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Resumo
O bullying nas escolas é um fenômeno antigo e conhecido como “brincadeiras de mau gosto”,
em que alunos movidos pela disputa por liderança, pelo preconceito, pelo poder sobre o mais
fraco para se sobressair no seu grupo social, perseguem e intimidam outros alunos por
possuírem algo de diferente dos outros. É um tema de grande importância na atualidade e têm
sido alvo de diversos debates, pois é muito fácil encontrar crianças e adolescentes que tenham
de alguma maneira, passado por esse tipo de violência, que é tão traumatizante, conforme
pode ser observado no cotidiano das escolas. Este tema tem tido um lugar de destaque na
mídia, nas pesquisas acadêmicas e no meio escolar. Nessas discussões busca-se soluções para
a prevenção, o combate e a punição à violência cada dia mais latente no universo das escolas.
Assim sendo, torna-se necessário o debate e a compreensão do termo bullying, assim como
discutir situações em que este tipo de violência ocorre na tentativa de reduzir sua frequência
no ambiente escolar, bem como, apresentar legislações vigentes contra este tipo de violência,
apontar suas causas e consequências, fazer uma análise de quais ações as intuições escolares
podem desenvolver diante de comportamentos agressivos, avaliar o papel da família diante de
tais comportamentos e assim apresentar formas de prevenção, combate punição do bullying,
além de orientar quanto ao enfrentamento a esta violência, habilitando os agressores a uma
convivência social sadia e segura. Este trabalho se embasa na afirmação de Comte que afirma
que: “a violência gera a violência; só o amor constrói para a eternidade” (CARDOSO, 1967,
p. 39). O presente artigo se justifica por ser o bullying um problema mundial e crescente que
se manifesta por meio de “brincadeiras” maliciosas que visam denegrir a imagem do outro.
Esta prática está se alastrando a cada dia mais no ambiente escolar, tendo como fator gerador
o desrespeito, o preconceito pelo próximo, trazendo como consequência uma extrema
dificuldade na aprendizagem do aluno, além de sérios problemas psicológicos e até mesmo
físicos quando o bullying vai para as vias de fato. Assim este trabalho visa analisar à Luz do
Direito brasileiro e da legislação vigente de que forma a atuação destas Leis poderão auxiliar
professores e gestores escolares na prevenção e punição do bullying nas instituições escolares.
Abstract
Bullying in schools is an old phenomenon known as "bad taste", in which students moved by
the dispute over leadership, prejudice, power over the weakest to excel in their social group,
persecute and intimidate other students for possess something different from the others. It is a
topic of great importance today and has been the subject of several debates, because it is very
1
Silva, Ludimila Oliveira. Graduanda em Direito na FACIHUS (Faculdade de Ciências Humanas e Sociais).
2017.
2
Dr. em Educação. Professor Orientador
Direito & Realidade, v.6, n.5, p.27-40/2018
SILVA, L. O.; BORGES, B. S.
easy to find children and adolescents who have in some way, past this type of violence, which
is so traumatizing, as can be observed in the daily life of schools. This topic has been
prominent in the media, in academic research and in the school environment. In these
discussions we seek solutions for the prevention, combat and punishment of violence
increasingly latent in the universe of schools. Therefore, it is necessary to debate and
understand the term bullying, as well as to discuss situations in which this type of violence
occurs in an attempt to reduce its frequency in the school environment, as well as to present
legislation in force against this type of violence, pointing out their causes and consequences,
analyze what actions school intuitions can develop in the face of aggressive behaviors,
evaluate the role of the family in the face of such behaviors and thus present forms of
prevention, combat punishment of bullying, and guide how to confront this violence, enabling
the aggressors to a healthy and safe social coexistence. This work is based on Comte's
statement that: "violence generates violence; only love builds for eternity "(CARDOSO, 1967,
39). This article is justified because bullying is a worldwide and growing problem that
manifests itself through malicious "games" that aim to denigrate the image of the other. This
practice is spreading more and more in the school environment, generating disrespect,
prejudice for others, resulting in extreme difficulty in student learning, as well as serious
psychological and even physical problems when bullying goes to the actual tracks. Thus, this
work aims to analyze to the light of the Brazilian Law and the current legislation how the
performance of these Laws may help teachers and school administrators in the prevention and
punishment of bullying in school institutions.
Keywords: Bullyng. Violence. Crime. School.
Apoio: FAPEMIG
A palavra Bullying surgiu do termo inglês bully, que significa valentão, brigão em sua
tradução para o português. Caracteriza-se como atos violentos como ridicularizar, discriminar,
ofender, zombar e colocar apelidos humilhantes e discriminatórias praticadas repetidas vezes
contra uma pessoa considerada indefesa com o intuito de intimidar, agredir e humilhar
outrem, causando sérios danos psicológicos e físicos às vítimas.
Nesse sentido, Fante (2005,p.28-29) define bullying como:
O bullying denomina atos que antigamente eram tratados apenas como brincadeirinhas
de “mau gosto” e que causam sérios transtornos e que podem levar as vitimas a cometerem
suicídio e ao homicídio entre estudantes. Mesmo sendo um fato antigo, ainda é desconhecido
pela maioria da população pois as vítimas se sentem obstadas a procuram algum tipo de
ajuda.(Silva, 2006)
Ainda segundo Fante, caracateriza-se por comportamentos propositais e danosos, que
acontecem com determinada frequência contra uma mesma vítima ou grupo e sem uma
motivação aparente. Geralmente se estabelece uma relação desigual de poder ou que
impossibilita a defesa da vítima. Além disso, acontece de forma direta através das agressões
físicas e verbais e de forma indireta pela difamação do agredido. (FANTE, 2005 apud Silva,
2006, p.3).
O bullying envolve atitudes hostis, intimidadoras sem nenhum motivo aparente,
indicada na grande maioria dos casos em relações de desigualdade entre agressores e vítimas,
marcada pelo uso da força física, na grande maioria dos casos, em que se estabelece uma
relação de poder.
Esse é um problema mundial presente em praticamente todas as instituições de ensino,
mas que ainda é um problema desconhecido pelos pais e pela sociedade em geral e por muitas
vezes também é ignorado por parte das escolas brasileiras. A comunidade escolar não se sente
preparada para lidar com esse tipo de violência e escolhem se omitir quando a toda
problemática enfrentada cotidianamente.
O bullying possui três modos de manifestação, quais sejam elas: a forma indireta, a
forma direta e a psicológica.
As agressões que ocorrem de forma direta são caracterizadas pela vítima terem seus
pertences tomados, muitas são agredidas com chutes, murros, tapas, puxões de cabelo,
empurrões, outros são feridos por objetos, tem seus materiais escolares e uniformes destruídos
e ou até mesmo são roubados dinheiro para a compra de lanches.
A forma indireta ocorre com agressões verbais, como por exemplo, apelidos
pejorativos, acusações injustas, gozações, brincadeiras maldosas e deste modo muitas crianças
são excluídas do grupo social em que convivem não podendo mais participar das atividades
de tal grupo como brincadeiras com seus integrantes.
Já a agressão psicológica é o resultado das duas formas anteriores mencionadas, não se
esquecendo do sofrimento das vítimas com as ridicularizações sofridas, com as intimidações e
o próprio medo. Os resultados são devastadores paras as vítimas, levando ao isolamento,
depressão e em casos mais extremas à prática do suicídio.
O modo como o bullying se manifesta no espaço escolar são de formas distintas, pois
tudo depende do controle que a escola tem sobre as crianças.
Porém é preciso levar em consideração que o recreio não é um espaço isolado sem
nenhuma relação com os outros momentos da vida da criança. O bullying pode ocorrer em
casa com os pais, ou no caminho da escola ou até mesmo por atitude autoritária dos
profissionais de ensino nas escolas que faz com que a criança se sinta agredida. Todos esses
fatores contribuírem para que a criança, por vingança, no horário do intervalo, longe da
percepção dos professores, agrida um colega. Pode ocorrer também, quando uma criança é
elogiada pelos professores em sala de aula e a outra criança por se sentir menosprezada, adote
um comportamento agressivo. Enfim, são diversos as situações que podem estar relacionadas
a atos agressivos. Desse modo, é necessário, para analisar as formas de manifestação do
bullying, sempre levar em consideração tais possibilidades.
na maioria das vezes as vítimas sofrem caladas por vergonha de se exporem ou por
medo de represálias dos deus agressores, tornando-se reféns de emoções traumáticas
destrutivas, como medo, insegurança, raiva, pensamentos de vingança e de suicídio,
além de fobias sociais e outras reações que impedem seu bom desenvolvimento
escolar.
Existem diversos fatores que contribuem para que uma criança seja propensa a praticar
o bullying como, por exemplo, a dificuldade em se relacionar com outras criança, o desejo de
se sentir superior e temido pelos outros, o gosto pela sensação de poder, o desejo de ter todas
as suas vontades atendidas, os maus tratos sofridos pela família, dentre outros como preceitua
o autor Capucho e Marinho (2008).
Direito & Realidade, v.6, n.5, p.27-40/2018 31
SILVA, L. O.; BORGES, B. S.
As vítimas por sua vez também apresentam características, pois são indivíduos que
geralmente apresentam diferenças com relação as outras crianças, são geralmente pessoas
tímidas, quietas, pouco sociáveis, não possuem capacidade para revidar as agressões sofridas,
possuem baixo autoestima, muitas apresentam baixo rendimento escolar, apresentam
resistência quanto ao fato de terem que frequentar a escola e muitas pedem para mudar de
instituição frequentemente, porém, não há um requisito predefinido para as vítimas desse tipo
de violência, todos estão propensos, basta apresentar algum tipo de dificuldade ou possuir
alguma característica diferente dos demais.
Deste modo, é de extrema importância se considerar que ninguém pode se sentir
culpado por ser vítima de bullying, tendo em vista que todo individuo possui peculiaridades e
devem ser respeitadas.
Capucho e Marinho (2008) apontam alguns identificadores que são comuns as vítimas
de bullying, como por exemplo: a falta de vontade de frequentar a escola, apresentar
resistência ao sair de casa, pedir para ser transferido de instituição, diminuição no rendimento
escolar, chegar em casa com hematomas sem explicação, apresentar comportamento
introvertido ou ficar agressivo sem motivo, ter os pertences danificados ou perde-los com
frequência, e em casos mais sérios, tentar e até mesmo consumar o suicídio.
As testemunhas que presenciam tamanha violência, na maioria dos casos, não tomam
nenhuma atitude por medo de represálias e de se tornarem também vítimas, e se sentem
incomodados pelo ambiente agressivo que se estabelece.
uma vida em sociedade de forma digna e justa tendo o respeito como principio basilar para
uma boa convivência.
Além disso, a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 5º dispõe sobre os direitos
e garantias fundamentais inerentes ao indivíduo, garantindo, saúde, educação, segurança
dentre outros, reafirmando assim, a ilicitude do bullying.
Portanto, nota-se que o Brasil possui legislação suficiente para o combate ao
bullying, o que está faltando é apenas sua efetivação por parte dos poderes políticos e
públicos.
A ausência dos pais no cotidiano da criança, tem dificultado a educação dos jovens
nos dias atuais. Nesse sentido, Silva (2006) e Chalita(2008) acreditam que os pais têm estado
cada vez mais ausentes na criação dos filhos e tem delegado o dever de educar, à escola.
Negligenciam ainda a educação emocional dos filhos e estes crescem não habituados a
dialogar com os genitores. A situação se agrava no momento em que a escola tem se mostrado
ineficaz ao lidar com a afetividade, por isso, os estudantes acabam reproduzindo na escola a
educação de casa, ou a falta dela, nas relações com os outros por meio da agressividade.
Portanto, se todos entenderem o problema e a gravidade das consequências geradas
por ele e atuarem de forma unida no sentido ao combate do problema, os índices das vítimas
de bullying irão diminuir consideravelmente para dessa forma, tentar construir uma sociedade
mais justa e digna.
A presente lei, em seu art. 1º, §1º, conceituou o bullying, traduzido como intimidação
sistemática, como sendo todo ato de violência física ou moral, intencional e repetitivo sem
motivação evidente, mas que na maioria dos casos é causada por motivos fúteis, dentre eles
a discriminação. É praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o
intuito de intimidar, ou até mesmo agredir, causando sofrimento e angustia à vítima, em
uma relação totalmente desequilibrada entre “poder” entre os envolvidos.
Esse tipo de violência que se efetiva mediante intimidação verbal, moral, social,
psicológica, moral, sexual, material e até mesmo virtual é extremamente prejudicial não
apenas para a vítima, como também para toda a sociedade, pois contribui para o índice de
evasão escolar, para o elevado aumento da criminalidade e suicídios.
Antes desta lei, o bullying já era combatido com o uso dos instrumentos
disponibilizados pelo Código Civil, pelo Código de Processo Civil, pelo Código Penal e
Processo Penal, como ações indenizatórias e reparatórias cíveis e penais. Nesse cenário, a
Lei 13.185/15 que foi promulgada em 06 de novembro de 2015, instituiu o Programa à
Intimidação Sistemática, com o intuito de enfrentar e combater o bullying de modo mais
adequado e direto. Esse programa foi instituído para funcionar em todo o território nacional.
Os objetivos do programa estão elencados no art.4º da referida lei e são basicamente:
I- prevenir e combater a prática da intimidação sistemática (bullying) em toda a
sociedade;
II- capacitar docentes e equipes pedagógicas para a implementação das ações de
discussão, prevenção, orientação e solução do problema;
III- implementar e disseminar campanhas de educação, conscientização e
informação;
IV- instituir práticas de conduta e orientação de pais, familiares e responsáveis
diante da identificação de vítimas e agressores;
V- dar assistência psicológica, social e jurídica às vítimas e aos agressores;
VI- integrar os meios de comunicação de massa com as escolas e a sociedade,
como forma de identificação e conscientização do problema e forma de
preveni-lo e combatê-lo;
VII- promover a cidadania, a capacidade empática e o respeito a terceiros, nos
marcos de uma cultura de paz e tolerância mútua;
Conclusão
É inquestionável que o bullying tem tomado proporções assustadoras nos últimos
anos e cresce em escala mundial, trazendo consequências para toda a sociedade. A escola
tem se mostrado ineficaz no combate às condutas antissociais que acontecem em seu
interior. O ambiente escolar tem sido palco de várias formas de violência, entre essas se
destaca o bullying.
Bullying é uma forma de violência oculta que tem chamado a atenção pelo seu
potencial de gerar consequências desastrosas para as vítimas, causando danos irreparáveis
ao indivíduo, de ordem emocional e socioeducacional.
O desconhecimento sobre o tema por parte da família e dos profissionais de ensino é
o principal obstáculo para a superação e indica a necessidade de uma maior discussão e
trabalhos referentes ao problema para a conscientização a respeito da sua inegável
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