Ateliê de Gravura
Ateliê de Gravura
Ateliê de Gravura
DADOS DA DISCIPLINA
EMENTA
Introdução aos conceitos teórico-práticos básicos relacionados às artes gráficas. Pro-
dução visual em gravura e estampa a partir do conhecimento inicial das seguintes
técnicas: monotipia, colagraf, xilogravura, gravura em metal (ponta-seca) e expe-
rimentos digitais. Pesquisa de materiais e suportes alternativos para a produção de
matrizes, gravuras e estampas como prática didático-pedagógica para professores do
ensino fundamental e médio.
ObjETIvOS gErAIS
Produzir gravuras e estampas a partir de técnicas como monotipia, gravura em rele-
vo, gravura em encavo, princípios básicos da serigrafia e experimentos digitais.
Ateliê de GrAvurA
ObjETIvOS ESPECífICOS
r Conhecer basicamente o universo das artes gráficas por meio da história da arte,
dando destaque aos seus principais artistas, conceitos e técnicas;
r Identificar os principais materiais, suportes e ferramentas utilizados na produ-
ção gráfica tradicional;
r Destacar as modificações sofridas nos campos visual e processual das artes gráfi-
cas a partir da comparação da produção gráfica tradicional com a contemporânea;
r Levantar dados sobre a produção gráfica local;
r Incentivar a pesquisa local de materiais e suportes alternativos para a confecção
de matrizes, gravuras e estampas para atividades tanto artísticas quanto didáti-
copedagógicas;
r Introduzir os procedimentos básicos de impressão e gravação em relevo e enca-
vo a partir das técnicas sugeridas na ementa desta disciplina;
r ploração de materiais.
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Ateliê de GrAvurA
MATErIAIS NECESSÁrIOS
1. MATErIAL COLETIvO
r 2 rolos de borracha;
r Tinta gráfica offset vermelha e preta;
r 1 prensa para gravura em metal;
r 2 espátulas largas de metal;
r 1 pedaço de vidro com no mínimo 60 x 40cm e 1cm de espessura
(com as bordas lapidadas); pode ser substituído por uma bancada de gra-
nito polido ou por uma mesa com tampo de vidro, enfim, por uma super-
fície lisa e firme que não absorva a tinta gráfica.
r 1 vidro de óleo de linhaça;
r 1 litro de querosene;
r Muitos jornais velhos;
r Vários panos e trapos;
r Detergente, sabonete e esponjas para limpeza;
r Barbantes e pregadores de roupa para a confecção de varais para secar as gravuras;
r Talco;
r 1 pia/tanque para auxiliar na limpeza dos materiais e da sala de gravura;
r bacias retangulares onde caiba o papel A3;
r 1 vidro de produto para polir metais (Brasso);
• Álcool líquido;
• Feltro para a prensa de gravura em metal.
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Ateliê de GrAvurA
rOTEIrO DE ESTUDO
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UNIDADE 1
Gravar e Imprimir
1.1. grAvAr
PArA rEfLETIr
Ao longo da história da humanidade, existem muitos exemplos que revelam
vestígios do ato de gravar. Você se lembra de mais alguns? E, atualmente, onde
você pode observar sinais dessa ação?
e com as mais diversas funções dentro de cada uma das culturas, como mos-
trado na Figura 1. Mas como o nosso foco está sobre o universo da gravura e
da estampa, seguiremos agora para o ano 105 d.C., período em que o chinês
Ts’ai Lun criou o papel.
OLhO vIvO
Faça um levantamento dos papéis disponíveis em sua cidade, a partir dele crie
uma lista com informações sobre as referências, formatos, cores, composição
e gramatura encontradas em cada um deles. A qualidade do papel interfere
profundamente no resultado final de uma gravura e em sua posterior con-
servação ao longo dos anos. Os papéis mais utilizados por artistas gravadores figura 1 – Parede de uma igreja
são o Washi (papel japonês para xilogravura) e os papéis 100% algodão com em Ouro Preto/Mg com ranhuras
pH neutro (para a gravura em metal). Antes de começar seus exercícios prá- e inscrições. Fotografia: Virgínia
regozino.
ticos, você deverá reunir folhas de pelo menos dois tipos de papel: um mais
fino (papel jornal e/ou sulfite) e outro com gramatura mais alta, ou seja, mais
encorpado (papel Canson ou similar).Você poderá também observar a rique-
za desse universo, pesquisando os sites das marcas mais conhecidas de papéis
especiais para uso artístico. São elas:
Canson: “http://www.canson.com.br/interno.html”
Fabriano: “http://www.cartierefabriano.it”
Hahnemühle: “http://www.hahnemuehle.com/”
Papéis japoneses no Brasil: “http://madeinjapan.uol.com.br/2005/12/06/
washi-arte-feita-de-arroz/”
Pesquise, experimente e escolha os papéis que possam lhe oferecer os me-
lhores resultados. Fique de olho!
Foi a partir da criação do papel que a ação de gravar uma superfície passou
a exigir outra ação complementar: imprimir o relevo gravado. A partir do sé-
culo II, a gravação de uma matriz de madeira — técnica chamada de xilogra-
vura — ganhou destaque no Oriente e se manteve, por muito tempo, ligada à
função de multiplicar a escrita. Apesar de a China ter sido a pioneira na cria-
ção do papel e da xilogravura, foi no Japão que as impressões xilográficas ga-
nharam circulação massiva com o objetivo de multiplicar a informação. Uma
única matriz gravada poderia, agora, receber tinta sobre os seus relevos para
então ser impressa diversas vezes sobre o papel. Essa é a ideia fundamental da
gravura tradicional: a produção de uma matriz gravada em baixo ou alto
relevos com a finalidade de ser impressa inúmeras vezes e gerar gravuras
semelhantes entre si. Talvez, nesse momento, tenham nascido os primeiros
“panfletos” impressos em série da nossa história.
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Ateliê de GrAvurA
SAIbA MAIS
O termo “gravura” é utilizado para dar nome tanto à linguagem quanto ao
seu produto, ou seja, tanto ao processo de produção quanto às cópias pro-
duzidas a partir da impressão de uma mesma matriz gravada. É muito co-
mum o uso incorreto dessa palavra, sobretudo nas escolas. Ouvimos nossos
professores pedirem: “Abram o livro na página 37 e observem a gravura da
pintura de Leonardo Da Vinci”. Provavelmente, uma gravura dessa pintura de
Leonardo nunca tenha existido. No livro, lidamos com reproduções mecâni-
cas de uma imagem que nada tem a ver com gravura. Um livro pode conter
gravuras, caso seja um livro-arte produzido manualmente numa tipografia,
por exemplo. Pergunte aos seus alunos se eles sabem o que é gravura. Esse
é um bom começo para a multiplicação do conhecimento que você está ad-
quirindo nessa disciplina.
DICA
O livro infanto-juvenil “O velho louco por desenho” trata de uma história
ambientada no período Edo. Belas ilustrações revelam o funcionamento dos
ateliês de xilogravura no Japão desse período, além de dar destaque à produ-
ção de um de seus maiores artistas: Hokusai.Vale a pena conferir!
PLACE, François. O velho louco por desenho. São Paulo: Companhia das
Letrinhas, 2004.
1.2. IMPrIMIr
figura 2 – Mão. Impressão
feita com tinta guache preta Imprimir é um ato inerente ao ser humano. Depois de dados os primeiros
sobre papel sulfite A4 por passos, nunca mais deixamos de gravar e imprimir marcas no mundo, a co-
uma aluna do curso de Intro- meçar por nossas pegadas ou mãos — verdadeiras impressões-vestígios da
dução à gravura da fundação nossa passagem (Figura 2). Num período distante, quando nossos ancestrais
jaime Câmara. goiânia, 2007.
aprenderam a ler atentamente os sinais da/na natureza, certamente as pega-
fonte: Manoela Afonso (arquivo
pessoal). das impressas por animais selvagens ou por outros seres humanos funciona-
vam como verdadeiros textos indicativos de como agir e para onde ir.
E você? Ao caminhar sobre a areia relativamente úmida, pôde perceber
marcas deixadas pelos seus pés ou sapatos sobre a superfície? O “desenho”
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Ateliê de GrAvurA
dos seus pés ou da sola dos sapatos ficaram impressos devido à pressão exer-
cida pelo peso do seu corpo sobre a areia. Esse é um caso de impressão sem
o uso de tinta. Nas artes gráficas, chamamos essa técnica de “relevo-seco”, ou
seja, uma matriz gravada que não é entintada, mas apenas pressionada forte-
mente contra a superfície do papel. O resultado é uma impressão a seco, sem
tinta, tal qual uma marca d’água.
E se você pisar numa terra úmida e vermelha antes de andar sobre um piso
branco? Certamente perceberá o desenho do solado do seu sapato impresso
no chão, em vermelho. Nas artes gráficas, ocorre o mesmo: o papel criado
pelos chineses passou a ser pressionado contra matrizes gravadas em madeira
e entintadas com tintas à base d’água. Ao repetir incansavelmente esse pro-
cesso, as imagens ou textos gravados iam sendo multiplicados.
PArA ExPErIMENTAr
Materiais Necessários:
figuras 3, 4 e 5 – Impressões de
- objetos com relevo; jogo-americano de plástico com
- pincéis; tinta gráfica preta sobre papel
- tinta guache; colorplus colorido. Cada uma
- tinta de carimbo; delas possui as dimensões 12 x
- almofada de carimbo; 16,5 cm. Autora: Manoela Afonso.
- papel sulfite;
- papel canson;
- outros papéis à escolha do aluno.
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Ateliê de GrAvurA
Atualmente, o hankô pode ser feito em madeira, bambu, pedra ou metais di-
versos, sendo, tradicionalmente, impresso com tinta vermelha. Mas, por volta
de 57 d.C., eles eram feitos em ouro maciço e utilizados por imperadores,
homens nobres e samurais.
PArA rEfLETIr
Você tem carimbos em sua casa? Observe-os. O que acontece com as letras,
palavras ou desenhos quando são impressos? Essa é uma das características
fundamentais da gravura e da estampa: a inversão da imagem (figura 6).
figuras 7 e 8 – Impressões
feitas a partir de matrizes de
borracha. Imagens:
Acima: Dalniran — aluno do
projeto Arte na Escola. Dimensões:
5,5 x 3,5 cm. goiânia/2006. Abai-
xo: Aline — aluna do curso
de Design da Faculdade Brasília.
Dimensões: 1,5 x 4,5 cm. Brasília,
2005. fonte: Manoela Afonso figura 6 – Carimbos. Fotografia: Manoela Afonso (arquivo pessoal).
(arquivo pessoal).
Lembre disso quando for planejar as suas matrizes para não ficarem ao
contrário! Observe as imagens abaixo (Figuras 7 e 8): os alunos esqueceram
que a palavra gravada no sentido correto ficaria invertida na impressão. Para
que a palavra saia no sentido certo, ela deve ser gravada invertida e espelhada.
Se você for trabalhar técnicas de impressão com seus alunos, deixe que eles
errem a primeira matriz. É na surpresa do erro que esse conhecimento fica
gravado na memória.
DICA
Luise Weiss é uma gravadora paulistana que em 2002, publicou um livro infan-
til escrito todo ao contrário. Junto com o livro vem um espelho, através do
qual o texto pode ser visto no sentido correto e, assim, lido sem problemas.
WEISS, Luise. Dentro do espelho. São Paulo: Cosac & Naify, 2002.
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Ateliê de GrAvurA
de ser impresso com tinta, a sua marca é feita sobre cera colorida derretida. Anti-
gamente, no Egito, Grécia e Roma, esse objeto era feito de madeira, mas, a partir
de meados do século XVI, passou a ser fabricado em metal. Foi justamente nesse
período que as técnicas de gravação em metal avançaram muito na Europa, em
resposta, dentre outros fatores, ao minucioso e dedicado trabalho de profissionais
da ourivesaria. Esse fato contribuiu definitivamente para o surgimento e ascensão
da gravura em metal.
Antes de prosseguimos com o conteúdo relacionado às principais técnicas da
gravura, vamos fazer uma pequena pausa. Até este momento, você percebeu que é
na união dos atos de gravar e imprimir que está o berço dos processos de multipli-
cação da informação, seja através de imagens ou da escrita. A gravação e a impres-
são por si só não possuíam a força necessária para cumprir tal tarefa; somente em
conjunto, transformaram-se na potente tecnologia de multiplicação, circulação e
consequente massificação do conhecimento. Com a criação do papel e de posse
de cada vez mais variedades de tintas, matrizes gravadas puderam ser impressas e
transmitir a gerações futuras o conhecimento de sua época. Assim nasceu a gravu-
ra, um processo indireto de produção de imagens, ao contrário do desenho e da
pintura, por exemplo, que são feitos diretamente sobre o seu suporte definitivo.
Levando em consideração a afirmação de que a gravura parte de uma matriz
gravada em alto ou baixo relevos, sendo capaz de gerar múltiplas cópias semelhan-
tes, como já foi explicado aqui anteriormente, pergunto-lhe: E quando uma ma-
triz não é durável o suficiente e é capaz de gerar apenas uma cópia? Assim mesmo,
pode ser chamada de gravura? Seu produto é uma gravura? Tradicionalmente, não.
Nesse caso, estamos falando de uma técnica de estampa: a Monotipia, da qual
vamos tratar a seguir antes de voltarmos às técnicas tradicionais de gravuras.
PArA rEfLETIr
No campo das artes gráficas, a nomenclatura sempre foi motivo de muita dis-
cussão entre artistas e especialistas. Nesta disciplina, consideraremos gravura
todas as técnicas de impressão que possam gerar uma tiragem composta por
cópias semelhantes entre si, originadas a partir de uma matriz gravada em
relevo ou encavo. Métodos que possuem matrizes efêmeras (monotipia), ou
planas (litografia), ou originadas por processos aditivos (colagraf), fotográ-
ficos (serigrafia) e digitais, serão chamados aqui de estampa. Isso não quer
dizer que uma coisa seja melhor que a outra! Gravura e estampa ocupam
lugares importantíssimos dentro das artes gráficas. Adotaremos esse critério
com base na tradição apenas para organizar nossas ideias e nivelar a narrativa.
Posteriormente, através de pesquisas e leituras complementares, você mes-
mo poderá fazer as suas opções com relação a esse e a outros problemas do
campo conceitual das artes gráficas.
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Ateliê de GrAvurA
1.3. MONOTIPIA
Como o próprio nome delata, “mono” significa “um” e “tipia” quer dizer
“impressão”, ou seja, trataremos, a partir de agora, de uma técnica de impres-
são capaz de gerar apenas uma única estampa. A monotipia é um processo de
transferência de uma superfície a outra que se situa entre a gravura, o desenho
e a pintura. Foi na Itália, por volta de 1650, que Giovanni Benedetto Casti-
glione (1609–1664) fez os primeiros experimentos utilizando essa técnica.
Até hoje, diversos artistas pesquisam e produzem bons trabalhos artísticos,
utilizando e explorando os recursos desse processo, como na Figura 9. Vale
ressaltar, também, que a monotipia é uma técnica muito apropriada às prá-
ticas artístico-pedagógicas ligadas às artes gráficas na escola, pois não exige
materiais complexos e é de simples execução.
Figura 9 – Preparação da superfície de vidro para a impressão de uma monotipia. Aluna da Oficina de Introdu-
ção à gravura da fundação jaime Câmara. goiânia, 2007. fonte: Manoela Afonso (arquivo pessoal).
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Ateliê de GrAvurA
figuras 10 e 11 – Monotipias (métodos aditivo e subtrativo). À esquerda: jane Oliveira. À direita: Marley. Ambas
alunas da Oficina de Introdução à Gravura da Fundação Jaime Câmara. Dimensões: 29,5 x 21cm. Goiânia, 2007.
fonte: Manoela Afonso (arquivo pessoal).
PArA ExPErIMENTAr
Materiais necessários:
- tinta guache, acrílica ou óleo;
- pincéis;
- papel sulfite;
- outros papéis à escolha do aluno;
- uma superfície lisa e impermeável (tampo de vidro, radiografia, acetato,
fórmica etc).
Primeiro, vamos experimentar o método aditivo de impressão em mo-
notipia, ou seja, adicionar tinta em uma superfície e transferi-la para o papel
por meio da impressão.
1. Pinte uma imagem com a tinta que você escolheu utilizar na superfície
lisa e impermeável. Se usar uma tinta à base de óleo, poderá trabalhar
com mais calma: as tintas a base d’água secam mais facilmente, inviabili-
zando, assim, a impressão da estampa.
2. Depois de pronta a pintura, coloque o papel sobre ela. Pressione-o, uni-
formemente, com as mãos. Nunca use tinta demais, pois a imagem im-
pressa poderá ficar borrada. Faça alguns testes em papel sulfite e, assim
que você compreender a relação tinta x pressão, passe a utilizar papel
Canson para os trabalhos definitivos.
3. Ao retirar o papel da superfície pintada, perceba alguns detalhes: a tinta
foi transferida para o papel, mas a imagem recém-obtida é bem diferente
daquela pintada na superfície lisa; a imagem impressa adquiriu outros
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Ateliê de GrAvurA
valores visuais e, além disso, está invertida. Sua pintura também se modi-
ficou após a impressão; você pode continuar trabalhando sobre os ves-
tígios de tinta deixados na superfície pintada, mas observe que mesmo
assim jamais obterá uma cópia igual àquela que você acabou de imprimir.
Agora vamos usar o método subtrativo (Figura 12), que consiste em retirar
tinta da superfície pintada antes de imprimir a imagem. Observe o passo a
passo:
1. Crie uma camada uniforme e fina de tinta e, utilizando cotonetes, palitos,
os próprios dedos ou outros instrumentos, produza desenhos, retirando
a tinta. Atenção! Observe bem esse processo, pois ele será a base do seu
pensamento, na Unidade 2, para a produção de matrizes de gravuras em
relevo, tais como a xilogravura ou a gravura em linóleo.
2. Ao final da sua composição, coloque o papel sobre a matriz e faça pres-
são. Retire o papel: sua monotipia está pronta.
figura 12 – Monotipia impressa com tinta gráfica (método subtrativo). Martha Costa, aluna da Oficina de
Introdução à gravura da fundação jaime Câmara. Dimensões: 21 x 29,5cm. goiânia, 2007. fonte: Manoela
Afonso (arquivo pessoal).
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Ateliê de GrAvurA
SAIbA MAIS
A tinta gráfica — offset ou tipográfica — é feita à base de óleo.A partir do seu
devido preparo, ela pode ser usada em praticamente todas as técnicas de gra-
vura e estampa artísticas: xilogravura, linoleogravura, calcogravura, colagraf,
litografia, monotipia e outros processos de impressão em relevo e encavo.
Das técnicas que comentaremos durante a disciplina, apenas a serigrafia não
pode ser feita com esse tipo de tinta. Para o manuseio da tinta gráfica, são ne-
cessárias algumas ferramentas e materiais, tais como: espátula de metal, rolo
de borracha, uma superfície lisa e impermeável, querosene, jornais velhos
(Figura 13). O uso correto de todo esse material é fundamental para a boa
produção de gravuras e estampas. A partir da Unidade 2, você começará a
utilizar essa tinta, portanto, providencie um avental, luvas de borracha, creme
hidratante para as mãos, esponjas, detergente, trapos velhos para limpeza
das bancadas. Veja o vídeo número 1 para compreender o modo correto de
manipular a tinta, quais são as quantidades ideais, como é o manuseio do rolo
de impressão, dentre outras informações.
Figura 13 – Material básico para impressão de gravuras e estampas: latas de tinta gráfica, rolo de
borracha e espátulas de metal. Fotografia: Manoela Afonso.
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Ateliê de GrAvurA
foram transferidas para a folha de papel tal qual acontece com uma
folha de carbono.
r O método Negativo nada mais é do que a impressão dos vestígios
deixados pelo processo aqui descrito. Ou seja, após retirar a impres-
são em Positivo, imediatamente coloque outra folha de papel sobre a
mesma área entintada e faça pressão nas costas do papel para obter a
impressão em negativo. O resultado será a imagem das linhas que você
figura 15 – xilogravura chinesa.
acabou de fazer, só que em negativo, ou seja, mais claras ou até mesmo
Fotografia tirada em fevereiro
de 2008, durante a exposição brancas.
“A arte popular da China”, que
aconteceu no Museu de Arte
de goiânia/MAg. fonte: Manoela
Afonso (arquivo pessoal).
DICA
Caso você queira aprofundar seu conhecimento sobre Monotipia, consulte
a Biblioteca Digital da Unicamp: “http://libdigi.unicamp.br.” No campo “pro-
curar por” digite a palavra “monotipia”. Você encontrará duas excelentes
dissertações de mestrado sobre o tema. Para baixá-las em seu computador,
você deverá fazer um cadastro, mas é muito fácil: coloque apenas o seu e-mail
e crie uma senha.Vale a pena, é um material muito rico sobre o assunto, com
imagens de trabalhos produzidos pelos autores-artistas: Paula Adriana Grizzo
Serignolli e Norival Benedito Figueiredo. Bom proveito!
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UNIDADE 2
Relevo, Encavo e Demais Processos de
Produção de Gravuras e Estampas
2.1. rELEvO
2.1.1. xILOgrAvUrA
DICA
Um exemplar do Sutra Diamante pode ser encontrado na Biblioteca Britâni-
ca. Acesse o link: “http://collectbritain.co.uk/onlinegallery/ttp/sutra/accessible/
introduction.html#content”e observe as imagens desse precioso livro. Repare
que a xilogravura é uma técnica de impressão em relevo. Portanto, tudo o que
você visualizar impresso no papel, ou seja, na cor da tinta, é o que estará em
relevo na matriz. O que não aparece na impressão foi cavado, desbastado.
Ateliê de GrAvurA
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Ateliê de GrAvurA
figura 18 – Maria vieira Araújo. xilogravura de topo. figura 19 – Maria vieira Araújo. Matriz de xilogravura
Diâmetro aproximado: 8,5 cm. Brasília, 2007. Fonte: de topo. Diâmetro aproximado: 8,5 cm. Brasília/2007.
Manoela Afonso. (arquivo pessoal) Fotografia: Manoela Afonso.
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figura 23 – xilogravura de topo ilustrada por gustave Doré e gravada por Pannemaker. A tentação de Cristo, 1865.
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Ateliê de GrAvurA
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Ateliê de GrAvurA
2.1.2. E NO brASIL?
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Ateliê de GrAvurA
OLhO vIvO
Os nomes citados até aqui são apenas exemplos. Certamente, existem
muitos outros excelentes gravadores espalhados pelo nosso País. Você
conhece algum? Na sua cidade existem gravadores? Quais são as téc-
nicas gráficas que eles utilizam? Faça uma visita ao ateliê desse artista
e descubra o que o fez optar por essa linguagem. Caso não existam
gravadores em sua cidade, adote um virtualmente: procure o máximo
de informações sobre ele, imagens de seus trabalhos e de seu ateliê.
E se você tiver alguma questão pertinente, por que não enviar-lhe um
e-mail com seus comentários e dúvidas? Conversar com um artista é
uma experiência fundamental para a compreensão de alguns proces-
sos, linguagens e obras artísticas. Certamente, o envolvimento com a
arte através da aproximação do artista será um grande diferencial na
sua formação tanto didático-pedagógica — como professor de artes
— quanto poética.
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Ateliê de GrAvurA
SAIbA MAIS
Tipos móveis são pequenas matrizes em relevo, unitárias, contendo letras
e números individuais. Desde meados do século II, na China, os tipos mó-
veis já haviam sido criados a partir de peças de barro cozido, embora a ex-
periência não tenha sido bem-sucedida devido à complexidade e variedade
dos caracteres existentes na escrita chinesa. Bem mais tarde, no século XIV,
os coreanos aperfeiçoaram a utilização de tipos de cobre. No século XV,
Gutemberg (Alemanha, 1390–1468) fez melhorias nos blocos de impressão,
criou a prensa e aperfeiçoou a tinta gráfica. O título do cordel mostrado na
Figura 27 foi impresso numa tipografia, ou seja, numa impressora que im-
prime tipos móveis. As palavras são montadas letra por letra, colocadas na
máquina, entintadas e depois impressas inúmeras vezes. Quando a impressão
é finalizada, as palavras são desmontadas e os tipos guardados conforme seus
padrões de fonte e tamanho. É um método de impressão artesanal, muito
diferente do que encontramos atualmente nas gráficas, onde o processo é
quase todo digital.
figura 27 – Tipos móveis. Fotografia tirada na exposição didática do Museu Casa da Xilogravura,
situado em Campos do jordão/SP. Acesse o site: “http://www.casadaxilogravura.com.br/”. fonte: Manoela
Afonso (arquivo pessoal).
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Ateliê de GrAvurA
OLhO vIvO
Qual é o principal jornal da sua cidade? Chame seus colegas de curso
e faça uma visita à sessão de impressão dos periódicos. Peça para que
um funcionário explique como se produz o jornal, da matriz à impres-
são. Lembre de tudo o que já estudamos até aqui e compare os meios
de reprodução da informação conhecidos por você até o momento.
PArA ExPErIMENTAr
A partir das instruções abaixo, você poderá produzir uma xilogravura.
Providencie os materiais necessários e siga o passo a passo.
1. O projeto
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Ateliê de GrAvurA
2. A madeira
A princípio, você pode utilizar qualquer madeira que esteja ao seu al-
cance. As melhores para a xilogravura a fio são: cedro, mogno, imbuia,
louro, cerejeira e imburana. Você poderá utilizar também compensa-
dos, duratex e eucatex, só que tais materiais não poderão lhe ofere-
cer a beleza da textura da madeira. Eles vão resultar numa impressão
chapada, muito próxima das características da linoleogravura (gravura
feita com matriz de borracha). A impressão final será algo semelhante
à imagem representada pelas Figuras 28 e 29.
Providencie 1 taco de madeira no tamanho 20 x 30 cm, 1 lixa d’água
600 e 2 lixas para madeira (uma mais grossa e uma mediana). Inicie
o preparo da superfície da madeira, utilizando a lixa grossa. Depois
prossiga com a lixa média e, para dar acabamento, utilize a lixa d’água.
No caso do compensado, utilize apenas a lixa d’água. Depois de finali-
zado esse processo, passe o seu projeto para a superfície da madeira,
utilizando papel carbono. Cuidado para não pressionar demais o lápis,
pois essa ação poderá arranhar a sua matriz. Se você se sentir seguro,
poderá desenhar o seu projeto diretamente na madeira, utilizando
nanquim ou até mesmo um pincel atômico preto, como faz o artista
André de Miranda na Figura 30. Não esqueça de evidenciar as áreas
negras: elas deverão ficar em relevo (Figura 31).
figura 30 – O xilogravador carioca André de Miranda nesta imagem passa seus projetos para a matriz
de madeira. você pode obter mais informações sobre xilogravura no blog do artista: “http://mirandart.
zip.net/”. Fotografia: Manoela Afonso.
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Ateliê de GrAvurA
figura 31 – Manoela Afonso. Pausa. Detalhe de xilogravura a fio — matriz e impressão. Brasília/2004.
Observe como a textura da madeira é expressiva. As únicas áreas cavadas foram ao redor da xícara e
alguns de seus traços internos. Essa impressão foi feita com tinta gráfica vermelha sobre papel canson.
3. As ferramentas e a gravação
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Ateliê de GrAvurA
Os cortes não precisam ser profundos, mas as goivas devem estar bem
afiadas para que o trabalho seja satisfatório. Para evitar acidentes, cui-
dado para que sua mão de apoio não fique na frente da goiva. Devido
à força exercida na gravação, a goiva pode escapar e atingir a sua mão
(Figura 33).
figura 33 – gravação na madeira. gilzee reichman, aluna do Ateliê Livre de gravura em relevo do
Projeto Arte na Escola/FAV/UFG. Goiânia, 2008. Fotografia: Manoela Afonso.
4. A entintagem
A entintagem é um passo muito importante para a obtenção de uma
boa cópia (Figura 34). Tanto o excesso quanto a falta de tinta preju-
dicarão os resultados. No vídeo número 1, você teve noções do ma-
nuseio da tinta tanto para a monotipia quanto para as impressões em
relevo. Assista a ele novamente e revise os principais cuidados a serem
tomados antes de entintar a sua matriz de madeira.
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Ateliê de GrAvurA
5. A impressão
Antes de iniciar essa etapa, passe talco nas mãos para evitar que algum
resquício de tinta suje os papéis: o talco inibe a ação gordurosa da
tinta.
Faça uma marca de orientação — chamado de registro — para que
as diversas cópias saiam sempre na mesma posição (na Figura 35, o
registro é a folha de papel sulfite que está embaixo da matriz. Uma
marca feita a partir dos contornos da matriz sobre essa folha de papel
será o guia para que a madeira seja colocada sempre no mesmo lugar
a cada nova impressão.)
figura 35 – Impressão. Luzia Costa, aluna do Ateliê Livre de gravura em relevo do Projeto Arte na
Escola/FAV/UFG. Goiânia, 2008. Fotografia: Manoela Afonso.
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Ateliê de GrAvurA
6. A limpeza
7. A assinatura
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Ateliê de GrAvurA
minando a sua tiragem, ou seja, está fazendo a sua edição. Existe uma
convenção para essa tarefa.
Visualize a imagem que você acabou de imprimir: essa é a sua mancha
gráfica. Abaixo dela, do lado esquerdo, você colocará — a lápis — o
número de cópias dessa edição. Se você fez 5 cópias no total, deverá
numerar uma a uma da seguinte maneira: 1/5, 2/5, 3/5, 4/5, 5/5 (veja
Figura 38). Do lado direito, também abaixo da mancha gráfica, você de-
verá assinar a sua gravura, sempre a lápis. Se quiser, após a assinatura,
você pode colocar também o ano de sua produção. A parte do meio
fica reservada ao título da obra, caso exista.
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Ateliê de GrAvurA
figura 39 – Matriz de linóleo (emborrachado para figura 40 – Manoela Afonso. Sonho. Linóleogravura, 10 x 10
piso). Fotografia: Manoela Afonso. cm. Curitiba, 2003.
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Ateliê de GrAvurA
figura 41 – Matriz recortada de linóleo (emborra- figura 42 – Manoela Afonso. gita. Linóleogravura, 22,5 x
chado para piso). Fotografia: Manoela Afonso. 16 cm. Curitiba, 2003.
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Ateliê de GrAvurA
figura 43 – Manoela Afonso. Linoleogravura, 22 x 14,5 figura 44 – Este foi o penúltimo estágio da gravação.
cm, Curitiba, 2003.
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Ateliê de GrAvurA
Repare que as áreas que estão em preto na impressão final (Figura 45)
correspondem exatamente ao relevo que sobrou na matriz (Figura 46).
Existe outra técnica de inserção de cor na gravura: é a impressão através
de duas ou mais matrizes. Isso quer dizer que, para cada cor que você quiser
colocar na gravura, terá que gravar uma matriz diferente. É praticamente o
mesmo raciocínio da serigrafia: para cada área de cor, é preciso revelar uma
tela diferente.
Na Figura 47, existem duas matrizes: a primeira, em ocre (Figura 48),
gravada apenas com alguns cortes que na impressão aparecem em branco
— que é a cor do papel. A segunda matriz é a que está em preto e foi sobre-
posta (Figura 49). Para trabalhar com a impressão de camada sobre camada,
é preciso tomar alguns cuidados: a princípio, as matrizes têm que ter o mes-
mo tamanho, e é preciso fazer um registro bem preciso para que todas elas
sempre sejam impressas exatamente umas sobre as outras, sem deslocamen-
tos. Outro cuidado é deixar cada camada secar bem, pois a sobreposição de
impressões com tinta úmida não ficam boas. Como a tinta gráfica demora de
2 a 3 dias para secar, quer se dizer, que se você for trabalhar com 3 camadas de
cor, demorará no mínimo 1 semana de trabalho para obter o resultado final.
figura 47 – Manoela Afonso. Persona. Linoleo- figura 48 – Primeira matriz: impressão figura 49 – Segunda matriz: impressão
gravura (impressão com duas matrizes), 22 x em ocre. em preto.
16 cm. Curitiba, 2002.
2.1.3. COLAgrAf
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Ateliê de GrAvurA
cubanos são grandes produtores de Colagraf, que nada mais é do que a cria-
ção de matrizes através de colagens de materiais diversos sobre papelão.
figura 50 – Manoela Afonso. figura 51 – Manoela Afonso. Colagraf feita com figura 52 – Priscila Paz. Colagraf feita com bar-
Colagraf feita com relevos de cola bombril colado sobre papelão paraná, 19 x 12 cm, bante colado sobre papelão paraná. Brasília, 2005.
branca sobre papelão paraná, 21 Curitiba/1999. Matriz impressa com prensa-parafuso Matriz impressa com colher de pau.
x 9,5 cm. Curitiba, 1999. Matriz para encadernação.
impressa com prensa-parafuso para
encadernação.
PArA ExPErIMENTAr
Materiais necessários:
- papelão resistente
- barbante
- cola branca
- verniz
- pincéis
- outros materiais que possam ser colados sobre o papelão
- papel canson para impressão.
Crie uma matriz de Colograf feita com barbante sobre papel paraná ou
similar. Em seguida, crie outra matriz, só que agora colando materiais
diversificados de sua escolha. Após a confecção das matrizes, devem
ser impressas no mínimo 5 cópias de cada uma delas, assinadas e nu-
meradas.
44
Ateliê de GrAvurA
Você deverá fazer uma composição tanto com o barbante quanto com
os demais elementos colados sobre pedaços de papelão resistente. Re-
corte o papelão no formato que você desejar, com o tamanho máximo
de 15 x 20 cm, e utilize uma boa cola branca para fixar os materiais
sobre ele. Não descuide da composição visual!
Depois de bem secas, passe verniz sobre as matrizes com um pincel:
Essa etapa é muito importante para que os elementos colados não
saiam grudados no rolo de entintagem, que é o próximo passo. No ma-
nuseio da tinta, você deverá proceder como na xilogravura. Relembre
o passo a passo, revendo o vídeo número 1.
Com a matriz entintada, faça as impressões, utilizando uma prensa (Fi-
gura 53). Prensas são equipamentos caros: provavelmente, no seu polo,
você terá acesso a uma prensa adaptada através do uso de um cilindro
para massas acoplado a uma estrutura de madeira (Figura 54). Esse
equipamento será fundamental para a prática da gravura em metal.
Caso você não tenha acesso a ele, também poderá imprimir as suas co-
lagraf manualmente, embora o resultado às vezes deixe a desejar. Para
o manuseio da pequena prensa adaptada, assista novamente ao vídeo
número 3. Depois de impressas, deixe as cópias secarem num varal e,
posteriormente, assine-as conforme a convenção.
figura 53 – Prensa-parafuso para en- figura 54 – Prensa para gravura em metal. Ateliê de gravura
cadernação. Ateliê de gravura 508 Sul, da FAV/UFG, Goiânia. Fotografia: Miguel Ambrizzi.
Brasília. Fotografia: Manoela Afonso.
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Ateliê de GrAvurA
2.2. ENCAvO
Até esse momento, você lidou com matrizes em relevo, ou seja, as partes
altas da matriz é que foram impressas. A gravura em encavo é exatamente o
oposto: a parte a ser impressa é o sulco, logo, a tinta precisa ser empurrada
para dentro dos baixos relevos. É por isso que a prensa é fundamental nesse
processo: o papel é umedecido e, sob alta pressão, cede até alcançar a tinta
que está dentro dos sulcos. Outra diferença é que, enquanto, na gravura em
relevo os processos de gravação são todos físicos, ou seja, as ferramentas fe-
rem diretamente a matriz, na gravura em encavo, a maioria das técnicas acon-
tece também pela ação química de diversos produtos, tais como o ácido nítri-
co e o percloreto de ferro. Devido à complexidade tanto de obtenção quanto
de manuseio desses químicos — alguns deles são tóxicos e necessitam de
certos cuidados , praticaremos, nesta unidade, apenas uma das técnicas da
figura 55 – jacques Callot. O gravura em metal: a ponta-seca, procedimento exclusivamente físico, ou seja,
mendigo. Água-forte, 1622 - 1623. a gravação se dá pela incisão direta de uma ponta dura sobre a chapa de metal.
14 x 8,7 cm.
A gravura em metal — também chamada de calcogravura — nasceu em
meados do século XV, a partir da ourivesaria, na Europa. O uso do metal des-
bancou a xilogravura, pois as matrizes de cobre eram bem mais resistentes
e podiam oferecer mais detalhes às imagens. Albrecht Dürer (Alemanha,
1471–1528) era filho de ourives e, além de xilogravuras (Figura 24), produ-
ziu muitas gravuras em metal, utilizando diversas técnicas, tais como buril,
ponta-seca e água-forte. Enquanto as gravações a buril e ponta-seca são pro-
cessos puramente físicos, a água-forte envolve o uso de ácidos. Foi no século
XVI que Urs Graf (Suíça, 1485–1527-9) criou essa técnica, que funciona da
seguinte forma: primeiro, passa-se um verniz protetor sobre a placa de cobre;
em seguida, com uma ponta de metal, desenha-se sobre o verniz, retirando-o;
figura 56 – rembrandt. o próximo passo é mergulhar a chapa no ácido, o qual corroerá apenas as par-
Autoretrato, desenhando junto
tes abertas pelo desenho, ou seja, aquelas que estão sem verniz. O resultado
à janela. Água-forte, ponta-seca
e buril, 1648. 16 x 13 cm. oferece linhas bem definidas. Veja, na Figura 55, uma água-forte do gravador
francês Jacques Callot (1594–1635 ).
Outro exímio gravador da época foi Rembrandt (Holanda, 1606–1669),
a quem Callot influenciou. Rembrandt ficou conhecido por utilizar a água-
-forte em seu trabalho artístico, independentemente das suas funções comer-
ciais de reprodução. Observe, na Figura 56, como o artista trabalhava o claro-
-escuro: uma de suas características marcantes não apenas na gravura, mas na
pintura também.
Repare que o artista trabalha com três técnicas de gravura em metal na
mesma matriz: cada uma delas oferece um resultado diferente.
A gravação a buril é um processo físico que, como a água forte, produz
linhas delicadas, exatas. Já na ponta-seca, ao riscar diretamente o metal, ob-
figura 57 – Auguste rodin (frança,
tém-se uma rebarba que resultará numa linha aveludada, borrada. Observe,
1840–1917). victor hugo (detalhe). na Figura 57, como as linhas são diferentes das que compõem a gravura de
Ponta-seca, 1884. 22 x 16 cm. Callot (Figura 55).
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Ateliê de GrAvurA
PArA ExPErIMENTAr
Nesta atividade, você deverá produzir três boas impressões de gravura
em metal, utilizando a técnica da ponta-seca. A primeira coisa a fazer
é o projeto. Lembre-se de que a gravura em encavo é bem diferente
da gravura em relevo: agora, você pode inserir detalhes e explorar
melhor o desenho sobre a chapa. Mas não esqueça que a linha gravada
é que sairá impressa, ao contrário da xilo, em que tudo o que era gra-
vado ficava em branco na impressão final.
Material Individual:
- uma chapa de cobre no tamanho 10 x 15 cm, de 1 a 1,5 milímetros de
espessura. Você pode substituir o cobre por latão ou alumínio.
- uma lima.
- lixa d’água 600.
- uma ponta-seca, que pode ser adaptada acoplando-se um prego a um
cabo de pincel. Você pode utilizar também riscadores de cerâmica ou
outro material cortante e resistente que possa riscar bem a sua matriz
de metal (veja a Figura 58).
- um bloco de papel canson A4.
- 2 cartões telefônicos usados (ou similares) para fazer pinças para
manusear o papel sem sujá-lo.
- jornais cortados em muitos quadrados de aproximadamente 15 x 15
ou 20 x 20 cm para limpeza da matriz antes da impressão.
- papel de seda cortado em quadrados de aproximadamente 10 x 10
cm para finalização da limpeza da matriz.
- luvas, avental.
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figura 58 – Materiais e ferramentas para gravura em metal. Da esquerda para direita, você pode ob-
servar uma placa de cobre, dois roulettes (que são ferramentas específicas para calcogravura), pontas
de metal (dois riscadores de azulejo, uma ponta-seca autêntica e uma ponta-seca adaptada com prego
e cabo de pincel), lima e tesoura para chapa de metal. Fotografia: Manoela Afonso.
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Ateliê de GrAvurA
DICA
Assista ao filme “Sombras de Goya”, do diretor Milos Forman. Você
terá a oportunidade de conhecer, rapidamente, o funcionamento de
um ateliê de gravura em metal, em pleno século XVIII. E já que muitos
gravadores costumam dizer que a gravura possui uma “cozinha”, ou
seja, pitadas de muitos saberes/sabores técnicos, desejo-lhe um bom
degustação!
2.3. LITOgrAfIA
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figura 65 – Acervo de pedras litográficas da Faculdade de Artes Visuais da Universidade figura 66 – Prensa de litografia da Faculda-
Federal de Goiás. Fotografia: Manoela Afonso, 2009. de de Artes visuais da Universidade federal
de Goiás. Fotografia: Manoela Afonso, 2009.
A pedra pode ser trabalhada, dentre outros materiais, com bastões gor-
durosos ou lápis litográficos É interessante comparar tais ferramentas com
aquelas utilizadas na xilo e na gravura em metal: goivas, buris, facas, pontas-
secas: na litografia não há incisão feita na matriz. Ao manusear bastões e lápis,
o artista pôde recuperar a liberdade do seu traço, próprio do ato de desenhar.
São visíveis em algumas impressões litográficas, texturas típicas dos trabalhos
feitos com crayon e até mesmo com lápis grafite (Figura 67).
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SAIbA MAIS
PArA ExPErIMENTAr
Para realizar a serigrafia fotográfica, são necessários equipamentos
muito específicos, tais como mesa de luz, emulsões fotossensíveis, tin-
tas serigráficas, rodos para impressão etc. Devido a tais dificuldades,
faremos aqui um exercício, utilizando o estêncil, visto que conceitual-
mente, tal técnica possui inúmeras semelhanças com a serigrafia. No
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figura 69 – Matriz de estêncil feita com papel figura 70 – Impressão com tinta serigráfica em
canson: molde vazado. Manoela Afonso. Curitiba, papel canson: repare que não há inversão da
2002. imagem! Manoela Afonso. Curitiba, 2002.
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PArA rEfLETIr
Para incrementar suas reflexões a respeito da gravura/estampa digital,
acesse o link “www.anpap.org.br/2008/artigos/165.pdf ” e baixe o ar-
quivo em pdf referente ao texto “Infografia impressa: a estampa artís-
tica e as tecnologias digitais”, de Leopoldo Tauffenbach.
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PArA ExPErIMENTAr
A partir de um dos trabalhos feitos nos exercícios anteriores, crie uma
estampa digital.
Como proceder?
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UNIDADE 3
Artes Gráficas na Sala de Aula
lução (Figuras 76, 77, 78, 79 e 80). Você poderá trabalhar conceitos como a
silhueta e, com os retalhos de seus recortes, aproveitar para inserir o conheci-
mento ligado ao molde vazado.
figuras 76 e 77 – Impressão de carimbos feitos com borracha escolar. Oficina de carimbo no Ateliê da Prefeitura
de Porto Alegre, 2005. Fotografia: Manoela Afonso
figuras 78, 79 e 80 – Carimbos de e.v.a. colados a tacos de madeira. Ação educativa, Jataí/2008. Fotografias:
Miguel Ambrizzi e Manoela Afonso.
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figura 84 – Impressão de gravura em relevo a partir de matriz de isopor. Luzia Costa, aluna do Ateliê Livre de
Gravura em Relevo, do Projeto Arte na Escola, Goiânia, 2008. Fotografia: Manoela Afonso.
figuras 85 e 86 – Impressões feitas por alunas da oficina de Introdução à Gravura da Fundação Jaime Câmara, Goiânia/2007.
Matrizes de isopor impressas com tintas gráficas preta e vermelha. Goiânia/2008. Fonte: Manoela Afonso (arquivo pessoal).
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figura 87 – Instalação de Mainês figura 88 – José César Teatini Clímaco. Gravação em papelão. Brasília, 2008. Observe
Olivetti chamada “De véu e grinalda”. que o objetivo deste trabalho não é a impressão: o artista, que é fundamentalmente
Impressões serigráficas sobre tule. um gravador, passou a trabalhar a partir dos conceitos de gravação e a construir
Curitiba, 2000. painéis de papelão gravados, colados, sobrepostos – mas não impressos. Perceba como
Fotografia: Manoela Afonso. a prática da gravura cumpre um papel importante na criação dessa proposta artística.
Fotografia: Manoela Afonso.
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Ateliê de GrAvurA
3.3. grAvUrA EM ENCAvO NA SALA DE AULA: PONTA SECA SObrE PLACAS DE PLÁSTICO
PArA ExPErIMENTAr
Elabore um plano de aula a partir da criação de uma nova proposta de
trabalho para as artes gráficas na sala de aula. Não se esqueça de listar
os materiais necessários, prever a faixa etária e a quantidade de alunos,
descrever o passo a passo da técnica e embasar, conceitualmente, a sua
proposta de trabalho.
Espero que ela tenha contribuído tanto para a sua formação, como futuro
professor, mas também na ampliação do olhar para o mundo. O universo grá-
fico é vasto e muito importante para a história da humanidade. Desejo que das
sementes que joguei, algumas tenham encontrado solo fértil nos seus anseios
e desejos por conhecimento. Continue pesquisando e, se possível, produzindo
gravuras e estampas!
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Ateliê de GrAvurA
rEfErêNCIAS bIbLIOgrÁfICAS
CAMARGO, Iberê. A gravura. Porto Alegre: Sagra-DC. Luzzato, 1992.
CLÍMACO, José César Teatini de Souza. A gravura em matrizes de plás-
tico. Goiânia: Editora da UFG, 2004.
___________________. Manual de litrografia sobre pedra. Goiânia:
Editora da UFG, 2000.
COSTELLA, Antonio F. Introdução à gravura e à sua história. Campos
do Jordão: Mantiqueira, 2006.
___________________. Breve história ilustrada da xilogravura.
Campos do Jordão: Mantiqueira, 2003.
___________________. Xilogravura: manual prático. Campos do Jor-
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DAWSON, John. Guia completa de grabado e impresion: técnicas y
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EICHENBERG, Fritz. The art of the print: masterpieces, history, tech-
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GRAVURA: arte brasileira do século XX. São Paulo: Cosac & Naify /
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GRAVURA brasileira hoje: depoimentos. Rio de Janeiro: SESC Tijuca,
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___________________.Vol II. Rio de Janeiro: SESC Tijuca, 1996.
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GRAVURA em metal. Marco Buti, Anna Letycia (orgs.). São Paulo: Editora
da Universidade de São Paulo/Imprensa Oficial, 2002.
HERSKOVITS, Anico. Xilogravura: arte e técnica. Porto Alegre: Tchê!,
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SENAC – DN. Oficinas: gravura. Elias Fajardo; Felipe Sussekind; Marcio do
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WEISS, Luise. Dentro do espelho. São Paulo: Cosac & Naify, 2002.
Links úteis:
Atelier Piratininga: http://atelierpiratininga.blogspot.com/
Centro de Pesquisa em Gravura da Unicamp: http://www.iar.unicamp.
br/cpgravura/
Estampe.be: http://www.estampe.be/
Galeria Gravura Brasileira: http://www.gravurabrasileira.com/index.asp
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Graphias: http://www.graphias.com.br/
Museu Casa da Xilogravura: http://www.casadaxilogravura.com.br/
Museu Olho Latino: http://museu.olholatino.com.br/
Regina Silveira: http://reginasilveira.uol.com.br/
Tita do Rego Silva: http://www.titadoregosilva.de/
Xylon Argentina: http://www.xylonargentina.com.ar/
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