Mapa Vulnerabilidade Inpe Smac PDF
Mapa Vulnerabilidade Inpe Smac PDF
Mapa Vulnerabilidade Inpe Smac PDF
Metropolitana
do Vulnerabilidades
das Megacidades
Brasileiras
às Mudanças
Climáticas:
R M RJ E AS V U LNE R A B ILI DADE S ÀS M U DANÇAS C LIM ÁTI C A S
EXPEDIENTE
PROJETO MEGACIDADES,VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS COORDENAÇÃO GERAL PROJETO MEGACIDADES,
VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Carlos Nobre | INPE
Daniel Joseph Hogan ( in memorian ) | NEPO / UNICAM P
Nacional de Pesquisas Espaciais | CST/ INPE
da Cidade do Rio de Janeiro | SMAC/PCRJ Nelson Moreira Franco | Gerente de Mudanças Climáticas
Secretaria Municipal de Meio Ambiente | SMAC/PCRJ
Instituto Pereira Passos | IPP/ PCRJ
Sergio Besserman Vianna | Presidente da Câmara Técnica de
Fundação GeoRio | GeoRio/ PCRJ Desenvolvimento Sustentável/ PCRJ
Companhia Municipal de Limpeza Urbana | Comlurb/ PCRJ Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos | IPP/PCRJ
Luiz Roberto Arueira da Silva e Felipe Cerbella Mandarino
Instituto de Geociências da Universidade Federal Fundação GeoRio | PCRJ
do Rio de Janeiro | IGEO / UFRJ Ricardo D’O rsi
Instituto de Biologia | IB
Alex Enrich- Prast e Luiz Fernando Jardim Bento ( Laboratório de
Biogeoquímica, Departamento de Ecologia)
PROJETO GRÁFICO
Ana Tereza Barrocas | IPP/ PCRJ
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ÍNDICE
Apresentação Pág. 4
Contexto Pág. 5
Parte 1 Impactos sobre o meio físico Pág. 8
Parte 2 Vulnerabilidades dos sistemas naturais Pág. 15
Parte 3 Vulnerabilidades sócio-econômicas Pág. 22
Adaptação Pág. 31
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RMRJ e a s v u l n er a b i li dad es Às mudanÇas cli mÁti ca s
A
Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) e o Estado, de um modo geral, têm sido castigados por
eventos de chuvas intensas que geram tragédias e grandes transtornos à população. Os exemplos mais
recentes e também mais dramáticos ocorreram em 2010 e 2011.
No início de abril de 2010, a RMRJ foi atingida por sistemas de tempestades associados ao desloca-
mento de uma frente fria. Os totais pluviométricos atingiram 323 mm em 24 horas, provocando deslizamentos que
causaram 167 mortes em Niterói e 66 no Rio de Janeiro, deixando mais de 3 mil desabrigados e 11 mil desalojados.
Enchentes, quedas de árvores, problemas de transmissão de energia elétrica e ressacas com ondas de até 5 metros
paralisaram a RMRJ.
Em janeiro de 2011, a região serrana do Estado foi devastada por chuvas intensas ocasionadas pela chegada
de um sistema frontal. Em apenas 12 horas, foram registrados 222 mm de precipitação. De acordo com o Banco de
Dados Internacional de Desastres, com sede na Bélgica, foi o desastre natural mais severo da história do país, com
cerca de 900 mortes (em Nova Friburgo,Teresópolis, Petrópolis, Sumidouro, São José do Vale do Rio Preto e Bom Jardim,
sendo as duas primeiras as cidades com maior número de vítimas), mais de 9.000 desabrigados e mais de 11.000
desalojados. As fortes chuvas deflagraram avalanches e enchentes que removeram solo, rochas e árvores, gerando
um cenário de destruição nos locais afetados.
Não dá para afirmar que as mudanças climáticas desencade- Como área costeira, a RMRJ é particu-
adas pelo aquecimento global são responsáveis por essas tragé- larmente vulnerável a dois aspectos inter-
dias. Eventos extremos sempre ocorreram. Além disso, a ocupação ligados: a elevação do nível do mar e a
histórica de áreas de risco, aliada à falta de um sistema de alerta ocorrência de eventos extremos, como ven-
de enchentes e de treinamento das populações para lidar com tos intensos, ondas de tempestade, chuvas
essas situações, oferece um ambiente propenso a tragédias. Mas torrenciais e períodos de seca mais prolon-
essas catástrofes dão um vislumbre do que poderemos enfrentar gados. Combinados, eles podem produzir
com cada vez maior frequência ao longo do século se nada for efeitos devastadores na zona costeira, com
feito para diminuir as situações de risco. A análise de séries históri- impactos sociais, econômicos, de infraes-
cas na capital mostra que as chuvas intensas estão mais frequen- trutura e ecológicos.
tes e os totais pluviométricos anuais estão em elevação. Os dias e Vale lembrar que a inundação é um pro-
as noites quentes também estão mais frequentes, ao contrário dos cesso natural e necessário para o funciona-
mais frios, o que consiste com um cenário de aquecimento global. mento do sistema fluvial. O que o transforma
Os modelos climáticos futuros indicam que essa tendência em calamidade pública são as profundas
deve se seguir, com o clima no Rio de Janeiro ficando mais quen- alterações resultantes da retirada da vege-
te até o final do século 21. As projeções indicam aumento da tação ripária, da impermeabilização do solo
maior temperatura máxima anual e da frequência de ocorrên- na área drenada, do assoreamento das
cia de dias e noites quentes, redução de dias e noites frios e calhas dos sistemas de drenagem e do es-
aumento da duração das ondas de calor. Não foram feitas mo- treitamento deles face à ocupação de suas
delagens para as precipitações, mas se espera maior frequência margens por construções entre o rio e sua
e intensidade nas chuvas. planície de inundação.
Além da preocupação com a elevação
do nível do mar, a cidade do Rio de Janeiro tem experimentado uma maior vulnerabilidade decorrente das cha-
madas marés meteorológicas, que provocam aumento do nível do mar e aproximação de grandes ondas e de
ressacas, produzidas por ciclones no Atlântico Sul. Este cenário somado a eventos de chuvas extremas causará inun-
dações ainda mais difíceis de escoar.
Os dados apresentados neste trabalho buscaram ampliar e aprofundar os estudos sobre os impactos das mudanças climáticas na cidade do Rio de Janeiro apresentados
em 2008 no livro Rio Próximos 100 Anos: o aquecimento global e a cidade – um esforço da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, através do Instituto Pereira Passos.
O trabalho atual foi desenvolvido dentro do projeto “Megacidades, Vulnerabilidades e Mudanças Climáticas”, concebido e coordenado pelo Instituto Nacional de
Pesquisas Espacial (INPE) e pelo Núcleo de Estudos de População (Nepo), da Unicamp, para avaliar os riscos das regiões metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro. O
relatório sobre a RMSP foi publicado em junho de 2010.
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A Região Metropolitana do Rio de Janeiro é a maior rios demandam cuidado, porque se há incertezas em
aglomeração urbana da costa brasileira, com uma po- relação a eles, maiores ainda são as incertezas sobre
pulação de cerca de 11,5 milhões de habitantes em a dimensão e timing dos efeitos e impactos que po-
2010. Sua importância na escala nacional também dem gerar.
está associada ao seu papel econômico e logístico. Na falta de bases de dados e diante de uma carto-
O complexo portuário formado pelos portos do Rio de grafia de baixa resolução, consideramos as chamadas
Janeiro e Itaguaí é fundamental para o comércio exte- zonas costeiras de baixa elevação (LECZ, na sigla em
rior brasileiro pela movimentação de minério de ferro e inglês) como as de maior vulnerabilidade, tanto à pró-
carvão siderúrgico e pelo embarque e desembarque pria elevação do nível dos oceanos, quanto à ocorrên-
de contêineres e veículos leves de carga. Destaque es- cia de eventos extremos, principalmente inundações.
pecial deve também ser dado ao papel dos terminais Essas áreas correspondem principalmente às pla-
e dutos situados na orla da Baía de Guanabara que nícies de inundação dos rios que deságuam nas baí-
movimentam petróleo, gás natural e derivados. as da Guanabara e Sepetiba e ao entorno das lagoas
A RMRJ compreende os municípios de Rio de Ja- costeiras das baixadas de Jacarepaguá e de Mari-
neiro, Belford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Ita- ca (veja mapa 5 na pág. 14). São locais que foram
boraí, Japeri, Magé, Maricá, Mesquita, Nilópolis, Niterói, profundamente alterados por obras de canalização
Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, São Gonçalo, e drenagem desde a primeira metade do século 20.
São João de Meriti, Seropédica, Tanguá e Itaguaí. O Suas margens são altamente urbanizadas e servem
presente trabalho considerou também o município de para o esgotamento de resíduos urbanos lançados
Mangaratiba porque, além de ele assim constar da de- nos rios sem tratamento. Alterações no sistema rio-pla-
limitação usada pelo IBGE em pesquisas demográficas nície de inundação combinadas com a elevação do
e econômicas, seu território está sendo afetado pela nível do mar e a possibilidade de chuvas torrenciais
expansão metropolitana na orla da Baía de Sepetiba, nas encostas da Serra do Mar conferem a essas áre-
um dos vetores dinâmicos mais importantes da RMRJ. as um elevado grau de vulnerabilidade às mudanças
Trata-se de um “município-fronteira”, climáticas, principalmente considerando sua elevada
objeto de disputa entre a expansão densidade demográfica e produtiva.
urbano-industrial-portuária e as ativida-
des de turismo e pesca historicamente Distribuição populacional
associadas ao patrimônio natural que Segundo os resultados do censo de 2010, 75% dos habitantes
ainda abriga. do Estado vivem na RMRJ. Entre 2000 e 2010, a velocidade do cres-
Para analisar as vulnerabilidades cimento dos municípios não-metropolitanos foi superior à apresen-
da RMRJ, é preciso considerar os ce- tada pela RMRJ pela primeira vez desde 1940, apontando para a
nários de elevação do nível do mar. emergência de um novo padrão demográfico no Estado.
Os valores modelados na escala glo- Há uma redistribuição espacial da população, destacando-se
bal são controversos na própria co- o crescimento em algumas áreas da capital, como a zona oeste,
munidade científica, variando entre a região da Barra da Tijuca e Jacarepaguá, a estabilização na
aumentos modestos, em torno de 20 zona suburbana e uma redução na população residente nas zo-
cm, como no cenário otimista do 4º nas central, sul e norte.
relatório de avaliação (AR4) do Painel
Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas (IPCC), de 2007, até valores
superiores a 1 metro, considerando o
comportamento não linear do degelo
das calotas polares, segundo estudo
de Tad Pfeffer e colegas publicado na
revista Science, em 2008. Esses cená-
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RMRJ e a s v u l n er a b i li dad es Às mudanÇas cli mÁti ca s
E apesar de municípios da e São Gonçalo. Essas áreas se tornam especialmente vulneráveis por
borda da RMRJ apresentarem conta da carência de serviços coletivos, principalmente saneamento
taxas de crescimento mais ace- básico, oferecidos à população.
leradas, como Itaguaí ou Maricá, Entre 1990 e 2010, a baixada de Sepetiba (zona oeste do município
a população continua se expan- do Rio de Janeiro, Itaguaí, Seropédica, Japeri, Queimados e a porção
dindo nos municípios do entorno de Nova Iguaçu que drena para Sepetiba) foi a principal área de incor-
da Baía de Guanabara, como poração de novas terras ao tecido metropolitano. Também é relevante
Duque de Caxias, Nova Iguaçu a expansão na orla oriental da Baía de Guanabara, onde estão sendo
0.9 - 1.0
1.1 - 1.3
1.4 - 1.5
1.6 - 2.0
2.1 - 2.7
nilópolis
itaguaí
Mangaratiba
rio de janeiro
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abertos loteamentos em Magé, Guapimirim, Itaboraí e São Gonçalo em -siderúrgicas da Baía de Sepetiba.
áreas com risco de inundações. Essa infraestrutura pesada
Parte significativa dessa expansão é estimulada pela implantação nas vizinhanças de LECZ reforça
do Arco Rodoviário Metropolitano, que interliga a orla oriental da Baía as tendências de litoralização da
da Guanabara, onde está sendo implantado o Comperj (Complexo Pe- economia fluminense e estimula
troquímico do Rio de Janeiro), o entorno da Reduc (refinaria de Duque a expansão metropolitana para
de Caxias), onde é grande a concentração da indústria petroquímica zonas de maior vulnerabilidade
e gás-química, o porto de Itaguaí e as grandes implantações minero- à elevação do nível do mar e à
ocorrência de eventos climáticos
extremos, assim como à combina-
ção desses efeitos.
Há também uma série de investimentos em cur-
so, como projetos dos PACs 1 e 2, programas como
Minha Casa Minha Vida e Morar Carioca e implan-
tação/ampliação das redes de drenagem e esgo-
tamento sanitário na zona oeste e na Baixada de
Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. É preciso avaliar se
esses investimentos estão considerando as hipóteses
associadas às mudanças climáticas e desde já ini-
ciar um processo contínuo e sistemático de monito-
cachoeiras de ramento das condições oceânicas e meteorológicas
macacu
guapimirim na busca de medidas de adaptação pró-ativa e mi-
tigação dos seus impactos.
Alguns municípios, que já podem se encontrar
em condições bastante precárias em termos de in-
fraestrutura e serviços, tenderão a experimentar mais
dificuldades que outros para promover a adaptação
itaboraí às mudanças climáticas. Dependendo das novas
pressões que recebam em consequência da eleva-
ção do nível do mar combinada aos eventos climá-
tanguá
ticos extremos, é admissível uma evolução cada vez
mais desequilibrada da equação pressões x capaci-
são gonçalo dade de resposta.
Atenção especial para os municípios localizados
na parte leste da bacia da Baía de Guanabara já
niterói maricá
que eles combinam, simultaneamente: áreas signifi-
cativas situadas na zona de risco de alagamentos
(abaixo de 10 m em relação ao nível médio atual do
mar); taxas de crescimento econômico e populacio-
nal acima da média dos municípios metropolitanos;
e o fato de abrigar o maior investimento realizado na
RMRJ (o Comperj, que tem um orçamento da ordem
de US$ 8,7 bilhões).
10 5 0 10 20 30 km
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RMRJ e a s v u l n er a b i li dad es Às mudanÇas cli mÁti ca s
IMPACTOS
PARTE 1
SOBRE O MEIO
FÍSICO
O
aquecimento global pode mudar o clima
da RMRJ, promovendo impactos na orla e
redefinindo a linha da costa. A expectativa é que
a região se torne mais quente e úmida até o final
do século. As praias podem perder areia e as zonas costeiras
de baixa elevação podem sofrer ainda mais com inundações.
Mudanças no clima
A partir da análise de séries históricas de variáveis ao efeito de ilha de calor urbana. O aquecimento
meteorológicas das estações Alto da Boa Vista (de extra gerado pela ilha de calor no Rio de Janeiro pos-
janeiro de 1967 a dezembro de 2007) e Santa Cruz sivelmente altera a direção e intensidade das brisas
(de janeiro de 1964 a dezembro de 2009) do INMET marítima e terrestre, que por sua vez podem alterar
(Instituto Nacional de Meteorologia), pudemos ob- os padrões de transporte de umidade no município.
servar como já vem mudando o clima do Rio Com relação à temperatura do ar, as análises
Mesmo sendo apenas duas estações, como elas mostram que o clima está se tornando mais quente
estão localizadas em ambientes distintos, foi possível na capital fluminense e provavelmente também na
comparar condições urbanas extremas: um ambien- RMRJ. O número de dias no ano em que a temperatu-
te florestado, com menor expansão e adensamento ra máxima é superior a 25 °C exibe forte elevação no
urbano (Alto da Boa Vista); e uma área de alto cres- Alto da Boa Vista, com aumento de 1,5 dia/ano, en-
cimento da malha urbana (Santa Cruz, na zona oes- quanto os dias mais frios estão menos frequentes. Já
te). Com os dados diários, indicadores de extremos o índice que mostra o número de dias no ano quan-
climáticos associados com precipitação e com as do a temperatura mínima é superior a 20 °C exibe
temperaturas máxima e mínima do ar foram calcu- tendência de elevação, com elevação de 0,9 dia/
lados com o programa RClimDex, desenvolvido pelo ano para a estação de Santa Cruz, mas não para
Serviço Meteorológico Canadense. a estação do Alto da Boa Vista, enquanto as noites
Pelas análises, percebe-se que o clima no muni-
cípio do Rio de Janeiro está se tornando mais úmido, principalmente na região florestada. Os
totais pluviométricos anuais estão em elevação (7,8 mm/ano no Alto da Boa Vista e 2,5 mm/
ano em Santa Cruz), assim como o número de dias com precipitação maior ou igual a 30 mm
e 50 mm tem ocorrido com maior frequência. As tendências na precipitação são mais mar-
cantes no Alto da Boa Vista do que em Santa Cruz. Essa diferença pode estar associada tanto
com uma mudança na circulação em escala sinótica, quanto com a circulação local devido
8
frias estão em declínio. Uma explicação para as al- TABELa 1: Tendências observadas dos extremos climáticos
relacionados a precipitação, temperatura máxima e
terações mais pronunciadas na temperatura mínima temperatura mínima do ar no Alto da Boa Vista e em Santa Cruz
em Santa Cruz poderia ser pelo fato de a região ur- Alto da
Indicador Santa Cruz
bana ser mais fortemente influenciada pelo efeito da Boa Vista
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RMRJ e a s v u l n er a b i li dad es Às mudanÇas cli mÁti ca s
Em relação à temperatura mínima (número de dias no ano com mí- As ondas de calor, ou seja, o
nima superior a 20 °C), o modelo aponta 166,9 dias ao ano no clima número de dias consecutivos no
presente; 237,6 dias em 2011-2040; 276,7 dias em 2041-2070 e finalmente ano com temperaturas máximas
311,6 dias em 2071-2099. Isso representa um aumento de quase 87% em acima do percentil 90, também
relação ao clima presente. Como esperado, os valores são maiores so- exibem forte tendência de eleva-
bre o oceano do que sobre o continente. Por outro lado, o aquecimento ção, em torno de 0,24 dia/ano. Os
até o final do século é menor sobre os oceanos devido a sua maior índices relacionados com a tem-
capacidade térmica. peratura mínima indicam: prová-
vel aumento das noites tropicais
com temperatura mínima superior
MAPA 2: Variação do índice de maior temperatura máxima diária
a 20 °C, a uma taxa de 1,33%dia/
ano; aumento da frequência de
ocorrência de noites quentes a
uma taxa de 0,28%dia/ano e re-
dução na frequência de ocorrên-
cia de noites frias a uma taxa de
- 0,09%dia/ano.
Conclui-se que o clima no
Rio de Janeiro deverá ficar mais
quente até o final do século 21,
seguindo o padrão já observado
no clima presente. Projeta-se au-
mento da maior temperatura má-
1961-1990 2071-2099 xima anual, da ocorrência de dias
e noites quentes e da duração
As projeções indicam que o número de dias no ano com temperatu- das ondas de calor e redução na
ra máxima superior a 25 °C poderá se elevar a uma taxa de 1 dia/ano ocorrência de dias e noites frios.
até o final do século. A porcentagem de dias quentes no ano apresen-
ta tendência de aumento, com taxa de 0,19%dia/ano. A porcentagem Impactos na orla
de dias frios apresenta-se em declínio a uma taxa de -0,08%dia/ano. A costeira
maior temperatura máxima anual também poderá aumentar até o final A vulnerabilidade física da
do século a uma taxa de 0,04 °C/ano. zona costeira da capital e da
RMRJ a uma elevação do nível
do mar se caracteriza, em geral,
MAPA 3: Variação de dias no ano com temperatura mínima superior a 20 °C pelos riscos de erosão e de inun-
dação intensificados pela recor-
rência de ressacas, ventos fortes e
chuvas intensas.
Os principais efeitos espera-
dos com as mudanças climá-
ticas em zonas costeiras são a
elevação do nível médio do mar
(NMM); aumento de extremos cli-
máticos (períodos de secas mais
prolongados e eventos de tem-
pestades com mais ventos e chu-
vas mais fortes) e possível mudan-
ça na direção de propagação
1961-1990 2071-2099 das ondas devido a alterações
10
na circulação atmosférica, seme-
lhante ao que já acontece com
o El Niño. Esses efeitos ocorrem
em sinergia, gerando consequ-
ências cumulativas.
Consequências da
elevação do nível
médio do mar1
T- Tendência de translação das relativo, reduzem-se os desníveis e a velocidade dos escoamentos,
praias e cordões de dunas em por consequência.
direção a terra. Aumento da profundidade média de lagoas costeiras e baías. Isso
Praias limitadas por muros, representa um efeito de rejuvenescimento, em contraposição ao en-
calçadões, avenidas e outras velhecimento representado pelo assoreamento.
construções ficam impedidas Aumento da intrusão salina em zonas estuarinas levando ao aumen-
de se ajustar por meio de retro- to ou à diminuição de manguezais; mais para montante, potencial
gradação (recuo da barreira problema de captação de água salobra em locais que hoje captam
arenosa) e tenderão a perder água doce.
areia, com risco de as ondas
atingirem diretamente as ben- Consequências do aumento
feitorias públicas. de extremos climáticos2
Recuo das linhas de orla em Com tempestades mais intensas no mar, as ondas ficam mais altas e
regiões de baixadas de lagoas as marés meteorológicas mais elevadas. Portanto, onde houver ruas
costeiras e baías, em função e avenidas após a praia haverá sérios problemas de erosão e pos-
da subida do nível médio rela- sível destruição de muros, ruas e avenidas devido à diminuição das
tivo do mar que, nestes locais, faixas de areia.
é provável que seja superior à Mais secas causam diminuição da vazão dos rios. Este efeito associa-
média, visto que se trata de re- do à subida do nível médio relativo do mar e eventualmente somado
giões sedimentares geologica- a efeitos de marés meteorológicas mais altas tende a aumentar a
mente recentes, cujos terrenos intrusão salina em regiões estuarinas, causando incremento de man-
tendem a sofrer subsidências. guezais e potencial problema de captação de água salobra em lo-
Problemas de macrodrenagem cais que hoje captam água doce.
em águas interiores, especial- Frequentemente marés meteorológicas estão associadas às passa-
mente em zonas urbanas situ- gens de frentes frias, que por vezes trazem chuvas intensas. A soma
adas em baixadas de baías e dessas situações com os efeitos de subida do nível médio relativo do
lagoas costeiras, aumentando mar irá ocasionar sérios problemas de macrodrenagem em zonas
a tendência de alagamentos. urbanas situadas em baixadas de baías e lagoas costeiras, com ala-
Com a subida do nível médio gamentos e inundações crescentes.
11
RMRJ e a s v u l n er a b i li dad es Às mudanÇas cli mÁti ca s
Essas alterações são particular- da praia. Se nada for feito, as consequências de elevação do NMM,
mente importantes por afetarem em sinergia com as ressacas e marés meteorológicas mais intensas
diretamente o alinhamento natural (que tendem a reduzir ainda mais o estoque de areia), acarretará
das praias – formações sedimenta- em episódios de destruição de calçadas e avenidas de forma cres-
res muito dinâmicas que continu- cente, chegando a inviabilizar áreas residenciais em frente às praias.
amente se realinham de acordo Em praias com urbanização leve, provavelmente será mais econômi-
com o clima de ondas que as atin- co retroceder as benfeitorias públicas, como estradas, do que engor-
ge. Conforme as praias ao longo dar as praias. Já em zonas costeiras que vierem a ser urbanizadas no
de um arco (por exemplo, Arpoa- futuro, é imperativo respeitar uma maior distância em relação à linha
dor-Ipanema-Leblon) são atingidas de orla e, em nenhuma hipótese, ocupar ou aprisionar a primeira
por ondas típicas de bom tempo linha de dunas sob avenidas ou calçadas. Basicamente, este é o erro
ou por ondas de ressacas, a areia em quase todas as cidades costeiras. Nas praias do município do
vai sendo transportada de um lado Rio de Janeiro, avenidas e calçadas foram construídas desse modo,
para o outro, de modo que às ve- retirando a areia das dunas do estoque estratégico para proteção
zes uma ponta fica com mais sedi- da praia e do litoral.
mento do que outra, e vice-versa. Ações em áreas rebaixadas de baías e sistemas lagunares. Essas são
Ao longo dos anos, porém, tende as intervenções mais complexas social e politicamente, por envolve-
a haver um equilíbrio nesse volume rem a transferência das pessoas para outras áreas e o desmanche
transportado. da urbanização nas áreas de depressões natu-
Vez por outra, no entanto, fe- rais, mais vulneráveis a alagamentos ou que pas-
nômenos naturais causam um forte desequilíbrio, sarão a ter crescentes problemas de inundação.
como em anos de El Niño forte, quando a circula- Na sequência, as áreas desocupadas devem ser
ção atmosférica alterada muda os ventos e o clima rapidamente transformadas em parques ou áreas
de ondas. Ainda no exemplo da praia do Arpoador- de recreação para uso da população. O objetivo
-Ipanema-Leblon, nessas ocasiões o balanço do vai além do lazer. Em situações de marés altas e
transporte de sedimentos se desequilibra, levando a chuvas intensas, essas áreas funcionariam como
um grande acúmulo no Leblon e déficit no Arpoador.
Com as mudanças climáticas, espera-se que efeitos MAPA 4: Áreas vulneráveis a redefinição da linha
de costa pela elevação do nível médio do mar
assim tornem-se persistentes.
As consequências podem ser graves, visto que
Região metropolitana
as praias são as melhores estruturas para proteção
1 - 1.5
do litoral. Tanto a turbulência na arrebentação das
0.5 - 1
ondas, causada pelas profundidades decrescentes
até 0.5
em direção ao litoral, quanto a existência de gran-
de quantidade de areia para ser transportada pelas
paracambí duque de
correntes, são muito eficientes para dissipar a ener- caxias
gia das ondas de uma ressaca. Isso acaba se o esto- japerí nova iguaçu
que de areia for limitado, e as ondas começarem a
queimados belford
atingir estruturas na retro-praia. roxo
são joão
seropédica
Ações de engenharia para mesquita do mirití
12
zonas estratégicas de amortecimento e acumulação de água (po- como áreas contíguas à linha de
tenciais piscinões naturais), de modo a mitigar efeitos que de outra costa que tenham altitude menor
forma ocorreriam mais intensamente em áreas vizinhas. do que 10 metros acima do nível
Para as regiões propensas a alagamentos crescentes, mas em que é do mar em toda RMRJ.
muito difícil transferir a população e desfazer a urbanização, a sugestão O mapa 4 (abaixo) mostra
é que se projetem sistemas de diques e comportas. Mas a alternativa as possíveis consequências da
deve ser restrita a casos excepcionais, uma vez que envolve alto custo e elevação do NMM para a linha
dificuldades operacionais. de costa da RMRJ. É possível no-
Para lidar melhor com as regiões mais vulneráveis a alagamentos e tar que três áreas se destacam
inundações, é importante fazer sua demarcação precisa, com levan- como mais vulneráveis a altera-
tamentos topográficos com altimetria detalhada, pelo menos entre as ções: o litoral do município do Rio
cotas do NMM e de 2,5m acima. Nesta faixa, as linhas de nível devem de Janeiro voltado para a Baía
ser definidas no mínimo a cada 0,5m. de Sepetiba; a Baixada e o Sis-
Nessas regiões, também há que se considerar o potencial problema tema Lagunar de Jacarepaguá,
de captação de água salobra, decorrente da maior intrusão salina devi- também no município do Rio; e a
do à subida persistente do NMM e na sinergia com as marés meteoroló- porção nordeste da linha de cos-
gicas, para o qual deve-se prever a realocação dos pontos de captação. ta da Baía de Guanabara, onde
se localiza a APA (Área de Prote-
Redefinição da linha de costa ção Ambiental) de Guapimirim,
Mapeamento feito pelo Instituto Pereira Passos proje- conhecida por sua extensa vegetação de mangue.
tou como será redefinida a linha de costa no município Nos três cenários, Rio de Janeiro, São Gonçalo
do Rio de Janeiro e de toda a orla da Baía de Guana- e Guapimirim aparecem como os municípios mais
bara a partir de três diferentes cenários de elevação do afetados. No cenário mais pessimista, o Rio pode ter
NMM (0,5 metro, 1 m e 1,5 m). Foram avaliadas apenas mais de 10% de sua área total atingida, São Gonçalo,
as áreas com base cartográfica disponível e de quali- 8%, e Guapimirim, 6%.
dade satisfatória com escala de no mínimo 1:10.000 O caso que pode ser considerado o mais crítico na
Também foram mapeadas as LECZ, definidas capital é o da Baixada de Jacarepaguá, onde o sis-
tema lagunar de mesmo nome pode ver seu espelho
d´água se expandir e atingir muitas áreas ocupadas
que estão em sua faixa marginal, como o bairro do Ita-
nhangá, a comunidade de Rio das Pedras e as áreas já
inundáveis da região das Vargens. Também na capital,
cachoeira
de macacu seriam afetadas áreas adjacentes à Baía de Sepetiba,
guarapirim
compostas, ao sul, por vegetação preservada de man-
magé
13
RMRJ e a s v u l n er a b i li dad es Às mudanÇas cli mÁti ca s
gue e de restinga, que são protegidas por unidades palmente em sua parte sudoeste, a região oceânica
de conservação (Reserva Biológica e Arqueológica de de Niterói, a porção sul dos municípios de Seropédica e
Guaratiba e APA da Orla da Baía de Sepetiba). Itaguaí e algumas baixadas confinadas pela Serra do
Fora do município sede metropolitano, a região que Mar em Mangaratiba, além das regiões de Caju, Maré,
mais se destaca no mapeamento é a dos manguezais Ilha do Fundão e Ilha do Governador no município do
de Guapimirim, abrangendo os municípios de Guapi- Rio. No noroeste da Baía de Guanabara, as obras das
mirim, São Gonçalo, Itaboraí e Magé. Parte desta área futuras instalações do Comperj também têm parte de
tem algumas semelhanças com Guaratiba, como sua área inserida nas LECZs.
o fato de ser protegida por uma unidade de conser- É importante considerar esses dados diante das ta-
vação (APA de Guapimirim). Mas algumas áreas de xas de crescimento populacional, como mostrado no
Magé e São Gonçalo apresentam ocupação, gerando mapa 1 (págs. 6 e 7).
potenciais impactos na população local. As altas taxas de crescimento populacional dos
Quanto às LECZ, os novos cálculos mostraram que municípios de Maricá e Mangaratiba chamam a
elas representam 18% da área da RMRJ, ou seja, 1202 atenção, visto que os dois locais apresentam exten-
km² se enquadram nessa categoria. Em todo o mun- sas áreas vulneráveis, de acordo com o mapeamen-
do, quase dois terços dos assentamentos urbanos com to das LECZ. Itaboraí também merece destaque, já
mais de 5 milhões de pessoas estão total ou parcial- que seu relevante crescimento populacional deve
mente inseridos em LECZ. Estimativa para o ano 2000 se intensificar com as obras e a entrada em opera-
era de que essas zonas ocupariam 2% da superfície ção do Comperj. Por situação semelhante passam
terrestre e conteriam 10% da população mundial. As- Itaguaí e a região do Distrito Industrial de Santa Cruz,
sentamentos urbanos localizados nessas regiões confi- na capital, que são alvo de grandes investimentos
guram um cenário de risco. e passam por crescimento populacional, em uma
Neste mapeamento mais abrangente, destacam-se área costeira com uso portuário que os dois mapea-
como áreas vulneráveis o município de Maricá, princi- mentos destacam como vulnerável.
Região metropolitana
LECZ
cachoeira
de macacu
guarapirim
magé
nova iguaçu duque
paracambí de
caxias
japerí
belford
queimados roxo
seropédica são joão itaboraí
mesquita do mirití tanguá
itaguaí nilópolis
são gonçalo
10 5 0 10 20 30 km
14
VULNERABILIDADES
PARTE 2
DOS SISTEMAS
NATURAIS
A
biodiversidade da Mata Atlântica, os manguezais
e as lagoas do Rio de Janeiro já estão bastante
impactados por atividades antrópicas. Com
as mudanças climáticas, aumenta o risco de
extinção de espécies, os mangues têm sua
integridade ambiental ameaçada e as lagoas podem sofrem
com o aumento do nível do mar.
15
RMRJ e a s v u l n er a b i li dad es Às mudanÇas cli mÁti ca s
tes as florestas tropicais de altitude poderão se tornar mais secas e se- Com relação à fauna, algu-
rem invadidas por espécies de altitudes mais baixas, conforme sugere mas espécies de peixes continen-
o artigo publicado por J. Alan Pounds e colegas na revista Nature, em tais endêmicos da bacia drenan-
1999. No caso da RMRJ, as regiões mais elevadas poderão ser progres- te a Baía de Guanabara podem
sivamente ocupadas por elementos típicos de paisagens abertas de ser particularmente prejudicadas
biomas vizinhos, como o Cerrado. por alterações em seus habitats,
As mudanças climáticas apresentam, também, o potencial de inter- como é o caso dos peixes-das-
ferir na distribuição, na abundância e nos impactos causados por espé- -nuvens (Leptolebias spp). Sete
cies invasoras. A dispersão desses organismos pode ser potencializada das nove espécies do gênero ha-
pela retração de área de vida das espécies nativas que competem pe- bitam brejos sazonais das restin-
los mesmos recursos naturais e tendem a sucumbir às novas condições gas de Maricá e florestas densas
climáticas. Este pode ser o caso específico de um grupo de símios da do médio curso de pequenos rios
família Callithrycidae encontrado no Parque Nacional (Parna) da Serra que descem da região serrana.
dos Órgãos. O sagui-de-tufos-brancos (Callithryx jacchus) e o sagui-de- Devido a drásticas alterações an-
-tufos-pretos (Callithryx penicillata), típicos representantes da Caatinga trópicas no ambiente natural des-
e do Cerrado, respectivamente, vêm ocupando, progressivamente, a ses peixes, duas espécies podem
área de vida do sagui-da-serra-escuro (Callythryx aurita), espécie endê- já estar extintas, sendo que as
mica e ameaçada que habita as matas úmidas dos estados de Minas demais encontram-se altamente
Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. ameaçadas de extinção. O gru-
Os ecossistemas aquáticos continentais, por seu turno, sofrerão com po é, portanto, extremamente vul-
sucessivos períodos de déficits hídricos, em cenários climáticos de re- nerável a mudanças no regime
dução progressiva da precipitação. A qualidade da água também po- hídrico de pequenos rios e brejos
derá ser afetada, em função dos que possam se manifestar no lon-
processos erosivos a montante, go prazo, e por fenômenos hidro-
que determinariam alterações na meteorológicos extremos, já no curto prazo.
quantidade e qualidade da ma-
téria orgânica que aporta a es- Savanização da vegetação
ses ecossistemas, interferindo na Modelagens feitas por Carlos Nobre e colegas do INPE-CPTEC e pu-
biomassa total, produtividade e blicadas em 2008 sugeriram que, até o final deste século, o clima da
composição de espécies, promo- Região das Baixadas Litorâneas será compatível com uma vegetação
vendo rupturas nas teias tróficas. de “savana”, com redução no porte e densidade das plantas. Savanas
16
também ocuparão a porção norte do Estado, substituindo a escassa e
altamente fragmentada floresta estacional remanescente. Nas regiões
Centro-sul e Médio Paraíba, a floresta ombrófila cederia espaço para
uma vegetação estacional.
As implicações desses resultados para a vegetação do Rio de Ja-
neiro são perturbadoras. Muito embora a resolução espacial do mode-
lo não permita determinar alterações na vegetação com a precisão
necessária para avaliar as reais consequências na biodiversidade, as
mudanças apontadas com relação à distribuição espacial das duas
principais fitofisionomias – as florestas ombrófila e estacional – apontam
para o potencial recrudescimento quali-quantitativo do universo de es-
pécies da fauna e flora.
Atualmente, a Floresta Ombró-
fila Densa, por ação antrópica Diante desse quadro e da precariedade material, técnica e humana
(queimadas, abertura de estra- das unidades de conservação do Estado, o futuro não é muito promissor
das, ocupação irregular de áre- para a biodiversidade regional. Os hiatos entre os remanescentes de
as de risco, expansão da malha vegetação nativa que, hoje, já restringem deslocamentos da fauna e
urbana e da agricultura e, até dispersão de espécies da flora, no futuro representarão barreiras geo-
mesmo, poluição) está reduzida a gráficas intransponíveis para espécies que, eventualmente, poderiam se
uma coleção de fragmentos pul- deslocar livremente para se adaptarem as novas condições de clima.
verizados no espaço, dos quais Premidas de sua área de vida ou de corredores de deslocamento e
somente cerca de 2,3% possuem dispersão, espécies “criticamente ameaçadas” poderão ser extintas, ao
mais de 100 hectares. A fragmen- passo que as “ameaçadas” ou “vulneráveis” serão mais raras ou tam-
tação da vegetação nativa é um bém desaparecerão, nas próximas décadas.
dos principais vetores de extinção
de espécies, que, em sinergia com Vulnerabilidade dos manguezais
eventos meteorológicos extremos, Um ecossistema que merece uma atenção especial em relação aos
pode causar danos irreparáveis impactos das mudanças climáticas são os manguezais, conjunto de ve-
aos ecossistemas. De fato, cicatri- getação que ocupa as áreas entremarés. De um modo geral eles são
zes erosivas no manto florestal das vitais na manutenção da integridade ambiental, social e econômica das
encostas potencializam o efeito regiões costeiras. Talvez sua função mais conhecida seja a de área de
de borda, sujeitando a vegeta- abrigo, reprodução, desenvolvimento e alimentação de espécies mari-
ção adjacente a aumentos dos nhas, estuarinas, límnicas e terrestres. Mas os manguezais também são
níveis de insolação, temperatura, fonte de matéria orgânica para as águas costeiras adjacentes, constituin-
ventos e redução da umidade do a base da cadeia trófica de espécies de importância econômica e/
do ar. Além disso, rupturas mal ou ecológica. Eles ainda: atuam na proteção da linha de costa, evitando
“cicatrizadas” podem induzir no- sua erosão e o assoreamento dos corpos d’água adjacentes; controlam
vos processos de deslizamento de a vazão, previnem contra inundações e protegem contra tempestades;
massa em áreas adjacentes, po- absorvem produtos químicos, servindo como filtro de poluentes e sedi-
tencializando a perda de habitats mentos, além de tratarem de esgotos em seus diferentes níveis.
em décadas. Alguns dos grandes O Núcleo de Estudos em Manguezais da Faculdade de Oceanogra-
deslizamentos ocorridos em 1996 fia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (NEMA/UERJ) tem mo-
no maciço da Tijuca, na cidade nitorado essas florestas desde 1996, possuindo uma singular série tem-
do Rio de Janeiro, por exemplo, poral de sua dinâmica. A partir dessa base de dados, analisamos como
manifestaram-se em áreas con- os manguezais devem se comportar diante de uma elevação do nível
tíguas a clareiras originadas das relativo do mar.
chuvas intensas de 1988. Foram avaliados os municípios da RMRJ que possuem fronteira com
ambientes marinho ou estuarino: Itaguaí, Rio de Janeiro, Duque de Ca-
xias, São Gonçalo, Itaboraí, Magé, Guapimirim, Niterói e Maricá, distribuí-
17
RMRJ e a s v u l n er a b i li dad es Às mudanÇas cli mÁti ca s
arco metropolitano
itaguaí
3
4
2 csa
mangaratiba
rio de janeiro
1 5
6
7
baía de sepetiba 9
8
10
18
guaramirim
magé
duque de caxias
19 20
18
itaboraí
17 21
16
15 baía de
GUANABARA comperj
22
14
são gonçalo
13
niterói maricá
23
11 12
19
RMRJ e a s v u l n er a b i li dad es Às mudanÇas cli mÁti ca s
20
Lagoa Rodrigo de Freitas peixes muito comuns na região
Por possuir maior cota altimétrica na sua área de entorno, ela não deve devido ao já avançado processo
apresentar grande expansão em área nem mesmo no cenário de maior de eutrofização.
elevação do nível do mar (1,5 m). Pontos no seu entorno que atualmente
sofrem com alagamentos durante períodos de chuvas extremas, como o Baixada de
Parque dos Patins, porém, podem ter uma incidência maior de inundações, Jacarepaguá
visto que se espera a ocorrência, com maior frequência, de eventos com- As lagoas dessa região são as
binados de mais chuva e marés de sizígia (as mais altas, que ocorrem nas mais vulneráveis à elevação do
luas nova e cheia). nível do mar. Um dos resultados
imediatos seria o aumento em
Complexo lagunar Piratininga-Itaipu área de seu espelho d’água e a
Apesar de a área de entorno apresentar uma cota altimétrica re- criação de novas áreas alagadas
lativamente alta, projetos que visam uma conexão fixa da lagoa com pela entrada de água marinha e
o mar podem trazer consequências diretas para a população em um também devido à elevação do
cenário de elevação do nível do nível do lençol freático. A amplitu-
mar. Além disso, o forte assorea- de desses novos pontos alagados
mento tanto do complexo quan- será determinada pelo nível da
to dos rios que fazem parte da elevação e topografia local. Os maiores aumentos de área lacustre são
sua bacia de drenagem, que já esperados para o complexo da Barra da Tijuca, mesmo no cenário mais
causou repetidos eventos de ala- otimista de elevação do nível do mar, se expandindo para os bairros Re-
gamento de regiões próximas, creio dos Bandeirantes e Vargem Grande. Como a ocupação das mar-
podem se tornar cada vez mais gens dessas lagoas ocorreu de forma desordenada, também se pode
comuns com um nível do mar esperar que a inundação de moradias seja mais regular, principalmente
mais elevado. A maior ocorrência em períodos de chuvas intensas ou de elevadas marés. A qualidade da
de eventos de fortes chuvas pode água dessas lagoas já é de forma geral baixa, e a expectativa é que
também aumentar a frequência piore com a maior ocorrência de eventos extremos, tornando-se um pro-
de episódios de mortandade de blema de saúde pública.
21
RMRJ e a s v u l n er a b i li dad es Às mudanÇas cli mÁti ca s
VULNERABILIDADES
PARTE 3
SÓCIO-
ECONÔMICAS
A
s alterações esperadas para o clima nas
próximas décadas podem agravar os
problemas decorrentes de uma urbanização
desorganizada e causar sérios impactos na
infraestrutura de serviços públicos das cidades,
em especial sobre os sistemas de drenagem urbana, o
saneamento básico e a gestão dos resíduos sólidos.
infraestrutura de etapas dos sistemas de drenagem5, seja por erro de concepção, por falta
drenagem urbana de manutenção, por obsolescência ou pelo crescimento urbano desor-
Os registros de perdas econô- denado. Com as mudanças climáticas, e o provável aumento de ocor-
micas decorrentes de inundações rência de fenômenos extremos, é de se esperar que os atuais sistemas
e outras catástrofes climáticas em fiquem sobrecarregados e falhem com mais frequência, uma vez que
áreas urbanas ao longo das últi- maiores precipitações aumentarão as vazões geradas pelo ambiente ur-
mas décadas mostram uma ten- bano impermeabilizado. Em cidades costeiras, a elevação do nível médio
dência de aumento dos prejuízos do mar poderá restringir a descarga do sistema de drenagem.
associados a eles. De forma sim- O aumento da intensidade das chuvas extremas demanda amplia-
ples, pode-se dizer que a origem ção da rede de drenagem. O aumento do nível do mar, por sua vez,
das cheias está relacionada com gera uma restrição de descarga na foz, afetando a capacidade de es-
as chuvas intensas. Uma parcela coamento e fazendo o sistema de drenagem perder eficiência.
desta precipitação fica retida na Os efeitos gerados pela nova configuração dos eventos hidrológi-
copa vegetal e em depressões do cos para o futuro podem alterar fortemente a abrangência espacial de
terreno; parte se evapora. alagamentos, fazendo-os chegar
A urbanização, porém, atrapalha esse processo, uma vez que ocorre a locais antes não alagáveis. A
com remoção de vegetação nativa, aumento de impermeabilização população fica mais vulnerável e
do terreno e ocupação de áreas ribeirinhas. Além disso, a implantação
de uma rede de drenagem artificial acaba aumentando de forma sig-
5 Em geral, esses sistemas são formados por dois sub-
nificativa a velocidade de escoamento e dos picos de vazões de cheia. sistemas principais: a microdrenagem, composta pelos
pavimentos das ruas, sarjetas, bocas de lobo, galerias
Sem contar a obstrução de bocas de lobo, galerias e o assoreamento de águas pluviais e canais de pequenas dimensões; e a
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RMRJ e a s v u l n er a b i li dad es Às mudanÇas cli mÁti ca s
24
tos. Analisando a cota de alagamento da Praça da próximas ao mar, porém, pode demandar medidas
Bandeira, a água chega hoje a uma altura máxima mais drásticas, como a proposição de polders para
de 1,20 m. Nos cenários futuros, ocorre um acrésci- a proteção das áreas urbanizadas. Esta solução, de
mo de até 0,50 m. caráter corretivo tradicional, combinaria o uso de
Diante dessas previsões, e do cenário atual de diques, controlando a saída da rede de drenagem
inundações no município, é preciso adotar medidas para o mar através de comportas. Só que isso gera a
estruturais e não estruturais. As primeiras, que modifi- necessidade de grandes áreas de armazenamento
cam a paisagem da bacia com intervenções dentro temporário de volumes de água, agravando o risco
e fora da rede de drenagem, são particularmente ne- de acidentes pela possibilidade de ruptura de uma
cessárias em locais de urbanização intensa em que dessas estruturas.
os problemas de cheia já ocorrem. As obras podem É recomendável, também, adotar um sistema de
minimizar os impactos de enchentes e permitir a reor- alerta e um plano de contingência no caso de even-
denação dos escoamentos no tempo e no espaço. tos excepcionais. E criar um plano diretor de drena-
As medidas não-estruturais buscam estabelecer con- gem urbana que considere os cenários futuros de
dições de convívio harmonioso com a ocorrência de mudanças climáticas e prepare a cidade para lidar
enchentes e são importantes no planejamento a mé- com este problema, buscando uma interação mais
dio e longo prazo. Podem estar associadas ao zone- harmônica com o ambiente.
amento de cheias, ao estabelecimento de limites de
impermeabilização, à confecção de planos diretores saneamento
de manejo de águas pluviais e a ações de educação ambiental. ambiental
Tendo em vista as mudanças climáticas, é preciso pensar também São várias as formas como as
em medidas mais sustentáveis que visem resgatar a capacidade de mudanças climáticas poderão
armazenagem e infiltração da bacia. Assim é possível diminuir a depen- afetar a disponibilidade hídrica
dência do sistema de drenagem em relação às dimensões da rede e da e a prestação dos serviços de
capacidade de descarga no exutório, passando a ter uma prevenção abastecimento d’água e esgota-
contra os efeitos de possíveis mudanças climáticas. Essas medidas fo- mento sanitário. Dentre elas vale
cam a causa do processo, ou seja, a própria geração de escoamentos. destacar:
O agravamento do problema de cheias em áreas muito baixas e
modificações na sazonalidade,
na distribuição espacial e nos
regimes das chuvas influencia-
rão na disponibilidade e qua-
lidade dos recursos hídricos e
podem levar a disputas pelo
uso da água.
prolongadas e frequentes
estiagens também podem
comprometer a qualidade de
mananciais superficiais e sub-
terrâneos - com menos chuvas,
diminui a diluição de poluen-
tes provenientes de esgotos sa-
nitários e efluentes industriais
não tratados.
25
RMRJ e a s v u l n er a b i li dad es Às mudanÇas cli mÁti ca s
mais chuvas intensas e menor da mesma forma, poderão estar sujeitas aos mesmos efeitos as in-
permeabilidade do solo decor- dústrias localizadas próximas a estuários que captam água direta-
rente de longos períodos de mente nos rios.
seca farão com que a recarga a elevação do nível do mar poderá impedir o escoamento hidráulico
dos aquíferos subterrâneos seja em superfície livre que usualmente rege o lançamento de efluentes
insuficiente. tratados de estações de tratamento de esgotos em corpos d’água
em áreas costeiras, a elevação receptores.
do nível do mar sujeitará os cur- sempre que ocorrerem inundações de áreas urbanas pela elevação
sos d’água de planície e aquí- do nível do mar, as estações de tratamento de esgoto (ETEs) poderão
feros à influência das águas ser fisicamente afetadas pelo fato de usualmente serem localizadas
salgadas. próximas aos corpos d’água receptores.
a elevação da temperatura po- o incremento da frequência e da intensidade de chuvas também
derá significar o aumento da tenderá a promover a elevação do lençol freático subterrâneo e a
perda física de água pelos sis- saturação do solo, comprometendo o funcionamento de poços ab-
temas através da evaporação sorventes de esgotos tratados – do tipo “sumidouros”.
em reservatórios. áreas urbanas desprovidas de rede coletora de esgotos e de gale-
a elevação do nível do mar po- rias de águas pluviais e que hoje em dia ainda contam com valas
derá impor o reassentamento negras para o escoamento conjunto de águas pluviais e esgotos sa-
de populações e talvez a ne- nitários, estarão em situação sanitária-ambiental ainda mais adversa
cessidade de recorrer a novos no caso de chuvas mais intensas e frequentes
mananciais e infraestrutura
para a prestação dos serviços gestão dos resíduos sólidos
de abastecimento de água e Segundo o Panorama Nacional dos Resíduos Sólidos de 2009 orga-
esgotamento sanitário. nizado por Abrelpe (Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pú-
a elevação da temperatura po- blica) e Secretaria Estadual do Ambiente, são gerados cerca de 18.800
derá fazer o consumo de água toneladas/dia de resíduos no Estado, sendo 75% deles na RMRJ. Do total
crescer em até 20%, o que de- coletado, 33% ainda são dispostos em aterros controlados e lixões. Além
mandará a extração de maio- da disposição inadequada, os serviços de coleta não são universali-
res quantidades de água de zados. Onde eles não chegam, é comum o descarte dos resíduos em
mananciais que eventualmen- encostas, logradouros, rios e canais, o que causa danos ao meio am-
te já poderão apresentar sinais biente, à saúde pública e aos sistemas de micro e macro drenagem,
de esgotamento. além de provocar deslizamentos que comprometem vidas e destroem
em corpos d’água poluídos, o bens materiais.
aumento da temperatura po- Tanto o governo estadual quanto os municipais da maioria das cida-
derá acelerar a velocidade das des da RMRJ estão se mobilizando para gerir melhor os resíduos, com
reações de decomposição de a construção de aterros sanitários mais seguros e o desenvolvimento
poluentes e de solubilidade de de programas de adequação, recuperação e encerramento das uni-
gases, afetando ainda mais a
qualidade da água.
com o aumento das chuvas intensas e do escoamento, as águas
dos mananciais superficiais tendem a apresentar sobre-elevação da
turbidez, da contaminação fecal e de outros parâmetros físico-quí-
micos, requerendo um esforço maior nas Estações de Tratamento de
Águas para chegar ao padrão de potabilidade, o que tende a elevar
os custos dos serviços e as tarifas cobradas aos usuários.
o aumento das inundações devidas ao escoamento instantâneo do
volume de água represado também ameaça a segurança estrutural
das barragens de nível.
26
dades existentes. É preciso, no en- to de estudos específicos das prefeituras, que deverão criar pon-
tanto, implementar mecanismos tos para armazenamento em cotas topográficas mais elevadas.
que permitam a sustentabilida- O aumento de episódios de tempestades também pode piorar o já
de econômica dos novos aterros existente cenário de lixo sendo arrastado pelas chuvas para logra-
para impedir que eventuais dificul- douros, rios, lagoas e baías, contribuindo ainda mais para seu assore-
dades financeiras das prefeituras amento, a redução da qualidade da limpeza e a poluição ambiental
transformem-nos em lixões, o que de corpos hídricos.
ocorre com frequência no país. E
num cenário de mudanças climá- O aumento da frequência e da intensidade de rajadas de ventos e
ticas, é recomendável pensar em chuvas também irá alterar bastante os serviços de varrição de ruas
todas as etapas da cadeia do lixo: e áreas públicas das cidades.
Rajadas de ventos e ciclones
O acondicionamento precário dos resíduos e a irregularidade nos causam o desfolhamento pre-
serviços de coleta, ou mesmo sua inexistência em alguns lugares, maturo de árvores, aumentan-
já são um problema quando ocorrem fortes precipitações, uma vez do a quantidade de resíduos
que os resíduos são carregados para os sistemas de drenagem de a serem varridos. Nas cidades
águas pluviais, obstruindo galerias e canais e causando grandes mais arborizadas, os fortes ven-
alagamentos nas cidades. Com o aumento previsto da intensidade tos associados a tempestades
e da ocorrência de grandes tempestades, este mau comportamento já têm causado o entupimento
da população e um precário serviço público em comunidades situa- dos sistemas de drenagens pe-
das em encostas poderão aumentar ainda mais os riscos de desliza- las folhas e pelos resíduos não
mentos em função da provável obstrução dos canais de drenagem. varridos, aumentando os ala-
Nas áreas de baixadas, que são suscetíveis a inundações por in- gamentos. Rios e canais que
tensas precipitações ou pelo aumento no nível de oceanos e não estiverem com seus leitos
baías, o sistema de acondicionamento de lixo deverá ser obje- limpos e desobstruídos não
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RMRJ e a s v u l n er a b i li dad es Às mudanÇas cli mÁti ca s
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MAPA 7: Unidades de destinação de resíduos sólidos sensíveis às mudanças climáticas
cachoeira
de macacu
duque de guarapirim
paracambí caxias magé
ATR Adrianópolis
japerí
nova iguaçu
queimados belford Aterro de
Aterro Industrial roxo Gramacho
seropédica - tribel itaboraí
mesquita são joão Aterro Itaóca
do mirití tanguá
itaguaí nilópolis são gonçalo
Morro do Bumba
mangaratiba
maricá
rio de janeiro Morro do Céu
niterói
saúde pública não à mudança climática global. Mesmo assim são evidências de que
O AR4 do IPCC, de 2007, reco- diante de aumentos extremos de precipitação, a ocorrência de surtos
nheceu três mecanismos pelos de doenças como leptospirose, por exemplo, cresce também.
quais as mudanças climáticas Especificamente para o município do Rio de Janeiro, foram conside-
podem afetar a saúde humana: radas suas vulnerabilidades com base em estudos de caso e conheci-
efeitos diretos (como reações fi- mento histórico sobre as relações entre variabilidade climática e saúde
siológicas a ondas de calor ou no país:
acidentes decorrentes de inunda-
ções ou deslizamentos de terra); Epidemias de leptospirose
efeitos sobre o ambiente, afetan- A doença transmitida por uma bactéria que vive em roedores tem
do a produção de alimentos, a ocorrido frequentemente na RMRJ na época mais chuvosa do ano. A
oferta e a qualidade de água e a água de inundações normalmente é contaminada pela urina desses
ecologia de vetores de doenças animais, chegando assim até o ser humano. A maior epidemia foi regis-
infecciosas; e efeitos sobre pro- trada em 1996, com 1790 casos e 49 mortes em menos de três meses – o
cessos sociais, como migrações que faz com que esta seja uma das maiores do mundo. Essa situação
provocadas por secas prolonga- confere à região uma vulnerabilidade importante em um cenário de
das. Em especial para países eu- mudanças climáticas, considerando o modelo regionalizado de 2007
ropeus, há vários trabalhos sobre desenvolvido por José Marengo e colegas do Inpe, que aponta para
impactos já observados das mu- uma provável elevação dos eventos climáticos extremos nas regiões Sul
danças climáticas na saúde. e Sudeste do país.
No Brasil, trabalho organizado
por Ulisses Confalonieri, da Fio- Precipitação e acidentes
cruz, e publicado pelo Centro de A relação entre chuvas intensas de verão e acidentes com risco de
Gestão e Estudos Estratégicos em morte é também bastante conhecida do habitante do Rio de Janeiro e
2009, fez uma revisão da situação de outros municípios do Estado, como se pôde observar na região Ser-
da saúde no Brasil em situações rana no início de 2011. As principais ocorrências são de deslizamentos,
de mudanças do clima. Mas os quedas de árvores, afogamentos em estruturas de drenagem, eletrocus-
registros epidemiológicos referem- são e acidentes de trânsito. É de se esperar que todos eles piorem em
-se a observações de impactos à eventos climáticos extremos.
variabilidade natural do clima e
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RM SP e as v u l n er a b i li dad es Às mudanÇas cli mÁti ca s
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REALIZAÇÃO APOIO