Resenha. ARANHA, M L. Filosofia Da Educação
Resenha. ARANHA, M L. Filosofia Da Educação
Resenha. ARANHA, M L. Filosofia Da Educação
ARANHA, Maria Lúcia. Filosofia da Educação. 3.ed. São Paulo: Moderna, 2006.
[P.43]
A revalorização da profissão docente deve começar pelos cuidados com a formação do
professor. Tornar os cursos de pedagogia momentos efetivos de reflexão sobre educação é
condição para superação da atividade meramente burocrática em que mergulham muitos
desses cursos.
[P.44]
Os cursos de pedagogia e licenciatura devem proporcionar uma compreensão sistematizada
da educação, a fim de que o trabalho pedagógico se desenvolva para além do senso
comum e se torne realmente uma atividade intencional.
Destacamos três aspectos importantes na formação do professor: qualificação, o professor
precisa adquirir os conhecimentos científicos indispensáveis para o ensino de um conteúdo
específico; formação pedagógica, a atividade educativa supera os níveis do senso comum,
para se tornar uma atividade sistematizada que visa a transformar a realidade; formação
política e ética: o professor educa a partir de valores, tendo em vista a construção de um
mundo melhor.
[...] o professor desenvolve um trabalho intelectual transformador: ele não só quer mudar o
comportamento do aluno, como também educa para um mundo melhor; que está para ser
construído. A educação está inserida em um contexto maior – social, econômico e político.
[Ele precisa se posicionar].
Posicionar-se não quer dizer, em absoluto, assumir atitudes de proselitismo, que são
perniciosas porque visam a doutrinar o aluno, abusando de sua receptividade intelectual.
Assumir posições significa estar comprometido com o mundo e disposto a participar,
lutando contra o trabalho degradante, a submissão política, a alienação da consciência,
as exclusões injustas e as diversas formas de preconceito.
A expressão “tia”, além de conferir um “ar doméstico” à atividade profissional, nos faz
lembrar a desde sempre existente “feminização” do magistério. Não é vocação o motivo pelo
qual predominam mulheres na função de docente, sobretudo na educação fundamental: o
desprestígio e a baixa remuneração destinam essas atividades [ - a atividade docente está
entre elas - ]ao segmento feminino, igualmente desvalorizado profissionalmente na
sociedade sexista.
[P.45]
A expressão “sacerdócio” nos faz lembrar abnegação, total dedicação a uma atividade
vilmente remunerada, levando à convicção de que a “grandeza espiritual” do
empreendimento de educar estaria na razão inversa da exigência de um salário justo.
O professor é um profissional e, como tal, além da boa formação deve ter garantidas as
condições mínimas para um trabalho docente: materiais adequados, reuniões pedagógicas,
atualização permanente, plano de carreira, além de salários mais dignos.
Essas modificações não dependem dos indivíduos isolados, mas só serão possíveis se os
professores tomarem consciência política da sua situação e estiverem dispostos a se
mobilizar como corpo coletivo, sempre que necessário, como grupo ativo em sua própria
escola e/ou engajados em associações representativas de classe que defendam seus interesses.
[P.47]
[...] espera-se que o profissional da educação seja um sujeito crítico, reflexivo, um intelectual
transformador, capaz de compreender o contexto social-econômico-político em que vive. Ou
seja, não se deve confundir o intelectual com o especialista em alguma área do conhecimento,
mas sim ter em mente que ele é o sujeito capaz de ter uma visão do todo, além de estar
comprometido com a ética e a política. Que ele então esteja atento a intencionalidade de sua
ação, questionando continuamente seu saber e agir, articulando o conhecimento sobre
educação com sua práxis educativa, com flexibilidade para inventar caminhos quando a
situação concreta exige soluções criativas. Enfim, que participe ativamente no propósito da
emancipação humana.
Ser educador intelectual transformador é compreender que as escolas não são espaços
neutros de mera instrução, mas carregados de pressupostos que representam as relações
de poder vigentes e convicções pessoais nem sempre explicitadas. Imaginar que a escola
seja um local apolítico, em que são transmitidos conhecimentos objetivos e apartados do
mundo das injustiças sociais, é manter uma postura conservadora. Perigosamente
conservadora, por contribuir para a manutenção do status quo.
[P.48]
Ao reconhecer o que é ideológico, o professor terá condições de propiciar aos alunos a
oportunidade de desenvolver, por sua vez, a capacidade de questionamento e de
promover a desmistificação da cultura.
[P.49]
Afinal, os professores seriam intelectuais transformadores ou apenas técnicos? A
resposta dessa questão é decisiva para definirmos a identidade do educador e do pedagogo.
São muitos os pedagogos que têm se debruçado sobre a questão do professor como
profissional reflexivo, como também não lhes têm faltado críticas, algumas delas devido a um
eventual descuido pelo saber escolar, pela assimilação dos conhecimentos, em decorrência da
maior ênfase dada à construção do conhecimento. Igualmente, criticam-se os riscos de falta de
rigor e um “recuo da teoria”, ao se valorizar a flexibilidade do professor diante das situações
concretas. São questões polêmicas em aberto.