Ilabantu
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OMBALA TUMBANSI
Ins t it u i ç ã o L a t i n o
A meric a n a de c a r at e r
cul t ur a e f i l o só f i c o ,
que t r a b a l h a a q ue s tão
Quem somos, o
d a pre se r va ç ã o das
cul t ur a s t r a di c i o nai s
a frica n a s o r i u n das
os povo s o vi m b u ndo ,
que queremos e
ba kon g o e a m b u n do ,
como p a r t e do s
v a l ore s c i vi l i z a t ó ri o s ,
comba t e a o r a c i smo ,
como estamos.
d is crim i n a ç ã o r a c i al ,
fort a le c i m e n t o
NOSSAS ORIGENS
d a d em o c r a c i a ,
ha rmo n i a do s p ovo s ,
rev a l o r i z a ç ã o do s
a port e c u l t u a i s Somos uma casa que se esmera em manter suas raízes,
d os a f r i c a n o s e raízes herdadas de Thuenda Dia Nzambi – Maria Genoveva do
s eus de sc e n de n t e s , Bonfim, também conhecida como Maria Nenê, que recebeu como
promo ç ã o do s di re i to s herança, de seu iniciador Roberto Barros Reis, um africano de
hum a n o s. Cabinda, o atual Unzó Tumbensi, estabelecido a rua Nossa da
Conceição, 206-E, bairro Beirú-Tancredo Neves, em Salvador-Ba.
RELIGIOSIDADE
Entendemos por religiosidade toda pratica da fé e de suas
Walmir Damasceno manifestações populares. Por outro lado entendemos a religião
Ungombo Katuvanjesi como pratica política regimentada por crenças e dogmas.
Jornalista, bacharel
em Direito e Ang olano Nesse caso, o candomblé é uma religião por religar o homem
por direitos ancestrais. a Deus (Zambe), através de sua filosofia e saberes ancestrais a
Dirigente tradicional da partir de um corpo sacerdotal e, ao mesmo tempo, somos uma
Ombala Tumbansi, casa de religiosidade por estarmos abertos a crença e a diversas praticas
Candomblé Angola Kongo populares espalhadas pelo Brasil.
Localizada em Itapecerica
da Serra, Estado de São
Paulo/ Brasil.
ILABANTU - Ombala Tumbansi | Junho / Julho / Agosto 2019 3
SABERES TRADICIONAIS NO
CANDOMBLÉ DE ANGOLA
Tradição oral: relatos orais de mitos relacionados aos Mukichi, antigos sacerdotes e
entidades; Medicina popular: saberes relacionados às ervas, plantas e sementes;Qualidade
de vida: saberes relacionados ás regras de convívio e socio-habilidades; Artesanato e costura:
relacionados á confecção e costura de adereços aos Bankisi; Toques e ritmos de origem africana;
Cuidados com o corpo e com o espírito, através da dança ritual e das limpezas no campo
físico e espiritual; O respeito para com a vida e natureza, a partir do contato com a natureza o
culto do candomblé de congo-angola respeita e convive com a diversividade no contato entre o
homem e a natureza pois em tudo há nguzu (força vital).
PRÁTICAS TRADICIONAIS
No Nzo além de cultuarmos divindades de origem bantu, como Nkosi, Katende, Mutaloombo,
Ndanda-Nlunda, Nsumbu, Kavungu, Kingongo, Kitembu (Tempo), Nvunji, Uambulu Nsena, Kaiongo,
Kapanzu, Nzumba, Kuk`etu, Kaité, Samba Kalunga, Kaitumba, Ngangalumbanda, Nlemba, Nkasuté,
temos em nosso cotidiano diversas praticas litúrgicas como: plantio e colheita de ervas, refeições
servidas a comunidade religiosa e extra religiosa, aconselhamento através das entidades (caboclo/
marinheiro) e orientações através do jogo de búzios (kassueto e sanburá).
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INSTITUTO
LATINO
AMERICANO conhecimentos e da
cosmovisão trazidas
direito privado, sem fins pessoa, constituída pelo filosofia do ser humano,
lucrativos e econômicos, corpo, mente, cultura da coletividade humana
de caráter sociocultural, e principalmente, pela e da relação destes
com o enfoque prioritário palavra. A palavra com seres com a natureza e o
na manutenção, um fio condutor da sua universo como veremos
preservação e formação de própria história, do seu mais adiante. Atualmente,
agentes multiplicadores próprio conhecimento da o ILABANTU está presente
dos saberes e fazeres existência. A população, com representação através
tradicionais, atuando no a comunidade é expressa dos seus representantes
fortalecimento de ações pela palavra Bantu. A em 12 estados da
políticas que viabilize a comunidade é histórica, é unidade da federação
promoção da igualdade uma reunião de palavras, brasileira, organizados em
racial como forma de como suas existências. Coordenações da seguinte
enfretamento do racismo No Ubuntu, temos a forma: Região Nordeste:
e empoderamento dos existência definida pela Bahia (Salvador e Ilhéus),
povos e comunidades existência de outras Pernambuco (Recife),
tradicionais de existências. Eu, nós, Ceará (Juazeiro do Norte),
matriz africana e afro existimos porque você e Rio Grande do Norte
brasileira. ILABANTU, os outros existem; tem (Natal). Região Norte:
NTU, MUNTU, BANTU e um sentido colaborativo Amazonas (Manaus);
MBUNTU são termos da existência humana To c a n t i n s ( Pa l m a s ) R e g i ã o
que dão significado a coletiva. As línguas S u d e s t e : S ã o Pa u l o ( S ã o
esta Instituição. NTU o são um espelho das Pa u l o ) ; M i n a s G e r a i s ( B e l o
principio da existência de sociedades e dos seus Horizonte, São Lourenço,
tudo. Na raiz filosófica meios de nomear os seus Juiz de Fora); Rio de
africana denominada conhecimentos, no sentido Janeiro (Rio de Janeiro,
de Bantu, o termo material, imaterial, Nova Iguaçú, São João de
NTU designa a parte espiritual. O ILABANTU Mereti, Duque de Caxias);
essencial de tudo que vem se empenhando Espirito Santo (Vitória,
existe e tudo que nos na organização das Cariacica, Linhares)
é dado a conhecer à línguas Bantu que reflete R e g i ã o S u l : Pa r a n á
existência. O Muntu é a organização de uma (Curitiba)
CERIMÔNIA A
TAT’ETU K AVUNGU
CELEBR A 100 ANOS
DO TUMBA JUNSAR A
D r. Manuel D avid Mendes, D eputado da Assembléia Nacional de Angola, S ra Elza, Kota
S ualankala, do Ter reiro do Bate Folha, e D r. Salvador Freire dos Santos, presidente da ONG
Mãos Livres de Angola.
DESCENDENTES DOS
BANTU NO BRASIL
CONHECEM A RAINHA
DIAMBI KABATUSUILA
Dia 14 de março logo pela manhã foi a vez de visita a Santos, maior
cidade do litoral sul paulista. Recepcionada no Paço Municipal por
autoridades e representantes do movimento negro.
um trabalho de descolonização das Paris Descartes, ex-Perita da ONU, professor doutor Richard Freeman,
mentes em seus terreiros. Além professora visitante da Universidade presidente da Fundação Joe Beasley,
disso, salientaram que é necessário de Berkeley (EEUU). Ela fala sobre sediada em Atlanta, Estados Unidos,
se posicionar de forma consciente o racismo estrutural e estruturante sobre o racismo nos EUA e de suas
diante das facilidades advindas do e como o capitalismo influencia percepções do racismo estrutural
mundo tecnológico em que tudo diretamente na manutenção desse no Brasil. A última mesa do dia
precisa ser lançado nas redes, racismo. Ela é filha de Frantz Fanon, foi composta por Deivison Nkosi
observaram que é importante se um psiquiatra, filósofo francês da falando de seu livro “Frantz Fanon –
conscientizar que compartilhar algo Martinica que foi um influente Um Revolucionário Particularmente
que aparentemente seja inofensivo, pensador do século XX sobre Negro” e Inatoby Pedro Neto, Ilé Àse
talvez colabore para um pensar os temas da descolonização e a Pàlepà Màrìwò Sessu – SP, cientista
e um estereotipar as religiões de psicopatologia da colonização. social, produtor cultural, diretor
matriz africana. O dia seguiu com uma palestra da Àgo Lònà Associação Cultural e
Sábado, dia 9, o evento continuou do Diretor do Gabinete Provincial Consultor do PNUD/ONU de 2015
com uma mesa composta pelo da Cultura, Turismo, Juventude, e a 2018. Para finalizar, houve uma
renomado babalorixá Rodney Desportos da Província do Zaire, Roda de Capoeira, do Mestre Zelão e
William, de Oxóssi, Antropólogo, norte da República de Angola, o capoeiristas convidados.
e a Filósofa Djamila Ribeiro que professor Biluka Nsakala Nsenga, Para o último dia, fora
abordaram “Movimentos Negros e falando sobre A história do Reino remanejado a fala do Egbomy
os Direitos Humanos e Feminismo Kongo e a cidade espiritual Renato Kilombola Urbano, d`Ògún
Negro e a Descolonização”. Tais e ancestral Mbanza Kongo, que apresentou sua pesquisa
temas serviram de base para tal contribuição apresentou acadêmica sobre espaços negros
a Conferência Magna feita pela um reconhecimento entre os da maior capital brasileira e latino-
convidada especial Mireille Fanon Bantu brasileiros e africanos. americana e a quarta maior do
Mendes France, da Universidade Posteriormente ocorreu a fala do mundo.
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CINEASTA KONGOLÊS
VEM AO BRASIL FAZER
DOCUMENTÁRIO COM
TAATA KATUVANJESI
Graduado em ciências políticas somente com o público africano companhia de Diba Dance.
e administrativa pela Universidade mais também com o maior público Fundou a sua companhia de Teatro,
Crista Cardeal Malula de Kinshasa, do mundo através de suas obras Virunga Teatro e a Casa de Cultura
em seu País de origem. Proprietário cinematográficas. Conta fazer do filme Labson Cultur’arts em Kinshasa em
e gestor principal da Empresa de um remédio que poderá fazer viver o 2004, criou o Festival Solo ou Mosi,
produção cinematográfica Labson homem mais tempo possível. um festival de artes cênicos em solo
Bizizi-Cine Kongo limitada e da Fez a sua primeira aparição ou one man show o qual conheceu
Empresa de distribuição de filmes cinematográfica como ator principal a sua primeira edição em 2005 e
Afrika Bizizi Distribution Ltda., em na curta metragem «Um Vírus na segunda em 2007 na cidade de
Londres e em Kinshasa, fundador da Escola» de Alain Ndotoni em 1999. Kinshasa. Trabalha em 2006 com a
Escola Panafricana de Cinema “Kongo Atuou em muitas peças teatrais e Televisão Canal 5 depois com o Centro
Bizizi Academia”, Bizizi Box e membro contos tais como «Shella» 1998, Cultural Mbongi’Eto do Griot Ne
da Guilda dos Produtores do Reino «Pasteur Contre Evangéliste» 1999 Nkamu e o projeto Kiamvu – a ponte
Unido e da Producer Guild (PGGB). em Companhia de Heaven Boyz, sendo encarregado de comunicação
Artista engajado, tendo passado «Cri de Détresse et Ne Kunda Nlaba e repórter. Decidiu consagrar a sua
pelo teatro, o rap, a dança – Biografía d’Espoir» em 2005, « carreira no cinema em 2007, cria a
contemporânea, a fotografia, o Nsengane» (Conto) em 2007 com sua Empresa de produção Labson
rádio, a televisão; reúne toda essa Virunga Teatro e também participou Bizizi-Cine Kongo e produz a sua
experiência e longo percurso para na criação de espetáculos de danças primeira curta metragem de horror
exprimir a sua visão do mundo contemporâneas tais como « Na «The Next » em 2009, Londres, onde
e também para se conectar não Nini? » e « Batalha Sem Fim» em reside.
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ANCESTRALIDADE BANTU:
TATA KATUVANJESI FAZ
VISITA HISTÓRICA AS
TERRAS DE NJINGA MBANDE
No dia 23, uma segunda-feira, foi viagem para as terras de Ngola tradicionais no mesmo nível e em
recebido na capital principal do país Kiluanje Kia Samba e Njinga Mbande pé de igualdade dos dois Monarcas
africano pelo secretário do Reino do rumo a comunidade de Dala Samba, presentes, o Rei Cabombo (Ndongo)
Ndongo, historiador e jurista Carlos município de Marimba, capital do e do Bailundo, nas terras de Ngola
Njinga. Reino do Ndongo. Kiluanje Kia Samba e Njinga Mbande,
De Luanda, Katuvanjesi rumou Durante o percurso da viagem a lendária soberana angolana. Terras
para cidade de Malanje, cerca de de mais de 300 km era comum estas matriz de culturas tradicionais
375 km a nordeste de Angola, onde a presença de populares nas bantu, a exemplo de rituais de
aconteceu o primeiro encontro margens da estrada em que candomblé e outras manifestações
entre o Representante brasileiro, o passava a comitiva, aplaudindo e da ancestralidade dos bantu,
Soberano do Ndongo, Buba Nvula reverenciando a todo momento. No valores civilizatórios africanos que
Dala Mana, atual rei Cabombo, que município de Kahombo aconteceu aportou no Brasil com o advento da
é o 115º substituto do rei Ngola a primeira parada para um almoço famigerada escravidão colonial.
Kiluanje, nome que dá origem à tradicional e coletiva de imprensa. No final da tarde do dia 27
República de Angola, e o soberano Entrevista a TPA, mais importante finalmente a comitiva integrada por
do Bailundo, Armindo Francisco rede de televisão de Angola reis e rainhas chega a capital do
Kalupeteka Ekuikui V, rei do povo Tata Katuvanjesi participou de um Reino do Ndongo em grande festa,
Umbundu, para em seguida seguir conjunto de importantes celebrações um grupo integrado majoritariamente
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por mulheres cantavam e dançavam internacionalizado com a presença um monumento histórico com
em honra aos visitantes e palavras de Tata Nkisi Katuvanjesi. jazigos dos soberanos para
de saudação em alto e bom som O rei do Ndongo (Malanje), Buba enaltecer as figuras dos mesmos,
foram pronunciadas por um Soba Nvula Dala Mana “rei Cabombo”, preocupação que segundo disse,
na entrada principal do Reino, mostrou-se satisfeito pela interação já apresentada há muitos anos ao
foram efetuadas visitas em cada com o seu homólogo do Bailundo governo angolano. “Angola sabe
espaço, particularidades do e do visitante brasileiro, a quem o que tem que ser feito no local,
Reino, residências de dezenas de apresentou a espada, livros, corrente porque não se pode continuar
habitantes do Ndongo, as kuabata e outros instrumentos deixados com as estruturas atuais”, frisou,
(casas) construídas com paredes de pelo rei Ngola Kiluanje, bem como realçando que a semelhança do
barro e cobertura de capim. cinzas de uma fogueira que não que aconteceu nos túmulos dos
Em determinado momento o apaga, símbolos do poder tradicional reis de Mbanza Congo (Zaire) e
Soberano do Ndongo, rei Cabombo, usados para determinados fins. Bailundo (Huambo) por se tratar
relatou a historicidade do reino No dia 28, um sábado, foi a de importante patrimônio do país
do Ndongo e da Matamba, a vez de outra visita histórica, e da humanidade.
importância do grande monarca desta feita na comuna de Mukulu Sobre o papel histórico de Ngola
Ngola Kiluanje Kia Samba e a sua a Ngola, local onde estão os Kiluanje Kia Samba e da soberana
sobrinha, a Njinga a Mbande. túmulos onde repousam os reis do Ndongo e da Matamba,
Os feitos corajosos e argutos da Ngola Kiluanji Kia Samba, a rainha Katuvanjesi considerou-a “uma
soberana são ideais que continuam Njinga Mbande, entre outros figura lendária do seu tempo, que
a inspirar muitas pessoas no monarcas. Nesta localidade, o com a sua gesta heroica soube
mundo inteiro e um resumo deles guardião dos túmulos dos reis preservar a soberania dos povos
foi apresentado na fala do Rei do Ndongo, Lito Filipe da Cunha, de Angola e, por isso, tornar-se
do Ndongo, anfitrião do encontro partilha da ideia de se construir num símbolo cultural e ancestral”.