/DF, por votação
majoritária,
“(...)
(...) deferiu, em parte, o pedido de medida cautelar, para suspender, com
eficácia ex nunc e com efeito vinculante, até final julgamento da ação, a prolação
de qualquer decisão sobre pedido de tutela antecipada, contra a Fazenda Pública,
que tenha por pressuposto a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade do
art. 1º da Lei n. 9.494, de 10-9-97, sustando, ainda, com a mesma eficácia, os
efeitos futuros dessas decisões antecipatórias de tutela já proferidas contra a
Fazenda Pública (...)
(...)”
Em face dessa decisão, está vedada a concessão de tutela antecipada contra a
Fazenda Pública — CPC, arts. 273 e 461.
No Supremo, a Reclamação é o remédio
“(...)
(...) para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas
decisões.
(...)” (CF, art. 102, I, l).
392 R.T.J. — 197
EXTRATO DA ATA
Rcl 1.013/RJ — Relator: Ministro Marco Aurélio. Relator para o acórdão:
Ministro Nelson Jobim. Reclamante: Instituto Nacional do Seguro Social – INSS
(Advogado: Ayres Antonio Pereira Carollo). Reclamado: Juiz de Direito da 2ª Vara
da Comarca de Três Rios.
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, negou provimento ao agravo. Votou o
Presidente. Ausentes, justificadamente, os Ministros Néri da Silveira, Sydney Sanches,
Ilmar Galvão e, neste julgamento, o Ministro Moreira Alves. Plenário, 1º-6-2000.
Retificação de decisão: O Tribunal, por unanimidade, decidiu retificar a procla-
mação da decisão proferida na Rcl n. 1.013-9/RJ, constante da Ata da Décima Quinta
Sessão Extraordinária, realizada em 1º de junho de 2000, que passa a ser a seguinte: “O
Tribunal, por maioria, vencido o Ministro Marco Aurélio (Relator), julgou procedente
a reclamação. Votou o Presidente”. Redigirá o acórdão o Ministro Nelson Jobim.
Ausentes, justificadamente, os Ministros Sepúlveda Pertence e Ilmar Galvão.
Presidência do Ministro Carlos Velloso. Presentes à sessão os Ministros Moreira
Alves, Néri da Silveira, Sydney Sanches, Octavio Gallotti, Celso de Mello, Marco
Aurélio, Maurício Corrêa e Nelson Jobim. Procurador-Geral da República, Dr. Geraldo
Brindeiro.
Brasília, 7 de junho de 2000 — Luiz Tomimatsu, Coordenador.
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Tem este teor a decisão agravada, ora sob
exame:
“(...)
Em caso semelhante, AO 657/DF, escrevi:
‘(...)
A questão aqui debatida foi solucionada, em termos definitivos, pelo
Supremo Tribunal Federal, no julgamento das ADIs 2.098/AL e 2.107,
ambas relatadas pelo Ministro Ilmar Galvão (DJ de 14-12-2001). No seu
voto, registrou o Ministro Ilmar Galvão, com o apoio dos seus pares:
‘(...)
O Supremo Tribunal Federal, na 1ª Sessão Administrativa de
1993, realizada em 10 de fevereiro, assentou o entendimento de que ‘a
natureza jurídica da parcela autônoma correspondente à diferença
decorrente da Lei n. 8.448/92 (art. 1º, parágrafo único) (parcela autôno-
ma de equivalência) é a de vencimento, que, somado ao vencimento
básico e à representação, compõe os vencimentos dos Ministros do STF,
para todos os efeitos legais, exceto para cálculo da representação, que
leva em conta apenas o vencimento básico’, sendo a remuneração da
magistratura como um todo calculada tendo em vista essa posição.
Não poderia ser diferente, considerado que, com a fixação de
uma cifra para a remuneração de Deputados e Senadores, por meio do
Decreto Legislativo n. 7 (DO de 23-1-95), os vencimentos de Ministro
do Supremo Tribunal Federal foram-lhe equiparados, por força do
mencionado dispositivo legal, com reflexo para os demais magistra-
dos dos diversos graus, estando compreendidas no respectivo
quantum, por óbvio, todas as parcelas compreendidas no conceito de
vencimentos, notadamente a gratificação de representação, permane-
cendo excluído de seu âmbito, por isso, apenas o adicional por tempo
de serviço, que constitui vantagem de natureza pessoal.
(...)’. (DJ de 27-8-2002)
Assim posta a questão, nego seguimento ao pedido e determino o seu
arquivamento.’
No mesmo sentido foram as decisões proferidas na Ações Originárias 757/SC,
773/MG, 946/RS, 989/SP, DJ de 9-6-2003, 30-4-2003, 29-10-2003 e 1º-8-2003,
por mim relatadas.
Do exposto, reportando-me aos precedentes, nego seguimento ao pedido e
determino o seu arquivamento, condenada a vencida no pagamento da verba
honorária de R$ 500,00 (quinhentos reais), corrigida monetariamente.
(...)” (Fls. 213-216).
R.T.J. — 197 395
EXTRATO DA ATA
AO 1.056-AgR/MS — Relator: Ministro Carlos Velloso. Agravante: AMATRA
XXIV – Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 24ª Região (Advo-
gados: Alberto Pavie Ribeiro e outro). Agravada: União (Advogado: Advogado-Geral
da União).
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental,
nos termos do voto do Relator. Ausentes, justificadamente, os Ministros Sepúlveda
Pertence, Celso de Mello, Gilmar Mendes e, neste julgamento, o Ministro Carlos Britto.
Presidiu o julgamento o Ministro Nelson Jobim.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Carlos
Velloso, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Cezar Peluso, Carlos Britto, Joaquim Barbosa
e Eros Grau. Vice-Procurador-Geral da República, Dr. Roberto Monteiro Gurgel
Santos.
Brasília, 24 de novembro de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
396 R.T.J. — 197
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Trata-se de agravo regimental interposto contra
decisão de fls. 89/93, do seguinte teor:
“Decisão: 1. Trata-se de ação originária (mandado de segurança), com
pedido de liminar, movida por Suzana de Camargo Gomes e André Nabarrete
Neto, contra ato do Tribunal Regional Federal da 3ª Região que, em sessão
administrativa, procedeu à eleição do novo Corpo Diretivo da Casa, para o biênio
2005/2007.
Alegam os impetrantes que, ao eleger a Desembargadora Federal Diva
Malerbi para a presidência daquele Tribunal Federal, teria sido ofendido o art.
102, caput, da Loman, por ter ela exercido cargos de direção por quatro anos
ininterruptos (Corregedora-Geral, no biênio 2001/2003, e Vice-Presidente, no
biênio 2003/2003).
E, quanto à eleição da Desembargadora Marli Ferreira para o cargo de
Corregedora-Geral, argúem inobservância do requisito da antiguidade, pois teria
antigüidade inferior à dos impetrantes.
Daí aduzem violação ao direito líquido e certo de serem elevados a cargo de
direção.
Requerem concessão de liminar, para sustar as posses das Exmas.
Desembagadoras Federais Diva Malerbi e Marli Ferreira, designando-se, para
responderem provisoriamente pelas atribuições da Presidência e da Corregedoria-
Geral, os dois Desembargadores Federais de maior antigüidade, excetuando-se os
ora impetrantes e os eleitos.
No mérito, pedem a concessão da segurança, para o fim de se anular a
eleição, determinando-se que outra se realize com observância do art. 102 da
Loman.
No que respeita à competência deste Tribunal, invocam o art. 102, I, n, da
CF, afirmando desnecessária a oitiva dos magistrados para declararem, expressa-
mente, seu interesse na causa, pois, ao votar, teriam viabilizado a prática ora
atacada.
2. Incompetente esta Corte.
A norma do art. 102, I, n, da Constituição Federal é de alcance estrito, não
incidindo quando se não configure interesse de todos ou de mais da metade dos
membros da magistratura, ou não haja efetiva declaração de impedimento por
parte deles (cf. AO n. 520, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ de 14-5-1999; AO n. 465,
Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 25-4-1997).
Não é consistente a alegação de que todos os membros do Tribunal tido por
coator estariam impedidos em razão do interesse revelado na só participação na
sessão administrativa em que se realizaram as eleições impugnadas, porque tal
participação em si não faz presumir suspeição nem impedimento que fosse capaz
de atrair o feito à órbita de competência desta Corte.
398 R.T.J. — 197
VOTO
O Sr. Ministro Cezar Peluso (Relator): 1. A decisão agravada invocou e resumiu os
fundamentos do entendimento invariável da Corte, cujo teor subsiste intacto aos
argumentos do recurso, os quais, a rigor, pouco ou nada acrescentaram à compreensão
e ao desate da quaestio iuris nevrálgica da espécie.
Não se caracteriza aqui nenhuma situação em que seriam interessados, diretos ou
indiretos, na solução da causa, todos os membros da magistratura. Argúem os ora
agravantes injúria a direito subjetivo próprio, em decorrência de suposta nulidade de
eleição para os cargos de Presidente e Corregedor-Geral de Tribunal Regional Federal,
donde ser óbvio que interesse jurídico, direto ou indireto, na causa, esse adscreve-se
aos impetrantes e aos litisconsortes passivos cuja eleição seria nula, e apenas a estes. De
modo algum pode dizer-se que também o teriam os demais membros do tribunal e,
muito menos, todos os integrantes da magistratura, cujas esferas jurídicas não sofrem
400 R.T.J. — 197
com a resposta que, no mérito, se dê ao pedido, qualquer que ela seja. Em caso análogo,
se não idêntico do ponto de vista jurídico, já proclamou esta Corte, em ementa
exemplar:
“(...)
4. No mandado de segurança em que juiz de determinado Tribunal pleiteia
ser declarado eleito para um dos cargos de sua direção, em detrimento do
litisconsorte — cuja eleição para o mesmo posto pretende nula —, o interesse
direto na causa a ambos se adstringe.
5. Com relação aos demais membros do Tribunal, o fato de haverem partici-
pado com seus votos da formação dos atos administrativos questionados não lhes
acarreta, por si só, nem interesse direto ou indireto na solução do mandado de
segurança, nem impedimento para julgá-lo” (AO n. 813-AgR, Pleno, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, DJ de 31-8-2001).
Nem é lícito dizer que seriam litisconsortes passivos os demais membros daquela
corte que votaram, porque de nenhum modo são destinatários dos efeitos jurídicos de
eventual sentença de procedência, os quais gravariam apenas o ato administrativo do
tribunal, não a condição jurídico-pessoal de seus integrantes. A identificação das
partes ordinariamente legitimadas ad causam opera-se — já ninguém o contesta — por
via de hipótese, discernindo-se quais as pessoas que, em caso de procedência ou
improcedência, suportariam os efeitos jurídicos da sentença como ato final (cf. Elio
Fazzalari, Istituzioni di Diritto Processuale, Padova, Cedam, 1975, pp. 28-33). De
modo que os demais membros do Tribunal, metê-los todos a fórceps na qualidade
processual de litisconsortes passivos é expediente artificioso e frágil para tentar criar-
lhes suspeição ou impedimento que a priori não existe.
E não existe, porque, como já acentuou a decisão agravada, a só participação na
formação da vontade orgânica inerente ao ato administrativo da eleição, que, como
escolha pessoal, não se guia por lei, mas por livre preferência, não induz, de per si,
suspeição nem impedimento dos componentes do órgão, enquanto institutos que
concernem ao exercício da função jurisdicional. No julgamento suso aludido, notou
esta Corte, em tópico não menos curial da ementa:
“(...)
6. Do princípio do juiz natural, não cabe inferir a presunção de parcialidade
dos magistrados que hajam votado na eleição discutida, para a decisão
jurisdicional de sua legitimidade jurídica: de bem pouco valeria a isenção
juramentada dos juízes, se o fato de haver sufragado um ou outro candidato, em
determinada eleição, tolhesse a cada um dos eleitores a imparcialidade para julgar —
à luz dos princípios e não da preferência eleitoral — da validade do pleito” (AO
n. 813-AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence).
Tampouco colhe a crítica de que se não ajustariam nem acomodariam ao caso os
precedentes que invocou a decisão agravada, quase todos pertinentes à impugnação de
eleições de cargos de direção em Tribunal, como o demonstra exame desapaixonado e
breve das referências.
R.T.J. — 197 401
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto: Senhor Presidente, um dado que me impressio-
nou, na leitura de algumas peças, foi que a decisão do Tribunal me pareceu, gritante-
mente, salientemente, contrária ao art. 102 da Lei Complementar n. 35, de 14-3-79, e
esse aspecto de direito material afigurou-me imbricado com o lado processual da causa.
Mas, agora, ouvi, atentamente, o voto do eminente Relator e me dobro à lógica do
pensar de S. Exa. para acompanhá-lo.
R.T.J. — 197 403
Peço vênia, e não estou aqui a ser incongruente, para fazer, tendo em conta as
especificidades do caso concreto, uma nova leitura da parte final da alínea n do inciso
I do artigo 102 da Constituição Federal, e dizer que, considerada até mesmo uma sadia
política judiciária, esse mandado de segurança deve ser apreciado pelo Supremo
Tribunal Federal, e penso que o será antes de extintos os mandatos em curso.
É como voto, provendo o agravo, e aceito a ponderação que pretende fazer — já
ia me esquecendo — o Ministro Cezar Peluso.
O Sr. Ministro Cezar Peluso (Relator): Agradeço a gentileza de V. Exa.
A ponderação é que o raciocínio de V. Exa., como sempre muito brilhante e
fundamentado, revoga as Súmulas n. 623 e 624, porque todas as vezes em que houver
mandado de segurança contra ato praticado pelo Plenário de qualquer tribunal, nem a
Súmula n. 623 nem a n. 624 serão aplicadas.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Não chego a essa visão abrangente.
O Sr. Ministro Cezar Peluso (Relator): O fato de ter participado da formação da
vontade administrativa do órgão, com voto neste ou naquele sentido, não importa a
matéria em discussão, implica sempre o mesmo tipo de interesse dos votantes. E, mais,
parece-me decisivo que o interesse por descobrir e apurar, em relação a cada um dos
participantes da votação, só pode ser visto de duas maneiras: ou interesse irrelevante do
ponto de vista jurídico, ou interesse relevante do ponto de vista jurídico. Se juridica-
mente relevante, importaria sempre suspeição, nos termos do artigo 135, V, do Código
de Processo Civil: é suspeito “o interessado no julgamento da causa em favor de uma
das partes”.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Não chego a tanto.
O Sr. Ministro Cezar Peluso (Relator): Se o Tribunal houver de reconhecer que
exista interesse jurídico dos desembargadores, que participaram da votação, na solução
deste mandado de segurança, terá também de reconhecer que, embora não haja impedi-
mento, há suspeição.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: A Constituição não define o interesse; contenta-se
com os interesses direto e indireto.
O Sr. Ministro Cezar Peluso (Relator): Em qualquer deles haveria suspeição no
cargo, e o Tribunal teria de reconhecê-lo.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: É mesmo difícil cogitar-se do interesse jurídico
indireto!
O Sr. Ministro Cezar Peluso (Relator): Sim, mas interesse jurídico indireto, qual-
quer que seja, torna os participantes suspeitos. O Tribunal teria de, reconsiderando toda
a sua jurisprudência, reconhecer que, automaticamente, o fato de ter participado da
decisão induziria sempre interesse jurídico dos participantes. E isso levar-me-ia a
repetir — achei muito importante a observação do Ministro Sepúlveda Pertence — que
de pouco valeria o juramento dos juízes de obedecerem à lei e à sua consciência, se o
fato de terem participado de votação administrativa os tornasse suspeitos, como inte-
ressados, no julgamento do mandado de segurança.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Não chego a tanto.
R.T.J. — 197 405
O Sr. Ministro Cezar Peluso (Relator): V. Exa. não chega, mas eu chego, a partir
raciocínio de V. Exa.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Não colo essa pecha aos meus Colegas integrantes
do Tribunal Regional Federal da 3ª Região.
Senhor Presidente, peço vênia para divergir do eminente Relator e dar provimen-
to ao agravo regimental.
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Velloso: Sr. Presidente, se se entende que há interesse dos
juízes, que poderia levar à suspeição desses, é necessário que, no tribunal de origem,
seja argüida a suspeição do magistrado; recusada essa suspeição, o Supremo Tribunal
Federal a apreciará e julgará.
406 R.T.J. — 197
Ora, se se afirma que há interesse indireto, que possa gerar suspeição, então que se
argúa essa suspeição; o juiz dirá se aceita ou não. Se não a aceitar, a questão é deslocada
para o Supremo Tribunal Federal, se abranger mais da metade dos juízes da Corte.
Peço licença aos eminentes Ministros que divergem, para acompanhar o voto do
Sr. Ministro Cezar Peluso, Relator.
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Sr. Presidente, também peço vênia para, na
conformidade dos precedentes e dos argumentos agora trazidos pelo eminente Ministro
Relator, negar provimento ao agravo regimental.
A letra n do inciso I do artigo 102 da Constituição Federal é regra excepcionalís-
sima que, com a devida vênia, não pode ser barateada, sob pena de ser mais um fator a
inviabilizar a tarefa do Supremo Tribunal Federal naquilo que lhe é próprio e na qual
ele é insubstituível: a guarda da Constituição.
Notou, com razão, o eminente Ministro Cezar Peluso que a considerar-se haver
impedimento ou suspeição, “interesse indireto”, enfim, para usar da locução constituci-
onal, no ter participado de uma eleição, com mais razão haveria esse interesse nos atos
administrativos do Tribunal, resultantes de decisões que envolvem questões jurídicas,
cujas soluções, partindo de um Tribunal, há de presumir-se fundada juridicamente.
Ao contrário, na eleição distingue-se claramente um ato de vontade, que é a
escolha entre os candidatos registrados, e uma questão jurídica, que depois se lhe
submeta da validade daquele pleito. Senão, repito a brincadeira feita por mim: a Justiça
Eleitoral estaria inviável, ou todos os seus juízes estariam impedidos de exercer o
direito de voto.
É claro que a solução de os próprios tribunais julgarem os mandados de segurança
contra os seus atos causa preocupação. Está na origem, para os casos extremos, prova-
velmente, da letra n. Isso, às vezes, preocupa.
Mas, hoje, há de preocupar menos. O Supremo Tribunal tem de desvestir-se
daquela condição que, às vezes, mais ou menos implicitamente assumiu, de correge-
doria nacional do Poder Judiciário. Hoje, na vizinhança do meu gabinete, há um órgão
instituído para isso: o Conselho Nacional de Justiça.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Que não haja contaminação.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Exato. Tenho medo. É preciso aprofundar
quais as competências contidas na primeira das missões confiadas ao Conselho Nacio-
nal de Justiça, que é a de zelar pelo Estatuto da Magistratura.
VOTO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Sr. Presidente, em relação à ponderação que se faz
sobre eventuais atrasos no julgamento, até levar a uma prejudicialidade, isso reclama,
talvez, normas de organização e procedimento, mais do que uma redefinição, uma
recompreensão do artigo 102, I, n, da Constituição Federal.
Com essas achegas, acompanho o voto do eminente Ministro Relator para dar
provimento ao agravo.
R.T.J. — 197 407
EXTRATO DA ATA
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Assim a decisão agravada, ora sob exame:
“(...)
Destaco do parecer da Procuradoria-Geral da República, fls. 416-422, lavra-
do pelo ilustre Procurador-Geral, Dr. Antônio Fernando de Souza:
‘(...)
13. Analisando os autos, observa-se que a associação autora pretende
obter a incorporação de dois subsídios adicionais, por ela denominados de
14º e 15º subsídios, à remuneração dos Ministros do Supremo Tribunal Federal,
posto que tais espécies remuneratórias encontram-se garantidas aos membros
do Congresso Nacional, nos termos do Decreto Legislativo n. 007/95, e que,
por via de conseqüência, também seriam devidas aos membros do Poder
Judiciário, em atenção à equivalência promovida pelo artigo 1º, parágrafo
único, da Lei 8.448/92.
14. Inicialmente, cabe destacar que esse Supremo Tribunal Federal
constitui o órgão competente para a apreciação e julgamento do feito, nos
termos do artigo 102, inciso I, alínea n, da Constituição Federal de 1988,
haja vista o interesse da magistratura no que tange à matéria discutida nos
autos.
15. Entretanto, ainda em sede de análise preliminar, impende ressaltar
a falta de legitimidade da associação autora. É que a pretensão deduzida na
presente ação consiste justamente na percepção de dois subsídios adicio-
nais pelos Ministros do Supremo Tribunal Federal.
16. Com efeito, o artigo 1º, parágrafo único, da Lei 8.448/92, mencio-
nado pela demandante como fundamento de sua pretensão, assegurava, ao
tempo de sua vigência, o direito à equiparação entre a remuneração dos
membros do Congresso Nacional e a percebida pelos Ministros do Supremo
Tribunal Federal, e não com a de todos os membros do Poder Judiciário.
17. Nesse sentido, o interesse da magistratura trabalhista no feito dá-se
apenas de maneira reflexa e indireta, eis que, de fato, o acréscimo de mais
dois subsídios à remuneração dos Ministros do STF acarretará o aumento na
remuneração dos magistrados substituídos, em observância ao
escalonamento estabelecido pelo constituinte no artigo 93, inciso V, do
texto constitucional.
18. No entanto, verifica-se que o direito à percepção dos subsídios
adicionais pleiteados, caso existente, pertenceria aos Ministros do STF, e
não aos magistrados trabalhistas. No caso em exame, não se afigura possível
à associação autora pleitear verbas remuneratórias eventualmente perten-
centes a Ministros do Supremo Tribunal Federal, razão pela qual há de ser
decretada a extinção do processo sem julgamento do mérito, nos termos do
artigo 267, inciso VI, do CPC, por falta de legitimidade ativa da
demandante.
410 R.T.J. — 197
EXTRATO DA ATA
AO 1.230-AgR/DF — Relator: Ministro Carlos Velloso. Agravante: ANAMATRA –
Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Advogados: Alberto
Pavie Ribeiro e outro). Agravada: União (Advogado: Advogado-Geral da União).
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental,
nos termos do voto do Relator. Ausentes, justificadamente, os Ministros Sepúlveda
Pertence, Celso de Mello e Gilmar Mendes. Presidiu o julgamento o Ministro Nelson
Jobim.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Carlos
Velloso, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Cezar Peluso, Carlos Britto, Joaquim Barbosa
e Eros Grau. Vice-Procurador-Geral da República, Dr. Roberto Monteiro Gurgel
Santos.
Brasília, 24 de novembro de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, sob a Presidência do Ministro Nelson Jobim, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por maioria, conhecer
da ação, vencidos os Ministros Cezar Peluso, Joaquim Barbosa e Sepúlveda Pertence
e, no mérito, julgar improcedente, nos termos do voto do Relator, vencidos os
Ministros Marco Aurélio, Carlos Britto e Sepúlveda Pertence. Votou o Presidente, o
Ministro Nelson Jobim. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Ministro
Eros Grau.
Brasília, 15 de dezembro de 2005 — Carlos Velloso, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Velloso: O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do
Brasil, com fundamento nos arts. 102, I, a, e 103, VII, da Constituição Federal, propõe
ação direta de inconstitucionalidade, da Lei 9.985, de 7 de fevereiro de 1995, que
“concede, na forma do inciso VIII do art. 48 da Constituição Federal, anistia aos
candidatos às eleições de 1994, processados ou condenados com fundamento na
legislação eleitoral em vigor, nos casos que especifica” (fl. 28).
Sustenta o autor, em síntese, o seguinte:
a) a natureza da anistia, como instituto humanizador do direito e da política, tem
por finalidade a paz pública e, como motivação, o interesse público, não devendo
existir, pois, anistia que contrarie o interesse coletivo;
b) violação aos princípios constitucionais da moralidade administrativa e da
impessoalidade, previstos no art. 37, caput, da Constituição Federal, dado que a Lei
9.985/95 “não concede ‘na forma do inciso VIII, do art. 48, da Constituição Federal’
a anistia ali referida” (fl. 8);
c) configuração de desvio de poder, pois o autor, reportando-se à doutrina,
corrobora o entendimento de que “o ‘poder’ de anistiar que assiste ao Congresso (art.
48, VIII, da Constituição) obviamente não foi previsto na Lei Magna para que con-
gressistas se livrem de sanções judiciais. Isto é: a anistia não foi suposta para ser
utilizada em proveito próprio e com a finalidade de elidir sanções judiciais que
atingiram congressistas por terem violado a ordem jurídica” (fl. 10);
d) afronta ao art. 1º, in fine, da Constituição Federal, uma vez que, “na vigência
do Estado Democrático e de Direito, impõe-se a regra proibitória de leis específicas e
direcionadas para casos concretos, como no caso em foco”. Ademais, aduz que “a
missão constitucional conferida pelo corpo eleitoral ao Congresso Nacional cifra-se
na competência legislativa para a elaboração de leis que consultem aos interesses
coletivos e públicos” (fl. 14);
e) inconstitucionalidade da denominada “anistia especial”, porquanto a anis-
tia, segundo o texto constitucional, é sempre genérica e decorre da competência
conferida ao Congresso Nacional “para realizar, por uma lei, um interesse público,
vale dizer, de toda a sociedade” (fls. 16-17).
R.T.J. — 197 415
Ao final, requer o autor que “seja julgada procedente a presente ação, para o
fim de, em definitivo, ser declarada a inconstitucionalidade da Lei n. 9.985/95”
(fl. 21).
À fl. 32, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil aditou a
inicial a fim de informar a republicação da lei ora impugnada, que passou a vigorar
sob o número 8.985/95, todavia, sem qualquer alteração em seu conteúdo.
Requisitaram-se informações (fls. 36 e 38). O Senador José Sarney, então
Presidente do Congresso Nacional, às fls. 40-190, sustentou, preliminarmente, o
seguinte:
a) impossibilidade jurídica do pedido, haja vista possuir o ato atacado efeitos
concretos já exauridos, não sendo, pois, suscetível de controle concentrado de
constitucionalidade;
b) ilegitimidade ativa da OAB, tendo em vista que não há pertinência temática a
compatibilizar as finalidades legais da OAB e o objeto da norma impugnada.
No mérito, alega, em síntese:
a) constitucionalidade da lei impugnada, dada a inexistência de quaisquer vícios
formais ou materiais. Ademais, “a Constituição de 1988, no art. 48, inciso VIII, eliminou
a distinção e hoje todos os tipos de anistia estão compreendidos nessa clássica palavra
grega, sem qualquer adjetivação em nosso texto constitucional” (fl. 65);
b) a concessão de anistia a pessoas determinadas e inclusive nominadas no
decreto de perdão é comum na legislação de todos os países, inclusive no Brasil. Logo,
nada obsta a que a lei de anistia se volte para certos fatos e pessoas determinadas que os
praticaram;
c) impossibilidade de revisão do ato legislativo da anistia pelo Poder Judiciá-
rio, porquanto este Poder não pode se ater ao exame de mérito da lei impugnada, o que
constitui conseqüência lógica da própria sistemática do princípio da separação dos
Poderes.
Por sua vez, o Senhor Presidente da República, às fls. 192-202, sustenta, em
síntese, o seguinte:
a) constitucionalidade do ato de anistia ora impugnado, uma vez que legitima-
do pelo processo de votação;
b) competência do Poder Legislativo para conceder anistia, mediante lei, ex vi
do art. 48, VIII, da Constituição Federal.
O então Advogado-Geral da União, Dr. Geraldo Magela da Cruz Quintão, apre-
sentando defesa do texto impugnado, requereu a improcedência do pedido (fls. 207-
210).
Às fls. 218-219, o eminente Ministro Marco Aurélio, então Relator, determinou o
cumprimento de providências ali elencadas, destacando-se a formação, em autos apar-
tados e em segredo de justiça, do agravo regimental interposto da decisão que determi-
nou que fossem riscadas, nos termos do art. 15 do CPC, as expressões tomadas como
416 R.T.J. — 197
injuriosas, contidas nas informações do Congresso Nacional, sendo certo que o Plená-
rio do Supremo Tribunal Federal, em 28-3-96 (fl. 226), negou provimento ao citado
agravo regimental.
O então Procurador-Geral da República, Prof. Geraldo Brindeiro, opinou pelo
não-conhecimento da ação e, se conhecida, pela improcedência do pedido (fls. 228-
234).
Autos conclusos em 21-6-2001.
É o relatório, do qual serão expedidas cópias aos Exmos. Srs. Ministros.
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Examino as preliminares argüidas.
a) Ilegitimidade ativa da OAB.
Assim se pronunciou, no ponto, o eminente Procurador-Geral da República, Prof.
Geraldo Brindeiro:
“(...)
A necessidade de haver pertinência temática entre o objeto da norma questio-
nada e as finalidades do ente legitimado a propor a ação direta de inconstituciona-
lidade tem sido reiteradamente afirmada pela jurisprudência do colendo Supremo
Tribunal Federal com relação a confederações sindicais ou a entidades de classe
de âmbito nacional (Informativos 121, 136, 101, 40) e também é exigida com
relação a Governador de Estado (ADI QO n. 1526, DJ de 21/2/97).
Entretanto, incorreta se afigura a assertiva de que somente o Procurador-
Geral da República possui legitimidade ativa universal para propor a ação direta
de inconstitucionalidade, pois a tem os Partidos Políticos com representação em
qualquer das casas do Congresso Nacional (ADI n. 2069, Informativo 186), e
tampouco se pode negá-la ao Conselho Federal da Ordem dos Advogados do
Brasil, vez que a advocacia é uma função essencial à justiça (art. 133 da Constitui-
ção Federal), constituindo objetivos da Ordem dos Advogados do Brasil ‘defen-
der a Constituição, a ordem jurídica do Estado democrático de direito, os direitos
humanos, a justiça social e pugnar pela boa aplicação das leis, pela rápida
administração da justiça e pelo aperfeiçoamento da cultura e das instituições
jurídicas.’(art. 44, I, da Lei n. 8906/94).
(...).” (Fl. 231)
Correto o parecer.
A Ordem dos Advogados do Brasil, pelo seu Conselho Federal, tem legitimidade
ativa, no caso, por isso que, entre o objeto da norma questionada e as finalidades desta há
pertinência temática. É que, além de a advocacia constituir-se em função indispensável
à administração da Justiça (CF, art. 133), compete à OAB “defender a Constituição, a
ordem jurídica do Estado democrático de direito, os direitos humanos, a justiça social
e pugnar pela boa aplicação das leis, pela rápida administração da justiça e pelo
aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas” (Lei n. 8.906/94, art. 44, I).
R.T.J. — 197 417
Rejeito a preliminar.
b) Impossibilidade jurídica do pedido.
Sustenta-se que a norma objeto da ação é de efeitos concretos já exauridos, não
sendo, pois, suscetível de controle concentrado de constitucionalidade.
Assim o parecer da Procuradoria-Geral da República, no ponto:
“(...)
Por outro lado, assiste razão ao Congresso Nacional quando defende o
descabimento da presente ação, pois, de fato, o ato normativo atacado não possui
a característica de abstração e generalidade que o tornaria passível de ser exami-
nado em sede de jurisdição constitucional.
Com efeito, a anistia, conceituada na lição de Ruy Barbosa1 como ‘um ato
político pelo qual se faz esquecer o delito cometido contra a ordem, o atentado
contra as leis e as instituições nacionais’, não detém a generalidade própria de
norma legal, pois destina-se unicamente a perdoar determinados delitos pratica-
dos por um grupo certo de pessoas. Seu alcance é, assim, restrito a destinatários
determinados, o que a qualifica como ‘norma individual plúrima’2 insuscetível
de ser objeto de controle concentrado de constitucionalidade.
Ressalte-se haver vasta jurisprudência desse colendo Supremo Tribunal
Federal no sentido de afastar do controle direto de constitucionalidade aqueles
atos que, embora revestidos com forma de lei, possuam efeitos concretos, fazendo-
se oportuna a transcrição do artigo publicado no informativo 174 que bem ilustra
esse entendimento:
‘Não se conhece de ação direta de inconstitucionalidade contra atos
normativos de efeitos concretos, ainda que estes sejam editados com força
legislativa formal (...) Precedentes citados: ADI (AgRg) n. 203-DF (DJU de
20-4-90); ADI n. 1716-DF (DJU de 27-3-98).’ (ADI n. 2057, Rel. Maurício
Corrêa, 9.12.99, DJ de 31/3/2000)
(...).” (Fls. 231-232)
Não tenho como acertado o parecer, no ponto.
A Lei 8.985, de 7-2-95, objeto da causa, concede, na forma do art. 48, VIII, da
Constituição Federal, anistia aos candidatos às eleições de 1994, processados ou conde-
nados com fundamento na legislação eleitoral em vigor, nos casos que especifica.
Tem este teor a citada Lei 8.985, de 7-2-95:
“Art. 1º É concedida anistia especial aos candidatos às eleições gerais de
1994, processados ou condenados ou com registro cassado e conseqüente de-
claração de inelegibilidade ou cassação do diploma, pela prática de ilícitos
Ora, a norma, no caso, concede anistia aos candidatos às eleições gerais de 1994,
indistintamente. E mesmo que assim não fosse, é dizer, se dirigisse a norma a apenas um
indivíduo, também aí ela teria caráter geral. É que é da natureza da anistia beneficiar
alguém ou um grupo de pessoas, “mesmo porque”, bem disse, nas informações, o ilustre
Procurador Miguel Pró de Oliveira Furtado, “não se haverá de dizer (...) que o ato foi
praticado no interesse exclusivo dos beneficiados. Que o foi também no interesse deles
é fora de qualquer dúvida, mesmo porque só academicamente existe anistia sem
interesse do beneficiado” (fl. 194).
Também esta preliminar é de ser rejeitada.
Vamos ao mérito.
A anistia, segundo Rui Barbosa, “é um ato político, pelo qual se faz esquecer o
delito cometido contra a ordem, o atentado contra as leis e as instituições nacionais”
(Rui Barbosa, Comentários à Constituição Federal Brasileira, II/402). Pinto Ferreira
cita lição de W. Y. Elliot, que escreve: “A anistia, um conceito do direito público, vem
do grego amnistia, o que significa esquecimento e implica ato do soberano legal,
concedendo pela graça uma extinção voluntária da memória de certos crimes cometi-
dos contra o Estado” (Pinto Ferreira, Comentários à Constituição Brasileira, Saraiva,
1990, 2º volume, p. 518).
A anistia, de regra, é para os crimes políticos, as infrações políticas, já que para os
crimes comuns há o indulto e a graça — ambos estes institutos distintos da anistia —
esta a graça, referida na Constituição, como “comutar penas”, ambos da competência
do Presidente da República (CF, art. 84, XII). Já a anistia somente pode ser concedida
mediante lei (CF, art. 48, VIII, c.c. art. 21, XVII). Segundo João Barbalho, a anistia pode
ser “plena, para todos os efeitos; geral, para todas as pessoas; limitada, com exclusão
de algumas; restrita, quanto a seus efeitos, sendo dela excluídos certos crimes, e
quanto a determinados lugares; absoluta, se é dada sem condições; condicional, se
fica dependente de se verificarem cláusulas estabelecidas no ato da concessão” (João
Barbalho, Constituição Federal Brasileira de 1891, ed. fac-similar, Senado Federal,
1992, p. 132).
A anistia consubstancia ato político, tem natureza política. Nesse sentido a lição
de Pontes de Miranda (Comentários à Constituição de 1967, Ed. RT, 1970, Tomo II, p.
46).
Pinto Ferreira esclarece que “geralmente a anistia é concedida aos crimes políti-
cos; assim foi a sua origem no mundo antigo. Muitos textos repudiaram a concessão da
anistia aos crimes comuns. Entretanto, hoje em dia, ela é estendida inclusive, em
alguns casos, a estes crimes. Assim pensam Manzini em seu ‘Tratado’, Nelson Hungria
em estudo publicado na ‘RF' (87:583), Aloysio Carvalho Filho nos ‘Comentários ao
Código Penal' (p. 118, n. 44) e Georges Vidal no Curso de direito criminal e de ciência
penitenciária'. Este adverte que, malgrado a opinião dominante, ela tem sido aplica-
da também nos crimes comuns” (Pinto Ferreira, ob. cit., p. 532).
É dizer, a anistia, num primeiro estágio, tinha por finalidade perdoar delitos de
natureza política. O conceito, entretanto, evoluiu com o tempo, para abranger, também,
delitos comuns, em casos especiais, e atos punitivos de modo geral. Na Rep 696/SP, Relator
para o acórdão o Ministro Aliomar Baleeiro, decidiu o Supremo Tribunal Federal:
420 R.T.J. — 197
titucional para conceder anistia, inclusive aos seus membros, pois a Constituição
da República não impôs restrição alguma quanto aos destinatários dessa espécie
de ‘graça’. Destarte, se a Constituição não restringe a possibilidade de concessão
desse privilégio, descabe ao intérprete restringi-la.
Ademais, merece destaque o art. 2º da lei impugnada que estabelece, com
condição para ser agraciado com a anistia, ‘o ressarcimento dos serviços individual-
mente prestados’, revelando que o ato questionado não foi editado com a finalidade
única de beneficiar congressistas, mas sim, a par de permitir que o povo possa ver
seus representantes reeleitos, a de garantir o ressarcimento ao erário.
Como dito, a mencionada lei não foi editada com o intuito exclusivo de
beneficiar uma pessoa específica, não se constituindo, por tal razão, em ofensa ao
princípio da impessoalidade que deve reger a atividade administrativa.
De outra parte, frágil se revela, na hipótese, a alegação de ofensa ao princí-
pio da moralidade administrativa, até mesmo em decorrência da aplicação do
princípio constitucional da legalidade. A respeito desse princípio traz-se à
colação os ensinamentos doutrinários de Diógenes Gasparini3:
‘Diz Hauriou, seus sistematizador, que o princípio da moralidade
extrai-se do conjunto de regras de conduta que regulam o agir da Adminis-
tração Pública; tira-se da boa e útil disciplina interna da Administração
Pública. O ato e a atividade da Administração Pública devem obedecer não
só a lei, mas à própria moral, porque nem tudo que é legal é honesto,
conforme afirmavam os romanos. Para Hely Lópes Meirelles, apoiado em
Manoel Oliveira Franco Sobrinho, a moralidade administrativa está intima-
mente ligada ao conceito do bom administrador, aquele que, usando de sua
competência, determina-se não só pelos preceitos legais vigentes, como
também pela moral comum, propugnando pelo que for melhor e mais útil
para o interesse público.’
Não há, pois, a alegada ofensa ao princípio da moralidade administrativa
(na verdade dirigido ao administrador, não ao legislador), pois o ato normativo
em tela, editado pelo Congresso Nacional no exercício de sua competência
legislativa (Constituição Federal, art. 48, inciso VIII), busca, em última análise, o
interesse público, vez que, apesar de anistiar os delitos eleitorais cometidos por
candidatos às eleições gerais de 1994 relacionados com a utilização dos serviços
gráficos do Senado Federal, impõe, como condição necessária para recebimento
do benefício, o pagamento pela utilização desses serviços.
(...).” (Fls. 232-234)
Correto o parecer, no ponto.
A uma, porque sendo a anistia um ato político, concedida mediante lei, assim da
competência do Congresso Nacional com a sanção do Presidente da República, corre
por conta dos Poderes Legislativo e Executivo a avaliação dos critérios de conveniência
e oportunidade do ato, sem dispensa, entretanto, do controle judicial, porque pode
ocorrer, por exemplo, desvio do poder de legislar ou afronta ao princípio da razoabili-
dade, assim com afronta ao devido processo legal substancial (CF, art. 5º, LIV).
A duas, porque, se não se pode negar ao Judiciário o exame da constituciona-
lidade da lei de anistia, não se pode afirmar, no caso, que a lei objeto da causa seria
afrontosa aos princípios da moralidade e da impessoalidade. É que não está o Congresso
impedido, pela Constituição, de conceder anistia aos seus membros. Não há falar,
portanto, em violação do princípio da moralidade administrativa, não obstante reco-
nhecermos que o ato legislativo objeto da causa merece reprovação sob o ponto de
vista da ética geral. Mas o princípio da moralidade administrativa tem seus contornos
próprios, convindo esclarecer que a anistia, no caso, ficou condicionada ao “ressarci-
mento dos serviços individualmente prestados, na conformidade de tabela de preços
para reposição de custos aprovada pela Mesa do Senado Federal, excluídas quais-
quer cotas de gratuidade ou descontos” (art. 2º). Também não há falar em ofensa ao
princípio da impessoalidade, por isso que a anistia não visou beneficiar um ou dois
candidatos, mas “aos candidatos às eleições gerais de 1994, processados ou condena-
dos ou com registro cassado (...) pela prática de ilícitos eleitorais (...)”, tendo o projeto
de lei sido submetido ao processo legislativo constitucional e regimental.
A três, também não há falar em desvio de poder de legislar. Conforme vimos,
linhas atrás, a anistia abrange qualquer sanção imposta por lei. Sua natureza é política.
Daí, conforme já foi dito, ser da competência do Legislativo e do Executivo a avaliação
da conveniência e oportunidade do ato, sem dispensa, entretanto, do controle judicial.
Aos demais fundamentos da ação — afronta ao art. 1º, in fine, da Constituição
Federal e alegação de inconstitucionalidade da denominada “anistia especial” —
reporto-me, para rejeitá-los, ao que disse linhas atrás.
Do exposto, julgo improcedente a ação e declaro a constitucionalidade da Lei
8.985, de 7-2-1995.
É o voto.
VOTO
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Senhor Presidente, peço vênia para declarar a
extinção do processo, sem julgamento de mérito.
Trata-se de norma de caráter concreto e individual. Concreto, porque, na verdade,
se refere a uma situação histórica determinada e absolutamente irrepetível, isto é, não
há outro caso que possa ser de candidatos daquela data; é situação que se exauriu na
história, não pode ser repetida, não é, enfim, nenhum tipo ao qual possa outra ação
histórica vir a corresponder: é a situação daquele ano, naquela data. E de caráter
individual, porque se refere especificamente a um grupo determinado de pessoas, e,
portanto, nenhuma outra pessoa é capaz de se inserir na órbita de incidência dessa
norma. É regra tipicamente concreta e de caráter individual, que não é susceptível de
ser objeto de ação declaratória de inconstitucionalidade.
Não conheço do pedido.
R.T.J. — 197 423
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Essa questão não é inevitável? É índole da anistia
fatos criminosos que, eventualmente, ainda não foram judicializados ou até aqueles
que já foram judicializados. Não consigo captar esta idéia de afronta à coisa julgada ou
à independência dos Poderes, pois é da índole do próprio processo da anistia a
superação. Na verdade, aqui, até a idéia dos Poderes implícitos teria de ser chamada à
colação.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Insisto na preliminar suscitada pelo eminente
Ministro Cezar Peluso. Fui até chamado à colação, porque já, várias vezes, me referi a
esta passagem de Kelsen, cujos exemplos são expressivos. Diz ele: é norma individual
a norma paterna — a norma baixada pelo pai — que disponha: todos os meus filhos
terão de ir à missa no próximo domingo; ao contrário, é norma geral aquela dirigida a
424 R.T.J. — 197
um filho, destinatário único, estabelecendo que, todos os domingos, ele deve visitar o seu
padrinho, porque regula atos repetíveis e indeterminados, embora de uma única pessoa.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Que talvez não esteja mais entre nós.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Aí teríamos uma lei de eficácia exaurida.
Agora, parece-me ser um caso típico de lei de efeitos concretos, porque não atinge mais
ninguém, nunca mais, senão n — seja um, sejam vários — candidatos às eleições de
1994 que estivessem processados ou condenados pela Justiça Eleitoral em razão da
utilização indevida da gráfica do Senado.
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Permita-me, Excelência. A lei quis ser tão individual
que, no parágrafo único, dispõe que nenhuma outra condenação ou quaisquer outros
atos de candidatos serão por ela regidos. São apenas os indicados e individualizados.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Não há isonomia ou analogia; não há nada. É
para determinados — ou determinado — cidadãos; e exclui a ilicitude de um ato único,
irrepetível.
VOTO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: A presente ação direta de inconstitucionalidade
está amparada, basicamente, em quatro fundamentos. Nenhum deles, Senhor Presidente,
me impressiona.
O primeiro deles diz respeito à ofensa ao princípio da separação dos Poderes (art.
2º da CF). Alega o requerente que a anistia teria sido concedida como “resposta,
retaliação ou represália de um dos Poderes da República contra decisão incontrastável
de outro desses poderes”.
Ora, a anistia, na medida em que, necessariamente, interfere em decisões tomadas
pela Administração ou pelo Judiciário, é, logicamente, uma relativização do princípio
da separação dos Poderes. Essa relativização é levada a efeito pela própria Constitui-
ção, ao prever, em seu art. 48, VIII, a competência do Congresso Nacional para conceder
anistia. Entender de outra forma nos levaria a também considerar o controle de
constitucionalidade das leis, realizado por este Tribunal, como uma afronta à harmonia
entre os Poderes da República.
Aliás, quero lembrar que essa competência extraordinária do Congresso Nacional
para conceder anistia foi inaugurada pela Constituição de 1891 (art. 34), a nossa
primeira Constituição republicana, cuja inspiração maior adveio justamente do princí-
pio da divisão e harmonia entre os Poderes.
Nesse sentido, também não vejo ofensa ao princípio republicano, consubstanciado
nos princípios da isonomia e da impessoalidade, como quer fazer crer o requerente em
seu segundo argumento. A anistia, como perdão concedido excepcionalmente a deter-
minados atos, praticados por pessoas específicas, produz, por sua própria natureza,
efeitos concretos e limitados no tempo.
Também parece um tanto óbvio que o Congresso Nacional possa conceder anistia
a seus próprios membros. Entender o contrário seria negar qualquer eficácia ao art. 48,
inciso VIII, da Constituição. Outro não foi o entendimento desta Corte no julgamento
R.T.J. — 197 425
da ADI n. 2.306 (Rel. Min. Ellen Gracie, DJ de 31-10-2002), no qual foi reafirmada a
competência do Congresso Nacional para conceder anistia, inclusive a seus membros.
De toda forma, creio que o ponto que merece uma reflexão pormenorizada do
Tribunal diz respeito à alegada violação ao princípio da moralidade. O requerente
sustenta que “o ato normativo agride o senso comum de moralidade (...)”. Quero
enfatizar que as “reações de repúdio por parte do senso comum, da moralidade pública
e da consciência jurídica” não podem servir, isoladamente, de parâmetro de controle
em abstrato da constitucionalidade dos atos normativos emanados do legislador demo-
crático. Alio-me, neste ponto, ao entendimento de Sepúlveda Pertence, já declarado em
outras ocasiões neste Tribunal, de que a moralidade pura e simples não pode ser
condição determinante da inconstitucionalidade de uma lei. Certamente, o Tribunal
não pode se ater unicamente à fluidez do conceito de moralidade para anular atos do
Poder Legislativo.
Evidente, por outro lado, que o tema pode ser devidamente densificado, tendo em
vista outros parâmetros, como o princípio da proporcionalidade, o princípio da não-
arbitrariedade da lei e o próprio princípio da isonomia. O princípio da moralidade,
portanto, para funcionar como parâmetro de controle em abstrato de constitucionalidade,
deve vir aliado a outros princípios fundamentais, dentre os quais assumem relevância
aqueles que funcionam como diretriz para a atuação da Administração Pública.
No tocante ao tema da anistia, lembro as lições de João Barbalho, em comentá-
rios ao art. 34, 27, da Constituição de 1891:
“Decretando anistia, o Congresso Nacional exerce atribuição sua privati-
va, de caráter eminentemente político, e nenhum dos outros ramos do poder
público tem autoridade para entrar na apreciação da justiça ou conveniência e
motivos da lei promulgada consagrando tal medida, que é um ato solene de
clemência autorizada por motivos de ordem superior.” (Cavalcanti, João
Barbalho Uchoa. Constituição Federal Brasileira (1891). Brasília: Senado
Federal; 2002, p. 133).
Deixe-se claro, todavia, que não quero com isso defender uma rígida separação
entre Direito e Moral, própria de um positivismo formalista. Desde seu primeiro incurso
na doutrina administrativista de Maurice Hauriou (Précis de Droit Administratif et de
Droit Public. Paris: Sociétè Anonyme du Recueil Sirey; 1927), o princípio da
moralidade traduz a idéia de que sob o ato jurídico-administrativo deve existir um
substrato moral, que se torna essência de sua legitimidade e, em certa medida, condição
de sua validade.
Intento apenas alertar o Tribunal para o problema da declaração de nulidade de
uma norma sob o único argumento de que é imoral ou, melhor dizendo, de que afronta
uma indefinida moral pública. Entendo que, neste caso, estaríamos a penetrar
indevidamente no juízo político e ético do legislador e, conseqüentemente, a estabele-
cer uma indesejável vinculação do Direito à Moral, que seria muito cara à própria
democracia, cuja essência está no pluralismo de valores éticos; pluralismo este declara-
do como “valor supremo” no preâmbulo da Carta de 1988.
Com essas breves considerações, voto pela improcedência da ação.
426 R.T.J. — 197
VOTO (Aditamento)
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Como instrumento de política judiciária — já
tivemos oportunidade de discutir isso aqui — entendo, também, essa ressalva à qual, de
vez em quando, adiro. Tenho a impressão de que, diante da importância da questão, não
do caso, mas da controvérsia — até tenho sugerido a superação desta reserva do ato
concreto, pelo menos quando se refira à lei —, o texto constitucional é claro quando
recomenda o cabimento da ADI.
Por isso tenho sustentado a conveniência de, nesses casos, superarmos a jurispru-
dência do ato concreto, pelo menos no referente à lei. Aqui também temos — e basta a
perplexidade que perpassa o Plenário — a dificuldade da definição. Nós mesmos, a toda
hora, defrontamo-nos com o exemplo. Claro que, para isso, temos explicações das leis
que criam municípios, mas que, na verdade, revelam um propósito amplo de
institucionalização, que nós tradicionalmente aceitamos e para o qual nunca levanta-
mos o caráter de efeito concreto.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Uma série de efeitos, a partir da criação de um
ordenamento jurídico, o do novo município.
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Sim, cria um ordenamento jurídico, se quisermos. Eu
ponderaria que arrostássemos o mérito, tendo em vista exatamente essas considerações.
Vejo que se agitam aí considerações. Vi, por exemplo, com alguma preocupação, a
colocação suscitada da bancada pelo Ministro Sepúlveda Pertence, nesses dias, quanto à
invocação da moralidade como princípio básico para eventual parâmetro de controle. Eu
também, de acordo com Sua Excelência, tenho dificuldade de simplesmente começar a
declarar a inconstitucionalidade de lei em face do princípio da moralidade, porque
podemos chegar a situações de alta subjetividade e, talvez, a resultados fortemente
abstrusos. Por isso, parece-me recomendável julgar-se a questão. Nesse sentido, tenho um
curto voto escrito, no qual rejeito — e o estou juntando — todas essas considerações
constantes da impugnação, porque me parece que qualquer lei de anistia vai ter essa
repercussão na relação de dependência ou interdependência dos Poderes, com todos os
seus reflexos. Eventualmente, terá de arrostar a questão da coisa julgada; portanto, não
penso que estejamos a falar nenhuma novidade. Parece-me tratar de um típico ato
político, quer dizer, podemos sempre discordar, mas, daí a discutir sob este aspecto é algo
um tanto quanto hiperbólico, um tanto quanto exagerado.
Senhor Presidente, com essas considerações, acompanho o voto do Ministro
Relator.
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Britto: Senhor Presidente, entendo que os dois artigos
centrais da lei impugnada na ADI estão funcionalmente imbricados; são
interdependentes. O art. 1º, que consubstancia a própria concessão da anistia, ficou
condicionado ao preenchimento de requisitos do art. 2º. Este, condicionador da eficá-
cia daquele, tem por destinatários humanos — por endereçados ou por âmbito pessoal
de incidência — pessoas que, a priori, não se pode determinar, porque não se pode
dizer quem preencherá essas condições, mas não é só.
R.T.J. — 197 427
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Peço vênia para acompanhar o Ministro
Marco Aurélio. Reporto-me à fundamentação do meu voto no caso das multas eleitorais
(ADI 2.306).
EXTRATO DA ATA
ADI 1.231/DF — Relator: Ministro Carlos Velloso. Requerente: Conselho Federal
da Ordem dos Advogados do Brasil (Advogados: Jose Roberto Batochio e Marcelo
Mello Martins). Requeridos: Presidente da República e Congresso Nacional (Advogados:
Jose Saulo Pereira Ramos e Luiz Carlos Bettiol).
428 R.T.J. — 197
RECLAMAÇÃO 2.123 — MA
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira
Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence,
na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de
votos, julgar procedente, em parte, a reclamação, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 23 de agosto de 2005 — Sepúlveda Pertence, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Julgam-se, nesta assentada, as Reclamações
2.190 e 2.123 (em apenso).
I
Na primeira delas (Rcl 2.190), colhe-se a descrição dos fatos pelo il. patrono do
reclamante:
R.T.J. — 197 429
00089/94 - Imperatriz - fls. 46), a fim de que outro venha a ser proferido pelo
E. Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão, publicando-se, previamente,
a pauta respectiva e dela sendo intimadas as partes, assegurando-se a todos
os sujeitos parciais da relação processual, inclusive aos ora pacientes, nos
termos do Regimento Interno daquela Corte Judiciária (art. 281), o direito à
sustentação oral, expedindo-se, em favor dos que se acham privados de sua
liberdade individual, alvará de soltura, se por al não estiverem presos.
Como conseqüência desta decisão, ficam invalidados todos os atos
processuais, que, subseqüentes ao julgamento ora impugnado, tenham
sido praticados em primeira ou em segunda instâncias’ (Documento n. 7 -
pág. 427).”
Não cumprida essa decisão, foi ajuizada a Reclamação 636, julgada prejudicada
por esta Primeira Turma, nos termos do voto que proferi, verbis (fls. 68/69):
“É induvidoso que se deixou de dar cumprimento — imediato, como se
impunha — à decisão do HC 71.551, do Supremo Tribunal.
Há, no entanto, fato superveniente que tornaria ociosa, hoje, a procedência
da reclamação.
Com efeito.
O julgamento de 4-5-94 que — por afronta à defesa dos interessados — o
acórdão do HC 71.551 declarou nulo e cuja renovação determinou, teve por objeto
a questão de saber se, incluído entre os denunciados, mediante aditamento, o então
Prefeito do Município de Imperatriz, que sucedera à vítima, morta no exercício do
mandato em 6-10-93, a competência originária do Tribunal de Justiça para julgá-lo,
por força do art. 29, VIII, da Constituição, seria de estender-se aos co-réus, entre os
quais, o reclamante.
Decidiu, então, o Tribunal de Justiça que não (aliás, o que não está em causa,
na conformidade da orientação do Supremo Tribunal, invocada pelo Ministério
Público — HC 69.325, 17-6-92, M. Aurélio, RTJ 143/925).
De qualquer sorte, a questão decidida tinha por pressuposto a atualidade da
competência do Tribunal de Justiça, para julgar o então Prefeito, por fato
anterior à assunção do mandato.
É competência, no entanto, que cessa com a investidura, posterior ao fato
criminoso, que a tenha determinado (...)
Por isso mesmo, extinto — é de supor que em 1º de janeiro de 1997 — o
mandato do Prefeito denunciado, os autos foram devolvidos ao Juízo de primeiro
grau, como informa o seu titular (fl. 115).
Esse fato extintivo da competência originária do Tribunal de Justiça para a
ação penal contra um dos co-réus, o único que a determinava, por prerrogativa de
função, que é superveniente ao julgamento do HC 71.551, ocorrido em 6-12-94,
faz sem objeto a indagação sobre se, ao tempo, aquela competência atraía ou não
as ações penais contra os co-réus.
R.T.J. — 197 431
Logo, não faz sentido devolver a questão a uma nova decisão do Tribunal
local.
Esse o quadro, julgo prejudicada a reclamação, a fim de que prossigam os
diversos processos relativos ao mesmo homicídio, incluído aquele a que respon-
de o reclamante: é o meu voto.”
Comunicada a decisão, o Juiz de primeiro grau assim decidiu (Ação Penal 155 —
fl. 72):
“Considerando a decisão do STF acerca da Reclamação n. 636-1
Maranhão, de 4.12.01, julgando-a prejudicada, com a extinção do mandato do
Prefeito Salvador Rodrigues de Almeida, para restabelecer a competência do
Tribunal do Júri desta Comarca para julgamento (fls. 2.912 a 2.922) e já tendo
transitado em julgado a sentença de pronúncia, dê-se vista ao Ministério Público
para libelo acusatório no prazo legal”.
Oferecido o libelo, em 18-7-02 (fls. 73/74), o Reclamante peticionou àquele
Juízo, para que, em cumprimento à decisão do HC 71.551, fossem repetidos todos os
atos posteriores a 4 de maio de 1994 (fls. 75/89), sob o fundamento de que, desde
então, até o julgamento da Rcl 636, em 4-12-01, aquele Juízo era incompetente.
Decidiu o Juiz de primeiro grau no sentido de que, julgada prejudicada a Rcl 636,
“a decisão do Habeas Corpus 71.551-6 deixou de existir e de produzir os efeitos de
nulidade do julgamento do TJ/MA e dos atos posteriores”, não havendo, pois, nulida-
de a ser reconhecida (fls. 90/96).
Donde a primeira das reclamações, na qual se impugna esta decisão e a que dera
vista ao Ministério Público para o libelo, nestes termos:
“O Acórdão prolatado no HC 71.551 contém três decisões.
A primeira: anulou a decisão do Tribunal de Justiça e mandou fosse outra
proferida; por dois fundamentos, a saber, falta de fundamentação e ausência de
intimação das partes.
A segunda: em conseqüência da primeira, foi concedida liberdade aos
pacientes.
A terceira, também por conseqüência da primeira: anular todos os atos
praticados, em primeira e em segunda instâncias, em todos os processos, que
tiverem sido praticados posteriormente à decisão do TJMA, de 04.05.94. Logo,
tudo quanto se praticou a partir daquela data, não tem qualquer valor.
O Acórdão prolatado na Reclamação 636, ao julgá-la prejudicada, determi-
nou, em 04 de dezembro de 2001, o prosseguimento dos processos, afirmando, só
aí, a competência do Tribunal do Júri para julgar todos os acusados.
Esta última decisão do STF limitou-se a considerar desnecessária (...) a
realização de novo julgamento no TJMA acerca da competência, tendo em conta
a superveniência da extinção do mandato de Salvador Rodrigues de Almeida, e,
de conseqüência, a afirmar a competência do Tribunal de Júri. Nada mais que
isso. Cingiu-se a julgar prejudicado apenas o pedido de renovação do julgamen-
to na Corte Estadual, e afirmar a competência do Tribunal do Júri.
432 R.T.J. — 197
Tal decisão, por essa razão, não modificou, em nada, aquela decisão proferi-
da no HC 71.551, nem no ponto em que concedeu a liberdade aos pacientes, nem
tampouco na parte que declarou nulos todos os atos processuais após o dia 04
de maio de 1994. Ao julgar prejudicada a reclamação, o STF não revalidou os
atos processuais declarados nulos, nem podia fazê-lo, à evidência. Senão veja-
mos.
(...)
Com o julgamento da Reclamação 636, o Supremo Tribunal Federal dispen-
sou o TJMA de renovar o julgamento, em face de fato superveniente, e só aí (...)
afirmou a competência do Tribunal do Júri para julgar todos os réus, determinan-
do o prosseguimento de todos os processos.
A conclusão, óbvia, portanto, é a de que, enquanto não tinha sido julgada a
Reclamação 636, não se podia afirmar a competência do Tribunal do Júri. En-
quanto o STF não decidiu a Reclamação 636, os processos não poderiam ter tido
seqüência no juízo de primeiro grau, porque no HC 71.551, aquela decisão do
TJMA já fora declarada nula, bem assim todos os atos subseqüentes.”
Dentre os atos que defende devam ser anulados, aponta a decisão de pronún-
cia.
O Ministério Público Federal, em parecer do Il. Subprocurador-Geral da Repúbli-
ca Wagner Natal Batista, opinou nestes termos:
“(...) Temos que ao contrário do que entende o reclamante a ordem concedi-
da não se aplicaria a ele e nem ao processo que responde por uma razão bem
simples, não foi ele parte no habeas corpus que foi impetrado pelos réus dos autos
193 e não se referia aos autos 155. Os impetrantes do HC 71.551 como se pode ler
às fls. 46 foram: Damião Benício dos Santos, Ronaldo Machado Arantes, Salva-
dor Rodrigues de Almeida, e Saulo Antônio Gomes.
Entretanto, mesmo que tal não ocorresse entendemos que a decisão tomada
na reclamação 636 de julgá-la prejudicada aqui também se justifica pelos mesmos
argumentos o que nos leva a manifestar pelo seu indeferimento.”
II
Por prevenção, foi-me distribuída a Rcl 2.123 — em apenso —, na qual o co-réu
Damião Benício dos Santos — paciente no HC 71.551 — requer seja anulado o
processo principal a partir da decisão proferida naquele habeas corpus.
Deferida a liminar, para sustar a realização do júri designado (fl. 318), oficiou o
então Procurador-Geral Cláudio Fonteles, pela improcedência da reclamação (fls. 336/
339 do apenso).
É o relatório.
R.T.J. — 197 433
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator):
I
III
Julgo, pois, em parte procedentes as reclamações, para anular os atos
decisórios praticados entre 4-5-94 e 1º-1-1997 e os que deles dependam, em relação aos
reclamantes e a todos os co-réus das Ações Penais 150/93, 193/94, 155/93, que ainda
não tenham sido julgados ou condenados com pena ainda não extinta, salvo quanto ao
então Prefeito, Salvador Rodrigues de Almeida, em relação ao qual, no período entre
4-5-94 e 1º-1-97, nenhum ato foi praticado no Juízo local: é o meu voto.
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Britto: Sr. Presidente, estão bem discriminadas, por esse
período, as diversas competências do juiz singular e do tribunal.
Acompanho Vossa Excelência.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Senhor Presidente, a decisão, no habeas corpus, foi
categórica quanto à incompetência do Juízo. Àquela altura, considerado o crime de um
prefeito — apenas para refletir e ver se percebi bem a situação —, havia o envolvimento
de atos judiciais de um juiz. Inobservado o que decidido pelo Tribunal, apresentou-se
a Reclamação n. 636/MA, para tornar prevalecente o pronunciamento da Turma. Essa
reclamação, tendo em conta um fato novo, ou seja, o término do mandato do prefeito,
foi declarada prejudicada. Indaga-se sobre a eficácia, a concretude do que assentado
pela Corte no Habeas Corpus n. 71.551/MA — o acórdão que se aponta como
descumprido refere-se a esse habeas corpus. Tal decisão continuou sendo olvidada até
que veio a cessar a competência do Tribunal de Justiça.
É possível simplesmente balizar-se, a esta altura, o que decidido no habeas e
entender-se que, no caso, o descumprimento seria bastante a gerar certos efeitos, efeitos
posteriores, quanto aos atos posteriores, ao término do mandato?
O Direito Processual é, acima de tudo, documentação e visa à liberdade, em seu
sentido maior, a poder-se contar com segurança jurídica quanto a atos a serem praticados.
O que se nota — e, pelo menos, na minha visão — é que incumbia atender-se ao
que decidido no habeas corpus e, aí, ter-se-ia o deslocamento do processo,
desmembrado, para o Tribunal de Justiça, o que não se verificou.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente e Relator): Mas não foi o que
decidiu a Turma.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: No habeas?
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente e Relator): No habeas corpus, sim.
Mas, depois, julgou-se prejudicada a Reclamação, porque entendeu a Turma que não
teria sentido devolver o caso ao Tribunal de Justiça, chamando todos os processos que
estavam em primeiro grau, dado que um fato superveniente ao habeas corpus, a
extinção do mandato, alterara inteiramente a equação jurídica.
R.T.J. — 197 435
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Essa premissa realmente tem um peso maior, quer
dizer, a própria Turma que prolatara o acórdão no habeas veio, como que, a estabelecer
limites quanto a essa decisão, ao se pronunciar na reclamação. E, aí, lançou, como
fundamento da declaração de prejudicialidade, a cessação do mandato do prefeito que
estaria a gerar a competência do Tribunal.
Mas surge a problemática colocada — penso que numa ortodoxia maior — pelo
advogado da tribuna. Esse fundamento seria suficiente, por si só, a ter-se a legitimidade
dos atos praticados pelo Juízo sem que se observasse o acórdão do habeas corpus, e sem
que o Tribunal de Justiça, diante da cessação do mandato, viesse a declinar da compe-
tência?
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente e Relator): Ministro, mal ou bem,
foi o que decidiu esta Turma. A reclamação não é contra a decisão desta Turma; é contra
a decisão do outro juiz.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Vou ficar com uma premissa: a decisão proferida no
habeas foi definitiva, de eficácia imediata, não foi uma decisão condicionada. Incum-
bia respeitá-la. O Tribunal sinalizou na reclamação, declarando o prejuízo — a compe-
tência do Tribunal de Justiça teria cessado com o término do mandato do prefeito.
Todavia, ao pronunciar um simples prejuízo, em si, teria mitigado a eficácia do acórdão
proferido no habeas? Por mais que se queira adentrar o campo do pragmatismo,
entendo que cumpre observar as balizas em jogo; cumpre observar que a decisão no
habeas foi descumprida e continuou a sê-lo. O processo-crime deveria ter sido desloca-
do para o Tribunal de Justiça, e não o foi. O Tribunal de Justiça poderia, sim, com a
cessação do mandato do prefeito, declinar da competência para o Juízo, mas não o fez.
Havendo permanecido o processo, revelador da ação penal, em primeiro grau, essa
permanência, a meu ver inicialmente equivocada, ficou comprometida, até mesmo
considerado o período — e a decisão proferida pela Turma no habeas corpus —
posterior à cessação do mandato.
Peço vênia para julgar procedente o pedido formulado na reclamação em maior
extensão, ou seja, tal como formulado na inicial da medida.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente e Relator): Sem nenhum amor pela
correção da decisão que proferi na reclamação, vejo-me constrangido a manter meu
voto, porque não estou julgando reclamação contra a decisão proferida por esta Turma
na reclamação anterior. Estou julgando reclamação contra decisão do juiz que obede-
ceu à decisão desta Turma, e releio o final do meu voto:
“Por isso mesmo, extinto — é de supor que em 1º de janeiro de 1997 — o
mandato do Prefeito denunciado, os autos foram devolvidos ao Juízo de primeiro
grau, como informa o seu titular.
Esse fato extintivo da competência originária do Tribunal de Justiça para a
ação penal contra um dos co-réus — o único que a determinava, por prerrogativa
de função —, que é superveniente ao julgamento do HC 71.551, ocorrido em 6-12-
94 —, faz sem objeto a indagação sobre se, ao tempo, aquela competência atraía ou
não as ações penais contra os co-réus.
436 R.T.J. — 197
Logo, não faz sentido devolver a questão a uma nova decisão do Tribunal
local.
Esse o quadro, julgo prejudicada a reclamação, a fim de que prossigam os
diversos processos relativos ao mesmo homicídio, incluído aquele a que responde
o reclamante: é o meu voto.”
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Na primeira instância?
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente e Relator): Sim. Onde eles estavam.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Agora, pergunto a Vossa Excelência, a retirada do
mundo jurídico dos atos primeiros, anteriores à cessação do mandato, não repercute
nesses atos subseqüentes?
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente e Relator): Salva-se alguma coisa.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Senhor Presidente, o argumento de Vossa Excelên-
cia é irresistível. Realmente, a Turma, mesmo declarando prejudicada a reclamação, e
talvez tenha sido pedagógica, foi além para assentar, em que pese ao prejuízo, que a
competência seria, a partir de 1º de janeiro de 1997, do Juízo.
Acompanho Vossa Excelência.
EXTRATO DA ATA
Rcl 2.123/MA — Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. Reclamante: Damião
Benicio dos Santos (Advogados: José Lamarck de Andrade Lima e outro). Reclamado:
Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão.
Decisão: A Turma julgou procedente, em parte, as Reclamações n. 2.123 e 2.190,
nos termos do voto do Relator. Unânime.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros
Marco Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto e Eros Grau. Subprocurador-Geral da
República, Dr. Eitel Santiago de Brito Pereira.
Brasília, 23 de agosto de 2005 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
INQUÉRITO 2.154 — DF
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das
notas taquigráficas, por unanimidade, rejeitar a denúncia, nos termos do voto do
Relator.
Brasília, 17 de dezembro de 2004 — Nelson Jobim, Presidente — Marco Aurélio,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Marco Aurélio: O Procurador-Geral da República aponta configu-
rado o crime de difamação, aludindo ao disposto no artigo 21, combinado com o artigo
23, inciso II, ambos da Lei n. 5.250/67. Transcreve notícia de entrevista do denunciado
ao Jornal de Brasília, na qual teria acusado a vítima Kátia Christina Lemos, promotora
pública, de abuso de poder. No trecho reproduzido às folhas 3 e 4, grafa em negrito as
seguintes frases tomadas como ofensivas:
“Secretário acusa promotora de abuso.”
“O secretário reclama que o ofício pediu ‘algo ilegal’ já que o processo está
subjudice (sic)”.
“Ela não pode fazer isso, criando uma série de coações para conseguir o
processo e, através de um ofício altamente intimidador, reclama”.
“Foi uma ação isolada dela”.
“O secretário de Meio Ambiente, Jorge Pinheiro, diz que a promotora Kátia
Christina Lemos agiu como ‘oficial de justiça’(...)”
“O secretário de Meio Ambiente frisou ao Jornal de Brasília que ‘considera
ser uma ação isolada dela (promotora), não se estendendo aos outros membros do
Ministério Público’, diz. ‘O que ela fez é ilegal’, completa”.
Aponta-se que o denunciado “referiu-se a fatos claramente ofensivos à reputação
da ofendida (...)”. E que teve “a clara determinação intencional de ferir a reputação da
ofendida”. Em síntese, consta do item 10 da peça primeira que o denunciado colocou a
ofendida como “praticante de atos ilegais, abusivos, coercitivos e de intimidação”,
agredindo a atuação profissional da promotora de justiça. Vieram ao processo, com a
inicial, as peças de folhas 7 a 88.
Notificado, o acusado apresentou a defesa de folhas 101 a 106. Em suma, baseia-
se na óptica segundo a qual, de forma inapropriada, a promotora, sem mandado
judicial, buscara fossem-lhe entregues documentos. O denunciado, ocupando à época o
cargo de Secretário do Meio Ambiente do Distrito Federal, simplesmente reagira, como
lhe cumpria fazer, não deixando que processos e documentos daquela Secretaria fossem
alvo de violação ou mesmo extravio. Ademais, o integrante do Ministério Público
deveria dirigir-se ao Judiciário para obtê-los. Teria o acusado disponibilizado os
processos para obtenção de cópias, o que não foi aceito, sentindo-se a promotora
ofendida, passando a atacá-lo por meio da imprensa, conforme peça anexada. Na
438 R.T.J. — 197
VOTO
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): A atuação pública faz-se, é certo, presen-
tes certas balizas, descabendo a perda da urbanidade. Por vezes, surgem ópticas antagô-
nicas, e aí a recusa em proceder-se desta ou daquela forma não pode gerar, por si só, a
conclusão sobre a prática de crime contra a honra de quem quer que seja. É sabença
geral que o Ministério Público, em defesa da própria sociedade, vem atuando com
desassombro, especialmente na área da preservação do meio ambiente. Por vezes,
alguns enfoques extravasam o campo simplesmente administrativo para ganhar as
páginas de periódicos, não se mostrando incomum que a matéria extravasada seja alvo
de exacerbação. Há de se buscar sempre a compreensão.
Ora, conforme dados anexados à defesa, idas e vindas ocorreram nas obras da via
expressa referente à Ponte JK. A seqüência de tal via somente se tornou possível
quando o conflito chegou ao Superior Tribunal de Justiça, que autorizou a continui-
dade das obras. Então, constata-se que a atividade desenvolvida pelo Ministério
Público fez-se no sentido de cobrar certa postura do então Secretário de Meio
Ambiente. Vieram à balha as expressões tomadas como ofensivas, tendo em conta a
busca de elementos pelo Ministério Público. Todavia, tais expressões fizeram-se no
âmbito da razoabilidade, senão vejamos cada qual, presentes os grifos contidos na
inicial:
“Secretário acusa promotora de abuso”. O que assacado há de ser considerado no
contexto. Tudo teria resultado da tentativa de se lograr a retirada de certo processo do
setor competente;
“O Secretário reclama que o ofício pediu ‘algo ilegal’ já que o processo está
subjudice”. Mais uma vez, nota-se o desempenho de atividade própria à Secretaria. O
fato de se enquadrar postulação como a revelar ilegalidade não pode ser potencializado
a ponto de se chegar à conclusão sobre a difamação.
“(...) ela não pode fazer isso, criando uma série de coações para conseguir o
processo e através de um ofício altamente intimidador (...)”. Também aqui tem-se
insurgimento relativo a pleito do Ministério Público que se circunscreve ao âmbito do
exercício da própria cidadania, resistindo-se ao que pretendido.
“Foi uma ação isolada dela (...) O Secretário de Meio Ambiente Jorge Pinheiro diz
que a promotora Kátia Christina Lemos agiu como um ‘oficial de justiça’(...)”. Onde a
R.T.J. — 197 439
EXTRATO DA ATA
Inq 2.154/DF — Relator: Ministro Marco Aurélio. Autor: Ministério Público
Federal. Indiciado: Jorge dos Reis Pinheiro ou Pastor Jorge (Advogados: Erik Franklin
Bezerra e outros).
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, rejeitou a denúncia, nos termos do voto
do Relator. Ausente, justificadamente, o Ministro Celso de Mello. Presidiu o julgamen-
to o Ministro Nelson Jobim.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Gilmar Mendes, Cezar Peluso,
Carlos Britto, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Procurador-Geral da República, Dr. Cláudio
Lemos Fonteles.
Brasília, 17 de dezembro de 2004 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
INQUÉRITO 2.170 — DF
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, por seu Tribunal Pleno, sob a Presidência do Ministro Nelson Jobim,
na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de
votos, sustar o feito, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 30 de junho de 2005 — Carlos Ayres Britto, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto: Cuida-se de denúncia contra o Deputado
Federal Carlos Eduardo Torres Gomes, na qual se lhe imputa a prática do crime descrito
no caput do artigo 350 da Lei n. 4.737/65, in verbis:
“Art. 350. Omitir em documento público ou particular, declaração que dele
devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que
devia ser escrita, para fins eleitorais:
Pena - reclusão até cinco anos e pagamento de 5 a 15 dias-multa, se o
documento é público, e reclusão até três anos e pagamento de 3 a 10 dias-multa,
se o documento é particular”.
2. De início, anoto que faz parte da inicial acusatória a seguinte descrição dos
fatos:
“Conforme consta na inclusa notícia criminal (fls. 01/03) o denunciado, no
dia 05 de novembro de 2002 (fls. 47), omitiu, livre e voluntariamente, em docu-
mento particular (prestação de contas), para fins eleitorais (documento apresenta-
do ao Tribunal Regional Eleitoral do Estado de Tocantins), os seguintes gastos
efetuados na campanha eleitoral realizada para o cargo de Deputado Federal no
ano de 2002, hoje ocupado pelo mesmo, que nele deveriam constar, conforme
bem explicita o artigo 33 da Lei 9.096/95:
a) o valor de R$ 31.249,00 (trinta e um mil duzentos e quarenta e nove reais)
efetuado com camisetas e adesivos confeccionados pela empresa Girassol Indústria
e Comércio de Confecções e Representações Ltda., conforme demonstra as propos-
tas de serviços e a autorização juntada a fls. 04/15, constatando-se que o valor
declarado na prestação de contas foi de R$ 22.000,00 (vinte e dois mil reais) fls. 54;
b) o valor de R$ 224.400,00 (duzentos e vinte e quatro mil e quatrocentos
reais) gastos em sua estrutura de campanha em Araguaína - TO, conforme planilha
a fls. 16/18, produzida pelo Partido da Social Democracia Brasileira. Verifica-se
R.T.J. — 197 441
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto (Relator): 8. Como sabido, o recebimento da
denúncia constitui mero juízo de admissibilidade, não havendo espaço para se enfrentar
o mérito do pedido inserto na inicial acusatória. Pelo que passo a analisar os requisitos
para o recebimento da peça denunciativa. E, ao fazê-lo, anoto que a conduta narrada se
amolda, em tese, ao delito imputado, estando descritos os elementos configuradores da
suposta prática do ilícito penal. Além do mais, não se faz presente a manifesta atipicidade
da conduta que se increpa ao agente sob o torniquete da persecução penal.
9. Daqui se deduz que foram atendidos os requisitos exigidos pelo artigo 41 do
Código de Processo Penal, não se constatando, in casu, nenhuma das hipóteses de
rejeição a que se refere o art. 43 do mesmo diploma legal.
10. Recebo a denúncia, portanto. Contudo, em face da concordância do denunci-
ado com as condições propostas pelo Ministério Público para a suspensão do processo,
defiro a sustação do feito, nos termos em que se deu a transação.
11. É como voto.
EXTRATO DA ATA
Inq 2.170/DF — Relator: Ministro Carlos Britto. Autor: Ministério Público Federal.
Indiciado: Carlos Eduardo Torres Gomes (Advogado: Edson Domingues Martins).
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, sustou o feito, nos termos do voto do
Relator. Ausentes, justificadamente, o Ministro Carlos Velloso e, neste julgamento, o
Ministro Celso de Mello. Presidiu o julgamento o Ministro Nelson Jobim.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Celso de Mello, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Gilmar Mendes, Cezar Peluso,
Carlos Britto, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Subprocurador-Geral da República, Dr.
Haroldo Ferraz da Nóbrega.
Brasília, 30 de junho de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, sob a Presidência da Ministra Ellen Gracie, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos,
julgar procedente a ação direta, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 29 de junho de 2005 — Eros Grau, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Eros Grau: O Procurador-Geral da República propõe ação direta,
com pedido de medida cautelar, na qual questiona a constitucionalidade da Lei n.
11.366/2000, do Estado de Santa Catarina, que tem o seguinte teor:
“Art. 1º Fica normatizada a criação, a exposição e a realização de competi-
ções entre aves das raças combatentes “Galus-Galus”, nos termos da presente Lei.
Art. 2º As atividades esportivas do galismo inerentes à preservação de aves
de raças combatentes, serão realizadas em recintos e/ou locais próprios nas sedes
das entidades denominadas “rinhadeiros”.
Art. 3º A autorização para realização das competições, será outorgada por
órgão do poder público estadual, mediante o recolhimento de taxa.
Art. 4º Os locais onde serão realizados os eventos, deverão ser vistoriados
anualmente pela autoridade competente para que possa ser fornecido o alvará,
como medida de segurança e proteção dos freqüentadores.
Art. 5º Um médico veterinário e/ou um assistente capacitado, atestará antes
das competições, o estado de saúde das aves que participarão do evento.
Art. 6º Fica proibida a prática desta atividade em locais próximos a Igrejas,
Escolas e Hospitais, devendo ser respeitada a distância mínima de oitenta metros
para preservar o silêncio, a ordem e o sossego público.
Art. 7º Nos locais onde se realizam as competições, é vedado o ingresso ou
permanência de menores de dezesseis anos, a não ser quando acompanhados dos
pais ou responsáveis diretos.
Art. 8º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 9º Revogam-se as disposições em contrário.”
2. O requerente sustenta que a lei hostilizada afronta o artigo 225, § 1º, inciso
VII1, da Constituição do Brasil, já que possibilita a prática de competição que submete
os animais a crueldade, ao contrário de buscar proteger a fauna como medida hábil a
tornar efetivo o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e observar a
1 Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
444 R.T.J. — 197
VOTO
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Trata-se de ação direta na qual se pleiteia a
declaração de inconstitucionalidade da Lei n. 11.366/2000, do Estado de Santa Catarina,
que autoriza e regulamenta a criação, a exposição e a realização de “brigas de galo”.
2. O pedido merece acolhimento.
3. Com efeito, ao autorizar a odiosa competição entre galos, o legislador estadual
ignorou o comando contido no inciso VII do § 1º do artigo 225 da Constituição do
Brasil, que expressamente veda práticas que submetam os animais à crueldade.
4. Em situações análogas, este Tribunal afirmou a preservação da fauna como fim
a ser prestigiado, banindo a sujeição da vida animal a experiências de crueldade. Nesse
sentido:
“Constitucional. Meio-ambiente. Animais: proteção: crueldade. “Briga
de galos”. I - A Lei 2.895, de 20-3-98, do Estado do Rio de Janeiro, ao autorizar e
disciplinar a realização de competições entre “galos combatentes”, autoriza e
disciplina a submissão desses animais a tratamento cruel, o que a Constituição
Federal não permite: CF, art. 225, § 1º, VII. II - Cautelar deferida, suspendendo-se
a eficácia da Lei 2.895, de 20-3-98, do Estado do Rio de Janeiro.”
[ADI n. 1.856/MC, Relator o Ministro Carlos Velloso, DJ de 22-9-2000]
EXTRATO DA ATA
ADI 2.514/SC — Relator: Ministro Eros Grau. Requerente: Procurador-Geral da
República. Requerida: Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina.
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, julgou procedente a ação direta, nos
termos do voto do Relator. Votou a Presidente. Ausentes, justificadamente, o Ministro
Nelson Jobim (Presidente) e, neste julgamento, os Ministros Carlos Velloso e Marco
Aurélio. Presidiu o julgamento a Ministra Ellen Gracie (Vice-Presidente).
Presidência da Ministra Ellen Gracie (Vice-Presidente). Presentes à sessão os
Ministros Sepúlveda Pertence, Celso de Mello, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Gilmar
Mendes, Cezar Peluso, Carlos Britto, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Subprocurador-
Geral da República, Dr. Haroldo Ferraz da Nóbrega.
Brasília, 29 de junho de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
1 DJ de 13-3-1998.
446 R.T.J. — 197
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribu-
nal Federal, em Sessão Plenária, sob a Presidência do Ministro Nelson Jobim, na conformi-
dade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, julgar
improcedente a ação, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 17 de novembro de 2005 — Eros Grau, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Eros Grau: O Partido Social Liberal – PSL propõe ação direta, com
pedido de medida cautelar, na qual questiona a constitucionalidade da alínea c do § 1º do
artigo 9º e do artigo 165 da Lei Orgânica do Ministério Público do Estado do Rio de
Janeiro — Lei Complementar n. 106/03.
2. Os preceitos impugnados têm o seguinte teor:
“Art. 9º São inelegíveis para o cargo de Procurador-Geral de Justiça os Procura-
dores de Justiça e os Promotores de Justiça que:
(...)
R.T.J. — 197 447
VOTO
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Trata-se de ação direta na qual é objetivada a
declaração de inconstitucionalidade de preceitos contidos na Lei Orgânica do Minis-
tério Público do Estado do Rio de Janeiro.
2. O primeiro preceito atacado é o seguinte:
“Art. 9º São inelegíveis para o cargo de Procurador-Geral de Justiça os
Procuradores de Justiça e os Promotores de Justiça que:
(...)
§ 1º É obrigatória a desincompatibilização, mediante afastamento, pelo
menos 60 (sessenta) dias antes da data da eleição, para os que, estando na carreira:
(...)
c) ocuparem qualquer outro cargo ou função de confiança”.
1 SILVA, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição. Malheiros: São Paulo, 2005. p. 912.
2 ADI n. 2.084, Relator o Ministro Ilmar Galvão, DJ de 14-9-2001.
3 ADI n. 2.534/MC, Relator o Ministro Maurício Corrêa, DJ de 13-6-2003.
4 Art. 29. Enquanto não aprovadas as leis complementares relativas ao Ministério Público e à
Advocacia-Geral da União, o Ministério Público Federal, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional,
as Consultorias Jurídicas dos Ministérios, as Procuradorias e Departamentos Jurídicos de autarquias
federais com representação própria e os membros das Procuradorias das Universidades fundacionais
públicas continuarão a exercer suas atividades na área das respectivas atribuições.
(...)
§ 3º Poderá optar pelo regime anterior, no que respeita às garantias e vantagens, o membro do
Ministério Público admitido antes da promulgação da Constituição, observando-se, quanto às
vedações, a situação jurídica na data desta.
R.T.J. — 197 451
EXTRATO DA ATA
ADI 2.836/RJ — Relator: Ministro Eros Grau. Requerente: Partido Social Liberal –
PSL (Advogado: Wladimir Sérgio Reale). Requeridas: Governadora do Estado do Rio
de Janeiro e Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Interessada: Associa-
ção Nacional dos Membros do Ministério Público – CONAMP (Advogado: Aristides
Junqueira Alvarenga).
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, julgou improcedente a ação, nos termos
do voto do Relator. Votou o Presidente, Ministro Nelson Jobim. Falaram, pelo reque-
rente, o Dr. Wladimir Sérgio Reale e, pelo Ministério Público Federal, o Dr. Roberto
Monteiro Gurgel Santos, Vice-Procurador-Geral da República.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Celso de Mello, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Gilmar Mendes,
Cezar Peluso, Carlos Britto, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Vice-Procurador-Geral da
República, Dr. Roberto Monteiro Gurgel Santos.
Brasília, 17 de novembro de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
5 Art. 281. Os membros do Ministério Público da União, nomeados antes de 5 de outubro de 1988,
poderão optar entre o novo regime jurídico e o anterior à promulgação da Constituição Federal, quanto
às garantias, vantagens e vedações do cargo.
Parágrafo único. A opção poderá ser exercida dentro de dois anos, contados da promulgação desta
lei complementar, podendo a retratação ser feita no prazo de dez anos.
452 R.T.J. — 197
11. Lei estadual que prevê, em benefício dos juízes de paz, o recolhi-
mento a prisão especial invade a competência da União para legislar
sobre Direito Processual Penal [art. 22, I, da CB/88]. Direito já assegura-
do pelo art. 112, § 2º, da Loman [LC n. 35/75].
12. Ação direta julgada parcialmente procedente.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das
notas taquigráficas, preliminarmente, por unanimidade, não conhecer do pedido for-
mulado na ação quanto à expressão “simultaneamente com as eleições municipais”,
contida no caput do artigo 2º, e quanto à expressão “segundo o princípio majoritário”,
constante do caput do artigo 3º, ambos da Lei n. 13.454, de 12 de janeiro de 2000, do
Estado de Minas Gerais. Votou a Presidente.
Prosseguindo no julgamento, o Tribunal, por maioria, quanto aos artigos 2º e 3º
da norma impugnada, conheceu do pedido formulado na ação e julgou-a improcedente,
exceto quanto ao vocábulo “subsidiária”, constante no caput do artigo 2º. Votou a
Presidente.
Prosseguindo no exame dos dispositivos impugnados na Lei n. 13.454, de 12 de
janeiro de 2000, do Estado de Minas Gerais, o Tribunal, por maioria, julgou improce-
dente a ação quanto ao artigo 4º. Por unanimidade, deu pela inconstitucionalidade
integral do artigo 6º, nos termos do voto do Relator. Em relação aos artigos 5º, 7º, 8º, 9º
e 10, o Tribunal, por maioria, julgou improcedente a ação. Quanto ao inciso VII do
artigo 15, julgou, por maioria, improcedente a ação. Por unanimidade, julgou
inconstitucional a expressão “e lavrar auto de prisão”, constante do inciso VIII do
artigo 15, nos termos do voto do Relator; e, por maioria, inconstitucional o remanes-
cente do dispositivo. Em relação ao inciso IX do mesmo artigo, o Tribunal, por
unanimidade, julgou inconstitucional a ação. Por maioria, julgou improcedente a
ação em relação ao inciso X do artigo 15, assim como, também por maioria, improce-
dente a ação quanto ao seu inciso XII. Em relação ao § 2º do artigo 15, o Tribunal, por
maioria, julgou improcedente a ação. E, quanto ao artigo 22, o Tribunal, por maioria,
julgou procedente a ação e declarou a inconstitucionalidade da expressão “e garante
direito a prisão especial, em caso de crime comum, até definitivo julgamento”.
Brasília, 9 de junho de 2005 — Nelson Jobim, Presidente — Eros Grau, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Eros Grau: O Procurador-Geral da República propõe a presente
ação direta, em que pleiteia a declaração de inconstitucionalidade do Capítulo II [arts.
2º a 10]; dos incisos VII, VIII, IX, da expressão “tomando as providências necessárias ao
seu cumprimento” no inciso X, da expressão “funcionar como perito em processos” no
inciso XII e do § 2º, todos do art. 15; e da expressão “e garante direito a prisão especial,
em caso de crime comum, até definitivo julgamento” no artigo 22, preceitos da Lei n.
13.454, de 12 de janeiro de 2000, do Estado de Minas Gerais, cujo teor é o seguinte:
R.T.J. — 197 455
“Capítulo II
Da Eleição e da Investidura
Art. 2º As eleições para Juiz de Paz serão realizadas simultaneamente com as
eleições municipais, na forma estabelecida por esta lei e mediante a aplicação
subsidiária do Código Eleitoral e da legislação federal específica.
Parágrafo único. O processo eleitoral de que trata este artigo será presidido
pelo Juiz Eleitoral competente.
Art. 3º O Juiz de Paz é eleito segundo o princípio majoritário, para mandato
de quatro anos, pelo voto direto, universal e secreto do eleitorado do distrito ou
do subdistrito judiciário respectivo, permitida a reeleição.
Parágrafo único. O mandato do Juiz de Paz coincidirá com o de Vereador.
Art. 4º Os candidatos a Juiz de Paz e seus suplentes serão escolhidos nas
mesmas convenções partidárias que deliberarão sobre as candidaturas às eleições
municipais, observadas as normas estabelecidas na legislação eleitoral e no
estatuto dos respectivos partidos políticos.
Art. 5º Cada partido político poderá registrar, na Justiça Eleitoral, candida-
tos ao cargo de Juiz de Paz em número correspondente ao de vagas existentes em
cada município.
§ 1º O registro de candidato a Juiz de Paz far-se-á com dois suplentes, em
chapa única, com indicação da suplência em ordem crescente.
§ 2º Não é permitido o registro do mesmo candidato para mais de uma
circunscrição nem para mais de um cargo na mesma circunscrição.
Art. 6º Para concorrer às eleições, o candidato atenderá às exigências cons-
titucionais e legais de elegibilidade e compatibilidade, especialmente aos se-
guintes requisitos:
I - ser brasileiro nato ou naturalizado;
II - estar em pleno exercício dos direitos civis e políticos;
III - estar em dia com as obrigações eleitorais;
IV - estar quite com as obrigações militares, se do sexo masculino;
V - ter domicílio eleitoral no distrito ou subdistrito pelo qual se candidatar
pelo prazo de, pelo menos, um ano antes da data da eleição;
VI - ter sua filiação deferida pelo partido pelo menos um ano antes da data da
eleição;
VII - ter idade mínima de vinte e um anos;
VIII - comprovar idoneidade moral mediante atestado de autoridade judici-
ária ou policial;
IX - ser alfabetizado.
Art. 7º Será considerado eleito Juiz de Paz o candidato que obtiver a maioria
dos votos, não computados os votos em branco e os nulos.
456 R.T.J. — 197
[...]
§ 2º A nomeação de escrivão ad hoc é obrigatória em caso de arrecadação
provisória de bens de ausentes ou vagos.
[...]
Art. 22. O exercício efetivo da função de Juiz de Paz constitui serviço
público relevante e garante direito a prisão especial, em caso de crime comum,
até definitivo julgamento.” [Grifei]
2. O requerente alega que os preceitos em exame ferem os comandos dos artigos
22, I, e 121 da Constituição do Brasil. Alega violação da competência privativa da
União para legislar sobre Direito Eleitoral, uma vez que o ato normativo impugnado
regula a eleição e a investidura para o cargo de Juiz de Paz.
3. Sustenta a afronta ao art. 121 da Constituição, visto que a organização e a
competência dos tribunais eleitorais é matéria de lei complementar. Por outro lado, à
luz do art. 22, I, do texto constitucional, é defeso aos Estados legislar sobre Direito
Processual Penal e trabalhista.
4. Aduz, por fim, que o ato normativo impugnado não pode atribuir aos juízes de
paz funções administrativas baseadas no poder de polícia, bem como atribuir-lhes
competências que ofendam a legislação processual civil.
5. Em face da relevância da questão, e tendo em vista a sua repercussão na ordem
pública do Estado de Minas Gerais, o então Ministro Presidente Maurício Corrêa
requisitou informações à Assembléia Legislativa e determinou fossem ouvidos o Advo-
gado-Geral da União e o Procurador-Geral da República, sucessivamente, para que se
pronunciassem, nos termos do art. 12 da Lei n. 9.868/99.
6. A Assembléia Legislativa sustenta que o ato normativo atacado, elaborado
dentro dos limites da competência dos Estados-Membros, não possui vício de iniciativa,
visto que o projeto de lei enviado àquela casa partiu do Tribunal de Justiça do Estado
de Minas Gerais.
7. O Advogado-Geral da União confirma a competência dos Estados-Membros
para legislar sobre a Justiça de Paz, cabendo à União somente a disciplina quanto ao
Distrito Federal e aos Territórios. Com esteio no precedente da ADI n. 903, Relator o
Ministro Celso de Mello [DJ de 24-10-97], admite a existência de um nicho para a
atuação legislativa do Estado-Membro, enquanto não houver legislação de caráter
nacional. Assim, a matéria eleitoral prevista no inciso I do art. 22 da Constituição do
Brasil diz respeito somente aos cargos eletivos do Poder Executivo e do Poder
Legislativo.
8. Assevera que as atividades conferidas aos juízes de paz pela lei mineira
observam o parâmetro constitucional do art. 98, II, de modo que nenhuma delas trata da
solução de conflitos de interesses próprios da atividade jurisdicional. Segundo o art.
15, XII, da lei impugnada, o funcionamento do Juiz de Paz em processos judiciais
depende de acordo comum com o juiz de direito da comarca. Do mesmo modo, a
lavratura de auto de prisão somente ocorreria na hipótese de omissão, ausência ou
recusa da autoridade policial.
458 R.T.J. — 197
VOTO
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): As impugnações oferecidas pelo Procurador-
Geral da República à Lei do Estado de Minas Gerais podem ser sintetizadas nos
seguintes pontos:
I - violação do art. 22, I, da CB/88, por legislar sobre matéria eleitoral, quanto
aos artigos 2º, 3º, 4º, 5º, 6º, 7º, 8º, 9º e 10;
II - violação do art 121, I, da CB/88, por legislar sobre atribuições e compe-
tências dos juízes eleitorais, quanto aos artigos 2º, 8º, 9º e 10;
III - violação do art. 22, I, da CB/88, por legislar sobre matéria processual
civil, quanto ao inciso VII; a expressão “funcionar como perito em processos” do
inciso XII e o § 2º, todos do art. 15;
IV - violação do art. 22, I, da CB/88, por legislar sobre matéria processual
penal, quanto ao artigo 15, VIII e a expressão “e garante direito a prisão especial,
em caso de crime comum, até definitivo julgamento”, do art. 22;
V - violação do art. 22, I, da CB/88, por legislar sobre matéria trabalhista,
quanto ao artigo 15, IX; e
R.T.J. — 197 459
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Sra. Presidente, quanto ao “segundo o princí-
pio majoritário”, tenho dúvidas. Não há condições verificar os precedentes agora, mas
me parece que se afirmou que não haveria interesse para o requerimento de medida
cautelar, porque, se a questão é de competência da União ou dos Estados, pouco
importa que no momento coincidam ou não a norma federal e a norma estadual. Basta
cogitar-se que a norma federal pode ser revogada e alterada.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: O Relator apontou que não houve ataque a esses
dispositivos.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Mas por que, quanto ao dispositivo idêntico,
S. Exa. não conhece?
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Aí, não. Aí temos refutado.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Sim, porque está-se discutindo se é compe-
tência federal ou estadual e uma série de questões, por exemplo, prisão especial. Se a
competência é privativa da União, o dispositivo é inconstitucional, independente-
mente de coincidir ou não com o dispositivo federal.
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Ministro Sepúlveda Pertence, perdoe-me,
vamos separar as partes — como diziam os esquartejadores — vamos aos pedaços.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Vossa Excelência pode interpretar as “tiras”.
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Depois vamos chegar à questão da prisão
especial. Nesse primeiro momento, seriam essas duas questões, o que não vai me
impedir, depois, de manifestar-me especificamente sobre as demais questões.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Estou me lembrando. realmente o assunto vai
ter de ser destacado ponto a ponto. Mas me prendi em um: prisão especial. A Loman diz
o mesmo. Isso não torna constitucional, ou melhor, não elide a discussão sobre a
competência do Estado para legislar a respeito.
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Perdoem-me, não quero absolutamente ser
impertinente. Mas, em seguida, direi que conheço do pedido e julgo procedente a ADI
quanto ao restante dos artigos 2º e 3º.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Quais os pontos em que V. Exa. não conhece?
A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente): No caput do artigo 2º, a expressão
“simultaneamente com as eleições municipais”, e, no caput do artigo 3º, “segundo o
princípio majoritário”. São essas duas expressões.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Porque essas estão na Constituição estadual.
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Exatamente. E não foram impugnadas. É só
isso agora.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Aí concordo com V. Exa., porque realmente
são normas estaduais. Quanto às questões, por exemplo, repetidas na Loman, V. Exa.
não está deixando de conhecer?
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Por enquanto não estou me manifestando. Só
não conheço essas duas; são seis ADIs.
464 R.T.J. — 197
VOTO (Antecipação)
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Sra. Presidente, quanto à expressão: “será
presidido pelo juiz eleitoral competente”, de logo antecipo a minha discordância com
o voto do eminente Ministro Relator, nesse ponto.
Ao referir-se ao Juiz de Paz, no artigo 14, § 3º, c — ainda que incidentemente, só
para fixar-lhe a idade mínima de elegibilidade —, a Constituição incluiu a eleição do
Juiz de Paz no sistema eleitoral, cuja direção, a partir daí, só pode incumbir à Justiça
Eleitoral: não é preciso que venha uma lei complementar a dizer que a eleição de um
cidadão para um mandato, com condições de elegibilidade fixadas na Constituição, é
da competência da Justiça Eleitoral.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Qual artigo da Constituição está sendo citado?
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: O artigo 14, § 3º, inciso VI, alínea c. Confesso
que é a primeira vez que leio com olhos de prestar atenção essa referência a Juiz de Paz,
no artigo 14 — depois de toda a nossa antiguidade no Tribunal Eleitoral.
A mim me bastaria isso para inserir a eleição do Juiz de Paz no sistema eleitoral
global, e não há outra autoridade, no sistema brasileiro, que possa dirigir eleições,
compreendidas no âmbito do artigo 14, que não seja a Justiça Eleitoral.
Isso foi discutido, salvo engano, quando se deslocou da União para os Estados a
lei de criação de municípios. E discutiu-se quem vai fazer referendo, quando se
entendeu, independentemente de ter perdido vigência a velha Lei Complementar n. 1,
que a competência só podia tocar à Justiça Eleitoral.
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Perdoe-me, Ministro, não estou entendendo o
porquê da nossa divergência. Estou conhecendo e julgando procedente.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Mas estou julgando-a improcedente. Isso não
é matéria de Direito Eleitoral; prescrever que uma eleição compreendida no âmbito do
sistema eleitoral — de que tratam os artigos 14 e seguintes da Constituição — é da
competência da Justiça Eleitoral, pode-se dizer que é uma norma inócua, mas ela é
absolutamente constitucional, porque não poderia dispor de outro modo.
A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente): Mesmo quando diz que se aplica,
subsidiariamente, o Código Eleitoral?
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Sim, esse, subsidiariamente, aplica-se ao
Código Eleitoral.
O Sr. Ministro Carlos Britto: É norma com a qual ou sem a qual tudo permanece tal
e qual.
R.T.J. — 197 465
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Mas ela podia até ser “sem a qual”, mas não
podia ser diferente da qual, porque aí, sim, seria inconstitucional.
Causa-me certo prurido a previsão de aplicação “subsidiária” do Código Eleitoral.
A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente): Inverte a hierarquia, manda aplicar essa
lei e, subsidiariamente, o Código Eleitoral.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: É uma eleição majoritária, municipal.
Julgo improcedente a ação com relação aos arts. 2º e 3º; mas, procedente quanto à
expressão “subsidiária”, constante do art. 2º.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Ministro Eros Grau, que a matéria é eleitoral
todos estamos de acordo; o que estou dizendo é que não poderia deixar de ser. Quer
dizer, a competência da Justiça Eleitoral e a aplicação, conseqüentemente, da legisla-
ção eleitoral federal decorrem do sistema da Constituição.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Agora, e essa disciplina prevendo a reeleição em
mandato coincidente com o do vereador?
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Aí, acho que é matéria estadual mesmo.
O Sr. Ministro Carlos Britto: E já está na Constituição também.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Porque, vejam, aí não há competência concor-
rente. O art. 98 manda obedecer a legislação, que, no ponto, há de ser estadual.
O Sr. Ministro Carlos Velloso: Veja, Ministro Celso de Mello, a lei estadual não
discrepa do que dispõe o Código Eleitoral, que manda registrar no juízo eleitoral.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Será que a reeleição é harmônica? Porque o
preceito constitucional não prevê, é silente, não há vedação. Faço a pergunta no
sentido invertido: a lei estadual poderia vedar a reeleição?
O Sr. Ministro Carlos Britto: Inverto o raciocínio: como o princípio republicano
se caracteriza pela temporariedade no exercício do mandato e rotatividade no exercício
do poder, se a Constituição não prevê a reeleição, é porque ela não é admissível.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Não vamos ficar tão republicanos assim,
porque, senão, diremos que tudo no Brasil é republicano, menos o Chefe de Estado, que
pode ser reeleito.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Mas aqui é elemento conceitual da República.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: A Constituição estabeleceu alguns casos de
inelegibilidade ou elegibilidade e remeteu todo o resto à lei complementar. Acho que
realmente a matéria seria desta lei complementar, que não tem uma só palavra a respeito
dos juízes de paz, mas isso já é matéria infraconstitucional.
O Sr. Ministro Carlos Velloso: E não há discrepância, porque está se fixando sem
alteração de tempo de mandato.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Mas, Excelência, continuo achando que, no silêncio
da Constituição quanto à possibilidade de reeleição, esse silêncio é eloqüente, opera
como vedação, mas data venia de entendimento contrário.
466 R.T.J. — 197
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Sim, Ministro, como a Constituição não prevê
a reeleição de deputado, ela seria inconstitucional?
O Sr. Ministro Carlos Britto: Mas aí a Constituição, ao falar de eleições gerais,
estabelece o período quadrienal. Então, a reeleição já está implícita.
O Sr. Ministro Carlos Velloso: Mas não diz que o deputado é reelegível.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Mas como essa matéria foi tratada em apartado pela
sua especificidade, a Constituição lhe conferiu um tratamento normativo absolutamente
em separado, acho que seria necessária a previsibilidade de reeleição, porque não é
norma geral, é especial.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Quando não se concebia a reeleição de Chefe
do Poder Executivo, havia um único caso, além do Legislativo, de reeleição na tradição
brasileira, a do Juiz de Paz. O Supremo agora vai decidir que “não”?
O Sr. Ministro Carlos Britto: Ao conferir esse tratamento constitucional à matéria,
o legislador constituinte rompeu com essa tradição.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Esqueceu-se de falar que deputado pode ser
reeleito. Vossa Excelência está se apegando a uma ruptura realmente histórica, porque
a reeleição dos chefes do Executivo era a única inelegibilidade prevista na primeira
constituição republicana e mantida em todos os textos constitucionais posteriores. Por
isso, teve de vir a emenda, para afirmar especificamente a reelegibilidade. Agora, dizer
que, da República, se tira a irreelegibilidade, então temos de responder por que os
membros do Poder Legislativo podem ser reeleitos.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Mas aí a Constituição já fala dos períodos
quadrienais.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Mas período quadrienal não quer dizer
irreelegibilidade, data venia.
Período marca a temporariedade de cada mandato. Não a possibilidade ou impos-
sibilidade de concorrer ao seguinte. Só se Vossa Excelência acha que da
temporariedade nasce a irreelegibilidade, como a borboleta da crisálida...
O Sr. Ministro Carlos Britto: O Ministro Marco Aurélio colocou essa matéria para
votação, não é?
DEBATES
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Sra. Presidente, apenas para relembrar — se
Vossa Excelência me permitir —, grande parte do vício aqui está relacionada à filiação
partidária do Juiz de Paz. Estou votando no sentido de que não se admita a filiação
partidária. Mas verifico que vou ficar vencido, dada a alusão ao art. 14, § 3º.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Filiação partidária e exercício da judicatura são
como água e óleo, não se misturam. Aí, acho que Vossa Excelência tem toda razão.
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Mas, se nós acabamos de votar com base no §
3º do art. 14, seria uma incoerência.
O Sr. Ministro Carlos Velloso: Ministro Eros Grau, veja que as funções exercidas
não são propriamente funções jurisdicionais.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Filiação partidária não é uma demasia? Porque ali,
quando se exige, é para eleições em geral, a filiação partidária é coerente, mas aqui...
O Sr. Ministro Carlos Velloso: A nossa democracia representativa faz-se por meio
de partidos políticos. É difícil excepcionar.
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Temos, na verdade, nesses artigos, um novo
Código Eleitoral.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Tenho a maior dificuldade em afastar a
incidência do art. 14 da Constituição, relativo às condições de elegibilidade.
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Estamos diante de uma situação de exceção.
Nos casos de exceção, a norma se aplica desaplicando-se. Para mim é muito claro que se
trata de atividade jurisdicional. É muito complicado admitir a coexistência de uma
função desse caráter com a filiação partidária.
O Sr. Ministro Carlos Velloso: Ministro Eros Grau, que função jurisdicional
importante há aqui?
“Art. 15. (...)
VII - arrecadar bens de ausentes ou vagos, até que intervenha a autoridade
competente;”
Quem nasceu no interior sabe. Morre um cidadão; não tem juiz na comarca. Ele
vai lá e arrecada até que intervenha o juiz de direito.
“VIII - Processar auto de corpo de delito, de ofício ou a requerimento da
parte, e lavrar auto de prisão, em caso de ausência, omissão ou recusa da autoridade
policial;
IX - prestar assistência ao empregado...”
Isso o sindicato faz.
468 R.T.J. — 197
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Se o sindicato não for, ele supre a ausência.
Isso é matéria de Direito Trabalhista.
O Sr. Ministro Carlos Velloso:
“X - zelar, na área territorial de sua jurisdição, pela observância das normas
concernentes à defesa do meio ambiente e à vigilância ecológica sobre matas, rios
e fontes, (...)”
Todo cidadão é competente para fazer isso, deve fazer isso.
“XII - funcionar como perito em processo e exercer outras atividades
judiciárias não defesas em lei, de comum acordo com o Juiz de Direito da
comarca.”
Não há exercício, na verdade, de atividade jurisdicional em termos materiais. É
um auxiliar da Justiça.
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Ele não é um auxiliar da Justiça. Não está
escrito na Loman que ele seja um auxiliar da Justiça. Ele está incluído na categoria.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Mesmo sendo a Justiça de Paz, está subjacente a
neutralidade, a imparcialidade, o que é incompatível com partido político, que, por
definição, é parte, facção.
função de Juiz de Paz a quem pertença a órgão de direção ou de ação de partido político
e, conseqüentemente, lhe permite a simples filiação.
Estamos, talvez, a reclamar que, na composição da lista dos jurados, os quais
exercem, sim, verdadeira jurisdição — e brava: são até trinta anos de reclusão —, se vá
exigir certidão negativa de filiação partidária. Mas fico na exegese pedestre: o Juiz de
Paz está compreendido no sistema do artigo 14 e, por isso, a meu ver, tem como
condição de elegibilidade — como todos os cidadãos eleitos pelo voto secreto, univer-
sal e direto — a filiação partidária.
EXTRATO DA ATA
ADI 2.938/MG — Relator: Ministro Eros Grau. Requerente: Procurador-Geral da
República. Requeridos: Governador do Estado de Minas Gerais e Assembléia Legisla-
tiva do Estado de Minas Gerais.
Decisão: Preliminarmente, o Tribunal, por unanimidade, não conheceu do pedido
formulado na ação quanto à expressão “simultaneamente com as eleições municipais”,
contida no caput do artigo 2º, e quanto à expressão “segundo o princípio majoritário”,
constante do caput do artigo 3º, ambos da Lei n. 13.454, de 12 de janeiro de 2000, do
Estado de Minas Gerais. Votou a Presidente. Prosseguindo no julgamento, o Tribunal,
por maioria, quanto aos artigos 2º e 3º da norma impugnada, conheceu do pedido
R.T.J. — 197 471
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Presidente, sob o ângulo formal, creio que não cabe
distinguir se a norma é consentânea, ou não, com a lei federal. Ou bem se tem o vício, ou
não, e é possível a regulamentação da matéria no nível em que ocorreu. Assim tem
decidido o Plenário.
No mais, verifico que os artigos versam sobre tema estritamente eleitoral. De
acordo com o artigo 5º:
Cada partido político poderá registrar, na Justiça Eleitoral, candidatos ao
cargo de Juiz de Paz em número correspondente ao de vagas existentes(...)
Segue-se o § 1º, revelando a forma, em si, de se apresentar candidato à eleição, em
chapa única, contendo a indicação de suplente.
O § 2º volta, também, a adentrar o campo eleitoral, obstaculizando o registro do
mesmo candidato em mais de uma circunscrição.
O artigo 6º impõe o domicílio eleitoral e, no inciso VI, também está imposta a
filiação, a precedência, considerado o pleito, de filiação partidária.
No artigo 7º, tem-se que a eleição do Juiz de Paz importa a eleição dos candidatos
a suplente; há regra para o desempate no § 2º, e que está ligada à eleição verificada.
O artigo 8º cogita da diplomação dos eleitos.
Poderia continuar examinando os demais artigos, Presidente, mas vislumbro o
que contido nos diversos dispositivos como a versar sobre matéria eleitoral, que deve
ser tratada, a meu ver, de forma linear, sem distinguir-se — muito embora seja favorável
a uma ênfase maior à Federação — esta ou aquela unidade da Federação.
Por isso, peço vênia aos colegas que dissentiram, para acompanhar o voto do
Relator, Ministro Eros Grau.
e nomear curador, funções defesas ao Juiz de Paz por força do preceito constitucio-
nal do art. 98, II.”
Atividade tipicamente jurisdicional essa de arrecadação, publicação de editais.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Vossa Excelência não está decidindo
lide nenhuma?
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Como?
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): A decisão é de natureza administrativa.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Tem a ressalva: até que intervenha a autoridade
competente.
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Ministro Carlos Velloso, estou sendo extrema-
mente federativo, tentando levar ao extremo o sentido dessas regras de competência.
Agora, numa interpretação mais complacente, não tenho dúvida nenhuma...
O Sr. Ministro Carlos Velloso: Acho que devemos acreditar na Federação. Veja
Vossa Excelência que o procedimento em matéria processual é de legislação concorrente.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Aqui, a arrecadação é no sentido material da
coisa, físico. É não deixar “o boi fugir”.
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Como é que ele faria? Nomearia um escrivão
ad hoc para lavrar o auto?
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Ele funciona como escrivão ad hoc.
O Sr. Ministro Carlos Velloso: O § 2º fala em escrivão ad hoc.
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Ministro Sepúlveda Pertence, fico muito
preocupado com a Federação. Não podemos dar elastério à regra de competência do
artigo n. 22. Isso é muito sério, é muito grave.
O Sr. Ministro Carlos Velloso: Vossa Excelência tem que compreender que o artigo
22 há de ser interpretado em consonância com o artigo 24, que cuida da competência
concorrente.
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Eu sei disso. Por isso antecipei, já que seria
vencido.
O Sr. Ministro Carlos Velloso: Precisamos atentar para os problemas que surgem.
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Para preservar um julgamento histórico, estamos
elastecendo a Federação.
O Sr. Ministro Carlos Velloso: Não. Estamos justamente acolhendo a autonomia
estadual.
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Queria observar o seguinte: o que diz o
preceito? Diz que compete ao Juiz de Paz, quer dizer, o Juiz de Paz passa a ter um poder
que, na verdade, é dever, passa a ter o dever de arrecadar bens de ausentes ou vagos até
que intervenha a autoridade competente, nomeando um escrivão. Que fique claro que
isso não é um poder, é um dever.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Como toda competência.
480 R.T.J. — 197
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Excelência, é óbvio que Juiz de Paz nos
Jardins de São Paulo é um ser absolutamente dispensável: são funções do Juiz de Paz
dos grotões.
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Mas a legislação é mineira, não é paulista, nem
gaúcha.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Vossa Excelência não quer dizer com
isso que a paz é ineficaz em São Paulo.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Exato.
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Eu disse, no meu voto — apenas para lembrar
o que falei ontem —, nada impedir que o Juiz de Paz seja nomeado perito, à luz do 145,
§ 3º. Não estou aceitando é que isso venha na legislação estadual, em homenagem ao
art. 22 da Constituição. Só isso.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Isso só pode ter o sentido de que, aí, será função
do cargo dele, e será o perito não remunerado quando puder ele fazer o que qualquer outro
cidadão minimamente qualificado poderia, mas com direito à remuneração.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Exato. Quem designa o perito é o juiz.
É uma questão, inclusive, de economia.
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Eu preferia um parágrafo a mais no art. 145 do
Código de Processo Civil.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Então Vossa Excelência mantém?
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Mantenho.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Apenas desrespeitando, data venia, em amor
ao art. 22, o art. 98, uma das poucas reservas explícitas de lei estadual que encontro
nesta Constituição “Federal”, quando nela se diz que, salvo funções jurisdicionais, o
juiz funcionará no casamento e na habilitação de casamento e exercerá outras funções
que lhe der a legislação.
Nesse contexto, legislação é legislação estadual.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Aliás, a Constituição usa o substantivo “legislação”
quase que invariavelmente nesse sentido de convergência federativa.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Sim. Ela exige quando é lei federal, assim
como está no parágrafo, referente a Juiz de Paz no Distrito Federal e na Justiça Federal.
EXTRATO DA ATA
ADI 2.938/MG — Relator: Ministro Eros Grau. Requerente: Procurador-Geral da
República. Requeridos: Governador do Estado de Minas Gerais e Assembléia Legislativa
do Estado de Minas Gerais.
Decisão: Prosseguindo no exame dos dispositivos impugnados na Lei n. 13.454,
de 12 de janeiro de 2000, do Estado de Minas Gerais, o Tribunal, por maioria, julgou
improcedente a ação quanto ao artigo 4º, vencidos os Ministros Carlos Britto, Marco
Aurélio e Celso de Mello. Por unanimidade, deu pela inconstitucionalidade integral do
artigo 6º, nos termos do voto do Relator. Em relação aos artigos 5º, 7º, 8º, 9º e 10, o
Tribunal, por maioria, julgou improcedente a ação, vencidos os Ministros Eros Grau
(Relator), Marco Aurélio e Celso de Mello. Quanto ao inciso VII do artigo 15, julgou,
por maioria, improcedente a ação, vencidos os Ministros Eros Grau (Relator) e Marco
Aurélio. Por unanimidade, julgou inconstitucional a expressão “e lavrar auto de pri-
são”, constante do inciso VIII do artigo 15, nos termos do voto do Relator; e, por
maioria, inconstitucional o remanescente do dispositivo, vencidos os Ministros Gilmar
Mendes, Carlos Velloso, Sepúlveda Pertence e Nelson Jobim. Em relação ao inciso IX
do mesmo artigo, o Tribunal, por unanimidade, julgou inconstitucional a ação. Por
maioria, julgou improcedente a ação em relação ao inciso X do artigo 15, vencidos os
Ministros Eros Grau (Relator) e Marco Aurélio, que davam interpretação conforme,
assim como, também por maioria, improcedente a ação quanto ao seu inciso XII,
vencidos os Ministros Eros Grau (Relator) e Marco Aurélio. Em relação ao § 2º do
artigo 15, o Tribunal, por maioria, julgou improcedente a ação, vencidos os Ministros
Eros Grau (Relator) e Marco Aurélio. E, quanto ao artigo 22, o Tribunal, por maioria,
julgou procedente a ação e declarou a inconstitucionalidade da expressão “e garante
direito a prisão especial, em caso de crime comum, até definitivo julgamento”, venci-
dos os Ministros Joaquim Barbosa e Carlos Velloso. Votou o Presidente, Ministro
Nelson Jobim. Redigirá o acórdão o próprio Relator. Ausente, justificadamente, o
Ministro Cezar Peluso. Presidiu o julgamento o Ministro Nelson Jobim.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Celso de Mello, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Gilmar Mendes,
Carlos Britto, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Vice-Procurador-Geral da República, Dr.
Antonio Fernando Barros e Silva de Souza.
Brasília, 9 de junho de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
R.T.J. — 197 485
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, sob a Presidência do Ministro Nelson Jobim, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de
votos, julgar procedente, em parte, a ação, para declarar a inconstitucionalidade da
expressão “e feriado para todos os efeitos legais”, contida no artigo 2º da Lei n. 3.083,
de 7 de outubro de 2002, do Distrito Federal, nos termos do voto da Relatora.
Brasília, 24 de novembro de 2005 — Ellen Gracie, Relatora.
RELATÓRIO
A Sra. Ministra Ellen Gracie: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade
proposta pelo Governador do Distrito Federal em face da Lei 3.083, de 7-10-02, que
passa a considerar, naquela unidade da Federação, o dia 30 de outubro data comemora-
tiva (Dia do Comerciário) e feriado para todos os efeitos legais.1
VOTO
A Sra. Ministra Ellen Gracie (Relatora): 1. Examino, inicialmente, a preliminar de
conhecimento levantada nas informações prestadas pela Câmara Legislativa do Distrito
Federal, que sustenta a presença, nesta ação, de um mero questionamento sobre a
conformação do ato normativo atacado ao teor da lei federal que dispôs sobre feriados,
pretensão inviável em sede de controle concentrado de constitucionalidade de normas.
A Lei 9.093, de 12-9-95, definiu quais são os feriados brasileiros, divididos entre
civis (i - os declarados em lei federal; ii - as datas magnas dos Estados, fixadas em lei
estadual; e iii - os dias do início e do término do ano do centenário de fundação do
município, fixados em lei municipal) e religiosos (dias de guarda, declarados em lei
municipal, de acordo com a tradição local e em número não superior a quatro, neste
incluída a Sexta-Feira da Paixão).
Note-se que o referido Diploma representa a instituição das hipóteses de feriado,
exaustivamente enumeradas pelo legislador federal, que delegou à lei estadual, no caso
da data magna, e à lei municipal, nos casos do ano do centenário e dos dias de guarda,
tão-somente a fixação dos dias em que deverão recair aqueles feriados previamente
concebidos. Estaríamos no campo da ilegalidade, por exemplo, se em discussão a
eleição deste ou daquele dia do ano como a data magna do Distrito Federal.
Não é o caso dos autos.
Aqui, há a instituição de um novo feriado civil por meio de lei distrital, com todos
os efeitos daí decorrentes. É norma local que busca coexistir, no mundo jurídico, com
lei federal preexistente, não para complementação, mas para somar nova e independente
hipótese de feriado civil.
Rejeito, portanto, a preliminar ora tratada.
2. No tocante ao mérito, não verifico inconstitucionalidade alguma na escolha,
pelo legislador distrital, do dia 30 de outubro como data comemorativa em homenagem
à categoria dos comerciários do Distrito Federal. Aliás, desde 1932 esta data é nacio-
nalmente considerada dia do comerciário, por coincidir com a publicação no Diário
Oficial do Decreto-Lei 4.042, que reduziu a jornada diária de trabalho da referida
categoria de doze para oito horas e regulamentou o funcionamento do comércio.
3. Por outro lado, ainda sob a égide das Constituições anteriores, o Supremo
Tribunal Federal já assentava que implícito ao poder privativo da União de legislar
sobre Direito do Trabalho estava o de “decretar feriados civis, mediante lei federal
ordinária” (AI 20.423, Rel. Min. Barros Barreto, DJ de 24-6-59), por envolver tal
iniciativa “conseqüências nas relações empregatícias e salariais” (Representação
1.172, Rel. Min. Rafael Mayer, DJ de 3-8-84). A Constituição Federal de 1988, em
continuidade a esta sistemática, estabelece a competência privativa da União para
legislar sobre temas de Direito do Trabalho, aí incluído, segundo a jurisprudência
apontada, a criação de feriado civil, pois este, como bem ressaltou o parecer da douta
PGR, “institui um dia de descanso remunerado para os trabalhadores, fazendo surgir
obrigações para os empregadores” (fl. 33).
4. Diante do exposto, detectada a presença de vício formal pela invasão de
competência privativa da União pelo legislador distrital, julgo procedente, em parte,
o pedido para declarar a inconstitucionalidade da expressão “e feriado para todos os
efeitos legais”, contida no art. 2º da Lei 3.083/02, do Distrito Federal.
É como voto.
488 R.T.J. — 197
EXTRATO DA ATA
ADI 3.069/DF — Relatora: Ministra Ellen Gracie. Requerente: Governador do
Distrito Federal (Advogados: PGDF – Maria Dolores Serra de Mello Martins e outro).
Requerida: Câmara Legislativa do Distrito Federal.
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, julgou procedente, em parte, a ação, para
declarar a inconstitucionalidade da expressão “e feriado para todos os efeitos legais”,
contida no artigo 2º da Lei n. 3.083, de 7 de outubro de 2002, do Distrito Federal, nos
termos do voto da Relatora. Votou o Presidente, Ministro Nelson Jobim. Ausentes,
justificadamente, os Ministros Sepúlveda Pertence, Celso de Mello e Gilmar Mendes.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Carlos
Velloso, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Cezar Peluso, Carlos Britto, Joaquim Barbosa e
Eros Grau. Vice-Procurador-Geral da República, Dr. Roberto Monteiro Gurgel Santos.
Brasília, 24 de novembro de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, por seu Tribunal Pleno, sob a Presidência do Ministro Nelson Jobim,
na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de
votos, julgar improcedente a ação quanto ao parágrafo único do artigo 25 da Lei
Complementar n. 836/97. Também por unanimidade, julgar parcialmente procedente a
ação quanto ao inciso X do artigo 64, acrescentado pelo artigo 46 da Lei Complementar
n. 836, de 2 de dezembro de 1997, à Lei Complementar n. 444, de 27 de dezembro de
1985, ambas do Estado de São Paulo, restando declarada a inconstitucionalidade da
seguinte expressão: “Na hipótese de o afastamento ocorrer sem prejuízo de vencimentos,
o Município ressarcirá ao Estado os valores referentes aos respectivos contra-cheques,
bem como aos encargos sociais correspondentes, com recursos provenientes do repasse
do Fundo de Desenvolvimento e Manutenção do Ensino Fundamental”, tudo nos
termos do voto do Relator. Votou o Presidente.
Brasília, 24 de agosto de 2005 — Carlos Ayres Britto, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto: O Governador do Estado de São Paulo
ajuíza a presente ação direta de inconstitucionalidade. Ação, essa, que impugna o
parágrafo único do art. 25 e o art. 46, caput, da Lei Complementar paulista de n.
836, de 2 de dezembro de 1997, que instituiu o Plano de Carreira, Vencimentos e
Salários dos servidores públicos integrantes do Quadro do Magistério da Secretaria
de Educação.
2. Os dispositivos questionados exibem a seguinte redação:
490 R.T.J. — 197
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto (Relator): 7. Vê-se que o Governador do Estado
de São Paulo pugna pela declaração de inconstitucionalidade do parágrafo único do
artigo 25 e do caput do artigo 46 da Lei Complementar n. 836/97. Para tanto, sustenta
violação às alíneas a e c do inciso II do § 1º do artigo 61 da Lei Maior do País.
8. Pois bem, com os olhos postos no caso concreto, observo que o parágrafo único
do art. 25 da Lei Complementar n. 836/97 dispõe sobre a composição da chamada
“Comissão de Gestão da Carreira do Magistério”, órgão, esse, que deverá ser
paritariamente constituído por representantes da Secretaria da Educação e das entida-
des de representação. Mais: do exame do caput desse mesmo art. 25, infere-se que o pré-
falado comitê foi instituído para auxiliar o Poder Público no estabelecimento de
critérios garantidores da evolução funcional dos funcionários que integram a carreira
do magistério público1.
9. Bem vistas as coisas, é do meu pensar que o desate da controvérsia em torno da
validade do parágrafo único do art. 25 da Lei Complementar n. 836/97 dispensa
qualquer estudo que vise a detectar se esse dispositivo legal realmente tratou sobre
qualquer das matérias arroladas nas letras a e c do inciso II do § 1º do art. 61 da Lex
Legum. Assim me posiciono porque, segundo noticiou o próprio requerente (fl. 03), o
diploma normativo sob comento resultou de Projeto de Lei Complementar de autoria
do Poder Executivo paulista.
10. De outra banda, as normas constitucionais de processo legislativo não impos-
sibilitam, em regra, a modificação, por meio de emendas parlamentares, dos projetos de
lei enviados pelo Presidente da República no exercício constitucional de sua iniciativa
exclusiva. Essa atribuição do Poder Legislativo brasileiro esbarra, porém, em duas
limitações: a) a impossibilidade de o parlamento veicular matérias diferentes da tratada
no projeto de lei, de modo a desfigurá-la, e, b) a impossibilidade de as emendas
parlamentares aos projetos de lei de iniciativa do Presidente da República, ressalvado
o disposto nos §§ 3º e 4º do art. 166, implicarem aumento de despesa pública (CF, art.
63, I).
11. Seja como for, o fato é que não diviso qualquer inconstitucionalidade no
parágrafo único do art. 25 da Lei Complementar n. 836/97, do Estado de São Paulo.
Primeiro, porque esse diploma legal é fruto de um projeto de lei de autoria do Poder
Executivo e, segundo, porque o impugnado parágrafo único do art. 25, embora decor-
rente de uma emenda parlamentar, não acarreta nenhum aumento da despesa pública.
12. Debruço-me, agora, sobre a argumentação manejada para impugnar o art. 46
da multi-referida Lei Complementar n. 836/97, do Estado de São Paulo. Esse dispositivo
legal, repise-se, introduziu o inciso X no art. 64 da Lei Complementar n. 444, de 27 de
dezembro de 1985, do Estado de São Paulo, cujo teor é seguinte:
1 “Art. 25. Fica instituída, na Secretaria da Educação, Comissão de Gestão da Carreira, com a
atribuição de propor critérios para a Evolução Funcional e demais providências relativas ao assunto, na
forma a ser estabelecida em regulamento”.
492 R.T.J. — 197
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Senhor Presidente, o Relator ressaltou dois aspec-
tos fundamentais. O parágrafo inserido tem a ver com a cabeça do artigo, que resultou
de projeto do Executivo e não gera, em si, aumento de despesa. A concluir-se que a
norma da iniciativa é peremptória, chegaremos ao ponto de entender que, tramitando o
projeto, não pode haver qualquer modificação na Casa Legislativa, a quem cabe tão-
somente placitar o que fora enviado pelo Executivo.
Sob o ângulo da razoabilidade, a boa procedência da inserção salta aos olhos,
porque, ao se disciplinar a Comissão de Gestão da Carreira sem definir-se o número de
participantes, versou-se sobre a integração de representantes do magistério. Algo
salutar e que observamos na vida administrativa em geral, ou seja, quando se imagina
um trabalho para melhor se estruturar a carreira, para melhor se implementar a carreira,
conta-se com a participação dos diretamente interessados, e incumbirá à Administração
Pública definir o número de representantes na regulamentação, no prazo razoável de
sessenta dias.
Acompanho o Relator, julgando improcedente o pedido formulado.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): A controvérsia proposta é que o caput
do artigo estabelecia:
“Art. 25. Fica instituída, na Secretaria da Educação, Comissão de Gestão
da Carreira, com a atribuição de propor critérios para a Evolução Funcional e
demais providências relativas ao assunto, na forma a ser estabelecida em regula-
mento.”
Ou seja, no projeto, é reservado ao regulamento a definição da composição dessa
gestão de carreira. O Relator e o Min. Marco Aurélio sustentam que o parágrafo
meramente estabeleceu a composição e não estaria fora da atribuição de emendas.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Observando até a ordem natural das coisas, a
natureza da comissão a ser constituída.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Apenas se impôs uma limitação na sua
composição.
494 R.T.J. — 197
O Sr. Ministro Carlos Britto (Relator): Que seria paritária, porque a Constituição
Federal consagra o princípio da gestão paritária do ensino no inciso VI do art. 206,
expressamente.
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Além do que, nesse caso, a cláusula do art. 25
estava totalmente aberta. Não tinha, na verdade, uma delegação. Segundo a ortodoxia,
mais declamado na doutrina do que na prática constitucional, essas fórmulas, na
verdade, contêm delegação indevida. De modo que até nesse sentido parece dar um
mínimo de parâmetros.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Chamaria a atenção para a primeira vez
que isso surgiu no Tribunal. Lembrem-se da antiga Súmula n. 05 do Supremo Tribunal
Federal, que estabelecia aquele problema da sanção do projeto, supre a falta de iniciativa,
etc. Essa orientação do Tribunal acabou sendo alterada na Representação n. 890,
Relator Oswaldo Trigueiro, de 27 de março de 1974, porque, naquele momento, já
estava em vigor a Constituição de 1967, que havia reproduzido uma norma surgida no
Ato Institucional n. 2 determinando, pura e simplesmente, a proibição de emendas
parlamentares que aumentassem despesa.
Então, entendeu-se que a sanção do Executivo não superava a proibição ao Poder,
estabelecida na Constituição de 67. Curiosamente, tive oportunidade de fazer uma
pesquisa — e não recorri ao Ministro Sepúlveda Pertence, que tem a memória do Tribunal —,
e, depois, essa tese, que se restringia exclusivamente à questão relativa à despesa,
acabou se estendendo a todas as outras sanções do Presidente sobre alterações que
fossem feitas em projeto de sua iniciativa, mesmo quando não importassem em aumento
de despesa.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: O critério mais presente à jurisprudência do
Tribunal é o da pertinência, sem a qual seria inócua a própria regra de iniciativa
reservada.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: De iniciativa, com uma modificação substancial.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Se uma proposta de regra sobre vantagens de
servidores públicos, de iniciativa reservada ao Executivo, fosse dado emendar para
criar órgãos novos, obviamente estaria esvaziada a iniciativa, também privativa do
Executivo, para projetos de criação de órgãos administrativos. No caso, o que se tem? A
iniciativa da criação do órgão é do Executivo, com uma delegação ampla ao Governo
para regulamentá-lo como bem entender. Impôs-se, por emenda parlamentar, um caráter
paritário à composição dessa comissão. Não vejo nenhuma inconstitucionalidade.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Duas palavras apenas: apanhou bem o Ministro
Sepúlveda Pertence. Retifico o que lancei no voto, quanto ao número de integrantes. A
composição é paritária. A paridade visa ao equilíbrio. A comissão só tem a atribuição
de propor.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Não é vinculante.
Há um aspecto também a ser suscitado, que foi levantado da tribuna, em relação
ao parágrafo único na parte final.
O caput do artigo diz: “na forma a ser estabelecida em regulamento”.
R.T.J. — 197 495
EXTRATO DA ATA
ADI 3.114/SP: Relator: Ministro Carlos Britto. Requerente: Governador do Estado
de São Paulo (Advogado: PGE/SP – Elival da Silva Ramos). Requerida: Assembléia
Legislativa do Estado de São Paulo.
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, julgou improcedente a ação em relação ao
parágrafo único do artigo 25 da Lei Complementar n. 836/97. Também por unanimidade,
o Tribunal julgou parcialmente procedente a ação em relação ao inciso X do artigo 64,
acrescentado pelo artigo 46 da Lei Complementar n. 836, de 2 de dezembro de 1997, à
Lei Complementar n. 444, de 27 de dezembro de 1985, ambas do Estado de São Paulo,
tendo declarado a inconstitucionalidade da seguinte expressão: “Na hipótese de o
afastamento ocorrer sem prejuízo de vencimentos, o Município ressarcirá ao Estado os
valores referentes aos respectivos contra-cheques, bem como aos encargos sociais
correspondentes, com recursos provenientes do repasse do Fundo de Desenvolvimento
e Manutenção do Ensino Fundamental”, tudo nos termos do voto do Relator. Votou o
Presidente, Ministro Nelson Jobim. Falou pelo requerente o Dr. Marcos Ribeiro de
Barros, Procurador do Estado.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Celso de Mello, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Gilmar Mendes,
Cezar Peluso, Carlos Britto, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Procurador-Geral da Repú-
blica, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza.
Brasília, 24 de agosto de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, por seu Tribunal Pleno, sob a Presidência do Ministro Nelson Jobim,
na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de
votos, negar provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 6 de outubro de 2005 — Carlos Ayres Britto, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto: Trata-se de agravo regimental contra decisão que,
baseada na parte final do § 1º do art. 21 do RI/STF, negou seguimento à ação popular
ajuizada originariamente, nesta egrégia Corte, contra o Presidente da República.
2. A inicial, em resumo, reporta-se às notícias da imprensa, acerca da suposta
“existência de um esquema denominado ‘mensalão', mesada de R$ 30.000,00 (trinta
mil reais) que seria distribuída a parlamentares pelo tesoureiro do ‘Partido dos
Trabalhadores', senhor Delúbio Soares”.
3. Esclareço que neguei seguimento ao pedido porque, segundo a jurisprudência
da Casa, o processo e o julgamento de ações populares não se incluem, em regra, na
esfera de competência originária do Supremo Tribunal Federal, mesmo que o ato
alvejado seja imputável ao primeiro mandatário do País.
4. Pois bem, no presente agravo o autor popular vale-se do art. 113 do CPC para
requerer a definição do Juízo competente e, em conseqüência, a remessa a este dos
respectivos autos.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto (Relator): Sem razão o agravante, conforme se
depreende da notável decisão do Ministro Celso de Mello, lançada em 22-3-2005, nos
Embargos de Declaração na Petição n. 3.326, in verbis:
R.T.J. — 197 501
“(...)
Não cabe, ao Relator da causa, considerados os limites fixados no art. 21, §
1º, do RISTF, em se registrando a hipótese de incompetência do Supremo
Tribunal Federal, indicar qual o magistrado ou o Tribunal a quem possa incumbir
o exercício da respectiva competência jurisdicional.
Cabe assinalar, neste ponto, por necessário, que esse entendimento encon-
tra apoio em orientação jurisprudencial firmada pelo Supremo Tribunal Federal,
cujas decisões, no tema, têm proclamado a inaplicabilidade, no âmbito desta
Corte, do art. 113, § 2º, do CPC (AO 175-AgR-ED/RN, Rel. Min. Octavio
Gallotti — Inq 1.793-AgR/DF, Rel. Min. Ellen Gracie, Pleno — MS 23.621-
AgR/RS, Rel. Min. Moreira Alves, Pleno — MS 24.261/DF, Rel. Min. Celso de
Mello — Pet 2.160/SP, Rel. Min. Moreira Alves, DJ de 19-3-2001):
“(...) quanto ao envio dos autos ao Tribunal, que ao Relator parecer
competente, por força do disposto no art. 113, § 2º, do Código de Processo
Civil, não é de ser determinado, por inaplicável tal norma no STF, pois,
nos termos do § 1º do art. 21 de seu Regimento Interno, deve o Relator, em
caso de incompetência da Corte, limitar-se a negar seguimento ao pedido,
como se fez no caso.
Vários julgados do STF explicam a razão por que tal providência
(remessa dos autos, pelo Relator, ao Juízo ou Tribunal, que lhe parecer
competente) não será, necessariamente, tomada: é que, se o fizer, acabará
resolvendo, em caráter definitivo, irreversível, questão sobre a competên-
cia de um Juízo ou Tribunal, sem que aquele ou este tenha tido oportunidade
de admiti-la ou rejeitá-la e sem ensejar às partes interessadas a discussão
do tema nas instâncias próprias e nas subseqüentes, inclusive na extraor-
dinária.
Com esse entendimento, ademais, procura a Corte evitar que, medi-
ante ações ou petições, a ela originariamente apresentadas, seja convertida
em orientadora da parte sobre qual seja o Juízo ou Tribunal competente,
quando tenha dúvida a respeito (...)”.
(MS 22.313-AgR-ED/BA, Rel. Min. Sydney Sanches, Pleno — grifei)
“Medida cautelar — Incompetência do Supremo Tribunal Federal —
Pretendido encaminhamento do processo ao juízo competente — Inaplica-
bilidade do art. 113, § 2º, do CPC — Incidência, na espécie, do art. 21, § 1º
do RISTF — Recurso de agravo improvido.
— Revela-se inaplicável, no âmbito do Supremo Tribunal Federal, o
art. 113, § 2º, do CPC, eis que o art. 21, § 1º do RISTF estabelece que o
Relator da causa, na hipótese de incompetência deste Tribunal, deve limi-
tar-se a negar seguimento ao pedido, sem ordenar, contudo, o encaminha-
mento dos autos ao juízo competente, sob pena de o Supremo Tribunal
Federal converter-se, indevidamente, em órgão de orientação e consulta das
partes, em tema de competência, quando estas tiverem dúvida a respeito de
tal matéria. Precedentes.
502 R.T.J. — 197
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das
notas taquigráficas, por maioria, conhecer da segurança, vencido o Ministro Joaquim
Barbosa, e, por unanimidade, indeferi-la nos termos do voto do Relator.
Brasília, 4 de agosto de 2004 — Nelson Jobim, Presidente — Marco Aurélio,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Insurge-se o impetrante contra desconto efetuado
nos respectivos proventos, considerada a glosa do Tribunal de Contas e ato do Diretor
do Departamento de Pessoal da Câmara dos Deputados. Argumenta com o disposto no
artigo 45 da Lei n. 8.112/90. Informa estar aguardando a propositura da execução fiscal
para ajuizar embargos à execução. Sob o ângulo da competência, evoca a alínea d do
inciso I do artigo 102 da Constituição Federal. Pleiteia a concessão de liminar quanto
à suspensão dos descontos, requerendo o deferimento da segurança em definitivo para
ter como intangível o que percebido (folhas 2 a 5). À inicial juntaram-se os documentos
de folhas 6 a 16.
À folha 19, o Ministro Maurício Corrêa, a quem sucedi na Relatoria deste processo,
deferiu a medida acauteladora, consignando o concurso do sinal do bom direito e do
risco de manter-se com plena eficácia o quadro, tendo em conta a natureza alimentar
dos proventos.
Aos autos vieram as informações de folhas 29 a 33, asseverando o Diretor do
Departamento de Pessoal da Câmara dos Deputados que, na oportunidade da comuni-
504 R.T.J. — 197
cação da liminar, a primeira parcela do débito já havia sido descontada. Sustenta que
apenas deu cumprimento à decisão da Segunda Câmara do Tribunal de Contas da
União, razão pela qual não teria praticado ato autônomo que o caracterizasse como
autoridade coatora. Alude às disposições da Lei n. 8.112/90, valendo-se da melhor
doutrina quanto à responsabilidade patrimonial do servidor público, quer se encontre
na atividade, quer aposentado. Cita Maria Sylvia Zanella Di Pietro.
À folha 37, tem-se ofício do Tribunal de Contas, mediante o qual se encaminha-
ram os documentos de folhas 38 a 76. Aponta-se que a 3ª Secretaria de Controle
Externo apenas endereçou à Câmara dos Deputados ofício, dando-lhe ciência da
decisão proferida pela Corte. Sob tal ângulo, não se chega a articular a impropriedade
de a Secretaria haver sido apontada como órgão coator. Em passo seguinte, busca-se
demonstrar a inexistência de ato impositivo dos descontos, cuja feitura pela Câmara
dos Deputados, a teor do item 9.5, teria-se simplesmente autorizado, em face do
disposto no artigo 46 da Lei n. 8.112/90. Analisa-se o sentido vernacular do vocábulo
“autorizar”, tecendo-se considerações sobre a incompetência desta Corte para julgar o
mandado de segurança, no que, em última análise, direcionado contra ato do Diretor do
Departamento de Pessoal da Câmara dos Deputados. Afirma-se que o Tribunal de
Contas da União não procurou executar a própria decisão. Evoca-se a Lei n. 8.443/92,
ressaltando-se mais uma vez a inexistência de determinação da Corte. Alega-se não
haver surgido dúvida quanto ao débito envolvido na espécie, citando-se precedentes
sobre a responsabilidade do Estado e informando-se não se ter hipótese enquadrável no
precedente decorrente do julgamento do Recurso Extraordinário n. 223.037. A Corte,
repita-se o que consignado, não estaria a executar a própria decisão. Menciona-se a
postura adotada pelo impetrante, no que requereu a prorrogação do prazo para o
recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional. Apregoa-se o indeferimento da
liminar. Anexaram-se documentos.
A Procuradoria-Geral da República, mediante peça subscrita pelo Procurador-
Geral, Professor Claudio Fonteles, preconiza a conclusão sobre a ilegitimidade passiva
do Tribunal de Contas da União e, em conseqüência, a extinção do feito sem exame do
mérito. Ultrapassada a preliminar, o parecer é pela concessão da ordem. Eis a síntese do
que lançado:
Decisão do TCU autorizando o desconto do valor de indenização ao erário
diretamente sobre a folha de pagamento de servidor inativo. Ato implementado
por Diretor da Câmara dos Deputados sem a anuência do particular. Alegação de
ofensa ao art. 45 da Lei 8.112/90. Julgado do TCU que não se reveste de natureza
impositiva. Ato subseqüente do agente público dotado de autonomia, configurando
o verdadeiro “ato coator”. Ilegalidade passiva do TCU e conseqüente extinção do
feito sem exame do mérito, Sobre a questão de fundo, a Corte de contas não pode
executar seus julgados diretamente. O desconto pede a autorização do particular,
pois não possui previsão legal (folha 79).
Em 15 de setembro, declarei-me habilitado a proceder ao relato deste mandado de
segurança e a proferir voto (folha 89).
É o relatório.
R.T.J. — 197 505
VOTO
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): A questão sobre a natureza do ato do
Tribunal de Contas está diretamente vinculada à competência desta Corte para julgar o
mandado de segurança. Coloco em plano secundário a circunstância de, no intróito da
peça inicial, haver-se aludido a atos da 3ª Secretaria de Controle Externo do Tribunal
de Contas da União. No arrazoado apresentado, alude-se à decisão do Tribunal que, nas
informações, após haver consignado o fato, concluiu pela inexistência de prejuízo
maior ao exame da impetração. Assim, a ausência de autonomia da Secretaria é
conducente a ter-se a impetração como direcionada contra ato do próprio Tribunal de
Contas da União, que, inclusive, prestou as informações.
Cumpre, então, definir a natureza do ato praticado. Nas informações, o diretor do
Departamento de Pessoal da Câmara afirmou haver simplesmente cumprido a determi-
nação do Tribunal de Contas. Realmente, o item 9.5 do acórdão proferido consigna a
autorização para o imediato desconto das importâncias devidas, observado o disposto
no artigo 46 da Lei n. 8.112/90 (folha 40). Na verdade, em que pese haver-se utilizado
o vocábulo “autorizar”, tem-se determinação da Corte de Contas, que condenou o
impetrante solidariamente a satisfazer certo valor — item 9.4 (folha 40) — para, a
seguir, versar sobre o desconto. Ora, é a própria Lei n. 8.443/92, disciplinadora da
atuação do Tribunal de Contas, que prevê, no inciso I do artigo 28, caber-lhe “determi-
nar o desconto integral ou parcelado da dívida nos vencimentos, salários ou proventos
do responsável, observados os limites previstos na legislação pertinente”. Em síntese,
a literalidade do que contido no acórdão cede lugar à definição legal do ato praticado
pelo Tribunal de Contas. Concluo, portanto, estar-se diante de ato concreto do Tribu-
nal de Contas da União, muito embora lançado sob o eufemismo da simples autoriza-
ção. Na verdade, por força de lei, deu-se a determinação do desconto, entendendo-se a
cláusula 9.6 do acórdão como a encerrar simples possibilidade — excepcionalíssima,
na espécie — de a forma do desconto não surtir efeitos, quando, então, ter-se-ia a
cobrança judicial da dívida, prevista no inciso II do artigo 28 da Lei n. 8.443/92, como
passível, esta sim, de autorização pelo Tribunal de Contas. Admito-o como autoridade
coatora e firmo a competência da Corte.
No mais, improcede o inconformismo do impetrante. A Lei n. 8.112/90 autoriza o
desconto, quer se tenha o envolvimento de remuneração, quer de proventos ou de
pensão. A tanto equivale a referência, na cabeça do artigo 45, a remuneração ou
provento e, no artigo 46, a pensionista. Pois bem, a espécie está enquadrada na previsão
de lei acerca do desconto, conforme visto, contemplado no inciso I do artigo 28 da Lei
n. 8.443/92, sendo dispensável, por isso mesmo, a manifestação de vontade de servidor
ativo, inativo, ou de pensionista.
Indefiro a segurança.
EXTRATO DA ATA
MS 24.544/DF — Relator: Ministro Marco Aurélio. Impetrante e Advogado: João
Cyrino Filho. Impetrados: 3ª Secretaria de Controle Externo do Tribunal de Contas da
União e Diretor do Departamento de Pessoal da Câmara dos Deputados.
506 R.T.J. — 197
VOTO (Vista)
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: O parecer da Procuradoria-Geral da República
(fls. 79-87), que adoto como relatório, bem sintetizou a controvérsia:
“Trata-se de mandado de segurança, com pedido de liminar, impetrado por
João Cyrino Filho em face de ordem que determina o desconto em seus
proventos diretamente na folha de pagamento, ato tido por ilegal e atribuído ao
Tribunal de Contas da União e ao Diretor do Departamento de Pessoal da
Câmara dos Deputados.
Segundo informa o impetrante no arrazoado inicial, detém ele a condição de
servidor aposentado da Câmara dos Deputados. Teve seus proventos atingidos
por desconto em atenção a ordem do Diretor do Departamento de Pessoal daquela
Casa Parlamentar ante a sua condenação em feito promovido no âmbito do
Tribunal de Contas da União.
Indicando que não houve de sua parte autorização para a implementação do
desconto, o impetrante invoca o preceito do art. 45, da Lei n. 8.112/90. Pede, além
do deferimento da medida liminar que suste a ordem de desconto, a concessão do
writ para tornar sem efeito o ato do segundo impetrado.
Recebido no Supremo Tribunal, o feito foi levado ao exame do Eminente
Ministro Maurício Corrêa. O pedido de cautela foi deferido, afastando-se a
ordem de desconto até o final julgamento desta. Foram prestadas informações
pelas autoridades impetradas a fls. 29-33 e 38-49. Os autos foram distribuídos a
Vossa Excelência, em substituição ao Relator original - fls. 77.”
O feito foi chamado a julgamento perante o Plenário em 17-3-2004. Naquela
assentada, o ilustre Relator, Ministro Marco Aurélio, após conhecer da impetração,
indeferiu a segurança, nos seguintes termos:
“No mais, improcede o inconformismo do impetrante. A Lei n. 8.112/90
autoriza o desconto, quer se tenha o envolvimento de remuneração, quer de
proventos ou de pensão. A tanto equivale a referência, na cabeça do artigo 45, a
remuneração ou provento e, no artigo 46, a pensionista. Pois bem, a espécie está
enquadrada na previsão de lei acerca do desconto, conforme visto, contemplado
R.T.J. — 197 507
9.6 caso a medida determinada no item 9.3 não surta efeito, autorizar, desde
logo, nos termos do art. 28, II, da Lei 8443, de 1992, a cobrança judicial da dívida,
atualizada monetariamente, a partir do dia seguinte ao término do prazo ora
estabelecido, até a data do recolhimento, caso não atendida a notificação, na
forma da legislação em vigor;”
Deve-se ressaltar, portanto, que o ato praticado pela Corte de Contas consiste em
mero encaminhamento, ao Senado, de cópia do citado acórdão proferido em procedi-
mento de tomada de contas especial, a fim de que a autoridade administrativa do
Legislativo tomasse ela própria as providências necessárias para o ressarcimento ao
Erário, promovendo os descontos nos vencimentos ou proventos dos servidores res-
ponsáveis.
Extraio inicialmente a conclusão de que o Tribunal de Contas da União não
praticou diretamente ato lesivo ao interesse do impetrante, a partir do simples exame do
trâmite administrativo observado entre a Corte de Contas e o Congresso Nacional. De
fato, nota-se que o ofício do TCU, inserido à fl. 10, foi endereçado ao Diretor-Geral do
Senado. Isso porque os recursos públicos cuja não-prestação de contas deu ensejo à
tomada de contas especial do TCU consistiram em subvenção e auxílio financeiro
recebido do Senado Federal, recursos esses destinados à Cooperativa do Congresso
Ltda., da qual o impetrante era um dos responsáveis. Ocorre que o impetrante não é
funcionário do Senado Federal, mas integrante do quadro de inativos da Câmara dos
Deputados (fl. 12). Por esse motivo, não tendo os responsáveis pelos débitos quitado
suas dívidas (fl. 12), o Senado levou o fato ao conhecimento da Câmara dos Deputados
(fl. 09). Esta, por intermédio de sua Coordenadoria de Pessoal, iniciou o desconto nos
proventos do impetrante, na importância de R$ 12.318,97, em 17 parcelas de R$
759,65.
Concordo, assim, com o parecer do ilustre Procurador-Geral da República quando
S. Exa. assim se manifesta:
“Conforme enaltecem as informações prestadas pelo Diretor do Departa-
mento de Pessoal da Câmara dos Deputados, a ordem de desconto não decorre
diretamente da decisão promovida pelo Tribunal de Contas da União. A conduta
da direção de pessoal da Câmara baixa se reveste de suficiente autonomia para
inviabilizar raciocínio que envolva a Corte de Contas na ordem de desconto.
O teor da deliberação da Segunda Câmara do Tribunal de Contas serve de
substrato ao comando emitido pelo Diretor de Pessoal, mas a coerção, efetivamente,
está cingida ao ato desse último. Veja-se, nessa linha, breve trecho das informa-
ções prestadas pelo segundo impetrado: ‘Tomando conhecimento das decisões
proferidas no Acórdão n. 259/2003 da Segunda Câmara do TCU, e tendo em
vista os mencionados artigos da Lei n. 8.112/1990, o Diretor do Departamento
de Pessoal da Câmara dos Deputados determinou que os órgãos competentes
providenciassem o quanto necessário para se realizarem os descontos sobre a
remuneração do Impetrante...’ - fls. 31.
Exame do ofício emitido pelo Tribunal de Contas da União, juntado pelo
impetrante a fls. 10, bem demonstra que a sua decisão foi apenas levada ao
R.T.J. — 197 509
de contas especial, em que houve plena garantia ao direito de ampla defesa do impetrante,
tendo este atuado no referido procedimento também como advogado.
A garantia à ampla defesa pode ser verificada no acórdão do TCU, publicado no
Diário Oficial da União em 18 de março de 2003 (fls. 34-35). Confira-se:
“Ementa: Tomada de Contas Especial. Auxílio e Subvenção Social repassa-
dos pelo Senado Federal. Cooperativa do Congresso Ltda. Omissão na prestação
de contas. Apresentação de novos elementos de defesa. Rejeição da defesa apre-
sentada por um dos responsáveis. Recolhimento do débito pelos gestores de
1986. Contas irregulares. Quitação, Rejeição da defesa apresentada pelos
gestores de 1987. Contas irregulares. Débito solidário. Autorização para desconto
das dívidas da remuneração dos responsáveis.
(...)
Relatório
(...)
4. Em atendimento às citações realizadas, os responsáveis apresentaram
alegações de defesa (vol. II dos autos).
(...)
5.1 Na mesma oportunidade foram rejeitadas as alegações de defesa apre-
sentadas pelos responsáveis Sres João Cyrino Filho, Oton Queiroz Mendes e
Walter Sotero Franco, uma vez que não lograram elidir a irregularidade carac-
terizada pela omissão no dever legal de prestar contas e, por conseqüência, a
irregular aplicação dos recursos concedidos pelo Senado Federal, a título de
subvenção social e auxílio financeiro, no exercício de 1987, à Cooperativa do
Congresso Ltda.
(...)
6.1 Também inconformados, os Sres João Cyrino Filho, Oton Queiroz Men-
des e Walter Sotero Franco apresentaram documentação intitulada “reconsidera-
ção” (vol. 6), que foi recebida como novos elementos de defesa, com fulcro no
disposto nos §§ 1º e 2º do art. 23 da Resolução TCU.
(...)
Voto:
(...)
Quanto aos responsáveis pela gestão e prestação de contas dos recursos
concedidos pelo Senado Federal no exercício de 1987, não havendo os mesmos
obtido êxito em justificar a ausência de prestação de contas dos recursos nem
apresentação de documentos que demonstrassem seu correto emprego, cabível o
julgamento pela irregularidade de suas contas, bem como a condenação ao
ressarcimento solidário do débito.”
Por outro lado, o mencionado acórdão trouxe, em seu dispositivo, autorização
expressa para que fossem adotadas as medidas cabíveis visando ao ressarcimento ao
R.T.J. — 197 511
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Senhor Presidente, duas palavras apenas,
não vou sustentar nem reiterar as razões do meu voto.
O Tribunal de Contas atuou a partir do inciso I do artigo 28 da Lei n. 8.443/92,
que disciplina a respectiva atividade e dispõe que compete a ele, Tribunal de Contas,
determinar o desconto integral ou parcelado da dívida nos vencimentos, salários ou
proventos do responsável, observados os limites fixados na legislação pertinente. Mais
do que isso, o inciso II daquele artigo 28 versa sobre a cobrança judicial da dívida
quando não possível o desconto — hipótese raríssima — e prevê também que essa
cobrança se dá a partir de manifestação da Corte de Contas.
É certo que, no ofício, ou talvez mesmo no acórdão, utilizou-se vocábulo um
pouco impróprio: que estaria o Tribunal de Contas da União a “autorizar” o desconto.
Porém, tal autorização decorreu do inciso I referido; em última análise, mostrou-se uma
verdadeira determinação. Daí admitir o Tribunal de Contas da União como parte
legítima.
512 R.T.J. — 197
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): O Tribunal de Contas determinou que fosse
cobrado; autorizou fosse descontado em folha pela forma de executar a determinação.
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Então, o impetrado, diretor do Departa-
mento de Pessoal da Câmara dos Deputados, disse haver se limitado a cumprir a
determinação, como não poderia deixar de fazê-lo.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Ministro Joaquim Barbosa, o Ministro
Relator faz referência à determinação para a cobrança dos valores pagos indevida-
mente e, ao mesmo tempo, autorizou-se o meio pelo qual deveria ser cumprida: o
desconto em folha.
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: É a lei que autoriza.
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): A Lei n. 8.443/92 é clara quanto a essa
glosa do Tribunal de Contas, revelando que lhe compete:
Art. 28. (...)
I - determinar o desconto integral ou parcelado da dívida nos vencimentos,
salários ou proventos do responsável, observados os limites previstos na legisla-
ção pertinente;
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Isso é tomada de contas especial.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Exatamente. Não é o caso. Parece que é o
pagamento a maior de vencimentos.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Vossa Excelência tem a lei do artigo 46?
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): É a Lei n. 8.112/90.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: É o pagamento a maior ao funcionário; não é
a multa penal.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Pela Lei n. 8.112/90, as reposições e as indenizações
ao erário são acertadas entre a Administração pagadora e o servidor remunerado. Neste
caso, não caberia ao Tribunal de Contas fazer a imposição.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Nesse dispositivo, até pelo uso da expressão
“dívida do responsável”, será tomada de contas.
O Sr. Ministro Carlos Britto: É típico de processo de tomada de contas.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): E não para a execução de redução.
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Britto: Peço vênia ao Ministro Marco Aurélio, para acompa-
nhar o voto do Ministro Joaquim Barbosa.
EXTRATO DA ATA
MS 24.544/DF — Relator: Ministro Marco Aurélio. Impetrante e Advogado: João
Cyrino Filho. Impetrados: 3ª Secretaria de Controle Externo do Tribunal de Contas da
União e Diretor do Departamento de Pessoal da Câmara dos Deputados.
R.T.J. — 197 513
VOTO (Vista)
O Sr. Ministro Cezar Peluso: 1. A divergência representada pelos votos dos
Ministros Joaquim Barbosa e Carlos Britto, que acompanharam o parecer da Procura-
doria-Geral da República, dando pela ilegitimidade passiva do Tribunal de Contas da
União, radica na interpretação da natureza da eficácia do dispositivo do acórdão do
TCE que, em processo de tomada de contas especial (art. 8º, caput, da Lei federal n.
8.443, de 16 de julho de 1992), reconhecendo “a irregularidade caracterizada pela
omissão no dever legal de prestar contas dos recursos concedidos pelo Senado
Federal, a título de auxílio, no exercício de 1987, à Cooperativa do Congresso Ltda.”,
condenou, entre outros, o ora impetrante, solidariamente, a pagar o valor da dívida
apurada e comprovar-lhe, em quinze dias, o pagamento, e deliberou “autorizar, desde
logo, o desconto das respectivas dívidas nas remunerações dos servidores, observado
o disposto no art. 46 da Lei n. 8.112, de 11 de dezembro de 1990” (fl. 56), caso, é óbvio,
não feita a prova do recolhimento espontâneo (art. 28, caput, da Lei n. 8.443, de 1992).
Tenho que, a despeito do uso menos correto, mas de todo irrelevante, do verbo
“autorizar”, o dispositivo guarda evidente caráter mandamental, dirigido à Câmara
dos Deputados, a cujo quadro de servidores inativos pertence o ora impetrante.
É que tal decisão corresponde à precisa hipótese prevista no art. 28, inciso I, da
Lei n. 8.443, de 1992, o qual, em não menos precisa conformidade com o disposto no
art. 70, inciso VIII, da Constituição da República, estatui:
“Art. 28. Expirado o prazo a que se refere o caput do art. 25 desta lei, sem
manifestação do responsável, o Tribunal poderá:
I - determinar integral ou parcelado da dívida nos vencimentos, salários ou
proventos do responsável, observados os limites previstos na legislação pertinente.”
Ou seja, apurando, em tomada de contas especial, instaurada diante de omissão no
dever de as prestar, por parte de servidor que gerenciou ou administrou valores públi-
cos (art. 8º, caput, cc. os arts. 5º, inciso I, e 1º, inciso I, da Lei n. 8.443, de 1992), o TCU
aplicou, como lho autoriza a Constituição da República (art. 70, inciso VIII), a respon-
sável por irregularidade de contas, uma das sanções previstas em lei e que consiste no
desconto da dívida aos proventos (art. 45 da Lei n. 8.112, de 1990), mas para cuja
514 R.T.J. — 197
execução, imputável apenas ao órgão pagador, não está legitimado. Não existe outra
hipótese legal a que se amolde a decisão do TCU, porque nenhuma há que, para este
caso, preveja apenas ato de mera recomendação, de modo que o teor literal do disposi-
tivo do acórdão só pode ser interpretado como ato de “determinar”. Aliás, se fora
“autorizar”, tampouco seria diversa a conseqüência, porque, se o cumprimento de
dever legal de agente da administração pública depende de autorização de outra
autoridade, o ato desta não lhe confere alternativa alguma: obriga aquele a cumprir o
dever.
A circunstância de a execução da ordem competir ao órgão pagador é, como se
sabe, inconseqüente para efeito de definição da legitimidade passiva ad causam, que,
em mandado de segurança, recai, não sobre o agente executor, senão sobre o autor do
ato lesivo, o qual, como órgão competente, figura a única autoridade capaz de o
desconstituir. O agente ou autoridade que executa a ordem, em cuja emissão se situa o
ato lesivo, esse, ainda quando seja, no caso, a Câmara dos Deputados, não tem compe-
tência para a expedir, nem a fortiori para a desfazer, donde não poder sofrer, em sua
esfera jurídica, a eficácia de eventual sentença favorável ao impetrante, a quem a
quitação da dívida só pode ser, aliás, expedida pelo TCU (art. 27 da Lei n. 8.443, de
1992). Não é, portanto, a Câmara, destinatária dos efeitos jurídicos da sentença e, como
tal, é parte passiva ilegítima ad causam.
2. E, no mérito, também denego a segurança.
É verdade que o caput do art. 45 da Lei n. 8.112, de 1990, preceitua, literalmente,
que, salvo por imposição legal ou mandado judicial, nenhum desconto pode incidir
sobre remuneração ou provento, e, no parágrafo único, subordina a consignação em
folha de pagamento a terceiro à autorização do servidor. Mas, aqui, há expressa
previsão legal para o desconto (art. 28, I, da Lei n. 8.443, de 1992), e a consignação não
é a favor de terceiro, mas do órgão pagador mesmo, que é União, ou seja, do erário
federal. Esta é a razão por que não delira o Decreto n. 3.297, de 17 de dezembro de 1999,
que, regulamentando o art. 45 da Lei n. 8.112, de 1990, reputa, no art. 3º, como
consignações compulsórias, entre outras, “reposição e indenização ao erário” (inciso
V), “decisão judicial ou administrativa” (inciso VII) e “outros descontos compulsóri-
os instituídos por lei” (inciso X).
O que se exige é apenas que a dívida seja líquida e que tenha sido apurada em
procedimento administrativo regular, com estrita observância dos poderes do contradi-
tório e da ampla defesa, inerentes ao justo processo da lei (due process of law),
segundo, aliás, pode a contrario sensu inferir-se a precedente da Corte (cf. AI n.
241.428-AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ de 18-2-2000). Ambos esses requisitos
foram cumpridos na espécie.
EXTRATO DA ATA
MS 24.544/DF — Relator: Ministro Marco Aurélio. Impetrante e Advogado: João
Cyrino Filho. Impetrados: 3ª Secretaria de Controle Externo do Tribunal de Contas da
União e Diretor do Departamento de Pessoal da Câmara dos Deputados.
R.T.J. — 197 515
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das
notas taquigráficas, por maioria de votos, conceder a segurança, nos termos do voto do
Relator, vencido, parcialmente, o Ministro Joaquim Barbosa.
Brasília, 8 de setembro de 2004 — Nelson Jobim, Presidente — Marco Aurélio,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Ao apreciar o pedido de concessão de medida
acauteladora, assim resumi os parâmetros deste processo:
Este mandado de segurança está dirigido contra decisão do Tribunal de
Contas da União que resultou na declaração de ilegalidade do ato que implicara a
reforma do marido da impetrante, falecido em 1998. Aponta-se que, durante trinta
e seis anos, serviu o militar à Força Aérea Brasileira, havendo alcançado a reforma
516 R.T.J. — 197
militar, pois a civil, ainda que oriunda de vínculo posterior com a Administração,
já havia sido registrada. Regularidade do ato atacado em referência à impossibi-
lidade de cumulação diante da orientação da Suprema Corte sobre o tema.
Contudo, a impropriedade desse mesmo ato quando refuta a legalidade da
aposentação, pois a acumulação se deu em momento posterior ao desligamento
do militar. A ilegalidade reside no segundo laço com a Administração, e, por
conseqüência, no segundo pedido de aposentadoria, ainda que examinado em
primeiro lugar pelo TCU. Impossibilidade lógica do primeiro benefício ser o
ilegal, pois a acumulação vedada pela Carta da República se deu com o
reingresso do militar reformado aos quadros da Administração. Nulidade da
pensão civil, que deverá ser revista.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Os dados cronológicos são incontro-
versos. O finado marido da impetrante veio a ser reformado no cargo de Coronel da
Aeronáutica em 13 de março de 1982. Em 14 do mês imediato, foi contratado, sob a
égide da Consolidação das Leis do Trabalho, pelo Centro Técnico Aeroespacial – CTA,
permanecendo como pesquisador sênior por onze anos, havendo ocorrido, nesse espa-
ço de tempo, a transformação do emprego em cargo público. Em 25 de outubro de 1998,
faleceu, passando a viúva a receber as duas pensões, ou seja, a militar e a civil.
Sob o ângulo do contraditório, registre-se a natureza do processo concernente à
reforma do militar, que é idêntica à do relativo à aposentadoria do servidor civil.
Mostra-se complexo, com o implemento da aposentadoria pelo órgão de origem, a fim
de não haver quebra de continuidade da satisfação do que percebido pelo servidor,
seguindo à homologação pelo Tribunal de Contas da União. Vale dizer que não se tem
o envolvimento de litigantes, razão pela qual é inadequado falar-se em contraditório
para, uma vez observado este, vir o Tribunal de Contas da União a indeferir a homolo-
gação. Nesse sentido é o precedente desta Corte: Mandado de Segurança n. 24.784,
relatado pelo Ministro Carlos Velloso, perante o Plenário, cujo acórdão foi publicado
em 25 de junho de 2004. Na espécie, ficou devidamente esclarecido que não houve a
cassação de reforma deferida e homologada anteriormente, mas a continuidade do
processo, visando ao exame da respectiva legalidade.
No mais, o marido da impetrante alcançou a reforma sob a regência da Constitui-
ção Federal de 1967 e, aí, viu-se contratado e depois guindado a cargo público, para
prestar serviços técnicos, ou seja, como Pesquisador Sênior do Centro Técnico Aeroes-
pacial – CTA, onde permaneceu por onze anos, vindo a lograr aposentadoria em 1993.
A Carta de 1967 preceituava no artigo 93, § 9º:
A proibição de acumular proventos de inatividade não se aplicará aos milita-
res da reserva e aos reformados, quanto ao exercício de mandato eletivo, quanto ao
de função de magistério ou de cargo em comissão ou quanto ao contrato para
prestação de serviços técnicos ou especializados.
R.T.J. — 197 519
O retorno ao trabalho após reforma em relação à qual não foi articulado qualquer
defeito fez-se ao abrigo do citado § 9º. Regra semelhante é dado encontrar relativamente
aos servidores civis, no que estabelecia o § 4º do artigo 99 que:
A proibição de acumular proventos não se aplica aos aposentados quanto ao
exercício de mandato eletivo, quanto ao de um cargo em comissão ou quanto a
contrato para prestação de serviços técnicos ou especializados.
A distinção entre os servidores civis e militares, beneficiando estes últimos, diz
respeito apenas à acumulação de proventos, tendo em vista cargo de magistério, mas,
mesmo assim, é mitigada pela premissa de que, possível acumulação em atividade,
inexiste óbice à de proventos. A Carta de 1988, na redação primitiva, nada dispôs a
respeito, em si, da acumulação de proventos. Com a Emenda Constitucional n. 20, deu-se
disciplina interpretativa para viabilizar a acumulação de proventos e vencimentos
considerados aqueles que, à época, haviam reingressado no serviço público por concurso
público de provas ou de provas e títulos e pelas demais formas previstas na Constitui-
ção Federal, vedando-se, isso em 1998, a percepção de mais de uma aposentadoria pelo
regime de previdência a que se refere o artigo 40 da Constituição Federal, aplicando-se
o limite fixado no § 11 do artigo 40, na redação imprimida:
“§ 11. Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI” — limites gerais —, “à soma
total dos proventos de inatividade, inclusive quando decorrentes da acumulação
de cargos ou empregos públicos, bem como de outras atividades sujeitas a
contribuição para o regime geral de previdência social, e ao montante resultante
da adição de proventos de inatividade com remuneração de cargo acumulável na
forma desta Constituição, cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação
e exoneração, e de cargo eletivo.”
No campo da aplicação da lei no tempo é dado, então, proclamar:
a) a reforma do falecido marido da impetrante ocorreu sob a égide da Constituição
de 1967, e a legitimidade, em si, não se faz em jogo;
b) o falecido marido da impetrante retornou ao serviço público em data anterior
à Carta de 1988, isto é, quando o § 9º do artigo 93 do Diploma Maior, de 1967, o
permitia;
c) aplica-se à reforma a Lei Básica de 1967 e à aposentadoria subseqüente no
campo civil a Constituição de 1988, na forma primitiva.
Descabe, portanto, chancelar a glosa procedida pelo Tribunal de Contas da
União, ante as peculiaridades da regência da matéria. Também não é o caso de conce-
der-se a ordem parcialmente, quer consideradas as balizas objetivas da impetração —
não está em jogo a aposentadoria como civil —, quer a circunstância de esta última
haver ocorrido sem a incidência de óbice constitucional, tendo em conta a data em que
contratado o servidor falecido e aquela alusiva à jubilação, isso para efeito da incidên-
cia do teto previsto no § 11 do artigo 40 da Constituição Federal, na redação dada pela
Emenda Constitucional n. 20/1998.
Concedo a segurança para assentar o direito da impetrante ao recebimento da
pensão militar deixada pelo falecido marido, o coronel Dorotthy Silveira Azevedo.
520 R.T.J. — 197
VOTO
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Senhor Presidente, acompanho o Relator quanto
à primeira parte, mas faço a ressalva sugerida pelo Ministério Público em seu parecer,
quanto à segunda aposentadoria, aposentadoria civil, de não haver nenhuma manifes-
tação, permitindo, assim, que o Tribunal de Contas examine sua regularidade.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Mas a dificuldade é que ele registrou a
segunda, não é?
A Sra. Ministra Ellen Gracie: Registrou a segunda, e não só isso: ao momento em
que ele ingressou nessa relação trabalhista com o CTA, a acumulação não era proibida.
Não havia qualquer proibição. Durante onze anos em que prestou serviço ao CTA,
contribuiu para o PSS regularmente. Então, não há realmente nenhum motivo para o
Ministro Joaquim Barbosa fazer ressalva.
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Mantenho meu entendimento.
O Sr. Ministro Eros Grau: É correto o que disse a Ministra Ellen Gracie, mas, além
disso, o art. 11 da Emenda n. 20 ainda permitiria, reconheceria esse direito.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Sim, porque é fato anterior.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Mas nele se proíbe a acumulação dos
proventos. Acho que realmente não temos de tratar deste assunto; isso rigorosamente
não está em causa — se pode ser revisto ainda, se não pode.
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Senão ia tornar o mandado de segurança —
como eu disse — uma ação processual, como se fosse uma rescisória de mão dupla.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Sim, mas o tema tem uma questão
preliminar, suscitada pelo Ministro Sepúlveda Pertence e pela Ministra Ellen Gracie,
de que a segunda não está sendo objeto da discussão neste Mandado de Segurança,
mas, sim, a primeira. A segunda não é caso de análise. Não estamos analisando autono-
mamente a segunda, porque ele mostra que o problema está restrito à primeira.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Melhor ainda. Nem se questiona. E quanto à primeira,
se por outro motivo não fosse impossível ao Tribunal de Contas cancelar, o devido
processo legal realmente não foi observado. Uma coisa é o Tribunal de Contas — eu e
o Ministro Sepúlveda Pertence temo-nos manifestado assim — não ouvir o servidor
público quando da primeira fase de apreciação. Ele não foi ouvido na primeira fase,
nem podia.
A Sra. Ministra Ellen Gracie: Ministro Carlos Britto, mesmo que tivéssemos o
maior rigor em não aplicar esse precedente, ainda assim, o caso concreto, pelos dados
que nos alcançou o eminente Relator, permitiu-me verificar que todo esse longo
processamento se fez inteiramente à revelia, quer do servidor falecido, quer da sua
viúva. Veja, ele trabalhou até 1993 nessa segunda relação de emprego — o CTA;
faleceu em 1998. Apenas em 2003 é que se considerou ilegal o ato de reforma, aquele
que tinha acontecido em 1982.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): O primeiro.
O Sr. Ministro Carlos Britto: É, perfeito.
R.T.J. — 197 521
A Sra. Ministra Ellen Gracie: Tudo isso sem qualquer comunicação e ao contrário
disso.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Mas, nisso, realmente temos considerado que
não se faz necessária a audiência do aposentado, para o aperfeiçoamento do procedi-
mento administrativo da transferência para a inatividade, com o julgamento de sua
legalidade e o registro pelo Tribunal de Contas.
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Depois de vinte anos vem-se pronunciar.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Diante da circunstância em questão, não
devemos dizer uma palavra a respeito.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Nesse primeiro momento, não.
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Esse é o meu ponto de vista.
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): De qualquer forma, nem sempre a demora
corre à conta do TCU, porque, às vezes, o órgão de origem é que retarda o encaminha-
mento.
A Sra. Ministra Ellen Gracie: O curioso é que o Tribunal de Contas registrou a
aposentadoria civil. Aí, não podendo mais fazer nada com relação à aposentadoria
civil, ele cassou a militar.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Mas essa, se ainda pode ser revista, há de ser,
obviamente, mediante processo administrativo com audiência do aposentado.
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Sim, porque essa já foi registrada.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Uma vez registrada, abre-se para o beneficiário a
possibilidade do direito ao devido processo legal, uma vez registrado o seu benefício.
Aqui, não é o caso.
EXTRATO DA ATA
MS 24.742/DF — Relator: Ministro Marco Aurélio. Impetrante: Sonia Irsai Aze-
vedo (Advogados: Zeina Maria Hanna e outro). Impetrado: Tribunal de Contas da
União.
Decisão: O Tribunal, por maioria, concedeu a segurança, nos termos do voto do
Relator, vencido, parcialmente, o Ministro Joaquim Barbosa. Presidiu o julgamento o
Ministro Nelson Jobim.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Celso de Mello, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Gilmar Mendes,
Cezar Peluso, Carlos Britto, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Procurador-Geral da Repú-
blica, Dr. Cláudio Lemos Fonteles.
Brasília, 8 de setembro de 2004 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
522 R.T.J. — 197
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das
notas taquigráficas, por unanimidade de votos, indeferir a segurança, nos termos do
voto do Relator.
Brasília, 17 de novembro de 2004 — Nelson Jobim, Presidente — Marco Aurélio,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Eis a síntese do processo, lançada quando do
indeferimento da medida acauteladora:
Este mandado de segurança está dirigido contra decreto do Excelentíssimo
Senhor Presidente da República de 31 de março de 2004, publicado no Diário da
União do dia seguinte, que implicou a declaração de interesse social, para efeito
de reforma agrária, do imóvel denominado Floresta I, situado no Município de
Promissão/São Paulo.
Três são as causas de pedir constantes da inicial. A primeira está ligada ao
ajuizamento de ação ordinária declaratória de produtividade, na qual se formulou
pedido de tutela antecipada. Consoante as razões expendidas, a improcedência
revelada em sentença fora impugnada mediante apelação, seguindo-se o emprés-
timo, a esse recurso, dos efeitos devolutivo e suspensivo. São tecidas considera-
ções a respeito, partindo-se da premissa de que deveria ser aguardado o desfecho
da ação. A segunda causa de pedir concerne à invasão do imóvel por sem-terras.
R.T.J. — 197 523
VOTO
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): As causas de pedir não subsistem a
exame. Inicialmente, é de consignar a impertinência de se discutir a produtividade do
imóvel na via do mandado de segurança, presente até mesmo a existência de laudo do
Incra em sentido contrário. Também deve ser salientado que não se pretendeu justificar,
em si, a ausência de produtividade com a invasão, com o motivo enquadrável como
estranho à vontade dos impetrantes. Articulou-se simplesmente a impropriedade da
vistoria. Valho-me do que tive oportunidade de ressaltar ao indeferir a medida
acauteladora:
524 R.T.J. — 197
EXTRATO DA ATA
MS 25.006/DF — Relator: Ministro Marco Aurélio. Impetrantes: Espólio de João
Ribas representado pela inventariante Edna Bennett Alves Fernandes Ribas e outro
(Advogados: Ademir Freire de Moura e outro). Impetrado: Presidente da República
(Advogado: Advogado-Geral da União).
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, indeferiu a segurança, nos termos do voto
do Relator. Ausente, justificadamente, o Ministro Sepúlveda Pertence. Presidiu o
julgamento o Ministro Nelson Jobim.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Celso de
Mello, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Gilmar Mendes, Cezar Peluso,
Carlos Britto, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Procurador-Geral da República, Dr. Cláudio
Lemos Fonteles.
Brasília, 17 de novembro de 2004 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das
notas taquigráficas, por unanimidade de votos, negar a segurança, nos termos do voto
do Relator. Presidiu o julgamento o Ministro Nelson Jobim.
Brasília, 3 de agosto de 2005 — Nelson Jobim, Presidente — Celso de Mello,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Celso de Mello: O eminente Procurador-Geral da República, ao
apreciar a controvérsia jurídica suscitada nesta sede processual, opinou pela
denegação do mandado de segurança, invocando, para tanto, os fundamentos que
expôs em causa idêntica (MS 25.193/DF) à que ora se examina nos presentes autos (fls.
206/214):
“1. Trata-se de mandado de segurança, com pedido de liminar, impetrado
por Renata Rodrigues Tavares com o qual pretende o reconhecimento de ilegali-
dade inserta em decisão proferida nos autos do processo TC-011.992/2002-6,
feito que teve curso no Tribunal de Contas da União.
2. Prestadas informações pela autoridade coatora (fls. 145-164) e indeferi-
do o pedido de cautela (fls. 204), vieram à Procuradoria-Geral da República.
3. A controvérsia suscitada é idêntica à que examinei em parecer levado ao
MS 25.193. Lá, como aqui, examinava-se suposta ilegalidade da decisão proferida
pelo TCU no processo TC-011.992/2002-6 (Acórdão 2.060/2004) por pretensa
violação ao devido processo legal, como também a Resolução do TSE. Os autos
ora apreciados contam com a mesmíssima questão. Desta forma, rememoro minha
primeira manifestação acerca dessa temática anexando cópia do parecer exarado
no MS 25.193.
4. Ante o exposto (...), manifesta-se o Ministério Público Federal pela dene-
gação da ordem.
(...)
Mandado de Segurança impetrado contra o Acórdão n. 521/2003 do
Plenário do Tribunal de Contas da União, confirmado pelo Acórdão n.
2.060/2004 do mesmo órgão, que determinou o retorno aos órgãos de
526 R.T.J. — 197
VOTO
O Sr. Ministro Celso de Mello (Relator): O Egrégio Plenário do Supremo Tribu-
nal Federal, ao apreciar situação em tudo idêntica à que se analisa na presente causa,
proferiu decisão consubstanciada em acórdão assim ementado:
“Administração Pública — Fiscalização — Servidores requisitados —
Desnecessidade de participação no processo administrativo-fiscal. Tratando-se
de atuação do Tribunal de Contas da União, considerado certo órgão da Adminis-
tração Pública, não há como concluir pelo direito dos servidores requisitados de
serem ouvidos no processo em que glosadas as requisições.
Justiça Eleitoral — Cargos — Preenchimento — Servidores requisitados —
Balizamento no tempo. Cumpre aos tribunais eleitorais preencher os cargos
existentes no quadro funcional, fazendo cessar a prática das requisições, de
modo a atender as balizas da Lei n. 6.999/82. O servidor não conta com o direito
líquido e certo de permanecer no órgão cessionário, cabendo, isso sim, o retorno
ao cedente.”
(MS 25.198/DF, Rel. Min. Marco Aurélio — grifei)
532 R.T.J. — 197
dora outorgada aos Tribunais de Contas, o exercício, por esses órgãos estatais, de
todos os poderes — inclusive os implícitos (MS 24.510/DF, Rel. Min. Ellen
Gracie) — que se revelem inerentes e necessários à plena consecução dos fins que
lhes foram cometidos.
Cabe ter presente, neste ponto, a advertência feita por Pontes de Miranda
(“Comentários à Constituição de 1967, com a Emenda n. 1 de 1969”, tomo III/258, 3ª
ed., 1987, Forense), cujo magistério, ao analisar o poder de controle outorgado ao
Tribunal de Contas, enfatiza:
“Todo ato, quer do Poder Executivo, quer do Poder Legislativo, ou do Poder
Judiciário, de que resulte despesa, tem de ser conferido com as leis, para que se
verifique se alguma das suas cláusulas viola regra de direito cogente.” (Grifei)
Inquestionável, desse modo, a plena legitimidade da deliberação do E. Tribunal
de Contas da União impugnada na presente sede mandamental.
Sendo assim, em face das razões expostas e considerando, ainda, o douto parecer
do eminente Procurador-Geral da República, denego o presente mandado de segurança,
mantendo íntegra, em conseqüência, a deliberação emanada do E. Tribunal de Contas
da União e consubstanciada em acórdão objeto de impugnação nesta sede processual,
incidindo, ainda, na espécie, a Súmula 512/STF.
É o meu voto.
EXTRATO DA ATA
MS 25.194/DF — Relator: Ministro Celso de Mello. Impetrante: Renata Rodri-
gues Tavares (Advogado: Stanislaw Costa Eloy). Impetrado: Tribunal de Contas da
União.
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, negou a segurança, nos termos do voto do
Relator. Presidiu o julgamento o Ministro Nelson Jobim.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Celso de Mello, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Gilmar Mendes,
Cezar Peluso, Carlos Britto, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Procurador-Geral da Repú-
blica, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza.
Brasília, 3 de agosto de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das
notas taquigráficas, por unanimidade de votos, negar provimento ao agravo, nos termos
do voto da Relatora.
Brasília, 27 de outubro de 2005 — Ellen Gracie, Presidente (art. 37, I, do RISTF)
e Relatora.
RELATÓRIO
A Sra. Ministra Ellen Gracie: Eis o teor do despacho agravado:
“Cuida-se de Mandado de Segurança, com pedido liminar, contra ato ilegal
do Superintendente Regional do Incra referendado pelo Presidente da República
e consubstanciado no Decreto de 21 de setembro de 2004, publicado no Diário
Oficial da União de 22-9-2004, que declarou de interesse social, para fins de
reforma agrária, imóvel rural denominado ‘Fazenda Morro Bonito', situado no
Município de Campo Grande, no Estado de Mato Grosso do Sul.
A impetrante, herdeira testamentária, busca sustar a eficácia do referido
decreto e obstar o eventual ajuizamento de ação de desapropriação. Alega a
existência de vícios no procedimento administrativo que antecedeu o decreto e
requer seja determinada à Superintendência Regional do Incra que se abstenha de
praticar qualquer ato de condução do processo expropriatório e a reabertura do
prazo para que possa impugnar o relatório agronômico.
Consoante o artigo 18 da Lei 1.533/51, o prazo para impetração do mandado
de segurança esgota-se em 120 dias contados da ciência pelo interessado do ato
impugnado.
O Decreto Presidencial em questão, datado de 21-9-2004, foi publicado
no Diário Oficial da União do dia 22-9-2004. No primeiro dia subseqüente
iniciou-se a contagem do prazo legal. A impetrante ajuizou o mandamus no dia
25-2-2005, 156 dias após o ato impugnado, portanto, quando já decorrido o
prazo decadencial.
Ante o exposto, nos termos do art. 21, § 1º, do Regimento Interno do
Supremo Tribunal Federal, nego seguimento ao pedido, prejudicado pedido de
liminar.”
A agravante sustenta que o Presidente da República não é a autoridade coatora,
mas, sim, o Superintendente do Incra/MS. O ato coator consistiu na negativa injustifi-
536 R.T.J. — 197
VOTO
A Sra. Ministra Ellen Gracie (Relatora): Não tem razão a agravante.
A petição inicial do writ distribuída perante esta Corte é explícita ao colocar, no
pólo passivo, além do Superintendente Regional do Incra, o Presidente da República
em razão do ato consubstanciado no Decreto de 21 de setembro de 2004, publicado no
Diário Oficial da União de 22-9-2004, que declarou de interesse social, para fins de
reforma agrária, imóvel rural denominado “Fazenda Morro Bonito”. Por ter manifesta-
mente se insurgido também contra o referido decreto, e não apenas contra ato do
Presidente do Incra, o impetrante distribuiu o writ perante esta Corte.
Em razão da negativa de seguimento pelo decurso do prazo decadencial, o
impetrante pretende, agora, em tentativa de verdadeira emenda à inicial, pela via do
agravo, sustentar que só o Superintendente do Incra integra o pólo passivo.
Mesmo que admitido, como sustenta o impetrante, que a autoridade impetrada
seja apenas o Superintendente do Incra/MS e não o Presidente da República, ainda
assim, o caso seria de negativa de seguimento ao pedido do mandamus, porque aquela
autoridade (Superintendente do Incra) não faz por atrair a competência deste Supremo
Tribunal Federal (art. 102, I, d, da CF) para seu julgamento.
Nego provimento ao agravo.
EXTRATO DA ATA
MS 25.271-AgR/DF — Relatora: Ministra Ellen Gracie. Agravante: Maria Ângela
Lemes Pereira (Advogado: Afrânio Alves Corrêa). Agravados: Presidente da República
(Advogado: Advogado-Geral da União) e Superintendente Regional do Incra/MS.
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, negou provimento ao agravo, nos termos
do voto da Relatora. Ausentes, justificadamente, os Ministros Nelson Jobim (Presidente),
Celso de Mello, Carlos Velloso e Cezar Peluso. Presidiu o julgamento a Ministra Ellen
Gracie (Vice-Presidente).
Presidência da Ministra Ellen Gracie (Vice-Presidente). Presentes à sessão os
Ministros Sepúlveda Pertence, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Carlos Britto, Joaquim
Barbosa e Eros Grau. Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando Barros e
Silva de Souza.
Brasília, 27 de outubro de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
R.T.J. — 197 537
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, sob a Presidência do Ministro Nelson Jobim, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, conceder a segurança,
nos termos do voto do Relator. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Ministro
Eros Grau.
Brasília, 15 de dezembro de 2005 — Carlos Velloso, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Velloso: Trata-se de mandado de segurança, com pedido de
liminar, fundado nos arts. 2º e 5º, XXXVI e LXIX, da Constituição Federal, impetrado
por Normíria Ferreira Pinho, contra ato do Presidente da Primeira Câmara do
Tribunal de Contas da União, consubstanciado no Acórdão 2.562/2004-TCU-1ª
Câmara (fls. 22-23), proferido nos autos do TC 001.965/2001-7, que considerou ilegal
a aposentadoria concedida e determinou ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA a cessação de todo e qualquer pagamen-
to decorrente da decisão judicial transitada em julgado nos autos da Reclamação 962/
1991, da 1ª Vara do Trabalho de Vitória/ES (fls. 34-72), que conferira à impetrante
direito à incorporação do Plano Bresser (26,06%) e da URP de fevereiro de 1989
(26,05%). A presente impetração também indica como autoridade coatora o Coordena-
dor-Geral de Recursos Humanos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
538 R.T.J. — 197
Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, com intuito de que o mesmo não continue
a cumprir a determinação do Tribunal de Contas contida no referido acórdão.
Sustenta a impetrante em síntese:
a) a incompetência do Tribunal de Contas da União para determinar a referida
suspensão, porquanto amparada por decisão judicial transitada em julgado, consoante
se infere da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (MS 23.665/DF, Plenário,
Ministro Maurício Corrêa, DJ de 20-9-2002);
b) a ocorrência de ofensa à coisa julgada (CF, art. 5º, XXXVI) e aos princípios da
segurança jurídica e da irredutibilidade de vencimentos (CF, art. 37, XV);
c) a existência do periculum in mora, ante a supressão, dos valores em questão, de
seus vencimentos, a partir do mês de abril de 2005 (Ofício n. 159/05 — CGREH/Ibama —
fl. 20), que afetou a qualidade de vida de sua família, colocando-a em dificuldades
financeiras.
Ao final, requer a impetrante, liminarmente, a imediata suspensão da eficácia do
Acórdão 2.562/2004-TCU-1ª Câmara, para impedir que o Coordenador-Geral de Re-
cursos Humanos do Ibama continue a cumprir a determinação nele contida. No mérito,
pede a concessão da segurança para que lhe seja assegurado definitivamente o direito à
inclusão das parcelas remuneratórias referentes às decisões judiciais transitadas em
julgado em seus proventos.
Requisitadas informações (fls. 94, 96 e 98), o Coordenador-Geral de Recursos
Humanos do Ibama alegou, às fls. 101-111, em síntese:
a) a sua ilegitimidade passiva, mormente porque apenas cumpriu a decisão
proferida no Acórdão 2.562/2004-TCU-1ª Câmara, não detendo poder ou competência
para rever ou cancelar o ato ora atacado;
b) a inexistência de direito líquido e certo da impetrante;
c) a constitucionalidade do ato de controle do Tribunal de Contas da União, nos
termos do art. 71 da Constituição Federal;
d) a inocorrência de ofensa à coisa julgada, porquanto sujeita às alterações fáticas
e jurídicas subseqüentes, na medida em que a concessão dos referidos percentuais
estava limitada à data-base, por não constar da sentença a sua extensão por tempo
indeterminado;
e) a ocorrência de ofensa ao princípio da isonomia, consubstanciada na continui-
dade do referido pagamento até os dias atuais, em completa disparidade com os outros
servidores, certo que o Supremo Tribunal Federal, ao apreciar a questão, entendeu que
os servidores não teriam direito aos referidos reajustes;
f) a inexistência de direito adquirido a regime jurídico.
O ilustre Presidente do Tribunal de Contas da União, por sua vez, às fls. 113-126,
sustentou em síntese:
a) a inexistência de ofensa à coisa julgada, porquanto a concessão dos referidos
percentuais não se incorporou aos vencimentos da impetrante, ante a sua natureza de
R.T.J. — 197 539
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Em caso igual, MS 25.009/DF, por mim
relatado, decidiu o Supremo Tribunal Federal:
“Ementa: Constitucional. Processual. Mandado de segurança preventivo.
Servidor público: vantagem deferida por sentença judicial transitada em jul-
gado. Tribunal de Contas: determinação no sentido da exclusão da vantagem.
Coisa julgada: ofensa. CF, art. 5º, XXXVI.
I - A segurança preventiva pressupõe existência de efetiva ameaça a direito,
ameaça que decorre de atos concretos da autoridade pública. Inocorrência, no
caso, desse pressuposto da segurança preventiva.
II - Vantagem pecuniária, incorporada aos proventos de aposentadoria de
servidor público, por força de decisão judicial transitada em julgado: não pode o
Tribunal de Contas, em caso assim, determinar a supressão de tal vantagem, por
isso que a situação jurídica coberta pela coisa julgada somente pode ser modificada
pela via da ação rescisória.
540 R.T.J. — 197
EXTRATO DA ATA
MS 25.460/DF — Relator: Ministro Carlos Velloso. Impetrante: Normíria Ferreira
Pinho (Assistida pelo Sindicato dos Servidores Públicos Federais no Estado do Espírito
Santo – SINDSEP/ES) (Advogados: Ana Izabel Viana Gonsalves e outro e Rogerio da
Silva Venancio Pires). Impetrados: Tribunal de Contas da União e Coordenador-Geral
de Recursos Humanos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis – IBAMA.
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, concedeu a segurança, nos termos do voto
do Relator. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Ministro Eros Grau. Presi-
diu o julgamento o Ministro Nelson Jobim.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Celso de Mello, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Gilmar Mendes,
Cezar Peluso, Carlos Britto, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Procurador-Geral da Repú-
blica, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza.
Brasília, 15 de dezembro de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
R.T.J. — 197 543
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Primeira Turma, na conformidade da ata do julgamento e das
notas taquigráficas, por unanimidade de votos, indeferir o pedido de habeas corpus,
nos termos do voto do Relator.
Brasília, 30 de novembro de 1993 — Moreira Alves, Presidente — Celso de
Mello, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Celso de Mello: Trata-se de habeas corpus impetrado, em causa
própria, por Antonio Rodrigues Filho, que se encontra preso e recolhido à Casa de
Detenção de Presidente Prudente/SP, em virtude de haver sido condenado à pena de 5
anos de reclusão, e multa, que lhe foi imposta pela prática do delito de tráfico de
entorpecentes (Lei n. 6.368/76, art. 12).
Determinei o apensamento dos autos do HC 70.093/SP, também impetrado pelo
ora paciente, eis que os fatos e fundamentos constantes desta impetração coincidem,
em essência, com os mencionados naquele writ.
Prestadas as informações pelo órgão apontado como coator, este assinalou que
“todos os argumentos deduzidos na impetração guardam relação profunda com as
provas existentes nos autos”, o que bastaria — segundo sustenta — para inviabilizar
a utilização do remédio constitucional do habeas corpus (fls. 48/51).
A douta Procuradoria-Geral da República, ao opinar pelo indeferimento do
pedido (fls. 34/37), assim apreciou, no ponto, a impetração (fl. 35):
“Sobre as teses das impetrações unificadas
R.T.J. — 197 545
VOTO
O Sr. Ministro Celso de Mello (Relator): O ora paciente, juntamente com outros
cinco co-réus, foi condenado pelo magistrado de primeiro grau à pena de 5 anos de
reclusão, e multa, pela prática do delito tipificado no art. 12 da Lei n. 6.368/76 (fls.
69/86).
Inconformado com essa condenação, o paciente recorreu para o E. Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo, que deu parcial provimento à apelação por ele
interposta, para, tão-somente, reduzir o valor da multa, mantendo, no entanto, quanto
ao mais, a sentença penal condenatória de primeiro grau.
Objetiva o impetrante, com o presente writ, a nulidade do acórdão do Tribunal
apontado como coator, alegando, para tanto, (a) inépcia da denúncia, (b) ausência
do representante do Ministério Público a alguns atos de instrução processual, (c)
cerceamento de defesa, (d) ausência de fundamentação da sentença condenatória,
(e) falta de individualização da pena e (f) inexistência de provas suficientes para a
sua condenação.
Entendo não assistir razão ao impetrante.
Improcede a alegação de inépcia da denúncia. É que a peça acusatória, formula-
da pelo Ministério Público, atendeu, plenamente, às exigências de ordem formal
impostas pelo art. 41 do Código de Processo Penal.
A simples leitura da denúncia ora questionada evidencia tratar-se de peça proces-
sual incensurável, posto que nela se contém, de modo preciso e objetivo, a correta
descrição do fato delituoso (fls. 52/54 dos autos em apenso).
Ademais, a análise da alegada inépcia da peça acusatória, nos termos em que
proposta pelo ora paciente, refoge à mera discussão jurídica sobre os aspectos
concernentes a esse vício formal, que, presente, revelar-se-ia apto a ensejar a invalidade
da própria denúncia formulada pelo Ministério Público.
O impetrante sustenta, ainda, que o vício da inépcia residiria no fato de o
Promotor de Justiça haver apontado, na peça acusatória, que os réus tinham, em seu
poder, 43 kg de cocaína, quando, na realidade, teria sido apreendida, pelas autoridades
546 R.T.J. — 197
EXTRATO DA ATA
HC 70.231/SP — Relator: Ministro Celso de Mello. Paciente e Impetrante:
Antonio Rodrigues Filho. Coator: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
Decisão: A Turma indeferiu o pedido de habeas corpus, nos termos do voto do
Relator. Unânime.
Presidência do Ministro Moreira Alves. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Celso de Mello e Ilmar Galvão. Ausente, justificadamente, o Ministro Sydney
Sanches. Subprocurador-Geral da República, Dr. Miguel Frauzino Pereira.
Brasília, 30 de novembro de 1993 — Ricardo Dias Duarte, Secretário.
R.T.J. — 197 549
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira
Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Sepúlveda
Pertence, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por
unanimidade de votos, rejeitar os embargos de declaração no recurso em habeas
corpus e determinar à Secretaria do Tribunal a retificação da autuação, nos termos do
voto do Relator.
Brasília, 14 de dezembro de 2004 — Sepúlveda Pertence, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Trata-se de embargos de declaração contra
acórdão desta Turma, que, por maioria de votos, deu provimento ao recurso ordinário
em habeas corpus, nos termos da ementa transcrita:
“Ementa: Crime material contra a ordem tributária (Lei 8.137/90, art.
1º): lançamento do tributo pendente de decisão definitiva do processo administra-
tivo: falta de justa causa para a ação penal, suspenso, porém, o curso da prescrição
enquanto obstada a sua propositura pela falta do lançamento definitivo: precedente
(HC 81.611, Pleno, 10-12-2003, Pertence, Informativo STF 333).”
Este o voto-condutor por mim proferido após o pedido de vista (fls. 206/209):
550 R.T.J. — 197
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): Manifesta a improcedência dos
embargos de declaração que não se prestam:
a) para explicitar a pretendida sinonímia entre a declaração de nulidade desde a
denúncia, inclusive — conforme o dispositivo do acórdão — e o chamado “trancamento
da ação penal”;
b) para cuidar da validade ou não da representação fiscal, da qual, declarada a
nulidade do processo penal que provocou, nenhuma lesão ou ameaça resulta para a
liberdade de locomoção do paciente;
c) para declarar o fundamento do “trancamento da ação penal”, longamente
deduzido na decisão embargada;
d) para alterar o julgado quanto à suspensão da prescrição.
Rejeito os embargos: é o meu voto.
Observe a Secretaria os pedidos relativos à autuação e às intimações formulados
ao final dos embargos.
EXTRATO DA ATA
RHC 82.390-ED/SP — Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. Embargantes:
Elaine Cristina do Prado Brunheroto Pires, José Carlos Andrade Gomes e José Gallardo
Dias ou José Gallardo Diaz (Advogados: Raouf Kardous e outros e Rodrigo Pittas
Yamashita). Embargado: Ministério Público Federal.
Decisão: A Turma rejeitou os embargos de declaração no recurso em habeas
corpus e determinou à Secretaria do Tribunal a retificação da autuação, nos termos do
voto do Relator. Unânime.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros
Marco Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto e Eros Grau. Subprocurador-Geral da
República, Dr. Paulo de Tarso Braz Lucas.
Brasília, 14 de dezembro de 2004 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
R.T.J. — 197 553
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de
votos, rejeitar os embargos de declaração, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 13 de dezembro de 2005 — Gilmar Mendes, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Ao apreciar o Habeas Corpus n. 82.770/RJ, de
Relatoria do Min. Celso de Mello, em que fui o redator para o acórdão, esta Turma
indeferiu a ordem, por maioria, estando o acórdão assim ementado:
“Ementa: Habeas corpus. 2. Superior Tribunal de Justiça. 3. Duplo homicí-
dio qualificado. 4. Crime hediondo. 5. Apelação em liberdade. 6. Repugna-se a
fundamentação de prisão cautelar assente simplesmente em clamor público. 7. Da
leitura do § 2º do art. 2º da Lei n. 8.072, de 25-7-90, extrai-se que a regra é a
proibição de se apelar em liberdade, que só pode ser afastada mediante decisão
fundamentada do juiz. Precedentes. 8. Habeas corpus indeferido.” (fl. 174)
Primeiramente, o então Vice-Presidente desta Corte, Min. Ilmar Galvão, no exer-
cício da Presidência, apreciou o pedido de liminar no HC 82.770/RJ, indeferindo-o (fls.
37-38). Após a distribuição do feito ao Relator Min. Celso de Mello, houve pedido de
reconsideração, sendo concedido o direito de apelar em liberdade (fls. 54-60).
Por ocasião do julgamento, o Min. Celso de Mello votou pela concessão da
ordem, por entender que o decreto da prisão preventiva não estava devidamente
fundamentado, por caracterizar a prisão apenas com relação às hipóteses do art. 312 do
Código de Processo Penal, sem fazer qualquer referência ao art. 2º, § 2º, da Lei n. 8.072/90
(fls. 125-162). Abri divergência, acompanhando o entendimento da Corte sobre a
554 R.T.J. — 197
questão, que entendia que “da leitura do § 2º do art. 2º da Lei n. 8.072, de 25-7-90,
extrai-se que a regra é a proibição de se apelar em liberdade, que só pode ser afastada
mediante decisão fundamentada do juiz” (fl. 174).
O embargante, Rogério Costa de Andrade e Silva, opôs os embargos de declara-
ção de fls. 179-190, com pedido de efeito modificativo, em que sustenta o direito de
apelar em liberdade, pelas seguintes razões, verbis:
“Concessa vênia, para assim decidir, a Eg. Segunda Turma do STF incidiu
em grave equívoco e patente omissão, cujo suprimento ou sanação, por via dos
presentes embargos declaratórios, importará na alteração do julgado, na linha de
numerosos e expressivos precedentes da Suprema Corte, como se verá a seguir.
Como por duas vezes ressaltou o eminente Ministro Celso de Mello, a
controvérsia suscitada na impetração cinge-se ao fato de que o decreto de prisão
preventiva e o acórdão do STJ que o convalidou negaram ao paciente o direito
de recorrer em liberdade, sem fazer qualquer alusão, para tanto, à norma
inscrita no art. 2º, § 2º, da Lei n. 8.072/90, optando por invocar razões —
fundadas, unicamente, no art. 312 do CPP — que lhe parecem pertinentes,
embora destituídas de base empírica derivada da existência de fatos concretos
reveladores da necessidade da adoção, no caso, da medida excepcional da priva-
ção cautelar da liberdade de locomoção física do paciente.
Ocorre que, no voto condutor da decisão majoritária da Suprema Corte, o
eminente Ministro Gilmar Mendes reconheceu que as decisões impugnadas não
se sustentavam do ponto de vista da fundamentação que expenderam para a
adoção e manutenção da medida excepcional constritiva da liberdade do pacien-
te. A despeito disso, manteve a prisão do paciente mediante a invocação de
fundamento que não integrou o decreto de prisão cautelar nem a decisão com que
o STJ o convalidou — ou seja, mediante a invocação do art. 2º, § 2º, da Lei n.
8.072/90.
Evidente, pois, que o v. acórdão embargado omitiu-se em apreciar o funda-
mento nuclear da impetração, por mais de uma vez destacado pelo eminente
Ministro Celso de Mello, no sentido de que, não tendo o art. 2º, § 2º, da Lei n.
8.072/90 sido invocado como fundamento do decreto de prisão preventiva, a
toda evidência não poderia incidir na espécie dos autos, a não ser com grave
comprometimento do sistema de garantia jurídica, como em casos análogos
reconhece a jurisprudência pacífica da Suprema Corte.” (fls. 185-186)
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Tal como relatado, discute-se nos pre-
sentes embargos o direito de apelar em liberdade. O paciente foi condenado à dezenove
anos e dez meses de reclusão pela prática de duplo homicídio qualificado, tendo sido
decretada sua prisão preventiva na sentença condenatória, com o fim de resguardar a
ordem pública.
R.T.J. — 197 555
que é pior, levando insegurança e medo aos cidadãos que licitamente sobre-
vivem nesta cidade. Não se pode negar o óbvio. A justiça deste IV Tribunal do
Júri tem por dever restaurar e, frise-se, garantir que a ordem pública seja
restabelecida, como autoriza o art. 312 do CPP, que neste particular foi
recepcionado pela Lei Maior. É bom lembrar que o conceito de ordem pública
não se limita a prevenir a reprodução de fatos criminosos, mas também acautelar
o meio social e a própria credibilidade da justiça, em face da gravidade do
crime e de sua repercussão. A decisão dos Srs. Jurados merece respeito. O
Tribunal do Povo merece respeito. Nossa cidade merece respeito. Nosso país
merece respeito. Deixar Rogério Costa de Andrade e Silva solto seria desres-
peito. Por isso, decreto a sua prisão cautelar, determinando a expedição do
competente mandado.”
Aliás conforme o próprio ora embargante reconhece expressamente, verbis:
“como por duas vezes ressaltou o eminente Ministro Celso de Mello, a controvérsia
suscitada na impetração cinge-se ao fato de que o decreto de prisão preventiva e o
acórdão do STJ que o convalidou negaram ao paciente o direito de recorrer em
liberdade, sem fazer qualquer alusão, para tanto, à norma inscrita no art. 2º, § 2º, da
Lei n. 8.072/90, optando por invocar razões — fundadas, unicamente, no art. 312 do
CPP.” (fl. 185)
No caso concreto, observo que o decreto prisional, de forma inequívoca, ressaltou
a possibilidade de que os trâmites processuais fossem obstados pelo paciente de modo
a comprometer a própria credibilidade da justiça. Nesse sentido, entendo que a custó-
dia cautelar foi devidamente fundamentada com garantia da ordem pública, nos termos
do art. 312 do Código de Processo penal.
Ante o exposto, diante da inexistência de obscuridade, omissão ou contradição
na decisão ora embargada, rejeito os presentes embargos.
EXTRATO DA ATA
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Trata-se de habeas corpus impetrado em favor
de César Andrade Lima Souto, tendo por autoridade coatora a Sexta Turma do
Superior Tribunal de Justiça, que denegou a ordem requerida no HC 24.352.
O paciente foi condenado pelo Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Estado
do Rio de Janeiro, pela prática de corrupção ativa. Em face desse acórdão, impetrou-se
habeas corpus ao Superior Tribunal de Justiça, que denegou a ordem. Por fim,
impetrou-se o presente writ.
O acórdão do Superior Tribunal de Justiça tem a seguinte ementa:
“Habeas corpus.
- O exame detalhado da prova não é próprio do habeas corpus.
- Ordem denegada.” (Fl. 65)
Os impetrantes alegam (i) ausência de ligação fática entre o paciente e os fatos que
deram ensejo a sua condenação e (ii) impossibilidade de condenação do corruptor em
face da absolvição do corrompido. Conseqüentemente, pedem a anulação do acórdão
condenatório.
As informações de praxe foram prestadas (fls. 65-85).
A Procuradoria-Geral da República opina pela denegação da ordem, em virtude
da impossibilidade da apreciação de matéria fática (fls. 88-103).
É o relatório.
VOTO (Preliminar)
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa (Relator): A presente impetração submete à
jurisdição da Corte duas questões: de um lado, a inexistência de prova da participação
do paciente nos fatos que levaram a sua condenação; de outro, a impossibilidade de
condenação de alguém por corrupção ativa na hipótese de absolvição dos supostos
corrompidos.
R.T.J. — 197 559
EXTRATO DA ATA
HC 83.658/RJ — Relator: Ministro Joaquim Barbosa. Paciente: César Andrade
Lima Souto ou César Andrade de Lima Souto. Impetrantes: Antonio Carlos de Almeida
Castro e outros. Coator: Superior Tribunal de Justiça.
Decisão: Após os votos dos Ministros Joaquim Barbosa, Relator, e Carlos Britto
não conhecendo do pedido de habeas corpus, pediu vista dos autos o Ministro Cezar
Peluso. Falou pelo paciente o Dr. Nélio Machado.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros
Marco Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto e Joaquim Barbosa. Subprocurador-Geral
da República, Dr. Wagner de Castro Mathias Netto.
Brasília, 20 de abril de 2004 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
VOTO (Vista)
Ementa: Ação penal. Competência originária do Tribu-
nal de Justiça. Condenação. Impugnação mediante Habeas
corpus. Alegação de questões de direito. Não-conhecimento
pelo STJ, sob fundamento de necessidade de reexame de pro-
va. Inadmissibilidade. HC concedido de ofício para cassação
do acórdão.
O Sr. Ministro Cezar Peluso: 1. Trata-se de pedido de habeas corpus, substitutivo
de recurso ordinário, impetrado em favor de César Andrade Lima Souto ou César
560 R.T.J. — 197
Andrade de Lima Souto contra ato do Superior Tribunal de Justiça, que indeferiu writ
tendente a anular acórdão que condenou o ora paciente à pena de seis anos de reclusão
e de sessenta dias-multa, pela prática do crime descrito no art. 333, c.c arts. 29 e 71,
todos do Código Penal.
Conforme o relatório do Min. Joaquim Barbosa:
“Os impetrantes sustentam (i) a ausência de ligação fática entre o paciente e
os fatos que ensejaram sua condenação e (ii) a impossibilidade de condenação do
corruptor em face da absolvição do corrompido” (p. 2 do relatório).
O Ministério Público é pelo indeferimento da ordem.
O Ministro Relator, todavia, não conhece do pedido, porque sua apreciação
envolveria aprofundado reexame de prova, inadmissível no âmbito do habeas corpus,
verbis:
“Preliminarmente, esclareço que o deslinde dessas questões exige, necessa-
riamente, uma profunda meditação sobre o material probatório. Certo, o enten-
dimento contrário à análise fática em habeas corpus há de ser invocado com certa
parcimônia, pois o julgamento da tese é indissociável do julgamento do fato (cf.
HC 83.348, de minha Relatoria; HC 82.405, Rel. Min. Maurício Corrêa; HC
80.639, Rel. Min. Nelson Jobim, e RHC 55.947, Rel. Min. Djaci Falcão).
No entanto, na presente impetração, o remédio de habeas corpus foi utili-
zado — como tem ocorrido freqüentemente — de forma indevida, ou seja, como
se fosse mero recurso, a exigir do julgador a ponderação sobre todas as provas
colhidas e sobre as versões apresentadas, e não sobre a legalidade do julgamento
ou sobre eventual abuso nele praticado. Para a apreciação do mérito, é necessário —
conforme se verá caso a presente preliminar não seja acolhida — um exaustivo
estudo e posterior valoração de fatos, o que, sabidamente, não é e nem pode ser a
função do habeas corpus. Ora, é inadmissível que o Supremo Tribunal Federal
tenha, na via estreita desse writ, de se travestir em juízo recursal, quando as
instâncias ordinárias já se encontram esgotadas. Há, dessa forma, um
distanciamento de sua missão a guardar a Constituição, para resolver, de forma
tópica, questões probatórias. Assim, creio seja hipótese de não-conhecimento da
impetração” (pp. 1-2 do voto).
O Ministro Carlos Britto acompanha o Relator.
2. Este writ é substitutivo do recurso ordinário, previsto no art. 102, II, a, da
Constituição Federal, que reza:
“Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda
da Constituição, cabendo-lhe:
(...)
II - julgar, em recurso ordinário:
a) o habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas data e o mandado de
injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória
a decisão”.
R.T.J. — 197 561
1 Código Penal, art. 71, caput: “Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica
dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras
semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena
de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um
sexto a dois terços” (grifei).
R.T.J. — 197 563
O primeiro deles (a) exige apenas o exame dos termos do acórdão condenatório,
não das provas em que se baseou, à medida que corresponde a uma questão de direito
(quaestio iuris), qual seja, a de que não poderia ser condenado por corrupção ativa o
acusado de pagamento de “vantagem indevida a funcionário público” (art. 333 do
Código Penal), quando, por falta de prova, a mesma decisão absolve o “funcionário
público” que a teria recebido e praticado o crime de corrupção passiva (art. 317, Código
Penal), bem como o terceiro que teria intermediado a entrega do numerário.
Não se discutia, neste tópico do writ original, acerca da valoração da prova, de sua
suficiência ou não, mas tão-só, à luz das motivações do próprio acórdão, sobre a
hipotética ilegalidade de condenação que, pressupondo certeza do fato consistente na
percepção da vantagem pecuniária indevida, o teve por incerto. O que ali se fustigava
não era a condenação do paciente por deficiência da prova contra ele eventualmente
produzida, senão a condenação associada à absolvição de quem que teria recebido a
vantagem indevida por ele paga. Donde, vê-se logo que o deslinde da matéria não
dependia em nada do reexame da prova, e, muito menos, de seu “exame detalhado”,
mas só da análise de pressupostos lógicos e jurídicos da condenação.
A mesma observação vale para o terceiro fundamento (c), vazado na argüição de
ilicitude do uso de elemento de prova obtido em fase extrajudicial, não sujeito ao crivo
do contraditório, como expresso suporte retórico da condenação. É que o tema não diz
com necessidade de revisão do valor persuasivo do depoimento em si, senão com a sua
validade à luz das normas constitucionais e processuais penais que disciplinam a
admissibilidade, a produção e a valoração das provas. É, aliás, o que já notou esta
Corte, em sede mesma de habeas corpus:
“Prova. Princípio constitucional do contraditório. Condenação fundada
exclusivamente no inquérito. Falta de justa causa para a condenação. É corolário
inevitável da garantia da contraditoriedade da instrução criminal que a
condenação não se pode fundar exclusivamente nos elementos informativos
do inquérito policial, sequer ratificados no curso do processo, sobretudo,
quando as investigação policiais não lograram fornecer nem a prova material do
crime e da autoria e tudo se baseia em provas orais, desmentidas em juízo” (HC n.
67.917, Rel. Min. Sepúlveda Pertence. Grifei).
Equivocou-se, também aqui, o Superior Tribunal de Justiça, ao argumentar com
inviabilidade de reexame pormenorizado da prova, para indeferir a ordem, quando
disso não se tratava.
Conforme já decidiu o Plenário desta Corte:
“No procedimento sumário e documental do habeas corpus, não cabe
inverter, mediante reavaliação de provas controvertidas, o suposto de fato que
haja constituído a premissa menor do silogismo judicial da decisão condenatória
que se pretenda carente de justa causa; nele, contudo, é lícito verificar — quando
a verificação não reclama o deslinde de controvérsias sobre provas de significa-
ção equívoca —, a inexistência material de prova necessária à construção do
suposto de fato da decisão coatora” (HC n. 71.161, Rel. Min. Sepúlveda Pertence.
Grifei. No mesmo sentido, cf. ainda, HC n. 72.500, Rel. Min. Sydney Sanches, e
HC n. 83.542, Rel. Min. Sepúlveda Pertence).
564 R.T.J. — 197
Por todas essas razões, voto pelo não-conhecimento do pedido, mas concedo
habeas corpus de ofício para, cassando o acórdão proferido pelo Superior Tribunal de
Justiça, determinar a essa egrégia Corte que aprecie o mérito dos fundamentos enuncia-
dos, que não postulam reexame algum da prova.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Vossa Excelência não conhece por quê?
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Não quero adentrar o conhecimento dessas matérias,
porque suprimiria uma instância, eventualmente em prejuízo do status libertatis.
Supondo-se que o paciente lhe visse negados, desde logo, todos esses fundamentos,
perderia o juízo de uma instância.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente) — Mesmo contra o “parecer” de
Vossa Excelência?
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa (Relator) — Senhor Presidente, temos um proble-
ma sério: sou o Relator e não avancei sobre o mérito; o Ministro Cezar Peluso, porém,
o esgotou. Então, creio, há de me ser concedida a oportunidade não só de manter o meu
voto pelo não-conhecimento mas também de ler a parte relativa ao mérito.
O Sr. Ministro Carlos Britto: É pelo não-conhecimento ou pelo indeferimento?
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Não há divergência. Também não estou conhecendo
da ação e concedendo o habeas corpus de ofício.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente): E o Ministro Joaquim Barbosa?
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa (Relator): Não concedo, pelas razões que vou
expor no voto.
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Senhor Presidente, se Vossa Excelência me permite
a ousadia, gostaria primeiro de ser esclarecido.
O eminente Relator está reconsiderando o voto? Porque Sua Excelência não
conhece do habeas corpus. A mim me parece que, agora, avança no exame das provas
do processo. Se não conhece do habeas corpus e se não há divergência, porque também
não conheço, não percebo bem como apreciar o mérito.
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa (Relator): Falta colher os votos dos Ministros
Marco Aurélio e Sepúlveda Pertence.
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Vossa Excelência não conheceu do habeas corpus.
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa (Relator): Não conheci e fui acompanhado pelo
Ministro Carlos Britto.
O Sr. Ministro Cezar Peluso: O mesmo eu.
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa (Relator): Já está formada a maioria pelo não-
conhecimento.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Seria interessante enfrentarmos a preliminar de
não-conhecimento, porque Sua Excelência está indo, realmente, ao mérito, e, pelo
visto, para indeferir o habeas corpus.
R.T.J. — 197 565
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Exatamente. Noutras palavras, para não conhecer, Sua
Excelência invocou o fundamento da impossibilidade da análise da prova e, agora,
examina a prova para se encaminhar não sei bem para qual direção. Enfim, Sua Excelên-
cia precisaria, em primeiro lugar, que a Turma julgadora tivesse conhecido do habeas
corpus para poder avançar no conhecimento do mérito. Como Sua Excelência manteve
o não-conhecimento — assim também votamos o Ministro Carlos Britto e eu —, a menos
que algum de nós reconsidere os votos, não se conhecerá do habeas corpus.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Processualmente, seria o caso de conhecer e indeferir;
não se trata de não-conhecimento.
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa (Relator): Acho que, ao seguir o raciocínio do
Ministro Cezar Peluso, estaremos deixando de lado a fundamentação do habeas corpus
e reexaminando in totum a sentença.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente): Ao que entendi, do Ministro
Cezar Peluso, S. Exa., na linha principal do seu raciocínio, procurou demonstrar que os
argumentos postos perante o Superior Tribunal de Justiça não eram questões de fato,
mas de direito.
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Exatamente, duas questões idênticas. Eram três
fundamentos, dentre os quais, realmente o segundo poderia envolver uma questão de
apreciação de prova; mas o primeiro e o terceiro, como tentei demonstrar, eram meras
questões jurídicas, ou seja, de avaliação da juridicidade.
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa (Relator): Mas acho que temos de concluir a
preliminar.
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Mas, então, vamos voltar à preliminar; se conhece-
mos, ou não, do habeas corpus.
PROPOSTA DE ADIAMENTO
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa (Relator): Senhor Presidente, vamos ter um
fenômeno inusitado: o Relator terá de pedir vista para examinar esse ponto, porque,
como disse Vossa Excelência, o Ministro Cezar Peluso deu um verdadeiro parecer.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente): O Tribunal tem o seu cerimonial;
não se diz que o Relator pediu vista. Em rigor, ele conheceu dos autos e indicou
adiamento.
EXTRATO DA ATA
HC 83.658/RJ — Relator: Ministro Joaquim Barbosa. Paciente: César Andrade
Lima Souto ou César Andrade de Lima Souto. Impetrantes: Antonio Carlos de Almeida
Castro e outros. Coator: Superior Tribunal de Justiça.
Decisão: Prosseguindo o julgamento, após o voto do Ministro Cezar Peluso, que
também não conhecia do pedido de habeas corpus, mas concedia a ordem de ofício
para devolver a impetração a julgamento do Superior Tribunal de Justiça, o julgamento
foi adiado por indicação do Ministro Joaquim Barbosa, Relator.
566 R.T.J. — 197
EXPLICAÇÃO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente): Ministro Joaquim Barbosa, Vos-
sa Excelência não chega ao indeferimento?
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa (Relator): Não. Vou prosseguir no mérito.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente): Pelo que entendi, Vossa Excelên-
cia levou em conta, sobretudo, que os votos no STJ examinaram a questão. Dessa forma,
embora o dispositivo tenha sido de não-conhecimento, cabe examinar, de logo, o
mérito.
VOTO
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa (Relator): A impetração originariamente submete
à apreciação da Corte duas questões: de um lado, a inexistência de prova da participa-
ção do paciente nos fatos que levaram a sua condenação; de outro, a impossibilidade de
condenação de alguém por corrupção ativa na hipótese de absolvição dos supostos
corrompidos. Ao lado dessas questões, há outras três teses que, embora não tenham sido
argüidas pelo impetrante, foram suscitadas de ofício pelo Ministro Cezar Peluso: uma
referente à violação do princípio da correlação entre acusação e sentença e outras
concernentes à fixação da pena imposta.
Negativa de autoria, bilateralidade da corrupção ativa e passiva e violação do princí-
pio da correlação
No mérito, a primeira tese — da negativa de autoria — não procede. O paciente,
sobrinho do bicheiro Castor de Andrade, era responsável por toda a contabilidade do
esquema de jogo do bicho por aquele comandado. Mediante perícia grafotécnica,
constatou-se em diversos livros-caixa (anexos referidos no volume 2 do apenso, fls.
7374-7379) o pagamento de valores a diversas delegacias de polícia do Rio de Janeiro.
Há ainda prova testemunhal, de pessoa imediatamente subordinada ao paciente, que
confirma a ocorrência de corrupção ativa por este praticada.
570 R.T.J. — 197
58 réus, dos quais cinco foram condenados por corrupção ativa e doze por corrupção
passiva. Já nos autos em que o paciente figurou como réu, houve três condenações:
duas por corrupção passiva e a do paciente, por corrupção ativa. Não são, pois,
verdadeiras as assertivas dos impetrantes no sentido de que “ninguém foi condenado
por corrupção ativa [...] à exceção do Paciente” (fl. 07) e de que “as pessoas aponta-
das na vestibular como destinatárias de propinas, na Comarca de Angra dos Reis,
foram inocentadas” (fl. 09). Houve, sim, pessoas condenadas por receber propina
oriunda do fundo gerido pelo paciente.
Os impetrantes se agarram ao fato de que um dos denunciados por corrupção
passiva (sob a modalidade “receber”), Nicolau Cassiano Neto, juiz da comarca de
Angra dos Reis à época dos fatos, foi absolvido.
De fato, se esse fosse o único réu denunciado por receber vantagem indevida dada
pelo paciente, a tese aventada — de que haveria bilateralidade entre “oferecer” e
“receber” — poderia até merecer um pouco mais de atenção. Mas não é o caso.
Por ocasião do julgamento da ação penal pelo Tribunal de Justiça carioca, a tese
ora suscitada foi repelida de forma motivada, nos seguintes termos:
“[...] Em que pese não se ter conseguido provar o efetivo recebimento, pelos
três co-réus que exerciam suas funções naquela cidade e imediações, das propinas
referidas na denúncia (co-réus Nicolau Cassiano Neto, José Roberto da Silva
Ferrari e Paulo Tarso Oliveira Leite) — sem que se tenha, como mostrado ao longo
desta decisão, qualquer dúvida quanto à efetiva saída, para lhes serem entregues,
das quantias escrituradas —, o certo é que os livros de movimento do caixa de
Angra dos Reis estão repletos de registros de pagamentos de somas em dinheiro a
funcionários públicos e a órgãos da Secretaria de Segurança Pública, podendo ser
citados, a título de amostragem, os seguintes exemplos, selecionados pela maior
legibilidade dos lançamentos respectivos: [segue extensa lista de delegacias e
pessoas que teriam recebido vantagem por parte do paciente].” (Apenso 2, fls.
7373-7379)
Em complemento, a fim de que se individualizasse quem teria recebido as propi-
nas dadas pelo paciente, o acórdão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro condenou
outros dois co-réus do paciente por corrupção passiva (sob a modalidade “receber”),
mediante análise minuciosa de prova documental, de prova testemunhal e ainda de
interceptação telefônica.
Paulo César Oliveira Santos, detetive-inspetor lotado na 28ª Delegacia de Polícia
(apenso, v. 1, fls. 7139-7140, e v. 2, fls. 7393-7402), e Alan Cardeque Manoel Villela,
detetive-inspetor lotado na Divisão de Repressão a Entorpecentes (fls. 7139-7140 e fls.
7402-7407), foram condenados justamente porque receberam diversas vezes vantagem
econômica indevida, oriunda do “caixa” alimentado pelo paciente e pelos demais
chefes do jogo do bicho. E — aqui é importante frisar — as condenações tomaram por
base os mesmos livros contábeis que nortearam, entre inúmeras outras provas, a conde-
nação do paciente.
No Superior Tribunal de Justiça, o Ministro Paulo Gallotti, presidente da Sexta
Turma, destacou com precisão esse aspecto. Transcrevo trecho de seu voto:
R.T.J. — 197 573
consideração de duas ações penais ainda em curso como maus antecedentes e o motivo
invocado — “enriquecimento fácil à custa das economias exatamente das camadas
mais pobres da sociedade, nas quais se recrutam os apostadores do ‘jogo do bicho’ e
outros semelhantes” (Apenso 2, fls. 251) —, que seria estranho ao crime pelo qual fora
o paciente condenado, a saber, corrupção ativa, e não — como por erro considerou a
sentença condenatória — promoção de jogo do bicho.
Pois bem, creio que não há violação do referido dispositivo do Código Penal.
Em primeiro lugar, é importante destacar que o art. 59 do Código Penal exige,
para fixação da pena-base, análise conjunta de todas as circunstâncias do fato concreto,
bem como das condições pessoais do acusado. A redação do aludido dispositivo não
deixa dúvidas a esse respeito:
“Art. 59. O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta
social do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem
como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e
suficiente para a reprovação e prevenção do crime: [...]”
E o que fez o acórdão condenatório? Analisou todos os itens do art. 59 do Código
Penal e concluiu o seguinte:
“As chamadas circunstâncias judiciais, enumeradas no art. 59 do Código
Penal, mostram-se de todo desfavoráveis ao acusado, tornando imperiosa a fixa-
ção da pena-base consideravelmente acima do mínimo legal.” (Apenso 2, fl.
7380)
A partir daí, houve minuciosa avaliação de todas as circunstâncias judiciais. Cito
aleatoriamente o exame feito no acórdão condenatório de apenas duas das circunstân-
cias do art. 59 do Código Penal: a culpabilidade e as conseqüências do crime.
Diz o acórdão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro:
“A culpabilidade não poderia ser mais intensa, afigurando-se sumamente
reprovável o comportamento de quem, visando a garantir o livre desempenho de
atividade ilícita como a exploração de jogos contravencionais, associa-se a outros
contraventores para, de forma organizada e sistemática, desmoralizar o aparelho
policial através da disseminação da corrupção entre os seus integrantes, da mais
elevada à mais modesta hierarquia, sem a menor preocupação com os reflexos —
desastrosos para a sociedade — da desmoralização dos órgãos incumbidos da
manutenção da ordem e da apuração das infrações penais.” (Apenso 2, fl. 7381)
E ainda:
“As conseqüências do crime, finalmente, são de gravidade extrema, apre-
sentando-se como a mais importante circunstância judicial a ser considerada.
Como se observou ao fundamentar a fixação das penas do segundo réu, condena-
do pela prática do crime de corrupção passiva, a corrupção de um membro da
Polícia, interagindo com a de outros integrantes do organismo policial, produz,
ao longo do tempo, a desmoralização de todo o aparelho estatal de prevenção e
repressão ao crime, tornando-o, cada vez mais, inoperante e inconfiável. O resul-
tado direto e imediato é o aumento da criminalidade até níveis insuportáveis, a
576 R.T.J. — 197
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente): A minha dúvida é a seguinte: o
Ministro Cezar Peluso chegou a conceder de ofício para esses fins que V. Exa. rejeita,
ou apenas para remeter ao STJ?
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Só remetia. Não examinei nenhuma dessas questões.
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa (Relator): Eu levantei essa preliminar e a submeti
à Turma.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente): Não. V. Exa. conheceu quanto à
questão principal, aí está perfeito, e toda a Turma concordou. Agora, quanto às outras
questões, a não ser que um Ministro da Turma proponha a concessão de ofício, creio
que V. Exa. está propondo a denegação de ofício.
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa (Relator): Eu submeti novamente a questão à
Turma quanto ao conhecimento da primeira questão, original. Sustentei, também,
como se tratava de questão jurídica, que deveríamos examinar, já, a proposta do
Ministro Peluso. Foi isso que submeti à Turma.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Parece que o Ministro Cezar Peluso remetia para o
STJ, mas já avançava razões concessíveis do habeas corpus.
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Penso ser o melhor intérprete de mim mesmo. Eu
apenas disse que havia, nos autos, alguns elementos que, eventualmente, poderiam
sugerir nulidades — o verbo foi usado exatamente no condicional — que maculariam
o processo. Não as examinei, todavia. A justificação era não transformar o habeas
corpus em recurso da acusação, no qual se pudessem colher argumentos desfavoráveis
ao paciente num caso marcado pela singularidade de a sentença ter sido prolatada em
578 R.T.J. — 197
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Mas eu não fiz proposta nenhuma sobre essa matéria,
Ministro.
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa (Relator): Fui seguido pela Turma. Vou ler o
voto:
“Creio que a proposta de concessão de ofício feita pelo Ministro Peluso não
precisa ser previamente apreciada pelo STJ, tendo em vista três aspectos: primei-
ro, por tratar de questão meramente jurídica; segundo, porque visa a favorecer o
paciente; e terceiro, porque os autos contêm toda a documentação necessária ao
julgamento do mérito. (...)
Assim, pedindo vênia ao Ministro Peluso, entendo ser caso também de se
conhecer da impetração pelos fundamentos para cujo exame S. Exa. entende ser
necessário o prévio julgamento por parte do STJ.
(...)
Submeto a questão ao crivo da Turma para nova deliberação, tendo em vista
que na primeira assentada o Ministro Britto me acompanhou quanto ao não-
conhecimento da impetração e, na segunda assentada, o Ministro Peluso também
não a conhecia, mas por outro fundamento, e devolvia o caso ao STJ.”
Foi isso que submeti à Turma e fui acompanhado. Passamos, então, ao exame do
mérito.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Senhor Presidente, quando votei, foi quanto à
admissibilidade do habeas tal como impetrado. Compreendi a proposta do Ministro
Cezar Peluso no sentido da devolução para o exame dessas matérias pelo Superior
Tribunal de Justiça. Resta saber se essas questões, alvo da proposta, foram colocadas
perante o Superior Tribunal de Justiça.
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa (Relator): Não foram.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente): Nós só podemos cogitar delas
para conceder.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Para conceder a ordem e, mesmo assim, de ofício,
porque não estão versadas na inicial.
O Sr. Ministro Cezar Peluso: V. Exa. me permite? O eminente Ministro Relator
examinou aquilo que eu não quis, com receio de que acontecesse o que está acontecen-
do: examinar em primeira mão.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Mas não devemos examinar para indeferir!
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Exatamente.
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa (Relator): Eu indefiro para que não seja remetido
ao STJ.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente): O Ministro Moreira Alves era
radical. Lembro que muitas vezes o eminente Dr. Cláudio Fonteles aventava a concessão
de ofício e o Ministro Moreira Alves dizia: Eu não, não posso sabê-lo; esses meus
Colegas são muito maus.
580 R.T.J. — 197
EXTRATO DA ATA
HC 83.658/RJ — Relator: Ministro Joaquim Barbosa. Paciente: César Andrade
Lima Souto ou César Andrade de Lima Souto. Impetrantes: Antonio Carlos de Almeida
Castro e outros. Coator: Superior Tribunal de Justiça.
Decisão: Prosseguindo o julgamento, após a retificação de votos dos Ministros
Joaquim Barbosa, Relator, Carlos Britto e Cezar Peluso, a Turma, por unanimidade,
conheceu do pedido de habeas corpus. No mérito, após o voto do Ministro Joaquim
Barbosa, Relator, indeferindo o pedido de habeas corpus, pediu vista dos autos o
Ministro Cezar Peluso.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros
Marco Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto e Joaquim Barbosa. Subprocuradora-Geral
da República, Dr. Maria Caetana Cintra Santos.
Brasília, 15 de junho de 2004 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
VOTO (Ratificação)
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Votei, sinteticamente, no sentido de concessão de
habeas de ofício, para, cassando o acórdão do Superior Tribunal de Justiça, determinar
que este aprecie o mérito de dois fundamentos do habeas corpus impetrado naquela
Corte, os quais, a meu ver, constituem apenas quaestiones iuris, assim resumidas:
1ª necessária bilateralidade entre os crimes de corrupção ativa e passiva, quando
praticado o segundo na modalidade de “receber” vantagem indevida (Apenso I, inicial
do habeas corpus impetrado perante o STJ, fl. 21);
2ª imprestabilidade de prova obtida em fase extrajudicial e não confirmada em
juízo, com observância do contraditório (ibid., fl. 27).
É que, como deixei consignado no voto vista, as questões, não conhecidas pelo
STJ sob argumento de implicarem reexame de prova, não o implicavam, assim porque
a primeira respeita a uma estrita questão de direito, como porque a segunda concerne à
valoração teórica de elemento de prova para fins de sustentação de decreto
condenatório. Por essa razão, pareceu-me, e continua parecendo, que não pode aquela
Corte deixar de apreciá-las.
O eminente Relator, que votou inicialmente pelo não-conhecimento do writ,
porque postularia denso reexame da prova, reformulou o entendimento e entrou a
conhecer das matérias suscitadas, sustentando que aquelas duas questões, não apre-
ciadas segundo meu juízo, o teriam sido efetivamente. Daí, afirma a suficiência das
provas para a condenação e a improcedência da tese da bilaterialidade (p. 17), e, em
seguida, as “teses” que teria eu apresentado (pp. 18 e ss.).
No que tange, especificamente, às razões pelas quais concedi habeas de ofício,
diz o nobre Relator:
“Ocorre que da leitura dos votos proferidos cheguei à conclusão diversa. O
voto do Ministro Relator, Fontes de Alencar, é no sentido da denegação da ordem;
são utilizadas como fundamentação as provas produzidas contra o paciente,
R.T.J. — 197 581
Está claro, pois, com o devido respeito, que nada consta do acórdão sobre a
específica questão jurídica suscitada (pactum sceleris), cuja especificidade está na
existência, ou não, de correlação necessária entre corrupção ativa e passiva, quando
seja esta cometida na modalidade de “receber” vantagem indevida. Não se trata de
discutir correlação teórica absoluta entre os dois tipos, compreendendo todos os seus
verbos nucleares, mas na moldura particular de dar e receber vantagem indevida
(pactum sceleris).
Quanto à segunda questão — imprestabilidade de prova obtida em fase
extrajudicial, sem confirmação em juízo contraditório —, o Min. Fontes de Alencar
efetivamente dela tratou em seu voto, posto que de forma lacônica, invocando trecho
do acórdão condenatório, verbis:
“Como se vê, o depoimento foi ratificado em sede de produção antecipada
de provas. Assim, não há que se falar em violação ao princípio do contraditório”
(fl. 68).
Mas a questão guarda relevante singularidade no caso. É que, embora o acórdão
do Tribunal de Justiça, no trecho transcrito, se reporte a procedimento de produção
antecipada de prova testemunhal, cujos autos constituiriam o Anexo 72 (fls. 285-287,
c.c. fls. 68), dele também consta, de maneira não menos expressa, a título de um dos
fundamentos da absolvição do juiz Nicolau Cassiano Neto, o qual teria recebido o
dinheiro, que:
“Além da pouca credibilidade da palavra de Ronaldo, seu depoimento
ressente-se, ainda, da circunstância de haver sido colhido sem a garantia do
contraditório, não tendo sido possível a repetição em juízo em face do desapare-
cimento da testemunha, não mais localizada desde a época em que foi ouvida pelo
Ministério Público” (fl. 7390 dos autos do acórdão. Grifos meus).
Ora, da conjugação de ambas as afirmações do acórdão do Tribunal de Justiça, à
luz da inicial deste habeas corpus, infere-se que ou haveria, aí, contradição grave,
capaz de lhe comprometer a validez de certas conclusões, ou, como tudo indica, o
procedimento de produção antecipada de prova testemunhal teria prescindido de
citação do ora paciente, a quem, por falta das oportunidades garantidas do princípio do
contraditório, não poderia ser oposto como prova emprestada, no processo de que se
cuida. É que, como consta do acórdão mesmo, o ora paciente foi denunciado em
aditamento, antes do qual foi tomado, pelo Relator, em produção antecipada de prova,
o depoimento de Ronaldo Soares de Azevedo:
“Quanto à impossibilidade das defesas dos réus incluídos no aditamento
participarem da inquirição da testemunha Ronaldo Soares de Azevedo, cujo
depoimento foi colhido antes do oferecimento da denúncia originária através
da medida cautelar de produção antecipada de prova, a questão, suscitada pela
defesa do réu Paulo Tarso Oliveira Leite, nada tem a ver com a da ocorrência ou
não de quebra do princípio da indivisibilidade, dizendo respeito, exclusivamen-
te, ao valor probatório que possa ter semelhante testemunho, como prova em-
prestada, em relação aos réus cujas defesas não tenham participado da inquiri-
ção” (fl. 7200 dos autos do acórdão. Cf., ainda, fls. 7188-1189. Grifos meus).
R.T.J. — 197 583
Foi esta a razão por que, na justificação da absolvição de Humberto Chucri David
e Weber Stabile, o mesmo acórdão aduziu:
“Ainda aqui ressente-se a prova de acusação da impossibilidade da obten-
ção de maiores esclarecimentos por parte do desaparecido Ronaldo Soares de
Azevedo, ouvido sobre os fatos em depoimento prestado a uma das partes do
processo” (fl. 7366 dos autos do acórdão. Grifos meus).
Por resumir, estava posta, diante dos próprios termos do acórdão do Tribunal de
Justiça do Rio de Janeiro, a questão jurídica (quaestio iuris) do valor de prova empres-
tada, colhida sem citação do ora paciente e, portanto, sem observância do contraditó-
rio. O que disse a respeito, à luz, não do reexame da prova, mas dos próprios termos do
acórdão do Tribunal de Justiça, o STJ? Nada. Mas penso que, por ser esse aspecto
relevante da questão de direito sobre o alcance de prova obtida sem o contraditório,
devera tê-lo apreciado.
São as razões por que confirmo meu voto.
EXTRATO DA ATA
HC 83.658/RJ — Relator: Ministro Joaquim Barbosa. Paciente: César Andrade
Lima Souto ou César Andrade de Lima Souto. Impetrantes: Antonio Carlos de Almeida
Castro e outros. Coator: Superior Tribunal de Justiça.
Decisão: Prosseguindo o julgamento, após o voto do Ministro Cezar Peluso, que
concedia o habeas corpus, de ofício, para devolver o julgamento da impetração ao
Superior Tribunal de Justiça, a fim de que sejam examinados os tópicos enumerados em
seu voto, e do voto do Ministro Carlos Britto, que acompanhava o voto do Relator,
pediu vista dos autos o Ministro Marco Aurélio.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros
Marco Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto e Joaquim Barbosa. Subprocurador-Geral
da República, Dr. Edson Oliveira de Almeida.
Brasília, 22 de junho de 2004 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
VOTO (Vista)
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Delimito as impetrações, ou seja, a ocorrida no
Superior Tribunal de Justiça e nesta Corte. Naquele Tribunal, revela o apenso 1 que se
apontaram três causas de pedir visando à concessão da ordem, a saber:
a) Bilateralidade, no caso, do crime de corrupção. O raciocínio desenvolvido
parte da premissa de que a peça acusatória versou sobre o fato de alguém haver
solicitado vantagem pecuniária e tê-la alcançado, recebendo valores, imputando-se ao
paciente o pagamento mediante interposta pessoa.
b) Transgressão do princípio do juiz natural, levando em conta o fato de a ação
penal haver sido julgada pelo Tribunal de Justiça, ante o envolvimento, como acusado,
do magistrado Nicolau Cassiano Neto. No particular, mencionou-se o julgamento do
Habeas Corpus n. 69.807/RJ, relatado pelo Ministro Néri da Silveira, quando a Corte,
584 R.T.J. — 197
EXPLICAÇÃO
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Senhor Presidente, no caso, a premissa do acórdão
condenatório é única: a existência do fundo comum, o fundo abrangente.
Como consignei em voto, aludiu-se a essa parte da defesa segundo a qual seriam
os envolvidos policiais de outra circunscrição que não aquela na qual estaria o paciente
a atuar no jogo do bicho: Angra dos Reis e cidades próximas. Então, colocou-se em
plano secundário o elo causal que decorreria, em si, não da entrega direta de valores,
mas da contribuição, e discorreu-se sobre gerenciamento, com perícia realizada, da
contribuição para o fundo.
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente): Peço todas as vênias ao Ministro
Cezar Peluso, para acompanhar o voto do eminente Relator. Já tenho sustentado aqui,
até com muita insistência — embora reconheça que a jurisprudência da atual como da
antiga Primeira Turma é um pouco fluida, vacilante —, que, suscitado o problema
perante o STJ, caberia o seu exame aqui, se na causa de pedir suscitada perante o STJ,
ainda que por ele não considerada, insiste o impetrante.
Vejo uma opção clara dos impetrantes, que não atuam como qualquer do povo,
mas como defensores do acusado, de só submeter ao Tribunal, entre os fundamentos do
habeas corpus requerido ao STJ, um deles: a bilateralidade da corrupção ativa na
modalidade dar a vantagem indevida com a corrupção passiva de receber a mesma
vantagem, e dada absolvição do indigitado autor da corrupção passiva.
Por isso, neste caso, deixo à defesa tomar a atitude que lhe parecer adequada para
sanar o que parece ter sido uma omissão do STJ, dado que suscitada a questão.
Quanto à bilateralidade, os votos dos eminentes Ministros Joaquim Barbosa,
Carlos Britto e, agora, do Ministro Marco Aurélio, a meu ver, demonstraram, com muita
clareza, que a questão não é tão simples. A condenação do paciente não se deveu
exclusivamente, pelo menos, à suposta corrupção do Juiz de Direito.
Por isso, indefiro a ordem.
EXTRATO DA ATA
HC 83.658/RJ — Relator: Ministro Joaquim Barbosa. Paciente: César Andrade
Lima Souto ou César Andrade de Lima Souto. Impetrante: Antonio Carlos de Almeida
Castro e outros. Coator: Superior Tribunal de Justiça.
Decisão: Prosseguindo no julgamento, a Turma indeferiu o pedido de habeas
corpus. Vencido, em parte, o Ministro Cezar Peluso, que concedia o habeas corpus, de
ofício, para devolver o julgamento da impetração ao Superior Tribunal de Justiça, a fim
de que sejam examinados os tópicos enumerados em seu voto.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros
Marco Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto e Joaquim Barbosa. Subprocurador-Geral
da República, Dr. Wagner de Castro Mathias Netto.
Brasília, 29 de junho de 2004 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
R.T.J. — 197 587
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das
notas taquigráficas, por unanimidade de votos, negar provimento ao agravo, nos
termos do voto do Relator. Impedido o Dr. Cláudio Lemos Fonteles, Procurador-Geral
da República. Ausente, justificadamente, o Ministro Gilmar Mendes. Presidiu o julga-
mento o Ministro Nelson Jobim.
Brasília, 23 de junho de 2004 — Nelson Jobim, Presidente — Celso de Mello,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Celso de Mello: A douta Procuradoria-Geral da República, em
parecer da lavra do Vice-Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando Bar-
ros e Silva de Souza — ilustre substituto legal do eminente Chefe do Ministério
Público da União, que ora figura como autoridade coatora —, assim sumariou e
apreciou o recurso de agravo interposto pela Federação das Associações dos Advoga-
dos do Estado de São Paulo – FADESP (fls. 90/96):
R.T.J. — 197 589
13. Aliás, ainda que o presente H.C. tivesse como objeto a tutela da liberda-
de de locomoção, melhor sorte não assistiria aos impetrantes por ausência de
demonstração de que todos os advogados inscritos na OAB - Seccional São Paulo,
pudessem vir a sofrer, de maneira imediata, constrição em seu direito.
14. Nesse sentido, asseveram os impetrantes em sua petição recursal, que por
se tratar de habeas corpus preventivo, não haveria a possibilidade de se fazer
alusão a atos concretos ou a procedimentos penais específicos.
15. Ocorre, no entanto, que ainda quando se trate de procedimento preven-
tivo, a exigência da indicação da situação onde, concretamente, poderá vir a ser
desrespeitado o direito de locomoção, se faz presente, uma vez que não é possível
o conhecimento de H.C. promovido contra ato do qual não resulte ofensa à
liberdade de locomoção.
16. No caso em foco, o ato impugnado é a eventual requisição de autorização
judicial para a quebra do sigilo telefônico, ou seja, pretendem os impetrantes,
garantir que no bojo de investigação criminal, esteja o Ministério Público impedi-
do de requerer autorização judicial para efetuar escutas telefônicas em linhas de
advogados, sob a alegação de que o simples requerimento seria prática de cons-
trangimento ilegal.
17. Ora, falaciosa a consideração expendida pelos agravantes, pois o sim-
ples pedido de autorização formulado pelo Parquet não é ato capaz de violar
qualquer direito dos impetrantes, na medida em que sujeito à análise e deferimento
pelo Poder Judiciário.
18. O fato é que, conforme destacado na decisão agravada, o chefe do
Ministério Público não tem autoridade para determinar a realização de escuta
telefônica lícita, cabendo-lhe somente, em determinadas situações, solicitar a
necessária autorização da autoridade judiciária que, após a verificação do
preenchimento dos requisitos estabelecidos na Lei 9.296/96, deferirá, ou não, o
pedido.
19. Pretendem fazer crer os agravantes que as escutas telefônicas são
realizadas de forma corriqueira, em qualquer investigação criminal. Isso não é
verdade, uma vez que a citada Lei 9.296/96 impõe rígidos requisitos à conces-
são da autorização, dentre os quais se destaca a inexistência de outros meios de
prova.
20. Ademais, é importante observar que a decisão deferitória do pedido de
interceptação das comunicações telefônicas, há de ser fundamentada, razão pela
qual, ao contrário do afirmado pelos agravantes, a prática só recairá sobre telefo-
nes de advogados quando em relação a estes houver indícios razoáveis de autoria
ou participação em infração penal, pois em hipótese diversa não seria admitida a
escuta, nos termos do inciso I, do artigo 2º, da supracitada Lei.
21. Cumpre destacar, ainda, que o princípio da proporcionalidade, invoca-
do pelos recorrentes, revela-se suficiente à demonstração da impossibilidade de
provimento deste agravo regimental.
592 R.T.J. — 197
VOTO
O Sr. Ministro Celso de Mello: (Relator): Trata-se de recurso de agravo, que,
tempestivamente interposto pela Federação das Associações dos Advogados do Estado
de São Paulo, insurge-se contra decisão, por mim proferida, que não conheceu da ação
de habeas corpus ajuizada perante esta Corte pela entidade de classe em questão e,
também, por ilustres Advogados.
R.T.J. — 197 593
O ato decisório em questão apoiou-se, para tanto, em três (3) fundamentos: (a) o
caráter absolutamente genérico da impetração, que não indicou qualquer ato concre-
to ou procedimento específico em cujo âmbito estariam sendo praticadas medidas
caracterizadoras de injusto constrangimento ao status libertatis da totalidade dos
Advogados inscritos na OAB/Seção de São Paulo; (b) a inviabilidade da ação de
habeas corpus em causa, porque promovida com o objetivo de preservar a relação de
confidencialidade entre os Advogados paulistas e seus clientes, protegendo-lhes, em
conseqüência, não a sua liberdade de locomoção física, mas, sim, a integridade do seu
direito à intimidade e (c) a ausência de legitimatio ad causam passiva do Procurador-
Geral da República, para figurar como autoridade coatora na relação processual em
questão, eis que — além de não lhe haver sido atribuído qualquer ato específico de
que pudesse derivar ofensa ao direito de ir, vir e permanecer dos Advogados inscritos
na Seção paulista da OAB — também não se lhe pode imputar responsabilidade por
eventual decretação judicial de interceptação de conversações telefônicas, pois não
dispõe, para tanto, de competência constitucional para ordenar tão extraordinária
providência de caráter probatório.
A parte ora agravante, inconformada com tal decisão, veio a impugná-la no
presente recurso, neste reproduzindo, essencialmente, os fundamentos constantes
da impetração do pedido de habeas corpus, renovando a alegação de que “todos os
membros da nobre classe dos advogados, sem exclusão de quem quer que seja (...)”,
estariam sofrendo situação de constrangimento ilegal, decorrente “da violação ao
direito-dever de comunicação reservada com seus clientes, em razão das constantes,
inadmissíveis, inconstitucionais e ilegais interceptações de linhas telefônicas per-
tencentes sabidamente a advogados inscritos na OAB, no Estado de São Paulo,
ocorridas sob a lacônica justificativa de investigação criminal, por iniciativa do
Ministério Público Federal, com a complacência da autoridade coatora, o Senhor
Procurador-Geral da República, Chefe e representante do Ministério Público Federal,
a quem compete coibir os abusos cometidos pelos demais membros desse órgão” (fl.
51 — grifei).
Afirma, ainda, a parte ora recorrente, que “os Princípios da Proporcionali-
dade e da Razoabilidade (...) deveriam ter norteado a interpretação que se deu, na
decisão recorrida, ao Princípio do Devido Processo Legal, a fim de que o Senhor
Ministro Relator, em nome das garantias e salvaguardas maiores do Estado de
Direito, houvesse por bem relevar e afastar qualquer óbice formal que, segundo seu
entendimento (com o qual a Impetrante não concorda e cujo equívoco será abaixo
demonstrado), estivesse a impedir a concessão da ordem de Habeas Corpus e o
restabelecimento do direito da inviolabilidade da comunicação reservada entre
advogado e cliente, usurpados pelo Ministério Público Federal, em todo o território
nacional, com o beneplácito da autoridade apontada como coatora, no bojo de
investigações criminais” (fl. 56).
Passo a apreciar o presente recurso de agravo. E, ao fazê-lo, entendo assistir
plena razão ao eminente Vice-Procurador-Geral da República, quando opina pelo
improvimento desta impugnação recursal, em parecer assim ementado (fl. 90):
594 R.T.J. — 197
Não se pode perder de perspectiva, neste ponto, que, com a Reforma Constitucio-
nal de 1926 — que importou na cessação da doutrina brasileira do habeas corpus —
este writ passou a amparar, “única e diretamente, a liberdade de locomoção. Ele se
destina à estreita tutela da imediata liberdade física de ir e vir dos indivíduos...” (RTJ
66/396 — RTJ 177/1206-1207 — RT 423/327 — RT 338/99 — RF 213/390 — RF
222/336 — RF 230/280, v.g.).
Sabemos todos que o sentido abrangente da norma inscrita no art. 72, § 22, da
Constituição republicana de 1891, na redação anterior à estabelecida pela Revisão
Constitucional de 1926, elasteceu, sob o influxo da doutrina brasileira do habeas
corpus, o âmbito de incidência desse instrumento formal de proteção às liberdades
públicas.
A doutrina brasileira do habeas corpus — como enfatiza, em preciso magistério,
Roberto Rosas (Direito Processual Constitucional, pp. 85/86, 1983, RT) — ampliou o
campo de utilização desse remédio constitucional, permitindo que, por meio dele, se
defendessem outros direitos cujo gozo tivesse por suporte o exercício da liberdade de
locomoção física.
O habeas corpus, então, sob a decisiva influência das idéias sustentadas pelo
notável magistrado desta Corte, Pedro Lessa (“Do Poder Judiciário”, pp. 337/
339, 1915, Livraria Francisco Alves), passou a tutelar, no plano jurisdicional, não
só o direito de ir, vir e permanecer — ainda quando este, na simples condição de
direito-meio, pudesse vir a ser afetado de modo reflexo, indireto ou oblíquo (RF
22/306 — RF 34/505 — RF 36/192 — RF 38/213 — RF 45/183) —, mas, também,
a viabilizar a proteção de quaisquer outras prerrogativas jurídicas, que, lesadas
por comportamentos ilegais ou abusivos dos órgãos ou agentes da administração
pública, tivessem, na liberdade de locomoção física, a sua condição de exercício
(RF 13/148).
Na realidade, a ampliação das funções do habeas corpus deveu-se à inexistên-
cia, em nosso ordenamento positivo, de um remédio processual, que, à semelhança da
ação de mandado de segurança — que só viria a ser institucionalizada pela Constitui-
ção de 1934 —, atuasse como instrumento viabilizador da tutela pronta, imediata e
eficaz de outros direitos e liberdades expostos à ação eventualmente arbitrária do
Poder Público (Castro Nunes, “Do Mandado de Segurança e de outros meios de
defesa contra atos do Poder Público”, pp. 1/2, item n. 1, 8ª ed., 1980, Forense; Seabra
Fagundes, “O Controle dos Atos Administrativos pelo Poder Judiciário”, p. 258,
item n. 105, nota n. 19, 4ª ed., 1967, Forense, v.g.).
O fato irrecusável, no entanto, é que, após a Reforma Constitucional de 1926,
“A proteção do habeas corpus não vai além do direito de locomoção. Por ele não se
tutelam outros direitos, nem mesmo os que, na faculdade de ir e vir ou ficar, têm a sua
condição de exercício” (RF 222/336 — RT 173/24 — RT 338/99).
É por essa razão que o Supremo Tribunal Federal, em inúmeros julgamentos,
tem realçado o caráter estrito da destinação constitucional do remédio de habeas
corpus, como resulta claro das decisões a seguir transcritas:
596 R.T.J. — 197
VOTO (Explicação)
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto: Senhor Presidente, o que os impetrantes
chamam de intimidade, bem jurídico a preservar, na verdade, é privacidade. São coisas
inconfundíveis. A intimidade significa uma relação do indivíduo consigo mesmo, é um
monólogo ou solilóquio, é a pessoa humana, por exemplo, escrevendo o seu diário,
falando de si para si; ao passo que a privacidade não, já implica uma comunicabilidade,
embora en petit comité, mas a privacidade é sempre uma interação, é relacional. A
intimidade não, ela não pressupõe essa interação. As duas figuras jurídicas devem ficar
bem separadas, bem distintas. Não pode haver confusão porque são figuras técnicas que
a Constituição bem separa.
EXTRATO DA ATA
HC 83.966-AgR/SP — Relator: Ministro Celso de Mello. Agravantes: Advogados
inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) – Seccional de São Paulo, Federação
das Associações dos Advogados do Estado de São Paulo – FADESP e outro (Advogados:
Ricardo Hasson Sayeg e outro). Agravado: Procurador-Geral da República.
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, negou provimento ao agravo, nos termos
do voto do Relator. Impedido o Dr. Cláudio Lemos Fonteles, Procurador-Geral da
República. Ausente, justificadamente, o Ministro Gilmar Mendes. Presidiu o julgamento
o Ministro Nelson Jobim.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Celso de Mello, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Cezar Peluso,
Carlos Britto e Joaquim Barbosa. Procurador-Geral da República, Dr. Cláudio Lemos
Fonteles.
Brasília, 23 de junho de 2004 — Luiz Tomimatsu, Coordenador.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma
do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos,
deferir o pedido de habeas corpus, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 29 de junho de 2005 — Sepúlveda Pertence, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Os pacientes respondem a ação penal por
infringência ao art. 171, § 2º, I, Código Penal c/c o art. 1º, § 8º, do DL. 911/69, porque,
em nome da sociedade anônima que geriam, teriam vendido a terceiro seis automóveis
que, anteriormente, a empresa alienara fiduciariamente a instituição financeira em
garantia de empréstimo.
Historia a petição de habeas corpus:
“Em 26 de maio de 1992, o Banco Pontual S.A. celebrou com a Brasita S.A.
Comércio e Indústria um contrato de mútuo, no valor de Cr$ 1.400.000.000,00
(um bilhão e quatrocentos milhões de cruzeiros), convencionando-se o pagamen-
to de uma única prestação, aprazada para o dia 23 de novembro de 1992.
A tomadora do empréstimo não honrou a obrigação no prazo pactuado. Em
conseqüência, as partes formalizaram um aditamento ao aludido contrato. Firmaram
um instrumento de transação, confissão de dívida e outras avenças.
Como garantia desse novo ajuste, a devedora alienou fiduciariamente os
seis carros mencionados na denúncia.
Sucede que se estabeleceu um litígio entre as partes, que não chegavam a
um acordo sobre o montante da dívida.
A divergência ensejou a propositura de três ações: uma de busca e apreen-
são, uma execução contra os avalistas e uma execução de penhor mercantil.
Esse o contexto em que se insere a ação penal, contra cuja existência se
insurge a impetração deste pedido.
(...)”
606 R.T.J. — 197
Pretende o impetrante:
a) ser abusiva a denúncia, que visa a compelir o devedor pela ameaça penal ao
adimplemento da obrigação civil;
b) inexistir, no fato nela descrito, a tipicidade criminal, por ausência de dolo
penal, mas, quando muito, a presença de dolo civil;
c) seja reconhecida a violação do art. 41 do Código de Processo Penal, pois
além de a denúncia não especificar o ardil ou a fraude perpetrada, deixou de
personalizar as responsabilidades dos sócios da empresa, à qual efetivamente se
atribui o desvio;
O Ministério Público Federal, em parecer da lavra do Il. Subprocurador-Geral
Haroldo da Nóbrega, opinou pelo indeferimento da ordem, pois o art. 66, § 8º, da Lei
de Mercado de Capitais (Lei 4.728/65) “reitera o caráter delituoso do fato”, ao afirmar
que quem aliena “coisa que já alienara fiduciariamente em garantia ficará sujeito à
pena prevista no art. 171, § 2º, I, do Código Penal” (fls. 90/95).
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): Colhe-se da denúncia a descrição do
fato (fls. 18/23):
“(...)
No dia 13 de maio de 1993, (...) os denunciados Fernando, Ricardo e Elaine,
consciente e voluntariamente, em comunhão de ações e desígnios, agindo os dois
primeiros como representantes de direito e a terceira denunciada como represen-
tante de fato, todos da Brasita S/A, venderam como próprio, a José Antônio da
Cunha Gaspar (...), o veículo usado Ford/Del Rey (...), de propriedade fiduciária
do Banco Pontual S/A, sendo certo que os denunciados eram fiéis depositários do
citado automóvel, o qual fora alienado fiduciariamente em garantia de parte da
dívida contraída pela sociedade Brasita, junto ao Banco Pontual, através do
contrato de mútuo n. 1.281 (...)
Assim agindo obtiveram os denunciados, como representantes da Brasita
S/A, vantagem econômica ilícita em prejuízo do Banco Pontual S/A, na medida
em que alienaram como próprio o bem pertencente ao Banco Pontual, frustando
assim, a medida judicial de busca e apreensão do veículo, intentada pelo lesado
junto à 5ª Vara Cível da Comarca da Capital (processo n. 93.001.06857-5) — fls.
31/48.
(...)”
Relativamente ao mesmo contrato, segue a denúncia descrevendo outras cinco
condutas idênticas, alterando-se apenas o dia e os veículos objeto das alienações.
E, com relação aos dois últimos veículos que teriam sido alienados, não se afirma
que tenha sido frustrada nenhuma medida judicial.
R.T.J. — 197 607
EXTRATO DA ATA
HC 84.161/RJ — Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. Pacientes: Fernando Antô-
nio da Câmara Freire, Eliane Magda de Souza Freire ou Eliane Magada de Souza Freire e
Ricardo Canedo Cavalcanti ou Ricardo Canedo ou Ricardo Canedo Cavalcante.
Impetrante: Sergio Geraldo Moreira Rodrigues Jr. Coator: Superior Tribunal de Justiça.
Decisão: A Turma deferiu o pedido de habeas corpus, nos termos do voto do
Relator. Unânime. Não participou deste julgamento o Ministro Cezar Peluso.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros
Marco Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto e Eros Grau. Compareceu o Ministro
Joaquim Barbosa a fim de julgar processos a ele vinculados. Subprocurador-Geral da
República, Dr. Edson Oliveira de Almeida.
Brasília, 29 de junho de 2005 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
1 BITENCOURT, Cezar Roberto. Código Penal Comentado. 2. ed. Saraiva, 2004, p. 761.
2 FRAGOSO, Heleno C. Lições de Direito Penal. 2ª, Bushatsky, 1962, 2º/355.
608 R.T.J. — 197
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma
do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos,
indeferir o habeas corpus.
Brasília, 15 de fevereiro de 2005 — Carlos Ayres Britto, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto: Trata-se de habeas corpus, impetrado contra
acórdão do Superior Tribunal de Justiça assim ementado (fl. 93):
“Penal. Suspensão condicional do processo. Réu processado por novo
crime no curso do período de prova. Revogação automática do sursis mesmo que
ultrapassado o lapso probatório. Recurso provido.
I - A suspensão condicional do processo é automaticamente revogada, se, no
período probatório, o réu vem a ser processado pela prática de novo crime.
R.T.J. — 197 609
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto (Relator): Feito o relatório, passo ao voto.
6. Ao apreciar medida liminar requerida no presente writ, consignei, in verbis
(fl. 98):
610 R.T.J. — 197
Imaginemos uma situação concreta em que se parta para a aplicação da regra tal
como se contém no § 3º do artigo 89 e em que, posteriormente, mediante sentença
transitada em julgado, venha a ser selada a absolvição do acusado. Há conformidade do
sistema a levar-se a esse ponto o que está aludido no § 3º? Esse § 3º convive com o
princípio da não-culpabilidade?
A meu ver, quando se agasalha a cassação — que, para mim, no caso, surge com “ç”,
não com “ss” — do benefício, a partir da existência de um simples processo, coloca-se em
segundo plano o princípio da não-culpabilidade. Dá-se o prejuízo relativamente ao
envolvido sem que a culpa ou o dolo, no processo subseqüente, esteja selada.
EXTRATO DA ATA
HC 84.660/SP — Relator: Ministro Carlos Britto. Paciente: Denísio Rodrigues de
Morais ou Denísio Rodrigues de Moraes. Impetrante: PGE/SP – Waldir Francisco
Honorato Junior (Assistência Judiciária) e outro. Coator: Superior Tribunal de Justiça.
Decisão: A Turma decidiu remeter o presente pedido de habeas corpus a julga-
mento do Tribunal Pleno, a fim de resolver questão de constitucionalidade suscitada
pelo Ministro Marco Aurélio. Unânime. 1ª Turma, 31-8-2004.
Decisão: Retirado da mesa do Plenário por indicação do Relator. Presidência do
Ministro Nelson Jobim. Plenário, 22-9-2004.
Decisão: A Turma indeferiu o pedido de habeas corpus. Unânime.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros
Marco Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto e Eros Grau. Subprocurador-Geral da
República, Dr. Paulo de Tarso Braz Lucas.
Brasília, 15 de fevereiro de 2005 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira
Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence,
na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de
votos, deferir o pedido de habeas corpus, nos termos do voto do Relator. Ausente,
justificadamente, o Ministro Eros Grau.
Brasília, 22 de março de 2005 — Cezar Peluso, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Cezar Peluso: 1. Trata-se de Habeas Corpus impetrado em favor de
Diego Rodrigues Batista, contra acórdão do Superior Tribunal de Justiça que lhe
denegou o HC n. 31.762.
O ora paciente foi alvo de representação perante a 4ª Vara Especial da Infância e
Juventude de São Paulo (Proc. n. 2581-2), pela prática de ato infracional equiparado ao
roubo.
Posto em regime de semiliberdade, instaurou-se a ação de execução socioeduca-
tiva n. 49.288/01, junto ao Departamento de Execuções da Infância e Juventude de São
Paulo.
No curso do regime, entretanto, sem retornar da escola, foi apreendido de novo
pela prática de ato infracional grave (roubo) e objeto doutra representação, agora na 3ª
Vara Especial da Infância e Juventude (Proc. n. 4433-7), sendo-lhe aplicada nova
medida de semiliberdade.
A juíza do Departamento de Execuções, ao tomar conhecimento do incidente,
determinou a substituição do regime original de semiliberdade por internação-sanção
prevista no inc. III do art. 122 do Estatuto da Criança e do Adolescente (fl. 44). E, ao
depois, à vista do laudo psicossocial, substituiu a internação-sanção por internação
sem prazo certo (fl. 49).
Impetrou-se, então, ordem de habeas corpus perante a Câmara Especial do
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, sob alegação de constrangimento
ilegal, consistente na regressão da medida para internação sem prazo. O writ foi
denegado.
R.T.J. — 197 613
VOTO
O Sr. Ministro Cezar Peluso: (Relator): 1. Observo, desde logo, que o disposto no
art. 121 do Estatuto da Criança e do Adolescente está em harmonia com as “Regras
Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça da Infância e da
Juventude”, especialmente no que se refere ao caráter excepcional da institucionali-
zação1, ao dispor:
1 Ponto 19.1. A internação de um jovem em uma instituição será sempre uma medida de último
recurso e pelo mais breve período possível
614 R.T.J. — 197
Foi daí prorrogada a internação-sanção, com apoio no inc. III do art. 121 do
Estatuto da Criança e do Adolescente, para realização de avaliação psicossocial, cujo
laudo concluiu que “o paciente não apresenta juízo crítico satisfatório relativamente
a sua conduta, bem como a imperiosidade de receber tratamento psicológico sistemá-
tico antes de sua reinserção social” (fl. 48).
Diante desse quadro, decidiu o juízo pela substituição da internação-sanção por
medida de internação com prazo indeterminado, no processo executivo.
Tenho que nisso exorbitou. O juízo da execução transpôs os limites do título
executório, a finalidade da execução e o alcance mesmo do art. 122 do ECA, em agindo
como verdadeira instância de conhecimento, ao arrepio do devido processo legal (due
process of law).
Mauro Campello2 acentua:
“A execução das medidas sócio-educativas caracteriza-se como uma função
jurisdicional, uma vez que há necessidade de sua jurisdicionalização e conseqüen-
te formação de um processo, para que o Estado-Juiz através de suas decisões possa
conhecer e compor os denominados incidentes que venham a surgir na execução e
garantir dessa forma o devido processo legal, propiciando a ampla defesa e o
contraditório, ao adolescente a quem se aplicou a sanção sócio-educativa”.
E conclui3:
“Para a ação de execução sócio-educativa teremos como pressuposto básico
para sua formação a existência de um título executivo, nascido de uma sentença
proferida antes da formação da ação sócio-educativa, na hipótese de homologa-
ção da remissão por Juízo competente transacionada pelo Ministério Público com
o adolescente em conflito com a lei, aplicando-se cumulativamente a este a
medida(s) sócio-educativa(s), ou no curso da ação sócio-educativa, quando esta
mesma transação ocorre antes da sentença final, ou ainda, na própria sentença
final, que julga procedente o pedido condenatório contido na representação
ministerial, aplicando medida sócio-educativa”.
(...)
“Do exposto, verificamos que a finalidade da ação de execução sócio
educativa é o provimeno satisfativo da pretensão do Estado em aplicar ao adoles-
cente em conflito com a lei medida(s) sócio-educativa(s), denominado provimen-
to executivo sócio-educativo”.
No caso, a aplicação da medida de internação por prazo indeterminado não
decorreu da prática daquele segundo ato infracional, objeto de processo específico
(Proc. n. 4.433-7), mas, sim, da só consideração dele como descumprimento do regime
de semiliberdade, como pode confirmar-se à correspondente decisão:
EXTRATO DA ATA
HC 84.682/SP — Relator: Ministro Cezar Peluso. Paciente: Diego Rodrigues
Batista. Impetrante: PGE/SP – Waldir Francisco Honorato Junior (Assistência Judiciá-
ria). Coator: Superior Tribunal de Justiça.
Decisão: A Turma deferiu o pedido de habeas corpus, nos termos do voto do
Relator. Unânime. Ausente, justificadamente, o Ministro Eros Grau.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros
Marco Aurélio, Cezar Peluso e Carlos Britto. Ausente, justificadamente, o Ministro
Eros Grau. Subprocuradora-Geral da República, Dra. Delza Curvello Rocha.
Brasília, 22 de março de 2005 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Primeira Turma, sob a Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence,
na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade,
indeferir o pedido de habeas corpus.
Brasília, 14 de dezembro de 2004 — Marco Aurélio, Relator.
R.T.J. — 197 619
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Ao proceder ao exame do pedido de concessão de
medida acauteladora, assim sintetizei o caso:
1. A inicial revela haver a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do
Paraná recebido denúncia contra o paciente e impetrante, prefeito do Município de
Coronel Vivida, acusado de haver se utilizado de bem público para projeção
pessoal. É que, segundo a denúncia, teria buscado emplacar veículo da prefeitura
com as letras iniciais do próprio nome, o número do partido e aquele com o qual
concorreu em certo ano à prefeitura. Na peça procura-se demonstrar o descompasso
entre as iniciais do nome Ivanir Francisco Ogliari – IFO e as letras da placa — AIO.
Relativamente aos números, sustenta-se que não compõem as dezenas, mas um
milhar, ou seja, 1555 e não 15 e 55. Assevera-se que a denúncia resultou de
insurgimento de opositores, em disputa relativa a eleições. Afirma-se ausente a
antijuridicidade, citando-se precedentes, e requer-se a concessão de medida
acauteladora que suspenda, até o julgamento final deste habeas, o trânsito do
processo em curso. À inicial juntaram-se os documentos de folhas 7 a 38.
A Procuradoria-Geral da República emitiu o parecer de folhas 47 a 50, pelo
indeferimento da ordem. Lancei visto no processo em 6 de dezembro último, designan-
do, como data do julgamento, a de hoje, isso com a finalidade de dar ciência ao
representante processual do paciente.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): A óptica inicialmente assentada serve ao
indeferimento da ordem:
“2. A ementa do acórdão proferido pelo Superior Tribunal de Justiça bem
denota o entendimento sufragado pela Corte (folha 29):
Habeas corpus. Denúncia. Inépcia. Ex-prefeito municipal. Crime de
responsabilidade. Decreto-Lei n. 201/67. Ausência de justa causa para a
ação penal. Exame aprofundado de provas.
Em sede de habeas corpus, conforme entendimento pretoriano, so-
mente é viável o trancamento de ação penal por falta de justa causa quando,
prontamente, desponta a inocência do acusado, a atipicidade da conduta ou
se acha extinta a punibilidade, circunstâncias não evidenciadas na espécie.
Eventual capitulação errônea dos fatos narrados na denúncia não tem
o condão de eivar de inépcia a peça acusatória, porquanto o réu defende-se
dos fatos por ela objetivamente descritos e não da qualificação jurídica
atribuída ao fato delituoso. Precedentes.
A via estreita do writ é inviável para se pretender afastar a responsabi-
lidade do ora paciente pelo suposto ilícito praticado, já que só a instrução
criminal pode definir quem concorreu, quem participou ou quem ficou
alheio à ação ilícita.
Ordem denegada.
620 R.T.J. — 197
EXTRATO DA ATA
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Primeira Turma, na conformidade da ata do julgamento e das
notas taquigráficas, por maioria de votos, vencido o Ministro Carlos Britto, em deferir
o habeas corpus, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 19 de outubro de 2004 — Marco Aurélio, Presidente e Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Ao apreciar o pedido de concessão de medida
acauteladora, assim sintetizei este habeas:
Colho da inicial, de folhas 2 a 7, que o paciente foi denunciado como
incurso no tipo do artigo 149 do Código Penal — “reduzir alguém à condição
análoga à de escravo”. O decreto condenatório vinculou a interposição do recurso —
a apelação — ao recolhimento do acusado à cadeia.
Articula-se com a transgressão do inciso LVII do artigo 5º da Carta da
República, segundo o qual ninguém será considerado culpado até o trânsito em
julgado de sentença penal condenatória. Insiste-se no direito de, sem a antecipa-
ção do cumprimento da pena, ver-se julgada a apelação e, portanto, aferido o
merecimento da sentença. A liminar visa à expedição de contramandado. À peça
primeira desta ação constitucional juntaram-se os documentos de folhas 8 a 344.
Remetidos os autos à Procuradoria-Geral da República, pronunciou-se a
Subprocuradora Dra. Delza Curvello Rocha pelo indeferimento da ordem.
Lancei visto no processo em 3 de outubro, designando, como data do julgamento,
a de hoje — 19 de outubro —, isso objetivando a ciência do impetrante.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Na sentença proferida, simplesmente
determinou-se a expedição de mandado de prisão, sem lançar-se, sequer, as razões
respectivas:
Expeça-se mandado de prisão, remetendo-se cópias inclusive para o Estado
de Minas Gerais (folha 130).
622 R.T.J. — 197
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto: Vou pedir vênia a Vossa Excelência para não
acompanhar o voto tão bem formulado. Porém, impressionou-me muito a própria
fundamentação do juiz, em determinada passagem, ao condenar o réu, ora paciente,
dizendo que ele revelou personalidade e conduta social nada menos do que sórdidas,
não havendo palavras para adjetivar a real dimensão de sua insensibilidade e cruelda-
de, impondo observar que, além do quanto já acima disse, que entre as vítimas havia
dois menores de idade. Ou seja, estamos diante de um caso de manutenção de trabalho
escravo, que infelizmente no Brasil toma vulto. Logo a valorização do trabalho que a
Constituição tem como fundamento da República, art. 1º, IV, e art. 170, caput, da
Ordem Econômica. Aliás, a Constituição prestigia tanto o trabalho que chega a dizer,
no art. 193, que o primado dele é a própria base da sociedade.
O Ministério Público também me impressionou, na sua quota, no sentido de
entender que a decisão judicial se encontra fundamentada nos precisos termos do art.
594 do Código de Processo Penal.
Em suma, peço vênia a Vossa Excelência para não conceder a ordem, Senhor
Presidente.
VOTO
O Sr. Ministro Eros Grau: Quero dizer que me escandaliza a sordidez do caso. Isso,
porém, não ultrapassa os aspectos que Vossa Excelência mencionou. Assim, eu o
acompanho.
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Sr. Presidente, vou pedir vênia ao eminente Ministro
Carlos Britto para acompanhar Vossa Excelência. O juízo não decretou a prisão preven-
tiva. Limitou-se a dizer: em nada importando tenha o réu respondido solto o processo,
comparecendo aos seus atos, mostra-se necessário seu imediato recolhimento como
condição para apelar. Então, aplicou o art. 594, cujo exame está sub judice no Plenário,
e que é incompatível com o princípio constitucional da presunção de inocência.
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente e Relator): E, mesmo assim, consignou-
se isso já diante do próprio recurso, porque, na sentença, não há fundamentação, só se
tem esse trecho que li: “expeça-se mandado de prisão”. E, para confirmar essa determi-
nação, indeferiu-se a seqüência da apelação.
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Exatamente, acho que é mais um caso típico de
execução provisória.
EXTRATO DA ATA
HC 84.802/SP — Relator: Ministro Marco Aurélio. Paciente: Vicente de Paulo
Almeida ou Vicente de Paula Almeida. Impetrante: Marcelo Rachid Martins. Coator:
Superior Tribunal de Justiça.
Decisão: Por maioria de votos, a Turma deferiu o habeas corpus, nos termos do
voto do Relator. Vencido o Ministro Carlos Britto, que o indeferia. Presidiu o julga-
mento o Ministro Marco Aurélio. Não participou deste julgamento o Ministro
Sepúlveda Pertence.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros
Marco Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto e Eros Grau. Subprocuradora-Geral da
República, Dra. Maria Caetana Cintra Santos.
Brasília, 19 de outubro de 2004 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
R.T.J. — 197 625
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma
do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos,
deferir o pedido de habeas corpus, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 19 de abril de 2005 — Sepúlveda Pertence, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Insurge-se a impetração contra acórdão do
STJ, assim ementado (fl. 28):
“Penal. Habeas corpus. (...) Morte do paciente. Extinção da punibilidade.
Perda de objeto. Writ julgado prejudicado.
Extinto o processo na origem, em razão da morte do paciente, nos termos do
art. 107, I, do Código Penal, tem-se por prejudicado o presente mandamus.”
Alegam os impetrantes que a fundamentação do julgado está alicerçada em
pressuposto de fato equivocado, em virtude da grande semelhança entre os nomes do
paciente, Wilson Borges Pereira Neto, e de seu pai, Wilson Borges Pereira Filho, único
co-réu em relação ao qual fora decretada a extinção da punibilidade do fato com
fundamento no art. 107, I, do Código Penal.
Objetiva-se a anulação do acórdão impugnado, para que o STJ prossiga no
julgamento do habeas corpus.
Deferida a liminar (fl. 42), sobreveio o parecer do Ministério Público Federal, da
lavra do Il. Subprocurador Haroldo da Nóbrega, que opinou pelo deferimento da
ordem (fls. 79/71).
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): Com razão os impetrantes: apenas
foi decretada a extinção da punibilidade do fato (Código Penal, art. 107, I) em relação
ao co-réu Wilson Borges Pereira Filho, pai do paciente (fls. 14; 34; e 66).
626 R.T.J. — 197
Este o quadro, defiro a ordem para anular o acórdão impugnado e determinar que
o STJ prossiga no julgamento do habeas corpus lá ajuizado (fl. 63), como entender de
direito: é o meu voto.
EXTRATO DA ATA
HC 84.870/SP — Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. Paciente: Wilson Borges
Pereira Neto. Impetrantes: David Teixeira de Azevedo e outro. Coator: Superior Tribu-
nal de Justiça.
Decisão: A Turma deferiu o pedido de habeas corpus, nos termos do voto do
Relator. Unânime. Não participou deste julgamento o Ministro Marco Aurélio. Ausente,
justificadamente, o Ministro Eros Grau.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros
Marco Aurélio, Cezar Peluso e Carlos Britto. Ausente, justificadamente, o Ministro
Eros Grau. Subprocurador-Geral da República, Dr. Eitel Santiago de Brito Pereira.
Brasília, 19 de abril de 2005 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira
Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence,
na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de
votos, deferir o pedido de habeas corpus, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 27 de setembro de 2005 — Eros Grau, Relator.
R.T.J. — 197 627
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Eros Grau: Trata-se de habeas corpus, com pedido de liminar, em
que se alega incompetência do Juizado Especial para julgar queixa-crime em que o
banqueiro Daniel Valente Dantas atribui ao paciente a prática do delito tipificado no
artigo 21 da Lei n. 5.250/67, consistente em matéria supostamente ofensiva publicada
na edição n. 275 da revista CartaCapital, de circulação nacional, da qual o paciente é
diretor. A queixa-crime foi distribuída ao Juízo de Direito da 3ª Vara da Comarca de
Barueri, que, face à manifestação do Ministério Público, declinou da competência para
o Foro Central da Capital, recaindo a distribuição na 28ª Vara Criminal, que também
declinou da competência, desta feita para o Juizado Especial Criminal.
2. Os impetrantes sustentam que o artigo 61 da Lei n. 9.099/95 excepciona os
crimes para os quais “a lei preveja procedimento especial”.
3. Esclarecem, ademais, que a audiência preliminar foi realizada, havendo as
partes recusado a transação proposta.
4. Requerem a concessão de liminar a fim de suspender o Processo n.
050.04.046401-6, em trâmite no Juizado Especial da Família Central de São Paulo –
JECRIFAM, até o julgamento final do habeas corpus. No mérito, postulam seja decla-
rada a incompetência do Juizado Especial Criminal para o conhecimento e julgamento
da causa e a conseqüente remessa dos autos ao Juízo de Direito da 3ª Vara da Comarca
de Barueri, conforme regra do artigo 42 da Lei de Imprensa.
5. A liminar foi deferida.
6. O Ministério Público Federal opina no sentido da denegação da ordem.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Esclareço, de pronto, que o parecer da PGR
pela denegação da ordem é contraditório, na medida em que afirma assistir razão aos
impetrantes, para concluir, em seguida, “que os crimes de imprensa, cuja apuração é
regida por procedimento especial, não se submetem à competência dos Juizados
Especiais (Lei 9.099/95, art. 61), devendo-se proceder à remessa da ação penal ao
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo”.
2. A questão não demanda maiores indagações. O artigo 61 da Lei n. 9.099/951 é
categórico ao dispor que não compete aos Juizados Especiais o julgamento dos casos
em que a lei preveja procedimento especial. É a hipótese dos chamados crimes de
imprensa, cujo procedimento está contido na Lei 5.250/67.
1 Lei n. 9.099/95
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as
contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a um ano, excetuados
os casos em que a lei preveja procedimento especial.
628 R.T.J. — 197
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente): Há decisão da Segunda Turma no
sentido de que a Lei n. 10.259/2001, art. 2º, parágrafo único, teria revogado essa
exclusão. O caso, literalmente, é relativo aos crimes de competência da Justiça Federal.
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Considerou apenas a quantidade de pena, não
a natureza.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente): A Segunda Turma considerou
que essa lei teria revogado a exclusão da competência dos Juizados Especiais dos
crimes sujeitos a procedimento especial.
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): O art. 2º?
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente): Sim, estou apenas advertindo.
Deve ser um caso recorrente.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: A Lei dos Juizados Federais não excepciona a
competência dos juizados especiais.
2 Lei 5.250/67
Art. 42. Lugar do delito, para a determinação da competência territorial, será aquele em que for
impresso o jornal ou periódico, e o do local do estúdio do permissionário ou concessionário do serviço
de radiodifusão, bem como o da administração principal da agência noticiosa.
R.T.J. — 197 629
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente): Não; entendo que não houve. O
que houve foi um critério especial para os Juizados Especiais federais, que não abrogou
a lei do Juizado Especial comum, que é de um ano, com exclusão dos casos de rito
especial.
O meu voto acompanha o do eminente Relator.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Senhor Presidente, para mim, a Lei dos Juizados
Especiais Federais é, como disse, especialíssima, versa apenas sobre esses juizados.
Não há disposição nesse diploma, porque específico a mais não poder, a revelar a
revogação tácita que provoca esse entulho legislativo que temos, e dane-se o intérprete
para saber o que está, ou não, revogado na Lei n. 9.099/95.
Por isso, acompanho o Relator, apontando que a conclusão do parecer resultou de
um erro material, talvez datilográfico.
EXTRATO DA ATA
HC 86.102/SP — Relator: Ministro Eros Grau. Paciente: Demétrio Carta.
Impetrantes: José Roberto Leal de Carvalho e outro. Coator: Colégio Recursal Crimi-
nal Central da Capital do Estado de São Paulo.
Decisão: A Turma deferiu o pedido de habeas corpus, nos termos do voto do
Relator. Unânime.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros
Marco Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto e Eros Grau. Subprocurador-Geral da
República, Dr. Wagner de Castro Mathias Netto.
Brasília, 27 de setembro de 2005 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira
Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence,
na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de
votos, conhecer do pedido de habeas corpus e o deferir para anular o processo a partir
das alegações finais da defesa, inclusive, para que se dê aplicação ao art. 384 do Código
de Processo Penal, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 27 de setembro de 2005 — Eros Grau, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Eros Grau: Adoto como relatório a decisão proferida pela Ministra
Ellen Gracie em medida cautelar, durante o recesso judiciário:
“1. Trata-se de habeas corpus contra acórdão proferido pela 1ª Turma
Recursal da Comarca de Lavras/MG (fl. 100).
Colho dos autos que o paciente foi denunciado pela suposta prática do
crime previsto no artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro1. A sentença (fls.
79-82), em clara aplicação do art. 383 do CPP (emendatio libelli), condenou-o à
pena de 45 dias de prisão simples, convertida em limitação de fim de semana pelo
prazo da condenação, pela prática da contravenção penal prevista no art. 34 do
Decreto-Lei 3.688/412, sentença confirmada pela Turma Recursal.
O impetrante alega a nulidade do feito por incompetência do Juizado
Especial Criminal. Requer a concessão de liminar para suspender os efeitos da
condenação.
1 CTB:
Art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pública, sob a influência de álcool ou substância de
efeitos análogos, expondo a dano potencial incolumidade de outrem:
Penas: detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão
ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
2 DL 3.688/41
Art. 34. Dirigir veículo na via pública, ou embarcações em águas públicas, pondo em perigo a
segurança alheia:
Pena: prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de trezentos mil réis a dois contos
de réis.
632 R.T.J. — 197
Esta Corte já decidiu que ‘sendo a pena máxima do crime tipificado no art.
306, do CTB, de três anos, não se trata de crime de menor potencial ofensivo, razão
pela qual falece ao Juizado Especial Criminal competência para o julgamento’ (HC
85.019, de minha Relatoria, Segunda Turma, unânime, DJ de 4-3-2005).
E, em juízo prefacial, entendo que a aplicação do art. 383 do CPP para
condenar o paciente em delito de menor potencial ofensivo não tem o condão
para deslocar a competência para o juizado especial criminal. É o que se
depreende de precedente da Corte:
‘Habeas corpus. Violação de domicílio. Tentativa de estupro. Turma
recursal. Condenação por crime não previsto na denúncia. Competência.
Segundo o art. 383 do CPP ‘o juiz poderá dar ao fato definição jurídica
da que constar na denúncia, ainda que, em conseqüência, tenha de aplicar
pena mais grave’, especialmente quando a denúncia descreve todos os
elementos constitutivos do tipo penal a que foi condenado o paciente.
O acusado se defende dos fatos imputados na peça acusatória e não do
dispositivo legal citado.
A tramitação do processo com o rito ordinário demonstra a investidura
do juízo na competência comum ordinária, mesmo que a condenação tenha
sido por crime de menor potencial ofensivo.
A competência para o julgamento da apelação é do Tribunal de
Alçada e não da Turma Recursal.
Habeas corpus deferido. (HC 83.855, Rel. Min. Nelson Jobim, Segun-
da Turma, unânime, DJ de 28-5-2004).’
3. Ante o exposto, defiro a liminar para suspender os efeitos da condenação
proferida em desfavor do paciente nos autos do processo n. 416/03 — Vara Única
da Comarca de Itumirim/MG.”
2. Os impetrantes requerem a anulação da ação penal, desde o recebimento da
denúncia, ou que se declare nulo o acórdão da Turma Recursal a fim de que a apelação
seja julgada pelo Tribunal de Justiça.
3. O Ministério Público Federal opina “pelo não-conhecimento do presente writ,
e caso superada esta fase, pela sua concessão, deferindo-se, apenas, a anulação do
acórdão proferido pela Turma Recursal da Comarca de Lavras/MG, com a remessa dos
autos ao Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, para jugamento da apelação
como entender de direito”.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): O Ministério Público denunciou o paciente
em 23-10-2003 como incurso no artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro. Em face
às provas testemunhais, retificou, em memorial, a acusação para a contravenção penal
do artigo 34 da LCP (fls. 72/74). Tem-se, na verdade, nítida hipótese de mutatio libelli
(CPP, art. 384).
R.T.J. — 197 633
EXTRATO DA ATA
HC 86.276/MG — Relator: Ministro Eros Grau. Paciente: João Evangelista da
Silva. Impetrantes: Négis M. Rodarte e outro. Coatora: Primeira Turma Recursal da
Comarca de Lavras.
634 R.T.J. — 197
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Segunda Turma, na conformidade da ata do julgamento e das
notas taquigráficas, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso de agravo.
Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Ministro Celso de Mello.
Brasília, 29 de novembro de 2005 — Carlos Velloso, Presidente e Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Velloso: Trata-se de agravo regimental, interposto por Ibsen
Mesquita, da decisão (fl. 290) que, com base no julgamento do RE 141.190/SP, pelo
Plenário deste Supremo Tribunal Federal, conheceu do recurso extraordinário e deu-lhe
provimento (art. 557, § 1º-A, do CPC), ao entendimento de que a aplicação imediata do
fator de deflação aos contratos celebrados antes da lei instituidora do referido fator não
ofende o ato jurídico perfeito.
R.T.J. — 197 635
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): A decisão agravada, ora sob exame, tem
este teor:
“(...)
O Supremo Tribunal Federal, pelo seu Plenário, em 14-9-2005, ao julgar o
RE 141.190/SP, Relator para o acórdão Ministro Nelson Jobim, decidiu que a
aplicação imediata do fator de deflação aos contratos celebrados antes da lei
instituidora do referido fator não ofende o ato jurídico perfeito. No mesmo
sentido foram as decisões proferidas no RE 170.002/RJ e no RE 149.073/SP,
Relator Ministro Eros Grau, DJ de 10-10-2005 e 7-10-2005, respectivamente; AI
213.705/SP e RE 228.704/SP, Relator Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 5-10-
2005 e 13-10-2005, respectivamente; RE 164.775/RS e AI 206.881/SP, Relator
Ministro Gilmar Mendes, DJ de 13-10-2005 e 6-10-2005, respectivamente.
Do exposto, conheço do recurso e dou-lhe provimento (art. 557, § 1º-A, do
CPC), condenado o vencido ao pagamento da verba honorária no valor de R$
500,00 (quinhentos reais) corrigida monetariamente.
(...).” (Fl. 290)
A decisão é de ser mantida, porque assentada na jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal, tomada no julgamento, pelo Plenário, em 14-9-2005, do RE 141.190/
SP, Relator para o acórdão Ministro Nelson Jobim. No mesmo sentido, menciono, inter
plures: AI 182.290/SP, Relator Ministro Cezar Peluso, DJ de 20-10-2005; AI 248.995/
SP, Relator Ministro Gilmar Mendes, DJ de 7-10-2005; e AI 257.533/SP, Relator
Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 30-9-2005.
Nego provimento ao agravo.
EXTRATO DA ATA
RE 247.593-AgR/SP — Relator: Ministro Carlos Velloso. Agravante: Ibsen Mes-
quita (Advogados: Walfrido de Sousa Freitas e outro). Agravado: Banco Nacional S.A.
(em liquidação extrajudicial) (Advogados: Moacyr Augusto Junqueira Neto e outros e
Marisa Moura Sales).
Decisão: Negou-se provimento, decisão unânime. Ausente, justificadamente,
neste julgamento, o Ministro Celso de Mello. Presidiu este julgamento o Ministro
Carlos Velloso.
636 R.T.J. — 197
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Segunda Turma, na conformidade da ata do julgamento e das
notas taquigráficas, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso de agravo,
nos termos do voto do Relator. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Ministro
Celso de Mello, Presidente.
Brasília, 29 de novembro de 2005 — Carlos Velloso, Presidente e Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Velloso: Trata-se de agravo regimental, interposto pela
União, da decisão (fls. 201-206) que, reportando-se ao RE 272.230/SP, conheceu do
recurso extraordinário e deu-lhe provimento, ao entendimento de que não incide o IPI
na importação de veículo por pessoa física que não é comerciante nem empresário,
destinado ao uso próprio.
Sustenta a agravante, em síntese, o seguinte:
R.T.J. — 197 637
a) inaplicabilidade à espécie dos arts. 21, § 2º, do RISTF e 557, § 1º-A, do CPC,
dado que inexiste manifesto confronto entre o acórdão recorrido e a jurisprudência
desta Corte; na verdade, todos os precedentes referidos na decisão agravada dizem
respeito à incidência de ICMS na importação de bens sem finalidade comercial ou
industrial e, todavia, a hipótese dos autos trata da exigência de IPI na importação de
veículo para uso próprio. Ademais, não há falar em analogia entre os casos de ICMS e
IPI, visto que as expressões “mercadoria” e “estabelecimento” contidas no art. 155,
§ 2º, XI, a, da CF (redação anterior à EC 33/2001) não constam do art. 153, § 3º, da Lei
Maior, valendo salientar que “(...) ausente a identidade de norma fundante, ausente
conseqüentemente a possível identidade de conseqüência hermenêutica” (fl. 209);
b) o RE 203.075/DF (caso líder) e os julgados subseqüentes referentes ao ICMS são
distintos da hipótese dos autos, haja vista o “(...) diferencial identificável entre os
conceitos insertos na alínea a do inciso XI do § 2º do art. 155 da Constituição — na
redação anterior à EC n. 33/2001 (conceitos estes que se caracterizam como funda-
mentos centrais do precedente contido no RE n. 203.075) e aqueles que compõem a
disciplina constitucional do IPI (incisos I e II do referido § 3º do art. 153) (...)” (fl. 211).
É o relatório.
VOTO
Ementa: Constitucional. Tributário. IPI. Importação: pesssoa física não
comerciante ou empresário: princípio da não-cumulatividade: CF, art. 153,
§ 3º, II. Não-incidência do IPI.
I - Veículo importado por pessoa física que não é comerciante nem empresá-
rio, destinado ao uso próprio: não-incidência do IPI: aplicabilidade do princípio
da não-cumulatividade: CF, art. 153, § 3º, II. Precedentes do STF relativamente ao
ICMS, anteriormente à EC 33/2001: RE 203.075/DF, Min. Maurício Corrêa,
Plenário, DJ de 29-10-1999; RE 191.346/RS, Min. Carlos Velloso, 2ª Turma, DJ
de 20-11-1998; RE 298.630/SP, Min. Moreira Alves, 1ª Turma, DJ de 9-11-2001.
II - RE conhecido e provido. Agravo não provido.
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Assim a decisão agravada, ora sob exame:
“(...)
Em caso igual, RE 272.230/SP, proferi a seguinte decisão:
‘(...)
A alegação de ofensa ao princípio da legalidade — CF, art. 5º, II —
não autoriza a admissão do recurso extraordinário. É que cabe ao Judiciário
aplicar a lei ao caso concreto, interpretando-a. Se essa interpretação é
desarrazoada, a questão continua no campo infraconstitucional. A alegação
de ofensa ao art. 5º, XXXV, perde-se no vazio, por isso que decisão contrária
ao interesse da parte não constitui negativa de prestação jurisdicional. De
outro lado, não há invocar o disposto no art. 93, IX, da Constituição, já que
o acórdão está suficientemente fundamentado.
638 R.T.J. — 197
EXTRATO DA ATA
RE 255.682-AgR/RS — Relator: Ministro Carlos Velloso. Agravante: União (Advo-
gado: PFN – Rodrigo Pereira de Mello). Agravado: Leonel Domingos Bortoncello
(Advogados: Carlos Ademir Moraes e outro).
Decisão: Depois do voto do Ministro Relator, negando provimento ao recurso de
agravo, o julgamento foi suspenso em virtude do pedido de vista formulado pelo
Ministro Joaquim Barbosa. Ausente, justificadamente, neste julgamento, a Ministra
Ellen Gracie.
Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros
Carlos Velloso, Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Ausente, justificadamente, a
Ministra Ellen Gracie. Subprocurador-Geral da República, Dr. Francisco Adalberto
da Nóbrega.
Brasília, 17 de maio de 2005 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.
VOTO (Vista)
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Trata-se de agravo regimental interposto de
decisão monocrática que deu provimento a recurso extraordinário no qual se sustenta
a não-sujeição da operação de importação de veículo automotor, para uso próprio,
por pessoa física que não fosse comerciante nem empresária, ao Imposto sobre
Produtos Industrializados – IPI, dado que o importador que não fosse industrial não
poderia empregar os mecanismos de vedação à cumulatividade (art. 153, § 3º, II, da
Constituição).
Afirma a agravante que a orientação firmada pela Corte por ocasião do julgamento
do RE 203.075 (Rel. para o acórdão Min. Maurício Corrêa, Pleno, DJ de 29-10-1999),
pertinente à tributação das operações de importação com o Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços – ICMS, não se aplica ao caso em exame. Argumenta que,
enquanto o regime constitucional do ICMS prevê a incidência do tributo somente
sobre operações que envolvam a importação de “mercadorias” e pressupõe a entrada
daqueles bens em “estabelecimento” (art. 155, § 2º, XI, em redação anterior à Emenda
Constitucional 33/2001), tais circunstâncias não se fazem presentes para a tributação
por IPI.
A agravante sustenta ainda que, ao contrário do que ocorre com o ICMS, o regime
constitucional do IPI não pressupõe que as operações tributáveis sejam de qualquer
forma vinculadas à atividade empresarial do importador.
Iniciado o julgamento na sessão de 17-5-2005, o eminente Relator, Ministro
Carlos Velloso, votou pela negativa de provimento ao recurso, mantendo a decisão
agravada. S. Exa. entendeu que a orientação fixada pela Corte quanto ao ICMS se
aplicava à tributação das operações de importação de produtos industrializados a título
de IPI, especificamente no que se referia ao princípio da não-cumulatividade.
Pedi vista dos autos, para melhor analisar a questão.
R.T.J. — 197 641
EXTRATO DA ATA
RE 255.682-AgR/RS — Relator: Ministro Carlos Velloso. Agravante: União
(Advogado: PFN – Rodrigo Pereira de Mello). Agravado: Leonel Domingos Bortoncello
(Advogados: Carlos Ademir Moraes e outro).
Decisão: Negou-se provimento, decisão unânime. Ausente, justificadamente,
neste julgamento, o Ministro Celso de Mello. Presidiu este julgamento o Ministro
Carlos Velloso.
Presidência do Ministro Carlos Velloso. Presentes à sessão a Ministra Ellen
Gracie e os Ministros Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Ausente, justificadamente, o
Ministro Celso de Mello. Subprocurador-Geral da República, Dr. Haroldo Ferraz da
Nóbrega.
Brasília, 29 de novembro de 2005 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.
642 R.T.J. — 197
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello,
na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de
votos, acolher os embargos de declaração, em ordem a não conhecer do recurso
extraordinário interposto pelo Estado de São Paulo, nos termos do voto do Relator.
Ausente, justificadamente, neste julgamento, a Ministra Ellen Gracie.
Brasília, 6 de dezembro de 2005 — Carlos Velloso, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Velloso: Tratam-se de embargos de declaração opostos por
Mobil Oil do Brasil Indústria e Comércio Ltda. ao acórdão assim ementado:
“Constitucional. Processual Civil. Embargos de declaração opostos à
decisão do Relator: conversão em agravo regimental. ICMS. Lubrificantes
e combustíveis líquidos e gasosos. Operações interestaduais. CF, art. 155, §
2º, X, b.
I - Embargos de declaração opostos à decisão singular do Relator. Conver-
são dos embargos em agravo regimental.
II - Ao Estado do destino dos produtos em causa caberá o ICMS sobre eles
incidente.
III - Embargos de declaração convertidos em agravo regimental. Agravo não
provido.” (Fl. 393)
Sustenta a embargante contradição no acórdão embargado.
Alega, em síntese, o seguinte:
R.T.J. — 197 643
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Está no acórdão do Tribunal de Justiça de
São Paulo, do qual foi interposto o RE:
“(...)
As operações aqui discutidas envolvem transferência de produtos fabricados
pela embargante, entre eles: Mobil ATF 200R, Mobilgrease MP, Mobilgrease 77,
Mobiltherm 605, Mobil Solvac 1535G BSE 07K16, Mobiltemp 1, Mobil Met 451
BSC 25N316, Mobil Met 25BSE 21C16 (fls. 48 e ss.), produtos derivados de
petróleo conforme comprovam as conclusões dos laudos, entre estabelecimentos
da embargante, localizados em Santos, Estado de São Paulo, para o Município de
Jacutinga, no Estado de Minas Gerais.
Na linguagem comum são conhecidas como graxas e lubrificantes, mas
ressalte-se: derivados de petróleo.
Sem dúvida, são operações interestaduais, ou seja, envolvem de fato o
deslocamento de mercadorias do Estado de São Paulo com destino ao Estado de
Minas Gerais.
(...).” (Fl. 335)
A decisão que deu provimento ao RE do Estado de São Paulo, objeto do agravo
regimental ao qual foi negado provimento, assenta-se na decisão proferida no RE
211.580/SP. Tem este teor a citada decisão:
644 R.T.J. — 197
“(...)
Destaco da decisão que proferi no RE 211.580/SP:
‘(...)
2) RE do Estado de São Paulo:
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é favorável à tese sus-
tentada pelo Estado de São Paulo.
Com efeito.
No julgamento do RE 198.088/SP, Relator o Ministro Ilmar Galvão,
decidiu o Supremo Tribunal Federal, pelo seu Plenário:
‘Ementa: Tributário. ICMS. Lubrificantes e combustíveis lí-
quidos e gasosos, derivados do petróleo. Operações interestaduais.
Imunidade do art. 155, § 2º, X, b, da Constituição Federal.
Benefício fiscal que não foi instituído em prol do consumidor,
mas do Estado de destino dos produtos em causa, ao qual caberá, em
sua totalidade, o ICMS sobre eles incidente, desde a remessa até o
consumo.
Conseqüente descabimento das teses da imunidade e da incons-
titucionalidade dos textos legais, com que a empresa consumidora dos
produtos em causa pretendeu obviar, no caso, a exigência tributária do
Estado de São Paulo.
Recurso conhecido, mas desprovido.’
O RE do Estado de São Paulo é de ser provido, portanto.
VII
De todo o exposto, nego seguimento ao recurso interposto por Mobil
Oil do Brasil Ind. e Com. Ltda. e conheço do RE do Estado de São Paulo e
dou-lhe provimento, para indeferir o mandado de segurança (CPC, art. 557 e
seu § 1º-A).
(...).’ (DJ de 8-8-2002)
No mesmo sentido: RE 392.055/SP, DJ de 28-11-2003.
Do exposto, forte nos precedentes acima mencionados, conheço do recurso
e dou-lhe provimento (art. 557, § 1º-A, do CPC), invertidos os ônus da
sucumbência estabelecidos na sentença de fls. 296-301.
(...).” (Fls. 371-372)
Ora, a decisão invoca acórdão do Supremo Tribunal Federal — RE 198.088/SP —
que afirma que a imunidade beneficia o Estado do destino dos produtos. Ora, o Estado
do destino é o Estado de Minas Gerais. Deu-se provimento, entretanto, ao RE do Estado
de São Paulo. Há, pois, no acórdão que decidiu o agravo regimental da ora embargante
flagrante contradição.
Do exposto, acolho os embargos para o fim de anular o acórdão embargado —
acórdão de fls. 386-393 — e, em conseqüência, não conhecer do RE do Estado de São
Paulo.
R.T.J. — 197 645
EXTRATO DA ATA
RE 338.681-AgR-ED/SP — Relator: Ministro Carlos Velloso. Embargante:
Mobil Oil do Brasil Indústria e Comércio Ltda. (Advogados: Anna Maria da Trin-
dade dos Reis e outro, Ricardo Quartim Barbosa Oliveira e Caio Lucio Moreira e
outro). Embargado: Estado de São Paulo (Advogado: PGE/SP – José Maurício
Camargo de Laet).
Decisão: A Turma, por votação unânime, acolheu os embargos de declaração, em
ordem a não conhecer do recurso extraordinário interposto pelo Estado de São Paulo,
nos termos do voto do Relator. Ausente, justificadamente, neste julgamento, a Ministra
Ellen Gracie.
Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Carlos
Velloso, Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Ausente, justificadamente, a Ministra
Ellen Gracie. Subprocuradora-Geral da República, Dra. Sandra Verônica Cureau.
Brasília, 6 de dezembro de 2005 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Segunda Turma, na conformidade da ata do julgamento e das
646 R.T.J. — 197
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Celso de Mello: Trata-se de recurso de agravo, tempestivamente
interposto, que se insurge contra decisão por mim proferida e que tem o seguinte teor
(fls. 204/206):
“O recurso extraordinário, a que se refere o presente agravo de instrumento,
foi interposto contra decisão, que, proferida pelo E. Tribunal de Alçada do
Estado do Rio Grande do Sul, acha-se consubstanciada em acórdão assim
ementado (fl. 35):
‘Ação anulatória de débito fiscal. Lei municipal. Legalidade.
A lei municipal que determinou a instalação das portas de segurança
no estabelecimento bancário apelante não afronta a Constituição Federal
nem invade a competência da União, apenas estabelece regra de interesse
local do Município de Canoas.’ (Grifei)
A parte ora agravante sustenta, no apelo extremo, com apoio em alegada
usurpação de competência privativa da União Federal, que o Tribunal a quo
violou a Constituição da República, por haver considerado que o Município
dispõe de atribuição para legislar sobre medidas de segurança em estabelecimentos
bancários.
A colenda Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, ao examinar
idêntica controvérsia, reconheceu que assiste competência ao Município, para,
com fundamento no poder autônomo que lhe confere a Constituição da Repú-
blica (art. 30, I), exigir, mediante lei formal, a instalação, em estabelecimentos
bancários, dos pertinentes equipamentos de segurança, tais como portas eletrô-
nicas ou câmaras filmadoras.
Esse entendimento acha-se consubstanciado em acórdão assim emen-
tado:
‘Constitucional. Bancos: portas eletrônicas: competência munici-
pal. CF, art. 30, I, art. 192.
I - Competência municipal para legislar sobre questões que digam
respeito a edificações ou construções realizadas no município: exigência,
em tais edificações, de certos componentes. Numa outra perspectiva, exi-
gência de equipamentos de segurança, em imóveis destinados ao atendi-
mento do público, para segurança das pessoas. CF, art. 30, I.
II - RE conhecido, em parte, mas improvido.’
(RE 240.406/RS, Rel. Min. Carlos Velloso — grifei)
R.T.J. — 197 647
VOTO
O Sr. Ministro Celso de Mello (Relator): A parte ora recorrente interpôs recurso
extraordinário contra decisão, que, proferida pelo E. Tribunal de Justiça do Estado do
Rio Grande do Sul, acha-se consubstanciada em acórdão assim ementado (fl. 35):
R.T.J. — 197 649
da República, somente por esta pode ser validamente limitada, consoante observa
Hely Lopes Meirelles, em obra clássica de nossa literatura jurídica (“Direito Munici-
pal Brasileiro”, pp 80/82, 6ª ed./3ª tir., 1993, Malheiros):
“A Autonomia não é poder originário. É prerrogativa política concedida
e limitada pela Constituição Federal. Tanto os Estados-membros como os
Municípios têm a sua autonomia garantida constitucionalmente, não como
um poder de autogoverno decorrente da Soberania Nacional, mas como um
direito público subjetivo de organizar o seu governo e prover a sua Adminis-
tração, nos limites que a Lei Maior lhes traça. No regime constitucional
vigente, não nos parece que a autonomia municipal seja delegação do Estado-
membro ao Município para prover a sua Administração. É mais que delega-
ção; é faculdade política, reconhecida na própria Constituição da República.
Há, pois, um minimum de autonomia constitucional assegurado ao Muni-
cípio, e para cuja utilização não depende a Comuna de qualquer delegação
do Estado-membro.” (Grifei)
Essa mesma orientação já era perfilhada por Sampaio Doria (“Autonomia dos
Municípios”, in Revista da Faculdade de Direito de São Paulo, vol. XXIV/419-432,
1928), cujo magistério — exposto sob a égide de nossa primeira Constituição repu-
blicana (1891) — bem ressaltava a extração constitucional dessa insuprimível prer-
rogativa político-jurídica que a Carta Federal, ela própria, atribuiu aos Municípios.
Sob tal perspectiva, e como projeção concretizadora desse expressivo postulado
constitucional, ganha relevo, a meu juízo, no exame da controvérsia suscitada em
sede recursal extraordinária, a garantia da autonomia fundada no próprio texto da
Constituição da República.
A abrangência da autonomia política municipal — que possui base eminente-
mente constitucional (só podendo, por isso mesmo, sofrer as restrições emanadas da
própria Constituição da República) — estende-se à prerrogativa, que assiste ao Muni-
cípio, de “legislar sobre assuntos de interesse local” (CF, art. 30, I), tal como o fez, em
benefício da segurança geral de sua população, o Município de Canoas/RS.
Tenho para mim — ao reconhecer que existe, em favor da autonomia municipal,
uma “garantia institucional do mínimo intangível” (Paulo Bonavides, “Curso de
Direito Constitucional”, p. 320/322, item n. 7, 12ª ed., 2002, Malheiros) — que o art.
30, inciso I, da Carta Política não autoriza a utilização de recursos hermenêuticos cujo
emprego, tal como pretendido pela instituição financeira recorrente, possa importar
em grave vulneração à autonomia constitucional dos Municípios, especialmente se se
considerar que a Constituição da República criou, em benefício das pessoas munici-
pais, um espaço mínimo de liberdade decisória que não pode ser afetado, nem compro-
metido, em seu concreto exercício, por interpretações que culminem por lesar o
mínimo essencial inerente ao conjunto (irredutível) das atribuições constitucional-
mente deferidas aos Municípios.
Em suma: entendo que o diploma legislativo do Município em referência reves-
te-se de plena legitimidade jurídico-constitucional, pois, longe de dispor sobre controle
de moeda, política de crédito, câmbio, segurança e transferência de valores ou sobre
organização, funcionamento e atribuições de instituições financeiras, limitou-se, ao
R.T.J. — 197 653
EXTRATO DA ATA
AI 347.717-AgR/RS — Relator: Ministro Celso de Mello. Agravante: Banco
Bamerindus do Brasil S.A. (em liquidação extrajudicial) (Advogados: Luiz Carlos
Bettiol e outro) Agravado: Município de Canoas (Advogados: Francisco de Paula
Figueiredo e outros).
Decisão: A Turma, por votação unânime, negou provimento ao recurso de agravo,
nos termos do voto do Relator. Ausente, justificadamente, neste julgamento, a Ministra
Ellen Gracie.
Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Carlos
Velloso, Ellen Gracie, Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Compareceu à Turma o
Ministro Nelson Jobim, Presidente do Tribunal, a fim de julgar processo a ele vinculado,
assumindo, nesta ocasião, a Presidência da Turma, de acordo com o art. 148, parágrafo
único, do RISTF. Subprocurador-Geral da República, Dr. Francisco Adalberto da
Nóbrega.
Brasília, 31 de maio de 2005 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.
R.T.J. — 197 655
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello,
na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de
votos, negar provimento ao recurso de agravo, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 6 de dezembro de 2005 — Gilmar Mendes, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Ao apreciar o RE 367.460, proferi a seguinte
decisão (fls. 264/266):
“Decisão: Trata-se de recurso extraordinário fundado no art. 102, III, a, da
Constituição Federal, contra acórdão que entendeu ser ato discricionário da
Administração a prorrogação ou não da validade de concurso público.
Alega-se violação ao art. 37, IV, da Carta Magna; e que o acórdão recorrido
divergiu da orientação firmada pela Segunda Turma desta Corte no julgamento
do RMS 23.040, Rel. Néri da Silveira, DJ de 17-12-99:
‘Ementa: Mandado de segurança. Recurso ordinário. 2. Segurança
requerida contra ato do Ministro de Estado do Trabalho, por candidatos
aprovados na primeira fase do concurso de Fiscal do Trabalho. Direito a
serem convocados para a segunda etapa do concurso, consistente no Progra-
ma de Formação, considerando regra contida no edital. 3. Previsão expressa,
em segundo edital, de que os candidatos selecionados na primeira etapa
poderiam participar da segunda fase do certame para fins de provimento de
vagas também estabelecidas em “outros Editais que venham a ser publica-
dos.”. 4. Não fica a Administração impedida de iniciar outro concurso
público; não poderá, entretanto, preterir os candidatos já aprovados na
primeira fase do anterior, quanto à convocação para a Segunda Etapa,
observada a ordem de classificação. 5. Recurso ordinário conhecido e provi-
do para deferir o mandado de segurança, ficando, em conseqüência, a
autoridade coatora impedida de nomear candidatos aprovados em posterior
concurso de Fiscal do Trabalho, enquanto não se concluir o primeiro con-
curso aludido com a convocação dos impetrantes à segunda etapa — Pro-
grama de Formação. Consoante o edital, a conclusão do concurso pressupõe
a realização de sua segunda etapa’.
656 R.T.J. — 197
VOTO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Os agravantes não trouxeram argumen-
tos novos capazes de modificar o posicionamento deste Tribunal.
A controvérsia versa sobre concurso público para Fiscal do Trabalho realizado em
1994. Os agravantes foram aprovados na primeira etapa, mas não obtiveram classificação
para a segunda etapa. Impetraram, então, mandado de segurança, com pedido de liminar,
para que fosse prorrogada a validade do concurso e para que fossem convocados para
realização da segunda fase do concurso, tendo em vista a existência de vagas.
A liminar foi indeferida (fl. 99-100) e a segurança foi denegada pela sentença nos
seguintes termos (fl. 139-140):
“Não há dúvidas de que o candidato, uma vez aprovado em todas as fases do
concurso, tem direito à nomeação prioritariamente aos demais concursandos. Não
há dúvidas ainda de que, não seria razoável que a administração convocasse novo
concurso para provimento de cargos idênticos àqueles aos quais já existiriam
candidatos definitivamente aprovados em concursos anteriores.
Ocorre que isso não é o que ocorre no presente mandado de segurança. Por
primeiro, os impetrantes não foram aprovados no referido concurso. Verifico,
outrossim, que a segunda fase do certame tem caráter eliminatório, não sendo
mero curso de preparação, como salientado pelo ilustre patrono dos impetrantes.
Constitui, pois, etapa obrigatória do concurso. [...]
Portanto, não se encontra consubstanciado o pressuposto do direito à nomea-
ção, visto que não há aprovação no concurso.”
O acórdão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região restou assim ementado
(fl. 183):
“Administrativo. Concurso público. Fiscal do trabalho. Pedido de prorro-
gação da validade do certame formulado por candidatos aprovados na 1ª etapa
da seleção. Convocação imediata para a 2ª fase. Impossibilidade. Discricionarie-
dade do administrador.
I - A prorrogação ou não do prazo de validade de um concurso público é
ato discricionário da Administração, não constituindo direito subjetivo dos
candidatos.
II - Os candidatos aprovados na 1ª fase de um concurso público detêm, apenas,
expectativa de direito quanto à convocação para a 2ª etapa do certame, por simetria,
com a hipótese de candidato aprovado em concurso, em relação à nomeação.
III - Os precedentes do Colendo STJ, trazidos à colação, pelos autores, não
possuem pertinência com o caso em comento, pois, neste não há novo concurso
com edital publicado, o que garantiria a prioridade dos aprovados em concurso
anterior, se dentro do prazo da validade.
IV - Apelação improvida.”
R.T.J. — 197 659
EXTRATO DA ATA
RE 367.460-AgR/DF — Relator: Ministro Gilmar Mendes. Agravantes: Ana
Maria Batista de Souza e outro (Advogados: Marcello Lavenère Machado e outro).
Agravada: União (Advogado: Advogado-Geral da União).
660 R.T.J. — 197
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Segunda Turma, na conformidade da ata do julgamento e das
notas taquigráficas, por unanimidade de votos, não conhecer do recurso, nos termos do
voto do Relator.
Brasília, 25 de novembro de 2003 — Celso de Mello, Presidente e Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Celso de Mello: Trata-se de recurso de agravo interposto contra
decisão que não conheceu do recurso extraordinário deduzido pela parte ora recorrente.
Eis o teor da decisão que sofreu a interposição do presente recurso de agravo (fls.
628/630):
“O Tribunal a quo, em decisão impugnada na presente sede recursal, fazen-
do aplicação do princípio constitucional inscrito no art. 5º, XXXVI, da Carta
Política, rejeitou a possibilidade de imediata aplicação de nova disciplina
legislativa aos efeitos futuros de contratos de depósito em caderneta de poupan-
ça, celebrados ou renovados em momento anterior ao do início da vigência da MP
n. 32/89, convertida na Lei n. 7.730/89.
O recurso extraordinário interposto pela instituição financeira revela-se
inacolhível, eis que o acórdão proferido pelo Tribunal a quo ajusta-se à orienta-
ção jurisprudencial firmada pelo Supremo Tribunal Federal na análise da matéria
objeto da presente controvérsia (RTJ 163/795, Rel. Min. Moreira Alves — RTJ
164/1145, Rel. Min. Celso de Mello — AI 215.249/SP, Rel. Min. Octavio
Gallotti — AI 220.508-AgR/RJ, Rel. Min. Octavio Gallotti — AI 229.001-AgR/
SP, Rel. Min. Maurício Corrêa — AI 262.789/BA, Rel. Min. Celso de Mello —
RE 198.304/RS, Rel. Min. Sydney Sanches, v.g.).
O exame da presente causa evidencia não assistir razão à parte ora recor-
rente, eis que o acolhimento da postulação recursal por ela deduzida importaria
em inaceitável transgressão ao princípio constitucional da intangibilidade do
ato jurídico perfeito, tal como enunciado pelo art. 5º, XXXVI, da Lei Funda-
mental da República.
Cumpre ter presente, neste ponto, que o contrato de depósito em caderneta
de poupança, enquanto ajuste negocial validamente celebrado pelas partes, quali-
fica-se como típico ato jurídico perfeito, à semelhança dos negócios contratuais em
geral (RT 547/215), submetendo-se, por isso mesmo, quanto ao seu estatuto de
regência, ao ordenamento normativo vigente à época de sua estipulação.
A pretensão jurídica manifestada pela instituição financeira conflita, de
modo frontal, com a norma inscrita no art. 5º, XXXVI, da Carta Federal, que
consagra princípio fundamental destinado a resguardar a incolumidade das
situações jurídicas definitivamente consolidadas, consoante tem sido
reiteradamente enfatizado pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal
(RTJ 163/802-803, Rel. Min. Celso de Mello):
662 R.T.J. — 197
‘(...) A lei nova não pode reger os efeitos futuros gerados por contra-
tos a ela anteriormente celebrados, sob pena de afetar a própria causa —
ato ou fato ocorrido no passado — que lhes deu origem. Essa projeção
retroativa da lei nova, mesmo tratando-se de retroatividade mínima,
incide na vedação constitucional que protege a incolumidade do ato
jurídico perfeito.
— A cláusula de salvaguarda do ato jurídico perfeito, inscrita no art.
5º, XXXVI, da Constituição, aplica-se a qualquer lei editada pelo Poder
Público, ainda que se trate de lei de ordem pública. Precedentes do STF.
— A possibilidade de intervenção do Estado no domínio econômico
não exonera o Poder Público do dever jurídico de respeitar os postulados
que emergem do ordenamento constitucional brasileiro, notadamente os
princípios — como aquele que tutela a intangibilidade do ato jurídico
perfeito — que se revestem de um claro sentido de fundamentalidade (...).’
(AI 266.236/SP, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 13-6-2000)
Em suma: o Supremo Tribunal Federal, tendo presente a importância polí-
tico-jurídica da norma inscrita no art. 5º, XXXVI, da Constituição — e consideran-
do, ainda, a grave advertência da doutrina (Humberto Theodoro Júnior, ‘O
Contrato e a Interferência Estatal no Domínio Econômico’, in Revista dos
Tribunais, vol. 675/7, 13; Hely Lopes Meirelles, ‘Estudos e Pareceres de Direito
Público’, vol. IX/258, 1986, RT, v.g.) — firmou orientação na matéria ora em
exame, enfatizando, na perspectiva do princípio constitucional que protege o ato
jurídico perfeito, que, ‘(...) nos casos de cadernetas de poupança cuja contratação ou
(...) renovação tenha ocorrido antes da entrada em vigor da Medida Provisória n. 32,
de 15-1-89, convertida na Lei n. 7.730, de 31-1-89, a elas não se aplicam, em
virtude do disposto no artigo 5º, XXXVI, da Constituição Federal, as normas dessa
legislação infraconstitucional, ainda que os rendimentos venham a ser creditados
em data posterior’ (RTJ 163/795, Rel. Min. Moreira Alves — grifei).
Sendo assim, e tendo presentes as razões expostas, não conheço do presente
recurso extraordinário, inclusive no que concerne à hipótese prevista no art. 102, III,
b, da Constituição, pois ‘o acórdão recorrido, em momento algum, declarou a incons-
titucionalidade da referida Lei’ (AI 249.048/SP, Rel. Min. Sepúlveda Pertence).
(...)
Ministro Celso de Mello
Relator”
Inconformada com esse ato decisório, a parte ora agravante interpõe o presente
recurso, postulando o conhecimento e o provimento do recurso extraordinário que
deduziu (fls. 633/640).
Por não me convencer das razões expostas, submeto, à apreciação desta Colenda
Turma, o presente recurso de agravo.
É o relatório.
R.T.J. — 197 663
VOTO
O Sr. Ministro Celso de Mello (Relator): Não assiste razão à parte ora recorrente,
eis que a decisão agravada ajusta-se, com integral fidelidade, à diretriz jurisprudencial
que o Supremo Tribunal Federal firmou na matéria ora em exame.
Não obstante os vários precedentes desta Suprema Corte, é sempre importante
reafirmar o entendimento de que os contratos submetem-se, quanto ao seu estatuto
de regência, ao ordenamento normativo vigente à época de sua celebração. Mesmo os
efeitos futuros oriundos de contratos anteriormente celebrados não se expõem ao
domínio normativo de leis supervenientes. As conseqüências jurídicas que emergem
de um ajuste negocial válido — consoante adverte o magistério jurisprudencial do
Supremo Tribunal Federal (RTJ 163/795, Rel. Min. Moreira Alves — RTJ 163/802-
803, Rel. Min. Celso de Mello — RTJ 164/1145, Rel. Min. Celso de Mello, v.g.) — são
regidas pela legislação que se achava em vigor no momento da celebração do
contrato (tempus regit actum).
Impende rememorar, bem por isso, que os contratos — que se qualificam como
atos jurídicos perfeitos (RT 547/215) — acham-se protegidos, inclusive quanto aos
efeitos futuros deles decorrentes, pela norma de salvaguarda constante do art. 5º,
XXXVI, da Constituição da República, cuja autoridade sempre prevalece, considerada
a supremacia que lhe é inerente, mesmo que se trate de leis de ordem pública.
Tal asserção nada mais traduz senão conseqüência que emana, diretamente, do
postulado da segurança jurídica.
Isso significa, portanto, que a incidência imediata da lei nova sobre os efeitos
futuros de um contrato preexistente, precisamente por afetar a própria causa geradora
do ajuste negocial, reveste-se de caráter retroativo (retroatividade injusta de grau
mínimo), achando-se desautorizada pela cláusula constitucional que tutela a
intangibilidade das situações jurídicas definitivamente consolidadas.
Vê-se, pois, que a pretensão jurídica deduzida pela instituição financeira recor-
rente revela-se inacolhível, razão pela qual mantenho, por seus próprios funda-
mentos, a decisão ora agravada, que não conheceu do recurso extraordinário em análise.
É o meu voto.
EXTRATO DA ATA
RE 393.021-AgR/SP — Relator: Ministro Celso de Mello. Agravante: Banco Itaú
S.A. (Advogados: André Vidigal de Oliveira e outro). Agravado: Instituto Brasileiro de
Defesa do Consumidor – IDEC (Advogados: Dulce Soares Pontes Lima e outro).
Decisão: A Turma, por votação unânime, não conheceu do recurso de agravo, nos
termos do voto do Relator.
Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Carlos
Velloso, Nelson Jobim, Ellen Gracie e Gilmar Mendes. Subprocuradora-Geral da Repú-
blica, Dra. Sandra Verônica Cureau.
Brasília, 25 de novembro de 2003 — Antonio Neto Brasil, Coordenador.
664 R.T.J. — 197
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira
Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence,
na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por maioria de votos,
em rejeitar os embargos de declaração em recurso extraordinário; vencido o Ministro
Marco Aurélio, que os recebia para conhecer do recurso extraordinário e lhe dar
provimento.
Brasília, 26 de abril de 2005 — Carlos Ayres Britto, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto: Tendo em conta as alterações na composição
desta Turma, ocorridas desde a prolação do acórdão embargado até a presente data,
considero oportuno fazer um relatório mais detalhado da causa.
2. E, ao assim proceder, começo por registrar que em face de acórdão do Tribunal
de Justiça do Estado do Paraná foram manejados recursos especial e extraordinário, este
com alegação de afronta ao inciso XXXVI do art. 5º da Carta de Outubro.
3. Negado seguimento ao apelo extremo, em despacho irrecorrido, subiram os
autos ao Superior Tribunal de Justiça, cuja Quarta Turma, por três votos a dois, não
conheceu do recurso especial.
4. Inconformado, o ora embargante interpôs embargos de declaração, rejeitados,
e recurso extraordinário, admitido. Neste sustentava-se que o acórdão recorrido
violara, por aplicação retroativa a uma sucessão aberta em 23-6-76, a norma do § 6º
do artigo 227 da Carta Magna, contrariando, ademais, a pacífica jurisprudência desta
Corte.
R.T.J. — 197 665
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto (Relator): Como visto, apenas um dos cinco
votos proferidos no Tribunal de origem versou efetivamente o tema constitucional tido
por violado no apelo extremo, circunstância considerada insuficiente por esta Turma
para satisfazer o requisito do prequestionamento.
12. Confira-se, por ser elucidativo, o seguinte trecho do voto de minha lavra, que
conduziu ao resultado do julgamento:
“(...) Esclareceu o Relator, Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, que “o
recurso especial do autor invoca violação dos arts. 1.572, 1.577, 1.717 e 1.718 do
Código Civil, 6º, caput e § 2º da Lei de Introdução, e 5º, XXXVI da Constituição,
além de divergência jurisprudencial. Sustenta a aplicabilidade da lei vigente à
época da abertura da sucessão e a irretroatividade da norma constitucional do art.
227, § 6º” (fl. 466).
666 R.T.J. — 197
(...)
‘Não me parece, na circunstância dos autos, que se deva ter preocu-
pação com a vontade do testador para interpretar e aplicar seu testamento.
É que, no sistema constitucional vigente, não há mais a distinção entre
filho legítimo e ilegítimo, nem a lei poderá estabelecê-la; a que assim
dispunha se tem hoje por revogada. A força constitucional, penso, atua
também sobre a vontade da parte, de forma que aquela distinção feita pelo
testador — acredito que com a intenção manifesta de discriminar — hoje
não prevalece. Não porque se deva interpretar o testamento de um modo
ou de outro, mas porque a Constituição não faz a distinção, tornando-a
ilícita.’
24. Embora não mencionasse nenhum dispositivo da Carta de 1988, é clara
a matriz constitucional que norteou este último pronunciamento.
25. O quadro que acabo de esboçar não sofreu alteração com o julgamento
dos subseqüentes embargos declaratórios, rejeitados por unanimidade.
26. De todo o exposto, então, surge a pergunta-chave: houve, afinal,
prequestionamento?
27. Começo por responder que, no seu trabalho Recurso Extraordinário —
Aspectos Práticos, publicado na Revista Jurídica, de outubro/2003 (n. 312),
Carlos Bastide Horbach, ao fazer um giro pela jurisprudência do Supremo Tribu-
nal Federal, lança claras luzes sobre o assunto, ajudando, com isso, a responder à
indagação acima. Disse ele, com propriedade, às fls. 59/60:
‘Entretanto, não basta que a matéria constitucional seja debatida, é
preciso ainda que seja adotada como razão de decidir, no caso dos
colegiados, pelo voto vencedor. Não há, assim, prequestionamento se as
questões constitucionais foram suscitadas no voto vencido, sendo necessá-
ria, pois, a adoção de tese pela maioria vencedora.
Essa exigência pode ser também depreendida da idéia de “causa
decidida”. Se não houve efetiva decisão sobre o ponto controverso, não há
o requisito inicial para a admissão do extraordinário. São muitos os prece-
dentes que expressam esse entendimento, tais como o RE 131.739, Rel.
Min. Marco Aurélio, D.J. de 06.11.92; e o agravo regimental no RE
279.557, Rel. Min. Ilmar Galvão, D.J. de 16.03.2001; cujas ementas foram
assim redigidas, respectivamente:
“Recurso — Prequestionamento — Campo propício. O preques-
tionamento pressupõe a adoção de tese pelo Órgão prolator da decisão
atacada. Há de ter origem em manifestação explícita do Colegiado
sobre o tema jurígeno veiculado no recurso. A análise contida, unica-
mente, em voto vencido, mostra-se irrelevante. O silêncio da maioria
não é passível de ser afastado pelo fato de o dissidente haver esgrimido
o tema, isto na declaração de voto juntada aos autos. Entendimento
diverso implica a consagração do prequestionamento implícito, presu-
mindo-se refutada a matéria de defesa”.
668 R.T.J. — 197
EXTRATO DA ATA
RE 395.121-ED/PR — Relator: Ministro Carlos Britto. Embargante: Carlos
Roberto de Macedo (Advogados: Reginaldo Oscar de Castro e outro). Embargados:
Luiz Henrique de Macedo e outro (Advogado: Newton José de Sisti).
Decisão: Após os votos dos Ministros Carlos Britto, Relator, Cezar Peluso e Eros
Grau negando provimento aos embargos de declaração no recurso extraordinário,
pediu vista dos autos o Ministro Marco Aurélio. Presidiu o julgamento o Ministro
Marco Aurélio. Não participou deste julgamento o Ministro Sepúlveda Pertence.
Decisão: Renovado o pedido de vista do Ministro Marco Aurélio, de acordo com
o art. 1º, § 1º, in fine, da Resolução n. 278/2003.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros
Marco Aurélio, Cezar Peluso e Carlos Britto. Ausente, justificadamente, o Ministro
Eros Grau. Subprocurador-Geral da República, Dr. Eitel Santiago de Brito Pereira.
Brasília, 19 de abril de 2005 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
VOTO (Vista)
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Nos embargos declaratórios, busca-se ver exami-
nado o fato de os votos vencidos dos ministros Cesar Rocha e Aldir Passarinho Júnior
conterem análise do conflito de interesses sob o ângulo constitucional, havendo
670 R.T.J. — 197
ocorrido empate na votação, no que os dois votos anteriores — dos ministros Sálvio de
Figueiredo, relator, e Barros Monteiro — levaram em conta a faticidade da matéria — a
discussão em torno do alcance do testamento. Sustenta-se que o tema constitucional foi
enfrentado, tanto assim que o voto do Ministro Ruy Rosado, de desempate, fez-se
baseado unicamente no disposto no § 6º do artigo 227 da Constituição Federal de
1988, tido como aplicável à espécie. Daí pretender-se o conhecimento e provimento
dos embargos declaratórios para, a eles emprestada eficácia modificativa, vir-se a
conhecer e prover o extraordinário, proclamando-se prequestionada a questão constitu-
cional.
Pedi vista do processo, que deu entrada no meu Gabinete em 29 de março de 2005,
sendo que nele lancei visto, declarando-me habilitado a votar, em 22 subseqüente, e
assentando que o processo estaria em mesa para seqüência na sessão de hoje — 26 de
abril —, isso objetivando a ciência, pelo Gabinete, quanto à devolução às partes.
É certo que, no voto condutor do julgamento, desqualificou-se o fato de os
ministros Cesar Rocha e Aldir Passarinho Júnior haverem aludido ao texto constitu-
cional. Assim ocorreu, afirmando-se, quanto ao voto do primeiro, que “a referência
feita à Lei Fundamental foi de passagem e assintomática, apenas para ‘deixar assina-
lado que o testador faleceu antes de 1988, portanto em período anterior à Constitui-
ção Federal, quando só então deixou de haver discriminação entre filhos legítimos e
ilegítimos’”. O trecho compreendido entre o vocábulo “deixar” até a palavra “ilegí-
timos” compõe o voto divergente proferido no Superior Tribunal de Justiça, da lavra
do Ministro Cesar Rocha, e está transcrito, à folha 534, no voto condutor do julga-
mento nesta Turma — item 20. Relativamente ao voto do ministro Aldir Passarinho
Júnior, a desqualificação, no que tange apenas ao prequestionamento, fez-se da
seguinte forma (folha 535):
22. Também aqui a menção à Magna Carta foi aligeirada e incidental,
formulada nos seguintes termos (fls. 495):
A lei estava absolutamente em vigor, em consonância com o disposi-
tivo constitucional. Senão ter-se-ia de ressuscitar todas as questões anterio-
res às constituições.
O Relator, Ministro Carlos Ayres Britto, reconheceu em passo seguinte que o
voto de desempate — do ministro Ruy Rosado —, sem adotar o entendimento da
irretroatividade do texto da Carta de 1988, fez-se baseado no Diploma Maior —
item 23.
A Turma é instada a pronunciar-se sobre o que se aponta, ante os termos do voto
condutor do julgamento, como “seccionamento da eficácia” do voto do ministro Ruy
Rosado, no que veio a implicar a decisão em torno do não-conhecimento do recurso
especial, mostrando-se decisivo. Peço vênia para assentar que se tem, no caso, verda-
deira contradição. A um só tempo, reconheceu-se que três votos versaram, de alguma
forma e em sentidos opostos, sobre a Constituição Federal de 1988 e, mesmo assim, não
restou configurado o prequestionamento. Esta Corte vem, até mesmo, flexibilizando,
em alguns casos, o instituto, contentando-se com a interposição de embargos
declaratórios que, no caso, foram protocolados, admitindo-se, por sinal como está no
item II da ementa de folha 530, a discussão do tema:
R.T.J. — 197 671
EXTRATO DA ATA
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Marco Aurélio: O Superior Tribunal de Justiça negou acolhida a
pedido formulado em recurso ordinário em habeas corpus, ante fundamentos assim
sintetizados (folha 203):
Direito penal. Omissão no recolhimento de contribuição previdenciária.
Lei n. 9.964/2000 (artigo 15). Novatio legis in mellius. Incaracterização.
1. O que caracteriza a norma penal, enquanto norma jurídica, própria do sistema
positivo de direito em vigor, é a generalidade do preceito, em nada se confundindo
com as disposições concretas e particulares de certas e determinadas pessoas.
2. Não há, assim, falar em incidência do estatuto da retroatividade penal,
que tem sede na Constituição da República (artigo 5º, inciso XL) e no Código
Penal (artigo 2º), pertinente à eficácia temporal da norma penal e, certamente,
estranha à indulgentia principis, cujos atos têm destinatários certos e determina-
dos, subordinada que está, por inteiro, ao poder discricionário do Estado.
3. Esta, a natureza da disposição inserta no artigo 15 da Lei n. 9.964/2000,
de iniciativa exclusiva do Presidente da Republica, que tem o poder do indulto
(Constituição da República, artigo 61, inciso II, alínea b, e 84, inciso XII) e
produzida em lei, pelo Congresso Nacional, que tem o poder da anistia (Consti-
tuição da República, artigo 48, inciso VIII).
4. Somente os contemplados pela indulgentia principis podem invocá-la,
entre os quais não se inclui aquele, cuja denúncia, que contra ele se ofertou por
delitos contra a ordem tributária, foi recebida antes da vigência da Lei n. 9.964/2000.
5. Recurso improvido.
Seguiu-se a interposição de embargos de declaração, desprovidos pelo Colegiado
(folhas 218 a 228).
No extraordinário de folhas 290 a 319, interposto com alegada base na alínea a do
permissivo constitucional, articula-se com a transgressão do artigo 5º, cabeça e inciso XL,
da Carta Política da República. Sustenta-se, em suma, que o recorrente, acusado da prática
do delito previsto nos artigos 95, alínea d, da Lei n. 8.212/91, 168-A e 71 do Código
Penal, tem direito ao benefício de que trata o artigo 15 da Lei n. 9.964/2000, ante a
aplicação dos princípios da isonomia e retroatividade da lei penal mais favorável.
Salienta-se que a adesão ao Refis antes do recebimento da denúncia, que era requisito
para ter-se jus ao favor, deixou de existir com a edição da Lei n. 10.684/2003. Afirma-se
que a denúncia foi recebida em 18 de outubro de 1999 e, já na audiência de interrogató-
rio, noticiou-se que a empresa Diretriz Veículos Ltda., da qual o recorrente é sócio-
gerente, aderira ao Programa de Recuperação Fiscal – Refis, em 20 de abril de 2000,
circunstância que estaria a assegurar ao paciente a suspensão da pretensão punitiva, com
a suspensão da ação penal. Ressalta-se que a Lei n. 9.964/2000, ao atrelar a suspensão da
pretensão punitiva do Estado à prévia adesão ao Refis, criou situação inusitada, gerando
injustiça, porquanto, antes da edição do diploma legal, a única hipótese de extinção da
punibilidade era a quitação integral do débito. No entanto, quando já em curso a ação
penal e, portanto, depois do recebimento da denúncia, criou-se nova possibilidade de
extinção da punibilidade, à qual não poderia ter acesso o recorrente, porque já estava em
tramitação a ação contra ele proposta. Nesse passo, assevera-se (folhas 297 e 298):
674 R.T.J. — 197
41. (...) salta aos olhos que a nova legislação (Lei 9.964/2000) configura
hipótese de novatio legis in mellius, porquanto traz benefícios ao Réu e Paciente, os
quais anteriormente não eram previstos, qual seja (repita-se à exaustão): a possibi-
lidade de adesão ao REFIS, com o conseqüente parcelamento do débito (pois até
então apenas era permitido o adimplemento integral em uma única parcela),
suspensão da pretensão punitiva do Estado, até a final extinção da punibilidade
(uma vez ocorrido o pagamento integral das parcelas do refinanciamento).
42. Por todo o exposto, tornam-se perfeitamente aplicáveis (exigíveis até)
os princípios da isonomia e da retroatividade da lei mais benéfica, de forma
inserida na norma supra transcrita.
43. Como decorrente corolário lógico, deve assim a hipótese abranger
também os casos ocorridos previamente à vigência da lei mais branda, em outras
palavras, aplicando-se o artigo 15 da Lei 9.964/2000 independentemente de já
ter sido ou não recebida a denúncia.
44. Importante ressaltar que os referidos princípios objetivam precipuamente
manter e assegurar a igualdade de tratamento a toda a coletividade, de modo a
evitar privilégios em favor de determinados grupos de pessoas.
Discorre-se, longamente, sobre a controvérsia, aludindo-se a ensinamentos dou-
trinários, a precedentes jurisprudenciais e aos conceitos de indulto e anistia.
O Ministério Público Federal apresentou as contra-razões de folhas 351 a 355,
apontando a falta de prequestionamento, a ausência de demonstração de ofensa direta
à Carta e o acerto da conclusão adotada pela Corte de origem, uma vez que inexistentes,
na espécie, os requisitos autorizadores da concessão do benefício.
O procedimento atinente ao juízo primeiro de admissibilidade encontra-se às
folhas 357 a 359.
Em 2 de março passado, o recorrente peticionou, requerendo a concessão de
habeas corpus de ofício, com fundamento no artigo 9º da Lei n. 10.684/2003, conside-
rado o precedente revelado nos Embargos de Declaração no Recurso Extraordinário n.
357.029-3.
Deferi o pedido mediante a decisão de folhas 402 a 404, do seguinte teor:
Recurso extraordinário — Eficácia suspensiva ativa —
Decreto condenatório — Afastamento temporário e precário.
1. O recorrente, com a peça de folhas 373 a 375, reportando-se ao que decidido
em embargos declaratórios no Recurso Extraordinário n. 357.029-3 — quando
concedido habeas de ofício para suspender o processo movido contra si, em curso
na 2ª Vara Criminal de Curitiba, Seção Judiciária do Paraná, n. 99.0017699-5 — e
evocando o artigo 9º da Lei n. 10.684, de 30 de maio de 2003, requereu idêntico
tratamento, tendo em vista o processo que motivou a interposição do recurso
ordinário em habeas corpus julgado pelo Superior Tribunal de Justiça. Então,
despachei, visando a elucidar a demora na apresentação da peça, em face de
audiência admonitória marcada para 17 de maio de 2004, isso presente o pedido
formulado às folhas 384 e 385. Veio aos autos o esclarecimento de folha 387.
R.T.J. — 197 675
aquela superveniente que aconteça antes da decisão final da ação penal. Por
isso, concluo que a hipótese enseja, a teor do § 2º do artigo 654 do Código
de Processo Penal, a concessão de ordem de ofício. Saliento que a referência
contida na norma a juízes e tribunais diz respeito ao órgão judicante compe-
tente para a análise do processo e, nesta fase o é o Relator, a quem cumpre
julgar os embargos declaratórios interpostos contra ato monocrático.
Concedo habeas corpus de ofício aos embargantes — Carlos Eduardo
Jung e Roberto Luiz Jung para, nos termos do artigo 9º da Lei n. 10.684, de 30
de maio de 2003, determinar a suspensão do processo em curso na 2ª Vara
Federal Criminal de Curitiba — Seção Judiciária do Paraná — n. 99.0017699-5,
com os consectários previstos no mencionado artigo 9º.
Concedi o habeas de ofício, atuando, portanto, no campo singular, e, ante a
normatividade advinda com o artigo 9º da Lei n. 10.684, de 30 de maio de 2003,
determinei a suspensão do processo em curso na 2ª Vara Federal Criminal de
Curitiba — Seção Judiciária do Paraná — n. 99.0017699-5, com os consectários
previstos no referido artigo 9º. A esta altura, diante até mesmo da possibilidade de
concessão de habeas de ofício, outro pronunciamento não cabe.
3. Imprimo eficácia suspensiva ativa ao recurso extraordinário para suspen-
der, até a decisão final deste, a tramitação do processo revelador da Execução
Penal n. 2003.056891-3 — primeira condenação — da 1ª Vara Federal Criminal
do Paraná, ficando alcançada, assim, a audiência admonitória designada para o
dia 31 de maio de 2004, às quinze horas.
4. Juntado aos autos o relatório parcial, colha-se o parecer da Procuradoria
Geral da República.
5. Publique-se.
A Procuradoria-Geral da República, no parecer de folhas 422 a 439, preconiza o
conhecimento e provimento do recurso.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Na interposição deste recurso, foram
observados os pressupostos gerais de recorribilidade. A peça, subscrita por profissional
da advocacia credenciado por meio do documento de folha 47, restou protocolada no
prazo assinado em lei. O acórdão concernente aos embargos de declaração foi publica-
do no Diário de 18 de agosto de 2003, segunda-feira (folha 229), vindo à balha o
inconformismo, mediante a utilização de fac-símile, em 1º de setembro imediato,
segunda-feira (folha 230). A protocolação do original deu-se em 3 subseqüente, quarta-
feira (folha 290).
Quanto ao tema de fundo, tem-se questionamento apaixonante. O recorrente viu-
se processado ante denúncia recebida em 1999. Em 2000, editou-se a Lei n. 9.964, que
instituiu o Programa de Recuperação Fiscal – Refis e introduziu providências. No
artigo 15, previu-se:
R.T.J. — 197 677
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente): Também acompanho o Ministro
Relator, sobretudo em função de que o limite processual da adesão ao Refis antes do
recebimento da denúncia foi abolido pela Lei 10.684/2003.
EXTRATO DA ATA
RE 409.730/PR — Relator: Ministro Marco Aurélio. Recorrente: Carlos Eduardo
Jung (Advogado: Mauricio Sagboni Montanha Teixeira). Recorrido: Ministério Públi-
co Federal.
Decisão: A Turma conheceu do recurso extraordinário e lhe deu provimento, nos
termos do voto do Relator. Unânime.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros
Marco Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto e Eros Grau. Subprocurador-Geral da
República, Dr. Edson Oliveira de Almeida.
Brasília, 1º de fevereiro de 2005 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello,
na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por votação majoritá-
ria, conhecer do recurso extraordinário e dar-lhe provimento nos termos do voto do
Relator. Vencido, em parte, o Ministro Joaquim Barbosa, nos termos do voto que
proferiu. Ausentes, justificadamente, neste julgamento, a Ministra Ellen Gracie e o
Ministro Gilmar Mendes.
Brasília, 6 de dezembro de 2005 — Carlos Velloso, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Velloso: O acórdão recorrido, proferido pela Segunda
Turma do Eg. Superior Tribunal de Justiça, está assim ementado:
“Direito econômico. Intervenção do estado no domínio econômico. Tabela-
mento. Preço único. Setor sucro-alcooleiro. Congelamento de preços. Planos
econômicos. IAA – Instituto do Álcool e do Açúcar. Apuração de custo de
produção pela FGV – Fundação Getúlio Vargas. Indenização pleiteada por
prejuízo ocasionado por política de fixação de preços em desacordo com os
critérios do art. 9º da lei n. 4.870/65.
I - O exercício da atividade estatal, na intervenção no domínio econômico,
não está jungido, vinculado, ao levantamento de preços efetuado por órgão
técnico de sua estrutura administrativa ou terceiro contratado para esse fim
680 R.T.J. — 197
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): A espécie é esta: a sentença de primeiro
grau julgou procedente a ação ajuizada pela Destilaria Alto Alegre, para condenar a
União a indenizar os prejuízos advindos da intervenção do Poder Público no domínio
econômico, que resultou na fixação de preços, no setor sucroalcooleiro, abaixo dos
valores apurados e propostos pelo Instituto Nacional do Açúcar e do Álcool.
A União recorreu, mas o Tribunal Regional Federal da 1ª Região, Relator o
eminente Juiz Tourinho Neto, negou provimento à apelação.
Destaco do acórdão do Regional:
“(...)
Os preços dos produtos sucro-alcooleiros eram, de acordo com a Lei n.
4.870, de primeiro de dezembro de 1965, fixados pelo então Instituto do Açúcar
e do Álcool. Lei esta que indicava os critérios a serem obedecidos, sendo que o art.
9º tratava do levantamento dos custos. Assim dispunha esse artigo:
‘O IAA, quando do levantamento dos custos de produção agrícola e
industrial, apurará, em relação às usinas das regiões Centro-Sul e Norte-
Nordeste, as funções custo dos respectivos fatores de produção, para vigora-
rem no triênio posterior.
§ 1º As funções custo a que se refere este artigo serão valorizadas
anualmente, através de pesquisas contábeis e de outras técnicas comple-
mentares, estimados, em cada caso, os fatores que não possam ser objetos de
mensuração física.
§ 2º Após o levantamento dos custos estaduais, serão apurados o custo
médio nacional ponderado e custos médios regionais ponderados, observa-
dos, sempre que possível, índices mínimos de produtividade.
§ 3º O IAA promoverá, permanentemente, o levantamento dos custos
de produção, para o conhecimento de suas variações, ficando a cargo do seu
órgão especializado a padronização obrigatória da contabilidade das usinas
de açúcar.’
O critério, portanto, para fixação dos preços era legal. Contratou o IAA a
Fundação Getúlio Vargas para proceder os levantamentos e apurar o preço dos
produtos do setor sucro-alcooleiro.
A Fundação Getúlio Vargas apurava corretamente os preços, no entanto, o IAA
os estabelecia em valores inferiores, que não davam para cobrir os custos de produ-
ção. O próprio Presidente desse instituto isto confessou, em ofício dirigido, em nove
de abril de 1987, ao Ministro de Estado da Indústria e do Comércio (v. fl. 34):
‘Os preços da cana-de-açúcar, do açúcar e do álcool são fixados
administrativamente, mediante atos que substituem a resultante da livre
ação das forças de mercado. Por este motivo, os preços têm se constituído no
ponto de permanente fricção entre o governo e o empresariado, fenômeno
que se torna mais agudo nas épocas em que a inflação se exacerba, em
682 R.T.J. — 197
6. Mas tal exegese não é a que melhor se extrai do artigo 37, § 6º, da Lei
Maior. Com efeito, Celso Ribeiro Bastos, discorrendo sobre o fundamento da
responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito público, ensina que:
‘(...) o Estado está sempre voltado para o atingimento de finalidades
dirigidas ao bem-estar geral, e desse seu atuar pode derivar como subproduto
indesejável a causação de danos. Danos esses que se tornam inevitáveis para
o atingimento de certos fins. Ocorre que, por vezes, a realização destes implica
o sacrifício de um direito particular que, embora deva ceder em nome do
interesse público, não deixa de merecer indenização. Não seria hoje lícito
fazer prevalecer o interesse particular sobre o interesse público.
‘Assim sendo, vê-se que a idéia da responsabilidade pelos danos
causados, ou da responsabilidade patrimonial, ou, ainda, da responsabilida-
de extracontratual, não derivada dos contratos, e, portanto, decorrente da
mera atuação administrativa, vincula-se à própria noção do Estado de Direi-
to. Este impõe que o Estado seja responsável pelo resultado prejudicial dos
atos que realize.
‘Portanto, torna-se de menor importância o saber se o ato foi praticado
com culpa ou sem culpa, se era lícito ou ilícito; o que ocorre é que em
decorrência do Estado de Direito, do Estado controlado e submetido ao
direito, não resulta aceitável a causação de danos, a incidência de lesões
sobre alguns, decorrentes do exercício de uma atividade estatal que procura
o bem-estar de todos sem o preço da sobrecarga de alguns.
‘Em síntese, a ação estatal está hoje adstrita a esse dever de não ser
produtora de danos aos particulares. Toda vez que isso ocorrer, dá-se um
encargo do Estado consistente em recompor o prejuízo causado. São pois
pressupostos fundamentais para a deflagração da responsabilidade do Esta-
do: a causação de um dano e a imputação deste a um comportamento
omissivo ou comissivo seu; é o denominado nexo de causalidade...’
7. Como se percebe, a Administração pode ser responsabilizada por ato
lícito, quando o demonstrado, como no caso, o nexo de causalidade entre a ação
estatal e o prejuízo sofrido pelo particular.
8. Aliás, o TRF da 1ª região bem destacou que:
‘Demonstrado está, portanto, o dano sofrido pela autora.
‘Dano esse decorrente da atuação do Estado. Fixou os preços do setor
sucro-alcooleiro abaixo do preço de custo, contrariando a própria Lei n.
4.870, de 1965. Contratou a Fundação Getúlio Vargas para apurar os preços
do produto desse setor e não atentou para os mesmos. Qual a finalidade,
então do contrato? Dinheiro jogado fora. Dispunha a cláusula terceiro do
contrato (fl. 24):
‘O IAA pagará à Fundação pela execução dos serviços objeto da
cláusula primeira deste contrato o preço de Cr$ 4.025.000,00...’
‘Isto em outubro de 1974. Será que o Tribunal de Contas da União
apurou tal fato?
686 R.T.J. — 197
responsabilidade do Estado, não obstante entender que ele se biparte - pois, ‘no
caso de comportamentos ilícitos, comissivos ou omissivos, o dever de reparar o
dano é contrapartida da violação da legalidade’ - deixa claro, no que concerne aos
atos lícitos, que ‘o fundamento da responsabilidade estatal é a idéia de igualdade
dos cidadãos perante os encargos públicos, repartindo-se os ‘ônus provenientes
dos atos lesivos, evitando que alguns suportem prejuízos ocorridos por ocasião
do exercício de atividade desempenhada no interesse de todos.’(Celso Antônio
Bandeira de Mello, ob. cit., p. 260). A lição, bem se vê, está na linha das
opiniões anteriormente invocadas. Argumenta, ainda, o acórdão, que c) tendo o
prejuízo ‘decorrido de atividade administrativa lícita, objetivou o interesse da
coletividade, interesse presumido e ínsito ao tipo de conglomerado humano
constituído no grande centro.’ O raciocínio esboroa-se, entretanto, data venia,
frente às lições transcritas. Vale invocar Pedro Lessa: ‘desde que um particular
sofre um prejuízo, em conseqüência do funcionamento (regular ou irregular,
pouco importa) de um serviço organizado no interesse de todos, a indenização
é devida. Aí temos um corolário lógico do princípio da igualdade dos ônus e
encargos sociais.’ (Pedro Lessa, Do Poder Judiciário, pp. 163 e 165). Diz mais
o acórdão: d) o prejuízo não teria afetado ‘singularmente a uma pessoa ou a um
pequeno grupo de pessoas’, que e) ‘não existe o menor indício de que a obra
pudesse ser desnecessária ou que aquilo a que objetivava pudesse vir a ser
obtido por outras vias menos onerosas’, que f) ‘não se constitui o prejuízo em
fato anômalo no grande centro urbano, onde zoneamentos são modificados,
bairros envelhecem rapidamente, moradias são derrubadas, novas zonas
residenciais surgem, numa modificação contínua e incessante’ e que g) ‘não há
conflito entre interesses privados, mas entre um interesse privado e um interesse
público, com primazia para este.’
Os argumentos acima transcritos ou são irrelevantes, diante da doutrina da
responsabilidade objetiva do Estado, com base na teoria do risco administrativo,
ou provam demais.
(...).” (Fls. 674-677)
No caso, o acórdão recorrido ignorou os prejuízos causados à recorrida pelo poder
público, prejuízos apurados na instância ordinária, inclusive mediante perícia. Igno-
rou, olimpicamente, os prejuízos, ao curioso argumento de que assiste ao Estado o
poder discricionário “na adequação das necessidades públicas ao contexto econômi-
co estatal”. É dizer, com base nessa discricionariedade inadmissível num Estado de
Direito, é possível ao Estado, ao intervir no domínio econômico, desrespeitar liberda-
des públicas e causar prejuízos aos particulares, impunemente.
Esclareça-se, ao cabo — quase em termos de repetição —, que não se trata, no caso,
de submeter o interesse público ao interesse particular da Recorrente. A ausência de regras
claras quanto à política econômica estatal, ou, no caso, a desobediência aos próprios
termos da política econômica estatal desenvolvida, gerando danos patrimoniais aos
agentes econômicos envolvidos, são fatores que acarretam insegurança e instabilidade,
desfavoráveis à coletividade e, em última análise, ao próprio consumidor.
Em face do exposto, conheço do recurso e lhe dou provimento.
R.T.J. — 197 691
EXTRATO DA ATA
RE 422.941/DF — Relator: Ministro Carlos Velloso. Recorrente: Destilaria Alto
Alegre S.A. (Advogados: Hamilton Dias de Souza e outro). Recorrida: União (Advoga-
do: Advogado-Geral da União).
Decisão: Depois do voto do Ministro Relator, conhecendo e dando provimento
ao recuso extraordinário, o julgamento foi suspenso em virtude de pedido de vista
formulado pelo Ministro Joaquim Barbosa. Falou, pela recorrente, o Dr. Hamilton Dias
de Souza e, pela União, o Dr. Moacir Antônio Machado da Silva. Ausente, ocasional-
mente, neste julgamento, o Ministro Gilmar Mendes.
Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Carlos
Velloso, Ellen Gracie, Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Compareceu à Turma o
Ministro Nelson Jobim, Presidente do Tribunal, a fim de julgar processo a ele vinculado,
assumindo, nesta ocasião, a Presidência da Turma, de acordo com o art. 148, parágrafo
único, do RISTF. Subprocurador-Geral da República, Dr. Francisco Adalberto da
Nóbrega.
Brasília, 31 de maio de 2005 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.
VOTO (Vista)
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Trata-se de recurso extraordinário interposto por
Destilaria Alto Alegre S.A. de acórdão do Superior Tribunal de Justiça acerca da
responsabilidade da União por prejuízos decorrentes da diferença entre os valores dos
preços fixados pelo governo federal para a indústria sucroalcooleira, diferença essa
determinada pela Lei 4.870/1965, no período de março de 1985 a outubro de 1989, em
montante inferior ao apurado pelo Instituto do Açúcar e do Álcool – IAA e pela
Fundação Getúlio Vargas – FGV.
Na ação de indenização, a autora argumenta que, naquele período, a indústria
sucroalcooleira sofria rígida intervenção do governo federal em todas as etapas de
produção, inclusive com a fixação do preço de venda do produto conforme critérios
definidos em lei — tarefa que incluía a aferição periódica do custo da produção. Ocorre
que o preço determinado pelo governo era bem inferior ao custo da produção, o que
acarretou prejuízos financeiros à indústria.
A autora fundamenta o pedido na responsabilidade objetiva do Estado, argumen-
tando:
“[...] o Poder Público, no Brasil, responde civilmente não apenas em razão
da prática de atos ilícitos (vale dizer, contrários ao Direito) mas também se causar
dano ao particular mediante atos lícitos desde que haja nexo causal entre eles e
um prejuízo especial e anormal.” (Fls. 08-09)
O pedido foi concedido tanto em primeira instância como pelo Tribunal Regional
Federal da 1ª Região.
O Superior Tribunal de Justiça, contudo, conheceu do recurso especial da União
e deu-lhe provimento. A Ministra Relatora ponderou que os critérios de fixação de
692 R.T.J. — 197
preços eram legais, todavia deveriam ser agregados a outros elementos não expressa-
mente inseridos na Lei 4.870/1965, tais como os critérios de política econômica
exigidos pela conjuntura. Eis a ementa dessa decisão (fl. 651):
“Direito econômico. Intervenção do Estado no domínio econômico. Tabe-
lamento. Preço único. Setor sucro-alcooleiro. Congelamento de preços. Planos
econômicos. IAA – Instituto do Álcool e do Açúcar. Apuração de custo de
produção pela FGV – Fundação Getúlio Vargas. Indenização pleiteada por
prejuízo ocasionado por política de fixação de preços em desacordo com os
critérios do art. 9º da Lei n. 4.870/65.
I - O exercício da atividade estatal, na intervenção no domínio econômico,
não está jungido, vinculado, ao levantamento de preços efetuado por órgão técnico
de sua estrutura administrativa ou terceiro contratado para esse fim específico; isto
porque há discricionariedade do Estado na adequação das necessidades públicas ao
contexto econômico estatal; imprescindível a conjugação de critérios essencial-
mente técnicos com a valoração de outros elementos de economia pública.
II - O tabelamento de preços não se confunde com o congelamento, que é
política de conveniência do Estado, enquanto intervém no domínio econômico
como órgão normativo e regulador do mercado, não havendo quebra do princípio
da proporcionalidade ao tempo em que todo o setor produtivo sofreu as conseqüên-
cias de uma política econômica de forma ampla e genérica.
III - Apesar de inviável, em sede de recurso especial, a quantificação dos
danos sofridos pelas usinas e engenhos de açúcar — com a fixação de preços
únicos para o setor sucro-alcooleiro, decorrente de tabelamento de preço —
porque implica em reexame de prova vedado pela Súmula n. 07/Colendo Superi-
or Tribunal de Justiça, é possível a discussão da legalidade dos critérios exterio-
rizadores da defasagem do setor.”
Os embargos de declaração foram rejeitados, em decisão cuja ementa tem o
seguinte teor (fl. 747):
“Processual Civil e Administrativo. Recurso especial. Embargos de decla-
ração. Contradição, omissão e obscuridade. Preços do setor sucro-alcooleiro.
Fixação. FVG – Fundação Getúlio Vargas. IAA – Instituto do Açúcar e do Álcool.
1. O Acórdão embargado, expressamente, adota o entendimento segundo o
qual, ainda que tenha contratado os serviços da FGV para o levantamento dos
custos de produção do setor sucro-alcooleiro, não ficou o Poder Público vincula-
do aos dados oferecidos, nada impedindo que fossem devidamente passados ao
crivo do seu corpo técnico especializado, com larga experiência na área, ou ainda
fazê-lo através de terceiro.
2. O voto-condutor do Acórdão embargado não restou omisso, obscuro ou
contraditório, eis que decidiu a questão de direito valendo-se de elementos que
julgou aplicáveis e suficientes para a solução da lide. Pode-se dele discordar,
entretanto, não há como imputar a ocorrência das eivas indicadas nos aclaratórios.
3. Pretensão de rejulgamento da causa, e não mera integração do acórdão.
4. Embargos declaratórios rejeitados.”
R.T.J. — 197 693
1 COSTA, Mário Luiz Oliveira da. Setor Sucroalcooleiro: da rígida intervenção ao livre mercado.
São Paulo: Método, 2003. p. 127.
R.T.J. — 197 695
2 BARROSO, Luis Roberto. “A crise econômica e o direito constitucional.” In: Revista jurídica da
Procuradoria Geral do Distrito Federal, n. 12, pp. 34-74, out./dez. 1993.
696 R.T.J. — 197
Por outro lado, não ficou demonstrado, nos autos, elemento apto a compensar a
alegada defasagem de preços dentro da política específica do setor, conforme se lê da
decisão do Tribunal Regional Federal:
“Não recebia, por outro lado, a autora subsídios. É a afirmativa do perito. ‘Os
subsídios dados ao setor sucro-alcooleiro, no período 1985/1989, eram especí-
ficos para as unidades produtoras existentes nas regiões Norte/Nordeste’ (fl. 402).
A autora é empresa paulista. A ré não fez, ademais, nenhuma prova de que tenha a
autora recebido subsídio.” (Fl. 529)
Configurado, pois, o dano e o nexo de causalidade, impõe-se a condenação da
União a indenizar a Destilaria Alto Alegre S.A. pelos prejuízos patrimoniais que esta
experimentou em seu faturamento decorrentes da diferença entre os valores dos preços
fixados pelo governo federal e aqueles efetivamente apurados pela Fundação Getúlio
Vargas e pelo Instituto do Açúcar e do Álcool.
Aqui, há de se fazer uma importante ressalva quanto ao período em que houve
congelamento de preços de forma generalizada no País — e não apenas no setor
sucroalcooleiro —, ou seja, entre junho de 1987 a outubro de 1989.
O Superior Tribunal de Justiça, ao dar provimento ao recurso especial, declarou o
seguinte:
“Durante o período em que vigeu a política de ‘congelamento de preços’ (e
nos termos da r. sentença, em referência ao Mandado de Segurança n. 83, Rel. Min.
Garcia Vieira, DJ 28-08-89), não pode ser reconhecido direito a reajuste de preços,
por dano ocasionado pelo Estado às empresas do setor sucro-alcooleiro.” (Fl. 615)
Ocorre que, no recurso extraordinário interposto pela destilaria, nada se argumenta
especificamente sobre esse período de tempo em que houve controle de preços. Assim,
por ausência de recurso quanto a esse fundamento, entendo que a condenação somente
deva recair sobre o período compreendido entre março de 1985 e maio de 1987.
Do exposto, dou parcial provimento ao recurso extraordinário.
VOTO (Debates)
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Ministro Joaquim Barbosa, essa questão
não foi abordada?
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Exatamente, não se questionou.
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Então, o provimento há de ser integral.
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Não.
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Sim, isso não foi questionado, quer dizer,
é uma questão pacífica.
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: O Superior Tribunal de Justiça, ao dar provimen-
to ao recurso especial, declarou o seguinte: “durante o período em que vigeu a política
de congelamento de preços” — nos termos da sentença — “não pode ser reconhecido
direito a reajustes de preços, por dano ocasionado pelo Estado às empresas do setor
sucroalcooleiro.”
R.T.J. — 197 697
VOTO (Confirmação)
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Senhor Presidente, mantenho o meu voto.
Entendo que há um problema no fato de não ter havido a impugnação total do acórdão.
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Ministro, isso é uma questão de fato. Tem
uma perícia nos autos apontando o dano.
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Mas não posso dar provimento total ao recurso
extraordinário se a parte não...
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Vossa Excelência restabelece ou não o
acórdão do TRF?
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Dou provimento parcial ao recurso extraordinário.
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Quer dizer que Vossa Excelência está
restabelecendo um acórdão do TRF com restrição, ou seja, com o que nele não se
contém.
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Exatamente, porque não houve recurso.
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Há uma sentença julgando procedente a
ação e um acórdão do TRF confirmando-a. O acórdão do STJ reformou o acórdão do
TFR. É isto.
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Peço vênia, mas mantenho meu voto pelo
provimento parcial do recurso extraordinário.
698 R.T.J. — 197
EXTRATO DA ATA
RE 422.941/DF — Relator: Ministro Carlos Velloso. Recorrente: Destilaria Alto
Alegre S.A. (Advogados: Hamilton Dias de Souza e outro). Recorrida: União (Advo-
gado: Advogado-Geral da União).
Decisão: A Turma, por votação majoritária, conheceu e deu provimento ao
recurso extraordinário, nos termos do voto do Relator, vencido, em parte, o Ministro
Joaquim Barbosa, nos termos do voto que proferiu. Ausentes, justificadamente, neste
julgamento, a Ministra Ellen Gracie e o Ministro Gilmar Mendes.
Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Carlos
Velloso, Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Ausente, justificadamente, a Ministra
Ellen Gracie. Subprocuradora-Geral da República, Dra. Maria Caetana Cintra Santos.
Brasília, 6 de dezembro de 2005 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Primeira Turma, sob a Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence,
na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de
votos, em negar provimento ao agravo regimental no recurso extraordinário, nos termos
do voto do Relator.
Brasília, 16 de dezembro de 2004 — Marco Aurélio, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Por meio da decisão de folha 271, neguei segui-
mento ao extraordinário, consignando:
Recurso extraordinário — Decisão passível de impug-
nação na origem — Impropriedade.
R.T.J. — 197 699
EXTRATO DA ATA
RE 426.183-AgR/RJ — Relator: Ministro Marco Aurélio. Agravante: Caixa
Econômica Federal – CEF (Advogados: Alison Miranda de Freitas e outro). Agravados:
Roberto Tavares e outro (Advogado: Francisco das Chagas Pereira da Silva).
Decisão: A Turma negou provimento ao agravo regimental no recurso extraordi-
nário, nos termos do voto do Relator. Unânime.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros
Marco Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto e Eros Grau. Subprocurador-Geral da
República, Dr. Eitel Santiago de Brito Pereira.
Brasília, 16 de dezembro de 2004 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello,
na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de
votos, conhecer do recurso extraordinário e negar-lhe provimento, nos termos do voto
do Relator.
Brasília, 13 de dezembro de 2005 — Carlos Velloso, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Velloso: O acórdão recorrido, proferido, em apelação cível,
pela Quarta Turma do eg. Tribunal Regional Federal da 4ª Região, está assim
ementado:
“Ação civil pública. Desconstituição de ato administrativo. Provimento
derivado. Servidores do TRT da 4ª Região. Concurso público. Agravo retido
rejeitado. Preliminares rejeitadas.
1. Agravo retido rejeitado.
2. A legitimação do MP, a partir da promulgação da Carta Magna de
1988, deve ser interpretada de modo a alargar o rol previsto no art. 1º da Lei n.
7.347/85, meramente exemplificativo. No caso, o MPF busca a desconstitui-
ção de ato administrativo que reputa em desacordo com a ordem jurídica
constitucional.
3. Rejeitada a preliminar de prescrição anual, uma que não se está a discutir
o resultado do concurso e sim o empossamento dos candidatos.
Desacolhida a preliminar de prescrição qüinqüenal, eis que não se imputa
exclusivamente ao autor a demora na citação dos réus, bem como a pretensão do
autor é contra a posse dos servidores nos novos cargos e não contra o resultado do
concurso que os habilitou.
4. Não restam dúvidas de que a Constituição de 1988 instituiu o concurso
público como forma universal de acesso aos cargos públicos.
Todavia, não é menos certo que, à época dos fatos (entre 1987 e 1992), esse
não era um entendimento pacífico, inclusive no âmbito do Supremo Tribunal
Federal. Apenas em 17 de fevereiro de 1993 o STF (na Medida Cautelar na ADIn
n. 837-4) suspendeu a eficácia do art. 8º, III e do art. 10, X, parágrafo único, da Lei
n. 8.112/90, passando a prevalecer o entendimento de que o concurso interno não
poderia mais ser realizado.
In casu, os prejuízos que adviriam para a Administração, além dos servidores,
seriam maiores que eventuais vantagens do desfazimento destes atos. Prevalece
o princípio da segurança jurídica e da boa-fé, como tem entendido a jurispru-
dência.” (Fls. 920-921)
702 R.T.J. — 197
Tribunais, inclusive esta Corte e o próprio STF, fizeram concursos internos depois
de 1988. Apenas em 1993, depois das designações aqui contestadas, é que o STF
suspendeu a eficácia do art. 8º, III e do art. 10, X, parágrafo único, da Lei n. 8.112/
90, passando a prevalecer o entendimento de que o concurso interno não poderia
mais ser realizado. Não se pode, portanto, aplicar mecanicamente a norma consti-
tucional agitada na peça vestibular.
No tocante à declaração judicial de ineficácia dos atos administrativos
nascidos de forma irregular, em texto trazido pelos apelantes (fl. 730), Miguel
Seabra Fagundes já advertia: ‘pode acontecer que a situação resultante do ato,
embora nascida irregularmente, torne útil àquele mesmo interesse (público)’, de
modo tal que ‘também as numerosas situações pessoais alcançadas e beneficiadas
pelo ato vicioso podem aconselhar a subsistência de seus efeitos’.
Assim, no julgamento do caso, deve-se considerar tanto o interesse público
quanto as situações individuais envolvidas.
Primeiro, o interesse público foi manifestado pelo próprio réu, a União
Federal, em nome do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, que informa
que seus serviços seriam amplamente prejudicados pela interrupção do exercício
dos servidores ascendidos há mais de uma década. Como estes funcionários
teriam que retornar a seus cargos anteriores, também não teria o Tribunal como
contornar a situação daqueles outros servidores que foram convocados, via con-
curso público, para preencher tais cargos. A situação seria de verdadeiro tumulto
administrativo, se não de atingimento da esfera individual de terceiros não
presentes no feito.
Segundo, quanto às situações individuais, seria injusto fazer retornar aos
cargos anteriores funcionários que, pelo longo tempo transcorrido, atingiram
elevado grau de especialização nas novas funções e estruturaram suas vidas,
pessoais e familiares, a partir dos novos patamares remuneratórios.
Os servidores, de boa-fé, foram convocados pela Administração, que tam-
bém agiu de boa-fé, a participarem de concurso interno, nos mesmos moldes de
concurso público, com igual grau de dificuldade, para preencher certo número de
vagas reservadas com essa finalidade, de acordo com a Lei n. 8.112/90, a Lei n.
5.645/79 e o Decreto n. 85.654/81.
Logo, entendo ser inadequado, mais de uma década depois, simplesmente
negar validade a tais atos, construídos, naquele momento, dentro de uma aparente
legalidade e em estrito cumprimento de norma legal que se tinha por vigente,
desconsiderando os efeitos concretos que advieram.
No caso, os prejuízos que adviriam para a Administração, além dos servido-
res, seriam maiores do que eventuais vantagens do desfazimento destes atos. Deve
prevalecer, pois, o princípio da segurança jurídica e da boa-fé, como tem
entendido a jurisprudência.
(...).” (Fls. 906-907)
704 R.T.J. — 197
ponto de vista estritamente lógico, ser considerada como se jamais tivesse tido força
para criar direitos ou obrigações, considerações de ordem prática têm levado os
tribunais a atribuir certa validade aos atos praticados por pessoas que, em boa-fé,
exercem os poderes conferidos pelo diploma posteriormente julgado ineficaz” (Maria
Isabel Gallotti, ob. e loc. cits.).
Essa posição, registra Maria Isabel Gallotti, foi sustentada pelo Ministro Leitão
de Abreu, no RE 79.343/BA. Destaco do voto do eminente e saudoso Ministro:
“(...)
Coincidentes as opiniões quanto aos efeitos da declaração de inconstitucio-
nalidade, efeitos distintos conforme se tratar de declaração de invalidade
incidenter tantum ou de declaração de nulidade em tese, a questão segunda, que
se apresenta, tocante à nulidade ou anulibilidade da lei, isto é, da sua nulidade ab
initio ou a partir do ato declaratório da invalidade, não recolhe, quanto ao seu
deslinde, total consenso dos tribunais e de parte da doutrina. O Corpus Juris
Secundum, reportando-se ao direito norte-americano, assim compendia a diretriz
aí dominante: ‘Em sentido amplo, uma lei inconstitucional é nula, em qualquer
tempo, e a sua invalidade deve ser reconhecida e proclamada para todos os efeitos
ou quanto a qualquer estado de fato. Não é lei ou não é uma lei; é algo nulo, não
se reveste de força, não possui efeito ou é totalmente inoperante. Falando do
modo geral, a decisão, pelo tribunal competente, de que a lei é inconstitucional
tem por efeito tornar essa lei nula e nenhuma; o ato legislativo, do ponto de vista
jurídico, é tão inoperante como se não tivesse sido emanado ou como se a sua
promulgação não houvesse ocorrido. É considerado inválido ou nulo, desde a
data da promulgação e não somente a partir da data em que é, judicialmente,
declarado inconstitucional’. Exposta, assim, a orientação dominante, acrescenta,
todavia, o mesmo repositório, explicitado os termos em que se coloca a opinião
divergente: ‘Por outro lado’ — prossegue — ‘tem sido sustentado que essa regra
geral não é universalmente verdadeira; que existem muitas exceções ou que
certas exceções têm sido reconhecidas a esse respeito; que essa teoria é temperada
por diversas outras considerações; que uma visão realista vem corroendo essa
doutrina; que asserções tão amplas devem ser recebidas com reservas e que,
mesmo uma lei inconstitucional, é um fato eficaz, ao menos antes da determina-
ção da constitucionalidade, podendo ter conseqüências que não é lícito ignorar.
Tem sido sustentado, por isso: que a lei inconstitucional não é nula, mas somente
anulável, ou que é inexecutável em vez de nula, ou nula no sentido de que é
inexecutável, porém não no sentido de que é anulada ou abolida; que a lei
inconstitucional permanece inoperante enquanto a decisão que a declara inváli-
da é mantida e que, enquanto essa decisão continua de pé, a lei dorme, porém não
está morta’ (...) (Corpus Juris Secundum, v. 16, § 101).
(...).”
Depois de citar Kelsen, que enfrentou o problema na sua General Theory of Law
and State, dando pela anulabilidade e não pela nulidade da lei inconstitucional, pelo
que a decisão que declara a inconstitucionalidade é um ato constitutivo, concluiu o
Ministro Leitão de Abreu:
R.T.J. — 197 707
“(...)
2. Acertado se me afigura, também, o entendimento de que não deve ter
como nulo ab initio ato legislativo, que entrou no mundo jurídico munido de
presunção de validade, impondo-se, em razão disso, enquanto não declarado
inconstitucional, à obediência pelos destinatários dos seus comandos. Razoá-
vel é a inteligência, a meu ver, de que se cuida, em verdade, de ato anulável,
possuindo caráter constitutivo a decisão que decreta a nulidade. Como, entre-
tanto, em princípio, os efeitos dessa decisão operam retroativamente, não se
resolve, com isso, de modo pleno, a questão de saber se é mister haver como
delitos do orbe jurídico atos ou fatos verificados em conformidade com a norma
que haja sido pronunciada como inconsistente com a ordem constitucional.
Tenho que procede a tese, consagrada pela corrente discrepante, a que se refere
o Corpus Juris Secundum, de que a lei inconstitucional é um fato eficaz, ao
menos antes da determinação da inconstitucionalidade, podendo ter conseqü-
ências que não é lícito ignorar. A tutela da boa fé exige que, em determinados
circunstâncias, notadamente quando, sob a lei ainda não declarada inconstitu-
cional, se estabeleceram relações entre o particular e o poder público, se apure,
prudencialmente, até que ponto a retroatividade da decisão, que decreta a
inconstitucionalidade, pode atingir, prejudicando-o, o agente que teve por
legítimo o ato e, fundado nele, operou na presunção de que estava procedendo
sob o amparo do direito objetivo.
(...).”
Em diversos recursos extraordinários oriundos do Estado do Amazonas, sustentei,
com o apoio dos meus eminentes Colegas da 2ª Turma, que “a lei inconstitucional
nasce morta. Em certos casos, entretanto, os seus efeitos devem ser mantidos, em
obséquio, sobretudo, ao princípio da boa-fé” (RE 328.232-AgR/AM, DJ de 2-9-2005).
Destaco do voto que proferi:
“(...)
A decisão é de ser mantida. Conforme nela acentuado, não se está reconhe-
cendo a constitucionalidade superveniente. O que se reconhece, no caso, é que os
efeitos do ato da administração do Estado do Amazonas devem ser mantidos, em
obséquio, sobretudo, ao princípio da boa-fé, certo que esses efeitos, na hipótese
sob julgamento, viram-se convalidados pela Constituição de 1988.
O tema traz ao debate o princípio da segurança jurídica, que foi versado de
forma superior pelo Ministro Gilmar Mendes, no julgamento, pelo Plenário, do
MS 22.357/DF (Plenário, 27-5-2004, DJ de 5-11-2004). Invocou o Ministro
Gilmar Mendes o clássico estudo de Almiro do Couto e Silva sobre a aplicação do
princípio da segurança jurídica em direito comparado (Revista da Procuradoria
Geral do Estado, v. 18, n. 46, 1988, pp. 11-29) e lição de Miguel Reale (Revoga-
ção e anulamento do ato administrativo, Forense, 2ª ed., 1980, pp. 70-71) para
concluir que ‘considera-se, hodiernamente, que o tema tem, entre nós, assento
constitucional (princípio do Estado de Direito) e está disciplinado, parcialmente,
no plano federal, na Lei 9.784, de 29 de janeiro de 1999 (v.g. art. 2º)’.
708 R.T.J. — 197
VOTO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Sr. Presidente, quero cumprimentar o Ministro
Carlos, mais uma vez, pelo belíssimo voto proferido, num tema com tanta relevância e
que, até pouco tempo, era raro nas manifestações da jurisdição constitucional brasileira.
Tal como pontuou o eminente Relator, no caso temos a necessidade de fazer a
ponderação entre o princípio da nulidade da lei inconstitucional — o qual, conforme
assumimos entre nós, tem hierarquia constitucional — e o princípio da segurança
jurídica, que, muitas vezes, justifica a subsistência de atos concretos a despeito da
declaração de inconstitucionalidade e, até mesmo, a pronúncia de uma declaração de
inconstitucionalidade com efeitos estritos ou mitigados. O art. 27 da Lei n. 9.868, bem
apontado pelo eminente Ministro Relator, na verdade apenas explicita, estrutura e
declara o que o Tribunal pode fazer a partir do próprio Texto constitucional.
Outro ponto já ressaltado na manifestação eloqüente e belíssima do eminente
Ministro Carlos Velloso diz respeito a essa separação de planos. Uma coisa é a declara-
ção de nulidade da lei; outra é se essa nulidade repercute sobre os atos concretos. Bem
R.T.J. — 197 711
soube fazer essa distinção o Supremo Tribunal Federal ao aceitar, sim, a ADI contra a
norma constante da Lei n. 8.112, mas dando-lhe eficácia ex nunc, a sinalizar que não
queria tumultuar, em razão da segurança jurídica, os certames concursivos eventual-
mente verificados.
Temos tido não só no Plenário, mas também na Turma, oportunidade de salientar
a importância do princípio da segurança jurídica, que imanta toda essa discussão.
Portanto, é fundamental destacarmos essa separação de planos. Convivemos com essa
realidade em razão, até mesmo, das fórmulas de preclusão; muitas vezes ela ocorre nos
sistemas tributário e administrativo.
Hoje, felizmente, temos, de forma clara, essa questão colocada na Lei n. 9.784, a
Lei de Procedimento Administrativo. Essa Lei diz que a eventual declaração de nulida-
de administrativa não poderá se fazer sobre atos já velhos, de mais de cinco anos.
Portanto estabeleceu, também aqui, uma fórmula de preclusão ou aquilo que a doutrina
chama de uma decadência administrativa.
Nessa oportunidade, quero ressaltar — esta é uma questão recentemente assumida
por esta Corte, afora os casos mencionados e de relevância histórica — a importância
que, nesses casos, assume a doutrina brasileira, especialmente aquela defendida por
Miguel Reale e pelo notável Professor gaúcho Dr. Almiro do Couto e Silva, este com
estudos pioneiros sobre o princípio da segurança jurídica.
Com essas considerações, invocando os subsídios que trouxe em outros casos e
louvando o belíssimo voto do Ministro Carlos Velloso, acompanho o voto de Sua
Excelência.
VOTO
A Sra. Ministra Ellen Gracie: Sr. Presidente, creio que o voto do eminente Relator,
brilhante como sempre, modulou adequadamente os efeitos dessa declaração de in-
constitucionalidade. À parte o cumprimento a Sua Excelência, adianto que utilizarei o
precedente para outro caso que tenho em espera.
Acompanho o voto do Ministro Relator.
EXTRATO DA ATA
RE 442.683/RS — Relator: Ministro Carlos Velloso. Recorrente: Ministério
Público Federal. Recorridos: União (Advogado: Advogado-Geral da União), Sebastião
Borges de Lima e outro (Advogados: Felipe Néri Dresch da Silveira e outro), Carla
Núbia Pereira Elmir (Advogado: Marcos José Bochehin), Amaro Danilevicz Cabral
(Advogados: José Renato Buchaim e outro) e Heloísa Helena Faleiro Balardin e outro
(Advogados: Pedro Maurício Pita Machado e outro).
Decisão: A Turma, por votação unânime, conheceu do recurso extraordinário,
mas lhe negou provimento, nos termos do voto do Relator. Falou, pelos recorridos
Heloisa Helena Faleiro Balardin e outros, o Dr. Pedro Maurício Pita Machado e, pelos
demais recorridos, o Dr. Amarildo Maciel Martins.
712 R.T.J. — 197
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a Presidência do Ministro Carlos Velloso
(RISTF, art. 37, II), na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por
unanimidade de votos, conhecer do recurso e lhe negar provimento, nos termos do voto
do Relator.
Brasília, 29 de novembro de 2005 — Gilmar Mendes, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Trata-se de recurso extraordinário interposto com
fundamento no art. 102, III, a, da Constituição Federal, contra acórdão assim ementado
(fl. 268):
“Embargos à execução fiscal. ITR. Ano base 1994. Alíquotas fixadas pela
Lei 8.847/94. Conversão medida provisória 399/03. MP retificadora.
Descumprimento. Princípio da anterioridade tributária.
1. É pacífico o entendimento de que a Medida Provisória é lei em sentido
material, sendo o veículo formal posto à disposição do Poder Executivo para
regular os fatos, atos e relações do mundo fático, desde que obedecidos os
critérios de urgência e necessidade que, no entendimento do Supremo Tribunal
Federal, dependem do poder discricionário do Presidente da República.
R.T.J. — 197 713
VOTO
EXTRATO DA ATA
RE 448.558/PR — Relator: Ministro Gilmar Mendes. Recorrente: União (Advo-
gado: PFN – Marcelo Coletto Pohlmann). Recorrido: Yuki Takahashi (Advogado:
Yoshikazu Fucuda).
Decisão: A Turma, por unanimidade, conheceu do recurso e lhe negou provi-
mento. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Ministro Celso de Mello. Presi-
diu este julgamento o Ministro Carlos Velloso.
Presidência do Ministro Carlos Velloso. Presentes à sessão a Ministra Ellen
Gracie e os Ministros Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Ausente, justificada-
mente, o Ministro Celso de Mello. Subprocurador-Geral da República, Dr. Haroldo
Ferraz da Nóbrega.
Brasília, 29 de novembro de 2005 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Segunda Turma, na conformidade da ata do julgamento e das
notas taquigráficas, por maioria de votos, negar provimento ao recurso de agravo, nos
termos do voto do Relator, vencido o Ministro Joaquim Barbosa, que lhe dava provi-
mento. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Ministro Gilmar Mendes.
Brasília, 14 de junho de 2005 — Celso de Mello, Presidente e Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Celso de Mello: Trata-se de recurso de agravo, tempestivamente
interposto, contra decisão que negou provimento ao agravo de instrumento deduzido
pela parte ora recorrente.
Eis o teor da decisão que sofreu a interposição do presente recurso de agravo:
“A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a propósito da aplicação
da Súmula 343/STF — que proclama não caber ação rescisória, por ofensa a
literal disposição de lei, na hipótese em que a decisão rescindenda apoiar-se em
texto legal de aplicação controvertida nos Tribunais — firmou-se no sentido de
que o debate a ela pertinente não viabiliza o acesso à via recursal extraordinária,
por referir-se a tema de caráter eminentemente infraconstitucional (AI 238.557-
AgR/SP, Rel. Min. Moreira Alves — AI 238.892-AgR/SC, Rel. Min. Maurício
Corrêa — AI 243.598-AgR/RJ, Rel. Min. Sydney Sanches — AI 254.037-AgR/
SP, Rel. Min. Ilmar Galvão — AI 261.116-AgR/RS, Rel. Min. Sepúlveda
Pertence — AI 265.718/MG, Rel. Min. Néri da Silveira — AI 269.131/MG, Rel.
Min. Maurício Corrêa — AI 271.425/BA, Rel. Min. Nelson Jobim — AI
272.123/DF, Rel. Min. Moreira Alves, v.g.):
‘(...) A questão da aplicação, ou não, da Súmula 343 se situa no
âmbito infraconstitucional, pois ela se fundou na legislação processual
ordinária. Ademais, saber se foi, ou não, violado texto constitucional, para
a procedência, ou não, da rescisória, é questão que se coloca no terreno da
legislação processual infraconstitucional relativa aos requisitos da ação
dessa natureza. Ambas as alegações, portanto, são de ofensa indireta ou
reflexa à Carta Magna, o que não dá margem ao cabimento do recurso
extraordinário.
Agravo a que se nega provimento.’
(AI 238.557-AgR/SP, Rel. Min. Moreira Alves — grifei)
718 R.T.J. — 197
VOTO
O Sr. Ministro Celso de Mello (Relator): Não assiste razão à parte agravante, eis
que a pretensão recursal por ela deduzida, considerada a própria matéria ora em exame,
não tem o beneplácito de ambas as Turmas do Supremo Tribunal Federal (AI
459.949-AgR/DF, Rel. Min. Carlos Britto — RE 408.409-AgR/PB, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence — RE 426.114-AgR/PB, Rel. Min. Carlos Velloso — RE
429.359-AgR/PB, Rel. Min. Carlos Velloso, v.g.).
Cumpre assinalar, por relevante, que o entendimento exposto na decisão ora
agravada foi reiterado em julgamentos colegiados, a ela posteriores, emanados das
duas (2) Turmas desta Suprema Corte (AI 461.460-AgR/DF, Rel. Min. Cezar Peluso —
RE 395.080-AgR/CE, Rel. Min. Carlos Velloso, v.g.):
“Agravo regimental em agravo de instrumento. Ação rescisória. Hipó-
teses de cabimento. Ofensa indireta. Matéria infraconstitucional.
Acórdão fundado em normas processuais de admissibilidade da ação
rescisória. Hipótese em que, se houvesse afronta a preceitos da Constituição do
Brasil, seria de forma indireta, pois a matéria cinge-se ao âmbito infraconstitu-
cional. Inviabilidade de admissão do recurso extraordinário.
Agravo regimental a que se nega provimento.”
(AI 520.081-AgR/SP, Rel. Min. Eros Grau — grifei)
R.T.J. — 197 719
VOTO
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Senhor Presidente, peço vênia para dar provi-
mento aos recursos.
EXTRATO DA ATA
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Segunda Turma, na conformidade da ata do julgamento e das
notas taquigráficas, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso de agravo,
nos termos do voto do Relator. Ausente, justificadamente, neste julgamento, a Ministra
Ellen Gracie.
Brasília, 17 de maio de 2005 — Celso de Mello, Presidente e Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Celso de Mello: Trata-se de recurso de agravo, tempestivamente
interposto, contra decisão que não conheceu do agravo de instrumento deduzido pela
parte ora recorrente.
Eis o teor da decisão, que, por mim proferida, sofreu a interposição do presente
recurso de agravo (fl. 139):
“Verifico faltar, nestes autos, cópia das contra-razões ao recurso extraordi-
nário interposto pela parte ora agravante. Trata-se de peça de traslado obrigatório,
indispensável à formação do presente instrumento de agravo, exigida pelo art.
544, § 1º do Código de Processo Civil.
722 R.T.J. — 197
VOTO
O Sr. Ministro Celso de Mello (Relator): A pretensão recursal deduzida é inaco-
lhível. É que a parte agravante, ao veicular o presente recurso, deixou de impugnar os
fundamentos jurídicos em que se assentou o ato decisório ora questionado.
Ao assim proceder, a parte agravante descumpriu uma típica obrigação processual
que lhe incumbia atender, pois, como se sabe, impõe-se ao recorrente afastar, pontual-
mente, cada uma das razões invocadas como suporte da decisão agravada (AI 238.454-
AgR/SC, Rel. Min. Celso de Mello, v.g.).
O descumprimento desse dever jurídico — ausência de impugnação de cada um
dos fundamentos em que se apóia o ato decisório agravado — conduz, nos termos da
orientação jurisprudencial firmada por esta Suprema Corte, ao improvimento do
agravo interposto (RTJ 126/864 — RTJ 133/486 — RTJ 157/541):
“O recurso de agravo deve impugnar, especificadamente, todos os funda-
mentos da decisão agravada.
R.T.J. — 197 723
EXTRATO DA ATA
AI 536.030-AgR/SP — Relator: Ministro Celso de Mello. Agravante: Roseli
Secolin (Advogados: Celso Fernando Gioia e outro). Agravado: Banco do Estado de
São Paulo S.A. – BANESPA (Advogados: Janaína Castro Félix Nunes e outro).
Decisão: A Turma, por votação unânime, negou provimento ao recurso de agravo,
nos termos do voto do Relator. Ausente, justificadamente, neste julgamento, a Ministra
Ellen Gracie.
Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Carlos
Velloso, Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Ausente, justificadamente, a Ministra
Ellen Gracie. Subprocurador-Geral da República, Dr. Francisco Adalberto da Nóbrega.
Brasília, 17 de maio de 2005 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.
ÍNDICE ALFABÉTICO
A
Adm Ação declaratória em curso: irrelevância. (...) Desapropriação. MS 25.006
RTJ 197/522
Ct Ação direta: descabimento. (...) Controle concentrado de constitucionalidade.
ADI 2.938 RTJ 197/452
PrPn Ação penal. Anulação a partir das alegações finais. Prejuízo à defesa. CPP/
41, art. 384: ofensa. HC 86.276 RTJ 197/630
PrPn Ação penal. Procedimento especial. Crime de imprensa. Juizado Especial:
competência inocorrente. Lei de Imprensa. Lei n. 9.099/95, art. 61. HC
86.102 RTJ 197/626
PrPn Ação penal. Programa de Recuperação Fiscal – REFIS. Inclusão antes do
recebimento da denúncia: desnecessidade. Suspensão da pretensão punitiva.
Lei n. 9.964/2000, art. 15. RE 409.730 RTJ 197/672
PrPn Ação penal. Trancamento: descabimento. Justa causa. HC 84.738 RTJ 197/
618
Ct Ação popular. Competência originária do STF: ausência. Ato do presidente
da República. Pet 3.422-AgR RTJ 197/499
PrSTF Ação popular. Negativa de seguimento. Remessa dos autos ao juízo compe-
tente: impossibilidade. Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal –
RISTF, art. 21, § 1º. CPC/73, art. 113, § 2º: inaplicabilidade. Pet 3.422-AgR
RTJ 197/499
PrSTF Ação rescisória: cabimento e aplicação da Súmula 343. (...) Recurso extra-
ordinário. AI 460.868-AgR RTJ 197/716
IV Acó-Ato — ÍNDICE ALFABÉTICO
B
Ct Banco: porta eletrônica. (...) Competência legislativa. AI 347.717-AgR RTJ
197/645
Trbt Bem destinado a uso próprio. (...) Imposto sobre Produtos Industrializados –
IPI. RE 255.682-AgR RTJ 197/636
PrCv Benefício fiscal para o Estado de destino. (...) Embargos de declaração. RE
338.681-AgR-ED RTJ 197/642
PrCv Benefício previdenciário: restabelecimento de pagamento. (...) Tutela ante-
cipada. Rcl 1.013 RTJ 197/389
Pn Bilateralidade: inaplicabilidade. (...) Corrupção ativa. HC 83.658 RTJ 197/
557
Ct Briga de galos. (...) Meio ambiente. ADI 2.514 RTJ 197/442
C
PrSTF Cabimento. (...) Reclamação. Rcl 1.013 RTJ 197/389
Cv Caderneta de poupança. Contrato de depósito. Ato jurídico perfeito. Lei
nova: inaplicabilidade. RE 393.021-AgR RTJ 197/660
PrCv Caráter infringente. (...) Embargos de declaração. HC 82.770-ED RTJ 197/
553
VI Car-Com — ÍNDICE ALFABÉTICO
D
PrCv Decisão agravada: ausência de impugnação. (...) Agravo. AI 536.030-AgR
RTJ 197/721
PrCv Decisão agravada e petição recursal. (...) Agravo. AI 536.030-AgR RTJ 197/
721
PrSTF Decisão de relator de Juizado Especial. (...) Recurso extraordinário. RE
426.183-AgR RTJ 197/698
PrPn Decisão do STJ. (...) Acórdão criminal. HC 84.870 RTJ 197/625
PrCv Decisão na ADC n. 4: ofensa. (...) Tutela antecipada. Rcl 1.013 RTJ 197/389
PrPn Decisão no HC n. 71.551: descumprimento. (...) Competência criminal. Rcl
2.123 RTJ 197/428
PrSTF Decisão plenária do STF. (...) Reclamação. Rcl 1.013 RTJ 197/389
Adm Decreto n. 2.250/97: orientação administrativa. (...) Desapropriação. MS
25.006 RTJ 197/522
Adm Defesa do meio ambiente. (...) Juiz de paz. ADI 2.938 RTJ 197/452
Int Delito de associação criminosa. (...) Extradição. Ext 931 RTJ 197/376
PrPn Denúncia. Inépcia. Venda de bem alienado fiduciariamente. Elemento sub-
jetivo não demonstrado. HC 84.161 RTJ 197/604
PrPn Denúncia. Inépcia inocorrente. Tráfico de entorpecente. Descrição suficiente
da conduta. HC 70.231 RTJ 197/543
PrPn Denúncia. Recebimento. Crime eleitoral. Deputado federal. Suspensão con-
dicional do processo penal — “sursis” processual: proposta aceita. Código
Eleitoral/65, art. 350. Inq 2.170 RTJ 197/439
PrPn Deputado federal. (...) Denúncia. Inq 2.170 RTJ 197/439
Adm Desapropriação. Reforma agrária. Ação declaratória em curso: irrelevância.
MS 25.006 RTJ 197/522
Adm Desapropriação. Reforma agrária. Imóvel invadido. Vistoria: possibilidade.
Decreto n. 2.250/97: orientação administrativa. MS 25.006 RTJ 197/522
PrPn Descabimento. (...) Habeas corpus. HC 83.966-AgR RTJ 197/587
PrSTF Descabimento. (...) Recurso extraordinário. RE 426.183-AgR RTJ 197/698
Adm Desconstituição: limite temporal. (...) Ato administrativo. RE 442.683 RTJ
197/700
Adm Desconto. (...) Proventos. MS 24.544 RTJ 197/503
PrPn Descrição suficiente da conduta. (...) Denúncia. HC 70.231 RTJ 197/543
Ct Desincompatibilização dos candidatos. (...) Ministério Público estadual.
ADI 2.836 RTJ 197/446
X Des-Emb — ÍNDICE ALFABÉTICO
Adm Deslocamento sem prejuízo de vencimentos. (...) Professor. ADI 3.114 RTJ
197/488
Adm Devolução ao órgão de origem. (...) Servidor público. MS 25.194 RTJ 197/
524
Pn Difamação contra promotor de justiça: não-configuração. (...) Crime contra
a honra. Inq 2.154 RTJ 197/436
PrPn Direito à intimidade: proteção. (...) Habeas corpus. HC 83.966-AgR RTJ
197/587
PrPn Direito de apelar em liberdade. (...) Sentença condenatória. HC 82.770-ED
RTJ 197/553
Ct Direito do Trabalho. (...) Competência legislativa. ADI 3.069 RTJ 197/485
PrCv Divórcio ideológico. (...) Agravo. AI 536.030-AgR RTJ 197/721
Int Dupla tipicidade. (...) Extradição. Ext 931 RTJ 197/376 – Ext 944 RTJ
197/384
E
PrSTF Efeito devolutivo limitado. (...) Recurso extraordinário. AI 347.717-AgR
RTJ 197/645
Ct Efeito repristinatório. (...) Controle concentrado de constitucionalidade.
ADI 2.938 RTJ 197/452
PrSTF Efeito vinculante. (...) Reclamação. Rcl 1.013 RTJ 197/389
Adm Eleição e investidura. (...) Juiz de paz. ADI 2.938 RTJ 197/452
PrCv Eleição para cargo de direção. (...) Competência jurisdicional. AO 1.160-
AgR RTJ 197/396
PrPn Elemento subjetivo não demonstrado. (...) Denúncia. HC 84.161 RTJ 197/604
PrCv Embargos de declaração. Contradição. Imposto sobre Circulação de Mer-
cadorias e Serviços – ICMS. Benefício fiscal para o Estado de destino.
Lubrificante e combustível derivado de petróleo. Operação interestadual.
CF/88, art. 155, § 2º, X, “b”. RE 338.681-AgR-ED RTJ 197/642
PrCv Embargos de declaração. Contradição inexistente. Tribunal “a quo”: maté-
ria constitucional no voto vencido. RE 395.121-ED RTJ 197/664
PrCv Embargos de declaração. Intempestividade. Publicação do acórdão
embargado: necessidade. AC 738-QO-ED RTJ 197/373
PrCv Embargos de declaração. Pressupostos inocorrentes. RHC 82.390-ED RTJ
197/549
PrCv Embargos de declaração. Pressupostos inocorrentes. Caráter infringente.
HC 82.770-ED RTJ 197/553
ÍNDICE ALFABÉTICO — Eme-Fil XI
F
Pn Falsificação de documento e estelionato. (...) Concurso material. Ext 931
RTJ 197/376
PrPn Fase de alegações finais. (...) Processo criminal. HC 86.276 RTJ 197/630
PrPn Fato concreto: não-demonstração. (...) Habeas corpus. HC 83.966-AgR RTJ
197/587
Trbt Fator de deflação (tablita): aplicação imediata. (...) Contrato. RE 247.593-
AgR RTJ 197/634
Ct Feriado para todos os efeitos legais. (...) Competência legislativa. ADI 3.069
RTJ 197/485
Adm Filiação partidária: obrigatoriedade. (...) Juiz de paz. ADI 2.938 RTJ 197/452
XII Fix-Imp — ÍNDICE ALFABÉTICO
G
PrPn Garantia da ordem pública. (...) Prisão preventiva. HC 82.770-ED RTJ 197/
553
Adm Gratificação. Servidor público. Incorporação. Sentença judicial transitada
em julgado. Supressão pelo TCU: impossibilidade. Coisa julgada. MS
25.460 RTJ 197/537
H
PrPn Habeas corpus. Descabimento. Autoridade coatora. Fato concreto: não-
demonstração. HC 83.966-AgR RTJ 197/587
PrPn Habeas corpus. Direito à intimidade: proteção. Sigilo telefônico: quebra.
Relação entre advogado e cliente. Ameaça à liberdade de locomoção: ausên-
cia. HC 83.966-AgR RTJ 197/587
PrPn Habeas corpus. Ilegitimidade passiva “ad causam”. Procurador-geral da
República. HC 83.966-AgR RTJ 197/587
PrPn Habeas corpus. Interceptação telefônica: pedido. Ameaça à liberdade de
locomoção: ausência. HC 83.966-AgR RTJ 197/587
PrPn Habeas corpus. Vedação de análise probatória: parcimônia. Autor: identifi-
cação por testemunha e perícia grafotécnica. Prova produzida na instrução
processual. HC 83.658 RTJ 197/557
I
PrPn Ilegitimidade passiva “ad causam”. (...) Habeas corpus. HC 83.966-AgR
RTJ 197/587
Adm Imóvel invadido. (...) Desapropriação. MS 25.006 RTJ 197/522
Trbt Importação por pessoa física não empresária. (...) Imposto sobre Produtos
Industrializados – IPI. RE 255.682-AgR RTJ 197/636
ÍNDICE ALFABÉTICO — Imp-Jui XIII
J
PrPn Jornal: local da impressão. (...) Competência territorial. HC 86.102 RTJ
197/626
Adm Juiz de paz. Competência funcional. Defesa do meio ambiente. Vigilância
sobre mata, rio e fonte. CF/88, arts. 98, II, e 225. ADI 2.938 RTJ 197/452
XIV Jui-Lei — ÍNDICE ALFABÉTICO
L
Adm Legislação estadual: criação da justiça de paz. (...) Juiz de paz. ADI 2.938
RTJ 197/452
PrCv Legitimidade passiva. (...) Mandado de segurança. MS 24.544 RTJ 197/
503
Ct Lei Complementar estadual n. 106/03/RJ, art. 9º, § 1º, “c”. (...) Ministério
Público estadual. ADI 2.836 RTJ 197/446
Ct Lei Complementar estadual n. 106/03/RJ, art. 165. (...) Ministério Público
estadual. ADI 2.836 RTJ 197/446
Ct Lei Complementar estadual n. 836/97/SP, art. 25, parágrafo único. (...) Pro-
cesso legislativo. ADI 3.114 RTJ 197/488
Adm Lei Complementar estadual n. 836/97/SP, art. 46: inconstitucionalidade. (...)
Professor. ADI 3.114 RTJ 197/488
PrPn Lei de Imprensa. (...) Ação penal. HC 86.102 RTJ 197/626
ÍNDICE ALFABÉTICO — Lei-Lub XV
Pn Lei de Imprensa. (...) Crime contra a honra. Inq 2.154 RTJ 197/436
PrPn Lei de Imprensa, art. 42. (...) Competência territorial. HC 86.102 RTJ 197/
626
Ct Lei distrital n. 3.083/02/DF, art. 2º: inconstitucionalidade. (...) Competência
legislativa. ADI 3.069 RTJ 197/485
Ct Lei estadual n. 11.366/2000/SC: inconstitucionalidade. (...) Meio ambiente.
ADI 2.514 RTJ 197/442
Ct Lei estadual n. 13.454/2000/MG. (...) Competência legislativa. ADI 2.938
RTJ 197/452
Ct Lei estadual n. 13.454/2000/MG, art. 15, VIII: inconstitucionalidade. (...)
Competência legislativa. ADI 2.938 RTJ 197/452
Ct Lei estadual n. 13.454/2000/MG, art. 15, IX: inconstitucionalidade. (...)
Competência legislativa. ADI 2.938 RTJ 197/452
Ct Lei estadual n. 13.454/2000/MG, art. 22: inconstitucionalidade. (...) Com-
petência legislativa. ADI 2.938 RTJ 197/452
Int Lei n. 6.815/80, art. 80. (...) Extradição. Ext 931 RTJ 197/376
Adm Lei n. 6.999/82. (...) Servidor público. MS 25.194 RTJ 197/524
Adm Lei n. 8.112/90, arts. 45 e 46. (...) Proventos. MS 24.544 RTJ 197/503
Trbt Lei n. 8.177/91, art. 27. (...) Contrato. RE 247.593-AgR RTJ 197/634
Adm Lei n. 8.443/92, art. 28, I. (...) Proventos. MS 24.544 RTJ 197/503
Ct Lei n. 8.985/95. (...) Anistia. ADI 1.231 RTJ 197/413
PrPn Lei n. 9.099/95, art. 61. (...) Ação penal. HC 86.102 RTJ 197/626
PrPn Lei n. 9.099/95, art. 89, § 5º. (...) Suspensão condicional do processo penal
— “sursis” processual. HC 84.660 RTJ 197/608
PrPn Lei n. 9.964/2000, art. 15. (...) Ação penal. RE 409.730 RTJ 197/672
Cv Lei nova: inaplicabilidade. (...) Caderneta de poupança. RE 393.021-AgR
RTJ 197/660
Int Lei portuguesa. (...) Extradição. Ext 931 RTJ 197/376
PrCv Loman/79, art. 102. (...) Competência jurisdicional. AO 1.160-AgR RTJ
197/396
Ct Loman/79, art. 112, § 2º. (...) Competência legislativa. ADI 2.938 RTJ 197/
452
PrCv Lubrificante e combustível derivado de petróleo. (...) Embargos de declara-
ção. RE 338.681-AgR-ED RTJ 197/642
XVI Mag-Min — ÍNDICE ALFABÉTICO
M
Adm Magistrado. (...) Vencimentos. AO 1.056-AgR RTJ 197/392
Adm Majoração. (...) Subsídio. AO 1.230-AgR RTJ 197/407
PrCv Mandado de segurança. (...) Competência jurisdicional. AO 1.160-AgR
RTJ 197/396
Ct Mandado de segurança. (...) Competência originária. MS 25.271-AgR RTJ
197/534
PrCv Mandado de segurança. Legitimidade passiva. Tribunal de Contas da
União – TCU. Proventos: determinação de desconto. MS 24.544 RTJ 197/
503
PrCv Mandado de segurança. Matéria de prova. Produtividade do imóvel. MS
25.006 RTJ 197/522
PrCv Matéria de prova. (...) Mandado de segurança. MS 25.006 RTJ 197/522
PrSTF Matéria infraconstitucional. (...) Recurso extraordinário. AI 460.868-AgR
RTJ 197/716
PrPn Matéria pendente de julgamento no Plenário do STF: Rcl n. 2.391. (...)
Sentença condenatória. HC 82.770-ED RTJ 197/553
PrSTF Medida cautelar em ação declaratória de constitucionalidade. (...) Reclama-
ção. Rcl 1.013 RTJ 197/389
Trbt Medida provisória reeditada. (...) Imposto Territorial Rural – ITR. RE
448.558 RTJ 197/712
Pn Medida socioeducativa. Regime de semiliberdade. Substituição por
internação sem prazo determinado: impossibilidade. Estatuto da Criança e
do Adolescente – ECA, arts. 110, 111 e 122. HC 84.682 RTJ 197/611
Ct Meio ambiente. Proteção. Animal submetido a crueldade. Briga de galos.
CF/88, art. 225, § 1º, VII: ofensa. Lei estadual n. 11.366/2000/SC:
inconstitucionalidade. ADI 2.514 RTJ 197/442
Ct Membro admitido antes da CF/88. (...) Ministério Público estadual. ADI
2.836 RTJ 197/446
Adm Militar reformado. (...) Proventos. MS 24.742 RTJ 197/515
PrPn Ministério Público: ausência. (...) Instrução criminal. HC 70.231 RTJ 197/
543
Ct Ministério Público estadual. Membro admitido antes da CF/88. Regime
anterior: opção a qualquer tempo. Cargo ou função de confiança: exercí-
cio na própria instituição. ADCT da Constituição Federal/88, art. 29, § 3º.
Lei Complementar estadual n. 106/03/RJ, art. 165. ADI 2.836 RTJ 197/
446
ÍNDICE ALFABÉTICO — Min-Por XVII
N
Trbt Não-incidência. (...) Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI. RE
255.682-AgR RTJ 197/636
PrSTF Negativa de seguimento. (...) Ação popular. Pet 3.422-AgR RTJ 197/499
Ct Norma ab-rogatória e revogada: necessidade de impugnação. (...) Controle
concentrado de constitucionalidade. ADI 2.938 RTJ 197/452
PrPn Nulidade. (...) Acórdão criminal. HC 84.870 RTJ 197/625
PrPn Nulidade inocorrente. (...) Instrução criminal. HC 70.231 RTJ 197/543
O
PrCv Operação interestadual. (...) Embargos de declaração. RE 338.681-AgR-ED
RTJ 197/642
P
Adm Parcela autônoma de equivalência: não-incidência. (...) Vencimentos. AO
1.056-AgR RTJ 197/392
Int Pedido impreciso. (...) Extradição. Ext 931 RTJ 197/376
Pn Pena-base. Fixação acima do mínimo legal. Circunstância judicial desfavo-
rável. Antecedentes: irrelevância. HC 83.658 RTJ 197/557
PrPn Perda de mandato. (...) Competência criminal. Rcl 2.123 RTJ 197/428
Adm Período anterior à EC n. 20/98. (...) Proventos. MS 24.742 RTJ 197/515
Adm Período de afastamento: término. (...) Servidor público. MS 25.194 RTJ
197/524
PrPn Período de prova findo. (...) Suspensão condicional do processo penal —
“sursis” processual. HC 84.660 RTJ 197/608
Pn Porte de substância tóxica. (...) Tráfico de entorpecente. HC 70.231 RTJ
197/543
XVIII Pra-Pro — ÍNDICE ALFABÉTICO
Q
Pn Quantidade apreendida: divergência irrelevante. (...) Tráfico de entorpecente.
HC 70.231 RTJ 197/543
R
PrCv Razões. (...) Agravo. AI 536.030-AgR RTJ 197/721
PrPn Recebimento. (...) Denúncia. Inq 2.170 RTJ 197/439
PrSTF Reclamação. Cabimento. Decisão plenária do STF. Medida cautelar em
ação declaratória de constitucionalidade. Efeito vinculante. Rcl 1.013 RTJ
197/389
XX Rec-Sen — ÍNDICE ALFABÉTICO
S
PrPn Sentença condenatória. Direito de apelar em liberdade. Crime hediondo.
Matéria pendente de julgamento no Plenário do STF: Rcl n. 2.391. HC
82.770-ED RTJ 197/553
PrPn Sentença condenatória. Recolhimento à prisão: condição para apelar. Fun-
damentação insuficiente. Trânsito em julgado: inocorrência. Execução pro-
visória: inadmissibilidade. HC 84.802 RTJ 197/621
ÍNDICE ALFABÉTICO — Sen-Tra XXI
T
PrPn Termo de audiência. (...) Instrução criminal. HC 70.231 RTJ 197/543
Adm Tomada de contas especial pelo TCU. (...) Proventos. MS 24.544 RTJ 197/
503
Pn Tráfico de entorpecente. Configuração. Porte de substância tóxica. Quanti-
dade apreendida: divergência irrelevante. HC 70.231 RTJ 197/543
PrPn Tráfico de entorpecente. (...) Denúncia. HC 70.231 RTJ 197/543
Int Tráfico internacional de entorpecente. (...) Extradição. Ext 944 RTJ 197/
384
PrPn Trancamento: descabimento. (...) Ação penal. HC 84.738 RTJ 197/618
XXII Trâ-Vis — ÍNDICE ALFABÉTICO
U
Ct União Federal. (...) Competência legislativa. ADI 2.938 RTJ 197/452 – ADI
2.938 RTJ 197/452 – ADI 3.069 RTJ 197/485
V
PrPn Vedação de análise probatória: parcimônia. (...) Habeas corpus. HC 83.658
RTJ 197/557
Trbt Veículo automotor. (...) Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI. RE
255.682-AgR RTJ 197/636
Adm Vencimentos. Magistrado. Verba de representação: cálculo. Parcela autôno-
ma de equivalência: não-incidência. AO 1.056-AgR RTJ 197/392
PrPn Venda de bem alienado fiduciariamente. (...) Denúncia. HC 84.161 RTJ
197/604
Adm Verba de representação: cálculo. (...) Vencimentos. AO 1.056-AgR RTJ 197/
392
Adm Vigilância sobre mata, rio e fonte. (...) Juiz de paz. ADI 2.938 RTJ 197/452
Adm Vistoria: possibilidade. (...) Desapropriação. MS 25.006 RTJ 197/522
ÍNDICE NUMÉRICO
ACÓRDÃOS