Monografia Lorena PDF
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Monografia Lorena PDF
Belo Horizonte
2013
LORENA STEPHANIE DE CAMARGO
BELO HORIZONTE
2013
C172p
CDU: 651.5
Ficha catalográfica: Biblioteca Profª Etelvina Lima, Escola de Ciência da Informação da UFMG
Àquela que me dedicou a sua vida e
seu amor, e à qual dedico todo meu
coração: Mãe!
AGRADECIMENTOS
O caminho não é tão longo, tortuoso e turbulento quando contamos com pessoas que
fazem valer a pena seguir em frente.
À minha família, por ser minha maior alegria e o meu porto seguro nos momentos de
dificuldades, meu muito obrigada. Em especial a minha prima Larissa, por ter me
apresentado ao curso de arquivologia, e ter me apontado o melhor dos caminhos que eu
poderia escolher. Sou o espelho de todos vocês, e me orgulho imensamente por isso!
Agradeço aos meus amigos, por me trazerem o sorriso entre um parágrafo e outro, aos
colegas de trabalho, que tanto contribuíram para que me apaixonasse pela profissão e
aos colegas de sala, que dividiram essa longa jornada comigo.
Por fim, agradeço ao meu orientador Welder, pela paciência e atenção que me dedicou.
Por sua disponibilidade e por todas as dicas e conselhos, que sempre levarei comigo.
Seu entusiasmo pela arquivologia me contagiou... Muito obrigada!
Com vocês cheguei até aqui, e por vocês já anseio a descoberta de novos horizontes!
“Não era
o dono da verdade.
Como tantos,
tentava encontrá-la.”
A partir de uma análise teórica sobre o protocolo e sua função estratégica dentro da
gestão de documentos nas organizações, foi feito um estudo de caso em uma fundação
de direito privado, com o objetivo de identificar a percepção dos empregados sobre o
serviço de protocolo. Para esse fim foram criados três grupos nos quais foram aplicados
questionários baseados na escala de Likert. Como resultado foi verificado que, como na
literatura especializada, há visões divergentes sobre o serviço de protocolo, apontando
desde visões conservadoras do protocolo como um setor ou como um serviço
burocrático, até a visão do protocolo como serviço de natureza estratégica.
1 INTRODUÇÃO............................................................................................. 11
1.1 Problema...................................................................................................... 12
1.2 Objetivos...................................................................................................... 13
1.2.1 Objetivo geral........................................................................................... 13
1.2.2 Objetivos específicos................................................................................ 13
1.3 Justificativa................................................................................................. 13
1.4 Estrutura da monografia........................................................................... 14
2 A ESTRATÉGIA, A INFORMAÇÃO E O ARQUIVO............................. 16
3 GESTÃO DE DOCUMENTOS.................................................................... 19
4. O PROTOCOLO SEGUNDO OS CONCEITOS DE GESTÃO DE
DOCUMENTOS............................................................................................... 28
5 AS CONCEPÇÕES DO PROTOCOLO..................................................... 31
5.1 O protocolo como serviço – conceitos e atribuições................................. 36
6 PROTOCOLO - UM ARTICULADOR DA GESTÃO
DE DOCUMENTOS...................................................................................... 42
7 METODOLOGIA.......................................................................................... 45
7.1 Tipo de pesquisa.......................................................................................... 45
7.2 Universo da pesquisa.................................................................................. 46
7.3 População e amostra................................................................................... 47
7.4 Os instrumentos de pesquisa e a coleta de dados..................................... 48
7.5 Análise dos dados........................................................................................ 49
8 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS............................ 52
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................ 59
REFERÊNCIAS................................................................................................ 61
APÊNDICE A – CONCEITOS DE GESTÃO DE
DOCUMENTOS............................................................................................... 69
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO................................................................ 72
11
1 INTRODUÇÂO
informação arquivística1, tão logo quanto for preciso. O protocolo, por ser um serviço cujas
atividades estão presentes desde a produção até a destinação final, possui influência em todas
as fases da gestão de documentos, dessa forma, se torna importante não só no processo de
tomada de decisão, mas no próprio exercício da gestão de documentos, auxiliando para que
ela possa atingir os objetivos aos quais se propõe.
Embora esse cenário destaque o papel estratégico do protocolo, não é isso que se nota
nas instituições e na literatura arquivística. A história administrativa brasileira imputou a esse
serviço uma imagem negativa dentro das instituições e, consequentemente, na cultura social, o
que parece ter refletido no campo arquivístico, pois é notável a escassez de desenvolvimentos
teóricos que tentem refutar essa conotação. Dessa forma, permanece um entendimento
equivocado do serviço, o que acarreta em entraves ao funcionamento da gestão de
documentos, e na perda de potencial estratégico à administração.
A evolução do pensamento gerencial tem denotado maior importância aos arquivos e à
memória documental, pois a qualidade das decisões empresariais depende, essencialmente, do
acesso à informação arquivística. Manter a documentação organizada e, sobretudo, disponível
no momento, local e para as pessoas certas, é fundamental, por isso, é imprescindível que a
gestão de documentos possua uma estrutura adequada, em que o protocolo esteja incluso e
desenvolvendo as atribuições que lhe cabem de maneira apropriada.
Seguindo a analogia utilizada por Sousa em sua análise sobre classificação (2008,
p.159) o automóvel só possui o alcance social atual porque possui um sistema integrado, onde
todas suas peças funcionam. Se alguma parar, o veículo já não responderá como antes. Da
mesma forma deve ser com o arquivo; todas as suas peças (atividades) devem estar bem
estruturadas, de forma que a gestão de documentos funcione e sirva de subsídio para que a
instituição chegue onde deseja.
Nesse contexto, a pesquisa aqui apresentada tem como ponto de partida o problema,
objetivos e justificativas apresentados abaixo.
1.1 Problema
1
Na concepção desse trabalho, entende-se informação arquivística como: aquela produzida (ou recebida) pela
instituição no exercício de suas funções e atividades, ou por pessoa física no decurso de sua existência, tanto
aquela que apresenta fixidez de forma e conteúdo, quanto a que a contextualiza e permite sua recuperação de
acordo com padrões pré-estabelecidos. (SANTOS, 2011, p.163)
13
1.2 Objetivos
Este estudo propõe atender ao objetivo geral e aos objetivos específicos a seguir.
1.3 Justificativa
Para investigar essas questões, efetuou-se uma pesquisa que encontra-se estruturada
em oito capítulos.
No capítulo dois, A estratégia, a informação e o arquivo, aborda-se de forma sucinta o
que é a estratégia. São caracterizados alguns elementos que fazem parte do seu processo de
elaboração, demonstrando seu papel dentro da administração. Utiliza-se a importância da
informação nesse processo para chamar atenção à influência do arquivo, sobretudo, do
controle do fluxo documental, na manutenção das instituições.
No capítulo três, Gestão de documentos, em uma abordagem crítica, é realizada uma
análise de diversos conceitos de gestão de documentos, na tentativa de compreender em que
15
Conforme descrito por Tavares (1991, p.165), embora os dicionários mantenham essa
vertente militar em sua definição, “o termo tem hoje uma concepção mais abrangente, tendo
sido incorporada à terminologia dos negócios a partir da década de 60”. Dentro desse novo
enfoque, estratégia passou a ser a “arte de utilizar, adequadamente, os recursos físicos,
financeiros e humanos, tendo em vista a minimização dos problemas e a maximização das
oportunidades” (OLIVEIRA, 2006, p.191), de forma com que a organização assuma uma
“posição exclusiva e valiosa” (PORTER, 1999, p.63) no seu ambiente de atuação.
Em linhas gerais, estratégia é o “modo pelo qual a empresa procura distinguir-se de
maneira positiva da concorrência, usando seus pontos fortes para atender melhor às
necessidades dos clientes” (OHMAE, 1985, p. 42). Partindo dessa definição, fica claro que “a
essência da formulação da estratégia consiste em enfrentar a competição” (PORTER, 1999,
p.27), o que está diretamente relacionado à tomada de decisão.
Nesse contexto, a informação deixou de ser um elemento comum e passou a
desempenhar um papel de destaque (LOUSADA, 2011, p.12), se tornando a “matéria-prima
17
para a competitividade dos negócios” (JANNUZZI, 2002, p. 21). Diante desse cenário, torna-
se evidente que a organização que dispõe mais rapidamente de informações, pouco
importando a proveniência, o suporte ou o tipo, será aquela que alcançará melhor desempenho
e melhor competitividade em seu negócio (ROUSSEAU; COUTURE, 1998, p. 62).
Localizar a informação correta e em tempo hábil representa uma forte vantagem
competitiva para as organizações, pois, geralmente, elas não dispõem das informações
necessárias, sobre si mesmas e sobre o ambiente, para realizar o planejamento estratégico
(ANSOFF, 1990, p.100). Em muitos casos, essa ausência de informações sobre si mesma
nada mais é do que o desconhecimento dos próprios registros, consequência da inexistência
de políticas arquivísticas, o que conduz a uma pluralidade, heterogeneidade e, por vezes,
ausência de métodos de trabalho, levando a um acumulo desordenado de documentos, que
dificultam o acesso à informação (BERNARDES e DELATORRE, 2008, p.6).
Embora esse acesso à informação seja fundamental, é conveniente destacar que não é
qualquer informação que possui potencial estratégico. É claro que existem informações do
ambiente externo que devem ser levadas em consideração, mas se tratando do ambiente
interno da empresa, esse potencial estratégico se concentra nas informações orgânicas, ou
seja, aquelas elaboradas, expedidas ou recebidas no âmbito da missão de um organismo
(ROUSSEAU e COUTURE, 1998, p.291), e que se manifestam estruturadamente por meio da
unidade fundamental, o documento arquivístico2. Moreno (2006, p. 85) exemplifica isso bem
com o seguinte esclarecimento:
2
Na concepção dessa pesquisa, entende-se documento arquivístico como: “conjunto de dados estruturados,
apresentados em uma forma fixa, representando um conteúdo estável, produzido ou recebido por pessoa física ou
jurídica (pública ou privada), no exercício de uma atividade, observando os requisitos normativos da atividade à
qual está relacionado, e preservado como evidência da realização essa atividade.” (SANTOS, 2011, p.142)
18
p.65). Partindo desse princípio, o arquivo, enquanto mantenedor das informações essenciais à
formulação da estratégica, consequentemente, adquire um potencial estratégico.
Contudo, mesmo que pareça simples, “não podemos dizer que utilizar
estrategicamente as informações seja uma coisa fácil” (MCGEE e PRUSAK3, 1994, p.17,
apud DOBELIN, 2007, p.81). Antes de se pensar no sujeito que irá usufruir da informação, é
preciso pensar nos meios necessários para que ela esteja disponível. Ao contrário do que
muitos imaginam, a capacidade de recuperar a informação arquivística com eficiência e
eficácia não parte da gestão da informação, e sim da gestão de documentos. A gestão de
documentos precede a gestão da informação contida nos documentos arquivísticos, pois é ela
quem executa os métodos e técnicas capazes de, entre outras coisas, controlar o fluxo dos
documentos e agilizar o acesso à informação e o processo decisório (BERNARDES e
DELATORRE, 2008, p.8)
Se “a essência do posicionamento estratégico consiste em escolher atividades
diferentes daquelas dos rivais” (PORTER, 1999, p. 63), porque não inovar e investir nos
serviços arquivísticos como uma fonte estratégica à elaboração de estratégias? Investir nos
arquivos, seus documentos e informações poderia significar um aumento na possibilidade de
recuperação de forma rápida e eficaz de informações necessárias à elaboração de estratégias,
além de garantir a guarda adequada dos registros que permitam o controle e a avaliação das
estratégias que forem estabelecidas. Dessa forma, o arquivo e seus serviços passariam a ser
setores estratégicos, ou seja, setores com serviços diferenciados que contribuem para o
alcance da missão da empresa.
Como se percebe, na concepção dessa pesquisa, parte-se do pressuposto que ser
estratégico é ser diferente, é tentar fazer o que ninguém faz e enxergar potencial onde os
concorrentes ainda não veem.
3
MCGEE, James; PRUSAK, Laurence. Gerenciamento estratégico da informação. Rio de Janeiro: Campus,
1994.
19
3 GESTÃO DE DOCUMENTOS
Esse cenário justifica o pioneirismo dos Estados Unidos no que diz respeito à gestão
de documentos, cujo conceito “se institucionalizou com a aprovação da Lei Federal de
Arquivos, em 1950” (PAES, 1998, p.45), que trata a gestão de documentos como
4
RICKS, Artel. La administración de documentos como función archivistica. In: CONGRESSO
INTERNACIONAL DE ARQUIVOS, 8., 1976, Washington. Anais... Washington, 1976. 29 p.
20
econômica gestão das operações dos agências (44 U.S.C. Chapter 29 apud
FONSECA, 2004, p.73, tradução da autora).
Mesmo possuindo raízes desde o final do século XIX, Paes (1998, p.45) aponta que o
termo “incorporou-se, formalmente, na terminologia arquivística após sua inclusão no
Dicionário do Conselho Internacional de Arquivos, editado em 1984”, que define a gestão de
documentos como “uma área da administração geral relacionada com a busca de economia e
eficácia na produção, manutenção, uso e destinação final dos mesmos” (CIA5, 1984 apud
JARDIM,1987, p.35). No Brasil, embora a expressão já fosse amplamente utilizada desde os
ano 80, seu conceito só foi consagrado com a Lei 8.159, de 8 de janeiro de 1991 (PAES,
1998, p.45.), que estabelece em seu art. 3º a seguinte definição:
Embora esse seja o conceito que norteie o trabalho de muitos dos arquivos brasileiros,
é necessário atentar-se à ausência do termo classificação na definição no texto da lei em
questão. Essa ausência, embora possa parecer pequena, pode trazer uma problemática, pois, a
função classificação é matricial, isto é, a partir dela que as outras funções/intervenções
ganham corpo, consolidam-se, configuram-se (SOUSA, 2003, p. 242), e uma vez não
compreendida como procedimento de gestão, abre-se espaço para que não seja elaborada,
comprometendo qualquer operação que se tente executar. Além disso, conforme demonstra
Sousa (2003, p. 242), a aplicação dos princípios de respeito aos fundos e o de ordem original
incide diretamente sobre a função da classificação e, sendo esses princípios básicos da
arquivologia, não podem ser desconsiderados no processo de gestão de documentos. Essa é
uma problemática, inclusive, que envolve os outros conceitos supracitados, mas que não será
apresentada nesse trabalho.
Embora seja perceptível que possuam um fundamento teórico parecido, a Lei norte
americana, o Conselho Internacional de Arquivos e a Lei nº 8.159, utilizam de conceitos
diferentes para definir o mesmo termo, o que reafirma a influência que o contexto histórico
administrativo e geográfico tem sob os arquivos. Os diferentes contextos sob os quais o termo
é definido explica o fato de não haver “um conceito único e de aplicação universal”
5
CONSELHO INTERNACIONAL DE ARQUIVOS – CIA. Dictionary ofarchival terminology. Paris: K-G,
Sauer, Munchen, 1984.
21
(INDOLFO, 2007, p.33), apontando o que parece ser uma fragilidade terminológica na
Arquivologia no mundo.
A partir disso, foi feito um rápido levantamento dos conceitos existentes, a fim de
compreender melhor o que é a gestão de documentos, quais seus objetos, sua forma de ação e
qual seu objetivo. O levantamento foi feito levando em consideração as leis e normas
existentes, e na literatura, entre os autores mais influentes da área, sobretudo no cenário
brasileiro. Porém, mesmo buscando na literatura, somente três conceitos foram encontrados.
Pesquisando entre autores como Jardim (1987), Paes (1987; 1998), Bellotto (2002; 2005),
Santos (2008; 2011), Sousa (1997; 2000; 2003), Indolfo (2007), Lopes (2009) e Rondinelli
(2002) não foram encontrados conceitos elaborados pelos próprios autores. O que chama
atenção é que parece haver um consenso na literatura brasileira, pois a grande maioria desses
autores utiliza o conceito dado pela Lei 8.159 para tratar da gestão de documentos, contudo,
esse é um assunto que requer uma análise à parte.
O cenário encontrado resume-se no seguinte quadro:
QUADRO 1
Análise dos conceitos de gestão de documentos. (Os conceitos analisados podem ser
encontrados no Apêndice A)
Autor Objeto Ação Objetivos Observações
Porém, para alcançar esses benefícios, é necessário entender que todas as ações que
tangem a gestão de documentos são essenciais ao seu correto funcionamento. É primordial
compreender que a gestão de documentos deve funcionar tal qual um sistema, ou seja, “um
conjunto de elementos interdependentes e interagentes no sentido de alcançar um objetivo ou
finalidade” (CHIAVENATO, 2003, p.476). Embora essa não seja uma definição diretamente
ligada a arquivologia, “a reflexão sobre o conceito de raciocínio sistêmico também pode ser
consolidada na gestão de documentos”, pois esse é um processo que possui uma série de
atividades a serem cumpridas, que estão interligadas de tal forma que “uma alteração mal
planejada em uma parte de um sistema poderá provocar alteração randômicas em outras partes
do mesmo”. (SILVA; MARINHO e SANTOS, 2007, p.70), por isso, é imprescindível atenção
a todos os procedimentos.
É nesse momento que visualiza-se, na concepção deste trabalho, um certo equívoco:
foca-se nos procedimentos intelectuais que envolvem a gestão de documentos, esquecendo-se
que ela ocorre a partir da execução conjunta de diversas operações. Volta-se a atenção à
elaboração de Planos de Classificação e Tabelas de Temporalidade, deixando em segundo
plano os meios pelos quais esses instrumentos serão aplicados. O protocolo é exemplo desse
descaso com os demais procedimentos relativos à gestão de documentos.
Entende-se que de pouco vale uma gestão de documentos bem planejada e com
instrumentos de qualidade se esses não forem inseridos de fato no cotidiano da instituição. É
necessário nos atentarmos mais aos demais procedimentos que envolvem a gestão de
documentos, principalmente àqueles que farão com que esta ocorra na prática, como é o caso
do protocolo.
Feita a análise e as considerações acima a respeito da gestão de documentos e seu
objeto, ação e objetivo, para o presente estudo, partiu-se da Política Estadual de Arquivos de
Minas Gerais, a Lei 19.420, de 11 de janeiro de 2011, que em seu art. 5º define a gestão de
documentos como
QUADRO 2
Análise dos conceitos de gestão de documentos sob a perspectiva do protocolo
Autor Como menciona o protocolo.
Glossary of Archival and O conceito chama atenção ao utilizar o termo controle duas
Records Terminology vezes, de forma que entende-se como uma das funções da
(2005) gestão de documentos o controle sistemático daquilo que
controla os documentos. Nesse caso, parece muito claro
afirmar que no segundo momento, o termo controle remete
diretamente ao protocolo. Se assim for, esse é o único
conceito encontrado que, ainda que não utilize exatamente
o termo protocolo, faz menção de forma direta e clara a ele.
RODRIGUES, Ana Não menciona o protocolo, mas cita como seu objetivo o
Célia controle dos documentos arquivísticos, o que pode supor o
(2007) subentendimento do protocolo.
Minas Gerais Não cita o protocolo, mas traz uma de suas atribuições, a
(2011) tramitação. Embora também seja função do protocolo
classificar os documentos, no contexto da lei, o termo
parece se referir ao processo intelectual da classificação.
Como se pôde ver, em muitos dos conceitos, mesmo que não exista o termo protocolo,
palavras como “controle”, “tramitação” e “recebimento” chamam atenção à sua existência
dentro da gestão de documentos, contudo, essa identificação só é possível a partir de um
conhecimento prévio do tema.
Ainda que pareça algo pequeno, o impacto da omissão do termo protocolo nos
conceitos e a ausência de pesquisas sobre o tema pode ser notado observando o cenário
arquivístico nacional. Embora exista um Plano de Classificação e uma Tabela de
Temporalidade e Destinação de Documentos para as atividades meio da administração
pública, Sousa (1997, p.2) demonstra que a maior parte dos arquivos da administração pública
brasileira conta com “dois grandes acervos: os arquivos montados nos setores de trabalho e as
31
massas documentais acumuladas”. É fato que existem outras questões que corroboram para
que o cenário brasileiro seja esse, porém, é necessário frisar que, provavelmente, essa situação
tem como uma de suas causas à ausência de uma política arquivística que evidencie as demais
ações que envolvem a gestão de documentos, como o protocolo, por exemplo.
Face ao exposto, este estudo toma como objeto o protocolo, seu conceito e papel na
gestão de documentos.
31
5 AS CONCEPÇÕES DO PROTOCOLO
1 selo que os antigos romanos punham nos registros dos atos públicos. 2 ata,
registro de atos oficiais . 2.1 na Idade Média, registro dos atos públicos. 2.2
registro das audiências nos tribunais. 2.3 registro de uma conferência
internacional ou negociação diplomática. 2.4 livro de registro da
correspondência oficial de uma empresa, universidade, repartição pública,
etc. Ex: registrar o requerimento no protocolo. 3 Derivação: por metonímia.
Regionalismo: Brasil. cartão ou recibo em que o protocolador anota a data e
o número de ordem com que foi registrado no livro de protocolo um
processo ou requerimento. 4 Derivação: por extensão de sentido.
Regionalismo: Brasil. a seção onde trabalha o protocolador. Ex: fazer passar
um requerimento pelo protocolo. 5 conjunto de normas reguladoras de atos
públicos, especialmente nos altos escalões do governo e na diplomacia;
cerimonial. 6 Derivação: por extensão de sentido. característica do que segue
normas rígidas de procedimento; formalidade, etiqueta. Ex: quebrar o
protocolo. 7 acordo entre duas ou mais nações, menos importante que o
tratado ou a convenção. 8 versão preliminar de um acordo entre países Ex:
protocolo de intenções.
Nota-se mais uma vez a presença do termo registro, porém, dessa vez aparece com
uma conotação diferente. Antes o protocolo estava subentendido nas entrelinhas do termo
registro, porém, agora fica evidente que esse termo, na verdade, é apenas uma das atribuições
do protocolo, e não o serviço em si. Ressalta-se que, cabem ao protocolo outras atividades,
como o recebimento, a classificação, a distribuição, o controle e a expedição de documentos.
O interessante a observar no conceito apresentado é que ele aponta a classificação como uma
atividade do protocolo, o que pode nos levar a questionar se o termo classificação, presente
em alguns conceitos de gestão de documentos, pode remeter de alguma forma a essa atividade
do protocolo. Essa certamente poderia ser uma hipótese a ser considerada, porém, não parece
a mais adequada quando observamos que existe na arquivologia uma fragilidade teórica e
terminológica sobre o que é o protocolo e quais suas atribuições.
Contrapondo, por exemplo, o conceito acima com o apresentado por Paes (2005, p.
27), é possível notar a ausência desse consenso, pois a autora aborda o protocolo como
6
Burocracia ou organização é o sistema em que a divisão do trabalho é sistemática e corretamente realizada,
tendo em vista os fins visados. É o sistema social onde há a procura deliberada de meios adequados para se
atingirem os fins propostos (CHIAVENATO, 1979, p.10).
36
A análise realizada até o momento aponta que a provável problemática do tema tem
sua gênese na diversidade conceitual, e na consequente polissemia que existe em torno do
termo protocolo. Ao buscar aparato na literatura, corre-se o risco de sair ainda mais confuso,
pois notou-se que em certos casos o termo é utilizado sem a explanação do que se entende por
protocolo, dessa forma, gera-se a possibilidade de que o leitor fique confuso, sem saber se o
autor se refere a um setor ou a um livro, por exemplo. Há ainda casos em que ao invés da
palavra protocolo, utilizam-se outras nomenclaturas, como por exemplo, setor de registro e
correspondência, o que provavelmente impactará no momento da pesquisa de um usuário com
baixo conhecimento sobre o tema.
37
Diante das definições levantadas e, a partir das colocações de Sousa (2000, p.2),
elencamos a identificação e o controle como os pressupostos que norteiam a constituição do
conceito de protocolo. Dessa forma, para os fins deste trabalho, entende-se que protocolo é o
“conjunto de operações visando o controle dos documentos que ainda tramitam no órgão, de
modo a assegurar a imediata localização e recuperação dos mesmos, garantindo assim, o
acesso à informação [arquivística]” (INDOLFO, 1995, p.16).
Nessa concepção, nota-se que o termo não remete a um setor, a um livro ou a um
número de registro, e sim a um serviço, ou seja, “uma série de atividades de natureza mais ou
menos intangível (...) que é fornecida como solução aos problemas dos clientes
(GRONROOS, 1995, p. 36), ou no caso, aos problemas e necessidades dos usuários. Esse
entendimento parece ser o mais apropriado, pois não restringe a compreensão do protocolo
apenas como uma forma de registro, pelo contrário, demonstra que o protocolo abarca outras
ações, apontando seu objetivo. Além do mais, a abordagem do protocolo enquanto serviço
torna-se mais interessante, pois evita-se que as atividades desenvolvidas por unidades
específicas, que figuram nas estruturas organizacionais com a denominação de “protocolo”,
“protocolo e arquivo”,“comunicação administrativa”, “documentação e comunicação
administrativa” etc. (SOUSA, 2000, p.2), sejam entendidos de forma diferente, pois assim
como coloca o autor, “tanto faz o nome do setor, desde que o serviço seja desenvolvido”.
Por tudo isso, e de modo a evitar confusões e facilitar a leitura do pesquisador, para os
fins dessa pesquisa, serão utilizados os seguintes termos: “protocolo”, para se referir ao
serviço; “número de registro”, para se referir ao número atribuído ao documento; e “livro de
registro” ou “ficha de registro”, para fazer referência aos livros ou fichas utilizados como
forma de controle.
No que se refere ao conceito de protocolo, embora ele nos seja satisfatório, é
necessário destacar que não há menção às ações que envolvem esse serviço. Segundo Paes
(1987, p.19) “o protocolo inclui as atividades de recebimento, registro, distribuição,
movimentação e, algumas vezes, a expedição de correspondências e documentos em geral”,
caracterização semelhante à de Indolfo (1995, p.16), que cita como atividades do protocolo:
recebimento e classificação, registro, autuação e controle da tramitação. Já Amorim e Clares
(2002, p.26) se estendem um pouco mais, sugerindo que cabe ao protocolo: receber processos,
documentos, expedientes e correspondências oficiais; verificar, examinar e classificar os
documentos recebidos; efetuar pesquisas sobre os documentos recebidos; registrar, juntar,
apensar ou incorporar o documento recebido; distribuir internamente; manter o perfeito
38
controle das movimentações e; emitir relatórios a todos os setores com informações sobre o
controle das movimentações.
Ainda que as abordagens sejam diferentes, entende-se aqui que, nenhuma é
inadequada. Todas as atividades listadas competem ao protocolo, porém, a forma de distribuí-
las dependerá do contexto no qual está inserido, pois esse pode demandar uma visão mais
minimalista ou maximalista do serviço. Para esse momento de análise, adotaremos um
modelo baseado no que a literatura expõe, porém, isso não significa dizer que esse é o modelo
ideal a qualquer instituição. Partindo da divisão proposta por Silva e Santos (2007, p.92), as
atribuições do protocolo podem ser divididas em três grupos, sendo: Recebimento e
Classificação; Autuação e Registro; e Distribuição e Controle dos registros arquivísticos.
As operações de recebimento e classificação consistem na análise inicial do
documento, de forma que não sejam recebidos “documentos incompletos, sem assinatura ou
identificação, ou até mesmo de competência de outro órgão” (AMORIM e CLARES, 2002,
p.26). Após essa conferência, é efetuada a “separação dos documentos recebidos em oficial
ostensivo ou sigiloso e particular” (INDOLFO, 1995, p.16). Aqueles classificados como
sigiloso e particular devem ser encaminhados aos seus respectivos destinatários, enquanto os
ostensivos deverão ser abertos e analisados quanto à existência, ou não, de antecedentes. Em
caso afirmativo, poderá ser promovida a juntada por anexação7, a juntada por apensação8, a
desapensação9, o desentranhamento10, o desmembramento11, ou abertura ou encerramento de
volumes. Em caso negativo, deverá ser classificado de acordo com o código pertinente
(SILVA e SANTOS, 2007, p.93). Nota-se aqui que o processo de classificação ocorre em dois
momentos, primeiramente na definição de restrições de acesso e, posteriormente, na
7
É a união definitiva e irreversível de 01 (um) ou mais processo(s)/documento(s), a 01 (um) outro processo
(considerado principal), desde que pertencentes a um mesmo interessado e que contenham o mesmo assunto.
(BRASIL, 2002).
8
É a união provisória de um ou mais processos a um processo mais antigo, destinada ao estudo e à uniformidade
de tratamento em matérias semelhantes, com o mesmo interessado ou não. (BRASIL, 2002)
9
É a separação física de processos apensados. (BRASIL, 2002)
10
É a retirada de peças de um processo, que poderá ocorrer quando houver interesse da Administração ou a
pedido do interessado. (BRASIL, 2002)
11
É a separação de parte da documentação de um ou mais processos para formação de novo processo o
desmembramento de processo dependerá de autorização e instruções específicas do órgão interessado. (BRASIL,
2002)
39
instrumentos de controle, possibilitando que o registro seja feito por, pelo menos, um
representante em cada unidade organizacional.
O modelo de protocolo descrito
de pode-se resumir na figura a seguir.
seguir
PROTOCOLO
Abertura de Envio de
Análise do Entrega ao Controle da
processo documentos à
Documento destinatário tramitação
(se necessário) externos
que até então se restringia a uma atividade intelectual (SOUSA, 2006, p.136), deixa de ser
algo teórico e se torna algo prático. Partindo da concepção de Sousa (2003, p.241), de que a
classificação é função matricial, e que é a partir dela que as outras funções se consolidam,
esse se torna um dos momentos mais importantes da gestão de documentos. Trata-se do
momento em que a gestão de documentos deixa o âmbito teórico e atinge a realidade, e mais
do que isso, trata-se do momento determinante para que os outros serviços também possam
ganhar corpo.
No que diz respeito à tramitação, esse é um processo intrínseco ao protocolo, uma vez
que está entre suas atribuições controlar o fluxo informacional dentro da organização. É
importante salientar que esse controle só será possível após o registro do documento, por isso,
recomenda-se que esse registro seja realizado ainda no momento de produção, ou no ato de
recebimento. Esse procedimento, embora simples, é de suma importância, pois é o controle da
tramitação desde o momento de produção que irá assegurar a imediata localização e
recuperação dos documentos, garantindo assim o acesso à [uso da] informação (INDOLFO,
1995, p.16).
No que tange à avaliação, sua relação com o protocolo se dá, principalmente, através
do registro feito no momento de produção ou de recebimento do documento. Segundo
Bernardes (1998, p.17), um dos passos para a implantação do processo de avaliação de
documentos é a análise do fluxo documental, sua origem, pontos de tramitação e
encerramento do trâmite, informações diretamente relacionadas ao protocolo. O protocolo
também pode ser útil ao levantamento da produção documental, através das informações
contidas no registro do documento. Além disso, também pode agilizar o trabalho da Comissão
de Avaliação de Documentos em instituições que já possuam um Plano de Classificação e
uma Tabela de Temporalidade (adequados) implantados, através do código de classificação
anotado durante o registro do documento.
Por fim temos o arquivamento. Nesse caso a influência do protocolo se dá de forma
diferente, pois não é uma influência direta, e sim fruto da relação do protocolo com as outras
atividades da gestão de documentos. O protocolo influencia o arquivamento através do auxílio
que proporciona à avaliação, dessa forma, assegura-se que os documentos só cheguem ao
arquivo em seu devido tempo. Além disso, cabe ao protocolo atribuir o código de
classificação aos documentos, facilitando assim o processo de arquivamento e,
posteriormente, de recuperação da informação.
44
Cabe destacar ainda a utilidade que o protocolo pode possuir mesmo em locais onde
haja uma massa documental acumulada. Partindo de uma instituição em que não há um Plano
de Classificação e uma Tabela de Temporalidade elaborados, o protocolo, através das
informações contidas em seu registro, poderá fornecer elementos que favoreçam a elaboração
desses instrumentos, como por exemplo, o fluxo de tramitação, os documentos que são
produzidos, o suporte, a procedência, etc. É claro que para isso o protocolo deve possuir ao
menos uma estrutura que assegure o registro correto dos documentos e o controle de sua
tramitação. Uma vez elaborados os instrumentos de gestão, sua aplicação também será
iniciada através do protocolo.
Advoga-se, portanto, o reconhecimento do protocolo enquanto um dos articuladores da
gestão de documentos. Esse papel se sustenta na compreensão de que o protocolo tem como
uma de suas funções o controle daquele que é o principal objeto da gestão de documentos: o
documento arquivístico. Além do que, cabe a ele o cumprimento daquilo a que a arquivística
integrada se propõe (controle desde a produção até a destinação final) e ao alcance de um dos
objetivos de maior importância às instituições, o rápido acesso aos documentos e à
informação arquivística para a agilidade na tomada de decisão (LOUSADA, 2011, p.39).
45
7 METODOLOGIA
12
GOOD, William; HATT, Paul K. Métodos em pesquisa social. São Paulo: Nacional, 1973.
46
Com base nisso, optou-se por utilizar uma abordagem mista, pois o objetivo era
analisar dados quantitativos quanto qualitativos. Esses dados foram levantados em uma
pesquisa de campo, na forma de um estudo de caso, e compreendeu as seguintes etapas:
Isso, somado aos mais de 15 mil projetos gerenciados, evidenciam sua credibilidade e
influência.
O volume documental que chega, sai e tramita na instituição todos os dias é muito
grande. Cabe ao protocolo somente a responsabilidade pelo recebimento e expedição desses
documentos, não havendo uma forma estabelecida para controlar sua tramitação interna. Há
de se ressaltar ainda que o arquivo e o protocolo não aparecem no organograma da instituição,
pois não se configuram como gerências.
Diante do exposto, definiu-se essa fundação como universo da pesquisa por
compreender que se trata de uma instituição reconhecida, influente, com uma grande rede de
contatos e que pode ser tida como modelo para outras fundações do mesmo ramo. Dessa
forma, entende-se que a concepção do protocolo existente dentro dessa instituição é algo
relevante, dada a possibilidade de disseminação do mesmo entendimento a outras instituições
e ate mesmo à população, de forma geral.
buscou-se analisar o ponto de vista daqueles que compõem a parte estratégica da instituição.
Por fim, no Grupo 3 (graduandos em arquivologia) buscou-se avaliar se há um entendimento
correto do protocolo, a fim de presumir se esses funcionários (que estão lotados nos arquivos)
estão aptos a identificar e promover o potencial estratégico do serviço, bem como corrigir
falhas que ele venha apresentar. A intenção é avaliar a percepção da amostra em um ambiente
real, e ao final, contrapor os dados para tentar entender como essa percepção pode afetar o
serviço de protocolo.
13
BACKER, Paul de. Gestão ambiental: a administração verde. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1995.
14
MATTAR, Fauze Najib. Pesquisa de marketing. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2001.
49
Em contrapartida, essa é uma escala que exige mais tempo para ser completada do que
outras escalas, pois exige que o respondente leia todas as afirmações (MALHOTRA, 2004,
p.267).
A escala foi representada conforme a seguinte figura:
É preciso ressaltar que os números de 1 a 5 não dizem respeito ao valor de cada item,
são apenas uma forma de identificar no questionário o que representa cada coluna onde o
respondente marca sua resposta.
O questionário foi elaborado a partir das situações encontradas ao longo do
desenvolvimento da pesquisa. Não teve como objetivo analisar se o respondente possui
conhecimento absoluto do que é o protocolo, ou quais suas atribuições, buscou-se apenas
compreender se a concepção do protocolo está em torno do seu entendimento como algo
estratégico, burocrático, ou simplesmente operacional. Busco-se ainda investigar se a
problemática que envolve a terminologia atinge essas pessoas, e se há o conhecimento da
relação existente entre o protocolo e o arquivo.
O questionário foi elaborado no mês de setembro de 2013, porém, antes mesmo do
pré-teste, foi detectada a necessidade de se alterar duas afirmativas, pois essas induziam ao
respondente a entender o protocolo enquanto serviço. Feitas as correções, iniciou-se o pré-
teste, já no mês de outubro de 2013, quando detectou-se a necessidade de reformular três e
retirar uma das afirmações. A versão final foi aplicada no mês de novembro de 2013.
O questionário foi distribuído simultaneamente a todos os grupos. Finalizado o
preenchimento, partiu-se para a tabulação dos dados.
Para a análise dos resultados, entendeu-se que seriam necessárias duas análises: uma
relativa às características individuais de cada grupo, e outra contrapondo os três resultados
obtidos. Para isso, foi necessário estabelecer dois métodos para tabulação dos dados.
O primeiro método, para a análise dos agentes de cada grupo, levou em consideração
apenas a quantidade de pessoas que marcaram cada um dos níveis de concordância. Dessa
forma, pretendeu-se observar as diferenças de entendimento existentes entre pessoas inseridas
em um mesmo contexto. Já o segundo método necessitou de procedimentos um pouco mais
elaborados.
Para que os dados pudessem ser tratados estatisticamente, utilizou-se uma conversão
conforme demonstrada por Richardson (2011, p.288), onde cada grau de concordância possui
um valor atribuído, sendo: 5(cinco) = concordo totalmente; 4(quatro) = concordo; 3(três) =
não concordo nem discordo; 2(dois) = discordo; 1(um) = discordo totalmente. É comum que
na análise dos resultados de uma escala Likert, estabeleça-se que as afirmações com
conotação negativa tenham essa escala invertida, porém, essa estratégia não foi utilizada na
análise, pois o questionário utilizado não possui itens negativos (exemplo: O protocolo não é
um setor).
Para a análise dos resultados entre os grupos, foi necessário desconsiderar a
individualidade das respostas e definir, através de média, qual o grau de concordância do
grupo como um todo para cada afirmativa. Para cada frase, somou-se a pontuação da resposta
de todos do grupo e dividiu-se esse resultado pelo número de componentes existente no
grupo, conforme exemplo abaixo:
Ex:
Um grupo de 5 pessoas, em que três concordam (4 pontos) e duas discordam (2
pontos) com a afirmação nº 1. Então temos:
(4 x 3) + (2 x 2) = 12 + 4 = 16 = 3,2
5 5 5
Esse cálculo foi feito para os três grupos, em todas as 8 afirmativas e, a partir disso, foi
possível partir para a contraposição de entendimento entre os grupos.
Não foram realizados testes para verificar a validade15 ou a confiabilidade16 interna
dos dados, no entanto, conforme demonstra Valentim (2005, p.170), é preciso entender que
fatores “como a pressa, a desconfiança em pesquisas, a temperatura, o ruído, o bem-estar ou
mal-estar, o ambiente, etc.” podem influir na resposta do questionário, levando a possibilidade
da existência de certa margem de erro nos números apresentados.
15
A validade se refere à capacidade que os métodos utilizados numa pesquisa propiciam à consecução fidedigna
de seus objetivos. (GOMES DE JÚNIOR, LEÃO e MELLO, 2011, p.194)
16
A confiabilidade refere-se à garantia de que outro pesquisador poderá realizar uma pesquisa semelhante e
chegará a resultados aproximados. (GOMES DE JÚNIOR, LEÃO e MELLO, 2011, P.195)
52
17
O protocolo está incumbido de atribuir responsabilidades no eventual extravio ou perda de documentos.
53
TABELA 1
Resultados do Grupo1
Discordo Concordo
Discordo Neutro Concordo
Totalmente Totalmente
Setor - - - 5 2
Serviço 1 - 1 4 1
Nº registro - - 1 3 3
Burocrático 1 1 2 2 1
Estratégico - 1 2 1 3
Operacional - 1 1 2 3
Vínculo com o
- 1 3 3 -
arquivo
Fonte: Dados da pesquisa.
TABELA 2
Resultados do Grupo2
Discordo Concordo
Discordo Neutro Concordo
Totalmente Totalmente
Setor 2 - - 2 1
Serviço - - - 1 4
Nº registro 1 - - 3 1
Burocrático 3 - 1 1
Estratégico 2 - 1 2
Operacional 1 1 1 2
Vínculo com o
- 1 - 1 3
arquivo
Fonte: Dados da pesquisa
TABELA 3
Resultados do Grupo 3
Discordo Concordo
Discordo Neutro Concordo
Totalmente Totalmente
Setor - 1 1 1 -
Serviço - - - 3 -
Nº registro - - - 3 -
Burocrático - 1 1 1 -
Estratégico - 1 - 2 -
Operacional - - - 2 1
Vínculo com o
- - - 2 1
arquivo
Fonte: Dados da pesquisa
A partir dos resultados obtidos por cada grupo e, levando em consideração que estão
todos inseridos em um mesmo contexto, partiu-se para a contraposição dos resultados. A
média obtida por cada grupo permitiu classificar seu grau de concordância, conforme tabela
abaixo:
TABELA 4
Média dos grupos
TABELA 5
Média sobre o entendimento do termo
seja de extrema importância que os gerentes possuam essa percepção, por serem aqueles
capazes de demandar que determinadas ações ocorram, esses não são, na concepção dessa
pesquisa, os resultados mais desejados. O mais esperado seria que aqueles que estudam
arquivologia deixassem a zona de neutralidade e passassem a defender a linha estratégica,
adotando uma postura capaz de convencer aos demais funcionários (inclusive os gerentes)
desse potencial por detrás do protocolo. Entretanto, não foi exatamente o que ocorreu, pois os
outros grupos identificaram melhor essa vertente do serviço.
TABELA 6
Média sobre o entendimento do serviço
Por último, mais uma vez observou-se a existência de uma linha muito semelhante
entre os grupos 2 e 3, pois ambos concordam que deve existir uma relação entre arquivo e
protocolo, visão essa que não é tão clara para os funcionários que atuam no serviço. Essa é
uma compreensão importante, pois a relação direta entre protocolo e arquivo é fator
determinante para que o protocolo possa cumprir suas atribuições com excelência, alcançando
o resultado almejado.
TABELA 7
Média da compreensão da relação entre protocolo e arquivo
Grupo1 Grupo2 Grupo3
Afirmativa
relativa à Vínculo
compreensão
com o 3,3 4,2 4,3
da relação do
protocolo com arquivo
o arquivo
Fonte: Dados da pesquisa
58
A partir dos resultados é possível perceber que existe uma forma de entendimento
muito semelhante entre os grupos 2 e 3, o que pode facilitar a comunicação entre ambos, mas
ao mesmo tempo pode ser negativa, pois também há consenso sobre visões que não são as
mais adequadas. Embora fosse interessante que os funcionários do setor de protocolo
possuíssem uma visão estratégica do serviço,
serviço, uma vez que eles contribuem para a
disseminação dessa visão distorcida, não é de todo prejudicial que assim não seja, pois esses
não fazem parte daqueles que definem as diretrizes da instituição. Cabe aos gerentes esse
papel, contudo, não há como exigir que eles possuam o mesmo nível de conhecimento que
aqueles que estudam arquivologia. É papel do arquivista identificar o potencial estratégico do
protocolo, definir sua estrutura adequada, apresentar
apresentar propostas de melhoria e convencer o
gerente a abraçar suas ideias, para que o plano apresentado ganhe respaldo e possa ser
executado. Porém, o alcance do modelo proposto não depende somente dessas duas partes,
por isso, cabe ao arquivistaa e ao gerente,
gerente, em conjunto, fazer com que àqueles que atuam no
protocolo abandonem a concepção errônea do serviço, aliem-se
aliem se à ideia, e trabalhem em prol
desse objetivo, conforme demonstra a figura abaixo.
Gerente
Convence (Compreende o potencial Convence
estratégico e toma
providência para o
funcionamento proposto
pelo arquivísta)
PROTOCOLO
ESTRATÉGICO
A partir da análise, pode-se concluir que o senso comum gera uma visão
conservadora do termo, mesmo entre aqueles que deveriam possuir conhecimento
específico na área, como é o caso dos alunos. Nota-se que ainda existe uma visão
distorcida do protocolo, por isso é importante caminhar para a construção de uma nova
concepção, na qual o protocolo passe a assumir um papel estratégico.
59
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora seja algo intrínseco à gestão de documentos, o serviço de protocolo ainda não
possui o devido reconhecimento na arquivologia. O baixo arsenal teórico e a ausência de
estudos aprofundados sobre o tema indicam o enorme campo arquivístico que ainda há para
ser estudado. Reconhecendo esse potencial, a presente pesquisa se propôs a compreender o
que é o protocolo, quais as suas funções e atribuições, e qual a sua importância, sobretudo, à
gestão de documentos.
Os estudos demonstraram que existe uma relação direta entre o arquivo e a definição
de estratégias dentro da administração, e que essa relação se dá através da gestão de
documentos, destacando-se nesse processo o controle do fluxo da informação, desenvolvido
através das atividades do protocolo. Contudo, o alcance desse ideal só se dará a partir do
momento em que houver a clara compreensão de que o protocolo é parte integrante da gestão
de documentos, porém, conforme se constatou esse conhecimento ainda não está consolidado,
nem na academia, nem nas organizações.
A análise dos conceitos de gestão de documentos demonstrou que ainda há lacunas a
serem preenchidas. A ausência do termo classificação nos conceitos levantados foi quase
absoluta, o que merece especial atenção, uma vez que essa é uma operação fundamental ao
funcionamento da gestão de documentos. No entanto, há de se ressaltar que a presença de
termos como “planejamento”, “economia”, “eficiência”, “eficácia” nos conceitos constatam a
relação existente entre arquivo e administração, sobretudo no processo de tomada de decisão,
já que a gestão de documentos assegura o controle sistemático da informação arquivística,
assegurando que ela esteja disponível no local e momentos correto.
Ainda sobre os conceitos de gestão de documentos, notou-se que em nenhum deles há
a menção ao termo protocolo, o que provavelmente pode explicar a ausência de estudos e
disseminação do tema. Essa ausência de estudos, por sua vez, também pode estar contribuindo
para a manutenção de uma visão pouco definida, mas conservadora do termo, e cria uma
lacuna que distorce a visão do serviço e infere ao protocolo uma conotação pejorativa.
Os resultados obtidos por meio do questionário vão ao encontro da literatura exposta,
confirmando que essa indefinição conceitual atinge não só os estudantes da área, mas os
outros agentes envolvidos (tanto do nível operacional quanto do nível estratégico de uma
organização). Constatou-se ainda que, permanecem traços que configuram o protocolo como
60
algo burocrático ou simplesmente operacional, porém seu papel estratégico pode estar sendo
percebido. Embora os resultados obtidos sejam válidos, são empíricos, por isso, é interessante
que novas pesquisas sejam elaboradas, ampliando o universo analisado, na tentativa de
compreender se existe algum consenso no entendimento social e acadêmico sobre o serviço.
Se por um lado os resultados demonstram um cenário animador sobre a concepção do
protocolo, por outro, indicam uma preocupação com a formação dos graduandos em
arquivologia. Os estudantes de arquivologia não possuíram um resultado muito diferente dos
demais envolvidos na pesquisa, o que se deduz ser fruto da ausência de estudos na área.
Espera-se que ele seja o profissional capaz de quebrar o paradigma que envolve o protocolo,
mas como fazê-lo se ele mesmo não tem o entendimento ideal do que é o serviço? A situação
nos leva a sugerir que sejam desenvolvidas pesquisas voltadas a um público acadêmico, no
intuito de investigar a abordagem que a ciência tem dado ao protocolo, detectando os pontos
fortes e fracos desse entendimento, e sua influência na formação do profissional de arquivo.
Essa é uma análise relevante e recomendada, uma vez que esse é o serviço que articula a
gestão de documentos e contribui para o alcance do seu principal objetivo: o acesso à
informação.
Conforme demonstrado, o protocolo é um serviço estratégico à gestão de documentos
e à administração (principalmente através do controle do fluxo documental), entretanto, sua
importância não se restringe a esses elementos. Presume-se que o protocolo também possa
influenciar os aspectos que dizem respeito à autenticidade, unicidade e o inter-relacionamento
dos documentos, podendo até mesmo possuir ligações com a diplomática e a definição de
tipologia documental. O serviço pode, inclusive, ser útil às atividades do arquivo permanente,
fornecendo subsídios, dados, informações e metadados sobres os documentos e seu contexto
de proveniência para o arranjo e a descrição, por exemplo. Provavelmente, o protocolo possui
influências e relações maiores que as aqui citadas, por isso, espera-se que estudos sobre o
tema comecem a ser desenvolvidos, para que se possa aproveitar ao máximo o seu potencial.
O preconceito que ainda envolve o serviço age como dificultador do alcance da sua
execução de forma estratégica à administração e à gestão de documentos. Cabe ao arquivista
atuar para o amadurecimento e mudança dessa reputação, ampliando a concepção do
protocolo, de forma que ele assuma uma posição que lhe assegure uma imagem mais forte e
resulte no seu reconhecimento acadêmico e social.
61
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68
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the term “records management” means the planning, controlling, directing, organizing,
training, promoting, and other managerial activities involved with respect to records
creation, records maintenance and use, and records disposition in order to achieve adequate
and proper documentation of the policies and transactions of the Federal Government and
effective and economical management of agency operations
"[the] field of management responsible for the efficient and systematic control of the creation,
receipt, maintenance, use and disposition of records, including the processes for capturing
and maintaining evidence of and information about business activities and transactions in the
form of records"
O controle sistemático e administrativo dos registros em todo o seu ciclo de vida para garantir
a eficiência e economia na sua criação, uso, manuseio, controle, manutenção e disposição.
71
The systematic and administrative control of records throughout their life cycle to ensure
efficiency and economy in their creation, use, handling, control, maintenance, and
disposition.
Domínio da gestão administrativa geral com vistas a assegurar a economia e a eficácia das
operações desde a criação, manutenção e utilização, até a destinação final dos documentos.
72
APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO
QUESTIONÁRIO
Para cada uma das questões indique o seu grau de concordância, de acordo com a escala
abaixo:
1 2 3 4 5
Discordo Discordo Não concordo Concordo Concordo
totalmente nem discordo totalmente
1 2 3 4 5
O protocolo é um setor
O protocolo é um serviço