Sebenta Psicologia Do Comportamento Desviante
Sebenta Psicologia Do Comportamento Desviante
Sebenta Psicologia Do Comportamento Desviante
Definição de desviância
Estatística
Perspetivas tradicionais ou positivistas. A desviância é algo inerente
Absolutista ao sujeito.
Normativa
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Psicologia do Comportamento Desviante Ana Mendes / 2013
Há qualquer coisa inerente aos desviantes que os distingue dos não desviantes
Teorias da reação social
o O foco são as normas culturais com base nas quais um comportamento pode ser
apelidado de desviante
Há autores que consideram que atualmente não faz sentido falar de comportamentos
desviantes
o Sumner (1994): Anunciou a morte da sociologia da desviância
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Psicologia do Comportamento Desviante Ana Mendes / 2013
Estigma – algo que desvaloriza o indivíduo, que o desqualifica e que o impede de ser
totalmente aceite pela sociedade.
Comportamentos estigmatizados
Noção de estigma – implica cinco etapas
Etiquetagem
Estereotipagem – é a imagem preconcebida de determinada pessoa, coisa ou
ação. Categoria favorável ou desfavorável que é partilhada por um grupo social
e que se refere a características pessoais.
Separação
Perda de estatuto
Ex.: Estudo feito em Portugal em 1841 por um médico higienista para caracterizar as
prostitutas. As características que ele encontrou foram do género: gordas, sarna, falta de
higiene, religiosas.
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Psicologia do Comportamento Desviante Ana Mendes / 2013
Em resumo…
Há vários modos de conhecer
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Psicologia do Comportamento Desviante Ana Mendes / 2013
O crime e a delinquência
1. Lei tutelar educativa – o Estado entende que deve educar os menores para o direito,
criando por exemplo Centros Educativos. Este regime só se aplica a jovens entre 12 e
16 anos, abaixo dessa idade é a lei de proteção de crianças e jovens em perigo.
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Psicologia do Comportamento Desviante Ana Mendes / 2013
Perspetivas biológicas
Origem na crença popular de que “o criminoso já nasce assim” - assume-se que este
teria determinados traços físicos que o caracterizariam especificamente e o tornariam
diferente dos outros seres humanos.
No século XVIII, esta crença transformou-se numa hipótese cientificamente estudada -
estudo do carácter e das funções intelectuais do Homem a partir da conformação do
crânio, ou seja, o estudo do tamanho do cérebro .
Cesare Lombroso
Segundo ele, há uma base biológica do crime que pode sermensurável, pelo que
estudava cadáveres para ver se encontrava diferenças entre criminosos e “normais”.
Descobre, um dia, anomalias num crânio que acreditava ser de características de etapas
evolutivas do ser humano (“besta primitiva” de nível inferior no desenvolvimento),
concluindo ter encontrado estado do crime: Crime é degenerescência.
Criminoso ocasional
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Psicologia do Comportamento Desviante Ana Mendes / 2013
O ser humano tende a realizar os objetivos estabelecidos pela sociedade, mas nem todos
o conseguem através de meios culturalmente aceitáveis (i.e., o sucesso económico
permite sucesso social, embora algumas pessoas usem meios não legítimos para tal,
como o roubo).
O comportamento desviante pode ser visto como um fosso entre as aspirações definidas
culturalmente e os meios estruturados socialmente, sendo que alguns aspetos da
estrutura social podem gerar comportamentos antissociais.
Mais tendência para o desvio nas classes mais desfavorecidas - a pobreza por si só não
explica o crime, mas junto com desvantagens que lhe estão associadas, explica a
desviância. Não se trata só de “falta de oportunidade” ou de uma questão de económica,
isto é, a pobreza por si só não explica o crime.
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Psicologia do Comportamento Desviante Ana Mendes / 2013
É a pressão social que evita o delito e esta pressão não existe se o indivíduo
estiver desvinculado do seu grupo social
Teoria da etiquetagem
No centro desta teoria está a interação entre os indivíduos/grupos e a sociedade
Um dos passos cruciais no processo de construção de um padrão criminal
estável é a experiência de ser etiquetado como criminoso
Etiquetagem: consequências importantes para a participação social do indivíduo
e para a sua autoimagem => novo estatuto
Valor simbólico da etiqueta de desviante
•Carreira de desviante
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Psicologia do Comportamento Desviante Ana Mendes / 2013
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Psicologia do Comportamento Desviante Ana Mendes / 2013
Pinatel
Estudo da passagem ao ato e identificação dos traços psicológicos que lhe estão
subjacentes
Teoria do nó central
o O criminoso é um ser humano como os outros a única diferença é que
passa ao ato mais facilmente
o Personalidade criminal:
Nó central: responsável pela passagem ao ato (agressividade,
egocentrismo, labilidade e indiferença afetiva)
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Psicologia do Comportamento Desviante Ana Mendes / 2013
Le Blanc e Fréchette
A personalidade delinquente é adquirida progressivamente e consolidada na
adolescência, sendo que desenvolvem, no fundo, teoria do nó central, mas dando cariz
mais desenvolvimental.
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Psicologia do Comportamento Desviante Ana Mendes / 2013
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Psicologia do Comportamento Desviante Ana Mendes / 2013
Estes padrões de pensamento não devem ser considerados causais e determinantes para
a passagem ao ato criminoso, nem específicos; nem podem ser considerados
isoladamente.
Abordagens fenomenológicas
No estudo do crime procuram o sentido que a transgressão tem para o seu ator
pela análise do vivido do criminoso e do seu percurso.
A ação delituosa resulta da interação entre determinados contextos, incluindo
experienciais que levam o sujeito a interpretar a situação de uma dada forma
particular e a agir de acordo com o sentido que lhe atribui.
O estudo do crime não é o estudo das causas, mas o estudo dos significados, das
lógicas para os processos (ação que toma lugar numa dada temporalidade e num
dado contexto)
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Psicologia do Comportamento Desviante Ana Mendes / 2013
Pressupostos fundamentais:
O crime não é um sintoma de uma personalidade mas um comportamento
complexo e intencional
O crime é um comportamento orientado para fins
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Psicologia do Comportamento Desviante Ana Mendes / 2013
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Psicologia do Comportamento Desviante Ana Mendes / 2013
Em suma
O estilo de vida de um criminoso caracteriza-se pela irresponsabilidade na escola, no
trabalho e em casa, a que se alia uma propensão para o envolvimento em atividades
marcadas pela indiferença, a desinibição, a impulsividade e a auto-desresponsabilização,
tais como o abuso de álcool e drogas, a promiscuidade sexual, o vício do jogo. Este
retrato completa-se com o início precoce na violação de normas, regras e costumes
sociais, para além de ofensas persistentes aos direitos e à dignidade das outras pessoas.
De acordo com a maior ou menor presença de distorções cognitivas e a forma como
estas se “encaixam” irá predominar um estilo de criminal em detrimento de outros ou,
nos casos mais problemáticos, podem coexistir mais do que um senão todos os estilos.
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Psicologia do Comportamento Desviante Ana Mendes / 2013
Christian Debuyst
Em suma…
Determinismo simples > determinismo multifatorial, interacionista e dinâmico
mas ainda sem lugar para a indeterminação da ação e esquecendo a
complexidade da realidade
A “personalidade criminal” não se “aplica” a todos os delinquentes
Estudos diferenciais que não recorrem a esta noção mas que partem do mesmo
pressuposto de que os delinquentes possuem um conjunto de características
deficitárias (e.g. desenvolvimento moral, autoconceito, empatia, competências
sociais, …)
O estudo da personalidade atribui crescente importância aos fatores sociais e
ecológicos e à sua interação com os processos de mediação realizados pelo
indivíduo (processos cognitivos, emocionais e afetivos) e à construção de
significados.
Os processos cognitivos passam a ser entendidos como processos de mediação
internos
Não é claro que existam diferenças de personalidade entre delinquentes e não-
delinquentes.
A pesquisa atual orienta-se cada vez mais para a compreensão dos processos
complexos pelos quais uma pessoa se implica numa conduta delinquente,
adquire uma identidade criminal e adota, em último recurso, um modo de vida
delinquente (Odriozola, 1991).
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Famílias
Treino de competências
Apoio para lidarem com as tensões a que estão sujeitos
Aprender a apoiar o desenvolvimento das suas crianças na escola
Encontrar atividades agradáveis para terem com as crianças
Escola
Equipamento escolar
Densidade das crianças em risco
Preparação dos professores
Ajuda aos professores para lidarem com os alunos mal preparados
Construção de relações de cooperação com os pais
Conclusão:
Prevenção baseada nos múltiplos sistemas (criança, família, contexto escolar)
Dificuldades
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Psicologia do Comportamento Desviante Ana Mendes / 2013
O conceito de droga
Não é fácil definir este conceito devido a vários motivos:
Existem diferentes substâncias psicoativas
Com diferentes propriedades farmacológicas
Diferentes tipos de usos
Diferentes tipos de consumidores
Com diferentes expectativas simbólicas – expectativa que o sujeito tem sobre os
efeitos que a substância vai ter.
Consumindo em diferentes contextos
Em diferentes momentos históricos e socioculturais
Por exemplo, se adotarmos uma perspetiva médica, a droga pode ser vista como um
propriedade curativa. Por outro lado, se adotarmos uma perspetiva jurídica, a droga é
vista como algo ilícito.
Medicina: qualquer substância com potencial para prevenir ou curar doenças ou para
melhorar o bem-estar físico ou psicológico
Farmacologia: qualquer agente químico que altere os processos bioquímicos ou
fisiológicos dos tecidos e organismos
Existe uma lista de drogas ilícitas que foram identificadas. Essa lista é atualizada
consoante o aparecimento de novas substâncias. No contexto da “luta contra a droga”,
droga significa qualquer substância que esteja incluída nas listas de drogas ilícitas.
É vista como uma substância química que afeta as funções orgânicas e psicológicas dos
seres vivos.
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Psicologia do Comportamento Desviante Ana Mendes / 2013
Segundo Domingo Comas, droga é “Aquilo que uma dada comunidade convencionou
chamar droga e enquanto uma substância não for denominada droga, ela não é, de facto,
droga”. Isto remete para questões culturais - “então o tabaco não é uma droga porque
nós não chamamos droga?”. Quando se diz “ela não é, de facto, droga”, podemos usar o
exemplo dos comprimidos ansiolíticos, os que consomem não são vistos como
toxicodependentes e a própria pessoa não se apercebe que é dependente.
Margem de segurança:
Custo do ganho terapêutico
Capacidade do organismo se adaptar ao estado de intoxicação (ou tolerância)
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Psicologia do Comportamento Desviante Ana Mendes / 2013
Médico (a droga como sedativo; uso curativo, tem como objetivo curar e aliviar
doenças, morfina, ansiolíticos, analgésicos, aspirina. A metadona é um opiáceo
sintético e tem uso medico, serve um pouco de substituição temporariamente até
uma pessoa deixar de depender fisicamente da droga)
Lúdico (a droga como uso criativo, festivo, socialmente aceite, como o álcool).
Ilegal/estigmatizante (a droga ilegal; quando a substância não é permitida,
como por ex. charros)
Uso Abuso
Consumo dentro de certos limites; nem Uso desadaptativo; implica uma
todos os que usam chegam a abuso. deterioração a vários níveis do indivíduo.
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Psicologia do Comportamento Desviante Ana Mendes / 2013
•A partir do séc. XX
–A dependência resulta da interação entre o produto, o indivíduo e o meio
–Modelo multi-fatorial; biopsicossocial
DSM – IV (definiu 11 classes, mas separa substância que tem muito em comum:
álcool, anfetaminas, cafeína, cannabis, cocaína, alucinogénios, inalantes,
nicotina, opiáceos, fenciclidina e sedativos, hipnóticos e ansiolíticos)
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Médica/Farmacológica
Depressores do SNC (são os que mais relaxam; reduzem a ansiedade e a
insónia.): Álcool, barbitúricos, benzodiazepinas, ópio e opiáceos, colas e
solventes
Estimulantes do SNC (aceleram processos cerebrais; põem as pessoas alegres):
coca e derivados, anfetaminas, cafeína
Alucinogénios (alteram percepção e orientação espacial e temporal; distorção
das percepções), aumentam a pressão sanguínea e temperatura): LSD, PCP,
mescalina, MDMA e outras variantes, cannabinóides
•Teorias descritivas/nosográficas
•Abordagem psicanalítica
•Teorias comportamentalistas
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•Teorias cognitivistas
Nosografia
•Abordagem clínica
•Modelo psiquiátrico
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Abordagem psicanalítica
Modelo mais dinâmico: tem em conta o percurso biográfico, as relações
precoces, o vivido quotidiano, a relação com a família.
Alguns conceitos consensuais: regressão; identificação; depressão
Problematização das instâncias parentais
Não deixa de ser causalista
Teorias comportamentalistas
A toxicodependência é aprendida através de 2 processos básicos: reforço positivo e
reforço negativo. No reforço negativo, por exemplo, os efeitos da ressaca levava a que o
indivíduo voltasse a consumir novamente.
Teorias cognitivistas
Teoria racional emotiva da adição (Ellis e col.)
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Psicologia do Comportamento Desviante Ana Mendes / 2013
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Intervenção
Programas de intervenção orientados para a abstinência
Objetivo: abstinência total
Programas de desintoxicação
Programas de substituição (exemplo, programa da metadona)
Alternativa aos modelos Moral/criminal (vê o consumo de drogas como algo imoral) e
da doença (vê o consumo como uma doença)
Surgimento na Europa: anos 80, Holanda, Junkiebond; anos 90, reino Unido, Liverpool
(1ª conferência internacional sobre redução de riscos).
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Psicologia do Comportamento Desviante Ana Mendes / 2013
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Psicologia do Comportamento Desviante Ana Mendes / 2013
Lever e Dolnick (2000) - Propõe outro tipo de divisão dos trabalhadores sexuais, no
que respeita às emoções e ao sexo:
1) Aquelas que vendem só sexo, como as prostitutas de rua
2) Aquelas que vendem serviços sexuais e emocionais, que é o caso das call girls
3) Aquelas que vendem serviços emocionais mas não sexuais, como as alterneiras
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Abolicionista (anti-prostituição)
A prostituição é uma forma de violência contra as mulheres (vítimas)
É inaceitável
Luta pelo fim da prostituição – não aceita que a prostituição seja considerada
como um trabalho.
Pró-prostituição
A prostituição não é exploradora
O que a torna abusiva são as condições em que é exercida
Descriminalização/Legalização – luta pela sua legalização
Definições de prostituição
Corbin (1978)
Para um ato sexual se poder apelidar de prostituição têm que estar presentes quatro
critérios:
Hábito e notoriedade;
Venalidade – suscetibilidade de ser subornado ou de vender os seus serviços;
Ausência de escolha;
Ausência de prazer ou de qualquer satisfação sensual pela pessoa que se
prostitui.
Henriques (1962)
A prostituição consiste em todos os atos sexuais, incluindo aqueles que não
compreendem a cópula, habitualmente praticados por indivíduos com outros
indivíduos do seu próprio sexo ou do sexo oposto, por um motivo que não é
sexual.
Os atos sexuais habitualmente praticados com objetivo de lucro por indivíduos
sós, ou indivíduos com animais ou objetos, que produzam no espetador qualquer
forma de satisfação, podem ser considerados como atos de prostituição.
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McCaghy (1985)
É uma atividade com significado sexual para quem compra, o que inclui uma
variedade de comportamentos que vão da penetração vaginal até casos em que
quem vende se limita a caminhar em frente de quem compra;
É uma transação económica, não interessando se quem vende tem ou não outras
formas de rendimento e se o que tem valor económico é moeda ou outro bem;
Existência de indiferença emocional entre as partes envolvidas, quer dizer que o
comportamento se limita à prestação de um serviço por razões económicas.
Oliveira (2008)
A prostituição é o desempenho comercial de relações sexuais (vaginais, orais, anais ou
masturbatórias), entre outras atividades com conotação sexual.
Modelos de legislação
Proibicionismo
Abolicionismo
Legalização
Regulamentarismo (ou licenciamento) – existem diferentes formas de regularizar
a prostituição. Prende-se com a questão de ser considerada como profissão ou
não. Esta deverá ser legalizada mas com a intervenção do Estado (por exemplo,
em que local pode ser praticada)
Legalização em Portugal
Até 1853: legislação avulsa e pré-regulamentarismo
1853-1962: regulamentarismo
1963-1982: proibicionismo
Desde 1983: despenalização
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Prostituição de interior
Prostitutas de rua
Mais sujeitas ao estigma social, sendo alvo de agressões verbais e intimações.
1. Autodeterminados (raro, sendo mais frequente nas do interior) – contraria o
estereótipo de prostituta de rua. Estão na atividade por causas próprias, já que
pretendem atingir certos objetivos para aquisição de conforto a longo prazo.
Têm autonomia de decisão e fazem uma boa-gestão da sua vida, tendo uma
autoestima elevada, boa aparência física e menor idade.
2. Hetero-determinados – afastadas da independência.
Bio-determinados ou toxicodependentes – Mulheres que antes de serem
prostitutas já eram toxicodependentes. Prostituição como forma de obter
dinheiro para a droga, sendo que muitas vezes o fazem também para o
companheiro toxicodependente com quem não tem uma relação típica de
proxetismo, mas sim de sofrimento partilhado por exercer um atividade que não
é do agrado dos dois. Findo o problema da toxicodependência termina o
problema da prostituição
Determinados por chulo ou organização – sob coação física tem de se manter
no trabalho, sendo a sua autonomia quase nula
Eto-determinados ou determinados pelo hábito – fazem o que fazem por
força do hábito de se prostituírem durante anos, sendo a única aprendizagem e
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forma de vida que conhecem, não lhes restando outra possibilidade. Estão na rua
como poderiam estar num sítio qualquer se a sua arte fosse essa. Estão ali
porque precisam de sobreviver, inclusive aos maus tratos, já que costuma ter
uma família para alimentar.
São as próprias trabalhadoras que muitas vezes fazem distinções entre o seu trabalho
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Chulos que vivem à custa das mulheres, podendo acontecer que obriguem às
mulheres a entregar um mínimo de dinheiro por noite e agredi-las se isso não
acontece. Podem ter uma rede de exploração
Chulos com quem a prostituta mantem uma relação afectiva – há uma
componente afetiva para além da componente comercial, na qual se investe
Chulos gerentes de casas onde se exerce a prostituição – relação
empregado/empregador
Clientes: motivações
•Procura de sexo fácil e rápido
•Busca de sexo descomprometido (envolvimento emocional mínimo, sem risco de
rejeição e sem estar preocupado com o seu desempenho)
•Necessidade de variedade sexual
•Desejo de atividades sexuais que não conseguem obter com as companheiras
•Procura da excitação causada pela natureza ilícita do ato
•Crença de que as prostitutas são sexualmente excecionais
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Técnicas de investigação:
Entrevistas
o As mulheres de trabalho sexual – áreas temáticas de caracterização
demográfica, perceção que têm dos clientes e atitudes face a eles
o Aos intermediários – guião que abordava o mundo do trabalho sexual e
as mulheres que o realizam
Observações
o Não participante – para a prostituição de interior: sem interação,
frequência de bares enquanto ocorriam as atividades enquanto clientes;
para a prostituição de rua: percursos diurnos e noturnos e analise de
conteúdos de jornais
o Participante – interação próxima com os participantes, mas sem
participar na atividade central e na condição de investigador
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Psicologia do Comportamento Desviante Ana Mendes / 2013
As causas da psicologia
Os primeiros estudos psicológicos procuraram patologias nestas mulheres que
não conseguiam provar de forma clara: a patologia apenas foi demonstrada de
forma convincente em grupos muito específicos de prostitutas, as que tinham
sido sujeitas a um trauma
O perfil psicológico clássico da prostituta descrevia uma mulher sexualmente
frígida, com uma infância marcada pela privação e o abuso, que era hostil em
relação aos homens e uma lésbica latente ou assumida (Glover, Greenwald,
James, Kemp, …)
A vitimação na infância
o Aparece em vários estudos (segunda metade do século XX) como um
fator explicativo da prostituição
o As pesquisas iniciais evidenciaram uma proporção relativamente elevada
de vítimas de abuso sexual entre as prostitutas (a maioria destas
investigações foi efetuada com amostras não representativas da
totalidade das prostitutas, por ex., entre mulheres presas, prostitutas de
rua ou utentes de projetos específicos - Vanwesenbeeck, 2001).
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Psicologia do Comportamento Desviante Ana Mendes / 2013
Concluíram:
a esmagadora maioria dos casos que investigaram não se relacionava com
qualquer patologia
as prostitutas das classes mais altas (call girls e de apartamentos) não diferem
significativamente do grupo de controlo
•Personalidade
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Psicologia do Comportamento Desviante Ana Mendes / 2013
Bartol (1991)
Rejeita as explicações sociológicas e psicológicas habituais pois acha que são
generalizações enviesadas e subjetivas sobre a mulher prostituta (como, por ex, a
pertença às classes baixas, a aversão aos homens, a frigidez, os distúrbios
emocionais…)
As prostitutas têm uma grande variedade de motivos para se envolverem na
prostituição; um leque alargado de tipos de personalidade, vários níveis de
educação e enquadramentos familiares e têm diversos percursos de vida. Embora
haja uma forte associação com histórias familiares conflituosas, experiências
sexuais negativas e toxicodependência
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Sanders (2005)
Modelos de intervenção
Modelo abolicionista:
Resgate das pessoas que se prostituem
Objetivo: acabar com a prostituição > um problema social
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•Prostitutas são vítimas que devem ser libertadas; pressuposto de que prostitutas
pretendem mudar de vida
• Intervenção: reabilitar as pessoas que se prostituem: apoio à saída/resgate
•Tradicional e maioritariamente assistencialista
Ex. O Ninho
Acolhe temporariamente mulheres prostitutas a quem ensinam competências que
consideram que ajudam à sua reinserção social (centro de atendimento, lar, oficinas,
escola, serviços de apoio psicológico e jurídico)
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VITIMOLOGIA
Definição de vitimologia
Wertham propõe a designação “vitimologia”, inicialmente etiológica
A vítima como uma fonte de estímulo - o ato criminal determinado pela
estrutura de personalidade do criminoso mas também pelo comportamento da
vítima
Dois conceitos principais em que se apoiavam as explicações vitimológicas:
1. Vítima nata (Von Henting) - Importado da criminologia positivista, a vítima
era determinada pelas tendências autodestrutivas e o criminoso como agente
concretizador dessas tendências
2. Precipitação do crime pela vítima - A atitude da vítima pode desencadear a
motivação criminal e influenciar o decurso do ato criminal, criando-se tipologias
de vítimas de acordo com o seu grau de “propensão” para a vitimação
Ex.: Mendelsohn - vítima completamente inocente é a vítima mais culpada
que o agressor
Noção polémica, sobretudo depois de aplicada à violação. Os defensores desta
noção foram acusados de:
“Branquear” o comportamento do agressor;
Ter subjacentes fortes preconceitos sociais;
Basear-se em pressupostos teóricos insustentáveis
Tipos de vitimação
Vitimação direta
Refere-se às situações em que alguém é diretamente afetado por um delito
Os danos materiais e físicos são usualmente bastante limitados
Os danos emocionais são com frequência significativos, mesmo em crimes
pouco graves
As repercussões emocionais dependem de:
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Vitimação secundária
Resulta do contacto da vítima com o sistema de justiça penal quando este frustra as
expectativas da vítima. Acontece devido a:
Dificuldades operacionais
Presença de mitos e estereótipos entre os agentes de justiça
Procedimentos necessários à obtenção da prova em certos crimes
Teorias da vitimação
Abordagens feministas
Com as mudanças decorrentes da ênfase colocada na violência familiar, rompem com a
vitimologia tradicional e constroem novas representações da vítima – criança
maltratada, mulher vítima de violência conjugal, mulher vítima de abuso sexual, idoso
maltratado
Salientou a multidimensionalidade do fenómeno, bem como a impossibilidade
de ser apenas um modelo teórico a explicar todos os tipos de vitimação
Mostrou a estreita associação entre vitimação e estrutura social
Tornou claro que a vulnerabilidade não é uma questão meramente
comportamental mas o produto da posição estruturalmente frágil que certos
grupos ocupam na sociedade
Realismo de esquerda
Chama a atenção para a vulnerabilidade estrutural decorrente de fatores
económicos e raciais
As classes mais desfavorecidas são as mais afetadas pelo crime e aquelas nas
quais o crime tem mais impacto
Vitimologia crítica
Questionam as definições tradicionais de crime e de vitimação
Chamam a atenção para outros tipos de crime: crime ecológico, fraude fiscal, …
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Tentativas de definição
Etimologia da palavra: fora/fórum: espaços das cidades onde se situavam os
tribunais
Aplicação dos conhecimentos e metodologias da psicologia às questões judiciais
Utilização dos conhecimentos psicológicos como colaboradores da
administração da Justiça.
O campo da Psicologia aplicada que se ocupa da recolha, exame e apresentação
de matéria científica de natureza psicológica para fins judiciais (Haward, 1981).
Objeto da psicologia forense: conjunto das circunstâncias específicas que ligam
o sujeito à lei, introduzindo linhas de compreensão, avaliação e intervenção em
torno do “binómio Sujeito-Lei”.
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Utilidade:
Reduzir o leque dos suspeitos e encaminhar a investigação criminal num dado
sentido, dizendo que tipo de pessoa terá cometido aquele crime (aumenta a
possibilidade do indivíduo responsável ser detido, logo, reduz o número de
potenciais vítimas)
Ajudam a decidir a melhor forma de conduzir o interrogatório de um suspeito,
no sentido de mais facilmente obter a confissão.
Testemunha-perito nos julgamentos para ajudar a explicar/entender as dinâmicas
dos crimes em série, habitualmente incompreensíveis para o “comum cidadão”.
O profiler tenta “colocar-se na mente do criminoso, pensar como ele terá pensado antes,
durante e após o crime, ver o cenário do crime da forma que ele viu. Fá-lo com recurso
às ciências do comportamento e às técnicas da investigação criminal e não através de
qualquer poder “extra-sensorial”/”paranormal”. Deste modo, o profiler não é um
médium, nem vê o que aconteceu, infere lógica e racionalmente, a partir das pistas
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Ao profissional profiler não interessa descobrir porque foi que o indivíduo cometeu
aqueles crimes, mas sim, quem é o indivíduo que os praticou (nem todos os autores
concordam com esta afirmação; o porquê pode ser um importante meio para aceder ao
quem…).
A criança na justiça
Abordagem jurídica da criança vítima: Justiça Protetiva, Justiça Penal.
Perspetivas da criança sobre a Justiça:
o As suas expectativas acerca da intervenção dos vários atores.
o Diferentes perceções e impacto psico-emocional e desenvolvimental do
envolvimento no processo judicial.
Participação da criança no processo judicial: áreas "sensíveis" - o(s) contexto(s)
judiciais devem ser adequados e preparados para que a criança seja uma “boa
testemunha”.
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defendem e também nos fazem muitas perguntas e depois contamos tudo outra vez e
assim estamos sempre, sempre a lembrar das coisas más...” (A. de 10 anos, avaliada no
GEAV no âmbito de um inquérito de abuso sexual).
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o “Vá lá, pode começar a fazer perguntas que eu já estou a ouvir…é melhor ir
buscar um papel porque se não ainda se esquece e depois tenho de dizer outra
vez”.
o Contexto relacional positivo e acolhedor: “Disseram-me que a Dra. trabalhava
para o tribunal, não é? Ainda bem porque assim eu posso dizer-lhe tudo e você
depois conta ao Juiz, não é?”
o Intervenção nos agressores - não têm uma patologia na origem da sua agressão
mas sim fatores de duas ordens:
o Sociais: crença na supremacia do homem sobre a mulher → Intervenção
psicoeducativa
o Psicológicos: caso se verifique que a problemática é mais de
autocontrolo, gestão do stress, ... → Intervenção psicoterapêutica
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