Bruno Zucuni Prina - Dissertao PDF
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GEOTECNOLOGIAS APLICADAS NO
MAPEAMENTO DAS ÁREAS DE INUNDAÇÃO DO
PERÍMETRO URBANO DE JAGUARI/RS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
elaborado por
Bruno Zucuni Prina
COMISSÃO EXAMINADORA:
A todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para a realização deste trabalho, e não
estão nominalmente citados, o meu muito obrigado.
EPÍGRAFE
“Only those who will risk going too far can possibly find
out how far one can go!”
(T. S. Eliot)
RESUMO
Inúmeros assuntos que estão em destaque atualmente, tanto na mídia como na comunidade
científica referem-se aos desastres naturais, com foco às inundações urbanas. A partir disso,
destaca-se, que o objetivo geral desse trabalho é o de desenvolver uma metodologia de
mapeamento das áreas de risco à inundação, tendo como recorte espacial o município de
Jaguari/RS. Dentre os eventos de inundações que já ocorreram no município, ressalta-se,
como o mais severo e catastrófico, o ocorrido no ano de 1984. Assim, a fim de atingir o
objetivo proposto, passou-se por várias etapas metodológicas. Inicialmente fez-se a coleta de
pontos com receptor de sinal GNSS, houve a geração de um MDE junto a aplicação de
processos fotogramétricos e ao final, obteve-se a modelagem planialtimétrica da área de
estudo. Essa modelagem foi de fundamental importância para a definição das áreas suscetíveis
a inundação, junto a outra variável: o tempo de retorno. Também, a partir dessas bases,
estruturou-se o mapa de perigo, segmentando a cartografia da suscetibilidade conforme os
tempos de retorno de 2, 10 e 73 anos, coincidindo tais áreas com a mancha urbana. Na
próxima etapa criou-se o mapa de vulnerabilidade, no qual foi utilizada a correlação das
informações da densidade de residências do município junto às informações detalhadas de
todas as construções dispostas na área suscetível. Com isso, obteve-se o zoneamento do risco
à inundação, com o cruzamento da cartografia do perigo junto à vulnerabilidade, gerando
quatro classes de risco. Todas as informações foram armazenadas em um banco de dados e
analisadas por meio de um aplicativo desenvolvido com a linguagem de programação Visual
Basic, o BZMAPS. A área de suscetibilidade correspondeu a 15,3% da área urbanizada do
município, com um montante de 401 residências. A área de perigo sintetizou em sua maior
classe (alto perigo) 18 residências. Já no mapeamento da vulnerabilidade, constatou-se, na sua
maior classe (alta vulnerabilidade), um total de 46 residências. Por fim, com o mapeamento
do risco, na classe "risco muito alto", numerou-se 7 residências, em uma área de 1,50 ha, e
para a classe "alto risco" quantificou-se 21 residências em uma área de 2,26 ha. As principais
conclusões a respeito dessa dissertação refere-se que toda a implementação metodológica
dessa pesquisa, com utilização de receptores GNSS, fotogrametria, dados organizados em
SIG, construção de banco de dados, entre outros, foram de grande importância, pois, gerou
um trabalho altamente técnico-científico acerca do mapeamento detalhado das inundações do
município de Jaguari/RS.
Numerous issues that are highlighted today, both in the media and in the scientific community
refers to natural disasters, focusing to urban flooding. From this, it is emphasized that the aim
of this study is to develop a mapping methodology of risk areas to flooding, with the spatial
area the city of Jaguari/RS. Among the events of floods that have occurred in the city, it is
highlighted as the most severe and catastrophic, the event that occurred in 1984. Thus, in
order to achieve the proposed objective, it has gone through several methodological steps.
Initially it is make up the collection points with GNSS signal receiver, there was the
generation of a DEM with the application of photogrammetric processes and in the end, it is
obtained the planialtimetric modeling of the study area. This modeling was of fundamental
importance for the definition of areas susceptible to flooding, along with another variable: the
return time. Also, from these bases, structured if the hazard map, segmenting the mapping of
susceptibility as the return times of 2, 10 and 73 years, coinciding such urban areas. In the
next step it is created the vulnerability map, in which the correlation of information residences
density was used together detailed information of all buildings arranged in the area
susceptible. Thus, it obtained the zoning of the risk to flooding, with the intersection of the
hazard mapping by the vulnerability, generating four risk classes. All information was stored
in a database and analyzed using an application developed with Visual Basic programming
language, the BZMAPS. Susceptibility area corresponds to 15.3% of the urbanized area of the
city, with a total of 401 homes. The danger area synthesized, for the most class (high hazard),
18 residences. Already in vulnerability mapping, it was found, for the most class (high
vulnerability), a total of 46 residences. Finally, with the mapping of risk in the class "very
high risk" it is numbered 7 homes in an area of 1.50 ha, and for the class "high risk" it is
quantified 21 homes in an area 2.26 ha. The main conclusions regarding this dissertation
refers to all the methodological implementation of this research, with the use of GNSS
receivers, photogrammetry, data organized in GIS, database construction, among others, were
of great importance, therefore, it generated a paper scientific technical about the detailed
mapping of flooding of Jaguari/RS city.
INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 14
1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ..................................... 18
1.1 Histórico dos eventos de inundações em Jaguari ............................................................20
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................. 25
2.1 Riscos ambientais e a Ciência Geográfica .......................................................................25
2.2 Os desastres naturais .........................................................................................................27
2.3 Inundações ..........................................................................................................................32
2.3.1 Diferenciação teórica: Cheias, Enchentes, Enxurradas e Inundações ..................................32
2.3.2 Inundações e informações secundárias ................................................................................34
2.3.3 Ações mitigatórias ...............................................................................................................37
2.4 Ramificação conceitual ligadas aos desastres naturais com foco às inundações ..........38
2.4.1 Suscetibilidade .....................................................................................................................39
2.4.2 Perigo ...................................................................................................................................40
2.4.3 Vulnerabilidade ....................................................................................................................43
2.4.4 Risco ....................................................................................................................................46
2.5 Geotecnologias ....................................................................................................................51
2.5.1 Ferramentas e análises do Geoprocessamento .....................................................................52
3 MATERIAIS E MÉTODOS ...................................................................... 60
3.1 Materiais .............................................................................................................................60
3.2 Métodos específicos ............................................................................................................62
3.2.1 Coleta de dados altimétricos ................................................................................................62
3.2.2 Validação do MDT ..............................................................................................................68
3.2.3 Utilização de fotografias aéreas e criação do MDT .............................................................70
3.2.4 Mapeamento das áreas suscetíveis .......................................................................................71
3.2.5 Estimativa do tempo de retorno das inundações ..................................................................73
3.2.6 Mapeamento das áreas de perigo .........................................................................................74
3.2.7 Mapeamento da vulnerabilidade ..........................................................................................75
3.2.8 Zoneamento do risco ............................................................................................................79
3.2.9 Organização dos dados para o uso do aplicativo BZMAPS ................................................80
4 RESULTADOS OBTIDOS ........................................................................ 82
4.1 Resultados da validação do MDT .....................................................................................82
4.2 Análise da suscetibilidade..................................................................................................84
4.3 Tempo de retorno das inundações ....................................................................................88
4.4 Análise do Perigo à inundação ..........................................................................................92
4.5 Análise da vulnerabilidade ................................................................................................94
4.6 Zoneamento do risco ..........................................................................................................96
4.7 Organização dos dados finais ............................................................................................98
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................... 102
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................. 105
INTRODUÇÃO
Inúmeras são as inundações que podem ser citadas no município de Jaguari, sendo
assim, a seguir serão discutidos alguns dos eventos que ocorreram no município, enfatizando,
os de maiores proporções, com ênfase, à inundação que ocorreu no ano de 1984.
Há alguns anos, com o menor desenvolvimento das tecnologias da informação, os
dados eram transmitidos de forma deficiente, e muitos dos registros (independente da área)
não eram armazenados, principalmente os inter-relacionados aos desastres naturais, como por
exemplo, das inundações. No município de Jaguari essa realidade é um pouco divergente, e
são encontrados vários registros de inundações pretéritas, tendo o evento de 1941, como
sendo o mais antigo, dentre os registros encontrados.
O museu municipal destaca, principalmente por meio de fotografias analógicas, o
registro desse evento, no qual é considerada a segunda maior inundação do município. Após
esse ano, várias inundações ocorreram, porém, poucas foram expressivas, ou registradas. No
que tange a essa questão, novamente com os registros do museu municipal, após a inundação
de 1941, há o relato do evento ocorrido no ano de 1972.
Após essa data, conforme o levantamento realizado por Reckziegel (2007) entre 1980
e 2005, o município de Jaguari registrou 3 cenas de enchentes, sendo elas em: outubro/1982,
outubro/1997 e abril/1998. A mesma autora, quantificou, no mesmo período 3 cenários de
enxurradas, registradas em: maio/1984, novembro/1997 e outubro/2002.
O evento ocorrido em maio de 1984, foi o mais catastrófico ao município,
independente de classificá-lo como enxurrada ou inundação. Inúmeros são os registros desse
21
Um fato de grande importância na análise do quão severo foi o evento de 1984, pode
ser contextualizado na análise de alguns cenários antes e depois do evento. Algumas áreas do
município antes do evento eram habitadas e com o evento, muitas casas foram levadas pela
enxurrada, e, até hoje, são mínimas as construções dispostas nesses locais. Como alternativa
secundária de uso desses espaços há, por exemplo, a pecuária, presente nos dias atuais. A
disposição espacial1 desses locais está contextualizada na Figura 2, nas áreas alaranjadas.
Figura 2 - Localização espacial de algumas áreas sem edificações (áreas alaranjadas) que a
inundação de 1984 proporcionou.
Fonte da imagem de satélite: Google Earth.
Após o ano de 2005, o qual é limítrofe do trabalho realizado por Reckziegel (2007), o
município de Jaguari sofreu, ainda, com quatro cenas de inundações. A primeira em janeiro de
2010, em outubro de 2012 e, recentemente em junho de 2014 e outubro de 2015. Em 2014,
deve-se frisar que o rio Jaguari subiu cerca de 10 metros em relação ao seu nível normal,
inundando algumas casas, conforme Figura 3.
1
Esses registros foram contextualizados junto a alguns moradores de Jaguari, sem existir formas de
comprovação, nem mesmo fotografias anteriores dos locais.
23
(A) (B)
(C)
Figura 3 - Inundação de julho de 2014 em Jaguari.
Fonte: (A) Cristiano S. Moraes, (B) Miguel Monte, (C) localização das fotografias - Google Earth.
Ainda, no ano de 2015, ocorreu outro evento de inundação no município, com o nível
do rio Jaguari subindo cerca de 11,75 m acima do nível normal, em seu pico, por volta das
23:00 h do dia nove (9) de outubro. Destaca-se, que, nesse evento, muitos locais do município
ficaram inundados, sucedendo grandes problemas à população local. Entre os registros desse
evento, tem-se a Figura 4, a qual ilustra algumas das áreas inundadas.
No geral, notifica-se a preocupação das inundações no município, tal qual destacado
no Plano Ambiental (JAGUARI, 2011, p. 53)
A B
C D
Bêz e Figueiredo (2011, p. 62), ainda, sublinham que "para trabalhar a comunidade em
sua subjetividade, relações e processos deve-se partir do lugar, necessitando que se conheça a
história e a espacialidade da mesma, procurando entender o que ali acontece". Assim,
adotando-se o conceito de lugar, é possível analisar como a geografia socioambiental pode
estar composta, porém, relata-se que esse conceito deve ser entendido de uma forma que não
seja isolada (linear), ou seja, devem ser consideradas as especificações de cada lugar, porém
com um tratamento geral, unindo as características particulares de cada lugar para entender a
dinâmica global do território de uma determinada paisagem.
Referente ao conceito de lugar, o qual é uma das cinco categorias das análises
geográficas (juntamente com o espaço, a paisagem, o território e a região), algumas
dicotomias podem ser tratadas, conforme destaca Ferreira (2000), realçando as relações entre
a globalização e o individualismo. Assim, no lugar encontramos a totalidade sem com isso
eliminarem-se as particularidades, pois cada sociedade produz seu espaço, determinam os
ritmos da vida, os modos de apropriação expressando sua função social, seus projetos e
desejos.
Assim, de forma resumida, a Geografia é uma das várias ciências que trabalha com as
questões socioambientais, e, dessa forma, um dos desafios, nessa linha de abordagem, é tentar
equacionar as questões intrínsecas a essa temática, ou seja, verticalizar os enfoques e as
metodologias de análises, discutindo as especificações de cada lugar.
Ainda, deve-se destacar que a ciência geográfica está indexada as análises dos riscos
ambientais, principalmente no que se refere as relações sociais (VEYRET, 2007), com as
discussões entre o envolvimento do homem junto ao meio. Tal ramificação teórica (entre
homem e meio) é tratada com vigor nesse ramo da ciência. Além dessa relação (na qual se
encaixa, e muito, a análise da vulnerabilidade), pode-se destacar que a Geografia enquadra-se
perfeitamente no que tange ao ato de cartografar o risco (dimensão espacial), bem como, no
que diz respeito às análises globais a respeito dos riscos ambientais (VEYRET, 2007).
Intrínseco a este assunto, Reckziegel (2007) explicita que na Geografia houve uma
maior ascensão de trabalhos, referente às áreas de riscos, a partir da década de 1990. Tal fato
pode ser atrelado ao aumento populacional, que gerou um empilhamento de construções nas
áreas urbanas, gerando, inclusive a ocupação de áreas consideradas de risco.
Deve-se destacar, ainda, a grande evolução das ferramentas para as análises dos riscos,
com aplicações de técnicas com transferências de informações em tempo real. Essa agilidade
de transmissão, junto a necessidade das informações, é a forma como pode ser definido o
27
2
Base de dados que Santos (2007) obteve por meio da Universidade Católica de Louvain, Bélgica.
31
recorrência histórica dos eventos, para que assim fosse definido o zoneamento do risco à
inundação.
suscetíveis à inundação, para todo o continente africano, realizando uma análise global sobre
o gerenciamento das inundações.
Após uma análise das variações conceituais dos desastres naturais e alguns trabalhos
dessa temática, explicita-se, que, a denominação, para essa dissertação, será àquela que
caracteriza o termo como um evento de origem natural. Ademais, complementa-se o conceito
de "desastre" pela sua incidência em áreas correlatas à ocupação urbana. Ainda, destaca-se,
que serão considerados apenas os desastres naturais simultâneos à ocorrência de inundações.
Neste trabalho utiliza-se o termo desastres natural, relacionados aos eventos de
dinâmicas fluviais, que causam perdas ou danos a população.
2.3 Inundações
Já, a literatura de Köene (2012) destaca que uma "enchente" é caracterizada quando
ocorre o aumento do nível médio do rio, porém sem ocorrer o transbordamento das águas.
Por "enxurrada", a Defesa Civil (CASTRO, 1998, p. 63) sugere como sendo o
"volume de água que escoa na superfície do terreno, com grande velocidade, resultante de
fortes chuvas".
E, por inundação, ainda com a Defesa Civil (CASTRO, 1998, p. 96), há a seguinte
caracterização
[...] é o termo utilizado para o excesso do volume de água que não consegue ser
drenado pelo canal principal (leito menor), inundando as áreas ribeirinhas (leito
maior ou planície de inundação), de acordo com a topografia e que abrigam vias de
circulação e transporte, áreas residenciais, recreativas, comerciais e industriais
(ECKHARDT, 2008, p. 26 e 27).
Ribeiro e Lima (2011) enfatizam que as inundações são eventos que ocorrem a muito
tempo, tal qual a existência das cidades ou dos aglomerados urbanos. Porém, antigamente elas
não eram consideradas perigosas, muito pelo contrário, eram benéficas, tal fato é
contextualizado por meio dos inúmeros registros históricos da civilização egípcia, no rio Nilo
(CASTRO, 2000).
O povo egípcio beneficiava-se junto às inundações devido as cheias do rio, e, com
isso, quando o rio voltava ao seu leito normal, as terras estavam férteis para a agricultura.
No mundo contemporâneo, com as inundações urbanas, deve-se retratar que as
mesmas ocorrem de forma natural, devido aos altos índices pluviométricos. O que pode variar
é o volume e o tempo da precipitação, porém, por mais que ocorram eventos extremos, todas
as ações são acentuadas junto a ação antrópica, com o processo de urbanização, gerando a
impermeabilização das superfícies (ruas, calçadas, etc.) e a canalização da hidrografia
(RIBEIRO; LIMA, 2011).
Tucci e Bertoni (2003) explicitam que as inundações são associadas a dois processos
distintos, os quais ocorrem de forma integrada ou também de forma separada, as quais são as
inundações ocorridas devido à urbanização ou as de origem natural (localizadas nas áreas de
várzeas). Tais inundações ocorrem tanto no meio urbano como no rural. Assim, a seguir serão
destacados os problemas referentes à população e conseguinte em relação aos fatores naturais
que influenciam no processo.
Um dos maiores problemas, que influencia nas inundações, independente da
bibliografia a ser citada, é o adensamento populacional, o qual, principalmente, a partir do
século XX, mostrou-se mais acentuado.
Essa ocupação, nas áreas de risco, é totalmente desorganizada, tal fato, foge do
controle do poder público, pois, este setor consegue ter domínio apenas das áreas (terrenos) de
médio ou alto valor imobiliário, a qual é denominada como cidade formal (TUCCI, 2005).
Um fato muito interessante reflete-se na análise da bibliografia de Tucci (2005, p. 30), o qual
destaca que o gerenciamento atual dos riscos naturais é deficiente, além de serem medidas
preventivas sem a mínima intenção de prevenir, conforme identificado no trecho a seguir
35
Santos (2012) enumera alguns elementos que podem ser combinados para melhor
expressar uma inundação, são eles: o relevo, o clima e a impermeabilização do solo. Porém, o
autor, destaca que o ideal é realizar uma análise integrada com vários elementos do meio
físico, gerando assim, a partir das informações altimétricas um MDT, e atrelando a ele um
banco de dados georreferenciado.
Nessa linha de raciocínio, é visto que para caracterizar de forma global uma
inundação, diversas são as informações a serem correlacionadas, porém, ressalva-se que nessa
pesquisa, adotar-se-ão como variáveis de análise: as informações altimétricas, a localização da
população e o inventário de fenômenos fluviais na área de pesquisa, bem como o uso de uma
base de dados geocodificada.
Sobre as inundações, pode-se fazer um paralelo com o que existia no passado,
principalmente sobre o planejamento urbano. Sabe-se, que na maioria das vezes, quando um
grupo de pessoas, formavam uma cidade, e instalavam-se em determinado território, as igrejas
eram primeiras obras a serem construídas. Sendo assim, é raríssimo, encontrarmos uma
inundação, contemporaneamente, que atinja essa construção, tal argumento é destacado, pelo
fato que, desde o passado, o homem já tinha a ideia de realizar suas construções em
superfícies topográficas mais altas do relevo, minimizando, assim, as influências das
inundações (TUCCI, 2005).
Com o foco de reduzir os riscos devido a ocorrência das inundações, inúmeras podem
ser as obras de engenharia a serem construídas, sendo esse, um tipo de medida estrutural
(KRÜGER; DZIEDZIC, 2014). Essas podem ser divididas em medidas extensivas, nas quais
tem o foco de alterar as relações existentes entre a precipitação e a vazão; bem como em
medidas intensivas, que atuam sobre o rio, e podem ser classificadas em: medidas que
aceleram o escoamento superficial, que diminuem a velocidade de escoamento e as que
realizam desvios nas trajetórias do escoamento (TUCCI, 2005).
Deve-se enfatizar que as medidas estruturais possuem "defeitos", pois, as mesmas não
são implantadas a fim de proteger de forma total uma determinada população, pois, caso
contrário, o local estaria protegido do maior evento (inundação) possível, e, economicamente,
tais obras poderiam ser muito custosas, sendo inviável a sua implantação.
38
Tucci (2005, p. 69) destaca que essa medida "pode criar uma falsa sensação de
segurança, permitindo a ampliação da ocupação das áreas inundáveis, que futuramente podem
resultar em danos significativos".
Uma provável solução, para implementações de menores gastos, são as medidas não
estruturais, as quais junto as anteriores (ou não), podem reduzir de forma significativa os
prejuízos. As medidas não-estruturais são medidas preventivas, podendo caracterizarem-se
como ações pré-evento. Pode-se evidenciar como exemplos de implantação dessas medidas, a
"previsão e alerta de inundação, zoneamento das áreas de risco de inundação, seguro e
proteção individual contra inundação" (TUCCI, 2005, p. 69).
Dentre inúmeras medidas não estruturais, pode-se destacar as ações de mapeamento do
solo urbano, por meio do desenvolvimento de zoneamentos das áreas de risco. Nessa linha,
deve-se detalhar, a grande contribuição teórico-técnica do Laboratório de Geologia Ambiental
da UFSM (LAGEOLAM). Entre as contribuições do laboratório, cabe destacar a aplicação de
zoneamentos de risco nos municípios de São Borja (RIGHI; ROBAINA, 2012), São Gabriel
(TRENTIN; ROBAINA; SILVEIRA, 2013), Santa Cruz do Sul (MENEZES, 2014), Itaqui
(SAUERESSIG; ROBAINA, 2015), principalmente.
No que se remete a legislação sobre as áreas de risco, enfatiza-se, que dependendo da
análise a ser feita, a mesma possui um princípio, um tanto equivocada. Tal fato pode ser
analisado, quando uma cidade sofre a incidência de um desastre, a primeira medida a ser
tomada, é o município acionar a "situação de emergência". Assim, como resultado dessa
medida, será a geração (posterior ao evento) de renda ao município.
Tendo em vista essa situação, deveriam existir medidas que incentivassem os
municípios junto a recomendações pré-evento e não com medidas após a ocorrência dos danos
(TUCCI, 2005).
2.4 Ramificação conceitual ligadas aos desastres naturais com foco às inundações
2.4.1 Suscetibilidade
2.4.2 Perigo
ideia de que o perigo depende da incidência do evento sobre a população, ou seja, para ter
uma ameaça (um perigo), esta precisa afetar alguém, nesse caso à população (ou a seus bens).
Na geografia dos riscos, de forma geral, o conceito de perigo é sintetizado como sendo
um evento capaz de causar perdas, cobrindo certa gravidade, seja qual for o evento que gere o
dano (por exemplo, as inundações, secas, terremotos, erupções vulcânicas, entre outros)
(CASTRO, 2000).
Castro (2000) segmenta o entendimento do vocábulo perigo hierarquizado em três
classes: perigo natural, antrópico e ambiental. Destarte, caracteriza-se o perigo natural como
tendo a própria natureza como responsável por causar os danos, o perigo antrópico no qual
tem o homem como gerador dos danos; e o perigo ambiental que é caracterizado pela
combinação dos perigos natural e antrópico.
A fim de analisar um pouco sobre a confusão terminológica do perigo, Magnanelli
(2012) sugere que essa nomenclatura, também conhecida como hazard (do inglês), é definida
como uma fonte ou situação potencial de causar alguma lesão ou doença, danos ao meio
ambiente, bem como a combinação dos dois.
Já Cutter e Press (2001) definem hazard, como sendo um indício de ameaça às
pessoas, bem como de seus objetos, e enfatizam que existem dois tipos de perigos: os naturais
(como os terremotos) e os tecnológicos (provocados por acidentes químicos).
Fica nítido, que com os dois últimos autores citados, o conceito de perigo caracteriza-
se como sinônimo de hazard. Essa é uma das questões da indefinição dos vocábulos, ou seja,
essa incompatibilidade conceitual.
A confusão no entendimento conceitual do perigo, de fato, inicia-se ao apreciar as
bibliografias redigidas em línguas estrangeiras, como por exemplo, em inglês. Com esse foco,
há um arsenal de pesquisadores que utilizam a terminologia hazard para traduzir o conceito
de perigo (conforme anteriormente), porém, há autores que utilizam o conceito de hazard e
perigo de forma distinta, sem um ser tradução do outro.
Sendo assim, deve ser ressaltado que a problemática inicial para entender o conceito
de perigo, está interligada a tradução correta da palavra (do inglês para o português).
Veyret (2007) conceitua hazard de forma distinta da de perigo. E, como sinônimo de
hazard, há a terminologia "álea". Sendo assim, resumidamente, hazard ou álea para Veyret
(2007, p. 24) define-se como um "acontecimento possível [...]", e perigo como as
consequências de uma álea (hazard) incidentes sobre os indivíduos.
De forma geral, uma das formas para analisar o perigo é com o uso de outra variável, o
tempo de recorrência de um evento.
42
Tal fato é sugerido por Monteiro e Kobiyama (2013), como sendo de fundamental
importância para a construção cartográfica do perigo (o mapa de perigo), e essencial para
caracterizar e delimitar as áreas perigosas, ou seja, para evidenciar o grau de perigo de cada
local. Os autores ainda discutem que o mapa de perigo a inundação também tem forte ligação
com a modelagem dos dados, expressa pelo MDT, interferindo no resultado e na qualidade
final da cartografia gerada.
Similar aos autores contribui Ayala-Carcedo (2000) informando que para haver a
conceituação do vocábulo perigo (ou do espanhol peligro) deve-se adotar, como variável
principal de análise, a velocidade de acontecimento (ou seja, o tempo de retorno).
Já que o conceito de perigo converge ao tempo de recorrência de um evento, faz-se
necessário destacar que o tempo de retorno caracteriza-se, matematicamente, como o inverso
da probabilidade de ocorrência do fenômeno, representando, dessa forma, o tempo, em média,
que o evento terá possibilidade de se replicar (TUCCI; BERTONI, 2003).
A metodologia de Tucci (1993, p. 640) expressa que “a escolha do tempo de retorno é
arbitrária e depende da definição do futuro zoneamento”. Dessa forma, pode-se constatar, que
conforme o resultado obtido no tempo de retorno (a cota altimétrica correspondente a
determinado tempo de retorno), o futuro zoneamento (do risco) estará atrelado a essa questão.
Dessa forma, fica visível a grande importância do ato de cartografar o perigo.
Um fator de destaque, verificando e contextualizando as informações tangentes ao
tempo de retorno, é que de “forma geral as atividades humanas contribuem diretamente para o
aumento da probabilidade de ocorrência de inundações e dos impactos negativos associados”
(CUNHA; TAVEIRA-PINTO, 2011, p. 106), aumentando o tempo de recorrência dos
eventos.
O mapa de perigo, especificamente, é importante para arquitetar as atividades de
desenvolvimento, para planejamento de emergência e para desenvolvimento de políticas
(JHA; LAMOND, 2012). Dessa forma, é visto a grandiosa importância do mesmo.
Após a análise de várias bibliografias, fica clara a importância do mesmo para o
zoneamento do risco. Não obstante, ressalta-se que sua definição está amplamente dependente
do tempo de retorno do evento. Assim, este conjunto de definições, é a forma teórica do
entendimento de perigo a ser adotada nesse trabalho adicionando a ideia de que os maiores
adensamentos traduzem, inclusive, as maiores áreas com concentração populacional, logo um
maior perigo.
Dessa maneira, o perigo será segmentado em três (3) classes, sendo que os locais com
maior perigosidade serão os que unirem: a maior suscetibilidade (as menores cotas
43
altimétricas do terreno), aos locais com maior tempo de recorrência das inundações (TR2,
TR10, TR73), localizadas, exclusivamente, nos locais em que há, simultaneamente, a
localização da população. Resumidamente, esta é a definição prática de perigo a ser adotada
nesse trabalho.
2.4.3 Vulnerabilidade
de risco), a ideológica (as formas nas quais o ser humano interage com o meio
natural, ou seja, a famosa dicotomia homem e meio), a cultural (referente ao
papel da mídia na divulgação de informações sobre o meio e os desastres), a
educativa (refere-se ao grau de preparação da população para com o evento), a
ecológica e a institucional;
Ratick (1994) define a vulnerabilidade em função da exposição (referente a
intervenção humana no meio natural, com a construção de diferentes usos do
solo), resistência (é a capacidade de uma população e seu meio construídos de
resistir aos eventos contraditórios), resiliência (capacidade de uma população
se recuperar de um desastre), recuperação (capacidade de uma população de se
reconstruir após um desastre), aprendizagem (capacidade da população de
aprender com os desastres já ocorridos) e adaptação (capacidade da população
em conviver com a ocorrência de desastres).
Ainda, com a literatura de Maskrey (1998), há explícito que os mesmos processos de
geração da vulnerabilidade (sociais, políticos e econômicos), também influenciam nas
ameaças. E, nesse mesmo raciocínio, ocorre no fato contrário, ou seja, os processos naturais
(que são denotados para caracterizar uma ameaça) é influência direta na caracterização da
vulnerabilidade.
A vulnerabilidade é uma variável que sobreleva o grau de um desastre, assim sendo, o
mapeamento da mesma é de extrema importância (CASTRO, 1998). Porém, deve-se ressaltar,
que nem sempre, os locais com as maiores vulnerabilidades serão os que desencadearão os
maiores desastres, pois, deve-se levar em conta, além de tudo, a suscetibilidade do local
juntamente com a existência ou não do perigo.
Além do problema conceitual da vulnerabilidade, por possuir várias especificações, a
mesma, é uma variável de difícil mapeamento. Por exemplo, na análise de riscos ambientais
ao destacar a vulnerabilidade social, a mesma possui um arsenal de dados a serem levados em
consideração, e, ao mesmo tempo, muitos desses dados possuem classificações subjetivas,
dificultando seu mapeamento. Mesmo assim, com toda a dificuldade de mapeamento,
salienta-se, que é de extrema importância a sua caracterização (da vulnerabilidade em geral),
visto que a mesma é um dos pilares para a definição do risco (GOERL; KOBIYAMA;
PELLERIN, 2012).
A vulnerabilidade pode ser entendida, por meio da explanação da Defesa Civil
(CASTRO, 1998, p. 170), como um conceito caracterizado a partir do entendimento de quatro
ramos conforme trecho a seguir
45
2.4.4 Risco
Vários são os motivos que levam uma determinada população a se instalar em áreas
consideradas com riscos ambientais. Entre alguns exemplos, pode-se destacar a falta de
condições financeiras para adequarem-se às áreas com melhor infraestrutura, fato que pode
estar ligado a especulação imobiliária (SANTOS; CHAVES, 2009).
Assim, a população, sem muitas alternativas, acaba por ocupar áreas desvalorizadas
das cidades, como, por exemplo, as localizadas em encostas de morros ou em planícies de
inundação (áreas irregulares e desvalorizadas monetariamente). À vista disso, há a união de
uma camada populacional de alta vulnerabilidade social (pobre) às áreas suscetíveis (área
sujeita a incidência de determinado evento), caracterizando, espontaneamente, uma situação
de risco.
Após uma breve contextualização de como é formada uma área de risco, deve-se
salientar o marco inicial para os trabalhos referentes a essa temática, no qual, dentro das
ciências sociais, é encontrado, entre os anos de 1950 e 1960 com as pesquisas de White.
Nessa época, a caracterização dos desastres "naturais", apresentava um pensamento voltado
para o ser humano, sendo ele, o responsável por transformar um evento natural em desastroso.
Exemplificando, pode-se destacar que se um evento ocorresse em um lugar deserto, o mesmo
não era considerado um desastre, pois não atingia diretamente o ser humano (MASKREY,
1998).
A partir do início das pesquisas, vários conceitos eram utilizados a fim de definir todas
as particularidades dos desastres, entre elas a terminologia "risco" (ou do inglês risk, ou,
ainda, do espanhol riesgo). Destarte, a seguir será esclarecida uma série de definições
específicas sobre esse termo.
47
qualificação dos riscos podem ser tratadas como um "ato de Deus", ou seja, sendo
acontecimentos inevitáveis e naturais.
Ainda, Maskrey (1998) destaca que o cenário de risco é caracterizado perante a
relação de distintas escalas de análise. Resumidamente, a ideia que o autor salienta é que o
risco em uma análise individual (em uma área mais restrita) seria consequência de um risco
em nível global (em uma menor escala).
Já para a Defesa Civil (CASTRO, 1998, p. 147), a ideia de "risco" é segmentada em
cinco ramificações para definir o conceito:
(acontecer uma colisão com outro carro/objeto), ao tomar banho em uma piscina
(afogamento), etc. Ainda Ayala-Carcedo (2000) conceitua o risco como a junção da
probabilidade de ocorrência de um evento, juntamente com a exposição de pessoas e seus
bens e a vulnerabilidade. Porém, o autor, evidencia que em algum lugar deserto, onde não há
exposição de pessoas (e de seus bens), o risco não existe.
Teles (2010) especifica, também, que o risco zero (nulo) existe. A autora referencia
que nos locais onde há a incidência de determinado evento, e, ao mesmo tempo é desabitado,
tal evento classifica-se como de risco zero, pois não há envolvimento de perdas ao ser
humano. Teles (2010, p. 33) ainda destaca, fazendo referência a essa questão, que "os riscos
resultam de decisões humanas, mas surgem de um modo involuntário", assim, verifica-se que
se não há envolvimento do ser humano em locais com ocorrência de determinado evento, não
há risco, ou seja, o risco é zero.
Cutter e Press (2001) associam a definição de risco como sendo a probabilidade de
ocorrência de determinado evento (de acontecer um perigo). Ainda Cutter e Press (2001)
enfatizam que o mapeamento e a definição de distintas classes de riscos são importantes pelo
fato de que elas definem as áreas de segurança e aceitabilidade, resultando, dessa forma, nos
locais apropriados e não apropriados à moradia.
Reckziegel (2007) informa que perante a interação do meio natural (imposição de
obstáculos para a ocupação passiva entre o homem e natureza) com o meio social (é o
principal causador do risco, visto a ocupação populacional nas áreas suscetíveis) ocorre o
surgimento das áreas de riscos, ou seja, é nítida a influência do ser humano no processo de
análise de riscos.
Corroborando com essa ideia, no trabalho de Veyret (2007, p. 23) há a especificação
de que "o risco é uma construção social". Deve-se destacar que só há risco quando existir a
presença da população (KRON, 2002; VEYRET, 2007), e, o mesmo traduz uma ameaça às
pessoas (e/ou aos seus bens) bem como norteia a percepção de um perigo.
Além disso, cabe destacar que o risco pode ser oriundo da interação de um perigo (que
é um evento não controlável) com uma exposição (que é um evento controlável)
(MAGNANELLI, 2012).
Após as considerações específicas sobre a definição do risco, é importante fazer
referência a alguns detalhes particulares que visam a caracterização global do risco, gerando
assim, um melhor entendimento do conceito.
Na análise dos riscos, um fato a destacar, ao analisar a bibliografia de Veyret (2007) é
que a problemática de ocorrer um episódio de desastre (crise) a uma determinada área de risco
50
de uma cidade acaba por ser um efeito benéfico à mesma. Tal fato pode fazer com que a
cidade realize um maior investimento em estudos mitigatórios, com maiores medidas de
prevenção, percepção e gestão, minimizando, dessa forma o risco no local (VEYRET, 2007).
Referente a gestão dos riscos, é importante salientar, que o único objetivo que essa medida
visa é na minimização dos impactos à população, pois, eliminá-los torna-se impossível
(TUCCI, 2005).
Veyret (2007) frisa que para poder realizar um mapeamento de uma área de risco é
muito importante o conhecimento de indicadores de eventos passados, e organizar
informações com dados confiáveis e em escalas de análises (de mapeamento) compatíveis.
Esses mapas incorporam informações dentro do contexto de dados útil à tomada de decisão
por parte das políticas públicas municipais (JHA; LAMOND, 2012).
No mapeamento das áreas de risco, um fato a destacar, que está sublinhado no trabalho
de Veyret (2007), é que os maiores riscos (as catástrofes) são aqueles que ocorrem (ou
ocorreram) em áreas limítrofes às mapeadas com baixa frequência de incidência de evento
(baixo tempo de retorno), ou seja, são os eventos extremos.
Nesses locais, onde o evento ocorre esporadicamente (com baixa frequência), deve-se
ter atenção, pois essas áreas são simplesmente ignoradas (devido a baixa frequência de
ocorrência do evento), na maioria das vezes, tanto pela população como pelos órgãos
públicos. Por outro lado, nas áreas de alto tempo de retorno dos eventos, em vários casos, a
população deve se adaptar às ocorrências frequentes, principalmente no tocante às inundações
(KRON, 2002).
Ao trabalhar com a ideia de risco, inúmeras são as análises a serem produzidas. Um
exemplo, talvez o mais importante (e mais comum), é, gerar estudos de zoneamento do risco,
porém, essa medida, inclusive, pode gerar outro risco, o econômico (VEYRET, 2007). Tal
fato é destacado, visto que, ao sinalizar as áreas de riscos, consequentemente há uma
delimitação de superfície, logo, uma desvalorização financeira a estes locais (terrenos). De
modo, ao tratar de um risco ambiental, cria-se outro, o econômico.
Outro caso, similar ao anterior, trata-se de um dos alvos da vulnerabilidade, as
pessoas. Com o crescimento urbano, além de adensar as áreas impróprias à moradia (áreas de
riscos), ocorrem maiores registros de violência e problemas na segurança pública, gerando,
dessa forma, um risco social (VEYRET, 2007).
Tucci (1993) destaca que é essencial o levantamento topográfico das áreas de riscos à
inundação as quais possuem tempo de retorno menor ou igual a 100 anos, verificando que
51
esse é um ponto limítrofe para zonear as áreas de risco, e após esse limite, o risco, por
exemplo, pode ser classificado como “não considerado” ou “sem estimativa de risco”.
Corroborando com a ideia do autor anterior, o Instituto Geológico de São Paulo (IG,
2012) explicita que a variável denominada “risco à inundação” (para uma determinada
população) é intimamente ligada ao tempo de retorno de um evento. Assim, é visível a
importância da estimativa do tempo de retorno, pois essa variável delimita um futuro
zoneamento da área de estudo em distintos graus de risco.
São várias as metodologias utilizadas para realizar o zoneamento dos riscos
ambientais, a maioria delas utilizam o cruzamento de informações espaciais, estruturadas, por
exemplo, com o uso do SIG. Um exemplo pode ser encontrado no trabalho de Khatibi (2011),
o qual realiza a quantificação do risco por meio de um resultado matemático obtido com o
cruzamento da probabilidade de ocorrência de um evento juntamente com o perigo.
Dessa forma, verifica-se que todo zoneamento do risco perpassa pela interação de
diferentes bases cartográficas, visto a complexidade de informações, evidenciando, inclusive,
a importância do SIG.
Para finalizar, cabe salientar, que o conceito de risco utilizado nesse trabalho está
caracterizado na união de dois planos de informação: a vulnerabilidade junto às áreas de
perigo. Sendo que será utilizada a vulnerabilidade física, levando em consideração a
espacialização das residências junto a sua densidade. Já o perigo será caracterizado por meio
da suscetibilidade de ocorrência de inundação acrescida das áreas com distintos tempos de
recorrência do evento correlacionando as áreas com ocupação urbana.
2.5 Geotecnologias
Entre os diversos avanços tecnológicos, que vem a contribuir com a vida do ser
humano, Chargel e Hora (2013) exaltam o SIG, destacando que com esse sistema é possível a
realização de análises espaciais (dos fenômenos geográficos), de forma muito mais
simplificada. Exemplificando, pode-se citar a facilidade na detecção de padrões e na
visualização e manipulação de dados a campo, contextualizando, dessa forma, o entendimento
global dos fenômenos naturais de um determinado recorte espacial.
Na visão de Chargel e Hora (2013), está explícito que o geoprocessamento é uma
disciplina que dispõe da utilização de técnicas matemáticas e computacionais, a fim de
tangenciar as abordagens e o tratamento das informações geográficas.
Sendo assim, ressalta-se que com uso das técnicas de geoprocessamento, organizando
os dados em estruturas de SIGs, há rendimentos imensuráveis para a análise e o
gerenciamento de dados espaciais. Referente a utilização destas técnicas nesta dissertação,
destaca-se que as mesmas são de fundamental importância, tanto na coleta de dados espaciais,
na organização e gerenciamento, como na obtenção e disponibilização das informações finais.
Um SIG, conforme descrito por Kavanagh (2003), pode ser dividido em quatro
grandes componentes, os dados de coleção e entrada, dados de armazenamento e recuperação,
dados de análises e dados de exibição e saída.
Destaca-se que o geoprocessamento é uma ferramenta excelente para o planejamento
territorial ordenado, podendo ser associado aos estudos de impacto ambiental (DIAS et al.,
2002). Assim sendo, justifica-se que as técnicas e tecnologias de geoprocessamento são
essenciais para o estudo e planejamento do território, incluindo os estudos ambientais, como
por exemplo, os correlatos às inundações.
Alcantara e Zeilhofer (2006, p. 19) destacam que os procedimentos que envolvem a
referida área (geoprocessamento) são “voltadas para o estudo específico através da coleta e
tratamento de dados espaciais, o geoprocessamento auxilia na análise de ocorrências reais e
no estabelecimento de propostas para a prevenção de eventos futuros”.
No trabalho de Ribeiro e Lima (2011) é relatado que o uso do geoprocessamento
(junto a simulação hidrológica e hidráulica) gera um grande potencial no planejamento
territorial e no gerenciamento dos recursos hídricos, facilitando os gestores públicos quanto a
tomada de decisões.
Nessa mesma linha, Chargel e Hora (2013, p. 1 e 2) evidenciam que
54
3
É um efeito em que a frequência real (emitida por uma fonte) é diferente da denotada por um observador
(CARVALHO, CHAMMAS e CERRI, 2008).
55
Ela é muito similar ao GPS, o seu motivo de existência foi para solucionar e
proporcionar o posicionamento 3D e ter velocidade. O GLONASS surgiu no ano de 1970,
porém ficou operacional apenas no final de 1995. A sua composição de satélites, desde seu
lançamento, foi sendo reduzido, fato explicado pelo não lançamento de satélites reservas, os
quais deveriam substituir os mais antigos.
Em 2005, a constelação constava com apenas 12 satélites, se bem que em alguns
momentos esse número foi até menor (MONICO, 2007). O GLONASS, assim como o GPS,
contém três segmentos, apesar de que o de usuários é bem mais reduzido em comparação ao
GPS (MONICO, 2007).
Apesar de o GLONASS ter atravessado nos últimos anos por uma série de perdas de
satélites (perda motivada pela vida útil de um satélite), ele vem se recuperando, e há indícios
de que essa constelação crescerá mais ainda, bem como haverá uma modernização nesse
sistema.
Para reforçar essa afirmativa, há a expectativa quanto ao lançamento de novos
satélites (MONICO, 2007). Verifica-se, que conforme o exposto por Prina et al. (2013) ao
utilizar dos dados da constelação GLONASS conjunto à GPS, há uma melhora de cerca de
70% nas precisões horizontais e de aproximadamente 50% na vertical.
No que tange ao assunto referente ao GNSS, deve-se, enfatizar os métodos de
posicionamento por satélite, ou seja, as formas de coleta de dados. Antes de verificarem-se
esses conceitos, deve-se analisar que o Posicionamento Relativo é aquele em que se usam dois
receptores de GPS (no mínimo).
Um sendo a base (que estará fixada numa posição pré-definida) e o outro será o
receptor de coleta de informações. A partir dessa interação é possível determinar as linhas-
bases com suas determinadas correções (Δx, Δy, Δz), os desvios padrões entre as estações. Há
essa interação para que possamos definir o verdadeiro posicionamento de cada ponto, ou seja,
para podermos realizar o ajustamento de cada ponto, bem como da própria base
(KAVANAGH, 2003).
O posicionamento relativo estático pode ser caracterizado como: “dois ou mais
receptores rastreiam simultaneamente os satélites visíveis, por um período de tempo que varia
de acordo com o comprimento da linha de base e a precisão requerida [...]” (INCRA, 2010, p.
34).
Para realização deste tipo de posicionamento, o receptor deve coletar informações por
um período de no mínimo 20 minutos, visto que quando possuirmos valores abaixo desse, o
posicionamento chamar-se-á de relativo estático rápido. Esse método é muito aplicado em
57
geodésia, para determinação de pontos com alto grau de acurácia e precisão, visto que nesse
processo há uma forma de estimar o erro do relógio pelo satélite, através das
pseudodistâncias, melhorando os resultados de forma significativa. Este método é aplicado no
pré-processamento (MONICO, 2007).
Já o posicionamento relativo estático rápido possui as mesmas características do
anterior, porém difere no tempo de ocupação (cerca de 5 a 20 minutos). O comprimento da
linha de base deverá ser no máximo de 20 quilômetros, para que seus dados sejam acurados e
precisos (INCRA, 2010), visto que as que tiverem até 10 quilômetros possuirão dados muito
mais acurados e precisos (MONICO, 2007).
Usa-se este tipo de posicionamento para trabalhos que se deseja obter uma alta
produtividade, sendo que se utilizam receptores de simples (L1) ou de dupla (L1 e L2)
frequência. Para haver resultados com razoáveis precisões, necessita-se que cada vetor de
ambiguidade das linhas-base deva ser solucionado, ou seja, que sejam fixados (MONICO,
2007).
Outro método de exercer um posicionamento é por meio do relativo cinemático, o qual
tem como observável básica a fase da onda portadora, e este método de posicionamento
“consiste em determinar um conjunto de coordenadas para cada época de observação, onde
um receptor ocupa a estação de referência enquanto o outro se desloca sobre as feições de
interesse” (INCRA, 2010, p. 35).
Visto a evolução dos métodos de obtenção de coordenadas com alto grau de
confiabilidade, destaca-se o Posicionamento por Ponto Preciso (PPP) no qual é um método de
posicionamento “baseado na correção pós-processada, e refere-se a obtenção da posição de
uma estação através das observáveis fase da onda portadora coletadas por receptores de duas
frequências e em conjunto com os produtos do IGS (International GPS Service)” (INCRA,
2010, p. 35).
Dado que este produto é ofertado pelo IBGE, em sua página da web. Analisa-se, que a
metodologia de realização do PPP, é realizada por meio do aplicativo CSRS-PPP,
desenvolvido pelo Geodetic Survey Division of Natural Resources of Canada (NRCan). Esse
tipo de posicionamento requer o uso das efemérides, bem como a correção dos relógios dos
satélites (MONICO, 2007).
Outra tecnologia de grande importância para a realização de mapeamentos, de forma
geral, é a fotogrametria. Essa ciência tem como objetivo analisar e executar medições em
fotografias métricas de forma altamente precisa. Na visão de Dias (2013) a fotogrametria é
uma área na qual possibilita a medição com alta precisão sobre objetos dispostos em
58
fotografias aéreas. O autor, ainda, explicita que a utilização da esteresocopia é a base para os
processos fotogramétricos.
Assim sendo, Dias (2013) destaca a estereoscopia como sendo um processo na qual
tem por base a análise em 3D da superfície (objetos), com a disponibilização de duas imagens,
de um mesmo local, com pontos de vista distintos, e ao estarem orientados, com cada foto
estando visível a apenas um olho, há a possibilidade da visão tridimensional.
Em linhas gerais, uma ciência aliada à fotogrametria é a fotointerpretação. Deve-se
ressaltar que existe uma diferença entre ambas. A fotogrametria tem como objetivo analisar os
aspectos quantitativos de uma imagem (áreas, perímetros, etc.), já a fotointerpretação, está
empossada nos aspectos qualitativos de uma imagem, com o foco de diferir um objeto do
outro, ou seja, a análise visual.
No que diz respeito às altitudes existentes, pode-se citar a elipsoidal e a ortométrica,
sendo assim, a seguir contextualizar-se-á a definição de cada uma.
A altitude elipsoidal (ou geométrica) refere-se a altura considerada em relação a um
ponto da superfície ao elipsoide, no qual é uma figura matemática perfeita e imaginária de
representação fictícia da superfície terrestre. Essa superfície é muito importante pelo fato da
mesma servir como referência para o sistema GNSS.
Já a altitude ortométrica (ou geoidal) possui como referência o geoide, o qual é
definido pelo IBGE (2015a) como sendo uma figura da Terra aperfeiçoada, por meio do
prolongamento do nível médio dos mares aos continentes, locais os quais apresentam a
superfície equipotencial de referência. Coelho (2003) evidencia que no Brasil, a altitude
utilizada e adotada, oficialmente, nas práticas gerais refere-se à ortométrica.
Visto as duas altitudes existentes, deve-se analisar que ambas são importantes,
principalmente pelo fato da elipsoidal ser a altitude de referência ao sistema GNSS, e pela
altitude geoidal servir de referência oficial ao Brasil. Sendo assim, existem modelos que
correlacionam as altitudes e realizam estimativas, por meio do conhecimento da ondulação
geoidal. Por conseguinte, ressalta-se, que um dos modelos existentes (e utilizado nesse
trabalho) refere-se ao EGM 2008.
Fazendo uma breve menção ao EGM 2008, destaca-se que esse é um modelo
gravitacional da Terra, conforme própria tradução de sua sigla, assim, o objetivo desse
modelo é gerar conversões automáticas da altitude elipsoidal (referenciada no elipsoide) para
altitudes ortométricas (referenciadas no geoide).
Esse modelo é muito importante, principalmente quando se trabalha sobre o elipsoide,
no caso do GNSS. Dessa maneira, a conversão para o geoide é realizada por esse modelo
59
H=h-N Eq. 1
3.1 Materiais
realizado em 2003, imagens aéreas do aplicativo Google Earth e leis municipais (que definem
os limites dos bairros e do perímetro urbano municipal).
Como orientação técnica para realizar o levantamento dos dados altimétricos, obteve-
se na metodologia de Tucci (1993) as seguintes análises: as informações altimétricas, em
estudos de áreas de inundação, devem possuir o espaçamento altimétrico de 0,5m ou 1m,
dependendo, logicamente, das condições do terreno; é essencial o levantamento topográfico
das áreas de riscos à inundação as quais possuem tempo de retorno menor ou igual a 100
anos; o levantamento altimétrico, deve possuir, como feições ideais a modelagem, o nível
médio (altimétrico) do meio da rua de cada esquina, dispostas nas áreas de risco; dar ênfase,
na coleta de dados as seguintes feições: pilares, encostos de pontes, estradas com taludes,
edifícios, o tipo de cobertura das construções, etc., em geral são os mais variados tipos de
obstruções do escoamento das águas.
Após essa análise bibliográfica, indexada a operação prática de coleta de dados,
realizou-se, em duas etapas, a coleta de dados altimétricos no município de Jaguari/RS.
Como primeira etapa, realizada em setembro de 2014, coletaram-se dados
planialtimétrico com quatro objetivos distintos.
Primeiramente, 115 pontos foram coletados com o intuito de servir de referência para
a etapa de tratamento das fotografias aéreas, para obter o MDE da área de estudo, bem como
para georreferenciar as bases cartográficas (imagens de satélite). Nessa etapa, coletaram-se os
pontos em locais previamente observados nas fotografias aéreas com a correlação aos
homólogos na superfície - Ground Control Points (GCP) (Figura 6).
A B
Figura 6 - Coleta de pontos homólogos. A: Esquina da rua General Lima com a rua Álvaro
Batista; B: Esquina da rua General Lima com a rua Olinto Couto.
As principais feições utilizadas para obter essa correlação, foram as esquinas, cantos
de calçadas e encontro de ruas. Destaca-se, que nessa etapa, foi utilizado o GNSS, com a
64
A B
C D
A B
C D
Figura 8 - Coleta da altitude das réguas linimétricas da ANA: A: registro da cota de 13,53 m;
B: Réguas de 5 e 6 m; C: Régua de 7 m; D: Régua de 11 m.
áreas úteis. Assim, inicialmente, com as fotografias aéreas de suporte, extraíram-se, por meio
do processo de vetorização, as áreas úteis, as quais estivessem no nível de solo.
Com a união dos dados coletados com o GNSS junto aos obtidos na etapa de aplicação
da fotogrametria, gerou-se, assim, a segunda modelagem da área de estudo, porém,
caracterizado como um MDT (e não um MDE).
A B
C D
Dessa forma, nesse novo campo, coletaram-se 143 pontos com o GNSS, com tempo de
rastreio de aproximadamente 2 minutos (e taxa de coleta de 3 segundos), obtendo, ao final,
precisões milimétricas. A Figura 10 enfatiza alguns dos locais com coleta de dados.
A B C
A partir disso, definiu-se, com uma maior exatidão a demarcação das áreas suscetíveis
a inundação no município, a partir da geração da modelagem final da área de estudo.
A etapa de pós-processamento dos dados GNSS foi realizada no aplicativo Topcon
Tools®. Salienta-se, que foi definida uma base local ao levantamento, a qual estava localizada
em uma área de alta altitude (a fim de minimizar as interferências com redes elétricas e
vegetação arbórea), estando localizada no "Cerro dos Zaninis", na parte sul do perímetro
urbano, no bairro Mauá. Destaca-se, que a maior linha-base aproximou-se a 2 km. A referida
base foi ajustada, pelo método do PPP, a qual teve tempo de rastreio próximo a 5 horas (maior
tempo de rastreio). O referido ponto obteve uma precisão horizontal de 0,004 m e 0,011 m na
vertical. Um fato a destacar é que todos os pontos altimétricos estiveram correlacionados ao
modelo geoidal EGM 2008, e, a altitude final de cada ponto foi a ortométrica (e não a
elipsoidal), ou seja, levando em consideração o geoide e não o elipsoide.
Deve-se realçar, que todos os processos de interpolação dos dados altimétricos teve
por base, a utilização do algoritmo de ANUDEM, desenvolvido por Hutchinson (1989),
disposto no aplicativo ArcGIS®, denominado como Topo to Raster. A escolha desse
interpolador deve-se ao fato do mesmo ser um algoritmo hidrologicamente consistente,
realizando uma modelagem coerente para com a realidade da superfície terrestre.
68
Além dessa análise, com utilização de processos estatísticos, a outra forma pelo qual
os dados foram avaliados, consistiu na apreciação do relatório de processamento dos pontos
GNSS (gerado pelo aplicativo Topcon Tools®), os quais estão disponibilizados no Apêndice 1
dessa dissertação.
A análise do relatório de processamento é válida, pelo fato de que o mesmo serviu
como referência a geração do MDT e a extração de dados altimétricos para uso na
fotogrametria (pontos de controle).
Outra forma na qual foi analisado a acurácia do MDT refere-se ao adensamento de
pontos coletados com o GNSS. Essa foi uma análise que possibilitou identificar as zonas de
incertezas do modelo, as quais possuem um menor adensamento de pontos, logo, são áreas
que, permitem a existência de alguma discrepância altimétrica.
Nessa etapa, utilizou-se o aplicativo ArcGIS®, com o algoritmo Kernel Density.
Assim sendo, modelou-se a área conforme a quantidade de pontos coletados com o GNSS,
uma vez que os mesmos retratam a acurácia no mapeamento. Assim, dividiu-se a área em três
(3) zonas: zonas confiáveis (com mais de 2 pontos/ha), zonas transitórias (com no mínimo 1
ponto/ha) e zonas duvidosas (sem nenhum ponto por ha).
70
A utilização das fotografias aéreas foi de grande importância para a geração de uma
primeira modelagem do relevo, útil para a realização da estimativa altimétrica de toda a área
de estudo. No total, havia três fotografias, sendo que a área urbana do município apresentava-
se parcialmente recoberta pelas fotos (estereoscopia), porém, as áreas com incidência à
inundação apresentaram-se inteiramente mapeadas. As fotografias foram obtidas pela empresa
de topografia e georreferenciamento de Santa Maria "PROCAMPO Levantamentos Rurais",
coletadas em agosto de 2003, com uma câmera fotográfica da marca Hasselblad com
distância focal de 50 mm.
Alguns detalhes devem ser ressaltados nessa etapa de tratamento da imagem, como,
por exemplo: a inserção dos pontos homólogos e a geração da modelagem tridimensional da
superfície.
De todos os pontos coletados, apenas 17 desses foram utilizados para o processo
fotogramétrico, pois o adensamento de pontos não era proporcional a qualidade final da
ortorretificação da imagem. Assim, obteve-se um erro, no ajustamento dos dados, de 1,986
pixels ou 0,739 m.
O referido erro, no ajustamento dos dados, de 1,986 pixels ou 0,739 m, tratou-se como
coerente para com a realidade local e para com a escala de mapeamento a ser obtida. A
precisão alcançada no uso da fotogrametria (0,739 m), levando como base a acuidade visual
de 0,02 mm, é adequada a uma escala de mapeamento maior que 1/5.000, a qual possui 1 m
de precisão. Ressalta-se, que, como a modelagem final recebeu um tratamento dos dados, a
escala de mapeamento final será mais refinada da obtida nesse primeiro momento.
No que tange ao mapeamento detalhado, ressalta-se, que, geralmente os mesmos
ocorrem em escalas superiores a 1: 25.000, e, ainda, em alguns casos, até mesmo melhor do
que 1:5.000 (WORLD METEOROLOGICAL ORGANIZATION, 2013). Assim, intensifica-
se, que o referido trabalho encontra-se em escala compatível de mapeamento.
Como esse primeiro modelo foi gerado a partir de fotografias aéreas, utilizando da
fotogrametria, o mesmo, gerou um MDE, ou seja, todas as feições existentes do "mundo real"
estiveram representadas nesse modelo, sejam elas: as casas, prédios, árvores, etc. Sendo
assim, para gerar o primeiro MDT, levando em consideração o terreno e não a superfície
realizou-se um "clip" das áreas consideradas úteis do MDE, como por exemplo, em alguns
71
locais sem vegetação (campo) e/ou sem residências (arruamento). Essa etapa, de escolha dos
locais, procedeu-se por meio da vetorização manual.
Deve-se salientar, que, automaticamente, foram excluídas, desse primeiro modelo, as
áreas com altas declividades (superior a 15%), visto, que eram áreas caracterizadas pelos
locais com o encontro do lado de um prédio ao nível do terreno, por exemplo.
As áreas úteis extraídas do MDE, obtido por meio da ortorretificação das fotografias
aéreas, foram unidas aos pontos coletados com o GNSS (os demais pontos coletados na
primeira etapa do mapeamento), gerando assim, o primeiro MDT da área de estudo.
A etapa sucessiva a essa constou na avaliação do resultado do MDT, verificando e
correlacionando as informações mensuradas com o que de fato está disposto a campo. Após,
analisaram-se algumas áreas que precisavam de um maior número de amostras, passando,
dessa forma, à necessidade da realização de um novo campo, para equalizar a qualidade dos
dados mapeados. Com isso, a última etapa para definição do novo MDT, ocorreu com uma
nova coleta de dados, utilizando novamente a tecnologia GNSS. Um maior detalhamento
sobre essa etapa pode ser encontrado em Prina e Trentin (2015).
estiveram representadas nesse modelo, sejam elas: as casas, prédios, árvores, etc. Sendo
assim, para gerar o primeiro MDT, levando em consideração o terreno e não a superfície, foi
realizada a extração das áreas consideradas úteis do "MDE 1" (Clip), como por exemplo, em
alguns locais sem vegetação (campo nativo) e/ou sem residências (arruamento e calçadas).
Essa etapa, de escolha dos locais, procedeu-se por meio da vetorização manual.
Deve-se salientar, também, que, automaticamente, foram excluídas, desse primeiro
modelo, as áreas com declividades superiores a 15%, visto, que eram áreas caracterizadas, por
exemplo, pelos locais com o encontro do lado dos prédios (ou da vegetação) junto ao nível do
terreno.
As áreas das bordas do modelo também foram excluídas, visto que as mesmas, por
falta de sobreposição das fotografias, resultaram em dados discrepantes para com a verdade
do terreno.
Ainda, excluíram-se do MDE, as áreas próximas dos pontos coletados com o GNSS.
Assim sendo, as áreas englobadas em um raio de 10 m em relação a cada ponto, foram
excluídas.
Por fim, após várias áreas excluídas do MDE, uniram as áreas de "sobras", as quais
representavam a superfície terrestre, e, dessa forma, junto aos pontos coletados com o GNSS,
e a rede de drenagem vetorizada, gerou-se o primeiro MDT ("MDT 1") da área de estudo,
com o algoritmo Topo to Raster do ArcGIS®.
Porém, o "MDT 1" apresentou várias áreas modeladas e identificadas como de "não
certeza", principalmente entre os limites existente dos dados altimétricos discretizados
(simulando os resultados para o mapa de perigo, com uso dos tempos de retorno). A partir
disso, com uma nova coleta de dados GNSS, realizada em janeiro de 2015, estimou-se um
novo MDT ("MDT 2"), assumindo assim alta confiabilidade, e, sendo definido como o
modelo final para a área de estudo.
Com a modelagem da superfície definida, identificou-se o limite altimétrico
característico do evento extremo ocorrido no local (no ano de 1984) e, dessa forma, definiu-se
esse limite como o divisor entre área suscetível e área não suscetível, ou seja, por meio de
uma divisão booleana da área de estudo.
73
Com isso, para as referidas variáveis foram atribuídos pesos, e cada variável foi
segmentada com características particulares, atribuindo, dessa forma, notas.
Em relação aos pesos, segmentaram-se os dados na seguinte ordem: acabamento das
construções e condição das construções com o peso de 30% (cada uma), o tipo de material das
construções com 20%, a densidade de construções com 15% e, por fim, o número de andares
das residências com 5%.
A atribuição desses valores ocorreu por meio da análise local das residências dispostas
na área de estudo, pois, depois de simulado, inúmeras vezes, a atribuição dos pesos, verificou-
se que os valores destacados anteriormente foram aqueles que induzem a melhor ponderação
da vulnerabilidade, conforme condições encontradas a campo.
As referidas variáveis subdividiram-se em:
Para a variável "acabamento das construções": básico (nota 10), simples (nota 6) e
alto (nota 2);
Para a variável "condição das construções": velha (nota 10), intermediária (nota 6) e
nova (nota 2);
Para a variável "tipo de material das construções": madeira (nota 10), misto (nota 6)
e alvenaria (nota 2);
Para a variável "densidade de construções": alta densidade (nota 10), média
densidade (nota 6) e baixa densidade (nota 2);
Para a variável "número de andares das residências": construção com apenas o térreo
(nota 10), construção com 1 andar (nota 6) e construção com mais de 1 andar (nota
2).
Resumidamente, tem-se por meio da Tabela 1, há a exposição dos pesos e notas
utilizados para cartografar a vulnerabilidade na área de estudo.
Um fato que merece haver uma análise especial refere-se as variáveis escolhidas para
o mapeamento da vulnerabilidade, além das razões das atribuições dos pesos e das notas.
Assim sendo, a seguir, para cada variável, haverá uma análise singular, a fim de pluralizar o
entendimento da vulnerabilidade.
As variáveis "Acabamento das construções" e "Condição da construção" foram as que
receberam os maiores pesos (30% cada uma das variáveis), pois, para a área de estudo essas
são as variáveis que refletem as principais características da vulnerabilidade. Ou seja, as
construções com as maiores vulnerabilidades englobam, basicamente, a característica de ser
velhas e de acabamento básico.
77
A B C
A B C
A terceira variável com o maior peso (20%) refere-se ao tipo de material das
construções, as quais foram segmentadas em imóveis de madeira (Figura 15A), misto (Figura
15B) e alvenaria (Figura 15C).
Teoricamente, analisando o tipo de material de cada construção, é possível identificar
o grau de pobreza de cada local, além da possível probabilidade de perdas quando o local
sofrer com uma inundação. Intui-se que os maiores prejuízos referem-se aos locais de material
mais frágil (madeira) e os menores prejuízos aos locais construídos com material resistente
(de alvenaria).
A B C
Outra variável utilizada, a qual retrata uma característica geral da área de estudo,
refere-se a densidade de construções (com 15%). Deve-se destacar que para essa variável,
utilizou-se o algoritmo Kernel Density do ArcGIS®, e dividiram-se os dados em três classes,
por meio do critério estatístico do quartil.
Seguindo com a análise, destaca-se, nesse momento, a variável referente ao número de
andares das residências. Essa variável, para a área de estudo, não necessariamente remete ao
79
grau de pobreza da população, porém, indica os locais que podem sofrer menos com a
influência de uma inundação. Ou seja, se uma construção possuir uma pavimentação acima do
térreo é uma forma daquele local ter um menor efeito destrutivo (ser mais fácil a retirada de
móveis, por exemplo).
Assim sendo, com o cruzamento de todos os dados, obteve-se um índice de
vulnerabilidade para cada uma das construções, sendo que, quanto maior for o valor desse
índice (com o máximo de 10) maior será o grau de pobreza do local (maior a vulnerabilidade).
Com a atribuição de um índice de vulnerabilidade para cada uma das construções,
gerou-se uma modelagem, por meio do algoritmo Natural Neighbor (do ArcGIS®), com os
dados de cada uma das residências, obtendo ao final, um arquivo matricial sobre a
vulnerabilidade na área urbanizada e suscetível à inundação de Jaguari.
Optou-se por realizar a modelagem com o algoritmo Natural Neighbor pelo fato de
que o mesmo possui como característica, a manutenção do valor das amostras na geração da
modelagem final. Dessa forma, é garantido, ao final da modelagem, o valor unitário de cada
amostra.
Após a aplicação do referido processo, os dados foram segmentados em três classes:
índice menor que 6, entre 6 e 8, e valores maiores do que 8. Deve-se destacar que os valores
foram escolhidos após analisar o padrão de variação dos dados classificados por meio dos
pesos e notas atribuídos, ou seja, a experiência e conhecimento da área de estudo foi o critério
utilizado para realizar a segmentação dos dados nas três classes.
O risco à inundação em Jaguari foi obtido a partir do cruzamento espacial dos dados
de perigo à inundação junto aos vulneráveis, gerando ao final, quatro classes, conforme
evidenciado no Quadro 1.
Um fato que deve ser levado em consideração, é que as áreas de Alto perigo, são, por
natureza própria, mais importantes para desencadear áreas com maior risco, e, essa foi a
medida utilizada nesse trabalho.
Ou seja, se um local possuir uma baixa vulnerabilidade, e, estiver localizado em uma
área de alto perigo, o mesmo será caracterizado como de alto risco. Já, se determinada área
80
possuir uma alta vulnerabilidade e não estiver ao alcance (não suscetível) do acontecimento
de um evento (inundação), o local não será mapeado como áreas de risco.
Risco
Alta Vulnerabilidade Média Vulnerabilidade Baixa Vulnerabilidade
Alto Perigo R1 R2 R2
Médio Perigo R2 R3 R3
Baixo Perigo R3 R4 R4
Salienta-se, que na análise dos 40 pontos, o que obteve a maior discrepância positiva
foi com o valor de 22,31 cm de divergência, e o negativo com -15,58 cm, resultando em uma
amplitude de 37,89 cm. Mesmo assim, são resultados de pontos extremos, não sendo um
padrão das variações médias.
Visto os baixos valores (médios) de variação dos dados, intui-se, que a modelagem
apresentou um resultado satisfatório para a área de estudo. Ao correlacionar o resultado final
do MDT, aos dados obtidos com a fotogrametria (modelagem inicial), verifica-se que houve
um efetivo aperfeiçoamento da modelagem, já que com a fotogrametria obteve-se uma
precisão de 73,90 cm, e, a última modelagem, com os dados analisados, há uma amplitude
máxima de 37,89 cm dos dados, e amplitude média de 8,59 cm.
A seguir, deve-se destacar o mapa de incertezas altimétricas (Figura 17). Desse modo,
conforme já explicitado, o mesmo foi dividido em três (3) zonas: zonas confiáveis (com mais
de 2 pontos/ha), zonas transitórias (com no mínimo 1 ponto/ha) e zonas duvidosas (sem
nenhum ponto por ha).
Quanto aos resultados obtidos, contextualiza-se, de forma visual, que toda a área
urbana apresenta-se dentro da zona transitória, ou seja, com pelo menos um (1) ponto/ha.
Dessa forma, tem-se, alta confiabilidade nos dados estimados, uma vez que, as áreas nas quais
necessitam a densidade de informações, estão previamente qualificadas quanto a consistência
de informações.
84
Figura 17 - Mapa de incertezas altimétricas obtido por meio da análise da densidade de pontos
GNSS.
Figura 20 - Modelo utilizado após a aplicação das rotinas metodológica: "MDT 2".
Quadro 2 - Dados obtidos com o uso do aplicativo “Pesquisas HidroWeb” para criação das
amostras.
Amostragem
Tempo de retorno (anos) Cota (cm) Nº de eventos
1 810 74
2 900 37
3 969 24
4 990 19
5 1000 15
10,4 1060 7
18,3 1100 5
24,3 1170 3
36,5 1200 2
73 1260 1
Com as amostras obtidas, partiu-se para a análise das seis funções matemáticas
utilizadas na estimativa dos tempos de retorno (Logarítmica, Linear, Exponencial, Polinomial
de 2º grau, Polinomial de 3° grau e Potência). Assim, ao final da implementação
metodológica, definiu-se que a função que se aproximou com mais eficiência das amostras foi
a função logarítmica, por ter apresentado a maior correlação entre dados estimados e amostras
(com R²=0,985). Além disso, a fim de caracterizar os erros amostrais, também denominados
como resíduos, que são gerados a partir da diferença entre os dados estimados e as amostras,
verificou-se que a função logarítmica obteve o menor desvio padrão (de 9,18).
Uma síntese dos gráficos das funções utilizadas para definir o tempo de recorrência
das inundações está sintetizada na Figura 23, além disso, a Tabela 2 apresenta o resultado
obtido após realizar a análise detalhada dos resíduos de todas as funções.
89
Altitude
Id Descrição do local
ortométrica (m)
1 Ponto localizado em uma residência antiga no bairro S. Coração de Jesus 104,1
2 Ponto localizado na esquina de um posto de combustível do bairro Rivera 105,5
3 Ponto localizado em uma residência no bairro Mauá 104,1
4 Ponto localizado em uma rua do bairro Mauá 104,1
5 Ponto localizado próximo ao Clube Poliesportivo 104,8
Média aritmética: 104,5
Quadro 3 - Marcas da inundação de 1984.
Outrossim, destaca-se que com a análise do tempo de retorno, obteve-se cerca de 15%
da área urbanizada, mapeada na área abrangente ao tempo de retorno de 73 anos, com cerca
de 30 ha de superfície. Ainda, a fim de contextualizar todos os tempos de recorrência, tem-se
por meio da Tabela 4 a apresentação detalhada das áreas e porcentagens específicas de cada
tempo de retorno.
Com base na Tabela 4 é visto que a classe de alto perigo (com inundações que
ocorrem com um tempo de retorno de 2 anos) abrange uma pequena área, com 3,22 ha,
representando 9,6% da área de perigo, com um total de 18 residências. Já, na análise do médio
perigo (TR10) a área inundável abrangeu um montante de 7,65 ha, representando 22,8% da
94
área de perigo, com 65 residências. Por fim, na área de baixo perigo (TR73) há 22,73 ha de
área inundável, sendo 67,6% da área urbanizada, gerando um montante de 318 residências.
Após realizar a análise da Tabela 5, é visto que 8,8% da área suscetível foi mapeada
como de alta vulnerabilidade, com uma área de 2,96 ha, sendo, que nesse local há a
espacialização de 46 residências. Já na classe de média vulnerabilidade, mapeou-se 13,34 ha,
correspondente a 39,7% da área suscetível, com 171 residências. Por fim, na classe de baixa
vulnerabilidade, registrou-se 17,30 ha, que caracteriza 51,5% da área suscetível, com 184
residências.
96
suscetível, com 7,88 ha, totalizando 84 residências. Por fim, na classe de baixo risco,
registrou-se 21,54 ha, que caracteriza 64,9% da área suscetível, com 289 residências.
Frequência Frequência
Classificação do Frequência N° de Frequência
Área (ha) acumulada acumulada
risco (%) construções (%)
(%) (%)
Risco Muito Alto 1,50 4,5% 4,5% 7 1,7% 1,7%
Alto Risco 2,26 6,8% 11,3% 21 5,2% 6,9%
Médio Risco 7,88 23,8% 35,1% 84 20,9% 27,8%
Baixo Risco 21,54 64,9% 100,0% 289 72,2% 100,0%
Somatório 33,18 100,0% - 401 100,0% -
"h": Menu para geração de arquivos KMLs, a partir dos dados obtidos na
implementação de uma seleção (pela estrutura SQL);
"i": Ao clicar em um registro (do ambiente "k") do banco de dados, nesse local
haverá a sistematização dos dados, com algumas informações cadastrais,
cartográficas e referente às inundações, além de identificar a fotografia da
referida residência;
"j": Nesse local há a informação do número de dados dispostos no ambiente
"k" (obtidos com a seleção dos dados);
"k": local que abrange todas as informações contidas no banco de dados, ou
obtidas após a implementação de uma seleção de dados por SQL.
A fim de explicitar com mais detalhes os ambientes de consulta de dados, pela
linguagem SQL, tem-se com as Figuras 33 e 34, a visualização das letras "f" e "g" (destacadas
anteriormente na Figura 32), respectivamente.
Com a análise da Figura 34, verifica-se que foi realizada uma pesquisa, através de um
campo numérico, denominado "ID". Nesse local, foram selecionados todos os registros
superiores ao número 120, e menores e iguais a 134. Assim, verifica-se que houve o registro
de 14 itens ("j") e os mesmos foram selecionados no ambiente de amostra de dados ("k").
101
Dessa forma, todos os campos numéricos, poderão sofrer consultas conforme o modelo
anterior.
A realização do inventário das inundações, por meio dos dados das réguas linimétricas
da ANA, foi de grande importância para todos os mapeamentos posteriores, pois, sucessivo a
essa questão que foram definidos os tempos de retorno, e, por consequência a delimitação do
evento extremo ocorrido na área. Ainda, pode-se definir, a importância desses a delimitação
das áreas suscetíveis, sendo de grande importância para a definição dos locais que
necessitavam a análise cadastral das residências.
Levando-se em consideração o mapeamento das áreas de perigo, constatou-se uma
pequena porcentagem populacional localizada no tempo de recorrência mais frequente.
Porém, a situação inverte-se ao verificar a área com tempo de retorno de 73 anos, pois, nesse
local há uma parcela significativa da população.
Ainda, completa-se, que as inundações que ocorrem no município de Jaguari possuem
três (3) segmentações bem definidas, conforme os tempos de retorno enfatizados nessa
pesquisa. Sendo assim, intensifica-se que os tempos de recorrências simularam de forma
representativa a dinâmica fluvial do município. Porém, deve-se destacar que a dinâmica
fluvial é totalmente irregular, sem um padrão definido, assim subentende-se que os tempos de
retorno, apenas geram uma estimativa temporal para com os dados analisados.
A união dos dados altimétricos obtidos com a fotogrametria junto aos coletados com o
GNSS foi de grande importância para a confecção de todas as bases cartográficas, uma vez
que as mesmas eram inexistentes. Com isso, pôde-se mapear os corpos hídricos, as réguas
linimétricas da ANA e demais feições topográficas da área urbana de Jaguari.
A modelagem altimétrica na área de estudo mostrou-se altamente acurada conforme
disposto nas análises de validação do MDT e do mapa de incertezas altimétricas. Nesse
último, além de ter gerado uma discussão pertinente ao trabalho, pôde-se estabelecer uma
metodologia simples e ao mesmo tempo eficiente para identificar as áreas acuradas modeladas
pelo MDT, resguardando, inclusive, as de baixa confiabilidade. E, quanto ao resultado do
mapa de incertezas, conclui-se que o mesmo gerou um resultado eficiente às pretensões dessa
dissertação, uma vez que a principal área de interesse ao trabalho (a área suscetível)
englobou-se nas zonas com maior acurácia da modelagem final.
No mapeamento das áreas vulneráveis, cabe ressaltar que não apresentou uma
metodologia padrão dentro da academia, devido à adaptação das variáveis para a área de
103
estudo. Assim, posteriores trabalhos que venham a ser referenciados nessa dissertação,
deverão ter a atenção quanto a atribuição de pesos e notas. Não necessariamente a mesma
dinâmica de outras áreas de estudos possuíram graus de importância assemelhados aos dados
interpretados e mapeados no município de Jaguari.
As ferramentas de geoprocessamento foram fundamentais para a confecção de toda a
rotina metodológica dessa pesquisa. O levantamento de dados com receptores de sinal GNSS,
apesar de ser uma etapa exaustiva, foi de grande importância ao trabalho, uma vez que
possibilitou o mapeamento planialtimétrico a área de interesse da pesquisa.
Dados o exposto, destaca-se que o diferencial dessa pesquisa refere-se a forma na qual
os dados finais foram disponibilizados, junto ao aplicativo BZMAPS. Essa pode ser
considerada como uma grande inovação, uma vez que toda a pesquisa não se limitou a
construção de uma metodologia sólida e a disponibilização de mapas, e sim, com um
detalhamento interativo das bases cartográficas, sintetizadas no aplicativo BZMAPS.
Conclui-se, que o aplicativo BZMAPS foi responsável por realizar uma síntese dos
resultados do trabalho. Com ele, foi possível organizar os dados, facilitar o manuseio das
informações processadas, possui uma grande dinâmica, com interoperabilidade com o Google
Earth, e é de grande eficiência a fim de analisar, de forma geral, os dados obtidos nas etapas
metodológicas da pesquisa.
Completa-se, evidenciando que, por mais que todos os procedimentos metodológicos
seguiram uma rigidez referente a acurácia dos dados, sabe-se que os resultados finais não
foram representados idoneamente às condições da realidade local. Conclui-se, que há dois
problemas quanto a essa questão.
A primeira referente a distinção da altitude do MDT com o nível altimétrico do rio
Jaguari, os quais não obedecem a mesma proporção de variação, uma vez que o rio, por
tendência natural, possui uma declividade negativa no sentido montante-jusante, logo, há
pequenas discrepâncias. Em síntese, a cota de inundação mapeada, pode, em alguns locais,
sofrer diferenciações para com a área inundável.
A segunda questão refere-se a estimativa do tempo de recorrência dos eventos, sendo
que para o local foi utilizado a amplitude de dados entre os anos de 1941 a 2014. Assim, todo
e qualquer evento que venha a acontecer posterior a essa data, alterará a estimativa do tempo
de retorno, gerando incongruências com a dinâmica modelada. Com isso, cabe ressaltar que a
atualização das bases cartográficas é de grande importância para a disponibilização de dados
compatíveis a realidade local e temporal.
104
Outra questão a ser tratada, refere-se ao fato de que em futuros trabalhos, análises
acerca das características da sub-bacia hidrográfica do rio Jaguari podem ser detalhadas,
visando identificar a correlação das precipitações junto a vazão do rio, decompondo,
inclusive, maiores detalhes da influência das características meandrantes do rio Jaguari,
disposta a montante da área urbana do município.
Por fim, salienta-se, que as aplicações metodológicas dessa pesquisa propiciou o
dimensionamento das áreas de risco a inundação no município de Jaguari. As ferramentas
empregadas nas etapas metodológicas gerou, de forma global, a todo o trabalho, uma
padronização metodológica a qual foi de grande relevância ao desenvolvimento dos objetivos
dessa dissertação.
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