Timidez Como Virtude - 03-09-2018 - Luiz Felipe Pondé - Folha
Timidez Como Virtude - 03-09-2018 - Luiz Felipe Pondé - Folha
Timidez Como Virtude - 03-09-2018 - Luiz Felipe Pondé - Folha
Folhapress
3.set.2018 às 2h00
Outro dia ouvia uma colega, muito inteligente e bonita, me dizer da “gastura”
que sentia em ouvir pessoas falando sobre suas qualidades intelectuais,
realizações e títulos. Estando eu presente no momento desse infeliz “self
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28/09/2018 Timidez como virtude - 03/09/2018 - Luiz Felipe Pondé - Folha
O mau hábito de falar das próprias realizações sempre existiu. Mas, hoje, é
diferente: ser brega e fazer self marketing virou uma “ciência”. Hoje, a velha
máxima que “toda virtude verdadeira é tímida” se transformou numa
informação urgente.
Toda virtude verdadeira é tímida. Sempre. Sim, sei que somos seres de
contínua baixa autoestima, e que o mundo prima por nos ferrar todo dia:
gorda, burro, brocha, histérica, mal amado, enfim, adjetivos feitos para
destruir a já frágil autoestima que temos. E que, portanto, muitas vezes nos
faz cair na tentação de reafirmar nossos feitos na cara dos outros. Mas há
uma diferença quando fazemos isso em claro momento de desespero e
quando fazemos isso achando que estamos abafando. O caso comentado
pela minha colega era este segundo caso.
Por que toda virtude verdadeira é tímida? Antes de tudo, porque a vocação
constante à vaidade que nos assola deixa a virtude insegura com relação a si
mesma. Esta dinâmica, entre a dúvida da virtude x a certeza da vaidade é
tema, por exemplo, da clássica polêmica da graça entre Santo Agostinho
(354–430) e Pelagius (360–420).
Outro traço da virtude é ser desatenta consigo mesma. Por isso, alguns
afirmam que a maior de todas as virtudes seria a humildade, uma vez que
esta é o oposto simétrico da vaidade. O cotidiano da virtude não é checar a si
mesma continuamente no espelho para ver o quão bem sucedida ela tem
sido em ser ela mesma. Essa desatenção consigo mesma é traço essencial da
virtude. Associada a ela está a percepção de “naturalidade” que toda virtude
verdadeira transparece.
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Essa “naturalidade” da virtude está descrita por Aristóteles (384 AC–322 AC)
quando em seu “’Ética a Nicômaco” ele diz que a virtude deve se transformar
numa segunda natureza.
Timidez aqui é quase uma metáfora, não para a insegurança enquanto tal,
mas para a virtude instalada no cotidiano do virtuoso que se deixa perceber
pelo ato, e não pelo “anúncio do ato”.
Por isso, afirma-se que a virtude é pública, jamais privada. É silenciosa, mas
sua existência é atestada pelo olhar do outro que a vê acontecer no mundo,
sem anunciar que está acontecendo. O histórico do seu comportamento,
reconhecido ao longo do tempo pelas pessoas à sua volta (mesmo as que te
odeiam), se constituirá na substância do seu caráter. Esse caráter, ao longo
da vida, se constituirá, por sua vez, no seu destino. Por isso, afirma-se que
virtude é destino. Sendo ela uma segunda natureza, realizada no silêncio do
esforço prático sem tagarelice, a virtude (ou a ausência dela) pode se
transformar numa maldição mesmo. Nada garante que virtude traga
“felicidade”.
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virtudes como forma de sabedoria é um desafio para o século 21. Otavio Frias
Filho era um exemplo vivo delas.
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