Ciencia Policial PDF
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AIDA GRIZA
CDD 343.2
AGRADECIMENTOS
sou grata também pelo estímulo dispensado aos seus alunos e pela tolerância
Giovani Vieira, gostaria de prestar meu agradecimento não apenas por suas
Cruz do Sul.
À minha mãe, Ana e ao meu pai, Severino (in memorian), pelo exemplo
RESUMO ......................................................................................................... 3
ABSTRACT ...................................................................................................... 4
INTRODUÇÃO.................................................................................................. 5
Apresentação do objeto de investigação .......................................................... 5
A reconstrução da problemática da pesquisa ................................................... 6
O problema e as hipóteses de pesquisa........................................................... 9
A metodologia de investigação ......................................................................... 11
Organização do texto........................................................................................ 15
CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................154
ANEXOS...........................................................................................................163
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................170
RESUMO
criminoso.
início deste século, ampliou e tornou mais eficiente o controle policial sobre os
polícia.
police was investigated through some police elite group’s documents since the
scientific and technical knowledge assign the police the role of a legally
showing a new professional impression, prioritizing the use of reason and logic,
the ability to investigate vestiges and the empirical knowledge related to ways of
crime investigation. Since the end of the forties, the expert group was formed. It
was observed that, among experts, the empirical knowledge and its application
during police investigation were also important. So, expert’s knowledge has
professional behavior.
INTRODUÇÃO
explicado e construído com base num discurso científico, do qual fazem parte
pelas polícias brasileiras - dentre elas a Polícia Civil do Rio Grande do Sul -,
final do século XIX. Nesse momento, mais se evidenciavam, nos discursos das
no controle social.
(1987), Luís Roberto Netto (1988), Marcos Bretas (1985), Heloísa de Faria
1
. Sobre esta questão, ver Pinheiro (1991).
2
. Sobre a construção do objeto “Violência Urbana” nas Ciências Sociais brasileiras, ver Tirelli
(1996), especialmente o capítulo 1.
8
disciplinadora”.
um conhecimento científico”, por meio do qual o crime passava a ser objeto dos
da violência física por esta instituição3. Considera-se que o poder de punir cada
3
. Tavares dos Santos (1996), na discussão sobre a noção de “dispositivo” em Foucault, sugere
a “representação da violência como um dispositivo de excesso de poder”. Conforme tal
perspectiva, ela seria “acompanhada por uma enunciação, vale dizer, sempre uma violência
é antecedida ou justificada, prévia ou posteriormente, por uma violência simbólica, que se
exerce mediante uma subjetivação pelos agentes sociais envolvidos na relação” (Tavares
dos Santos, 1996, p. 12).
10
envolvidos.
práticas.
A metodologia de investigação
Criminalística.
Sul (1959).
Referências Bibliográficas).
Papiloscopistas.
categoria dos policiais, quanto dos peritos. Objetivou-se levantar, junto aos
pela Polícia Civil com a introdução das perícias. Além disso, identificaram-se as
século XX.
estas fontes foram constituídas para fins diversos do uso que uma pesquisa
que tinham acesso aos seus meios de expressão. Esta questão é mais
foi dada especialmente à revista Vida Policial, em relação a qual foi feita uma
4
. Para aprofundar esta questão, ver Elmir (1995).
15
Organização do texto
dialogou-se com uma série de autores, como Becker (1977), Goffmann (1992),
Merllié (1990), Tavares dos Santos (1997), Mingardi (1992), Lima (1997), e
outros.
populares. A seguir, com base nos relatórios da Polícia Civil gaúcha (1889-
social do crime.
(1973), como Howard Becker (1977) e Erving Goffmann (1992), cuja produção
brasileiras sobre polícia, como os estudos de José Vicente Tavares dos Santos
18
especializado participa cada vez mais. A partir desta consideração, também foi
construção social.
5
. O referencial teórico desta pesquisa procurou seguir a recomendação de Tavares dos Santos
(1991, p.56): “Propõe-se [...] uma investigação da realidade exercida de maneira crítica, a fim
de se chegar a uma reconstrução sociológica da realidade social, em uma procura orientada
pela antropofágica pluralidade teórica”.
19
crime não poderia ter, de acordo com esta perspectiva, uma existência fora ou
violência não deve ater-se apenas à busca de seus “fatores estruturais”. Trata-
se, por outro lado, de considerar como “causas sociais” do crime os interesses
De acordo com Becker, o desvio deve ser explicado sob o ponto de vista
interacionista, isto é, como o produto de uma interação social. Ele não pode ser
instituição total. Ao afirmar que “os doentes mentais internados sofrem, não de
Isto quer dizer que uma categorização, uma rotulagem como a de doente
6
. Segundo Robert e Kellens, Becker é considerado o “pai” da corrente da etiquetagem social
na teoria do desvio (Robert, Kellens, 1973, p.385).
21
palavras, isto significa dizer que o doente mental só passa a existir enquanto tal
pressuposto:
construção por parte do sistema de justiça criminal não se constitui num ato
ou de criminoso deve ter “sucesso”, sendo que, para isso, deve obedecer a
determinadas condições. De acordo com Chamboredon (1971), para ser eficaz,
7
. No original: “Ces mécanismes de ‘marquage’ doivent leur efficacité au fait qu’ils rappellent les
probabilités objectives de devenir délinquants, qui sont attachées aux groupes les plus
défavorisés, et qu’ils contribuent a rendre perceptibles ces probabilités.”
22
encarado como desvio, especialmente por dois motivos: por um lado, aqueles
outro, há uma desigualdade na exposição a esta reação social, uma vez que os
social” direta das vítimas8 pelo trabalho de agentes encarregados desta tarefa
8
. Evidentemente, a reação institucional não substituiu plenamente as formas de reação direta.
É grande o número de conflitos que são resolvidos “por conta própria”, sem a intermediação
das agências formais de controle. A este respeito, ver Tirelli (1996), capítulo 3.
23
seriam “as estufas para mudar pessoas” (Goffman, 1992, p.22), pois, através
diferenciados.
9
. No original: “Ce sont ces institutions qui construisent le portrait du jeune délinquant et
l’histoire de ses actes, [...] elles fournissent, sous les apparences d’un matériau brut des cas
déjà ‘instruits’; [...] les spécialistes qu’elles emploient, juges, psychiatres, psychologues,
assistantes sociales, confèrent à leur verdicts une forte légitimité. [...] les jeunes délinquants
doivent leurs caractéristiques aux institutions de traitement de la délinquance, soit par suite
de la ‘sélection’ qu’elles réalisent, soit par suite des conséquences (sociales et
psychologiques) du traitement qu’elles dispensent”.
24
produção, por meio dos quais a instituição reinterpreta os atos cometidos pelos
“... este sistema de tratamento [...] coloca cada vez mais, ao lado
da investigação, do julgamento e do castigo dos delitos, a
prevenção e a correção, seguindo assim o movimento geral que,
em outras instituições, ‘escola, igreja, família, hospital
psiquiátrico, empresa, ... substitui a maneira dura pela maneira
doce’.” (Chamboredon, 1971, p.360 – tradução da autora)10.
orientadores que surgem a partir do final do século XIX (no caso, na França),
10
. No original: “... ce système de traitement [...] fait de plus en plus de place, à côté de la
recherche, du jugement et du châtiment des délits, à la prévention et à l’amendement, suivant
ainsi le mouvement général qui, dans d’autres institutions, ‘école, église, famille, hôpital
psychiatrique, entreprise,... substitue à la ‘manière forte’ la ‘manière douce’ “.
25
XVIII e XIX na Europa e nos Estados Unidos, com a progressiva supressão dos
sociedades modernas.
fato de não ser tanto seu ato quanto sua vida o que mais o caracteriza”
amenizada, foi estendida pelo corpo social e aplicada a um número cada vez
serem punidos.
11
. Os mecanismos disciplinares, ou disciplinas, caracterizam a forma do exercício do poder nas
sociedades modernas. Foucault propõe com o conceito de disciplina uma alternativa à
análise dos processos políticos, desvinculando-a das noções de soberania e contrato. Por um
lado, contrapondo-se à noção de poder soberano, as disciplinas diriam respeito à distribuição
infinitesimal das relações de poder, que se subdivide até chegar às relações mais privadas e
cotidianas, e enfim, acaba por representar um desejo e uma solicitação dos "de baixo".
Foucault sugere também que se abandone a noção de contrato para explicar o exercício do
poder, propondo que as disciplinas fundam-se em sistemas de micro-poder inigualitários e
assimétricos, definidos pela não-reciprocidade, pela hierarquização dos indivíduos, pela
criação de laços privados entre estes (Foucault, 1987, p.188-195).
26
teria por finalidade “não tanto matar”, mas “investir sobre a vida”, “não impedir
cotidiana.
baseada no disciplinamento.
judiciário”, Foucault trata do processo por meio do qual, cada vez mais, a
comuns, essa razão de todo mundo, que é também a dos filósofos e cientistas”
12
. Conforme Tavares dos Santos (1996), Foucault não privilegia, nas suas análises, a ciência
em relação a outras formas de saber. Ao contrário, toma como objeto “uma multiplicidade de
discursos, sem nenhuma hierarquia entre eles, justapondo tanto um filósofo como as
manifestações literárias ...” (Tavares dos Santos, 1996, p.11). Esta perspectiva foi adotada no
presente estudo.
28
quer dizer que da prisão saíram as ciências humanas”, mas que a prisão
1987, p.266-267).
punição lançam mão cada vez mais de especialistas. Da forma como são
esse se justificaria por aplicar não apenas regras jurídicas, mas leis naturais.
surgimento destes saberes, estudadas por Foucault, indicam que não ocorre
que sua eficácia explicativa pode ser devida muito mais à sua “conformidade
1990).
Psicologia e da Sociologia.
o exercício da técnica:
13
. No original: “Un des indices de la faible ‘autonomie’ de ces disciplines par rapport à la
demande administrative est la définition même de leur objet. Elles sont toujours calquées sur
le ressort juridiquement déterminé des institutions dont elles ne sont souvent que l’émanation.
En effet les définitions de ces ‘spécialités’ que sont la gérontologie, la criminologie,
l’ergonomie, etc., sont construites selon les principes mêmes des modes bureaucratiques de
gestion des rapports sociaux, à savoir la formation de ‘populations’ dotées ou privées de
droits socialement garantis par l’État. Cette adéquation entre l’objet scientifique et l’objet
juridique est peut-être à l’origine de la représentation ‘réaliste’ des objets soumis à la
formulation scientifique ...”
31
(Becker, 1977).
14
. No original: “L’expert est [...] l’agent qui a [...] l’autorité légitime pour définir les catégories de
classement des individus et por reconnaître chez ces derniers les symptômes et les indices
correspondant à ces catégories. [...] Ce mandat de l’expert n’est donc pas essentiellement un
mandat technique, mais une capacité à définir des normes.”
15
. Conforme Lemgruber (1987) e Thompson (1987), em função de ser a primeira instituição a
acionar o Sistema de Justiça Criminal, efetuando a seleção de delitos e fornecendo o material
aos juízes e promotores, a polícia deteria até mesmo uma superioridade em relação ao
Sistema Judiciário. Lemgruber (1987) afirma que a arbitrariedade da ação policial é
favorecida pelo fato de que o policial toma decisões legais em contextos de pouca
visibilidade.
32
Segundo Chamboredon,
16
. Parte do tribunal reservada aos juízes e advogados.
17
. No original: “La police occupe une place prépondérante dans ce système parce que c’est
elle qui intervient la première après le délit (soit qu’elle arrête sur le fait, soit que, ayant
enregistré une plainte, elle recherche l’auteur di délit) et parce que c’est elle qui commence à
qualifier les cas en fournissant au juge les premiers renseignements sur les délits et sur la
personnalité et le milieu de son auteur. Elle exerce une influence sur le destin juridique de
l’affaire: selon que celle-ci est jugée bénigne ou grave, elle peut l’enregistrer simplement sur
le registre de main courante pour la classer ensuite s’il n’y a pas de récidive ou, au contraire,
la transmettre au Parquet et, dans ce cas, ses avis contribuent à caractériser la gravité de
l’affaire.”
33
que outras, expostas à observação policial”. Por outro lado, ela “dispõe de um
não vai tentar resolver todos os casos de que toma conhecimento ao mesmo
tempo, deve ter uma base para decidir quando impor a regra.” (Becker, 1977,
p.118).
auxiliar a Justiça. Sua lógica disciplinadora está ligada a essa função de ir além
18
. Segundo a concepção jurídica, o poder discricionário consistiria na margem de liberdade
para a ação administrativa, que toda lei deve prever, não se confundindo com arbitrariedade.
(Acquaviva, 1993, p.964).
34
prestar serviços20 (Dias, Andrade, 1992, p.462). Este “ofício” seria marcado
Este valor seria informado pelos interesses profissionais dos policiais, que não
imposição.
19
. Sobre a noção de “distribuição diferencial da imunidade”, de Chapman, ver Robert e Kellens,
1973, p.387.
20
. Os policiais se "identificam às equipes de trabalhadores sociais polivalentes" (Demonque,
1983, p.9).
21
. Bretas refere problemas decorrentes da dificuldade em definir o que é a polícia, enfrentados
por estudos sobre o tema. Ver Bretas, 1997, p.79.
35
do crime e pelas quais se verifica seu “poder de definição” podem ser divididas
competente.
O registro da ocorrência
meio do registro da ocorrência, pelo qual a queixa produzida pela vítima passa
a ter caráter oficial. Ela se situa entre o processo informal e o formal, operando
própria vítima, anterior ao realizado pela polícia. Uma boa parte dos atos
previstos pelo Código Penal não chega a ser detectada pelas agências de
repressão, muito menos registrada. Esta parcela constitui a “cifra negra”, que,
alta. Com base na análise dos dados coletados pela Pesquisa Nacional por
e Estatística (IBGE), Tirelli (1996) afirma que 64,05% das vítimas de roubo e
furto entrevistadas, e 61,74% das pessoas que sofreram agressão física, não
sempre de acordo com os desejos dos PMs envolvidos” (Mingardi, 1992, p.36).
Conforme Mingardi,
22
. Para maiores informações, consultar Relatório Final do Projeto de Pesquisa Aplicada (1997),
capítulo VII: “Criminalidade: a produção das estatísticas oficiais”.
37
relevância estatística.
prevenir “algo pior” ou “para fins de direito”, mesmo que essas queixas não
categorias previstas pelo Código Penal pode representar uma dificuldade para
23
. O informante ou o “ganso”, na gíria policial, não pertence aos quadros policiais, e muitas
vezes é pago pelo seu trabalho de fornecer informações à polícia. Ver Mingardi, 1992.
24
. Conforme entrevistas com policiais civis realizadas pela pesquisadora, no ano de 1994.
38
representaram 25% do total. Nas delegacias distritais (de bairros), esta parcela
vítimas que chegam a uma delegacia de polícia para registrarem sua queixa,
validade do mesmo.
25
. Faz parte das atribuições da polícia não apenas atuar estritamente de forma reativa e em
relação a fatos suscetíveis a uma pena juridicamente definida, mas também na defesa da
“ordem pública” de uma maneira mais ampla e difusa.
26
. No original: “...des cas où un tiers s’est jugé victime d’une infraction et a réussi à faire
partager da conviction par son interlocuteur policier, au moins suffisamment pour qu’il
enregistresa plainte dans un document officiel envoyé au parquet.”
39
mostrar aos policiais que seu caso é um “bom caso”, não uma mera “zica”27. A
Conforme Chamboredon,
tal “tradução”, afeta mais, segundo o Autor, as classes populares, uma vez que
p.361).
Esclarecimento do fato
27
. Essa é a gíria que os policiais entrevistados por Mingardi utilizavam para caracterizar uma
queixa “sem importância” levada à polícia, relacionada a brigas entre vizinhos, entre marido e
mulher, e outras (Mingardi, 1992, p.36).
28
. No original: “La qualification officielle d’un comportement peut être différente du sens objectif
qu’il a dans le groupe auquel appartient son auteur: l’action d’enregistrement de la
délinquance est une sorte de codage, les agents de l’institution pratiquent une lecture sous
grille des comportements...”.
40
investigar o crime:
29
. Os procedimentos enumerados por Mingardi (1992) estão de acordo com o Código de
Processo Penal atualmente vigente. Ver BRASIL, Código do Processo Penal livro I, título II.
30
. O inquérito policial pode ter várias denominações. Em outros países ele é chamado de
procedimento preliminar, instrução preparatória, corpo de delito, etc. A própria Polícia Civil
gaúcha já o denominou indagação policial, relatório policial, entre outros nomes (Bernardo,
Santanna, 1994, p.79).
41
p.15).
ocorrências criminais registradas (Rio Grande do Sul, 1995, p.46)31. Mas esta
são os crimes mais elucidados (Robert, 1994, p.69). No Rio Grande do Sul, em
foi quase duas vezes maior que o de ocorrências –, para o crime de lesão
corporal, foi instaurado inquérito apenas sobre 34,48% das ocorrências (Rio
Grande do Sul, 1995, p.47). Percebe-se, aqui, mais uma vez, o “poder de
31
. Em números absolutos: 83.155 inquéritos instaurados e 782.255 ocorrências registradas.
42
do Estado contra tudo e contra todos para apurar a verdade dos fatos” (Lima,
1997, p.174-175).
pesquisadores brasileiros32.
32
. Ver Pinheiro (1982), Pinheiro, Izumino, Fernandes (1991), Lemgruber (1987) e Thompson
(1987).
43
33
. Durante o inquérito policial, não existe ainda o acusado nem o réu, mas o indiciado, “aquele
de quem se apura, mediante indícios, a prática de uma infração penal” (Acquaviva, 1993,
p.660).
34
. Ver Goffman, 1992, p.79: "A perspectiva institucional é também aplicada a ações que nem
clara nem usualmente estão submetidas à disciplina. Orwell diz que em seu internato urinar
na cama era um sinal de 'sujeira ou maldade' [...] Diz-se que os campos chineses de reforma
do pensamento levaram ao extremo esse esquema de interpretação, traduzindo os
acontecimentos inócuos diários do passado do prisioneiro em sintomas de ação contra-
revolucionária".
44
35
. No original: “Cette entreprise de reconstruction d’un caractère s’exerce grâce à la
surinterprétation de renseignements discontinus érigés en symptômes ou même en symboles
et accumulés pour concourir à la même impression. Dans la pratique de l’observation tous les
comportements, même les plus quotidiens ou les plus insignifiants, sont morcelés en
réactions et en gestes isolés, transformés en indices et interpretés comme des symboles qui
livrent immédiatement l’intériorité du jeune délinquant. [...] il semble que tout, depuis les
réponses au cours d’un examen jusqu’aux manières de saluer, à l’habitus, [...] soit signifiant
[...] au même degré. [...] C’est, semble-t-il, une des caractéristiques des ‘institutions totales’,
[...] d’avoir une théorie complète de leurs ressortissants telle qu’il n’est pas d’acte qui ne
puisse recevoir un sens par rapport à la doctrine de l’institution.”
45
afirmar que a fase do inquérito é aquela na qual mais pesa o “filtro” da polícia,
polícia atua reativamente na maior parte dos casos, e, uma vez realizado o
Penal, ela deve, nessa etapa, colher todas as provas que puderem ser usadas
36
. Um exemplo do empenho na busca de soluções consensuais pela instituição policial foi a
organização, junto a uma delegacia distrital de Porto Alegre, do Conselho de Segurança e
Cidadania (CONSECI), do qual assistimos algumas reuniões de conciliação no ano de 1995.
Eram encaminhados para o conselho, após o registro de ocorrência na delegacia, alguns
caso relacionados a conflitos familiares, entre vizinhos, e outros. Os conselheiros, que eram
líderes comunitários, faziam reuniões entre a pessoa que havia apresentado queixa à polícia
e o indiciado. Procuravam orientar no sentido da busca de uma solução acordada para os
conflitos.
37
. Ver BRASIL. Código do Processo Penal, livro I, título II, Artigo 6o.
46
técnica, a prova material não foge às regras que informam a produção social do
produção da prova são mais usuais nos casos considerados mais importantes:
38
. Na sua definição jurídica constante no Código de Processo Penal, o auto de corpo de delito
consiste num ”Meio de prova para apurar vestígios do criminoso na vítima ou no local.
Consiste na inspeção ocular feita por peritos, a qual leva às conclusões que instruirão o
laudo. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito.”
(Acquaviva, 1993, p.194).
39
. Neste sentido, seria interessante pesquisar a diferença entre a distribuição dos registros de
ocorrências por tipo de crime e a distribuição de perícias realizadas por tipo de crime.
47
Por outro lado, a prova material elaborada pelos peritos não apenas se
apóia, mas depende das informações levantadas pelos policiais. É o que indica
a afirmação a seguir:
porque a “seleção de vestígios” pode ser feita tanto pelo perito quanto pelo
policial. Além disso, o perito pode ouvir testemunhas.
estão implicados na elaboração dos laudos pelos peritos. Numa análise que faz
razões que o indivíduo teria para se suicidar. Entre outros aspectos “materiais”
exame, que deve ser “socialmente aceitável”, pois decorre “de um conjunto de
de uma competência específica externa à da instituição que faz apelo aos seus
com sua lógica própria. O psiquiatra, quando requerido pelo aparelho judiciário,
permite a este último “condenar com toda justiça ou renunciar ao processo com
boa consciência”.
40
. No original: “L’organisation du processus d’instruction et d’examen est de nature à favoriser
un type de lecture des cas fondé sur la surinterprétation moralisante plutôt que sur le
diagnostic rigoureux du spécialiste.”
49
policial.
41
. No original: “Ce mandat de l’expert n’est donc pas essentiellement un mandat technique,
mais une capacité à définir des normes. ‘Il n’arbitre pas entre des options techniques, mais
des choix de valeurs’.”
50
sobre o crime da polícia, está informado por “elementos subjetivos”, por regras
teórica.
criminal e civil. Num primeiro momento, será feita uma breve exposição sobre o
própria Medicina num sentido mais amplo, foram apropriadas pelas instituições
científica”.
surgimento de obras com o título de “Criminologia”. Este termo foi utilizado pela
primeira vez pelo antropólogo francês Topinard, cuja obra principal apareceu
Criminologia. O primeiro livro editado nos Estados Unidos com este título foi o
42
. Foucault (1987) mostra como as teorias do livre-arbítrio se combinaram com as explicações
deterministas para o crime. As reformas no sistema punitivo apregoadas pelos “clássicos”
como Beccaria e Bentham se deram concomitantemente à crescente importância adquirida
pela pena de prisão e com a participação de determinadas “ciências” no julgamento do crime
e na execução da pena.
53
última obra, O crime, causas e remédios, escrita em 1906, aparece “uma maior
43
. Apesar de não se referir explicitamente a Lombroso, e sim à Criminologia e à Antropologia
Criminal, Foucault oferece uma apreciação das implicações deste determinismo biológico: “A
introdução do ‘biográfico’ é importante na história da penalidade. Porque ele faz existir o
‘criminoso’ antes do crime e, num raciocínio-limite, fora deste. E porque a partir daí uma
causalidade psicológica vai, acompanhando a determinação jurídica da responsabilidade,
confundir-lhe os efeitos. Entramos, então, no dédalo ‘criminológico’ de que estamos bem
longe de ter saído hoje em dia: qualquer causa que, como determinação, só pode diminuir a
responsabilidade, marca o autor da infração com uma criminalidade ainda mais temível e que
exige medidas penitenciárias ainda mais estritas.” (Foucault, 1987, p.224).
44
. A própria Sociologia emerge a partir de meados do século XIX.
54
De fato, foi nesse final do século XIX que a “polícia científica”, ou seja, o
45
. A antropometria consistia na medição do diâmetro da cabeça, orelha, pé, dedo, antebraço,
estatura, envergadura do criminoso. A separação das características antropológicas visava
facilitar a busca no arquivo, ou seja, o exame tinha um fim de controle.
46
. Bertillon, Garófalo, Ottolenghi, Reiss, Hans Gross estudiosos da Criminologia, também
tinham um grande interesse na Criminalística (Copetti, 1984, p.16).
55
devendo a polícia dedicar-se apenas aos vestígios materiais. Esta disputa tinha
47
. “Hans Gross, juiz de instrução da Áustria, sistematizou conhecimentos técnicos que existiam
na época, a serviço da investigação policial. Fez livro e o denominou “sistema de
criminalística.” (Entrevista com perito criminal).
56
Herchmann (1994), por sua vez, declara: “em nenhuma outra parte o
48
. Segundo Mauch, Ingenieros era socialista. Foi por algum tempo colaborador do periódico
Echo operário de Rio Grande.” (Mauch, 1992, p.154). A influência de Ingenieros entre
criminólogos gaúchos pode ser percebida em diversas referências feitas a ele na revista Vida
Policial. Ver D’Azevedo (1942).
49
. A datiloscopia, que hoje em dia é considerada como apenas um dos ramos da papiloscopia
pelos que a praticam, consiste na identificação humana através das impressões digitais, ou
seja, das impressões papilares dos dedos. Vucetich combinou o sistema antropométrico de
Bertillon com as impressões digitais.
57
50
. Esse título faz referência ao subtítulo do trabalho de Rago (1987) Do cabaré ao lar. A utopia
da cidade disciplinar. Assim como para Rago, a obra de Foucault serviu como marco teórico
para diversos estudos a respeito de aspectos relacionados à tentativa de formação de uma
sociedade disciplinar a partir do final do século XIX no Brasil, conforme veremos a seguir.
58
p.12)51.
comportamento:
51
. Rago refere a frustração das expectativas burguesas em relação ao imigrante (Rago, 1987,
p.17).
59
Império”. Eles participavam desta “empresa moral”, que apelava para a ciência
“nação”.
52
. Segundo Becker (1977), o “empreendedor moral” cada vez mais solicita o auxílio do
“especialista” na elaboração das regras.
60
53
. A gênese do “social” como um setor particular de atividade, que envolveria instituições
específicas e pessoal qualificado, como “assistentes sociais”, “trabalhadores sociais”, data
dos séculos XVIII e XIX. Ver o prefácio de Deleuze ao trabalho de Donzelot (1986) sobre o
caso da França.
61
crime e perícia legal, tendo sido Nina Rodrigues seu principal divulgador
54
. Ribeiro Filho (1994) discute a oposição entre clássicos e positivistas no direito penal
brasileiro, particularmente a crítica de Nina Rodrigues a Tobias Barreto. Assim, enquanto
Tobias Barreto, jurista, (1839-1889) procurava uma conciliação entre o livre-arbítrio e o
determinismo biológico e psicológico, situando-se numa posição sui generis no campo
médico-legal brasileiro, Nina Rodrigues, criticando as idéias de Tobias Barreto, afirmava que
“as causas do crime eram determinadas pelas características físicas, fisiológicas e
psicológicas dos criminosos” (Ribeiro Filho, 1994, p.137).
62
1994, p.140).
na saúde da população:
55
. Conforme Schwartzman (1979) “a ciência era feita basicamente fora da Universidade, nos
institutos, museus e serviços do governo federal ou estadual, ou ainda, em laboratórios
particulares”. Schwartzman coloca ainda que “Existia entre os cientistas um forte preconceito
contra a Universidade [...] o recrutamento dos novos cientistas era feito pela velha geração
de forma pessoal”. O ingresso na atividade científica se dava pela aproximação a uma
grande figura da ciência. Ver Schwartzman, 1979, p.217-218.
64
ascensão desse intelectual, que “cientificizou” o direito penal, não poderia ter
atuação dirigida à garantia da ordem pública, passaram a ser alvo também dos
criminal é analisada na sua relação com a “extensão da prisão”, cada vez mais
pública”, passando a ser dirigida tanto aos delinqüentes quanto aos indivíduos
disciplinamento da sociedade.
era realizado por meio de uma polícia que, além de servir de apoio ao sistema
pode ser inferido, no caso do RS, com a separação das funções entre polícia
56
. Através do “arquipélago carcerário”, a técnica penitenciária da instituição penal é
transportada para o corpo social inteiro, através de Colônias penitenciárias, seções
agrícolas, colônias para crianças pobres. Ver Foucault, 1987, p.260.
66
como objetivos, entre outros57, “... pôr em custódia por tempo nunca excedente
presos “em correção” não mais poderiam ser mandados à Casa de Correção,
menores, por exemplo. A polícia recrutava uma boa parte da clientela das
desvalida” no período de 1910 a 1930 em São Paulo, Netto (1989) coloca que
pelos órgãos policiais, sem envolvimento do judiciário. Além disso, 50% das
57
. Apesar de ter existido anteriormente uma organização com atribuições semelhantes - a
Guarda Municipal, seu funcionamento não possuía uma regulamentação tão detalhada
quanto o da Polícia Administrativa (Mauch, 1992).
67
aparelho estatal.
carcerário.
asilos, escolas correcionais ...” (Rio Grande do Sul, 1895, p.101). No relatório
58
. Conforme Foucault (1987, p.187) na França parte das funções de disciplina social ficaram
com patronatos e sociedades de auxílio (caridade) e parte foi assumida pelo sistema policial.
59
. Na virada do século, a secretaria de Estado responsável pela Polícia Civil, ou seja, a
secretaria dos negócios do Interior e Exterior, concentrava também a higiene, instrução e a
justiça.
70
pela lei, poderiam receber um tratamento por parte do Estado nas “Escolas
correcionais”:
nosso Código Penal”. Além disso, ela solucionaria o problema dos “menores”,
outra, enfim, para delinqüentes menores.” (Rio Grande do Sul, 1916, p.585).
rua, para o discurso médico, era a escola do mal, espaço gerador dos “futuros
que condenava a profissão de jornaleiro por ser esta uma profissão “de rua”,
60
. O trabalho de Rago é particularmente interessante por apontar também os focos de
resistência dos trabalhadores à imposição da “sociedade disciplinar”.
61
. Conforme Rago, “Na verdade, a preocupação policial de luta contra a vagabundagem e a
pequena criminalidade urbana esteve na origem da criação de instituições de seqüestro da
infância, antes mesmo da preocupação econômica de formação de novos trabalhadores para
a indústria”. (Rago, 1987, p.122).
72
62
. Trata-se da tese Classificação dos Criminosos, dissertação para concurso na Faculdade de
Direito de SP, 1897.
73
através dos quais operou o aparelho policial. Esta contribuição se deu também
Segundo Bretas,
63
. No Rio Grande do Sul, pode-se observar a presença de escritores na polícia, como por
exemplo, Telmo Vergara, contista, romancista, teatrólogo, também foi conselheiro do
Conselho superior de Polícia por volta de 1949. Era sobrinho de Osvaldo Espinosa Vergara,
que por sua vez era jornalista e delegado de polícia, tendo presidido a comissão de
elaboração do anteprojeto que reorganizou os serviços policiais em 1947 (Giuliano, p.37 e
53). O intelectual Elysio de Carvalho, citado por Bretas, além de diretor do Instituto de
Identificação do Rio de Janeiro em 1911, “tinha nome nos meios literários”, tendo publicado
diversos livros (Congresso, 1967, p.41)
75
Misericórdia65.
1895). Esse gabinete foi regulamentado no ano seguinte, por uma lei que
trouxe diversas outras modificações à polícia: a Lei no 11. Em sua seção I, esta
64
. Em 1893, em relatório ao Secretário de Negócios do Interior, o Chefe de Polícia solicita um
médico: “reitero meus pedidos de nomeação de um médico, para, conjuntamente com o da
cadeia civil, fazer os corpos de delito, exames de cadáveres, autópsias, verificação de óbitos,
bem como fornecer informações para verificar causa da morte.” (Heimburg, 1957, p.162).
65
. Já em 1889, em relatório à Assembléia, o Presidente da Província colocava a “necessidade
da criação de um necrotério para recolhimento dos cadáveres que são encontrados nas
estradas e vias públicas. [...] O reconhecimento da identidade do morto e exigência de
autópsia para verificação da causa do óbito, que muitas vezes é devido a um crime,
requerem que a polícia tenha um lugar apropriado onde sejam depositados os corpos até a
conclusão de diligências legais” (Heimburg, 1957, p.158).
76
brasileira das últimas décadas do século XIX” que era, por sua vez, “tributária
pelo médico da chefia de polícia, Dr. Sebastião Leão (Rio Grande do Sul, 1895,
77
p.108).
criador66.
presos da Casa de Correção. Em 1897, este estudo era publicado, como havia
66
. Sebastião Leão “tinha como auxiliares os srs. Augusto Borges de Medeiros e Alarico Ribeiro,
funcionário da Chefatura de Polícia” (Moraes, 1968, p.4).
67
. O Relatório de Sebastião Leão consiste no Anexo 6 do Relatório do Chefe de Polícia ao
Secretário do Interior, referente ao ano de 1897, p.187 a 247.
78
teses biologistas sobre o crime, concluiu: “não é o atavismo, mas o meio social
ela foi usada inicialmente não apenas como instrumento de identificação, mas
detém uma relação com esse objetivo inicial da antropometria, de provar que
fotografia.
68
. Em concordância com Lacassagne, Leão tentava explicar a diferenciação dos tipos de
crimes de acordo com as estações do ano em que ocorriam, relacionando-os à temperatura:
crimes contra a pessoa ocorreriam mais no verão, e contra a propriedade, no inverno (Rio
Grande do Sul, 1897, p.211).
69
. “O sistema antropométrico já tinha tido um início de aplicação no ano de 1864, quando
Lombroso fez um estudo do homem criminal; porém, só com Bertillon, apareceu como um
sistema de Identificação para se incorporar aos serviços da Polícia de Paris em 1882.”
(Viancarlos, 1939, p.48).
79
1902 (Ferraz, 1939, p.49). No Rio Grande do Sul, a papiloscopia foi introduzida
barba, sobrancelhas (cerradas), rosto (redondo, oval, etc.), testa, nariz (afilado,
datiloscópica.
70
. Com o falecimento de Sebastião Leão, “assumiu o cargo por ele exercido o professor dr.
João Pitta Pinheiro Filho, que continuou, com igual interesse, a desenvolver o serviço de
identificação, até outubro de 1904. [...] Quem iniciou a introdução da identificação através da
impressões papilares foi o médico João Damasceno Ferreira, que assumiu em 1904 e
ampliou o serviço de identificação, “juntando aos métodos já adotados o de Juan Vucetich”
(Moraes, 1968, p.4).
71
. Encontram-se à disposição para consulta no Museu Didático José Faibes Lubianca, da
Academia de Polícia Civil.
80
ampla de controle social, e não apenas para atender ao fim jurídico de detectar
afirmações vêm ao encontro do que Netto coloca sobre a polícia de São Paulo
Polícia.
condenação pelo Poder Judiciário, detidos não para cumprir uma pena, mas
identificação dos presos existir desde o final do século XIX, o ano de 1907 é
tido como o marco de início do “Registro Criminal”, enfatizando, mais uma vez,
72
. Por Decreto 1166 de 12 de agosto de 1907, o Presidente Borges de Medeiros outorgou
regulamento ao Gabinete de Identificação, Antropometria e Estatística Criminal. Este decreto
“Estabelece a identificação civil, criminal e de contraventores, bem como a do funcionalismo;
inaugura o registro criminal pelo sistema fotográfico e datiloscópico de Vucetich; fixa a
colaboração com o Gabinete Médico-Legal na identificação de cadáveres desconhecidos,
manchas, etc.; determina a publicação periódica dos mapas estatísticos dos crimes e
contravenções, bem como da entrada e saída das prisões do Estado, do movimento da
população flutuante, do boletim policial com instruções e ensinamentos úteis.” (Giuliano,
1957,p.22).
82
a 1712 (Rio Grande do Sul, 1913, p.498). Isso mostra que o interesse na
postos policiais passou a ser bem maior que o dos remetidos pela Casa de
número de presos enviados pelos Postos Policiais foi de 905, seis vezes maior
Gráfico 1
N ú m e ro d e p re s o s e n v ia d o s a o G a b in e te d e Id e n tific a ç ã o -
1 9 1 0 , 1 9 1 4 -1 9 1 7
100%
80%
361 P o s to s
583 697 P o lic ia is
60% 905 525
Cas a de
C o rre ç ã o
40%
20% 217
168 211
150 101
0%
1910 1914 1915 1916 1917
An o
Gráfico 2 -
Id e n t if ic a d o s e v e r if ic a d o s p e lo
G a b in e t e d e Id e n t if ic a ç ã o - 1 9 1 1 - 1 9 1 2
1200
1122
1000
800
Id e n tif ic a d o s
600 623 590
407 V e rif ic a d o s
400
200
0
1911 1912
Ano
aponta para uma percepção, por parte das elites policiais, da eficiência do
“meio delinqüente”73.
quadro abaixo:
73
. Esta relação foi-se modificando, tanto que em 1919, o número de “primários” é maior.
Também diminuiu o número de registros criminais.
85
74
. A satisfação com a papiloscopia era tanta que as elites policiais defendiam a ampliação da
aplicabilidade deste sistema de identificação aos registros de nascimentos, casamentos,
óbitos, hipotecas, escrituras, matrículas escolares e diversas “instituições em que o Estado
intervém discricionariamente”. (Rio Grande do Sul, 1910, p.315).
86
indivíduo.
descobrir o criminoso.
3 A CONSOLIDAÇÃO DOS SERVIÇOS TÉCNICOS NA POLÍCIA:
aparelhamento da polícia técnica nos anos 30-40 e a qualificação do
técnico-policial
não foi pouco extenso no início do século, quando a instituição policial atuou
disso, aquele momento foi decisivo quanto à apropriação, pela polícia, de uma
técnico-científicos.
médicos.
período entre 1889 e 1930 - caracterizada pela força das oligarquias regionais
e pela fraqueza de um poder central, entra em crise nos anos 20, crise que
nativa”:
75
. Conforme Herschmann e Pereira, o “paradigma moderno” que se cristaliza na década de 30
foi elaborado por dois conjuntos de agentes: a vanguarda modernista, isto é, a geração
literária de 1920, e os especialistas das áreas da medicina, da educação e da engenharia,
portadores de saberes técnico-científicos (Herschmann, Pereira, 1994, p.13).
91
disponíveis.
1979).
cientista, cabe fazer uma nota sobre os médicos legistas, caso de particular
(Pereira, 1994, p.93). Neste sentido, a Medicina Legal voltava-se cada vez
instituição77.
das legislações:
76
. Esta autodefinição feita pelo médico-legista carioca Leonídio Ribeiro é citada por
Herchmann e Pereira (1994).
77
. Era o caso de Leonídio Ribeiro, conforme será visto mais adiante. Homossexuais detidos
pela polícia foram objeto de estudo “antropopsiquiátrico” feito pelo médico legista Edmur
Aguiar Whitaker, de São Paulo e apresentado em 1937 na Primeira Semana Paulista de
Medicina Legal. (Pereira, 1994, p.107)
93
Penal (Wolff, 1991, p.306). Logo após, em 1941, era promulgado um Código de
policial.
Criminologia.
78
. Segundo Ribeiro Filho (1994), o código de 1940 incorporou alguma críticas dos positivistas
ao jurismo clássico que havia permeado o código penal republicano.
79
. Heitor Carrilho havia participado da Comissão Legislativa em 1932, para abordar a questão
do estudo do criminoso (Ribeiro, 1934, p.12).
80
. Escritor, médico e educador, Afrânio Peixoto é um dos intelectuais-cientistas cuja biografia
foi estudada por Herschmann (1994).
94
pela polícia científica se deve, por um lado, à ampliação dos postos de trabalho
ligados às perícias.
policiais”:
Apesar de esta reforma não ter chegado a ser implementada (Mota, 1994,
das modificações mais importantes trazidas por este decreto foi a revogação da
Weber, 1985, p.40). Isto significou uma sobrevalorização da Polícia Civil frente
81
. O projeto dividia a polícia em preventiva e repressiva ou judiciária. Criava os Tribunais de
Polícia, para o processo e julgamento de crimes leves, e os Juizados de Instrução. A polícia
preventiva, por sua vez, era composta de oito subprefeituras, dos serviços basilares, entre os
quais se incluía a Inspetoria de Investigações Científicas e o Instituto de Identificação, e dos
anexos, que abrangiam, entre outros, a Escola de Polícia e o Instituto Médico Legal (IML)
(Ribeiro, 1934, p.327). Vemos que o IML encontrava-se submetido a órgão diferente daquele
do Inst. de Identificação e do embrião do Instituto de Polícia Técnica.
82
. No governo Vargas, as forças públicas estaduais perderam terreno, enquanto as Forças
Armadas se fortaleceram (Fausto, 1996, p.358), assim como as polícias civis.
96
marco para uma polícia profissional, uma grande transformação na polícia civil
83
. “Em 1937, o Governador Flores da Cunha, em obediência a dispositivo constitucional,
promovia a organização da polícia de carreira. Sob a direção do então chefe de Polícia, Dr.
Poty Medeiros, colaboraram na regulamentação os bacharéis Plínio Brasil Milano, João
Milano, João Giuliano e Dr. Oscar Daut.” (Weber, 1985, p.17).
84
. A instituição da polícia de carreira participa da nova relação com o serviço público
implementada no governo de Vargas.
85
. “Atualmente temos uma polícia verdadeiramente profissional: a de carreira, oferecedora de
estímulos para o natural e justo aproveitamento dos profissionalmente capazes.” (Baumann,
1940, p.35).
“Não se escolhe entre nós, o cargo para o homem, mas o homem para o cargo, sistema salutar
que afasta as polícias, como a local, da influência política,[...] . Polícia é uma verdadeira
profissão, pois exige tirocínio, estudo, observação, à qual o funcionário deve entregar-se de
corpo e alma, [...] . A consciência profissional já afirmou-se, de maneira inequívoca na
estrutura policial rio-grandense, exigindo, de cada um de nós, os melhores esforços no
louvável sentido de mantê-la em nível superior.” (Baumann, 1940a, p.49).
“A instituição da polícia de carreira, no Estado, veio resolver um dos mais prementes problemas
da Administração Pública - a extinção da polícia política.” (Minghelli,1939, p.48).
97
um sistema.
1993, p.54).
Nele, Ribeiro fez uma pesquisa sobre o biótipo de negros e homossexuais com
“pederastia passiva”. Tal estudo lhe rendeu o prêmio Lombroso de 1933 (Mota,
A polícia de São Paulo, por sua vez, já contava, na década de 30, com
86
. Eis alguns títulos de livros publicados por Leonídio Ribeiro: A identificação no RJ, 1933;
Reincidência e Identificação, 1933; Medicina Legal, 1933; Direito de Curar, 1932;
Antropologia Criminal, 1938; Espiritismo no Brasil, 1931; Homossexualismo e endocrinologia,
1938;Afrânio Peixoto, 1950; O Novo Códifo Penal e a Medicina Legal; Polícia Científica,
1934. (ver Ribeiro, 1934, p.412; Pereira, 1994, p.91 e Miceli, 1979, p.61).
99
técnicas policiais.
nos anos 30, portanto, que se dá a efetiva implementação dos cursos voltados
87
. Os “delinqüentes ‘homossexuais’ de certa classe eram encaminhados ao Laboratório de
Antropologia Criminal do Instituto de Identificação de São Paulo, onde os médicos levavam
adiante suas pesquisas sobre causas da homossexualidade.” (Pereira, 1994, p.106).
88
. “O projeto de Reforma de Polícia de Baptista Lusardo, publicado em 1932, é o primeiro a
criar, na realidade, uma Escola de Polícia no Distrito Federal [...]. Infelizmente não foi
possível torná-lo realidade. O decreto 22332, de 10 de janeiro de 1933, que reformou a
Polícia do Distrito Federal, autorizou o Chefe de Polícia a criar,[...] uma Escola de Polícia.”
(Ribeiro, 1934, p.291).
100
em 1934 era fundada a Escola de Polícia, que ofereceria três cursos: para
89
. Cancelli mostra como estas teorias puderam ser usadas pelas elites policiais contra
imigrantes, num sentido racista, xenofobista: “Com a aproximação da Segunda Guerra
Mundial, os fundamentos repressivos montados pelo regime foram acrescidos de mais
algumas formas de ação que justificavam o aparato policial e seus complementares. Por
certo, a polícia, alicerçada nas teorias da Antropologia Criminal, aprofundava, em nome da
ciência, as razões pelas quais os estrangeiros representavam um sério perigo para o país.
Oscar de Godoy, um professor de Antropologia Criminal e médico-antropologista do serviço
de identificação de São Paulo, dizia, em 1940, na aula inaugural dos cursos superiores do
Instituto de Criminologia de São Paulo, que não existia país de imigração “que não procure
garantir o futuro da constituição antropológica de seu povo por meio de leis reguladoras da
entrada de estrangeiros. (Palestra “Imigração e Criminalidade”)” (Cancelli, 1993, p.131).
90
. Um colaborador da revista Vida Policial afirmava que o Serviço de Identificação constituía-
se, anteriormente, num órgão “mais ou menos independente”, e que, com o Estado Novo,
passou a agir com maior dinamismo. (Vieira, 1941, p.35).
101
91
. O Decreto no 7601, de 5 de dezembro de 1938, dava nova organização à Polícia de Carreira
do Estado. Neste momento foi criado o cargo de datiloscopista (Weber, 1985, p.71).
102
banal”, a queimadura nas mãos do então diretor José Faibes Lubianca, “vem a
92
. O grupo pioneiro do laboratório de Polícia era composto por Ruben Lubianca, Samuel
Severo de Moraes, Sócrates Lubianca, Ruy Holmer Rangel, Rubem Kroeff foi, seguindo-se
após Eraldo Rabello, Simão Lewgoy, Moisés Ribeiro do Carmo, Edi Cunha e o fotógrafo
Mauro Feix Souza (Lubianca, 1972, p.176). Nota-se ainda o peso das relações familiares
neste recrutamento. O Laboratório de Polícia obedeceu a uma forma de recrutamento de
cientistas do início do século familiares.
103
científica foi cumprido por outro instrumento: a revista Vida Policial, que
Estado Novo (Cancelli, 1993). No Rio Grande do Sul, surgiu, neste período, a
esta publicação tinha “uma alta finalidade social”, visava ser um órgão
pretendia que o “cidadão das ruas” pudesse “se inteirar dos maravilhosos
parece se confirmar por sua alta tiragem, referida no sexto número (Em Nova,
1939)94.
poder judiciário. Isso pode ser percebido no excerto a seguir, que sublinhava o
93
. Este apelo à “participação do povo” nos projetos estatais foi uma das características
políticas do Estado Novo.
94
. Consta no expediente do sexto número desta Revista: “o mensário de maior tiragem e
circulação no Sul do Brasil”.
105
da polícia, que deveria “ir além” de suas funções judiciárias de atuar após o
disso, ela serviria de meio para o intercâmbio “técnico” com outras polícias, o
que era posto em prática pela transcrição de artigos de autores não gaúchos.
95
. Entre as publicações recebidas, constam: Boletim de Polícia Técnica de Montevidéo,
Memórias de Inspetores e Revista de Identificação e Ciências Penais, de Buenos Aires,
Revista de Direito Criminal e Criminologia e Jornal de Polícia Científica, de Chicago, bem
como uma diversidade de outros títulos (Imprensa, 1938, p.2).
106
constituía-se no
de discurso, uma vez que, como foi visto, este foi um dos períodos da história
96
. Sobre a oposição entre eficiência e padrões humanitários, ver Goffman, 1992, p.73.
108
Abelardo Ohler, sobre a relação entre crime e civilização, nos quais critica
local de crime criado por um inspetor (Barcelos, 1938, p.20). Também são
transcritas aulas sobre estudo do local, o que deveria ser feito no sentido de
levantar qualquer tipo de detalhe (Neumann, 1942, p.47). Isso mostra que a
difundido.
cotidiano.
Anexos):
110
intelectuais”. Por outro lado, aponta para a possibilidade do fim de uma disputa
polícia”97.
97
. Outra referência a respeito da “resistência e desconfiança com que era encarada pela
organização policial, a prova indiciária fundada no estudo dos vestígios materiais” era feita
mais tarde por Lubianca. Ver Lubianca, 1973, p.841.
111
si, mas o raciocínio que o liga, como fato conhecido e secundário, ao fato
atenção para o perigo de o indício não ser recolhido com “equilíbrio e bom
“superinterpretar” indícios98.
perícia dá o parecer sobre este ou aquele ponto, a coordenação total deve ser
feita pelo técnico policial”. O policial deve saber encontrar o fato, ter
98
. A questão da “sobreinterpretação de indícios” foi discutida no capítulo 1.
112
1941a, p.9).
p.13-14) que a polícia científica seria apenas um dos ramos da polícia técnica.
Paulo e publicadas na Revista, era colocado que a técnica policial não poderia
não solicitar aos laboratórios técnicos, como, por exemplo, a inspeção do local
Uma das formas de atingir esta meta seria a utilização do lazer no exercício
Eles deveriam ocupar seu tempo livre com jogos como o charadismo, as
99
. O romance policial deve parte de seu sucesso ao fato de, associado ao nascimento de uma
sociedade de consumo e lazer, oportunizar um tipo de lazer adequado ao valor da
produtividade, tão caro ao estilo de vida das classes médias emergentes na França em
meados do século XIX, suas principais consumidoras (Dubois, 1985)
114
denominada Onde chega a técnica policial ... o crime nada vale para o
criminoso.
100
. Sylvio Terra publicou: A polícia e a defesa social, 1939; Regulamento e organização da
polícia do Rio de Janeiro; Polícia, lei e cultura; O detetive e sua formação cívica, moral e
intelectual (Três livros, 1940, p.11 e Cancelli, 1993, p.226).
101
. Não se pretende neste estudo fazer uma crítica à Psicologia, mas aos usos que foram
feitos dela pelo aparelho policial.
115
De acordo com este agente, todo crime, a não ser aqueles praticados
certa forma preexistiria à sua “prática”, à sua “fase material”. Esta existência
fase”. Além dos “atos preparatórios”, as outras duas fases do crime seriam: o
premeditados, por sua vez, seriam os mais evoluídos, e teriam uma “tendência
emprego se impunha, uma vez que todo crime teria um motivo, e também
inteligente.
Dentro desta mesma linha, outro autor coloca que a investigação dos
pregressa do indiciado”103 (Ver Anexos) pelo delegado Oscar Daudt Filho, que,
com todo detalhamento, pretendia colher um conjunto exaustivo de
102
. “Afrânio Peixoto, entusiasta dos métodos científicos, havia recomendado estes métodos
baseados em recursos psicológicos, na ‘psicanálise clínica’, no hipnotismo, na associação de
idéias e na psicologia experimental.” (Mota, 1994, p.167).
103
. A sindicância da vida pregressa do indiciado pela autoridade policial era uma das
obrigações previstas pelo novo Código de Processo Penal, artigo 6o, inciso IX.
118
de bem usar seu “poder de definição”. O policial deveria saber distinguir, saber
tipologia dos crimes e dos criminosos. Dentre estes, destaca-se, uma série
grupos sociais a serem seus autores. Isto pode ser percebido em alguns
crimes.
eram associados, geralmente, às classes pobres e aos negros. Era o caso dos
104
. Esta série de artigos era transcrita do periódico Imprensa Policial, de São Paulo
119
da raça”, “resto de atavismo” - para a prática deste tipo de delito, bem como
social. A “punga” era descrita como uma técnica, um trabalho: feita em dupla,
“tratamento psicológico”, uma vez que seria cometida por “pessoas que
105
. É interessante notar que este perfil foi elaborado por um repórter.
120
Por fim, é feito um comentário que remete a uma interpretação de ordem moral:
perigoso”, e uma recomendação aos policiais, para que atentem para as “falsas
De acordo com esses discursos, haveria uma relação entre classe social
do autor e tipo de crime cometido. Por outro lado, existiriam aqueles crimes
p.36). Relata um estudo estatístico feito na polícia, no qual são detectados dois
havia sido traída: cometera o crime em “defesa da honra”, sendo que este
1943).
derivadas de sua prática. Seria um crime de “difícil solução para a polícia”, uma
vez que praticado em espaços clandestinos por uma “maçonaria” que une as
1941, p.16).
Por outro lado, nenhum artigo dentre os analisados referiu como causa
106
. O articulista refere a discussão sobre o “fetichismo do avental” presente no estudo de Von
Krafft-Ebing, “Psicopatia Sexualis”. Sobre Von Krafft-Ebing, ver Pereira, 1994, p.96 e 102.
122
seja porque o casamento, a união de duas pessoas, crie nos nubentes uma
1941, p.7).
criminalidade107.
107
. Os limites deste trabalho não permitem medir até que ponto tais tipologias foram e são
utilizadas nas interpretações policiais sobre o crime e nas suas decisões no decorrer da
própria investigação policial. Tal preocupação serve como indicativo para futuros estudos.
123
Sendo a polícia uma destas instâncias, a “polícia científica” surgia como uma
passava pela divulgação deste projeto entre os policiais, no que a revista Vida
policial, bem como sobre a sua relação com os diversos outros agentes
dos peritos foram adaptados para que pudessem ser empregados na instituição
policial.
108
. A partir do final da Segunda Guerra Mundial, ocorreu uma visível expansão do sistema de
educação profissional, ocasionado pela forte demanda por títulos universitários ligada à
criação de uma sociedade urbana e de consumo de massas, e de uma classe média que
buscava os benefícios possibilitados por um status profissional. (Schwartzman, 1979, p.285).
109
. Os peritos criminalísticos podem ter formação superior em diversas áreas, especialmente
na Engenharia e na Química.
126
policial.
discurso:
110
. Criminalística: “ciência que objetiva o esclarecimento dos casos criminais. Entre suas
atribuições, contam-se o levantamento do local do delito, a colheita de informações e as
perícias respectivas. É também denominada Polícia Científica.” (Acquaviva, 1993, p.397).
“Posteriormente a 1919, principalmente na França, a chamada polícia científica passou a ser
criminalística” (Simonin, apud Lubianca, 1972, p.180).
127
independência, seguia uma orientação que já havia sido feita por peritos e
“um físico, um químico, lançar mão do concurso de especialistas para tirar todo
[1964?], p.5-6).
111
. Brito Alvarenga diplomou-se pela Faculdade de Medicina em 1910, tornou-se químico
licenciado em 1936 (Lubianca, 1975, p.24-25).
112
. Em 1898, registrou-se a criação de três cargos de médico; em 1917, um de farmacêutico; já
em 1953, o número é muito maior: 7 médicos legistas e 5 peritos criminalísticos. (Weber,
1985, p.79)
129
atribuições dos peritos eram e são até hoje reguladas pelo Código de Processo
Penal115, mas apenas em linhas gerais, o que dava margem para a discussão
113
. Edgar Hoover, do Federal Bureau of Investigations (FBI) foi membro de honra do
Congresso, que contou ainda com a participação de dois representantes do FBI.
114
. Lubianca (1972) refere a publicação de trabalhos de peritos gaúchos na revista Finger Print
and Identification Magazine, de Chicago, propiciada pelo contato com comissário Oscar
Roberto Preller, da Argentina (Lubianca, 1972, p.176-177). Isto aponta para a importância
dos peritos criminalistas gaúchos.
115
. Ver Código de Processo Penal, título VII, “da prova”, capítulo II, “do exame do corpo de
delito e das perícias em geral”, artigos 158 a 184.
116
. Lubianca aponta para o estatuto cientifico da Criminalística. Citando o Tratado de Direito
Penal de Luiz Jiménez de Assúa, a localiza entre outras disciplinas ligadas a este ramo do
direito. Pertenceria ao ramo das “ciências da pesquisa”. (Lubianca, 1973, p.853)
130
sido apresentadas quatro teses a este respeito. Dentro disso, era sugerido
1950a, p.171).
sucinto glossário,
117
. Outra tese no sentido de padronizar o vocabulário foi apresentada por um perito do Estado
da Bahia. (Congresso, 1950, p.219).
131
Identificação.
servente (Moraes, 1968, p.14). Porém, até o final de 1947, ou seja, na data do
Este decreto previa, além das tarefas mais cotidianas como exames e
pesquisas sem finalidade imediata”. Isto mostra que tais agentes desejavam
disputa.
118
. Na verdade esta primeira reunião denominou-se Primeiro Congresso Nacional de Polícia
Técnica.
133
Esta mesma tese definia a relação dos serviços periciais com os outros
setores ou agentes implicados num mesmo exame, indicando até onde poderia
Ao mesmo tempo, foi proposto que não fosse da alçada das organizações
violenta”, mas não poderiam examinar ossadas humanas nem fazer análises
119
. O mesmo que semi-paralítico.
135
Instituto Nacional de Criminalística120, esclarecia que este uso era previsto pelo
este não deveria apenas basear-se nas provas selecionadas e remetidas pelo
1967, p.59).
120
. O Instituto Nacional de Criminalística foi criado em 1962 e era um dos órgãos do
Departamento Federal de Segurança Pública. (Villanova, 1967, p.82).
136
foi feita uma referência à figura de Sherlock Holmes, modelo de ação também
polícia.
121
. No capítulo 1, foi visto que o laudo sobre a morte não-natural deve estar de certa forma de
acordo com um senso comum, o que implica em levar em consideração este conhecimento
das testemunhas ou das pessoas próximas da vítima ou do criminoso.
138
deveriam ser direcionadas por uma “tática” única. Esta defesa baseava-se num
pressuposto de que seria impossível tratar de “atos humanos” com uma visão
unilateral:
122
. Durante um certo período no Rio Grande do Sul, os três institutos (Identificação,
Criminalística e Médico-Legal) foram reunidos sob o termo “polícia técnico-científica”, com a
criação, em 1969, do Departamento de Polícia Técnico-Científica. Mas acabou prevalecendo
a divisão entre os três institutos até os dias de hoje.
139
geral para o particular, faria com que o perito levasse vantagem em relação ao
123
. Este excerto de entrevista se refere à resposta a uma pergunta sobre o entrosamento entre
os institutos.
141
psicológicas”, os relatos das testemunhas. Por outro lado, seu olhar deve ser
específica.
recrutamento dos peritos pioneiros e sobre o perfil dos cursos que seriam
1967, p.75).
Laboratório de Polícia:
compensação econômica:
124
. No Segundo Congresso de Criminalística, um perito enfatizava o pouco atrativo que a
profissão de perito exercia sobre o universitário. (Lapagesse, 1967, p.63).
144
125
. O curso de Criminalística tornou-se obrigatório aos candidatos à carreira de Perito Criminal
em 1951. (Alvarenga, 1967a, p.293).
126
. Tratava-se de José César Pestana, que foi diretor da Escola de Polícia de São Paulo e
escreveu um manual de organização policial.
146
profissão, muitos dos peritos pioneiros tiveram de passar por eles (Entrevista
“[Em 1965] ficou estabelecido, pela Lei 5143, que o ingresso nos
cargos técnico-científicos e técnico-profissionais, dos quadros do
D. P. C. [Departamento de Polícia Civil] far-se-á mediante
certificado de aprovação nos respectivos cursos da Escola de
147
policial.
“polícia científica”, “polícia técnica”. Desde o final dos anos 40, o uso deste
1981).
pelo de “Criminalística” era o perito gaúcho Rubem Lubianca. Ele justificava tal
jurídico”, e que deveria ser assimilada “fora da esfera de ação de sua atividade
127
. Durante o Congresso Comemorativo do cinqüentenário da Faculdade de Direito de Porto
Alegre.
150
comparação:
128
. “A constituição do Estado do Rio Grande do Sul promulgada dia 03 de outubro de 1989
estabelece na Seção IV a Coordenadoria Geral de Perícias. Em seu art. 136 diz: a ela
incumbem as perícias médico-legais e criminalísticas, os serviços de identificação ... que terá
pessoal organizado em carreira através de estatuto próprio; regime de trabalho em tempo
integral e dedicação exclusiva”. (Associação dos Papiloscopistas do Rio Grande do Sul,
1997, p.6)
151
profissional.
do todo, adequar seu trabalho ao fato de que lida com fatos sociais. Ou seja, os
achados deste capítulo, é possível afirmar que o grupo dos peritos criminais
peritos criminais, tal relação é mais evidente, pelo fato de que a percepção a
respeito desta relação pelos mesmos fez com que produzissem um grande
129
. Cientista de polícia, polícia técnica, polícia científica... qual o peso de cada um dos dois
termos da expressão? Essa é a discussão colocada aqui.
153
no Brasil a partir dos anos 80. Com o final do Regime Militar, a violência e a
disciplinadora” exercida pela polícia brasileira do início do século XX, cuja ação
gaúcha.
(1971), Dias e Andrade (1992), Tavares dos Santos (1997), Mingardi (1992) e
Lima (1997). Por fim, foram abordados os limites que o sistema jurídico e o
da detecção policial.
específicas:
Este enfoque foi dado especialmente na análise dos artigos da revista Vida
Policial, em relação aos quais se realizou uma discussão sobre o seu papel no
Netto (1989), Cruz (1987) e Rago (1987) sobre os casos de estados como Rio
chefia de polícia, percebe-se que o Rio Grande do Sul inseriu-se logo de início
presos para indivíduos não condenados, ou seja, para os presos provisórios, foi
mesma lógica parecia estar por detrás dos registros civis, que começaram a
desviantes”. Viu-se que este registro obedecia a normas da cultura policial que
crime. Além disso, foi possível constatar que o emprego de noções baseadas
Existia um entendimento de que o perito devia pautar seu trabalho não apenas
àquela da investigação policial, pois lida com fatos sociais. A importância dada
conhecimento parece ter servido mais para referendar uma construção social
do crime apoiada numa cultura policial, o que submete os peritos aos objetivos
da investigação policial.
no decorrer do presente século. Eles passam cada vez mais a contribuir com o
aplicada, dos especialistas, este processo implicou numa adequação dos seus
apenas na medida das demandas por um controle mais eficiente que seus
essa relação com os especialistas tenha sido um dos aspectos que mais
crime.
pelo presente estudo. Os achados desse trabalho poderiam servir de base para
dos laudos dos peritos na condução do mesmo. Seria interessante medir sua
tomadas durante a investigação policial, para investigar até que ponto estas
ANEXO I
DAUDT FILHO, Oscar. Ficha da vida pregressa do indiciado. Vida Policial, Porto Alegre, n. 54,
p.53-55, jul. 1942.
165
166
167
ANEXO II
RIPLEY, Augustin; POST, Roy. Problema de Polícia. Vida Policial, Porto Alegre, n. 62, p. 44-45,
set. 1943.
168
169
ANEXO III
Bibliografia conceitual
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 4.ed. São Paulo, Editora da USP, 1996.
LEMGRUBER, Julita. A face oculta da ação policial. Ciência Hoje, v.5, n.28,
p.24-26, jan./fev. 1987. Encarte especial: Violência.
SOUZA, Luís Antônio Francisco de. Processos de uma prática, Polícia Civil
e criminalidade na cidade de São Paulo: uma perspectiva comparada
com a experiência da América do Norte (1889-1930). USP, 1996.
Documentação da pesquisa
A NOVA organização policial. Vida Policial, Porto Alegre, n.5, p.49-52, dez.
1938.
A POLÍCIA de hoje. Vida Policial, Porto Alegre, n.60, p.13 e 56, jan. 1943.
BARREL, Leo Load. Quebra Cabeça do Crime. Vida Policial, Porto Alegre,
n.61, p.15-17, ago. 1943.
CONCEITO e evolução da polícia. Vida Policial, Porto Alegre, n.4, p.42, nov.
1938.
CONFERÊNCIAS do Dr. Reiss. Vida Policial, Porto Alegre, n.9, p.39-41, abr.
1939.
ESPERANÇA, Clarice. Perícia luta para elucidar crimes. Zero Hora, Porto
Alegre, 17 maio 1998. Polícia, p. 50-52.
HAYMANN, Max. Mulher e crime. Vida Policial, Porto Alegre, n. 64, p.26,
maio 1943.
HOMENS ou brutos? Vida Policial, Porto Alegre, n.22, p.14-15 e 37, maio
1940.
IMPRENSA policial. Vida Policial, Porto Alegre, n.1, p.2, ago. 1938.
MEMÓRIAS de inspetores. Vida Policial, Porto Alegre, n.3, p.12 e 47, out.
1938.
MESSIAS, Ney. Sobre o valor do indício. Vida Policial, Porto Alegre, n.30,
p.4, jan. 1941.
179
MORITZ, Alex. Cleptomanos. Vida Policial, Porto Alegre, n.23, p.23-24, jun.
1940.
RIO GRANDE DO SUL. Polícia Civil. Relatório Anual 1991. Porto Alegre,
Polícia Civil, 1991.
181
SILVA, Osmar Romão. Curso de Polícia. Porto Alegre, Editora Globo, 1944.
TERRA, Sylvio. Quando chega a técnica policial... o crime nada vale para o
criminoso. Vida Policial, Porto Alegre, n.37, p.12-13, ago. 1941, n.38,
p.8-9, set. 1941a, n.40, p.17-19, nov. 1941b. n.41, p.70-72, dez. 1941c.
n.42, p.29-32, jan. 1942. n.43, p.43-45, fev. 1942a.
TRÊS livros. Vida Policial, Porto Alegre, n.20, p.11, mar. 1940.