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TRANSPORTE DE MATÉRIAS NA tiva quando é inferior a pressão atmosférica. Como dutos e máquinas exercem uma
resistência ao deslocamento de ar, o ar movimentado gera uma Pe positiva no circuito
ALGODOEIRA pneumático de sopro e negativa no circuito de sucção.
A pressão dinâmica (Pd) resulta do movimento de ar, manifesta-se na mesma dire-
ção que ele e varia com a sua velocidade. É sempre positiva.
1. Transporte pneumático Numa tubulação com ar em movimento, existem Pe e Pd. A pressão total é a soma
das pressões estática e dinâmica: Pt = Pe + Pd.
Jean-Luc
Chanselme O transporte pneumático é muito utilizado nas algodoeiras, onde re-
Cotimes do Brasil presenta de 50 a 70% do consumo total de energia. Por isso, é importante 1.1.2. Relação fluxo, velocidade e secção
Cascavel-PR que o transporte por ar seja bem desenhado e dimensionado. O trajeto
jean@ e o dimensionamento das tubulações, o tipo e o dimensionamento dos O fluxo de ar (vazão) é o volume de ar deslocado por unidade de tempo. O fluxo de-
cotimesdobrasil. ventiladores e motores, a qualidade de fabricação e vedação das tubula- pende da velocidade (m/s) e da secção do duto (m²):
com.br ções e máquinas condiciona a eficiência e o desempenho do processo,
assim como o custo de beneficiamento Fluxo = Velocidade x Secção
1.1. Definições e noções Os fluxos deveriam se expressar em metros cúbicos por segundo, mas o habito é
usar a unidade m3/h:
1.1.1. Pressões
Fluxo (m3/h) = Fluxo (m3/s) x 3.600
A pressão de um fluido é a força que ele exerce por unidade de área
e perpendicularmente a essa área. A unidade de pressão é o milímetro 1.1.3. Medições
de coluna de água, com as seguintes equivalências: 1 mm CA = 9.807 Pa
(Pascal). As pressões numa tubulação podem ser medidas observando o deslocamento de
A pressão estática (Pe) existe no ar em repouso e em movimento de- uma coluna de água numa mangueira em U. A pressão estática é medida perpendi-
vido à resistência do sistema ao deslocamento do ar. É o valor da força cularmente à parede (Figura 8.3). A pressão total é medida orientando o dispositivo
exercida pelo ar sobre as paredes dos dutos ou máquinas. Existe em to- contra a corrente de ar em movimento. A pressão dinâmica é calculada com a fórmula
das as direções e se exerce perpendicularmente às paredes (Figuras 8.1 e Pd = Pt – Pe. Pode ser medida diretamente, conectando a tomada de pressão total de
8.2). A Pe é positiva quando é superior a pressão atmosférica. Neste caso, um lado e a da pressão estática do outro.
se as paredes do duto fossem elásticas, elas se dilatariam. A Pe é nega- Na algodoeira, as pressões de ar
são medidas com mangueira em U
Corrente de ar
com água (podem ser fabricadas no
Corrente de ar local com mangueira transparente e
altura 75 cm), ou, de maneira mais
prática, com um tubo de Pitot co-
Pe
Pe nectado a um manômetro diferen-
Pressão
Pressão estática (Pe)
estática (Pe) cial de agulha ou digital. Os modelos
de agulha têm uma resolução fraca.
Devem ser escolhidos com esca-
las adaptadas aos níveis de pressão
Pe Pe encontrados. Na algodoeira, é reco-
mendado ter dois manômetros: um
Pe
Pe de escala de 0 a 100 mm CA para Pd e
um de escala de 0 a 750 mm CA para
a Pe (Figura 8.4).
O uso do tubo de Pitot simplifi-
Figura 8.1. Pressão estática no ar em Figura 8.2. Pressão estática no ar em Figura 8.3. Medição das pressões estática, total e
ca muito as medições, pois permite dinâmica. (Fonte: Cotimes do Brasil, 2011).
repouso. (Fonte: Cotimes do Brasil, 2011). movimento. (Fonte: Cotimes do Brasil, 2011).
medir, com um mesmo dispositivo e
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A velocidade do ar nas tubulações é Tabela 8.1. Normas de velocidades para transporte de matérias.
calculada a partir da pressão dinâmica no
centro da tubulação, utilizando a fórmula: Velocidade do ar
Matéria / local
(m/s)
Velocidade (m/s) = 3.68 x Pd (mm CA)0.5.
Algodão em caroço no telescópio 28.0 - 30.5
A curva da Figura 8.10 apresenta a ve- Algodão em caroço nas tubulações 17.8 - 25.4
locidade do ar nas tubulações em função Algodão em caroço nas torres de gavetas 10.2 - 12.7
da pressão dinâmica medida com o tubo
Fibra 7.6 - 10.2
de Pitot nas condições padrão do ar (21° C
e 1.013 mbar). Caroço em pequenas tubulações 20.3 - 25.4
Os fluxos são estimados a partir das Casca e resíduos 20.3 - 25.4
velocidades e da secção, ela mesma cal- Fonte: Anthony e Mayfield, 1994.
Figura 8.9. Perfil de velocidade normal.
(Fonte: Cotimes do Brasil, 2011).
culada a partir da medição prática da cir-
cunferência, quando o diâmetro não é co-
nhecido, pela seguinte fórmula: 1.3. Ventiladores
Secção (m²) = circunferência (m) ² / 12.57
O ventilador é uma máquina destinada a converter energia mecânica de rotação em
um diferencial de pressão que faz o ar se mover. Esse diferencial (chamado de deman-
1.2. Normas no transporte e na secagem da em Pe) depende do sistema pneumático e do material a transportar.
Existem dois tipos principais de ventiladores usados para o transporte pneumático
Para poder mover a matéria, é necessária certa velocidade e uma quantidade de ar. na algodoeira. O ventilador centrífugo (majoritário) e o ventilador helicoidal ou axial.
Quanto mais rápida a corrente de ar, mais força ela aplicará na matéria transportada. É
de primeira importância manter a velocidade em todo o circuito pneumático para po- 1.3.1. Ventiladores centrífugos
der mover o material adequadamente. Existem normas para o transporte pneumático
na algodoeira referentes à velocidade de transporte (Tabela 8.1), considerando uma O ventilador centrífugo é constituído por um rotor de palhetas girando dentro de
relação entre volume de ar e massa de matéria de 0.9 a 1.2 m3 de ar por quilo de matéria uma caixa de metal. O ar entra pelo lado da caixa, paralelamente ao eixo do rotor, e sai
transportada. Vale lembrar que, para transportar o algodão em caroço no circuito de radialmente, com ângulo de 90° (Figura 8.11).
secagem, essa relação sobe de 1.6 até 2.5 m3, a fim de conseguir um bom potencial de Os modelos utilizados nas algo-
secagem, mas as velocidades ficam as mesmas. doeiras variam pelas dimensões
(profundidade, altura e largura
da caixa), a entrada de ar é de um
50 lado. A saída pode ser posiciona-
45 da diferentemente para ser direta-
40 mente conectada em tubulações
35 horizontais ou verticais, ou even-
tualmente inclinadas.
Velocidade (m/s)
30
25
Muitos parâmetros influem no
20
desempenho dos ventiladores cen-
15
trífugos: as dimensões externas,
10
mas também o tipo e dimensões
5
do rotor. A qualidade do desenho
0
e as condições de uso condicio-
5 10 15 20 25 30 36 41 46 51 56 61 66 71 76 81 86 91 97 102 107 112 117 122 127
nam a eficiência. No Brasil, mode-
Pd (mmCA) los antigos, modificados, desenhos
empíricos, desgastes e dimensio-
Figura 8.10. Velocidade de ar associada à pressão namentos errados são motivos fre-
dinâmica. (Fonte: Cotimes do Brasil, 2011). quentes de eficiência baixa. Figura 8.11. Ventilador centrífugo.
(Foto: Cotimes do Brasil, 2011).
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Uma vez determinados os fluxos de ar necessários para o transporte e Fonte: Cotimes do Brasil, 2011.
estimadas as pressões estáticas (demandas nas pressões dinâmicas e es- Com este ventilador, se o fluxo de ar a ser gerado é de 13.600 m3/h, com uma deman-
táticas), o engenheiro deve dimensionar o ventilador (tamanho e motor) da de pressão estática de 330 mm de coluna de água, o rotor do ventilador deve girar
e determinar as condições de operação (RPM), para conseguir o melhor
com 1.630 RPM e a potência de 26 CV (20 kW). O motor a ser instalado é de 30 CV (22.3
desempenho do sistema pneumático. A escolha de um ventilador é mui-
kW).
to técnica. São necessárias curvas ou tabelas de desempenho específicas
de cada modelo, que devem ser disponibilizadas pelo fabricante (Tabe- No Brasil, existem e são utilizados numerosos ventiladores de desempenhos desco-
la 8.2). As curvas registram valores obtidos durante testes específicos, e nhecidos, por serem antigos, construídos artesanalmente, ou por não serem caracteri-
para condições padrão de temperatura e pressão do ar. zados cientificamente pelos fabricantes. Neste caso, é impossível calcular um sistema
pneumático otimizado. As consequências sempre são significativas, com deficiências
O ventilador da Tabela 8.2 tem as seguintes características: no transporte (falta de alimentação, embuchamentos) e perdas financeiras, pelas defi-
• Ventilador centrífugo de tamanho 45; ciências ou por superdimensionamento.
Ventiladores novos não deveriam ser comprados sem as suas respectivas curvas de
• Rotor de 10 palhetas retas e diâmetro 0.76 m; desempenho.
Existem muitas algodoeiras utilizando um mesmo ventilador para várias funções,
• Entrada circular de diâmetro 0.50 m; tentando economizar energia. Essas práticas devem ser evitadas, pois, por serem quase
• Saída quadrada de 0.40 m. sempre implantadas sem cálculos, geram perda de eficiência. O ventilador de sucção
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utilizado para empurrar o caroço não consegue mais puxar um fluxo Rotor de palhetas curvas radialmente (Figura 8.13): Os rotores de palhetas curvas
de algodão em caroço regular e suficiente, pela irregularidade e impor- radialmente fornecem maior eficiência (até 75%) e economia de energia no caso do ar
tância da pressão estática total nas tubulações. O ventilador de sucção sujo, porém sem abrasivos granulares. São indicados para altos volumes e pressões es-
utilizado para puxar os resíduos pode se tornar ineficiente para a sua fun- táticas, como no caso da sucção dos condensadores gerais ou de limpadores de pluma,
ção principal se o fluxo de resíduos é alto, deixando os descaroçadores com catação de poeira por ciclones.
insuficientemente alimentados. Considerando o exemplo de um circuito pneumático de condensador geral com
380 mm CA de Pe e 53.500 m3/h de vazão de ar, um ventilador centrífugo de palhetas
1.3.1.3 Características dos ventiladores centrífugos retas necessita de 141 CV (eficiência de 60%). Com o rotor de palhetas curvas radial-
mente, a potência necessária cai
A principal característica do ventilador centrífugo é a capacidade de para 109 CV.
responder a demandas de pressão estática alta (até 800 mm CA).
Velocidades máximas de rotação do rotor diminuem com o diâmetro, Rotor de palhetas inclinadas
pois a velocidade periférica é limitada, a princípio, a 90 m/s, por razão de para trás (Figura 8.14): Os rotores
segurança. Um rotor de diâmetro 0.6 m pode girar até 2.800 RPM, e um de palhetas inclinadas para trás
rotor de 1.0 m não deverá ultrapassar 1.700 RPM. fornecem alta eficiência (até 75%)
Dois ventiladores centrífugos idênticos podem ser associados para re- e economia de energia. São indi-
forçar o desempenho. Ventiladores em série (um soprando na entrada cados para altos volumes e pres-
do outro) adicionam a pressão estática providenciada, sem aumento da sões estáticas normais, mas seu
capacidade de fluxo. Ventiladores em paralelo adicionam os fluxos (capa- uso é limitado ao caso do ar lim-
cidade dobrada), sem alteração da Pe. po, seja sem ou com poucas par-
Existem vários tipos de ventiladores centrífugos diferentes, principal- tículas pequenas. São indicados
mente pelo tipo de rotor. É economicamente importante selecionar o para o ar empurrado nos circuitos
tipo de rotor de eficiência máxima para o manejo do material transporta- de tipo empurre-puxe, utilizados
do. Existem três tipos de ar na algodoeira: principalmente para secagem.
Considerando o exemplo de
• ar com abrasivos granulares um circuito pneumático de seca-
(sucção, fundo de batedor, sobra, gem com torre de gavetas com
casca, fibrilha, etc.); 380 mm CA de Pe e 53.500 m3/h Figura 8.13. Rotor de palhetas curvas radialmente.
(Foto: Cotimes do Brasil, 2009).
• ar sujo sem abrasivos granulares de vazão de ar, um ventilador cen-
(sucção dos condensadores); trífugo de palhetas retas necessi-
ta de 141 CV (eficiência de 60%).
• ar limpo (ar ambiente, quente ou Com o rotor de palhetas inclina-
frio, empurrado). das para trás, a potência necessá-
ria cai para 95 CV.
Rotor de palhetas retas (Figura
8.12): Os rotores de palhetas retas
(em geral, 6 a 10 palhetas) são bem
adaptados ao ar sujo carregado de
abrasivos granulares. Apesar de um
desempenho limitado, são utiliza-
dos na sucção inicial, na sucção de
fundo de batedor e transporte de
resíduos. O ventilador pode ser re-
vestido interiormente de borracha
Figura 8.12. Rotor de palhetas retas.
(Foto: Cotimes do Brasil, 2009). para limitar o desgaste pelas maté-
rias abrasivas, em particular areia. Figura 8.14. Rotor de palhetas inclinadas para
trás. (Foto: Continental Eagle Corp., 2008).
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A capacidade das fitas transportadoras é função da largura (m) e da altura da calha, 2.2.3. Vantagens e desvantagens
e proporcional a velocidade de andamento (m/s). É um fluxo em volume (m3/h).
A capacidade em fluxo de peso (toneladas/hora) de uma esteira para o transporte Vantagens
do caroço de algodão pode ser calculada da seguinte forma (fator de carregamento do • Baixo consumo de energia;
transportador de 40% e densidade do caroço = 0.45 toneladas por metro cúbico):
• Capacidade elevada;
Capacidade (t/h) = largura (m) x altura calha (m) x velocidade (m/s) x 692 • Manuseio suave adaptado a produtos frágeis;
Para dimensionar um transportador de fita: • Limpeza total. Equipamento adaptado a produção de sementes.
• Considerar primeiro o fluxo em peso de matéria a ser atendido (t/h);
Desvantagens
• Escolher na tabela 8.4 a largura e velocidade mínima de andamento a ser aplicada a fita. • Ocupa bastante espaço;
• Emissão de poeira;
Tabela 8.4. Capacidade de fitas transportadoras no caso do caroço de algodão (toneladas métricas). • Eletricidade estática.
Largura Velocidades (m/s)
(m) 0.25 0.5 0.75 1 1.5 2
0.20 5.2 10.4 15.6 20.8 31.1 41.5 2.2.4. Regulagens, operação e segurança
0.25 6.5 13.0 19.5 26.0 38.9 51.9
0.30 7.8 15.6 23.4 31.1 46.7 62.3
Os 2 tambores devem ser paralelos e alinhados e a tensão regulada e avaliada pela
0.35 9.1 18.2 27.2 36.3 54.5 72.7
0.40 10.4 20.8 31.1 41.5 62.3 83.0
importância da flexão entre 2 rolos de retorno na parte inferior.
0.45 11.7 23.4 35.0 46.7 70.1 93.4 O caroço deve ser depositado no centro da fita para reduzir o risco do caroço entrar
0.50 13.0 26.0 38.9 51.9 77.9 103.8 entre a fita e o suporte. Para a mesma razão a fita não deve ser estreita demais.
O transportador de fita exige pouca manutenção. No final da safra, limpar e soltar a
fita. Com regulagens conformes e manutenção adequada, a duração de vida é de 10 a
A potência absorvida varia com o comprimento da fita, o fluxo de matéria transpor- 20 anos.
tada, a velocidade de andamento e desnível e densidade do produto transportado.
Para os transportadores dispostos horizontalmente, a potência pode ser calculada pela
seguinte fórmula simplificada (CRUZ et al. 1988):
2.3. Transportador de
corrente
Potência (CV) = 1.69 x [a x r x C / 367 x (3.6 x p x V + F) + F x D / 367] O transportador de corrente
é composto de uma corrente de
a = fator de atrito e flexão. Depende do comprimento da fita; elos portando raspadores trans-
Comprimento (m) 5 10 20 40 50 80 versais. A corrente circula numa
Fator de atrito 6.6 4.5 3.2 2.4 2.2 1.9 calha de secção retangular ou tra-
pezoidal, entre um pinhão de mo-
r = resistência ao giro do conjunto de rolos = 0.03. vimentação e um pinhão de retor-
C = comprimento da esteira (m). no (esticador). A parte inferior da
P = peso dos elementos moveis (kg/m); corrente e os raspadores deslizam
Largura fita 300 400 500 600 800 1000 sobre o fundo da calha, limpando
Peso (kg/m) 11 13 17 26 40 56 -a. A matéria a ser transportada,
alimentada pela parte superior do
V = Velocidade de andamento (m/s). transportador, cai no fundo da ca-
F = Fluxo de matéria (t/h). lha. A matéria é empurrada pelos
D = Desnível (m). raspadores até o ponto de descar-
ga. A carga e a descarga podem Figura 8.26. Transportador de corrente em baixo
de ciclones. (Foto: Cotimes do Brasil, 2011).
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capítulo 9
UTILIZAÇÃO E CONSERVAÇÃO DA ENERGIA EM
ALGODOEIRAS
UTILIZAÇÃO E CONSERVAÇÃO DA Em muitas usinas no Brasil, as gestões da energia elétrica, da secagem e da umida-
de não recebem a devida consideração por parte dos responsáveis e isso tem grande
ENERGIA EM ALGODOEIRAS impacto em custos e perdas financeiras. Cabe salientar, por exemplo, que uma seca-
gem descontrolada pode ocasionar desperdícios e prejuízos irreversíveis à fibra. Com
o controle correto da secagem, será possível evitar o gasto desnecessário de energia e
o aumento dos custos, pois haverá o monitoramento para que o algodão seja secado
Paulo V. Ribas
1. Introdução exatamente o necessário.
Cotimes do Brasil Na composição do processo de beneficiamento, as etapas de descarga e alimenta-
Primavera do São diversas as finalidades de uso da energia numa algodoeira, seja elé- ção do sistema com o algodão em caroço (mecânico e pneumático), o descaroçamento
Leste-MT trica ou por meio de combustíveis, mas sempre com custos significativos e e a prensagem da fibra consomem a maior parte de energia elétrica da usina, podendo
paulo@ pontos de preocupação para qualquer industrial da área. Saber como e para ultrapassar 75% de todo o consumo (Tabela 9.3). Os sistemas de transporte que utili-
cotimesdobrasil. zam potentes ventiladores, bem como, os sistemas de limpeza (AC e fibra), também
com.br
que usar a energia é essencial para sua conservação e redução dos custos.
O montante dos custos com energia elétrica somado com os custos do registram alto consumo. Portanto, estes são os pontos que devem ser sempre conside-
gás varia entre usinas de acordo com seus tipos, suas capacidades e mode- rados nos controles e cuidados com os custos de energia nas usinas. A energia utilizada
los de processos, podendo chegar a uma média de 20 até 40% do custo de para a iluminação, apesar de ser indispensável, pouco reflete nos custos gerais.
beneficiamento (Tabela 9.1). O consumo de combustível, geralmente gás
(natural ou GLP), responde, em média, por 20 a 26% na composição dos Tabela 9.3. Exemplo da repartição de potência entre as etapas dos processos.
Usina Moderna
custos de energia numa algodoeira (Tabela 9.2). Desta forma, fica evidente Tipos de Usinas Usina Antiga (2 conjuntos)
(3 descaroçadores)
a importância da eletricidade nos processos, bem como, a necessidade de Carga Considerada 1.443 CV 2.369 CV
tê-la sob controle. Etapas do Processo Potência Instalada (%)
Descarga / Alimentação (Pneumático e mecânico) 50,2 35,2
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Tabela 9.4. Evolução do preço da energia elétrica. tíveis. Muitas usinas não possuem medidor de gás, por exemplo, ou não levantam dia-
2006 2007 2008 2009 2010 riamente os consumos. Nessas condições, a redução dos custos de produção devido à
Descrição
R$/kWh R$/kWh R$/kWh R$/kWh R$/kWh
otimização do consumo de energia fica limitada.
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elétrica em todo o sistema de distribuição e transmissão sofre um acréscimo indispensável envolver o pessoal
elevadíssimo. Uma forma de aliviar o sistema é diminuindo os altos consu- técnico responsável pela manu-
mos (por exemplo, o industrial) no horário mais crítico (de ponta). Há uma tenção da eletricidade (eletricis-
normatização tarifária específica do governo federal e Aneel para o setor in- tas, técnicos e engenheiros), cola-
dustrial, que minimiza as tarifas em horários normais e determina cobrança boradores diretos ou prestadores
de multas elevadas (até 10 vezes a tarifa) para consumos durante o período de serviço à usina.
mencionado. Muitas indústrias utilizam gerador de energia nestes horários.
Dentro da composição dos custos de energia, o consumo é a taxa que 2.3. Conservação da
deve ter maior atenção por parte dos gerentes e proprietários das usinas.
Para efetuar um controle mais afinado, é necessário levantar os históricos de
energia
consumo em faturas passadas, no mínimo de 3 anos. As concessionárias são
Conservar energia elétrica quer
obrigadas a disponibilizar tais informações, caso sejam solicitadas. Já a de-
dizer melhorar a maneira de utili-
manda medida pode variar a cada mês, embora o pagamento seja sobre o zá-la, sem abrir mão do conforto e
contrato, pois dependerá diretamente da forma como se dá a operação da das vantagens que ela proporcio-
usina. Por exemplo, se o volume de carga no momento de colocar o sistema na. Significa diminuir o consumo,
geral em funcionamento não for manejado de forma escalonada, gradativa, reduzindo custos, sem perder, em
o pico de demanda medido será alto e acarretará em custos e possíveis dis- momento algum, a eficiência e a
túrbios à rede de alimentação (sobrecarga). qualidade dos serviços. Conser-
É importante considerar e conhecer as variantes técnicas envolvidas na var energia resulta também na Figura 9.2. Medidor eletrônico (kWh, kWhr).
composição dos custos, tais como o consumo dos equipamentos, maquiná- preservação do meio ambiente, (Foto: Cotimes do Brasil, 2011).
rios, utensílios e acessórios que a usina utiliza ou venha a utilizar, a demanda uma responsabilidade social para
de energia necessária e o fator de potência das instalações. Todas essas infor- a qual todos devem estar atentos.
mações são disponibilizadas nas faturas de energia elétrica. Para um melhor Nas usinas de beneficiamento,
controle, a fatura de energia da usina deveria ser destacada dos custos de isto não pode ser diferente, pela
energia provenientes de outros locais não relacionados, como sedes e outros razão dos custos e pela razão so-
setores de fazendas. cioambiental. Existem diversas
maneiras de conservar a energia
2.2. Medição do consu- nas usinas, simples ou complexas,
mo de energia com pouco ou muito investimen-
to. Deve-se considerar o custo
-benefício e o grau de dificuldade
Como não é costumeiro no
para suas aplicações.
Brasil, torna-se indispensável que
As ações sobre a conservação
sejam instalados medidores de
de energia dependem da cons-
energia (consumo, demanda e
cientização do produtor, proprie-
FP) exclusivamente para a usina
tário, gerente, eletricista e maqui-
(Figuras 9.1 a 9.3). Desta forma, nista. Para usar a energia de forma
ficará mais preciso o controle e fa- racional e eficiente, é necessário
cilitará as análises e decisões. um pouco de conhecimento so-
Para poder gerenciar eficiente- bre o assunto, a fim de que se
mente e assim reduzir o consumo encontrem as melhores opções a
elétrico da usina, é preciso medir respeito do processo e do funcio-
o consumo exato, diariamente. O namento da usina.
consumo diário deve ser registra-
do e as variações explicadas e jus- Figura 9.3. Medidor eletrônico (kWh, kWhr,
tificadas pelo pessoal encarrega- kW, fp). (Foto: Cotimes do Brasil, 2011).
Figura 9.1. Medidor analógico kWh. do da produção. Neste trabalho, é
(Foto: Cotimes do Brasil, 2011).
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2.3.1. Uso racional da energia a estabilização da oscilação inicial. Assim, evitar-se-á um pico maior na demanda de
energia e custo maior na fatura. Outra forma de minimizar a demanda no decorrer do
Para conservar, aplica-se também a utilização racional e inteligente de funcionamento é o controle da prensa dos fardos, que muitas vezes é submetida a um
um recurso qualquer, de modo a se obter um rendimento considerado esforço maior para obter um fardo de maior volume, porém com exagero. Além da pos-
bom, adotando-se técnicas específicas para o que se busca. sibilidade de comprometer o sistema, isso terá um efeito direto na fatura.
Devido à necessidade de muita energia nos processos, deve-se avaliar
a forma de seu uso, identificar pontos de desperdício e definir ações de
melhorias, como: 2.3.2. O uso eficiente da energia
Com o intuito de melhorar a qualidade e eficiência de equipamentos elétricos, o gover-
• evitar o uso de dois equipamentos ao mesmo tempo quando tec- no brasileiro instituiu o Decreto Presidencial em 8 de dezembro de 1993 criando o Progra-
nicamente somente um pode atender a necessidade (por exemplo, ma Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel) e o selo (Figura 9.4) que tem por
dois desmanchadores de fardos quando somente um pode aten- objetivo indicar os produtos que apresentam os melhores níveis de eficiência energética
der à demanda); dentro de cada categoria, proporcionando assim, a redução de custos energéticos.
• evitar o uso desnecessário de motores superdimensionados devi- Portanto, recomenda-se que, ao adquirir um novo equipamento, motor ou aparelho,
do a defeitos ou avarias nos motores originais e à falta de um reser- seja observada a sua eficiência e a existência do selo Procel.
va (60 ou 50 CV no lugar de 40 CV). Pode ser uma ação provisória, Falar em eficiência numa usina de beneficiamento é dizer que o processo e os siste-
mas que não se torne definitiva, pois impacta no fator de potência mas estão em bom funcionamento e devidamente controlados. Para que isto ocorra,
e eficiência do motor – motor com muita folga ou carregamento alguns objetivos são essenciais:
mais baixo gastará energia desnecessária e aumentará o custo
(energia reativa kWhr = multa);
2.4. Manutenção elétrica
• facilitar o trajeto e o fluxo das matérias que circulam no proces-
so de beneficiamento, seja algodão em caroço, fibra, resíduos ou A manutenção das instalações, equipamentos ou apare-
subprodutos (fibrilha e caroço). Isto resultará em menor esforço e lhos elétricos exige, em primeiro lugar, atenção com a segu-
resistência, minimizando a necessidade de energia para esse fim; rança, coletiva e individual, além do uso de instrumentos e
aparelhos apropriados. É imperativo que este trabalho seja
• automatizar a alimentação e o fluxo de algodão, com o uso de sen- efetuado por pessoas capacitadas e devidamente autoriza-
sores em torres de regulação. Haverá controle pelo ritmo do desca- das. Para isso, existem procedimentos determinados pelas
roçador, carga e alimentação de algodão (fardão x velocidades de Normas Regulamentadoras 6 e 10, que tratam, respectiva-
desmanche). Com isso, haverá menos paradas desnecessárias, sem mente, sobre o uso dos EPI e EPC, além de ações preventi-
demandar energia excedente às operações; vas de acidentes.
Antes de entrar em contato com qualquer equipamen-
• reduzir o uso excessivo de iluminação durante o dia em locais aber- to, sistema ou instalação de energia elétrica, energizado ou
tos e de fácil reflexão da claridade do sol. Instalar algumas telhas não, emergencial ou não, o trabalho deve ser previamen-
translúcidas. te planejado. Os instrumentos “Voltímetro ou Volti-ampe-
rímetro”, e “Chave Teste de Tensão” (Figuras 9.5 e 9.6) são
Quanto a desligamentos gerais da usina, pesquisas realizadas pelo indispensáveis nos trabalhos que envolvem instalações
USDA em usinas americanas sobre os custos energéticos do início da ope- elétricas. Existem, porém, outros tipos de equipamentos
ração e funcionamento a vazio e operação indicam que só deve ser feito se adequados a trabalhos com energia elétrica.
o tempo de parada exceder a cinco minutos, pois, a cada entrada em fun-
cionamento dos equipamentos, existirá uma forte necessidade de energia,
com um custo agregado. Caso contrário, não é viável desligar a usina. 2.4.1. Manutenção durante a safra
Devido à necessidade do uso de mais energia para o motor poder dar
a partida, recomenda-se como uso racional que, ao inicializar o sistema, A manutenção preventiva e controlada é um importante
os motores de alta potência sejam ligados de forma sequencial, não-si- instrumento para o bom funcionamento da usina, a redu- Figura 9.4. Selo Procel de
multânea, com um pequeno intervalo entre as operações para permitir ção de custos e a boa produtividade. As vantagens são di- conservação de energia.
versas e consideráveis, como: (Fonte: Eletrobras, 1993).
202 203
manual de BENEFICIAMENTO AMPA - IMAmt 2014
• antecipação de falhas du- Para efetivar a inspeção de maneira mais ordenada, no formulário, a parte de automa-
rante o processo produtivo; ção deve ser independente da parte elétrica (GIFALI e FERNANDES, 2008-2009).
• aumento da produtividade, Os principais pontos de verificação sobre os equipamentos a serem analisados nas
com diminuição de paradas inspeções elétricas são:
por defeitos de equipamen-
tos; • condutores, conexões e acionamentos elétricos;
• diminuição de custos de • corrente elétrica por fase (medição);
materiais, possibilitando a • temperatura, instrumentos, limpeza e integridade;
programação de compras e • fixação, acoplamentos e ruídos;
a disponibilização antecipa- • esquemas elétricos;
da de produtos;
• válvulas de vibração;
• criação de histórico de ma- • sinais de desgastes.
nutenção do equipamento.
A manutenção corretiva tam- Tabela 9.6. Modelo das rotas na planilha de inspeção elétrica.
bém deve ser planejada, mesmo ALGODOEIRA _________________________________________________________________________________
que de forma emergencial. Quan- PLANILHA DE INSPEÇÃO DE MANUTENÇÃO ELÉTRICA
do possível, executá-la nos horá- Frequência: ( ) Diário ( ) Semanal ( ) Quinzenal ( ) Mensal
rios de parada (intervalos e ponta).
Figura 9.5. Volti-amperímetro. (Foto: Executante: ____________________________ DATA: _____/_____/_____
Cotimes do Brasil, 2011). Rota
Rota processo Equipamento Pontos de verificação
2.4.1.1. Inspeção pre-
Condição (Integridade)
Disjuntores (Acion.)
ventiva Medição de
Corrente (A)
Equipamento
Temperatura
Temperatura
Condutores
por fase
Conexões
Vibração
Limpeza
Fixação
Ruído
Outro
Etapa do Itens do
processo equipamento
A inspeção preventiva deve se-
guir uma rotina sistemática e perió- R S T N
204 205
manual de BENEFICIAMENTO AMPA - IMAmt 2014
Na inspeção de condutores, conexões elétricas e acionamentos, o responsável deve Tabela 9.7. Máxima Temperatura Admissível (MTA).
verificar a existência de sinais de superaquecimento em cabos e terminais, mau conta- COMPONENTE INDUSTRIAL MTA (°C)
to em componentes e conexões, temperatura, vibração, ruídos estranhos, limpeza dos
Condutor encapado – Isolação de Cloreto de Polivinila (PVC) 70
componentes e painéis (poeira), peças soltas, quebradas e aspectos de segurança.
Condutor encapado – Isolação de Borracha Etileno Propileno (EPR) 90
Já a corrente por fase deve ser medida nos dispositivos de acionamentos instalados
nos painéis e quadros elétricos. Cuidar para não provocar acidentes ou parada de equi- Condutor encapado – Isolação de Polietileno Reticulado (XLPE) 90
pamentos. Régua de Bornes 70
Nas plantas industriais, os painéis elétricos são presentes e de importância capital para
Conexões mediante Parafusos 70
o bom funcionamento da produção. A manutenção destes grupos deve seguir também
a rota de inspeção, e consiste principalmente em: checagem de fixação e inspeção de Conexões e Barramentos de Baixa Tensão 90
conexões, limpeza, organização e medições de temperatura. Devem-se conferir também Conexões Recobertas de Prata ou Níquel 90
os índices de grandezas elétricas: medições de corrente (A), voltagem (V), etc.
Fusível (corpo) 100
Atualmente, com o uso da tecnologia, podem-se constatar defeitos ou anomalias
com a aplicação da Termometria (Figura 9.7), através de equipamentos apropriados Transformadores secos Ponto mais aquecido
(Figura 9.8), com resultados satisfatórios e alta confiabilidade em sua utilização (BRITO, Classe de Isolação 105 65
2005). Como parâmetro, é utilizada a Máxima Temperatura Admissível (MTA) dos com-
Classe de Isolação 130 90
ponentes, ou seja, a máxima temperatura sob a qual se permite que o componente
opere. Seus valores podem ser obtidos a partir das especificações técnicas dos com- Classe de Isolação 155 115
ponentes ou junto aos fabricantes. Estes valores são baseados na norma NBR 5.410, da Classe de Isolação 180 140
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), tabelas de fabricantes e referências
da International Electrical Commission (IEC) (Tabela 9.7). Fonte: Brito, 2005, P. 3.
206 207
manual de BENEFICIAMENTO AMPA - IMAmt 2014
Tabela 9.8. Ações para a correção das irregularidades. O motor de alto rendimento
Classificação Comentários passou a ser estabelecido como
Reparar, em conformidade com as datas do plano regular de manutenção.
padrão através da mesma Por-
Rotina Pequena possibilidade de falha ou danos físicos no componente. taria. É constituído por uma tec-
Intermediária Reparar, quando possível. Verifique a possibilidade de danos físicos no componente. nologia mais avançada (Figura
Séria Reparar o mais rápido possível. Se necessário, troque o componente e inspecione 9.9), com maior quantidade de
os adjacentes à procura de danos físicos. Há possibilidades de falha no componente.
cobre no enrolamento do esta-
Emergencial Reparar imediatamente. Troque o componente, inspecione os adjacentes e
troque-os, se necessário. É grande a possibilidade de falha no componente. tor, chapas magnéticas de bai-
xas perdas, melhor dissipação
Fonte: Sanden Engenharia, 2008.
de calor e rendimento superior.
Os principais pontos de verificação dos equipamentos a serem analisados nas ins- Por conseguinte, tem menos
peções da automação são limpeza, reaperto e medições de fontes, transdutores e TC, perdas, menor entreferro;
remotas, CPU dos CLP, IHM, e botões. anéis especiais; rotor tratado
Verificar a integridade física e o aperto dos sensores indutivos, magnéticos e fim de curso. termicamente; menor desgas-
te, menos manutenção e maior
vida útil. O motor de alto rendi-
2.4.2. Manutenção fora de safra mento tem a mesma potência
Todos os equipamentos elétricos (motores, painéis de comando, armários, etc.) de- de saída do motor standard,
vem ser individualmente revisados durante a entressafra. Devem ser desmontados e porém utiliza menos energia
Figura 9.9. Estrutura do motor de alto
inspecionados internamente. No caso de motores submetidos a testes de resistência elétrica para isto, ou seja, é mais rendimento. (Fonte: WEG, 2011).
de isolação, alimentação, condições do rotor, estator e outros, esta manutenção deve econômico (Figura 9.10).
ser detalhada e profunda, pois dela dependerá o bom funcionamento da usina quando Apesar dessas definições, as
em operação. indústrias de motores conti-
98
Os circuitos elétricos de iluminação, lâmpadas, redes de alimentação e distribuição nuaram investindo em tecnolo-
97
de energia, bem como aterramentos, devem ser inspecionados. As conexões devem ser gia e pesquisa, e já desenvolve-
reapertadas, reisoladas e substituídas quando apresentarem algum tipo de desgaste. ram motores com rendimentos 96
Rendimento
gráfico da empresa WEG, com 94
os motores de nova geração.
3. Material elétrico
93
Portanto, quando for ne-
92
cessário efetuar a substituição
de motores antigos, ou para 91
3.1. Motores elétricos novas aplicações, deve-se op-
tar por motores que ofereçam
3.1.1. Generalidades novas tecnologias e resultem 60 75 100 125 150 175 200 250 300 350 400 450 500
208 209
manual de BENEFICIAMENTO AMPA - IMAmt 2014
que deve conter claramente o rendimento e o fator de potência nominais do motor, 3.1.3. Diferença de polos dos motores
observados os demais requisitos definidos na norma NBR 7.094/2000, conforme a
variação mostrada na Tabela 9.9. Os motores de indução possuem características diversas, dentre as quais o núme-
ro de polos. Quando uma carga é colocada no eixo do motor, o rotor reduz a sua ve-
Tabela 9.9. Rendimentos nominais mínimos.
locidade, aumentando o escorregamento (GARCIA, 2003). Segue-se uma sucessão de
Motor de alto rendimento eventos: aumenta a velocidade com que o campo magnético corta as barras do rotor,
N° de polos aumenta a corrente do rotor, aumenta o campo magnético gerado pelo rotor, diminui
CV ou HP KW 2 4 6 8 o campo magnético total, aumenta a corrente no estator e aumenta a potência elétrica
1,0 0,75 80,0 80,5 80,0 70,0
1,5 1,1 82,5 81,5 77,0 77,0
fornecida ao motor. O motor, portanto, se autorregula para atender à carga no eixo: se
2,0 1,5 83,5 84,0 83,0 82,5 aumenta a carga, diminui a rotação, aumenta a corrente do motor e aumenta a potên-
3,0 2,2 85,0 85,0 83,0 84,0 cia elétrica fornecida.
4,0 3,0 85,0 86,0 85,0 84,5
Dependendo da forma como são dispostas as bobinas do estator, podem-se formar
5,0 3,7 87,5 87,5 87,5 85,5
6,0 4,5 88,0 88,5 87,5 85,5 apenas dois pólos, um norte e um sul, ou quatro, seis, oito, para citar os mais comuns,
7,5 5,5 88,5 89,5 88,0 85,5 como mostra a Figura 9.11 (ibid.).
10,0 7,5 89,5 89,5 88,5 88,5 Quando, então, a corrente de alimentação completa um ciclo (1/60 Hz = 16,7 ms), o
12,5 9,2 89,5 90,0 88,5 88,5
15,0 11,0 90,2 91,0 90,2 88,5
campo vai de “norte a norte”. Em um segundo, o campo no motor de 2 polos dá 60 vol-
20,0 15,0 90,2 91,0 90,2 89,5 tas, no de 4 polos 30 voltas, no de 6 dá 20 voltas, e assim por diante, o que corresponde
25,0 18,5 91,0 92,4 91,7 89,5 a 3.600, 1.800 e 1.200 rpm (rotações por minuto).
30,0 22,0 91,0 92,4 91,7 91,0
40,0 30,0 91,7 93,0 93,0 91,0
50,0 37,0 92,4 93,0 93,0 91,7
60,0 45,0 93,0 93,6 93,6 91,7 N N N
75,0 55,0 93,0 94,1 93,6 93,0
100,0 75,0 93,6 94,5 94,1 93,0
S S
125,0 90,0 94,5 94,5 94,1 93,6
150,0 110,0 94,5 95,0 95,0 93,6
175,0 132,0 94,7 95,0 95,0
S S
200,0 150,0 95,0 95,0 95,0
250,0 185,0 95,4 95,0
N N
Fonte: Governo Federal, dez. 2005, Tb 1, p. 2.
S S S
3.1.2. Comparações e vantagens
2 polos 4 polos 6 polos
Os motores de alto rendimento custam mais do que os da linha padrão, entretanto
essa diferença é rapidamente amortizada pela economia de energia elétrica e redu- Figura 9.11. Polaridade de um motor de indução.
ção dos custos de manutenção (GIFALI, 2008-2009). (Fonte: Garcia, 2003, p. 51).
210 211
manual de BENEFICIAMENTO AMPA - IMAmt 2014
212 213
manual de BENEFICIAMENTO AMPA - IMAmt 2014
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manual de BENEFICIAMENTO AMPA - IMAmt 2014
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
216 217
capítulo 10
AUTOMAÇÃO NA ALGODOEIRA
220 221
manual de BENEFICIAMENTO AMPA - IMAmt 2014
2.4. Relações entre as várias partes de um sistema automatizado 3.1.2. Regulação automática no alimentador de descaroçador
A Figura 10.3 mostra a estrutura geral de um sistema automatizado e as relações A densidade de rolo de algodão em caroço no descaroçador é um fator determinante
entre suas várias partes. do descaroçamento. Uma densidade variável resulta numa variável qualidade da fibra,
portanto os descaroçadores modernos estão equipados com um sistema para manter
uma densidade de rolo constante e de levantar o peito, caso a alimentação seja insu-
ficiente (Figura 10.4). Em geral, a informação sobre a densidade do rolo é derivada da
Auxiliar de Unidade de corrente do motor do eixo de serras. É enviada para a unidade central de processamento
comando
manual
tratamento das
informações
Sensores (CLP), que se comunica com o operador, que, por sua vez, age sobre os rolos dosadores do
(autômato Máquina alimentador de maneira a ajustar o fluxo de entrada no descaroçador. O sistema funciona
Auxiliar de programável ou
sinalização industrial - CLP ou processo bem e é indispensável nas usinas modernas.
programa de
informática)
Interfaces Pré-atuador Atuador Em caso de densidade que permanece insuficiente, o peito levanta automaticamente,
até o fluxo de algodão no sistema voltar a ser suficiente para alimentar os descaroçadores.
1
- A este respeito, conferir a Parte 6 deste Manual.
222 223
manual de BENEFICIAMENTO AMPA - IMAmt 2014
Várias técnicas de detecção podem ser utilizadas para limitar a importância e a gra- 3.2.3. Embalagem do fardo
vidade do embuchamento:
Após a aramação o fardo é automaticamente ejetado da prensa e cai em cima de um
• Detecção por fotocélula da passagem da fibra no condensador. Ao detectar um carrinho, que o desloca até a ensacadora. A chegada do fardo é indicada por um fim de
acúmulo de fibra no condensador geral, os peitos dos descaroçadores levantam; curso, liberando o pistão que empurra o fardo para o saco e balança.
Várias funções da prensagem podem ser automatizadas nas usinas antigas3, a fim de
• Também se pode detectar embuchamento no condensador utilizando um sensor
evitar perda de produção, acidentes com os operadores e conseguir pesos de fardos
amperímetro. No caso de acúmulo de fibra e embuchamento do condensador,
mais homogêneos.
a intensidade da corrente do motor aumenta. Um nível predefinido provoca o
levantamento dos peitos dos descaroçadores;
224 225
manual de BENEFICIAMENTO AMPA - IMAmt 2014
abordagem rigorosa;
• Simplificação da fiação reduzida ao seu mínimo, pelo uso de módulos
pré-conectados e redução do risco de erro;
Botões
Informação lógica
• Facilitação dos testes, pela análise e simulação de todos os
comportamentos da automação, e fáceis modificações;
Sensores
• Rapidez dos eventuais consertos, com cada passo definido com ordens
e sinais claros; Medição contínua
Sensor de pressão
5. Conclusão
Historicamente, a automação (Quadro 10.1) progrediu bastante, em
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
todos os segmentos da indústria. O papel da automação industrial per-
manece importante, pois os sistemas automatizados ocupam e contro- TERWIESCH, Peter et al. L’homme dans la chaîne d’automatisation. Zurich-Suisse: Ed. ABB
lam muitos setores das economias modernas. Ltda., 2007.
Hoje, na indústria, o processo de automação se tornou indispensável,
pois executa, todos os dias, os trabalhos mais difíceis, repetitivos e pe-
rigosos que antigamente eram efetuados pelo ser humano. Frequente-
mente, os sistemas automatizados realizam ações de precisão ou rapidez,
fora de alcance do ser humano.
Finalmente, é importante salientar que a utilização de um autômato
industrial não é condição suficiente para aumentar a produção de uma
indústria. É imprescindível, antes de qualquer coisa e como em toda
aplicação industrial, definir e respeitar uma boa política de gestão e ma-
nutenção dos equipamentos.
226 227
capítulo 1 1
MANUTENÇÃO NAS ALGODOEIRAS
230 231
manual de BENEFICIAMENTO AMPA - IMAmt 2014
1.2. Pré-requisitos
Para definir e realizar um programa eficiente de manutenção durante a
safra e a entressafra de beneficiamento, deve-se considerar previamente,
num âmbito mais amplo, os seguintes pontos:
2. Manutenção preditiva e preventiva A manutenção preventiva abaixo, de 10%, não é realizada corretamente.
232 233
manual de BENEFICIAMENTO AMPA - IMAmt 2014
efetivados de forma completa e conjunto de descaroçamento, sugere-se efetuar um conjunto completo por vez. Inicial-
de maneira adequada, podendo- mente, devem ser feitas as inspeções. Cada etapa deve sofrer uma varredura avaliando
se ter um aproveitamento máxi- as máquinas individualmente. Com o levantamento concluído, devem-se avaliar todas
mo no momento de planejar. as necessidades, somando-se a isto as informações dos relatórios de safra, e assim defi-
Hoje, no Brasil, a coleta de da- nir as ações a serem realizadas. Com isso, já é possível customizar a manutenção.
dos, e mais ainda, a exploração Para a manutenção preventiva, seja na época de safra ou na reforma, geralmente
dos inúmeros dados coletados é realizada em final de safra (entressafra), existem alguns documentos básicos a serem
deficiente, por necessitar de tem- criados e utilizados pela usina, tais como:
po e pessoal. A manutenção au-
xiliada por computador (software • Ficha de limpeza das máquinas e prédio;
específico) ajuda na exploração
detalhada (Figura 11.4) dos nu- • Lista de conferência ou checagem (check-list);
merosos dados de manutenção • Ficha de intervenção (trabalhos efetuados).
preventiva e corretiva, parte por
parte do processo ou de cada
equipamento, no âmbito do pla- 2.1.2. Manutenção na safra
Figura 11.4. Relatório utilizando software. nejamento de compras de peças
(Foto: Cotimes do Brasil, 2009). antecipadas, escolha de fornece- Quando a manutenção ocorrer durante a safra, deve ser planejada para que se realize
dores e otimização permanente durante paradas longas e programadas como, por exemplo, o horário de ponta estabe-
da sua manutenção e custo. lecido pela concessionária de energia elétrica. Para isso, são necessárias inspeções de ro-
tina (Figura 11.6) que irão identificar e nortear toda a organização dos trabalhos a serem
planejados. É imprescindível que a manutenção preventiva de rotina seja planejada de
2.1.1. Manutenção na acordo com a orientação do check-list de inspeção e que o planejamento possa aproveitar
entressafra paradas na usina para reparos, a fim de efetuar manutenções preventivas em outros equi-
pamentos ou locais.
No Brasil, os industriais geral- Quando as inspeções forem realizadas entre turnos ou folgas de tempo suficiente, é
mente aproveitam-se da entressa- indispensável aproveitar essa paralisação para:
fra para realizar as manutenções • efetuar a limpeza da poeira
mais pesadas e que demandam superficial na usina, utilizan-
ações que necessitam de maior do ar comprimido;
tempo, seja manutenção correti- • efetuar a limpeza por dentro
va ou preventiva e investimento dos principais equipamen-
em adaptações, adequações, me- tos, como telas de conden-
lhorias e modernizações (Figura sadores de limpadores de
11.5). É o tempo das reformas. pluma, condensador geral e
grelhas dos alimentadores
Normalmente, iniciam logo após descaroçadores;
Figura 11.5. Manutenção de entressafra ou
reforma. (Foto: Cotimes do Brasil, 2011). o término da safra corrente, com • verificar anomalias no in-
a desmontagem de máquinas e terior das máquinas, como
equipamentos para uma inspeção mais detalhada e, a partir daí, enume- acúmulo de fibra ou algodão
rar as necessidades mais pontuais, às vezes invisíveis durante o funciona- em caroço, poeira excessiva
mento e não verificadas no decorrer da safra. e indícios de formação de
Neste momento, é imprescindível documentar o passo a passo dos embuchamentos. Também
atentar para quebras de
trabalhos para dispor dos registros e organizar todas as ações que, pos- barras de grelhas, irregulari-
teriormente, serão necessárias, como compras de peças, contratação de dade de espaçamentos nas
serviços, etc. grelhas, dentes ou pinos tor-
Os trabalhos dentro da usina devem ser gradativos e por etapas do tos nos desmanchadores e Figura 11.6. Inspeção de rotina.
(Foto: Cotimes do Brasil, 2010).
processo, sistematicamente. No caso de usinas antigas e com mais de um
234 235
manual de BENEFICIAMENTO AMPA - IMAmt 2014
outros equipamentos que os utilizem, soldas com desgastes, re- • aproveitar, quando possível, para fazer a manutenção em máquinas que se apre-
barbas em chapas, grelhas e metais; sentam como potencial de paradas durante a safra, ou seja, que possuam algum
• verificar e efetuar limpeza, quando necessário, nas principais tubu- histórico, ou que, pelo tipo de uso, possam causar paradas imprevistas.
lações de entrada e saída de algodão em caroço, fibra e resíduos;
• verificar o excesso de lubrificação, folgas nas partes móveis, em- A rotina da manutenção preventiva deve ser contínua e com o envolvimento de
penamentos de rolos, tensão de correias e correntes, entre outros;
todos os colaboradores de cada setor ou parte dos processos produtivos. Numa algo-
• verificar vedações das válvulas de vácuo, equipamentos sob doeira, são várias as etapas de produção, que envolve o funcionamento de máquinas
pressão negativa (batedores), extremidades dos condensadores, de diversos portes e dimensionamentos. Portanto, é importante que haja uma sequên-
etc.;
cia coerente que facilite o acompanhamento e a organização da manutenção, antes,
• realizar reparos necessários verificados em outras inspeções ou durante e após o período de produção.
durante a produção;
• sempre desligar e travar o equipamento a ser revisado e/ou ma-
nutencionado; 2.2. Documentação
Durante os turnos de trabalho e produção da usina, procure sempre: A importância de documentar as ocorrências e manter um controle de registros das
situações e causas detalhadas nas atividades operacionais da usina permite identificar
• observar a regularidade do funcionamento das máquinas, da alimen- os defeitos, o impacto sobre o custo e com isto corrigir as falhas.
tação de algodão, barulhos e ruídos anormais; Com o avanço da tecnologia, a necessidade de se fazer vários controles e também
• medir, utilizando um termômetro com mira a laser, as temperaturas de armazenar muitas informações, tornou-se essencial e indispensável o auxílio da in-
dos rolamentos, mancais e sistemas de lubrificação, entre outros; formática na gestão das usinas.
Para a gestão da manutenção, são necessárias ações como automatizar os hábitos
• observar polias, engrenagens e roldanas, com suas respectivas cor-
de manutenção e preparar dados preliminares, que não podem faltar. São ações que
rentes, correias e fitas para conferir o alinhamento correto, assim como
ajudarão a alcançar a redução dos custos. Desta forma, softwares especializados, pro-
a tensão ajustada;
fissionais apropriados são ferramentas cada vez mais indispensáveis para a agilidade,
• verificar o sistema de ar, conferindo se existem vazamentos, amassa- acompanhamento e organização das usinas. Também dentro deste contexto, é preciso
mentos e possíveis perdas de desempenho; manejar uma usina como um centro de custo e lucro, para melhorar a competitividade
• observar a existência de possíveis vazamentos em sistemas hidráuli- de maneira permanente, integrando as gestões industrial (produção), administrativa e
financeira.
cos, condições de seus filtros, aquecimento anormal.
Com a documentação e a informatização da gestão, será mais simples formalizar e
modelar todas as práticas:
Já a manutenção deve ser realizada por equipes (turno) e por pes-
soas especializadas. O trabalho deve ser documentado, utilizando-se dos
• da manutenção;
check-lists, tabelas específicas e os levantamentos de ocorrências. É im-
portante definir os períodos de programação, de acordo com as necessi- • da qualidade;
dades de cada item. • da gestão dos estoques;
Para a execução dessas manutenções, o responsável deverá observar
alguns pontos importantes, como: • da rastreabilidade dos produtos;
• da gestão contábil e financeira;
• limpeza da usina;
• e do beneficiamento em si.
• procedimentos de segurança antes de realizar a manutenção;
• conhecer as orientações do fabricante com relação à manutenção dos O uso dos relatórios gerados por esses documentos auxiliará nas tomadas de deci-
equipamentos (regulagens, velocidades, disposições, etc.); sões e direcionamento de ações, como a escolha de fornecedor, tipo e qualidade de
peças e acessórios, assim como de serviços. Também poderá ser possível avaliar o tem-
• ter disponíveis todos os recursos necessários para realizar as tarefas,
po necessário para a realização das tarefas, planejar a necessidade de mão-de-obra, de
evitando perda de tempo desnecessária (as paradas implicam em au-
alterações e adequações do processo. É muito importante planejar os trabalhos com
mento de custo fixo);
antecedência, para ter todas as condições de trabalho e realizar a manutenção de acor-
236 237
manual de BENEFICIAMENTO AMPA - IMAmt 2014
238 239
manual de BENEFICIAMENTO AMPA - IMAmt 2014
5%;
Nº DESCRIÇÃO DA OCORRÊNCIA MOTIVO HORÁRIO DURAÇÃO
DAS as h
deveria ser utilizado para a
DAS as h
manutenção corretiva = 24 h
DAS as h
x 0.05 = 1h15. DAS as h
DAS as h
Estes tempos variam de acordo com
DAS as h
o porte da usina. DAS as h
Acima de 5% do tempo teórico DAS as h
de produção dedicado à manuten- DAS as h
ção corretiva, é considerado que a DAS as h
manutenção corretiva não é realiza- DAS as h
da corretamente. DAS as h
Figura 11.7. Manutenção corretiva do
equipamento. (Foto: Cotimes do Brasil, 2010).
A questão da segurança deve DAS as h
OBSERVAÇÕES
RESPONSÁVEL
EQUIPAMENTO /
DO TRABALHO
NO SISTEMA
PROCESSO
LANÇADO
TEMPO
MATERIAL
REPOSTO
HORA HORA TEMPO DA
É interessante que haja um histórico de problemas de cada equipamento, DATA DESCRIÇÃO
INÍCIO FINAL INTERVENÇÃO
TOTAL DA
PARADA
(hora)
pois nesse caso poderá ser possível avaliar melhor a intervenção a ser feita (hora)
e sanar alguma anomalia que já vinha sendo monitorada sem condições ou 12/07/2010
Desmanchador Rolamento rosca
08:15 09:15 Fulano 00:25 01:00
Rolamento Falta do item
OK
de fardão transp. quebrado xx no estoque
oportunidades para a correção. Falta de energia Concessionária
12/07/2010 Geral 11:30 11:40 Fulano 0 00:10 - OK
A manutenção corretiva é a consequência de um fato imprevisto que já no sistema
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ser observado para ferramentas e instrumentos de trabalho, que devem pos- É relevante considerar que:
suir um local apropriado, limpo e organizado, portanto acessível. Após o uso,
• os melhores equipamentos não podem dar o melhor sem o melhor pessoal;
eles devem ser imediatamente devolvidos ao local.
A avaliação dos danos, das condições do equipamento manutencionado • um pessoal competente procura, assimila e utiliza as informações;
e das causas do problema deve ser debatida e registrada num diário de bor- • um pessoal informado e formado pode tomar boas decisões;
do ou livro específico. Quando o problema for de uma proporção maior e de • é recomendado que o pessoal possa se beneficiar de cursos de formação regulares
importância mais abrangente, sugere-se uma discussão e análise crítica mais de operação dos equipamentos, manutenção, ajustes e segurança;
pontual, envolvendo pessoas do processo, técnicos e até mesmo fornecedo-
• manutenção bem planejada e gerenciada = tranquilidade.
res. Isto valida a importância do livro de ocorrências e de intervenção.
Seja por manutenção preventiva ou corretiva, sempre antes de recolocar
a usina em funcionamento, o pessoal deve estar atento aos seguintes itens: Na organização de uma usina, o elemento ‘manutenção’ deve estar sempre asso-
ciado a recursos e ferramentas que possam atender às necessidades que os trabalhos
demandam. O fluxograma abaixo expressa estas necessidades.
a) As condições físicas das peças visíveis e principais para o funcionamento,
como parafusos de alinhamento, correias, molas, correntes, roldanas e
Os recursos humanos e as ferramentas adaptadas são indispensáveis a uma manu-
engrenagens, tensão com que foram reguladas, alinhamentos, etc.;
tenção eficiente. A colocação em operação precisa de uma gestão rigorosa das ferra-
b) A existência de folgas, vazamentos, desgastes, etc.; mentas, para evitar desgastes e perdas. Para isso, a gerência da usina deve atentar para:
c) A lubrificação geral dos sistemas;
• contratar pessoal competente, conforme as exigências da manutenção;
d) As instalações e sistemas elétricos, conexões e isolamentos;
• criar condições de trabalho ótimas (higiene e segurança);
e) Outros.
• avaliar regularmente o pessoal (monitoramento do tempo de intervenção, paradas,
ferramentas);
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capítulo 12
SEGURANÇA EM USINAS
DE BENEFICIAMENTO DE ALGODÃO
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• Utilizar extintores ou hidrantes de incêndio, conforme a necessidade; • Utilizar extintores ou hidrantes de incêndio, conforme a necessidade;
• Mover o fardão para longe do desmanchador; • Desligar os ventiladores e as outras máquinas somente se houver suspeita de fogo
dentro delas, pois, no caso, precisam ser abertas;
• Desligar os equipamentos de descarga, tais como desmanchador de
fardões e Hot-box; • O responsável pelo pátio deve remover dos ciclones, charutos ou casa de resíduos/
pó, rapidamente, todo o material propenso a fagulhas e potencialmente combustível.
• Retirar ou afastar os veículos em serviço na área de alimentação.
3.2.3. Alimentação do descaroçador e descaroçamento
3.2.2. Regulação da alimentação, secagem e limpeza do A calha da rosca transportadora deve permanecer devidamente fechada com cha-
algodão em caroço pas preferencialmente reforçadas, para evitar quedas de objetos, sujeiras e até mesmo
trânsito inseguro sobre elas.
Para a secagem do algodão, normalmente se utiliza ar quente origina- O descaroçamento possui um sistema de extração da fibra através de serras, normal-
do pelo calor de uma fornalha, caldeira, ou através da queima de gás. Os mente muito afiadas, que giram em alta velocidade entre um jogo de costelas (costela-
tanques de estoque do gás devem permanecer em áreas restritas fora da do), conforme mostra a Figura 12.3.
usina, cercadas e sinalizadas. Infelizmente, é comum registros de acidentes graves nos descaroçadores, afetando
As tubulações devem ser isoladas, o que não ocorre na maioria dos normalmente braços e mãos, com perdas de membros ou até invalidez parcial. Portan-
casos, portanto a atenção deve ser redobrada, para evitar queimaduras. to, esta é uma atividade que necessita de atenção especial e mão-de-obra capacitada.
A regulação de fluxo e a limpeza do algodão em caroço se dão por
equipamentos de grande porte, instalados ao solo ou em plataformas,
normalmente em condições de altura consideráveis e perigosas. Devem 3.2.3.1. Medidas de
ter acesso especial, com plataformas adequadas.
prevenção de acidentes
• Identificar o local do foco de incêndio no algodão; • Em usinas com recalque de ar, parar os descaroçadores antes de limpar os bocais de ar;
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• Usar mangueiras de ar ou outras ferramentas compridas ao redor das 3.2.4.1. Medidas de prevenção de acidentes
serras;
• Visualizar sempre a presença de focos de incêndio no equipamento e • Não manusear ou colocar as mãos nos rolos se estiverem em movimento, mesmo
na matéria que está entrando para descaroçar. lento;
• Levantar o peito e permanecer assim, deixando cair no chão todo o • Deixar a fibra sair totalmente das demais máquinas para ir até a prensa;
algodão que chega do alimentador;
• Procurar o ponto de incêndio no cilindro condensador e local de destino da fibrilha.
• Deixar o descaroçador rodando, para as escovas não se queimarem; Neutralizá-lo com extintor;
• Procurar o ponto de incêndio no peito e neutralizá-lo com um extintor; • Permanecer próximo ao equipamento até que o fogo esteja completamente apagado;
• Tirar do peito a parte molhada do rolo de caroço; • O operador de fibrilha deve removê-la completamente dos equipamentos de limpeza
e prensagem, e colocá-la longe do prédio, verificando a presença de fagulhas.
• Esperar toda a fibra chegar na prensa e prensar o fardo;
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• Deixar a fibra sair totalmente das demais máquinas para chegar à prensa;
Figura 12.5. Prensa de fardos.
(Foto: Cotimes do Brasil, 2011). • Girar a prensa e prensar o fardo, mesmo se houver chamas na fibra;
• Isolar ao menos dois fardos para poder abri-los e procurar pontos de fogo;
3.2.5.3. Enfardamento
• Se houver fogo no condensador geral, molhar as áreas ao redor dos anéis das
O uso de arame torna a operação muito perigosa devido ao risco de extremidades e dos rolos, e evitar deixar que o fogo queime na tela de pluma ou
seu rompimento. Para o transporte manual do fardo, devido ao peso, há perto dos anéis;
o risco de acidentes por quedas, batidas e esforço físico, podendo haver
o prejuízo de imediato ou com reflexos no futuro, como doença lombar, • Permanecer próximo ao condensador geral e à prensa até apagar o fogo.
de coluna, etc.
• Restringir acessos às proximidades das caixas da prensa, empurrador 4.1. Medidas administrativas
e calcador/compactador;
Contratar funcionários, realizando entrevistas pessoais, tentando diagnosticar seu
nível de conhecimento, escolaridade, experiência, etc.
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• Instalar dispositivos de bloqueio automático (sensores) em pontos • Direcionar os funcionários a cursos e participação em Comissão Interna de Prevenção
de equipamentos que sejam considerados perigosos e propiciem aci- de Acidentes (Cipa) também é motivador e resulta em bons dividendos, individual-
dentes (portas e tampas); mente e para a empresa;
• Sinalizar com dispositivo sonoro (sirene) o início de operação da usina e a • Efetuar relatórios sobre acidentes, analisá-los e estudá-los juntamente com outros
partida no funcionamento de motores e equipamentos maiores e de aces- relatórios internos ou de terceiros ajuda a melhorar os procedimentos e o ambiente
so direto dos colaboradores (desmanchadores, limpadores, prensa, etc.); de trabalho, identificando as possíveis falhas ou potenciais causas; isto pode impactar
• Instalar e manter firmes e em bom estado plataformas de acesso aos diretamente na prevenção de outros acidentes.
equipamentos dispostos em áreas elevadas na usina (batedores, válvulas, Com uma boa gestão destes pontos, o gerente certamente terá bons resultados em seu
extratores, etc.); programa de segurança.
• Proteger, com corrimãos e protetores para pés, as plataformas e outras
superfícies elevadas de trabalho ou passagem;
• Para guarda-corpo de escadas verticais, instalar proteções circulares,
5. Exposição a ruídos nas usinas
tipo escada marinheiro;
5.1. Introdução
• Verificar rotineiramente a limpeza e a organização da usina, guarda de
ferramentas, peças e objetos que possam atrapalhar o livre trânsito e as A indústria do beneficiamento é praticamente toda composta de grandes equipamentos
atividades de operação; que geram naturalmente muito ruído, de diversas intensidades e timbres (agudos ou graves).
• Evitar caminhar sobre tubulações e equipamentos enquanto a máqui- Permanecer muito tempo nesses ambientes prejudica a saúde do colaborador, com perdas
na estiver funcionando. Fazer uso das plataformas de acesso existentes. auditivas, prejudicando, também, sua produtividade e desempenho. É de extrema importân-
Quando necessário, utilizar cinto de segurança, escadas adequadas e cia o uso do EPI apropriado (plugs de ouvido e abafadores), bem como ações de engenharia
em boas condições, plataformas firmes e seguras; voltadas à diminuição da intensidade desses ruídos e exposição a eles.
Níveis sonoros de 65-80 dBA (decibéis de uma escala de medida A) são irritantes,
• Certificar-se de que, em cada turno, haverá um responsável, treinado,
mas não apresentam efeitos além da indução do estresse ou interferência na comuni-
capacitado e apto a efetuar procedimentos de primeiros socorros e téc-
cação.
nicas de prevenção e combate a incêndios;
Níveis sonoros de 85 dBA acima têm revelado um potencial de causar desequilíbrio
• Para realizar reparos e manutenção, contratar somente pessoal qualifi- auditivo após exposição prolongada (COOPER, 1974).
cado;
• Procurar usar roupas que sejam confortáveis, sem manga comprida, Tabela 12.1. Limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente.
para evitar que se enrolem nas máquinas; NÍVEL DE RUÍDO TEMPO MÁXIMO NÍVEL DE RUÍDO TEMPO MÁXIMO
dB (A) POR DIA (horas) dB (A) POR DIA (min.)
• Inspecionar frequentemente a condição dos extintores de incêndio;
– – 96 105
• Instalar placas de advertência sobre perigos físicos, ambientais e 85 8 98 85
obrigações quanto ao uso de equipamentos individuais (EPI) e cole- 86 7 100 60
tivos (EPC), de acordo com as normas; 87 6 102 45
88 5 104 35
• Definir e informar as responsabilidades de cada colaborador em suas
89 4,5 105 30
funções com relação à segurança no trabalho. Cada colaborador deve 90 4 106 25
garantir um ambiente de trabalho seguro, saudável, e zelar pela pro- 91 3,5 108 20
teção de seus companheiros de trabalho; 92 3 110 15
• Providenciar boas condições de trabalho, com ambiente limpo, seguro, 93 2,6 112 10
94 2,25 114 8
motivador, valorizando a opinião, iniciativa e a participação dos colab-
95 2 115 7
oradores;
• Ter os procedimentos escritos e bem dispostos a todos os colabora-
Fonte: Norma Regulamentadora 15, Anexo 1.
dores é uma ferramenta que realmente dá um suporte à execução das
atividades da melhor forma possível;
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Geralmente, os níveis de volume dentro de uma usina variam de 95-98 dBA. • NR 05 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) – criação e manutenção
A Tabela 12.1 mostra os limites de tolerância para o ruído contínuo ou da comissão;
intermitente, considerando o nível de ruído em decibéis (dB) e o tempo
máximo de exposição, por dia, permissível para cada caso. • NR 06 – Equipamentos de Proteção Individual (EPI): Estabelece e define os tipos de
A NR-17 – Ergonomia, em seu item 17.5, define que, para ambientes EPI que as empresas são obrigadas a fornecer a seus empregados;
nos quais haja solicitação intelectual e atenção constantes, os níveis de
• NR10 – Instalações e Serviços em Eletricidade: Estabelece as condições mínimas
ruído devem estar de acordo com o estabelecido na NBR 10152. Se as
exigíveis para garantir a segurança dos empregados que trabalham em instalações
atividades não constarem em tal norma, o nível de ruído contínuo ou
elétricas;
intermitente aceitável, para efeito de conforto, será de até 65 dB(A); para
o nível de ruídos de impacto, não deverá exceder a 60 dB(C). • NR 11 – Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Materiais;
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31.12.3. Só devem ser utilizados máquinas, equipamentos e implementos 31.12.16. Só devem ser utilizados máquinas e equipamentos motorizados móveis que
cujas transmissões de força estejam protegidas. possuam faróis, luzes e sinais sonoros de ré acoplados ao sistema de câmbio de marchas,
buzina e espelho retrovisor.
31.12.4. As máquinas, equipamentos e implementos que ofereçam risco de
ruptura de suas partes, projeção de peças ou de material em processamento 31.12.17. Só devem ser utilizados máquinas e equipamentos que apresentem dispositivos
só devem ser utilizadas se dispuserem de proteções efetivas. de acionamento e parada localizados de modo que:
31.12.5. Os protetores removíveis só podem ser retirados para execução • possam ser acionados ou desligados pelo operador na sua posição de trabalho;
de limpeza, lubrificação, reparo e ajuste, ao fim dos quais devem ser, • não se localizem na zona perigosa da máquina ou equipamento;
obrigatoriamente, recolocados.
• possam ser acionados ou desligados, em caso de emergência, por outra pessoa que
31.12.6. Só devem ser utilizados máquinas e equipamentos móveis não seja o operador;
motorizados que tenham estrutura de proteção do operador em caso de • não possam ser acionados ou desligados involuntariamente pelo operador ou de
tombamento, e dispor de cinto de segurança. qualquer outra forma acidental;
31.12.7. É vedada a execução de serviços de limpeza, de lubrificação, • não acarretem riscos adicionais.
de abastecimento e de manutenção com as máquinas, equipamentos e 31.12.17.1. Nas paradas temporárias ou prolongadas, o operador deve colocar os controles
implementos em funcionamento, salvo se o movimento for indispensável à em posição neutra, acionar os freios e adotar todas as medidas necessárias para eliminar
realização dessas operações, quando deverão ser tomadas medidas especiais riscos provenientes de deslocamento ou movimentação de implementos ou de sistemas da
de proteção e sinalização contra acidentes de trabalho. máquina operada.
31.12.8. É vedado o trabalho de máquinas e equipamentos acionados por 31.12.18. Só devem ser utilizadas as correias transportadoras que possuam:
motores de combustão interna, em locais fechados ou sem ventilação
suficiente, salvo quando for assegurada a eliminação de gases do ambiente. • sistema de frenagem ao longo dos trechos onde possa haver acesso de trabalhadores;
31.12.9. As máquinas e equipamentos, estacionários ou não, que possuem • dispositivo que interrompa seu acionamento quando necessário;
plataformas de trabalho, só devem ser utilizados quando dotados de escadas • partida precedida de sinal sonoro audível que indique seu acionamento;
de acesso e dispositivos de proteção contra quedas. • transmissões de força protegidas com grade contra contato acidental;
31.12.10. É vedado, em qualquer circunstância, o transporte de pessoas em • sistema de proteção contra quedas de materiais, quando instaladas em altura
máquinas e equipamentos motorizados e nos seus implementos acoplados. superior a dois metros;
31.12.11. Só devem ser utilizadas máquinas de cortar, picar, triturar, moer, • sistemas e passarelas que permitam que os trabalhos de manutenção sejam
desfibrar e similiares que possuírem dispositivos de proteção, que impossibilitem desenvolvidos de forma segura;
o contato do operador ou demais pessoas com suas partes móveis. • passarelas com guarda-corpo e rodapé ao longo de toda a extensão elevada onde
possa haver circulação de trabalhadores;
31.12.12. As aberturas para alimentação de máquinas que estiverem situadas
ao nível do solo ou abaixo deste devem ter proteção que impeça a queda de • sistema de travamento para ser utilizado quando dos serviços de manutenção.
pessoas no interior das mesmas. 31.12.19. Nos locais de movimentação de máquinas, equipamentos e veículos, o empregador
rural ou equiparado deve estabelecer medidas que complementem:
31.12.13. O empregador rural ou equiparado deve substituir ou reparar
equipamentos e implementos, sempre que apresentem defeitos que impeçam • regras, de preferência de movimentação;
a operação de forma segura. • distância mínima entre máquinas, equipamentos e veículos;
31.12.14. [...] • velocidades máximas permitidas de acordo com as condições das pistas de rolamento.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. NR 15. Norma Regulamentadora
15, Atividades e Operações Insalubres, it 15.1.1, Anexo 1; NR 31.
Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária, Silvicultura,
Exploração Florestal e Aqüicultura. Portaria 3.214, de 8 de junho de 1978.
Disponível em: <www.mte.gov.br>. (Buscar em <Segurança e Saúde no
Trabalho – Legislação.)
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capítulo 13
FUNÇÕES DA EQUIPE DA ALGODOEIRA
FUNÇÕES DA EQUIPE DA ALGODOEIRA zados e com conhecimento mínimo em Informática Básica (redator, planilhas...).
Os quadros a seguir, baseados em trabalhos e levantamentos em muitas algodoeiras
do Brasil, apresentam os principais cargos e funções indispensáveis a uma boa orga-
nização e desenvolvimento técnico-administrativo dos processos de beneficiamento.
1. Princípios gerais Neles, constam:
• Equipe Gerencial: gerente e maquinista (Quadros 13.1 e 13.2);
As usinas de beneficiamento são unidades de negócios que fazem • Equipe de Descarga e Alimentação: operador do desmanchador de fardões ou
Paulo V. Ribas parte de um processo macro de produção na cadeia da cotonicultura.
Cotimes do Brasil
piranheiro (Quadro13.3);
Trata-se de uma importante etapa que praticamente finaliza e prepara a • Equipe do Descaroçamento: frentistas (Quadro13.4);
Primavera do
produção para o mercado, devendo ser administrada e conduzida de for- • Equipe da Prensagem: operador de prensa ou prenseiro e assistente de prenseiro,
Leste-MT
ma séria e profissional. Portanto, as pessoas devem efetuar suas ativida- balanceiro ou marcador de fardos (Quadros13.5 e 13.6);
paulo@
cotimesdobrasil. des e operações visando à segurança dos colaboradores e equipamentos • Coordenador de Manutenção (Quadro13.7);
com.br e de forma que tragam a rentabilidade ao seu proprietário, produtor ou • Coordenador de Qualidade e Umidade (Quadro13.8).
prestador de serviços, atendendo a seus objetivos e metas, planejados e
previstos em cada safra.
Para isso, é importante que o proprietário da usina tenha conhecimen-
2. Principais cargos na algodoeira
to em relação aos processos produtivos e às necessidades operacionais
2.1. Equipe gerencial
e organizacionais. Normalmente, as tomadas de decisões referentes a
quaisquer investimentos mais significativos são efetuadas pelo próprio Quadro 13.1. Cargo de gerente.
dono, que, se estiver baseado num suporte técnico-administrativo soma-
– Voltado à administração geral dos processos;
do a uma prática e documentação objetiva de dados e informações, terá
– Responsável por integrar campo, usina e mercado;
mais segurança, confiança e tranquilidade para avançar.
– Comprometido com o desempenho geral, operacional e funcional do
Dentro da estrutura organizacional da usina deve haver uma equipe beneficiamento e seus colaboradores;
de colaboradores aptos a exercer as funções que lhes forem deliberadas, Descrição
– Analista de relatórios;
as quais terão um impacto direto nos resultados esperados pelo indus-
– Responsável por avaliar e definir a necessidade e o momento oportuno de
trial do beneficiamento, pelos produtores e clientes. Portanto, deve ha- efetuar investimentos para usina e/ou buscar um apoio técnico especializado, que
ver uma escolha criteriosa da mão-de-obra a ser utilizada e também con- lhe dê suporte ao andamento das atividades.
dições adequadas para o desenvolvimento das atividades. Fatores como
capacitação na área, iniciativa, comprometimento e interesse devem ser – Planejar, de forma global, a safra de beneficiamento;
considerados numa seleção. Uma empresa especializada em recruta- – Organizar cronogramas e programação das atividades do beneficiamento;
mento pode auxiliar este trabalho, de forma objetiva e profissional. – Analisar os controles e registros, andamento do planejamento e das atividades
As equipes precisam ser dimensionadas de acordo com a capacidade de programadas para a produção prevista para a safra e a entressafra;
cada usina, de forma a atender e obedecer aos limites operacionais esta- Funções – Acompanhar as atividades e medições de indicadores;
belecidos por lei (carga horária, turnos, etc.), preservando a saúde ocupa- – Coordenar, supervisionar e proporcionar treinamentos, programas de
cional de seus integrantes. É importante lembrar que as leis trabalhistas no capacitação e segurança para toda a equipe da algodoeira;
Brasil estão cada vez mais exigentes quanto às competências e capacitação – Auxiliar nas tomadas de decisões sobre manutenção e reparos do maquinário;
do pessoal, que devem atender às necessidades de acordo com o grau de – Ajudar o maquinista, quando necessário;
informatização e automação da usina, a segurança, o nível gerencial e os
– Conhecer o processo global do beneficiamento e a gestão sobre usinas;
objetivos gerais a que se propõe. Por este motivo, sugere-se modelar uma
– Ser criativo e inovador, atento aos avanços tecnológicos voltados ao
organização de cargos e funções compatíveis com essas necessidades. beneficiamento;
Para qualquer cargo e função, é indispensável que seja pensado um co- – Conhecer o sistema de operações da usina, máquinas, equipamentos e
laborador que possua perfil de agregar e interagir com a equipe, partici- instrumentos, princípios de funcionamento, operação e necessidades de
pativo em ações que demandem reatividade dentro de uma usina, como Qualificação manutenção;
prevenção e combate a incêndios; ele deve ter iniciativa, respeitar e apoiar – Conhecer a cadeia produtiva do algodão e seus processos, desde a lavoura até a
os colegas e superiores, ser observador, participativo, organizado, assíduo indústria têxtil e mercado;
e conhecedor de premissas como a prática da segurança no trabalho. Tam- – Conhecer sobre a qualidade da fibra, suas características extrínsecas e
bém, dentro do possível, devem-se buscar indivíduos que sejam alfabeti- intrínsecas, análises laboratoriais.
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manual de BENEFICIAMENTO AMPA - IMAmt 2014
Para um gerente de usina, a abrangência do leque de funções e qualificações não se No enfoque gerencial, o maquinista tem um papel muito importante, porque é o elo
limita às questões técnicas. Trata-se de um cargo com alguma autonomia para decisões operacional direto entre o gerente e os colaboradores. De suas ações diretas depende a
e que, muitas vezes, indica ao proprietário as demandas necessárias para o bom funcio- organização da equipe. Da mesma forma, o cargo possui uma abrangência de funções
namento do sistema. Um exemplo é ponderar sobre a contratação ou a formação de que não se resumem à questão técnica. Precisa também se envolver com outras ques-
parcerias com empresas de consultoria e assessoria especializada na área do beneficia- tões, como a capacitação dos colaboradores, legislação ambiental e trabalhista, trans-
mento, para efetuar avaliações e recomendações sobre o processo ou necessidades de porte e armazenamento dos produtos não processados ou a processar, e os controles
melhorias e investimentos em máquinas, entre outros. Além disso, o cargo especifica um de indicadores de metas e resultados estabelecidos pela empresa.
representante direto da empresa, que, portanto, deve desenvolver e manter uma lide- Somado a isto, deverá agregar a habilidade para lidar com visitantes, clientes e cola-
rança frente às equipes, fomentar as boas relações com os clientes e os colaboradores. boradores, dar suporte ao gerente nas tomadas de decisões voltadas a investimentos
Dentro deste panorama gerencial, deve conhecer a legislação trabalhista, ambiental e de e contratações, rotinas de operação e funcionamento das máquinas. Por esse motivo,
segurança no trabalho, e também dominar a Informática Básica, Aplicativa e Analítica. é bastante comum, no Brasil, a equipe contar com um membro auxiliar de maquinista,
que dá o apoio necessário para operacionalizar as ações, pois é necessário um auxi-
liar direto para assessoramento e substituição em casos esporádicos ou programados,
Quadro 13.2. Cargo de maquinista.
além de ser um substituto direto e aspirante natural ao cargo de maquinista.
– Voltado à operação e ao funcionamento geral da algodoeira;
– Responsável pelo desenvolvimento dos trabalhos e da produção; 2.2. Equipe de descarga e alimentação
– Comprometido com a interatividade da equipe x equipamentos x operação x
segurança e com o desempenho da operação geral do processo; Quadro 13.3. Cargo de operador de desmanchador de fardões (piranheiro).
Descrição
– Mantém o controle de todos os registros;
– Voltado à alimentação da usina com algodão em caroço;
– Efetua indicações e as argumenta sobre as necessidades para o bom
– Responsável pelo abastecimento da pista, operação e funcionamento do
funcionamento dos processos.
desmanchador de fardões e sistema de transporte do material para dentro da
Descrição
– Avaliar as condições e o estado físico do algodão a ser beneficiado (umidade, usina;
impurezas, volumes); – É comprometido com a interatividade da equipe x equipamentos x operação x
– Avaliar as condições para o bom funcionamento da usina, a cada dia de safra; segurança, e com o desempenho de operação global do processo.
– Definir, em conjunto com o gerente, a sequência de máquinas a ser utilizada no – Coordenar o abastecimento da pista de fardões, em conjunto com o maquinista;
processo, pelas condições do algodão e pela necessidade de contratos/mercado;
Funções – Operar o desmanchador de fardões;
– Analisar, planejar, programar e coordenar as manutenções de rotina e reparos
– Auxiliar nos serviços de manutenção preventiva ou corretiva do desmanchador,
menores;
fita (correia), ou outros a que for convocado;
– Coordenar e dar suporte técnico aos membros da equipe; Funções – Avaliar as condições de funcionamento e estado físico das peças, acessórios de
– Delegar e supervisionar as operações de limpeza e manutenção do ambiente da reposição e estrutura do desmanchador;
algodoeira.
– Observar, no algodão do fardão, os níveis de umidade, impureza, e comunicar ao
– Conhecer a fundo os processos de produção e toda a relação lavoura/ maquinista ou coordenador de qualidade.
beneficiamento/mercado;
– Conhecer a operação das máquinas, princípios de funcionamento e de
– Ser criativo e inovador, atento aos avanços tecnológicos voltados ao Qualificação manutenção do desmanchador e fita (correia).
beneficiamento;
– Conhecer o sistema de operações da usina, máquinas, equipamentos e
instrumentos, princípios de funcionamento, operação e necessidades de No Brasil, o cargo de operador do desmanchador de fardões geralmente tem uma
manutenção; ação direta no desempenho das usinas antigas em função de ser o controlador, muitas
Qualificação – Conhecer a cadeia produtiva do algodão e seus processos, desde a lavoura até a vezes manualmente, que fornece o ritmo da alimentação. Nas usinas modernas, isto
indústria têxtil e mercado;
já é mais automatizado, assim como em algumas usinas de processos antigos. Porém,
– Conhecer a qualidade da fibra, suas características extrínsecas e intrínsecas,
análises laboratoriais;
embora a tecnologia avance, o controle visual de algumas ações é importante para a
continuidade da produção. O piranheiro, como é comumente chamado o operador,
– Possuir noções básicas de operação e manutenção do sistema elétrico da usina;
pode contribuir muito em indicações sobre as necessidades do abastecimento da usi-
– Ter noções básicas sobre sistemas e dispositivos de gás e de outras formas de
geração de calor (caldeira, fornalha); na e das máquinas de descarga, para o seu bom funcionamento.
– Conhecer tecnicamente a gestão de umidade e de limpeza do processo de
beneficiamento.
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– Auxiliar nos serviços de manutenção preventiva ou corretiva dos descaroçadores, ou 2.4. Equipe de prensagem
outros a que for convocado;
– Avaliar as condições de funcionamento e estado físico das peças, acessórios de Quadro 13.5. Cargo de operador de prensa (prenseiro).
reposição e estrutura do descaroçador;
– Voltado à operação, preservação, conservação e ao funcionamento geral da
– Observar, no algodão em benefício, os níveis de umidade, impureza, volume e prensa pela qual é responsável;
Funções desempenho de descaroçamento; Descrição – É comprometido com a interatividade da equipe x equipamentos x operação x
– Definir, em conjunto com o maquinista, os ritmos e regulagens a serem estabelecidos segurança e com o desempenho de operação global do processo.
para a produção;
– Observar anomalias no benefício e formação de embuchamentos, possíveis focos de – Auxiliar nos serviços de manutenção preventiva ou corretiva da prensa, ou
incêndio; outros a que for convocado;
– Observar o funcionamento, conservação e limpeza dos limpadores de pluma. – Avaliar as condições de funcionamento e estado físico das peças, acessórios de
reposição e estrutura da prensa;
– Conhecer a operação das máquinas, princípios de funcionamento e de – Observar a limpeza e possíveis vazamentos de óleo na prensa;
manutenção do descaroçador; Funções
– Observar a regularidade da manta de fibra na bica, a frequência de operação do
Qualificação – Possuir noções sobre a cadeia produtiva do algodão e seus processos, desde a calcador e o nível de amperagem, para o controle de giro;
lavoura até a indústria têxtil;
– Dispor e organizar, para uso, os insumos necessários (arame ou fita, sacão ou tela);
– Conhecer a qualidade da fibra e ter noções sobre as suas características.
– Efetuar a amarração do fardo (arame ou fita).
– Conhecer a operação das máquinas, princípios de funcionamento, de segurança
Qualificação e de manutenção da prensa.
A avaliação do frentista com relação ao descaroçamento que está sendo efetivado é
importante para adotar medidas corretivas e de melhorias nesse processo. As informa-
ções poderão dar suporte às decisões operativas do maquinista e outras, pelo gerente.
Também cabe ao frentista procedimentos pontuais e importantes em casos especiais
como incêndio, o que será tratado no capítulo 12 sobre segurança.
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manual de BENEFICIAMENTO AMPA - IMAmt 2014
Quadro 13.6. Cargo de assistente de prensa, balanceiro ou apontador de fardos. 2.5. Coordenador e encarregado da manutenção
– Voltado ao apoio dos serviços do prenseiro, embalagem, pesagem, identificação
e transporte do fardo, da prensa até a balança e à área de espera. No Brasil, é pouco usual um cargo específico para a manutenção. Normalmente, é o maqui-
Descrição – É comprometido com a interatividade da equipe x equipamentos x operação x nista e seu auxiliar que assumem esse papel. Porém, com as diversas funções que têm sobre
segurança e com o desempenho de operação global do processo. sua responsabilidade, acabam por ficar sobrecarregados e não conseguem atender a todas as
necessidades, nem mesmo identificá-las para poder planejar alguma ação.
– Observar a operação da prensa e auxiliar o prenseiro, se necessário;
Este cargo específico da manutenção é estratégico para a produtividade e a qualida-
– Coletar amostras de cada fardo;
de dos produtos1. O coordenador de manutenção pode ser um auxiliar de maquinista
– Embalar o fardo e colocar a etiqueta de identificação;
ou aspirante ao cargo de maquinista, com a condição de ser especializado e dispor do
Funções – Transportar o fardo da prensa para a balança e, depois, para a área de espera;
tempo necessário para um trabalho sistemático, planejado e de qualidade.
– Efetuar a pesagem, o registro do peso e manter o controle sobre os fardos, como
fardão de origem; Quadro 13.7. Coordenador de manutenção.
– Observar o bom funcionamento da balança de fardos.
– Voltado à operação e ao funcionamento geral da algodoeira, suas etapas de
– Conhecer a operação da balança de fardos; produção, à organização e execução da manutenção das máquinas, reposição e
– Ter noções básicas sobre o funcionamento e a manutenção da prensa e a estoques de peças para a atividade;
Qualificação amarração dos fardos; – Indica e apoia o maquinista em tomadas de decisões voltadas ao funcionamento
– Conhecer sobre embalagem e identificação de fardos; da usina;
Descrição
– Conhecer sobre coleta de amostras do fardo. – É comprometido com a interatividade da equipe x equipamentos x operação x
segurança e com o desempenho de operação global do processo;
– Efetua indicações, argumentando sobre as necessidades para o bom
funcionamento da usina.
O operador de prensa tem um papel muito relevante na produtividade da usina, pois
qualquer problema na prensa tem uma repercussão imediata sobre o ritmo de benefi- – Levantar dados e informações, através de documentação de registros
ciamento. O comprometimento do operador de prensa com a observação do funciona- disponíveis;
mento, manutenção preventiva e segurança é primordial. Suas indicações são de gran- – Efetuar inspeções pessoais diárias nas máquinas em todo o processo,
de valia para a melhoria e o bom funcionamento do sistema. almoxarifado e oficinas;
– Efetuar entrevistas e reuniões com colaboradores, a fim de auxiliar nos planos
das manutenções preditivas, preventivas e corretivas na usina;
Funções – Organizar, planejar, customizar e programar, juntamente com o maquinista e o
gerente da usina, as manutenções de rotina e reparos;
– Coordenar e convocar auxílio para as manutenções programadas e corretivas da
usina;
– Acompanhar, com o maquinista, os ritmos e regulagens a serem estabelecidos
para a produção;
– Auxiliar os operadores da usina, sempre que necessário.
1
- Ver a Parte 10 deste Manual, referente à manutenção.
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manual de BENEFICIAMENTO AMPA - IMAmt 2014
2.6. Coordenador do controle de qualidade e umidade do Quadro 13.8. Coordenador de qualidade e umidade do algodão.
algodão – Voltado à análise das condições físicas do algodão em caroço antes de iniciar
o processo de beneficiamento, através da avaliação do índice de impurezas e
Da mesma forma que o cargo de Coordenador de Manutenção, no umidade no fardão;
Brasil, também é pouco usual o cargo para o controle da qualidade do – Gestão sistemática da secagem para o processo de limpeza, da umidificação do
Descrição algodão em caroço e da fibra a ser enfardada;
beneficiamento e da umidade do algodão. Geralmente, o maquinista só
efetua, ou delega alguém para fazer, uma medição de umidade do algo- – Análise e avaliação geral do funcionamento do processo voltado a resultados
dão em caroço no fardão e, eventualmente, em alguns fardos de fibra estabelecidos pela empresa, buscando qualidade, eficiência e redução de custos.
prontos. Também eventualmente é efetuada uma classificação do algo-
dão em caroço antes de beneficiá-lo. – Levantar e registrar dados e informações através de medições sistemáticas da
O nível de perdas no processo de beneficiamento justamente em umidade do algodão em caroço nas diversas etapas do processo e da fibra, antes e
função da falta de acompanhamento e controle, bem como, de conhe- depois do enfardamento;
cimento sobre as práticas e gestão de umidade, é de grande monta e – Definir parâmetros para a regulação do funcionamento (ritmo, temperaturas,
impactante quando visualizado pelo industrial, cliente, acionistas e ges- umidade);
tores. Trata-se de uma perda invisível que, por não ser vista, não é sentida – Analisar a documentação de registros disponíveis;
e geralmente não é considerada. Funções – Efetuar medições e inspeções pessoais diárias nos sistemas geradores de calor
A umidade do algodão em caroço e as impurezas trazidas da colheita que originam a secagem e a umidificação;
determinam a produtividade da usina e a qualidade da fibra resultante. – Manter informada a equipe gerencial sobre os níveis e regularidade da secagem
Uma gestão afinada destes dois fatores renderá bons lucros a cada safra e e umidificação da usina;
pagará suficientemente o profissional do cargo. A interação entre colhei- – Definir parâmetros de qualidade para obter com o devido funcionamento do
ta e beneficiamento é grande e, com frequência, o produtor perde muito processo.
no beneficiamento, pensando ganhar na colheita com velocidades altas
e placas apertadas. O Coordenador de Qualidade e Umidade pode trazer – Conhecer os processos de beneficiamento;
muita melhoria no custo-beneficio global dessas duas operações, pela – Conhecer sobre algodão em caroço e em pluma, a umidade e sua importância
relação que pode reforçar entre equipes e melhorias que deve sugerir, para o beneficiamento;
baseado em conhecimento da colheita e do beneficiamento, das medi- – Possuir noções básicas sobre a qualidade da fibra e suas características;
ções e observações da qualidade da fibra produzida. Este é um cargo nor- Qualificação – Possuir noções sobre a cadeia produtiva do algodão e seus processos, desde a
malmente usado por empresas de grande porte e se envolve em quase lavoura até a indústria têxtil;
todas as etapas do processo de beneficiamento. Também é opcional nas – Conhecer indicadores, metas e resultados;
usinas e deve ser ocupado por um colaborador, no mínimo, com nível – Ter noções básicas sobre métodos de colheita.
técnico, pois exige um conhecimento mais apurado, por ser estratégico.
Para tal, é indispensável o uso de instrumentos de medição e um mínimo
de capacitação do colaborador designado ao cargo.
1
- Neste trabalho, usamos as nomenclaturas “usinas modernas e/ou antigas”.
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manual de BENEFICIAMENTO AMPA - IMAmt 2014
• Usinas de Baixa Produção – Conhecidas como usinas de desenho antigo. O beneficiamento precisa de profissionais capacitados. Os treinamentos técnicos
Geralmente, possuem máquinas com longo tempo de operação, 30 a 50 anos, (Figura 13.3) respondem às necessidades operacionais e gerenciais. Os treinamentos
utilizadas nos períodos de iniciação do algodão no Brasil, projetadas para de segurança devem ser uma constante nas rotinas das usinas e o curso da Comissão
processar algodão de colheita manual (Piratininga, Murray, Centenial, Lummus, Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) é indispensável. As atividades numa usina de
Continental, entre outras). São compostas com 1 ou 2 conjuntos de 5 ou 6 beneficiamento são, na maioria, de alto risco ou de danos impactantes. As práticas de
descaroçadores (80-90 serras). Embora existam máquinas novas de fabricação prevenção e de combate a incêndios devem ser constantemente praticadas coletiva-
atual, que utilizam alguns acessórios e dispositivos tecnológicos modernos e de mente e individualmente, em cada etapa do processo, tendo cada cargo bem definida
automação, permanecem com projetos de engenharia antigos, que eram voltados sua função e procedimento nesses casos.
para a colheita manual, porém com adaptações periféricas e complementares É importante que os proprietários, gerentes ou responsáveis pelas usinas tenham
(pré-limpeza) para o algodão colhido mecanicamente (Candeloro, R&V, Algoden, em mãos, bem definidas, todas as funções correspondentes a cada cargo existente,
entre outros). independente de sua hierarquia. O papel gerencial é de total relevância para que os
colaboradores estejam todos engajados e motivados, alcançando, assim, todos os ob-
Através de um levantamento efetuado em diversas usinas especializada em bene- jetivos da empresa.
ficiamento de algodão, pela empresa de consultoria Cotimes do Brasil, apesar das di-
versas configurações de opções para formação das equipes, há uma predominância
no país que sugere a formação de equipes-base para operações das usinas antigas e
modernas, assim constituídas:
Tabela 13.1. Número de colaboradores por tipo de usina (média).
Cargo Usina Antiga Usina Moderna
(2 conjuntos) (2 descaroçadores)
Gerente 1 1
Maquinista 2 2
Auxiliar de Maquinista 2 -
Coordenador de Manutenção 1 1
Eletricista 1 1
Coordenador de Qualidade e Umidade 1 1
Operador do Desmanchador de Fardões (Piranha) 4 2
Operador do Descaroçador (Frentista) 8 2
Operador de Prensa (Prenseiro) 4 2
Operador de Balança / Apontador de Fardos 2 2
Operador de Fibrilha 2 -
Serviços Gerais 5 4
Total 33 20
282 283
capítulo 14
QUALIDADE DA FIBRA E DO CAROÇO
Comprimento (mm)
Figura 14.7. Espessura da parede. Figura 14.8. Fibra morta.
Figura 14.6. Distribuição de comprimento e (Foto: CIRAD, 1996). (Foto: CIRAD, 1996).
fibras curtas. (Cotimes, 2003).
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manual de BENEFICIAMENTO AMPA - IMAmt 2014
Um algodão de pouco brilho pode ter sofrido agressões climáticas 1.3. Características
(chuvas, sol) que podem ter afetado outras características, como a resis- extrínsecas 45
tência. O índice de amarelamento expressa a cor da luz refletida pelo al- 40
1.3.1. A contami-
A gestão da umidade O descaroçador é a chave da separação da fibra e do caroço, e tem um impacto muito
35 12 procura o equilíbrio entre a forte sobre a sua qualidade. O tratamento mecânico pelo descaroçador de serras é violento
34
11 limpeza e a preservação da e tem efeito negativo sobre os parâmetros de comprimento (comprimento comercial,
33
fibra. Uma secagem do al- uniformidade, taxa de fibras curtas), resistência, neps de fibra e de casca, tipo comercial pela
Comprimento (mm)
32 10
31 godão em caroço bem exe- preparação da fibra (criação de mechas) e caroço.
30 9 cutada permite limpá-lo e Para limitar os efeitos negativos e favorecer os positivos, é fundamental umidificar
29
8
abri-lo, chegando a uma me- anteriormente o algodão em caroço e respeitar as regulagens, velocidades e ritmos
28
lhoria do grau (brilho, folha recomendados. Os descaroçadores de alta capacidade não provocam mais desgastes
27
26
7 e preparação), porém uma quando utilizados conforme as recomendações do fabricante.
25 6 secagem exagerada provo- Ritmos de beneficiamento elevados e mau estado das serras e costelas de descaroçadores
2 3 4 5 6 7 8 ca perdas de resistência da podem danificar fortemente o caroço, causando danos ao tegumento (Figura 14.17).
Umidade da fibra limpa (%) fibra, de comprimento e au- O dispositivo de cata-piolho permite separar as sementes fragmentadas ou abortadas, e
mento da taxa de fibras cur- contribui com a melhoria da qualidade da semente.
Comprimento UQL (mm) Comprimento médio (mm) Fibras curtas (%) tas, de afinidade para a tinta,
e amarelamento; além disso, A limpeza da fibra tem como objetivo otimizar o seu valor comercial, pela melhoria do
Figura 14.16. Efeito da umidade da fibra durante o descaroçamento altas temperaturas de seca- grau (cor, folha e preparação).
sobre os parâmetros de comprimento. (Fonte: Bachelier et al., 2005). gem podem acelerar a de- O limpador pneumático (centrífugo) não desgasta a fibra, mas também tem uma eficiência
gradação do caroço úmido. fraca, sem melhoria da preparação, conseguindo eliminar só uma parte das matérias de
Quando a fibra é beneficiada seca, há o risco de que a ruptura da fibra ocorra em lugar dis- maior densidade, tal como o caroço e seus fragmentos, piolhos, fragmentos de casquinha e
tinto do pé, reduzindo o comprimento e criando fibras curtas. Há a necessidade de umidificar caules, e mechas grossas de fibra.
a fibra antes da sua entrada no descaroçador, para suportar melhor as agressões mecânicas e O limpador mecânico (de serra) é muito mais eficiente. Ele combina penteagem e limpeza,
preservar os parâmetros de comprimento, importantes para o valor comercial (Figura 14.16). conseguindo uma melhoria significativa do tipo e da folha, mas com muitas quebras de
A umidificação da fibra antes da prensagem não tem efeito positivo significativo fibra (redução dos parâmetros de comprimento). O limpador elimina uma parte dos neps
sobre a sua qualidade, mas pode ter um efeito negativo muito grande quando se usa de fibra, mas cria outros, e fragmenta os neps de casca. O limpador de serra tem regulagens
aspersão de água na bica: com efeito sobre penteagem e limpeza, para conseguir os melhores compromissos entre
melhoria do grau, de um lado, e danos à fibra e sua perda, do outro lado.
• a fibra molhada gera apodrecimento e efeito papelão no fardo;
• ocorre o enrolamento exagerado da manta e o aspecto ruim das amostras (sanfona-
mento).
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BACHELIER, B.; GAWRYSIAK, G. e GOURLOT J.-P. Preservation des
caracteristiques technologiques des fibres de coton pendant les
operations d’egrenage. In: Atelier Régional de Formation UEMOA/UE/
ONUDI, Parakou-Benin, 2005.
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