8 Princípios Da Calçada
8 Princípios Da Calçada
8 Princípios Da Calçada
DA CALÇADA
Construindo cidades
mais ativas
WRICIDADES.ORG
AUTORAS
Paula Manoela dos Santos
Lara Schmitt Caccia
Ariadne Amanda Barbosa Samios
Lívia Zoppas Ferreira
PROJETO GRÁFICO
Néktar Design
Santarém/PA
ÍNDICE
Prefácio ...................................................................................... 7
Sumário Executivo ......................................................................... 9
Introdução ................................................................................... 15
Os 8 princípios da Calçada ............................................................... 19
1. Dimensionamento Adequado ......................................................... 23
1.1. Faixa Livre .................................................................................................................. 27
1.2. Faixa de Serviço ......................................................................................................... 31
1.3. Faixa de Transição ..................................................................................................... 35
2. Acessibilidade Universal .............................................................. 37
2.1. Rebaixamento da Calçada ........................................................................................... 41
2.2. Piso Tátil ..................................................................................................................... 48
2.3. Inclinação Longitudinal ............................................................................................... 51
3. Conexões Seguras ...................................................................... 55
3.1. Conectividade ............................................................................................................. 57
3.2. Esquinas ..................................................................................................................... 59
3.3. Faixa de Travessia de Pedestres .................................................................................. 63
3.4. Pontos de Parada e Estações doTransporte Coletivo ................................................... 68
4.Sinalização Coerente ................................................................... 71
4.1. Sinalização Informativa ............................................................................................... 74
4.2. Semáforos para Pedestres ........................................................................................... 77
5. Espaço Atraente ........................................................................ 81
5.1. Vegetação .................................................................................................................... 83
5.2. Mobiliário Urbano ....................................................................................................... 86
6. Segurança Permanente ................................................................ 91
6.1. Iluminação Pública ...................................................................................................... 94
6.2. Fachadas Ativas ........................................................................................................... 97
7. Superfície Qualificada ................................................................ 101
7.1. Concreto Moldado in Loco ........................................................................................ 105
7.2. Concreto Permeável ................................................................................................... 108
7.3. Blocos Intertravados .................................................................................................. 110
7.4. Ladrilho Hidráulico .................................................................................................... 112
7.5. Placas de Concreto Pré-fabricadas ............................................................................ 115
8. Drenagem Eficiente ....................................................................121
8.1. Inclinação Transversal ................................................................................................ 124
8.2. Jardim de Chuva ........................................................................................................ 126
Considerações Finais .................................................................... 129
Bibliografia ................................................................................ 131
Rio de Janeiro/RJ
PREFÁCIO
As calçadas são veias abertas por onde pulsa urbanismo, obras, trânsito, acessibilidade,
a vida de uma cidade. Atendem a todos, meio ambiente, companhias de água,
sem qualquer distinção, democraticamente. esgoto, energia, entre outras) que nenhum
Servem de suporte para a maior parte dos se apropria inteiramente do compromisso.
deslocamentos diários e têm impacto direto
no coletivo, com influência na qualidade Imaginemos cidades com espaços adequados
de vida, na segurança, na cultura, nos para as pessoas caminharem, fachadas ativas,
negócios, na identidade dos lugares. iluminação de qualidade, acessibilidade
garantida, arborização abundante e bom
Ainda assim, a qualidade das calçadas é mobiliário urbano. O que aconteceria? Mais
um assunto secundário no planejamento gente andaria a pé e dependeria menos dos
das cidades brasileiras, indicativo do valor veículos, reduzindo as emissões de poluentes
dado aos espaços públicos no país. Como na locais e de gases do efeito estufa. As ruas
maior parte dos casos a responsabilidade com alta circulação de pedestres e estações
sobre os passeios fica a cargo dos de transporte coletivo ficariam mais seguras.
proprietários dos imóveis, as decisões nem O comércio ganharia clientela, os hospitais
sempre refletem os anseios da coletividade. receberiam menos pedestres acidentados.
Na esfera pública, são tantos atores As árvores contribuiriam para melhorar
envolvidos com o assunto (secretarias de o microclima, os cidadãos seriam mais
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 7
saudáveis por usar mais o corpo, e melhor quando se trabalham soluções envolvendo
seria a qualidade de vida. todos os interessados.
Olinda/PE
8 WRICIDADES.ORG
SUMÁRIO
EXECUTIVO
PRINCIPAIS RESULTADOS ▪▪
Para tornar possível a coordenação entre
os atores responsáveis pela construção,
▪▪
O espaço e a infraestrutura urbana dedicados aos manutenção e qualificação dessa infraestrutura,
pedestres devem ser prioridade nos investimentos é fundamental que ocorra o entendimento dos
públicos, visto que grande parte dos deslocamentos diferentes elementos da calçada.
nas cidades brasileiras são realizados a pé.
CONTEXTO
▪▪
As calçadas são espaços para a circulação e a
permanência dos pedestres e são compostas por Andar a pé é a forma mais democrática
elementos que vão além da pavimentação de de se locomover, o modo de transporte
faixas laterais às vias de tráfego de automóveis. mais antigo e o mais utilizado em todo o
mundo, além de ser uma forma saudável de
▪▪
Este guia propõe oito princípios para a transporte – tanto para as pessoas quanto
construção de espaços qualificados para para as cidades. Contudo, a dispersão das
pedestres, baseados em uma extensa revisão da cidades, fomentada por décadas de priorização
literatura nacional e internacional. à mobilidade motorizada, e a má qualidade das
calçadas desincentivam as pessoas a caminharem.
▪▪
Os elementos são descritos de forma objetiva, Pavimento sem qualidade, largura insuficiente
contemplando o projeto, os benefícios e para a circulação de pedestres, mobiliário urbano
exemplos reais de aplicação. e vegetação mal dimensionados, estacionamento
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 9
de veículos sobre o passeio e ocupação do espaço lacuna ao revisar o estado-da-arte e da prática e acadêmicos, lideranças políticas e representantes
da calçada pelo comércio de ambulantes são alguns condensá-lo de forma sistemática e sintetizada em de movimentos sociais no planejamento e na
dos desafios enfrentados pelas cidades brasileiras. recomendações práticas. construção de calçadas qualificadas.
A ação integrada e articulada entre diversos SOBRE O GUIA Este guia aporta um conteúdo original
atores é um desafio para o planejamento e sobre infraestrutura para pedestres
gestão das calçadas. A responsabilidade pela O guia 8 princípios da calçada sistematiza importante para países latino-americanos
infraestrutura e pelas políticas que regulamentam as referências mais relevantes em uma e africanos de língua portuguesa, pois a
esse espaço envolve agentes públicos e privados única publicação sobre construção de qualificação das calçadas é um tema de
com diferentes competências e atribuições. A calçadas que atendam às necessidades do relevância mundial. As cidades dos países em
falta de definição clara dos papeis desses agentes planejamento urbano. As informações são desenvolvimento vivem um momento oportuno
e de uma coordenação entre as ações resulta na expostas de forma objetiva e ilustrada, divididas para a democratização dos espaços públicos. Em
desatenção conferida a esse espaço público tão em oito princípios qualificadores das calçadas. vários países, movimentos sociais, entidades
essencial para a vitalidade urbana. Os princípios contemplam elementos da calçada, ativistas e a população em geral discutem o valor
benefícios e recomendações de implantação para de andar a pé e formas de incentivar a caminhada.
Não há um referencial sintetizado e que os projetos de infraestrutura para pedestres
qualificado, abrangendo referências sejam mais qualificados. Além disso, apresenta O WRI Brasil apoia as lideranças locais
nacionais e internacionais sobre as exemplos reais ou evidências das vantagens da na preservação do meio ambiente e
calçadas. Existem na literatura diretrizes para implantação correta dos elementos. em soluções que contribuam para o
a construção de calçadas espalhadas em diversas desenvolvimento sustentável. Atua com
fontes. Livros e relatórios sobre conceitos O objetivo deste guia é ampliar a visão da foco em pesquisa e aplicação de métodos nas
urbanísticos, guias com diretrizes municipais, função das calçadas para um espaço que áreas de clima, florestas e cidades. Por meio de
manuais de processos construtivos, legislações e oferece a possibilidade de convivência publicações e guias como este, busca disseminar
normas técnicas trazem de forma ampla todos os entre as pessoas. Os princípios ressaltam informações relevantes para que os tomadores
detalhes para a construção de calçadas. Entretanto, as características de um ambiente urbano de decisão estejam capacitados para colocar em
essas informações dispersas exigem um longo propício para a mobilidade de pedestres, mas prática projetos e políticas públicas que favoreçam
processo de sistematização para se tornarem também convidativo para que as pessoas se a qualidade de vida das pessoas.
ferramentas úteis para planejadores urbanos. relacionem mais com a cidade. O guia auxilia
Dessa forma, este guia vem preencher uma gestores e técnicos do setor público, consultores,
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Figura SE-1 | Os oito princípios da calçada e seus elementos
Segurança Permanente
Dimensionamento Adequado Iluminação pública
Espaço Atraente Sinalização Coerente Faixa livre
Vegetação Sinalização informativa Fachadas ativas
Faixa de serviço
Mobiliário urbano Semáforos para pedestres Faixa de transição
Drenagem eficiente
Inclinação transversal
Jardim de chuva
Superfície qualificada
Concreto moldado in loco
Conexões Seguras Acessibilidade Universal
Concreto permeável
Conectividade Rebaixamento da calçada
Blocos intertravados
Esquinas Piso tátil
Ladrilho hidráulico
Faixa de travessia de pedestres Inclinação longitudinal
Placas de concreto pré-fabricadas
Pontos de parada e estações
do transporte coletivo
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 11
Quadro SE-1 | Contribuição dos oito princípios na qualificação da calçada
CONCLUSÕES
12 WRICIDADES.ORG
Fortaleza/CE
caminhabilidade das cidades, é imprescindível que entre eles. O governo municipal deve gerenciar relacionados. Esses futuros profissionais serão
projetos de qualificação sejam integrados ao Plano todos os elementos das calçadas de forma aptos a realizar projetos urbanos mais sustentáveis
Diretor e ao Plano de Mobilidade Urbana. O uso integrada para garantir a qualidade dos e construir cidades voltadas para as pessoas.
misto do solo e a oferta de um transporte coletivo deslocamentos dos pedestres. Mesmo os elementos
de qualidade são componentes indispensáveis de da calçada que não forem de responsabilidade Recomenda-se a leitura deste guia em
uma cidade amigável ao pedestre. pública, podem ser fiscalizados com o auxílio das conjunto com o guia Acessos Seguros:
informações presentes neste guia. Diretrizes para Qualificação do Acesso às
RECOMENDAÇÕES Estações de Transporte Coletivo, também
Este guia pode apoiar a formação de de autoria do WRI Brasil. Cidades caminháveis
A qualificação das calçadas através dos especialistas em mobilidade a pé. Os exigem um transporte coletivo de qualidade para
8 princípios pode ser protagonista no projetistas urbanos devem travar conhecimento que os pedestres tenham acesso à cidade por inteiro,
processo de requalificação urbana. Para a respeito dos oito princípios da calçada ao longo sem depender do automóvel. Como cada viagem
tanto, os gestores públicos devem identificar da sua formação acadêmica. Este guia pode ser no transporte coletivo começa e termina com uma
os atores responsáveis pelos oito princípios da utilizado para instruir alunos de engenharia, caminhada, é necessário construir entornos de
calçada em sua cidade e promover a articulação arquitetura, geografia, design e outros cursos estações favoráveis para o transporte a pé.
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 13
Juiz de Fora/MG
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INTRODUÇÃO
Andar a pé é o meio de De qualquer forma, caminhar continua sendo espaços públicos pela população. São diversos os
uma necessidade básica, exercida cotidianamente benefícios que uma cidade pode ter ao valorizar e
transporte mais antigo e o
por todas as pessoas, ainda que também sejam qualificar suas calçadas. Elas têm o potencial de
mais recorrente em todo o usuários de outros meios de transporte. Por isso, a serem socialmente inclusivas, pois, uma vez que
mundo. No Brasil, 36% dos mobilidade a pé pode ser considerada uma prática acessíveis, aumentam a autonomia e a segurança
deslocamentos diários da transversal a todas as outras práticas sociais. Uma nos deslocamentos da população em geral. As
mobilidade acessível, além de garantir o direito calçadas também estimulam deslocamentos
população são realizados a
de ir e vir, contribui para a efetivação de outros ativos, o que incentiva uma vida mais saudável,
pé (ANTP, 2015). No entanto, direitos sociais, como educação, saúde e cultura. além de serem ambientalmente positivas, pois,
as pessoas estão caminhando ao promoverem a substituição dos deslocamentos
cada vez menos, seja pela A qualidade das calçadas deveria ser uma motorizados, contribuem para a diminuição das
prioridade das políticas públicas, de modo a emissões de gases poluentes.
dispersão das cidades e o
atrair mais pedestres e a tornar o espaço público
consequente aumento da agradável, atrativo e convidativo à permanência Entretanto, observa-se, nas cidades brasileiras,
motorização e das distâncias das pessoas, além de mais seguro para os uma baixa qualidade das calçadas ou, muitas
a serem percorridas, seja pela deslocamentos a pé. Ruas com mais vitalidade vezes, a ausência dessa infraestrutura. No Censo de
promovem sensação de segurança, beneficiam 2010, o IBGE pesquisou a situação das calçadas no
insegurança pública ou pelas
os comércios locais e aumentam a qualidade de entorno dos domicílios brasileiros. Os resultados
condições de caminhabilidade vida e o sentimento de valorização cidadã, o que mostram que, mesmo no entorno de moradias
que as calçadas proporcionam. potencializa a apropriação e o cuidado com os consideradas adequadas (servidas por rede geral
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 15
de abastecimento de água, rede geral de esgoto mobiliários urbanos, depósito irregular de lixo, uma boa parte da cidade em que as calçadas são
ou fossa séptica e coleta de lixo), apenas 80% das estacionamento proibido, avanço de propriedades realizadas por intermédio da autoconstrução ou
vias possuem calçadas e, nas áreas de residências particulares, até a ocupação das calçadas pelo mão de obra autônoma, geralmente com pouca
consideradas inadequadas (aquelas que não são comércio de ambulantes, demonstram a falta instrução para executar as obras nos padrões
servidas por nenhum dos serviços citados), esse de políticas públicas específicas para priorizar exigidos pelas normas de acessibilidade.
número reduz para 9%. No âmbito da acessibilidade a mobilidade a pé. O traçado, o material, a
universal, os dados são ainda mais desanimadores: geometria e o padrão variam conforme a realidade As secretarias de obras ou de urbanismo
apenas 5,8% das moradias consideradas adequadas socioeconômica da região em que está inserida e o influenciam e aprovam os projetos públicos e de
possuem rampas para cadeirantes em seu entorno, período de construção da calçada ou do bairro. A incorporações privadas que, por sua vez, serão
baixando para 0,2% no entorno de moradias presença de calçadas pode ser um bom indicador responsáveis por executar e manter as calçadas.
inadequadas (Brasil, 2012b). social e de qualidade de vida, uma vez que é Os agentes de trânsito deveriam fiscalizar o uso
possível relacionar a qualidade da mesma com a e os acidentes nas calçadas (barreiras, quedas,
Dados a respeito da realidade das calçadas são renda e o perfil econômico da região. fraturas etc.) e as infraestruturas de travessias,
ainda escassos, dificultando a elaboração de faixas de segurança e semáforos. As companhias
estudos e políticas públicas bem embasadas. A Outra dificuldade em relação ao planejamento e à de água, esgoto, iluminação e demais serviços
expectativa é a melhoria deste cenário, tendo em gestão das calçadas é o número de atores, públicos urbanos intervêm constantemente para acessar
vista que o número de organizações que trabalham e privados, que influenciam sua infraestrutura. sua infraestrutura que, em geral, se localiza nas
com incentivo da mobilidade a pé no Brasil está Os proprietários dos lotes são responsáveis pela calçadas. As secretarias de acessibilidade exigem
em expansão. Dados do Como Anda (Cidade Ativa execução e manutenção das calçadas, com exceção e garantem que as calçadas sejam acessíveis. As
e Corrida Amiga, 2017), pesquisa que mapeia essas daquelas previstas pelo plano de rotas acessíveis, secretarias de meio ambiente são responsáveis pela
organizações, revelam que 48% delas surgiram nos documento que elenca as calçadas a serem arborização e poda das espécies vegetais urbanas.
últimos cinco anos, concomitante à elaboração da executadas e mantidas pelo poder público para Assim, uma série de atores, com diferentes
Política Nacional de Mobilidade Urbana de 2012 garantir acessibilidade da pessoa com deficiência competências e atribuições, sem uma designação
(Brasil, 2012a). Em 1997, ano do surgimento do ou com mobilidade reduzida a todas as vias, clara de responsabilidades e sem uma articulação
Código de Trânsito Brasileiro, apenas 10% dessas inclusive aquelas com alto fluxo de pedestres, das ações, torna a regularidade e a continuidade
organizações já estavam em exercício promovendo sempre que possível de maneira integrada com das calçadas frágeis, e a gestão, uma questão
a mobilidade a pé. os sistemas de transporte coletivo de passageiros, bastante complexa nas cidades brasileiras.
conforme previsto na Lei Brasileira de Inclusão
Falta de pavimento de qualidade, larguras da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa Nesse contexto, cabe ao poder público assegurar
insuficientes e diversos tipos de obstáculos, desde com Deficiência) (Brasil, 2015). Também existe o direito da população de caminhar por calçadas
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de qualidade, seja por meio de incentivos discrepância é um reflexo da prioridade dada pelo
e fiscalização eficiente da construção pelos poder público ao tráfego dos modos motorizados,
proprietários, seja assumindo a responsabilidade o que acarreta a necessidade de se repassar aos
pela execução e manutenção permanente. Há, proprietários privados a responsabilidade da
no Brasil e no mundo, diversos exemplos de construção e manutenção de calçadas. Portanto,
administração das calçadas, com diferentes é imprescindível criar procedimentos claros e,
balanços entre as incumbências dos atores por meio de legislação municipal específica sobre
envolvidos e dividindo opiniões sobre qual o o assunto, garantir a qualidade dos espaços para
melhor modelo. Independente do padrão adotado pedestres estabelecendo critérios de construção,
pela cidade, é importante que as responsabilidades indicando os materiais que são aprovados para uso
estejam previstas na legislação municipal. e as formas apropriadas de manutenção.
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 17
Rio de Janeiro/RJ
18 WRICIDADES.ORG
OS 8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA
Esta publicação está Os problemas relacionados às calçadas nas cidades e qualificado, abrangendo tópicos além da largura
brasileiras começam com a falta de referências e do pavimento, e que influenciam na escolha das
estruturada em capítulos que
suficientes para que se faça a concepção, projeto e pessoas pela caminhada.
representam cada um dos execução de calçadas de qualidade. É ainda muito
oito princípios da calçada. frágil, no imaginário da população e dos projetistas Os oito princípios foram definidos através de
Cada princípio conta com e executores o que representa uma calçada de uma meta-análise de mais de 30 publicações
qualidade. Os oito princípios apresentados nesta internacionais e nacionais sobre espaço público
uma subdivisão interna com
publicação servem como norteadores para o urbano. Entre elas estão legislações, normas
diferentes elementos, que entendimento do que é essencial para que se técnicas, guias com diretrizes municipais, manuais
são explicados por intermédio produzam calçadas qualificadas. O detalhamento de processos construtivos, livros e relatórios sobre
de princípios de projetos, de cada um desses princípios, seus benefícios e conceitos urbanísticos, todos citados ao longo dos
aplicações, fornece as informações necessárias capítulos e no referencial bibliográfico. A partir
benefícios, aplicação e
para que muitos projetos de infraestrutura para da leitura das publicações, foram identificados os
evidências, além de imagens pedestres sejam mais qualificados no país. Esta atributos de calçadas bem projetadas e que eram
ilustrativas de práticas reais. publicação, portanto, oferece um caminho para citados com frequência em mais de uma publicação.
a concepção e construção de melhores projetos Os atributos foram, então, agrupados de acordo
de calçadas no país, auxiliando na superação do com o potencial resultado para o espaço urbano e
primeiro grande entrave para a qualidade dos a qualidade de vida das pessoas. Palavras-chave
passeios no Brasil: a falta de referencial sintetizado relacionadas a esses atributos foram utilizadas
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 19
Quadro I-1 | Os oito princípios da calçada, seus elementos e o resultado esperado da aplicação.
20 WRICIDADES.ORG
Salvador/BA
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 21
Porto Alegre/RS
22 WRICIDADES.ORG
1.
DIMENSIONAMENTO ADEQUADO
O dimensionamento adequado das calçadas permite que diferentes usos
ocorram sem conflitos e que os elementos urbanos não se tornem barreiras
aos deslocamentos dos pedestres. A calçada deve ser composta por
uma faixa livre de qualquer interferência, onde transitam os pedestres.
O mobiliário urbano, tal como os canteiros, as árvores e os postes de
iluminação ou sinalização, deve ser alocado na faixa de serviço. Para tornar
o acesso às edificações mais confortáveis e permitir a acomodação de
mobiliário dos estabelecimentos comerciais, a calçada deve ter uma faixa
de transição.
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 23
Figura 1.1 | Via prioritária para pedestres
Projetar a calçada para acomodar uma diversidade
Sinalização de via prioritária para pedestres em Erfurt, Alemanha, indica a possibilidade de tráfego livre de bicicletas e carga em dias de usuários e fluxos de forma apropriada é crucial
e horários restritos.
para garantir o cumprimento das suas funções na
mobilidade. Os fluxos de pedestres são bastante
flexíveis em relação a direção, velocidade e
ocupação dos espaços urbanos. Esses fluxos variam
conforme a velocidade média de caminhada dos
pedestres, que, por sua vez, está relacionada às
condições físicas das pessoas e às características
de declividade do local e da infraestrutura da
calçada. Normas técnicas e diretrizes municipais
estabelecem medidas mínimas para as calçadas;
entretanto, para oferecer conforto e incentivar
a caminhada, é preciso estabelecer larguras
compatíveis com a demanda no período de maior
movimento do dia. O dimensionamento do espaço
dedicado aos pedestres na via deve ter como
premissa a priorização dos deslocamentos de
pessoas e a democratização do espaço urbano.
24 WRICIDADES.ORG
Figura 1.2 | Dimensionamento adequado
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 25
Cidade do México/MEX
26 WRICIDADES.ORG
1.1.
FAIXA LIVRE
A faixa livre é a área da calçada destinada nos horários de pico, considerando o nível de trânsito, pedestres parados em frente a lojas ou
exclusivamente à livre circulação de pedestres. conforto de 25 pedestres por minuto a cada comércio de rua e o mobiliário urbano.
Definida pelo Código Brasileiro de Trânsito metro de largura;
como passeio, nela não deve haver nenhum K é igual a 25, que representa o fluxo de ▪▪
A largura da faixa livre é uma das características
tipo de obstáculo, equipamento urbano, pedestres por minuto que define o nível de principais de uma calçada acessível, que deve
infraestrutura, rebaixamento de guias conforto da calçada conforme a NBR 9050/2015; permitir que uma cadeira de rodas possa manobrar
para acesso de veículos ou qualquer outra ∑i é o somatório dos valores relativos aos fatores para voltar ou ultrapassar outra cadeira de rodas.
interferência, permanente ou temporária. de impedância, ou seja, elementos junto à calçada
que são contornados pelos pedestres: 0,45 m ▪▪
Faixas livres bem dimensionadas valorizam
PRINCÍPIOS DE PROJETO junto a vitrines ou comércio no alinhamento; áreas turísticas e de lazer quando permitem que
0,25 m junto a mobiliário urbano; 0,25 m junto à casais, amigos e famílias andem juntos.
▪▪
O dimensionamento da faixa livre deve ser entrada de edificações no alinhamento.
calculado de forma a absorver com conforto um APLICAÇÃO
fluxo de 25 pedestres por minuto, em ambos os ▪▪
A altura livre de obstáculos aéreos deve ser de,
sentidos, a cada metro de largura, sendo 1,20 m a no mínimo, 2,10 m. ▪▪
O dimensionamento correto da faixa livre
largura mínima admitida. Assim, a determinação depende da demanda de pedestres e deve estar
da largura da faixa livre, em função do fluxo de BENEFÍCIOS associado a um diagnóstico do local, em especial
pedestres, é calculada com a seguinte equação: nos horários de maior fluxo.
▪▪
O dimensionamento correto da faixa livre torna
L=F/K+∑i≥1,20 m a calçada um local confortável e convidativo para ▪▪
Pontos de parada do transporte coletivo nunca
a prática da caminhada. devem ser alocados sobre a faixa livre da calçada,
Onde: pois induzem os pedestres a utilizar a via de
L é a largura da faixa livre; ▪▪
Calçadas que garantam a observância da faixa tráfego para ultrapassar as pessoas que bloqueiam
F é o fluxo de pedestres estimado ou medido livre evitam conflitos entre pedestres em a faixa livre ao aguardarem pelo ônibus.
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 27
Figura 1.1.1 | Desvio para pedestres em obras temporárias Figura 1.1.2 | Via compartilhada em centro histórico
Obras de qualificação das calçadas em Lisboa, Portugal, com desvios para pedestres pela via de Deslocamento de pedestres priorizado em via tombada pelo patrimônio histórico em Salvador, BA.
tráfego devidamente isolados com barreiras.
28 WRICIDADES.ORG
▪▪
Obras temporárias de manutenção ou instalação CASOS E EVIDÊNCIAS REFERÊNCIAS E
de equipamentos que interfiram na faixa livre ORIENTAÇÕES ADICIONAIS
devem ser sinalizadas e isoladas, assegurando A cidade de Londres, na Inglaterra, elaborou
a largura mínima de passagem de 1,20 m, ou um guia para o dimensionamento de larguras de ABNT (2015) NBR 9050: Acessibilidade a
desvio pela via de tráfego através de rampa calçadas visando a projetos de passeios e faixas edificações, mobiliário, espaços e equipamentos
provisória com largura mínima de 1 m e de travessia compatíveis com o volume e tipo urbanos. Rio de Janeiro. p. 74-77.
inclinação de 10%, devidamente sinalizado. de usuários de cada ambiente. Para a criação Brasil (2010) Manual de Projeto Geométrico de
desse documento, foi realizado um estudo com o Travessias Urbanas. Departamento Nacional de
▪▪
Em locais onde o dimensionamento adequado objetivo de avaliar aspectos do comportamento Infraestrutura de Transportes. Publicação IPR –
não é possível, tais como centros históricos e áreas dos pedestres. Além da medição do fluxo diário de 740. p. 100-101.
tombadas, outras opções devem ser exploradas, pedestres e da velocidade de caminhada, o estudo Brasil (2016) Caderno técnico para projetos de
como as ruas pedestrianizadas ou compartilhadas. contemplou o registro do número de pedestres mobilidade urbana: Transporte ativo. Ministério
que tiveram que alterar sua rota ou velocidade das Cidades. Brasília/DF, Brasil.
para desviar de interferências. Também foram Transport for London (2010) Pedestrian
medidas distâncias que as pessoas deixam entre si Comfort Guidance for London. Guidance
e entre elas e o mobiliário, dado importante para a Document, first edition. p. 25.
determinação da largura confortável para rotas de
pedestres. O estudo contemplou, ainda, entrevistas
para avaliar a percepção de conforto das pessoas
e a maneira como isso pode afetar suas ações
(Transport for London, 2010).
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 29
Figura 1.1.3 | Dimensionamento pelo fluxo de pedestres
A cidade de Londres, na Inglaterra, dimensiona as calçadas de acordo com o fluxo de pedestres de cada local.
30 WRICIDADES.ORG
1.2.
FAIXA DE SERVIÇO
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 31
▪▪
Os rebaixamentos para acesso de veículos devem também receberam um novo paisagismo, deixando
ser executados dentro da faixa de serviço, não o ambiente mais verde e agradável. O projeto
interferindo no nivelamento do piso da faixa livre. conferiu mais segurança aos pedestres, já que
as pessoas que antes utilizavam a via de tráfego
▪▪
As tampas de inspeção de serviços subterrâneos e para caminhar passaram a utilizar a calçada
grelhas de exaustão devem estar localizadas nessa reformada. Os responsáveis pelo projeto estimam
faixa. Quando isso não for possível, as grelhas não que a construção das calçadas tenha beneficiado
devem ter vãos maiores do que 15 mm e devem diretamente mais de cinco mil pessoas que vivem
ser instaladas transversalmente ao fluxo principal no bairro (Altamirano et al., 2008).
de pedestres, de modo que as aberturas não
representem perigo para os pedestres. REFERÊNCIAS E
ORIENTAÇÕES ADICIONAIS
▪▪
Tampas de caixas de inspeção e de visita devem
estar totalmente niveladas com o piso. ABNT (2015) NBR 9050: Acessibilidade a
edificações, mobiliário, espaços e equipamentos
CASOS E EVIDÊNCIAS urbanos. Rio de Janeiro. p. 74-77.
Altamirano, G.; J. Amaral; P. Silva. (2008)
O projeto Calçadas Verdes e Acessíveis reconstruiu Calçadas verdes e acessíveis melhoram a
calçadas no bairro Vila Pompéia, cidade de mobilidade, a permeabilidade e embelezam a
São Paulo, para remover os degraus formados paisagem urbana. Editora A9. São Paulo.
por rampas de acesso de veículos e melhorar a Brasil (2016) Caderno técnico para projetos de
acessibilidade para os pedestres. A faixa livre de mobilidade urbana: Transporte ativo. Ministério
circulação da calçada foi nivelada e as rampas de das Cidades. Brasília/DF, Brasil.
acesso para os veículos foram alocadas nas faixas
de serviço e de acesso aos imóveis. As calçadas
São Paulo/SP
32 WRICIDADES.ORG
Figura 1.2.1 | Rampa de acesso de veículos
Antes e depois de uma das calçadas do projeto Calçadas Verdes e Acessíveis em São Paulo, SP.
Antes Depois
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 33
1.3.
FAIXA DE TRANSIÇÃO
34 WRICIDADES.ORG
CASOS E EVIDÊNCIAS REFERÊNCIAS E
ORIENTAÇÕES ADICIONAIS Outros princípios da calçada relacionados
Em Amsterdã, na Holanda, as faixas de acesso com o dimensionamento adequado:
foram projetadas para incentivar os habitantes a ABNT (2015) NBR 9050: Acessibilidade a
permanecerem na rua. As calçadas de um quarteirão edificações, mobiliário, espaços e equipamentos 2. ACESSIBILIDADE UNIVERSAL
projetado por um escritório de arquitetura possuem urbanos. Rio de Janeiro. p. 74-77. 2.1 Rebaixamento de calçada
as faixas de acesso personalizadas para aumentar Brasil (2016) Caderno técnico para projetos de 3. CONEXÕES SEGURAS
a interação entre a moradia e a área pública. A mobilidade urbana: Transporte ativo. Ministério 3.4 Pontos de parada e estações
calçada se torna uma extensão da sala de estar das das Cidades. Brasília/DF, Brasil. do transporte coletivo
pessoas, proporcionando um local amplo de lazer. Karssenberg, H.; J. Laven; M. Glaser; M. Van 5. ESPAÇO ATRAENTE
Essa atmosfera gera um sentimento de segurança T’Hoff (2015) A cidade ao nível dos olhos: lições 5.1 Vegetação
nos pais que beneficia as crianças (Karssenberg et para os plinths. Segunda versão ampliada. 5.2 Mobiliário urbano
al., 2015). EdiPUCRS. Porto Alegre.
Faixa de transição com aproximadamente 1 m de largura para transformá-la em uma área de interação entre as pessoas. Amsterdã, Holanda.
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 35
Lisboa/PT
36 WRICIDADES.ORG
2.
ACESSIBILIDADE UNIVERSAL
Segundo o artigo 5º da Constituição Federal, que estabelece o direito de
ir e vir de todos os brasileiros, a calçada, como espaço público, deve ser
acessível a qualquer cidadão. A acessibilidade universal inclui pessoas
com as mais diversas características antropométricas e sensoriais: desde
pessoas com restrição de mobilidade, como usuários de cadeira de rodas e
idosos, até pessoas com limitações temporárias, como um usuário ocasional
de muletas, uma mulher grávida ou pais com um carrinho de bebê. Listar
essas características é uma boa forma de refletir sobre como atender às
necessidades de todos os usuários das calçadas.
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 37
Figura 2.1 | Acessibilidade universal
Rebaixamento Inclinação
da Calçada Piso Tátil Longitudinal
Fonte: elaborado pelos autores.
38 WRICIDADES.ORG
Box 2.1 | O DESENHO UNIVERSAL
O termo desenho universal¹ foi criado inicialmente com e executados sob a ótica do desenho universal. Para isso, das calçadas da cidade. Conhecida por suas ruas íngremes
o enfoque na eliminação de barreiras arquitetônicas nos o desenho dos elementos contidos nela, como mobiliário, e grandes escadarias, aparentemente o grande desafio seria
projetos de edificações e espaços urbanos. O objetivo sinalização, travessias e entradas de edificações, deve ser pensar em estratégias para vencer as inclinações das vias.
do conceito evoluiu e passou a ser uma característica de simples, para que sejam fáceis de usar independentemente No entanto, o diagnóstico revelou que a inclinação era a
espaços, objetos e sistemas que consideram a abrangência da experiência, conhecimento, proficiência linguística ou da razão da falta de acessibilidade de apenas 8% das calçadas
da diversidade humana, de forma a garantir o uso equitativo capacidade dos usuários de decodificar o ambiente urbano. da cidade. As demais calçadas consideradas inacessíveis
e de forma autônoma de todos os componentes do ambiente. As distâncias a serem percorridas e o dimensionamento de apresentavam outros tipos de barreiras, como larguras
São características de calçadas com desenho universal: espaços públicos não devem submeter as pessoas a um insuficientes para o trânsito de pedestres e veículos
a adaptabilidade a todas as pessoas, o uso simples e esforço adicional ou a um cansaço físico que poderia ser estacionados em cima do passeio.
intuitivo, a tolerância às falhas que os pedestres possam evitado ou minimizado. Os espaços da cidade devem ser
cometer durante a caminhada e o requerimento de baixo mais compreensíveis, antevendo as necessidades de pessoas A partir do diagnóstico, a prefeitura de Lisboa criou o Plano
esforço físico. Esses aspectos contribuem não apenas com com perda de visão ou audição, que não saibam ler ou que de Acessibilidade Pedonal (Gouveia, 2013), que tem por
a melhoria da mobilidade, mas também com o aumento da não entendam o idioma local, criando soluções diferenciadas objetivo impedir a criação de novas barreiras, adaptar as
segurança viária, uma vez que facilitam a transição da rua com elementos visuais, coloridos, táteis e sonoros. edificações existentes e mobilizar a comunidade para a
para a calçada para os pedestres. criação de uma cidade para todos. Esses objetivos serão
Tornar as vias urbanas mais acessíveis é um desafio. operacionalizados nas vias públicas, nos equipamentos
O conceito de desenho universal está definido na Lei Federal O receio de iniciar um planejamento para a adequação municipais, na rede de transporte coletivo e na fiscalização
13.146/15 (Estatuto da Pessoa Com Deficiência) e na Lei sistemática do ambiente tem origem na falta de dados que de obras privadas. Além disso, o plano também prevê ações
Federal 10.098/00, que estabelece normas gerais e critérios permitam o dimensionamento real do trabalho a ser feito. para solucionar desafios transversais, como, por exemplo,
básicos para a promoção da acessibilidade. Todos os Para contornar essa deficiência, a prefeitura de Lisboa a formação de novos planejadores urbanos e a criação de
elementos que compõem as calçadas devem ser planejados realizou uma pesquisa para diagnosticar a acessibilidade locais acessíveis de votação.
¹ Concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a serem usados por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou de projeto específico, incluindo os recursos de tecnologia assistiva.
Fonte: elaborado pelos autores.
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 39
Figura 2.2 | Garantindo o desenho universal
As orientações definidas pelo Plano de Acessibilidade Pedonal de Lisboa, Portugal, incluem garantir a acessibilidade aos pedestres
mantendo a calçada de caráter histórico nas laterais da faixa livre.
São características de
calçadas com desenho
universal: a adaptabilidade
a todas as pessoas, o
uso simples e intuitivo, a
tolerância às falhas que os
pedestres possam cometer
durante a caminhada e
o requerimento de baixo
esforço físico.
40 WRICIDADES.ORG
2.1.
REBAIXAMENTO DA CALÇADA
▪▪
A largura mínima do rebaixamento deve ser
1,50 m, porém é indicado que a rampa tenha a
mesma largura da faixa de travessia.
▪▪
A inclinação deve ser a mesma em toda sua
extensão e não pode ser superior a 8,33% (1:12)
no sentido longitudinal da rampa.
▪▪
Além da área ocupada pelo rebaixamento
perpendicular ao meio fio da calçada, deve ser
garantida uma faixa livre de, no mínimo, 1,20 m.
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 41
Figura 2.1.2 | Tipos de rebaixamento
O atendimento de medidas e inclinações dos rebaixamentos de calçada são determinantes para proporcionar acessibilidade.
REBAIXAMENTO
PERPENDICULAR AO MEIO-FIO Rebaixamentos alinhados com a
faixa de travessia de pedestres
Inclinação: 8,33% [Máximo]
]
Mínimo
1,50m [
1,50m [Mínimo]
REBAIXAMENTO
PARALELO AO MEIO-FIO
Fonte: elaborado pelos autores.
42 WRICIDADES.ORG
▪▪
Esse elemento deve ter boas condições de ▪▪
Melhora as condições de acessibilidade da via, devem ser consideradas, uma vez que, em geral,
drenagem e escoamento para evitar a formação ajudando a travessia de pedestres em geral, em representam os trajetos mais curtos e diretos.
de poças d’água. especial pessoas com mobilidade reduzida e
pessoas portando dispositivos com rodas, como ▪▪
É desejável que as travessias elevadas sejam
▪▪
O rebaixamento não pode criar obstáculo ao carrinhos de bebê e carrinhos de mão. instaladas em vias com limite de velocidade
deslocamento longitudinal dos pedestres na calçada. permitida inferior a 40 km/h. Assim, em alguns
APLICAÇÃO casos, são construídas lombadas que precedem
▪▪
Os rebaixamentos dos dois lados da travessia a travessia, como forma de reduzir a velocidade
devem, preferencialmente, estar alinhados entre si. ▪▪
O rebaixamento das calçadas pode ser instalado dos veículos.
nas esquinas ou em meio de quadra.
BENEFÍCIOS ▪▪
O rebaixamento de calçada junto à faixa de
▪▪
Os rebaixamentos devem ser construídos na travessia de pedestres é obrigatório.
▪▪
Promove a concordância de nível entre a calçada direção do fluxo da travessia de pedestres. As
e a via de tráfego. linhas de desejo de deslocamento dos pedestres
Curitiba/PR
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 43
Figura 2.1.3 | Rebaixamento paralelo ao meio-fio
CASOS E EVIDÊNCIAS
Rebaixamento total da largura da calçada em Porto Alegre, RS.
A B
44 WRICIDADES.ORG
Figura 2.1.4 | Rebaixamento perpendicular ao meio-fio
Calçada com espaço suficiente para comportar rebaixamentos perpendiculares ao meio-fio, alinhados entre si e com a faixa de travessia
de pedestres. Inglaterra, RU.
que as cidades tenham informações coerentes do
grau de acessibilidade das calçadas, integradas às
ferramentas modernas de geotecnologia. Em uma
avaliação de mais de mil interseções em quatro
cidades norte-americanas, o Tohme registrou
um número similar ao cadastramento manual de
rebaixamento de calçadas, com redução de 13% do
tempo gasto pelas pessoas. Espera-se que o Tohme
possa futuramente ser agregado a um visualizador
do mapa de calor de acessibilidade da cidade ou
a um sistema de navegação que recomende rotas
acessíveis (Hara et al., 2014).
Resultado real da avaliação realizada com o Tohme: (a) imagem do Google Street View, (b) resultados da detecção do rebaixamento de calçada pelo computador (com nível de confiança mais elevado em
vermelho claro) e (c) resultados após a verificação crowdsourced.
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 45
Figura B2.1.1 | Desafio para idosos
REFERÊNCIAS E
Calçadas não acessíveis induzem idosos a caminharem pela rua em Olinda, PE.
ORIENTAÇÕES ADICIONAIS
46 WRICIDADES.ORG
Box 2.1.1 | AS CIDADES ESTÃO PREPARADAS PARA UMA POPULAÇÃO IDOSA?
Estima-se que, em 2060, os idosos somarão um terço da ▪ instalação de travessias com boa visibilidade pelos
população brasileira, o que trará impactos em diversos motoristas;
setores do país. Um deles é a mobilidade nas cidades,
uma vez que, com a idade, aumentam também os riscos de ▪ reparos no meio-fio e nas rampas de acesso danificadas;
acidentes no trânsito, como quedas e atropelamentos. Essa
tendência exige que o planejamento urbano, mais do que ▪ instalação de ilhas de refúgio ou canteiros centrais;
nunca, contemple medidas de segurança para pedestres. A
diminuição da capacidade de visão, a falta de atenção no ▪ estreitamento de vias com técnicas de moderação de
tráfego, a mobilidade reduzida, as condições de saúde, a tráfego;
fragilidade e a redução da velocidade para realizar travessias
são fatores que expõem os pedestres idosos a riscos na ▪ conscientização pública sobre as necessidades de
convivência com o ambiente urbano. segurança de pedestres idosos;
Segundo a Organização Mundial da Saúde (2013), algumas ▪ redução dos limites legais de velocidade;
medidas podem ser implementadas para aumentar a
segurança dos pedestres idosos: ▪ reforço da fiscalização das leis sobre limites
de velocidade e condução sob efeito de álcool.
▪ aumento do tempo para o pedestre em travessias
semaforizadas;
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 47
2.2.
PISO TÁTIL
PRINCÍPIOS DE PROJETO
▪▪
O piso tátil deve ser de material rígido e
antiderrapante sob qualquer condição, com cor
contrastante com o piso do entorno.
▪▪
Quando o piso tátil for de peças de concreto e
integrado à superfície do piso da calçada, não
deve haver desnível.
48 WRICIDADES.ORG
APLICAÇÃO CASOS E EVIDÊNCIAS mas também pela capacidade de entendimento das
pessoas que o utilizam, suas experiências passadas
▪▪
O piso tátil direcional deve ser implantado: Como a necessidade de orientação e a quantidade com piso tátil, o tipo de bengala e da técnica de
contornando o limite de lotes não edificados, de potenciais perigos variam de lugar para lugar, toque aplicada.
como postos de gasolina, acessos a garagens é difícil definir recomendações para a instalação
e estacionamentos, ou quando a edificação do piso tátil que contemplem de forma adequada Redes de calçadas são ambientes complexos
estiver recuada; a variedade de situações existentes no ambiente que permitem caminhos com diversas origens,
no eixo da faixa livre da calçada ou posicionado
urbano. Quando instalado, o piso tátil se torna destinos e trajetórias. O caminho definido
de acordo com o fluxo de pedestres, no caso de parte de um ambiente que já é complexo por si só. pelo piso tátil direcional deve indicar essas
calçadões ou passeios localizados em parques ou Esse ambiente contém uma série de informações variações, combinado com o fornecimento de
áreas não edificadas; táteis e sensoriais, podendo gerar uma interação esclarecimentos adicionais sobre localização e
transversalmente à calçada, marcando as áreas
negativa entre os elementos existentes e o piso centros de interesse. As informações podem ser
de travessia, e alinhado ao foco semafórico (ou tátil instalado. A perceptibilidade do piso tátil é disponibilizadas em páginas na internet ou com
semáforo para pedestres), quando houver; influenciada não só por suas características físicas, mapas táteis, mas também podem ser fornecidas
transversalmente à calçada, identificando o acesso
a passarelas elevadas e travessias subterrâneas;
Figura 2.2.2 | Piso tátil sobreposto
▪▪
O piso tátil de alerta deve ser implantado em: Calçada com piso tátil instalado sobre a superfície da calçada. Porto Alegre, RS
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 49
à população em treinamentos organizados por podem contribuir para melhorar a funcionalidade
empresas de transporte e executados por técnicos do piso tátil como complemento de orientação;
de mobilidade. ampliar e assegurar a qualidade desses novos
serviços é uma nova necessidade para as cidades
O piso tátil de alerta pode se tornar incômodo (Grunwald, 2008; Pirttimaa, 2016; Ross Atkin
quando instalado em larga escala. Além de não Associates, 2015).
ser autoexplicativo, o piso tátil de alerta apenas
informa ao usuário que existem elementos ao seu REFERÊNCIAS E
redor, mas, sem o conhecimento exato de sistemas ORIENTAÇÕES ADICIONAIS
de orientação, não fica claro que tipo de precaução
deve ser tomado − se uma mudança de direção, o ABNT (2015) NBR 9050: Acessibilidade a
término de um caminho indicado pelo piso tátil edificações, mobiliário, espaços e equipamentos
direcional, a entrada ou saída de uma edificação ou urbanos. Rio de Janeiro. p. 47-50.
um obstáculo aéreo. ABNT (2016) NBR 16537: Acessibilidade —
Sinalização tátil no piso — Diretrizes para
Tecnologias como o Responsive Street Furniture elaboração de projetos e instalação. Rio de
e o Blindsquare App são complementares ao Janeiro.
piso tátil e estão sendo desenvolvidas para Pirttimaa, I. (2016) Blindsquare App, Software
auxiliar pessoas que enfrentam qualquer tipo de de computador, Apple App Store, MIPsoft.
dificuldade ao caminhar pelas ruas da cidade. Grunwald, M. (Ed.) (2008) Human Haptic
O aplicativo é acionado pelo celular do usuário Perception: Basics and Applications. Springer.
e, no momento em que este passa por pontos Organização Mundial da Saúde (2013)
de referência, fornece informações sobre a rua Segurança de Pedestres: Manual de Segurança
onde a pessoa está e os serviços existentes nos Viária para Gestores e Profissionais da Área.
arredores, além de ativar serviços urbanos como o Ross Atkin Associates (2015) Responsive Street
aumento da intensidade da iluminação pública e Furniture.
dos tempos de travessia. Dispositivos como esses
Brasília/DF
50 WRICIDADES.ORG
2.3.
INCLINAÇÃO LONGITUDINAL
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 51
▪▪
Recomenda-se evitar outros fatores que, um banco de dados com as inclinações mínima,
combinados, agravam o impacto das inclinações máxima e média de 51.713 trechos de vias da
longitudinais elevadas, tais como larguras cidade. O conhecimento dessas especificidades
estreitas, superfícies irregulares e inclinação possibilita um melhor planejamento da mobilidade
transversal acima de 2%. urbana por parte do poder público. A expectativa é
que esse banco de dados possa estimular a criação
▪▪
Além de realizar modificações arquitetônicas de aplicativos que permitam o cálculo de rotas
nas calçadas de inclinações elevadas, acessíveis e ajudem a escolher a melhor opção de
recomenda-se fornecer sinalização indicando a transporte (BHTRANS, 2016).
inclinação longitudinal da calçada e informar
os usuários sobre rotas alternativas com REFERÊNCIAS E
inclinações menores. ORIENTAÇÕES ADICIONAIS
Belo Horizonte/MG
52 WRICIDADES.ORG
Figura 2.3.1 | Mapa de declividade de Belo Horizonte
Diferente das rampas
construídas dentro de
edifícios, as vias podem se
estender com inclinações
contínuas por vários
quarteirões, dificultando a
subida por pedestres mais
vulneráveis.
3. CONEXÕES SEGURAS
3.2 Esquinas
3.3 Faixa de travessia de pedestres
7. SUPERFÍCIE QUALIFICADA
7.1 Concreto moldado in loco
7.2 Concreto permeável
7.3 Blocos intertravados
7.4 Ladrilho hidráulico
7.5 Placas de concreto pré-fabricadas
8. DRENAGEM EFICIENTE
8.1 Inclinação transversal
Fonte: BHTrans, 2016.
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 53
Belo Horizonte/MG
54 WRICIDADES.ORG
3.
CONEXÕES SEGURAS
Além das calçadas, o caminho percorrido pelos pedestres envolve também outros
espaços urbanos, como interseções, travessias, becos, escadarias e pontos
de parada do transporte coletivo. É importante que as conexões entre esses
elementos sejam acessíveis e seguras para criar uma rede de mobilidade a pé.
Travessia de pedestres
56 WRICIDADES.ORG
3.1.
CONECTIVIDADE
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 57
pela população, como a falta de visibilidade, REFERÊNCIAS E Becos, escadarias, galerias
pouca iluminação, irregularidade do piso e falta ORIENTAÇÕES ADICIONAIS
de corrimãos, foram solucionados. As questões e passagens podem se
culturais e territoriais do local também foram
diagnosticadas pela pesquisa, que identificou os
Cidade Ativa (2017) Olhe o Degrau Cotoxó:
arte e cores para quem caminha. 2017.
tornar espaços para o
desejos e sonhos dos frequentadores da escadaria. Disponível em https://www.cidadeativa.org. desenvolvimento de
Essa identidade foi incorporada ao projeto e br/single-post/2017/02/06/Olhe-o-Degrau-
registrada pelos grafites de artistas que iniciaram Cotox%C3%B3-arte-e-cores-para-quem- atividades sociais, culturais
sua carreira no local. A reforma da escadaria foi caminha. Acesso em 12 fevereiro 2017.s. Rio de
realizada pela Brookfield Incorporações (Cidade Janeiro. p. 47-50. e econômicas.
Ativa, 2017). City of New York (2010) Active Design
Guideline. Promoting Physical Activity and
Health Design.
58 WRICIDADES.ORG
3.2.
ESQUINAS
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 59
Figura 3.2.1 | Ângulo de visibilidade nas esquinas
na faixa livre de circulação e na visibilidade
Visibilidade do condutor em esquinas sem extensão de meio-fio. Visibilidade do condutor em esquinas com extensão de meio-fio. entre pedestres e motoristas.
▪▪
As esquinas com extensão de meio-fio previnem
fisicamente o estacionamento ilegal perto das
interseções e travessias.
APLICAÇÃO
▪▪
Para evitar restrições de visibilidade entre
pedestres e motoristas, é recomendado que a
distância do início da faixa de estacionamento
permitido junto ao meio-fio seja posicionada em
relação à esquina de acordo com a velocidade
permitida na via.
▪▪
Em vias onde os ônibus param na faixa de
tráfego, as extensões de meio-fio podem ser
usadas em meio de quadra para definir o local de
parada e criar uma área de espera adicional com
espaço para abrigo, bancos e outras facilidades
para os passageiros.
Fonte: elaborado pelos autores.
60 WRICIDADES.ORG
Quadro 3.2.1 | Distância entre o início da faixa de estacionamento e a esquina relacionada à velocidade da via.
CASOS E EVIDÊNCIAS
VELOCIDADE LIMITE DA VIA (KM/H) INÍCIO DA FAIXA DE ESTACIONAMENTO COM RELAÇÃO À ESQUINA (M)
As evidências das cidades latino-americanas
mostram que a probabilidade de atropelamentos Entre 30 e 50 6
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 61
Figura 3.2.3 | Extensão do meio-fio em esquinas
REFERÊNCIAS E
Extensão de meio-fio reduz a distância de travessia e previne o estacionamento de veículos perto das interseções. Joinville, SC.
ORIENTAÇÕES ADICIONAIS
62 WRICIDADES.ORG
3.3.
FAIXA DE TRAVESSIA DE PEDESTRES
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 63
Figura 3.3.1 | Faixa de travessia elevada
Faixas de travessia elevadas atuam como redutores físicos de velocidade veicular. Londrina, PR.
64 WRICIDADES.ORG
Figura 3.3.2 | Tipos de faixas de pedestre
BENEFÍCIOS
Faixa de travessia zebrada. Faixa de travessia com duas faixas paralelas.
▪▪
Faixas de travessia sinalizam um ponto de
prioridade para a travessia segura de pedestres,
além de destacar uma área de conflito entre
pedestres e veículos motorizados.
▪▪
Faixas de travessia de pedestres são essenciais
para a configuração de uma rede segura de
caminhabilidade, sendo complementares a
calçadas, escadarias, elevadores, travessias
elevadas, entre outros elementos.
▪▪
Faixas de travessia elevada atuam como
redutores físicos de velocidade veicular e
aumentam a percepção dos condutores sobre
a presença de travessia de pedestres. Devem
ser instaladas em vias com limite de velocidade
inferior a 40 km/h.
▪▪
Todas as faixas de travessia de pedestres devem
ser cuidadosamente projetadas ou auditadas
para garantir a segurança dos usuários.
▪▪
Faixas de travessias de pedestres devem
As faixas de travessias de pedestres representadas por
receber iluminação especial nos locais com
sinalização horizontal na via indicam um caminho de
deficiência de iluminação pública, devido à
recorrência de atropelamentos noturnos e em conexão segura entre calçadas.
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 65
locais próximos a polos geradores de tráfego ▪▪
A instalação da faixa de travessia na diagonal mesmo na presença de canteiros centrais e ilhas de
de pedestres, como escolas, terminais de pode ser estudada no caso de altos fluxos de refúgio (Global NCAP, 2016).
transporte coletivo e hospitais. pedestres e múltiplas fases semafóricas para
a travessia diagonalmente oposta. A medida REFERÊNCIAS E
▪▪
A faixa de travessia de pedestres deve ser facilita o deslocamento de pedestres por permitir ORIENTAÇÕES ADICIONAIS
utilizada em locais onde existe a necessidade de a travessia em apenas uma etapa.
ordenar, regulamentar e conferir preferência à ABNT (2015) NBR 9050: Acessibilidade a
travessia de pedestres. CASOS E EVIDÊNCIAS edificações, mobiliário, espaços e equipamentos
urbanos. Rio de Janeiro. p. 78-79.
▪▪
A faixa de travessia zebrada deve ser utilizada em A simples pintura de faixas de travessia, sem a Brasil (2007) Manual Brasileiro de Sinalização
locais onde o volume de pedestres é significativo, associação a outros mecanismos para aumentar de Trânsito – Volume IV, Sinalização
independentemente da presença ou não de a segurança dos pedestres, pode representar um Horizontal. Conselho Nacional de Trânsito. p.
semáforo. O mesmo tipo de faixa de travessia perigo para as pessoas, já que transmite uma falsa 46-48.
deve ser utilizado em casos em que o volume de sensação de segurança. Um estudo comparando Brasil (2014b) Resolução n°495, de 5 de junho
pedestres indicar a necessidade de uma faixa de mil travessias de pedestres com sinalização de 2014. Conselho Nacional de Trânsito.
travessia com largura superior a 4 m. horizontal e outras mil sem pintura, todas em Brasília/DF.
interseções não semaforizadas, constatou que a Brasil (2016) Caderno técnico para projetos de
▪▪
A faixa de travessia composta por duas faixas faixa de travessia de pedestres isolada não confere mobilidade urbana: Transporte ativo. Ministério
paralelas é utilizada somente em interseções diferença significativa na segurança viária. O das Cidades. Brasília/DF, Brasil.
semaforizadas. mesmo estudo mostra que a aplicação de faixa Global NCAP (2016) Promoting safer cars
de travessia em vias com múltiplas faixas e fluxo worldwide.
▪▪
As faixas de travessia devem ser diretas, maior que 12 mil veículos por dia aumenta o risco GWRI (2016) O Desenho de Cidades Seguras.
localizadas próximas das interseções e seguindo de acidentes de trânsito em comparação a locais de
a linha de desejo de deslocamento dos pedestres. travessias sem pintura, exceto quando combinadas
com mecanismos de segurança adicionais, como
▪▪
A faixa de travessia elevada pode ser implantada canteiros centrais, ilhas de refúgio e focos de
somente em trechos de vias que apresentem pedestres. Em vias com múltiplas faixas e fluxo
características adequadas para tráfego com maior que 15 mil veículos por dia, a faixa de
velocidade máxima de 40 km/h. pedestres aumenta o risco de acidentes de trânsito,
66 WRICIDADES.ORG
Figura 3.3.3 | Faixa de travessia na diagonal
A travessia em "x" prioriza os pedestres ao permitir o cruzamento em apenas uma fase semafórica.
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 67
3.4.
PONTOS DE PARADA E ESTAÇÕES DO TRANSPORTE COLETIVO
Muitas pessoas enfrentam sérios problemas de calçada, com 2,40 m de largura ao longo da transporte coletivo. Onde for aplicável, deve ter,
para acessar o transporte coletivo por causa da parada ou, pelo menos, da porta traseira até a no mínimo, 10 m de comprimento e entre 2,20 e
conexão inadequada entre a calçada e os pontos dianteira do ônibus. 2,70 m de largura, sem degraus para a calçada.
de embarque nos veículos. Os pontos de parada No caso de desnível entre a extensão de meio-fio
e estações do transporte coletivo sobre a calçada ▪▪
A superlotação em áreas de espera nas paradas e a calçada, a largura deve ser aumentada para
são locais de importante integração dos pedestres de transporte coletivo, faixas de pedestres, 3 m para acomodar uma rampa.
com os serviços, mas podem se tornar grandes canteiros centrais e ilhas de refúgio pode
obstáculos para quem caminha nas calçadas. induzir os pedestres a caminhar na pista de BENEFÍCIOS
O incentivo para que mais pessoas andem a rolamento ou a atravessar em locais inseguros. O
pé passa pelo dimensionamento da calçada, dimensionamento da calçada deve considerar o ▪▪
Evita conflito entre pedestres em passagem e
levando em consideração todos os elementos que volume esperado de passageiros nos horários de passageiros na espera pelo transporte coletivo.
devem ser alocados na área, inclusive pontos de maior movimento para reduzir a probabilidade
parada com espaço de espera suficiente. Para os de superlotação. ▪▪
Melhora a imagem do sistema de transporte
passageiros que desejam embarcar e desembarcar coletivo e a experiência dos passageiros na
nos veículos de forma segura e confortável, é ▪▪
O dimensionamento da calçada nas imediações medida em que proporciona conforto às pessoas
necessária a aproximação conveniente entre o da parada deve levar em consideração as que esperam pelo ônibus ou acessam as estações.
veículo e a calçada. necessidades de acesso de pessoas em cadeiras
de rodas e o espaço necessário para manobras de APLICAÇÃO
PRINCÍPIOS DE PROJETO embarque e desembarque utilizando as rampas
de acesso acopladas aos ônibus, quando houver. ▪▪
As calçadas onde existem pontos de parada de
▪▪
Pontos de paradas de ônibus e veículo leve ônibus devem ser dimensionadas de forma que
sobre trilhos (VLT) devem fornecer espaços ▪▪
A extensão de meio-fio pode ser utilizada para a infraestrutura e os passageiros à espera do
para embarque e desembarque de passageiros. ampliar o espaço da calçada e acomodar os ônibus não interfiram na faixa livre de circulação
É recomendável prover um trecho contínuo passageiros embarcando e desembarcando do de pedestres.
68 WRICIDADES.ORG
▪▪
Nos casos em que a largura da calçada não REFERÊNCIAS E Brasil (2010) Departamento Nacional de
for suficiente para a locação da estação, área ORIENTAÇÕES ADICIONAIS Infraestrutura de Transportes. Publicação IPR –
de espera e faixa de circulação de pedestres, 740. p. 102-103.
deve-se considerar a extensão do meio-fio Adriazola-Steil, D. Hidalgo, L. A. Lindau, and Brasil (2016) Caderno técnico para projetos de
para a ampliação do espaço ou a alteração da V. S. John (2015) Segurança viária em sistemas mobilidade urbana: Sistemas de prioridade ao
localização para um lugar próximo e adequado. prioritários para ônibus: recomendações para ônibus. Ministério das Cidades. Brasília/DF,
integrar a segurança no planejamento, projeto Brasil.
CASOS E EVIDÊNCIAS e operação das principais rotas de ônibus. Roads Service and Translink (2005) Bus Stop
Washington DC: EMBARQ/World Bank Group. Design Guide. Belfast.
A linha 4 do Metrobus, sistema BRT da Cidade
do México, é diferente das demais linhas. Para
Figura 3.4.1 | Integração acessível com o transporte coletivo
preservar a imagem urbana do Centro Histórico
Estação da linha 4 do Metrobus com calçada elevada permite o embarque em nível, na Cidade do México, México.
e manter o embarque em nível, foram utilizados
ônibus padrão de piso baixo. Em alguns casos, a
calçada foi totalmente elevada e o acesso se dá por
rampas nas laterais.
1. DIMENSIONAMENTO ADEQUADO
1.3 FAIXA DE TRANSIÇÃO
4. SINALIZAÇÃO COERENTE
4.1 SINALIZAÇÃO INFORMATIVA
6. SEGURANÇA PERMANENTE
6.2 FACHADAS ATIVAS
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 69
Olinda/PE
70 WRICIDADES.ORG
4.
SINALIZAÇÃO COERENTE
É comum que as pessoas evitem andar a pé por desconhecimento das
distâncias e dos tempos de caminhada necessários para chegarem ao seu
destino. A sinalização utilizada nas cidades, geralmente, orienta a circulação
dos veículos motorizados. No entanto, assim como os motoristas dos
veículos, pedestres também necessitam de informações claras e coerentes
para saber como se comportar e se localizar no ambiente urbano.
Sinalização informativa
72 WRICIDADES.ORG
Box 4.1 | ACESSIBILIDADE DA INFORMAÇÃO
Toda a sinalização da cidade deve ser projetada para que seja facilmente utilizada por todas as pessoas. A sinalização acessível orienta, adverte, instrui, informa e direciona as pessoas com diversas
características antropométricas sobre o funcionamento de um de terminado elemento ou lugar. Dimensões, cores e texturas podem ser exploradas para assegurar a inteligibilidade da sinalização para os
pedestres. As informações essenciais devem ser representadas de forma visual, sonora ou tátil, de acordo com o princípio dos dois sentidos, e conforme tabela:
TIPOS
É importante que a redação de textos contendo orientações,
APLICAÇÃO INSTALAÇÃO CATEGORIA instruções de uso de áreas, objetos, equipamentos,
VISUAL TÁTIL SONORA
regulamentos, normas de conduta e utilização seja objetiva,
sim não contenha informações essenciais em alto-relevo e em
Direcional ou
sim Braille, sentenças completas, na forma ativa e afirmativa, e
informativa
não sim enfatize a sequência das ações. Além disso, a sinalização
Permanente
deve ser localizada de forma que o usuário possa identificar
Emergência sim sim sim
Espaços, claramente as utilidades disponíveis no ambiente urbano.
equipamentos e As placas de sinalização devem ser fixadas em locais onde
edificações Direcional ou
sim sim não as decisões são tomadas, em uma sequência lógica de
informativa
orientação, do ponto de partida ao ponto de chegada, e
Temporária
sim não devem ser repetidas sempre que existir a possibilidade de
Emergência sim alterações de direção.
não sim
sim não
Permanente Informativa sim
não sim
Mobiliários
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 73
4.1.
SINALIZAÇÃO INFORMATIVA
As cidades possuem uma ampla sinalização para no ambiente adequados para o acesso pelo BENEFÍCIOS
motoristas, mas proveem pouca informação para pedestre, e devem ser localizadas em pontos
os pedestres. A conexão de avenidas, ruas, parques de transporte coletivo, interseções de vias e ▪▪
Encoraja a mobilidade a pé.
e alamedas que interagem, formando, muitas centros de interesse.
vezes, ângulos e trajetos confusos, pode ser um ▪▪
Ajuda pedestres a planejarem seus caminhos,
verdadeiro obstáculo para quem deseja explorar a ▪▪
Os mapas devem apresentar duas escalas: com facilidade, confiança e autonomia.
cidade a pé. Um sistema de sinalização informativa uma delas maior, com visão geral para
para pedestres incentiva a caminhada de visitantes pedestres traçarem rotas de 15 minutos a pé APLICAÇÃO
e dos próprios moradores da região. ou em transporte coletivo, e outra menor, para
distâncias de 5 minutos a pé. ▪▪
Os mapas e demais componentes do sistema de
PRINCÍPIOS DE PROJETO sinalização devem ser instalados a, no mínimo,
▪▪
O sistema deve fornecer informações suficientes, 45 cm do meio-fio, idealmente em calçadas
▪▪
O sistema de sinalização deve ser de fácil sem excessos. com mais de 2,40 m de largura, e não devem se
compreensão e entendimento pelos usuários, tornar um obstáculo adicional à circulação dos
usar características comuns e sempre oferecer ▪▪
A sinalização pode ser interativa, apresentando pedestres.
instruções sobre como ler os mapas. os benefícios da caminhada para a saúde, como
o número de calorias queimadas ou o impacto na ▪▪
Os mapas devem ser instalados na orientação da
▪▪
Ele também deve prover informações como redução da poluição do ar ao escolher caminhar direção em que se está olhando.
distâncias a pontos de interesse, tempos de em vez de usar o carro.
caminhada, direções para chegar a esses locais e ▪▪
A sinalização pode ser incorporada aos sistemas
mapas da região. ▪▪
A sinalização também pode ser utilizada públicos de bicicleta e transporte coletivo.
para contar histórias sobre a comunidade,
▪▪
Essas estruturas devem ser projetadas para a curiosidades sobre os locais importantes da
escala da pessoa, com altura e posicionamento região, tornando a caminhada mais agradável.
74 WRICIDADES.ORG
CASOS E EVIDÊNCIAS 47% das pessoas a caminhar, e apenas 5% não Central London Partnership (2006) Legible
consideraram os mapas úteis (Central London London. A wayfinding study.
A cidade do Rio de Janeiro está implantando um Partnership, 2006). Department of Transportation NYC (2015)
sistema de orientação e sinalização para facilitar Street Design Manual. Updated Second Edition.
os deslocamentos a pé, denominado “Rio a pé”, REFERÊNCIAS E New York. p. 182.
para o qual instalará 600 peças informativas. ORIENTAÇÕES ADICIONAIS Sistema Rio a Pé (2016) Disponível em www.
O projeto, que contou com apoio do Ministério sistemarioape.com.br. Acesso em 18 novembro 2016.
do Turismo, implantou totens e placas bilíngues Brasil (2016) Caderno técnico para projetos de Transport for London (2007) Yellow Book.
na cidade, indicando rotas, atrações turísticas e mobilidade urbana: Transporte ativo. Ministério A Prototype wayfinding system for London.
pontos de interesse, como comércios e serviços, das Cidades. Brasília/DF, Brasil. Legible London.
em raios de 5, 10 e 15 minutos de caminhada. As
rotas possuem cores distintas conforme seu tipo
Figura 4.1.1 | Sistema Rio a pé
e escala e estão separadas em Rotas da Cidade,
Sinalização informativa para pedestres inclui mapas com a localização, rotas e distancias de pontos de interesse. Rio de Janeiro, RJ.
Rotas de Lazer, Rotas de Bairro e Rotas Locais
(Sistema Rio a Pé, 2016).
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 75
Box 4.1.1 | LEGIBLE LONDON: SINALIZAÇÃO PARA PEDESTRES
O Legible London é um sistema intuitivo, consistente e poderia reduzir significativamente a lotação do sistema, transforma aspectos geográficos da cidade, como nós, rotas
oficial de informação pública para os pedestres em Londres, estimularia a economia local e aumentaria a segurança e áreas, em locais familiares para a maioria das pessoas.
no Reino Unido. Ele apresenta informações em diversas pessoal, sem contar os inúmeros benefícios da caminhada na Quanto mais significativo for o mapa mental, maior a
maneiras, incluindo mapas e informações direcionais, para saúde das pessoas. confiança que as pessoas terão para caminhar nas cidades. A
ajudar as pessoas a encontrar o melhor caminho até o criação do sistema de informação inclui também uma política
destino pretendido. Para projetar qualquer sistema de sinalização efetivo, é consistente de nomenclatura dos lugares e uma estratégia
necessário estar ciente das reais prioridades dos diferentes para o posicionamento da sinalização.
Em um estudo realizado em 2008 para identificar os desafios tipos de pedestres na cidade, sejam residentes ou visitantes.
enfrentados pelos pedestres para caminhar pela cidade, 57% Antes de desenvolver esse tipo de sistema, é preciso saber Baseado em um estudo inicial da zona central de Londres,
dos londrinos citaram a falta de informação de qualidade, o que existe na cidade em termos de políticas, regulamentos a equipe do Legible London criou uma abordagem comum
e afirmaram que andariam mais a pé se houvesse melhor e responsabilidades, bem como conhecer a estrutura física a todos os 33 bairros da cidade, ampliando os benefícios
orientação. Adicionado a isso, um diagnóstico identificou dos locais a serem sinalizados e os costumes culturais da econômicos e ambientais para toda a cidade. Para atingir as
que os pedestres confiam nas distâncias representadas pelo população. Nesse sentido, pesquisas foram realizadas em metas, a equipe afirma que é essencial que qualquer sistema
mapa do metrô, que, entretanto, não apresenta medidas Londres para identificar como os pedestres se movimentam de sinalização seja simples e bem implantado. Adotar uma
reais. Cerca de 5% dos passageiros que saem do metrô na e quais seriam as maneiras mais eficazes para encorajá-los a abordagem fragmentária, com políticas de curto prazo e
Estação Leicester Square, por exemplo, iniciam sua viagem a caminhar mais fazendo uso da sinalização e da informação. recursos reduzidos, apresenta consideráveis riscos para o
menos de 800 m de distância, uma distância que poderia ser funcionamento do sistema.
percorrida a pé caso as pessoas tivessem essa informação. O desenvolvimento do sistema de informação foi realizado
Encorajar essas pessoas a caminhar em vez de usar o metrô por intermédio de um processo de “mapa mental”, que
76 WRICIDADES.ORG
4.2.
SEMÁFOROS PARA PEDESTRES
O semáforo de pedestre, também chamado de foco sinais sonoros ou vibratórios e mostradores com
de pedestre, consiste na sinalização semafórica que contagem regressiva. Além disso, muitas cidades
indica permissão ou impedimento para a travessia utilizam imagens personalizadas nos semáforos
de pedestres. Ele pode ser acompanhado por como forma de transmitir uma identidade ao local.
Semáforos para pedestres com imagens do Teatro Municipal de São Paulo e da Prefeitura de Belo Horizonte.
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 77
PRINCÍPIOS DE PROJETO ▪▪
O local de implantação do semáforo para ▪▪
Possibilita decisões mais precisas para o início
pedestres e a extensão da travessia devem da travessia.
▪▪
O semáforo pode ter dois tipos de permitir a visibilidade completa da indicação
funcionamento: tempo de ciclo fixo, no caso luminosa pelo pedestre. ▪▪
Reduz a quantidade de travessias durante a fase
de presença contínua de pedestres, ou atuado, vermelha do semáforo para os pedestres.
quando acionado por botoeira. ▪▪
O espaço de espera para a travessia dos
pedestres deve ser suficiente para acomodar ▪▪
Aumenta o número de travessias completas
▪▪
O tempo semafórico deve ser projetado de e garantir a proteção de todos e, em casos antes da mudança de fase do semáforo.
acordo com a velocidade de caminhada de 1,2 específicos, dispor de proteção, como gradis.
m/s, tomando como base os idosos. ▪▪
Semáforos de tempo fixo acarretam menor
▪▪
Além do sinal visual, os semáforos para custo inicial e de manutenção que os
▪▪
Quando acionado manualmente, a botoeira deve pedestres devem emitir, de forma sincronizada, semáforos atuados.
estar entre 0,80 m e 1,20 m de altura do piso. sinais sonoros ou vibratórios característicos, com
10 decibéis acima do ruído no local. APLICAÇÃO
▪▪
A sinalização deve indicar a ação a ser tomada
pelo pedestre: parar ou cruzar, de acordo com a ▪▪
A programação semafórica deve priorizar ▪▪
O semáforo de pedestres deve necessariamente
fase do semáforo. a travessia de pedestres nas conversões à ser instalado em conjunto com semáforos para
direita, isto é, possibilitar a travessia na via controle do tráfego veicular.
▪▪
O início e o fim do intervalo em que a travessia é perpendicular àquela com sinal verde para
permitida devem ser indicados pelo semáforo. os veículos, alertando os motoristas que a ▪▪
A implementação do equipamento deve se
preferência na conversão é do pedestre. dar em locais onde uma fase do semáforo é
▪▪
Todos os semáforos de pedestres localizados exclusiva para a travessia de pedestres, com
em áreas onde o tempo de travessia for superior BENEFÍCIOS todos os movimentos veiculares conflitantes
a 7 segundos devem incluir um mostrador sendo parados.
com contagem regressiva informando o tempo ▪▪
Sinaliza a prioridade do pedestre no momento da
remanescente do intervalo. travessia, reduzindo o conflito com os veículos e
aumentando a segurança.
▪▪
Tempos de ciclo curtos incentivam as pessoas a
aguardar o sinal verde para fazer a travessia.
78 WRICIDADES.ORG
▪▪
Sua instalação é recomendada especialmente satisfação dos usuários e os efeitos no ambiente. Sisiopiku, V.P.; D. Akin (2003) Pedestrian
em locais com demanda específica, onde há Em nove delas, houve reclamações de moradores behaviors at and perceptions towards various
movimentação de crianças, idosos, pessoas com e comerciantes acerca do incômodo causado pedestrian facilities: an examination based on
dificuldade de locomoção e visual etc. pelo som do semáforo. Três das cidades tiveram observation and survey data. Transportation
problemas com a localização do dispositivo, Research. Elsevier.
▪▪
O tempo de resposta de um semáforo atuado recebendo sugestões de melhorias para os usuários U.S Departament of Transportation (2009)
deve ser de aproximadamente 5 segundos, com com deficiência visual. Uma das cidades testou Federal Highway Administration. Manual of
base no tempo necessário para que motoristas alertas sonoros com anúncio verbal e sinal sonoro Uniform Traffic Control Devices.
que se aproximam da travessia possam parar eletrônico e concluiu que o segundo foi mais bem Zegeer, C.V.; K.S. Opiela; m.J. Cynecki (1982)
com segurança. Tempos mais longos de espera aceito pela população. E outra delas definiu a Effect of pedestrian signals and signal timing on
somente são aceitáveis em travessias de vias de comunicação entre todas as agências envolvidas pedestrian accidents. Transportation Research
alta capacidade. como ponto crucial para o sucesso do projeto de Record 847. p. 62-72.
implantação dos semáforos (U.S Departament of
CASOS E EVIDÊNCIAS Transportation, 2009).
Uma entrevista com usuários com o objetivo Uma abordagem de análise comparativa de 1.297
de obter a percepção dos pedestres sobre os interseções semaforizadas em 15 cidades revelou
elementos facilitadores para a travessia em que o risco de acidentes envolvendo pedestres em
um local próximo à Universidade de Michigan, interseções com tempo exclusivo para a travessia
nos Estados Unidos, identificou que 74% das de pedestres cai aproximadamente pela metade
pessoas acreditam que controles de tráfego em comparação ao observado nas interseções com
específicos podem encorajar a travessia de semáforos padrão (Zegeer et al., 1982). Outros princípios da calçada relacionados
pedestres em determinados locais, uma vez que com a sinalização coerente:
a disponibilidade de semáforos para pedestres REFERÊNCIAS E
influencia o comportamento dos usuários ORIENTAÇÕES ADICIONAIS 2. ACESSIBILIDADE UNIVERSAL
(Sisiopiku e Akin, 2003). 2.2 Piso tátil
Brasil (2014a) Manual Brasileiro de Sinalização 3. CONEXÕES SEGURAS
A aplicação de semáforos de pedestres com de Trânsito – Volume V. Sinalização 3.3 Faixa de travessia de pedestre
sinalização sonora em 12 cidades norte-americanas Semafórica. Conselho Nacional de Trânsito. p.
resultou em diferentes conclusões sobre a 218-227.
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 79
Rio de Janeiro/RJ
80 WRICIDADES.ORG
5.
ESPAÇO ATRAENTE
Ao caminhar nas ruas,
Um espaço atraente não é medido pelo número de pessoas que transitam na
as pessoas interagem
constantemente com o calçada, mas pela ambiência que o espaço urbano transmite, pela facilidade
ambiente urbano. As calçadas
podem desempenhar um papel
de deslocamento, pela possibilidade de permanência e pelo significado
importante para estimular e que é criado no lugar. O ambiente e a disposição do mobiliário urbano são
tornar essa experiência mais
agradável. Cativar as pessoas tópicos significativos para o conforto e bem-estar no espaço urbano. As
para que se locomovam a pé
fachadas diversificadas dos prédios e as múltiplas entradas e vitrines podem
é uma forma de incentivar
o exercício físico, conferir tornar a experiência da caminhada mais agradável. A vegetação e o tipo de
qualidade de vida e diminuir
os congestionamentos nas
pavimento associado a locais de descanso, se bem selecionados, podem
cidades. tornar as calçadas locais de interação social, proporcionando mais vida – e,
consequentemente, segurança – para a cidade.
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 81
Figura 5.1 | Espaço atraente
Vegetação
Mobiliário urbano
82 WRICIDADES.ORG
5.1.
VEGETAÇÃO
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 83
▪▪
Plantas venenosas ou com espinhos, árvores ▪▪
Espécies arbóreas que produzam grandes frutos interferências nas residências adjacentes e na
cujas raízes possam danificar o pavimento da devem ser evitadas para não causar prejuízos e fiação elétrica.
calçada e árvores com ramos de altura inferior acidentes com pedestres.
a 2,10 m não devem ser utilizadas nas áreas ▪▪
A localização da árvore deve levar em conta
adjacentes à circulação. ▪▪
Eventuais grelhas para cobrimento das raízes das a iluminação pública, de forma a não causar
árvores devem ter vãos menores que 15 mm. grandes áreas de sombreamento nas calçadas no
▪▪
A escolha da espécie deve levar em conta as período noturno.
características da raiz, de forma a evitar que ▪▪
A escolha de espécies nativas ou exóticas com
causem danos como rachaduras e soerguimento boa adaptação climática é recomendada. BENEFÍCIOS
das calçadas. São recomendadas espécies
com raízes pivotantes, formadas por uma raiz ▪▪
A altura e o porte das espécies devem ser levados ▪▪
Aumenta a permeabilidade do solo.
principal que penetra verticalmente no chão. em conta, uma vez que a proximidade pode gerar
84 WRICIDADES.ORG
▪▪
Reduz o risco de inundações. pavimento permeável, permitindo a infiltração as áreas arborizadas apresentaram um
de água e aeração do solo. aquecimento mais lento, chegando a apresentar
▪▪
Aumenta o conforto dos pedestres. temperaturas do ar até 2,5°C menores que os
▪▪
É necessário considerarmos a necessidade locais áridos (Barbosa el al., 2003).
▪▪
Reduz o efeito de ilhas de calor, diminuindo de manejo constante e adequado com foco
custos de energia relacionados com o controle da na arborização das ruas, envolvendo plantio, REFERÊNCIAS E
temperatura em edifícios. condução das mudas, poda e remoções. ORIENTAÇÕES ADICIONAIS
▪▪
Proporciona possibilidades de habitat para vida CASOS E EVIDÊNCIAS Barbosa, R.; G. Barbirato; F. Vecchia (2003)
animal nas áreas urbanas. Vegetação urbana: análise experimental em
Com o objetivo de identificar a importância da cidade de clima quente e úmido. Encontro
▪▪
Protege pedestres do tráfego de veículos. vegetação na redução do consumo energético, uma Nacional e Latino-Americano de Conforto no
análise do ambiente urbano realizada na cidade Ambiente Construído. Curitiba.
▪▪
Causa a impressão de estreitamento da rua de Maceió, Alagoas, contemplou medições de Barcellos, A.; C. Wojcikiewicz; E. Lubaszewski;
para os motoristas, propiciando velocidades variáveis climáticas em áreas verdes urbanizadas e J. Mazuchowski; J. Conceição; L. Leal; m.
mais baixas. em áreas desprovidas de vegetação, considerando Medeiros; P. Conte; S. Karvat; S. Ahrens (2012)
as características da forma urbana e das espécies Manual para elaboração do plano municipal
▪▪
Cria um aspecto estético positivo para atrair das árvores. O estudo constatou o impacto positivo de arborização urbana. Comitê de trabalho
clientes para os estabelecimentos comerciais locais. da vegetação urbana na melhoria das condições interinstitucional para análise dos planos
microclimáticas para o conforto humano. Alguns municipais de arborização urbana no estado do
▪▪
Valoriza as propriedades adjacentes. resultados específicos da pesquisa: Paraná. Paraná.
a análise dos perfis térmicos das áreas City of New York (2014) Tree planting
APLICAÇÃO estudadas evidencia o efeito amenizador da standards. NYC Parks. Parks & Recreation.
temperatura do ar proporcionado pela presença Prefeitura de São Paulo (2015) Manual técnico
▪▪
Em passeios com largura igual ou inferior da vegetação, reduzindo os valores sobretudo de arborização urbana. Secretaria Municipal do
a 1,50 m, não é recomendado o plantio de nos horários entre 9h e 15h; Verde e do Meio Ambiente.
qualquer espécie de vegetação. as maiores diferenças de temperatura entre
os pontos com vegetação e os locais áridos
▪▪
O plantio de árvores deve ser feito em área ocorreram às 9h;
permeável, na forma de canteiro, faixa ou
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 85
5.2.
MOBILIÁRIO URBANO
86 WRICIDADES.ORG
Florianópolis/SC
BENEFÍCIOS APLICAÇÃO
▪▪
Cada mobiliário tem uma função e benefício ▪▪
O mobiliário urbano deve ser utilizado para
específico para a população e para a cidade, incentivar o uso do espaço público de forma a
como os bancos, que incentivam a permanência favorecer a segurança pública, a limpeza urbana,
nos espaços públicos; as lixeiras, que auxiliam o uso dos transportes ativos, o sentimento de
na limpeza urbana; a iluminação, que aumenta a pertencimento da população.
segurança pública; os paraciclos, que estimulam
o transporte por bicicleta, entre outros. ▪▪
Lixeiras devem ser alocadas em áreas comerciais
onde possam ser esvaziadas mais de uma vez por
▪▪
O desenho e a comunicação visual do mobiliário dia e em áreas predominantemente residenciais
podem criar uma identidade para o bairro ou em rotas onde possam ser atendidas pelo serviço
para a cidade, transmitindo uma mensagem para de coleta de lixo.
os habitantes e visitantes.
▪▪
A alocação de bancos e cadeiras deve considerar
▪▪
A ornamentação qualifica a paisagem e cria um espaço com microclima agradável, vista
condições para que as pessoas se sintam ampla do ambiente ao redor – preferencialmente
valorizadas. com as costas cobertas – e sem poluição.
▪▪
O desenho dos mobiliários urbanos podem ser ▪▪
O mobiliário urbano pode ser alocado em
tema de concursos públicos para promover “parklets”, vagas de estacionamento de vias
a discussão sobre os elementos dos espaços públicas convertidos em áreas recreativas,
públicos e para valorizar profissionais locais. temporárias ou permanentes.
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 87
CASOS E EVIDÊNCIAS
88 WRICIDADES.ORG
Figura 5.2.1 | Desenho de bicicletário
Projeto vencedor do Concurso #014, de autoria de Lucas de Menezes Pereira, Ruan Henrique Lima de Araújo, Leonardo Fernandes
Fonte: projetar.org.
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 89
Salvador/BA
90 WRICIDADES.ORG
6.
SEGURANÇA PERMANENTE
Durante o dia ou a noite, todos os dias da semana, as calçadas são espaços
públicos sempre abertos para as pessoas. Entretanto, a intensidade de utilização
varia conforme o tipo de uso do solo existente e o período do dia ou da
semana. Esses espaços podem se tornar inseguros por falta de vigília – não
necessariamente de profissionais de segurança pública, mas das próprias
pessoas que vivem, trabalham e circulam pelas regiões da cidade. Adotar
estratégias para influenciar positivamente o deslocamento dos pedestres tem o
potencial de tornar as calçadas mais vivas e seguras para todos.
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 91
O desenho das fachadas no andar térreo, perto das
quais as pessoas passam, possui uma relação direta
com a segurança urbana. Iluminação adequada,
permeabilidade entre a rua e o espaço privado e
atrativos que mantenham usuários transitando
constantemente garantem que as pessoas se
sintam seguras nas calçadas, mesmo entre tantos
desconhecidos. O fortalecimento da relação entre
os edifícios privados e o espaço público tem relação
direta com a qualidade dos deslocamentos a pé. Fortaleza/CE
92 WRICIDADES.ORG
Figura 6.1 | Segurança permanente
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 93
6.1.
ILUMINAÇÃO PÚBLICA
▪▪
A disposição dos postes de iluminação não deve 250 w vapor de sódio
de alta pressão
8 a 12 m 40 m
Padrão para rotas de trânsito e centro
da cidade
obstruir o acesso dos veículos de emergência ou
de manutenção. Um em cada lado da
Utilizados nos pontos de travessia das
400 w vapor metálico 8 a 12 m via, junto à travessia
vias
de pedestres
▪▪
Postes não devem ser alocados perto de árvores
que possam obstruir a luz. Possuem maior durabilidade e podem
20 w e 40 w LED 6m 25 m gerar economia de energia de até 50%
quando comparadas aos demais tipos
▪▪
A altura do poste de iluminação depende do tipo
de via e de sua função. Fonte: adaptado de National Transport Authority, 2017.
94 WRICIDADES.ORG
Figura 6.1.2 | Iluminação voltada para pedestres
BENEFÍCIOS
Iluminação do Pelourinho, Salvador, BA, conta com luminárias
presas às edificações.
▪▪
Quando bem projetada, a iluminação pública
aumenta a atratividade da calçada.
▪▪
A iluminação melhora a visibilidade e o sentido
de orientação, proporcionando mais segurança
pública aos pedestres.
APLICAÇÃO
▪▪
A iluminação pública deve fornecer requisitos de
visibilidade do caminho à frente, da presença de
obstáculos fixos na superfície e da existência de
interseções e travessias.
▪▪
A iluminação de escadas e rampas para acesso
dos pedestres deve ser considerada na alocação
dos postes de forma que as mudanças de nível
sejam bem visíveis.
▪▪
Faixas de travessias de pedestres devem receber
iluminação especial nos locais com deficiência
de iluminação pública, devido à recorrência de
atropelamentos noturnos e em locais próximos
a polos geradores de tráfego de pedestres, como
Fonte: New York City Department of Transportation, 2013. escolas, terminais de transporte coletivo e hospitais.
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 95
CASOS E EVIDÊNCIAS de travessia tornou a travessia mais segura. Uma consultas/seguranca-e-mobilidade/faixa-
análise da efetividade mostrou redução de 50% de-pedestres-iluminada.aspx. Acesso em 23
A cidade de Manaus, Amazonas, investiu em um no número de atropelamentos noturnos já no outubro 2016.
novo sistema de iluminação para a Vila Olímpica. primeiro ano de instalação da medida (CET, 2016). Department of Transportation NYC (2015)
Foram adotadas lâmpadas brancas compostas Street Design Manual. Updated Second Edition.
de vapor metálico, com o intuito de gerar uma REFERÊNCIAS E New York. p. 134-160.
economia de até 30% nos custos com energia ORIENTAÇÕES ADICIONAIS National Transport Authority (2017) National
para a cidade. Além disso, a renovação do sistema Cycle Manual. Ireland. Disponível em www.
de iluminação da Vila Olímpica faz parte de um ABNT (2012) NBR 5101: Iluminação pública – cyclemanual.ie. Acesso em 14 fevereiro 2017.
conjunto de ações para a melhoria da segurança procedimento. Rio de Janeiro. New York City Department of Transportation
dos pedestres. A sensação de segurança aumentou ABNT (2012) NBR 15129: Luminárias para (2013) Standard Highway Specifications.
a autoestima das pessoas que praticam esportes no iluminação pública – requisitos particulares. Second Edition.
local (Amazonas Notícias, 2015). Rio de Janeiro. Organização Mundial da Saúde (2013)
Amazonas Notícias (2015) Iluminação nova Segurança de Pedestres: Manual de Segurança
Aumentar a intensidade da iluminação da via e investimentos na segurança reforçam a Viária para Gestores e Profissionais da Área.
melhora a visibilidade de pedestres à noite, revitalização da Vila Olímpica de Manaus. 23
sobretudo em faixas de travessia. Essa medida de abril de 2015. Disponível em http://www.
tem sido associada a significativas reduções nos amazonasnoticias.com.br/iluminacao-nova-
atropelamentos noturnos. Um estudo realizado e-investimentos-na-seguranca-reforcam-a-
na Austrália constatou que houve uma redução revitalizacao-da-vila-olimpica-de-manaus/.
de 59% nos acidentes com pedestres em vias Acesso em 23 outubro 2016.
que receberam melhorias na iluminação pública Brasil (2016) Caderno técnico para projetos de
(Organização Mundial da Saúde, 2013). mobilidade urbana: Transporte ativo. Ministério
das Cidades. Brasília/DF, Brasil.
Uma pesquisa de opinião realizada pela CEMIG (2012) Manual de Distribuição. Projetos
Companhia de Engenharia de Tráfego de São de Iluminação Pública. Belo Horizonte.
Paulo revelou que 90% dos pedestres e 91,1% dos CET-SP (2016) Faixa de Pedestres Iluminada.
motoristas acreditam que a iluminação de faixas Disponível em http://www.cetsp.com.br/
96 WRICIDADES.ORG
6.2.
FACHADAS ATIVAS
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 97
PRINCÍPIOS DE PROJETO BENEFÍCIOS
▪▪
Os pisos térreos comerciais que tangenciam as ▪▪
Promove a sensação de segurança através dos ▪▪
O efeito dos pisos térreos comerciais é
calçadas devem ter em torno de 60% de suas “olhos na rua”: as pessoas que estão dentro dos potencializado quando a relação entre as
fachadas principais transparentes, ocupadas por prédios enxergam o que acontece na via pública. atividades da comunidade e o padrão de
janelas, vitrines ou portas. mobilidade de seus habitantes é considerada.
▪▪
Proporciona melhores oportunidades para a Para isso, os comércios devem contribuir com
▪▪
Recomenda-se que todas as moradias tenham interação entre vendedores e clientes, se as as atividades realizadas nos equipamentos e nos
em torno de 40% de suas fachadas principais ou unidades forem estreitas e com diversas portas espaços públicos próximos (papelarias próximas
muros perimetrais transparentes, na forma de ao longo de vias comerciais. de escolas, bancos ao lado de centros comerciais,
janelas, portas ou grades. cafeterias em prédios de escritórios, sorveterias
▪▪
Confere vida às ruas, contribuindo para um em frente a praças etc.).
▪▪
Para melhorar a transição entre o espaço privado ambiente amigável e para os vínculos sociais.
e o público, as cercas dos prédios nas ruas CASOS E EVIDÊNCIAS
residenciais devem ter altura inferior a 3 m. ▪▪
Melhora a transição entre o espaço privado e o
público. O Plano Diretor Estratégico de São Paulo
▪▪
Os governos devem facilitar a construção de estabelece parâmetros urbanísticos para dinamizar
pisos térreos comerciais, mesmo em prédios ▪▪
O uso misto do solo, mesclando residências e os espaços e passeios públicos. Para incentivar
residenciais, promovendo regulações que apoiem comércio em uma mesma área, proporciona a a construção de fachadas ativas, o plano prevê a
a construção de modo a atender às características movimentação da rua em diferentes horários. não tributação da área do lote destinada a esse
urbanas, sem necessariamente impor fim, até o limite de 50% do terreno. No caso
precondições relacionadas à forma da fachada. APLICAÇÃO de áreas abertas destinadas ao uso público no
pavimento térreo, o proprietário do lote poderá ter
▪▪
Deve haver o envolvimento dos proprietários ▪▪
Os pisos térreos comerciais devem ser utilizados um aumento do potencial construtivo do imóvel
dos prédios e de associações comerciais para em regiões de uso misto do solo, em áreas equivalente a 100% da área destinada à fruição
criar o entendimento de que a revitalização das com tecido urbano de alta densidade e em pública (Gestão Urbana SP, 2016b).
fachadas é essencial para a segurança pública e centralidades de bairro, como, por exemplo, a
valorização do espaço urbano. rua principal de um bairro residencial.
98 WRICIDADES.ORG
O desenho das fachadas e a densidade urbana Uma comunidade que
podem influenciar a segurança e promover apoio Outros princípios da calçada relacionados
social e atividades diárias para idosos (City of New com a segurança permanente: compartilha experiências
York, 2010).
5. ESPAÇO ATRAENTE
e se relaciona no dia a
REFERÊNCIAS E 5.2 MOBILIÁRIO URBANO dia tende a zelar pela
ORIENTAÇÕES ADICIONAIS
segurança das pessoas.
City of New York (2010) Active Design
Guideline. Promoting Physical Activity and
Health Design.
EMBARQ Brasil (2014) DOTS Cidades. Manual
de Desenvolvimento Urbano Orientado ao
Transporte Sustentável.
Gestão Urbana SP (2016b) Novo PDE –
Fachada Ativa, Fruição Pública e Cota Parte
Máxima. Disponível em http://gestaourbana.
prefeitura.sp.gov.br/novo-pde-fachada-ativa-
fruicao-publica-e-cota-parte-maxima/. Acesso
em 23 outubro 2016.
Karssenberg, H.; J. Laven; m. Glaser; m. Van
T’Hoff. (2015) A cidade ao nível dos olhos:
lições para os plinths. Segunda versão ampliada.
EdiPUCRS. Porto Alegre.
São Paulo/SP
8 PRINCÍPIOS DA CALÇADA 99
Fortaleza/CE
100 WRICIDADES.ORG
7.
SUPERFÍCIE QUALIFICADA
A superfície da calçada está associada tanto aos aspectos estéticos quanto
aos de segurança dos pedestres. Dados do Instituto de Ortopedia e
Traumatologia do Hospital da Universidade de São Paulo mostram que, dos
197 atendimentos por quedas em calçadas, 18% ocorreram devido às más
condições da superfície da calçada.
Rio de Janeiro/RJ
102 WRICIDADES.ORG
Box 7.1 | OS COMPONENTES INVISÍVEIS DA CALÇADA
Concreto moldado in loco Concreto permeável Blocos intertravados Placas de concreto pré-fabricadas Ladrilho hidráulico
Fonte: elaborado pelos autores.
104 WRICIDADES.ORG
7.1.
CONCRETO MOLDADO IN LOCO
PRINCÍPIOS DE PROJETO ▪▪
Juntas devem ser previstas em intervalos de ▪▪
Proporciona uma calçada com superfície regular
1,20 m a 1,50 m. e durável, com bom coeficiente de atrito.
▪▪
Para as faixas livres de circulação, é
recomendado o emprego de pavimento de ▪▪
A manutenção é realizada com corte do piso ▪▪
Grande disponibilidade de material e baixo custo.
concreto com espessura mínima de 7 cm e na área a ser refeita, de forma que o recorte
resistência mínima de 20 Mpa. funcione como uma junta de construção, ▪▪
Fornece base sólida para o mobiliário da faixa
concordando com as dimensões dos módulos de serviço.
▪▪
O concreto moldado in loco deve possuir existentes.
acabamento antiderrapante, desempenado ou
“vassourado”.
APLICAÇÃO REFERÊNCIAS E
ORIENTAÇÕES ADICIONAIS
▪▪
O piso de concreto moldado in loco pode
ser utilizado nos acessos para veículos nas ABCP (2010a) Manual de concreto estampado e
calçadas devido à sua alta resistência quando concreto convencional moldado in loco: Passeio
executado corretamente. Público. São Paulo.
ABNT (1990) NBR 12255: Execução e
▪▪
A reconstrução por módulos propicia a utilização de passeios públicos - Procedimento.
utilização do concreto moldado in loco na faixa Rio de Janeiro.
de serviço da calçada, facilitando o acesso aos Gazeta Mercantil (2007) Edição de 24 de julho
serviços subterrâneos. de 2007, pág. 11. São Paulo. In.: Clipping ABCP.
Disponível em http://notes.abcp.org.br:8080/
CASOS E EVIDÊNCIAS producao/clipp/clipp.nsf/59dac160bc7df2ba0
3256aef00407549/eb59f56330bd820e832573
A calçada da Avenida Paulista, em São Paulo, 22005042f8?OpenDocument. Acesso em 19
foi reformada em 2007 recebendo pavimento outubro de 2016.
de concreto moldado no local com juntas de
106 WRICIDADES.ORG
Box 7.1.1 | ILHAS DE CALOR Figura B7.1.1.1 |
Imagem da câmera
termovisora
Caminhar por calçadas pode se tornar desconfortável
Áreas mais quentes
quando elas carecem de sombra e são cercadas por asfalto aparecem em cores
e concreto. Essas características aumentam a temperatura claras e áreas com
temperaturas amenas,
local e transformam os centros urbanos em ilhas de calor,
em cores escuras.
com alto desconforto térmico, quando comparados às áreas
mais arborizadas e/ou periféricas. Esse fenômeno faz com
que o consumo de energia elétrica aumente em decorrência
da necessidade do uso excessivo de ar-condicionado nas
estações mais quentes do ano. Para amenizar os efeitos das
ilhas de calor nas calçadas, é possível utilizar pavimentos
que reflitam os raios de sol e permitam a permeabilidade da O plantio de árvores nas calçadas pode fazer parte da Figura B7.1.1.2 | Comparação entre as temperaturas
água da chuva. Eles se mantêm mais frios em comparação estratégia de mitigação das ilhas de calor, visando ao dos pavimentos
com os pavimentos tradicionais e podem absorver de 80% a aumento do conforto térmico dos pedestres e à redução dos
95% da luz solar. O uso de vegetação nas calçadas também impactos das cidades no aquecimento global. Pesquisadores
ajuda a diminuir a temperatura local através da sombra e da da Universidade Federal do Paraná mediram a variação de
evapotranspiração. temperatura do ar, a umidade relativa e a velocidade do
vento em ruas de Curitiba com e sem arborização. A coleta
O uso de pavimentos reflexivos ou permeáveis nas dos dados meteorológicos foi repetida nas quatro estações
calçadas proporciona benefícios de conforto em virtude das do ano. Os resultados indicaram valores mais baixos para a
temperaturas mais baixas do pavimento e do ar perto do temperatura do ar das ruas arborizadas em relação às ruas
pavimento. A superfície de concreto – seja moldado no local, sem arborização, e o inverso para a umidade relativa. A
seja em blocos ou placas pré-moldadas – é considerada um velocidade do vento não apresentou variabilidade entre os
pavimento frio por ser naturalmente reflexivo. Além disso, dois tipos de rua. Com esses resultados, o estudo concluiu
a adição de pigmentos, agregados e aglomerantes de cores que a arborização de ruas proporciona um microclima urbano
claras pode aumentar a refletividade. mais ameno durante a maior parte do dia.
Fonte: Kalil e Bojarczuk, 2014.
Fonte: Environmental Protection Agency, 2005; Mcgrath, J. 2016.
108 WRICIDADES.ORG
APLICAÇÃO o controle de erosão e dos fluxos das áreas REFERÊNCIAS E
adjacentes é de extrema importância para o ORIENTAÇÕES ADICIONAIS
▪▪
Calçadas de concreto permeável devem garantir funcionamento do pavimento;
superfície regular para permitir a infiltração o cobrimento de toda a área a ser restaurada ABCP. Projeto Técnico: Pavimento permeável.
prevista da água. permite flexibilidade na instalação devido Soluções para Cidades.
à possibilidade de sequenciamento, à ABNT (2015) NBR 16416 – Pavimentos
▪▪
Esse tipo de pavimento é mais efetivo em locais minimização do tempo de obra e à garantia de Permeáveis de Concreto – Requisitos e
com inclinação menor do que 5%. estabilização do concreto; Procedimentos. Rio de Janeiro.
é necessário que pedreiros e inspetores façam Department of Transportation NYC (2015)
▪▪
O uso de concreto permeável sobre solos que não cursos de certificação. (Gwilym, 2006). Street Design Manual. Updated Second Edition.
possuem características de drenagem da água New York. p. 116.
deve ser complementado com sistema de drenos. Gwilym, K. (2006) City of Seattle Porous Pavement
Case Study. SvR Design Company, Seattle.
▪▪
O concreto permeável pode ser utilizado para
Figura 7.2.1 | Calçada de concreto permeável
pavimentar a calçada inteira ou apenas uma Calçada com pavimento permeável permite a infiltração de águas pluviais. Seattle, Estados Unidos.
faixa específica.
▪▪
Locais suscetíveis à contaminação do solo e de
águas subterrâneas não devem ser revestidos
com pavimentos permeáveis.
CASOS E EVIDÊNCIAS
▪▪
Para a pavimentação das faixas livres de ▪▪
A colocação de um sistema de contenção lateral, ▪▪
Os blocos são considerados um pavimento
circulação, é recomendado o uso de blocos normalmente com a utilização de meios-fios, é ecológico, uma vez que são produzidos à base
intertravados de concreto nas dimensões essencial para impedir a movimentação vertical, de cimento e passíveis de reciclagem, o que
20 x 10 x 6 cm, e 20 x 10 x 8 cm nas áreas de horizontal e de rotação e o intertravamento entre colabora com a preservação de jazidas de
acesso de veículos motorizados. os blocos, a fim de garantir o desempenho e a calcário e evita a saturação de aterros.
durabilidade do pavimento.
▪▪
A resistência mínima do bloco intertravado de APLICAÇÃO
35 Mpa é recomendada. BENEFÍCIOS
▪▪
Blocos intertravados de concreto são
▪▪
Os blocos são assentados sobre uma camada de ▪▪
Os blocos intertravados possuem a recomendados para a pavimentação de calçadas,
areia ou pó de pedra espalhada sobre a camada característica antiderrapante do concreto, o que desde que sua textura não interfira na percepção
de base, sem necessidade de utilização de proporciona segurança aos pedestres, mesmo dos pisos táteis.
argamassa, uma vez que as peças permanecem quando molhados.
travadas umas nas outras.
110 WRICIDADES.ORG
CASOS E EVIDÊNCIAS Os blocos intertravados possuem a característica
Na reconstrução da Orla da Barra, em Salvador, antiderrapante do concreto, o que proporciona
foi utilizado pavimento de blocos intertravados
de concreto. O objetivo foi criar um ambiente
segurança aos pedestres, mesmo quando molhados.
compartilhado com características de praça, dando
prioridade aos pedestres e ciclistas ao configurar
uma zona de convivência e contemplação. Além do ABNT (2011) NBR 15953 – Pavimento Siqueira, M. (2014) Nova Orla da Barra é
pavimento de blocos de concreto, foram utilizadas Intertravado com Peças de Concreto – entregue com piso de uso compartilhado, que
peças de granito para compor desenhos no piso Execução. Rio de Janeiro. modifica sistema viário do bairro e prioriza
(Siqueira, 2014). ABNT (2013) NBR 9781 – Peças de Concreto pedestres e ciclistas; projeto integra plano da
para Pavimentação – Especificação e métodos de Prefeitura de Salvador de revitalizar toda a faixa
REFERÊNCIAS E ensaio. Rio de Janeiro. marítima da cidade. Infraestrutura Urbana.
ORIENTAÇÕES ADICIONAIS Department of Transportation NYC (2015) Projetos, Custos e Construção. Disponível
Street Design Manual. Updated Second Edition. em http://infraestruturaurbana.pini.com.br/
ABCP (2010c) Manual de Pavimento New York. p. 115. solucoes-tecnicas/44/artigo329941-1.aspx.
Intertravado. São Paulo. Acesso em 20 outubro 2016.
Pavimento com blocos intertravados cria um ambiente com características de praça na Orla da Barra, em Salvador, BA
Os ladrilhos hidráulicos são placas de concreto 100 x 100 mm. Para veículos pesados (caminhões, ▪▪
Devido ao tratamento do concreto durante
pré-moldadas de alta resistência ao desgaste, carro-forte), é necessário executar o projeto. sua produção e sua cura, as peças de ladrilho
podendo ter superfície lisa ou rugosa. A produção hidráulico possuem alta resistência à abrasão,
dessas peças permite variação de cor e formato. A ▪▪
Por ser composto por peças pré-fabricadas, o proporcionando maior durabilidade do pavimento.
escolha do tipo de ladrilho hidráulico deve levar pavimento de ladrilho hidráulico permite fácil
em consideração aspectos do uso principal da e rápida execução, demandando apenas mão de ▪▪
Produtos à base de cimento podem ser
calçada, incluindo possibilidade de abrasão, nível obra treinada. A liberação do tráfego dá-se após totalmente reciclados e reutilizados, tornando
de tráfego de pedestres, nível de trepidação para 48h; caso seja utilizada argamassa colante, o esse tipo de pavimento ecológico, pois preserva
dispositivos com rodas e resistência a intempéries. tráfego poderá ser liberado após 24h. jazidas de calcário e evita a saturação de aterros.
▪▪
Para a pavimentação da faixa livre de circulação, ▪▪
Pavimentos compostos de concreto têm superfície ▪▪
Pavimentos de ladrilho hidráulico podem ser
é recomendado o uso de ladrilho hidráulico com antiderrapante, proporcionando segurança aos utilizados em zonas de tráfego intenso, devido à
espessura mínima de 2 cm, de acordo com seu pedestres mesmo em condições de piso molhado. alta resistência à abrasão.
formato, dimensões e resistência média à tração
na flexão mínima de 5 MPa. ▪▪
Calçadas de ladrilho hidráulico conferem ▪▪
Além das calçadas, esse tipo de pavimento é
conforto de rolamento ao caminhar e ao utilizar indicado para uso em passeios públicos, praças e
▪▪
A base de concreto para assentamento do cadeiras de rodas e carrinhos de bebês, devido rampas para automóveis.
ladrilho hidráulico deve ter espessura de 10 cm à superfície regular e à pequena espessura das
e resistência mínima de 15 MPa para pedestres. juntas entre peças.
Para veículos leves (entrada de carro), emprega-
se concreto com resistência de 20 MPa, armado ▪▪
Peças com pigmentação clara absorvem menos
com tela de aço CA 60 de 4,2 mm e malha calor, oferecendo maior conforto térmico.
112 WRICIDADES.ORG
Box 7.4.1 | CRÔNICA DE UM ÍCONE PAULISTA
Em 1966, Mirthes dos Santos Pinto era desenhista da fachada de loja, estampa de tecido e rótulo de cerveja ele — cria-se um padrão de repetição infinito. Fabricado
Secretaria de Obras da Prefeitura de São Paulo. O prefeito virou. Um sucesso! em ladrilho hidráulico, é de fácil produção e instalação e
Faria Lima, famoso por seu dinamismo, lançou um concurso acabou afirmando-se como uma identidade reconhecível e
para escolher um padrão de piso para a cidade. Mirthes No entanto, quase quarenta anos depois, Mirthes — agora reconhecida pelo cidadão.
arriscou-se a estudar algumas alternativas, e acabou Bernardes, seu nome de casada — não é só alegria: nunca
inscrevendo uma delas. Ficou feliz em saber que estava entre recebeu um tostão pelo projeto. É verdade que a satisfação de O desenho é um bom retrato do pragmatismo paulista: em
os finalistas. Amostras de quatro projetos foram implantadas quem projeta é ver sua criação ganhar o mundo, mas... nem contraste com as curvas do mar e das montanhas da calçada
em um trecho da rua da Consolação e, após nova votação, a um tostão também já é demais. É um notável caso de projeto de Copacabana, a geometria rigorosa do mapa do estado de
alegria maior: sua proposta foi a vencedora. que caiu em domínio público logo ao sair da maternidade. São Paulo. É difícil não entendê-lo como eco do movimento
concreto, de raízes tão marcadamente paulistas. A partir
O piso ganhou as calçadas da cidade. Nos primeiros anos, Até 2004, a história contada acima era pouco conhecida. das possibilidades da oposição positivo/negativo é criado
por iniciativa do poder público, as avenidas passaram a Foram consultados arquitetos e engenheiros, todos com um jogo de figura/fundo, no qual ora só se veem as formas
ser ladeadas pelo desenho geometrizado do estado de São longas trajetórias ligadas ao setor público, e nenhum brancas, ora só se veem as formas pretas. Essa construção
Paulo. Aos poucos, os ladrilhos foram sendo produzidos por sabia dizer qual a origem desse desenho. Mirthes só geométrica migrou para símbolos de sucessivos governos
diversos fabricantes e começaram a conquistar as calçadas apareceu depois da publicação de um artigo na revista estaduais, além da já citada transformação em padrão gráfico,
das lojas e das casas. Em uma década, ele já era onipresente Projeto/Design sobre o design no ambiente urbano, no aplicável nos mais diversos suportes.
na paisagem urbana. Havia se tornado um ícone paulista. qual o desconhecimento da autoria do projeto era citado
explicitamente. Seu maior trunfo é a simplicidade compositiva, que se impõe
Quem pensa que piso só serve para revestir o chão está pela clareza e legibilidade. Piso é informação subliminar.
muito enganado. O projeto de Mirthes não parou de Resposta paulista ao brilhante projeto da calçada de Esse desenho superou essa condição e foi assumido como
expandir os seus domínios. Ele deixou de ser só um piso Copacabana, seu desenho austero é fruto de uma solução um ícone paulista.
e transformou-se em um padrão gráfico, que passou a ser engenhosa. Com apenas três peças quadradas — uma
aplicado nos suportes mais diversos. Até solado de sandália, branca, uma preta e uma branca & preta, dividida na diagonal
114 WRICIDADES.ORG
7.5.
PLACAS DE CONCRETO PRÉ-FABRICADAS
As placas planas de concreto pré-fabricadas podem como areia, e podem ser retiradas facilmente cadeiras de rodas e carrinhos de bebês, devido
ser assentadas por meio do sistema flutuante ou com um “saca-placa”. à superfície regular e à pequena espessura das
do sistema aderido, conforme o uso do pavimento. juntas entre peças.
Para conferir maior resistência à compressão, o ▪▪
No sistema aderido, as placas são assentadas
concreto pode conter aditivos, e as placas podem sobre uma camada de apoio de argamassa. Para ▪▪
Peças com pigmentação clara absorvem menos
ser reforçadas com fibras, telas ou armaduras. manutenção, o risco de danos das peças é maior, calor, oferecendo maior conforto térmico.
uma vez que é necessário arrancá-las.
PRINCÍPIOS DE PROJETO ▪▪
Devido ao tratamento do concreto durante
▪▪
Por ser composto por peças pré-fabricadas, o sua produção e sua cura, as placas de
▪▪
Para a pavimentação da faixa livre de pavimento de placas de concreto permite fácil e concreto possuem alta resistência à abrasão,
circulação, é recomendado o uso de placas de rápida execução, demandando apenas mão de proporcionando maior durabilidade ao pavimento.
concreto armado com largura igual à da faixa obra treinada. A liberação do tráfego dá-se após
livre, divididas em módulos não superiores a 24h da instalação, se utilizada argamassa colante ▪▪
Produtos à base de cimento podem ser
1 m e com resistência característica mínima à para assentamento. totalmente reciclados e reutilizados, tornando
flexão de 3,5 MPa. esse tipo de pavimento ecológico, pois preserva
BENEFÍCIOS jazidas de calcário e evita a saturação de aterros.
▪▪
As juntas de dilatação das placas devem
ser locadas transversalmente ao sentido do ▪▪
Pavimentos compostos de concreto têm
movimento, sem exceder 1,5 cm. superfície antiderrapante, proporcionando
segurança aos pedestres, mesmo em condições
▪▪
O sistema flutuante de assentamento é de piso molhado.
recomendado para placas com dimensões
maiores que 40 x 40 cm. As placas são ▪▪
Calçadas de placas de concreto conferem
assentadas sobre camada de material granular, conforto de rolamento ao caminhar e ao utilizar
116 WRICIDADES.ORG
Box 7.5.1 | A PEDRA PORTUGUESA Figura B7.5.1.1 | Bom e mau exemplo de execução de
pedra portuguesa
A calçada de pedra
portuguesa resulta
do encaixe de
pedras de pequenas
dimensões e formas
irregulares, que são
calcetadas formando
um mosaico.
118 WRICIDADES.ORG
Box 7.5.2 | ALTERNATIVAS E NOVAS TECNOLOGIAS
Visando ao aumento do conforto e da funcionalidade das • Geração de energia - Percebe-se um crescente interesse de escorregamento – acidente comum no inverno –, além
calçadas, cidades ao redor do mundo começaram a criar em fazer calçadas – e as pessoas que nelas caminham de minimizar o trabalho de retirada da neve acumulada da
alternativas para substituir os pavimentos tradicionais. Entre – gerarem energia. A Pavegen, uma empresa britânica, frente das casas com pá. Esse sistema ainda é muito caro,
os desafios para execução e manutenção dos pavimentos criou um sistema feito de placas de material reciclado podendo custar mais de 100 mil dólares para construir um
das calçadas, alguns são focos de estudos e buscam aliar de borracha – pneus, principalmente – que converte a trecho em frente a uma edificação.
sustentabilidade econômica e ambiental: pressão dos passos dos pedestres em energia elétrica.
Calçadas com essas placas foram instaladas pelo Reino • Rachaduras retráteis - Pesquisadores da Universidade
• Materiais flexíveis - Novos materiais são estudados na Unido e pela França em locais públicos, como praças Técnica de Delft, na Holanda, criaram o Bioconcreto,
tentativa de minimizar os danos causados pela quebra das e estações de trem, e estão gerando energia de forma material capaz de se autoregenerar através de
calçadas por pressão das raízes de árvores. A tecnologia alternativa para iluminação de rua. De forma parecida, componentes vivos. Ao concreto tradicional, são
que vem sendo testada com maior frequência é a placa uma área de 10 m² feita de painéis de energia solar foi adicionadas colônias da bactéria Bacillus pseudofirmus,
emborrachada flexível. Normalmente composto de pneus instalada no pátio do campus tecnológico da Universidade que formam esporos e podem sobreviver por mais de
e plásticos reciclados, esse material consegue amenizar George Washington, nos Estados Unidos, gerando, em 200 anos. Além desses dois componentes, é adicionado
a destruição do piso pelas raízes das árvores, já que elas horário de pico, energia para acender as 450 lâmpadas de à mistura o alimento das bactérias – lactato de cálcio.
são muito mais flexíveis que o concreto. Além disso, a LED que iluminam o local. Quando surgem as rachaduras, a água que penetra nas
superfície da calçada fica mais macia – impedindo que fissuras ativa o lactato de cálcio. As bactérias germinam e
o pedestre afunde – e mais confortável ao caminhar. A • Calçadas autolimpantes - Cidades que convivem com se alimentam, resultando na produção de calcário em um
cidade que mais tem utilizado esse tipo de calçada é Santa neve no inverno, como Nova York e Minneapolis, estão tempo aproximado de três semanas.
Monica, na Califórnia, que, desde o início dos anos 2000, testando calçadas de concreto aquecidas. Aparentemente
já construiu mais de 2.000 m² de calçadas emborrachadas. são as mesmas placas de concreto, mas a diferença está
No entanto, a cidade deixou de instalar o pavimento devido na tubulação de água quente que passa por baixo. Com o
à baixa durabilidade do material. calor da água, a neve e o gelo derretem, diminuindo o risco
120 WRICIDADES.ORG
8.
DRENAGEM EFICIENTE
Um local alagado é impróprio para caminhada. Calçadas que acumulam
água tornam-se inapropriadas para os pedestres, que acabam arriscando
a sua segurança ao desviar de sua rota pelo leito dos carros. O cuidado
na execução do pavimento é determinante para a qualidade da calçada. A
inclinação transversal, por exemplo, não deve exceder 3%, medida sensível
e que deve ser verificada diversas vezes durante a construção da superfície.
É necessário garantir essa inclinação para que a água da chuva escoe e não
comprometa o deslocamento dos pedestres.
Filadélfia/EUA
122 WRICIDADES.ORG
Figura 8.1 | Drenagem eficiente
INCLINAÇÃO TRANSVERSAL
Cidade do México, México.
▪▪
É necessário realizar um processo de revisão da ▪▪
Todas as calçadas devem ser executadas com CASOS E EVIDÊNCIAS
inclinação transversal em calçadas prontas, com inclinação transversal de forma a drenar as
o auxílio de instrumentos de medição precisos. águas da chuva para a sarjeta e para jardins Nas calçadas alargadas e nas ruas
de chuva. pedestrianizadas da Cidade do México, a água é
▪▪
Em calçadas novas, a elevação da via de tráfego drenada para um canal instalado no local onde
deve ser coordenada com a elevação da calçada ▪▪
A limpeza urbana, principalmente das folhas antes estava a sarjeta. Isso permite aumentar o
e dos edifícios adjacentes, a fim de evitar a de árvores, é indispensável para o bom espaço dedicado aos pedestres, preservando a
construção de rampas de acesso aos edifícios. funcionamento dos sistemas de drenagem. declividade da calçada existente.
124 WRICIDADES.ORG
Figura 8.1.2 | Sistema de drenagem em rua pedestrianizada
A declividade transversal da
Os esquemas representam a Calle Madero, na Cidade do México, México, antes e depois da pedestrianização, com destaque para o
novo sistema de drenagem.
calçada é necessária para
drenagem, já que transporta
a água das chuvas aos
bueiros e pontos de coleta.
REFERÊNCIAS E
ORIENTAÇÕES ADICIONAIS
▪▪
O jardim de chuva deve ser projetado para ▪▪
Remove sedimentos finos, metais, nutrientes
drenar a água de uma área de até 1 ha. e bactérias da água antes da infiltração,
melhorando a qualidade da água e reduzindo a
▪▪
O solo do local de instalação do jardim de chuva necessidade de tratamento.
deve ter capacidade de infiltração entre 7 e
200 mm/h. ▪▪
Reduz o risco de inundações e alagamentos.
126 WRICIDADES.ORG
CASOS E EVIDÊNCIAS para o gramado e 95,49% para o jardim, sendo o REFERÊNCIAS E
segundo mais eficiente para a redução da poluição ORIENTAÇÕES ADICIONAIS
Um estudo realizado pela Universidade de difusa (Moura, 2014).
São Paulo (USP) examinou o desempenho do ABCP. Projeto técnico: Jardins de chuva.
jardim de chuva para diminuir a propagação da A cidade de Portland, nos Estados Unidos, teve Soluções para Cidades.
poluição causada pela água da chuva. Para isso, que escolher entre gastar aproximadamente 150 Castagna, G. (2014) Drenagem vs. manejo
os pesquisadores construíram dois protótipos milhões de dólares para ampliar a sua rede de sustentável de água de chuva: a experiência
compostos por agregados, solo e duas vegetações drenagem ou pensar em alternativas para reduzir de Portland. Infraestrutura Urbana. Projetos,
diferentes para comparação do nível de retenção e o volume de água escoada a fim de atender a uma Custos e Construção. Disponível em http://
tratamento da água: um deles era apenas gramado, imposição legal que obrigava a cidade a pagar multas infraestruturaurbana.pini.com.br/solucoes-
e o outro, formado por um jardim com plantas e ou a se adequar a novos critérios de qualidade da tecnicas/37/drenagem-vs-manejo-sustentavel-
arbustos. Durante um ano, os modelos receberam água do Rio Williamette. Assim surgiu o programa de-agua-de-chuva-a-308750-1.aspx. Acesso em
água advinda da sarjeta da via adjacente e foram Ruas Verdes (Green Streets Program), que adotou 23 outubro 2016.
monitorados, permitindo a análise comparativa da jardins de chuva e pavimentos permeáveis como Department of Transportation NYC (2015)
qualidade da água antes e depois da passagem pelos elementos-chave que, junto a iniciativas de Street Design Manual. Updated Second Edition.
jardins. A pesquisa concluiu que houve redução segurança para pedestres e ciclistas, redução da New York. p. 226-234.
média das cargas poluidoras acumuladas de 89,94% velocidade e organização do trânsito de veículos Moura, N. C. B. (2014) Biorretenção:
motorizados, promoveram o manejo da água da tecnologia ambiental urbana para manejo das
chuva. Os moradores de Portland foram estimulados águas de chuva. Tese de Doutorado. Faculdade
a construir jardins de chuva em frente a suas de Arquitetura e Urbanismo. Universidade de
propriedades, incentivados por descontos fiscais. São Paulo.
Foram financiados 11 milhões de dólares a partir de
taxas de drenagem e outros fundos criados para a
implantação de cerca de 500 iniciativas, responsáveis Outros princípios da calçada relacionados
por reduzir os picos de cheia em 85%, o volume com a drenagem eficiente:
escoado em 60% e a poluição difusa em 90%. Essa
mudança viabilizou, inclusive, a utilização dos 7. SUPERFÍCIE QUALIFICADA
rios como fontes de abastecimento de água para a 7.2 Concreto permeável
população (Castagna, 2014). 7.3 Blocos intertravados
128 WRICIDADES.ORG
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O que faz das cidades Milhões de pessoas buscam diariamente nas referências suficientes para que se realize a
cidades oportunidades de melhor qualidade de concepção, projeto e execução de calçadas de
lugares tão atrativos,
vida. As calçadas exercem um papel fundamental qualidade. É ainda muito frágil, no imaginário
concentrando hoje mais de para que as cidades sejam esses locais de interação da população, dos projetistas e dos executores, o
50% da população mundial, é social, desenvolvimento criativo e crescimento que representa uma calçada de qualidade.
Canela/RS
130 WRICIDADES.ORG
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projeto e operação das principais rotas de ônibus. Washington
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