1 Especificos Portugues Ingles

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APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

A insegurança na comunicação,
2) PROFESSOR principalmente em situações formais,
LETRAS demonstrada pelos escolares, a
incapacidade de redação na maioria dos
(PORTUGUÊS/INGLÊS) candidatos em concurso vestibular e a
dificuldade de compreensão de textos em
1. O ensino da Língua Portuguesa: todos os níveis escolares constituem
língua, linguagem, variação e indicações da importância do ensino na
variedade linguística Língua Portuguesa, cujo questionamento
vem ocupando uma posição central no
Língua contexto educacional.
A Língua é um instrumento de Essa situação faz com que os
comunicação, sendo composta por professores de Português realizem
regras gramaticais que possibilitam que estudos e pesquisas e apresentem
determinado grupo de falantes consiga alternativas para melhor funcionalidade
produzir enunciados que lhes permitam desse ensino, a partir da análise das
comunicar-se e compreender-se. Por suas deficiências.
exemplo: Os profissionais da Língua
falantes da língua portuguesa. Portuguesa voltam-se às ciências
A língua possui um caráter social: linguísticas como a fonte de onde se
pertence a todo um conjunto de pessoas, podem inferir normas metodológicas para
as quais podem agir sobre ela. Cada o ensino, que, associadas aos princípios
membro da comunidade pode optar por metodológicos, permitem uma tomada de
esta ou aquela forma de expressão. Por posição mais efetiva sobre o que ensinar
outro lado, não é possível criar uma e como fazê-lo.
língua particular e exigir que outros Nossa interpretação é de que o
falantes a compreendam. Dessa forma, fato metodológico é realmente
cada indivíduo pode usar de maneira abrangente, visto encerrar uma filosofia
particular a língua comunitária, de educação, o pensamento de uma
originando a fala. A fala está sempre sociedade com peculiaridades locais em
condicionada pelas regras socialmente permanente e acelerada mudança, e uma
estabelecidas da língua, mas é teoria linguística.
suficientemente ampla para permitir um No Brasil, o ensino da língua
exercício criativo da comunicação. Um materna tem-se desenvolvido quase
indivíduo pode pronunciar um enunciado somente por meio do ensino da
da seguinte maneira: gramática tradicional. E o pressuporto
A família de Regina era básico, nessa acepção, é de que saber a
paupérrima. teoria gramatical equivale a saber
Outro, no entanto, pode optar por: Português.
A família de Regina era muito A gramática é, portanto, colocada
pobre. e vista como parte fundamental do ensino
As diferenças e semelhanças da língua. Decorrentes dessas premissa
constatadas devem-se às diversas surgem as diretrizesmetodológicas: toda
manifestações da fala de cada um. Note, a teoria gramatical é sistematizada e
além disso, que essas manifestações estruturada para que o escolar a domine
devem obedecer às regras gerais da no processo de escolarização. Os
língua portuguesa, para não correrem o conteúdos das oito séries de 1º grau e os
risco de produzir enunciados das três séries do 2º grau são reunidos
incompreensíveis como: num conjunto compartimentado. Há,
Família a paupérrima de era assim, onze compartimentos, cada um
Regina. correspondendo a um ano letivo,
complementados com exercícios
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dimensionados, conceitos, regras e alternativas, características do ensino


exceções.1 tradicional. Por fim, como um simples
Embora essa metodologia de apêndice, a Portaria faz breve referência
ensino da Língua Portuguesa eivada só a que o ensino se subordine a um
de gramática seja desgastante, ela é de embasamento linguístico e a uma técnica
procedimento geral em classes de 1º dentro da Linguística Aplicada.
grau. É interessante ressaltar que os
O posicionamento, visto assim, é únicos efeitos concretos da Portaria 36
fruto de uma tradição histórica, foram a unificação da nomenclatura
organizada numa concepção clássica do gramatical e o reforço da postura
ensino da língua, trazida pelos jesuítas. tradicional de reduzir o ensino de
Em termos concretos, essa tradição de Português ao ensino da gramática
ensino, que procurava seu tradicional. A Portaria não abre
aperfeiçoamento evitando qualquer perspectivas de mudanças na orientação
alternativa, fazia com que o professor geral do ensino.
que só havia aprendido gramática, Apesar de a Lei 4.024, de 20 de
apenas gramática ensinasse, fechando dezembro de 1961, ter representado um
assim um círculo vicioso, com poucas avanço em termos de legislação
perspectivas de mudanças. educacional, por dar maior
Esse posicionamento foi sendo descentralização ao sistema, a essência
reforçado e estratificado pelas principais do ensino da Língua Portuguesa
normas legislativas. Em 1959, por continuou a mesma.
exemplo, a Portaria 36, do Ministério da A Lei 5.692/71, se bem que
Educação e Cultura (MEC), disciplina a apresente também uma evolução do
adoção da Nomenclatura Gramatical quadro da legislação, acabou por
Brasileira e recomenda seu uso produzir uma situação extremamente
no ensino programático como também paradoxal no ensino da Língua
em atividades que visem à verificação da Portuguesa, quer em termos intrínsecos -
aprendizagem. Nessa mesma Portaria contradição entre os pressupostos gerais
são definidas as instruções quanto à da lei e seus desdobramentos em textos
seleção dos termos da nova complemetares -, quer em termos
nomenclatura: exatidão científica do extrínsecos - a contradição entre a lei e
termo; vulgarização internacional e a sua aplicação.
sua tradição na vida escolar Basicamente, a legislação assume
brasileira.2 E quanto às recomendações a posição de distinguir um ensino
atinentes à aplicação, destaca-se: dá-se centrado no uso da língua de um ensino
importância a revisão da doutrina a respeito da língua, acrescentando que
gramatical e à realização de pesquisas o primeiro deve preceder ao segundo.
contínuas para detectar os erros mais Esses dados ficam claros pela leitura do
comuns cometidos pela coletividade Parecer 853/71.
escolar, atentatórios à gramática. Se é O artigo 5º desse Parecer afirma
louvável a intenção da Portaria com que nas séries iniciais, sem
relação à revisão permanente da doutrina ultrapassar a quinta, a língua será
gramatical - o que nunca foi feito - e com desenvolvida sob a forma
a pesquisa dos fatos linguísticos de Comunicação e Expressão, tratada
correntes - o que também nunca foi feito - predominantemente como atividade; em
é lamentável a concepção seguida, até o fim desse grau, sob a
linguísticasubjacente à Portaria. É uma forma de Comunição em Língua
concepção defasada da variação Portuguesa, tratada predominantemente
linguística, vista como erros atentatórios como área de estudo; no ensino do 2º
à gramática, proveniente de um ensino grau, sob a forma de Língua Portugesa
monolítico, onde não se admitiam
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e Literatura Brasileira, tratada dessa situação de contradição entre a


predominantemente como disciplina. realidade e a lei quando diz:
O artigo 4º define que nas Na prática escolar até agora mais
atiivdades, a aprendizagem far-se-á frequente dá-se, por exemplo, que a
principalmente mediante experiências preocupação prematura e exagerada
vividas pelo próprio educando no com a função metalinguística vem a
sentido que atinja, gradativamente, a perturbar e mesmo inibir o
sistematização de desenvolvimento das demais funções:
conhecimentos (parágrafo 1º); nas não só o excesso de atenção e de tempo
áreas de estudo, formadas pela destinados, já nas primeiras séries do 1º
integração de conteúdos afins, as grau, a falar a língua restringe, senão
situações de experiência tenderão a elimina as oportunidades de cultivar
equilibrar-se com os conhecimentos qualquer outra função linguística, mas
sistemáticos para configuração da ainda a apresentação insistente e de
apredizagem (§ 2º); nas disciplinas, a forma inadequada de modelos
aprendizagem se desenvolverá conflitantes com a competência
predominantemente sobre linguística dos alunos acarreta nestes um
conhecimentos sistemáticos (§ 3º).3 verdadeiro complexo de incompetência
Como foi dito antes, a contradição linguística, que tende a bloquear o
se encontra no próprio corpo da exercício de todas as demais funções da
legislação, assim como nas situações em linguagem.5
que ela é aplicada. Quanto à legislação, Foram vistos, até aqui, dois fatores
a um princípio avançado - dar que dificultam avanços na metodologia
precedência ao ensino centrado no uso do ensino da Língua Portuguesa: de um
da língua - correspondeu uma aplicação lado, a quase exclusividade do ensino de
tímida (facilmente percebida no art. 5º) e gramática - fruto da tradição trazida pelos
não coerente, como quando caracteriza jesuítas - e, de outro, as contradições
os objetivos da área de Comunicação e internas e externas da legislação.
Expressão para os alunos de 5ª a 8ª Poder-se-iam acrescentar outros
série: fatores como a grande defasagem entre
Visará introduzir o aluno na as ciências da linguagem e o ensino de
simbologia linguística, desenvolvendo Português e, por fim, a grande
suas capacidades de expressão oral e defasagem entre as práticas realidades
escrita, fixando as estruturas básicas da decorrentes, principalmente, das
língua, conduzindo-o a uma evolução do transformações pedagógicas e os
seu pensamento reflexivo (...) permitir a desafios colocados à escola pelas novas
expressão individual, transformando-a geradas na socidade brasileira pelo
em linguagem organizada...4 intenso processo de industrialização.
Quanto à contradição encontrada Dessas transformações surgiu um
nas situações concretas de aplicação da conjunto de problemas que constitui um
lei, pode-se recorrer aos estudiosos da desafio aos professores que buscam uma
legislação. Mesmo aos que chegam à diretriz mais funcional ao ensino.
conclusão da pertinência de tal Numa sociedade conservadora, a
legislação, não deixam de enfatizar que, grande responsabilidade do professor era
apesar de a legislação abrir um campo preparar a criança para essa sociedade.
para a precedência do ensino do uso O instrumental a ser usado já fora
sobre a sistematização da língua, muito experimentado e aprovado por gerações,
pouco se fez, concretamente, nesse restando apenas adotá-lo. Era
sentido. característica dessa época a
Aryon Rodrigues, comentando a apresentação de produtos feitos e
Resolução 853/71, fornece explicação acabados, assim como a memorização.
Surgiram, então, as transformações
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sociais decorrentes da industrialização. tendem a praticar desajustes sociais por


Seus valores começaram a passar pelo falta de instrumentalização cultural),
crivo de uma forte e contínua crítica e parte-se, em geral, para a aplicação da
muita rejeição. teoria compensatória (como se fez em
Despontaram, assim, as novas diversos locais, por exemplo, nos
formas de vida, as alternativas Estados Unidos, onde o próprio governo
coexistentes, as minorias. Perdeu a a adotou), julgando-se que "dando
existência o homem-modelo de uma cultura" a essas populações resolver-se-
sociedade conservadora e estóica. O iam seus graves desajustes. Essa
modelo está sendo cada dia repensado. posição é traduzida, na prática, pelo
(Observe-se que se trata de uma análise menosprezo da escola aos valores das
de tendências e não de fatos. Os fatos crianças oriundas das faixas
estão eivados de contradições das duas marginalizadas da população,
tendências, o que faz com que o papel do menosprezo esse que será uma das
professor sofra também essas razões de seu fracasso escolar. Críticas
contradições). de ordem teórica e empírica foram
Nesta sociedade, cabe ao levantadas contra tal posicionamento. *
professor a tarefa de levar a criança a Se o analfabetismo for encarado
saber questionar, a criar novos modelos. como consequência da situação sócio-
Para essa nova função, se o professor econômica, e é assim que o entendemos,
continuar a trabalhar com o mesmo outro será o sentido e o valor do ensino
instrumental, sentir-se-á fatalmente de Português. Poderá desempenhar
insatisfeito, seja porque ciente das papel importante na medida em que cria
mudanças, percebe-se defasado em sua condições para que as crianças possam
formação, seja porque, indiferente ao ampliar seu universo de comunicações
processo inovador, continua a visar um como perspectiva de situar-se melhor em
modelo anacrônico cujo resultado nulo meio aos conflitos decorrentes de sua
tem efeito frustrador para suas situação sócioeconômica. A leitura ganha
aspirações profissionais. valor à medida que ela é caminho para
Um dos resultados do processo novas informações, para aprendizagem
peculiar de desenvolvimento da de visões diferentes do mundo.
sociedade brasileira e latino-americana é A leitura passa a ser instrumento
a situação sócio-econômica de sua de libertação para a pessoa interpretar,
população, distribuída em uma pirâmide refletir, formar-se, conscientizar-se. O
cujo cume se está tornando cada vez mais importante da leitura, nesse
mais alto mais fino e cuja base se torna enfoque, é que ela nos torna pensadores,
cada vez mais alargada. Uma das pois irá instrumentalizar o indivíduo para
consequências dessa situação é o uma compreensão mais ampla do seu
analfabetismo e a marginalização mundo e para a comunicação.
cultural. Sem dúvida, o analfabetismo Dessa forma, a escola ganha novo
tende a desaparecer à medida que se sentido, o professor já não é a única
resolvem os problemas sócio- fonte de informação.
econômicos. No entanto, a maneira como Outro desafio para o ensino de
é visto o analfabetismo tem repercussões Português é a extensão social dos mais
variadas no desenrolar da questõa sócio- variados meios de comunicação, em
econômica e educacional. decorrência dos avanços tecnológicos
Se o analfabetismo é considerado das últimas quatro décadas. O indivíduo
desligado da questão sócio-econômica está cercado, por todos os lados, pela
ou causador dela (desde a simples força dos meios de comunicação, força
afirmação de que pobre é fruto de sua essa que motiva as diretrizes da vida,
ignorância, até a mais sofisticada, de que que implusiona, que faz aparecer
essas pessoas são marginalizadas e interesses e necessidades.
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E, nesse campo, os veículos de indivíduo, fica claro que o ensino não


comunicação marcam presença: seja pode restringir-se à gramática tradicional
pelo número de horas absorvidas pela e que as alternativas deverão encontrar
assistência aos programas de TV, seja caminhos para a prática da abrangência.
pela gama infindável de opções no Esse caráter abrangente é decisivo na
campo das publicações. O trabalho do metodologia do ensino da Língua
professor de Português ganha realce em Portuguesa e resulta na necessidade de
face dessa situação, visto o aluno se analisar o descompasso entre a
precisar adaptar-se criticamente a ela, investigação teórica da linguagem e a
desenvolvendo a capacidade de maior fundamentação do ensino de Português.
compreensão dessas formas de Observou-se, até aqui, que no
comunicação e evitando ser um receptor Brasil o ensino da Língua Portuguesa,
passivo: ele precisa discutir a mensagem apesar da sua importância e
postando-se ativamente diante das multiaspectos, tem-se conduzido quase
situações criadas. somente por meio da gramática
Um último dado a ser considerado tradicional, sendo isso responsável por
é o fato de a língua Portuguesa ocupar grande parte do insucesso dos alunos na
posição de destaque na escola de 1º e 2º aprendizagem da língua materna e da
grau, isto por ser a disciplina base das falta de segurança na comunicação.
outras matérias de estudo, pois é Os próprios linguístas nos seus
veículo de todos os conhecimentos estudos já não utilizam tal gramática
que a escola proporciona: fala-se e lê-se como modelo analítico, salvo
em português ao discutir sobre criticamente, como ponto de partida para
matemática ou estatística, sobre ciências outros modelos mais coerentes e
naturais ou químicas. Tudo reconduz ao abrangentes.
português a todo momento da vida O ensino la Língua Portuguesa só
escolar. O ensino de português é, por pode ser desenvolvido a partir de uma
assim dizer, uma espécie de educação reflexão sobre a própria noção de língua
permanente instalada na forma de todas e pela análise da situação linguística em
as disciplinas.6 que todo o indivíduo está envolvido.
Se o indivíduo não conhece bem a Isso implica dois aspectos:
Língua Portuguesa, não pode aprender 1) entender o domínio da língua
adequadamente aquilo que deseja. Se não apenas como um saber sobre ela,
não aprende, não assimila e, por outro mas primordialmente como o domínio de
lado, torna-se incapaz de elaborar um um conjunto de habilidades de uso da
pensamento lógico. língua em cada situação;
No entanto, tudo o que vimos 2) aplicar princípios la Linguística
discorrendo sobre ensino da Língua na metodologia do ensino de línguas.
Portuguesa só se trornará efetivo se as Os estudos atuais procuram
suas finalidades forem reexaminadas e descartar, sobremaneira, não só o
seus métodos revistos a partir de teorias aspecto sistemático e criativo da
recentes formuladas e que fornecem uma linguagem, mas também a adequação
compreensão mais abrangente do realizada em cada momento do ato
fenômeno linguístico. Dessa forma esse linguístico. A tendência é a de superar
ensino assume, nos seus multiaspectos, reduções excessivas praticadas em
importância e novas perspectivas; e, na momentos precedentes na
discussão das formas que ele pode investigação e integrar aspectos
assumir, é essencial uma fundamentação complementares decorrentes da justa
científica, abandonando-se a gramática avaliação das dimensões social e
tradicional como centro de ensino. individual dos usos como centrais e
Diante das inter-relações da língua determinantes.7
com todos os aspectos da vida do
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Paralela às teorias e produzindo uma mudança qualitativa no


procedimentos da Linguística surge a ensino de língua.
Linguística Aplicada, como disciplina O ponto crítico do ensino de
científica, que é o ponto de convergência Português tem sido a ênfase unilateral ao
de uma multiplicidade de investigações estudo da teoria gramatical. Nossos
de alguns setores das ciências sociais, alunos passam onze anos nas escolar e,
pedagógicas e didáticas de línguas. frequentemente, o que lhes é
A aplicação da Lnguística implica apresentado é apenas metalíngua -
uma compreensão das coordenadas e conceitos, regras, exceções.
dos termos que configuram o ato verbal e Em estudos realizados sobre a
do complexo de funções nele inseridas. gramática tradicional, FARACO acentua
Compreende-se, desta forma, que que
o ensino da língua deve estar associado a língua continua a ser vista de
a uma ciência que é a Linguística. modo cristalizado: para as gramáticas
Contudo, repensar o ensino de língua tradicionais só existe uma língua
como fundamento na Linguística não portuguesa (aquela prevista por elas); as
significa introduzir diretamente, nas variantes linguísticas, em geral, são
escolas de 1º e 2º graus, as formulações vistas como formas erradas,
teóricas mais recentes; nem se trata de condenadas, não recomendáveis, uma
realizar um exercício meramente espécie de corrupção da
mecânico de passar as conclusões língua verdadeira, pura.
teóricas para a atividade pedagógica; é, Tem-se a impressão que a língua
isto sim, desenvolver uma pedagogia de é um fenômeno homogêneo e imutável
Português a partir de se assumir uma ou no tempo: os fatos que as gramáticas
outra ou várias das diferentes teorias apresentam são, em geral, arcaicos.9
linguísticas. É um trabalho indireto e, por Entre os motivos apresentados
isso, interdisciplinar. como contrários ao ensino da teoria
Uma compreensão mais rica do gramatical, destacamos dois: primeiro, o
fenômeno linguístico - fornecida pelas fato de que é possível dominar a língua
formulações teóricas - será o suporte sem conhecer-lhe a teoria gramatical,
para a definição de novas diretrizes para como acontece na aquisição da língua
o ensino. pela criança; segundo, o fato de que a
A linguística aplicada ao ensino de teoria gramatical ensina nas escolas é
línguas absorverá os aspectos centrais bastante imprecisa, defasada em relação
que decorrem do conhecimento científico às mudanças ocorridas na língua.
da natureza e funcionamento da Concluímos, então, que não se
linguagem e das línguas, da sua pode restringir o ensino da Língua
aquisição e domínio por parte de um Portuguesa ao ensino da teoria
falante, do papel que desempenham no gramatical.
seio das comunidades, e suscitará que Mas, além de ter feito pouco
informem a didática, constituindo-se em esforço no sentido de criar uma
instrumento de configuração, de linguística aplicada ao ensino de
equacionamento e também de resolução Português, com suas naturais
de problemas que atingem esta área de consequências para a formação do
atividade.8 professor de 1º e 2º graus (basta lembrar
Também não é o caso de que as normalistas não tem nenhuma
introduzir uma terminologia nova - formação linguística), há um outro
oriunda das teorias linguísticas - nas problema que afeta esse ensino, a saber:
gramáticas tradicionais e no ensino - a falta de descrições razoáveis da língua
como tem ocorrido com certa frequência - portuguesa nas modalidades em que ela
e pensar que se está com isso é falada aqui no Brasil, o que dificulta a
orientação do seu ensino.
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RODRIGUES afirma que uma das da língua, uma vez que outros
tarefas da Linguística no Brasil é a conhecimentos a respeito da língua só
investigação do nosso idioma e que há podem ser desenvolvidos nos alunos a
necessidade de se analisar ou reanalisar partir de um bom domínio da mesma por
a língua portuguesa de um ponto de vista parte deles.
puramente descritivo.10 Um modelo linguístico aplicável ao
A esse respeito ISAURA HIGA se ensino deveria, segundo LOBATO,
pronuncia colocando a necessida de que englobar, além dos elementos
em todos os recantos de nosso propriamente linguísticos, principalmente
país sejam feitas pesquisas linguísticas outros aspectos tais como o contexto
que venham contribuir de forma prática linguístico dos falantes e as variações no
para elaboração de uma descrição da uso da língua pois dominar uma língua
língua nacional que servirá de ponto de significa dominar, além das regras de
partida à atualização do ensino de nossa boa formação de frases, os princípios
língua materna.11 e condições de utilização adequada
Se, de um lado, uma descrição dessas frases num dado contexto
melhor da língua nos vai fornecer um linguístico e numa dada situação de
panorama mais atualizado dela - e comunicação.
poderemos trabalhar nas escolas com Essa abordagem tem merecido,
uma língua menos arcaica e mais recentemente, especial atenção dos
próxima das experiências e necessidades sociolinguístas e, nesse campo, os
de nosso alunos -, será também de estudiosos têm dado maior destaque ao
utilidade adiantar diretrizes gerias para o aspecto sócio-semântico das opções
ensino da língua como base na aplicação linguísticas que caracterizam a
de uma teoria que nos fornceça uma heterogeneidade do uso da língua entre
noção mais abrangente dessa língua, uma determinada população.
vista não apenas como um sistema Um das linhas diretrizes desta
formal, mas também como um sistema investigação reside na tentativa de
de opções comportamentais. integração, na descrição linguística, de
Em relação ao ensino de línguas, considerações referentes aos contextos
dois grandes objetivos podem ser social e cultural em que tem lugar o uso.
esclarecidos. Se entendermos língua Essa posição é atualmente assumida,
como um sistema de opções com particular vitalidade, por HALLIDAY,
comportamentais, o objetivo será que se preocupa não apenas em propor
desenvolver nos alunos as habilidades de um modelo estático das estruturas
expressão e compreensão de linguísticas, mas, também, em mostrar
mensagens verbais: o uso ou como estão integradas no sistema
apropriação da língua, em situações linguístico as possibilidades funcionais da
sociais concretas de intercâmbio língua: para ele a língua é o que é pelas
linguístico. Se encarada como objeto de funções que desempenha, Em suma,
estudo - um sistema a ser identificado e para ele não há distinção entre estrutura
descrito - o objetivo passará a ser o e uso, estando ambos interligados.
conhecimento consciente do sustema Tendo em vista os aspectos acima
linguístico, saber a respeito da língua. A apresentados, a adoção da teoria
ênfase num ou noutro caracteriza um linguística de HALLIDAY parece
ensino prático ou mais teórico. relevante para a reformulação do ensino
Deve-se ressaltar, contudo, que a da Língua Portuguesa, à medida que
ênfase dada a um deles não exclui o HALLIDAY, tomando por base uma visão
outro, e que no ensino de 1º grau deve sociolonguística peculiar, amplia as
predominar o desenvolvimento das concepções correntes de língua,
habilidade de comunicação sobre a passando a entendê-la como um sistema
aquisição de conhecimentos a respeito de opções comportamentais.
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Consequentemente, essa concepção Considerando que a oralidade se


possibilitará uma nova metodologia, mais apreende e se aperfeiçoa em diferentes
dinâmica para o ensino vernáculo. contextos, com diferentes grupos,
influenciados por uma gama heterogênea
de fatores, como a convivência de
2. A fonologia e a fonética para o descendentes de diversas etnias num
ensino da ortografia mesmo espaço social, há que se
trabalhar, para uma alfabetização efetiva,
com o desenvolvimento da consciência
Uma boa educação para fonológica.
participação digna na vida social é o Como a criança traz de casa a
mínimo que o Estado deve oferecer a língua oral já sistematizada, cabe à
seus cidadãos. Partindo-se do escola traçar relações entre o que se fala
pressuposto de que a mesma leva o e se escreve, levando sempre em
indivíduo a interagir com mais consideração as variações apresentadas
propriedade nas esferas sociais como entre fonemas e grafemas.
família, trabalho, política, escola, entre Segundo Magalhães (2013),
outras, lhe é atribuída uma grande A consciência fonológica refere-se
responsabilidade. A educação é, por a uma capacidade metalinguística para
excelência, o primeiro passo para o identificar e manipular os fonemas ou
desenvolvimento e a justiça social, e sons que constituem a língua materna.
envolve desde os primeiros contatos com Representa uma capacidade complexa
as letras até os mais elevados graus de em que a criança começa a identificar e a
estudo, institucionalizados ou não. Para refletir que o discurso é constituído por
que a mesma ocorra, é imprescindível um conjunto de frases, e que estas
que o indivíduo domine o código, seu podem ser segmentadas em palavras, as
idioma, tanto na fala, para as palavras em sílabas e as sílabas em
necessidades mais básicas, articulando unidades mínimas, ou seja, os fonemas.
seus argumentos, contando, etc, e na (MAGALHÃES, 2013, p. 02)
escrita, o que se caracteriza como um Desde os primeiros anos do
processo mais complexo, que se inicia ensino fundamental, quando a maioria
com a alfabetização, cujos agentes das crianças têm os primeiros contatos
diretos são os professores, estes com a língua escrita, até os últimos anos,
formados pelas mais diversas instituições ocorrem processos de alfabetização e de
e níveis de ensino. letramento que buscam sistematizar a
Conforme Oliveira (2005), língua graficamente, por diferentes
[...] a escrita de qualquer uma das métodos, para depois levar a um domínio
línguas humanas – e, entre elas, o maior dos processos linguísticos
português – envolve muitos aspectos que predominantes na escrita. Ou seja, a
o aprendiz deve dominar ao longo de seu alfabetização se inicia nos primeiros anos
aprendizado. Além dos aspectos de escolarização e se estende
fonológicos, ou seja, além dos aspectos diferentemente em cada realidade, para
que têm a ver com os sons do português, cada indivíduo de forma e em tempos
a escrita do português envolve também diferentes.
aspectos morfológicos, gramaticais e Nos diferentes contextos, com
textuais. (OLIVEIRA, 2005, p.01) suas particularidades, nos primeiros anos
Tais aspectos partem do da alfabetização, a fala se sobrepõe à
conhecimento da linguagem oral, escrita, fase na qual são essenciais, por
previamente sistematizada, para um parte do alfabetizador, os conhecimentos
aperfeiçoamento de características relacionados ao desenvolvimento da
inerentes à escrita. consciência fonológica para direcionar as

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ações conforme o grupo com o qual compreendem o princípio alfabético de


trabalha. escrita, representam facilmente a
De acordo com Capovilla (1998), estrutura silábica universal constituída
no processo de aquisição da escrita se por ataque e núcleo (CV), ferindo ou não
exige que o educando reflita sobre a fala, as normas ortográficas de sua língua
estabeleça relações entre os sons da fala materna.
e sua representação na forma gráfica. A Nesse processo, que envolve a
aquisição da escrita está intimamente formulação de hipóteses sobre a escrita,
ligada à consciência fonológica, uma vez reflexões sobre a relação entre fala e
que, para dominar o código escrito, é escrita e o uso da consciência fonológica,
necessária a reflexão sobre os sons da é necessário que o educador saiba
fala e sua representação na escrita. conduzir seus alunos por um caminho
Conforme Hullen, Ferreira e Busse sistematizado, visto que a aprendizagem
(2013, p.03), “[...] considerando que o da leitura e da escrita não são processos
aluno utiliza a sua fala como parâmetro naturais. Trata-se de um processo
para a atividade de escrita, é comum a sistematizado de codificação e
presença dos processos fonológicos em decodificação, para passar a níveis mais
suas produções”. elaborados de leitura e escrita.
Assim, os aspectos que envolvem De acordo com Rego,
as particularidades da língua e, por Se por um lado, não podemos
extensão, a aprendizagem da leitura e da descartar a importância das práticas
escrita, são subsidiados pelos sócio-culturais da leitura e a apropriação
conhecimentos de Fonética e Fonologia. da língua escrita enquanto forma de
Conforme Oliveira (2005), a comunicação, temos que considerar que
Fonética é o estudo sistemático dos sons também é um fato incontestável, que só a
da fala; trabalha com os sons partir da descoberta do princípio
propriamente ditos, levando em alfabético e das convenções ortográficas
consideração o modo como eles são formamos um leitor e escritor autônomo.
produzidos, percebidos e quais aspectos (REGO, 2012, p.07)
físicos estão envolvidos na sua produção, Conforme Oliveira (2013), para
enquanto a Fonologia está ligada aos que se reconheçam as particularidades
sistemas e padrões que os sons de aprendizagem da língua, é necessário
possuem. que o professor seja capaz de:
Para Pacheco, Perceber que o aprendiz associa o
[...] a diferença entre fala e escrita sistema de escrita alfabética, num
está efetivamente prevista, haja vista que primeiro momento, ao conhecimento que
a escrita tem por essência representar a ele tem do sistema fonológico de sua
fonologia de uma língua. Assim, a escrita língua (no caso, o português); Perceber
não tem um compromisso de registrar que a escrita é construída pelo aprendiz,
tudo o que é dito pelo falante. Ela não com base em hipóteses que ele formula,
tem, pois,um objetivo fonético. Assim, e reformula, sobre este sistema;
caberá a ela registrar aquelas realizações Perceber que a cada estágio do
que são de fato distintivas para a língua. processo de apropriação da escrita
Realizações orais que não contribuem corresponde uma hipótese diferente
para efetiva organização do sistema sobre o que seja escrever;
fonológico não são contempladas. Perceber que os problemas de
(PACHECO, 2013, p. 03) escrita possuem naturezas diferentes,
Conforme Ilha (2007), o sistema relacionadas às hipóteses levantadas
de escrita alfabética configura uma pelo aprendiz;
representação visual, por meio de letras, Perceber que uma intervenção
dos fonemas de uma língua natural. pedagógica eficaz requer do professor a
Quando sujeitos em fase de letramento habilidade de reconhecer a natureza da
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hipótese que o aprendiz formula a cada Conforme Hullen, Ferreira e Busse


momento. (OLIVEIRA, 2013, p. 02) (2010),
Segundo os PCN de Língua
Portuguesa para o Ensino Fundamental Dentre os desafios que se
(1998, p. 04), “[...] o objeto de ensino e, colocam, hoje, à escola, o domínio do
portanto, de aprendizagem, é o código escrito e a compreensão da sua
conhecimento linguístico e discursivo estrutura se colocam como um problema
com o qual o sujeito opera ao participar aos professores independentemente do
das práticas sociais”. Observa-se a nível de ensino. Parte-se da perspectiva
expressão conhecimentos linguísticos, os de que os alunos nas séries finais do
quais abarcam em primeiro lugar a Ensino Fundamental dominem o código
codificação e a decodificação da língua escrito, restando apenas alguns
para, a partir daí, implementar os demais conteúdos ortográficos a serem fixados.
recursos próprios da língua concebida Porém, a prática de texto tem revelado
como prática social, ou seja, as práticas que alguns problemas relacionados à fala
de letramento, para as quais, segundo e escrita permanecem até o Ensino
Kleiman (2005), não existe um método, Médio. (HULLEN, FERREIRA e BUSSE,
pois o letramento consiste na imersão da 2010, p. 02)
criança, do jovem ou do adulto no mundo Nesse cenário, buscam-se os
da escrita, e, nesse sentido, estar imerso possíveis culpados para as carências da
no mundo da escrita é abarcar alfabetização. Dentre os fatores, ênfase
incontáveis situações de comunicação. ao ensino público, estão os de ordem
Para tanto, com a alfabetização se econômica e social da clientela, as más
instrumentaliza o educando para que condições físicas das escolas e de
possa expressar-se pela escrita e material, a falta de valorização dos
acessar conhecimentos por meio da profissionais da educação,
leitura. constantemente desmotivados, mas o
Para que o letramento citado pela que salta aos olhos é a questão da
autora seja efetivado, é necessária uma formação dos educadores que trabalham
ferramenta, a alfabetização. nos primeiros anos do ensino
Nesse sentido, o que se espera é fundamental. Trata-se, em sua maioria,
que nos anos finais do ensino de professores formados nos cursos de
fundamental os processos básicos de educação, modalidade normal
escrita e de leitura, iniciados com a (magistério), com duração de quatro
alfabetização, já estejam consolidados anos, período no qual estão ausentes
para a grande maioria das crianças. Já disciplinas que tratem dos processos
os de letramento, que se estendam por fonéticos e fonológicos na aquisição da
toda a vida. escrita e da leitura.
No entanto, a realidade com a qual Mesmo para educadores que têm
nos deparamos a cada dia nas escolas ensino superior, muitos, formados há
não é esta. Há ainda, nas séries finais do mais tempo, não tiveram em sua
ensino fundamental, problemas graves formação a Disciplina Fonética e
em relação aos processos de escrita e de Fonologia, e, em cursos de
interpretação, tanto no que diz respeito aperfeiçoamento, especialização, ou na
ao entendimento do texto proposto, à formação continuada, tais aspectos
estruturação dos gêneros, ao uso raramente são considerados.
inadequado das
tipologias, quanto na grafia das A FORMAÇÃO DO PROFESSOR
palavras mais simples, o que é o ponto DIANTE DOS CONHECIMENTOS
mais grave, pois isto sinaliza para uma NECESSÁRIOS PARA O TRABALHO
alfabetização deficitária. COM A LÍNGUA

10
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Não é impossível alfabetizar sem Foz do Iguaçu, a carga horária da


ter conhecimento mais efetivo de disciplina de Fonética e Fonologia é
Fonética e Fonologia, isto é claro, no reduzida; são cerca de 70 horas/aula,
entanto é muito difícil entender por quais normalmente no primeiro ano do curso de
motivos um educando não consegue Letras, tempo insuficiente para se
alfabetizar-se efetivamente ou por que trabalhar com todos os aspectos que
razões um educando em final de ensino envolvem os processos de aquisição da
fundamental ainda escreve com tantos leitura e da escrita, com ênfase aos
desvios à ortografia padrão, ou, ainda, aspectos fonéticos e fonológicos.
quais os melhores encaminhamentos no Os professores formados em
processo de alfabetização ou nas séries Letras comumente trabalham para a
subsequentes, considerando as esfera estadual, o que abarca do sexto
diferenças de oralidade em turmas ao nono ano do fundamental e ensino
sempre heterogêneas. médio. Por menos determinante que seja
Professores formados em nível a interferência do professor nas últimas
médio, nos cursos de formação de séries do ensino fundamental no sentido
docentes, modalidade normal, são os que de sanar questões relacionadas a
compõem, em sua maioria, os quadros lacunas de alfabetização, é essencial o
das escolas municipais, responsáveis conhecimento de Fonética e Fonologia,
pelo ensino fundamental do primeiro ao pois são muitos os casos de alunos com
quinto ano, período de alfabetização, a referida defasagem.
conforme se observa na Resolução 10/99 De acordo com Haupt (2012),
(SEED – PR):
Art. 2.º - O Curso Normal, em nível [...] desvios em relação à norma
médio, objetiva formar docentes para ortográfica são comuns entre alunos de
atuarem na Educação Infantil e nas diversas faixas etárias, alfabetização e
quatro primeiras séries do Ensino ciclos finais do Ensino Fundamental, por
Fundamental assegurando-lhes a isso deve haver uma preocupação com a
formação básica nacional comum de aprendizagem das corretas
qualidade e também as competências e correspondências entre som e letra e da
habilidades inerentes à função docente. norma ortográfica. (HAUPT, 2012, p. 238)
(SEED – PR, p. 03) A autora ratifica a ideia de que o
Em 2006, conforme Proposta trabalho com a formação da consciência
Pedagógica Curricular do Curso de fonológica deve ser implementado não
Formação de Docentes da Educação somente na alfabetização, mas em
Infantil e Anos Iniciais do Ensino qualquer fase do ensino fundamental.
Fundamental, foram autorizados a Se houve lacunas na
oferecerem o curso 41 colégios alfabetização, e as mesmas não forem
estaduais, os quais seguem a mesma preenchidas em alguma fase do ensino
grade curricular, na qual não consta fundamental, o educando as levará até o
direcionamento para os conteúdos de restante de sua formação escolar,
Fonética e Fonologia. sempre com maiores dificuldades, visto
Na formação na área de português que os conteúdos se tornam cada vez
em nível superior, várias faculdades e mais complexos.
universidades particulares com ensino E, assim, coloca-se o
integral, e a distância, que formam questionamento: Como é que um
inúmeros professores, não oferecem educando com problemas de
conteúdos pautados na Fonética e na alfabetização, diante das condições que
Fonologia. lhe são dadas na sequência do processo
Já no ensino público do Paraná, escolar, consegue concluir o ensino
conforme dados da Unioeste, Campus de médio?
Cascavel, Marechal Cândido Rondon e
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Existe uma “cultura” já cristalizada salas de aula, a falta de incentivo aos


pela instituição do Conselho de Classe, profissionais da educação, falta de
que analisa o desempenho dos material e más condições físicas das
educandos que não obtiveram média escolas. No entanto, a questão da grade
suficiente para aprovação; e é comum a curricular que forma os educadores é
aprovação sob a justificativa de que o pouco analisada.
mesmo chegou a seu limite da Das lacunas de alfabetização
capacidade de aprendizagem, que não decorrem problemas nos processos de
adianta retê-lo na série, e assim letramento, como um todo, ou seja, não
sucessivamente. se restringem à área de Português, mas,
Não se trata aqui de atribuir todos sim, abarcam todas as esferas do
os problemas de aprendizagem a uma conhecimento.
alfabetização deficitária, mas sim de A formação dos alfabetizadores,
afirmar que muitos o são e que a escola, predominantemente em nível médio,
em geral, não implementa um trabalho muitos a distância, está carente de
para sanar as dificuldades para a partir conteúdos que subsidiem os processos
daí continuar com os conteúdos. de aquisição da leitura e da escrita. Só
Nas aulas de reforço, por exemplo, no estado do Paraná são 41 colégios que
ofertadas pelo ensino público a alunos de possuem o curso de Formação de
6º e 9º anos, no contraturno, nas quais é Docentes em nível médio, sem conter em
possível um atendimento mais sua grade curricular conteúdos que
individualizado, é prática constante o contemplem conhecimentos específicos
reforço aos conteúdos da série, ao invés de Fonética e de Fonologia.
de se fazer um diagnóstico das Pensar em uma alfabetização mais
defasagens, para saná-las quando ao efetiva nos primeiros anos do ensino
alcance da escola; excetuam-se aqui fundamental é essencial para que
questões de caráter neurológico, por questões aparentemente insignificantes
exemplo. Não se trata de má vontade do não se tornem dificuldades significativas
professor, mas de desconhecimento de na aquisição dos conteúdos dos anos
processos relacionados à aquisição da subsequentes. No entanto, a
escrita e da leitura, pois o mesmo, em responsabilidade pelas defasagens de
geral, não é alfabetizador e, ainda, em alfabetização não deve ser atribuída aos
sua formação não teve, ou teve alfabetizadores como se o processo já
precariamente, os conteúdos de Fonética estivesse concluído. É essencial que os
e Fonologia. educadores de todo o ensino
E, devido a este desconhecimento, fundamental saibam detectar as lacunas
é muito comum os professores dos anos e tenham conhecimento suficiente para
finais do ensino fundamental culparem os entendê-las e para adotar materiais e
professores dos primeiros anos pelas métodos para saná-las. É nesse ponto
lacunas apresentadas pelos educandos que, além do trabalho com a língua nas
que recebem; assim como os professores aulas regulares, se deve trabalhar nas
do ensino médio o fazem em relação aos aulas de reforço com as defasagens,
da segunda fase do fundamental, e assim uma alternativa oferecida pelo estado do
por diante, até a universidade. Paraná a alunos de sextos e nonos anos,
Problemas recorrentes de nas disciplinas de Português e de
processos de alfabetização deficitários Matemática.
observam-se em todos os anos do ensino É essencial que esta questão seja
fundamental e do médio, e alguns se discutida com mais ênfase pelos órgãos
estendem até a universidade. Muitos dos responsáveis pelo ensino público e pela
fatores que interferem nessa questão já formação dos educadores, inclusive pela
são conhecidos e constantemente universidade, para que se criem
discutidos, como a superlotação das mecanismos de inclusão dos conteúdos
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em questão, sempre com vistas à - indicando inclusão, ou antonímia


melhoria do ensino. – o verbo fica no plural.
Ex.: O amor ou o ódio estão
3. As relações morfossintáticas: a presentes.
concordância verbal e a concordância - indicando retificação – o verbo
nominal concorda com o núcleo mais próximo.
Ex.: O aluno ou os alunos cuidarão
CONCORDÂNCIA VERBAL da exposição.
A regra básica da concordância
verbal é o verbo concordar em número 5. Quando o sujeito é
(singular ou plural) e pessoa (1ª, 2ª ou 3ª) representado por expressões como a
com o sujeito da frase. maioria de, a maior parte de e um nome
1. Sujeito simples – o verbo no plural, o verbo concorda no singular
concordará com ele em número e (realçando o todo) ou no plural
pessoa. (destacando a ação dos indivíduos).
Ex.: O artista excursionará por Ex.: A maioria dos jovens quer as
várias cidades do interior. reformas. (ou) A maioria dos jovens
querem as reformas.
2. Sujeito composto – em regra
geral, o verbo vai para o plural. 6. Não sou daqueles que recusa /
Ex.: Sua avareza e seu egoísmo recusam as obrigações.
fizeram com que todos o abandonassem. Nesse caso, o referente do
Se o sujeito vier depois do verbo, pronome relativo que é daqueles, a regra
concorda com o núcleo mais próximo, ou fundamental de concordância com o
vai para o plural. sujeito deverá levar o verbo para a 3ª
Ex.: “Ainda reinavam (ou reinava) pessoa do plural. Entretanto, também é
a confusão e a tristeza” (Dinah S. de aceito quando refletimos em uma
Queiroz). concordância com um daqueles que.
Se o sujeito vier composto por
pronomes pessoais diferentes – o verbo 7. Verbo ser + pronome pessoal +
concordará conforme a prioridade que – o verbo concorda com o pronome
gramatical das pessoas. pessoal.
Ex.: Eu e você somos pessoas Ex.: Sou eu que executo a obra.
responsáveis. Seremos nós que executaremos a obra.
Atenção! Tu e ela estudais / Verbo ser + pronome pessoal +
estudam. A segunda forma é mais usada quem – o verbo concorda com o
atualmente. pronome pessoal ou fica na 3ª pessoa do
singular.
3. Expressões não só...mas Ex.: Sou eu quem inicio a leitura.
também, tanto/quanto que relacionam Sou eu quem inicia a leitura.
sujeitos compostos permitem a
concordância do verbo no singular ou no 8. Nomes próprios locativos ou
plural. intitulativos – se precedidos de artigo
Ex.: Tanto o rapaz quanto o amigo plural, o verbo irá para o plural; não
obtiveram/obteve nota máxima na sendo assim, irá para o singular.
redação do ENEM. Ex.: Os Estados Unidos reforçam
as suas bases.
4. Sujeito composto ligado por ou: Minas Gerais progride muito.
- indicando exclusão, ou sinonímia
– o verbo fica no singular. 9. Pronome relativo antecedido da
Ex.: Maria ou Joana será expressão “um dos”, “uma das” – verbo
representante. na 3ª pessoa do singular ou do plural.
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Ex.: Ela é uma das que mais As relações que as palavras


impressiona (ou impressionam). estabelecem com o substantivo que as
Quando apresenta uma ideia de rege constitui o que em gramática se
seletividade, fica obrigatoriamente no chama de sintagma nominal. Essa
singular. relação caracteriza os casos de
Ex.: Aquela é uma das peças de concordância nominal.
Nelson Rodrigues que hoje se
apresentará neste teatro. 1. Concordância de gênero e
número entre o núcleo nominal e os
10. Concordância do verbo ser: a) artigos que o precedem, os pronomes
sujeito nome de coisa ou um dos indefinidos variáveis, os demonstrativos,
pronomes nada, tudo, isso ou aquilo + os possessivos, os numerais cardinais e
verbo ser + PREDICATIVO no plural: os adjetivos.
verbo no singular ou no plural (mais Ex.: Um luar claro e belíssimo.
comum).
Ex.: "A pátria não é ninguém: são 2. Concordância do adjetivo
todos.” (Rui Barbosa) com dois ou mais substantivos
b) NAS ORAÇÕES a) Substantivos do mesmo
INTERROGATIVAS iniciadas pelos gênero, o adjetivo irá para o plural desse
pronomes quem, que, o que – verbo ser gênero ou concordará com o mais
concorda com o nome ou pronome que próximo (concordância atrativa).
vem depois. Ex.: Bondade e alegria raras ou
Ex.: Quem eram os culpados? rara.
c) 1º TERMO – SUJEITO = b) Substantivos de gêneros
substantivo; 2º termo = pronome pessoal, diferentes, o adjetivo irá para o masculino
o verbo concorda com o pronome plural ou concordará com o mais
pessoal. próximo.
Ex: Os defensores somos nós. Ex.: Atitude e caráter apropriados
d) Nas expressões é muito, é ou apropriado.
pouco, é mais de, é tanto, é bastante + c) Adjetivo anteposto aos
determinação de preço, medida ou substantivos, nos dois casos acima, a
quantidade: verbo no singular. norma geral é que ele concorde com o
Ex.: Dez reais é quase nada. substantivo mais próximo.
e) Indicando hora, data ou Ex.: Mantenha desligadas as
distância – o verbo concorda com o lâmpadas e os eletrodomésticos.
predicativo. d) Substantivos com sentido
Ex.: São três horas. Hoje são 15 equivalente ou expressam gradação, o
de fevereiro. adjetivo concorda com o mais próximo.
Ex.: Revelava pura alma e espírito.
11. PASSIVO – NA VOZ PASSIVA CASOS PARTICULARES
SINTÉTICA, com o pronome apassivador
SE, o verbo concorda com o sujeito 1. POSSÍVEL
paciente (que é um aparente objeto a) precedido de o mais,o menor, o
direto). melhor, o pior – singular;
Ex.: Escutavam-se vozes. b) precedido de os mais, os
INDETERMINADO – com o menores, os melhores, os piores – plural.
pronome indeterminador do sujeito, o Ex.: Estampas o mais possível
verbo fica na 3ª pessoa do singular. claras. / Estampas as mais claras
Ex.: Precisa-se de operários. possíveis.

CONCORDÂNCIA NOMINAL

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2. ANEXO / INCLUSO – adjetivos, 10. OBRIGADO, MESMO,


concordam com o substantivo a que se PRÓPRIO – concordam com o gênero e
referem. número da pessoa a que se referem.
Ex.: Envio-lhe anexos / inclusos os Ex.: Ela disse:
documentos. (em anexo, junto a são - Muito obrigada, eu mesma
invariáveis) cuidarei do assunto.
(UERJ – 2006) Observe a
3. LESO (adjetivo = lesado, construção sintática do trecho seguinte:
prejudicado) concorda com o substantivo “É o interesse, e também a
com o qual forma uma composição. incerteza das apreciações, que explica o
fato...”
Ex.: Cometeu crime de lesa-pátria. Reescreva-o de modo que a
expressão "o interesse e a incerteza"
4. PREDICATIVO desempenhe a função de sujeito
a) substantivo com sentido composto.
indeterminado (sem artigo) – adjetivo no
masculino. Solução
Ex.: É proibido entrada; Qualquer uma destas respostas
b) substantivo com sentido está correta:
determinado (com artigo) – adjetivo - São o interesse e a incerteza das
concorda com o substantivo. Ex.: É apreciações que explicam o fato...
necessária muita cautela. - O interesse e a incerteza das
apreciações é que explicam o fato...
5. MEIO – numeral = metade - O interesse e a incerteza das
(variável) apreciações explicam o fato...
Ex.: Falou meias verdades.
Advérbio = parcialmente (variável). O verbo explicar concorda, em
Ex.: Encontrava-se meio fatigada. pessoa e número, com o sujeito
composto o interesse e a incerteza.
6. MUITO, POUCO, BASTANTE,
TANTO – PRONOMES – (variáveis). 4. A coesão e a coerência textuais: o
Ex.: Li bastantes livros. ensino da leitura e da produção escrita
ADVÉRBIOS (invariáveis). através dos gêneros textuais e dos
Ex.: Estavam bastante felizes. tipos textuais

7. SÓ – adjetivo = sozinho Para que um texto tenha o seu


(variável). sentido completo, ou seja, transmita a
Ex.: Eles se sentiam sós. Palavra mensagem pretendida, é necessário que
denotativa de exclusão (invariável). esteja coerente e coeso. Para
Ex.: Só os alunos compareceram à compreender um pouco melhor os
reunião (= somente). conceitos de Coerência textual e de
Coesão textual, e também para distingui-
8. PSEUDO, ALERTA, SALVO, los, vejamos:
EXCETO – são palavras invariáveis. O que é coesão textual?
Ex.: Ela é pseudo-administradora, Quando falamos
por isso fiquemos sempre alerta. de COESÃO textual, falamos a respeito
dos mecanismos linguísticos que
9. QUITE = LIVRE – concorda com permitem uma sequência lógico-
aquele a que se refere. semântica entre as partes de um texto,
Ex.: Estamos quites com a sejam elas palavras, frases, parágrafos,
mensalidade. etc. Entre os elementos que garantem a
coesão de um texto, temos:
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A. as referências e as Há elementos coesivos no texto


reiterações: Este tipo de acima, como a conjunção, a sequência
coesão acontece quando um termo faz lógica dos verbos, enfim, do ponto de
referência a outro dentro do texto, vista da COESÃO, o texto não tem
quando reitera algo que já foi dito antes nenhum problema. Contudo, ao ler o que
ou quando uma palavra é substituída por diz o texto, percebemos facilmente que
outra que possui com ela alguma relação há uma incoerência, pois se as ruas
semântica. Alguns destes termos estão molhadas, é porque
só podem ser compreendidos mediante alguém molhou, ou a chuva, ou algum
estas relações com outros termos do outro evento. Não ter chovido não é o
texto, como é o caso da anáfora e da motivo de as ruas estarem molhadas. O
catáfora. texto está incoerente.
B. as substituições Podemos entender melhor a
lexicais (elementos que fazem a coerência compreendendo os seus
coesão lexical): este tipo de três princípios básicos:
coesão acontece quando um
termo é substituído por outro dentro do Princípio da Não Contradição:
texto, estabelecendo com ele uma em um texto não se pode ter situações
relação de sinonímia, antonímia, ou ideias que se contradizem entre si, ou
hiponímia ou hiperonímia, ou mesmo seja, que quebram a lógica.
quando há a repetição da mesma 1. Princípio da
unidade lexical (mesma palavra). Não Tautologia: Tautologia é um vício
C. os conectores (elementos de linguagem que consiste n a repetição
que fazem a coesão interfrásica): Estes de alguma ideia, utilizando palavras
elementos coesivos estabelecem as diferentes. Um texto coerente precisa
relações de dependência e ligação entre transmitir alguma informação, mas
os termos, ou seja, quando hárepetição excessiva de
são conjunções, preposições e advérbios palavras ou termos, o texto corre o risco
conectivos. de não conseguir transmitir a informação.
D. a correlação dos Caso ele não construa uma informação
verbos (coesão temporal e aspectual): ou mensagem completa, então ele
consiste na correta utilização dos tempos será incoerente
verbais, ordenando assim os 2. Princípio da
acontecimentos de uma forma lógica e Relevância: Fragmentos de textos que
linear, que irá permitir a compreensão da falam de assuntos diferentes, e que
sequência dos mesmos. não se relacionam entre si, acabam
São os elementos coesivos de um tornando o texto incoerente, mesmo que
texto que permitem as articulações e suas partes contenham certa coerência
ligações entre suas diferentes partes, individual. Sendo assim, a representação
bem como a sequenciação das ideias. de ideias ou fatos não relacionados entre
si, fere o princípio da relevância, e trazem
O que é coerência textual? incoerência ao texto.
Quando falamos em COERÊNCIA Outros dois conceitos importantes
textual, falamos acerca da significação para a construção da coerência textual
do texto, e não mais dos elementos são a CONTINUIDADE TEMÁTICA e a
estruturais que o compõem. Um texto PROGRESSÃO SEMÂNTICA.
pode estar perfeitamente coeso, Há quebra de continuidade
porém incoerente. É o caso do exemplo temática quando não se faz a correlação
abaixo: entre uma e outras partes do texto
"As ruas estão molhadas porque (quebrando também a coesão). A
não choveu" sensação é que se mudou o assunto
(tema) sem avisar ao leitor.
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Já a quebra da que têm como suporte apenas as


progressão semântica acontece quando gramáticas tradicionais.
não há a introdução de novas
informações para dar sequência a um DEFININDO O OBJETO DE ESTUDO
todo significativo (que é o texto). A DA SINTAXE
sensação do leitor é que o
texto é demasiadamente prolixo, e que Tradicionalmente, sintaxe (do
não chega ao ponto que interessa, ao grego syn- taxis – ordem, disposição)
objetivo final da mensagem. corresponde a um dos níveis de análise
Em resumo, podemos dizer que a de uma língua, que tem como objetivo
COESÃO trata da conexão harmoniosa principal descrever as regras responsá-
entre as partes do texto, do parágrafo, da veis pela formação de uma sentença.
frase. Ela permite a ligação entre as Trata-se de uma das ramificações da
palavras e frases, fazendo com que um Linguística que, ao lado da fonética, da
dê sequência lógica ao outro. A fonologia, da morfolo- gia e da semântica
COERÊNCIA, por sua vez, é a relação (disciplinas que compõem o chamado
lógica entre as ideias, fazendo com que “núcleo duro” dessa ciência), se pre-
umas complementem as outras, não se ocupa, basicamente, em compreender a
contradigam e formem um todo organi- zação e o funcionamento das
significativo que é o texto. estruturas e os di- versos fenômenos
Vale salientar também que gramaticais que caracterizam as línguas
há muito para se estudar sobre coerência naturais. Essas disciplinas dão conta “da
e coesão textuais, e que cada um dos estrutura interna de uma língua – aquilo
conceitos apresentados acima podem e que a distingue das outras línguas do
devem ser melhor investigados para mundo, e que não decorre diretamente
serem melhor compreendidos. de condições da vida social ou do
conhecimento do mundo” (PERINI, 1996,
5. A sintaxe da Língua Portuguesa: o p. 50).
ensino dos termos integrantes das Embora cada uma dessas
orações considerando uma disciplinas te- nha o seu objeto específico
abordagem tradicional, descritiva e de análise (que pode ser estudado sob
funcional diferentes pontos de vistas), é
importante destacar que elas tratam de
níveis que atuam em conjunto,
Certamente, você já tem possibilitando a forma- ção das
consciência da importância de uma sentenças de uma língua. Para entender
ciência como a Linguística, que muito isso, vamos a um exemplo:
tem contribuído para a compreensão da
natureza e do funcionamento da (1) José gosta de doce.
linguagem humana. Nesta disciplina,
você conhecerá um pouco do que essa Analisando, primeiro, a palavra
ciência tem proporcionado para explicar “José”, você deve notar que há uma
um dos níveis de análise de uma língua: regra que obriga o falante,
o nível da sintaxe. primeiramente, a pronunciar a sílaba jo e
Particularmente, nesta aula, você depois, se. A propósito da primeira
conhe- cerá o objeto de estudo da sílaba, também há uma regra que
disciplina “sintaxe”, como também terá a determina a ocorrên- cia, primeiro, da
oportunidade de refle- tir sobre o ensino consoante j e depois, da vogal o, que
tradicional dessa disciplina, que, muitas pode tanto ser pronunciada como [o] ou
vezes, é encarada como um “bicho de como [u]. Já em “gosta”, você deve
sete cabeças”, dada a postura observar que a vogal o não é
metodológica adotada por professores pronunciada como [u]. Percebeu? Sobre
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a vogal e, em “José”, ela é pronunciada (3) *José gosta o doce.


de forma aberta [é]; em “de” e “doce”, ela
pode ser mais fechada [i]. Estou certa? Você nota que a preposição “de” é
Então, nesses casos, estamos falando de fundamental nessa relação? Ou seja, o
regras fonético/fonológicas (envolvendo verbo “gostar” impõe restrições
aí a menor unidade da estrutura selecionais quanto ao tipo de
linguística, o fonema). complemento, seja ele um objeto, como
Ainda em relação a 1, você pode em 3, seja ele um sujeito, como você
analisar a composição inter- na das pode ver em 4:
palavras. Por exemplo, a palavra “gosta”
é formada por mais de um elemento (e (4) *A pedra gosta de doce.
agora estamos falando do morfema): gost
+ a. A primeira forma aparece também Embora esta sentença não
em outras palavras: “gosto”, “gos- taram”, apresente problemas de organização
“gostinho”, “gostosura”, “gostosa” etc. A estrutural (observe que tem a mesma
segunda forma, “a”, ocorre em “ama”, forma de 1), ela simplesmente não é
“chama”, “anda” etc. Nesse nível de produzida (a não ser em um mundo
composição, há regras que impedem, por imaginário, no caso de uma fábula, por
exemplo, as construções de 2: exemplo), pois há incompatibilidade entre
a “pedra” e o verbo “gostar”. Estamos,
(2) a. *José gosteu de doce. neste caso, falando de outro nível: o da
b. *José gostiu de doce. semântica. É esse nível o responsável
pela interpretação da sentença.
A propósito, essas estruturas são Percebeu a quantidade de regras
rejeitadas por qualquer falante do que o falante recorre para a construção
português, visto que há violação de de uma sentença? Exemplificamos, aqui,
regras morfológicas: eu não constitui algumas regras resultantes da articulação
unidade com gost, embora a constitui dos vários níveis na formação de uma
com formas como “beber” (bebeu) e frase. No entanto, podemos estudar, em
“comer” (comeu), por exemplo. Do separado, cada um deles, observando
mesmo modo, iu não combina com gost, cada uma das regras que são aplicadas.
embora combine com “partir” (partiu) e Daí a razão de se ter as disciplinas:
“sorrir” (sorriu), por exemplo. fonética, fonologia, morfologia, sintaxe e
Você também pode analisar a semântica. Em cada uma delas, você tem
frase em 1 considerando a combinação a oportunidade de estudar, a partir de
entre as palavras. Por exemplo, você diferentes recortes e perspectivas
deve perceber que há uma relação entre teóricas, os seus objetos específicos de
“José” e o verbo “gostar”. Se você investigação.
substituir “José” pelo pronome “ele”, a Nesta disciplina, você estudará,
combinação não é alterada. Por outro em particular, as regras que caracterizam
lado, se for substituído por “eles”, terá a sintaxe, o nível responsável pela
que alterar a forma do verbo: “gostam”. formação das sentenças de uma língua.
Deve notar, também, que a posição que É esse nível que determina as regras
“José” ocupa em relação ao verbo é para a construção de 5a, e que
determinante para a função que ele impossibilita 5b:
desempenha na frase: a de sujeito. É o
“José” quem gosta, e não “o doce”. (5) a. Ilhéus tem praias muito
Falando ainda desse nível de bonitas.
análise, você deve observar uma relação b. * bonitas tem muito Ilhéus
entre o verbo e o objeto (de doce). Quer praias.
uma prova disso? Veja 3:

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É, também, por meio desse nível a mesma estrutura sintática (sujeito +


que podemos explicar as sentenças predicado), você reconhece que elas não
abaixo: significam a mesma coisa. A mudança de
posição das palavras “cachorro” e “gato”
(6) a. João comprou um carro alterou com- pletamente o significado. O
novo. falante tem consciência de que em 7a é
b. Um carro novo, João “o gato” que “está em apuros”, e de que,
comprou. em 7b, é “o cachorro”. Ou seja, alterando
c. Comprou um carro novo, a ordem desses elementos, troca-se
João. também o papel de cada um na
d. Comprou João um carro interpretação da sentença.
novo. É por meio da sintaxe que,
também, explicamos as sentenças
Certamente, você avaliará a abaixo:
primeira sentença (6a) como sendo a
mais natural, a chamada ordem direta (8) a. Ontem, João viu Maria.
(sujeito + verbo + objeto). As outras b. Ontem, João a viu.
sentenças (na ordem indireta), embora c. Ontem, João viu ela.
tenham julga- mentos variáveis, também d. Ontem, João viu Ø.
são possíveis. Mesmo alterando a ordem,
quem compra o carro novo é “João”. E Como você pode ver, em se
por que fazemos essa leitura e não tratando do objeto direto (selecionado
outra? Porque temos em 6 a aplicação de pelo verbo transitivo direto), o falante
regras que permitem a formação de pode representá-lo de diferentes formas:
algumas unidades, restringindo as por meio do sintagma (que será definido
relações entre elas. Por exemplo: você e aprofundado mais adiante) “Maria”; do
deve notar que em “um carro novo” há clítico “a” (que você já sabe que se trata
uma relação estreita entre as palavras, já do pronome átono); do pronome tônico
que elas ocorrem juntas e sempre na “ela”; e do objeto nulo (que corresponde
mesma ordem: artigo + substantivo + ao apagamento do objeto).
adjetivo. Mesmo alterando a ordem da Independentemente dos julgamentos que
sentença (6b-d), a unidade permanece se fazem a respeito dessas sentenças,
intacta. Também, elas são produzidas em diversas
situações.
como você já sabe, há uma Bem, exemplificamos, até agora,
relação entre “João” e “comprar”, algumas regras usadas para a formação
explicitada pela concordância verbal. de sentenças. Com essa pequena
A propósito da ordem, ou seja, da descrição, você já deve ter notado que é
forma como as palavras se combinam a sentença o objeto de estudo da sintaxe
para gerar as sentenças, ela é (mais adiante verá que a sintaxe pode se
fundamental para a constituição do ocupar de unidades menores – os
significado. Para entender isso, veja 7: chamados sintagmas). Descrever e
explicar as regras para a formação das
(7) a. O cachorro correu atrás sentenças é, portanto, um dos principais
do gato. objetivos dessa disciplina, caracterizada
b. O gato correu atrás do como um dos componentes da
cachorro. GRAMÁTICA, que põe à disposição do
falante um conjunto de regras que o
Embora essas duas frases tenham habilitam “a produzir frases ou
as mesmas classes de palavras (artigo + sequências de palavras de maneira tal
substantivo + verbo + advérbio + que essas frases e sequências são
preposição + substantivo) e apresentem compreensíveis e reconhecidas como
19
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pertencendo a uma língua” (POS- SENTI, formação de uma sentença, o falante não
1998, p. 69). organiza as palavras de forma aleatória.
Há regras que determinam a constituição
AFINAL, DE QUAL GRAMÁTICA E DE das unidades que vão assumir funções
QUAIS REGRAS ESTAMOS conforme as posições que ocupam na
FALANDO? sentença. Isso qual- quer falante sabe!
Lembra do contraste ilustrado em 5?
A essa altura do curso,
certamente, você já sabe que, quando (5) a. Ilhéus tem praias muito
falamos em GRAMÁTICA, não bonitas.
necessariamente devamos pensar em b. * bonitas tem muito Ilhéus
gramática normativa, aquele compêndio praias.
que apresenta um “conjunto de regras Você não encontrará nenhum
que devem ser seguidas” (POSSENTI, falante da língua portuguesa produzindo
1998, p. 64). Para esta gramática, a regra a estrutura de 5b. Poderá até observar
é concebida como uma lei, que deve ser algum tipo de vio- lação, como a que
obedecida. Se o falante a usa, ele é temos em 9,
considerado “um bom falante”, pois
obedece às normas prescritas para o (9) Ilhéus tem praias muito
bem falar e escrever. Conforme Travaglia bonita.
(2000), essa gramática dita
(...) normas para a ‘correta’ ou seja, a falta de concordância
utilização oral e escrita do idioma, entre o nome “praias” e o adjetivo
prescreve o que se deve e o que não se “bonita”, mas que não interfere na
deve usar na língua. Essa gramática constituição do significado da sen- tença.
considera apenas uma variedade da Lembra também do objeto direto?
língua como válida, como sendo a língua Retomemos os exemplos:
verdadeira (...) é mais uma espécie de lei
que regula o uso da língua em sociedade (8) a. Ontem, João viu Maria.
(p. 30-31). b. Ontem, João a viu.
Infelizmente, em nossa tradição c. Ontem, João viu ela.
escolar, vigora essa concepção de d. Ontem, João viu Ø.
gramática. Por exemplo, saber sintaxe
implica em reconhecer: todas as classes O falante pode não usar as quatro
gramaticais e funções sintáticas das possibilidades de repre- sentação do
palavras; todas as regras de colocação objeto, mas, com certeza, ele sabe que
dos termos na oração; todas as regras um verbo como “ver” licencia um objeto,
responsáveis pela concordância e seja numa forma explícita (8a; 8b; 8c) ou
regência (verbal e nominal); todos os não (8d). Regra semelhante também se
tipos de sentenças (coordenadas e aplica ao sujeito, como você pode
subordinadas); todas as figuras de observar em 10, abaixo:
sintaxe... Enfim, o “bom falante” da língua
portuguesa tem de saber tudo isso e (10) a. João saiu apressado,
muito mais!!! pois João não queria perder o avião.
Todavia, você tem conhecimento b. João saiu apressado, pois
de que muitos falam uma língua sem ele não queria perder o avião.
nunca mesmo ter frequentado um banco c. João saiu apressado, pois Ø
escolar. E, se falam, é porque sabem não queria perder o avião.
muito bem o que seja “regra”, um aspecto
do conhecimento linguístico que tem Assim como o objeto direto, o
propriedade sistemática. Por exemplo, na sujeito pode ser representado por formas
seção acima, você viu que, para a explícitas (10a) e (10b) ou pelo chamado
20
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sujeito nulo (10c). Ou seja, 8 e 10 papel de descrever e explicar (por meio


ilustram um fato bastante comum na de uma teoria) as regras responsáveis
língua portuguesa: realizar foneticamente pelo funcionamento da língua. Nenhum
ou não determinado elemento sintático. dado linguístico deixará de ser
Trata-se de uma regra a qual o falante considerado na descrição, pois o
recorre conforme as necessidades de pressuposto básico é: se é produzido, é
comunicação. porque o falante tem conhecimento
Conhecimentos desse tipo fazem sistemático de regras. Portanto,
parte da chamada gramática compreender e explicar o funcionamento
internalizada, definida como o “conjunto dessas regras é o que motiva,
de regras que o falante do- mina” basicamente, os linguistas a
(POSSENTI, 1998, p. 69). Nesta empreenderem diferentes propostas,
concepção, regra corresponde à como, por exemplo, a que você
regularidade e não tem conotação conhecerá nesta disciplina: a da
valorativa. Segundo esse autor, “seguir gramática gerativa. Antes de apresentá-la
uma ou outra regra não indica menor ou a você, terá a oportunidade de refletir, um
maior inteligência, maior ou menor pouco, sobre o que a perspectiva
sofisticação mental ou capacidade tradicional nos oferece sobre o
comunicativa” (p. 74). Em outras funcionamento da linguagem no que diz
palavras, o falante que produz 8c, forma respeito à sintaxe da língua portuguesa e
não recomendada pela gramática aos fenômenos que a envolvem.
normativa, não é menos inteligente que
quem produz 8b. A diferença está apenas A GRAMÁTICA NORMATIVA É
na representação do objeto. Cada um DESCRITIVA?
desses falantes tem à disposição um
conjunto de regras que é acionado Como você já sabe, a gramática
conforme as circunstâncias. Se trata de normativa é prescritiva, pois determina o
um falante que nunca frequentou uma que deve ser usado, pelos falantes, para
escola, e que não conhece bem a falar e escrever corretamente a língua. É
chama- da língua culta, certamente também descritiva; porém, tem em vista
acionará a regra ilustrada em 8c, e não apenas uma modalidade da língua, a
aquela ilustrada em 8b; regra esta que se variedade padrão/culta. Resta, agora,
espera, normalmente, de um falante que saber como se caracteriza a descrição
tem o conhecimento da prescrição tradicional. Basicamente, ela é feita a
tradicional. partir de um conjunto variado de
Bem, como você viu, falamos de nomenclaturas, de regras, de definições,
dois tipos de gramática: normativa e de exemplos que não são de usos reais
internalizada. Ao lado destas, etc. Por exemplo, com relação à sintaxe,
encontramos também a chamada além de você reconhecer as diferentes
gramática descritiva, definida por classes e subclasses a que pertencem as
Possenti como o “conjunto de regras que palavras, precisa também saber
são seguidas” (p. 65). Segundo ele, é identificar as funções sintáticas
essa gramática “que orienta o trabalho desempenhadas por elas. E, para isso,
dos linguistas, cuja preocupação central necessita recorrer, na maioria das vezes,
é tornar conhecidas, de forma explícita, a noções semânticas, que estão
as regras de fato utilizadas pelos falantes presentes nas definições apresentadas
– daí a expressão ‘regras que são por ela. Para entender o que estamos
seguidas’” (p. 65). falando, vamos fazer, na próxima seção,
Segundo Perini (1976), a uma típica análise sintática tradicional.
gramática descritiva é resultante da
observação direta do que se diz ou se Análise sintática: um tipo de descrição
escreve na realidade. Ao linguista, cabe o
21
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Certamente, você deve se lembrar verbo transitivo, um objeto, um


das atividades tradicionais que têm como predicativo. Você nota que o que está em
foco a análise sintática de uma sentença, jogo é um critério semântico? E o
considerada, por muitos, “um bicho de sintático, já que se trata de análise
sete cabeças”: sintática?
Relembrando um pouco, para uma Pois bem, esse critério está
sentença como 11, explícito na ordenação e combinação dos
(10) Maria visitou um amigo de elementos. O sujeito (que é também o
infância. núcleo) é o elemento que está em
relação de concordância com o verbo
primeiro, você deve reconhecer a (que é o núcleo do predicado verbal); o
classe de cada uma das pa- lavras: objeto sem a presença de uma pre-
posição corresponde ao complemento do
Maria (substantivo); visitou (verbo); verbo transitivo direto; o predicativo do
um (artigo); amigo (substantivo); objeto mantém, por meio da preposição,
de (preposição); infância uma relação estreita com o núcleo do
(substantivo). objeto. Observe que, agora, estão em
jogo relações de natureza estritamente
Para fazer essa classificação, você formal (que dizem respeito à for- ma das
necessita recorrer às definições dadas a palavras que compõem a frase).
cada uma dessas classes. Por exemplo: Você deve ter percebido que, por
precisa saber que um substantivo “é a essa descrição tradicional, temos uma
palavra com que designamos ou mistura de noções que correspondem a
nomeamos os seres em geral” (CUNHA; diferentes âmbitos de uma gramática. Ou
CINTRA, 1985, p. 171); que um verbo é seja, descrever sintaticamente uma
“uma palavra de forma variável que ex- sentença não pressupõe apenas
prime o que se passa, isto é, um reconhecer noções sintáticas, mas
acontecimento representado no tempo” também noções de natureza morfológica
(p. 367); que as preposições são e semântica. E não para por aí! Saber
“palavras invariáveis que relacionam dois fazer análise sintática, nessa perspectiva,
termos de uma oração, de tal modo que o implica também em reconhecer e aplicar
sentido do primeiro (antecedente) as regras sintáticas prescritas.
explicado ou complementa- do pelo
segundo (consequente)” (p. 542); e assim As regras sintáticas: prescrição X
por diante. Nessa primeira etapa, em que realidade
o objetivo é reconhecer as classes
gramaticais, o que se tem, na verdade, é Dada a natureza dinâmica de uma
uma descrição morfológica. língua, não podemos deixar de
Na segunda etapa, você deve reconhecer que as regras sintáticas
identificar as funções sintáticas: (assim como as que envolvem outros
níveis) estão sempre sujeitas a
Maria (sujeito); mudanças. Todavia, esse princípio nem
visitou um amigo de infância sempre é considerado pela descrição
(predicado); visitou (verbo transitivo tradicional. Por exemplo, em se tratando
direto); de colocação pronominal, ela determina
um amigo de infância (objeto regras do tipo as que ilustramos nos
direto); de infância (predicativo do objeto contrastes abaixo:
direto).
(11) a. Empreste-me o seu livro
Novamente, para fazer isso, você de sintaxe .
recorre às conceituações. Precisa saber b. * Me empreste o seu livro de
o que é um sujeito, um predicado, um sintaxe.
22
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Certamente, você, assim como a


(12) a. O aluno veio interromper- maioria dos falantes, não vê nenhum
me durante o seminário. b.* O aluno veio problema sintático nas sentenças
me interromper durante o seminário. ilustradas em b, que, segundo a
Segundo ela, não se deve usar a gramática tradicional, estariam erradas.
próclise quando o verbo inicia uma Afinal, qual a diferença entre usar o
sentença (12b) e não se deve usar o objeto indireto (como preceitua a norma)
pronome no meio de uma locução verbal e o objeto direto (como determina a
(13b). No entanto, como você sabe, prática linguística)? Nenhuma! Melhor
essas sentenças julgadas “erradas” são dizendo, o que a prática linguística nos
as que são mais produzidas pelo falante revela é que as estruturas com este
de língua portuguesa. Para muitos, 12a e último objeto são mais naturais do que
13a não correspondem à realidade, de aquelas com o objeto indireto. Como
fato. Veja outro caso: você vê, a regra prescrita é uma e o uso
real é outro. Neves (2008, p. 29) confirma
(13) a. Vendem-se casas. essa constatação: “a gramática
b. *Vende-se casas. tradicional (...) não reflete a verdade das
c. Alugam-se apartamentos. coisas”.
d. *Aluga-se apartamentos. Independentemente dos valores
atribuídos às diferentes sentenças pela
Para a descrição tradicional, descrição tradicional, devemos ter em
apenas 14a e 14c estão corretas, pois o mente que se o falante as produz é
verbo está concordando com o elemento porque o sistema de sua língua permite.
sintático posposto (particularidade esta Compreender e explicar as regras que
da chamada oração passiva sintética). estão por traz das diferentes estruturas
Todavia, o falante de língua portuguesa, sintáticas é, portanto, o objetivo dessa
normalmente, não reconhece essa regra, disciplina chamada “sintaxe”.
pois não identifica o substantivo posposto
ao verbo como sujeito, e sim como objeto 6. A morfologia na Língua Portuguesa:
direto, função esta que não exige o estrutura e formação de palavras
acordo do ver- bo, e, por isso, acaba
produzindo 14b e 14d. Na verdade, ao Observe as seguintes palavras:
produzir esse tipo de sentença, o falante escol-a
entende que se trata de um sujeito escol-ar
indeterminado: alguém vende casas; escol-arização
alguém aluga apartamentos. escol-arizar
Com relação à regência verbal, há sub-escol-arização
inúmeros casos que ilustram o que Observando-as, percebemos que
estamos falando aqui. Veja alguns deles: há um elemento comum a todas elas: a
forma escol-. Além disso, em todas há
(14) a. A família assistiu ao filme. elementos destacáveis, responsáveis por
b. *A família assistiu o filme. algum detalhe de significação. Compare,
por exemplo, escola e escolar: partindo
(15) a. Fomos à praia ontem. de escola, formou-se escolar pelo
b. *Fomos na praia ontem. acréscimo do elemento destacável -ar.
Por meio desse trabalho de
(16) a. Os filhos devem comparação entre as diversas palavras
obedecer aos pais. que selecionamos, podemos depreender
b. *Os filhos devem obedecer os a existência de diferentes elementos
pais. formadores. Cada um desses elementos
formadores é uma unidade mínima de
significação, um elemento significativo
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indecomponível, a que damos o nome de variáveis e recebem o nome de


morfema. desinências. Há desinências nominais e
desinências verbais.
Classificação dos morfemas: • Desinências nominais: indicam o
gênero e o número dos nomes. Para a
Radical indicação de gênero, o português
costuma opor as desinências -o/-a:
Há um morfema comum a todas as garoto/garota; menino/menina
palavras que estamos analisando: escol-. Para a indicação de número,
É esse morfema comum – o radical – que costuma-se utilizar o morfema –s, que
faz com que as consideremos palavras indica o plural em oposição à ausência
de uma mesma família de significação – de morfema, que indica o singular:
os cognatos. O radical é a parte da garoto/garotos; garota/garotas;
palavra responsável por sua significação menino/meninos; menina/meninas.
principal. No caso dos nomes terminados
em –r e –z, a desinência de plural
Afixos assume a forma -es: mar/mares;
Como vimos, o acréscimo do revólver/revólveres; cruz/cruzes.
morfema-ar cria uma nova palavra a • Desinências verbais: em nossa
partir de escola. língua, as desinências verbais pertencem
De maneira semelhante, o a dois tipos distintos. Há aqueles que
acréscimo dos morfemas sub- e – indicam o modo e o tempo (desinências
arização à forma escol- modos-temporais) e aquelas que indicam
criou subescolarização. o número e a pessoa dos verbos
Esses morfemas recebem o nome (desinência números-pessoais):
de afixos.
Quando são colocados antes do
radical, como acontece com sub-, os
afixos recebem o nome de prefixos.
Quando, como –arização, surgem depois
do radical os afixos são chamados
de sufixos. Prefixos e sufixos, além de
operar mudança de classe gramatical,
são capazes de introduzir modificações
de significado no radical a que são
acrescentados.

Desinências
Quando se conjuga o verbo amar,
obtêm-se formas como amava, amavas,
amava, amávamos, amáveis, amavam.
Essas modificações ocorrem à medida
que o verbo vai sendo flexionado em
número (singular e plural) e pessoa
(primeira, segunda ou terceira). Também
ocorrem se modificarmos o tempo e o
modo do verbo (amava, amara, amasse,
por exemplo).
Podemos concluir, assim, que Vogal temática
existem morfemas que indicam as Observe que, entre o radical cant-
flexões das palavras. Esses morfemas e as desinências verbais, surge sempre
sempre surgem no fim das palavras o morfema –a
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Esse morfema, que liga o radical escolaridade: o -i- entre os sufixos -ar-
às desinências, é chamado de vogal e -dade facilita a emissão vocal da
temática. Sua função é ligar-se ao palavra. Outros exemplos: gasômetro,
radical, constituindo o chamado tema. É alvinegro, tecnocracia, paulada, cafeteira,
ao tema (radical + vogal temática) que se chaleira, tricota.
acrescentam as desinências. Tanto os
verbos como os nomes apresentam 7. A semântica aplicada ao ensino da
vogais temáticas. Língua Portuguesa
• Vogais temáticas nominais: São -
a, -e, e -o, quando átonas finais, como Segundo Pereira e Henriques
em mesa, artista, busca, perda, escola, (2002), a linguística entrou para o
triste, base, combate. Nesses casos, não currículo universitário há apenas três
poderíamos pensar que essas décadas, o que significa que grande
terminações são desinências indicadoras parte dos professores de Língua
de gênero, pois a mesa, escola, por Portuguesa ativos no mercado de
exemplo, não sofrem esse tipo de flexão. trabalho tiveram, em sua formação,
É a essas vogais temáticas que se liga a pouco contato com essa área de
desinência indicadora de plural: mesa-s, conhecimento. Além disso, ao
escola-s, perda-s. Os nomes terminados ingressarem nesse mercado, depararam-
em vogais tônicas (sofá, café, cipó, se com uma rede de ensino enraizada na
caqui, por exemplo) não apresentam tradição e adepta às práticas repetitivas
vogal temática. do ensino gramatical, o que provocava –
• Vogais temáticas verbais: São -a, e ainda provoca – um bloqueio no ímpeto
-e e -i, que caracterizam três grupos de de afrontar essa tradição e de suportar as
verbos a que se dá o nome de pressões sociais ante as mudanças.
conjugações. Assim, os verbos cuja vogal Entretanto, há cerca de dez anos,
temática é -a pertencem à primeira com a criação dos Parâmetros
conjugação; aqueles cuja vogal temática Curriculares Nacionais
é -e pertencem à segunda conjugação e – PCNs –, a linguística ganhou
os que têm vogal temática -i pertencem à destaque no conteúdo programático,
terceira conjugação. visto que ela propõe um trabalho cujo
enfoque é aprimorar a capacidade de
compreensão e expressão dos alunos em
situações de comunicação, isto é, facilitar
sua interação na sociedade.
A proposta dos parâmetros não
despreza o ensino da gramática
normativa, mas sim questiona a forma
como esta vem sendo trabalhada e
propõe um ensino de Língua Portuguesa
com vistas na dimensão semântica e/ou
discursiva da língua, afinal, é também
através do estudo da semântica,
especificamente a semântica da
enunciação, que se consegue, a partir de
Vogal ou consoante de ligação situações concretas de comunicação,
As vogais ou consoantes de ampliar a abordagem gramatical. Logo, a
ligação são morfemas que surgem por presença da semântica no ensino de
motivos eufônicos, ou seja, para facilitar Língua Portuguesa tem como objetivo
ou mesmo possibilitar a leitura de uma promover a reflexão sobre os recursos
determinada palavra. Temos um exemplo semântico-expressivos da língua,
de vogal de ligação na palavra desenvolvendo, consequentemente, a
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competência linguística e comunicativa estudos de Sociolinguística,


do aluno e esclarecendo os mecanismos Psicolinguística, Linguística Textual,
de funcionamento da língua. Pragmática e Análise do Discurso
Considerando isso como um passaram a ser “aplicados” ao ensino da
pressuposto estabelecido nos língua materna nas escolas, através de
parâmetros, cabe acrescentar ainda que interferências bastante significativas.
“[...] determinados objetivos só podem Inicialmente, segundo Soares
ser conquistados se os conteúdos (2002, p. 171), a Sociolinguística chamou
tiverem tratamento didático específico a atenção da escola para a multiplicação
[...]” (BRASIL, 1997, p. 37), tratamento das variantes linguísticas neste contexto
esse que pode ser verificado por meio de com “[...] a democratização da escola e,
pesquisa em materiais pedagógicos. portanto, do acesso de alunos
Por essa razão, neste artigo, pertencentes às camadas populares à
buscamos investigar a inserção de escolarização [...]”, implicando, assim,
atividades que contemplem os estudos mudanças no ensino de Língua
semânticos propostas em livros didáticos Portuguesa que, anteriormente dirigido
no Ensino Fundamental e Médio do às camadas privilegiadas da população,
sistema brasileiro de ensino. volta-se a alunos que trazem para a sala
de aula uma maior heterogeneidade
CONTEXTUALIZANDO O ENSINO DA linguística, pois reforça a atenção dos
LÍNGUA MATERNA professores à diversidade linguística já
existente e agora ampliada, exigindo,
Nos fóruns de Educação, quando então, não só uma nova postura desses
se discutem os necessários avanços no professores, como também uma
ensino básico, a disciplina Língua adaptação dos conteúdos e,
Portuguesa vem sendo apontada como consequentemente, a necessidade de
uma área que ainda carece de uma nova metodologia para a disciplina.
reformulações. Nesse sentido, esperam- Em seguida, a Linguística trouxe
se contribuições das ciências linguísticas, novas concepções da gramática do
que já vêm exercendo influência nessa português, a qual, devido a seus estudos
área, mesmo que os resultados de descrição da língua, sugere não
esperados sejam alcançados muito apenas o ensino da modalidade escrita,
lentamente. mas também da língua falada.
Segundo Ilari (2003), essa Recentemente, a Linguística
influência não chegou a modificar Textual veio ampliar essa nova
totalmente a proposta pedagógica para o concepção da função da gramática para
ensino da língua materna, uma vez que fins didáticos, evidenciando, segundo
havia uma crença de que a Linguística Soares (2002, p. 172):
substituiria a Gramática e a Filologia, [...] a necessidade e conveniência
renovando, assim, o ensino da língua. de que essa gramática não se limite às
Atualmente, a atuação da estruturas fonológicas e morfossintáticas,
Linguística no ensino é delicada, pois, mas chegue ao texto [...]. Nesse mesmo
ainda que historicamente ela tenha sentido, a Semântica, em suas
ganhado espaço no ensino, devido à sua tendências mais recentes, vem
abrangência, sua aplicação não tem sido associando-se à Linguística Textual, para
suficientemente eficaz para surtir os trazer uma nova maneira de tratar a
resultados esperados. Portanto, é expressão e a compreensão tanto na
pertinente retomar um pouco da história modalidade oral quanto na escrita.
da atuação da Linguística no ensino. Provavelmente ainda mais
A Linguística vem contribuindo fundamental que as contribuições acima
para o ensino de Língua Portuguesa tem sido a influência que vem sendo
desde a década de 80, quando os exercida sobre a disciplina Português
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concomitantemente pela Pragmática, atividades epilinguísticas ou


pela Teoria da Enunciação e pela Análise metalinguísticas.
do Discurso, influência fundamental, Essa concepção permite e torna
porque traz basicamente uma nova necessário abordar alguns conteúdos
concepção de língua: uma concepção específicos da Semântica, que poderiam
que vê a língua como enunciação, não contribuir tanto para o desenvolvimento
apenas como comunicação, que, da interpretação quanto para o da
portanto, inclui as relações da língua com capacidade de análise linguística.
aqueles que a utilizam, com o contexto Não se trata de propor ao aluno do
em que é utilizada, com as condições ensino básico um estudo exaustivo da
sociais e históricas de sua utilização. semântica, seja na linha formal,
Essa nova concepção vem alterando em argumentativa ou cognitiva, mas sim de
sua essência o ensino da leitura, da repensar os conteúdos, muitas vezes já
escrita, as atividades de prática da estudados apenas no nível da sintaxe,
oralidade e, até mesmo, o ensino da reabordando-os com um enfoque
gramática. semântico.
Em um breve levantamento de
Considerando o contexto atual, em como tradicionalmente se formaliza o
que se mesclam as consequências dos estudo da gramática na escola, podemos
avanços apresentados e as dificuldades afirmar que se trata de um percurso o
ainda visíveis tanto na formação do qual se inicia na Fonética/Fonologia,
profissional, quanto na seleção dos quando o foco são questões como
conteúdos abordados e na escolha por tonicidade e separação silábica, passa
uma opção metodológica, cabe para a Morfologia, a partir do estudo da
questionar qual tem sido e qual poderá formação das palavras e das classes
ser o papel da Semântica na disciplina gramaticais, e avança para a Sintaxe,
Língua Portuguesa. com o objetivo de se fazer um exaustivo
Nos Parâmetros Curriculares estudo dos períodos simples e
Nacionais, no capítulo introdutório, compostos, visando principalmente ao
denominado Caracterização da área da aprendizado da nomenclatura. Em
língua portuguesa, encontramos os paralelo à gramática, encontram-se as
pressupostos básicos sobre o ensino da atividades de leitura e de produção
língua materna, o qual deve nortear todos textual, na maior parte das vezes, postas
os ciclos do Ensino Fundamental e como áreas de estudo isoladas.
Médio. Dessa introdução, pode-se É relevante, então, dizer que a
resumir que é necessário – e urgente Semântica pouco se faz presente, e isso
– que a escola promova sua é sistemático, tanto nos compêndios
ampliação propiciando ao aluno a gramaticais quanto nos materiais
capacidade de interpretar diferentes didáticos e nos planejamentos escolares.
textos que circulam socialmente, de Alguns tópicos específicos da Semântica
assumir a palavra e, como cidadão, de são tratados superficialmente, como a
produzir textos eficazes nas mais relação de sinonímia e antonímia entre
variadas situações. Assim, torna-se as palavras e o fenômeno da
fundamental: ambiguidade, que parece ser mais posto
 trabalhar a diversidade de como um defeito de escrita do que como
texto, na perspectiva de gêneros textuais; um recurso intencional.
 contemplar a diversidade de Este trabalho, como posto na
dialetos, considerando várias introdução, delimita como objeto de
modalidades de uso da língua em análise apenas o material didático,
diversos contextos; portanto é a partir deste levantamento e
 possibilitar a prática de desta análise que se pautam as
reflexão sobra a língua, seja por considerações sobre a presença ou
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ausência da semântica no ensino. fenômeno pode ser abordado com fins


Foram pesquisadas coleções de didáticos.
dez diferentes autores2, indicados para o Da primeira coleção analisada,
Ensino Fundamental e Médio. No Português: linguagens, podemos afirmar
entanto, mesmo que a maioria dos que, para as séries iniciais do Ensino
autores anunciem sua preocupação com Fundamental, a obra busca,
a semântica, que sempre aparece em principalmente, despertar o aluno/leitor
títulos de seções e nas orientações aos para a interpretação do texto a partir da
professores, o conteúdo abordado não compreensão das palavras. Neste
equivale exatamente aos conteúdos de sentido, já no volume da 1ª série (p. 113),
que trata a área da Semântica. Na os autores trazem o conceito de
verdade, encontramos tal abordagem em sinonímia: “Palavras que têm o mesmo
apenas quatro coleções: Gramática sentido ou um sentido parecido são
pedagógica e Gramática da Língua sinônimas uma da outra”. Interessante
Portuguesa, de Mesquista e Martos; perceber que, mesmo apresentando um
Português: linguagens e Gramática conceito simplificado, os autores
reflexiva: texto, semântica e interação, de acrescentam ao leitor a informação de
Cereja e Magalhães. que as palavras têm multiplicidade de
Nas primeiras, o tratamento da sentidos, o que desestabiliza a ideia de
semântica é feito de modo objetivo, com sinônimos perfeitos.
poucos exemplos e sem qualquer Conforme Ilari e Geraldi (1987),
atividade para compreensão e para que ocorra a sinonímia lexical, é
assimilação dos conceitos, que são preciso que duas palavras sinônimas
apresentados no apêndice. Nas últimas, sejam empregadas de modo que
a abordagem contempla os principais contribuam com o mesmo sentido na
tópicos semânticos de forma clara e rica frase, isto é, sem que esta passe de falsa
em exemplos próximos da realidade do a verdadeira, ou vice-versa. Logo,
aluno/leitor, além de propor uma série de devemos sempre pensar a sinonímia
atividades reflexivas, que incorporam dentro do contexto em que as palavras
conceitos da semântica na prática de são empregadas.
leitura, interpretação e análise linguística. Na mesma direção, Murphy (2000)
Considerando que, no amplo argumenta que essa relação não é tão
contexto da reformulação da qual carece simples, pois o que é visto como relações
a disciplina de Língua Portuguesa, um de sentidos entre palavras (dentro do
ponto a ser priorizado deve ser maior domínio do conteúdo lexical) são, na
inserção da área da semântica, segue, verdade, relações que envolvem fatores
nas próximas seções, a apresentação de discursivos e baseados em relevância
alguns tópicos específicos da semântica (dentro do domínio da pragmática).
lexical, apontando, a partir do tratamento Assim, não se pode pensar na
dado por Cereja e Magalhães, a existência de sinônimos perfeitos, pois
possibilidade de se estudar tal conteúdo um termo, por possuir mais de um
desde o nível básico de ensino. sentido, pode ter uma equivalência
adequada somente a um dos seus
APROXIMANDO OS SENTIDOS: sentidos e não à totalidade deles.
RELAÇÕES DE SINONÍMIA Na sequência, a partir do volume
destinado à quinta série, os autores, em
Segundo Ilari e Geraldi (1987, p. uma tentativa de sistematizar mais os
43), “[...] sinonímia é identidade de possíveis conteúdos a serem abordados,
significação”, ou seja, identidade de definem uma seção, presente em todos
sentido, que pode ser classificada de os capítulos, denominada Semântica e
sinonímia lexical, estrutural ou lexical e Discurso. O propósito dessas seções é
estrutural. Cabe investigar como tal explorar algum aspecto do sentido a
28
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partir da leitura de um texto. Desse linguagens, quanto da Gramática


modo, os textos variam em gêneros reflexiva: texto, semântica e interação, os
como cartuns, tiras, histórias em autores trazem a seção Semântica e
quadrinhos, poemas, anúncios e outros, Interação, na qual é feita uma retomada
sendo a maioria específicos dos dos conteúdos abordados no respectivo
discursos humorísticos e publicitários, capítulo, porém dando ênfase ao
pois, além de serem textos sofisticados discurso, isto é, às particularidades em
em recursos semânticos, estão presentes que os textos em estudo se deram.
no cotidiano do aluno/leitor. Em muitas Portanto, ao apresentar o texto, os
dessas seções, a proposta de autores, na maioria das vezes, propõem
interpretação pauta-se na identificação um trabalho detalhado de interpretação e
da linguagem não verbal, em leitura deste, seja de enunciados verbais
comparação à verbal, mostrando que ou não-verbais para, em seguida, puxar
inclusive a aproximação imagem vs. questionamentos que investigam o
enunciado provoca uma relação de sentido daqueles enunciados, bem como
semelhança. Em outras, explora-se a outras possibilidades nele presentes.
compreensão do sentido metafórico de Há ainda um capítulo que, de
expressões da língua. forma mais sistematizada, trata de
conceitos da semântica lexical, como
sinonímia, antonímia, hiponímia,
Percebemos que esta proposta hiperonímia, polissemia e ambiguidade.
leva o aluno/leitor a pensar em No caso da relação de sinonímia,
substituição vocabular, cuidando do o tratamento dado pelos autores, em
sentido contextual, além de instigá-lo a ambas as obras, no capítulo Introdução à
tomar conhecimento da diversidade de Semântica, parte de exemplos que visam
expressões da nossa língua. à comparação de enunciados em que há
Ainda em relação à sinonímia, a substituição de termos “sinônimos”,
estendendo do nível lexical para o nível para em seguida, expor o conceito
estrutural, encontramos alguns exercícios clássico de sinônimo: “[...] são palavras
que visam à percepção da diferença de de sentidos aproximados que podem ser
sentidos em relação à diferença substituídas uma pela outra em
estrutural dos enunciados, como diferentes contextos” (CEREJA;
observamos em atividade proposta à 7ª MAGALHÃES, 2005, p. 388).
série, a partir do enunciado presente em Se o tratamento dado à temática
um anúncio de uma série de livros – se limitasse à apresentação do conceito,
Série Cidadania: diríamos que a abordagem teria sido
Notamos que este é um exercício superficial, além de fazer com que o
o qual, indiretamente, explora o conceito aluno pensasse na possibilidade de
de sinonímia estrutural que, segundo Ilari sinonímia perfeita. No entanto, os autores
e Geraldi (1987), tradicionalmente ocorre prosseguem:
quando optamos pelo uso de dada [...] não existem sinônimos
estrutura sintática, sem que haja perfeitos e assim, a escolha entre dois
alteração de sentido. Entretanto, assim sinônimos acaba dependendo de vários
como na sinonímia lexical, na estrutural, fatores [...] na linguagem cotidiana, as
também não podemos prever a relação palavras furto e roubo, por exemplo,
perfeita. Desse modo, é interessante significam a mesma coisa; em linguagem
fazer com que o aluno perceba que a jurídica, porém, roubo se aplica à
escolha pela voz ativa ou passiva estará situação em que a vítima sofre também
diretamente ligada a um efeito de sentido algum tipo de violência. (CEREJA;
específico. MAGALHÃES, 2005, p.388).
Em volumes direcionados ao De um modo geral, nas coleções
Ensino Médio, tanto da obra Português: citadas, paralelamente aos exercícios de
29
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sinonímia, práticas interpretativas que se com que propósitos a ambiguidade pode


utilizam de enunciados ambíguos são ser abordada como um conteúdo a ser
frequentes, portanto o termo estudado na disciplina, de forma mais
ambiguidade é recorrente nos livros sistemática do que parece já ocorrer.
direcionados a todas as séries. Para isso, retomemos a obra
Apresentaremos, a seguir, de Português: linguagens, apresentando um
modo mais sistematizado, o tratamento exercício proposto para a 5ª série, a
atribuído a esse tema. partir de um texto publicado na Folha de
São Paulo, que relaciona a linguagem
verbal com a não-verbal, anunciando o
MULTIPLICANDO OS SENTIDOS: próprio jornal, através de uma
AMBIGUIDADE homenagem ao dia das mães:

Não é rara a utilização de termos EXTRAPOLANDO A


ambíguos em enunciados da modalidade MORFOSSINTAXE
oral ou escrita da língua. Em alguns
gêneros específicos, a exemplo de textos Nesta última seção,
publicitários ou humorísticos, chega a ser apresentaremos atividades que associam
um recurso produtivo na construção do conhecimento gramatical, de cunho
efeito de sentido desejado. Por outro morfológico ou sintático, à interpretação
lado, em outros contextos, nos quais se de sentidos.
exige uma linguagem objetiva, tal recurso Em Português: linguagens – 5ª
passa a ser visto como um problema que série, inicia-se um tipo de exercício, que
afeta a clareza e o sentido do texto. prosseguirá nos demais volumes das
A ambiguidade é a característica séries subsequentes, sobre o estudo das
de enunciados construídos de forma a classes gramaticais. Após a conceituação
possuir mais de um sentido. Segundo da classe, bem como de seus aspectos
Ilari e Geraldi (1987), tal fato ocorre em morfológicos (variações), a seção
diferentes níveis – lexical, estrutural ou Semântica e Discurso aborda a questão
contextual –, o que depende da natureza do uso de determinada classe,
do recurso responsável pelo efeito de promovendo a reflexão sobre a mudança
múltiplos sentidos. de sentido em diferentes usos.
Segundo Pinkal (1995), a Por exemplo, em relação à classe
ambiguidade é lexical quando um termo, dos artigos, selecionamos as seguintes
por si só, possui duplicidade de sentido, atividades.
provocando a dupla interpretação do Imagine a seguinte situação: uma
enunciado, o que pode ocorrer com os garota chega em casa e diz uma ou outra
casos de homonímia (mesmo termo com destas frases:
dois sentidos diferentes e independentes - Mãe, achei o anel.
– manga vs. manga) e de polissemia - Mãe, achei um anel.
(mesmo termo com sentidos diferentes, a) Qual das duas frases dá a
porém, com alguma base em comum – entender que a garota havia perdido um
universidade “prédio” vs. universidade determinado anel?
“instituição”). Assim, o autor trata de b) Qual das duas frases dá a
apresentar testes que objetivam a entender que a garota achou um anel
diferenciação entre os casos de qualquer, indeterminado?
homonímia e polissemia.
Neste artigo, não iremos explicitar Explique a diferença de sentido
a diferença entre homonímia e polissemia entre as duas frases de cada item a
ao tratar a ambiguidade lexical, pois não seguir, considerando a presença ou não
delimitamos como objetivo tal discussão do artigo definido.
teórica. Busca- se questionar como e
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a) Toda casa tinha água acertar a nomenclatura desejada, como a


encanada. Toda a casa tinha água presença de vírgulas, ou não
encanada. compreende as diferentes funções
b) Estas pranchas foram sintáticas – adjunto adnominal e
usadas pelos surfistas do Rio de Janeiro. predicativo – pois nem mesmo percebe o
Estas pranchas foram usadas por sentido dos enunciados.
surfistas do Rio de Janeiro. Associar a interpretação à
c) Encontro amigos em todos classificação, ao menos já seria um
os lugares aonde vou. Encontro os avanço em direção ao questionamento
amigos em todos os lugares aonde vou. sobre o sentido dos próprios termos –
Tradicionalmente, o ensino de adjunto e predicativo.
Língua Portuguesa visa à memorização Outra proposta interessante é a
da nomenclatura, o que requer que o associação da organização sintática do
aluno saiba identificar a classe dos enunciado com a duplicidade de sentido
artigos em relação às demais classes de provocada, o que já denominamos na
palavras e classificá-los como definido e seção anterior como ambiguidade
indefinido. Tendo como fim esse estudo estrutural. Ainda no volume da 7ª série,
classificatório, os exercícios costumam encontramos a atividade que segue.
ser fragmentados e direcionados ao seu Compare estas frases quanto ao
propósito. A atividade acima extrapola sentido:
esse nível, quando leva o aluno ao - De uniforme, o professor de
questionamento do sentido que cada tipo Educação Física atendeu os alunos.
de artigo ou a ausência do mesmo atribui - O professor de Educação
ao enunciado. Parece simples, mas se Física atendeu os alunos de uniforme.
trata de um incipiente conhecimento - O professor de Educação
semântico da função dos artigos, antes Física, de uniforme, atendeu os alunos.
limitado a noções morfológicas. Desse a) Em qual ou quais delas a
modo, encontramos o avanço tão expressão de uniforme refere-se apenas
necessário no ensino de gramática, ao professor de Educação Física?
chamado anteriormente de necessidade
de inserção da semântica no ensino da Se o contexto não esclarecer a
língua materna. intenção do locutor, a frase “O professor
O mesmo ocorre quando o de Educação Física atendeu os alunos
conteúdo gramatical passa da análise de uniforme” pode ser ambígua, isto é,
morfológica para a sintática. No volume ter duplo sentido.
da 7ª série, encontramos:
Leia as frases a seguir e compare- a) Quais são esses sentidos?
as quanto ao sentido. b) Indique o tipo de predicado
- O menino doente não pôde dessa oração, no caso de um ou outro
participar da competição esportiva. sentido.
- O menino, doente, não pode Também no enfoque tradicional,
participar da competição esportiva. um exercício pautado em tais enunciados
a) Qual a diferença de sentido enfatizaria apenas as cobranças acerca
entre elas? da classificação sintática, visto que a
b) Qual é a função sintática da expressão de uniforme ora está como
palavra doente em cada uma das frases? adjunto adnominal, ora como predicativo
Tradicionalmente, o foco do do sujeito. No entanto, o enfoque dado
exercício seria a função sintática dos nesta proposta é a percepção de que
termos, no caso da comparação entre os diferentes construções acarretam
enunciados, do termo comum a eles – diferentes sentidos, ou mesmo provocam
doente. O aluno, nesta situação, ou ambiguidade. Além disso, explica-se que
aprende algum “macete” que o faça a função sintática não se altera sem uma
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justificativa que não esteja na essencialmente sintática por uma análise


interpretação semântica da sentença. semântica, ou semântico-sintática, ao
Na mesma concepção, menos quando se trata do estudo das
encontramos atividades que visam ao orações coordenadas e das
estudo das conjunções, a partir do valor subordinadas adverbiais. Além disso,
ou dos valores semânticos de tal classe. fazemos uso da conjunção na concepção
Por exemplo, há exercício que propõe ao textual, que insere essa classe naquilo
aluno a leitura de vários períodos que se denominam operadores
compostos, conectados pelo termo e, argumentativos, termo que, segundo
com o objetivo de que reflitam sobre os Koch (2000, p. 30), “[...] foi cunhado por
diferentes sentidos que a conjunção O. Ducrot, [...] para designar certos
assume em cada contexto. Assim, elementos da gramática de uma língua
apresentam-se os seguintes exemplos que têm por função indicar a força
em que a presença de e indica, argumentativa dos enunciados, a direção
respectivamente, ideia de adversidade, (sentido) para o qual apontam”.
conclusão, finalidade e explicação
enfática. 8. O ensino do Português como
a) Disseram estar famintos e Língua Adicional
não comeram nada.
b) Luciana saiu de casa bem O ensino de Português para
cedo e já deve estar chegando ao falantes de outras línguas e participantes
interior. de outras cul- turas existe como prática
c) Pensou em comprar flores e no Brasil desde o seu início colonial. A
dá-las de presente para a mãe. consciência generalizada de que essa é
d) O garoto disse: “Não vou uma área de atuação profissional
dar banho no cachorro hoje.” “E eu, acadêmico-científica pode ser datada em
nunca”, respondeu a irmã. pouco mais de 20 anos. A percepção de
Chamar a atenção para o valor que temos uma prática institucionalizada
semântico das conjunções e, mais que cres- cente em novos postos de ensino
isso, para o fato de que uma conjunção do Português para falantes de outras
nem sempre estabelece uma única línguas no Brasil e exterior abre caminho
relação de sentido, é o passo primordial para a instauração dessa especialidade
para a necessária mudança no estudo no campo da Teoria do Ensino e
gramatical, quando este visa à Aprendizagem das Línguas, campo esse
compreensão da estrutura da língua no constituinte da Linguística Aplicada
âmbito das relações entre as orações. contemporânea brasileira. Uma avaliação
Dessa forma, deixa-se de trabalhar com do nosso desenvolvimento por 14
a apresentação de períodos compostos critérios ex- plícitos (ALMEIDA FILHO,
prontos, com fins de classificação 2007) mostrou recentemente um índice
sintática, para iniciar um trabalho em que médio modesto de desenvolvimento. A
o aluno aprenda a formar tais períodos, o média obtida ficou somente um pouco
que requer processar algumas etapas, além de uma nota 5 em 10 dessa área de
tais como: perceber a relação de especialidade.
sentido entre as ideias a serem Nesta apresentação, pretendo
conectadas, selecionar entre várias das abrir uma cronologia periodizada de fatos
conjunções existentes na língua como e persona- gens relevantes para uma
recurso para estabelecer tal conexão e, história do Português Língua Estrangeira
por fim, compreender a versatilidade de (PLE) enquanto campo de trabalho e
uma mesma conjunção, que, em especialidade acadêmico-científica no
diferentes enunciados, possui diferentes país desde a fundação do Brasil até esta
valores semânticos. Enfim, traçar esse data, realçar o nascimento da
caminho significa substituir uma análise consciência da especialidade que eu
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mesmo testemu- nhei, destacar alguns dessa hierarquia explicitada até aqui:
avanços e, principalmente, anotar
dificuldades e perspectivas para a nova 2 Marcos de uma cronologia do
geração de atuantes na estratégica área ensino de PLE
de Ensino de Português Língua É preciso distinguir, primeiro, entre
Estrangeira (EPLE). uma cronologia de EPLE e a emergência
e vigência de uma especialidade da área
1 A especialidade de PLE de Ensino e Aprendizagem de Línguas
O que está implicado na (EALin), a sa- ber, a do Ensino de
expressão área de especialidade de que Português para Estrangeiros. O ensino
me sirvo para retra- tar a condição de línguas tem uma longa história
acadêmico-científica dessa modalidade enquanto campo de trabalho e de um
de ensino de línguas é a natureza do ofício passível de treinamento de
trabalho de ensino e atividade de aprendizes dese- josos de ingressar no
pesquisa no âmbito do PLE. Para situar ramo. Como especialidade teórico-
essa espe- cialidade, vou invocar uma acadêmica com formação espe- cífica
hierarquia de termos que poderá nas universidades, com disciplinas
esclarecer os sentidos que empresto à formadoras reconhecíveis, com acervo
área do PLE. Essa hierarquia taxonômica de obras públicas especialmente nesse
está afeita à área maior da Lingua- gem foco, com publicações de resultados de
ou Grande Área da Linguagem. Esse estudos e pesqui- sas, com o apoio de
nódulo mais alto compreende as três uma associação de professores e
ciências da Linguagem, a saber, a da pesquisadores, com revistas e con-
Estética da Linguagem, englobando a gressos, numa vertente de consciência
tradicional área das literaturas e sua profissional com carreira e contratos de
teorização, a da Linguística, referindo-se trabalho específicos, nossa história é
aos estudos da estrutura e bem mais recente. Conforme veremos
funcionamento da linguagem humana, e adiante, o afloramento de uma
a dos Estudos Aplicados ou Linguística autopercepção profissional em
Aplicada, como muitas vezes é rotulado especialidade tem pouco mais de vinte
esse terceiro segmento, produzido a anos.
partir de investigações de natureza Pela carta de Caminha, escrita nos
aplicada sobre questões de linguagem na primeiros dias da Colônia, sabemos que
prática social. degre- dados foram “deixados” com os
A pesquisa aplicada gera índios, para que se tornassem “línguas“
conhecimentos de uma certa natureza por imersão, ou seja, para que pudessem
epistêmica para subáreas como a do vir a servir os colonizadores como
Ensino-Aprendizagem de Línguas (à qual intérpretes das línguas brasi- leiras. Eles
se prende o PLE mais abaixo), Tradução tinham de adquirir a língua autóctone no
(incluindo a Interpretação e a convívio espontâneo com as etnias da
Legendagem), Lexicografia e nova terra. Mas houve ensino de
Terminologia Aplicadas, Relações Português nos Colégios que se seguiram
Sociais Mediadas pela Linguagem (vide ao Colégio de Salvador, fundado em
ALMEIDA FILHO, 2008). Abaixo da 1550, tendo à frente o padre Vicente
subárea de Ensino de Línguas, está a Rodrigues. Logo após, fundaram os
especialidade de Ensino e Aprendizagem jesuítas a segunda escola brasileira: o
de Segundas Línguas e de Línguas Colégio dos Meninos de Jesus de São
Estrangeiras à qual se prende, afinal, o Vicente (inaugurado em 1553), onde se
PLE, entre outras, como Línguas de ensinava o jovem habitante da nova terra
Ensino Massivo e Línguas Menos a falar, ler e escrever em Português. Os
Comumente Ensinadas. Veja- mos na professores podiam ser improvisados,
Figura 1 uma representação gráfica como ainda se pode flagrar aqui e acolá
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no Brasil de hoje: para a Bahia, por critérios não gramaticais. A formação de


exemplo, foram trazidos da metrópole professores se amplia com níveis muito
sete pivetes, garotos infratores órfãos da menores do que os necessários. Livros
rua, para auxiliar no ensino do Português didáticos para o ensino de línguas di- tas
para os índios. Padres católicos foram estrangeiras não são distribuídos aos
trazidos também, nessa época, para alunos das escolas públicas como ocorre
aprenderem a gramática das línguas com as outras disciplinas. Falta uma
indígenas, de modo a facilitar a política direcionadora e sobram
interpretação do ensino feito em preconceitos, ideologismos e ignorância
Português. Aqui já entrevemos um sobre os processos de aprender línguas.
cadinho de soluções de ensino e No final da década de 80, aparecem
aprendizagem de línguas dessa fase claros sinais da emergência da área de
colonial. Em 1554, fundou-se o Colégio Português Língua Estrangeira (PLE),
de São Paulo de Piratininga no mesmo conforme vere- mos adiante.
local que hoje se denomina Pátio do
Colégio e cresceu a rede de escolas de 3 Sinais da emergência de uma
primeiras letras na Colônia. Para área de especialidade em PLE
conhecer uma linha do tempo contendo Marcas significativas do
estas indicações e muitas outras sobre a surgimento de uma nova especialidade
história do ensino de línguas no Brasil, no Ensino de Línguas no Brasil começam
veja-se a página eletrônica História do a aparecer na abertura de cursos para
Ensino de Línguas no Brasil (HELB), no alunos estrangeiros no sul do Brasil,
endereço www.helb.org.br. O estudo, o como o curso de PLE da Universidade
ensino e a publicação de gramáticas Católica do Rio Grande do Sul, para o
ocupou a maior parte do clero jesuíta no qual a Professora Mercedes Marchand
século seguinte, o século XVII. No criou um manual didático O ensino de
século, dezoito abala-se o sistema português para estrangeiros em 1957,
jesuíta, com a expulsão dos padres de tendo sido publicado pela Editora Sulina
seus 17 colégios, à época do Edito do do Rio Grande do Sul. Nos anos 60,
Marquês de Pombal, em 1757. ocorre o ciclo efervescente de criações
No Império, já no século XIX, de cursos universitários de Português em
contratam-se professores de línguas da universidades dos Estados Unidos do
Europa para atuarem na Corte do Rio de qual o livro Modern Portuguese é talvez o
Janeiro ensinando Francês e Inglês aos melhor símbolo. O manual produzido em
cortesãos e elite de comerciantes que 66 por um time de especialistas no
podia educar-se. Por fim, o século XX ensino de línguas incluía o linguista
inaugura nos anos 30 o ensino dito aplicado pernambucano Francisco
moderno de línguas no Brasil. Em 1935, Gomes de Matos e a escritora cearense
são publicados os 2 primeiros livros Dinah Silveira de Queiroz, encarregada
teóricos sobre o EALin, os livros de Maria da elaboração de diálogos do livro.
Junqueira Schmidt (O ensino científico A década seguinte assiste à
das línguas) e de Fernando Carneiro criação de cursos de PLE para
Leão (O ensino das línguas vivas). Na estrangeiros na USP e na UNICAMP, no
década de 70, universaliza- ano de 1976. Soluções administrativas
-se o ensino público gratuito e o muito distintas para a implantação
ensino baseado em métodos tem dias mostram o acerto da UNICAMP em
gloriosos com o estruturalismo instituir o PLE como disciplina de
audiolingual. Em 78, inicia-se o catálogo e permitir a contratação de
movimento comunicacional de ensino de docentes pesquisadores de carreira para
línguas no Brasil com a realização do seu quadro. Com o passar dos anos,
primeiro seminário sobre a nova esse acerto frutificaria com várias
abordagem de ensino de línguas sob iniciativas de consolidação da área a
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partir do Departamento de Linguística e edições especiais de revistas


Aplicada, que abrigou a emergente área universitárias sobre o tema do
com gran- de visão de futuro. A USP, ao ensino de PLE e a apresentação de
contrário, implantou o PLE como resultados de projetos de pesquisa de
extensão desvinculada da graduação e Mestrado e Doutorado ao redor de
da pós-graduação. Essa providência não tópicos de uma agenda brasileira para o
prejudicou a oferta de cursos ao grande PLE. O grosso dessa preciosa produção,
contingente de alunos estrangeiros na ventilado e discutido no hoje extinto GT
Instituição, mas também não alçou o de PLE junto à ANPOLL, está registrado
trabalho de ensino do Português para no meu artigo para a biblioteca digital
Estrangeiros a níveis mais impactantes especializa- da do Museu da Língua
de estabelecimento da nova Portuguesa “O ensino do português como
especialidade. língua não-materna“ (ALMEIDA FILHO,
Considero que os sinais de uma 2006).
autêntica visão de área viriam a ser A emergência da área de PLE
inequívocos a partir da instalação do PLE possibilitou ainda a visibilização de
nessas duas grandes universidades especialistas agora convocados a ofertar
paulistas a partir de 76. No entanto, é no inúmeros cursos de formação inicial e
final da segunda metade da década de principalmente continuada de atualização
80 que aparece a primeira de uma série para professores de PLE no Brasil e
de coletâneas de artigos sobre o ensino exterior, esses últimos com o patrocínio
de PLE sob minha coordenação do Ministério de Relações Exteriores do
acadêmica (ALMEIDA FILHO, 1989). Até Brasil, em colaborações esporádicas com
então, não havia literatura específica Embaixadas do Brasil no exterior,
publicada tanto no Brasil quanto em Universidades Estrangeiras, com a
Portugal sobre aspectos do ensino de UNESCO e União Latina, entre outros,
Português para falantes de outras desde 1991.
línguas. No início dos anos 90, organiza- Apesar da marcha dos
se a Sociedade Internacional para o acontecimentos indiciada neste texto,
Português Língua Estrangeira (SIPLE), não possuíamos até 2007 um balanço da
durante o II Seminário Nacional de qualidade do nosso desenvolvimento
Linguística Aplicada ocorrido na enquanto área no Brasil. Nesse ano,
UNICAMP, em outubro de 1993. Nesses lancei com a colaboração de Maria
anos iniciais do MERCOSUL, que Jandyra C. Cunha, da Universidade de
emprestou vigor a várias iniciativas de Brasília, um volume de autoria sobre o
consolidação da área de PLE, vimos PLE, do qual consta um artigo especial
ainda a instalação, em 1993, do Exame sobre nosso estágio presente de
Nacional de Proficiência em PLE, o desenvolvimento e carências (cf.
Exame Celpe-Bras, instituído a partir do ALMEIDA FILHO; CUNHA, 2007). De um
recém criado Exame ENPE por mim máximo de 10 pontos, as avaliações das
coordenado e pilotado já nos países do iniciativas brasileiras produzidas sob 14
Tratado de Assunção em anos critérios específicos apresentaram um
anteriores. O Exame Celpe-Bras se índice pouco abaixo de 5. Esse indicador
alinhava então com pressupostos aponta, numa distribuição desigual de
comunicacionais vanguardistas expostos pontos nos quesitos, para um nível médio
no meu livro Dimensões comunicativas de IDE= 5.2, nada mal para a nossa
no ensino de línguas, lançado nesse história recente do PLE já com
mesmo produtivo ano de 1993. consciência de área. A falta de uma
O restante da década viu política explícita e oficial para o EPLE se
iniciativas importantes, como a destaca entre os quesitos com avaliações
preparação de congressos nacionais e negativas no exercício de análise que
internacionais, mais publicações de livros praticamos para essa publicação.
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escala para os indivíduos, para as


4 Quebra de barreiras e instituições e para o país em âmbitos
ações recomendáveis diversos, como o das publicações
A introdução da especialidade em especializadas, dos exames de
cursos de Letras ou em programas de proficiência e de materiais didáticos, por
pós-graduação nem sempre é tranquila. exemplo.
As unidades administrativas das áreas de A recomendação que já foi objeto
saber são estabelecidas politicamente de uma moção aprovada no II Encontro
numa dada época e um establishment de Nacional de Políticas para o Ensino de
poder as mantém por quanto tempo durar Línguas Estrangeiras (II ENPLE), por
o seu poder. Assim, quando houver o ocasião da edição da Carta de Pelotas, é
desejo de uma parte do corpo docente ou a de que os cursos de Letras incluam
ainda o de uma outra parte alheia à imediatamente o estudo do PLE em seus
instância, esse desejo de introdução do currículos, de modo a alargar o horizonte
PLE será tratado por esse poder político de interesses acadêmicos e profissionais
no setor que puder chamá-lo a si, dos egressos. A outra possibilidade seria
geralmente no bojo da grande área da uma instrução pelo Ministério de que os
Linguagem. Pode-se, portanto, encontrar cursos no- vos e antigos de Letras
o PLE atrelado a quem detiver os direitos tivessem um tempo definido para ajustar
de gestão da Língua Portuguesa, mesmo seus currículos à inclusão do PLE. A
que essa unidade não possua atividades consciência dessa especialidade e o
de pesquisa sobre a dimensão “ensino de estágio de desenvolvimento da área que
língua estrangeira”, isso com óbvias pensamos haver reconhecido neste
perdas para a área de especialidade e trabalho nos dão segurança de que o
para os alunos em si. tempo é chegado.
As tradições serão, dessa forma,
muito diferentes em cada situação e o 9. O trabalho com as habilidades
poder de antiguidade das unidades linguísticas a partir das orientações
conferirá o poder de anexação da nova dos Parâmetros Curriculares
especialidade. Sem esse vetor, a Nacionais – Ensino Médio
instalação, a integração e a troca de um
para outro locus operandi seriam A compreensão leitora, uma das
operações simples e realizadas sempre quatro habilidades linguísticas
no melhor interesse do público que consagradas, sempre esteve presente na
sustenta as instituições com impostos metodologia de ensino de línguas
pagos ou taxas diretamente recolhidas de estrangeiras, ora no centro das atenções,
alunos. ora num lugar secundário. Assim, o
Um problema anterior a esse da Método Gramática e Tradução não só se
departamentalização é o da falta de apoiava na leitura de textos para
consciência do valor estratégico da estruturar cursos, aulas e materiais
especialidade de PLE. Essa ignorância didáticos, mas também a incluía entre
impede a introdução de disciplinas, seus objetivos de ensino e
bloqueia a contratação de professores aprendizagem. O Método Direto, por sua
em postos de carreira, adia a vez, embora enfatizasse as habilidades
institucionalização de disciplinas no orais, partia muitas vezes da leitura de
currículo que abririam portas de formação textos para introduzir vocabulário e a
para atuação posterior de egressos de oralidade, via leitura em voz alta.
cursos de Letras como professor(a) de Os métodos
PLE no Brasil e em outros países. A audiolinguais priorizavam a língua falada,
valorização da Língua Portuguesa na sendo que a compreensão leitora só era
perspectiva de uma língua estrangeira, incluída nos cursos e materiais quando
ao contrário, carrearia vantagens em os aprendizes possuíssem um certo grau
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de domínio oral, pois se acreditava que a encontram-se a unificação de diretrizes


exposição dos alunos à língua escrita, para a aprendizagem e o ensino das
precocemente, prejudicaria seu línguas no contexto europeu; daí que o
desempenho na língua falada. Quadro seja considerado um documento
Já os métodos comunicativos, de consulta fundamental e, justamente
surgidos fundamentalmente a partir da por isso, sua divulgação seja ampla.
década de 1980 e tão presentes na O Quadro não possui caráter
atualidade, procuram – ao menos do dogmático e entre seus objetivos figura o
ponto de vista teórico – equilibrar a de incentivar a reflexão – de professores
ênfase entre as habilidades linguísticas e e alunos – sobre o papel da comunicação
valorizar o desempenho comunicativo, e sobre a aprendizagem e o ensino de
possibilitando que o aprendiz seja capaz línguas estrangeiras Não é seu propósito
de agir adequadamente em diferentes indicar o método de ensino a ser seguido,
situações de comunicação. Nesse contudo, o que se observa ao longo da
sentido, a compreensão leitora é apenas leitura do documento é um esforço
um dos elementos necessários para a constante por ater-se aos princípios
comunicação e deve ser abordada a teóricos mais atuais para o ensino de
partir de contextos comunicativos reais, línguas estrangeiras. E é justamente
com propósitos claramente definidos, dentro da linha metodológica postulada
sem perder de vista a integração dessa pelos princípios comunicativos que a
habilidade com as demais (ouvir, falar e leitura é considerada nesse documento.
escrever) e com a competência Assim, a compreensão de textos
comunicativa em sentido amplo. escritos é encarada como parte da
Dentro desse panorama, é competência comunicativa e está
possível supor que os documentos que vinculada não só às situações de ensino
subsidiam o ensino e a aprendizagem e aprendizagem, mas também — e
das línguas estrangeiras elaborados nas principalmente — à função que ela
últimas décadas levem em consideração desempenha nas atividades reais que
os princípios postulados pelos métodos integram as competências gerais do
comunicativos, assim como é igualmente indivíduo. Nessa perspectiva, a
possível supor que os sistemas compreensão leitora pressupõe, também,
avaliativos também os tomem como a interação entre sujeitos e elementos
base. Entretanto, uma rápida revisão dos integrantes da comunicação (nesse caso,
textos legais vigentes e de algumas leitor, autor, texto, conhecimentos prévios
provas de seleção deixa entrever que, do assunto tratado, relações
em alguns deles, esses pressupostos estabelecidas com outros textos etc.).
teóricos ficam à margem e, em seu lugar, Nas situações de ensino e
valorizam-se concepções anteriores, aprendizagem de línguas estrangeiras
como será resumido a seguir. (LEs), as atividades voltadas para o
desenvolvimento da compreensão leitora
A leitura no Quadro comum podem ocorrer sob a forma de tarefas
europeu de referência variadas a serem realizadas pelos
O Quadro comum europeu de aprendizes e, para tanto, estes podem
referência para as línguas: utilizar-se de diferentes estratégias
aprendizagem, ensino e avaliação (daqui disponíveis para executá-las. Assim, "ler
em diante Quadro) surgiu no início dos e comentar um texto, completar lacunas,
anos 2000 como resultado de diversos preparar uma apresentação oral, [...]
estudos realizados ao longo de mais de cozinhar seguindo as instruções de uma
dez anos na Europa por diversos receita etc." (MCER, capítulo 2 —
especialistas, no âmbito do projeto geral Enfoque adoptado) são estratégias
de política linguística do Conselho da passíveis de serem utilizadas para obter
Europa. Entre os objetivos desse órgão, êxito na leitura. Também é exemplo de
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atividade dirigida ao desenvolvimento da do som emitido, por exemplo) ou


compreensão leitora a leitura de inclusive às características paratextuais
correspondência ou de manuais. Nesse como ilustrações, gráficos, tabelas,
caso, a produção escrita, a produção oral diagramas, figuras, características
e a compreensão oral também podem tipográficas etc.
estar presentes, ao lado da interação, no Subjacentes à oferta de atividades
sentido de que o leitor também atua, em variadas de compreensão leitora, que
muitas ocasiões, como produtor de pressupõe o estabelecimento de
textos, como nas situações em que o diferentes objetivos, encontram-se os
estudante é convidado a discutir com um saberes que os aprendizes devem
colega o conteúdo ou a argumentação possuir para obter êxito em sua
presente num texto escrito ou naquelas consecução. Entre eles, o
atividades em que o aprendiz deve Quadro (MCER, capítulo 4 – El uso de la
elaborar uma resposta para um anúncio lengua y el usuario o alumno) destaca:
de emprego publicado num jornal, por  a percepção do texto escrito
exemplo. Dessa forma, no Quadro, (que faz referência às habilidades
estratégia adquire o sentido de "adoção visuais);
de uma linha específica de ação com o  o reconhecimento da escrita
propósito de maximizar a eficácia" (referente às habilidades ortográficas);
(MCER, capítulo 4 — El uso de la lengua  a identificação da
y el usuario o alumno). mensagem (relacionada às habilidades
No documento em discussão, linguísticas);
arrolam-se diferentes possibilidades de  a compreensão da
atividades de compreensão leitora (por mensagem (vinculada às habilidades
exemplo, leitura para obter orientação semânticas);
geral ou específica acerca de um assunto  a interpretação da
determinado, para seguir instruções, por mensagem (vinculada às habilidades
prazer etc.) assim como vários objetivos cognitivas).
que podem ser alcançados a partir da Daí que seja possível inferir que a
leitura (como para captar a ideia geral, concepção de leitura veiculada no
para obter informação específica, para documento não se restrinja, de forma
compreensão pormenorizada, para inferir alguma, à simples decodificação do signo
opiniões etc.). Dependendo da atividade linguístico ou à compreensão isolada de
proposta e dos objetivos a serem vocábulos ou sintagmas. Antes, o que se
alcançados, poderão entrar em jogo torna patente é a definição da
atividades e estratégias de interação oral compreensão leitora como um processo
(conversas e discussões formais e/ou amplo, abrangente, que vai muito além
informais, debates, entrevistas, do reconhecimento das palavras – seja
negociações, planejamentos etc.), de na forma, seja no significado – e que
interação escrita (intercâmbio de implica, necessária e obrigatoriamente, o
anotações e correspondência, realização domínio de habilidades perceptivas,
de traduções, elaboração de resumos, decodificação, inferência, predição,
emprego de paráfrases, realização de estabelecimento de relações, entre
anotações, entre outras), assim como outros, assim como a adequada
estratégias de mediação não verbal e utilização de recursos auxiliares como
paralinguísticas. Nesses dois últimos dicionários, gramáticas, meios eletrônicos
casos, faz-se referência aos gestos e às etc.
ações que acompanham as atividades Devido precisamente a essa
linguísticas (normalmente presentes nas concepção de compreensão leitora é que
atividades realizadas face a face), como o Quadro (capítulo 4) atribui um sentido
o uso de onomatopeias, efeitos amplo ao termo texto:
prosódicos (tom e tipo de voz ou duração
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[...] qualquer fragmento de língua, constituir-se como plenos ou únicos. É


seja um enunciado ou uma obra escrita, necessário não perder de vista o fato de
que os usuários ou alunos recebem, que os objetivos parciais relacionam-se
produzem ou dele fazem intercâmbio. com os objetivos gerais, vinculados à
Portanto, não pode haver um ato de compreensão, à expressão e à interação,
comunicação mediado pela língua sem ou seja, à competência comunicativa.
que haja um texto; as atividades e os Contudo, o Quadro (capítulo 6 —
processos são analisados e classificados El aprendizaje y la enseñanza de la
em função da relação existente entre, por lengua) deixa em aberto várias questões
um lado, o usuário ou aluno e qualquer relacionadas à presença dos textos nas
interlocutor ou interlocutores e, por outro aulas de LE como, por exemplo:
lado, o texto, seja visto como um produto  o papel que os textos
acabado, como um artefato, como um desempenham na aprendizagem e no
objetivo ou como um processo em ensino;
elaboração.  a relevância de utilizar (ou
Consequentemente, são não) textos autênticos;
classificados como texto (oral e/ou  a necessidade de que os
escrito): alunos processem e produzam textos
[...] declarações e instruções (orais e escritos).
públicas, discursos, conferências, Explicita-se no documento que
apresentações públicas e sermões, cabe aos usuários do Quadro determinar
rituais (cerimônias, serviços religiosos o espaço que os textos (orais e escritos)
formais), peças de teatro, espetáculos, devem ocupar nos programas
leituras, músicas, comentários esportivos, curriculares assim como quais atividades
retransmissões de notícias, debates e didáticas são as mais condizentes com
discussões públicas, diálogos, conversas cada situação de ensino e aprendizagem.
telefônicas, entrevistas de trabalho, Ou seja, reforça-se o caráter não
livros, publicações literárias, revistas, dogmático do documento.
jornais, manuais de instruções, livros Se, por um lado, esse é um
didáticos, histórias em quadrinhos, aspecto positivo, por outro pode levar à
charges, catálogos, folhetos, material repetição de modelos que concebem a
publicitário, cartazes e sinais públicos, leitura superficialmente, ou seja,
sinais de supermercados e lojas, enfatizando apenas questões lexicais ou
embalagens e etiquetas de produtos, gramaticais e ignorando os demais
moedas, formulários e questionários, elementos que permitem atingir a
dicionários, cartas, faxes (comerciais e compreensão profunda de um texto, isto
profissionais), cartas pessoais, redações é, corre-se o risco de deixar à margem o
e exercícios, memorandos, relatórios e desenvolvimento da compreensão leitora
trabalhos, anotações, bilhetes e em sentido amplo e, portanto, da
mensagens, bases de dados etc. competência comunicativa.
Como se pode inferir facilmente, Contudo, apesar da liberdade
tal amplitude e diversidade levam a que dada aos professores no que concerne à
o trabalho com a compreensão leitora adoção de seus princípios e à sua
também seja variado e abrangente. É utilização pragmática, em função das
claro que, em função dos objetivos características gerais do documento e do
perseguidos em cada momento do uso que dele vem sendo feito (parâmetro
processo de ensino e aprendizagem de para elaboração de materiais didáticos ou
uma LE, pode-se dar mais ênfase a um definição de níveis de proficiência, por
ou outro aspecto (competência exemplo), não pode ser ignorada a
ortográfica, sociolinguística, pragmática importância do Quadro, inclusive fora da
etc.), mas sob nenhum pretexto esses Europa.
objetivos pontuais e específicos devem
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A leitura nos Parâmetros quadrinhos, receitas, por exemplo),


Curriculares Nacionais segundo as possibilidades da escola, a
A compreensão leitora no fim de que o aluno se conscientize da
ensino fundamental existência de vínculos entre o que é
Conforme a nova Lei de Diretrizes estudado e seu entorno social. O foco
e Bases da Educação Nacional (Lei deve estar mais no significado e na
9394/96), o estudo de uma língua relevância da atividade do que no estudo
estrangeira moderna torna-se obrigatório do sistema da língua envolvida, embora
a partir da 5ª série do ensino ele não esteja descartado.
fundamental, observando que a escolha Essa natureza interacional fica
da língua (inglês, francês, espanhol ou evidente no processo de compreensão
outra língua estrangeira moderna) deve leitora em que o receptor procura, a partir
obedecer às necessidades e às das marcas deixadas pelo emissor,
possibilidades da comunidade. entender o texto escrito. Para tanto, são
Os Parâmetros Curriculares ativados os conhecimentos de mundo, da
Nacionais (daqui em diante PCNs), bem organização textual e do sistema da
como o Quadro, não têm caráter língua. O documento prevê a
dogmático: devem, antes de tudo, compreensão geral de um determinado
provocar reflexões e discussões a texto no terceiro ciclo (correspondente às
respeito da prática pedagógica. 5ª e 6ª séries) e geral e detalhada no
No ensino fundamental, o quarto ciclo (7ª e 8ª séries). Além disso,
aprendizado de uma outra língua deve deve ser privilegiado o conhecimento de
promover a compreensão intercultural, no mundo e textual que o educando já tem
que diz respeito ao conhecimento de de sua língua materna e depois, de forma
outras culturas e, consequentemente, à gradativa, é importante que se procure
"aceitação das diferenças nas maneiras desenvolver o conhecimento sistêmico.
de expressão e de comportamento" Nas atividades de compreensão
(PCN-EF, 1998, p. 37), contribuindo para leitora, sugerem-se três fases: pré-leitura,
superar visões etnocêntricas e de leitura e pós-leitura. Na primeira fase,
xenofobia. Assume também a função ocorre a sensibilização do aluno a partir
interdisciplinar, enfatizando a ideia de da ativação de seu conhecimento de
que o aprendizado de uma outra língua mundo (exploração da presença de
permite o acesso a um número maior de gráficos, mapas, desenhos, títulos,
informações em áreas diversas: subtítulos etc.), da organização textual
linguagem, códigos e suas tecnologias; (observação da distribuição gráfica – uma
ciências da natureza, matemática e suas receita culinária tem estrutura diferente
tecnologias; e sociedade, cultura e suas de um texto jornalístico, por exemplo) e
tecnologias11. da identificação do texto (autor, data da
Ao tomar como base a visão socio- publicação etc.). Na segunda fase, "o
interacionista, a linguagem é aluno tem de projetar o seu
compreendida como prática social. Dessa conhecimento de mundo e a organização
forma, a partir dela, o aluno pode textual nos elementos sistêmicos do
"compreender e expressar opiniões, texto" (PCN-EF, 1998, p. 92). Nessa fase,
valores, sentimentos, informações, as estratégias de inferência são postas
oralmente e por escrito" (PCN-EF, 1998, em prática a fim de evitar que o aluno se
p. 54). Aulas com exclusivos exercícios prenda à necessidade de conhecer todos
de cópia e tradução, repetição e textos os itens lexicais. É importante que se
descontextualizados devem dar lugar ao faça distinção entre informações centrais
desenvolvimento de atividades que e detalhes, conforme os níveis de
explorem diferentes recursos (TV, compreensão previamente estabelecidos.
gravador, computador, entre outros) e Na última fase, a pós-leitura, os alunos
fontes (jornais, revistas, histórias em avaliam de forma crítica as ideias do
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autor. Obviamente, durante todo o A compreensão leitora no


processo de leitura, pensa-se e reflete-se ensino médio
sobre o texto. Contudo, segundo os Em 1999, foi publicada a primeira
PCNs, é nessa última fase que o aluno versão dos Parâmetros Curriculares
vai estabelecer de forma mais Nacionais para o Ensino Médio (daqui em
concentrada essa interação entre seu diante PCN-EM). O documento foi
mundo e as ideias do autor. elaborado conforme os pressupostos da
A avaliação da compreensão Lei de Diretrizes e Bases da Educação
escrita deve ser um processo integrado e Nacional (Lei n. 9294/96) e do Parecer n.
contínuo. O professor precisa, portanto, 15/98 do Conselho Nacional da
"aconselhar, coordenar, dirigir, liderar, Educação/Câmara de Educação Básica.
encorajar, animar, estimular, partilhar, Com o objetivo de complementar e
aceitar, escutar, respeitar e compreender adequar os PCN-EM, surgiram os PCN+,
o aluno" (PCN-EF, 1998, p. 82). em 2002, cujo conteúdo provocou
Quanto à compreensão leitora, discussões. Segundo informações
segundo os PCNs (1998), espera-se que, expressas no site do MEC, Ministério da
ao final do ensino fundamental, o aluno Educação e do Desporto, o
seja capaz de: Departamento de Políticas do Ensino
 demonstrar compreensão Médio realizou cinco seminários
geral de tipos de textos variados, apoiada regionais, entre outubro e dezembro de
em elementos icônicos (gravuras, 2004, e deveria apresentar um outro
tabelas, fotografias, desenhos) e/ou em documento final, em maio de 2005, para
palavras cognatas; consolidar uma proposta de organização
 selecionar informações curricular para o Ensino Médio.
específicas do texto; Como a proposta desse trabalho
 demonstrar conhecimento não é um estudo exaustivo dos
da organização textual por meio do documentos, faz-se necessário restringir
reconhecimento de como a informação é as considerações às informações gerais
apresentada no texto e dos conectores sobre o tratamento atribuído à
articuladores do discurso e de sua função compreensão leitora no ensino de língua
como tais; estrangeira moderna.
 demonstrar consciência de Nos PCN-EM, as diretrizes gerais
que a leitura não é um processo linear e orientadoras da proposta curricular
que exige o entendimento de cada estão fundamentadas nas quatro
palavra; premissas abordadas pela UNESCO:
 demonstrar consciência aprender a conhecer, aprender a fazer,
crítica em relação aos objetivos do texto, aprender a viver e aprender a ser. Nesse
em relação ao modo como escritores e documento, fica patente a ideia de uma
leitores estão posicionados no mundo formação geral no lugar da formação
social; conteudística e academicista. Destacam-
 demonstrar conhecimento se duas palavras: contextualização e
sistêmico necessário para o nível de interdisciplinaridade. O conteúdo a ser
conhecimento fixado para o texto. desenvolvido no ensino médio deve estar
Assim como no Quadro, pode-se sempre contextualizado e deve-se
concluir que o processo de leitura é procurar estabelecer relações com outras
amplo e abrangente e não se prende à áreas do conhecimento. São prioridades
decodificação lexical ou ao conhecimento o raciocínio e a capacidade para
de regras gramaticais. O conhecimento aprender e utilizar os conhecimentos
sistêmico é desenvolvido de maneira para a resolução de problemas do
gradual e considerado no processo da cotidiano.
leitura, mas vale lembrar que não é o As competências e habilidades a
foco exclusivo das aulas de línguas. serem desenvolvidas em língua
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estrangeira moderna foram agrupadas, integração do educando no mundo


devido a fins unicamente didáticos, uma globalizado; para que isso de fato possa
vez que devem ser desenvolvidas como ocorrer, as antigas aulas de repetição e
componentes inter-relacionados e exploração do conteúdo gramatical
interligados em três eixos: representação devem dar lugar ao desenvolvimento das
e comunicação; investigação e quatro habilidades linguísticas (ler,
compreensão; e contextualização so- escrever, ouvir e falar), assim como ao
ciocultural. Figuram da seguinte forma no desenvolvimento da competência
documento (PCN-EM, 1999, p. 143): comunicativa. Não há uma habilidade a
Representação e comunicação: ser priorizada. Segundo o documento, o
• Escolher o registro adequado à princípio geral é "levar o aluno a
situação na qual se processa a comunicar-se de maneira adequada em
comunicação e o vocábulo que reflita a diferentes situações da vida cotidiana"
ideia que pretende comunicar. (PCN-EM, 1999, p. 148). O material
• Utilizar mecanismos de coerências e utilizado em sala de aula deverá ser
coesão na produção oral e/ou escrita. diversificado, constituindo-se de notícias,
• Utilizar estratégias verbais e não histórias em quadrinhos, letras de
verbais para compensar as falhas, música, filmes, diálogos etc. Além da
favorecer a efetiva comunicação e competência gramatical, ao final dos três
alcançar o efeito pretendido em situações anos do ensino médio, deve-se garantir
de produção e leitura. igualmente o domínio dos demais
• Conhecer e usar as línguas componentes da competência
estrangeiras modernas como instrumento comunicativa, quais sejam: a
de acesso a informações a outras competência sociolinguística (ou
culturas e grupos sociais. sociocultural), a discursiva e a
Investigação e compreensão: estratégica.
• Compreender de que forma Nos PCN+, dentro do
determinada expressão pode ser capítulo Linguagens, códigos e suas
interpretada em razão de aspectos tecnologias, com relação ao ensino de
sociais e/ou culturais. língua estrangeira moderna, fica claro
• Analisar os recursos expressivos da que a ênfase do aprendizado no ensino
linguagem verbal, relacionando médio deve ser a questão da
textos/contextos mediante a natureza, compreensão de enunciados: "[...] o foco
função, organização, estrutura, de acordo do aprendizado deve centrar-se
com as condições de produção/recepção na função comunicativa, por excelência,
(intenção, época, local, interlocutores visando prioritariamente a leitura e a
participantes de criação e propagação de compreensão de textos verbais orais e
ideias e escolhas, tecnologias escritos [...]" (PCN+, 2002, p. 94). As
disponíveis). competências e habilidades também
Contextualização sociocultural: estão estruturadas dentro das três
• Saber distinguir as variantes perspectivas: representação e
linguísticas. comunicação; investigação e
compreensão; e contextualização
• Compreender em que medida os
sociocultural. São elas:
enunciados refletem a forma de ser,
Representação e comunicação:
pensar, agir e sentir de quem os produz.
1) Utilizar linguagens nos três níveis de
A partir da proposta para a
competência: interativa, gramatical e
abordagem e o tratamento das
textual;
habilidades e competências no ensino de
2) Ler e interpretar;
língua estrangeira moderna, segundo os
3) Colocar-se como protagonista na
PCN-EM, nota-se que se o domínio de
produção e recepção de texto.
uma outra língua colabora para a

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Investigação e compreensão Mais especificamente sobre língua


1) Analisar e interpretar no contexto de inglesa, há uma lista de conteúdos
inter-locução; referentes à estrutura linguística, que
2) Reconhecer recursos expressivos das deve desenvolver-se "segundo o grau
linguagens; progressivo de dificuldades dos textos"
3) Identificar manifestações culturais no (PCN+, 2002, p. 104). Da mesma forma,
eixo temporal, reconhecendo momentos uma lista de temas também é proposta
de tradição e de ruptura; com relação ao trabalho de aquisição de
4) Emitir juízo crítico sobre as repertório vocabular. Para tanto, sugere-
manifestações culturais; se uma perspectiva interdisciplinar. No
5) Identificar-se como usuário e que se refere à leitura e interpretação de
interlocutor de linguagens que estruturam textos, espera-se que o professor utilize
uma identidade cultural própria; em sala de aula um material
6) Analisar metalinguisticamente as diversificado: "publicitário, jornalístico,
diversas linguagens; narrativo, dissertativo, poético, literário,
7) Aplicar tecnologias da informação em científico" (PCN+, 2002, p. 106).
situações relevantes. Segundo o documento:
Contextualização sociocultural O trabalho com textos supõe
1) Usar as diferentes linguagens nos etapas bem definidas quanto à gradação
eixos da representação simbólica: de dificuldades e à escolha de atividades
expressão, comunicação e informação, ligadas à interpretação, à aquisição e à
nos três níveis de competência; fixação de vocabulário, bem como à
2 e 3) Analisar as linguagens como estrutura linguística. (p.107)
geradoras de acordo sociais e como Os PCN+ apresentam também as
fontes de legitimação desses acordos; competências abrangentes a serem
4) Identificar a motivação social dos trabalhadas em lín gua estrangeira
produtos culturais na sua perspectiva moderna: estratégias para ação,
sincrônica e diacrônica; conteúdos estruturadores e trabalho por
5) Usufruir do patrimônio cultural nacional projetos. Especificamente sobre a
e internacional; exploração de texto, destacam-se as
6) Contextualizar e comparar esse seguintes premissas:
patrimônio, respeitando as visões de • O professor deve escolher textos
mundo nele implícitas; que propiciem o desenvolvimento das
7) Entender, analisar criticamente e quatro habilidades: ouvir, falar, ler e
contextualizar a natureza, o uso e o escrever.
impacto das tecnologias da informação. • O desenvolvimento do trabalho a partir
Antes de detalhar as habilidades e de temas favorece o aprendizado e a
competências e comentá-las, explicitam- elaboração e execução de projetos
se, de maneira não muito clara, os interdisciplinares.
sentidos atribuídos a alguns termos que • É importante que se desenvolvam
se relacionam ao contexto exposto. técnicas de leitura.
Com relação à seleção de • É tarefa do professor orientar o aluno
conteúdos em Língua Estrangeira quanto:
Moderna, devido ao número reduzido de - à identificação das ideias principais;
aulas, geralmente duas aulas semanais, - ao levantamento das palavras-chave;
e à heterogeneidade das classes – no - à identificação do tema ou assunto;
tocante a diferentes estágios de - ao trabalho com as palavras-ferramenta
aprendizagem –, sugere-se o e as chamadas 'palavras-transparentes'.
desenvolvimento do trabalho a partir de (PCN+, 2002, p. 120)
três frentes: leitura e interpretação de Embora não mais exista o
textos, aquisição de repertório vocabular monopólio linguístico, uma vez que o
e estrutura linguística. texto legal (Lei 9394/96) prevê a
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possibilidade da escolha de uma língua propostos e das concepções defendidas.


estrangeira moderna segundo as Os modelos mais comuns apresentam
diferenças e necessidades de cada questões de múltipla escolha, ainda que
situação de ensino, nota-se que esse existam provas pautadas no somatório
documento enfoca mais diretamente — e das respostas corretas (nesse tipo de
poderíamos dizer, de maneira quase prova, deve-se somar os números de
exclusiva — a língua inglesa, sobretudo todas as alternativas corretas) e provas
ao prever e especificar determinados com questões de respostas discursivas.
conteúdos de estrutura linguística. Em quase todas as provas—
Constata-se, a partir da rápida independentemente do modelo de
revisão das propostas contidas tanto nos questões proposto —, há a inclusão de
PCN-EM como nos PCN+, a coincidência um texto (ou mais de um) que deve ser
de concepção — em sentido amplo — compreendido, interpretado ou
defendida para alguns aspectos, simplesmente aí figura como um pretexto
sobretudo no que se refere ao tratamento para a avaliação do domínio de regras
dado à compreensão leitora. gramaticais ou reconhecimento do
Corroborando as premissas do Quadro e vocabulário. Nesse último caso, constata-
dos PCNs do ensino fundamental, o se que nem sempre existe consonância
trabalho com textos não deve restringir- entre o que é proposto para ser
se ao estudo lexical e sistêmico da desenvolvido no ensino médio, segundo
língua. Espera-se que o professor as concepções dos PCN-EM, e o que é
desenvolva o trabalho com textos sob avaliado nos vestibulares.
uma nova perspectiva a partir da Se partirmos dos pressupostos
utilização de material diversificado e que:
explore as estratégias de leitura, de 1) Segundo os PCN-EF e os PCN-
forma a levar ao desenvolvimento EM, a habilidade de compreender os
adequado da habilidade de compreensão recursos expressivos da linguagem
leitora e do papel que esta exerce no verbal, relacionando textos/contextos
âmbito da competência comunicativa. mediante a natureza, função,
organização, estrutura, de acordo com as
Competência leitora x condições de produção/recepção, deve
competência linguística: os exames de ter sido desenvolvida desde o ensino
vestibular fundamental até o final do ensino médio e
No Brasil, ao longo dos últimos que, dessa forma, é imprescindível que o
anos e impulsionado pelo Mercosul, indivíduo não seja concebido como um
cresceu o número de interessados em mero decodificador de palavras;
aprender a língua espanhola e, 2) A língua estrangeira para os alunos de
consequentemente, muitas escolas ensino superior deve, sobretudo, servir
passaram a oferecer cursos desse de instrumento para que tenham acesso
idioma. Em virtude do crescimento da a pesquisas, estudos, enfim à literatura
difusão dessa língua em âmbito estrangeira, necessária a qualquer
educacional e socioeconômico, várias estudante de nível superior,
instituições de nível superior passaram a independente de sua área de
oferecê-la como uma opção para o conhecimento;
vestibular, pondo fim ao monolinguismo levanta-se a seguinte
das provas até então instaurado na problemática: até que ponto a grande
maioria das instituições de nível superior. maioria dos testes de vestibular mede o
Para a elaboração desses que se propõe a medir? Seria de se
exames, as diferentes instituições esperar que tais provas, que tomam por
possuem autonomia, de forma que é base o texto escrito, mantivessem
possível encontrar tipos variados de coerência com os princípios mais amplos
provas dependendo dos objetivos subjacentes ao domínio da compreensão
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leitora e presentes nos quatro assumem, de maneira explícita e geral, a


documentos referidos ou, ao menos, nos missão de preparar os alunos para essas
três documentos nacionais. Não parece provas. Essas instituições baseiam-se
adequado que, em muitos dos exemplos em estratégias que desenvolvem práticas
de exames analisados, o foco se restrinja mecanicistas, de treinamentos e
ao conhecimento gramatical – normativo memorização de fórmulas. Ainda que
– da língua estrangeira. neste momento não haja a
Entretanto, ao rever o processo de disponibilidade de um estudo sobre a
avaliação e seleção, realizado por meio forma como os institutos de ensino médio
de provas parceladas e ocasionais, em conduzem seus cursos de língua
que um erro pode implicar a exclusão do estrangeira, não é descabido afirmar que
candidato, revela-se ainda maior a seu grande objetivo é preparar os alunos
necessidade de contar com um para as provas de vestibular,
instrumento cuidadosamente preparado direcionando as aulas para o
que vise muito mais à compreensão que conhecimento gramatical e lexical, mais
à memorização de regras. Obviamente, que para a competência comunicativa.
em certos casos, torna-se necessário Infelizmente, ainda hoje se
recorrer aos procedimentos gramaticais e observa a existência da velha dualidade,
lexicais para que não se recaia numa a escola que prepara para o trabalho e a
interpretação distorcida e imprecisa do escola que prepara para o nível superior,
texto. Por outro lado, estudar o texto embora a lei não defenda essa
somente do ponto de vista formal pode separação de propósitos.
distanciar o leitor-aprendiz da apreensão Não bastasse isso, grande parte
de seu sentido global. das apostilas preparadas para serem
Ainda que se levem em utilizadas nos cursos pré-universitários
consideração questões vinculadas à tem por objetivo maior treinar os
transferência/interferência do português estudantes para as provas de vestibular
sobre o espanhol, posto que são línguas e, portanto, não mantém relações diretas
que apresentam semelhanças, e que com as premissas norteadoras dos
determinadas instituições de nível PCNs. Esses materiais, em geral,
superior talvez se interessem em avaliar propõem uma formação conteudística e
esse conhecimento específico, a academicista, apenas. E uma vez mais
preocupação exclusiva ou marcadamente vale insistir na afirmação de que se tais
prioritária com os aspectos gramaticais escolas existem é porque seus materiais
não garante que os alunos aprovados dão bons resultados, o que indica que as
nesses exames sejam capazes de provas para ingresso nas universidades
compreender um texto na língua continuam avaliando conhecimentos de
estrangeira. Assim, ficam à margem tanto regras linguísticas nem sempre
os princípios defendidos pelos textos contextualizados. Com relação à língua
legais quanto os pressupostos do que estrangeira, o que as instituições de
seria conveniente que os futuros ensino superior esperam de seus
estudantes universitários dominassem, candidatos? Que sejam "motoristas da
uma vez que os cursos superiores, língua ou mecânicos da gramática"
normalmente, exigem várias leituras em (Bagno, 2000, p. 120)?
outras línguas. Apesar de todas as tentativas em
Numa espécie de círculo vicioso, dar outro enfoque à compreensão leitora,
devido ao fato de que muitas instituições nota-se que entre o que propõem os
de ensino superior continuam avaliando documentos oficiais e como ela se faz
conhecimentos de regras gramaticais e presente nas aulas do ensino médio e se
do uso do léxico (como se a língua diz avaliada em muitas provas de
pudesse ser concebida dessa forma), vestibular, há uma distância muito grande
pode-se inferir que várias escolas separando os pontos envolvidos.
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O presente trabalho procura


Algumas considerações finais mostrar que a falta de atividades nas
Constata-se, pois, a discrepância aulas de língua materna com a
existente – mais uma vez – entre aquilo modalidade oral em contraponto com a
que é defendido nos documentos oficiais modalidade escrita por meio de gêneros
e o que ocorre na prática. discursivos adequados, que a falta de
Se, por um lado, a concepção de uma maior dedicação à leitura e à escrita
compreensão leitora veiculada nos quatro e de uma proposta de ensino que
documentos brevemente resenhados é respeite as variedades da língua são
ampla e supõe uma concepção de ensino fatores que contribuem para que os
de língua voltada para a interação e para alunos não consigam distinguir a
a comunicação em sentido abrangente, gramática da modalidade oral da
por outro, o que se verifica em muitas gramática da modalidade escrita, o que
escolas e em muitos exames de acesso a compromete o processo e aquisição de
instituições de ensino superior é a letramento de usuários de variedades
aplicação de modelos tradicionalistas de linguísticas não padrão. Como fatores
ensino e reducionistas do que significa causas, entre outros, apontamos o
possuir um bom domínio da habilidade despreparo técnico-didático-metodológico
leitora e dos conhecimentos que do professor, que insiste em um ensino
implicam essa habilidade. ainda “gramatiqueiro”
Por que os postulados referentes à descontextualizado, e ignora que o
compreensão leitora, incluídos nos textos ensino de língua vai além do ensino da
oficiais, são praticamente ignorados por gramática normativa tão somente e que o
muitas escolas e por vários exames de oral é tão importante quanto o escrito no
vestibular? Sabe-se que na elaboração convívio social em que os alunos se
de tais textos consideraram-se estudos encontram. Mesmo porque, em geral, as
profundos realizados por especialistas e categorias de erros, segundo Bortoni-
que refletem, em maior ou menor Ricardo (2005), estão relacionadas aos
medida, os princípios e as teorias mais aspectos fonológicos, mais precisamente
atuais e mais aceitos internacionalmente ligados à questão da grafia, ou seja, aos
no que tange ao ensino de línguas aspectos convencionais da língua, que
estrangeiras, em geral, e ao são equivocadamente confundidos e
desenvolvimento da compreensão leitora, apontados como erros de língua e
em particular. Seria de se esperar, atribuídos às variedades não padrão,
portanto, que eles estivessem presentes fazendo parecer que a grafia é algo
nas aulas e nas provas, específicas ou natural e não convencional, e que de fato
não. A partir do momento em que essa se escreve como se fala, quando na
relação de proximidade entre teoria e verdade se trata de falha lacunar do
prática é quase inexistente, justifica-se a próprio sistema de convenção que não
indicação da necessidade de estudos consegue estabelecer uma relação
que procurem averiguar suas causas e, biunívoca entre fala e escrita a contento.
na medida do possível, que apontem Assim, o processo de letramento é
caminhos que levem a uma aproximação comprometido à medida que o professor
entre os princípios teóricos que se de língua materna não consegue
defendem e o que se realiza de fato. apreender e trabalhar com ambas as
modalidades e levar os alunos a
10. A concepção de letramento, dominarem e a diferenciarem-nas em
oralidade e escrita para o ensino da seus vários aspectos e peculiaridades.
Língua Portuguesa e da Literatura Normalmente os erros
Brasileira presentes na escrita que marcam tanto
os textos dos alunos são de caráter
fonológico, mais precisamente e
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frequentemente ligados à ortografia e à verifica desde a alfabetização e se


acentuação gráfica. Tal fato nos leva a prolonga pelas séries subsequentes.
levantar a hipótese de que tais erros são Sem o domínio necessário de
motivados pela modalidade oral que os conhecimentos linguísticos, leitura e de
alunos dominam tão bem e pela produção de textos, tanto orais quanto
artificialidade da convenção gráfica que escritos, não sejam significativos. A
apresenta falhas, lacunas que de fato leitura e a escrita não têm o espaço
não atendem a totalidade do oral. As devido nas aulas de português. Ainda
formas linguísticas da oralidade, porém, prevalece nas escolas o ensino de regras
são confundidas com as variedades não- gramaticais sem qualquer adequação dos
padrão da língua das quais os alunos são conteúdos a um determinado gênero real
usuários e anotadas como erros de ou não, pelo contrário, ainda se mantém
português pelos professores. preso a um ensino tradicional. Das duas
O que leva o professor, modalidades de textos, a oral não é
equivocadamente, a estabelecer uma sequer cogitada.
relação entre formas linguísticas Fala e escrita são duas instâncias
características da oralidade e variáveis diferentes da linguagem, mas que andam
linguísticas com erros de português? Os lado a lado e que em determinados
textos orais, em geral, são tomados como momentos se associam mutuamente.
aqueles marcados pela informalidade e, Segundo Kato (2002), a escrita e a fala
dizem os professores, são mais passíveis são realizações de uma mesma
de erros de língua e toleráveis porque gramática da língua, mas há variação na
não há um rigor quanto à observância forma pela qual as atividades linguísticas
das regras gramaticais, assim, pode se são distribuídas entre as duas
fazer uso dos níveis coloquial e familiar, modalidades devido a diferenças
não observando as exigências que o temporais, sociais e individuais.
texto escrito requer. O que implica dizer Neste trabalho, procuramos
que, no contraponto com a modalidade mostrar que a falta de atividades nas
formal, esta está para a escrita e, aulas de língua materna que explorem a
portanto, deve-se precisar pelo rigor que gramática da oralidade em contraponto
ela exige e no nível culto/padrão. Ou com a gramática da escrita por meio de
seja, se estabelece a relação: gêneros discursivos adequados, que a
 Oral/língua falada → falta de uma maior dedicação à leitura e
informal → variedades não padrão à escrita (momentos essenciais) e de
 Escrita/língua escrita → uma proposta de ensino multidialetal da
formal → variedade culta/padrão língua são fatores que contribuem para
o que não está necessariamente que os alunos não consigam distinguir a
correto. O que defendemos aqui é o gramática da modalidade oral da
ensino da modalidade linguística gramática da modalidade escrita, o que
(oral/escrita) atrelada à variedade (não compromete o processo de letramento.
padrão/padrão) adequadas ao gênero Assim, autores como Ramos (2002), Kato
discursivo que a situação de uso (ou (2002), Soares (2004, 1997), Bortoni-
contexto) requer. Ricardo (2005), Marcuschi (2001) e
A falta do hábito da leitura e da outros são base para uma reflexão e
escrita como uma proposta de prática análise das relações escrita/oralidade,
social e uma necessidade real de alfabetização/letramento, variedades
interferência e atuação no cotidiano, e a linguísticas/norma culta/padrão.
ausência de um trabalho com gêneros
discursivos reais que caracterizem essa O Oral e o Escrito e as
prática, é uma consequência da falta de Variedades Linguísticas: o Quê?
um preparo técnico-didático- Como? Por quê?
metodológico do professor, que se
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A cultura ocidental está a alfabetização. Durante esse processo,


fundamentalmente baseada na cultura acredita-se, que além do contato com o
letrada escrita. Quiçá mais do que a escrito que é a tarefa principal da escola,
cultura oriental, há uma supervalorização atividades que explorem a produção e a
do escrito que se sobrepõe ao oral, daí prática de textos orais deveriam ser
aquele ter um prestígio maior em relação também praticadas com o mesmo
a este. A oralidade nunca será da mesma empenho pelos professores
forma que a escrita. É preciso entender, alfabetizadores. A produção do texto oral
principalmente os professores de língua é tão importante quanto do escrito. Se o
materna, que a escrita é uma tentativa de objetivo da escola é levar o aluno à
representar graficamente, por meio de aquisição do domínio da língua padrão,
símbolos convencionais (letras), criados seja falada ou escrita, ela peca quando
pelo homem, os sons (fones) que não trabalha essa língua na modalidade
produzimos naturalmente, mas por meio oral. Parte do escrito como modelo como
de aprendizagem. se as duas modalidades de fato fossem
O ensino escolar está uma só. Talvez, por falta de uma
essencialmente direcionado para uma formação linguística mais sólida desse
aprendizagem da escrita e a oralidade, é professor[2], pensa-se, ainda, que se fala
marginalizada a um segundo plano ou como se escreve e vice-versa. Isso é
simplesmente não é tomada como matéria de ensino aceita inclusive por
‘matéria de ensino’ nas aulas de professores de português. Essa
português. Raras são as atividades de “verdade” é passada para os alunos e
língua que exploram a oralidade do/no indevidamente cobrada tal fidelidade
aluno. Quando muito, fica apenas nas pelos professores.
leituras em voz alta, o que nem todo Contudo, num ato paradoxal, a
aluno participa por diversas razões ou tão atitude do professor, ao se deparar com
pouco caracteriza atividade de exercício marcas da oralidade na escrita do aluno,
da oralidade significativa para a aquisição é de corrigi-las como sendo erro na
da linguagem falada culta. Para Kato escrita (e pior, como erro de língua). O
(2002, p. 7), que leva ao julgamento de que o aluno
não sabe escrever, embora a escrita dele
[…] a função da escola, na área da tenha se baseado na oralidade e sua
linguagem, é introduzir a criança no realidade fonológico-social, ou seja, ele
mundo da escrita, tornando-a um cidadão escreve como fala e ouve dentro de sua
funcionalmente letrado, isto é, um sujeito comunidade linguística e que a escola
capaz de fazer uso da linguagem escrita não pode apagar simplesmente de uma
para sua necessidade individual de hora para outra.
crescer cognitivamente e para atender às Nesse ponto, a escola, e em
várias demandas de uma sociedade que particular o professor de português,
prestigia esse tipo de linguagem como esquece duas coisas importantes:
um dos instrumentos de comunicação. primeiro, que o aluno segue a regra da
fidelidade ensinada desde a
Kato (2002, p. 7) diz ainda que “a alfabetização, escreve como se fala;
chamada norma-padrão, ou língua falada segundo, que ele só pode fazer uso
culta, é consequência do letramento, daquilo que ele tem: a sua variedade
motivo por que, indiretamente, é função linguística, que em geral não é aceita
da escola desenvolver no aluno o pela escola. Assim, as marcas de
domínio da linguagem falada oralidade que aparecem nos textos dos
institucionalmente aceita.” Valorizar, alunos, obedecendo ao princípio da
portanto, a oralidade na medida em que fidelidade ensinado desde a
se trabalha a língua com atividades em alfabetização, são provas cabais de que
sala de aula, seria da competência desde os alunos foram mal alfabetizados. Aliado
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a isso, essas marcas trazem o estigma contextualizarmos o nosso leitor, nessa


de serem relacionadas às variedades não perspectiva. Atrelado ao trabalho com a
padrão, o que torna a situação mais modalidade oral, deve estar uma
desfavorável para o aluno. proposta sociolinguística de ensino de
A postura do professor em tudo língua materna, que perpassa pela
isso é fundamental. Cabe a ele saber conscientização (de professores e
conduzir e fazer disso matéria de ensino, alunos) de que a língua é por natureza
sem preconceito, mostrando as variável, partindo do princípio de que “[…]
diferenças e especificidades de cada não existe nenhuma relação de
modalidade. Contudo, como afirma causalidade entre o fato de nascer em
Ramos (2002, p. 8-9), uma determinada região, ser de uma
classe social determinada etc. e falar de
Muitos profissionais que atuam na uma certa maneira. Os falantes adquirem
área de ensino da língua materna as variedades linguísticas próprias a sua
conseguem chegar à universidade (e por região, a sua classe social etc.” (ALKMIN,
vezes sair dela) sem ter consciência das 2004, p. 34).
especificidades da fala em contraposição .
à escrita. Há quem acredite que se fala Todos sabem que existe um
tal como se escreve e vice-versa. grande número de variedades
linguísticas, mas, ao mesmo tempo que
Continua a autora ponderando se reconhece a variação linguística como
sobre o posicionamento dos falantes, um fato, observa-se que a nossa
como consequência dessa má sociedade tem uma longa tradição em
informação viciosa, que há falantes que considerar a variação numa escala
acreditam que a escrita só se presta à valorativa, às vezes até moral, que leva a
produção de textos formais e que a fala tachar os usos característicos de
[oralidade] é sempre mais coloquial, geral cada variedade como certos ou errados,
e irrestrita, logo, menos presa a aceitáveis ou inaceitáveis, pitorescos,
formalidades. cômicos etc. (TRAVAGLIA, 2003, p. 41)
Ramos chama-nos a atenção para
o fato de que Dentre os tipos de variedades
linguísticas, enumeramos as seguintes:
Quando se considera uma · dialetos: territorial,
situação de ensino de língua, essas geográfica ou regional; social; de idade;
crenças podem acarretar dificuldades. de sexo; de geração/variação histórica;
Consideremos inicialmente a situação de de função.
uma criança analfabeta, usuária do · registros: variantes de grau
dialeto [sic] não-padrão no estilo de formalismo x variantes de modo
coloquial. Ao ser alfabetizada, deverá 1. Língua falada: oratório,
num só passo redigir textos no dialeto formal (deliberativo), coloquial, coloquial
padrão e ainda em estilo formal. Para distenso, familiar;
essa criança, portanto, aprender a escrita 2. Língua escrita: hiperformal,
significa dominar, ao mesmo tempo, formal, semiformal, informal, pessoal.
outro dialeto, outro estilo e ainda outra Segundo Ilari e Basso (2006), há
modalidade. Sem dúvida, sem dúvida o um tipo de variação que normalmente na
passo que terá de dar será bem maior do se leva em conta, a variação diamésica.
que aquele a ser dado por uma criança Segundo os autores, ela consiste em
que já domina o dialeto padrão. (RAMOS, variações que uma só língua pode
2002, p. 9) apresentar de acordo com o tempo, o
espaço e os níveis de escolaridade,
Para entender melhor essas como também econômicos, assim, “não
questões, faz-se necessário poderia faltar uma dimensão que é às
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vezes esquecida e que se refere aos interlocutor. Já na comunicação escrita,


vários veículos ou meios de expressão por não envolver fisicamente o
que a língua utiliza” (ILARI; BASSO, interlocutor, a clareza e a eficácia
2006, p. 180). Essa variação compreende dependem de sutilezas estruturais,
as diferenças entre a língua falada e a gramaticais e estilísticas.
escrita: a primeira conta com gestos e
expressões possivelmente utilizados no É importante ressaltar que os
momento em que estabelecemos a aspectos socioculturais estão
comunicação, além disso, ela é dinâmica intrinsecamente ligados à oralidade a
e ocorre em tempo real, podendo qual influencia a escrita; e a cultura é um
apresentar-se com algumas dos fatores relevantes dessa prática,
redundâncias; a segunda requer uma entretanto, conhecê-la não faz do
elaboração prévia das ideias do autor indivíduo um falante de determinadas
numa tentativa de apresentar-se de línguas, mesmo ela sendo imprescindível
maneira mais clara e objetiva possível, para os seres humanos, e o fato de
principalmente no que se refere à termos uma linguagem articulada,
produção científica. Assim, transforma-nos em seres diferenciados
dos outros.
[…] uma longa tradição escolar
acostumou as pessoas a vigiar a A língua, seja na sua modalidade
escrita e a dar menos atenção à fala, por falada ou escrita, reflete, em boa
isso muita gente pensa que fala da medida, a organização da sociedade.
mesma forma que escreve. Na fala, as Isso porque a própria língua mantém
pessoas dizem coisas como “né”, “ocêis”, complexas relações com as
“disséro”, “téquinico”, pensando que representações e as formações sociais.
dizem “não é”, “vocês”, “disseram”, Não se trata de um espelhamento, mas
“técnico”, […]. (ILARI; BASSO, 2006, p. de uma funcionalidade em geral mais
181) visível na fala. É por isso que podemos
encontrar muitos correlatos entre
Em consonância com essa variação sociolinguística e variação
abordagem, sob a perspectiva dos sociocultural. (MARCUSCHI, 2001, p. 35)
PCN’s, fazendo uma análise da prática
em sala de aula e criticando o ensino Nessa perspectiva, podemos
tradicional que tenta dispor a língua afirmar que a fala é diferente da escrita e
materna o mais próximo possível da a tentativa de darmos a supremacia para
língua padrão, punindo o “erro” e esta é um equívoco do ensino tradicional
premiando os “acertos”, Matos (2001, p. que não acompanhou ainda esses fatos
11) faz a seguinte ponderação: da evolução linguística e, portanto, a ver
mais prestigiosa que a fala, pois se esse
Talvez, no ensino tradicional da pensamento fosse verdadeiro, não
Língua Portuguesa, se ignorasse o fato haveria povos ágrafos para os quais a
de que a comunicação depende de um escrita inexiste. Como defende Marcuschi
certo grau de redundância e clareza, e (2001), fala e escrita são duas
que esse grau é variável, em função de modalidades de uso da língua e que o
‘pistas’ sonoras, visuais, gestuais e aluno deve ser fluente no uso de
referenciais presentes nos textos. Na ambas.
comunicação oral, por exemplo,
organizada por elementos constitutivos Os Gêneros Discursivos e a
diferentes da escrita, a clareza se Oralidade
consegue por meio da adequação à
situação conversacional, porque o falante Em contraponto ao ensino
interage diretamente com o seu tradicional de língua materna, centrado
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nas normas gramaticais da dita variedade que se aproximam da oralidade pelo tipo
padrão, na modalidade escrita, de linguagem e pela natureza da relação
entre os indivíduos, por exemplo, as
O estudo da modalidade oral cartas íntimas e pessoais. Isso já não
constitui um objeto novo no ensino da ocorre no caso das cartas comerciais ou
língua materna. Esse caráter de cartas abertas” (MARCUSCHI, 2001, p.
novidade, conforme inicialmente 38).
mencionado, assegura por si só uma “As situações de ensino da língua
predisposição favorável à utilização precisam ser organizadas, basicamente,
desse material em atividades didáticas considerando-se a diversidade de textos
cujo objetivo é tornar o aluno um usuário e gêneros que circulam socialmente, bem
do padrão culto oral e escrito. É também como suas características específicas”
importante ressaltar que a (ROJO, 2005, p. 18), assim, dentro desse
espontaneidade, vivacidade e processo de ensino aprendizagem com
multiplicidade de situações de uso da gêneros, “trata-se de aprender a dominar
língua falada, das quais serão extraídos o gênero, primeiramente, para melhor
os dados a serem analisados, certamente conhecê-lo ou apreciá-lo, para melhor
contribuirão para aguçar a curiosidade do saber compreendê-lo, para melhor
estudante. (RAMOS, 2002, p. 41) produzi-lo na escola e fora dela” (DOLZ;
SCHNEUWLY, 2004, p. 80). Em defesa
O paradigma para se estabelecer da transposição didática e do ensino por
a norma padrão, sempre foi a modalidade meio dos gêneros discursivos, posto que
da língua escrita. O que a nosso ver é “todas as esferas da atividade humana,
uma inversão de paradigma. Entre os por mais variadas que sejam, estão
próprios estudiosos da língua, havia um sempre relacionadas com a utilização da
consenso de que a escrita por ser mais língua. A utilização da língua efetua-se
estável, apresentava-se estruturalmente em forma de enunciados. (...) cada esfera
mais elaborada. Para Marcuschi (2001, p. de utilização da língua elabora seus tipos
37), relativamente estáveis de
enunciados... gêneros discursivos” (
A fala tem sido vista na BAKHTIN, 2003, p. 279), portanto,
perspectiva da escrita e num quadro de apresentamos/apontamos as seguintes
dicotomias estritas porque predominou o vantagens:
paradigma teórico da análise imanente 1. a noção de gênero se
ao código. Enquanto a escrita foi tomada apresenta com potencial para solucionar
pela maioria dos estudiosos como as limitações do ensino de produção de
estruturalmente elaborada, complexa, texto, dado o seu papel social de
formal e abstrata, a fala era tida como representar, sob as formas de texto, os
concreta, contextual e estruturalmente padrões culturais da comunidade em que
simples. se inserem;
2. o aluno, pelo constante
Existem diversas áreas contato com os gêneros discursivos, vai
profissionais que trabalham utilizando se apropriando dos mecanismos sócio-
textos escritos para serem reproduzidos linguísticos que estruturam os
oralmente, a exemplo disso têm-se os enunciados;
setores jurídicos, pois as leis precisam 3. os gêneros, pelo seu caráter
ser faladas na íntegra e o discurso nesse heterogêneo, vão permitir que o aluno
momento deve respeitar algumas normas tenha uma prática pluralizada no uso da
e regras contidas na Gramática língua;
Normativa; e o jornalístico, em que os 4. o gênero constrói de maneira
apresentadores lêem o texto para funcional a competência linguística do
anunciar a notícia. Por isso, “há gêneros
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aluno no uso da gramática de sua língua alfabetização e a aquisição da escrita são


materna; campos de estudo da LA e que servem
5. os gêneros consideram a ao propósito deste trabalho já que,
situação de produção de um discurso segundo a referida autora, são subáreas
(quem fala, para quem, lugares sociais recobertas pelos estudos da aquisição.
dos interlocutores, posicionamentos Entre essas subáreas, Scarpa (2004)
ideológicos, em que situação, em que aponta: a) aquisição da língua materna;
momento histórico, em que veículo, com b) aquisição de segunda língua; c)
que objetivo, finalidade ou intenção, em aquisição da escrita. Para os fins deste
que registro, etc.). trabalho, interessa-nos o primeiro e o
O que abre o espaço para a terceiro pontos.
discussão sobre como se dá o processo Diz a referida autora que nessa
de alfabetização e a aquisição da escrita subárea estudam-se o letramento, o
e se esse processo está levando o aluno processo de alfabetização, a relação
a um letramento de fato. entre a fala e a escrita, entre o sujeito e a
escrita nesse processo etc. Assim, a
Alfabetização e Aquisição da alfabetização, que pressupõe o domínio
Escrita x Letramento da leitura e da escrita, parece não ser
uma tarefa tão fácil, posto que há um
Nas sociedades letradas a escrita vasto campo de pesquisas para
se sobrepõe à oralidade, daí todo o identificar problemas nesse processo
processo de alfabetização ser voltado (Por que os alunos não aprendem a
para que o aluno adquira o domínio da contento a ponto de dominarem a leitura
primeira. Há vários trabalhos de pesquisa e a escrita ao fim do processo?) Por que
que buscam explicar como a criança alguns alunos não conseguem aprender
adquire a escrita, como o trabalho de e distinguir marcas da fala na sua
Kato (2002), por exemplo, entre outros. escrita? Onde está o problema? Soares
As atividades linguísticas (2004, p. 20) estabelece a seguinte
permearam todo o processo. Dizem distinção:
respeito às atividades de leitura e Assim, por um lado, é necessário
produção textual. Pisciotta (2001, p. 94) reconhecer que alfabetização –
lembra que “o aluno chega à escola com entendida como a aquisição do sistema
vários anos de atividade linguística convencional de escrita – distingue-se
vivenciada na família e na comunidade, e de letramento – entendido como o
as aulas de língua portuguesa deveriam desenvolvimento de comportamento e
incorporar esses conhecimentos para, a habilidades de uso competente da leitura
partir deles, prosseguir com outras e da escrita em práticas sociais]:
atividades de fala, escuta, leitura e distinguem-se tanto em relação aos
escrita”. Então, as aulas de Língua objetos de conhecimento quanto em
Portuguesa deveriam ser uma relação aos processos cognitivos e
continuidade do uso social da linguagem linguísticos de aprendizagem e, portanto,
já iniciado no convívio com a família e também de ensino desses diferentes
com os amigos. objetos. […] embora distintos,
Para Scarpa (2004), faz parte dos alfabetização e letramento são
estudos e pesquisas da aquisição da interdependentes e indissociáveis: a
linguagem servir-se de subsídios da alfabetização só tem sentido quando
Psicolinguística, e da Psicologia desenvolvida no contexto de práticas
Cognitiva, dentro da proposta de uma sociais de leitura e escrita [por meio dos
linguística aplicada (LA) interdisciplinar, gêneros discursivos] e por meio dessas
que se serve de outros campos do práticas, ou seja, em um contexto de
conhecimento para abordar determinados letramento e por meio de letramento,
problemas ligados à linguagem. Assim, a este, por sua vez, só pode desenvolver-
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se na dependência da e por meio da modelo anterior e as situações sociais


aprendizagem do sistema da escrita. em que elas emergem, contextualizando
Cremos que o problema não esteja a língua no meio social.
apenas nos alunos, mas também nas A terceira, é um reflexo do
metodologias e conteúdos adotados pelo despreparo técnico-didático-pedagógico
professor devido à falta de clareza deste que perpassa pela crise da desmotivação
em relação a que teoria adotar e seguir. e desvalorização do docente. Sem salário
Esse fato leva-nos a refletir acerca da digno, como se manter em formação
crise do ensino de língua portuguesa continuada? Como estudar se não sobra
abordada por Castilho (1998), cuja tempo para frequentar cursos, porque
discussão é em torno da crise social, da trabalha três turnos, pelo menos? E como
crise científica e da crise do magistério. comprar livros se custam muito caro e
Segundo ele, a primeira está centrada no não sobra dinheiro para a aquisição de
que diz respeito às mudanças da alguns volumes regularmente? São
sociedade brasileira no tangente à algumas das situações apontadas pelo
urbanização das cidades que receberam autor.
um grande número de imigrantes, É preciso levar em conta também,
principalmente da zona rural, com isso, neste processo, o que Bortoni-Ricardo
muitas dessas famílias fixaram-se na (2005) avalia sobre o papel da escola e o
zona urbana, trazendo uma cultura e um que o aluno já detém ao chegar à escola,
falar diferente e vice-versa. Ainda para afinal ele não é nenhuma tábula rasa.
Castilho (1998, p. 10), esse fato “alterou Assim se expressa a referida autora, cuja
o perfil sociocultural do alunado de 1 e 2º fala se coaduna com a de Pisciotta acima
graus [entenda-se ensinos fundamental e citada:
médio]”, com isso as escolas passaram a Ocorre que a função da escola, no
receber alunos filhos de pais iletrados e processo de aquisição da linguagem, não
recém-chegados na cidade, portanto, é ensinar o vernáculo, pois este os
ainda sem adaptação para a nova alunos já trazem consigo ao iniciar a
realidade. A segunda está no fato de se escolarização, pois o adquirem na sua
basear na língua como fonte principal de rede primária de relações, constituída da
capacidade inata do homem nos moldes família e vizinhos. A função da escola é
da Gramática Universal, “interessada em justamente desenvolver outras
explicar como as pessoas adquirem uma variedades que se vão acrescer ao
língua, como elas produzem e vernáculo básico. Em ambientes
interpretam as sentenças dessa língua” bilíngues ou multilíngues, as variedades
(CASTILHO, 1998, p. 11), considerando adquiridas na escola poderão ser outras
também a existência da teoria da língua línguas. Em ambientes monolíngues, as
como estrutura de línguas naturais variedades adquiridas serão estilos mais
dispostas em nível fonológico, gramatical formais da língua, a que nos referiremos
e discursivo. De acordo com Castilho como estilos monitorados. (BORTONI-
(1998, p. 11) RICARDO, 2005, p.49)
Assim concebida, a língua é um Kato (2002) diz haver uma fase da
conjunto de usos concretos, fala pré-letramento e uma fase pós-
historicamente situados, que envolvem letramento, citando Brown, que envolve
sempre um locutor e um interlocutor diversos aspectos gramaticais de ordem
localizados num espaço particular, sintática, lexical e morfológica, que vão
interagindo a propósito de um tópico desde a estrutura aos desvios da norma
conversacional previamente negociado. culta. O que implica que nem sempre o
Uma gramática que assim entenda a processo de alfabetização atinge o
língua (como é o caso da gramática objetivo, que é de levar o aluno ao
funcional) procura os pontos de contato letramento, dominando a variedade
entre as estruturas identificadas pelo padrão e distinguindo as características
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próprias da fala/oralidade das Para uma melhor análise dos


características da escrita, tendo em vista dados, que faremos do texto no próximo
que são duas gramáticas distintas. tópico, classificaremos os “erros” por
Portanto, a fase do pós-letramento categorias, seguindo os pressupostos
deve ser marcada pelo domínio e teóricos enumerados por Bortoni-Ricardo
distinção desses dois aspectos que não (2005, p. 54) para quem estes “erros” são
são biunívocos, muito pelo contrário. A decorrentes de:
relação fonema (som)/grafema (letra) não 1. Erros decorrentes da própria
se dá em perfeita sintonia, isto é, a cada natureza arbitrária do sistema de
som corresponde uma letra convenções da escrita:
perfeitamente, corroborando a assertiva - neste tipo de erro se encaixam os
de que se escreve como se fala. que resultam do conhecimento
Sabemos que há letras que representam insuficiente das convenções que regem a
mais de um fonema e fonemas que são língua escrita, provocados pelas relações
representados por mais de uma letra, e plurívocas entre fonema e letra.
isso é o maior problema na hora da - o uso de diacríticos e certas
escrita, é o que provoca os erros de peculiaridades morfológicas, como a
ortografia comumente diferença ortográfica do sufixo número-
encontrados/apontados nos textos dos pessoal de terceira pessoa do plural:
alunos. Tomemos como exemplo a letra ão/am;
“x” que pode representar os fonemas /ks/, - os erros por acentuação gráfica].
/s/, /z/ e /ò/ em palavras 2. Erros decorrentes da
como táxi, máximo, exemplo e taxa. Da transposição dos hábitos da fala para a
mesma forma que o fonema /ò/ é escrita:
representado na escrita pelos a) Erros decorrentes da
grafemas x e ch. Para que o aluno se interferência de regras fonológicas
habitue a essas peculiaridades da categóricas no dialeto estudado:
relação oralidade/escrita, como bem - vocábulos fonológicos
salientou Kato, é preciso que o contato constituídos de duas ou mais formas
com o texto escrito e atividades de livres ou dependentes grafados como um
oralidade sejam efetivamente praticados único vocábulo formal
para que tais características sejam - crase entre vogal final de uma
percebidas. palavra e vogal idêntica ou foneticamente
Pensemos também na próxima da palavra seguinte;
complexidade que é representar o - neutralização das vogais
fonema sibilante, a fricativa alveolar anteriores /e/ e /i/ e das posteriores /o/ e
surda /s/, representado pelos grafemas: /u/ em posição pós-tônica ou pretônica;
s, c, ç, ss, sc, x, e tantos outros. Assim - nasalização do ditongo em
como o grafema s também representa o “muito” por assimilação progressiva.
fonema fricativo alveolar sonoro /z/. É b) Erros decorrentes da
preciso lembrar, portanto, que ortografia interferência de regras fonológicas
é convenção, é ato arbitrário, algumas variáveis graduais:
vezes seguindo critérios de etimologia, - despalatização das sonorantes
isto é, se baseia na origem da palavra, ou palatais (lateral e nasal);
estabelecendo regras baseadas em - monotongação de ditongos
regularidades das palavras, mas, esses decrescentes;
critérios não são estabelecidos para -ditongação da vogal anterior /e/
todas as palavras. por assimilação da fricativa palatal
sonora /j/;
As Categorias de Erros: da Fala - desnasalização das vogais
para a Escrita átonas finais;

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- assimilação e degeminação do preferimos generalizar pela categoria em


/nd/: /nd >> nn >> n/; que ele se encaixa.
- queda do /r/ final nas formas Assim, vamos ao texto:
verbais;
- supressão do morfema flexional Presado(1) Cenhor(1),
de concordância da língua-padrão. Quero candidatarme(1) pra(2a) o
c) Erros decorrentes da lugar de ceqretária(1) que vi
interferência de regras fonológicas no jornau(1). Eu teclo muito de
variáveis descontínuas: pressa(2a) con(1) um dedo e fasso(1)
- semivocalização do /lh/; contas ben(1). Axo(1) que sou boa
- epítese do /i/ após sílaba final ao tefone(2) em bora(2a) seija(2b)
travada; uma peçoa(1) sem muito extudo(1). O
- troca do /r/ pelo /l/; meu salario(1) tá(2a) aberto
- monotongação do ditongo nasal há discução(1) pra(2a) que o senhor
em “muito” >> muntu; possa ver o que mi(2a) pode pagar e
- supressão do ditongo crescente o Cenhor(1) axar(1) qui(2a)
em sílaba final; eu meresso(1). Pósso(1) comessar(1)
- simplificação dos grupos imediatamente. Agradessida(1)
consonantais no aclive da sílaba com a em avanso(1) pela sua resposta.
supressão da segunda consoante; Cinceramente(1),
- metátese em “satisfeito” >> Catia Vanessa Estrela
sastifeito. PS: Como o meu currico(2)
É com base nessas é muinto(2a,
categorias que faremos a análise do texto 2c) piqueno(2a), abaicho(1) tem 1 foto
da seção seguinte. minha.

Será uma piada? Ou da falta de Num primeiro momento, num ato


letramento, talvez impulsivo, o leitor melhor informado e
letrado certamente daria boas risadas
Vejamos o texto a seguir. O com a leitura do texto. É comum um texto
número ao lado da palavra indica em que como esse, com muitos erros provocar
categoria de erro ela se enquadra, risos naqueles que se julgam
conforme a sequência seguida no tópico conhecedores, ou mesmo quem não se
anterior, como: julga tão conhecedor assim, das regras e
(1) Erros decorrentes da própria normas gramaticais. Os risos provocados
natureza arbitrária do sistema de não são dos erros em si, mas do sujeito-
convenções da escrita; autor do texto. A este é reservado de
(2a) Erros decorrentes da imediato, nós diríamos automaticamente,
interferência de regras fonológicas a pecha de burro, ignorante, analfabeto
categóricas no dialeto estudado; (funcional) etc. Enfim, não é do texto pelo
(2b) Erros decorrentes da texto que se ri, mas sim da imagem que
interferência de regras fonológicas se cria de seu autor. Feitas tais
variáveis graduais; ponderações, partamos para a análise de
(2c) Erros decorrentes da fato.
interferência de regras fonológicas O texto acima foi colhido
variáveis descontínuas. na internet deve ser tomado como um
exemplo do gênero curriculum vitae, que
Não detalharemos os erros serve ao propósito de solicitação de
apontados um a um, especificando o tipo emprego. A foto que acompanha o texto,
de erro aí encontrado na palavra ou como informa pos script, é de corpo
expressão, mas de acordo com o código, inteiro e de uma mulher vestida em trajes
de banho, um biquíni, na praia, cujas
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formas físicas são bastante apelativas nos leva a crer que ela fez uma leitura de
aos olhos masculinos. Esse detalhe será mundo, no sentido dado por Paulo Freire,
retomado mais adiante, pois ele é de que em uma sociedade machista
bastante significativo para o contexto. como a nossa em que a mulher bonita é
O texto em si bem ilustra o que subestimada em sua inteligência em
aqui estamos diferenciando: detrimento do corpo. Sabendo de suas
alfabetização e letramento. A autora do limitações quanto aos requisitos exigidos
“currico” é alfabetizada, porém não tem o para o cargo, a candidata ao emprego
nível de letramento esperado que a lançou mão de um apelo: o físico. Com
escola deveria proporcionar e que o isso demonstra ter feito uma leitura do
cargo a que se candidata socialmente meio social em que vive, o que
exige. Letramento em contraponto com a caracterizaria um letramento que não se
alfabetização vai além desta. Não se prende apenas ao texto escrito.
limita apenas em reconhecer letras e
palavras, mas, neste caso, saber como Considerações Finais
se produz o gênero curriculum
vitae adequadamente, por exemplo e À guisa de conclusão, diante da
para “começo de conversa”, e não se análise feita no corpus, pode-se dizer que
admitem os erros ortográficos presentes as nossas suspeitas se
no texto, posto que o ambiente social em corroboraram. Os “erros” mais
que ele circula e ao que se presta esse frequentes foram aqueles relacionados à
gênero, não se admitem tais erros. Fonologia, motivados pelo
O texto apresenta algumas desconhecimento das convenções
categorias de erros acima expostos. É ortográficas e pela transposição dos
uma ilustração clara de como as marcas hábitos da fala para a escrita,
da oralidade podem se manter presentes consequência da falta de leitura e escrita
na produção escrita quando não se como práticas efetivas do cotidiano
atinge o letramento escrito devido ou escolar. Tais erros são automaticamente
desejado. Palavras como “candidatarme” rotulados como erros de português e
(candidatar-me), “pra” (para), “jornau” atribuídos às variedades não padrão
(jornal), “seija” (seja), “tá” (está) etc. são como sendo próprias delas e da fala dos
exemplos dessas marcas que, em última alunos de classe baixa. O que é meia
leitura, é o reflexo da falta de contato verdade. Tais “erros” se apresentam
com a palavra escrita: por meio da leitura indubitavelmente no processo de
e da produção de texto escrito como aquisição da escrita de qualquer aluno,
práticas de ensino/aprendizagem nas independe de sua classe social.
aulas de língua materna. A variedade linguística, porém,
Os erros presentes no texto, em que ele domine, se mais próxima ou mais
sua maioria, se dão no nível da distante da padrão é que vai ou não
ortografia, da convenção, porém, acentuar a permanência desses erros. A
qualquer leitor consegue ler o que está lá falta de um ensino da dita norma padrão
e entender o que o texto, a mensagem, de maneira adequada e criteriosa,
transmite. principalmente para os alunos que
Poderíamos dizer muito mais dominam uma variedade menos próxima
sobre o texto e seu sujeito-autor, mas da referência culta, que são a clientela
vamos nos limitar ao ponto em das escolas públicas em massa, os limita
discussão. A autora deste texto não tem a usarem apenas a sua variedade
letramento nessa perspectiva do texto linguística, a não padrão, e as formas da
escrito. Porém, diríamos que ela possui oralidade, nas produções escritas, posto
um grau de letramento que vai além da que procuram escrever orientados pela
palavra escrita. O fato de anexar uma fala, ou seja, procuram aproximar a
foto de corpo inteiro em trajes de praia escrita da sua fala e da sua comunidade
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linguística, pois é o que têm como importância de adquiri-la para a vida


referência. social. Assim, é como ensinar uma outra
Contudo, gostaríamos de língua a esses falantes, e os professores
esclarecer que não pretendemos precisam estar preparados teórica e
corroborar a teoria do déficit linguístico, linguisticamente para isso, para não
da pobreza cultural dos alunos das incorrer em preconceito, como,
classes menos favorecidas, como infelizmente, comumente se acontece no
defendeu Bernstein, discutida em Soares ensino de língua materna. E a
(1997). De que os alunos advindos das Sociolinguística possibilita esta visão
classes sociais desfavorecidas laica sobre o que é língua: não se
economicamente estariam propensos ao restringe apenas a ensinar regras de
fracasso escolar por viverem/ conviverem gramática normativa. Na escola,
em ambiente culturalmente pobre, diferentemente do que acontece
portanto, sua língua também seria atualmente, deve haver diversidade no
culturalmente pobre e não daria conta do ensino de língua materna, talvez,
que a escola exigiria. seguindo a proposta de Magda Soares,
Para que o aluno atinja o grau de do bidialetalismo ou, a proposta da
letramento desejado, domine a variedade professora Socorro Aragão, que propõe o
padrão, tanto oral quanto escrita, é multidialetalismo, ou seja, segundo a
preciso que a escola proporcione um professora, a escola deve explorar todas
novo paradigma de ensino de língua as variedades linguísticas que surgirem
materna onde incluam atividades que em seu âmbito como matéria de ensino
explorem a oralidade, a escrita e a leitura no sentido de permitir aos alunos o
como práticas efetivas a partir de contato, sem preconceito, com essas
gêneros discursivos reais. Em outras diversas variedades. Uma forma de
palavras, que desde o processo de tornar esse ensino diferenciado e diverso
alfabetização e de aquisição da escrita, é o ensino por meio de gêneros, dentro
seja feito esse trabalho, caso queira dessa perspectiva, como ilustramos
atingir o letramento, pois entendemos acima. Pois o ensino com gêneros
que ao chegar às séries subsequentes os permite o contato dos alunos/falantes
alunos tenham vencido as etapas de com a língua real em um contexto real de
aprendizagem que distinguem a uso, em um gênero discursivo real
gramática da oralidade da gramática da circulante na sociedade, o que implica o
escrita. uso adequado da modalidade e da
Diante do exposto, gostaríamos de variedade de acordo com o gênero em
dizer que a Sociolinguística deve servir questão, seja oral seja escrito. Fechamos
ao propósito de desmistificar o (por enquanto, mas não em definitivo)
preconceito linguístico e social que se este trabalho com as palavras de
pratica por meio da língua e pode Marcuschi (2001): “as diferenças entre
promover o letramento mostrando que o fala e escrita se dão dentro de um
oral tanto quanto o escrito têm o mesmo continuum tipológico das práticas sociais
valor, porém, ressaltando sua de produção textual e na relação
peculiaridades e fazendo ver que em dicotômica de dois polos opostos.
toda e qualquer língua, segundo a
abordagem da teoria variacionista 11. O ensino da literatura e sua relação
laboviana, o “normal” é a variação com a linguagem, a cultura, e a
linguística, portanto, não cabe a identidade
discriminação e o preconceito em relação
às variedades linguísticas não padrão. A língua, enquanto fator
Deve-se ensinar, e este é o papel da eminentemente social, é fortemente
escola, a variedade padrão àqueles que caracterizada por aspectos culturais e por
não a detêm, mostrando-lhes a eles influenciada, por ser um
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comportamento social acaba por se Para que a discussão que visamos


tornar elemento constituinte de uma das a propor acerca da língua enquanto
expressões culturais de uma nação. A elemento simbólico cultural, e
língua enquanto bem imaterial faz com consequentemente, identitário possa se
que os limites de grupos sociais instituir relevante não só ao presente
chamados nações coincidam com os estudo, mas aos que a esse se
seus, nesse sentido, a ausência de uma sucederem, é que recorremos aos
língua implicaria em um Estado recente pressupostos de Chianca (2010a,
ou artificialmente constituído. 2010b), Calame-Griaule (1984), Calvet
Conceber uma língua ausente de (2002), Hall (2003), Hobsbawn (1998),
um contexto cultural e de nação seria Legendre (1993), Neves (2005).
concordar que sem elas, a língua,
conforme sugere CHIANCA (2010a), 1 Língua, cultura e construção de
seria como um teatro de sombras mudas. identidade
Se cultura e nação são indispensáveis à A língua se institui expressão da
língua assim como a língua para essas o união de um povo e, consequentemente,
é, o que poderíamos dizer sobre uma fator de unificação e criador de
mesma língua que se faz presente em consciência nacional, as fronteiras
vários continentes e que tanto influencia culturais podem existir, mas não
como é influenciada por culturas distintas corresponder necessariamente às
à medida que imprime traços de fronteiras políticas.
identidade e legitimidade. A língua constitui-se em uma
FIORIN (1997) atesta que a língua atividade essencialmente social, segundo
mostra uma visão de mundo, e pode ser LE PAGE (1980), o fato de a língua ser
considerada, portanto, uma manifestação condicionada e modelada pela realidade
de uma cultura, ao necessitar dela para social e cultural faz dela também um
lhe dar suporte. A língua, nesse sentido, índice por excelência de identidade,
ao influenciar uma dada cultura e posto ser ela um determinante territorial e
também por ela ser influenciada faria vez cultural de um povo.
de traço identitário de uma nação com Conforme Tylor (1871), o termo
vistas a conferir-lhe um espaço simbólico cultura é compreendido como um
de identificação. conjunto complexo incluindo os saberes,
Sabe-se que a língua é um dos as crenças, a arte, os modos, o direito, os
traços culturais adquiridos em virtude de costumes, assim como toda disposição
um indivíduo integrar um dado grupo ou uso adquirido pelo homem vivendo em
social ou comunidade linguística. sociedade. Chianca (2010a), nessa
Todavia, acre- ditamos que muito se tem perspectiva, reforça que a cultura é algo
a explorar no que diz respeito à relação da qual a existência é inerente à
entre cultura e língua, em face da condição humana coletiva, ela é um
construção de uma identidade cultural. atributo distintivo.
Tomando como base o Logo, por ser um atributo distintivo,
documentário Língua – Vidas em a cultura acaba tornando-se fator
Português, dirigido por Victor Lopes em determinante de identidade. No entanto,
2004, no qual se configura uma reflexão a construção de identidade pode
sobre a relação língua- cultura- acontecer de diversas formas,
identidade, nos propomos, através do principalmente através da linguagem.
presente artigo, tomando por base os Isso por ser a língua parte social da
relatos dos entrevistados, a refletir sobre linguagem e a linguagem manifestação
a Língua Portuguesa enquanto espaço do comportamento social.
simbólico de identificação cultural, em De acordo com Hobsbawn (1998),
países e continentes em que essa língua a língua representa o mundo em que
se faz presente. vivemos e, num processo circular, o
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mundo que vivemos é representado pela traços distintos de auto afirmação e


linguagem. identidade quando em diversos
Se a linguagem permite-nos fazer continentes.
leituras distintas e particulares do mundo Entender como esse contexto
e seu entorno, isso implica dizer que a cultural contribui para construção da
forma com a qual lidamos e interagimos identidade e para que cada comunidade
em sociedade influem nas manifestações linguística construa sua concepção de
linguísticas e consequentemente mundo, institui-se motivo da reflexão que
culturais. Posto ser a partir da ora propomos. Diante dessa
manifestação cultural em circunstâncias complexidade, resta- nos aprofundar
coletivas que nos autoindentificamos. nossos conhecimentos nos conceitos que
Segundo Dubar (1991, p.07): a permearão toda discussão que se
identidade humana não é obtida de uma seguirá.
vez por todas no nascimento: ela se
constrói na infância e, doravante, deve se 2 Noções de identidade
reconstruir ao longo da vida. O indivíduo Muitos estudos têm dispensado
nunca a constrói sozinho; ela depende grande interesse e atribuído grande
dos julgamentos dos outros quanto suas relevância à questão da identidade1,
orientações e das definições de si. [...] A discutida extensamente no cenário da
identidade é ao mesmo tempo estável e teoria social. No que assiste aos estudos
provisória, individual e coletiva, subjetiva linguísticos; os sociolinguísticos, para ser
e objetiva, biográfica e estrutural, dos mais exato, não seriam diferentes, uma
diversos processos de socialização que vez que admitimos o caráter social da
constroem os indivíduos e definem as linguagem e que essa é um meio tácito
instituições. de manutenção identitário de grupos
A identidade permite que haja, sociais e linguísticos.
então, a construção de visões de mundo, No que concerne ao conceito de
“conjunto de representações através das identidade, relevante a discussão já
quais um grupo humano determinado iniciada e por ser de caráter
percebe a realidade que o cerca e a demasiadamente complexo, tomamos a
interpreta em função de suas fim de exposição três concepções muito
preocupações culturais”, conforme diferentes de identidade segundo Hall
reforça Calam-Griaule (1984). (2003).
Todavia, quando essa identidade é Hall apresenta três concepções de
linguisticamente construída e identidade, a saber, a identidade do
determinada, e muitos grupos humanos sujeito do Iluminismo, a do sujeito
partilham do mesmo grau de sociológico e a do sujeito pós-moderno.
complexidade linguístico e Segundo Hall (2003, p.02), o
consequentemente identitário, em face sujeito do Iluminismo estava baseado
da cultura que integram, se estabelece numa concepção de pessoa humana
um novo cenário. Os estudos que aqui como um indivíduo totalmente centrado,
são empreendidos assumem novas unificado, dotado das capacidades de
configurações diante dos contextos em razão, de consciência e de ação, cujo
que se apresentarão a língua, nesse centro consistia num núcleo interior que
caso, portuguesa. Tal assertiva é emergia pela primeira vez quando o
endossada por Chianca (2010a), quando sujeito nascia e com ele desenvolvia,
propõe que a língua deve ser objeto de ainda que permanecendo essencialmente
estudo e, portanto, de análise. o mesmo ao longo da sua existência de
Nesse caso não nos interessa indivíduo. O centro essencial do eu era a
descrever e analisar a língua a priori, identidade de uma pessoa.
mas perceber como o contexto cultural A noção de sujeito sociológico,
em que é encontrada pode imprimir em si segundo o autor, refletia a crescente
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complexidade do mundo moderno e a imaterial determinador de um espaço


consciência de que este núcleo interior simbólico identitário, cabe-nos fazer a
do sujeito não era autônomo e ressalva de que o fato de uma mesma
autossuficiente, mas era formado na língua se fazer presente em diversos
relação com outras pessoas importantes países, não implica, necessariamente,
para ele, que mediavam para o sujeito os dizer que essa enquanto fator,
valores, sentidos e símbolos – a cultura – culturalmente determinante, anule os
que ele ou ela habitava. hábitos culturais e históricos desses, pelo
Tal assertiva reforça o caráter menos a priori; mas que a língua
social da linguagem e o fato de que o enquanto elemento identitário constituinte
conceito de imagem remete-nos ao modo poderá imprimir marcas ou traços bem
de nós percebemos as pessoas do nosso peculiares em seus falantes.
grupo de pertença e vice-versa, na Desse modo, faz-se necessário e,
autoafirmação da identidade, principalmente, conveniente uma
coletivamente construída. distinção entre Identidade Nacional e
Por fim temos o sujeito pós- Identidade Cultural2 para que
moderno que é conceptualizado como continuemos a reflexão proposta nesse
não tendo uma identidade fixa, essencial artigo.
ou permanente. A identidade torna-se Hobsbawn (1998), diz-nos que a
uma celebração móvel: formada e ideia de nação e nacionalismo começou
transformada continuamente em relação a ser mobilizada na Europa a partir do
às formas pelas quais somos século XVIII para designar a identidade
representados ou interpelados nos de cada povo. Conforme o autor, três
sistemas culturais que nos rodeiam. Hall critérios permitiam a um povo ser
(2003, p. 03) propõe que essa identidade firmemente classificado como nação,
é definida historicamente e não sempre que fosse “suficientemente
biologicamente. O sujeito assume grande para passar da entrada”.
identidades diferentes em diferentes O primeiro destes critérios era sua
momentos, identidades que não são associação histórica com um Estado
unificadas ao redor de um eu coerente. existente ou com um Estado de passado
É nessa (in)estabilidade identitária, recente e razoavelmente durável. O
principalmente no que remete ao aspecto segundo critério, de acordo com o autor,
linguístico, que buscamos não só refletir, era dado pela existência de uma elite
mas, e sobretudo entender como a língua cultural longamente estabelecida, que
é capaz de influir no processo de possuísse vernáculo administrativo e
construção de identidade haja vista seu literário escrito. E por fim, o terceiro
caráter social. Nesse sentido, critério, que era dado por uma provada
acreditamos que possa não só haver capacidade para conquista.
mudança identitária no contexto pós- Acreditamos que todos os países
moderno, mas, sobretudo, autoafirmação em que a língua portuguesa hoje se faz
a partir de elementos linguísticos, posto presente e que citaremos doravante, por
entendermos a linguagem ou língua contextualizarem os relatos do
como determinantes dessa. documentário, apresentam, de certo
modo, algum dos critérios citados para se
Identidade nacional e identidade instituírem como tais.
cultural Assim sendo, podemos afirmar
Se nos propusemos a entender em que possuem, de alguma forma,
que medida uma língua (língua identidade nacional, e não nos cabe
portuguesa para sermos mais precisos) entrar nesse mérito, principalmente
que ocupa diversos espaços geográficos, porque muitos conseguiram o estatuto de
e que é influenciada por diversas crenças nação independente num período
e culturas, se configura enquanto bem relativamente tardio se considerados a
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outras nações. Valendo destacar que grande número de habitantes falantes;


muitas dessas nações de cultura oral e admitem-na como espaço simbólico de
ágrafa tiveram sua cultura e crenças identificação e auto afirmação culturais.
rechaçadas por seus colonizado- res. No
entanto, no que concerne à identidade
cultural, muito ainda precisa ser 3 Comunidade linguística e
explicitado, isso porque muitas nações comunidade social
ainda exercem grande influência cultural Considerando que um mesmo
sobre suas antigas colônias. sistema linguístico pode fazer-se
Fala-se em identidade cultural, presente em espaços geográficos
esclarece Hobsbawn (1998), quando se distintos, bem como ser caracterizado e
quer referir a grupos que não se apoiam influenciado por processos históricos e
em um Estado-Nação, mas que sociais, convém-nos entender de que
reivindicam a pertença a uma cultura modo a língua pode ser elemento
comum. O autor alerta-nos que, nesse definidor de uma mesma comunidade
caso, não se mobiliza a referência linguística ou como, pela língua, falantes
geográfica, e a tendência desses podem ser caracterizados como
movimentos é ser transnacional, integrantes de diferentes comunidades
baseando-se em categorias tão diversas sociais.
como raça, etnia, gênero e religião. Toda- Calvet (2002) sugere que a noção
via, também nesse caso, trata-se de de comunidade linguística é quase tão
determinar um patrimônio comum e antiga quanto à própria noção de
difundi-lo. Isso implica, no entanto, a linguística. Para o autor, “uma
revisão da história, e o questionamento comunidade linguística é um grupo de
da cultura hegemônica, que não os pessoas que age por meio do discurso”.
incluiu, a busca de antepassados, a No entanto, essa definição não é tão
criação de uma linhagem, a escolha de simples e estática como alguns poderiam
símbolos e até mesmo, por vezes, o imaginar.
estabelecimento, senão de uma língua, A língua enquanto fator social,
ao menos de uma linguagem. dinâmica por natureza, pode desde
Não pretendemos a princípio permitir que falantes de uma mesma
empreender uma discussão histórica, o comunidade falem de modo tão
que dispensaria muito mais tempo, semelhante que uns compreendam os
espaço e esforço, mas sim reunir outros, ou pode diferenciar-se de tal
construtos teóricos válidos para modo a ponto de fazer com que pessoas
contextualizar o questionamento e de regiões vizinhas, falantes de uma
respaldar a reflexão a que inicialmente mesma língua, cheguem a sequer
nos propusemos, muito embora entender umas as outras.
saibamos que a linguagem pode ser Todavia, a esse estudo interessa
influenciada por vários processos um fenômeno bem específico e peculiar,
socioculturais e históricos, inclusive, e, uma língua, que atravessa vários
portanto, tal discussão, em outro continentes e culturas, ser capaz de se
momento, tornar-se-ia válida. instituir espaço simbólico identitário
No entanto, importa a esse estudo permitindo que falantes não só se
refletir em que medida a Língua entendam a partir dessa língua, que
Portuguesa, a língua de Camões, ou a concerne a eventos de colonização
última flor do Lácio, conforme NEVES territorial e econômica distintos, mas que
(2005), que é falada por muitas nações; buscam a partir dela autoafirmação
essas que, de uma forma ou de outra, tornando-a, inclusive, traço identitário.
foram ou são influenciadas pela língua Mesmo que falantes de um mesmo
portuguesa e que em termos de espaço geográfico pertençam a diversas
proporção territorial apresentam um comunidades linguísticas, habitantes de
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territórios diversos, ainda assim podem


integrar uma mesma comunidade 4 Língua: Vidas em Português –
linguística, isso se considerarmos Seleção de contexto
comunidade linguística nos termos de Milhões de pessoas falam
Calvet (2002, p.117), como uma português. A Língua Portuguesa ao longo
comunidade de pessoas que se dos anos tem se feito presente em vários
compreendem graças a uma mesma continentes. Nações com culturas e
língua. crenças distintas partilham de uma
A partir da reflexão que mesma língua. Alguns a utilizam nos
tencionamos propor com esse artigo, negócios, outros para pregação e difusão
admitimos que Africanos, Brasileiros, da religião, outros a utilizam como
Indianos, Chineses e Europeus se instrumento de trabalho e outros
compreendem de algum modo graças ao precisam se apropriar efetivamente dela
fato de partilharem, em contextos bem na tentativa de ascensão de status e
específicos, da mesma língua, conforme autoafirmação.
conferível nos relatos do documentário. Conforme os dados e relatos do
A Língua Portuguesa se faz documentário Língua - Vidas em
presente em continentes muito distintos e Português, em Goa-Índia, 60 mil pessoas
que, embora sejam configurados por falam português. Em Moçambique, 8
realidades sociais distintas, não se milhões de pessoas. Em Portugal, 10
desvencilham da mesma língua e por ela milhões de pessoas falam português. No
têm, de algum modo, sua identidade Brasil, 170 milhões de pessoas. Em
definida. Angola, 8 milhões de pessoas falam
Embora moçambicanos, português. Em Guiné- Bissau 500 mil
angolanos, guiné-bissenses, macauanos pessoas. Em Macau-China 40 mil
integrem grupos sociais distintos, pessoas falam português. No Japão, 300
conforme se pode constatar no mil pessoas. América, África, Ásia e
documentário, haja vista a presença da Europa, quatro continentes, um só
variedade de códigos e dialetos idioma. A lusofonia se desloca pelo
referentes às situações de comunicação mundo. A língua portuguesa permanece
distintas, esses mantêm mediante a entre várias culturas, somando-se a elas,
realidade lusófona, relações não só permitindo que seus falantes construam
linguística, mas e, sobretudo identitária novas identidades e se auto afirmes
com brasileiros, portugueses, indianos, fortalecendo às já existentes.
japoneses e chineses que mesmo em Conforme Chianca (2010b, p.01),
contextos de colonização distintos em a cultura institui uma relação entre o
algum dado momento da história, esta- do de uma tradição, de uma
sincrônica ou diacronicamente aquisição social e de um processo
escolheram ou passaram a pertencer a individual de aquisições morais e
essa comunidade linguística, mesmo que intelectuais. A língua enquanto fator
nem sempre a partir de iniciativas tão social soma-se a esse processo. Assim
voluntárias. sendo, a língua contribui na
Após termos reunido determinação da identidade cultural, uma
conhecimentos válidos e pressupostos vez que assim como crença, arte, modos
importantes para a presente discussão, e costumes, a língua também é
seguiremos com a discussão acerca do determinante de uma cultura.
documentário, essa que busca ilustrar Num contexto em que cada vez
como cultura, língua e identidade mais se fala de multiculturalismo e
relacionam-se e tornam- se um processo globalização, faz-se necessário refletir
dinâmico, cíclico, ininterrupto e recíproco como uma língua, capaz de organizar o
com vistas a permitir a emergência de mundo, produzir conhecimento e fazer
espaços simbólicos de identificação. com que seu falante interaja com o
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mundo social se comporta em meio a José Saramago, escritor


tantas culturas e como essa relação entre lisbonense, ousa dizer que não existe a
cultura, língua e identidade pode-nos língua portuguesa, mas sim línguas em
ajudar inclusive a entender como a língua português, haja vista que muitas culturas
tem se configurado enquanto fator influem à língua, porém partilham do
cultural e identitário na mesmo esqueleto, do mesmo espectro. O
contemporaneidade. escritor ainda diz que a língua é mais do
Através da discussão proposta no que um mero instrumento de
presente artigo, acreditamos que seja comunicação, mas transforma-se em
possível não só entender, mas descrever uma mina inesgotável de beleza e valor
como aspectos linguísticos, culturais e para construção de identidades culturais.
identitários de uma língua que faz vez; Deveras a língua se faz dinâmica,
ora de língua materna, ora de língua isso se considerarmos o contexto
franca, pode, de algum modo, construir linguístico, principalmente das línguas
conhecimento de modo a auxiliar e naturais na América. Convém
otimizar práticas de ensino de língua lembrarmos que embora línguas
materna e, ou estrangeira, isso se autóctones de aldeias indígenas ágrafas
considerarmos que língua e cultura são tivessem seus dialetos registrados em
indissociáveis e se auto determinam. muitos dos diários de navegantes
Milhões de pessoas falam portugueses, no período colonial, foi o
português: relatos sobre a língua latim a língua utilizada para e na
portuguesa formação religiosa dessas tribos.
Rosário Macário, padeiro, A reflexão que tencionamos propor
habitante de Goa-Índia, fala a língua valendo-nos do presente documentário,
portuguesa. Mesmo tendo recebido sua tomando o contexto lusófono, vai para
educação em língua inglesa e ter além de uma abordagem fonética e
influência de várias outras, diz que o fonológica e mais ainda lexical, embora
português é uma boa e bela língua, diz estejamos cientes de sua relevância. No
inclusive que gosta de pensar em entanto, o que nos importa é refletir como
português a língua se conjectura para determinar a
Mia Couto, escritor, habitante de identidade cultural de uma nação que por
Moçambique-África, faz da língua si só já dispõe de uma grande
portuguesa seu objeto de trabalho. diversidade cultural e mais do que isso o
Enquanto escritor diz que o português é porquê de ser relevante perceber a
uma língua vivaz e dinâmica, capaz até língua enquanto bem cultural e elemento
de introduzir tonalidades e variações que definidor de uma identidade sócio
enriquecem a própria língua. Esse historicamente falando.
fenômeno, segundo o referido escritor, Conforme Mateus (2002) não se
não só ocorre do ponto de vista pode avaliar a lusofonia simplesmente
linguístico, mas do quanto ela pode como um conjunto de espaços
traduzir culturas. Mia Couto assevera que geográficos em que os usuários se
devido a um inevitável processo histórico comunicam. Trata-se de uma afirmação
que se encontra para além da língua, de identidade, posto ser uma forma de
diversas culturas se mestiçaram e manifestarmos nossa diferença.
fizeram com que a língua adquirisse Muitos países, os que já
tamanha dinamicidade. adquiriram e mesmo os que estão longe
É perceptível, em observância ao de adquirir tal afirmação, mesmo
documentário, a grande força que a inseridos no contexto de identidade
língua portuguesa exerce sobre as nacional, têm recebido grande influência
culturas que com ela dialogam, seja linguística do português devido à
através do processo de colonialismo ou dinamicidade da língua, influindo na
pelo processo de globalização.
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afirmação política e na busca identitária influência de outras línguas, precisam


de seus falantes. pra- ticar a língua que gostam, diz Dona
Márcio Freitas, ambulante, Rosa, que, muito católica, reza os terços
habitante do Rio de Janeiro - Brasil, em latim. Mário ainda diz que conta em
apropria-se da língua portuguesa, mais português, enquanto Dona Rosa diz que
precisamente da variedade padrão da pensa em português. Notamos a língua e
norma culta3, como forma de deter certo a cultura contrastando-se para permitir ao
prestígio, ou maior credibilidade, de seu falante fazer um recorte ou uma
modo a garantir-lhe certo prestígio ante leitura do mundo e seu entorno, tanto
as pessoas às quais se dirige. Também num contexto de comunidade linguística
utiliza a língua como instrumento de ou de grupo social.
evangelização e conversão, enquanto Emiliano da Cruz, músico e
cristão evangélico. Esse contexto nos faz fazendeiro, também habitante de Goa,
perceber como a língua, fator social, é recebeu grande influência linguística,
capaz de manifestar-se e adequar-se às principalmente através da música
mais diversas situações sócio portuguesa, uma vez que as emissoras
comunicativas e para todas elas acaba de rádio da cidade transmitiam toda a
agregando ao seu falante certos traços programação em português. Musicista,
culturais. Emiliano reproduz em suas
Rogério Gomes, ambulante, apresentações em hotéis músicas
também habitante do Rio de Janeiro é tipicamente portuguesas, que reforçam o
influenciado por suas crenças. Vendedor caráter cultural da região, grande atrativo
de bombons pela manhã, diz que, todas para os turistas.
as noites, vai ao terreiro de umbanda Alfredo Guembo, estudante,
conversar com os orixás. habitante do Grande Hotel – ruínas do
É fascinante perceber como uma que fora outrora um hotel de luxo agora
língua pode comunicar-se com tantas ocupado por pessoas sem moradia e
crenças e a partir dela instaurar diversas assistência públicas - em Moçambique,
realidades discursivas, ao mesmo tempo, diz querer oferecer melhores condições à
que permite ao seu falante construir, família. Embora fale português, recebe
conforme sugere Chianca (2010a), sua muitas influências dos “rappers” norte-
autoimagem, imagem do próprio grupo america- nos, e acredita estar nos
(comunidade linguística) e a Estados Unidos a esperança de um
heteroimagem, imagem de outros grupos futuro próspero. Note- se, a partir da
atribuindo a esses uma forma peculiar e referida ilustração, a influência do
particular de perceber as pessoas em processo de globalização influenciando o
sociedade. campo linguístico, muitas vezes
Mário Miranda, ilustrador, mora em resultando em uma colonização cultural.
uma pequena aldeia chamada Loutolim Ainda é possível encontrar no
em Goa na Índia. Devido ao processo de Grande Hotel um grande número de
colonização da região diz que habita em adeptos, ou seguidores do islamismo.
uma casa de 320 anos que passou entre Moçambicanos param cinco vezes para
parentes de geração a geração. Essa reverencia- rem Alá e lerem o alcorão,
forte influência colonizadora portuguesa como todos os mulçumanos costumam
faz com que Mário receba até os dias fazê-lo. É interessante analisar como
atuais influência dessa raiz cultural e letras de músicas de rappers americanos,
linguística. costumes religiosos islâmicos são
Dona Rosa Costa Dias, dona de manifestados por uma realidade
casa, vizinha de Mário Miranda, o recebe linguística que não a sua de origem, mas
frequentemente em sua casa para que que através dela se dão a conhecer e
possam praticar a língua portuguesa. Por que, de algum modo, vêm a permitir que
viverem numa região que recebe muita identidade e cultura relacionem-se
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recíproca e indissociavelmente com em contrapartida, os estrangeiros


aspectos linguísticos, sobretudo. brasileiros não.
A língua portuguesa transita por Um grande colonialismo que a
todas essas culturas e por elas também é contemporaneidade tem vivido é o
influenciada. Afinal de contas, conforme cultural e linguístico, na maioria das
reforça Saramago em seu relato no vezes não sendo necessárias guerras
presente documentário, a língua é para influenciar cultura e língua de outras
formada por palavras, as palavras nações e nem ser necessário um país
passam pelo estado rudimentar e vão ao estrangeiro ter que receber um grande
mais complexo, através da linguagem contingente de habitantes provenientes
(palavras) exprimimos emoções, de outros países, a exemplo do
sentimentos, professamos nossa fé, colonialismo linguístico e cultural dos
quanto mais palavras nós sabemos, mais Estados Unidos em que muitos latino-
somos capazes de expressar o que americanos, por exemplo, em
pensamos. Assim sendo, seria em meio à determinados momentos escolhem
cultura, conforme nos dá a entender integrar, seja em busca de autoafirmação
Saramago, que integramos é que ou ascensão de um pretenso status quo.
seríamos capazes de fazer nossa leitura Módi Sucá, empresária, e Rui
de e do mundo. Sucá, bancário, casados, residem em
O que se vê é que: “ações de Maputo- Moçambique. São mulçumanos
atores sociais diversos, de tão diversos e dizem que recebem muita influência de
espaços geográficos e administrativos, outras culturas, principalmente no que diz
de tão diversas culturas, histórias e respeito ao vestuário. É possível notar
modos de vida, convergem pela ação da grandes contrastes culturais em
língua comum, no que denominamos Moçambique, a partir das imagens do
espaço de identificação”. (MATEUS, documentário, seja em Maputo capital do
2002, p. 12) país, seja em Inhaca uma ilha a 30
Fátima Embalo, comerciante, quilômetros de distância da capital, ilha
residente de Guiné-Bissau, diz que o país em que os habitantes ainda cultuam a
recebeu um grande fluxo de africanos, natureza e antepassados por meio de
indianos e chineses. Isso permitiu a cultura e dialetos primitivos. Vale
implementação do comércio nos setores ressaltar que ambas as cidades têm a
de vestuário e de gastronomia. Fátima língua portuguesa como língua oficial,
diz ainda que não obstante a diversidade assim sendo, embora integrantes de
cultural, todos vivem e lidam muito bem grupos sociais distintos, passam a
uns com os outros. integrar uma mesma comunidade
Dai Shaori e Liandi Xu, linguística, em que língua determina e é
comerciantes chineses, dizem que o determinada pela cultura e história de
português é uma língua muito bela, e seus falantes.
dizem que se sentem à vontade de se Jack Almeida, militar, e Arthur
expressarem numa língua que é “mais Mussa Conselho, sapador, (desativador
humana” que as outras. A língua, de bombas) participam de um programa
portanto, como condição de relação militar em Bikusso, Moçambique. Em
humana, instaura realidades, versões meio a tantos perigos buscam fazer com
discursivas do mundo. que a região torne-se novamente
Naoki Ikawa, cozinheiro, habitante habitável. Em velhas construções os
de Tóquio - Japão, diz que se comunica filhos dos habitantes de uma região
em japonês, mas pensa em português, dizimada por várias guerras, sem
muito embora fale português com seus estrutura política ou econômica alguma,
amigos brasileiros. Diz que a música estudam a língua portuguesa em busca
brasileira é aceita pela cultura asiática, da auto afirmação e legitimação dos seus
direitos.
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Tanto no exemplo em que remete nossa língua não pode ser denominada
ao fato de moçambicanos recorrerem à como portuguesa, reforça o escritor.
língua portuguesa em busca de Manohar Saardessai, poeta,
legitimação de seus direitos, como no habitante de Loutolim – Índia, diz que
exemplo acima referido aos latino- mudaram a língua da cidade do
americanos em busca da língua inglesa português para o inglês em um ano. O
na tentativa de ascensão do status quo, poeta diz que não entende o porquê do
temos o que Calvet (202, p.106) sugere fenômeno, “não somos portugueses,
como mercado linguístico, no qual o valor somos indianos, mas ainda assim uns
de diversas línguas e ou dialetos são falam inglês e outros português”, diz. Diz
medidos em comparação à língua ainda que alguns habitantes da região
dominante. Nesse caso o autor nos eram menosprezados porque falavam o
remete a metáfora econômica em que a português.
língua é sinal exterior de riqueza e a Na atualidade a língua portuguesa,
busca de falar ou integrar uma dada nesse país, adquire outro status. É
comunidade linguística confere ao seu perceptível, e a assertiva do poeta
falante força, riqueza e autoridade reforça o fato de que deveras existem
simbólicas. relações entre Língua e Poder.
Ademais, Mateus (2002, p. 12) nos A língua, nesse sentido, torna-se,
diz que, quanto mais o indivíduo adquire na contemporaneidade, capital linguístico
consciência de seu papel na sociedade em que os discursos são signos de
mais ele busca definir para si o estatuto riqueza e de autoridade. Quanto mais um
de usuário da língua prestigiada, e cada falante possui “capital linguístico”, capital
vez mais pensa a língua como um meio essencialmente simbólico, mais é
de afirmar-se e identificar-se reconhecido e auto afirmado mediante
valoradamente. sua comunidade e outras comunidades
Teresa Salgueiro, musicista linguísticas e grupos sociais.
lisbonense, em visita ao Brasil diz que Dilo Monteiro, estudante, também
falamos a mesma língua e que ela não é lisbonense, diz que na atualidade muito
falada da mesma maneira. Por isso, se fala de globalização e
reforça Pedro Ayres, amigo de Teresa e multiculturalismo na Europa. Todavia, diz
também musicista, que não faria nenhum o estudante não saber se é uma
sentido ler Os Lusíadas5 no Brasil, novidade ou se é uma maneira de se
devido a essa diferença linguística. refletir sobre os aspectos culturais do
Acreditamos que mais do que agora, uma vez que segundo ele, as seis
referência à diferença linguística contida colônias, a mestiçagem e o
em Os Lusíadas que Pedro Ayres fez multiculturalismo já aconteceram há
menção seja importante atentarmos a muito tempo. No entanto, seu colega
diferença contextual e, sobretudo, cultural Jardel Vieira, também estudante,
em que essa obra fora escrita uma vez discorda. Diz que os valores vão se
que ao ser escrita nessa língua e perdendo porque há uma mistura,
contexto específico a referida obra havendo uma globalização das pessoas
confere um status bem específico a e das culturas.
Portugal e seus habitantes, ao contrário Eis a intenção de promover a
do que conferiria ao Brasil. presente reflexão nesse trabalho a partir
O escritor João Ubaldo, brasileiro, dos relatos encontrados no presente
diz que a língua portuguesa caminha em documentário. Todos esses relatos vêm
direção à língua brasileira, devido a sua reforçar o caráter sociocultural da língua
diversidade. Diz ainda que temos uma que se manifesta através de diversos fins
pluralidade de culturas e subculturas e comunicativos agregando e modelando à
que recebemos influência de outros cultura de uma nação seja conferindo a
povos. É devido a essa história que
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esta traços identitários ou de autoridade igualmente atuar nesses grupos quando


e poder. seus integrantes são levados a se
Os relatos acima trazem à tona adaptar às novas situações e contextos
várias inquietações sobre aspectos culturais resultando em comunidades
linguísticos e culturais de extrema linguísticas bem definidas.
relevância para os estudos sócio A reflexão que buscamos propor
linguísticos da contemporaneidade. Os nesse artigo não está no âmbito de
olhares, no presente século, devem ser perdas ou empréstimos linguísticos,
voltados paras as relações entre cultura, muito embora julgássemos conveniente
história, sociedade e língua posto ser trazer alguns conceitos concernentes a
através destes que nos autoafirmamos essa realidade a título de informação;
como seres linguísticos e culturais. mas única e exclusivamente para
Pensar em língua não mais consiste em entender que, independente do fluxo
descrever sistemas estruturais de um imigratório, de identidade nacional e
falante ideal, pensar em língua é pensar crença, países que partilham de uma
em cultura e como a língua pode se mesma língua têm leituras distintas da
instituir condição de auto afirmação realidade e distintamente organizam o
cultural e identitária. mundo.
Desse modo, uma vez mais
Aculturação e enculturação reforçamos a definição de visão de
Ao utilizarmos a mesma língua mundo de- fendida por Calame–Griaule
falada como fator característico de (1984), “visão de mundo é o conjunto de
determinadas comunidades linguísticas, representações através das quais um
não se pode evitar que nessas dadas grupo humano determinado percebe a
comunidades outros aspectos, sejam realidade que o cerca e interpreta em
culturais, sociais, históricos, para além função de suas preocupações culturais”.
dos linguísticos, deixem de atuar Chianca (2010b, p. 04), salienta
tornando-as grupos sociais bem que a cultura faz a língua, e igualmente a
específicos. Desse modo, o con- tato língua constitui a cultura. Essa relação
linguístico com aspectos culturais e complexa de reciprocidade precisa ser
sociais distintos podem atuar de modo explorada de modo que seja possível
definitivo na construção da identidade de entender doravante quais implicações tal
um país e de seus habitantes em vistas a relação pode trazer para estudos
sua auto afirmação enquanto nação e sociolinguísticos futuros.
legitimando-a como tal. Não nos propusemos a trazer
Nesse sentido por entendermos os nesse artigo uma abordagem etnográfica
contrastes da língua portuguesa com ou estritamente variacionista, isso porque
culturas tão distintas como a asiática, não se institui o escopo dos pressupostos
europeia, africana trazemos alguns dos teóricos de que nos apropriamos,
conceitos que possam nos ajudar a tampouco apregoar o monolinguismo nos
entender como elementos tão distintos, países citados, até porque no Brasil é
mas imprescindíveis para a construção e sabido haver uma grande variabilidade
afirmação identitária se relacionam e linguística e cultural e ser a própria língua
atuam entre si. materna plural, ou tampouco promover
Processos de aculturação atuam, ainda uma abordagem etnocêntrica,
segundo Chianca (2010) quando grupos induzindo a intolerância das formais
de culturas diferentes estão em contato morais, religiosas, sociais e estéticas de
constante e há troca ou empréstimos uma determinada sociedade aqui
linguísticos independente da cultura apresentada. O que buscamos foi refletir
dominante. em que medida a língua portuguesa pode
No entanto processos de assumir a vez de manifestação cultural e
enculturação ou socialização podem
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espaço simbólico identitário nos países importante contato de identidades e


apresentados. alteridades. Interessa observar que a
A partir da discussão proposta, difusão dos bens culturais, no caso de
buscamos, então, voltar as atenções para um mundo globalizado, é regida por um
um aspecto relevante aos estudos mercado sem-fronteiras sustentado por
linguísticos contemporâneos, seja de uma série de novos meios de informação
língua materna ou de língua estrangeira, e tecnologia, o que acaba propagando
em que seja admissível instaurar um uma opulenta pluralização de significados
dialogismo entre Língua, Cultura e culturais singulares. Nesse sentido, uma
Identidade, isso porque nos dias atuais contundente proliferação de expressões
não se busque, como outrora, apenas literárias permite uma gama interpretativa
estudar, entender ou descrever aspectos sobre os pressupostos antropológicos,
linguísticos estruturais e supra sociais e filosóficos que ativam uma
individuais, mas sobretudo refletir sobre percepção aguda voltada para a
relações entre sujeito, língua, identidade, reconfiguração dos modelos de
cultura e história. linguagem, sentido, valor e identidade
num cenário global. No entanto, a
12. A formação e a transformação da vigência dos múltiplos saberes, que
Literatura Brasileira: eixo temporal e permeiam esse contexto transnacional
espacial das heranças coloniais, pós- [geral], não pode ser dissociada do
coloniais até a contemporaneidade espaço político-histórico [particular] no
qual os seus valores se encontram
Pensar a questão nacional frente a circunscritos.
um processo de globalização que Ora, não será por acaso, que,
atravessa as fronteiras nacionais e justamente, a partir desta tensão entre o
organiza as comunidades em novos tipos particularismo e o universalismo será
de integração [experiência] social repensada uma moldura teórica para o
(internet, simuladores, realidade virtual, estudo da nação através do
on-line), provavelmente, necessite de redimensionamento dos seus
uma reflexão que ultrapasse os fundamentos modernos. Isto é, começa a
tradicionais limites estetizantes das ser abalada a crença numa identidade
“belas-letras”. Particularmente, no sentido humana universal e numa superioridade
do que aqui se investiga, a nação se prática intelectual da sociedade
encontra, agora, marcada pela civilizada, processos históricos que se
fragmentação e pelo descentramento nas estruturavam por intermédio da
paisagens culturais de classe, raça, universalização de todo evento particular.
gênero, nacionalidade, que, em tempos Reescreve-se, dessa forma, boa parte da
iluministas, haviam gerenciado uma tradição – de uma tradição, melhor dito,
estável condição social. E, devido a esta que, desde o Iluminismo, levantava a
nova conjuntura político-cultural, a questão da identidade-igualdade
discussão acadêmica se apresenta universal – perante o reconhecimento
situada num campo teórico oscilante que [particular] das diferenças irredutíveis
estimula uma redefinição sobre o estado- existentes entre os indivíduos
da-arte da literatura dentro de um período pertencentes às diversas entidades
de planetarização e internacionalização sócioculturais.
dos bens culturais. De fato, os postulados sobre a
Daí a multiplicação das formas de unidade do gênero humano [geral] que
intercâmbio cultural, inclusive, entre as norteavam o potencial de adesão das
zonas pós- coloniais inseridas no populações mais estranhas ao modo de
chamado “terceiro mundo”, até então vida ocidental, agora, passam a serem
vistas como periféricas, e as culturas redefinidos pelos novos agentes sociais
tidas como modelares através de um que – mobilizados na busca de uma
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identidade – reivindicam o direito à


diferença e, por consequência, a 1 As identidades nacionais: as
validação legal de uma política contra a margens, o local e o global.
segregação e a discriminação. O que,
aliás, provoca um deslocamento da ação Dentro dos paradigmas críticos
das instituições clássicas da esfera modernos, torna-se bastante plausível
política para o âmbito da vida particular afirmar que os índices nacionais são
dos indivíduos no seu cotidiano. importantes fontes de identidade cultural,
Estaríamos, portanto, diante de um pois desde o nascimento nos
período finissecular onde os acostumamos com certas definições a
particularismos podem se expressar respeito de uma identidade subjugada a
livremente sem a necessidade do caracterizações e tipificações inscritas
estabelecimento de um discurso numa conjuntura social e política – o
pretensamente universal? Caso seja malandro, o subdesenvolvido, o marginal
avaliado que a modernidade mascara a – cunhadas numa dimensão da
sua própria particularidade em nome de generalização do particular. A rotulação
uma série de narrativas universalizantes, dos genuínos exemplos de brasilidade
nada mais coerente, que as passa por este processo de identificação
particularidades, antes silenciadas, numa lógica de essencialização da
resultem na abertura de uma outra natureza/origem do indivíduo alinhada a
possibilidade de expressão, alheia aos uma perspectiva determinista concebida
discursos de pretensão geral. através de um protótipo para os legítimos
Este dilema entre o geral e o brasileiros, argentinos, tchecos,
particular perpassa a discussão em torno resultantes do esquecimento de uma
da questão nacional: uma discussão que premissa básica epistemológica: quando
desconfia das concepções totalizantes se fala nos colombianos, brasileiros,
próprias ao pensamento iluminista, tais russos, fala-se metaforicamente, nenhum
como progresso, unidade, razão, gene humano contém estas informações.
liberdade – inseridas no quadro político As identidades nacionais, portanto,
que construiria o moderno conceito de não são geradas por propriedades
nação. Pode-se dizer, vendo assim a específicas da fisiologia do nosso
nação, que as identidades nacionais organismo que desencadeariam
passam por um processo de manifestações da “natureza” de um
redimensionamento dos seus próprios queniano ou de um inglês, derivam, sim,
fundamentos, pois a visibilidade da de uma negociação no interior da
diferença [interna] acaba traduzindo uma representação. Nesta perspectiva de
diversidade cultural através da revelação releitura das identidades na
da alteridade que pertence ao domínio contemporaneidade, conheceríamos os
simbólico das identidades sociais. É um significados de ser/estar “brasileiro”
caminho duplo: ao mesmo tempo em que conforme os mecanismos utilizados para
a nação se quer coletiva, enquanto representar os diversos significados
sistema cultural e político, encontra-se integrantes de uma “brasilidade”
minada por um emaranhado de institucionalizada – ou excluída – da
identidades particulares e dissonantes cultura nacional. A própria repercussão
em relação a qualquer discurso em variados espaços semióticos –
unificador. O ponto nodal dessa releitura televisão, cinema, jornais, documentários
da nação está no estudo sobre os – demonstra como as representações
espaços onde se organizam as nacionais não se encontram
diferenças culturais a partir da hermeticamente finalizadas num grupo
emergência de novos sujeitos pela de signos específicos de uma nação,
perspectiva de raça, gênero, classe, afinal, o que está em jogo é o
nacionalidade.
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funcionamento de um sistema de da pátria, que influenciam as imagens


representação cultural. formadas num presente político-social –
A constituição deste sistema as referências identitárias de uma
depende da participação ativa dos “comunidade imaginada”.
indivíduos legais – cidadãos – que Portanto, estamos discutindo,
discutem e imaginam uma nação como quando tratamos nos termos de uma
uma comunidade simbólica capacitada estória, sobre uma narrativa da nação
de despertar, por intermédio das suas enunciada nas literaturas, histórias
representações, um sentimento de nacionais e no discurso crítico,
identidade e lealdade. Na modernidade, constituída por uma gama de panoramas,
as representações/identidade da nação rituais, cenários, imagens nacionais que
são gerenciadas pela cultura nacional, inscrevem uma série de sentidos
relação que em sociedades passadas pertencentes ao destino da nação. Esta
poderia ser estabelecida por uma tribo ou narrativa também recorre a uma
por uma religião. Esta cultura nacional aproximação com uma tradição3
articula-se na defesa de uma associada ao povo, o folk puro, que
uniformidade de significados identitários possibilita a formação de uma identidade
em nome do “teto político” do estado- nacional marcada pelos mitos de origem,
nação, através de uma diluição da pois a essência da nação – da
diversidade regional e da multiplicidade brasilidade – permanece salvaguardada
linguística e étnica. É justamente sobre em tempos históricos diferenciados. De
este suposto aspecto de homogeneidade forma resumida, poderíamos dizer que o
das identidades nacionais que está poder simbólico4 de uma nação é
situada uma questão crucial para o negociado dentro da sua cultura nacional
entendimento da proposta crítica deste através de uma narrativa pautada por
ensaio: será que as identidades significados culturais e por um foco de
nacionais/sociais se apresentam tão identificação sustentado num sistema de
unificadas e hegemônicas como em representação.
alguns momentos a nossa representação Entretanto, não podemos perder
artística e a nossa crítica literária tentou de vista o princípio da unificação5 que
retratar? rege as representações de uma
Para uma melhor compreensão do nacionalidade construída através de uma
caminho que poderá levar a uma constante correlação entre um passado
resposta ao questionamento acima historicizado – memória nacional – e uma
proposto, devemos considerar que as suposta vocação para a socialização de
culturas nacionais não são construídas uma comunidade vivenciada por um
unicamente e linearmente por instituições conjunto de habitantes6. A partir desta
culturais, mas, sim, por um conjunto de correlação que busca “tornar a cultura e a
símbolos e representações traduzidos em esfera política congruentes”7, uma
discurso pautado por sentidos, ditos identidade nacional começa a ser
nacionais, diretamente vinculados às formada pela identificação com a cultura
nossas ações cotidianas e às nacional (memória nacional) e pelo
idealizações de nós mesmos. Estes desejo de ser-estar participante do
sentidos dissipados pela cultura nacional Estado-Nação (comunidade
– autorizada pelo poder simbólico da compartilhada). Para a construção desta
nação – produzem uma rede de identidade nacional, necessita-se de uma
significados que permitem ao indivíduo unificação política – teto político comum a
se identificar com certas figurações da toda a nação – e de uma hegemonia
sua nacionalidade. Obviamente, tais cultural8 que autoriza a representação de
sentidos nacionais podem ser uma imensa família nacional, apesar da
historicizados através dos conteúdos das diferença entre os “cidadãos” num
estórias oficiais atreladas às memórias espectro de classe social, raça e gênero.
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Torna-se fundamental o seguinte Dentro de uma releitura deste


questionamento: a nação, afinal, seria projeto de branqueamento e purificação
organizada através de uma unificação da das identidades nacionais ocidentais,
identidade nacional/social que seria bastante razoável afirmar que as
subordinaria as diferenças culturais por nações são, efetivamente, constituídas
intermédio de um poder cultural, a cultura por uma rede de diferenças que se
nacional. Parece que todos cidadãos articulam pelos eixos de pertencimento
estão seriamente comprometidos, por de gênero, etnia e classe social, que, em
laços de lealdade, a uma específica muitos casos, se comportam como
identificação simbólica que dirige certas sujeitos minoritários no tocante aos
representações da nação e, por valores e significados associados a uma
consequência, exclui qualquer variação condição de nacionalidade como a
deste sistema de imagens nacionais. “brasilidade”, a “inglesidade”, a
Como propomos, então, é uma “americanidade”. Portanto, as culturas
certa desconfiança perante este pensar a nacionais podem ser analisadas como
questão nacional por uma ótica de um aparato discursivo voltado para a
subtração do “todos em um”, da representação das diferenças sob a
unificação das referências identitárias, da forma de uma unicidade identitária,
homogeneidade da cultura nacional. apesar das particularidades sociais que
Quando nos referimos à unicidade atravessam e problematizam uma
nacional, devemos ter em mente uma homogeneidade simbólica, produzida na
premissa básica que desestabiliza tal presença das diversas formas de poder
hegemonia identitária: as nações, na sua cultural.
esmagadora maioria, são originadas de O silenciamento de tais diferenças
culturas diferenciadas – separadas é percebido nos temas de lealdade
geograficamente9 e simbolicamente – propostos pelo estado-nação moderno
por um extenso período de guerras até como “todos iguais perante a lei”, “um
galgarem uma unificação. As nações, único povo”, “uma pátria para viver”,
portanto, no seu próprio quando sabemos que a realidade
nascimento, estão permeadas por político-social11 é bem oposta ao
diferenças culturais que desautorizam e conteúdo destas palavras de ordem
rasuram uma linearidade de valores “fundacionais”. No que se refere à defesa
culturais numa perspectiva de línguas, de unidade racial, não podemos perder
costumes e tradições. de vista uma série de conotações
Desta maneira, a formação de racistas12 que, ao longo dos últimos
uma identidade nacional unificada séculos, estiveram alinhadas com
mostra-se dependente do apagamento algumas manifestações nacionalistas
das múltiplas etnias que contribuem para incorporadas pela maioria dos regimes
a integralidade daquela comunidade totalitários ocidentais. Como
através da instauração de uma fantasia problematização destas políticas de
sobre a pureza racial e cultural; processo purificação racial no estabelecimento de
oportunamente salientado por Edward uma identidade nacional, nada melhor
Said10 quando se refere ao estudo Black que tomar como exemplo a formação de
Athena, de Martin Bernal, que evidencia algumas nações europeias:
um “esquecimento”, no decorrer do as nações líderes da Europa são
século XIX, da presença de elementos nações de sangue essencialmente misto
das culturas meridionais, orientais, (...) A Alemanha é germânica, céltica e
egípcias e semitas na construção da eslava. A Itália é o país onde... gauleses,
civilização grega para a sua etruscos, pelagianos e gregos, para não
transformação no berço da cultura mencionar outros, se intersectam numa
“ariana”, incompatível com um passado mistura indecifrável 13.
híbrido de raízes africanas e semitas.
71
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As identidades nacionais, portanto, culturais que estão em pauta na nossa


são incapazes de subjugar e apagar a literatura, no nosso filme, na nossa
complexa rede de diferenças manifestada música. Trata-se da busca de uma leitura
por inúmeros discursos que se situam em que ultrapasse as rasuras do projeto
uma relativa posição de “marginalidade”. colonial por intermédio do
Apesar de todo um passado crítico de reconhecimento da complexidade sócio-
silenciamento das diferenças culturais, os política dos países submetidos, num
“outros” significados, que não são os momento não muito distante, a um
institucionalizados, sempre estão processo de transculturação de valores e
presentes no interior da cultura nacional símbolos através de uma demarcação
através de suas representações das fronteiras do imaginário local. O
perturbadoras da identidade nacional. estabelecimento deste novo debate
Desta forma, as identidades nacionais cultural está compromissado com uma
talvez não sejam tão imutáveis e estáveis conjuntura pós-colonial que apresenta
como tradicionalmente se propunha, um “contradiscurso” daqueles que foram
mas, sim, resultado das transitórias14 objeto de uma herança de sentidos
negociações de sentido que constituem colonizados atrelados a uma pedagogia
um processo de identificação pautado por de submissão ao valor-verdade de uma
uma pluralidade de diferenças. completa “síntese” cultural.
É neste quadro de questionamento Dentro de uma releitura dos
da linearidade das identidades nacionais significados culturais, as identidades
que se insere a organização de uma nacionais passam a serem estudadas
teoria desatrelada dos antigos valores e como produto de um espaço de fronteira
paradigmas coloniais associados a uma onde se discutem as diferenças através
política de dominação territorial através de uma relação híbrida de sentidos,
do exercício de diversos mecanismos de pautada por um entre-lugar discursivo. O
doutrinação simbólica. A constituição da distanciamento dos referenciais
literatura brasileira, no final do século XIX colonizadores possibilita um
e início do XX, é bastante significativa no reconhecimento da recusa de certas
que se refere a este desenvolvimento de diferenças culturais de
um poder cultural vinculado a uma raça/gênero/classe que permeiam os
estética europeia revestida de uma constantes mecanismos de
positividade capacitada de determinar representação e de identificação
certos critérios de qualidade e de nacional, centrados numa supremacia
verdade na representação artística dos discursos tidos como
nacional. Nesse sentido, determinada institucionalizados, elitizados,
representação de brasilidade – branca, verdadeiros. No caso da cultura
burguesa, patriarcal, cêntrica – está brasileira, portanto, um estudo atento
vinculada a certas obras canonizadas sobre as formas contemporâneas de
durante um longo processo de significação estético-políticas torna-se
institucionalização da literatura nacional, bastante recomendável para a análise
num momento em que essa herança [de das configurações sociais posteriores aos
estetização e canonização] estava momentos de dominação e exploração
acoplada à construção política da territorial, tendo em vista uma releitura da
identidade da nação. Todavia, a negação antiga crítica literária norteada por
de um passado colonizado torna- se valores tradicionalmente negociados num
extremamente problemática para a polo colonizador que buscava apagar
constituição de qualquer interpretação da qualquer tipo de diversidade e pluralidade
nossa diversidade cultural. representacional.
Resta a nós lermos tais marcas da Justificar uma perspectiva pós-
colonização para buscarmos algumas colonial para o estudo de um conjunto de
explicações sobre as representações produtos simbólicos/culturais – literatura,
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fotografia, cinema, música – parece o analítico das figurações nacionais, resulta


desenvolvimento de um grande num pensar a identidade como forma
pleonasmo com uma forte carga de diferenciada daquela centrada em
redundância. Afinal, não podemos critérios de homogeneidade, de fixidez e
esquecer que o Brasil é uma nação de unicidade territorial/cultural. Trata-se
discutida e fundada legalmente na de uma recusa das formas modernas e
modernidade, após um longo período de racionais que concebem uma identidade
“intervenção”, ou melhor, de “presença nacional atrelada às metanarrativas16
dominante” europeia em todo o seu fundacionais, de sentido universal,
território. Pensar a identidade em terras voltadas para a busca da essência e da
brasileiras, num momento pós-colônia, lógica das referências identitárias. As
nos leva a refletir sobre a possibilidade concepções nacionais hegemônicas
de uma diferença que não seja passam a serem desmentidas quando
compatível com as ideias da percebemos as rupturas de uma falsa
universalidade15 humana concreta e da racionalidade17 totalizadora calcada por
sociedade igualitária secular, pois aquele uma identidade fechada e homogênea
evolucionismo primitivista de que desconhece uma complexa rede de
resgate do “selvagem” da natureza representações sociais diferenciadas
e de exaltação do outro “civilizado” está daquela suposta voz coerente e
abalado por uma nova conjuntura social institucionalizada, inserida na cultura
diferenciada daquela da Metrópole- nacional. A releitura18 destas
Colônia. conceituações de totalização, herdadas
A afirmação de um discurso de uma modernidade atrelada aos ideais
antropológico pautado pela relativização iluministas, pode colaborar no
dos sujeitos sociais fornece argumentos desenvolvimento de uma análise sobre
para a construção de uma crítica os discursos fundacionais que constituem
contundente a uma ideologia a base de certas instituições capacitadas
universalizante pautada pelo para ditar alguns valores culturais com o
silenciamento das possíveis caráter de verdade.
manifestações de uma diferença cultural.
O exercício de tal relativismo 2 No rastro das correntes pós-
antropológico representa a implantação estruturalistas
de um poderoso instrumento de crítica
cultural que avalia as desigualdades As concepções críticas pós-
socioeconômicas e problematiza os estruturalistas19 introduzem a releitura
tradicionais padrões de normalidade do sistema de pensamento totalizante
aceitos pela comunidade. Este viés construído por uma base inatacável,
crítico introduz uma reflexão política negociada internamente por fundamentos
sobre o modo de relativizar as inquestionáveis, sobre a qual se instaura
identidades nacionais, demonstra a toda uma hierarquia de significados. Os
impossibilidade da formação de uma princípios críticos passam a ser
análise da diversidade nacional alienada desconstruídos e caracterizados como
de uma perspectiva antropológica, pois produtos de um mecanismo
tal teoria está organizada através de uma epistemológico pautado por uma série de
leitura das representações simbólicas dualidades valorativas, norteadas pelo
como uma relação entre o símbolo e o legado estruturalista, através da
que ele simboliza – uma função organização das suas oposições binárias
significante aberta e contingente voltadas para a definição das categorias
constituída por traços de indeterminação de legitimação e exclusão, articuladas na
e pluralidade. tessitura das fronteiras entre a verdade e
A utilização de uma concepção a falsidade, o sentido e o absurdo, a
antropológica, enquanto instrumento razão e a loucura. No rastro da herança
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desconstrutivista, as correntes críticas daqueles que foram objeto da dominação


pós-estruturalistas evidenciaram que o colonial através de uma teorização da
discurso totalizador sofreu fissuras com a cultura como lugar, por excelência, da
emergência de narrativas questionadoras resistência aos discursos hegemônicos.
do nacional, que introduzem outros A escrita passa a ser entendida como um
discursos que não aqueles associados a complexo processo de filiações
uma autoridade discursiva dominante. O discursivas entre as instituições da
discurso crítico passa a se basear sociedade e os mecanismos de
também num sistema representacional saber/poder, e, para o desenvolvimento
que não recusa a outridade (alteridade) de tal enfoque, promove-se um
pertencente ao domínio simbólico das deslocamento no objeto de análise, do
identidades psíquicas e sociais. estético para o político, em um estudo
sistemático das representações culturais
3 O projeto pós-colonial subversivas descentradas22 da presença
representação da nação numa colonizadora.
obra literária, numa pintura, numa Os pensadores, inseridos nesse
produção cinematográfica. E, por viés pós-colonial, propõem uma crítica
motivações diversas, esquecemos de radical da forma político-cultural imposta
indagar o que está negociado no interior pelo sistema colonial. Por consequência,
de um signo nacional constituído de uma o discurso crítico, que propaga este
série de referências simbólicas e repensar o nacional, trabalha com uma
identitárias. Devemos, então, rastrear o nova conceituação de nação como um
que está sendo discutido em um feixe de espaço no qual se organizam as
significados locais tradutores de uma diferenças culturais. Trata-se de um
cultura supostamente hegemônica desmantelamento da concepção
articulada numa lógica de subtração do totalizadora
todos em um. E ainda: o que está de cultura nacional, vinculada à
idealizado na construção de uma fixidez espacial da noção de nação-
identidade nacional calcada em uma estado, a partir dos fluxos transnacionais
coesão social que desautoriza a (movimentos migratórios e diaspóricos)
representação da diferença como marca que deslocam as fronteiras identitárias da
fundamental das narrativas da nação. nação e da emergência de culturas locais
Para que não reste dúvida quanto ao articuladoras de novos sujeitos pela
locus enunciativo crítico, é necessária a perspectiva da diferença de raça, gênero
exposição de alguns questionamentos e classe. O nacional, portanto, passa a
referentes ao alinhamento teórico ser caracterizado como um espaço
seguido por este ensaio. Quem responde permeado por identidades e alteridades,
em nome da nação? Qual a vinculação representações ambivalentes
entre a formação da identidade nacional desestabilizadoras da lógica binária eu X
e as manifestações artísticas outro, que se entrecruzam na formação
nacionalistas? de afiliações múltiplas e não- lineares.
Em meados dos anos 80, uma Dentro da construção desta nova
corrente intelectual diretamente vinculada epistemologia crítica, ressalta-se a obra
aos postulados pós-estruturalistas, O local da cultura23, de Homi K. Bhabha,
posteriormente nomeada como pós- publicado pela primeira vez em 1994, em
colonial, começa a definir um campo de Londres, que reúne ensaios produzidos
estudo no qual os pensadores originários entre 1985 e 1992. Esses trabalhos
dos países de “periferia”21 iniciam a seminais apresentam uma pungente
construção de uma engajada crítica da reflexão sobre as identidades
forma político-social negociada pelo contemporâneas e constituem o esforço
antigo sistema colonial. A crítica pós- mais sistemático de definição do projeto
colonial elabora um contradiscurso pós-colonial na área da teoria literária. O
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principal mote analítico seguido por percepção da diferença sexual: um jogo


Bhabha é a caracterização de um sujeito simultâneo entre a metáfora
colonial que ultrapassa os limites da (substituição) e a metonímia (acusação
mera textualidade. O sujeito colonial, de uma lacuna), possibilitando o acesso
desta forma, está envolto por uma a uma espécie ambígua de identidade.
incerteza que atesta a sua própria A crítica de Bhabha também
existência no corpo de uma identidade problematiza a passagem do psíquico ao
concebida nunca como produto acabado político, relacionando o processo
e sempre como um processo psíquico com a construção ambígua e
problemático de acesso a uma imagem conflitante da identidade na situação
de totalidade. A imagem passa a ser uma colonial, pois essa correlação desenvolve
ilusão de presença e um signo da as posições discursivas dos sujeitos
ausência e da perda, pois uma economia coloniais e introduz as estratégias de
do suplemento demonstra como um Eu supremacia do discurso colonial. Os
se forma pelos traços de um Outro. mecanismos de exclusão do discurso
Entretanto, Bhabha descreve os colonial estão sustentados por um
procedimentos de instauração de um aparato de reconhecimento e recusa de
mito de origem resultante de uma recusa diferenças raciais/culturais/históricas, ou
opulenta da alteridade no papel da seja, essa formação discursiva justifica e
construção da identidade. Esta autoriza procedimento de
mitificação instaura a fantasia de um ocupação/inovação por meio da criação
sujeito puro/monológico libertado das de conhecimentos estereotipados e
fissuras da diferença presentificada no maniqueístas sobre o colonizador e o
interior das referências identitárias. colonizado. O discurso estereotipificado
O crítico indo-britânico situa a caracteriza-se como uma forma de
influência perturbadora da literatura na representação que rejeita a alteridade e
sua faculdade de revelar aquilo que não nega o intercâmbio da diferença como
pode ser nomeado, afinal, a obra literária, um diálogo entre um Eu e um Outro. A
ao falar do inominado, obriga a uma autoridade desse discurso se encontra
revisão dos juízos éticos. No ensaio permeada por uma duplicidade
referente ao ideário de Franz Fanon, discriminatória (psíquica/discursiva),
Bhabha expõe a sua crítica ao dualismo acarretando numa estratégia de
binário que suporta um sistema valorativo individualização e marginalização
tradicionalmente incorporado pelas obras vinculada a um estereótipo colonial.
tradicionais de reflexão sobre cânone Desse modo, a crítica pós-colonial
literário. O processo da construção da inicia um estudo voltado para os autores
identidade, por sua vez, não se resume à diaspóricos marcados por histórias de
conceituação de uma identidade absoluta desenraizamento e re-territorialização,
e pré-existente, mas, contrariamente, situados num entre-lugar24 discursivo,
refere-se à formação de uma “imagem” e que acabam rompendo com uma
ao desejo de uma referência identitária. figuração una da nação através de
Esse processo de projeção é descrição de um espaço de fronteira.
desencadeado por uma necessidade de Esta breve contextualização da crítica
existir para um pós-colonial aponta para um dos
Outro através de uma constante questionamentos propostos pelo
relação diferencial: o retorno de uma descentramento pós-estruturalista que
imagem de identidade marcada pelo desestabiliza e vitima o conceito moderno
traço de duplicidade do lugar do Outro. A de Nação: se o real é uma construção
negação psíquica, percebida nestas passageira das palavras ou dos
atitudes fundacionais, presentificam uma significados, sempre oscilante e instável,
reativação da fantasia original em torno em parte presente e em parte ausente,
da ansiedade da castração e da
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como pode haver qualquer verdade ou hierárquica ou binária do antagonismo


significação determinada? social (grifo meu)
Se voltarmos à obra de Bhabha – A citação, necessariamente
O local da nação –, podemos perceber extensa, evidencia como se articula a
que a questão nacional passa a ser releitura do conceito de nação moderna
repensada no ensaio “DissemiNação”, por intermédio de um questionamento
publicado em 1998. Logo no início do sobre as estratégias complexas de
texto, a “sabedoria”26 da obra de identificação cultural e de interpretação
Jacques Derrida e a “experiência de discursiva que respondem em nome do
migração”27 – vivenciada pelo crítico povo de forma a construir sujeitos
indo-britânico – são elencadas como as imanentes de um conjunto de narrativas
principais motivações da organização do sociais e literárias. Nessa ótica, a
próprio título do capítulo. Isto é, ao nacionalidade, enquanto construção
compor a sua rede de influências, o cultural, passa a ser compreendida como
crítico começa a construir um outro olhar uma forma de afiliação social e textual
sob os elementos políticos e culturais de vinculada a uma certa dimensão temporal
uma nação, que, agora, também são capacitada a inscrever as entidades
entendidos por intermédio de uma políticas na matriz das fontes simbólicas
reunião de culturas estrangeiras e de uma identidade nacional. De onde se
diaspóricas situadas nos limites vê, a nacionalidade estaria atrelada a
fronteiriços do interior de um país. Em uma produção cultural e a uma força
consequência, a discussão pode ser política através dos condicionamentos de
trazida para a perspectiva das uma estratégia narrativa que produziria
margens28 da nação, afinal, a última fase um deslizamento constante em
da nação moderna (século XIX) evidencia determinadas categorias – sexualidade,
um período de migração em massa no afiliação de classe, paranoia territorial ou
Ocidente e de grande expansão colonial diferença cultural no ato de escrever a
no Oriente. nação. Esses deslocamentos permitiriam,
Devido a estes consideráveis inclusive, a problematização do caráter
movimentos migratórios, a nação, mesmo “horizontal”32 de um espaço e tempo
como instância formal, passa a ocupar os nacional, pois as produções culturais que
supostos espaços provindos de uma permeiam uma comunidade –
série de “desenraizamentos”29 através metropolitana ou migrante – estão
de uma linguagem metafórica que negociadas num certo tipo de duplicidade
transporta o significado de “sentir-se em de escrita, norteada por uma
casa”30. Em outras palavras, Bhabha temporalidade de representação “que se
propõe uma análise da nação ocidental move entre formações culturais e
como um jogo de determinadas afiliações processos sociais sem uma lógica causal
linguísticas em torno de uma certa forma centrada”.
de viver a localidade da cultura:uma Desse modo, frente à
forma de vida que é mais complexa que disseminação de movimentos culturais
‘comunidade’, mais simbólica que descentralizados de uma unicidade
‘sociedade’, mais conotativa que ‘país’, simbólica, uma sociedade horizontal,
menos patriótica que pátria, mais retórica organizada por um espaço homogêneo,
que a razão de Estado, mais mitológica passa a dispersar aquela antiga lógica
que a ideologia, menos homogênea que racionalista e iluminista34 que estava
a hegemonia, menos centrada que o discutida nos termos de uma soberania
cidadão, mais coletiva que o ‘sujeito’, nacional e de um ideal universal. Assim,
mais psíquica do que a civilidade, mais o espaço-nação está minado por uma
híbrida na articulação de diferenças e série de temporalidades ambivalentes
identificações culturais do que pode ser que desestabilizam as áreas de fronteira
representado em qualquer estruturação da modernidade, principalmente, quando
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falamos na percepção de um tempo nacionais. Nesse sentido, essa narrativa


disjuntivo que se encontra articulado num da nação se encontra marcada por uma
“saber dividido entre a racionalidade cisão entre uma temporalidade
política e seu impasse, entre os continuísta – inserida no pedagógico – e
fragmentos e retalhos de significação uma estratégia repetitiva – presente no
cultural e as certezas de uma pedagogia performativo. Isto é, ao compor um
nacionalista”. mecanismo narrativo atravessado por
Isso quer dizer que o ato de tensões e ambivalências, o crítico indo-
escrever a nação não pode ser britânico passa a repensar o povo como
condicionado pela linguagem do muitos um conhecimento que “assombra” a
como um, metáfora progressista da antiga unicidade da formação simbólica
coesão social moderna que interpreta as de uma autoridade nacional. Para melhor
diferenças de gênero, classe e raça entendimento, deixemos que o crítico
simplesmente como um amontoado de defina o espaço do povo com as suas
totalidades sociais representativas de próprias palavras:
uma série de experiências coletivas. O povo não é nem o princípio nem
Esse tipo de discurso de o fim da narrativa nacional; ele
homogeneização e subtração - da representa o tênue limite entre os
diversidade, apenas uma identidade poderes totalizadores do social como
essencialmente nacional – se constituiu comunidade homogênea, consensual, e
como um dos conceitos fundacionais da as forças que significam a interpelação
sociedade política da nação moderna, de mais específica a interesses e
forma que as representações de uma identidades contensiosos, desiguais, no
nacionalidade passaram a serem interior de uma população .
conjugadas numa constante metafísica Conforme tais conceituações, a
da unidade: estaríamos, todos, no centro nação - enquanto interpelação narrativa -
de um povo unitário, de um espaço procura organizar o povo num espaço
territorial uniforme, de uma cultura histórico (pedagógico) passado, sem
traduzida por traços hegemônicos. Mas perder de vista uma performance
é, justamente, esse espaço do “povo” enunciativa que se justifique como signo
que irá motivar Bhabha a continuar a sua nacional do presente. Diz mais ainda o
aguçada crítica. O povo, enquanto crítico sobre a narrativa nacional, quando
movimento narrativo duplo, seria destaca o performativo na sua
resultado de um complexo mecanismo de capacidade de introduzir uma
“retórica de referência social” que temporalidade do entre-lugar que
desestabilizaria a rede de significação e desarticula as polaridades fundacionais
interpelação discursiva. Ou seja: o de um modelo de nação autogeradora
conceito povo teria sido discutido como em si mesma:
um tempo-duplo que se encontraria Estamos diante da nação dividida
dividido, por um lado, numa “pedagogia no interior dela própria, articulando a
nacionalista” baseada na busca de uma heterogeneidade de sua população. A
origem vinculada ao passado histórico, e, nação barrada Ela/Própria [It/Self],
por outro, num discurso sustentado na alienada de sua autogerarão, torna-se
leitura de sujeitos de um tempo presente um espaço liminar de significação, que é
da vida nacional. marcado internamente pelos discursos de
Assim pensada, a nação seria minorias, pelas histórias heterogêneas de
resultado da transformação de um povos em disputa, por autoridades
conjunto de “retalhos” da vida cotidiana antagônicas e por locais tensos de
em uma série de signos pertencentes a diferença cultural
uma cultura nacional coerente, pois o ato O trecho é significativo, por certo,
da “performance narrativa”36 estaria no contexto do que se está a explorar:
gerando um círculo crescente de sujeitos escrevendo-o na década de noventa,
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Bhabha elabora uma aguda crítica sobre apagamento das diferenças culturais e
a produção de um pensamento por uma visão horizontal da sociedade.
totalizador que foi matizado pela busca Daí a problematização,
de uma unicidade absoluta de justamente, de um discurso nacional que
significações nacionais de forma a se estruturava pela denominação de um
ignorar as diversas representações que povo em termos de um anonimato de
emergem de uma diferença cultural indivíduos circunscritos à “horizontalidade
atuante. Daí a disseminação de outros espacial”42 de uma comunidade
signos nacionais – não aqueles [supostamente] hegemônica. No fundo, o
institucionalizados – que orientam a que perpassa a crítica de Homi K.
cultura por intermédio do reconhecimento Bhabha é o deslocamento do povo para
das diferenças e das fronteiras40 os limites da narrativa da nação de
negociadas num campo de práticas e maneira que se possa explorar as formas
discursos em torno de uma coletividade de identidade cultural e solidariedade
contaminada por uma heterogeneidade e política emergentes das temporalidades
pluralidade identitária. Essas disjuntivas da cultura nacional: essa é
representações culturais se organizam uma lição da história a ser aprendida com
como contra narrativas que passam a aqueles povos cujas histórias de
rasurar uma série de fronteiras marginalidade estão enredadas de forma
totalizadoras que estavam atreladas à mais profunda nas antinomias da lei e da
estruturação das “comunidades ordem - os colonizados e as mulheres43.
imaginárias” e à significação de diversas Visto deste ângulo, a fronteira
“identidades essencialistas”. representa um lugar onde se articulam as
Dentro de uma releitura pós- diferenças culturais numa perspectiva de
colonial, o conceito de “fronteira” não é negação da naturalização da
mais associado unicamente à normalidade e da unicidade: um espaço
demarcação dos limites coesos da nação não linear e descontínuo, que não
moderna, pois também passa a ser coincide com a geografia. Nas linhas dos
repensado como uma liminaridade postulados pós-coloniais, parece que
interna contenciosa que promove um uma indagação fica escrita: será que o
lugar do qual “se fala sobre – e se fala antigo conceito de fronteira contenciosa
como – a minoria, o exilado, o marginal e ainda resiste aos novos movimentos
o emergente”41. E, nesse sentido, migratórios de desterritorialização?
percebemos uma mudança no enfoque
analítico: o conceito de fronteira que era 4 Hibridismo, mescla e diferença
apenas concebido em relação a um cultural
espaço exterior, agora, também se
apresenta relacionado com a finitude Assim sendo, o reconhecimento
interior do território nacional. Em das diferenças culturais/históricas
consequência, podemos começar a possibilita uma releitura dos processos
pensar uma nação que se organiza de representação da nação através do
através das diferenças existentes dentro signo da diversidade cultural, pois
do seu interior, em visível oposição, ao nenhuma cultura apresenta caráter
funcionamento daquela antiga lógica da unitário ou, simplesmente, dualístico no
exterioridade que se sustentava pela seu diálogo do eu com o outro. E como
busca dos contrastes entre duas ou mais resultado deste redimensionamento, do
culturas. Dito de outra forma, esta ponto de vista conceitual e histórico,
releitura crítica do conceito de fronteira, percebemos um rompimento com os
de fato, procura desconstruir aquele discursos ideológicos da modernidade
signo da modernidade – a nação – que que buscavam uma normalidade
se encontrava pautado por um hegemônica para o desenvolvimento
irregular das histórias diferenciadas das
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raças, comunidades, povos. Dessa marginais passam a conjugar a matéria


forma, a reformulação do conceito de nacional por intermédio da diferença e da
nação é produzida através da revelação não-unicidade cultural, o que acaba
da diferença cultural marcada desestabilizando o elenco de significados
internamente no espaço nacional. A pré-concebidos de uma identidade tida
diferença cultural torna-se fundamental como hegemônica:
na rede de relações hierárquicas É desta incomensurabilidade em
propostas pela classe dominante, pois meio ao cotidiano que a nação fala a sua
modifica o cenário das representações narrativa disjuntiva. Das margens da
sociais/literárias, reorientando o modernidade, nos extremos insuperáveis
conhecimento pela perspectiva do do contar histórias, encontramos a
“outro”44 que resiste ao discurso questão da diferença cultural como a
centralizador. Sendo assim, nada mais perplexidade de viver, e escrever, a
coerente que a ameaça desencadeada nação.
por uma diferença cultural não seja mais Assim, a relativização da noção de
problema de um outro povo, mas, sim, fronteira e a reorganização do espaço do
uma questão presente na pauta dos povo – processos discutidos
debates políticos atrelados à alteridade anteriormente – estão diretamente
das narrativas marginais que permeiam o ligadas à construção de um conceito de
contexto interno de uma nação. É certo diferença cultural que transcenda o
que se poderia, aqui, relembrar a simples jogo de “polaridades e
presença45 marcante do pensamento de pluralidades no tempo homogêneo e
Franz Fanon na construção do conceito vazio da comunidade nacional”49. Isto é,
de diferença cultural. No plano de leitura a diferença cultural passa a se realizar
pós-colonial, é sabido que as ideias de por intermédio de uma aglutinação de
Fanon passam a enfocar o lugar do conhecimentos declinados numa série de
conhecimento do povo: aquela cultura significados articulados no bojo das
nacional alicerçada por uma sequência estratégias político-culturais minoritárias
de formas estereotipadas, agora, está que, de forma alguma, apresentam-se
sendo abalada por um tempo presente submissas a um discurso nacional de
[do povo] que introduz outras práticas fundo totalizante. É preciso, nesse
representativas situadas numa “zona de sentido, não esquecer que a diferença
instabilidade oculta”. cultural não se caracteriza unicamente
E, por consequência, o por uma interposição de conteúdos
reconhecimento de tais expressões oposicionais permeados por um certo tipo
marginais desencadeia uma instabilidade de valor cultural, pois, num plano maior,
de significação cultural que evidencia a também estamos diante de um processo
impossibilidade de unificação e coesão de afirmação de outras formas de sentido
das temporalidades múltiplas presentes e de identificação.
na cultura nacional. Esses processos Com o reconhecimento de uma
simbólicos plurais – o povo entre outros – diferença cultural interna, as identidades
afrontam, diretamente, os discursos nacionais passam a serem analisadas
políticos e literários que designam a como formas incompletas e abertas
nação nos moldes de uma unidade situadas dentro de um sistema de
cultural. Não seria por menos, por sinal, tradução50 cultural que se encontra
que a totalidade da nação começaria a minado pela pluralidade de saberes. Em
ser abalada frente o constante suma, a formação de uma identidade
movimento “suplementar” de uma outra nacional não pode ser mais associada a
escrita [vozes antes não reconhecidas] um processo monológico e homogêneo
que se encontra articulada em um que desautorize o conhecimento dos
espaço intermediário e entre tempo e signos de uma diferença cultural. Daí se
lugares. Desse modo, estas narrativas justificar, amplamente, a leitura de uma
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nação que passa a se reorientar no rastro temas como a relatividade da loucura e a


de uma série de identidades nacionais exploração do homem pelo próprio
que se apresentam realizadas dentro de homem.
um plano simbólico e referencial de uma A intertextualidade e a
outridade [alteridade] negociada por uma metalinguagem marcam o estilo de
gama de valores contrários àquele desejo Machado. O uso da linguagem poética,
de totalização. Estamos falando, do jogo proposital de ambiguidades, da
portanto, de uma identidade nacional que recuperação de lugares comuns e do
carrega – no seu interior – a marca de microrrealismo psicológico também são
uma diferença cultural que rasura a características fundamentais da obra
antiga fantasia acerca da suposta machadiana. Dom Casmurro, Esaú e
correlação existente entre a unicidade Jacó e Memorial de Aires são alguns
espacial e a unicidade cultural. romances do autor.

13.O romantismo e o realismo na Naturalismo


Literatura Brasileira: contexto O principal autor naturalista no Brasil é
histórico e artístico e influência Aluísio Azevedo. O determinismo social
cultural predomina em sua obra, construída
através de observação rigorosa do
mundo físico e da zoomorfização das
personagens. Aluísio é autor de O
A partir da segunda metade do mulato, Casa de pensão e O cortiço,
século 20, as concepções estéticas que
obras com acentuado caráter
nortearam o ideário romântico
investigativo e cuidadosa análise de
começaram a perder espaço. Uma nova
comportamentos sociais.
tendência, baseada na trama psicológica
e em personagens inspirados na
Com o que ficar atento?
realidade, toma conta da literatura
A riqueza literária do Realismo-
ocidental. Estava inaugurado o Realismo-
Naturalismo no Brasil não se restringe à
Naturalismo.
prosa de ficção. A dramaturgia também
No Brasil, essa passagem ocorre
evolui e consolida a comédia de
em 1881, com a publicação de Memória
costumes como um gênero maior – na
Póstumas de Brás Cubas, de Machado
obra de França Júnior e Artur Azevedo,
de Assis (1839-1908), e de O Mulato, de
por exemplo.
Aluísio Azevedo (1857-1913). Enquanto o
Vale lembrar que o Realismo-
livro de Machado apresenta acentuado
Naturalismo brasileiro oferece amplo
viés realista, o de Aluísio é claramente
painel de uma época em que o país era
naturalista.
monárquico, escravocrata, patriarcalista e
passava por profundas mudanças
Realismo
socioeconômicas e culturais.
O Realismo brasileiro é completamente
O Realismo no Brasil tem como
diferente do europeu. A obra de seu
marco inicial a obra Memórias póstumas
principal autor, Machado de Assis,
de Brás Cubas (1881), de Machado de
escapa de qualquer tentativa de
Assis.
classificação esquemática.
O Brasil, durante o período de
Na fase madura, Machado produz
passagem do Romantismo para o
uma literatura essencialmente
Realismo, sofreu inúmeras mudanças na
problematizadora. Com minuciosa
história econômica, política e social.
investigação psicológica, ele indaga a
O Realismo encontrou no Brasil
existência humana. Ele ainda substitui o
uma realidade propícia para a ascensão
determinismo biológico por acentuado
da literatura, já que escritores como
pessimismo existencialista e discute
Castro Alves e José de Alencar haviam
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preparado o terreno. O país havia cartomante”, “Missa do galo”, “Uns


vivenciado fatos importantes como a braços”, “O espelho”, “Cantiga de
Guerra do Paraguai (1864 – 1870), a esponsais”, “Teoria do medalhão”, “A
campanha abolicionista, o fortalecimento causa secreta”.
da economia agrária. Romantismo, atitude ou orientação
A queda da escravidão e do intelectual que caracteriza muitas obras
Império criou uma nova realidade no de literatura, pintura, música, arquitetura,
país; a vida social e cultural tornou-se crítica e historiografia na civilização
mais ativa, ambas influenciadas por ocidental ao longo de um período
ideais europeus: liberalismo, socialismo, compreendido entre o final de 18 a
positivismo, cientificismo, etc. meados da década de 19 século.
É nesse contexto que surge um O Romantismo pode ser visto
dos mais importantes escritores de nossa como uma rejeição dos preceitos de
literatura: Machado de Assis (1839 – ordem, calma, harmonia, equilíbrio,
1908). idealização e racionalidade que
Machado de Assis nasceu na tipificados Classicismo em século 18
cidade do Rio de Janeiro, era mestiço e geral e mais tarde, Neoclassicismo em
de origem humilde. Cresceu sob os particular. O Romantismo foi um
cuidados da madrasta Maria Inês, pois movimento na arte e na literatura, nos
assim como a mãe, a portuguesa Maria séculos XVIII e XIX em revolta contra o
Leopoldina, seu pai, o mulato Francisco neoclassicismo dos séculos anteriores O
José de Assis, morreu cedo. Apesar de Romantismo foi um movimento literário
ter frequentado escola pública e que varreu praticamente todos os países
começado a trabalhar desde cedo, da Europa, Estados Unidos e América
alcançou boa posição como funcionário Latina e durou de cerca de 1750 a 1870.
público, cargo que lhe proporcionou Foi em parte uma reação à
tranquilidade financeira. Casado com Revolução Industrial, as normas sociais e
Carolina Xavier de Novais, Machado de políticas aristocráticas da idade da
Assis dedicou-se à literatura e produziu a iluminação e do científico racionalização
melhor prosa brasileira do século XIX. da natureza. O movimento também
O escritor compôs cerca de colocou grande valor sobre a beleza da
duzentos contos. natureza e do deserto e muitas vezes
Os romances e contos anteriores à expressando um sentimento de nostalgia
década de 1880 revelam influências de um passado remoto, glorificando o
românticas, assim como Ressurreição período medieval e cultura popular.
(1872), A mão e a luva (1874), Helena O Romantismo como um
(1876), Iaiá Garcia (1878), Contos movimento diminuiu no final do século 19
Fluminenses (1870) e Histórias da meia- e início do século 20 com o crescimento
noite (1873). domínio do realismo na literatura e o
rápido avanço da ciência e da tecnologia.
Machado revela-se mais maduro a No entanto, o romantismo foi muito
partir da publicação de Memórias marcante na maioria dos indivíduos
póstumas de Brás Cubas (1881); essa durante o seu tempo. Romantismo –
marca a segunda etapa de sua produção. Origem Surgido no final do século XVIII e
O escritor desenvolve uma ironia feroz, início do século XIX, o Romantismo se
retrata um humor velado e amargo em desenvolve na Europa em um momento
relação àquilo que retrata. histórico marcado pela ascensão da
Nessa nova fase incluem-se os burguesia e dos ideais da Revolução
romances Quincas Borba (1891), Dom Francesa de igualdade, liberdade e
Casmurro ( 1899), Esaú e Jacó (1904) e fraternidade. No Brasil, o seu surgimento
Memorial de Aires (1908). Entre seus foi influenciado pelas últimas produções
inúmeros contos estão: “O alienista”, “A árcades e pelo sentimento de
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nacionalismo advindo da situação de da pátria e pela busca de uma cor local


independência. em oposição ao mundo europeu. A
O Romantismo foi a primeira idealização da mulher, que é endeusada
vertente literária ocidental a rejeitar o e associada à figura angelical. Inatingível,
modelo clássico. Esta ruptura reflete uma ela é vista como dotada do poder de
busca por uma produção original, transformar a vida do homem
baseada em mitos próprios, e não em reorganizando o caos em que vive. O
clichês e imitações. Também se rejeita o culto à natureza, que aparece dinâmica
“normativismo” disciplinador da estética e (diferente da abordagem árcade, em que
as produções são norteadas é estaticamente descrita) e associada
fundamentalmente pela liberdade criativa. aos estados íntimos do artista.
Ainda como reflexo da ruptura A natureza se apresenta como
anticlássica, nota-se a substituição dos entidade de culto (Panteísmo), como
temas universalistas por temas locais. lugar de refúgio do poeta, como fonte de
Muitas vezes o romantismo tende inspiração, ou mesmo como antítese da
para a literatura tópica, com a análise da civilização. O retorno ao passado,
história, da paisagem e dos costumes também adotado como uma forma de
regionais. Uma das principais escapismo. Aparece tanto com relação a
características deste movimento é a um passado histórico (resgate medieval
perspectiva individual do mundo (estética ou das origens da pátria), ou a um
centrada no eu-emissor). Evidencia-se o passado individual (resgate da infância,
mundo interior do artista e os reflexos e época feliz e livre de conflitos). Gerações
emoções desencadeadas pela realidade Românticas na Poesia 1ª Geração (1836
externa. Essa abordagem emocional e – 1850) Iniciada pela publicação de
individual traduz-se em diversas “Suspiros Poéticos e Saudades” (obra de
características: Na linguagem: Predomina temática religiosa e nacionalista), de
a função emotiva (centrada no emissor) e Gonçalves de Magalhães, esta é a
às vezes apelativa ou conativa (centrada geração nacional-indianista, marcada
no receptor). Dirigismo da obra: O autor pela mitificação da natureza (Panteísmo),
projeta na obra o seu gosto e o do leitor, da pátria (nacionalismo) e do índio
muitas vezes furtando-se da análise da (indianismo), símbolo do espírito nacional
realidade. em oposição à herança portuguesa.
O choque Eu X Mundo: É Ocorre no contexto inicial do
evidenciado pela visão subjetiva e Romantismo, e apesar de rejeitar a visão
pessoal da realidade. Esse conflito com o iluminista de homem racional,
mundo exterior pode resultar em duas salientando o homem emotivo,
posturas distintas: a) A atitude reformista, psicológico e intuitivo, essa geração sofre
típica do Romantismo Social, também influência de Jean-Jacques Rousseau
marcado pelo engajamento do poeta que (iluminista), na concepção do “mito do
deseja transformar a realidade, através bom selvagem”
da denúncia das opressões e do A independência do Brasil (1822),
humanitarismo em prol dos oprimidos. b) acaba por fortalecer o sentimento
O escapismo do Romantismo nativista. Os principais poetas foram
Individualista, em que o eu-poético fecha- Gonçalves de Magalhães e Gonçalves
se em seu próprio mundo em razão da Dias. 2ª Geração (1850 – 1870) Também
desilusão com o social, podendo assumir denominada de Mal-do-século,
uma atitude sonhadora, idealizando a Ultrarromantismo ou Byronismo
realidade, ou uma atitude fugaz e (homenagem ao poeta Lord Byron, da
melancólica, que ressalta a solidão e a Inglaterra), esta geração foi marcada pela
morte. Destacam-se ainda outros traços desilusão, pelo egocentrismo, pelo
importantes, como: O nacionalismo, narcisismo, pelo negativismo boêmio e
evidenciado por uma imagem mitificada pelo escapismo dos artistas. O contexto
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histórico (frustração das promessas Indianista Caracterizado pela idealização


burguesas revolucionárias), reflete nessa do Índio, que não é visto em sua
atitude, pois ocasiona a desilusão em realidade sócio antropológica, mas sim
torno das mudanças sociais. Destacam- de uma maneira lírica e poética,
se os poetas Casimiro de Abreu, Álvares figurando como o protótipo de uma raça
de Azevedo e Junqueira Freire. 3ª ideal. Materializa-se no índio o “mito do
Geração (1870 – 1881) O seu marco bom selvagem” de Rousseau (o homem
inicial foi a publicação de “Espumas é bom por natureza e o mundo é que o
Flutuantes” de Castro Alves. É também corrompe). Há harmonização das
conhecida como Geração Condoreira diferenças entre as culturas europeia e
(alusão à altivez do pássaro Condor) ou americana.
Hugoana (Influência de Victor Hugo, O índio é mostrado em diversas
escritor francês) e é impregnada pela condições, como é possível notar nas
indignação e pela crítica social obras de José de Alencar: em “Ubirajara”,
relacionada às lutas abolicionistas. aparece o índio primordial, sem o contato
A sua linguagem é declamatória, urbano; em “O Guarani”, é mostrado o
passional, marcada por hipérboles, contato o branco e em “Iracema”, aborda-
metáforas e alegorias. Destacam-se se a miscigenação. 2) Romance Histórico
Fagundes Varela, Tobias Barreto e Revela o resgate da nacionalidade a
principalmente Castro Alves, um dos partir da criação de uma visão poética e
mais legítimos representantes da atitude heroica das origens nacionais. É comum
condoreira, fundador da poesia social e ocorrer a mistura de mito e realidade.
engajada no Brasil, também conhecido Destacam-se as obras ”As Minas
como “O poeta dos escravos”, devido ao de Prata” e “A guerra dos Mascates”, de
tratamento crítico dado à causa dos José de Alencar. 3) Romance
negros escravos. O Romance Romântico Regionalista Também conhecido como
e Suas Vertentes Inicia-se apenas em Sertanista, é marcada pela idealização
meados do século XIX, a partir do do homem do campo. O sertanejo é
contato com outras nações advindo da mostrado, não diante dos seus
independência (países como França, verdadeiros conflitos, mas de uma
Inglaterra e Alemanha já tinham a maneira mitificada, como um protótipo de
tradição da ficção). O romance pioneiro bravura, honra e lealdade. Trata-se aqui
surge dotado de algumas peculiaridades, de um regionalismo sem tensão crítica.
como o episodismo (sobreposição dos Destacam-se obras de José de Alencar
episódios à análise dos fatos), o oralismo (“O Sertanejo”, “O Tronco do Ipê”, “Til”,
(o narrador é um contador de histórias), a “O Gaúcho”), Visconde de Taunay
linearidade (segue-se a ordem (“Inocência”), Bernardo Guimarães (“O
cronológica normal dos fatos da vida), a Garimpeiro”) e Franklin Távora, que com
idealização (no ambiente, no enredo e “O Cabeleira” diferencia-se dos demais
nos personagens – homem, herói apresentando certa tensão social que
autêntico e generoso e mulher, feminina, pode ser enquadrada como pré-realista.
ingênua e fiel). 4) Romance Social Urbano
O romance nasce em meio a uma Retrata o ambiente da aristocracia
busca pela identidade nacional brasileira burguesa, seus hábitos e costumes
e a identificação dos espaços nacionais refinados, seus padrões de
caracteriza a formação das quatro linhas comportamento, sendo raro interesse
temáticas: o espaço da selva é retratado pela periferia. Os enredos são em geral
pelos Romances Indianista e Histórico; o triviais, tratando das tramas amorosas e
campo aparece no Romance mexericos da sociedade. Os perfis
Regionalista; a vida na cidade é trazida femininos são temas comuns, como em
pelo Romance Urbano. Vejamos cada “Diva”, “Lucíola” e “Senhora”, de José de
uma destas linhas: 1) Romance
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Alencar e em “Helena”, “A Mão e a Luva” e Fausto do alemão Goethe, Baladas


e “Iaiá Gracia”, de Machado de Assis. Líricas do inglês William Wordsworth e
É importante perceber que alguns diversas poesias de Lord Byron. Na
desses romances, Tratando do ciclo França, destaca-se Os Miseráveis de
social urbano, já revelavam Victor Hugo e Os Três Mosqueteiros de
características realistas em seus Alexandre Dumas. Música Na música
enredos, como algumas análises ocorre a valorização da liberdade de
psicológicas e sintomas de degradação expressão, das emoções e a utilização
social. Contexto Histórico Na segunda de todos os recursos da orquestra. Os
metade do século XVIII, a Europa passa assuntos de cunho popular, folclórico e
por uma grande reforma: o Iluminismo. nacionalista ganham importância nas
Ele foi uma revolução em todos os músicas. Podemos destacar como
campos. Um novo estado de espírito se músicos deste período: Ludwig van
formava, em que o sentimento se Beethoven (suas últimas obras são
sobrepunha à razão, o coração, ao consideradas românticas), Franz
cérebro. As primeiras manifestações Schubert, Carl Maria von Weber, Felix
românticas ocorreram na Alemanha e na Mendelssohn, Frédéric Chopin, Robert
Inglaterra. Da Alemanha foi transportado Schumann, Hector Berlioz, Franz Liszt e
para a França por meio de Mime Staël. Richard Wagner. Teatro Na dramaturgia
Anos depois os Franceses levaram o o Romantismo se manifesta valorizando
Romantismo junto de seus navios para o a religiosidade, o individualismo, o
Brasil. cotidiano, a subjetividade e a obra de
Em 1836 Gonçalvez de Magalhães William Shakespeare.
publicou Suspiros Poéticos e Saudades. Os dois dramaturgos mais
Contexto cultural-artístico Artes Plásticas conhecidos desta época foram Goethe e
Nas artes plásticas, o Romantismo Friedrich von Schiller. Victor Hugo
deixou importantes marcas. Artistas também merece destaque, pois levou
como o espanhol Francisco Goya e o várias inovações ao teatro. Em Portugal,
francês Eugène Delacroix são os maiores podemos destacar o teatro de Almeida
representantes da pintura desta fase. Garrett. Características principais:
Estes artistas representavam a natureza, A) Subjetivismo Consiste na
os problemas sociais e urbanos, valorização do indivíduo, do seu mundo
valorizavam as emoções e os sentimental. É a consagração do homem-
sentimentos em suas obras de arte. Na universal do Classicismo.O artista já
Alemanha, podemos destacar as obras pode trazer à tona o seu mundo interior,
místicas de Caspar David Friedrich, com plena liberdade.
enquanto na Inglaterra John Constable B) Sentimentalismo O
traçava obras com forte crítica à subjetivismo trouxe uma certa liberdade
urbanização e aos problemas gerados para expressar os sentimentos do artista,
pela Revolução Industrial. Literatura Foi que fora proibido pelo classicismo. No
através da poesia lírica que o começo foi usado de maneira sensata,
Romantismo ganhou formato na literatura porém mais tarde foi sendo usado
dos séculos XVIII e XIX. Os poetas demasiadamente e trazendo uma
românticos usavam e abusavam das verdadeira melancolia. Vale citar que
metáforas, palavras estrangeiras, frases também a religiosidade fora usada com
diretas e comparações. Os principais muita frequência em todos os autores.
temas abordados eram: amores C) Nacionalismo O Romantismo
platônicos, acontecimentos históricos aboliu todo tipo de mitologia (classicismo)
nacionais, a morte e seus mistérios. As e poesia bucólica (arcadismo), por temas
principais obras românticas são: Cantos nacionais: História Índio Folclore Fauna
e Inocência do poeta inglês William Heroísmo pátrio Outros O Romantismo
Blake, Os Sofrimentos do Jovem Werther brasileiro foi extremamente nacionalista,
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pois a independência, declarada anos condor. Seu principal representante foi


antes aumentou o nacionalismo e o Castro Alves, seguido por Tobias Barreto
antilusitanismo. e Sousândrade. Romantismo – Definição
D) Culto da natureza A definição do romantismo,
Como o arcadismo, o romantismo principalmente nas artes plásticas, é
também cultua a natureza, mas de bastante polêmica. Sobretudo, é difícil
maneira completamente diferente. estabelecer seu ponto de duração.
Enquanto a natureza no arcadismo era Alguns acreditam que ele se estende
uma espécie de enfeite, os poetas desde meados do Século 18 até hoje,
românticos se completam na natureza. enquanto outros o vem como uma escola
Os prosadores precisam dela para dar que floresceu entre os Séculos 18 e 19.
vida às suas obras. Além disso, a separação entre
E) Idealização Da mulher A Romantismo e Neoclassicismo é outro
mulher dos prosadores românticos é a ponto de difícil consenso entre os
ideal. Soma de todas as qualidades historiadores de arte. Alguns críticos
femininas: Feminina, carinhosa, fiel, acreditam que essas tendências não têm,
alegre, formosa, disputada, etc… Os no fundo, tantas diferenças entre si,
poetas foram além. Sonharam com apresentando-se, antes, como as duas
deusas, mulheres inalcançáveis. Do herói faces de uma mesma moeda. Já outros
Muitos personagens são construídos fora estudiosos pensam que o romantismo é
das limitações humanas e até do bom uma escola à parte, que se desenvolveu
senso. Do mundo Os poetas construíam depois do neoclassicismo.
um mundo perfeito, para onde pudesse Acredita-se que, na música e na
fugir do seu sofrimento. literatura, tenha sido mais fácil sua
Três gerações românticas, suas expressão como uma escola distinta das
principais características e seus demais. Romantismo – História O século
principais representativos 1ª geração XIX foi agitado por fortes mudanças
Nacionalista ou indianista Marcada pela sociais, políticas e culturais causadas
busca de uma identidade nacional, pela pela Revolução Industrial e pela
exaltação da natureza. Volta ao passado Revolução Francesa (final do séc. XVIII).
histórico, medievalismo e criação do Do mesmo modo, a atividade artística
herói nacional. Entre os principais tornou-se mais complexa e um dos
autores podem ser destacados primeiros movimentos que se caracteriza
Gonçalves Dias, Gonçalves de como uma reação ao Neoclassicismo do
Magalhães e Araújo Porto Alegre. 2ª séc. XVIII é o Romantismo, assim como o
geração Do “mal século” Influenciada Barroco se opôs ao Renascimento.
pela poesia de Lord Byron e Musset, O Romantismo expressava a
impregnada de egocentrismo, liberdade e a independência, os artistas
negativismo boêmio, pessimismo, dúvida, eram fascinados pelo misterioso e
desilusão adolescente e tédio constante. sobrenatural, suas obras revelam uma
Seu tema preferido é a fuga da realidade. atmosfera de fantasia e heroísmo,
A poesia é intimista e egocêntrica. valorizando acima de tudo a emoção e a
Os poetas dessa geração foram Álvares liberdade de criação.
de Azevedo, Casimiro de Abreu, As principais características do
Junqueira Freire e Fagundes Varela. 3ª estilo são: Predomínio do sentimento
geração Condoreira Caracterizada pela sobre a razão na criação artística dando
poesia social e libertária. Sofreu forte maior espontaneidade e liberdade na
influência de Victor Hugo e sua poesia composição e na técnica Retorno a
político-social. natureza como fonte inspiradora da arte
O termo condoreirismo é Temática relacionadas com a história e
consequência do símbolo de liberdade as aspirações nacionais, assim como os
adotado pelos jovens românticos: o fatos da época e os temas do cotidiano
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adquirem importância superior aos fatos Michelangelo, cheia de vigor, realizou


notórios da Antiguidade Gosto pelo numerosos esboços de obras clássicas.
exótico, o chocante, o inusitado Ao voltar a Paris, sob a influência
Composição em diagonal, as cores fortes dos escritores românticos britânicos,
e os contrastes de claro-escuro causam decidiu orientar sua pintura para uma
efeitos dramáticos. temática contemporânea. Destaca-se a
Os pintores mais notáveis são os obra: “La Balsa de la Méduse” / A
ingleses John Constable e J. M. Willian Jangada do Medusa (1818-1819), óleo
Tuner, além dos franceses Eugène sobre tela de 4,19 x 7,16 metros. O valor
Delacroix e Gèricault. Eugène Delacroix da mensagem reside na capacidade de
(1798-1863) revolucionou a pintura transmitir estados da alma.
francesa ao acreditar que a cor e a O artista nesta obra conseguiu
imaginação eram mais importantes do transmitir pensamentos melancólicos por
que o desenho e a razão. meio de expressivos recursos como:
A exposição em 1824 com a obra cores tristes, ênfase nas sombras,
“Os Massacres de Quios” marca o poucas figuras e a representação de
nascimento da pintura romântica; a tela corvos negros que são vistos como
“Dante e Virgílio no inferno” tem grande mensageiros de maus presságios.
repercussão, e passa a ser considerado Arquitetura Reflete as transformações
o chefe do movimento romântico; “A consequentes da industrialização e da
Liberdade Guiando o Povo” é uma de valorização da vida urbana ocorridas no
suas obras-primas inspirada na final do século XVIII e início do século
Revolução de 1830 (rebelião dos XIX, utilizando novos materiais como o
republicanos e liberais contra o rei Carlos ferro e depois o aço.
X), utiliza uma imagem fantasiosa para A construção de edifícios (público
representar a liberdade: a mulher com e de aluguel) visava atender a média e
seios nus. Francisco Goya (1746-1828. alta burguesia, preocupadas apenas com
Espanha) Retratou em suas pintura o maior rendimento da exploração.
importantes fatos históricos como “O Porém, fora deste contexto urbano, as
Fuzilamento do 3 de maio em 1808” ( no igrejas e palácios conservaram algumas
dia anterior, os cidadãos de Madrid características de outros estilos, como o
rebelaram-se contra o exército de gótico e o clássico. Destaca-se: Charles
Napoleão, que ocupava a Espanha. No Garnier, responsável pelo teatro da
dia seguinte, os soldados franceses Ópera de Paris; Charles Barry e
revidaram executando centenas de Augustus Puguin, que reconstruíram o
espanhóis). Parlamento de Londres; e Waesemann,
Goya expressa nesta obra a luta na Alemanha, responsável pelo distrito
de um povo contra a opressão e a tirania, neogótico de Berlim. Escultura Segue-se
com fortes contrastes de claro-escuro, os monumentos funerários, as
dando efeito dramático à cena. Gèricault homenagens históricas, estátuas
Jean-Louis-André-Théodore Géricault (26 equestres e a decoração arquitetônica
de setembro de 1791-26 de janeiro de num estilo tanto clássico como barroco.
1824) Pintor francês, nascido em Rouen, A inovação ocorreu na temática
desfrutava de uma renda particular e por com a representação de animais de
isso não necessitava de encomendas. terras exóticas em cenas de caça ou luta
Escolhia os temas que mais o atraía. Foi em detrimento dos temas religiosos.
um novo tipo de artista que exerceu Destacam-se os escultores: Antoine
notável influência sobre os movimentos Louis Barye (1796-1875) na França;
romântico e realista. Lorenzo Bartolini (1777-1850) na Itália; e
Depois de passar um ano na Itália, François Rude (1784-1855) com o alto-
onde se entusiasmou pela obra de relevo “A Marcha dos Voluntários de
1792” no Arco da Estrela em Paris. O
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Romantismo Brasileiro Considera-se a produções de poesia amorosa do


obra Suspiros poéticos e saudades, de período. 3º grupo – a terceira geração
Gonçalves de Magalhães, publicada em romântica Voltada para uma poesia de
Paris em 1836, como o marco inicial do preocupação social. Conhecida como
Romantismo brasileiro. condoreira (tinha como emblema o
A poesia romântica brasileira condor, ave que constrói seu ninho em
passou por diferentes momentos grandes altitudes) ou hugoniana (numa
nitidamente caracterizados. Essas referência a Vitor Hugo, escritor francês
diferentes vagas são apontadas pelos cuja obra de cunho social marcou o
estudiosos, que agrupam os autores período), sua linguagem adquiria um tom
segundo as características inflamado, declamatório, grandiloquente,
predominantes em sua produção, dando carregada de transposições e de figuras
destaque a essas tendências. Embora de linguagem.
alguns críticos estabeleçam quatro, cinco Seus principais representantes,
e até seis grupos, observa-se que os Castro Alves e Tobias Barreto, têm sua
aspectos apresentados em relevo podem produção associada ao movimento
ser assim reunidos: 1º grupo – chamado abolicionista e republicano,
de primeira geração romântica Em que respectivamente. Características do
se destacam duas tendências básicas: o Romantismo Grande é o número de
misticismo (intensa religiosidade) e o características que marcaram o
indianismo. movimento romântico, características
A religiosidade é marcante nos essas que, centradas sempre na
primeiros românticos, enquanto o valorização do eu e da liberdade, vão-se
indianismo se torna símbolo da entrelaçando, umas atadas às outras,
civilização brasileira nos poemas de umas desencadeando outras e formando
Gonçalves Dias. um amplo painel de traços reveladores.
Esse espírito nacionalista fez Para aqui discuti-las, vamos seguir os
desabrocharem também poemas cuja aspectos considerados os mais
temática explorou o patriotismo e o significativos por Domício Proença Filho
saudosismo. Nomes que marcaram o em sua análise dos estilos de época na
período: Gonçalves de Magalhães, literatura:
Araújo Porto Alegre, Gonçalves Dias. 2º 1. Contraste entre os ideais
grupo – a segunda geração romântica divulgados e a limitação imposta pela
Por seu intimismo, tédio e melancolia, realidade vivida: O universo conhecido se
abraçou o negativismo boêmio, a alarga, o Século das Luzes deixa um
obsessão pela morte, o satanismo. rastro de anseios libertários, desloca-se o
É conhecida como geração centro do poder; a dependência social e
byroniana (numa alusão ao poeta inglês econômica, a inconsciência, o
Lord Byron, um de seus principais desconhecimento estabelecem para a
representantes) e sua postura vivencial imensa maioria, no entanto, uma
considerada o mal do século, por se existência marcada por limitações de
tratar não apenas de um fazer poético, toda ordem.
mas de uma forma autodestrutiva de ser 2. Imaginação criadora: Num
no mundo. movimento de escapismo, o artista
Destaques no período: Álvares de romântico evade-se para os universos
Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes criados em sua imaginação, ambientados
Varela, Junqueira Freire. Algumas das no passado ou no futuro idealizados, em
obras de Castro Alves permitem terras distantes envoltas na magia e no
enquadrá-lo no período. Sua visão da exotismo, nos ideais libertários
mulher, marcada pela sensualidade, alimentados nas figuras dos heróis. A
distancia-se, porém, do lirismo fantasia leva os românticos a criar tanto
idealizante que caracterizou as demais mundos de beleza que fascinam a
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sensibilidade, como universos em que a perseguidos, crença que se revela ainda


extrema emoção se realiza no belo em diferentes manifestações de
associado ao terrificante (vejam-se as religiosidade cristã – fé. Não se pode
figuras do Drácula, do Frankstein, do esquecer a profunda influência do
Corcunda de Notre Dame e a ambiência medievalismo na construção do mundo
que os rodeia). romântico, dele fazendo parte a
3. Subjetivismo: É o mundo religiosidade cristã.
pessoal, interior, os sentimentos do autor 10. Ilogismo: Manifestações
que se fazem o espaço central da emocionais que se opõem e contradizem.
criação. Com plena liberdade de criar, o 11. Culto da natureza: A natureza
artista romântico não se acanha em adquire especial significado no mundo
expor suas emoções pessoais, em fazer romântico. Testemunha e companheira
delas a temática sempre retomada em das almas sensíveis, é, também, refúgio,
sua obra. proteção, mãe acolhedora. Costuma-se
4. Evasão: O escapismo romântico afirmar que, para os românticos, a
manifesta-se tanto nos processos de natureza foi também personagem, com
idealização da realidade circundante papel ativo na trama.
como na fuga para mundos imaginários. 12. Retorno ao passado: Tal
Quando acompanhado de desesperança, retorno deu origem a diversas
sucumbe ao chamado da morte, manifestações: saudosismo voltado para
companheira desejada por muitos e tema a infância, o passado individual;
recorrente em grande número de poetas. medievalismo e indianismo, na busca
5. Senso de mistério: A pelas raízes históricas, as origens que
valorização do mistério, do mágico, do dignificam a pátria.
maravilhoso acompanha a criação 13. Gosto do pitoresco, do exótico:
romântica. É também esse senso de Valorização de terras ainda não
mistério que leva grande número de exploradas, do mundo oriental, de países
autores românticos a buscar o distantes.
sobrenatural e o terror. 14. Exagero: Exagero nas
6. Consciência da solidão: emoções, nos sentimentos, nas figuras
Consequência do exacerbado do herói e do vilão, na visão maniqueísta
subjetivismo, que dá ao autor romântico a dividir o bem e o mal, exagero que se
um sentimento de inadequação e o leva a manifesta nas características já listadas.
sentir-se deslocado no mundo real e, 15. Liberdade criadora:
muitas vezes, a buscar refúgio no próprio Valorização do gênio criador e renovador
eu. do artista, colocado acima de qualquer
7. Reformismo: Esta característica regra.
manifesta-se na participação de autores 16. Sentimentalismo: A poesia do
românticos em movimentos eu, do amor, da paixão. O amor, mais
contestadores e libertários, com grande que qualquer outro sentimento, é o
influência em sua produção, como foi a estado de fruição estética que se
campanha abolicionista abraçada por manifesta em extremos de exaltação ou
Castro Alves e o movimento republicano de cinismo e libertinagem, mas sempre o
assumido por Sílvio Romero. amor.
8. Sonho: Revela-se na 17. Ânsia de glória: O artista quer
idealização do mundo, na busca por ver-se reconhecido e admirado.
verdades diferentes daquelas 18. Importância da paisagem: A
conhecidas, na revelação de anseios. paisagem é tecida de acordo com as
9. Fé: É a fé que conduz o emoções dos personagens e a temática
movimento: crença na própria verdade, das obras literárias.
crença na justiça procurada, crença nos 19. Gosto pelas ruínas: A natureza
sentimentos revelados, crença nos ideais sobrepõe-se à obra construída.
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20. Gosto pelo noturno: Em históricas, construiu-se em torno da


harmonia com a atmosfera de mistério, idealização da figura do índio,
tão próxima do gosto de todos os transformado em herói nacional Os
românticos. romances urbanos, com ênfase nas
21. Idealização da mulher: Anjo relações amorosas, foram o espaço de
ou mulher da vida, a figura da mulher é revelação das preocupações burguesas,
sempre idealizada. sua noção de honra e o significado do
22. Função sacralizadora da arte: dinheiro nas relações estabelecidas
O poeta sente-se como guia da O romance sertanista ou
humanidade e vê na arte uma função regionalista, voltado para o mundo rural,
redentora. Acrescentem-se a essas veio a ser a abertura para uma das
características os novos elementos temáticas mais significativas a
estilísticos introduzidos na arte literária: a desenvolver-se na literatura brasileira nos
valorização do romance em suas muitas movimentos literários que se seguiram ao
variantes; a liberdade no uso do ritmo e Romantismo.
da métrica; a confusão dos gêneros, Embora encontrados em muitos
dando lugar à criação de novas formas dos escritores do período, os romances
poéticas; a renovação do teatro. assim caracterizados foram preocupação
O Romance Romântico Destaque especial de José de Alencar, que se
especial teve no movimento romântico a propôs a, através de sua obra,
narrativa romanesca. Foi por meio dos representar o Brasil em todas as suas
romances que a Europa marcou seu facetas. Romantismo – Termo O termo
reencontro com o mundo medieval em Romantismo pode apresentar uma série
que repousavam as raízes das modernas de significações: romant ou romaunt;
nações europeias. Ali floresceram os língua românica ou neo-latina; narrativas
ideais cavalheirescos que resgatavam na escritas nesta língua; narrativas em geral;
origem heroica a dignidade da pátria e se oposição ao termo Classicismo
expressaram nos romances históricos. (romântico x clássico); movimento
Encontram-se também as narrativas cultural e estético da primeira metade do
apoiadas no embate entre o Bem e o século XIX; atualmente, sentimentalismo.
Mal, com a vitória do primeiro. O Romantismo, apesar de estar
No Brasil, o romance histórico se relacionado aos sentimentos, refere-se à
fez indianista na busca das raízes da arte. As significações mais adequadas,
nacionalidade (não esqueçamos que a das citadas acima, seriam “oposição ao
independência há pouco alcançada legou termo Classicismo (romântico x clássico)”
aos intelectuais românticos o e “movimento cultural e estético da
compromisso de construir a identidade primeira metade do século XIX”.
nacional). Provavelmente tem seu início na Escócia,
O primeiro romance bem-sucedido Inglaterra e Alemanha, países europeus
na história da literatura brasileira foi A mais desenvolvidos, mas é na França, a
moreninha, de Joaquim Manuel de partir do fim do século XVIII, mais
Macedo, publicado em 1844. Seu precisamente a partir da Revolução
reconhecimento se deve ao fato de ter Francesa de 1789, que o novo
sido a primeira narrativa centrada em movimento ganha proporções
personagens brasileiros, com ambiência revolucionárias. Um caso interessante foi
local. Os romances do período romântico o do poeta escocês James Macpherson
foram construídos em torno de quatro que, para obter prestígio, dizia
grandes núcleos: psicografar poemas de Ossian poeta
Os romances históricos, voltados clássico, do século V a.C., que cultivava
para as relações que fizeram o Brasil a oralidade da linguagem, o apego à
colônia Os romances indianistas, com a natureza e os sentimentos, de onde
intenção de estabelecer nossas raízes surgiu o termo Ossianismo. Na
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Alemanha, destaca-se a obra romântica expressão direta da emoção, da intuição,


Werther, de Göethe e, na Inglaterra, da inspiração e da espontaneidade
sobressaem-se os poetas Samuel Taylor, vividas por ele na hora da criação,
Coleridge, Shelley, Lord Byron e anulando, por assim dizer, o
Wordsworth. perfeccionismo tão exaltado pelos
O Romantismo e o Classicismo O clássicos.
Romantismo é um amplo movimento, que Não há retoques após a
surgiu no século passado, e representa, concepção para não comprometer a
na literatura e na arte em geral, os autenticidade e a qualidade do trabalho.
anseios da classe burguesa, que, na Esses artistas vivem em busca de
época, estava em ascensão. A literatura, fortes emoções e aventuras na tentativa
portanto, abandona a aristocracia para de colher experiências novas e criadoras.
caminhar ao lado do povo, da cultura Alguns chegam até a se envolver com o
leiga. Por esse motivo, acaba por ser alcoolismo e drogas ou com um
também uma oposição ao Classicismo. sentimento de pessimismo, enquanto
O Arcadismo também conhecido outros participam de lutas sociais.
como Neoclassicismo , foi uma arte O conceito grego de belo na arte,
revolucionária, porque defendia os tão defendido pelos clássicos, que
interesses da burguesia, classe social eliminavam as notas destoantes e
que promoveria a Revolução Francesa apresentavam uma obra depurada, é
posteriormente. Todavia, identificava-se abandonado pelos românticos, os quais
mais com a aristocracia, formada pela passam a defender a união do grotesco e
nobreza e pelo clero, já que, quanto ao do sublime, ou seja, do feio e do bonito,
aspecto estético, limitou-se a eliminar os assim como são as coisas na vida real.
exageros do Barroco e a retomar os O Romantismo marca uma
modelos do Classicismo do século XVI. importante mudança de postura na arte a
Ao Romantismo, cabe a tarefa de proximidade maior entre a vida e a obra,
criar uma linguagem nova, uma nova e entre a obra e a realidade. Nenhum
visão de mundo, identificada com os movimento literário-artístico foi tão
padrões simples de vida da classe média rebelde e revolucionário como o
e da burguesia. Enquanto o Classicismo romântico, em que a regra maior é a
observava a realidade objetiva, exterior, e inspiração individual. Aliás, os gêneros
a reproduzia do mesmo modo, através de literários rígidos faziam lembrar a
um processo mimético, sem deformar a hierarquia social, anterior à Revolução
realidade, o Romantismo deforma a Francesa.
realidade que, antes de ser exposta, O Romantismo surge com o
passa pelo crivo da emoção. liberalismo, filosofia que promove o eu
A arte romântica inicia uma nova individual, divulgada pela Revolução
e importante etapa na literatura, voltada Francesa, cujos ideais eram: a liberdade,
aos assuntos de seu tempo a igualdade e a fraternidade. Enquanto a
efervescência social e política, esperança Revolução Francesa chega ao poder,
e paixão, luta e revolução e ao cotidiano quebrando a hierarquia social e
do homem burguês do século XIX; retrata destruindo a aristocracia, o Romantismo
uma nova atitude do homem perante si destrói as regras e as formas
mesmo. preestabelecidas, abandonado a elite e
O interesse dessa nova arte está chegando ao povo. Sumariamente, pode-
voltado para a espontaneidade, os se estabelecer alguns pontos
sentimentos e a simplicidade, opondo-se, fundamentais e contraditórios entre o
desse modo, à arte clássica que cultivava Romantismo e o Classicismo, na verdade
a razão. cultivado pela escola anterior à arte
A arte, para o romântico, não pode romântica, isto é, pelo Arcadismo (ou
se limitar à imitação, mas ser a Neoclassicismo).
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garganta pode ser vista tal um


14. Os versos, os sons e os ritmos: a instrumento de cordas), os da poesia
poesia na Literatura Brasileira vêm das palavras que a compõem. E
sons poéticos também encontraram sua
Já decorrido muito tempo da organização, sua estrutura: os versos,
ebulição do Modernismo, uma geração análogos aos compassos musicais, que
inteira de poetas surge sem conhecer marcam o ritmo do canto-poema.
seu trabalho. “Abaixo às regras!”, eles Ilustremos com um exemplo
pregam, mas que regras são essas eles clássico de Camões:
não sabem. Aliás, em poesia nunca “Amor é fogo que arde sem se
houve tal coisa. O que sempre existiu, é ver;
certo, foi um processo natural de É ferida que dói e não se sente;
adaptação entre o conteúdo e a forma. É um contentamento descontente;
De um autor que creia em “regras”, É dor que desatina sem doer;”
mesmo que não as siga, não devemos Essa é uma estrofe muito bonita e
esperar bons poemas. melódica, que inclusive foi cantada em
A origem da poesia é diretamente algumas ocasiões (Monte Castelo,
relacionada com a música. Poesia era sabe?). Aqui a vemos como um todo;
música, não havia distinção entre uma e passemos a dividi-la em partes menores,
outra. No tempo de Homero, as lendas separemos as sílabas:
eram transmitidas de ouvinte a ouvinte A mor é fo go que ar de sem se
por meio do canto. A Ilíada e a Odisseia ver
são, além de poemas, verdadeiros hinos. É fe ri da que dói e não se sen te
Como na música, é uma sucessão de É um con ten ta men to des con ten te
sons e silêncios de acordo com É dor que de sa ti na sem do er
determinado ritmo, organizado pelos Agora destaquemos suas sílabas
compassos. A poesia tem assim uma tônicas (em negrito) das átonas,
organização parecida. Vejamos. marquemos seus sons e silêncios:
Comecemos pela palavra, A mor é fogo
elemento básico da poesia. As palavras que ar de sem se ver
(quando faladas) são uma sucessão de É fe ri da que dói e não se sen te
pequenos sons, divididos em sílabas. É um con ten ta men to des
Esse som pode ser forte (tônico) ou fraco con ten te
(átono). ‘Céu’, por exemplo, é composta É dor que de sa ti na sem do er
de um som para ‘c’, um para ‘é’ e outro Estamos mais próximos de
para ‘u’. Foneticamente seria entender o que é a métrica. Para isso,
representada por [‘sɛw], enquanto que usemos dois hábitos da fala para
graficamente é descrita por uma única concatenarmos melhor a parte gráfica do
sílaba tônica. poema. Primeiro, é comum que
Já ‘sorte’ é composta por sons de emendemos as vogais próximas uma das
‘s’, ‘ó’, ‘r’, ‘t’ e ‘e’. Se mudássemos outras, desde que não sejam todas
qualquer um de seus sons, poderíamos tônicas nem estejam na mesma palavra.
ter ‘morte’ ou ‘solte’, mas fiquemos Ex.: ‘casa amarela’ ficaria ‘ca saa ma re
apenas com o aspecto gráfico dela. la’, ou no caso do poema camoniano
‘Sorte’ tem duas sílabas, a primeira teríamos ‘fo go quear de’ para ‘fogo que
tônica (forte) e a segunda átona (fraca) – arde’. Pelo mesmo motivo separamos
uma paroxítona. O mesmo processo de ‘do’ de ‘er’ em ‘doer’.
divisão ocorre em todas as palavras. Outro costume é diminuirmos a
A poesia, como a música, é intensidade do som nas últimas sílabas,
marcada por uma sucessão de sons, mas desde que não sejam tônicas.
enquanto os sons da música provêm de Praticamente transformamos as átonas
instrumentos (entre eles a voz, pois a finais em silêncios, algo como ‘não se
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sen’ em ‘não se sente’ e ‘des con ten’ em Se a dividirmos e marcarmos


‘descontente’. Empreguemos esses dois como fizemos com o soneto camoniano,
fenômenos naturais da fala na divisão do teremos isto:
poema do seguinte modo: liguemos as Vai tra ba lhar va ga bun
vogais próximas, como descrito acima, e Vai tra ba lhar cri a tu
ignoremos as últimas sílabas de cada Deus per mi tea to do mun
verso quando átonas: U ma lou cu
A mor é fogo que Po dees que cer a mu la
arde sem se ver Po dees que cer o bi lhar
É fe ri da que dói e não se sem Po dea per tar a gra va
É um con ten ta men to des Vai teen for car
con tem Nos três primeiros versos de cada
É dor que de sa ti na sem do er estrofe temos a incidência das primeiras,
Observemos, por fim, de que quartas e sétimas sílabas serem tônicas;
forma estão distribuídas as sílabas enquanto nos quartos versos as
tônicas pelos versos: primeiras e quartas sílabas soam mais
Primeiro verso: 2ª, 3ª, 4ª, 6ª, 8ª e fortes. Não podemos acusar Chico
10ª; Buarque de ser um catedrático, porque
Segundo verso: 1ª, 3ª, 6ª, 8ª e 10ª; ele somente usou de uma marcação
Terceiro verso: 1ª, 6ª e 10ª; orgânica da fala para acentuar o ritmo tão
Quarto verso: 1ª, 2ª, 6ª, 8ª e 10ª. necessário à sua composição.
Notemos que as sextas e décimas E ainda mais populares são os
sílabas de todos os versos são tônicas, compositores de cordéis. Muitos deles,
pois são elas que seguram o ritmo do inclusive, têm tanto mais ritmo que os
poema. Isto é a métrica: uma marcação poetastros à solta pelo país. Isso prova
simétrica das sílabas tônicas para que as ditas “regras” não são um sistema
configurar um ritmo uniforme pelo poema. imposto, e sim uma ocorrência orgânica
E se as sílabas dão o ritmo, os sons na composição de poemas. Desse modo
individuais de cada letra compõem a podemos ver o estado atual do
melodia. Reparemos nas repetições dos Modernismo com outros olhos; avistamo-
motivos ‘d’, em ‘arde’, ‘ferida’, ‘dói’, lo menos como a defesa de uma poesia
‘descontente’, ‘dor’, ‘desatina’ e ‘doer’; e livre e mais como uma separação de sua
‘t’, em ‘contentamento’, ‘descontente’ e origem. Pagamos hoje o preço disso: é
‘desatina’; e ainda ‘em’ ou ‘en’, em ‘sem’, certo que a poesia atual é livre (qualquer
‘sente’, ‘contentamento’, ‘descontente’ e um pode escrever um poema e
de novo ‘sem’. Essa é a melodia de geralmente o faz), no entanto se tornou
Camões. um gênero sem identidade.
E a métrica não se limita aos Segue como último exemplo as
círculos eruditos. Sempre que houver estrofes iniciais do cordel História
musicalidade em um poema, com certeza completa de Lampião e Maria Bonita,
acompanhará alguma métrica. Vejamos a escrito por Rouxinol do Rinaré e Antônio
letra Vai trabalhar, vagabundo, de Chico Klévisson Viana. As tônicas com
Buarque, um compositor popular: frequência caem sobre as terceiras ou
“Vai trabalhar, vagabundo quartas sílabas, e depois sobre as
Vai trabalhar, criatura sétimas. O instinto para a métrica (o
Deus permite a todo mundo ritmo) permite aos autores saber até
Uma loucura. […] quando usar ‘para’ ou sua contração, o
“Pode esquecer a mulata ‘pra’, nos momentos mais adequados a
Pode esquecer o bilhar cada um:
Pode apertar a gravata “Nosso Deus Onipotente
Vai te enforcar.” Traga-me a luz infinita
Para buscar na memória
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Minha pena precipita


E busco a inspiração Narrar vai muito além de contar ou
Pra falar de Lampião relatar fatos, histórias e acontecimentos.
Com sua Maria Bonita. Narrar possui um sentido mais amplo e
“De modo particular complexo. A narrativa foi estudada por
Meu gênio poético quis pesquisadores que queriam entender a
Nestes versos relatar forma, a estrutura, a base de uma
A sina um tanto infeliz perfeita narrativa. Chegaram à conclusão
Do bravo cabra da peste de que o homem narra desde que
O qual viveu no Nordeste aprende a falar, desde que entende o
Aqui no nosso País…” significado da fala e da escrita. Escrever
Nos so deus ni po ten com coerência não é nada fácil, pois a
Tra ga mea luz in fi ni língua possui uma estrutura definida
Pa ra bus car na me mó assim como a narrativa, que deve seguir
Mi nha pe na pre ci pi os seus elementos, a sua estrutura e
E bus coa ins pi ra ção suas características.
Pra fa lar de lam pi ão A narrativa faz parte do cotidiano
Com su a* ma ria bo ni do ser humano, narramos tudo aquilo que
De mo do par ti cu lar ocorre, em determinado tempo, espaço,
Meu gê nio po é ti co quis em que temos um foco, uma história a
Nes tes ver sos re la tar ser narrada ou um acontecimento. Como,
A si na um tan toin fe liz por exemplo, o noticiário na TV, a
Do bra vo ca bra da pes conversa entre amigos, a leitura de um
O qual vi veu no nor des texto ou de um livro. Para que possamos
A qui no nos so país entender o que se quer transmitir é
E saibamos que, a não ser que preciso que todos os elementos da
sejamos professores ou estudantes de narrativa estejam organizados entre si, a
literatura, é desnecessário atentarmo-nos fim de que possamos obter uma análise
para classificações tais redondilha maior do que foi transmitido, o entendimento
(versos de sete pés – que terminam na interior, a lógica.
sétima sílaba poética), redondilha menor
(de cinco pés ou sílabas poéticas) e ELEMENTOS ESTRUTURAIS DA
versos alexandrinos (de doze pés). Para NARRATIVA
nós leitores basta sabermos identificar o
ritmo dos poemas e reconhecer o esforço Elementos da NArrativa
dos autores.
* Sílabas compostas por uma Os elementos estruturais de uma
vogal tônica acompanhada de uma átona narrativa são: enredo, ação, tempo,
têm separação variável conforme cada espaço, foco narrativo, personagem e
falante. Pode-se tanto falar “Ma-ri-a” recursos de expressão utilizados pelo
quanto “Ma-ria”, porque esse ‘i’ é tônico e narrador. A seguir elucidaremos alguns
está seguido pelo ‘a’ átono, ou seja, dos elementos.
pronuncia-se o ‘i’ mais fortemente do que A história são os acontecimentos
o ‘a’. em si, que são contados ou escritos a
partir da utilização do tempo, do espaço,
15. A narrativa literária: o ensino dos dos personagens e do foco narrativo
elementos que a constituem garantindo uma sequência lógica (início,
meio e fim).
Antes de aprendermos quais são A ação é o modo que contamos ou
os elementos estruturais de uma narramos à história. Alguns
narrativa é interessante entendermos o acontecimentos dentro de uma história
que é narrar! ganham ênfase e são condutores de
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ação, ou seja, na narrativa é preciso que naturally by exposure). The second


os fatos sejam contados ou escritos com statement usually refers to either
conflitos geradores de ação. É preciso the rate of the learning process (the
que os acontecimentos saiam da rotina, speed at which learners are learning the
ou de meros atos corriqueiros, e que L2), or the outcome of the learning
gerem conflitos e situações inusitadas em process (how proficient learners
determinado tempo. become), or both. We all know that both
O tempo é definido de três formas speed of learning and range of outcomes
distintas: o tempo cronológico (é aquele are highly variable from learner to learner:
que conseguimos marcar no relógio); some do much better much more quickly
tempo psicológico (é aquele que se than others.
passa dentro do personagem em que Before we expand on these
revive suas emoções, suas lembranças); findings a little more, it is important to
e o tempo narrativo (que é o tempo que o note that, traditionally, the concern
narrador utiliza para narrar ou contar os for rate of learning has been the centre of
fatos). teachers' and learners' attention. This is
O espaço pode ser físico (espaço because it has obvious pedagogical
exterior) ou psicológico (espaço interior). implications: if we understand what
O foco narrativo é a forma com makes learners learn faster and progress
que contamos os acontecimentos na further, then maybe we can be better
narrativa. É o foco ou podemos defini-lo teachers or learners. However, these two
também como o ponto de vista ou ponto lines of enquiry are both part and parcel
principal da narrativa. Podemos usar o of the same endeavour, which is to
foco narrativo em primeira ou terceira understand thoroughly how learners
pessoa. Em primeira pessoa, o narrador learn. In fact, understanding the route
é o personagem principal; em terceira learners follow, and therefore having
pessoa o narrador é um dos clear expectations of what learners can
personagens, participa dos achieve at given points on the
acontecimentos e conta o que se passa developmental continuum, is crucially
com as demais personagens. important for both learners and teachers.
Such study leads us, for example,
16. SECOND LANGUAGE to a better understanding of
ACQUISITION RESEARCH the significance of errors in the learning
process. Producing them need not be
The two main, well documented seen as necessarily problematic (in fact,
findings of SLA research of the past few some errors can be evidence of a more
decades are as follows: advanced linguistic system than the
1. second language acquisition equivalent correct form: for example,
is highly systematic learners will usually produce rote-learned
2. second language acquisition formulaic questions such as 'where's X?',
is highly variable e.g. 'where's the ball?', in which 'where's'
Although these two statements is an unanalysed chunk, before producing
might appear contradictory at first sight, the developmentally more advanced
they are not. The first one primarily refers 'where the ball is?', the second stage in
to what has been called the route of the development of the interrogative
development (the nature of the stages all system before the final stage in which
learners go through when acquiring the 'where is the ball?' is produced correctly;
second language - L2). This route See e.g. Myles et al 1998and 1999 for a
remains largely independent of both the discussion. This is often referred to as the
learner's mother tongue (L1) and the 'U shape of learning', typical also of L1
context of learning (e.g. whether learners, by which learners start with the
instructed in a classroom or acquired correct rote-learned form, e.g. took,
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before over-applying the past tense rule I will now briefly summarise
and producing taked, prior to learning the research findings relating to both
exception to the rule and systematicity and variability, drawing
producing took again, creatively rather implications for teaching methodology as
than rote-learned this time. Teachers will I go along.
also be less frustrated, and their learners
too, when they become aware that 2. Systematicity
teaching will not cause skilful control of a A substantial part of the SLA
linguistic structure if it is offered before a research community has concentrated on
learner is developmentally ready to documenting and trying to understand the
acquire it. discovery that language learning is highly
Now, of course, if we can speed up systematic. A defining moment for the
progression along the route that research field was in the late 70s / early 80s when
has identified we need to understand how it became evident that L2 learners follow
to do so. But understanding this route is a fairly rigid developmental route, in the
inseparably bound up with clarifying the same way as children learning their L1
question of rapid and effective teaching. do, and not dissimilar in many respects
The robust research findings from the L1 route. Moreover, this
regarding the systematicity of the route developmental route, crudely represented
followed by L2 learners do not have below as a series of interlocking linguistic
straightforward implications for language systems (or interlanguages: La, Lb, … Ln
teaching, however. One logical possibility … ), sometimes bore little resemblance to
might be that curricula should closely either the L1 of the learner, or the L2
follow developmental routes; this is not being learnt.
sensible however, given (a) the
incomplete nature of our knowledge of Developmental route
these routes, (b) the fact that classrooms
are typically made up of learners who are Crucially, these interlanguages are
not neatly located at a single linguistic systems in their own right, with
developmental stage, and (c) the fact that their own set of rules. For
developmental stages typically contain example, Hernández-Chávez
non-target forms. (For example, typical (1972) showed that although the plural is
stages in the acquisition of negation will realised in almost exactly the same way
be: 1. 'no want pudding'; 2. 'me no want in Spanish and in English, Spanish
pudding' 3. 'I don't want pudding', with children learning English still went
forms 1 and 2 representing normal through a phase of omitting plural
developmental stages, therefore to be marking. It had been assumed prior to
expected in early L2 productions, but this that second language learners'
which will not be taught). Other productions were a mixture of both L1
possibilities are that curricula should be and L2, with the L1 either helping or
recursive with inbuilt redundancy, and hindering the process depending on
that teachers should not expect whether structures are similar or different
immediate accuracy when teaching a new in the two languages. This was clearly
structure, or that they should give up on shown not to be the case, even if the L1
closely prescribed grammar curricula and of learners does of course play some
opt instead for functional and/or task- role, especially in early stages and more
based syllabus models. Many persistently at the level of pronunciation
teachers/language educators have (more about this later).
actively welcomed the role of 'facilitator' For example, the developmental
rather than 'shaper' of development, stages in the acquisition of German word-
implied by such models. order, in both naturalistic and instructed
learning contexts and irrespective of the
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L1 of the learners, are claimed to be as After the 1980s the SLA research
follows (Pienemann 1998): agenda focused on (a) documenting the
route followed by learners in a range of
S Canonical Order structures and languages - although
tage (SVO) English remains by far the most studied
1: Die kinder spielen mim ball (= L2, and increasingly (b) explaining this
the children play with the ball) route which, if it is for the most part
Learners initially hypothesise independent of both the L1 and the
that German is SVO, with context of learning, must be due
adverbials in sentence-final to learner-internal processes. This still
position. remains today a crucial part of the SLA
research agenda.
S Adverb preposing
tage Da kinder spielen (= there 2.1 Learning Development
2: children play) Models (Universal Grammar, Cognitive
Learners now place the models, Interactionist / Sociocultural
adverb in sentence initial models)
position, but keep the SVO The theoretical approaches which
order (no verb-subject have been used in order to investigate L2
inversion yet). development fall into three broad
categories:
S Verb separation
tage Aller kinder muss die pause Universal Grammar (UG)
3: machen (= all children must The UG approach, following in the
the pause make) footsteps of L1 acquisition research,
Learners place the non-finite applies the Chomskyan paradigm (Cook
verbal element in clause-final & Newson 1996; White 1989; 1996; 2000)
position. to the study of L2 development. See
papers by Adger and Sorace in this
guide. In a nutshell this linguistic theory
S Verb-second claims that humans inherit a mental
tage Dann hat sie wieder die language faculty which highly constrains
4: knoch gebringt (= then has the shape that human languages can
she again the bone brought) take and therefore severely limits the kind
Learners now place the verb of hypotheses that children can entertain
in sentence-second position, regarding the structure of the language
resulting in verb-subject they are exposed to. This is why children
inversion. acquire their first language easily and
speedily, in spite of its complexity and
S Verb-final in abstractness, at an age when they are
tage subordinate clauses not cognitively equipped to deal with
5: Er sagte dass er nach hause abstract concepts generally. In this view,
kommt (= he said that he to the core of language is separate from
home comes) other aspects of cognition, although it
Learners place the finite verb operates in close interaction with them of
in clause-final position in course. If the L2 developmental route is
subordinate clauses. similar in many respects to the L1 route,
then it must also be because the innate
Similar sequences of acquisition UG constrains L2 development. This
have been found for a wide range of approach has given rise to a wealth of
structures in a range of languages (see studies (see for example White
e.g. Ellis 1994; Mitchell & Myles 1998). 1989, 1996, 2000; Flynn, Martohardjono
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& O'Neil 1998; Schwartz 1998; Archibald attention to concepts such as noticing or
2000; Herschensohn 2000; Balcom attention.
2001; Hawkins 2001a, 2001b).
Interactionist/sociocultural
Cognitive models models
The cognitive and information In contrast to these models, the
processing models generally, which interactionist approach has paid particular
originate from psychology (and attention to the nature of the interactions
neurolinguistics), claim, on the other L2 learners typically engage in. It has
hand, that language learning is no focused on investigating, for example, the
different from other types of learning, and role of negotiation for meaning in the
is the result of the human brain building context of NS-NNS (Native Speaker -
up networks of associations on the basis Non-Native Speaker) conversations
of input. Information processing models (Gallaway & Richards 1994; Gass
see learning as the shift from controlled 1997;Gass & Varonis 1994; Pica
processes (dealt with in the short term or 1994; Oliver 1995; Long 1996), in order to
working memory and under attentional see how interactions are modified by both
control) to automatised processes stored NSs and NNSs to ensure that the input
in the long term memory (retrieved the latter receive is comprehensible. The
quickly and effortlessly). Through this role of feedback given to learners when
process, what starts as declarative they make mistakes has also been the
knowledge (knowing 'that') becomes object of attention (Aljaafreh & Lantolf
procedural knowledge (knowing 'how') 1994; Lyster & Ranta 1997; Long, Inagaki
which becomes automatic through & Ortega 1998). For example, Lyster &
repeated practice. Recently, connectionist Ranta (1997) found that the most
models have further assumed that all common feedback given to learners when
learning takes place through the building they produce incorrect forms are recasts,
of patterns which become strengthened i.e. a repetition of the learner's utterance
through practice. Computer models of minus the error; however, they also found
such processes have had some success that recasts were the kind of negative
in replicating the L1 and L2 acquisition of feedback learners were most likely to
some linguistic patterns (e.g. past tense, ignore.
gender; Sokolik & Smith 1992; Ellis & Researchers adopting a socio-
Schmidt 1997). The view of language cultural framework, following in the
encapsulated within connectionism, as footsteps of Vygotsky (1978; 1986), who
this view of cognition is called, is believed that all learning was essentially
fundamentally different from linguistic social, have explored the way in which
models, where language is seen as a L2s are learned through a process of co-
system of rules rather than as patterned construction between 'experts' and
behaviour. 'novices'. Language learning is seen as
In both the UG and cognitive the appropriation of a tool through the
models, the focus is on explaining shift from inter-mental to intra-mental
learner-internal mechanisms, and how processes. Learners first need the help of
they interact with the input in order to give experts in order to 'scaffold' them into the
rise to learning. The emphasis on the role next developmental stages before they
played by the input however, varies, with can appropriate the newly acquired
the UG approach assuming that as long knowledge. This is seen as a
as input is present learning will take quintessentially social process, in which
place, and the other models placing a interaction plays a central role, not as a
larger burden on how the input is source of input, but as a shaper of
decoded by learners, paying particular development (Lantolf & Appel
1994; Lantolf 2000).
97
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2.2 Teaching implications on a much greater role. For example, the


The implications of these models role of input, interaction and feedback,
of learning for teaching methodologies and how they can speed up development,
are essentially as follows: is seen as much more crucial, as is the
UG If the development of the L2 role of practice in the development of
linguistic system is primarily driven by fluency and control of the L2 system.
learner-internal mechanisms, requiring Combining the models These two
the learner to map the L2 input onto an apparently conflicting approaches are not
innate highly constrained linguistic the only ones that have been applied to
blueprint, then all the classroom needs to the study of second language learning
provide is linguistic input, and learning will and teaching, but they have received
take care of itself. In this view, the L2 most interest and generated most
acquisition process is seen as very empirical work. These models might
similar to L1 acquisition, and children do appear contradictory at first sight, but in
not need to be taught grammar in order to fact they can be reconciled in so far as
become fluent native speakers. The UG they are concerned with different aspects
view of language learning is consistent of SLA, which is, after all, a highly
with the communicative language complex process.
teaching approach, in the sense that both Even if one accepts the view that
believe that learning will take place if rich language development is highly
natural input is present. It is important to constrained, possibly by UG (and, after
stress though, that the two approaches all, the robust developmental routes that
developed independently of one another, learners follow, as illustrated earlier,
with UG evolving out of the need to seem to be a strong argument in favour of
understand how children acquire their this view), it is not the whole picture. We
mother tongue, and then being applied to also need to understand many aspects of
L2 acquisition, and communicative the SLA process other than the
language teaching being the result of the acquisition of syntax and morphology,
perceived failure of grammar- such as lexical acquisition or the
translation or audiolingual development of pragmatic and
methodologies by teachers, who felt that sociolinguistic repertoires. Moreover, if
they did not prepare learners for real life developmental sequences show how
communication needs. Krashen learners construct the L2 linguistic
(1982, 1985) was influential in articulating system, they do not tell us anything about
the first model putting together these how learners develop their ability to
views of learning and teaching, and the access in real time the system they have
subsequent work on the role of input and constructed. In other words, if we believe
interaction helped us better to understand UG constrains the mental grammars
how different kinds of interactions may constructed by L2 learners, we still need
contribute to providing usable input for to understand how learners become more
the learner (Gass 1997; Pica 1994; Long fluent.
1996; Swain 1995). In order to understand SLA, we
Cognitivism The information need to know not only what the system
processing or connectionist models, on constructed by learners looks like, but
the other hand, which see learning as the also the procedures which enable
strengthening of associations and the efficient use of this system, and how the
automatisation of routines, lead to much two interact in real time, as well as
more behaviourist views of learning. Thus develop over time. The fact that these two
learners are seen as central to the endeavours are independent is clearly
acquisition process, in the sense that they evident when we think of learners who
have to practise until patterns are well are good system builders, i.e. they are
established, and external variables take accurate in their productions, but not
98
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

necessarily good at accessing this their L1 is, and no matter what they were
system in real time, i.e. they are very non- actually taught. As more and more
fluent. The reverse is also true, with some empirical research has been carried out,
learners developing high levels of fluency however, a number of important points
quickly, but remaining very inaccurate in have emerged which have meant
their productions. qualifying these statements somewhat.
Similarly, if we are to find out what
can facilitate the learning process, we 3.1 Variability in route
need to gain a much better understanding Despite the relative rigidity of the
of the kinds of interactions and social L2 learning route, transfer does occur in
settings which promote learner so far as the L1 has an impact upon L2
development. Gass (1997), for example, learning, even if it remains true that it is
argues that task-based methodologies (in primarily in the sense of speeding up the
which learners have to negotiate with one learning process in the case of closely
another in order to perform a meaning- related languages or similar linguistic
focused activity) force learners to notice structures, rather than changing the route
'gaps' in their L2, a prerequisite for filling of development itself (i.e. learners still
such gaps. Swain (1995), in her 'pushed follow the same stages, but at different
output hypothesis', argues that it is when speeds, depending on their L1). For
learners' own productions fail to meet example, Italian learners of French will
their communicative goals that they are acquire the idiosyncratic placement of
forced to revise their linguistic system. object pronouns in French more quickly
Some recent teaching than say English learners because it is
methodologies have recognised the similar in both languages, but they will still
important role played by the setting of go through the same stages, when in fact
learning, and by the quality of interactions transferring their L1 structure would lead
therein. Although not necessarily well- to acquisition of the correct system. In
informed either theoretically or fact there is ample evidence, in the
empirically, a number of humanistic literature, of transfer not taking place
teaching methodologies such as when it would help, and conversely of
'suggestopaedia' (which aims to relax the transfer taking place when it leads to
student through e.g. listening to music), errors. Moreover, transfer often occurs
or 'the silent way' (making use of coloured one way and not the other, with English
rods to express meaning), which believe learners of French, for example,
that L2 learning is facilitated if the producing la souris mange le(the mouse
learner's inner-self is set free from eats it) rather than la
inhibitions by providing a stress-free souris le mange (the mouse it eats), but
learning environment, have been very French learners of English never
popular in some parts of the world. produce the mouse it eats in
their interlanguage, which one would
3. Variability expect if transfer was taking place
The variability that occurs in L2 (Hawkins 2001a). But there are also
development, in terms of rate of areas in which the L1 gives rise to
acquisition and outcome, have received structures not found in the language of
much less attention in the SLA literature other L2 learners (see e.g. Odlin
until relatively recently. This was because 1989; Selinker 1992). The impact of the
of the very robust general findings L1 on interlanguage development needs
showing that, in key respects, learners to be better understood, even if its
develop in similar ways no matter what potential influence on SLA remains
their age is, whether they are learning the limited since we know that only a small
L2 in a classroom or in a country where subsection of structures from the L1 are
the language is spoken, no matter what likely candidates for transfer.
99
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

3.2 Variability in rate and in the L1 context, it is the exception in the


outcome case of L2s. This phenomenon is
In contrast to the undeniable commonly referred to as fossilisation.
systematicity of the route of development Some structures seem very difficult to
(bar the relatively minor differences acquire in the L2, even when there is
alluded to previously) the rate of plenty of input. In immersion programmes
acquisition and the outcome of the in Canada, in which English-speaking
acquisition process are highly variable, children are taught the normal curriculum
unlike L1 acquisition in which children through French and are therefore
seem to progress at roughly similar rates exposed to large amounts of input within
(give or take a few months), and all a communicative focus, end results have
become native speakers of the language been mixed. Although these children
they are exposed to. become very proficient and fluent in
It is very difficult to predict in French, their accuracy in some areas
second language acquisition what makes (e.g. gender, adverb placement
some people learn faster and better than etc.; White 1996; Harley 1998; Hawkins
others. Some factors have been isolated 1998) remains far from native-like,
as playing some part in this. For example, suggesting that some aspects of
age is one such factor (Singleton & language resist spontaneous acquisition.
Lengyel 1995). Although the commonly In order to explain variability in rate
held view that children are better L2 and outcome, SLA researchers have
learners is a gross oversimplification if not focused primarily on the role of external
a complete myth, differences have been factors in the acquisition process. As we
found between children and adults, have seen, one line of research inquiry
primarily in terms of eventual outcome. has addressed questions about the
Although teenagers and adults have been nature of the input and the role of
found to be generally better and faster L2 interaction in the learning process. Other
learners than young children in the initial lines of inquiry have investigated the role
stages of the learning process (on a wide of learner variables, such as intelligence,
range of different measures), children, aptitude, motivation, attitude, as well as
however, usually carry on progressing the social and sociolinguistic variables
until they become indistinguishable from which impact on them (Skehan
native speakers whereas adults do not, 1989; 1998; Berry 1998; Dörnyei
especially as far as pronunciation is 2001; Sawyer & Ranta 2001). These
concerned. Whether this is due to the variables have been found to play an
process of acquisition having changed important role in determining how
fundamentally in adulthood (e.g. because successful learners are. For example,
UG is not available anymore once the L1 recent motivation research has witnessed
has been acquired), or for other reasons something of a boom since the nineties,
(e.g. the process remains the same but with research questions becoming more
stops short of native competence), is an sophisticated and addressing more
issue hotly debated today, and the source directly language teaching issues.
of much empirical investigation (Birdsong Motivation is now seen as situation-
1999). The fact remains, though, that the dependent as well as a relatively stable
route followed by young and older L2 learner trait, and much work has been
learners is essentially the same, and is carried out investigating issues such as
similar in many respects to that followed the role of tasks in motivating learners,
by children learning that language as a the role of the teacher in motivating
native language. learners, or the role of learning strategies
Another salient difference when in enhancing motivation (Dörnyei
comparing L1 and L2 outcomes is that 2001 and 2002). If motivation, as well as
whereas native competence is the norm other learner variables, is now widely
100
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recognised as playing a determining role learned grammar. According to Krashen,


in SLA, more research needs to be the acquisition system is the utterance
carried out on its pedagogical initiator, while the learning system
implications, i.e. on how to motivate performs the role of the 'monitor' or the
learners. 'editor'. The 'monitor' acts in a planning,
editing and correcting function when three
16.1 Theories in second specific conditions are met: that is, the
language acquisition second language learner has sufficient
time at his/her disposal, he/she focuses
Krashen's theory of second on form or thinks about correctness, and
language acquisition consists of five main he/she knows the rule.
hypotheses: It appears that the role of
conscious learning is somewhat limited in
the Acquisition-Learning second language performance. According
hypothesis, to Krashen, the role of the monitor is - or
the Monitor hypothesis, should be - minor, being used only to
the Input hypothesis, correct deviations from 'normal' speech
the Natural Order hypothesis, and to give speech a more 'polished'
and the Affective Filter hypothesis. appearance.
The Acquisition-Learning Krashen also suggests that there is
distinction is the most important of all the individual variation among language
hypotheses in Krashen's theory and the learners with regard to 'monitor' use. He
most widely known and influential among distinguishes those learners that use the
linguists and language practitioners. 'monitor' all the time (over-users); those
According to Krashen there are learners who have not learned or who
two independent systems of second prefer not to use their conscious
language performance: 'the acquired knowledge (under-users); and those
system' and 'the learned system'. The learners that use the 'monitor'
'acquired system' or 'acquisition' is the appropriately (optimal users). An
product of a subconscious process very evaluation of the person's psychological
similar to the process children undergo profile can help to determine to what
when they acquire their first language. It group they belong. Usually extroverts are
requires meaningful interaction in the under-users, while introverts and
target language - natural communication - perfectionists are over-users. Lack of self-
in which speakers are concentrated not in confidence is frequently related to the
the form of their utterances, but in the over-use of the 'monitor'.
communicative act. The Input hypothesis is Krashen's
The 'learned system' or 'learning' is attempt to explain how the learner
the product of formal instruction and it acquires a second language – how
comprises a conscious process which second language acquisition takes place.
results in conscious knowledge 'about' The Input hypothesis is only concerned
the language, for example knowledge of with 'acquisition', not 'learning'. According
grammar rules. According to Krashen to this hypothesis, the learner improves
'learning' is less important than and progresses when he/she receives
'acquisition'. (Veja o texto ao lado e second language 'input' that is one step
também outra página em português beyond his/her current stage of linguistic
sobre Acquisition/Learning). competence. For example, if a learner is
The Monitor hypothesis explains at a stage 'i', then acquisition takes place
the relationship between acquisition and when he/she is exposed to
learning and defines the influence of the 'Comprehensible Input' that belongs to
latter on the former. The monitoring level 'i + 1'. We can then define
function is the practical result of the 'Comprehensible Input' as the target
101
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language that the learner would not be policiados e disciplinados pelo


able to produce but can still understand. It conhecimento consciente das regras
goes beyond the choice of words and gramaticais da língua e de suas
involves presentation of context, exceções.
explanation, rewording of unclear parts, Os efeitos deste monitoramento
the use of visual cues and meaning sobre pessoas com diferentes
negotiation. The meaning successfully características de personalidade serão
conveyed constitutes the learning vários. Pessoas que tendem à
experience. introversão, à falta de autoconfiança, ou
ao perfeccionismo, pouco se beneficiarão
de um conhecimento da estrutura da
AS TRÊS HIPÓTESES MAIS língua e de suas irregularidades. Pelo
IMPORTANTES DA TEORIA DE contrário, no caso de línguas com alto
KRASHEN, E SUA INTERRELAÇÃO grau de irregularidade (como o inglês),
A hipótese acquisition-learning, a poderão desenvolver um bloqueio que
hipótese monitor e a hipótese input compromete a espontaneidade devido à
representam a essência da teoria de consciência da alta probabilidade de
Krashen. cometerem erros.
De acordo com sua teoria, Pessoas que tendem à
acquisition é responsável pelo extroversão, a falar muito, de forma
entendimento e pela capacidade de espontânea e impensada, também pouco
comunicação criativa: habilidades se beneficiarão de learning, uma vez que
desenvolvidas subconscientemente. Isto a função de monitoramento é quase
ocorre através da familiarização com a inoperante, está submetida a uma
característica fonética da língua, sua personalidade intempestiva que se
estruturação de frases, seu vocabulário, manifesta sem maior cautela. Os únicos
tudo decorrente de situações reais, bem que se beneficiam de learning, são as
como pela descoberta e assimilação de pessoas mais normais e equilibradas,
diferenças culturais e pela aceitação e que sabem aplicar a função de
adaptação à nova cultura. monitoramento de forma moderada.
Learning depende de esforço Mesmo assim, numa situação real de
intelectual e procura produzir comunicação, o monitoramento só
conhecimento consciente a respeito da funcionará se ocorrerem 3 condições
estrutura da língua e de suas simultaneamente:
irregularidades, e preconiza a - Tempo suficiente: que a pessoa
memorização de vocabulário fora de disponha de tempo suficiente para avaliar
situações reais. Este conhecimento atua as alternativas com base nas regras
na função de monitoramento da fala. incidentes.
Entretanto, o efeito deste monitoramento - Preocupação com a forma: que a
sobre a performance da pessoa, depende pessoa concentre atenção não apenas
muito do perfil psicológico de cada um. no ato da comunicação, no conteúdo da
mensagem, mas também e
Veja aqui mais sobre os conceitos principalmente na forma.
de acquisition e learning. - Conhecimento da regra: que a
pessoa tenha conhecimento da regra que
A hipótese monitor explica a se aplica ao caso.
relação entre acquisition e learning ao A hipótese input ajuda a explicar
definir a influência deste último sobre o como o aprendiz assimila uma segunda
primeiro. Os esforços espontâneos e língua através de acquisition.
criativos de comunicação, decorrentes de Comprehensible input – linguagem
nossa capacidade natural de assimilar inteligível – é o elemento chave para que
línguas quando em contato com elas, são ocorra a assimilação do idioma. O
102
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

aprendiz progride na medida em que combine to 'raise' the affective filter and
recebe input inteligível. Linguagem form a 'mental block' that prevents
inteligível é aquela que se situa num nível comprehensible input from being used for
ligeiramente acima do nível de acquisition. In other words, when the filter
proficiência do aprendiz. É a linguagem is 'up' it impedes language acquisition.
que ele não conseguiria produzir mas On the other hand, positive affect is
que ainda consegue entender. Vai além necessary, but not sufficient on its own,
da simples escolha de vocabulário. for acquisition to take place.
Pressupõe contextualização, explicação,
uso de recursos visuais, linguagem O CONSTRUTIVISMO NO
corporal, negociação de significados e ENSINO DE LÍNGUAS
recolocação de pontos obscuros em A teoria de Krashen fornece
outras palavras. As ideias efetivamente substrato ao Natural Approach e ao
transmitidas constituem a experiência de Communicative Approach, versões norte-
aprendizado. americana e britânica, respectivamente,
he Natural Order hypothesis is do construtivismo no ensino de línguas.
based on research findings (Dulay & Burt,
1974; Fathman, 1975; Makino, 1980 cited O construtivismo preconiza o
in Krashen, 1987) which suggested that desenvolvimento de habilidades e
the acquisition of grammatical structures conhecimento como resultado de ação e
follows a 'natural order' which is interação do ser inteligente com o meio
predictable. For a given language, some sócio-ambiental. Portanto, o ambiente é
grammatical structures tend to be fator determinante. No caso de línguas
acquired early while others late. This estrangeiras, o ambiente apropriado é
order seemed to be independent of the aquele que oferece convívio multicultural.
learners' age, L1 background, conditions
of exposure, and although the agreement AMBIENTES MULTICULTURAIS
between individual acquirers was not DE CONVÍVIO: Ambiente de convívio
always 100% in the studies, there were multiculural ou bicultural é aquele
statistically significant similarities that composto de pessoas de diferentes
reinforced the existence of a Natural nacionalidades e culturas, que
Order of language acquisition. Krashen proporciona o desenvolvimento do
however points out that the implication of conhecimento necessário e das
the natural order hypothesis is not that a habilidades básicas necessárias para que
language program syllabus should be todos possam se comunicar em qualquer
based on the order found in the studies. situação e nele se sintam à vontade.
In fact, he rejects grammatical Quanto maior o grau de afinidade entre
sequencing when the goal is language seus integrantes, mais completa será a
acquisition. assimilação.
Finally, the fifth hypothesis, the
Affective Filter hypothesis, embodies The Role of Grammar in Krashen's
Krashen's view that a number of 'affective View
variables' play a facilitative, but non- According to Krashen, the study of
causal, role in second language the structure of the language can have
acquisition. These variables include: general educational advantages and
motivation, self-confidence and anxiety. values that high schools and colleges
Krashen claims that learners with high may want to include in their language
motivation, self-confidence, a good self- programs. It should be clear, however,
image, and a low level of anxiety are that examining irregularity, formulating
better equipped for success in second rules and teaching complex facts about
language acquisition. Low motivation, low the target language is not language
self-esteem, and debilitating anxiety can
103
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teaching, but rather is "language the same time, the field has become
appreciation" or linguistics. increasingly bi- directional and multi-
The only instance in which the faceted in its applications. As new
teaching of grammar can result in theories and research have emerged on
language acquisition (and proficiency) is language, and even more so, on learning,
when the students are interested in the their application to the study of SLA has
subject and the target language is used been fruitful. It has led to long needed
as a medium of instruction. Very often, explanations about developmental
when this occurs, both teachers and regularities and persistent difficulties, and
students are convinced that the study of has opened up new lines of research on
formal grammar is essential for second the processes and sequences of second
language acquisition, and the teacher is language (L2) development.
skillful enough to present explanations in The application of newer findings
the target language so that the students from the study of SLA to educational
understand. In other words, the teacher concerns has both informed and
talk meets the requirements for sustained long standing debates about
comprehensible input and perhaps with the role of the learner's consciousness in
the students' participation the classroom the SLA process, and about the nature of
becomes an environment suitable for the learner's input needs and
acquisition. Also, the filter is low in regard requirements. A modest, but increasing
to the language of explanation, as the number of SLA research findings has had
students' conscious efforts are usually on direct application to instructional
the subject matter, on what is being decisions. Most other findings have
talked about, and not the medium. served as a resource to inform teaching
This is a subtle point. In effect, practice. The many applications to and
both teachers and students are deceiving from the study of SLA. are therefore the
themselves. They believe that it is the focus of this paper.
subject matter itself, the study of
grammar, that is responsible for the DISCIPLINARY CONTEXTS
students' progress, but in reality their SLA research and applied
progress is coming from the medium and linguistics
not the message. Any subject matter that The study SLA is a rich and varied
held their interest would do just as well. enterprise, carried out by researchers,
whose interests and training often lie in
16.2 An overview of broader disciplines of linguistics,
secondlanguageacquisitionresearch psychology, sociology, and education.
(Whatissecondlanguageacquisition? / Yet the field is most commonly
General questions in associated with the domain of applied
secondlanguageacquisitionresearch / linguistics, reflecting a time when this
A framework for latter field focused on practical problems
exploringsecondlanguageacquisition / and concerns in language teaching, and
Learnerlanguage / Learner- attempted to resolve them through the
externalfactors / Learner- application of linguistic theories. Both
internalfactors / The languagelearner fields have expanded over the years.
Their internal growth has enriched and
Research on second language elaborated their relationship.
acquisition (SLA) has expanded Defining and describing research
enormously since its inception. Studies of on SLA within the field of applied
SLA have increased in quantity as linguistics was once a straightforward
researchers have addressed a wider task. Questions focused on practical
range of topics, asked new questions and concerns in language teaching, and were
worked within multiple methodologies. At addressed through linguistic principles
104
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and psychological theories of learning. At 1997; and theoretical articles by Doughty


the time of its inception, the field of 2002; Long 1996; Schmidt 1995 and later
applied linguistics was guided by theories parts of this paper). This work has
from linguistic structuralism and enriched the field of applied linguistics,
behaviorist psychology. Language was and shed further light on the process of
characterized as a system that could be SLA.
classified into sounds and structures. SLA research and language
Language acquisition was seen as habit acquisition studies
formation, best served as students SLA research can also be placed
imitated and practiced these sounds and within the domain of language acquisition
structures, and were given positive studies, together with studies on
reinforcement or corrective feedback as bilingualism, as it relates to the
needed. acquisition of two languages within the
Very much an applied enterprise, course of primary language development.
this research followed an approach that Also found in this domain is work on
came to be called "contrastive analysis" foreign language acquisition. Often
(Lado 1957). Typically, a comparison referred to as foreign language learning, it
would be made between the L2 to be is distinguished by a lack of access to the
learned and the L1 of the learner. Drill, L2 outside the classroom and by factors
practice, and correction would follow on surrounding an individual learner's
those areas of the L2 that differed from motivation and goals.
those of the L1 so that L1 "interference" The largest body of work in the
could be avoided, and L2 habits could be domain of language acquisition studies
formed. Unfortunately, this approach focuses on child L1 acquisition (FLA) and
seldom worked, as learners did not developmental psycholinguistics. The
appear to be developmentally ready to studies on FLA which have had a major
imitate many L2 structures they were impact on SLA research are those which
given, and as linguists found it impossible were carried out as views advanced by
to perform contrastive analyses on a Chomsky (1965) on language, the
feature by feature basis. Even after many learner, and the learning process
years of practice, learners would wind up supplanted those framed by theories of
with little understanding of the L2 and structuralism and behaviorism. Their
limited ability to use it as a means of application to the study of SLA influenced
communication. its initial research questions and provided
Both fields have broadened it with data collection instruments and
considerably over the years, as new analytical categories. This work focused
views of language, the learner and the on the extent to which SLA was like FLA
learning process have inspired further in its processes and developmental
research. sequences. A great deal of descriptive
Many of the issues that arose data was thereby made available to the
regarding L1 interference, drill, practice, field. These data provide basic details on
and correction can now be viewed in light the systematicity, sequences, and
of later work in the field. Recent research processes of SLA, which have inspired
findings have pointed to L1 contributions future research and informed teaching
as downplayed L1 interference. They practice.
have redefined practice as learner- The study of SLA is believed to
centered, knowledge-based activity, and provide a particularly fruitful area for
revitalized the role of corrective feedback, insight into the process of language
by identifying contexts in which it can be learning compared to the study of
effective, possibly even vital, to success. children acquiring their L1. This is
(See respectively, research by Eckman because the cognitive, conceptual, and
1977; studies by DeKeyser 1997; deGraff affective processes that characterize L1
105
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development are not required of their example, R. Ellis 1994; Gass & Selinker
older, L2 learning counterparts (see Gass 1994; Larsen-Freeman & Long 1991;
& Ard 1985). On the other hand, the L2 Lightbown & Spada 1999).
learner's cultural background, personality Therefore, in the interest of
and identity are unique resources that observing a bi-directional perspective on
make the process of SLA an ever-present the applications to and from SLA
challenge to researchers. Fortunately, research and other fields, the paper will
each of the fields has found a niche in the focus on those areas in which such a
research endeavor, so there is little perspective is clearly apparent: the
concern about whether the study of SLA "linguistic" and the "learning" dimensions
or FLA is more central to questions on of SLA. The paper begins with a review of
language acquisition. In the United research on the linguistic sequences of
States, this friendly co-existence seems interlanguage development.
especially confirmed by academic
placement: Much of the academic study Research on Interlanguage
and research on FLA takes place in Development
departments of psychology, whereas the Much of SLA research has focused
study of SLA finds its place in on describing the learner's interlanguage
departments of linguistics, applied and identifying sequences and patterns of
linguistics, English as a Second development. The focus has been
Language, and education. primarily on grammatical development.
Since interlanguages are systematic, they
CONCERNS AND CONTROVERSIES follow rules and patterns that change over
TRADITIONS, TRENDS the course of L2 development, but do so
in patterned ways.
Introduction When describing interlanguage
Studies of SLA have existed for as development, researchers often cluster its
long as parents have been keeping patterns into interim grammars, which
diaries of their children's language they refer to as developmental sequences
development (see Leopold 1939-1959, as or stages. Thus, learners are likely to omit
an example, and Hatch 1978 for an grammatical morpheme endings in the
overview). However, many SLA early stages of learning, but overuse
researchers would argue that the formal them at a later stage. For example, We
study of SLA was launched in 1967, with play baseball yesterday We win might
Corder's publication, "The significance of develop into We played baseball
learners" errors" (Corder 1967). Its yesterday. We winned before past regular
construct of "transitional competence," and irregular forms are sorted out.
together with research on "interlanguage" Learners are likely to utter I don't
(Selinker 1972) and data description understand and she don't understand
through "error analysis" (Richards 1974), before they work through a negation
laid the groundwork for most of the early system that includes don't, doesn't, and
studies in the field, and has had an didn't. Although initial descriptions of
impact which is felt to date. interlanguage suggested that these errors
Since that time, moreover, the field were primarily, if not totally,
of SLA has grown at a remarkable pace, developmental, there is now a great deal
so much so that in the course of a single of support for the role of L1 transfer in
paper, it is difficult to cover the enormous error formation, as well as for the
number of topics addressed, findings contributions made by universal
revealed, and factors considered in SLA strategies of communication and learning.
research. Fortunately, many of these Among the sentences above, for
concerns and contributions are detailed in example, the learner's use of play in a
a wide range of textbooks (see, for context for played, are suggestive of
106
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processes of reduction or simplification, morpheme orders in children learning


often used to manage emergent grammar English as their first language, Dulay and
or to communicate message content in Burt (1973, 1974) asked to what extent
the absence of morphosyntactic L2 children reflected this sequence.
resources. Played and winned might Children from different L1
reflect the learner's regularization of an backgrounds, who were learning English
emergent grammar, again for the purpose in a variety of classrooms, were asked to
of its management or for communicating describe pictures that provided contexts
message meaning. for their suppliance of grammatical
A great deal of the research on morphemes such as plural -s endings and
interlanguage development has focused verb functors. As learners described their
on the learning of English, but there are pictures they revealed an 'accuracy
also large bodies of work on French and order,' characterized by percentage of
German. Most interlanguage patterns are morpheme suppliance. In follow-up
not language specific. Often they are studies, this order, which came to be
referred to as 'errors,' but they are not known as an 'average' or 'natural' order
isolated mistakes. Many reflect the (Krashen 1977), held across spoken and
learner's attempts at communication and written samples of children, adolescents,
learning, or at managing and processing and adults, regardless of L1, whether or
L2 input. Others reflect grammatical not formal instruction had been part of the
complexities or input frequencies that learning experience. The 'average' order
transcend individual L2's. was thus a grouping of progressive -ing,
The most widely studied and noun plural -s and copula, followed by a
reported developmental sequences are second grouping of article and
the accuracy order identified in English progressive auxiliary, then past irregular,
grammatical morphology, the past regular, 3rd person singular noun
developmental sequences of English verb possessive -s
and phrase negation and the formation of The grouping of morphemes
questions and relative clauses. Much of reflects the variability within the order. For
this work has been carried out through example, accuracy for progressive -ing
methods and perspectives of FLA was found to be somewhat higher than
research. In addition, there is a large data that for noun plural -s for some learners,
base on developmental sequences for whereas other learners were more
German L2. Its focus on the invariant accurate in their suppliance of copula
sequence that German L2 learners follow compared to plural -s. Still, on average,
in managing sentence constituent all three morphemes were supplied more
movement has lent considerable insight accurately than article or progressive
into the cognitive operations that underlie auxiliary.
much of SLA. The sequences of L2 The consistency of the morpheme
development, which will be described accuracy order led to the view that SLA
briefly in this section, provide a useful was a matter of 'creative construction,'
resource for teachers to apply to their and therefore much like FLA. SLA was
attempts to understand their students' seen as an implicit learning experience,
struggles, successes and progress with based not on rule knowledge, but rather,
respect to SLA. (See discussions by on an innate capacity for L2 learning.
Lightbown 1985, 2000; & Pica 1994a) Controversies ensued over whether such
Attempts to explain the sequences from consistency in the order was a function of
the perspectives of linguistic and the statistics used to correlate the data.
cognitive theories will follow in a later Explanations were advanced for the kinds
section. of errors revealed in the morpheme data.
Morpheme Accuracy Order. For many learners, omission of L2 copula
Drawing on the work of Brown on could be attributed to the absence of this
107
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

morpheme in their L1, or its lack of appear, resulting in expressions such


salience and semantic transparency in who you are?, do she like the movie?, By
the L2. As later research would reveal, Stage 4, inversion of wh in copular
the errors could be attributed to each of questions appears questions such as who
these factors, and for many learners, are you? Inversion of copula and auxiliary
focused input and intervention were is seen also in yes no questions as
required for their correction. This work learners produce are you a student? and
has helped to offset the view that SLA is was she driving the car?. Stage 5 is
exclusively a creative, implicit process. characterized by the appearance of
Verb and Phrasal Negatives. inversion in questions that require do-
Widely studied across many languages, support to lexical verbs. Examples
negative structures appear to follow a include do you like movies? and who is
similar sequence of development, which driving the car?. Stage 6 is characterized
involves negative particle placement as by the appearance of complex or less
well as verb tense and number marking. frequently used question forms Among
Initially, a negative particle, usually no or the complex forms that emerge are
not, is placed next to the item it negates, question tags, as in she's French, isn't
as in no like or I no like. This juxtaposition she,? and negative and embedded
reflects universal strategies of questions such as didn't you like the
communication and grammar movie,? and do you know what the
management. Thus all learners exhibit answer is,? respectively.
this stage. Relativization. The acquisition of
Those whose L1 negation is relative clause structures relates to both
consistent with the stage, for example, L1 the different sentence positions in which
Spanish or Italian learners, usually relativization can occur as well as the way
remain there longer than those whose L1 in which it is encoded through the use of
does not encode negation in this way relative pronouns such as who, which,
(See Zobl 1980, 1982). The next stage that), in substitution for their referent
entails the use of an all purpose, more pronouns. These operations are seen as
target like negator. In the case of English, clauses such as the woman helps me
this is usually don't. Later, the learner with my English.and the woman is my
restructures don't for tense and number, neighbor relativize into the woman who
so that didn't and doesn't appear. helps me with my English is my neighbor.
Question formation. Learning to Developmental sequences for relative
form questions involves multiple stages clause formation follow a hierarchical
as well. As described in early case order in which learners show greater
studies of children by Huang and Hatch accuracy for subject relativization. This
(1978) and Ravem (1974), and in more was shown in the sentence just above.
recent work of Pienemann, Johnston and Next in the order is direct object
Brindley (1988), the stages involve the relativization, represented in
acquisition of yes/no and wh question constructions such as the car that the
types as well as inversion and fronting man bought has a sunroof, composed
formation movements. Stage 1 is from the man bought a new car.and the
characterized by the use of single words car has a sunroof. This is followed by
and formulaic expressions, such as a indirect object and object of preposition
store? what's that?, Many of these seem relativization, evidence of which is seen
perfectly well formed, but they actually respectively in the woman to whom I gave
reflect learners attempts to communicate the money was grateful and the man from
or to manage their still developing whom I borrowed the book has moved
grammar. In stage 2, the learner uses away. This sequence has been shown to
declarative word order. In Stage 3, reflect language typology and
fronting of wh- words and do begin to
108
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

instructional sensitivity. Both topics will be Notably absent from the


discussed shortly. sequences are grammatical morphemes,
Word Order. Finally, one of the as these appeared to vary according to a
most detailed and insightful studies of learner's age, contact with native
developmental sequences has been speakers of the L2, and opportunities for
carried out on constituent movement and L2 use. This invariant sequence of
word order in German. Meisel, Clahsen, stages, together with the variability of
and Pienemann (1981) studied the accuracy and appearance of other
untutored, non-instructed acquisition of features, have been referred to as the
German L2 by Gasterbeiter or guest Multidimensional Model.
workers, who had migrated to Germany R. Ellis (1989) studied instructed
from Eastern and Central Europe for learners of German L2, and found the
short term employment. They were native same sequence of development.
speakers predominantly of Romance Pienemann and Johnston (1986, 1987)
languages and Turkish. Drawing from applied the sequence to English, and
both longitudinal case studies and cross- cited the following stages. In stage 1,
sectional group data, Meisel et al learners use single words and formulas.
identified 5 stages: In stage 2, they use canonical word order.
Initially, the learners used Stage 3 is characterized by fronting of 'do'
individual words, phrases, unanalyzed for questions and appearance of negative
formulas and chunks. In Stage 2, they particles in verb constructions. In stage 4,
moved on to simple sentence strings of inversion appears in yes/no questions. In
sentence elements, usually subject-verb- stage 5, 3rd person singular and do-
object structures. In stage 3, they began support appear, motivated by the need for
to manipulate sentence constituents, noun-verb agreement. Pienemann and
seen mainly in adverbial movement from Johnston have claimed that this a
sentence final to sentence initial position. sentence internal movement as it reflects
Thus she could read the book yesterday the learner's management of both subject
became yesterday she could read the and verb structures. Complex structures
book). such as question tags are seen in stage
Next the learners separated 6.
sentence elements. In keeping with The Multidimensional Model has
standard German word order, they moved also been the focus of Pienemann's
non-finite lexical verbs from sentence Teachability Hypothesis (Pienemann
internal to sentence final position. In this 1984). He was able to show that learners
way, yesterday she could read the book could accelerate their rate of L2 learning
could become yesterday she could the if presented with rules for constituent
book read. The next stage was movement that corresponded with their
characterized by inversion, a more next stage of development. If taught the
complex internal movement. Learners rules of stages beyond their current level,
transformed structures such as yesterday the learners would not be able to
she could the book read into yesterday internalize what they were taught. This
could she the book read? This operation finding has tremendous implications and
complied with German rules for verb applications to teaching decisions. Yet, as
initial placement in questions and Cook (2001) has noted, even the most
adverbial phrases. In their final stage, the widely used, up to date textbooks, fail to
focus was on subordinate clauses, for follow the sequences that Pienemann has
which learners moved the finite verb to identified.
final position. Thus yesterday she could In more recent research,
the book read would become although Multidimensional model has come to be
yesterday she the book could read. known as the Processibility Model. This
model is so named because it provides
109
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

an explanation for stage progression and theories of language and psycholinguistic


teachability predictions based on theories of learning came to the forefront
cognitive processing constraints, These of linguistics and psychology, their
are related to the complexity of research methods made it possible for
production required for each movement SLA researchers to collect a great deal of
across the stages. In developing the the interlanguage data described in the
Processibility Model, Pienemann has previous section.
drawn from Slobin's work on "operating More recently, newer theoretical
principles" (Slobin 1971, 1973, 1985), and perspectives on language and learning
from research on child FLA and have been applied to the study of SLA.
bilingualism by Clahsen,(1984). Recently, From linguistics, theories on universal
Pienemann has linked these processing properties and principles of language
strategies with Lexicalist-Functional have shed light on the regularities and
grammar in a study of Swedish L2 constraints that characterize
developmental sequences (Pienmenann interlanguage grammars, and have led to
and Haakenson 1997). Pienemann's more principled research on the role of
newer perspective on SLA is much more the L1 in the learning process. The
cognitive in its undergirding than his nativist perspective on language
Multidimensional Model. Other cognitively acquisition that undergirds much of this
oriented research on SLA will be research has served to invigorate the
addressed later in this paper. long-standing debate in the field as to the
role of explicit rule learning in the SLA
Research on Second Language process and the need for explicit rule
Acquisition Processes teaching in the classroom.
From psychology, cognitive
Introduction. This introductory theories have had a highly productive
section will review current theories in impact on SLA research and its
linguistics and psychology that have been applications. Cognitively-informed studies
applied to questions on the SLA process. have revealed the ways in which learners
Later sections will highlight their process L2 input and use it to build and
application to data on the sequences of restructure their interlanguage grammar.
interlanguage development, discuss New findings on cognitive processes of
some of the new questions and studies attention, awareness and practice have
that the theories have motivated, and been used to explain the results of older
attempt to sort out the controversies that studies. In addition, the interactions
have been created by their presence in shown to promote these processes have
the field. revealed connections and applications to
As an applied enterprise, SLA classroom practice.
research has looked to linguistics and Language Universals. The notion
psychology to guide its questions, shape of a "universal" is not new to the field of
its hypotheses, and explain its findings. linguistics, but has provided both
As often noted and lamented, SLA has explanations of SLA sequences and
not been grounded in its own predictions of SLA outcomes. Language
comprehensive theory that can account universals reflect consistencies in the
for its sequences and processes, predict typological or surface features of a broad
its outcomes, single out its most range of world languages. These
influential factors (see Long 1990 for a universal properties vary according to
compelling discussion of this issue). As features such as their frequency and level
was discussed in the introduction to this of simplicity. Together, these comprise
paper, early research on SLA was guided what linguists refer to as "markedness."
by theories from structural linguistics and For example voiceless alveolar stops
behaviorist psychology. As generative
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APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

such as (t) are considered "unmarked" as & Nelson 1988; Gass 1980) This finding
they are found among most languages. has not found its way into language
Language universals also enter curricula, despite its clear application to
into implicational relationships. Thus, the teaching practice.
presence of voiced alveolar stops such as The impact of the study of
/d/ in a language implies the presence of language universals on SLA research has
voiceless alveolar stops, e.g. /t./ The also been seen in work on question
voicing on /d/ makes it more complex and formation. Research by Eckman,
marked than /t./ Since more languages Moravcsik, & Wirth (1989), for example,
have unmarked than marked features, the revealed an implicational relationship
presence of a marked feature implies the between question type and question
presence of its unmarked counterpart. process that was consistent both
The typological universal which typologically and developmentally. Across
has had the strongest role in explaining languages, therefore, the presence of
SLA sequences of development is the yes/no inversion implied the process of
Noun Phrase Accessibility Hierarchy Wh inversion, and this latter implied Wh-
(NPAH), in which relative clauses fronting.
formation follows an order that is Accordingly, this relationship could
consistent with principles of markedness. be seen developmentally as inverted
Thus, across languages of the world, yes/no questions such as are you a
subject noun phrases are more teacher? would emerge after inverted wh
accessible to relativization than are direct questions, as in who are you, themselves
object noun phrases, which are more preceded as fronting was applied to
accessible than indirect object, object of questions such as who you are.? In this
preposition, and comparative noun way the implicational order revealed in
phrases. These are implicationally typological studies was reflected in the
ordered, so that if a language allows developmental data on question
relativization of indirect objects, it also formation, at stages 3, 4 and 5.
allows relativization of direct objects. The explanations and predictions
English allows relativization of all offered through the perspective of
noun phrases on the NPAH. Other language universals and the notion of
languages such as Chinese, allow markedness have given SLA researchers
relativization of fewer phrases, but they a fresh look at the role of transfer in SLA.
still observe the ordering implications. As Eckman (1977) and Hyltenstam
This relationship across languages of the (1984) have shown, an L2 feature will be
world also holds within interlanguages of difficult if it is more marked linguistically in
learners, and can account for the order of an absolute sense and even more so if it
acquisition of relative clause formation is more marked than its L1 counterpart.
described in the previous section. As was Thus, indirect object relativization or
shown, English L2 learners acquire the voiced stops would be more difficult to
ability to form subject relatives before learn than subject relatives or voiceless
direct and indirect object relatives. stops, but would be even more difficult for
In addition to the explanatory role those learners whose L1 was more
that the study of language universals has limited in its scope of relativization or had
played in SLA research, it also has only voiceless consonants. On the other
revealed predictive power. Several hand, if the L2 feature were marked in the
studies have shown that targeted learner's L1, or even absent from it, its
instruction in relative clause formation at acquisition would not pose as much of a
lower levels on the hierarchy, such as problem as long as the feature were
object of preposition, can generalize to unmarked in the L2. Thus, English
acquisition at higher levels such as direct learners of Chinese are able to suppress
object (See Doughty 1991; Eckman, Bell, their L1 relative clause formation for
111
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

objects of prepositions. English learners Once confronted with marked input, they
of German are able to suppress L1 switch the parameters to marked settings.
voicing of final consonants in favor of There are three theoretical views
unmarked, voiceless ones in German L2. on linguistic universals that have been
Principles of the construct of addressed in studies of SLA. Many of
markedness, applied to interlanguage these studies have focused on the
data development, can also explain why principle of "subjacency," which has to do
certain linguistic features are more with wh- movement within sentences.
difficult to notice than others, are less Some languages allow more movement
available in conversational input, and than others, and some do not observe the
might qualify for focused instruction. principle at all. Thus, studies of L2
These possibilities will be further explored learners whose L1 follows subjacency
in the discussion of cognitive processes. rules that are different from the L2
Linguistic Universals. Linguistic provide a good basis for determining the
Universals reflect constraints on the form role of UG in SLA.
of human languages. The linguistic The strongest view is that SLA is
universals that have had the most impact like FLA, and learners have access to the
on SLA research are the innate principles principles and unmarked parameters of
of Universal Grammar (UG) that are UG in much the same way that they did
viewed as a genetic endowment or during FLA. They therefore begin
property of mind, and a binary system of interlanguage development through
options, known as parameters, each with unmarked parameter settings, not
marked and unmarked settings that through their parameterized core
configure into a "core" grammar. The grammar.
construct of markedness, which was There is evidence in support of this
central to work on universals of language view in research by Bley-Vroman, Felix,
typology, also plays a role in the study of and Ioup (1988), who found that Korean
linguistic universals. L1 learners of English were able to
Everyone who has fully acquired recognize English sentences which
an L1, has constructed a core grammar, followed the principle of subjacency for
and has set the parameters of the core wh movement, even though this principle
grammar in accordance with the L1. For is not observed in Korean. This finding
example, individuals whose L1 is a "pro- illustrated that L2 learners are sensitive to
drop" language must set this parameter universal principles, even when those
into its simpler, unmarked setting. Thus, principles have not been realized in their
they might say I have three cats … are L1.
nice because they have set the pro-drop Another view is that L2 learners fall
parameter so that pronoun referents are back on the parameterized core grammar
not needed in subject position. Those of their L1, but are able to reset it for the
individuals whose L1 is a non-pro-drop L2, even when confronted with marked
language need to set their parameter in a data that conflicts with their L1. Support
marked setting, so that a subject pronoun for this position comes from White (1985).
is always needed, as in I have three cats She found that Spanish L1 learners of
… they are nice. The marked parameter English L2 relied initially on their L1
setting might be observed even in setting for pro-drop when making
sentences where the subject pronoun grammaticality judgments of English
held no meaning, as in it is snowing or sentences, whereas French L1 learners
there are 24 hours in a day. It is claimed of English did not appear to do so. In
that children begin learning their L1 as Spanish, the pro-drop parameter has an
though the pro-drop and other unmarked setting, but in English and
parameters were in unmarked settings. French, the setting is marked. Over time,
however, the Spanish learners'
112
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grammaticality judgments were as However, results of studies which


accurate as those of the French learners. use grammaticality judgment data are
This result suggested that they were able difficult to compare with those based on
to reset their L1 parameter for the marked descriptive, interlanguage samples.
English L2 setting. A second difficulty with linguistic
Yet another view is that L2 universals lies in their perceived
learners are not able to draw on UG relevance to the study of SLA. Most
principles to reset the parameters of their consumers of SLA research are used to
core grammar, but instead rely on discussing it with reference to transcribed
cognitive principles of learning and apply samples of interlanguage speech or
them to their L2 development. SLA is thus frequency tables of interlanguage
experienced as a conscious, problem features. When they read about research
solving activity. Such a view accounts for findings on interlanguage, they expect
the errors produced by L2 learners as reference to functional and inflectional
they attempt to manage and control features such as articles or tense
interlanguage grammar. markers. Yet, these are the very features
One of the most compelling considered peripheral to the core
reasons for application of linguistic grammar. Further, when core grammar
universals to questions about SLA is that parameters are addressed, this is done
the principles and parameters represent through terms such as "subjacency"
constituents and operations that rather than through familiar terminology
transcend individual languages. This on wh-questions. This further limits
offers excellent opportunities to further comparison with data from other
explore the role of transfer in L2 learning, research.
to see how it affects aspects of grammar A further difficulty with the
that are considered to be outside the UG application of perspectives on linguistic
core. Findings from such research can universals to SLA research relates to
shed further light on current assumptions explanation of findings. Learner forms
as to which principles and parameters are attributed to unmarked parameter settings
actually universal and which are subject can often be explained with reference to
to L1 constraints. Even more important is universal processes of simplification that
the fact that perspectives on linguistic have long held a place in interlanguage
universals provide SLA with both a theory analysis. Thus, the question remains as
of language and a theory of language to whether the learners who say is raining
learning. are doing so because they are observing
However compelling they appear, the unmarked setting of the pro-drop
however, theoretical views on linguistic parameter, have chosen to omit the
universals pose several difficulties with semantically empty it as an agent in their
respect to their application to SLA message, or have not yet perceived it in
research. One difficulty is methodological. the L2 input around them.
Most of the research involved with Many questions remain regarding
linguistic universals has asked learners to linguistic universals as a driving force
judge the grammaticality of sentences behind SLA questions, and as an
that reflect the linguistic principle or explanation of SLA data. Some of these
parameter under study. Uusually they are pertain to competing findings within this
asked to read or listen to sentences and perspective on SLA; others are related to
give a yes or no judgment. Such an terminological inconsistencies with
approach is in keeping with assumptions studies across the field. Over time, and
used throughout theoretical linguistics on with persistence, these matters can open
the validity of native speaker intuition as a up opportunities for further study and new
reflection of language competence. lines of research, which will lead to

113
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

greater understanding of the SLA message without the need to focus on the
process. many forms that encode it. Even young
Cognitive Theories. Cognitive learners have been shown to have strong
theories are concerned with mental L2 comprehension, but lack grammatical
processes used for skill building and skill proficiency. Some learners have
learning. Thus, when SLA research is internalized versions of the L2 that are
carried out within a cognitive perspective, functionally adequate for communicative
the L2 is viewed as a skill, and its purposes, but developmentally
acquisition as a linguistic system is incomplete in form and structure. The
assumed to be built up gradually through consequences of this are non-standard,
processes of attention, conscious stable, immutable, "fossilized"
awareness and practice. interlanguage varieties. These varieties
To some researchers, a view of were introduced to the field by Selinker in
SLA that includes cognitive processes 1974, and have continued to
such as attention, awareness and challenge researchers, teachers, and of
practice is inconsistent with theoretical course, fossilized L2 learners, to date.
assumptions of interlanguage research, Many of these concerns about SLA
and with universal perspectives on have been expressed as research
language acquisition. This is because questions about the quality and
most researchers have viewed SLA as an accessibility of L2 input that can best
implicit experience, guided by the serve learners as data for their learning.
learner's interaction with L2 input. To Therefore the remaining discussion of
them, the cognitive process of attention is cognitive processes will focus primarily on
important, but mainly because it promotes research about their role in assisting
understanding of meaning not because it learners to notice L2 input and apply it to
facilitates skill learning. They associate their learning.
cognitive constructs such as conscious Cognitive Processes, Input and
awareness and practice with behaviorist Interaction. That samples of L2 are
theories of learning, dismissed from the needed by learners as a source of input
field several decades ago. for their learning has long been a basic
Yet most SLA researchers who assumption of SLA research. Corder
apply cognitive theories to inform their (1967) distinguished between the input
questions and methods, do so under the that is available to L2 learners and that
assumption that SLA is indeed a largely which individual learners can actually use
implicit process. For them, cognitive as intake for building interlanguage
theories are not alternate views on SLA. grammar, given their stage of
Instead, they are applied to research in development.
order to better understand, and to Decades ago, Krashen argued that
possibly explain, why it is that, for many 'comprehensible input' was necessary
learners, an implicit experience of and sufficient for successful SLA (see, for
transacting L2 message meaning is not example, Krashen 1977). He described
sufficient for achieving L2 grammatical such input as understandable in its
competence. meaning, but slightly beyond the learner's
Many L2 learners, for example, current level of development with respect
struggle with linguistic features that are to its linguistic form. Both "intake" and
difficult to notice in the messages they "comprehensible input" were conceptually
hear. These are often outside the scope intriguing, but they did not lend
of UG principles and parameters, and themselves to testable hypotheses about
therefore can be affected by any number SLA processes.
of internal and external factors, or never Long (1980, 1981, 1985) also
acquired at all. Other learners report that argued that comprehensible input was
they can understand the meaning of a crucial to SLA, but his research revealed
114
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

that it was the learners' interaction with students?. Such modifications appeared
interlocutors that mattered as much as to give learners repeated access to L2
the input directed to them. Thus, when form as it encoded message meaning.
input was no longer comprehensible This was the very kind of L2 input that
during interaction between L2 learners could be used as intake for grammar
and interlocutors, they would modify the building, restructuring, and internalization.
flow of the interaction and repeat, Since SLA was considered to be a
rephrase, or request help with the input subconscious, implicit process in terms of
until comprehension was achieved. It was the learner's mental involvement, there
claimed that the modified input directed did not seem to be a push to explore the
toward the learners could assist their cognitive side of the input-intake-
comprehension as well as their L2 internalization progression. SLA models
learning. based on information processing theory
Follow-up studies of such and cognitive processes (see, for
interaction, which Long referred to as the example McLaughlin 1978) were rejected
"negotiation of meaning," were carried out by Krashen for their emphasis on the role
by Long and others (for example, Gass & of consciousness, which Krashen
Varonis 1994; Mackey 1999; Pica, considered unnecessary for SLA, and
Holliday, Lewis & Morgenthaler 1989; possibly detrimental to the learner's
Pica, Holliday, Lewis, Berducci & progress.
Newman 1991). Their analyses revealed Cognitive Processes and
that, as learners and interlocutors Evidence. Increasingly, researchers have
attempted to achieve comprehensibility, come to observe that L2 learning is a
they repeated and rephrased initial much more conscious experience than
messages, and extracted and highlighted was heretofore believed. Drawing on his
words and phrases in patterned ways that own experience as a Portuguese L2
often had developmental consequences. learner in and out of classrooms in Brazil,
Pica et al (1989, 1991) showed that the Schmidt found that cognitive processes
extent to which learners worked at these such as attention and noticing were
manipulations was directly related to the crucial to his L2 learning. The frequency
open endedness of the questions they with which he heard complex features of
were asked. Gass and Varonis (1994) Portuguese, and the salience of their form
showed that interlanguage items or position in input were two factors that
negotiated in an initial conversation would helped Schmidt to notice them. Schmidt
be accurately encoded in the learner's also found that in order to incorporate
later production. Mackey (1999) revealed many features of Portuguese into his
that learners' active participation in developing L2 grammar, he needed to
negotiation was closely connected to their "notice the gap" between such features
development of L2 English question as they were used by other speakers, and
forms. how own interlanguage encodings. Here,
An analysis by Pica (1994b) too, his noticing was aided by the
showed that these extractions often frequency and saliency of a feature, the
revealed L2 grammatical relationships as communicative and cognitive demands of
they encoded message meaning. For the situation in which he found himself,
example, in response to the learner's and his readiness to "notice the gap."
initial utterance which encoded a noun Schmidt's observations, along with
phrase in subject position, a listener findings on communicative, content-
might extract the noun phrase, topicalize based classroom contexts, considered
and repeat it in object position. Thus, the rich in L2 input (Pica 2002; Swain 1985),
listener might ask about the students have revealed that comprehensible input,
watch the movie by recoding it as the however modified, might not be efficient,
students? what did you say about the or even sufficient, for SLA. Thus, new
115
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

questions have emerged about the kinds Oikkenon 1996; Van Patten & Sanz
of input learners need to achieve a 1995), the learner's interaction with
successful L2 outcome. Long addressed meaningful materials, enhanced both
these questions in several publications, graphically and linguistically to highlight
including Long (1996) and Long, Inagaki, form and meaning relationships (Doughty
& Ortega (1998). Drawing from not only 1991), problem solving, information
Schmidt's arguments and findings, but exchange and other goal oriented, task
also from FLA theory and research, and based activities.(Pica, Billmyer, Julian,
from studies of L2 form- focused Blake-Ward, Buccheit, Nicolary, &
instruction (such as those of Spada & Sullivan 2001; Pica, Kanagy, & Falodun
Lightbown, 1993; White, 1991; White, 1993), and activities that foster learners'
Spada, Lightbown & Ranta, 1991) and communication about grammar.(Fotos
experimental intervention (Oliver, 1995), 1994; Fotos & Ellis 1991; Loschsky &
Long distinguished between input that Bley-Vroman 1993; Pica, Billmyer, Julian,
provides positive evidence of Blake- Ward, Buccheit, Nicolary, &
relationships of L2 form, function and Sullivan 2001).
meaning, and input that supplies negative In addition to the positive and
evidence on forms and structures that are negative evidence that comes from
used by learners, but are not consistent modified input, feedback, and formal
with the L2 they are learning. instruction, Swain has argued that
According to Long, sources of learners’ own production can provide a
positive evidence include spoken and basis for learning of L2 relationships of
written texts that are in their authentic form and meaning (Swain 1985, 1995,
state, as well as those that have been 1996). Based on extensive observational
modified for comprehensibility in ways data of learner exchanges, she has
described above. Learners can access identified several ways in which this can
negative evidence through explicit occur. First, she found that when asked to
corrective feedback, or implicit feedback. modify their message production toward
Included among this latter are greater comprehensibility or precision,
requests such as could you say that learners moved from their rudimentary
again? and expressions such as huh? interlanguage grammar, in which
which ask learners to clarify or repeat relationships among sentence elements
utterances that can't be understood. Also were often characterized by simple
included are "recasts," which essentially juxtaposition of relevant words, to more
repeat what a learner has just said in a advanced,syntactic processing and
more accurate way. For example I need message organization. Thus learners
pencil might be recoded as You need a might modify Philadelphia live to I live in
pencil. The most effective recasts appear Philadelphia, when asked to clarify their
to be those which focus on only one message meaning.
grammatical feature over the course of a In addition, learners' conversations
conversation or lesson (Doughty & Varela would often engage them in discussion of
1998). When teachers recast of a range the linguistic dimensions of their
of student misproductions, the students interaction, a process Swain refers to as
fail to distinguish them from other follow "metatalk." Finally, Swain claims that
up moves that teachers use to conduct learners' production can also help them to
their lessons. (Lyster 1998). "notice the gap" between their output and
Among the cognitively-oriented input. Swain has placed her work within a
interventions that appear to heighten the collaborative, sociocultural perspective,
learner's access to L2 input for both while other output-focused researchers
positive and negative evidence are have found results consistent with hers,
instruction on how best to process input and have been able to explain them in
for form and meaning (Van Patten & terms of cognitive processes.(see for
116
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

example, deBot 1996). Thus there is shown support for this view. Carefully
strong support for the role of production in controlled in design, they tend to focus on
SLA, across social and cognitive very specific features and highly
perspectives. experimental conditions. Additional
Cognitive Perspectives on L2 support has come from the meta-
Knowledge. Theoretical claims that L2 analysis and comparison or experimental
learning is a much more conscious and quasi-experimental studies on the
process than was heretofore believed, effect of L2 instruction (Norris & Ortega
and an experience that can benefit from 2001) on L2 learning. Together, individual
both input and feedback, have reactivated studies and the meta-analysis of different
the long standing debate in the field kinds of studies indicate that the strong
regarding L2 learning and its relation to interface position is indeed a valid one,
L2 knowledge. This debate, once known but might apply to context- specific
almost exclusively, as Krashen's dimensions of SLA.
"acquisition" vs. "learning" distinction (see Finally, there is a position known
again, Krashen 1977, 1981 as well as as the "weak" interface position, although
Krashen's recent writings, for example, it is much more robust than the other two
Krashen 1994), centers on three positions positions in its number of supporters and
regarding the interface of implicit and supportive studies. Here, SLA is viewed
explicit L2 learning and resultant L2 as a predominantly implicit activity.
knowledge. However, it is believed that L2 knowledge
The first position is a non-interface can be built up through both explicit
position, i.e., that SLA is an altogether instruction and other interventions that
implicit activity. While explicit L2 learning enable learners to notice crucial
and explicit L2 knowledge are possible, relationships of L2 form and meaning that
they remain separate from the L2 are difficult, if not impossible, for them to
competence that learners come to learn without such intervention. This is a
acquire. This position is consistent with view held by not only those who carry out
nativist perspectives drawn from theories research strictly within the cognitive
on linguistic universals (for example perspective, but also among researchers
Schwartz 1986) and with Krashen's associated with strategies of
Monitor Theory (Krashen 1977, 1981), consciousness raising (Rutherford &
which have been used to account for the Sharwood Smith 1985) and those who
regularities of L2 development. However work within a perspective that has come
it does not account for the incomplete to be known as "focus on form." This
acquisition experienced by fossilized work was initiated by Long (1991), and
learners. has been sustained by studies gathered
A very different position is the in a volume edited by Doughty and
strong interface position, supported Williams (1998) (see, for example, papers
through studies by DeKeyser (1997), N. by Harley; Lightbown; Long &
Ellis (1993, 1994), and Robinson (1997). Robinson; Swain; and Doughty
This position, motivated by information (Doughty & Varela) and Williams
processing theory (see McLaughlin 1978, (Williams & Evans), themselves.
1996; O'Malley, Chamot, & Walker 1988), The evidence in support of this
holds that explicit L2 knowledge, attained "weak" position illustrates ways in which
through explicit learning, can become all three positions are correct, as each is
implicit L2 knowledge. This is generally conditioned by factors that are learner-
achieved through practice in which related, stage-specific, language-related.
learners deliberately focus their attention Many of these factors need further
on L2 form as it encodes message exploration. Others have yet to be
meaning and work toward understanding identified. Together with other needs
and internalization. Many studies have across the field of they augur well for a
117
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

solid future for SLA research. The paper embedded in specialized registers such
will therefore close with a brief look as academic or professional discourse,
toward that future. are likely to require focused practice and
CONCLUSIONS AND FUTURE repeated positive evidence, or various
DIRECTIONS kinds of negative evidence to stimulate
This paper has aimed to highlight their learning. Future studies will need not
the ways in which SLA research, across only to identify the forms whose
the past three decades, has retained its meaningful encodings are difficult to
original applied and linguistic interests, acquire, but also to design activities that
and enhanced them through greater help learners to notice them through
attention to questions on acquisition focused input and negative evidence.
processes. Researchers must also develop
New research, carried out from the ways to operationalize and study
perspectives of linguistic and language processes of restructuring and
universals and cognitive activities, has internalization that occur after learners
shed much light on the complexities of L2 have noticed input and processed it as
development and the input and intake. The interventions designed to
interactional needs of L2 learners. stimulate these processes will not only
Application of findings from this research provide data on the input - intake -
has rekindled old debates on the role of restructuring- internalization progression,
consciousness in L2 learning, and but will serve as a basis for materials and
uncovered new and necessary ways to activities that can be applied to classroom
study corrective feedback and L2 needs.
practice, beyond a behaviorist point of As new findings emerge on the
view. role of consciousness and attention in the
Many questions remain learning process, their relevance to the
unanswered. Others are in need of more classroom is evident. However, there is
complete answers. The three positions on an urgent need to operationally define
the role of UG remain unresolved. Is each these processes, lest they be mis-applied
correct, according to linguistic feature to classroom practice in behaviorist rather
studied? Is one more relevant to UG, the than cognitive terms.
others, more reflective of peripheral A consistent theme throughout
grammars? Continued research along SLA research has been the need for
these lines can contribute to a theory of longitudinal data. The handful of
L2 learning and inform theoretical longitudinal studies that have been
linguistics as well. carried out have made an impressive
The study of the learner's L1 in impact on the field, the most recent that
relation to markedness and language of Schmidt and Frota (1986). The kind of
universals has shown much promise. The longitudinal research needed at present
classroom relevance of this research is must take the form of follow-up studies
already apparent, and that in itself should that check retention of features learned
motivate additional studies. through instructional intervention and
Researchers need to continue to practice. Although it is clear that feedback
identify form-meaning relationships that and focused input can make a difference
defy the learner's grasp, and yet are in the short term, their trusted application
outside of UG, and therefore not to classroom practice will require
learnable from unmodified input or confidence in their long term impact.
positive evidence alone. The construct of The relevance of classroom
markedness can play a role in their practice in informing SLA research and in
identification. Those forms whose being informed by its results will find SLA
encodings of meaning are not salient, are researchers and SLA practitioners
infrequent or highly complex, or are working together to design studies and
118
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

interpret their findings. This has already and speaking, can people say that he is
become apparent among classroom good at English? No. If a woman is only
studies. Lingering linguistic questions, as good at reading and writing, can people
described above, suggest a need for say that she is good at the language? No.
teamwork with linguists as well. In addition, most of the speakers do
Opportunities for such research teams to better in reading and writing than in
collaborate, sharing and exchanging roles listening and speaking. They can read
and responsibilities, as well as to work and write, but they can hardly
together in complementary roles, will communicate. They can hardly express
bring greater efficiency as well as themselves with their own words. We are
theoretical and pedagogical relevance to not able to change the examination
SLA research. system, but we can improve our learning
The field has increased in size and method. So when speakers want to use a
scope, yet it is still sufficiently focused on language well, do not forget to know all
questions of learning and teaching for the abilities of the four skills.
many voices and perspectives to be Listening, one of the means of
acknowledged. The fact that corrective language communication is used most
feedback and focused practice are now widely in people’s daily lives. In addition,
viewed as cognitive processes, and are at teaching the learners a lot of listening
the forefront of research interest, activities is a good way of enlargening
suggests that the field is still open for a their vocabulary. On the other hand, it
fresh look at processes once discarded or also helps the learners improve their
nearly forgotten, as long as the evidence listening comprehension. For instance,
to support them is abundant and people know that the largest difference
convincing. That is how learner errors between mother language learning and
came to be seen as a learning processes foreign language learning is the
rather than bad habits, and how environment. For a foreign language, we
communication and comprehension came can meet it only in formal places and
to be acknowledged as insufficient for L2 classes. Training and practicing the oral
competence. Lingering questions and reading is not a day’s work. Practice is
concerns at present will continue to lead important. Only through the practice can
the way to future studies. New and the learners improve their listening
currently unforseen directions will be comprehension.
taken. The richness and complexity of Next, Speaking is often connected
SLA as an learning process and a field of with listening. For example, the two-way
study suggest that there are many communication makes up for the defect in
perspectives to apply and many more communicative ability in the traditional
applications to be found. learning. Two-way means the relationship
of the communication between the
16.3 Languages skills: Listening teacher and the students at school. This
Comprehension; Speaking; Reading; relationship is connected with the
Writing communicative activities between two
people. It can create a fresh environment
The purpose of language learning for speaking language. The two-way
is to improve the speakers’ four skills of communication can lengthen the dialogue
listening, speaking, reading and writing, limitlessly. This is its advantage. At the
with the base of large vocabulary and same time, if the speakers want to give
good grammar, but this is not the final the correct response, he has to think
purpose. The final purpose is to let hard, the sentence is not easily forgotten
speakers be able to use the language. which is created by themselves through
For instance, why do people study thinking, sometimes with the teacher’s
English? If a man is only good at listening
119
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

hint. They can talk freely and express time of Comenius in the 17th century, if
themselves as well as they can. not before. The complexity of contexts
Next, Reading is an important way and the greater appreciation of the issues
of gaining information in language lead us to the conclusion that the
learning and it is a basic skill for a panacea of a single, universal optimum
language learner. There are a lot of method for teaching and learning modern
reading exercises in an examination languages does not exist, but rather the
today. But all these readings must be need for teachers to adopt an informed
done in limited time. So learners are eclectic approach, incorporating elements
asked to read them correctly and with a from the range of methods available.
certain speed. For instance, someone Most language teaching today aims to
reads word by word. Someone reads with achieve oral communication, although
his finger pointing to the words or with his some CRAMLAP questionnaire
head shaking. Those are all bad habits. respondents place greater emphasis
They should read phrase by phrase. Do upon grammatical mastery and reading.
not blink eyes so often and shake head.
Just move the eyeball. That is enough. If In attempting to define what
they want to get more word information, ‘method’ is, we can consider Edward
there must be a proper distance between Anthony’s tripartite distinction of
their eyes and the reading material. Approach, Method and Technique
Finally, Writing is one way of (Anthony: 1963).
providing variety in classroom This distinction was developed and
procedures. It provides a learner with recast by Richards and Rodgers (1982,
physical evidence of his achievements 1985) as Approach, Design and
and he can measure his improvement. It Procedure encompassed within the
helps to consolidate their grasp of overall concept of Method, “an umbrella
vocabulary and structure, and term for the specification and interrelation
complements the other language skills. of theory and practice” (Richards &
Sentence is the base of an article. So he Rodgers 1985: 16) where
should begin his writing with sentences.
For example, translation, sentence  Approach refers to the
pattern exchanging, and text shortening beliefs and theories about language,
and rewriting. It helps to understand the language learning and teaching that
text and write compositions. It can foster underlie a method
the learner’s ability to summarize and to  Design specifies how
use the language freely. theories of language and learning are
Generally these four skills cannot implemented in a syllabus model and
be separated. People often say “First teaching and learning activities and
listening and speaking, then reading and materials in the classroom
writing.” But this way of saying is fit for  Procedure concerns the
the beginning stage. Before they are techniques and practices employed in the
going to have a new lesson, do reading classroom as consequences of particular
and writing first. So, training and approaches and designs.
practicing helps learners that raise their
ability of language skills. (Richards & Rodgers 1985:17)

17. Methodology in Second Language There are many publications


Teaching available discussing the various methods.
We have drawn here, inter alia, upon
Debate and developments around Chapter Two of H. Douglas Brown’s
the methods of language teaching and Teaching by Principles: An Interactive
learning have been ongoing since the Approach to Language Pedagogy
120
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

(Longman/ Pearson Education, White exercices, memorizing vocabulary,


Plains, New York, 2nd edition 2001). translating texts from and prose passages
into the language. It remained popular in
Brown draws a distinction between modern language pedagogy, even after
methods as “specific, identifiable clusters the introduction of newer methods. In
of theoretically compatible classroom America, the Coleman Report in 1929
techniques” (p15), and methodology as recommended an emphasis on the skill of
“pedagogical practices in reading in schools and colleges as it was
general…Whatever considerations are felt at that time that there would be few
involved in ‘how to teach’ are opportunities to practise the spoken
methodological” (ibid.). language. Internationally, the Grammar-
Translation method is still practised
A glance through the past century today, not only in courses, including
or so of language teaching will give an CRAMLAP respondents, teaching the
interesting picture of how varied the older forms of languages (Latin, Greek,
interpretations have been of the best way Old Irish etc.) where its validity can still be
to teach a foreign language. As argued in light of expected learning
disciplinary schools of thought – outcomes, but also, with less justification,
psychology, linguistics, and education, for in some institutions for modern language
example – have come and gone, so have courses. Prator and Celce-Murcia
language-teaching methods waxed and (1979:3) listed the major characteristics of
waned in popularity. Teaching methods, Grammar-Translation:
as “approaches in action,” are of course
the practical application of theoretical  Classes are taught in the
findings and positions. In a field such as mother tongue, with little active use of the
ours that is relatively young, it should target language;
come as no surprise to discover a wide  Much vocabulary is taught in
variety of these applications over the last the form of lists of isolated words;
hundred years, some in total  Long, elaborate
philosophical opposition to others. explanations of the intricacies of grammar
are given;
Albert Marckwardt (1972:5) saw  Grammar provides the rules
these “changing winds and shifting for putting words together, and instruction
sands” as a cyclical pattern in which a often focuses on the form and inflection of
new method emerged about every words;
quarter of a century. Each new method  Reading of difficult classical
broke from the old but took with it some of texts is begun early;
the positive aspects of the previous  Little attention is paid to the
practices context of texts, which are treated as
exercices in grammatical analysis;
Brown 2001: 17-18  Often the only drills are
exercices in translating disconnected
The Grammar-Translation Method sentences from the target language into
The Classical or Grammar- the mother tongue;
Translation method represents the  Little or no attention is given
tradition of language teaching adopted in to pronunciation.
western society and developed over
centuries of teaching not only the The Direct Method
classical languages such as Latin and While Henri Gouin’s The Art of
Greek, but also foreign languages. The Learning and Studying Foreign
focus was on studying grammatical rules Languages, published in 1880, can be
and morphology, study, doing written seen as the precursor of modern
121
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

language teaching methods with its conversation practices rather than


‘naturalistic’ approach, the credit for promoting communicative ability.
popularising the Direct Method usually Characteristics of the Audiolingual
goes to Charles Berlitz, although he Method:
marketed it as the Berlitz Method.  New material is presented in
The basic premise of the Direct dialogue form;
Method was that one should attempt to  There is dependence on
learn a second language in much the mimicry, memorization of set phrases,
same way as children learn their first and overlearning
language. The method emphasised oral  Structures are sequenced
interaction, spontaneous use of language, by means of contrastive analysis taught
no translation between first and second one at a time;
languages, and little or no analysis of  Structural patterns are
grammar rules. taught using repetitive drills;
Richards and Rodgers  There is little or no
summarized the principles of the Direct grammatical explanation. Grammar is
method as follows (2001: 12) taught by inductive analogy rather than by
 Classroom instruction was deductive explanation;
conducted exclusively in the target  Vocabulary is strictly limited
language; and learned in context;
 Only everyday vocabulary  There is much use of tapes,
and sentences were taught; language labs, and visual aids;
 Oral communication skills  Great importance is
were built up in a carefully traded attached to pronunciation;
progression organized around questions-  Very little use of the mother
and-answer exchanges between teachers tongue by teachers is permitted;
and students in small intensive classes;  Successful responses are
 Grammar was taught immediately reinforced;
inductively;  There is a great effort to get
 New teaching points were students to produce error-free utterances;
taught through modelling and practice;  There is a tendency to
 Concrete vocabulary was manipulate language and disregard
taught through demonstration, objects, content.
pictures; Abstract vocabulary was taught (adapted from Prator & Celce-
through association of ideas; Murcia 1979)
 Both speech and listening
comprehension were taught; Cognitive Code Learning
 Correct pronunciation and With the Chomskyan revolution in
grammar were emphasized. linguistics, attention of linguists and
language teachers was drawn towards
The Audiolingual Method the ‘deep structure’ of language and a
The Audiolingual Method is derived more cognitive psychology. Chomsky’s
from "The Army Method," so called theory of Transformational-generative
because it was developed through a U.S. Grammar focused attention again on the
Army programme devised after World rule-governed nature of language and
War II to produce speakers proficient in language acquisition rather than habit
the languages of friend and foes. In this formation. This gave rise in the 1960s to
method, grounded in the habit formation Cognitive Code Learning where
model of behaviourist psychology and on learners were encouraged to work out
a Structural Linguistics theory of grammar rules deductively for
language, the emphasis was on themselves.
memorisation through pattern drills and
122
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

This method had limited success


as the cognitive emphasis on rules and
paradigms proved as unattractive as
behaviourist rote drilling. There is also
confusion for practitioners, with Nunan
(2003: 6) ascribing inductive reasoning to
it, while Brown (2001: 24) notes that
proponents of a cognitive code learning
methodology injected more deductive rule
learning into language classes

Alternative or ‘Designer’
methods
The 1970s saw the emergence of
some alternative, less-commonly used
methods and approaches, such as
Suggestopedia; The Silent Way; Total
Physical Response. An overview table
of these ‘Designer’ methods is provided
by Nunan (1989: 194-195) and Brown
(2001: chapter 2).
Krashen
The Natural Approach was based
The Natural Approach
upon Krashen’s theories of second
The Natural Approach, with echoes
language acquisition, and his Five
of the ‘naturalistic’ approach of the Direct
Hypotheses. As we shall see, Krashen’s
Method, was developed by Krashen and
influence went beyond this particular
Terrell (1983). It emphasised
method and as such merits closer
“Comprehensible Input”, distinguishing
attention.
between ‘acquisition’ – a natural
subconscious process, and ‘learning’ – a
conscious process. They argued that
learning cannot lead to acquisition. The
focus is on meaning, not form (structure,
grammar).
Nunan’s overview of the Natural
Approach (1989, 194-195), adapted here,
outlines its characteristics:
123
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

materials and pragmatic, meaningful


tasks.

Communicative Language
Teaching (CLT) has emerged as the
norm in second language teaching. As a
broadly-based approach, there are any
number of definitions and interpretations,
but the following interconnected
characteristics offered by Brown (2001:
43) provide a useful overview:

1. Classroom goals are


focused on all of the components
(grammatical, discourse, functional,
sociolinguistic, and strategic) of
communicative competence. Goals
therefore must intertwine the
organizational aspects of language with
the pragmatic.
2. Language techniques are
designed to engage learners in the
The use of the term ‘Natural pragmatic, authentic, functional use of
Approach’ rather than ‘Method’ highlights language for meaningful purposes.
the development of a move away from Organizational language forms are not
‘method’ which implies a particular set of the central focus, but rather aspects of
features to be followed, almost as a language that enable the learner to
panacea, to ‘approach’ which starts from accomplish those purposes.
some basic principles which are then 3. Fluency and accuracy are
developed in the design and development seen as complementary principles
of practice in teaching and learning. It is underlying communicative techniques. At
now widely recognised that the diversity times fluency may have to take on more
of contexts requires an informed, eclectic 4. importance than accuracy in
approach. To quote Nunan order to keep learners meaningfully
It has been realized that there engaged in language use.
never was and probably never will be a 5. Students in a
method for all, and the focus in recent communicative class ultimately have to
years has been on the development of use the language, productively and
classroom tasks and activities which are receptively, in unrehearsed contexts
consonant with what we know about outside the classroom. Classroom tasks
second language acquisition, and which must therefore equip students with the
are also in keeping with the dynamics of skills necessary for communication in
the classroom itself (Nunan 1991: 228) those contexts.
6. Students are given
Communicative Language Teaching opportunities to focus on their own
During the 1980s and 1990s learning process through an
approaches emerged which concentrated understanding of their own styles of
on the fundamentally communicative learning and through the development of
functions of language and language appropriate strategies for autonomous
classrooms were characterized by learning.
attempts to ensure authenticity of 7. The role of the teacher is
that of facilitator and guide, not an all-
124
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

knowing bestower of knowledge. 18.1. Nouns


Students are therefore encouraged to Nouns are one of the four major
construct meaning through genuine word classes, along with verbs,
linguistic interaction with others. adjectives and adverbs. Nouns are the
The breadth of possible largest word class.
applications can lead to
misinterpretations. In the United Types of nouns
Kingdom, for example, the National A noun refers to a person, animal
Curriculum introduced in 1988 led to a or thing. Some examples are:
topic-based emphasis that sidelined the Nouns referring to people
role of grammar, arguing from Krashen
that comprehensible input alone was
required. This ignored, however, the
difference in context between transitional
bilingual education for Spanish speakers
in the USA and the few classes a week
offered in British schools.

Functional-Notional Syllabus
The move from method to
approach has also focused on syllabus
design. The Notional/ Functional
Syllabus (NFS) has been associated with
CLT. The content of language teaching is
organised and categorized by categories
of meaning and function rather than by
elements of grammar and structure. The
work of Van Ek and Alexander (1975) for
the Council of Europe and Wilkins (1976)
has been influential in syllabus design up
to the present day, and the Common
European Framework of Reference
(CEFR).
The A1 Syllabus for Irish presented
in CRAMLAP follows the
recommendations of the CEFR and owes
much to the NFS concept. It is a syllabus, The woman in the picture is
not a pedagogy, and due consideration my mother.
must be given to the role of grammatical Her name is Anna. She’s
form in teaching it. from Manchester.
The Framework cannot replace The diagram shows the different
reference grammars or provide a strict types of nouns and how they relate to
ordering (though scaling may involve one another.
selection and hence some ordering in Most nouns are common nouns,
global terms) but provides a framework referring to classes or categories of
for the decisions of practitioners to be people, animals and things.
made known. (Council of Europe 2001a: Proper nouns are the names of
152) specific people, animals and things.
They are written with a capital letter at
18. Grammar Topics the start.

125
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

Concrete nouns refer to material


objects which we can see or touch. Smoking is forbidden on all flights.
Abstract nouns refer to things
which are not material objects, such as The City Council does its economic
ideas, feelings and situations. planning every September.
See also:
 Nouns: countable and 18.2. Pronouns
uncountable
Pronouns are words that substitute
for nouns.
IDENTIFYING NOUNS
It is not always possible to identify Every pronoun must have a clear
a noun by its form. However, some word antecedent (the word for which the
endings can show that the word is pronoun stands).
probably a noun.
KINDS OF PRONOUNS

A. Personal Pronouns:

Personal pronouns have the


following characteristics:

1. three persons (points of view)

1st person - the one(s)


speaking (I me my mine we us our
ours)
2nd person - the one(s)
spoken to (you your yours)
3rd person - the one(s) spoken
about (he him his she her hers it its
they their theirs)

Examples
Gerunds

The -ing forms of verbs (gerunds) can


also act as nouns.
126
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

Examples

4. three cases
subjective
(I you he she it we they)
possessive (my mine your yours hi
s her hers our ours their theirs)
objective (me you him her it us th
em)

2. three genders Examples - subjective case

feminine (she her hers)


masculine (he him his)
neuter (it its they them their theirs)

Examples

Examples - possessive case

3. two numbers

singular
(I me my mine you your yours he hi
m his she her hers it its)
plural (we us our ours you your
yours they them their theirs)
Examples - objective case
127
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

Example:

She wanted that much money?


(that describes the adjective much)
C. Reflexive / Intensive Pronouns :
the "self" pronouns
These pronouns can be used only
to reflect or intensify a word already there
in the sentence.

Reflexive / intensive pronouns


CANNOT REPLACE personal pronouns.

Examples:

I saw myself in the mirror. (Myself


is a reflexive pronoun, reflecting the
pronoun I.)
I’ll do it myself. (Myself is an
NOTE: Because of pronoun case, intensive pronoun, intensifying the
the pronoun's form changes with its pronoun I.)
function in the sentence. Follow this link Note: The following words are
to pronoun case for more information. substandard and should not be used:
theirselves theirself hisself
ourself
B. Demonstrative Pronouns:
D. Indefinite Pronouns:

Singular:

Demonstrative pronouns can also


be used as determiners.
Examples:
Example:
Examples: Somebody is coming to dinner.
Neither of us believes a word Harry says.
Plural:
Both are expected at the
airport at the same time.
Several have suggested
canceling the meeting.

Demonstrative pronouns can also


be used as qualifiers: Examples:

128
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

Both are expected at the Interrogative pronouns produce


airport at the same time. information questions that require more
Several have suggested than a “yes” or “no” answer.
canceling the meeting.
Examples:
Singular with non-countables / Plural
with countables: What do you want?

Who is there?

F. Relative Pronouns:

Examples:

Some of the dirt has become a Relative pronouns introduce relative


permanent part of the rug. (adjectival) clauses.
Some of the trees have been weakened
by the storm.
Indefinite pronouns use apostrophes to
indicate possessive case.

Examples:

The accident is nobody’s fault.


How will the roadwork affect one's daily
commute?
Some indefinite pronouns may also be
used as determiners.

one, each, either, neither, some,


any, one, all, both, few, several, many,
Note: Use who, whom, and whose to
most
refer to people.
Note the differences:
Use that and which to refer to things.
Each person has a chance.
(Each is a determiner describing 18.3. Verb tenses and forms
person.)
Each has a chance. Knowing when to use
(Each is an indefinite pronoun different verb tenses and forms will be
replacing a noun.) extremely beneficial to you on the ACT
Both lawyers pled their cases well. English section because these concepts
(Both is a determiner describing are tested repeatedly on the ACT. Get
lawyers.) excited for a fun-filled journey into the
vivid, action-filled world of verbs.
Both were in the room. In this post, I’ll do the following:
(Both is an indefinite pronoun  Define the verb tenses and
replacing a noun.) forms that are tested on the ACT.
E. Interrogative Pronouns  Provide information about
when to use different verb tenses.
 Detail how to construct
verbs in different tenses.
129
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

 Explain and demonstrate Simple Past


how verbs are tested on the ACT. Function
 Provide practice questions Generally, any sentence that
to test you on what you’ve learned. describes a completed action should
contain a verb in the past tense.
Verb Tenses You Need To Know
While you don’t need to know the Construction
names of verb tenses for ACT English, Typically the simple past tense of a
you do need to know when and how to verb is formed by adding “ed” to the verb.
properly use different verb tenses. The past tense of “play” is “played.” The
past tense of “listen” is “listened” and the
Present past tense of “discuss” is “discussed.”
Function Here's an example sentence with a verb
The present tense is the verb in the simple past tense:
tense you use when you're talking Yesterday, George listened to
about things that are currently Miley Cyrus songs for seven hours.
happening or things that are
considered facts. Examples of verbs in Many verbs don't follow this
the present tense are “jumps," “sings," construction and the past tense is formed
and “explain.” irregularly. For example, "buy" becomes
Also, the present progressive is "bought," "come" becomes "came," and
considered a form of the present tense. "grow" becomes "grew."
The present progressive is formed with
the present tense of “to be” + the gerund
(“ing”) form of the word. Examples include
"am explaining," "is running," and "are
laughing." Typically, words like “currently”
or “now” indicate that you should use the
present tense of a verb.
Check out this example sentence:
Currently, I am taking over the
world.
onstruction

Here is the conjugation of the verb


"jump" in the present tense.
Present Perfect
Function
Use the present perfect tense
for actions that began in the past but
are still continuing in the present.

Construction
The present perfect is formed
with has/have + the past participle. For
regular verbs, the past participle is
The present tense is not formed by adding "ed" to the verb.
specifically tested on ACT English, but Examples of present perfect verbs
you do need to know how to properly include "has talked," "have done," and
conjugate verbs in the present tense "has brought."
for subject-verb agreement questions. Check out this example sentence:

130
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For the past seven hours, Consistency


George has listened to Miley Cyrus Most of the verb tense questions
songs. on the ACT English section have to do
As shown in this example, the with consistency. The basic consistency
words “for” and “since” often indicate that rule regarding verbs is that verbsshould
the present perfect tense is needed. Be remain consistent in tense or form
aware, however, that there are other throughout a sentence. Sentences that
instances when context determines that start in the past should stay in the past
you should use the present perfect tense. and sentences that start in the present
should stay in the present. Here's an
Past Perfect incorrect sentence that doesn't follow the
Function consistency rule:
When a sentence describes two Maria studies science
completed actions, the past perfect is and played lacrosse.
used for the action that came first.
The verb “studies” is in the present
Construction tense and “played” is in the past. The
The past perfect tense is formed verb tenses should be consistent. This is
with had + the past participle. Examples the corrected version of the same
of past perfect verbs include "had talked," sentence:
"had danced," and "had grown." Maria studies science
Take a look at this sentence that and plays lacrosse.
shows the past perfect tense used
correctly: We could have corrected the
By the time his mom came home sentence by changing "studies" to
from work, George had listened to Miley "studied". The important thing to
Cyrus songs for seven hours. remember is that the verb tenses should
be consistent.
The seven hours of listening Sometimes, however, you can
were completed before George's mom have a shift in tense and the sentence
came home, so we use the past perfect can still be correct. This kind of
tense of the verb "to listen." The action construction is only possible if the verbs
that comes first should be in the past are in different clauses. Take a look at
perfect tense. these examples:
Now that we're familiar with these Justin bought a Honda
basic verb tenses, we have the necessary and saves money on gas.
foundation to discuss exactly how verb Justin bought a Honda so that
tenses and forms are tested on the ACT. he can save money on gas.
The first sentence is incorrect
How Are Verb Tenses and since "bought" and "saves" are in different
Forms Tested on the ACT? tenses but the same clause.
Most of the verb questions on ACT The second sentence, on the other
English correspond with only a couple of hand, is correct. The tense shift takes
rules. Proper verb tense or form is place in a different clause and the two
determined by the context clues given in verbs are occurring at different times:
the sentence and the surrounding Justin bought the car in the past, but he
sentences. Here are some of the specific can save money on gas in the present.
ways in which verb forms are tested on
the ACT.

131
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

Actual ACT Example


Rely on your verb knowledge to
figure out this actual ACT English
question.

Justin rolls in style.

On the ACT, the verb tenses of


surrounding sentences can provide
context clues for the proper tense to use
in a given sentence to maintain Explanation: From the answer
consistency. Take a look at this example: choices, we can tell that we're most likely
Unsurprisingly, dealing with a verb tense question
Suzanne likes frozen yogurt. because three of the four answer choices
It was delicious. are in different verb tenses: "they were,"
"they would," and "they're."
The shift from the present tense, Whenever you have an underlined
"likes," in the first sentence to the past verb, check for possible verb tense
tense, "was," in the second sentence errors. The verbs "continue" in the first
doesn't make sense in context. The sentence and "score" in the second are in
tenses should remain consistent. Here's the present tense. The shift to the past
the correct version of the sentences. tense, "were," doesn't make sense given
Unsurprisingly, the context.
Suzanne likes frozen yogurt. Therefore, to maintain consistency,
It is delicious. the verbs should be in the present tense.
Immediately, we can get rid of answer
Now, let's go over some tips for choices A and B. Answer choice D is
answering ACT questions that test verb wrong because it unnecessarily adds the
tense consistency. infinitive "to be." The correct answer is
C.
Strategy Here's another example of an
Here's some strategic advice for actual ACT question that tests verb tense
you: if a verb is underlined and the consistency.
answer choices are different tenses of the
same verb, look at the surrounding Actual ACT Example
sentences (a sentence or two before Go through the same process that
and after) for context clues about the we went through in the previous question
proper tense to use. If there are multiple to answer this ACT English question.
verbs in a sentence, identify the tenses to
make sure they're consistent. If there's a
shift from past to present or vice versa,
determine if the variation is acceptable
given the context of the sentence.
Use these tips to answer the
following example from a real ACT.

132
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Explanation: This is an obvious


verb tense question. Only the verb is
underlined and each answer choice is in
a different tense.
In the first sentence, the simple
past tense verb “encountered” indicates Explanation: Once again, we're
that we’re referring to completed actions. dealing with an obvious verb tense
However, the present perfect verb “have question. Only the verb "have" is
borrowed” can only be used for an action underlined and the answer choices are all
that is still happening. The context of the different verb tenses. The verbs “took” in
sentence implies that the sentence is “took part” and "conducted" are in the
referring to a completed action and the simple past tense. The first sentence is
verb tenses in the two sentences should referring to completed actions that took
be consistent. place from 1942-1945.
Once you identify that this is a Based on context, we can imply
consistency question, you can that the verb “have” is referring to what
immediately eliminate any answer choice happened before 1942. Therefore, we
that isn't in the simple past tense. After should use the past perfect tense
eliminating answer choices, we're left because we are referring to the
with J. completed action that came first. Instead
Here's one final verb consistency of “have been using,” the correct verb
example for you. Because tense form is “had been using.” The answer is
consistency questions are the most G. Even if you didn't recognize that you
common verb form questions, I want to needed to use the past perfect tense, you
make sure you fully understand them. could have recognized that you needed
to change "have" to the past tense due to
Actual ACT Example verb consistency rules.
Employ your verb expertise to
figure out the correct answer to this real
ACT question.

133
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

incorrect. These tenses can only be


used in very specific situations. That's
pretty much all you need to know.
I'm not going into more depth
because "would" and "will" questions very
rarely appear and this is the only strategy
you need to use on the ones I've seen.
Most of them simply require you to pay
attention to consistency rules.

Here's one final type of verb form


Remember to keep verb tenses
question that can appear on the ACT. It's
consistent.
the least common, but questions of this
type have appeared on previous tests.
Would and Will
Verb forms with "would" and "will"
Verbs That Don't Act Like Verbs
are less frequently tested on the ACT
Gerunds, infinitives,
English section, but they do occasionally
and participles are all verb forms that
appear. For the ACT, just keep in mind
don't act like verbs. Gerunds and
to use "would" in sentences with past
infinitives function like nouns. A gerund
tense verbs and "will" in sentences
is formed by adding "ing" to the end of
with present or future tense verbs.
the verb and an infinitive is formed by
The construction of verbs with
adding "to" + the verb.
"would" and "will" are "would" + the
A participle is a verb that acts like
verb, known as the conditional tense,
an adjective. Typically, participles end in
or "will" + the verb, known as the future
"ing" or "ed," but there are irregularly
tense. Some examples include "would
formed participles.
run," "would go," and "will talk."
On the ACT, on rare occasions
Use the conditional tense to
one of these types of words will be used
describe things that could occur or
in the place of a verb or vice versa.
things that haven't yet occurred from
the perspective of the past.
Strategy
Use the future tense to describe
If a verb or one of these "verbs that
things that have not yet occurred or
don’t act like verbs” is underlined, make
could occur in the future.
sure that it is being used properly. Each
On the ACT, answer choices
sentence must express a complete
containing “will have” and “would have”
thought.
are almost always incorrect because they
tend to cause improper tense switches
Realistic ACT Example
and make sentences unnecessarily
The extreme length of this article
wordy. The “would have” construction can
suggests that writing for an extended
only be used for something that could
period of time.
have happened, but didn’t. The “will have”
A. NO CHANGE
construction describes an action in the
B. the manner
future that will be finished before a
in which writing
second action.
C. that I wrote
Check out this basic strategy for
D. which had written
these questions.
Explanation: The use of the
Strategy
gerund, “writing," makes the sentence an
If “would have” or “will have” is
incomplete thought. The sentence needs
underlined, assume it’s
to express a complete thought. Changing
134
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the gerund to a verb and putting in a Context clues are placed around
subject (the person who did the action) the verb to indicate the proper verb tense.
corrects the sentence fragment without 18.4. Preposition sand conjunctions
adding an additional clause. The answer
is C. All of the other answer choices are Words that are sometimes
sentence fragments. conjunctions can act as prepositions.
Here are some more general rules The subordinating conjunctions
to keep in mind that will help you correctly BEFORE, AFTER and UNTIL can act as
answer all verb questions on the ACT. prepositions when they are followed by
objects rather than dependent clauses.
Remember that a clause has a
subject and a verb. A prepositional
phrase does not.
PREPOSITION
 Charlie will wait
here until sunset.
UNTIL connects the object of the
preposition SUNSET with the clause.
NOTE: The entire prepositional
phrase is an adverb, not one word.
Remember these tips!!  It will be some
time before summer.
General Strategies for Verb BEFORE connects the object of
Questions the preposition SUMMER with the clause.
 After that effort, everyone
#1: If a Verb is Underlined and doubts whether she can win.
the Answer Choices are Different AFTER THAT EFFORT is an
Tenses, Make Sure To Use the adverbial phrase and AFTER is a
Appropriate Form of the Verb preposition.
If the answer choices are different CONJUNCTION
tenses of the same verb, then you're  Charlie will wait
probably answering a question about verb here until we finish the test.
forms. Make sure that the verb follows UNTIL connects the independent
consistency rules and the tense is clause to the dependent clause.
correct. NOTE: CHARLIE WILL WAIT is
If the answer choices are different connected to WE FINISH.
conjugations of a verb in the present  It will be some
tense, you're most likely dealing with a time before the seasons change.
subject-verb agreement question instead. BEFORE connects the IT WILL BE
to SEASONS CHANGE.
#2: Look for Words/Phrases  After she did so badly,
That Indicate Which Verb Tense everyone doubted whether she could win.
Should Be Used AFTER connects SHE DID with
Often, words or phrases elsewhere EVERYONE DOUBTED.
in the sentence or in surrounding
sentences will let you know what tense to 18.5. Preposition alphrases;
use. If a date in the past is referenced,
you should probably use a form of the Prepositional phrases consist of a
past tense. If the word “since” is written, preposition and the words which follow it
there should probably be a present (a complement). The complement
perfect verb. (underlined below) is most commonly a
noun phrase or pronoun, but it can also
135
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be, an adverb phrase (usually one of forms a verb which has a single
place or time), a verb in the -ing form or, meaning. We call such verbs ‘phrasal
less commonly, a prepositional phrase or prepositional verbs’. Their meaning is
a wh-clause: often not related to the meaning of the
They first met at a original verb:
party. (preposition + noun phrase) She really looks up to her
She was taken ill during the grandfather. (admires)
film. (preposition + noun phrase) We’re all looking forward
Would you like to to having a few days’ holiday
come with me please? (preposition + together. (anticipate with pleasure)
pronoun) See also:
From there, it’ll take you about  Verbs: multi-word verbs
half an hour to our house. (preposition +
adverb)
Until quite recently, no one knew 18.6. Articles
about his paintings. (preposition + Assim como no português, os
adverb phrase) artigos em inglês também são
She’s decided on doing a Chinese classificados em definidos e indefinidos.
language course. (preposition + - O artigo definido é o THE (o, a, os,
ing clause) as), e os indefinidos são A, AN (um,
Not: … decided on to do … uma).
It’s a machine for making ice- THE:
cream. (preposition + -ing clause) O artigo definido é usado:
If you can wait until after my • antes de substantivos que podem
meeting with Jack, we can talk ser precedidos ou não por adjetivos.
then. (preposition + prepositional phrase) Ex: the girl (a menina) the pretty girl (a
We were really surprised at what menina bonita)
they wrote. (preposition + wh-clause) • antes de nomes de instrumentos
We can put an adverb before a musicais ou nomes de famílias.
preposition to modify it. This applies Ex: the piano (o piano) the Kennedys (os
mainly to prepositions of time or place Kennedys)
which are gradable (above, before, far, • antes de nomes de oceanos,
deep, down, opposite): mares, ilhas, rios, montanhas, países,
They’ve moved far into the hotéis, cinemas, teatros, trens e navios.
country. Ex: the Pacific (o Pacífico)
They left the party just before us. the United States (os Estados Unidos),
You can’t miss it. His office etc.
is almost opposite the coffee machine. • antes de um representante de
uma classe ou espécie.
PREPOSITIONAL PHRASES Ex: the poor (os pobres) the rich (os
AFTER VERBS ricos)
Prepositional phrases can be • antes de um substantivo único na
complements of verbs. If we need a espécie.
special preposition to introduce the Ex: the earth (a terra) the sun (o sol)
complement of the verb, we call such
verbs ‘prepositional verbs’: Quando o artigo the é omitido:
Do these keys belong to you? • antes de nomes próprios, nomes
We’re not happy but we de línguas e ciências.
do approve of their decision. Ex: Beth English (Inglês) geography
We sometimes use an adverb (geografia)
particle before the preposition. The verb • antes de substantivos de uso
+ adverb particle + preposition structure comum e de substantivos incontáveis.
136
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Ex: gold (ouro) money (dinheiro) coffee She will arrive in an hour (this
(café) adverb phrase tells when)
• antes de pronomes possessivos. Let's go outside (tells where)
Ex: our dress (nosso vestido) their house We looked in the basement (this
(casa deles(as)) adverb phrase tells where)
• antes de alguns substantivos Bernie left to avoid trouble (this
como home, church, school, hospital, adverb phrase tells why)
bed, prison,quando usados para o seu Jorge works out strenuously (tells
propósito original. to what extent)
Ex: I go to church. (to pray) Jorge works out whenever possible
Eu vou para a igreja. (para rezar) (this adverb phrase tells to what extent)
I go to school. (to study)
Eu vou para a escola. (para estudar)
A, AN
Existem dois artigos indefinidos Rule 1. Many adverbs end in -ly,
com usos diferentes no inglês: a, an but many do not. Generally, if a word can
• A: é usado antes de sons de have -ly added to its adjective form, place
consoantes. it there to form an adverb.
Ex: a car (um carro) a chair (uma cadeira)
• AN: é usado antes de sons de Examples:
vogais. She thinks quick/quickly.
Ex: an egg (um ovo) an umbrella (um How does she think? Quickly.
guarda-chuva)
She is a quick/quickly thinker.
18.7. Adjectives and adverbs; Quick is an adjective describing
thinker, so no -ly is attached.
An adjective is a word or set of
words that modifies (i.e., describes) a She thinks fast/fastly.
noun or pronoun. Adjectives may come Fast answers the question how, so
before the word they modify. it is an adverb. But fast never has -ly
Examples: attached to it.
That is a cute puppy.
She likes a high school senior. We performed bad/badly.
Badly describes how we
Adjectives may also follow the performed, so -ly is added.
word they modify: Rule 2. Adverbs that answer the
question how sometimes cause
Examples: grammatical problems. It can be a
That puppy looks cute. challenge to determine if -ly should be
The technology is state-of-the-art. attached. Avoid the trap of -ly with linking
verbs such as taste, smell, look, feel,
An adverb is a word or set of which pertain to the senses. Adverbs are
words that modifies verbs, adjectives, or often misplaced in such sentences, which
other adverbs. Adverbs answer how, require adjectives instead.
when, where, why, or to what extent—
how often or how much (e.g., daily, Examples:
completely). Roses smell sweet/sweetly.
Examples: Do the roses actively smell with
He speaks slowly (tells how) noses? No; in this case, smell is a linking
He speaks very slowly (the adverb verb—which requires an adjective to
very tells how slowly) modify roses—so no -ly.
She arrived today (tells when)
137
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

The woman looked angry/angrily to


us.
Did the woman look with her eyes,
or are we describing her appearance?
We are describing her appearance (she
appeared angry), so no -ly.
A common error in using adjectives
The woman looked angry/angrily at
and adverbs arises from using the wrong
the paint splotches.
form of comparison. To compare two
Here the woman actively looked
things, always use
(used her eyes), so the -ly is added.
a comparative adjective:
Example: She is the cleverer of
She feels bad/badly about the
the two women (never cleverest)
news.
The word cleverest is what is
She is not feeling with fingers, so
called the superlative form of clever. Use
no -ly.
it only when comparing three or more
things:
Example: She is the cleverest of
Rule 3. The word good is an
them all.
adjective, whose adverb equivalent is
Incorrect: Chocolate or vanilla:
well.
which do you like best?
Correct: Chocolate or vanilla:
Examples:
which do you like better?
You did a good job.
Good describes the job.
Rule 6. There are also three
degrees of adverbs. In formal usage, do
You did the job well.
not drop the -ly from an adverb when
Well answers how.
using the comparative form.
Incorrect: She spoke quicker than
You smell good today.
he did.
Good describes your fragrance,
Correct: She spoke more
not how you smell with your nose, so
quickly than he did.
using the adjective is correct.
Incorrect: Talk quieter.
Correct: Talk more quietly.
You smell well for someone with a
Rule 7. When this, that,
cold.
these, and those are followed by a noun,
You are actively smelling with your
they are adjectives. When they appear
nose here, so use the adverb.
without a noun following them, they are
Rule 4. The word well can be an
pronouns.
adjective, too. When referring to health,
Examples:
we often use well rather than good.
This house is for sale.
This is an adjective.
Examples:
This is for sale.
You do not look well today.
This is a pronoun.
I don't feel well, either.
Rule 5. Adjectives come in three
18.8. Comparatives and superlatives
forms, also called degrees. An adjective
in its normal or usual form is called a
Comparative adjectives are used
positive degree adjective. There are also
to compare differences between the two
the comparative and superlative degrees,
objects they modify (larger, smaller,
which are used for comparison, as in the
faster, higher). They are used in
following examples:
138
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

sentences where two nouns are on the number of syllables in the original
compared, in this pattern: adjective.

Noun (subject) + verb + ONE SYLLABLE ADJECTIVES


comparative adjective + than + noun
(object). Add -er for the comparative and -
The second item of comparison est for the superlative. If the adjective has
can be omitted if it is clear from the a consonant + single vowel + consonant
context (final example below). spelling, the final consonant must be
doubled before adding the ending.
EXAMPLES

My house is larger than hers.


This box is smaller than the one I
lost.
Your dog runs faster than Jim's
dog.
The rock flew higher than the roof.
Jim and Jack are both my friends,
but I like Jack better. ("than Jim" is
understood)
SUPERLATIVE ADJECTIVES
Superlative adjectives are used to
describe an object which is at the upper
or lower limit of a quality (the tallest, the
smallest, the fastest, the highest). They
are used in sentences where a subject is TWO SYLLABLES
compared to a group of objects. Adjectives with two syllables can
form the comparative either by adding -
Noun (subject) + verb + the + er or by preceeding the adjective
superlative adjective + noun (object). with more. These adjectives form the
superlative either by adding -est or by
The group that is being compared preceeding the adjective with most. In
with can be omitted if it is clear from the many cases, both forms are used,
context (final example below). although one usage will be more common
than the other. If you are not sure
EXAMPLES whether a two-syllable adjective can take
a comparative or superlative ending, play
My house is the largest one in our it safe and use moreand most instead.
neighborhood. For adjectives ending in y, change the y
This is the smallest box I've ever to an i before adding the ending.
seen.
Your dog ran the fastest of any dog
in the race.
We all threw our rocks at the same
time. My rock flew the highest. ("of all the
rocks" is understood)
FORMING REGULAR
COMPARATIVES AND SUPERLATIVES
Forming comparatives and
superlatives is easy. The form depends

139
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

 I ran pretty far yesterday,


but I ran even farther today.

18.9. Parallel structure;

Parallel structure means using the


same pattern of words to show that two or
more ideas have the same level of
importance. This can happen at the word,
phrase, or clause level. The usual way to
join parallel structures is with the use of
coordinating conjunctions such as "and"
or "or."
Words and Phrases
With the -ing form (gerund) of
THREE OR MORE SYLLABLES words:
Adjectives with three or more Parallel:
syllables form the comparative by Mary likes hiking, swimming, and
putting more in front of the adjective, and bicycling.
the superlative by putting most in front. With infinitive phrases:
Parallel:
Mary likes to hike, to swim,
and to ride a bicycle.
OR
Mary likes to hike, swim, and ride a
bicycle.
(Note: You can use "to" before all
the verbs in a sentence or only before the
first one.)
Do not mix forms.
Example 1
Not Parallel:
Mary likes hiking, swimming, and to
ride a bicycle.
Parallel:
Mary likes hiking, swimming, and
riding a bicycle.
Example 2
Not Parallel:
The production manager was asked to
write his report quickly, accurately,
and in a detailed manner.
EXAMPLES Parallel:
 Today is the worst day I've The production manager was asked to
had in a long time. write his report quickly, accurately, and
 You play tennis better than I thoroughly.
do. Example 3
 This is the least expensive Not Parallel:
sweater in the store. The teacher said that he was a poor
 This sweater student because he waited until the last
is less expensive than that one. minute to study for the exam,

140
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

completed his lab problems in a careless Not Parallel:


manner, and his motivation was low. The dictionary can be used to find
Parallel: these: word
The teacher said that he was a poor meanings, pronunciations, correct
student because he waited until the last spellings, and looking up irregular
minute to study for the exam, verbs.
completed his lab problems in a careless Parallel:
manner, and lacked motivation. The dictionary can be used to find
Clauses these: word
A parallel structure that begins with meanings, pronunciations, correct
clauses must keep on with clauses. spellings, and irregular verbs.
Changing to another pattern or changing Proofreading Strategies to Try:
the voice of the verb (from active to  Skim your paper, pausing at
passive or vice versa) will break the the words "and" and "or." Check on each
parallelism. side of these words to see whether the
Example 1 items joined are parallel. If not, make
Not Parallel: them parallel.
The coach told the players that they  If you have several items in
should get a lot of sleep, that they a list, put them in a column to see if they
should not eat too much, and to are parallel.
do some warm-up exercises before the  Listen to the sound of the
game. items in a list or the items being
Parallel: compared. Do you hear the same kinds of
The coach told the players that they sounds? For example, is there a series of
should get a lot of sleep, that they "-ing" words beginning each item? Or do
should not eat too much, and that they your hear a rhythm being repeated? If
should do some warm-up exercises something is breaking that rhythm or
before the game. repetition of sound, check to see if it
— or — needs to be made parallel.
Parallel:
The coach told the players that they 18.10. Word order;
should get a lot of sleep, not eat too
much, and do some warm-up exercises There are a number of options
before the game. which we can use to add emphasis or
Example 2 focus within a clause.
Not Parallel:
The salesman expected that he would Indirect object versus
present his product at the meeting, that prepositional complement
there would be time for him to show his When we talk about someone
slide presentation, and that questions receiving something, we can express it
would be asked by prospective using the typical word order: indirect
buyers. (passive) object (io) + direct object (do).
Parallel: If we want to bring more emphasis
The salesman expected that he would or focus to the recipient, we can use a
present his product at the meeting, that prepositional complement (pc) instead of
there would be time for him to show his an indirect object.
slide presentation, and that prospective Compare
buyers would ask him questions.
Lists After a Colon
Be sure to keep all the elements
in a list in the same form.
Example 1
141
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The music was played by a local


quartet. (doer in prepositional phrase
after the verb)

The hotel was run by a quaint


couple from Wales.

See also:
Passive: active and passive
Cleft sentences

Cleft means ‘divided’ and in a cleft


sentence a single message is divided
across two clauses. We use cleft
sentences, especially in speaking, to
connect what is already understood to
In formal contexts, we sometimes what is new to the listener. By doing this
put prepositional complements in front we can focus on the new information.
position so as to bring focus to the new There are different types of cleft
information given in the direct object:
sentence.
It-cleft sentences
[PC] In these sentences, the focus is
For his wife on the it-clause and this is where we put
, he wrote the new information (underlined below).
[DO = focus] We use that to connect another clause
a beautiful poem containing information which is already
. understood by the listener:
Warning:
A:
We don’t normally put indirect Did you find your MP3 player,
objects in front position: Lisa?
He passed Williams the ball. B:
Not: Williams he passed the ball. It was my phone that I’d lost. I
See also: found it under the couch. (Focus: it was
Complements my phone (not my MP3 player). Already
understood: I’d lost something.)
Active and passive voice
Wh-cleft sentences
Active voice is the typical word
order. That is when we put the subject Wh-cleft sentences are introduced
(the doer) first, followed by the new
by a wh-word, usually what. The old
information (which is the focus): information is in the wh-clause and the
Lesley has written four successful new information (underlined) is at the
novels. end:
If we use the passive voice, we
can often omit who the doer is: What I love about you is your
The cake was cut. (no doer) sense of humour.
Or we can place the doer in a
prepositional phrase after the verb. Where you’ll find great seafood is
When we do this, we focus on the doer: Molly’s Seafood Restaurant on the quay.

See also:
142
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Cleft sentences (It was in June we Something


got married.)
We can use something in front
The thing, the one thing, position plus a form of the verb be to
something bring attention to an item in the clause
(underlined). It is less specific and less
The thing direct than using the thing, and means
‘one thing among others’
We can use the thing in front
position plus a form of the verb be to Something I mustn’t forget is my
bring attention to an item in the clause. It umbrella. (or What I mustn’t forget is my
means the same as what plus be, but it umbrella.)
is more informal (the focus in each
sentence is underlined below): Something you need to know is
The thing I like most about Italy is that Kate is not very well at the moment.
the food. (or What I like most about Italy
is the food.) See also:

We can use a singular verb even if Thing and stuff


the item we focus on is plural:
Headers and tails
The thing I like most about
Scotland is the castles. It to create focus

When we focus on a that-clause, When we use it at the beginning of


we can omit that in informal situations: a clause, the subject can go at the end of
the clause and therefore be in the
The thing you need to remember position of focus or emphasis
is (that) all of the files from before 2008 (underlined):
are stored in Shona’s office.
It’s great to know that you have
When we focus on an infinitive passed all of your exams.
clause, we can omit to in informal
situations:
The thing I didn’t want to do was
(to) queue all day just for a ticket, so I It was ridiculous paying for two
booked it online. houses.

To create extra focus on time


One thing, the one thing adjuncts (yesterday, in the morning, at 4
am), we can front them using phrases
We can emphasise thing with one. such as it is/was not until, it is/was only
The one thing is even stronger: when. In the case of not until, the
negative verb comes in the until-clause,
You’ll meet a lot people when not the main clause:
you’re travelling but one thing you must
never do is give your address to a It wasn’t until the bill came
complete stranger. yesterday that we realised what an
expensive hotel it was. (Compare: Until
The one thing I should never have the bill came yesterday, we didn’t realise
done was trust Marlene. what an expensive hotel it was.)

143
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It was only when I woke at 8 am, red, verbs in blue, direct objects in
that I realised the alarm hadn’t gone off! maroon, etc.
English word order
(Compare: When I woke at 8 am, I ► 1.1 In a normal (declarative)
realised the alarm hadn’t gone off.) sentence, the subject of a sentence
comes directly in front of the verb. The
There to create focus direct object (when there is one) comes
directly after it:
We can use there at the start of a Examples:
clause as a type of indefinite subject. This The man wrote a letter.
means that we can put the actual subject People who live in glasshouses
at the end of the clause and so give it shouldn't throw stones.
emphasis or focus (underlined below): The president laughed.
► 1.2. Note that by the subject,
There was a strange smell coming we mean not just a single word, but the
from the room. (Compare: A strange subject noun or pronoun plus adjectives
smell was coming from the room.) or descriptive phrases that go with it. The
rest of the sentence - i.e. the part that is
There are many people willing to not the subject - is called the predicate.
travel to the concert. (Compare: Many
people are willing to travel to the concert.) Examples:
People who live in glasshouses
Noun forms of verbs to create shouldn't throw stones.
focus I like playing football with my
friends in the park.
In formal writing, especially The child who had been
academic writing, we can use a noun sleeping all day woke up.
form of a verb as a subject. By doing this, ► 1.3. If a sentence has any other
extra focus is given to the end of the parts to it - indirect objects, adverbs or
clause. Noun phrase subjects (topics) are adverb phrases - these usually come in
in bold type below; the focus of each specific places:
sentence is underlined:
1.3.1 The position of the indirect
object
The indirect object follows the
The discovery of oil brought direct object when it is formed with the
immense wealth to the country. preposition to:
(Compare: Oil was discovered and this The indirect object comes in front
brought immense wealth to the country.) of the direct object if to is omitted

His emergence as a leader came Examples:


about after the strikes of the 1980s. The doctor gave some medicine
(Compare: He emerged as a leader (and to the child.
this came about) after the strikes of the or: The doctor gave the child
1980s.) some medicine.
1.3.2. The position of adverbs or
18.10. Word order adverb phrases

A colour-coded guide to English Adverbs (single words) and adverb


word-order phrases (groups of words, usually formed
In the examples below, parts of the starting with a preposition) can come in
sentence are colour-coded: subjects in three possible places:
144
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a) Before the subject (Notably The man has perhaps already


with short common adverbs or adverb written his letter
phrases, or sentence adverbs - see below ..., therefore the man had
) already written his letter.
Examples: Naturally the man grew
Yesterday the man wrote a vegetables in his garden.
letter. Contrast this with:
At the end of March the weather The man grew vegetables
was rather cold. naturally in his garden.
Obviously the man has written a which has a quite different
letter. meaning.
b1) After the object (virtually For more details, see sentence
any adverb or adverb phrase can be adverbs.
placed here)
► 1.4 In standard English, nothing
Example: usually comes between the subject and
The man wrote a letter on his the verb, or between the verb and the
computer in the train. object.
b2) or with intransitive verbs There are a few exceptions. The
after the verb. most important of these are adverbs of
frequency and indirect objects without to.
Example: (Examples 1 and 2)
The child was sleeping on a However, with adverbs of
chair in the kitchen. frequency, it is more normal to place
c) In the middle of the verb group. them in the middle of the verb group
(Notably with short common adverbs of (Example 3)
time or frequency)
Examples: Examples:
The man has already written his The man often wrote his mother a
letter. letter.
The new version of the book will I sometimes have given my dog a
completely replace the old one. bone.
You can sometimes get real I have sometimes given my dog a
bargains in this shop. bone.
1.3.3. Word order with "sentence If you always apply these few
adverbs" simple rules, you will not make too many
word order mistakes in English. The
Sentence adverbs (like perhaps, examples above are deliberately simple -
surely, indeed, naturally, also .... ) relate but the rules can be applied even to
to a whole clause or sentence, not just a complex sentences, with subordinate and
single word. In most cases, they stand coordinated clauses.
outside the clause they refer to, notably at
the start of the clause. However, they Example:
may be placed elsewhere in the clause The director, [who often told his
for reasons of stress or emphasis. staff (to work harder),] never left the office
before (he had checked his email.)
Examples
Surely the man has already ► 2 Exceptions
written his letter. Of course, there are exceptions to
Perhaps the man has already many rules, and writers and speakers
written his letter. sometimes use different or unusual word
order for special effects. But if we
145
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concentrate on the exceptions, we may


forget the main principles, and the 18.11. Word forms;
question of word order may start to seem
very complex! Prefixes and suffixes that are used
So here are just a few in English give clues as to the meaning
examples: you should realise that they and, or, the function of words. Typically
exist, but not try to use them unless either suffixes indicate the function of a word in
they are essential in the context, or else a sentence. For instance there are some
you have fully mastered normal word suffixes that are used only for nouns and
order patterns. (Don't try to run before others that are used for verbs, adjectives
you can walk!) and adverbs. The particular suffix used in
forming a word also helps to give
A few examples: meaning to a word, for
Never before had I seen such a instance competition and competitor are
magnificent exhibition. both nouns that are formed from the
(After never or never before, verb compete. The -or suffix, however,
subject and verb can be - and usually are indicates that there is a person
- inverted. Do not invert when never performing the action, whereas the -
follows the subject !). tion suffix indicates a condition or state of
Hardly had I left the house, than it being. Do note, that some suffixes are
started to rain. used with more than one type of word, so
(When a sentence starts with on their own they cannot be used to infer
hardly, subject and verb must be the function of the word in the sentence.
inverted.). In those situations, other context clues
Had I known, I'd never have gone are needed to provide the function of that
there. word in a particular sentence. For
(Inversion occurs in unfulfilled example, an -ing suffix occurs with nouns,
hypothetical conditional structures when if verbs and adjectives; in the sentence
is omitted.. See the page on conditional “Teaching is interacting with interesting
clauses for more details) people,” teaching is a noun (a
The book that you gave me I'd gerund), interacting is part of a verb
read already. phrase in the present progressive tense,
(Emphasising a long object; in and interesting is an adjective that
this eampleThe book that you gave me, is qualifies people.
placed at the start of the sentence for
reasons of style: this unusual sentence Suffixes
structure is not necessary, just stylistic). The tables below provide the more
Special meanings... common noun, verb and adjective
A very few adjectives can follow suffixes and give the usage and
the noun; but when they do so they have examples. There is only one common
a special meaning. One common suffix for adverbs, and that is -ly. It is
example is the adjective free.... often added to adjectival suffixes as
Wrong word order in creative and creatively.
Word order matters ! These two
signs are meant to say the same; but the Noun Endings
first one actually says the opposite of
what it means to say !
When free is added to the end of
a noun, as in alcohol free or tax free, it
means "free of" or "without". So Wifi free
zone means a zone with no wifi
A point to remember !
146
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article. It can appear after the words:


look, feel or be.
The calculation is
very complicated.
You look depressed.

Adverb
An adverb gives more information
about the meaning of a verb, adjective,
another adverb or a sentence. Most
adverbs end in –ly. They can appear in
different places in the sentence.
Your input has
been extremely helpful.
The children
played happily together.
Next you add the milk.

Connective
A connective or linking word
connects different parts of the sentence.
There are dogs and cats for sale in
the pet shop.
I would pay for the meal, but I’ve
forgotten my wallet.

Determiner
The main word forms (also known
A determiner is a word that limits
as parts of speech or word classes) are
the meaning of a noun. It could be an
as follows:
article (e.g. a, an, the); a demonstrative
(this, that, these, those) or a possessive
Noun pronoun (my, your, his, her, etc.)
I have a pen here
A noun is a word or group of words
Our car is at the garage.
that names a person, a place, an object,
an activity or a concept.
Pronoun
A pronoun is a word used in place
The traffic is heavy in the town
of a noun or noun phrase. A pronoun
centre today.
like this can refer to a whole sentence or
group of sentences.
Verb
He told me to give it back to him.
A verb is a word or a group of
words that describes an action or a state
Preposition
of being:
A preposition is a word or group of
I have been waiting for you for ages.
words used before a noun or pronoun to
show its relationship with other words in
the sentence.
Adjective
An adjective is a word that
18.12. Word choice and redundancy;
describes a noun or a pronoun. It often
appears before the noun and after the

147
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What do all the expressions in bold this sentence. It would be better to just
type in the sentences below have in leave out the adjective altogether:
common? In a moment of optimism, she
They are constantly working made the call.
on new innovations in gambling. Here's another example of an
He was the younger of the two adjective repeating the meaning of
twins. a noun:
The events will start at 11 a.m. on It was a strange place for both of
the following dates below. us to be, given our past histories.
They are A person's history is the whole
all redundant expressions: groups of series of past events connected with
words in which at least one word is them. There's no need to use the
unnecessary because it just repeats the adjective past in this sentence because
meaning that's already contained in the this meaning is already contained in the
other word or words. An innovation is ‘a noun history. If you remove the
new method, idea, product, etc.’, so adjective, the meaning of the sentence
there's no need to use new to describe is unaffected:
one; following means ‘coming after’, so It was a strange place to for both of
it's not necessary to say below as well; us to be, given our histories.
and as for twins, there can only ever be Adverbs that repeat the meaning
two of them. contained in a verb, especially a verb that
This sort of repetition of meaning is begins with a prefix such as re- (meaning
also known as tautology and it's ‘again’ or ‘back’) or pro- (meaning ‘out’,
something to be aware of when you're ‘forwards’, etc.). For example:
writing. It can give the impression that On her death, the throne reverted
you don't really understand the meaning back to the next male in the line of
of the words you're using, or that you're succession.
just careless in your choice of words. If you look up revert, you'll find that
The key to a good writing style that the dictionary gives the meaning ‘return to
avoids redundant expressions is to (a previous state, practice, topic, etc.)’.
develop your knowledge of what words Since the idea of going back to something
really mean, checking in is contained in the verb itself, there's no
a dictionary whenever you aren't need to include the adverb back. The
completely sure. sentence would be better if the adverb
Here is an outline of some of the was just left out:
main types of redundant expressions: On her death, the
Different types of redundant throne reverted to the next male in the
expressions line of succession.
There are several ways in which Here's another example:
you can fall into the tautology trap. Here The sign above the
are some of the main types of redundant door protruded out over the sidewalk.
expression together with tips on how to Protrude means ‘to extend beyond
deal with them: a surface’, so the adverb out is
Adjectives that repeat the meaning unnecessary: it's just repeating the
already contained in the word they meaning of protrude. We can just omit
describe, e.g.: it:
In a moment of hopeful optimism, The sign above the
she made the call. door protruded over the sidewalk.
If you look up optimism in the
dictionary, you'll see that it means ‘a
feeling of hopefulness about the future’ so
there's no need for the word hopeful in
148
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Two or more words or groups of Adjective/adverb confusion


words which mean exactly the same as -The statement means the
each other. For example: mechanism that allows you to feel is
The fertilizer had no direct broken.
fungicidal effect but nevertheless it -feel, smell, taste—the word following
completely arrested the spread of the these verbs describes the subject ( a
fungus. noun or pronoun), not the verb.
Nevertheless and but mean the -“Badly” here refers to the verb “felt,”
same thing: if you looked them up in which implies that John’s ability to feel is
a thesaurus, you'd almost certainly find impaired.
that they were given as synonyms of Corrected version: John felt bad
each other. You only need one or the when he received a low grade on the
other to get your point across: final examination.
The fertilizer had no direct
fungicidal effect but it completely arrested 2. There are no secrets between Mary
the spread of the fungus. and I.
Here's another example of this Pronoun case
type of redundant expression: -Mary and me—me is the object of
The reason for the preposition between; prepositions are
this is because nobody cares followed by the object form of pronouns
Because means ‘for the reason -You should be able to take out the words
that’: there's no need to include it in this “Mary and” and still be able to read the
sentence since this idea has already sentence.
been expressed. The sentence should -Cut out the name; would you use I or
read: me?
The reason for this is that nobody Corrected version: There are no
cares. secrets between Mary and me.
Key points to remember about
redundant expressions 3. One of the many students who
 Getting rid of unnecessary come from the Scandinavian countries
words will make your writing clearer and are enrolled in my composition class.
more effective. Subject-verb agreement
 Using a dictionary or -One is singular; are is plural.
thesaurus will help you to identify -A singular subject (one) should be
redundant expressions in your writing. followed by a singular verb (is, not are)
-Prepositional phrases (of the many
18.13. Common errors in written students) are not an important part of the
expression; sentence when looking at verb
agreement; the main idea (S + V) is One
The Eleven Most Common is enrolled.
Errors in Student Writing Corrected version: One of the
Given below are sentences many students who come from the
illustrating the most common errors in Scandinavian countries is enrolled in
student writing. The formal name for the my composition class.
problem is stated. In each case, samples
of tutor descriptions of the error have 4. Trygve can’t hardly get out of bed
been added; such descriptions can be for his 8:00 class.
more helpful for writers at times than Double negative
formal names. --two negatives in a row—can’t
1. John felt badly when he hardly
received a low grade on the final -“Hardly” is already negative—either He
examination. can hardly or He can’t.
149
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-The sentence literally (or mathematically) -These two ideas can be combined to
means that Trygve can easily get out of form one complex sentence; otherwise,
bed; two negatives = a positive the second clause is a fragment.
Corrected version: Trygve can Corrected version: The Senator
hardly get out of bed for his 8:00 class. voted for the health care bill to the
delight of the opposition although he
5. Entering the bakery, the smell of had to admit there were certain
fresh pastries and coffee overwhelmed provisions with which he disagreed.
her.
Dangling construction 8. Dairy farmers should of received a
-It sounds like “the smell of fresh larger subsidy from the Federal
pastries and coffee” is “entering the government because of the increased
bakery.” cost of operation.
-As a reader, I am unclear as to what was Wrong verb form
entering the bakery—a woman or a -This sentence should read “should
smell? have” because “of” is a phonetic way of
-The actor of the sentence must be at the saying “have” in spoken English.
beginning of the independent clause. -Should’ve = should have
Corrected version: Entering the -“Of” is a preposition while “should have”
bakery, she was overwhelmed by the is a helping or auxiliary verb.
smell of fresh pastries and coffee. Corrected version: Dairy farmers
should have received a larger subsidy
6. In Strindberg’s Miss Julie an from the Federal government because
aristocratic woman pays a nighttime of the increased cost of operation.
visit to the servants’ quarters and
slept with the family valet. 9. Anne rode her bicycle to the
Verb tense shift meeting in the -40 temperatures,
-Pick a verb tense and stick with it; everyone else either drove or stayed
present tense is the standard for writing home.
about literature. Comma splice
-Avoid verb tense changes—The woman -A comma doesn’t correctly join
pays/ The woman sleeps. two sentences (or two independent
-Verb tenses should stay consistent clauses).
within a sentence. -You have two complete sentences here;
Corrected version: In Strindberg’s use a semi-colon or a period rather than a
Miss Julie an aristocratic woman pays comma.
a nighttime visit to the servants’ -There is no putting two sentences
quarters and sleeps with the family together with just a comma.
valet. Corrected version: Anne rode her
bicycle to the meting in the -40
temperatures; everyone else either
7. The Senator voted for the health drove or stayed home.
care bill to the delight of the
opposition. Although he had to admit
that there were certain provisions with 10. Warren and Alice spent at least
which he disagreed. $5000 on their Hawaiian vacation the
Sentence fragment trip could have been less expensive if
-Although indicates that the they had stayed at hotels away from
segment following should be joined to the the beach.
main clause. Run-on sentence
-Things that sound like afterthoughts or -A new subject and a new verb
additions are rarely complete sentences. after “vacation” – a new sentence
150
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

-There are two complete sentences here form. For example, carbo- only appears
not separated by punctuation. in compounds to indicate carbon, but
-This sentence contains two complete there are many related words that begin
thoughts without the necessary with carbon-; these are considered to be
punctuation. compound words and carbon- is not
Corrected version: Warren and listed on this site as a combining form.
Alice spent at least $5000 on their Having said that, in some cases a
Hawaiian vacation; the trip could have combining form has at some point in its
been less expensive if they had stayed life taken on the status of a free-standing
at hotels away from the beach. word (cyber- is an example), but if its
primary function is as a combining form, it
11. Ellen quit her job not only because appears in its place in the text.
of the long commute but also because To be a combining form an
she did not respect her supervisor. element must be found attached to stems
(Lack of) Parallel construction that also have intrinsic meaning; this
-If you want to use not only … but excludes stems whose only compounds
also, the word group following each part are grammatical variations, such
(phrase or clause) must be parallel in as intense (intensive, intensively, inten
construction. siveness).
-Because + Prepositional phrase is An infix is placed within a word;
grammatically different from because + S these are rare in English,
+ V. though cupful can be made plural
-Match the form of items joined by as cupsful by inserting the plural s as an
coordinating conjunctions or phrases. infix; infixes sometimes occur in facetious
creations like absobloodylutely (which
18.14. Affixes; some grammarians would rather describe
as tmesis). Infixes often appear as linking
A prefix is an element placed at vowels between prefixes and stems, for
the beginning of a word to adjust or example the final letters of narco-
qualify its meaning, for example de-, non- and calci-. They are also found between
, and re-. a stem ending in a consonant and a suffix
A suffix is an element placed at beginning with one, as with -ferous,
the end of a word to form a derivative, which frequently appears as -iferous, or -
such as -ation, -fy, -ing, frequently one logy, which is commonly seen as -ology.
that converts the stem into another part of The only examples of such linking vowel
speech. infixes here are -i- and -o-.
A combining form can be either a No formal identification is made in
prefix or a suffix; the difference is that the the text of the class of affix to which
combining form adds a layer of extra entries belong. The position of the
meaning to the word. For example, bio- hyphen is sufficient indication whether it
adds the idea of life or living things to is placed at the beginning, in the middle
words, as in biochemistry, the study of or at the end of a word: neo-, -i-, -
the chemical processes which occur graphy.
within living organisms; -cide adds the Many prefixes that end in a vowel
idea of killing or a killing agent, as can lose that vowel when attached to a
in pesticide. Compare these examples stem that begins in one, as for
with a prefix such as ex- or a suffix such example phlebo- loses its final letter
as -ic, neither of which add meaning, but in phlebitis. Such cases are marked by
only modify an existing meaning. enclosing the final letter of the headword
Combining forms only appear as in parentheses: phleb(o)-.
elements in a compound. If it can stand The term productive has a special
alone as a word it is not a combining sense throughout the site: it refers to an
151
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

affix which is active in the language and In most English sentences with an
which is being used by writers today to action verb, the subject performs the
create new words. action denoted by the verb.
These examples show that
18.15. Conditional sentences the subject is doing the verb's action.

Conditional Sentences are also


known as Conditional Clauses or If
Clauses. They are used to express that
the action in the main clause (without if)
can only take place if a certain condition
(in the clause with if) is fulfilled. There are
three types of Conditional Sentences.
Conditional Sentence Type 1
→ It is possible and also very
likely that the condition will be
fulfilled.
Form: if + Simple Present, will- Because the subject does or "acts
Future upon" the verb in such sentences, the
Example: If I find her address, I’ll sentences are said to be in the active
send her an invitation. voice.
more on Conditional Sentences
Type I ► Passive voice
Conditional Sentence Type 2 One can change the normal word
→ It is possible but very order of many active sentences (those
unlikely, that the condition will be with a direct object) so that the subject is
fulfilled. no longer active, but is, instead,
Form: if + Simple Past, Conditional being acted upon by the verb -
I (= would + Infinitive) or passive.
Example: If I found her address, I Note in these examples how the
would send her an invitation. subject-verb relationship has changed.
more on Conditional Sentences
Type II ►
Conditional Sentence Type 3
→ It is impossible that the
condition will be fulfilled because it
refers to the past.
Form: if + Past
Perfect, Conditional II (= would + have +
Past Participle)
Example: If I had found her
address, I would have sent her an
invitation.
more on Conditional Sentences
Type III ► Because the subject is being
Exceptions "acted upon" (or is passive), such
Sometimes Conditional Sentences sentences are said to be in the passive
Type I, II and III can also be used with voice.
other tenses. NOTE: Colorful parrots live in the
rainforests cannot be changed to passive
18.16. Active and passive voice voice because the sentence does not
have a direct object.
152
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To change a sentence from active


to passive voice, do the following:
1. Move the active sentence's
direct object into the sentence's
subject slot

2. Place the active sentence's


subject into a phrase beginning with
the preposition by

3. Add a form of the auxiliary


verb be to the main verb and change
the main verb's form

It is generally preferable to use the


ACTIVE voice.

To change a passive voice


sentence into an active voice sentence,
Because passive voice sentences simply reverse the steps shown above.
necessarily add words and change the 1. Move the passive sentence's
normal doer-action-receiver of subject into the active sentence's direct
action direction, they may make the object slot
reader work harder to understand the
intended meaning.
As the examples below illustrate, a
sentence in active voice flows more
smoothly and is easier to understand than
the same sentence in passive voice.

153
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2. Remove the auxiliary Direct and indirect speech can be


verb be from the main verb and change a source of confusion for English
main verb's form if needed learners. Let's first define the terms, then
look at how to talk about what someone
said, and how to convert speech from
direct to indirect or vice-versa.
You can answer the question What
did he say? in two ways:
 by repeating the words
spoken (direct speech)
 by reporting the words
spoken (indirect or reported speech).
DIRECT SPEECH
3. Place the passive sentence's Direct speech repeats, or quotes,
object of the preposition by into the the exact words spoken. When we use
subject slot. direct speech in writing, we place the
words spoken between quotation marks ("
") and there is no change in these words.
We may be reporting something that's
being said NOW (for example a
telephone conversation), or telling
someone later about a previous
conversation.
Because it is more direct, most EXAMPLES
writers prefer to use the active voice  She says, "What time will
whenever possible. you be home?"
The passive voice may be a better  She said, "What time will
choice, however, when you be home?" and I said, "I don't know! "
 the doer of the action is  "There's a fly in my soup!"
unknown, unwanted, or unneeded in the screamed Simone.
sentence  John said, "There's an
Examples elephant outside the window."
INDIRECT SPEECH
Reported or indirect speech is
usually used to talk about the past, so we
normally change the tense of the words
spoken. We use reporting verbs like 'say',
 the writer wishes to 'tell', 'ask', and we may use the word 'that'
emphasize the action of the sentence to introduce the reported words. Inverted
rather than the doer of the action commas are not used.
Examples She said, "I saw him." (direct
speech) = She said that she had seen
him. (indirect speech)
'That' may be omitted:
She told him that she was happy. = She
told him she was happy.
'SAY' AND 'TELL'
 the writer wishes to use
Use 'say' when there is no indirect
passive voice for sentence variety.
object:
He said that he was tired.
18.17. Direct and indirect speech.
Always use 'tell' when you say who
was being spoken to (i.e. with an indirect
154
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