Historia Geral Do Brazil PDF
Historia Geral Do Brazil PDF
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HISTORIA GERAL
DO
BRAZIL.
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HISTORIA GERAL DO BRAZIL
ISTO E
DEDICADA
1
TOMO 'SEGUNDO.
(Com estampas.)
AL 10 sç
MLCCCLVII.
No RIO DE JANEIRO, em caza de E. e H. Laemmírt,
" K. da Quitanda.- . . i.
I
Paginas.
Prefacio V
Criticos dos historiadores e dos diccionaristas. Resignação e satisfação. Van
tagem de possuir uma historia geral, VI.—Opinião de F. Denis. Origem deste
trabalho. O Senhor D. Pedro II, Vil.—Aspirações do autor. Concisão. Porque.
Historiadores parciaes , VIII.—Imparcialidade• seguida , IX. —Individualidade do
autor, X.—Do estylo, XI e XII.—Linguagem , orthographia etc., XIII e XIV.
Discurso preliminar. Os índios ante a Nacionalidade Brazileira. XV
1.° Eram os legitimos donos da terra? XVI.—2.° Viviam n'um estado social
invejavel? XVII—3.° Melhorariam por si sós? XVIII.—4.° Havia meio de os redu
zir sem ser á força? XIX. —5.° Houve grandes abusos para reduzil-os? XXII.—
6.° Qual é o elemento de povoação que predomina na nação? XXIV.—7.° Qual é
o inais directo representante da nacionalidade ? XXV.
Seeçáo XXXII. O Brazil feito principado. Insurreição pernambucana. 1
Factos que se associam â elevação do Brazil a principado, 2.—Origem da in
surreição pernambucana. Vidal é alma delia , 3.—Justificação. Influencia de cer
tos homens na civilisação , 4.—Preparativos. Planos e ajustes. Execução , 5.—
Dias Cardozo. Henrique Dias. O Camarão. Dous emissarios , 6.—Rompimento. A.
Cavalcanti e J. F. Vieira. Bandos, 7.-,p-Tropas Hollandezas. Marcha das nossas.
Monte das Tabocas, 8.—Acção das Tabocas. Perda do inimigo. Resultados, 9.—
Soccorro da Bahia. Vidal e Moreno. Jerda dos navios , 10.—Rendição de Seri-
nhaem e daNazareth. Blaar e HopgaStaten , 11 .—Wanderley. Successos na Pa-
rahiba , Porto Calvo e Penedo, 12.—Ataque de Itamaracá. Revez. Arrayal novo
do Bom Jesus, 13.—Manifesto. Apuros entre os sitiados e sitiantes , 14.—Atten-
tado contra F. Vieira. Francisco Barreto, 15.—Noticia de soccorros aos Hollan-
dezes , 16.
XXXIII. Soccorros da Eufopa a uns e outros. Fim da guerra. 17
Vai o inimigo á Bahia. Desastres. Regresso ao Recife, 18.—Socorro de Por
tugal. Recuperação d'Angola. F. Barreto, 19.—Primeira victoria dos Guararapes.
Dia em que teve logar, 20.—tím monumento a Vidal , Dias e Camarão. Conside
rações, 21.—Companhia de commercio. Morte do Camarão. Seu elogio, 22.—
Brincke. Morro do Oytiseiro. Novo encontro, 23.—Segunda victoria dos Guara
rapes, 24.—Perdas do inimigo. Sua influencia. Desenlace, 2o.—Causas que para
elle concorreram, 26.—Assalto das obras avançadas. Proposta de capitulação,
27.—Condições da capitulação. A frota estranha a ella, 28.—Juízo acerca destes
chefes. F. Vieira e Vidal, 29.—Vidal, Barreto e Henrique Dias , 30.—Considera
ções em favor da herança das honras, 31.—Tomas de posse. Finezas de Barreto.
Festejos na corte, 32—Recompensas aos chefes e soldados. Distincção de Vidal,
l> ÍNDICE.
55.—Vieira e Vidal cm Angola. Teixeira de Mello, 31.— Os Henriques. Dias Car
dozo. Historiadores parciaes, 35.—Ericeira. Calado. Fr. Rafael de Jesus. Brito
Freire. Netscher, 36.
XXXIV. Assumptos contemporâneos fóra do thealro da guerra. 37
Companhia de commercio. Seus privilégios, estatutos, etc, 38.—Monopólios.
Males delles originados. Tiquira, 59.—Invasões no sul. A. Raposo. Minas de Pa
ranaguá, 40.—Jesuítas. O Maranhão com dois governos, 41.—Gráo de tolerância
civil e religiosa, 42.—CuUura do paiz. A guerra. Rio. Bahia, etc, 43.—Foi a in
vasão hollandeza de algum proveito ? Ao commercio , 44.—Ás sciencias. Obras
publicas, Relação da Bahia, 45.—Cargos e em quem providos. Outra vez o Mara
nhão, 46.—Passa ahi Vieira com poderes. Conjecturas, 47.—Mostra-se remisso-
1.° sermão. Vai ao Tocatins, 48.—Nova provisão para o capliveiro dos índios, 49.
—Juizo litterario acerca do P. Vieira, 50.—Seus defeitos e qualidades. Vocações
conhecidas, 51.—Nota dos seiscentistas portuguezes. Fr. L. de Souza e outros,
52.—Fr. Vicente do Salvador. Diálogos do Brazil. B. Teixeira. Dr. Gomes Carnei
ro, 55.
XXXV. Factos subsequentes á capitulação no Taborda. . . .54
Queixas do Rio e Bahia contra os estancos dos géneros, 53.—Mocambos re
duzidos no Rio. Perturbações, 56. — Agostinho Barbalho é aclamado. ,S. Paulo.
Esp. Santo, Bahia, 57. —Traição d'Indios. Pernambuco. Rio Grande. Maranhão,
58.—Situação do Pará. Reclamações dos Hollandezes, 59.—Declaram a guerra a
Portugal. Bloqueo do Tejo, 60.—2.° bloqueo. Crise. Pazes com Inglaterra e Hol-
landa, 61. —Condições. Ajuste de pazes com Hespanha , 62.—Quota que pagou o
Brazil. Outra vez o Maranhão, 63.—Vieira triunfante : derrota immediata, 64.—
Nova lei de índios contra os Jesuítas, 65. — Rio-Negro. Ilha de Marajó doada.
Correio, 66.
XXXVI. Desde as pazesna Europa até a criação do arcebispado. 67.
Sorte dos alborotadores do Kio. D. Paes e as Esmeraldas, 68.—Outros serta
nejos. Paschoal Paes no Tocantins, 69.—Invasões no Paraguay. Minas de Itaba-
yana. D. Rodrigo, 70.—Tres novos Bispados. Arcebispado. Dois beatos Brazilei-
ros, 71.—Voto. Conventos de Freiras. Disposições legislativas, 72.—Ainda índios
e Jesuitai. Estaleiro e outras obras no Rio, 75.—Campos. Doação de suas terras.
Esp. Santo e Bahia, 74.—Novo regimento do Governador do Estado, 75.—Suas
disposições: Milícia; índios ; Donatários : Melhoramentos, 76.—Justiça ao povo:
Independência de poderes: Outras disposições, 77.—Estatística das capitanias:
Correspondências tle officio, etc, 78.—Capitães e capitães-móres. O que eram.
Seus poderes, 79.—Terços de ordenanças..Recrutamentos. Capitães do mato, 80.
XXXVII. Successos itnmediatos cá caiação do arcebispado. . 81 .
Fundação da colónia do Sacramento. É tomada, 82.—Tratado de 1681. Nego
ciações. Incoherencias, etc , 83.—S. Paulo e Minas. Morro de ferro. Esmeral
das, 84.—Revolução no Maranhão. índios. Jesuítas. Monopólio, 85.—Beckman.
Seus feitos. O governador e o Pará, 86.—Restabelecimento do que estava. Go
mes Freire, 87.—Morte de Beckman e de Sampaio, e do traidor Lazaro, 88.—
Desordens na Bahia. Dois irmãos Vieiras. Pestes, 89.—Bixa ou febre amarella.
Voto a S. F. Xavier. Falta de moeda, 90.—Outras causas de miséria. Remédios
propostos, 91.—Remédios adoptados. A inquisição e os christãos novos, 92.—
Erros dos governantes. 'Considerações sobre a escravidão, 95.—Atrazo e até
opressão na industria ^94.
XXXVIII. Proseguc-se no mesmo assumpto. Outras guerras. 95.
Invasões d'Indios no Rio-Grande e Maranhão, 96.— Guerras dos Palmares-
Onde eram. Contractos, 97.—Sujeição dos Palmares. Bandeiras de Ferraz e Frias
derrotadas, 98.—Ouvidoria em S. Paulo. Tratados de 1701 e 1703 , 99.—Capitu
lação da Colónia. Descobre-se ouro em Minas, 100.—Quatro distnetos. Trans
índice. c
migrações. Mania mineira , 101.—Opinião do P. Vieira. Desordem dos embua-
bas, -102.—M. Nunes Vianna sujeita-se a Albuquerque. Providencias , 103.—Ca
restia dos generos. Compra da capitania , 104.—Novas hostilidades dos France- -
zesE'noderrotado
Brazil, 105.—Desembarque
e feito prisioneiro com
de Duclerc,
todos os eseus,
ataque
107.—
do Rio
Sua de
morte.
Janeiro,
Expedi
106.
ção de Duguay-Trouin , 108.—Fortificações do Rio: Sua barra é forçada, 109. —
Erros dos nossos. Aproveita-se delles o francez, 110. —Desembarques. Ataques.
Baterias, 111.—Bateria de brecha: intimação ao governador, 112.—Carta de Du-
G. Trouin. Resposta do governador, 113.—Testemunho de um contemporaneo.
Covardias, 114.—Votos de alguns chefes. Retirada do governador, 115.—Asse-
nhorea-se o inimigo da cidade. Reflexões, 116. —Valor do esbulho. Compra e
resgate da cidade, 117.—Cavalheirismo dos vencedores. Castigo da Providencia.
XXXIX. Continuação. Tumulto na Bahia. Os mascates de Pernam
buco. . . . 119.
Tumulto do juiz do povo na Bahia. Sujeição dos Orizes, 120.—Ascendente do
Recife no concelho de Olinda. E' feito villa, 121.— Opiniões acerca dos lermos.
Tiro no governador, 122.—Revolução. O bispo é aclamado. Revolta do Recife,
123.—Mascates. Olinda resiste. Chronistas deste feito, 124.—Preparativos de
guerra. Alcunhas dos partidos, 123.—Devoção dos Olindenses. Goiana. Sul da
capitania, 126.—Novo Camarão. Vence no Sebiró os de Olinda, 127.—E' batido
junto de Garapú. Chega novo governador, 128.—Confirmação das amnistias.
Reprebensâo a João da Maia, 129.—Louvor aos Olindenses. Sujeição. Vinganças,
130. —Queixa-se o senado de Olinda, 131. —E' attendido pelo soberano.
XL. Influencia da paz de Utrecht no Brazil. Estado do paiz. 133.
A Colonia é restituída. Fisco. Sesmarias, 134.—Administração interior. Cons
tituições da Bahia. Ouvidores, 133. —Industria, riqueza e producções do paiz, 136.
—Orçamento. Pimenta e canella da índia. Salitre dos Montes Altos, 137.—Pobre
za do Maranhão. O luxo e riqueza. Artes e leltras, 138.—Poetas Brazileiros.
Mattos e Botelho. Oradores. Musica, 139.—Pintura. Fr. Ricardo e outros. Ins-
uucção publica, etc., 140.—Bartolomeu Lourenço. Invento para andar pelo ar,
141.—Sua descripção. Segredo acerca da força motriz, 142.— Requerimento.
Despacho. Faz-se Justiça a corte, 1 13. —Mallogro da primeira experiencia. Con
vicções do autor, 144.— Morte do voador. Sua pobreza. Salyras contra elle.
Seus escriptos, 145.
XLI. Cinco novas capitanias, e cinco dioceses. Tratado de 1750. 14G
Projectos sobre Montevideo, Lagupa e Rio Grande do sul, 147.—Caminho de
Viamão a Curitiba. Campos de Palmaç, 148.—Planos de Saicedo contra a Colo
nia. Sitio que lhe póe, 149.—Resistencia da praça. E' levantado o sitio, Opiniões,
150.—Colonisação do Rio Grande- di/S. Descripção do porto, 151. —Descripção
dos seus arredores. Ilha de Santa Catherina, 152.—Sua descripção. Desterro.
União ao Rio. Colonos das Ilhas, 153.—Ciume dos visinhos. Prosperidade da Co
lonia, 154.—Progressos feitos pelos nossos Sertanejos , 155.—Novas capitanias
generaes em Minas, Goyaz e Cuiabá, 156.—Prelasias do Pará, S. Paulo e Minas,
Goyaz e Cuiabá, 157.—Apressa-se a negociação do tratado de limites, 158.—Raia
que assignou ao Brazil , Reflexões. 159.—Direitos que fez valer Portugal, 160.
XLII. Outros factos c providencias até 1750. Ouro ediamantes. 161
Maranhão, Ceará, Piauhy, R. Grande, I. de Fernando, 162. —Pernambuco e
Paraíba. Alagoas. A Bahia eos vice-reis, 163.— Sinistros. Ilheos e Porto Seguro.
Espirito Santo. Campos, 164.— Rio de Janeiro. Factos importantes. Orçamento,
165.— Distincções a S. Paulo. Alfandega. Goyaz, 166.*- Viagem por Camapuam.
Minas do Cuiabá , 167.— Viagem de Rodrigo Cesar ao Cuiabá. Divisa, 168.— Fre
quentes hostilidades dos índios canoeiros, 169.— Victoria que alcançam. Morte
do ouvidor Lanhas, 70.— Retirada dos vencidos. Nova assaltada, 171.— Outras
hostilidades. Minas Geraes. Paga dos quintos, 172.— Casas de fundição. MoeJas.
Barras cunhadas, 1 73.— Systema de capitação. Martinho de Mendonça, 174.- Ve
d INDICE.
xames e abolição da capitação. Lavra do ouro, 175.— Processos de mineração.
Cata. Tapinhuacanga. Cascalho, etc., 176.— Quilates de ouro. Tamanhos dos pe
daços. Diamantes, 177.— Seu jazigo. Providencias. Contracto. Legislação, 178.
~ — Calhambollas. Pragmatica. Inquisição, 179.— Seus abuzos no Brazil. Alguns
factos, 180.— Outros factos de clamorosa crueldade, 181.— Antonio José. Seu
processo. Considerações, 182.— Autos de fé. Ciasses perseguidas. Famílias intei
ras, 183.— Estado das lettras. Academias. Publicações, 184.— Obras de Pitta, de
Berredo e do P. Marques, 183.— Faculdades especiaes dos bispos do Brazil, 186.
Paginas.
1. — O Penedo 12
2. — Assedio do Recife 25
3. — Padre Antonio Vieira 50
■i. — Transmigrações para as Minas. . . 101
5. —Rio de Janeiro em 1711 110
6. — Conde de Bobadella 211
7. — Rio Grande do S. em 1776 225
8. — Colonia do Sacramento em 1777..
9. —José da Silva Lisboa (V. de Cayrú).
10.— Bispo Azeredo Coutinho 306
11. -D. João VI 340
12. —Ipanema em 1821 372
1 Vej. Tom. Il,p.203 e234,e a nol. 2-2. * Jbid, p. 133, 301 c 135.
XII PREFACIO.
' Vej. o que ja pensávamos a tal respeito em 1846, na Rev. do Inst., XIII, 400.
PREFACIO. XIU
4 Vej. Tom. 1, 14, 38, 45, 67, 227, 231, etc. Do tomo II nos limitaremos a citar
289, 295 e seguintes; 326, 332, 351 , 360, as pags. 35 e 36, 50, 53, 1 24, 185, 227,
384, 394, etc.; e as notas 5, 6, 7, 8, 13, 253, 334 e 341 e segs.
DISCURSO PRELIMINAR
• ria que cançár-se muito para nos dizer que para elle tudo
quanto haviam feito os Europeos fora . violencia , illegiti-
midade, usurpação; e com inscrever estas tres palavras no
frontespicio de um livro em branco satisfaria a sua missão,
sem rebuscar documentos nos archivos inimigos ; pois que
lhe faltaria tempo para contar-nos a miseria, degradação e
anthropophagia dos seus. —Eis a historia nacional se os ín
dios do mato conquistassem todo o Brazil, e se este tivesse
por chefe a um Ambiré e por armas uma frecha india es
petando" a caveira de um christão. »
Um infeliz Africano, que escrevesse a historia do captivei-
rò hereditario, poderia tambem compendiar a sua obra ex
clamando: Engano, crueldade e escravidão !—E nestas tres
palavras se deveria resumir a historia da republica de Hai-
ty, anterior ao actual dominio nella da raça africana, se a
' sua forma de governo, os seus codigos, e a sua lingua per-
mittissem ao historiador haityense renegar de todo da civi-
lisação francesa. >k ■
Fóra está do nosso animo a idea de que na historia geral
da civilisação do paiz não ha que attender e muito aos ele
mentos da povoação india e africana. E appellamos em pro
va para esta mesma obra; em que se encontram a tal res
peito os trabalhos de mais originalidade e a que votámos
mais estudo, maximè em quanto respeita aos índios , cuja
lingua estudámos de proposito para este fim. No Instituto
Historico propuzemos "* a creação da secção do ethnogra-
phia que nelle existe, defendemos com afinco, que alguns
qualificaram de exaggerado, a necessidade do estudo 2 das
linguas indias, e escrevemos a.íé estas palavras 3: «Convem
que todos estejamos persuadida que o nosso passado, o ac
tual imperio mesmo interessará tanto mais ás outras nações
civilisadas e instruidas quanto mais longe podermos fazer
remontar, não as fontes da nossa historia, mas os mythos de
seus tempos heroicos, —mas as inspirações de sua poesia.»
Daqui até "adorar historicamente a selvageria vai muita
distancia. Nós tambem estudámos tudo quanto respeitava
aos Hollandezes, e sem embargo não sympathisamos com o
seu dominio e aplaudimos a sua expulsão. •
Porém entendá-se : consignando que o eleméffto portu-
' i Rev. do Inst., IH, 62. ' Rev. do Inst-, XII, 370.
» Rev. do Inst., III, 33 e 139.
DISCURSO PRELIMINAR. XXVII
v
HISTORIA f.EML DO BRAZIL.
SECÇÃO XXXII.
xxxii t*o Antonio Dias Cardozo ', uns sessenta soldados, separa-
>J-C~J- dos em pequenos corpos, E dando algum tempo a estes
para se acharem ja mui avançados, aos 25 de março de
1645, dispoz que partisse tambem , tomando igual direcção
o « capitão e governador dos negros » Henrique Dias, com
toda a sua gente. A pretexto de que esta partida era sem o
seu consentimento, e por conseguinte uma verdadeira de
serção , mandou a perseguir a Henrique Dias o corpo dos
índios, ás ordens de D. Antonio Filippe Camarão; partici
pando tudo ostensivamente ao governador Antonio Telles,
que repetiu á Corte, tambem em officio ostensivo (de 19
de julho), essa participação transmittida depois á Hollan-
da, onde o embaixador Francisco de Souza 'Coutinho da
va delia copia 2 ao governo na Haya,
Entretanto constando no Recife que o governador geral
. Antonio Telles consentia ou protegia estas primeiras incur
sões, os do Conselho hollandez resolveram mandar á Bahia
dous emissarios para melhor sondarem o que se passava, e
queixarem-se e pedirem providencias contra as ditas incur
sões. Antonio Telles agasalhou perfeitamente os ditos emis
sarios, e deu-lhes tantas explicações no sentido que elles de
sejavam , que segundo se suspeitou pelos factos posterio
res, acabou por conquistara si um delles, — o major Hoog-
straten, governador da fortaleza da Nazareth. Não andou
porém Antonio Telles no negocio tão cautelosa e dissimula-
damente como desejava a Corte, quando o reino ventilava
a sua existencia nos campos de batalha com Castella e nos
protocolos da diplomacia com a propria Hollanda. Em vir
tude do quê o chamaram á Europa, e na viagem, indo a pi
que o navio em que regressava ,» morreu afogado.
Porém o impulso ja ficava dado , e não era facil retroce
der. Nomeados os cabos que deviam regular a sublevação
nos differentes districtos, e reunidas provisões e armamen
tos em varios sitiosmaisoccu!tos,ejá em alarma os soldados
vindos da Bahia , informados os do governo hollandez de
chegar a seus fins. Felizmente André Vidal foi alheio a taes sec.
planos, e antes sendo, desde que se apresentou, o verdadei- '<■
ro chefe, deixava que Fernandes Vieira aparecesse como
tal. E o certo é que quaesquer transtornos em momentos
tão criticos podiam até fazer variar a sorte da guerra. Por
isso tratava André Vidal sempre de apaziguar as rivalida
des, persuadindo a todos como o sofrimento é o segundo
valor dos homens, e como muitas vezes se conquista com
a paciencia e a resignação o que de todo se perderia com
um vivo acomettimento. Praz-nos ao menos acreditar que
nenhum patricio respeitavel tomou parte no attentado, e
que elle foi obra de certa gente que sempre damnam as cau
sas a que se associam.
Foi a nosso ver para evitar estas rivalidades que a Corte
se resolveu a nomear, como nomeou, para Pernambuco
um chefe superior, na pessoa de Francisco Barreto de Me
neses , mestre de campo general , ou segundo a denomi
nação de hoje ' tenente general.
Era Barreto mui conhecedor das guerras do Brazil, onde
passara em 1638 com o Conde da Torre, seguindo a Luiz
Barbalho na sua quasi milagrosa retirada pelos sertões, e
achando-se no Rio Real para se oppor ao primeiro intento
dos Hollandezes de construir ahi fortaleza , e ultimamente
havia por sua bravura e distincção alcançado varios postos
no Alemtejo, combatendo contra as tropas castelhanas. Em-
barcou-se Francisco Barreto quasi secretamente com o seu
immediato Felippe Bandeira de Mello , e quando iam ambos
desembarcar perto de Pernambuco , cairam prisioneiros
dos Hollandezes e foram conduzidos ao Recife.
Entre os sitiantes abundavam os mantimentos, para o que
eram frequentes as correrias para o norte e sul. Differente
sorte era a dos sitiados: os mantimentos, que a principio ti
ravam de Itamaracá e depois de Tujucupapo se iam aca
bando, e a guarnição já contava os dias, para não dizer as
horas, dentro dos quaes teria que render-se....
Mas uma noticia consoladora vem animal-a, e o fogo que
se ia de todo apagando se ateou de novo com o sopro da
esperança! — No dia 23 de junho (1646) chegaram da Hol-
landa dois pequenos barcos Isabel c Falcão, com a certeza
1 Decr. de 5 abril 1762. Os mare- sargentos mores de batalha, fieg.
chaes de eampo se chamavam então R. V, 2rj8.
16 NOTICIA DE SOCCORROS AOS HOLLANDEZES.
xjfxíi-que
^e ^ue
ahi estaria
formidavel
dentro de
soccorro
um mez!
ficava
— Foi
apromptando-se
a noticia gran
, e
1 Netscher, p. 147.
HIST. GEI\. DO BRAZ. TOM. II. 3
18 VAI O INIMIGO Á BAHIA. DESASTRES. REGRESSO AO RECIFE:
* Houve engano ntfs certidões de Ja- mente; e consta também dos letreiros
boalão, Chr., p. 04.—Que foi a 19 cons da Capella da Conceição dos Militares
ta dos documentos da Haya , que cita o no Recife , onde se vê pintada a batalha .
Sr. Netscher, e consultamos pessoal (Corog. Braz. II, 175.)
UM MONUMENTO A VIDAL, DIAS E CAMARÃO. CONSIDERAÇÕES. 21
que duraram atS mui entrada' a noite , foi morto o chefe ini- £fSl.
migo e o seu immediato, e a custo podiam os sub-chefes con- -^^
trarios saber a quem deviam obedecer, quando encontran-
do-se sem ninguem que os mandasse avançar , começaram
por si a retirada, que quasi se convertéu em fuga. Depois
do uso das armas de fogo poucas batalhas se contaram on
de fosse a derrota mais completa. Ainda ao cabo de tres
dias se agarravam soldados hollandezes extraviados pelos
matos e até pelos alagados, em que haviam estado mergulha
dos, como se conta de certo rei derrotado na antiguidade.
— A derrota dos vencidos entre mortos e prisioneiros,
na batalha e nestes alcances, foi de cento e dous officiaes,
c novecentos e quarenta e quatro inferiores e soldados 4. A
perda total da nossa parte foi de quarenta e cinco mortos e
duzentos feridos, em cujo numero devemos mencionar .o
bravo Henrique Dias , que , pela terceira vez nesta campa
nha, derramava o seu sangue pela patria. Ficaram em nos
so poder muitas munições e bagagens, as seis peças de ar-
tilheria, e dez bandeiras das doze que traziam os contrarios.
Se a primeira batalha dos Guararapes servira a alentar a
metropole para não ceder de Pernambuco, com esta segun
da ficaram' já desanimados da possibilidade , sem grandes
sacrificios , da conservação desta colonia muitos estadistas
da Hollanda. — Porém a hora da expulsão dos intrusos não
havia ainda soado, e tardou perto de cinco annos a dar si-
gnal de si.
Recolheram-se os Hollandezes ao Recife , e o sitio prose-
guiu. Os successos immediatcs, alguns assaltos parciaes sem
exito , carias sortidas com pouco effeito contra as nossas
estancias, pequenas diversões intentadas por mar para bus
car mantimentos; — tudo melhor se concebe com esta sim
ples indicação, e por uma estampa da praça e do sitio co
piada de outra contemporanea , do que por meio de can*
çadas paginas.
Dois novos acontecimentos vieram influir poderosamente
para terminar a luta : a definitiva organisaçã^jda Companhia
de Commercio do Brazil, e o rompimento de uma guerra
entre a Hollanda e a Inglaterra. Com o estabelecimento da
primeira , navegando todos os navios portuguezes em com'
Christo, que era e não a das quinas até o meado do seculo x^j,
passado a bandeira official no Brazil. — .- :
Na noite de 20, André Vidal, com mil e cem infantes es
colhidos de todos os corpos , arrojou-se á empreza de asse-
nhorear-se das obras corneas do forte das Cinco-Pontas,
entrando-as pela gola , directamente batida pelo mesmo for
te. A audacia da empreza foi coroada do merecido exito,
bem que Vidal saiu della ferido numa perna. — As peças
foram voltados contra o forte, e o batiam de continuo. Na
praça escaceavam os mantimentos e até o numerario. Che-
garam-se a cunhar moedas de prata obsidionaes , lisas de
um dos dous lados. — O assalto do forte das Cinco-Pontas
deveria seguir-se, quando entre os sitiados começou um
borborinhq que passou a assuada , e se ia convertendo em
alboroto. Á voz em grita já pelas ruas se exigia capitu
lação. — Resistiram a principio o chefe militar e os do Con
selho; mas por fim todos tiveram que ceder. — Pediram,
por parlamentario , uma conferencia , que lhe foi concedida,
e Vidal nomeado para ella. — Descancemos ja , pois a sorte
de Pernambuco está confiada ao illustre Parahibano.
Proposeram os sitiados a entrega da praça , com as mes
mas condições com que haviam capitulado outras fortale
zas. Nada parecia mais natural do que 0 acceital-as. Porém
Vidal viu que a capitulação já era indispensavel, e não quiz
que ella deixasse de comprehender a Parahiba sua patria e
a Ilha de Itamaracá , visto que todas estas praças estavam
sujeitas á autoridade suprema que capitulava. — A resis
tencia que houve sobre este .ponto foi a principal causa que
fez as negociações durarem tfes dias. Foi por fim assignada ',
1 De nossa parle assignaram a capi- lidos tão mal , que os achamos na «Re-
tulação o general Francisco Barreto, An- lação Diaria» dn Antonio Barboza Bace-
dré Vidal , o capitão de cavallos Affon- lar, publicada em Lisboa nesse mesmo
so de Albuquerque, o capitão secretario anno de 1654, na ultima pagina , com a
do exercito Manuel Gonçalves Correa, seguinte orthographia; facil de explicar
e o ouvidor e auditor geral Francisco n'uma obscura lettra de mão :
Alvares Moreira. — Pelos Hollandezes O \.° 1'cliyo Nomboreti.
firmaram: 1.° o presidente Schonen- 0 2.° Vignum Dezon Distoye.
borch (■); 2.° o tenente general Sigmundt 0 3.° (jisbert de YYilh.
von Sehkoppe; 3.° o conselheiro politico O 4." Ihjnj bircsulirog.
Gisbert de With; 4." o presidente dos OS.° llene Harexe.
escabinos Huybrecht Iírest; S.° o secre- ' 0 6.° Noicuoande Yoall.
tario do governo Bendrick Haeex; 6.° o O 7.° YYprallgo.
tenente coronel Willem van de Wall , e >Em verdade, a não ser o terceiro no-
7." o capitão Wouter can hoo. me , quem podéra advinhar os outros!
(•) Os sette appelidos hollandezes que Isto confirma a facilidade de se comette-
vão em gripho foram naquelle tempo reraenganos, ao lcrein-sc certos mss...
28 CONDIÇÕES DA CAPITULAÇÃO. A FROTA ESTRANHA A ELLA.
xxxhi na' P01 e"e i^^tiiida * ein louvor dos muitos beneficios e
—/—" victorias que por intercessão da mesma Senhora alcançou
dos inimigos '. » E para que não pareça apaixonado este
nosso juizo , transcreveremos aqui textualmente a informa
ção s que do mesmo Vidal deu ao primeiro rei da dynastia
brigantina o insigne P. Antonio Vieira :
« De André Vidal direi a V. Mag. o que me não atrevi
atégora, por me não apressar, e porque eu que tenho.conhe-
cido tantos homens , sei que ha mister muito tempo para se
conhecer um homem. Tem V. M. mui poucos no seu reino
que sejam como André Vidal ; eu o conhecia pouco mais que
de vista e fama ; é tanto para tudo o demais como para sol
dado: muito christão, muito executivo, muito amigo da
justiça e da razão, muito zeloso do serviço de V. M. e ob
servador das suas reaes ordens , e sobretudo muito desin
teressado , e que entende mui bem todas as materias , posto
que não falle em verso, que é a falta que lhe achava certo
ministro, grande da corte de V. Mag. »
Francisco Barreto era um grande cabo de guerra , sobre
tudo quanto a dotes de circumspecção, reserva e pruden
cia. Seu aspecto carrancudo, acaso mais sombrio c rugado
em -virtude da recente prisão que soffrera , condizia com o
6eu genio secco, com as poucas palavras que proferia, e o
arreganho militar, e a voz aspera , e os castigos raros, mas
severissimos, que impunha, como partidario da maxima
antiga de que os soldados devem temer o proprio capitão
mais do que o inimigo.
Henrique Dias era bravo, fogoso e ás vezes desabrido ; e
mais valente para obrar, que apto para conceber. Natural
mente loquaz, desconhecia o vaJoi^do segredo e discrição
nas emprezas; mas era dotado de coração benevolo e uma
alma bemfazeja. — Do seu companheiro Camarão já dis
semos quanto sabiamos 3.
Com profunda magoa nos cabe aqui dizer que de nenhum
desses chefes conhecemos o jazigo, que nenhum delles tem
no paiz uma estatua, nem ha representantes vivos que de
cada qual leve o nome! O mesmo dizemos acerca dos illustres
restauradores do Maranhão Antonio Muniz Barreiros e An-
4 Assim se lè no alvará de confirma- * Carta do Pará de 6 de dezembro de
<„âo do vinculo de (i de dezembro de 165a (U.a do tom. I).
1678. > Ante , pag. 22.
CONSIDERAÇÕES EM FAVOR DA HERANÇA DAS HONRAS. .11
visão (29 abril 1654) ordenou que aos officiaes do exercito X|£9;T
libertador de Pernambuco se confiassem os melhores cargos —-—-
da capitania , e que aos soldados que não podessem a elles
aspirar se dessem terras de sesmaria, tudo, dizia elrei,
para remunerar « a constancia e igualdade de animo com
que soffreram os trabalhos da guerra ; senão como elles me
reciam , ao menos como era possivel e permittia o aperto
em que pelas guerras se achavam todas as^ partes da mo-
narchia. » Foi ordenado a Francisco Barreto ' que as capita
nias restauradas pela Coroa se considerassem isentas do
dominio dos donatarios. Eutretanto estes pozeram embar
gos : da de Pernambuco julgava-se herdeiro o conde de
Vimioso, casado com uma filha de Duarte d'Albuquerque,
que perdêra os seus direitos ficando em Castella 2. As remu
nerações aos três chefes ainda não ficaram nas que mencio
námos. Barreto foi confirmado em capitão general de Per
nambuco, e provido (12 agosto 1656) no governo geral da
Bahia quando o deixasse o Conde dAtouguia; e autorisado
a edificar no Brazil uma villa, de que seria senhor; Vieira
foi provido no governo de Angola, e em quanto este não
vagasse, no daParahiba 3; e Vidal foi nomeado governador
do Maranhão, e pouco depois teve tambem a mercê de suc-
cessão a Vieira para Angola durante tres annos ; sendo
todos dispensados, pelos serviços prestados, de ir de propo
sito ao reino render preito e homenagem. — São dignas de
transcrever-se as frazes com que a Vidal se fazem estas
mercês. Em 2 de novembro declara elrei nomeal-o para go
vernar o Maranhão pelos senviços que prestára por mais de
vinte annos de guerra « no*BraziI, sendo ferido por vezes,
e aleijado de uma perna"; e* em particular aos (serviços) que
depois do primeiro despacho continuou na campanha de
Pernambuco, donde (sic) occupou todos os postos da mili-
cia , de capitão, sargento mor, mestre de campo, è de um
•.
1 Chanc. de D. Jose, liv. 85, foi. 38. Barros, e a do Pará de Luiz de Mello
s Sustentou os direitos do Conde de da Silva. Entretanto veiu a dita capita-
Vimioso o celebre Manuel Alvares Pe- nia de Itamaracá a ser restituída ao
gas, mas nada conseguiu. Mais feliz foi mencionado Marquez por sentença de
com a capitania de Itamaracá o Mar- 13 de fevereiro de 1685, sem embargo
quez de Cascaes, em sua demanda. Op- dos embargos confirmada a 15 de no-
poz-se o procurador da Coroa allegan- vembro de 1687.
do como haviam revertido a esta as 3 Vieira foi tambem depois feito suj
capitanias da Parahiba do Sul de Luiz perintendente das fortificações das ca-
de Goes, a do Espirito Santo de Vasco pitanias do governo do norte , c ainda
Fernandes , a do Rio Grande de João de tinha este cargo em 1676.
HIST. GER. DO BRAZ. TO». II. 5
34 VIEIRA E VIDAL EM ANGOLA. TEIXEIRA DE MELLO.
çôes ; mas o proprio estado com os capitaes que nelle deve- £x\i\
ria por em circulação. Obteve a Companhia geral para si o *■—-—'-
monopolio da venda do bacalháu , da farinha de trigo , do
azeite e do vinho, que se obrigou a ceder a certos preços
fixOs que se expressaram 4 no seu proprio regimento. A
concessão acerca do vinho produziu o alvará de 19 de se
tembro de 1649 mandando cumprir uma providencia ante
rior 2 para a extincção no Brazil das bebidas do chamado
vinho de mel, aguardente de cana e cachaça. Installadaa
Companhia geral escreveram os deputados della cartas
ás Camaras do Brazil, expondo-lhes como este Estado
ganharia com o novo estabelecimento, e pedindo-lhes sua
cooperação. Na mesma data eram tambem dirigidas ás Ca
maras cartas regias em igual sentido , encommendando-
Ihes que acceitassem a instituição, e cumprissem as con
dições della, ajudando devidamente os administradores.
Os directores da Companhia geral, que não tinham noções
algumas exactas dos consumos do Brazil , orçaram-os
tão mal, que, logo no primeiro anno da sua gerencia, hou
ve neste Estado a maior escacez de todos os quatro artigos
que ella tomara a si por monopolio ; o que se tornava mais
cruel quando continuava em vigor a prohibição do fabricó
do vinho artificial, feito de melaço, que antes se ia intro
duzindo muito , bem como o da aguardente de canna e ca
chaça , e que o governo da metropole prohibira , para que
os vinhos de Portugal tivessem maior consumo , prohibição
que, se renovára 5 com grande detrimento do Rio de Janei
ro *. Cremos que desta perseguição se poude salvar no
termo de Icatú do Maranhão o fabrico da Tiquira ou aguar
dente de mandioca. — Choveram do Brazil as represen
tações de modo , que se ordenou que as Camaras mandas
sem annualmente á Companhia um computo ou orçamen
to da porção desses quatro artigos que poderiam no anno
immediato ter consumo em seus respectivos destrictos ; po
rém acrescentava-se a condição de que havendo remanes
cente no que ellas pedissem ficaria este á conta das mesmas
xxxiv ■ cremos
Fazendo
ser areferencia
occasião mais
cTestes
opportuna,
notaveis sermões
sem que adeinterrup
Vieira,
ção da narração historica se faça demasiado sensivel, para
darmos aqui uma idea do conceito em que é tido geralmen
te como litterato, avaliando-o por tudo quanto de seus es-
criptos corre impresso,* sem contar o que ainda se acha
inedito. Isto sem nos desobrigarmos de voltar a tratar do
mesmo jesuita , que ainda para o diante figura na nossa his
toria. Era dotado de espirito agudo e prompto, bastante
instruido, de muito engenho,• e facil e sentencioso no dizer.
O seu estylo sempre corrente e vivo é ás vezes magestoso;
pois inspirações lhe acodiam sublimes. Sua linguagem é
sempre correcta, agradavel e pura. Deixemos agora que o
censure ura dos seus mais respeitaveis juizes criticos ', O
genio de Vieira « bem que raro e sublime, não foi comple
to. A entendimento estupendo, a memoria felicissima , não
se ajuntou poderosa fantasia e imaginação rica e suave, que
tudo pinta, tudo anima, tudo torna interessante, ou com vi
va propriedade de cores , ou pelo grave movimento e vida
das imagens, ou por mimosa brandura de affectos. A com-
prehensão era vastissima, a elevação ou profundidade eram,
soffra-se um termo encarecido, immensas, a rectidão e co-
herencía é até a promptidão eram realmente admiraveis. A
todos os objetos, a todas as materias abrangia, como dis
posto e preparado para todos. As mais remontadas questões
sabia, sem lhes diminuir a auctoridade, por ao alcance facil
dos ouviníes e leitores; as mais profundas sabia tirar do seu
res dos tubarões, a allusão parecia $òr em dúvida que se referia a um ho-
geral a todos os indivíduos tambem mem conclue Vieira : « E que se crie,
chamados capaicos, que procuravam ti conserve, e se exercite com tanto
medrar á sombra dos capitães e gover- damno do bem publico um monstro tão
nadores, com os roncadores se figura dissimulado, tão fingido, tão astuto,
«iludir aos que não deixariam de bla- tão enganoso, e tão conhecidamente
sonar do novo triunfo obtido acerca do traidor! »
captiveiro dos índios ; e as «ilusões pa- E ainda para mais prosegue : Vejo,
recem inteiramente pessoaes quando peixes que pelo conhecimento que len-
trata dos voadores barbudos que, feitos des das terras em que batem vossos
por Deus para peixes, se queriam met- mares meestaes respondendo e con
ter a voar, e eram castigados por sua vencendo que tambem nellas ha falsi-
ambição. dades, enganos, fingimentos embus-
E que diremos do «irmão polvo» tes, e muitas maiores e mais per-
« contra quem tinha suas queixas e niciosas traições ; e sobre o mesmo su-
grandes, com o seu capello, com jeito que defendeis tambem podereis
seus ares de brandura e humildade, applicaraos semelhantes outra proprie-
mas profundo hypocritaetraidor»?Não dade... porém vós calais, eu tambem
veria o auditorio neste irmão, algum calo. » Vej. o Timott.
religioso de uma das ordens mendi- * O bispo se Vizeu D. Franc. Alex.
cantes rivaes da Companhia ? Para não Lobo> pag. 63.
isáp. a/n s/f éfe > Z&6 >// %pa ?
Lema> Lee se u Lp
1 An. do Rio de Janeiro, III, 238. * «Mas como a Companhia lem poder
* No Inst. Hist. do Rio existe copia e riqueza não devem chegar os nossos
desta representação. Foi-lhe dada por clamores á sua (do Rei) mão, e se che-
S. M. o Imperador. gam não deve ser servido de dar-nos
3 Officios do conde de 13 de Janeiro, credito.» Cart. da Camara do R. de Ja-
l.°demarço, 24 de abril e 7 de maio neirodo1.°demaiol654.—An., 111,221.
de 1635, e de 8 de setembro de 1656. 6 Auto de 17 de outubro de 1660.
56 MOCAMBOS REDUZIDOS NO RIO. PERTURBAÇÕES.
4 Vej. a C. de Diogo Lopes de Ulhoa sas de modo que Hespanha (içasse sa-
de 25 dezembro 1658 sobre estes ne- tisfeita, e ao contrario não daria mais
gpcios do Brazil na Hollanda. — soccorro a Portugal , nem permittiria
2 Pelo art. 6.° se coirveiu que duran- que para ali se fizessem armamentos
te o prazo de tres mezes a França tra- em França, etc.
taria de mandar a Portugal por as coi- 3 D. R. de Macedo, Obras ( 17-43), 1, 55.
62 CONDIÇÕES. AJUSTE DE PAZES COM HESPANHA.
, « C. de 18 de oulubro 1665.
HI$T. GE II. D0 BRAZ. TOM. II. 'J
GO RIO-NEGRO. ILHA DE MARAJÓ DOADA. CORREIO.
parochos
representaram
1 foram
as excluídos
Camaras , da
de repartição
modo que dos
os missionários
índios , ficane
xlxvi ^S'e ^ac'o n^o l'eve a(^m"'ar aos (lae sait>a,n que pouco
-—-—.'antes Francisco Xavier Pedroso, morador da Paranahiba,
destruia de todo a Villa Rica do Espirito Santo ', e que ou
tros nossos sertanejos devassavam os sertões sempre em
busca de índios até o Paraguay, derrotando o governa
dor de Comentes, Andino. Disso se queixava á sua Corte o
proprio 24° * Vice-Rei do Peru, conde de Castellar 3e aquel-
la fazia reclamar em Lisboa, pelo seu enviado o abbade de
Mazzerati , contra taes invasões ; pelo que chegou a ser ex
pedida uma ordem ao governador D. Miguel Lobo, remet-
tendo-lhe todos os papeis de semelhantes queixas, e orde-
nando-lhe que informasse a tal respeito \ — Nenhuma pro
videncia conteve os Paulistas, que só foram desviados des
sas expedições, quando no principio do seculo passado a ri
queza das minas lhes abriu nova senda de actividade.
Pelo mesmo tempo que Paschoal Paes descobria as cabe
ceiras do Tocantins, chegavam á Corte mostras de prata que
se diziam levadas de Itabayana. Apressou-se pois a Corte em
mandar ao Brazil um prático de como as minas se lavravam
entre os Castelhanos s com encargo de examinar não só
essas, como quaesquer outras minas 8. Foiacommissãofiada
a um Castelhano, D. Rodrigo de Castel-Branco, com o cargo
de administrador geral, e quasi com poderes iguaes aos que
antes haviam tido D. Francisco de Souza e Salvador Cor
rêa, incluindo faculdades para conceder habitos, pensões e o
foro. Algumas cartas regias o recommendaram aos Brazi-
leiros de mais representação e valia 7. As minas do sul fo
ram commettidas a Jorge Soares de Macedo, que veiu a ter
outro destino 8.
Pela simples enunciação que» aoabamos de fazer desses
poucos factos , referentes ao augmento da importancia do
Brazil , com o descobrimento de tantos sertões e tantas mi
nas , com a população crescendo cada dia , e derramando-
se por tão extensas terras desde o Pará até a ilha de Santa
Catharina, facil é de conceber como devia ser a muitos
fieis difficil o obter os soccorros espiriluaes , quando em tão
fossem á praça, nem por preço aos fretes dos navios, que JEP;,.
deviam ficar livres ao arbitrio das partes. -~~- —^
Como agentes subalternos do governador e como seus
verdadeiros delegados militares f e até certo ponto adminis
trativos, nas capitanias de menos conta e nas villas, deve
mos considerar os capitães-móres. Foi tanta a nomeada que
chegaram elles a adquirir, ou antes são ainda taes as idéas
de terror e de arbitrio qne associamos ao nome de capitão
mor que temos por necessario dar conta das suas funcções
e poderes, em differentes epocas.
A principio , ao colonisar-se o Brazil , capitão mór não
queria dizer mais que chefe superior, quer fosse de uma fro
ta ou esquadrilha , quer de um ou mais estabelecimentos
em terra, quer finalmente daquclle e destes, como aconte
ceu com Marfim Affonso. Os poderes de taes capitães mores
eram consignados em seus regimentos. Scguiu-se a divisão
da terra pelos donatarios, e a cada um dclles, e aos outros
a quem a Coroa depois conferiu novas doações de terras,
permitiu que se intitulassem capitães mores das suas terras,
que dahi se ficaram chamando Capitanias. — Quando a Co
roa colonisou suecessivamente por sua conta o Rio de Ja
neiro, Sergipe, a Parahiba, e o Rio Grande do Norte -, o
Ceará, o Maranhão, o Pará, e mais ao diante Santa Cathe-
rina e o Rio Grande, para algumas destas suas novas capi
tanias, nomeou desde principio ou pouco depois capitães
mores triennaes e geralmente ficaram sujeitos aos governa
dores , e destes recebiam regimentos parciaes , quando os
não traziam do Reino. — Houve porém a tal respeito des
cuidos, até que cm 16G<y o/ procurou remediar o vicerei
conde de Óbidos, promulgando um regimento (do l.°de
outubro desse anno) rubricado por Bernardo Vieira Ravas-
co, e constante de 13 artigos, que por assim dizer resu
mem as obrigações dos verdadeiros delegados dos gover
nadores e capitães generaes , na inspecção das tropas e for
talezas, na protecção ás autoridades civis e á independencia
das judiciarias, incluindo as Camarás, c das de fazenda que
deviam só recorrer á Relação ou ao Provedor mór. — Por
este regimento prohibiu o vicerei que os capitães mores de
capitânias d'Elrei dessem sesmarias '.
* An. doR. deJan. IV, 136.
80 TERÇOS DE OHDENANÇÃS. RECRUTAMENTOS. CAPITÃES DO MATO.
1 Pizarro III, 273 : An. do Rio de Jan. Servidorque susmanos beso.» Vej. tam
il, 247 e segs. bem o atestado (em hespanhol) do dito
* C. R. a Manuel Fernandes d'Abreu, D. Rodrigo dado a Garcia Rodrigues etc.
Jacintho Moreira Cabral e Martim Gar- (An. do Rio de Jan. II, 297) do qual
cia Lombria de 2 e 5 de maio de 1682, constam os serviços de Fernão Dias, •
etc. A. c. R. de 20 de out. de 1698 deu que venceu grandes dificuldades ; pois
agradecimentos a Lombria e prometteu até o conceituavam de louco; e consta
lhe remuneração. idem haver escripto um livro.
• Da propria carta se confirma que * C.daCam. deS. Paulodeãdenov.
era hespanhol ; pois a termina : «De V. de 1682.
REVOLUÇÃO NO MARANHÃO. ÍNDIOS. JESUITAS. MONOPOLIO. 85
1 Gonçalves Dias, Rev. do Inst., XVI, o \.° a não crer em Moraes. §. 1343"
378. 3 Ms. da Bih. Pub. de Lisboa, e ou-
2 Note-se,que <juanto ás aspirações tro exemplar na de Jesus Gab. V,E. 24,
á Soberania por iteckinan, Berredo é n. 38.
RESTABELECIMENTO DO QUE ESTAVA. GOMES FREIRE. 87
dos dois partidos : os pretextos foram tão futeis que nem ||c
devem merecer logar na historia. O chefe dos embuabas '
Manuel Nunes Vianna , tendo porém depois destroçado os
Paulistas ', se arrogou despoticamente a autoridade, creou
Jogares/ deu postos, e procedeu a outros actos, de quem as
pirava não só ao governo, mas ao dominio s; e o governa
dor D. Fernando Martins successor de Arthur de Sá foi
obrigado a retirar-se de Minas, não havendo ousado passar
de Congonhas.
A Coroa mandára entretanto indulto aos sublevados; epor
esta mesma occasião creou de S. Paulo e Minas uma capi
tania 5, independente do Rio de Janeiro, para a qual foi no
meado Antonio d'Albuquerque, a quem Vianna, por uma es
pecie de transacção, prestou obediencia noarrayal de Caeté,
onde chegou disfarçado este novo governador; o nos mezes
de novembro e dezembro de 1710, tomou ahi com os mi
neiros várias resoluções sobre o pagamento dos quintos e
impostos. Em 1711 creou as villas Rica, de Marianna, e
Sabará. ínfelizmente nenhuma policia urbana regulou a sua
fundação. Se aqui não ha que censurar como sobre a bci-
ra-mar a infeliz escolha ordenada dos locaes, pois que es
tes eram indicados pelas catas ou minas, ha que lamen
tar que as ruas se não houvessem desde logo traçado re
gulares.
Ao descobridor de uma mina tocavam as duas primeiras
datas de trinta braças cm quadra, cada uma. Seguiam-se
depois outras duas iguaes, para a Coroa e para o guarda-
mor, da mesma extensão. Vinham apoz, por sortes, lotes
de duas a trinta braças em qyadra, segundo o número de
escravos, de nm até quinze, que possuia o individuo de
signado pela sorte, entre os que haviam requerido datas, e
pago uma oitava de ouro ao superintendente, e outra ao
seu escrivão. O superintendente devia atalhar, a principio
e summariamente, quaesquer dúvidas.
Ja então o preço dos generos e do gado estava mais re
gular nas Minas. A's Geraes chegavam boiadas da Curitiba;
ás do Rio das Velhas dos campos da Bahia. Entretanto em
x^|^jn''mente
Gravataa principio
'. E a propria
o proceder
Corte, donãogovernador,
approvandonão
completa-
se des
cuidou de enviar ao Rio mais munições , e um terço ou re
gimento de infanteria ; e ao mesmo tempo ordenou a saida
do Brazil dos capuchos francezes, passando para o bispo a
residencia que tinham no morro da Conceição , e admittin-
do(1705) em logar delles capuchinhos italianos. Ora não
seria de admirar que nesta nova frota , que se apresentou
em 1710, se encontrassem alguns individuos conhecedores
do porto do Rio e do da Ilha Grande desde 1696. O certo
é que, dirigindo-se tambem á Ilha Grande esta frota, de cin
co navios e a balandra, realisou ahi um desembarque. —
Refeitos os navios do necessario , velejaram outra vez para
o norte , e fizeram como negaça de desembarcar na praia
de Copacabana e depois na da Tejuca. Reconhecendo po
rém que em terra havia gente que se lhes oppunha, passa
ram mais ao sul, e no dia 11 de setembro, desembarca
ram na Guaratiba , em numero de uns mil homens, tendo
por chefe a Mr. Duclerc. A marchas seguidas, passando por
Camorim e Jacarépaguá sem encontrar em tantos desfila
deiros opposição alguma, chegou este com a sua força ao
Engenho Novo no dia 18, e ahi passou a noite. Entretanto
se occupava o governador de apellidar soccorro de todas as
paragens visinhas, fazia até armar muitos estudantes, que
para isso se offereciam, e cercava pela banda da terra a ci
dade com uma especie de trincheira , cuja direita se apoia
va na ilha secça , perto do morro da Conceição , e a esquer
da no de Santo Antonio , unido-se estes estremos quasi em
linha recta na direcção da rua que hoje (e acaso desde en
tão) se chama do Fogo. Ducíercf, abalando do Engenho
Novo na madrugada do dia 19 de setembro, se apresentou
pela volta das onze horas ante a cidade , porém em vez de
tentar forçar a trincheira, ladeou pára a direita, e dando a
volta pelos morros da Carioca e do Desterro ou Santa The-
reza, e vencendo ahi a força de uns trezentos homens, que
lhe fez frente, embocou pelas ruas da Ajuda e de S. Jo
sé, e se apresentou no coração da cidade, no largo fronteiro
ao Carmo. Desistindo do empenho de apoderar-se deste
convento, que estava guarnecido de tropa, passou a atacar
vvvvín
XaW 111.
*e covarde
. i
e traiçoeira , de algum ciume * embora •funda-
mentado.
Chegou á França a noticia deste assassinato, e acaso
contribuiu para dar fervor ao projecto que então apresenta
va nesse reino o ousado maritimo Duguay-Trouin para se
armar contra o Rio de Janeiro, por cgnta de varios accio
nistas, uma nova expedição, que tendo bom exito promettia
avultados lucros \ — Vencidas as dificuldades que se op-
poseram á empreza , e interessado a final nesta o proprio
conde de Tolosa , almirante de França 3, partiu Duguay-
Trouin para Brest. Ahi e nos portos visinhos se preparou a
expedição. Os principaes barcos se tripulavam em Brest; e
apezar da presteza e segredo com que tudo se fazia, chegou
a transpirar o seu destino , e a corte de Lisboa teve tempo
para fazer prevenir todas as capitanias doBrazil, incluindo
a do Pará . Os embaixadores portuguezes alcançaram que
a ínglaterra mandasse uma esquadra á barra de Brest, para"
impedir a saida dos navios que se preparavam. — Por sua
parte presentiu Duguay-Trouin o projecto, e ainda antes
de os ter de todo providos , saiu-se com elles para a Rochel-
la. Dahi a dois dias se apresentava diante da barra de Brest
a esquadra ingleza, ignorando esta saida tanto a tempo. —
Da Rochella veiu a partir toda a esquadra para o Brazil no
mi. dia 9 de junho.
Um navio de guerra inglez foi logo dali mandado com o
aviso a Lisboa, de como a mesma esquadra se destinava
com certeza para o Rio de Janeiro ; e como não houvesse
outro disponivel para despachar-se para o Brazil, conseguiu
o governo que seguisse para trazer a noticia esse mesmo
vaso de guerra inglez , o qual Vei» a aportar no Rio de Ja
neiro no dia 30 de agosto , antes que aparecesse Duguay-
Trouin, bem que não faltára quem desse aviso de Cabo Frio
como se havia de ali avistado uma esquadra. Se effectiva
mente haviam sido vistos alguns navios , nenhum del-
les era por certo da esperada esquadra inimiga ; que ainda
então andava mui ao norte. Em todo caso não poderia ja
mais o governador do Rio de Janeiro queixa r-se de haver
sido tomado de improviso. Constava a guarnição desta cida-
' SoutheylH.ll3. ' lb. p. 160.
s Mem. de Duguay-Trouin , 1740 ; * Berredo §. 1464.
p. 159.
FORTIFICAÇÕES DO HIO. SUA BARRA É FORÇÃDA. 109
Lemaii/e eeuip
1 Damos desta ultima a tradução ti- P. Manet. Segundo Mr. Ch. Cunat deve
rada das Mem. de Duguay-Trouin. O enconlrar-se ou nos archivos da antiga
original não está nos archivos de S. intendência do porto de Brest, ou nos
Mato entre os papeis classificados pelo do ministério da Marinha, em Parir; .
1HST. HEI». HO RFA7,. TOM. II. IS
114 TESTEMUNHO DE UM CONTEMPORANEO. COVARDIAS.
1 Carta de Man. Gonç. Velho, a Dom. com toda a clareza pela planta desc-
F. da Sil., com data de 7 de dezembro nhada e gravada por A. Coquart.
del711. — Pizarro, I, p. 63. — Algu- * Da Junta do Commercio.
mas explicações nos são fornecidas e
VOTOS DE ALGUNS CHEFES. RETIRADA DO GOVERNADOR. 115
SEC- criação da nova villa era evitar conflictos com Olinda, foi
1_—' de parecer que devia ella ficar restringida aos seus arredores;
os do Recife aplaudiam o governador que lhes queria adju
dicar as freguezias do Cabo, Ipojuca e Moribeca.
Natural era que estas demonstrações de aplauso pelo chefe
favoravel se convertessem em vituperio contra o opposto.
Levado da paixão o governador começou a mandar pren
der alguns individuos influentes das familias principaes de
Olinda, indispondo cada dia mais contra si os animos. Indo
um dia pelo bairro de Santo Antonio , de uma casa da Rua
da Agua Verde , lhe dispararam um tiro , que lhe causou
quatro feridas leves. Este attentado, segundo tantas vezes
succede em casos semelhantes , como que tirou a razão ao
partido que a tinha, dando-a ao governador milagrosamente
salvo. Aproveitou-se elle do prestigio que adquiriu , prohi-
bindo na capitania o uso das armas , e mandando abusiva
mente prender todos os que considerava hostis, inclusiva
mente o ouvidor, que teve de refugiar-se na visinha ca
pitania da Parahiba , deixando o bispo , tambem pouco af-
fecto ao governador ', e que visitava então a diocese. —Um
dos condemnados á prisão , resolveu não sujeitar-se a ella,
e deu o signal de alarma. Foi o capitão mor Pedro Ribeiro,
que para melhor se assenhorear du sua obra começou por
atacar e aprisionar o capitão João da Motta, encarrega?
do de prendel-o no seu proprio-presidio ou destacamento de
Santo Antão. Mandou o governador. marchar contra Pedro
Ribeiro o resto das tropas da capitania-; mas estas, em vez
de fazer fogo , fraternisaram com as que já se haviam su
blevado, submettendo-se áquelle capitão mor. 0 mesmo
fizeram as que em S. Lourenço da Mata obedeciam a Pla
cido de Azevedo Falcão. — Sebastião de Castro e Caldas
viu que não tinha mais recurso do que abandonar o gover
no; e fugiu para a Bahia, onde não encontrou no governa
dor geral o apoio que desejava.
A capitania ficou acéphala e toda se deu por sublevada.
Tratou pois de ter um chefe. Foi primeiro eleito um juiz do
povo ; porém acerca da escolha do novo governo variaram
muito os pareceres, filhos alguns das ambições pessoaes;
como ás vezes succede entre certos politicos, aos quaes tan-
* Chegou-se a provar por devassa tambem o bispo para Portugal. Rev.
que o governador premeditava mandar do Inst., XVI, 23.
REVOLUÇÃO. O BISPO É ACLAMADO. REyOLTA DO RECIFE. 123
' Actas das sessões da Acad. R. das 31, foi. 202 y. — Pode ver-se a integra
Sciencias de Lisboa, I, 199. deste alvará na Rew do Inst., Tom. 12,
* Torre do Tombo. — Chanc. de D. p. 315.
João S.° — Reg. de Off. e mercês, Liv.
144 MALLOGRO DA PRIMEIRA EXPERIENCIA. CONVICÇÕES DO AUTOR.
1 11 de agosto 1738.
SUA DESCRIPÇÃO. DESTERRO. UNIÃO AO RIO. COLONOS DAS ILHAS. *155
: \"'<\ .v • -.1 i ft.àoti.V. de-20 de junho tle 1749. ,'»r ..j.i ..... •
.» .!'.)J ...>: : i .'■! ■ :." . i -is;
PROGRESSOS FEITOS PELOS. NOSSOS SERTANEJOS. 155
1 A' Bahia tocoua somma de quaren- durante alguns dias. Cremos ser a obra
ta contos annuaes. Accioli, 1, 191. de Bartolomeu de Sequeira Cordovil
5 MS. do Sr. L. A. Uebcllo da Silva, citada por monsenhor Pizarro (II, lbi).
que teve a bondade de nol-o confiar 3 Em 26 de julho de 1733.
166 DISTINCÇÕES A S. PAULO. ALFANDEGA. GOYAZ.
' P. de 20 de fevereiro.
VIAGEM POR CAMAPUAN. MINAS DO CUIABÁ. 167
com seus escravos, pouco amigos de Bueno, e cançados sec.
dos sertões , julgando que ja ali lhes ficava perto o Mara- • ^
nhão, arrojaram-se em duas canoas no rio chamado ainda
hoje do Maranhão, e deixando-se rodar com a corrente, fo
ram ter pelas aguas do Tocantins abaixo, ao Pará, no fim de
quatro mezes e onze dias; havendo passado trabalhos que
melhor se podem imaginar que referir '.
Chegando S. Paulo as noticias de Goyaz e os serviços de
Bartholomeu Bueno 2,. foi ahi mandado por provedor das
minas o sertanista Lourenço Leme, levando comsigo, com
a patente de mestre de campo, seu irmão João Leme. A es
tes se deve a primeira tentativa da communicação fluvial
entre Itú e o Cuiabá pelo isthmo de Camapuan , ainda hoje
frequentada, apezar de quanto nella se rodeia. O primeiro
caminho seguido era pelo Tieté e Pardo, e das cabeceiras
d'este por terra até o Cuiabá , ou simplesmente até o Ita-
quira ou Piaguy, donde em canoas iam ao S. Lourenço e
Cuiabá. Tambem seguiam alguns pelo Rio-Verde, e até pelo
Ivinheima e Mondego, trajecto que, pelos ataques dos índios
e dos Castelhanos, foi prohibido pelo governador Rodrigo
Cezar . A nomeação de Lourenço Leme e seu irmão não foram
bem recebidas na recente colonia de Mato Grosso, cujos
povos se levantaram contra elles, e acclamaram guarda móí
das minas a Paschoal Moreira. Lourenço foi morto pelos
sublevados; e João Leme remettido prêso para S. Paulo : e
ha quem assevere , não sabemos se com fundamento , que
transferido á Bahia fora ahi decapitado.
Entretanto as minas de Cuiabá apresentavam pinta de
maior riqueza que todas as até ali descobertas. Miguel Su-
til , filho de Sorocaba , no* sitio que se chamou Lavras do
Sutil, parece que apanhára em 1723 o ouro a punhados, o
que sabido por Paschoal Moreira passou ali com os seus e
tiraram mais de quatrocentas arrobas de ouro. Tal foi a
origem da fundação do novo arrayal denominado do Bom
Jesus. Informada a Corte pelo governador de S. Paulo de
tanta riqueza, mandou 3 que elle passasse ao Cuiabá em
pessoa, o que Rodrigo Cezar executou, partindo de S. Paulo,
ao mesmo tempo que mandava de novo para Goyaz a Bar-
1 Noticia dada pelo dito Alferes Pei- 1734.— M.
xoot ao p. Diogo Soares datada da Pas- * Off. do Gov. de 27 de Out. 1722.
sagedas Congonhas em 25 de Agosto 5 C. R. de 31 Out. de 1725.
168 VIAGEM DE RODRIGO CESAR AO CUIABÁ. DIVISA.
sec. - dos
insistencia,
proprioscomo
inimigos:
unico debalde
meio de se
unsfazerem
gritavam
temer
quee desorde
respeitar
1 Uns dizem 10 a 12, outros 80 á 90. 3 Dada ao P. Diogo Soares , com da-
s Carta escripta do Paraguay para a ta de S. João d'Eirei de 16 de abril
Colonia em 4 de novembro de 1730, de 1734.
por D. Carlos de losReyes Valmaseda.
RETIRADA DOS VENCIDOS. NOVA ASSALTADA. 171
1 Prov. de 20 de novembro.
174 SYSTEMA DE CAPITAÇÃO. MARTINHO DE MENDONÇÃ.
|EÇ- Jos ribeiros, onde nas alluviões vão ter, de envolta com
binais seixos e pedrinhas, e ja lavados se distinguem bem.
Ordenou a Corte ' que os terrenos diamantinos fossem
rematados por contracto; não havendo porêm quem lan
çasse neste, o governador por um bando 2 fez sair to
dos os garimpeiros do districto diamantino, e por outro .>
declarou que a capitação seria d ahi em diante de vinte mil
reis. Logo depois (1734) foi esta elevada a quarenta mil
reis; mas dentro de mezes se extinguiu, por serem toma
dos por contracto (1735 — 1739) pelo sargento mór João
Fernandes de Oliveira e um seu socio, que se obrigaram a
dar á Fazenda trezentos mil cruzados por anno , não fazendo
trabalhar mais de seiscentos homens, — do que não deixa
ram de abusar. Os lucros foram taes, que elles renovaram o
contracto, e o tiveram até 1748; em que o tomou o menos
afortunado Felisberto Caldeira Brant ; com a condição de
ter tambem duzentos homens minerando nos Rios Claro e
Pilões, em Goyaz, que se acabavam de manifestar como
diamantinos. — Os diamantes de mais de vinte quilates fo
ram adjudicados exclusivamente á Coroa *.
Como providencias geraes legislativas mais importantes
devemos citar o alvará de 2 de maio de 1 731 que estabele
ceu , com regimento competente, nas villas do Brazil de mais
de quatrocentos visinhos, juizes triennaes especiaes d'or-
fãos; o alvará de 10 de março de 1732 e provisão de 20 de
fevereiro de 1733, prohibindo a saida das mulheres do Bra
zil, excepto quando acompanhassem os seus maridos, isto
afim de favorecer a colonisação e de evitar os abusos de mui
tos pais que enviavam suas filhas para conventos de freiras
na Europa ; a criação na metropole, em 1 736, de duas novas
secretarias, uma da Marinha e Ultramar; a provisão de
21 de abril de 1739 ácerca das tropas de segunda linha ou
Ordenanças no Brazil e Maranhão, afim de que cessasse a
desordem originada da multiplicidade de postos que havia.
Ordenou-se que em cada villa não houvesse mais que um
capitão-mór, sendo reformados os outros ; e mandando-se
criar nas terras de portos de mar terços de auxiliares, com
os regulamentos dos da metropole. Tambem foi mandado
observar o regimento das ordenanças do Reino, devendo
l C. R. de 16 de março de ffl{. 3 22 de abril.
« 9 de janeiro de 1732. * Lei de 24 de dezembro de \'7A.
CALHAMBOLLAS. PRAGMATICA. INQUISIÇÃO. 179
Lemait/e seulp
MORTE DE BOBA DELL A. SEU ELOGIO. 211
fíio Grande o das nossas forças , quando a villa deste nome |J^
estava em poder delles Hespanhoes; como se aquelle titulo -
se referisse mais á villa do que a todo o districto. %
Acrescentava que o nosso governador da Colonia « con
sentia, fomentava e mantinha em continuo illicito trato por
ção de sumacas (formaes palavras) em contrabando ; » e
concluia dizendo que ia representar tudo ao vice-rei do Bra-
zil; e quando este não desse providencias, assegurava que
seria conveniente «fazer represalia de alguma prenda inte
ressante com que sem mais reconvenção cederiam» os nos
sos, e humilhados lhes rogafiamos, em vez de o fazerem
elles a nós como succedia. Prevenida assim a sua corte, e
naturalmente consentido mais ou menos directamente nos
seus projectos, tendo os nossos um posto avançado á beira
do rio Camacuã, insistia não só em que dahi se retirassem;
mas que desamparassemos a margem do norte do canal
« Rio Grande , » e até exigia que não entrassem barcos por-
tuguezes.pela barra deste. Vendo desattendidas suas exi
gencias, planisou dar um golpe decisivo, atacando o coração
da provincia, e caindo sobre o Rio Pardo. Partiu pois de
Montevideu, á frente de alguma força ', em novembro de
1775; e dando ordem ao governador do Rio Grande D. José
Molina , que com as tropas disponiveis lhe saisse ao encon
tro , dirigiu-se ao districto de Bagé , onde deixou fortificada
e guarnecida uma colonia, a que poz nome de Santa Tecla i,
sobre as cabeceiras do Camacuã , e seguiu para o norte sem
resistencia. Entretanto José Marcelino, deixava o campo
fronteiro á villa do Rio Grande entregue ao cuidado do sar
gento mór Valerio José de Macedo , com uns 500 homens,
forças sufficientes á defensa , e*elle com as disponiveis pas
sava a reunir-se-lhe. Ladeava Vertiz a surprehender o Rio
Pardo, quando teve que vencer no passo do Pequiry a nos
sa vanguarda, que, dando uma descarga, se retirou.
Vertiz, orgulhoso com esta imaginada victória do Pequi
ry, intimou aos nossos que se dentro de oito dias não
fossem desoecupados aquelles territorios, que eram do seu
soberano, passaria a occupal-os por força. Effectivamente
1 Infanteria 344; cavalleria 2)0 ; ar- das gentes, para que intercedesse com
tilbeiros 20. — Total 874. Deus a resguardasse dos inimigos como
s Acaso invocando esta invicta proto- a resguardava a ella das feras em "An-
martyr das mulheres, socia do apostolo tiochia.
220 MALLOGRO E DESAPONTAMENTO. NOVOS SOCCORROS.
1 Off. de Vertiz , números 501 e 503. liz. — Resposta deste Off/cin, número
* Desp. de 8 de junho de 1776 a Ver- 541, de Í8 de setembro.
EXPEDIÇÃO DE CEVALLOS. SUA ALEIVOSIA. 227
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VERGONHOSA RENDIÇÃO DA COLONIA. 229
das as tropas, que effectuaram o desembarque no Arroyo ®ec.
de los Molinos, a uma legua da praça. No dia 30 tudo havia ^
desembarcado sem o mais ligeiro iucommodo ; e rompia o
fogo da parte dos sitiantes.
O governador Francisco José da Rocha , depois de haver
estado tempo antes promovendo o melhoramento das for
tificações, tendo a praça mui bem municiada e petrecha-
da, com uma guarnição de mais de mil homens, incluindo
duzentos artilheiros, tudo gente aguerrida , pareceu no mo
mento solemne esquecido do fim principal de tantos gastos
e trabalhos. — A um ataque simulado, que intentou Cevallos
pela direita contra o baluarte de Santa Barbara , responde
ram da praça com alguus tiros, em quanto o mesmo Ce
vallos , se aproveitava da escuridão da noite para impune
mente abrir a trincheira pelo ponto mais fraco, que era a
cortina da porta principal.
No dia 31 , o governador, vendo diante da praça a trin
cheira aberta , teve a candura de mandar saber do chefe
inimigo a causa daquella novidade 4; e sem esperar se quer
ver a brecha tratavel, propoz uma capitulação formal. —Já
estava perdido. Intimou-lhe Cevallos que se rendesse com
todos os seus á discrição; e docil e submissimente lhe obe
deceu o miseravel (outro epitheto não lhe cabe) governador,
digno companheiro do covarde Vicente da Silva da Fonce-
ca. Cevallos, naturalmente para forrar-se a manter os offi-
ciaes , mandou-os para o Rio de Janeiro , como effectuára
aos da ilha de Santa Catharina. Os soldados, depois de
desarmados, fez embarcar para Buenos Ayres ; donde,
em conformidade das instrucções que tinha \ os enviou em
caravanas para Mendoza^ obra de duzentas leguas pelo ser
tão : e á custa dos proprios soffrimentos conheceram quan
to lhes houvera mil vezes valido mais, ainda a troco de al
gumas vidas , ter resistido heroicamente , do que supportar
esta affrontosa degradação e morte civil de todos.
Cevallos temendo que em algum armisticio celebrado
na Europa não fosse de novo cedida a Colonia, mandou mi
nar com fornilhos as muralhas, para as fazer saltar. Igual
mente se occupou de mandar cegar o porto, operação em
XS^Ç- seu conceito ' dificil «pelo muito fundo do canal , e sua lar-
——^ gura nas cercanias da praça. » Baldado e antes prejudicial
lhe foi o trabalho. A Colonia do Sacramento , depois das
suas duas vergonhosas capitulações, não voltou mais a per
tencer ao BraziL
Entretanto na Europa, a Inglaterra , por quem Portugal
acabava pouco antes de tomar uma resolução tão decisiva,
achava-se agora demasiadamente occupada com os Estados
Unidos, ja envolvidos na revolução com que adquiriram a
sua independencia; e não podia prestar a outra parte muita
attenção. — Em Madrid, lord Grantham parecia festejar a
Grimaldi; emLondres, o ministerio não attendia á justiça das
reclamações que lhe dirigia o bizarro plenipotenciario portu-
guez Luiz Pinto de Souza, ali mandado depois.de governar
Mato Grosso, nem aos manejos da opposição, a cuja frente,
neste negocio como nos outros, se haviam posto para ata
car o ministerio o conhecido Chattam, lord Cambden *, e
o duque de Manchester, com quem Pombal e Luiz Pinto es
tavam de intelligencia.
As forças de Cevallos marchando da Colonia , iam ja a
reunir-se ás de Vertiz , avançando pela campanha contra o
Rio Grande, quando chegaram da Europa ordens para se
suspenderem as hostilidades.
A suspensão não se poude fazer logo extensiva aos longin
quos sertões de Matto Grosso, e se acaso chegou a tempo
ao Paraguay, foi ahi dissimulada. O certo é qne o governa
dor Agostinho Fernando do Pinedo, juntando as forças desta
provincia, constantes de alguns mil combatentes , entrando
grande parte de índios, rendeu■, já bastante fora de tempo, o
Presidio dos Prazeres, levantado dez annos antes nas cabe
ceiras do Igatemy.
Entretanto os negocios na Peninsula mudavam inteira
mente de face. Succedêra no ministerio hespanhol a Gri
maldi o célebre Florida Blanca ; occorrendo cinco dias depois
a morte de elrei D. José, no mesmo dia em que as tropas de
Cevallos desembarcavam na ilha de Santa Catharina 3, eessa
morte occasionava a queda do grande estadista Pombal.
4 Off. de Cevallos a D. José de Gal- pressas era Londres acerca da sua ad-
vez de 14 de junho 1777. ministrarão , escriptas talvez por Mr.
5 E' o proprio marquez de Pombal Blancket , embora sob influencias de
quem o afirma , nos §§. 23, 24 e 2o do pessoas bem informadas.
seu juizo sobre as desesete cartas im- 5 Tomamos directamente estes infor-
PAZ PROMOVIDA PELA FRANÇA PARA FAVORECER OS E. UNIDOS. 231
Ao mesmo tempo a França, empenhada com a Hespanha ^c.
para que concorresse a favorecer a causa da separação dos >—~-
Estados Unidos, fez todo. o possível para restabelecer a paz
entre as duas potencias da Peninsula , afim de melhor redu
zir a Hespanha a empenhar-se em favorecer a nova naciona
lidade anglo-saxona da America, que pela sua parte favo
receu directamente , enviando-lhealémdeLafayette, outros
muitos officiaes francezes ; e logo no anno seguinte o agente
diplomático Gérard; ao que respondeu a nova nação acredi
tando por seu plenipotenciário em Paris o sábio Franklin.
mes da Mem. escripta em 13 cap. por passado a Martinho de Mello com o sin-
um paulista (Manuel Cardozo d'Abreu, guiar titulo de Divertimento admiranel.
segundo se crê) e offerecida no século
SECÇÃO XLV.
i Sie.
244 DIRECTORIO DOS INDIOS. CHRISTAOS NOVOS E VELHOS.
•^ mesma cozinha. Sua mcza, bem que farta, não era delica-
- da: sua cavalharice era mui pouco dispendiosa; ainda nos
annos de 1764 a 1766 andava por Lisboa na mesma car
ruagem de jornada em que tinha vindo de Vienna d'Austria.
Os criados do seu quarto limitavam-se a um pretinho ou
criado de libré, de curta esphera, talvez lembrado do axio
ma francez : II riy a point de grand homme pour son valei de
chambre. Teve por guarda-roupa muitos annos, um moço
bem nascido chamado de Leitgeb, que trouxe comsigo de
Vienna; o qual fez depois ofQcial da secretaria; e lhe succe-
deu um francez, chamado Blancheville , que tambem servia
de receber e levar recados. A' vista de tão estricta economia
não é de admirar que os reditos dos seus ordenados e de
seus irmãos refundidos no casco da casa, que ja possuia por
'herança, e empregados em predios urbanos e rusticos, vies
sem a produzir a renda annual, com que estabeleceu dois
morgados: renda que pela sua saida do ministerio, baixou
mais de metade; porque os lisongeiros não sustentaram os
altos preços, porque arrendavam os predios, ou compravam
os productos : caminho assaz trilhado para grangearem os
favores do ministro influente , sem parecer que o querem
ganhar.»
A este juizo, com todas as aparencias de imparcial e de
sapaixonado, só nos cumpre acrescentar que (pois a sen
tença acerca das consciencias compete exclusivamente ao su
premo e sempiterno Juiz) todos os homens que se oceupam
de governo , quanto mais estudam a administração de Pom
bal, mais sinceramente a admiram, chegando até a crer
(pie sem ella Portugal houvera acaso submergido, «no gos
to da cubiça e na rudeza.»
Com o luxo da fastuosa corte de D. João V, e os gastos
da sua bazilica , da sua Mafra , das suas operas , tudo de
vido ao ouro que se cavava no Brazil, fazia um notavel con
traste a severa economia da corte de José I e dos seus mi
nistros, morando, depois do terremoto, nas provisorias
barracas da Ajuda , que deviam continuamente lembrar ao
rei e aos seus conselheiros quanto no estado faltava a orga-
nisar, quando o proprio soberano não possuia se quer um
palacio digno!...
Graças ainda ao auxilio indirecto dos capitáes c ouro do
Brazil, para não mencionar um pingue donativo com que,
O OURO DO BRAZIL. CONSIDERAÇÕES CONCn.íADORAS . 247
1 Mr. Cormenin.
HIST. GER. DO BRAZ. TOM. II. 32
250 RIO NEGRO. GOVERNADORES. LAVRADIO. SUA POLITICA.
*EÇ- gnar que neste anuo (1758) passou o Brazil, com grande
r1 vantagem para o alto-Amazonas , a contar de mais a capita
nia de S. José do Rio Negro; da qual tomou então posse o
seu primeiro governador Joaquim de Mello e Povoas.
Como delegados delrei D. José na administração das ca
pitanias do Brazil prestaram serviços mais importantes,
além dos condes de Bobadela e d'Azambuja , o vice-rei mar-
quez de Lavradio , e os capitães generaes de Minas , conde
de Valladares e D. Antonio de Noronha.
O marquez de Lavradio em seu largo vice-reinado de dez
annos e cinco mezes, apezar dos afans com que teve que
entregar-se ao recrutamento e remessa de tropas para o sul,
promoveu a cultura do anil , do arroz e de alguns pés de
caffé, cuidou da civilisação de varias tribus de índios, aju
dado pelo commercio da ipecacuanha por elles colhida ; do
mesmo modo que o cacáo , a baunilha e o guaraná haviam
civilisado tribus do Pará ; e finalmente se dedicou até a fis-
calisar a policia e aceio da cidade do Rio, que ainda hoje
lhe reconhece esse serviço, perpetuando o seu nome na rua
que o leva. No seu tempo (6 de junho 1775) se lançou a
primeira pedra para o novo templo da Candelaria, onde
veiu a celebrar-se o culto em 1811. — Do seu grande tacto
governativo cremos offerecer aos leitores idea clara, melhor
que com quaesqiíer frazes, com as seguintes explicações, por
elle proprio dadas a seu joven successor , acerca do modo
como alcançára apasiguar muito os turbulentos habitantes
do districto de Campos :
« Como aquellas gentes ainda estaõ com as ideas muito
frescas da má criação que tiveram , é necessario, em quan
to naõ passam mais annos , nao dar a nenhum delles um
poder e authoridade que, enchendo-os de vaidade, possa
vir a dar um cuidado que traga comsigo maiores conse
quencias. Eu tenho seguido o systema de dar alli muitas
sesmarias , de facilitar ás pessoas desta capital que se vaõ
para alli establecer. Tenho mandado vir a muitos para lhes
talar; tenho-os aqui conservado por algum tempo, para os
costumar a ver como os povos vivem sugeitos ; e que ve
jam o modo com que se respeita e obedece aos diversos
magistrados, e ás pessoas que mais representam: e em todo
o tempo que aqui estaõ, procuro que estejam muito depen
dentes; e por fim os mando retirar, fazendo-lhes sempre
O JOVEN CONDE DE VALLADARES EM MINAS. 251
algum beneficio. Por este modo se tem ido sugeitando de sec.
sorte que já hoje naõ acontecem aquellas horrorosas de- ■— —>
sordens, que todos os dias inquietavam os governadores
desta capitania. E' preciso ter um grandissimo cuidado em
naõ consentir que para alli se vaõ estabelecer lettrados ra
bulas ou outras pessoas de espiritos inquietos; porque, co
mo aquelles povos tiveram uma má criação, cm apparecen-
do lá um desses, que falando-lhes uma linguagem mais
agradavel ao seu paladar , convidando-os para alguma in
solencia, elles promptamente se esquecem do que devem, c
seguem as bandeiras daquelles. No meu tempo assim suece-
deu , por causa de um advogado chamado José Pereira, que
parecendo-me homem manso e de boas circunstancias, o
fiz juiz das Sesmarias daquelle districto, o qual fez taes
desordens, que até se fomentou um levantamento, e se na-
t}uella occasiaõ eu seguisse os meios ordinarios , e naõ to
masse uma resoluçaõ extraordinaria , ficariam de todo ar
ruinados os utensilios e excellentes estabelecimentos, que
alli estaõ hoje adiantados. Eu mandei buscar este homem
e aquelles que com elle mais procuravam representar, tive-
os por muitos mezes reduzidos a uma asperrima prisaõ;
mascarei-os até o ultimo ponto; e com este meu procedi
mento se intimidaram todos os outros , e depois de estar
tudo socegado, tornei a permittir-lhes que voltassem , para
que podessem contar o que lhes tinha suecedido, e lhes
disse que a primeira noticia que cu tivesse de alguma in
quietaçaõ por aquel.las partes, elles seriam os primeiros
que me fossem responsaveis de todas aquellas desordens.
Com isto consegui o serem elles os primeiros , quando vol
taram, que procuravam â■ quietaçaõ de todos, de sorte que
hoje tudo se conserva na maior tranquilidade. »
Em Minas oconde de Valladares(1768— 1773) zelou pela
fazenda publica, evitou roubos e extorsões e fez respeitar
a autoridade publica , apezar dos regulos e mandões, que
haviam introduzido tal relaxação nos costumes que a « vir-
tudeera suffocada pela ambição, pela soberba e pelo orgulho;
a riqueza fazia a honra e a veneração popular ; a vingança
adquiria e estabelecia o respeito; e a grandeza do fauslo era
o unico caracter da nobreza e fidalguia.» O conde de Valla -
dares «tinha grande comprehensão, c genio indagador,
constante c inalteravel ; foi prudentissimo, desinteressado,
252 NORONHA. TRAGES. BRAZILEIROS FAVORECIDOS.
|EC. Buenos Ayres para a Europa, fez crer aos Argentinos, por
• ' cedula circular de 2 de outubro de 1778, que levantava a
prohibição por ja não ser nossa a Colonia do Sacramento ,
« causa principal que motivára a prohibição»; alias existen
te, antes de fundar-se a Colonia.
Quando os negocios entre as nações se tratam deste mo
do , mui pouco ha que confiar em sua estabilidade e dura
ção. O fraco sujeita-se para recalcitrar no dia em que veja
o leão prostrado, como nos diz a fabula.
Os commissarios foram nomeados, partiram", apresenta-
ram-se sobre os terrenos... não para porem os marcos e le
vantar as plantas ; porém para discutirem , e para , á força
de muita discussão, retirarem-se brigados.
As duas nações não conseguiram os fins a que se haviam
proposto, e o tratado não passou nunca de preliminar ; le-
vando-se de seus artigos á execução unicamente aquelles que
diziam respeito á entrega da artilheria e prisioneiros. O ne
gociador lesado poz-se á mira da primeira aberta , e logo
que ella lhe appareceu , ao cabo de tão poucos annos , e tão
rasoavel, deu tudo por nullo. E os factos depois proclama
dos, de novas nacionalidades, vieram sanccionar essa nulli-
dade, reduzindo as questões aos Uti-possidetis por occasião
das proclamações dos seus pactos ou constituições.
O tratado preliminar de Santo Ildefonso teve por appen-
dice o de amizade, garantia e commercio, de 11 de março
de 1778, no qual, entre varias estipulações, se combinou
que, se uma das duas nações viesse a ter guerra com outra
estranha, a que ficasse em paz guardaria neutralidade, soc-
correria sendo necessario a que fosse guerreada, e não da
ria asylo aos navios da estranha ljostil. Esta prevenção foi
imposta pela Hespanha, afim de se prevenir para a guerra
contra a Grã-Bretanha, em que logo entrou; e foi-lhe tão
utilque propondo-se os Inglezes em 1779 acometter o Peru
então em parte sublevado pelo celebre Tupac Amam, não o
fizeram , pelos bons officios que por interesse proprio nisso
prestou o ministerio portuguez '.
Muito menos que ácerca do tratado de 1750, nos fora
aqui possivel seguir os passos dos novos commissarios in
cumbidos de levar á execução as estipulações do de 1777;
xLvi' ^ai a demarcar esse terreno (artigo 8.°) pela nossa parte
——' foi mandado o segundo commissario Roscio, que veiu a ter
por concorrente D. Diego de Alvear, commissario da se
gunda divisão; e então nasceram interminaveis questões,
ácerca do Igurey, que apenas tentou discutir o inactivo
Roscio.
Desta segunda divisão á qual coube a raia atéoJaurú,
devia ser nosso primeiro commissario o governador de S .
Paulo, tendo por concorrente o dito Alvear, do qual era su
balterno o coronel D. José Maria Cabrcr, cujos trabalhos
importantes, e que elle previa (em uma nota que dentro de
um dos volumes deixou) que deviam dar-lhe glória , possue
hoje o imperio, em troca de um generoso soccorro que pres
tou á sua triste viuva. Outra obra não menos valiosa so
bre esta parte, principalmente pelas observações scientifi-
cas , é a que deixou o piloto D. Andrés de Oyarvide , cujo
original está no deposito hydrographico de Madrid. Cabrer
e o seu concorrente o coronel Joaquim Felix da Fonceca
subiram ao cimo do Salto Grande. — José d'01iveira Bar-
boza e Candido Xavier d'Almeida occuparam-se nesta se
gunda divisão.
Das terceiras partidas, as quaes deviam demarcar desde
a foz do Jaurú até a do Yupurá no Amazonas, foram pri
meiros commissarios da nossa parte o governador de Mato
Grosso ', tendo por immediato o engenheiro Ricardo Fran
co d'Almeida Serra , e dos visinhos successivamcnte os
tres officiaes da armada Negron, Aguirre e Sotomayor.
Ao capitão de fragata D. Juan Francisco Aguirre, deve
mos nós outra obra, não menos importante que a de Cabrer,
tia qual, inclusivamente, se occupa muito da capital do Bra-
zil, onde estivera. Almeida Serra escreveu igualmente * tra
balhos mui valiosos acerca de Mato Grosso; e ás observa
ções dos dois astronomos nossos desta partida, o Dr. An
tonio Pires da Silva Pontes, filho de Minas, e o Dr. Fran
cisco José de Lacerda , da cidade de S. Paulo, deveu muito
a geographia, em exactas noções do sertão do Brazil, *e cur
so de varios dos seus rios.
A última divisão tinha por primeiro commissario nosso o
• Rev. do Inst. doR. de Janeiro, T. V», p. 20i; T. XIII , p. 312; T. VI, p.
XIII, p. 198. 156, e T. XII, p. 377.
* Rev. do Inst. Hist. , T. II, p. 19; T.
COMMISSARIOS E ASTRONOMOS DO PARA. MEM. DE JURADO. 259
1 An. do Rio de Jan., I, map. de Veilozo; 1799, p. 41; Pizarro, II, 149;
5 Pizarro , IX, 333. Patriota de R. de Jan. Tom. II, ele. Ital-
5 Staunton , Viag. de Macartney , lhasar Lisboa, Disc. Iiist, ele. §. 48.
transcripto na Menu. sol>re a Urumbeba
GARIMPEIROS E VIRA-SAIAS: TERROR E MORTES.
to não era assim : p fino diplomata o que fez foi disfarçar sec
bem, ante o joven inexperiente, o seu enthusiasmo, em pre- •— ,-J-
sença de taes ideas ; pois em 4 de maio desse mesmo anno
(1787), escrevia de Marselha a J. Jay, dando-lhe conta de
quanto passára, e ficou sempre pensando em taes planos.
Entretanto por outra parte o conde d'Aranda embaixa
dor hespanhol em Paris, nem que o seu coração presagias-
se tudo quanto se passava a respeito desta insurreição, me
ditava não só um plano da independencia do Brazil todo,
instituindo nelle uma monarchia regida pela caza de Bra
gança, como até do engrandecimento de uma tal monar
chia, inclusivamente até as beiras do Pacifico, unindo-lhe
o Peru e o Chile , uma vez que a familia Bragança ab
dicasse os seus direitos ás provincias continentaes euro-
peas de Portuga! , e que estas se aggregassem á Hespa-
nha. O conde de Aranda chegou a formular esse pensa
mento, em uma carta escripta ao ministro Florida Blanca
em 1786, acrescentando a idea de formar de Buenos Ay
res e terras de Magalhães outra monarchia em favor de um
infante hespanhol. — « Não falo (prosegue Aranda desenvol
vendo sua proposta) de reter Buenos Ayres para Hespanha;
porque ficando cortado por ambos mares pelo Brazil e Peru,
mais nos serviria de cuidado que de proveito, e o visinho
pela mesma razão se tentaria a alargar-se. Não prefiro tão
pouco aggregar ao Brazil toda a extensão até o cabo de
Horn, e reter o Peru, ou destinar este ao infante ; porque
a posição de um principe da mesma casa de Hespanha,
colhendo em meio ao dono do Brazil e Peru, serviria para
conter a este pelos dois lajdos; » ... « e . . . se tenho tanto na
cabeça que a America meridional se nos irá das mãos, e
que, se tem de succcder, melhor seria uma troca do que
nada, não me faça projectista, nem profeta; ... porque a
natureza das coisas o trará, e a differença não consistirá se
não em annos antes ou depois. Se eu fora Portuguez acei
taria a troca, porque lá grão-senhor e sem os riscos do de
cá, tambem, mais dia menos dia, seria maior que no can
to da Lusitânia ; e sendo, como sou, bom vassallo da Coroa,
prefiro e prefirirei sempre a reunião a ella de Portugal ;
embora pareça que se lhes dava em troca um mundo '.»
• Doe. de Simancas transcripto na do amigo o Sr. D. Antonio Ferrer dei
Hist. de Carlos III pelo nosso esclareci- Rio, liv. V, cap. i.°
272 PRIMEIROS CONCILIABULOS EM*MINÀS. •
xLvh— prar
tant0armas,
a^m ^eo convocar
alferes Joaquim
partidoJosé
no Rio
da Silva
de Janeiro,
Xavier,e ahi
alcunha
com-
do o Tiradentes, que havendo ali estado• antes, com o P.
José da Silva de Oliveira Rolim , ambos separados da capi
tania pelo governador Meneses, haviam já sondado o ter
reno ácerca da possibilidade de realisar-se a sublevação.
Tanto se tinha extendido o plano da conjuração, e tan
to nella se falava que, como succede quasi sempre em taes
casos, dentreos proprios conjurados um houve que se con
verteu em denunciante. Foi Joaquim Silverio dos Reis, coro
nel de um regimento dauxiliares mandado extinguir, homem
geralmente tido por orgulhoso, de máu coração e genio al
tivo, que contava muitos inimigos por haver abusado das
protecções que disfructára, e que agora se vira apertado
para o pagamento das.sommas em que ficara alcançado, do
contracto das entradas, que tivera por sua conta de 1 782 a
1 784 ; — sommas que talvez pensava reunir com a traição,
— que ao mesmo tempo lhe servisse de se desafrontar "de
seus inimigos, em cujo número contava o dezerobargador
Gonzaga. A este denunciante seguiram-se depois o mestre
de campo Ignacio Correa Pamplona, e o tenente coronel
Basilio de Brito Malheiro. ;..,lfl . .,...„; ... .
O visconde de Barbacena , que governava a capitania
desde 10 de julho de 1788, achava-se no sitio da Caxoei-
ra , a tres leguas da capital, quando aos 15 de março ' de
1 789, se lhe apresentou o primeiro denunciante a fazer suas
l>erfidas revelações. Conheeendo-lhe o caracter, e não dei
xando de imaginar que poderia na denuncia andar espirito
de intriga e de calumnia , assentou entretanto , como lhe
cumpria em caso tão arriscado, caminhar mais pelo «egu-
ro , precavendo-se coroo se tudo quanto elle dizia fora cer
to. Rccommendou ao denunciante o maior segredo , regres
sou á capital, e sem se dar em nada por entendido, limi-
tou-sc a dirigir logo ás differentes camaras da provincia
uma circular concebida nos seguintes termos:
« A consideravel deminuição que tem tido a quota das
cem arrobas de ouro que esta capitania paga annualmente
de quinto a Sua Magestade , pede as mais eficazes averi
guações e providencias. A primeira de todas deveria ser a.
t
• Rev. do Inst. VIII, 343.
REVOCA A DERRAMA. HESITAM OS CONJURADOS. 275
SECÇÃO XLIX.
gusto herdeiro, que então apenas contava nove annos in- sec.
completos. Para o que chegou no dia 2 de outubro de 1807, '-*
a redigir-se a seguinte proclamação aos Brazileiros :
< Fieis vassallos, habitantes do Brazil ! — Desde o prin
cipio da minha regencia existiu inalteravel em meu coração
o mais ardente desejo de dar-vos reiteradas provas da mi
nha estimação e paternal affecto ; tempos calamitosos po
rém me não permittiram manifestar-vos toda a sua exten
são. Nas vicissitudes politicas da Europa vós vos unistes
sempre aos outros meus vassallos, mostrando em todo o
sentido o zelo o mais puro e concorrencia a mais efficaz
para a manutenção da monarquia portugueza. Em tão cri
tica conjunctura vos quero dar um claro testemunho do meu
estremoso affecto , offerecendo á vossa tão antiga como ex
perimentada lealdade a occasião a exercerdes com pessoa
que me é summamente cara e amada, e para com quem es
tou certo me acompanharão os vossos animos em sentimen
tos de maior ternura. Sendo do meu real dever não aban
donar senão em ultimo extremo vassallos descendentes,
como vós, daquelles que pelo seu valor e á custa do pro
prio sangue restauraram o throno aos meus augustos pre
decessores, vos confio o principe meu primogenito, em que
espero que pelo decurso do tempo achareis a herança, que
já em seus ternos annos principiei a transmittir-lhe, da mi
nha particular affeição para comvosco. Vós o deveis reco
nhecer com o novo titulo de Condestavel do Brazil, que hou-
•ve por bem crear, e conferir-lhe, afim de alliar melhor os
interesses da Coroa com os vossos proprios , contribuindo
deste modo para a prosperidade geral dessa vasta e pre
ciosa região.
»Fieis vassallos, habitantes do Brazil! Eu prevejo com
intima satisfação quão dignamente sabereis avaliar tão que
rido e estimavel penhor: guardai-o, defendei-o, com aquel-
la honra e valor que vos é innato na qualidade de Portugue-
zes. —Palacio de N. S.a d'Ajuda em 2 de outubro de 1807. »
Em quanto porém se davam secretamente providencias
para a partida do jovenD. Pedro, chegavam noticias de Fran
ça, pelas quaes se conhecia que os successos se precipitavam
de mal a peor. Em 27 do proprio mez de Outubro assignava
o plenipotencíario hespanhol, em Fontainebleau , um trata
do em virtude do qual o reino de Portugal seria retalhado,
HIST. GER. I>0 BRAZ. TOM. II. 38
298 TRATADO DE FONTAINEBLEAU. PARTIDA DA COUTE.
menos do Rio nove ' mil caixas, da Bahia vinte mil, de Per- XSLE1^
nambuco quatorze mil, e de Santos mil : — 2.° Setenta mil —^L
sacas de algodão, sendo quarenta mil de Pernambuco; de-
seseis mil do Maranhão, dez mil da Bahia, e quatro mil do
Pará e Rio; 3.° noventa e tantas mil arrobas de caffé, quasi
todo produzido no Pará, pois do Rio de Janeiro apenas se
contavam tres mil e duzentas arrobas; 4.° oitocentas e tan
tas mil arrobas de cacáo; 5.° duzentos e quarenta mil cou
ros de boi ; 6.° cem mil sacas de arroz ; 7.° cinco mil e seis
centas arrobas de anil ; além do tabaco de fumo, do páu da
tinturaria e madeiras de eonstrucção, alguma salsaparrilha,
copahiba, goma e outros artigos de menos monta. O ouro
cobrado no seculo anterior ^ em virtude°do tributo do quin
to, montava a seis mil arrobas, o que atteiídendo-se ao con
trabando constante, faz crer que só doBrazil haviam passa
do para a circulação universal talvez perto de dez mil quin-
taes, ou mais de sessenta milhões de libras esterlinas de
ouro. Os diamantes, extraidos das minas até então, pode
riam juntos pezar arriba de tres quintaes.
Entre os supramencionados artigos de industria agricola
produzidos no Brazil não se conta a farinha de mandioca,
que bem como o milho e legumes se consummiam todos no
proprio paiz. Da uva não se fazia (nem se faz ainda) vinho;
porque além de se aproveitar como fructa a pouca que se
cultivava, nos paizes humidos maturam os bagos de seus
cachos com tanta irregularidade, que quando uns luzem por
maduros , outros são verdadeiro agraço.
Isto sem contar a circumstancia de que a metropole não
protegeria tal fabrico, pois chegára , seculo e meio antes, a
desproteger o do vinho do mèl e cachaça, e talvez o aper
feiçoamento dos liquores que já os proprio índios selvagens
obtinham dos ananazes, cajus e outros fructos, de que se
poderia até obter vinho como o de Champagne. Dos casta
nheiros, nogueiras, carvalhos, amendoeiras, e oliveiras da
Europa apenas um ou outro pé se chegou a plantar. O mes
mo dizemos das amoreiras, cuja cultura alias então era mui
favorecida na metropole, como propria a alimentar os bom-
bices que dão a seda , enriquecendo tantos paizes de clima
por certo que menos regular e apropriado de que o nosso.
■ ■
G-o
s^c- quelles que for necessario deixar para o meu real serviço:
■—-^ no que recommendareis ao commandante se haja com toda a
moderação; pois que dezejo isto não sirva a desanimar a tro
pa de linha e miliciana do bom serviço que espero me fa
çam nesta importante expedição.
»Muito vos hei por recommendado , que fazendo partir o
commandante com a tropa de linha e artilharia de calibre
3, que julgardes (c com vosco ajunta) proporcional á ex
pedição intentada , façais ir juntamente dous religiosos , Ou
sacerdotes de zelo exemplar e de luzes, que sejam encarre
gados, não só de cathequizar, baptizar e instruir os índios,
mas do vigiar que com elles se não pratique violencia al
guma, senão aquella que for necessaria para repellir a sua
natural rudeza e barbaridade.»
Quanto a providencias tomadas mais particularmente em
favor do melhoramento da capital, cumpre-nos dizer que o
governo, absorvido a um tempo por negocios importantes na
Europa, nas. colonias Ultramarinas, nas differentes capita
nias, no norte e sul do Brazil, e mais de uma vez escaco de
recursos, não poude attender, tanto quanto• talvez fora de
desejar, a policia da cidade, e especialmente ao seu afornio-
scamento, limpesa e facilidade das communicações. Pro-
vcu-se sim ao dessecamento de alguns alagados,■ ao calça
mento de várias ruas, ao melhoramento da illuminaçãor-ao
transporte de muitos colonos açorianos, á continuação da
cidade pára além do magestoso Campo do Sant'Auna, isen
tando por esse lado da décima as casas que se construissem,
por dez ou vinte annos, segundo fossem terreas ou de so
brado dando-se a esse bairro o nome de, Cidade nova:.-<-
Porém deixaram-se os morros âbatfdonados, sem se mali-
dar desde logo traçar sobre elles , ao viez das encostas, ■■
caminhos suaves que um dia. viessem a ser ruas de casas:
assim os mesmos morros, alias logares mais ventilados e.
sãos desta paragem, ficaram com accessos Íngremes, e sem
que a maior parte delles possam facilmente ser crusados por
carruagens, sendo que em varias cidades da Europa, o na '
mesma Lisboa, ha na propria cidade, toda tranzitada, dif-
ferenças de nivel maiores. Os bairros da Glória, Catete, Bo
tafogo e outros mais proximos ao mar, começaram a ser
preferidos: porém não houve o cuidado de prevenir aos seus
moradores um sangradouro bem desempedido com o cen'-
ROTULAS DE URUPEMA. MORRO DO CASTELLO. 323
' Corr. Braz., XXIII, 304. °- Corr. Braz., XX, 429 e XXIV, 281 .
340 REFLEXÕES ACERCA DA COLONISAÇÃO. JOÃO VI ACLAMADO REI.
D. JOÃO VI
* Cazal regressou com elrei a Lis- quem dê noticia das correcções que
boa, e ahi foi residir em uma cella de deixaria para a nova edição do seu li-
-Congregação de Oratória no Corpo San- vro, por mais diligencias que a pedido
to, em companhia do P. Dâmaso. Soffria nosso se fizeram no Crato, Flor de Ro-
então muito dos nervos, e parece ter sa, etc. Tão pouco soubemos onde fal-
fallecido pouco depois, sem que haja leceu, nem onde jaz seu corpo.
344 SOUTHET E A SUA HISTORIA DO BBAZIL.
SEÇ- fazendo como todo o Rrazil a devida justiça ao autor que mais
—-~ consienciosamente tratou algumas epochas da nossa historia
até o tempo de Pombal; pois que os dois últimos capitulos
(43 e 44) apenas contêm mui destacadamente um ou outro
facto histórico, pelo meio das discripções geographicas e ex
tractos de vários viajantes, que formam d<5 assumpto delles
a principal parte. Destarte deixou o mesmo Southey quasi
virgem o importante periodo decorrido desde o"último quar
tel do. século passado até o seu tempo, como havia deixa
do o periodo que comprehende o século XVI e que se con
têm nos primeiros doze capitulos do primeiro volume, que
elle se viu obrigado a reimprimir em 1822, para introduzir
addições e correcções que julgou essenciaes, em vista da ap-
parição de novos documentos, que o obrigaram a declarar,
em dezembro de 1821, que reconhecia «quanto a historia do
Brazil poderia ganhar com exames e estudos feitos nos archi-
vos » Cumpre declarar entretanto, que 03 tres volumes de
Southey são, mais do que uma historia, «memorias chrono-
logicas colligidas de muitos autores e vários manuscriptos
para servirem á historia do Brazil, Buenos Ayres, Monte
video, Paraguay, etc.» Por isso se nota nesses volumes a
falta de unidade e de ordem ou nexo, e a cançada repeti
ção de insonças descripções (sobretudo ácerca dos índios)
que são causa de sua pouca popularidade. Seria acção pou
co generosa, e até suspeita da nossa parte, a de apregoar
censuras contra esta obra do illustre poeta laureado, que
tanto apreciamos, e que o Brazil todo com razão respeita, pe
lo facto de haver levado annos occupado delle. A mesma
parcialidade, com que, talvez com intento de divertir seus
patricios protestantes, não peYde jamais occasião de ridicu-
lizar qualquer pia crença ou superstição de nossos historia
dores, que lhe forneciam os factos, lhe deve ser desculpada
quando por outro lado diz: «Compilando esta historia, cada
»vez que me lembro sob que circumslancias alguns de seus
• documentos foram compostos, não posso deixar de con-
«templar os homens a cujos desinteressados trabalhos tanto
«devo, senão com admiração e com respeito e gratidão s.»
Dos trabalhos, fructode muito estudo e meditação, de Sou-
SEÇ. uias... o povo que deseja ser livre e feliz, cuide de assegu?
-_■^ rar.com suas virtudes proprias essa liberdade e essa Telici-
dade que deseja; porque, em quanto se esperançar noutras
nações para gosar esses bens , será escravo , será infeliz,.
Não discuta sobre a fórma de governo: reflicta no modo de
melhorar seus costumes. Um povo sem moral, se não tem
liberdade , nunca a obterá; se a tem, certamente a per
derá '.» ■.,.... ,, .. ,v; ,•
Um dos grandes projectos que desenvolveu e sustentou o
Correio Braziliense foi o da mudança da capital do Brazil
para o sertão, concebido, se pode dizer, pelos patriotas da
conjuração mineira de 1 789 2.
«O Rio de Janeiro (dizia ^Correio Braziliense 3) não pos-
sue nenhuma das qualidades que se requerem na cidade que
se destina a ser capital do imperio do Brazil; e se os corte-
zãos que para ali foram de Lisboa tivessem assaz patrio
tismo e agradecimento pelo paiz que os acolheu , nos
tempos de seus trabalhos, fariam um generoso ' sacrificio
das commodidades, e tal qual luxo, que podiam gozar no
Rio de Janeiro, e se iriam estabelecer em um paiz do inter
rior, central, e immediato ás cabeceiras dos grandes rios»
edificariam ali uma nova cidade, começariam por abrir es
tradas, que se dirigissem a todos os portos de mar, e re
moveriam os obstaculos naturaes que tem os differentes rios
navegaveis , e lançariam assim os fundamentos ao mais ex
tenso, ligado, bem defendido e poderoso imperio, que é
possivel que exista na superficie do globo , no estado actual
das nações que o povoam. Este ponto central se acha nas
cabeceiras do famoso Rio de S. Francisco. Em suas visi-
nhanças estão as vertentes de*caudalosos rios, que .se diri
gem ao norte, ao sul, ao nordeste cao sueste i, vastas cam
pinas para criação de gados, pedra em abundância para
toda a sorte de edificios, madeiras de construcção para to
do o necessario, e minas riquissimas de toda a qualidade
* XXIV, 27. leitura do que escrevemos. ()úè já erri
2 Convencidos profundamente das 1839 pensavamos no assumpto da nova
vantagens que resultariam ao futuro do capital e outra divisão de províncias, se
Brazil da prompta realisação desse pia- convencerá o leitor pelo fim da ■eartí
no, defendemol-o pela imprensa em imp. na Uev. do Inst. 1, 364.
1849, havendo nelle pensado desde 3 X, 374. "■""■■ ■
1839, antes de termos noticia dos ar- 4 O Corr. Braz. não designa eviilen-
gumentos do Correio Braziliense, cujos temente a paragem, que preferia: tal
artigos à tal respeito só conseguimos vez pensava em Villa-rku: «6s propose-
ler em 1851, como se deduz da propria mos uma aonortede Parncutii. ■■ •
INGONVENIENfES DO RIO PARA CAPITAL. 355
d* 'mètâes ; enYuma palavra , uma situação que se póde com- ^c.
parar com a descripção que temos do paraiso terreal '. Des ~
prêsou-se tudo isto, pela 'cidade do Rio de Janeiro; porque
ja< ali havia algUmâcãsa de habitação, commodidades para
que algumas pessoas andassefm em carruagem, um mesqui-
ilHb -'thteáTfO1 . .'.: para' o divertimento dos cortesãos ; em uma
p&tavra , porque se evitava assim o trabalho de crear uma
cMadé de' novo , é inbòmmodos inheíentes à novoa estabe
lecimentos; è por estas miseraveis considerações se roubou
. a S. A; R. o principe regente a glória incomparavel de ser
Ofutídàdór1 de uma cidade a que afixaria o' seu nome, fazen-
dó-se immòrtal na creàçãó de ima vasta mohàrchia. Não
nos demoremos corri- às objecções que ha contra a cidade
do Rio de Janeiro; aliás mui propria ao commercio, e a ou
tros fins; mas summamente inadequada para ser a capital
do Brazil: basta lembrar que está a um canto do territorio
do Brazil, que a sua communicação com o Pará e outros
pontos daquelle Estado é de immensa difQculdade, e* que
sendo um porto de mar, está o governo ali sempre sujeito
a uma invasão inimiga de qualquer potencia maritima.
Quanto ás difficuldades da creàção de uma nova capital, es
tamos convencidos de que todas ellas não são mais do que
meros subterfugios.»
:Annos depois acrescentava: «A corte não deve residir
no porto ou logarque se destina á ser o império do com- •
mercio; porque os negociantes illudidos com o brilhante da
corte, desejam fazer-se cortezãos, em vez de serem com-
merciantes ; procuram habitos , condecorações e titulos. , em
vez de procurarem sobresair em seu commercio , que é o
que lhes convem, e interessa ao Estado; e saindo assim
aquelles individuos da esphera em que tão uteis eram , de
negociantes da primeira ordem, passam talvez a ser nobres
na infima graduação, no que não utilisam a si, nem fazem
bem ao Estado. »
Hypolito previa com muita antecipação as tendencias de
separação dos dois reinos, e por sua parte contribuiu indi.
1 Em 1809 se publicou em Lisboa delles do celebre estadista e mais pa-
. um retrato de Pitt, com um discurso rece em grande parte apocrypho, e
que se lhe attribuiu, acerca da creação acrescentado por algum Brazileiro que
no interior do Brazil de uma Nova Lis- desejava apresentar a idéa, sem risco
boa, vinda da Família Real etc. Tal dis- de que a censura lh'a não deixasse
curso não se encontra nas collecções passar.
356 SERVIÇOS DE HYPOLITO COMPARADOS AOS DE FRANKLIN.
Ujj-j- são uma riqueza mais solida , que não se exhaure tão facil-
> ^ mente,'passando a nações estranhas e deixando os mineiros
em penuria, como succede ás de metaes ricos e pedras pre
ciosas; e quando o mortal que, seguindo o preceito divino,
trabalha com o suor do rosto caindo a bagas, poderia dispen
sar o ouro , mas não o ferro , com que derruba o mato e ras
ga as entranhas á madre terra. Além de quê: a historia dos
acontecimentos da mineração de ferro no Brazil não deixa de
ser digna de estudo e meditação ; pois como diz 0 illustre
senador Vergueiro, na importante memoria especial que a
tal respeito publicou: « Sendo a historia um ensino pratico,
em que se apuram as verdades da theoria, e patenteam as
dificuldades nella cobertas em hypotheses correntes, e en
carando o Brazil no futuro tantos e tão importantes estabe
lecimentos fabris, não póde deixar de interessar a historia
da fundação do que deve fornecer instrumentos a todos '.»
Graças ao extenso trabalho do illustre autor *, e ao grande
número de documentos que sobre tal assumpto herdamos,
poderiamos dedicar a elle mais de um volume, se as leis da
historia, e de uma historia geral, nos não imposessem a de
vida brevidade.
A exploração e mineração do ferro (disseram os re
dactores do Investigador em Londres , ao dar c#nta dos
resultados do que vamos narrar) forma uma era de glo
ria e de prosperidade para o Brazil. » Os factos singelamen
te documentados , iráõ provando, a nosso ver ^ufficien-
temente, que a glória de ser o executor dos projectos
do Sr. D. João estava reservada ao mesmo official enge
nheiro Varnhagen , que ja na secção precedente fizemos
conhecer ao leitor. E não é culpa do quem escreve, e sim
para elle muita honra, que essa gloria indisputavel reverta
em favor proprio. Tributar justiça devida á memória de
1 «Se a minha penna embotada com o supprimir o meu nome, se a responsa-
pé da terra, que cultivo (prosegue ele- bilidade dos factos que narro, não me
gante e modestamenteoillustre escrip- obrigara a publica-lo com elles.»
tor), não pode lançar traços elegantes, s A Mem. Hist. de Vergueiro foi im-
e expressivos, tem ao menos bastante pressa em Lisboa em Í822, e, com os
firmeza para não se apartar da verda- documentos, consta de 147 paginas de
de; o amor da qual, e o desejo de ac- i." Devo o exemplar qne possuo desta
crescentar a attenção pública sobre a memoria rarissima á amisade do meu
industria, manancial mais certo da nos- illustre collega Srftonde de Van der
sa riqueza do que o ouro fugitivo, fo- Straten Ponlh07i, autor ite"Uih impor-
ram exclusivamente as causas, que me tante trabalho acerca do nosso pai»,
determinaram a accresceWar a^mnien- por' cuja prosperidade "fi»r constantes
sa lista dos escriptores, onde quizera votos: ••■' ■■ • • i' Vi..•
HISTORIA DO MORRO BIIUÇOIAVA OU ARAÇOIABA. 359
. 4 «Araçoiaba» ou Escondrijo do sol lhe avistaram por esse lado. Consta de tres
chamavam os índios que viviam ao nas- cabeços , um delles mais propriamente
cepte delia, e tambem lhe licaram cha- chamado «Araçoiaba,» outr.o morro do
mando os Europeos , que primeiro a ferro, e outro morro vermelho.
PLANO DE VARNHAGEN PARA O ESTABELECIMENTO. 363
|EÇ.- que
neraloutro
deixado
avisoservir-se
desta data
comaprovava
escravoso da
havel-o
fazenda
o capitão
real; dan
ge-
SBG. mas que de alegria dos olhos lhe brotaram ', dando-lhes
--—> ordens para que passassem juntos á igreja a render graças
ao Altissimo pela nova gloria que havia outorgado ao reina
do do Sr. D. João. — A maior das mencionadas Ires cru
zes, de mil e tantas libras de pezo, foi conduzida em pro
cissão, e collocada no alto do visinho morro, em memória
«deste feliz successo tão glorioso para o seu inventor, como
interessante para o Brazil , por attestar a origem de uma
nova industria. Apezar de sua simplicidade, é ainda hoja
um dos monumentos do Brazil a que se ligam recordações
preciosissimas 2. » — Cumpre-nos acrescentar que tanto nes
ta cruz maior, como nas outras duas menores, bem que to
das monumentaes, debalde se buscará ler outra inscripção
que não sejam os quatro algarismos do anno da fundição:
1818; facto sufficiente para qualificar o gráu de modestia
deste official, primeiro director do estabelecimento. A jus
tiça segura, embora ás vezes tardia, da posteridade, não
deixará sem recompensa tanta modestia, depois de tama
nho serviço, senão com inauguração do busto do restaura
dor B, no terreiro do estabelecimento, ou com uma meda
lha de ferro ou de bronze cunhada em memória do dia 1 .°
de novembro de 1818, ao menos com alguma contempla
ção generosa pelo seu nome, exercida por meio da toleran
cia em pro dos estrangeiros dignos e illustrados, que, òu
movidos pela nobre ambição de glória, ou encaminhados
pela sorte favoravel ou adversa , venham a offerecer os seus
capitaes de intelligencia e de actividade a esta americana
terra da promissão.
Cumpre dizer que no proprio dia 1 de novembro, em
que teve logar a primeira furidição , escreveu Varnhagen de
officio para S. Paulo, dando conta de quanto passára. Res-
raes, que exigiram muito trabalho e s Palavras do Sr. Ferdinand Denis,
tempo, finalmente, pelo incançavel des- Brésil, pag. 349. Veja tambem a respei-
velo do tenente coronel F. L. G. Var- to da Cruz de ferro o artigo da Idade
nagem (sic) concluiu-se esta fabrica, d'Ouro Ua Itahia, em Janeiro de 1819,
verdadeiramente obra regia.» (Mem.. . transcripto na Gazeta de Lisboa pouco
do P. Luiz Gonçalves dos Santos, II, depois,,e no Correio Brazil. , XXII, 624.
pag. 335.) «Pelo incançavel zelo do. te- 3 A idea de um monumento aos re-
nente coronel F. L. G. de Varnhagen, sultados obtidos em 1818, não é nossa,
etc. » (Constancio, Hist. do Brazil, 11, nem jamais houveramos ousado apre-
218.) sental-a. 0 lnv. Porlug. propoz uma py-
1 Este facto me foi referido por meu ramide de ferro; e o P. Gonçalves dos
pai depois de haver eu em 1841 estado Santos (Mem., II , 338) um pedestal de
no Ipanema , donde saira de mui pouca marmore para a cruz de ferro, no qual
idade. se esculpissem não só os nomes d'elrei
RECOMPENSAS HONORIFICAS. D1MISSAO. 371
I
^
V
1 z.
N
*
5
I
9
SECÇÃO L1V.
■ .
REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA EM 1817. RODEADOR.
1 Vid- ante Secç. XXXIX. epoca em que pela 1.a vez foi chamado,
2 Esta recompensa dada depois da não são em favor dos que canonisam
independencia, e ainda mais a nomea- a revolução que o expulsou.
ção de Caetano Pinto para ministro, na 5 Muníz Tavares, pag. \9.
FRANQUEZA DE MARTINS. CONSELHO. PRISÕES. 377
|EC.~teve
ura papel,
que exaggerar
em que para
alguns
melhor
factos.seArecomméndar
esto papel, que,
de ánovo
imi
Impossivel fora esquecer que um dos primeiros usos que elle sec
fez do seu poder momentaneo foi empregar a ameaça para ■— .- ■
haver em casamento a filha de um rico negociante do Re
cife que antes lhe fora negada. Entretanto teve sempre re
solução e firmeza ; e mostrou principalmente calma e ener
gia no momento, em que, livre da prisão, chamou os seus
compatriotas ás armas. Não trabalhou por justificar a revo
lução, mas desenvolvia grande actividade para a energisar. *
E não se creia que o illustre Tollenare, ainda que estran
geiro, podia ser suspeito partidario contra os que esta
vam na revolução. Ouçamol-o em quanto nos revela do
caracter, em verdade muito mais sympathico, de outro dos
chefes do governo provisorio. «O padre João Ribeiro, diz %
era um ecclesiastico instruido, mas pobre. — Seguia porém
certa philosophia practica, sufficiente para se contentar da
posição em que a sorte o col locára. Era .professor de de
senho no collegio de Olinda. Havendo sido supprimido este
emprego, obteve outro no hospital, que lhe rendia uns tres
mil francos. Ahi continuou a exercer sua arte, entregando-
se ao estudo das sciencias, pelas quaes professava sincera
paixão. . . Alimentando o espirito, como em geral todos os ec-
clesiasticos da America Meridional, com a leitura dos phi-
losophos do seculo anterior, não vivia como elle proprio
dizia, senão para a liberdade. As obras de Condorcet tinham
principalmente exercido grande influencia no seu animo, e
mostrava a maior confiança nos progressos do humano• es
pirito... Hoje 23 demarço está elle menos embriagado da
honra de ser o primeiro magistrado do seu paiz, da que de
ser delle o regenerador. Praz-me tributar a devida justiça ' ,
a suas intenções : creio-as boas : mas devo tamhem dizer
que tem elle mais enthusiasmo que talentos administrati
vos. —Neste ponto acho-o duma debilidade extrema. Não
conhece os homens ; a arte de manejar suas paixões é-lhe
tão desconhecida como a intriga. —Este homem será capaz
de sacrificar-se pela sua patria, mas não de a salvar. »
Escusado é dizer que apenas triunfou a revolução, as con
decorações desapareceram dos peitos dos mesmos que mais
as haviam supplicado; que os laços, as armas reaes, as ini-
ciaes do soberano se arrancaram das barretinas ou se lima
ram nos armamentos. Abstenhamo-nos de reflexões.
4 Nota dominical de Tollenare em 23 de março; Brésil de F, Denis, pag. 265.
384 EMISSARIOS AOS E. UNIDOS E LONDRES. CENSURA DO CORR. RRAZ.
tromettesse nas disputas civis de outra , sem ser para peo- sec.
rar as coisas, e tirar proveito de ambos partidos disputan- -~^Ls
tes. Se a historia não estivesse cheia de factos que provam
isto, bastava o exemplo do que fizeram osFrancezes duran
te a sua revolução. Em todos os paizes a onde foram rece
bidas as armas de França, com esperanças de introduzirem -
melhoramentos no governo , fizeram os Francezes o mais
escandaloso abuso da boa fé e ignorancia daquelles que as
sim os receberam. À Italia e a Hollanda são horrorosas pro
vas desta verdade historica. «No caso actual de Pernam
buco aconteceu que a Inglaterra prohibiu logo a exportação
de armamentos, e até que se enviassem cartas para Per
nambuco. Os Estados-Unidos passaram umà lei para o mes
mo fim. Mas supponhamos, que estas duas nações, de quem
os revolucionarios do Brazil esperavam algum auxilio, não
obrariam como obraram, epermittiam que se mandassem
petrechos de guerra aos insurgentes ; isso só seria para con
tinuar a guerra civil, e esses estrangeiros tirarem partido
das aguas envoltas , vendendo alias suas mercadorias , sem
se importar com os vencidos, nem com os vencedores. Es
ta é a politica que vemos seguida, quanto ás colonias hes-
panholas ; e porque haviam os insurgentes do Brazil espe
rar outros resultados? Quanto aos dois sentidos, em que
dissemos que esta revolução deve ser desastroza ; o primei
ro é que a nação tem de pagar mais tributos para resarcir
as despesas necessariamente occurridas para supprimir a
insurreição ; e estas despesas por força hão de ser conside
raveis, tanto de presente, como cm suas consequencias.
Segundo : isto deve causar um motivo de suspeita da parte
do governo , que temerá todS e qualquer proposta de re
forma, como symptoma de revolução; e uma correspon
dente timidez da parte do povo , que receará pedir reforma
alguma, com o temor que dahi se sigam revoluções, ou
suspeitas de haver vistas atraiçoadas; e por tanto os ho
mens bons e cordatos, que realmente desejam ver reme
diados os abusos de sua patria , antes se sujeitarão aos ma
les presentes do que se arriscarão ao maximo dos males,
que é a dissolução do governo. »
Noutro logar ' se exprime o mesmo illustre Brazileiro
^EC-- norte
—No com
dia 20
unsa dois
bandeira
mil homens,
real tremolava
que ainda
nas lhe
fortalezas.
obedeciam.
Do
dar uma succinta noticia de certa occorrencia que teve lo- sec
LIV.
gar no monte Rodeador, no districto do Bonito, ao sul da
provincia de Pernambuco, em principios de 1820, e que
não deixará no futuro de prestar fertil e curioso assumpto á
imaginação dos poetas e romancistas. Da crença que no alto
desse monte havia uma lagem, debaixo da qua! ás vezes
saiam vozes, se aproveitou um certo Silvestre e outros para
começaram a contar muitos prodigios, espalhando revela
ções feitas por imagens aparecidas entre luzes , — promet-
tendo constante victória e muitas fortunas aos que se alis
tassem por ellas. Movidos por curiosidade e superstição uns,
levados outros por ambição e cobiça, se foram ahi juntando
dentro de pouco umas quatrocentas pessoas, incluindo mu
lheres e crianças. Mandados dissipar, não obedeceram, e
pelo contrario resistiram valerosamente aos primeiros mili
cianos armados; mas por fim foram submettidos pela tropa,
caindo prisioneiros muitos a quem elrei perdoou , como a
illusos, mandando-os restituir a seus lares.
1 Vej. o folheto intitulado «Peças in- 1821. Nelle se acha o primeiro discurso
teressantes,» 110 pags. de 8.°, publica- do singular orador Patroni, autor ver-
dos por Daniel Garçao de Mello. Lisboa, dadeiro do dito folheto.
REVOLUÇÕES NO PARA E BAHIA. CHEGAM AO RIO AS NOTICIAS. 395
1 ° de janeiro de 1821 . —A Bahia revolucionou-se no dia 10 s^-
do seguinte mez ', tomando nisso parte a artilheria, com- ^—^-,
mandada pelo brigadeiro Manuel Pedro de Freitas Guima
rães, apezar do antagonismo que desde então começou a~
encontrar no coronel , commandante do regimento de infan-
teria número 12 , Luiz Ignacio Madeira de Mello.
Com a noticia da revolução da Bahia chegada á corte no
dia 22 do mesmo fevereiro, pela fragata ingleza Icarus, que
a seu bordo conduzia até o ex-capitao general conde de
Palma, o governo delrei que até então contemporisára,
pensando que Portugal, vendo a corte impassivel , entraria
de novo no antigo regimen , — viu-se obrigado a deliberar.
— Ajunta provisional de governo organisada na Bahia di
rigia a elrei a seguinte carta *:
«Senhor. Os habitantes da Bahia, que primeiros que ne
nhuns outros vassallos do Brazil, tiveram a ventura de ve
rem a V. Mag. neste vastissimo continente, e de lhe offere-
cerem os mais assignalados testemunhos de fidelidade, e de
adoração ; os habitantes da Bahia, que a despeito do exem
plo e das suggestões de uma provincia limitropho, não só
conserváram intacta a sua lealdade em 1817, mas até sou
beram reduzir a mesma provincia á devida obediencia ao
governo e authoridade de V. Mag. ; os habitantes da Ba
hia, augusto senhor, não podiam ser indifferentes aos ul
timos , memoraveis e gloriosos acontecimentos de Por
tugal.
»Ligados áquelle formoso paiz pela unidade politica pro
clamada por V. Mag., e ainda mais pela conformidade de
religião, de leis e de costumes ; vassallos communs de uma
patria commum, e regidos f>elo mesmo systema adminis-
• trativo, e por conseguinte participando em commum dos
males nascidos dos erros e defeitos da mesma administra
ção, deviam naturalmente olhar como sua a causa de Por
tugal. Guiados porém pela discrição, que sempre os carac
terizou, e persuadidos que os successos daquelle Reino te-
direito de successão lhe devia um dia caber, fora mais que |jsc.
deslealdade a seu pai, fora ingratidão ao paiz acolhedor, •— -^
fora um crime ante a humanidade. 0 principe seguiu o po
tido que devia seguir; mas esta generosa resolução era ja
um primeiro acto de rebeldia aos decretos das cortes : tudo
o mais que se segue foi consequencia logica delle.
Toda a philosophia se abisma e calla ante factos tão con-
tradictorios e como sobrenaturaes, e o historiador confuso ao
buscar a explicação das causas c dos effeitos , se prosterna
ante a sábia Providencia que nos havia destinado o principe
D. Pedro para personificar no acto da separação a integri
dade do Brazil. , . .
SECÇÃO LVII.
t Em data de 26 de juffio.
438 7 DE SETEMBRO. NOVA ERA. GRITO DO IPIRANGAi/ • ;
elrei D. João VI, o principado que creára D. João IV, o es- sec.
tado que fundára D. João III. — Tambem por todas estas •—~^
razões devêra Portugal festejar este dia, pois de certo
que , sem a resolução tomada em 7 de setembro de 1 822,
não podéra regosijar-se de ver hoje tão próspero, e alimen
tando em grande parte o seu commercio e marinha mer
cante, este seu filho, descançando á sombra do solio bri-
gantino, e seguro, esperamos em Deus, de correr a sorte de
outros que... não foram tão afortunados. O Brazil não de
veu a D. Pedro a sua emancipação, que essa consummada
«stava desde 1808, e era impossivel retroceder, até em vis
ta do tratado celebrado em 1810 com Inglaterra: deveu-lhe
porém a sua integridade, e deveu-lhe a monarchia, que foi
symbolo de ordem no interior, e de confiança no exterior;
e por fim veiu até a dever-lhe a dynastia, pela sua abdica
ção feita muito a tempo para a poder salvar.
Entretanto o forasteiro caminhante que de Santos se di
rige sósinho a S. Paulo, chegará a esta cidade, e terá atra
vessado o Ipiranga desapercebidamente; visto que nenhum
edificio, nem arco de triunfo, nem obelisco , nem troço de
columna, nem cippo encontrou no caminho que lhe cha
masse a attenção!...
No dia segufnte, 8 de setembro, proclamou o principe aos
Paulistas agradecendo-lhe a boa acolhida que lhe haviam
feito; e, recommendando a todos paz e união, se despedia
para o Rio, — onde julgou que devia apresentar-se levando
em pessoa a noticia da resolução que adoptára na véspera,
até para que a nova acclamação se fizesse sem a menor re
sistencia. E effectivamente assina o cumpriu. Em cinco dias
cruzou a cavallo as cem leguaí que o separavam do Rio de
Janeiro, onde se apresentou sósinho, havendo corrido tanto
que só oito horas depois ahi chegava o que mais de perto,
dentre os seus criados, o poude seguir. — A noticia desta
nova carreira, que alguem comparou ú de Carlos XII, o mo
tivo della, c a grande nova da declaração ostensiva da in
dependencia enthusiasmou de novo o povo e camara do Rio
de Janeiro , que nem sabiam como victoriar o enviado da
providencia para salvar o Brazil.
A 18 de setembro foi decretado o escudo d armas e a
bandeira nacional, de que usaria o Brazil independente.
Quanto ao primeiro, afim de se conservarem as armas dadas
440 ARMAS, TOPE E BANDEIRA. PADROADO, LEIS E CONSTITUIÇÃO.
seç-'- primeiro
em 13 de nome
maio que
de 1816
lhe fora
e «aoimposto
mesmonotempo
seu feliz
rememorar
descobrio
SEC. Confrontando a Tabelia com o Quadro, vê-se que pertencem aos kalendarios os
LVIII. annos segundo suas paschoas. Assim seguem:
s^s O 1.° kal. os annos de paschoas de 26 de março e 2, 9, 16 e 23 de abril.
O 2.» » os de 23 dito 1, 8, 15 e 22 dilo.
O 3.° » os de 24 e 31 dito e 7, 14 e 21 dito.
O 4.° » os de 23 eSOdito e 6,13 e 20 dito.
O 5.° » os de 22 e 29 dito e de o, 12 e 19 dito.
O 6.° x os de 28 dito e de 4, 11, 18 e 25 dito.
0 7.° » os de 27 dito e 3, 10, 17 e 24 dito.
§. 6.» PERNAMBUCO.
•* 1 Duarte Coelho (1.° donatario), 1535.
2 Jeronymo d' Albuquerque (seu locotenente), 1554.
3 Duarte Coelho d'Albuquerque (2.° donatario) , 1560.
4 Jeronymo d'Albuquerque (outra vez), 1565.
5 Simão Rodrigues Cardoso, capitão e ouvidor do donatario, 1581.
6 Jorge d'Albuquerque Coelho.
7 D. Filippe de Moura, 1583.
8 Filippe Cavalcante , 1590.
9 Manuel Mascaranhas Homem, antes de 1596.
10 Alexandre de Moura, antes de 1607.
11 André Dias da Franca?
12 Mathias d'Albuquerque.
13 D. Luiz de Rojas, dezembro de 1635 ; falleceu em combate (18 de janeiro
de 1636.
14 O conde de Bagnuolo , 1636.
Segue-se a retirada para a Bahia, e durante todo o tempo as terras dos Hol-
landezes são mais ou menos occupadasjior partidas de Henrique Dias , do Ca-
marib, e do illustre André Vidal. #
§. 8.o PARAHIBA.
1 Não 8; vej. o folheto do proprio pre- 3 Diz Cazal que neste anno teve esta
sidente Cruz, pag. 36. capitania Manuel Jordão como donata-
2 Em vista de novos esclarecimentos rio, etc.; que naufragou, etc.
rectificamos o que fica dito no tomo I, * Dos anteriores não consta a posse
pag. 312.—As datas das nomeações dos por falta d'archivos dessa epocha na
seguintes nada tem que ver com as pos- província. De todos constam as nomea-
ses, ás vezes estavam dois e tres com as ções nas chancellarias dos respectivos
nomeações na mão , e á bica ou lamina• reis na Torre do Tombo. Vej. Filippe II
454 ' RIO GRANDE DO NORTE.
Antonio de Barros Rego, data em fins de 1669.
Antonio Vaz Gondim, junho de 1673.
Francisco Pereira Guimarães, maio de 1677; 2 de novembro de 1678 (gover
no interino da camara).
Interino, Geraldo de Suni, 3 de maio de 1679.
Interino, Antonio da Silva Barbosa, setembro de 1681.
Manuel Moniz, 23 de maio de 1682.
Pascoal Gonçalvez de Carvalho, agosto de 1683.
Capitães mores.
Governadores.
o
José Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, 23 de março de 1806.
Sebastião Francisco de Mello e Povoas, 22 de jaueiro de 1812.
José Ignacio Borges, 16 de dezembro de 1816.
Junta de 9 membros, 11 l de dezembro de 1821 .
§. 10 CEARÁ.
de P. 6, 379; 26, 82 v.; 29, 241; 35, 127 v.: 22, 244 v.; 36, 242; 31, 209 v.; 41,
v.; Filippe III de P. 15, 187 v.; 29, 10 e 171 v.; 47, 37 v.; 48, 279.
47, 127 e 162 v.; 31, 119 v.; 39, 136; * Extr. da Rev. do Inst., Tom. XVII.
João IV, 27, 15 v.; Affonso VI , 25, 142
CEARA. 455
4 Martim Soares Moreno, em 1620 (primeiro por carta regia de 24 de maio SEC.
de 1619). LVIII.
"5 Domingos da Veiga, em 1631. '. ■ -——"
6 Antonio Barboza.
7 Bartolomeu de Brito, até fins de 1637.
8 Francisco Pereira da Cunha, n. em 1641.
9 Diogo Coelho de Albuquerque, nom. em 1645.
10 André Rodrigues.
11 João Tavares de Almeida.
12 Jorge Correa da Silva.
13 Sebastião de Sá, posse em 1680.
14 Bento de Macedo de Faria.
15 João de Mello de Quimão. „
16 Pedro Lelni, posse em 1697.
17 Francisco Gil Ribeiro, posse em 1700.
18 Jorge de Barros Leite, 1703.
19 João da Motta, 23 de setembro de 1704.
20 Gabriel da Silva Lago, 1705.
21 Francisco Duarte de Vasconcellos, 25 de agosto de 1710.
22 Placido de Azevedo Falcão, 8 de outubro de 1713.
23 Manoel da Fonceca Jaime, 30 de agosto de 1715.
24 Salvador Alves da Silva, 1.° de novembro de 1718.
25 Manoel Frances, 11 de novembro de 1721.
26 João Baptista Furtado, 1728.
27 Leonel de Abreo Lima, 13 de fevereiro de 1731.
28 Domingos Simões Jordão, 11 de março de 1735.
29 Francisco Ximenes de Aragão, setembro de 1739.
30 João de Teive Barretto, 2 de fevereiro de 1743.
31 Francisco da Costa, 17 de agosto de 1746.
32 Pedro de Moraes Magalhães, 19 de outubro de 1748.
33 Luis Quaresma Dourado, 18 de agosto de 1751.
34 Francisco de Miranda Henriques, 22 de abril de 1755.
35 João Balthazar de Quevedo Homem de Magalhães, 11 de janeiro de 1759.
36 Antonio José Victoriano Borges da Fonceca, 25 de abril de 1765.
37 João Baptista de Azevedo Coutinho de Montauri, 11 de maio de 1782.
38 Luiz da Motta Feo, 9 de novembro de 1789.
§. 11 MARANHÃO.
1 Jeronymo d'Albuquerque.
2 Antonio d'Albuquerque.
3 Domingos da Costa.
456 MARANHÃO.
SEC. • Governadores.
LVIH.
1 Capitão general Francisco Coelho de Carvalho, 3 de setembro de 1626.
2 Intruso governador, Jacome Raymundo de Noronha (eleito pelo povo), 9 de
outubro de 1626.
3 Francisco Coelho de Carvalho, 10 de março de 1631.
4 Governador. Bento Maciel Parente, 27 de janeiro de 1638.
5 Capitão mór, Antonio Muniz Barreto, 30 de setembro de 1642.
6 Dito, Antonio Teixeira de Mello, 3 de janeiro de 1643, parte conjunctamen-
te com o Pedro d'Albuquerque, 13 de julho de 1643, 20 de janeiro de 1644.
7 Dito, Francisco Coelho de Carvalho (sobrinho) o sardo, 17 de junho de 1646.
8 Luiz de Magalhães , 17 de fevereiro de 1649.
9 Governador, Balthazar de Souza Pereira, 17 de novembro de 1652.
10 Capitão general André Vidal de Negreiros, 11 de maio de 1633.
11 Interino, sargento mór, Agostinho Correa, 23 de setembro de 1636.
12 Capitão general D. Pedro de Mello, 16 de julho de 1638.
13 Dito, Ruy Vaz de Sequeira, 26 de março de 1662.
14 Antonio d'Albuquerque Coelho de Carvalho (o velho, nascido no Brazil), 22
de junho de 1667.
13 Capitão general Pedro Cezar de Menezes, 9 de junho de 1671.
16 Dito, Ignacio Coelho da Silva, 17 de fevereiro de 1678.
17 Dito, Francisco de Sá e Menezes, 27 de maio de 1682.
18 Dito, Gomes Freire de Andrada, 16 de maio de 1683.
19 Dito, Artur de Sá e Menezes, 26 de março de 1687.
20 Dito, Antonio d'Albuquerque Coelho de Carvalho (lilho do antecedente 2.°)
17 de maio de 1690.
21 D. Manuel ftolim de Moura, 8 de julho de 1702.
22 Capitão general, Christovão da Costa Freire, 12 de janeiro de 1707.
23 Dito, Bernardo Pereira de Berredo, 18 de junho de 1718.
24 Dito, João da Maia d,a Gama, 19 de julho de 1722.
25 Dito, Alexandre da Serra Freire, 14 de abril de 1728.
26 Dito, J. da Serra, 16 de julho de 1732.
27 Capitão mór, Antonio Duarte de Barros, 21 de março de 1736.
28 Dito general, J. d'Abreu Castello Branco, 18'de setembro de 1737.
29 Dito, Francisco Pedro Mendonça Gorjão, 14 de agosto de 1747.
30 Governador do Maranhão, Luiz de Vasconcellos Lobo, 28 de julho de 1751.
32 Capitão general, Francisco Henriques Mendonça Furtado, 24 de setembro
de 175I.
33 Governador do Maranhão, Gonçalo Pereira e Souza, 29 de novembro de
1753.
34 Capitão general, Manuel Bernardo de Mello e Castro, 2 de março de 1759.
35 Dito, Joaquim de Mello e Povoas, 16 de julho de 1761.
36 Dito, Fernando da Costa Ataide Teiva, 14 de setembro de 1763.
37 Dito, João Pereira Caldas, 21 d? novembro de 1772.
38 Dito, Joaquim de Mello e Povoas<>29 * de julho de 1775.
39 Dito, D. Antonio de Sílles e Noronha, 6 de novembro de 1779.
40 Dito, José Telles da Silva, 13 de fevereiro de 1784.
41 Dito, Francisco Pereira Leite de Feios, 17 de dezembro de 1787.
42 Dito, Fernando Antonio de Noronha, 14 de setembro de 1792.
43 Dito, D. Diogo de Souza, 6 de outubro de 1798.
44 D. Antonio de Saldanha da Gama, 31 de maio de 1804.
45 Dito D. Francisco de Mello Manuel da Camara, 6 de janeiro de 1806.
46 D. José Thomaz de Menezes, 17 de outubro de 1809.
47 Bispo, D. Luiz Brito Homem, interino, 21 de mate de 1811.
48 Capitão general, Paulo José da Souza Gama, 28 de agosto de 1811.
49 Dito, Bernardo da Silveira Pinto da Fonceca, 24 de agosto de 1819.
Junta provisoria, 6 de abril de 1821.
Junta governo, presidida pelo bispo D. Fr. Joaquim de N. S.a da Nazarelh.
(Por carta regia de 29 de julho de 1750 foi creada a capitania do Piauhv, inde
pendente da de Maranhão.)
§. 14. S. PAULO.
A lista dos capitães e locotenentes dos donatarios e dos capitães mores será pu
blicada, quando prompta, nas Memórias Sorocabanas.
Capitaes mores.
Governadores.
Cornmandantes militares.
_ Governadores.
34 Francisco Alberto
Balthasar de SouzaRubim
Botelho, 6dedeVasconcellos■.
outubro de 1812.
Junta provisoria.
i
Bahia.
i
464 BISPOS DE PERNAMBUCO, DO MARANHÃO E DO PARÁ.
SEC. 3 D. Fr- Bartholomeu Manuel Mendes dos Reis, não foi ao bispado, tomou pos-
JLVIli. se por procurador em 18 de dezembro de 1773.
^-—--^ 4 D. Fr. Domingos da Encarnação Pontével, 1." de outubro de 1778.
5 D. Fr. Cyprianno de S. José, 30 de outubro de 1799.
6 Fr. José aa Santissima Trindade, 9 de abril de 1820.
DITOS DE PERNAMBUCO.
DITOS DO PARÁ.
1 Tom. II, pags. 304 e 305. Tratando nosso livro nos consagra estas suas:
do nosso exame da Imago Mundi anno- «Ce savant auteur motive avec poids
tada pelo proprio punho de Colombo »son opinion sur Porigine de cet exem-
na Bib. Colombina o illustre panegyris- »plaire.»
ta ao transcrever algumas linhas do
telligencia, adquire (o autor; um novo Ululo á estima do lastituto Historico cio
Brazil.»
Oxalá se realisem neste sentido os votos do digno censor! A essa illustre
corporação, em cujo gremio tenho a fortuna de contar tantos amigos leaes,
associado cordialmente por multiplos vínculos de seu antigo socio, de seu Io se
cretario e principalmente de acerrimo collaborador nos seus ammes, e havendo
dedicado ao seu lustre o melhor dos meus annos, e zelando por conseguinte,
como o que mais, pelo seu bom nome, sei até apreciar devidamente a admirá
vel frieza, Glha da sabedoria e da nunca assaz louvada prudencia, com que a
mesma corporação, com toda a reserva, pretende julgar do dito 1.° volume em
vista das idéas deste segundo. Quanto a estas, como às da obra toda, algumas
poderáõ e talvez até deveráõ officialmente não ser as suas; e é justamente isso
que constitue, como sempre em casos identicos , a individualidade do histo
riador, e que explica o porque não ha corporação alguma que tenha podido
escrever uma historia, com a requerida unidade, e ate ás vezes, com certo ca
lor e paixão indispensavel para representar a propria verdade.
Uesta-me agora cumprir tambem, como devo, para com todos os que me
coadjuvaram com achegas e auxílios para esta obra, ja de documentos origi-
naes, ja de copias, ja de impressos que eu não possuía. Ajude-me pois o publico
a manifestar a gratidão que a Historia geral do Brazil deve aos subsídios que
para elle forneceram do Brazil principalmente os Srs. visconde de Uruguay,
Francisco Xavier Paes Barreto, Antonio de Meneses Vasconce/to? de Drum-
mond, João Francisco Lisboa, Manuel Ferreira Lagjos, João José Ferreira dos
Santos, Candido Mendes de Almeida, e Antonio Jose da Serra Gomes; de Por -
tugal os Srs. Joaquim Heliodoro da Cunha Rivara , Jorge Cesar de Figariiere,
João Nogueira Gandra e José Manuel Severo Aureliano Basto.
O imperio todo deve o maior reconhecimento aos governos de S. M. F. e de
S. M. C. pelo modo generoso e franco com que ambos abriram os riquíssimos
thesouros de seus archivos, em favor do Brazil, não só a mim (que nunca a tal
respeito tive officialmente incumbencia do governo imperial excepto em Hes-
panha em 1846 e 1847 sobre um determinado assumpto ; pois fora disso só dis
punha do tempo que me sobrava do cargo que exercia , e de que nunca estive
dispensado) como aos Sres, que tiveram ultimamente a tal respeito encargos es-
peciaes. Igual reconhecimento é devido ao governo de S. M. elrei dos Paizes
Baixos, pela franqueza com que facilitou a entrada em seus archivos ao mencio
nado Sr. Joaquim Caetano da Silva, cuja importante colheita nos mesmos ha
sido em grahde parte em beneficio desta obra , segundo melhor se acha con
signado em notas ao proprio texto. Em Lisboa examinei a Torre do Tombo, que
contém documentos, principalmente antigos, e o archivo de Ultramar, onde
estão talvez uns duzentos maços de toda a correspondencia (parte delia cóm se
gundas e terceiras vias, que talvez Portugal cedesse em troco de manuscriptos
interessantes respectivos a elle que possuem nossas híbliothecas) das capitanias
do Brazil, desde o meado do seculo passado até 1808. —Em Hespanba consuUeV
os archivos das índias em Sevilha, o de Simancas, o Deposito hidrografico,
e a preciosa collecção da Academia da *ÍJjstoria , com especialidade os trabalhos
preparados por D. Juan Bautista Munoz, que Navarrete ás vezes não fez mais
que submetter ao prelo. A esta Academia deve o autor, além da mercê especial
de haver querido ser depositaria de uma copia desta historia , em quanto ella
se não imprimia , a mercê não menor de o haver honrado com o titulo de seu
socio.
Acompanha este volume um supplemento ao 1.°, com notaveis addições o
correcções, feitas á vista de documentos encontrados , ou apreciados melhor
posteriormente. A este 2.° volume, ou antes aos dois juntos, publicaremos tam
bem a seu tempo um novo supplemento; não só para rectificarmos ou aditar
mos o que, graças á investigação de tantos actuaes estudiosos da historia pa
tria*, formos adquirindo, como para, se for necessario, discutirmos aquelles
pontos a que nos chame a terreiro algum censor apaixonado, que deixe de ter
presente que, como o orador romano ,
«H;ec scripsi, non otii abundantia; sed amoris erga te.»
FÉ DE ERRATAS.
(não 18). 150-3 desalojais Í^W?tó os^fl7% rSi eHeckoJii;" seculo 17"°
181-20 risque «. Sá». loO-lò ffij. «UB .SlSft8^tí£?.lW 2U"
237 nenu ri enríi ftiw í•i ,. *t i i <>"d}aies. ^ou-j/ remando Pmedo
287-30 1. 13 em vez de 23. 206"3 e 5 exerc tos tld ^V^^J1113 " politica-
janeiro. 342-17 memoriaes. 349-56? «deft^fa ntâ 3^-2l HugWí... 12 de
seos reaes nesse reino». 358 nota 1 ta ififfi.SíS"\í?S,, Sector dos mu-
«cenar. 448-1 1602. 453-21, M^ntod&$b£ i&Jn9?ÍCOmSçar!m- 441"5
«em 23 de junho». 469 nota lin. 4 da 1 ■ coF l?eJ°™° ,ndfPendenda. 459-43
cyll, dado em virtude de sir R. Cecyll Iw'Sj oíe,' egenerado de Ce-
Cosa Se encontra junto á inseripção R^ífcfc.^f^g^ de
L
BIBLIOTHÈQUE
CANTON ALE
LAUSANNE
2 3 DEC, 1967