7 Lições Sobre Os Conceitos Cruciais Da Psicanálise
7 Lições Sobre Os Conceitos Cruciais Da Psicanálise
7 Lições Sobre Os Conceitos Cruciais Da Psicanálise
O conceito de castração
É uma experiência que consiste no fato de que, pela primeira vez, a criança reconhece, ao preço
da angústia, a diferença anatômica entre os sexos. Até ali, ela vivia na ilusão da onipotência; dali
por diante, com a experiência da castração, terá de aceitar que o universo seja composto de
homens e mulheres e que o corpo tenha limites, ou seja, aceitar que seu pênis de menino jamais
lhe permitirá concretizar seus intensos desejos sexuais em relação à mãe. Essa experiência
inconsciente da castração é incessantemente renovada ao longo de toda a existência e
particularmente recolocada em jogo na cura analítica do paciente adulto.
Entre o amor narcísico pelo pênis e o amor incestuoso pela mãe, o menino escolhe o pênis.
Terceiro tempo: existem seres sem pênis e, portanto, a ameaça é bastante real.
É o tempo da descoberta visual da região genital feminina. O que a criança descobre visualmente
não é a vagina, mas a ausência do pênis. A partir desse fato, a perda de seu próprio pênis toma-
se também uma coisa passível de ser representada, e a ameaça de castração consegue fazer
efeito só depois"'. Dado o apego afetivo narcísico que ele tem pelo pênis, o menino não pode
admitir que existam seres à sua semelhança que dele sejam desprovidos. Por isso é que, quando
da primeira percepção visual da zona genital da menina, seu preconceito tenaz - a crença em
que é impossível haver seres humanos sem pênis - resiste intensamente à evidência.
Pontos comuns:
O complexo de castração feminino organiza-se de maneira muito diferente do complexo de
castração masculino, mas possui alguns pontos comuns: primeiro que ambos os sexos acreditam
na universalidade do pênis, e isto é, portanto, precondição necessária à constituição do
complexo de Édipo; o segundo traço comum refere-se à importância do papel da mãe, onde ela
continua a ser o personagem principal até o momento em que o menino se separa dela com
angústia, e a menina, com ódio.
Pontos distintos: no menino, o complexo de castração se encerra numa renúncia ao amor pela
mãe, ao passo que, na menina, ele abre caminho para o amor edipiano pelo pai. O édipo do
menino nasce e se encerra com a castração, já o da menina nasce, mas não termina com a
castração.
Primeiro tempo: todo mundo tem um pênis (o clitóris é um pênis) > Nesse primeiro tempo, a
menina ignora a diferença entre os sexos e a existência de seu próprio órgão sexual, isto é, a
vagina. Está perfeitamente feliz por possuir, como todo o mundo, um atributo clitoridiano, que
ela assemelha ao pênis e ao qual atribui o mesmo valor que o menino confere a seu órgão.
Segundo Tempo: o clitóris é pequeno demais para ser um pênis: "Fui castrada" > Esse é o
momento em que a menina descobre visualmente a região genital masculina. A visão do pênis
a obriga a admitir definitivamente que ela não possui o verdadeiro órgão peniano. Ante a visão
do pênis, a menina reconhece desde logo que já foi castrada, por fim, digamos que para melhor
distinguir a castração feminina da castração masculina, devemos ter em mente que o menino
vive a angústia da ameaça, enquanto a menina vivencia a inveja de possuir aquilo que viu e do
qual foi castrada.
Terceiro tempo: a mãe também é castrada; ressurgimento do ódio pela mãe > Ocorre quando
progressivamente ela toma consciência de que as outras mulheres - dentre elas sua própria mãe
- sofrem da mesma desvantagem. A mãe é então desprezada, rejeitada pela filha, por não ter
podido transmitir-lhe os atributos fálicos e, além disso, por não ter sabido ensinar-lhe a valorizar
seu verdadeiro corpo de mulher. O ódio primordial (tirada da mama) da primeira separação da
mãe, soterrado até esse momento, ressurge então na menina sob a forma de recriminações
incessantes.