Robert Kudielka Abstracao Como Antitese PDF
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Robert Kudielka
Tradução do alemão: José Marcos Macedo
RESUMO
O artigo apresenta de início uma discussão do conceito de abstração na arte pictórica,
genericamente aplicado às mais distintas obras posteriores a 1910, apontando os equívocos
decorrentes da identificação sumária ou dogmática do figurativismo como arte objetiva e da
pintura abstrata como arte não-objetiva. O estatuto da obra de arte abstrata é então
reinterpretado em termos do valor expressivo dos meios pictóricos no espaço do quadro,
como fatores de um nexo de relações, mediante uma análise da recepção crítica, da fatura
estética e das correspondências, em contraponto, das obras de Piet Mondrian e Jackson
Pollock.
Palavras-chave: pintura do século XX; abstração; Piet Mondrian; Jackson Pollock.
SUMMARY
This article begins with a discussion of the notion of abstraction in pictorial art, which has been
applied indistinctly to the most varied art works after 1910, pointing out the misconceptions
that derive from the summary or dogmatic identification of figurativism as objective art and
abstract painting as non-objective art. The author then offers a reinterpretation of the character
of an abstract art work in terms of the value expressed by the pictorial media within the space
of the painting, as elements within a web of relations. The author develops this argument
through an analysis of the critical response, the aesthetic effectiveness and the corresponden-
ce between the works of Piet Mondrian and Jackson Pollock, which are contrasted.
Keywords: 20 tb century painting; abstraction; Piet Mondrian; Jackson Pollock.
Abstração é um conceito de muitos significados. Ele abrange, nas artes (1) Publicado originalmente
em: Kunst als Antitbese, Karl
plásticas, noções tão diversas quanto a pintura não-objetiva de Kandinsky e Hofen-Simposion 1988 da
Hochschule der Künste, de
o mundo sem objeto de Malevitch, as construções de Rodchenko e o gesto Berlim, editado por Heinrich
de Pollock, a abstração de Mondrian e a tradição da arte concreta de Van Poos, Berlim, 1990.
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estar. Mesmo a distinção mais nítida não parece apta a dar cabo da nota falsa
no discurso. Sempre que se trata da arte abstrata, um fantasma inexistente
antes de 1910 assombra a consciência: a arte objetiva.
A teoria da arte abstrata, sem dúvida com a melhor das intenções, deu
vida a um conceito que, repetido com insistência, foi capaz de simular a
idéia a ele adequada: a arte figurativa seria a arte objetiva. Isso simplificou
consideravelmente o trato com a história e possibilitou uma estrita delimi-
tação: a arte abstrata é não-objetiva. Porém, a negação de um paradoxo não
é a definição de algo. A tradução vem arrematar o descompasso. O epíteto
"non-objective art" em inglês não pode ser traduzido, pois sua contrapartida
positiva, "objective art", é um absurdo para a sutileza anglo-saxã. Objetiva
é o que a arte justamente não pode ser; arte não-objetiva, em conseqüência,
é uma fórmula vazia. Só na língua materna de Kant o conceito de
objetividade parece tão trivializado que a discrepância entre a categoria
básica da reflexão e a realidade imagética da arte não é mais percebida. Por
outro lado, a distinção inglesa entre "representational art" e "non-represen-
tational art" também mostra, é certo, que o problema da arte abstrata não
pode ser reduzido a uma crítica das regras gramaticais, pois uma "arte
representativa" é em igual medida um lugar-comum quanto uma arte não-
objetiva, e o mistério da "não-representatividade" é congênito à essência
fabulosa da arte objetiva. O deslocamento do plano conceitual, do resultado
para o procedimento, contribui somente para tornar mais claro o nó da
questão. Toda a confusão na teoria da arte abstrata reside claramente no fato
de que a reflexão não desenvolve o conceito de abstração a partir do embate
com a arte figurativa do passado, mas, antes, incorpora o conjunto dessa
última, a tradição in toto, inclusive o próprio procedimento teórico, o da
representação de noções e idéias — com o resultado de que uma ficção
caseira, a arte objetiva, torna-se a base da compreensão da arte abstrata.
A ilusão parece tanto mais sedutora quando o discurso é embaído por
um eco inevitável: a natural analogia entre a abstração na filosofia e nas
ciências, de um lado, e a abstração nas artes, de outro. Assim, da mesma
maneira que a filosofia teria progredido da intuição aos conceitos, e a
ciência, dos objetos intuitivos às relações não-intuitivas, a arte, igualmente,
teria avançado das cópias sensíveis até as formas e regras abstratas. A
conclusão é vertiginosa: como se a pintura de Kandinsky e Mondrian, de
Pollock e Rothko não exigisse justamente os sentidos! O equívoco parece
tão poderoso que, nesse meio-tempo, após interpretar erroneamente os
fatos, foi capaz de produzir a intuição correspondente. Há telas abstratas
cuja mediocridade e cujo pedantismo levam o observador a ter certeza de
que o autor acalenta a pretensão de "pesquisar os fundamentos". E,
recentemente, há também a primeira instância, os quadros objetivos que
faltavam até agora. Pode-se reconhecê-los pelo fato de o pintor insinuar
tacitamente, por meio de citações figuradas e gestos autoconscientes, que o
observador já tem maturidade o bastante para, em sua imaginação, compor
um quadro a partir desses apelos. Contempladas na prática como experi-
mentos, essas aplicações dos preconceitos teóricos correntes demonstram,
entretanto, o que as imagens das artes plásticas, por sua própria natureza,
não são; a saber, nem um campo de exercício para as pesquisas pseudoci-
entíficas, nem uma esfera de projeção para os objetos da consciência.
A reflexão, porém, mal teria condições de, no tumulto de equívocos
de que ela própria foi responsável, fornecer esclarecimentos a partir de seus
próprios critérios, sem com isso levantar a suspeita de dogmatismo. Ter
criado um amplo leque de classificações do ato pictórico e recorrer a ele a
todo instante é uma obra peculiar da pintura do século XX, talvez mesmo a
sua característica específica, e nisso a pintura abstrata assume uma parcela
decisiva. Se é certo que os protagonistas de primeira hora, com declarações
programáticas — seja por necessidade de justificação, seja por euforia
evolutiva —, contribuíram para dissimular o problema artístico da abstração,
não é menos claro que, com suas obras, eles foram os primeiros a abrir uma
perspectiva adequada da dimensão desse problema. A própria possibilidade
de uma tal divergência entre teoria e práxis dá a entender que pensamento
pictórico é algo inteiramente diverso de pinturas para pensar. A mera
existência de uma pintura abstrata fez com que, em termos históricos, o
interesse pelo próprio veio abstrato da tradição figurativa fosse novamente
despertado e aguçado — interesse este que desaparecera em boa parte da
literatura artística do século XIX. Pois, nas artes plásticas, figurativismo e
abstração não se acham em pólos frontalmente opostos; antes, são duas
tendências entrelaçadas: cada figura, independentemente de seu aspecto
natural, tem de ser constituída abstratamente no quadro; e, ao contrário do
que na imaginação, no quadro até a forma mais abstrata, como ressaltou
Picasso2, é sempre figurativa, ou seja, prende-se inteiramente à superfície da (2) Picasso, Pablo. "Bekennt-
nis" (1935). In: Wort und
tela. A relação pictórica entre figura e abstração desenrola-se, portanto, num Bekenntnis. Die gesammelten
Zeugnisse und Dichtungen.
contexto completamente diverso que o da relação entre intuição e conceito. Zurique, 1954, pp. 33-34.
Se, para a reflexão, o ato espontâneo da representação é fundamental e a
distinção e a associação dos objetos da consciência são balizadas pelo
conceito, já para a pintura a construção de um espaço em que as sensações
possam tomar corpo assume o primeiro plano. Essa distinção persiste
mesmo quando, num quadro figurativo — da época renascentista, por
exemplo —, as duas estratégias parecem tão acordes que o observador crê
olhar como que por uma janela para a realidade. O contexto plástico do
quadro nunca coincide inteiramente com a unidade objetiva da experiência
que nela supomos reconhecer, visto que seu espaço constitutivo furta-se à
capacidade autônoma de representação.
As supostas distorções e deturpações da pintura figurativa moderna,
não raro de maneira provocadora, suscitaram uma tal divergência. Mas o
primado da estrutura abstrata para a função representativa do quadro já
caracteriza discretamente o procedimento da arte tradicional, de modo que
nem todas as percepções objetivas fossem tidas como igualmente talhadas
para a representação — e, inversamente, nem toda fórmula pictórica bem-
sucedida parecesse empiricamente verificável. Como se sabe, os instantâ-
neos fotográficos do século XIX revelaram que a representação tradicional
do "galope à rédea solta" não reproduzia corretamente, na pintura, o
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O outro Mondrian
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mente ao menor contato — e isso, como talvez lhe sirva de consolo, de uma
forma sempre análoga, quase regular. De fato, Mondrian está com a razão:
nas abstrações amadurecidas desde o início dos anos 20, por exemplo
Tableau I(1921, Kunstmuseum, da Basiléia), não há nada para ver que
corresponda às conhecidas concepções de linha e superfície. Há tão-
somente dois componentes pictóricos diferenciados que, graças a sua
função plástica relativamente autônoma — um, teso e direcionado; outro,
distendido e estacionário —, podem ser isolados do contexto e referidos
como fatores "linear" e "de superfície".
A relação entre esses fatores muda de quadro para quadro, mas o nexo
funcional mantém-se praticamente constante até os anos 30. À diferença do
contorno tradicional, que apreende e delimita uma forma, o lineamento de
Mondrian não estabelece nenhuma diferença entre interior e exterior. Assim,
em vez de formas surgem compartimentos, campos, num único e mesmo
espaço. Em relação a esses campos, por sua vez, as horizontais e verticais não
atuam simplesmente como linhas divisórias ou limítrofes, para não dizer
como margens ou bordas que ressaltam diferentes planos. Para tanto elas são
muito largas, muito independentes como intervalos. A rigor, as supostas
linhas são faixas de intensidades diversas que, através de sua própria
superfície restrita, entram numa relação de tensão com os campos distendi-
dos: como veredas neutras, elas separam os compartimentos parcialmente
coloridos e ao mesmo tempo os inter-relacionam de maneira clara e indireta.
Esse encaixe mediato, literalmente entravado das porções de superfície, é
decisivo para a forma pictórica clássica de Mondrian. Pois a exclusão do
embate direto impede que os campos isolados contrastem entre si como
superfícies autônomas, ao adotarem diversas posições e níveis recíprocos —
em correspondência a sua cor, extensão ou localização no quadro. A
ambigüidade dos planos com que Mondrian ainda operava em sua fase
cubista é em grande parte excluída. Só em relação ao observador, no espaço
da distância perceptiva, resultam — pelo menos a princípio — consideráveis
oscilações entre perto e longe, e muitas vezes até mesmo verdadeiros
sobressaltos, conforme o ponto de observação. No interior da tela, ao
contrário, não reina qualquer hierarquia planimétrica. A dimensão plástica da
profundidade parece voltada inteiramente para fora, de certo modo diante
do quadro. A sensação de que um "fundo branco" sustentaria todos os outros
planos é sugerida somente pelo apressado trompe-1'oeil das "linhas pretas".
A cor branca, in actu, não se situa nem acima nem abaixo, mas existe no
mesmo vínculo de superfície que os demais campos cromáticos.
Esse nexo pictórico de superfície, hermeticamente estruturado, não
repousa em si, é claro, estaticamente, como um ícone. Embora exclua toda
ilusão de profundidade, ele tampouco esgota-se, por sua vez, em medições
matemáticas da superfície de fato. A ordem da superfície — aberta, sem
pano de fundo e sem subterfúgios, voltada ao observador — é simultanea-
mente extensiva, sem um centro interno e sem limites exclusivos. Graças ao
entravamento do contato direto, despontam entre os compartimentos
isolados relações múltiplas, minuciosamente calculadas, embora sempre
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No chaos, damn it
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todo o seu significado nos quadros clássicos do final dos anos 40. Pois a
"natureza" reivindicada por Pollock não é a musa cega do inconsciente. "Eu
sou a natureza" significa simplesmente: eu não sou o observador que se põe
diante das coisas, e tampouco o olho que pensa em contornos — eu sou
aquele que age, que busca orientar-se e articular-se em meio a seus
ilimitados embaraços, indiferente à distinção teórica entre natureza e
espírito, como deve proceder o artista, embora só o possa até certo grau,
numa proporção humana.
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sua vez, parte da ponta contrária: do "extremo Outro", que parece alcançado
quando o mundo técnico e artificial trai o seu próprio caráter de artificiali-
dade e, a seu modo rebelde, começa a tornar-se abstrato, destrutivo e
amorfo. Nessa constelação, a pintura corre o grande risco de transformar-se
em mera cópia da falta de arte reinante. Mas também lhe é dada a
oportunidade de descobrir o mais antigo e profundo sentido da arte, ao
reconhecer o quadro como o espaço em que, além do simples triunfo da
artificialidade da composição, o Outro — o traço alheio do disforme e
imaleável — goza simultaneamente do direito de cidadania. A arte da obra
de arte distingue-se da simples artificialidade do artifício pelo fato de que,
nela, a tensão entre a composição e a sua contrapartida inominada é dotada
de forma.
Esse apuro crítico explica a primazia aparentemente paradoxal que a
destruição ganha na análise que Mondrian faz de seus próprios quadros.
Com o seu característico pathos evolutivo, ele entende a si mesmo como
executor da tendência — inerente à realidade histórica — à dissolução de
todas as posições privadas e mutuamente excludentes; para ele, o trabalho
no espaço do quadro, a criação de um equilíbrio dinâmico de fatores
heterogêneos, era sempre também um trabalho para além das fronteiras do
quadro, como preparação de uma nova forma de relacionamento, por ele
denominada La culture des rapports purs: "A cultura das relações puras"
(subtítulo de L'art nouveau — La vie nouvelle, 1931). Pollock não possui
nada de igualmente visionário que sirva de termo de comparação. Na
relação entre os dois, ele é efetivamente o "positivista" que responde de
imediato ao que existe — o "fazer sem imagem", como Rilke chamou o
estigma da subjetividade desenvolvida: "Um fazer sob crostas, que rompem
a gosto tão logo / a ação desponte lá de dentro e se imponha outro limite"
("Nona elegia a Duíno", v. 47-48). Na medida em que Pollock aceita a
debilidade da forma e a inclui na fatura de seus quadros, o cômputo
negativo da destruição parece saldado desde o início. Mas com isso não se
põe termo ao conflito, que é meramente deslocado de fora para dentro, da
periferia da forma para o centro da ação pictórica. Ao contrário de Mondrian,
que aborda o espaço do quadro indiretamente, por meio da conversão de
posições formais numa estrutura de relações, Pollock resolve o conflito da
composição imediatamente, no ato da pintura: como fazer algo que não se
choque obrigatoriamente, pela simples positividade de sua concepção, com
o impulso que lhe deu causa?
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diante do dever legal à liberdade25. Embora sem pretendê-lo, a consonância (25) Sobre essa noção básica
de Schelling, ver: Jähnig, Die-
de Mondrian com o filósofo, que por volta de 1800 ousou pensar a arte como ter. "Philosophie und Weltges-
chichte bei Schelling". In:
o "único, verdadeiro e eterno órgão e, ao mesmo tempo, documento da Kunst-Geschichte. Zum Verhäl-
filosofia"26, não é casual. De fato, a relação que ambos tematizam de maneira tnis von Vergangenheitserken-
ntnis und Veränderung. Colô-
totalmente diversa não é outra senão a discrepância desde sempre suscitada e nia, 1975, pp. 38-75.
reforçada pelas obras de arte. O conceito pictórico do "universal-em- (26) Schelling, F. W. J. System
des transzendentalen Idealis-
determinação", de Mondrian, lembra inevitavelmente a definição que Sche- mus. In: Schriften von 1799-
1801. Darmstadt, 1967, p. 627.
lling empresta à poesia como a "imaginação do infinito no finito"; e a
evocação aparentemente enfática da "intensidade orgânica" de Pollock pode
ser muito bem precisada pela fórmula paradoxal da "finalidade sem fim",
com que Kant caracterizara tanto a peculiaridade da criação artística quanto a
auto-organização da natureza viva.
Isso não significa, obviamente, que Mondrian e Pollock tenham
simplesmente suprido as célebres definições filosóficas com a noção
abstrata. De modo algum. A semelhança dos topoi faz notar precisamente a
diferença radical da matéria. Quando a arte define o seu próprio espaço e
faz dessa definição espacial o seu tema expresso, surge involuntariamente
uma outra ordem, contrária às abstrações do pensamento: o sentido
plenamente positivo do limite na arte. A "determinação" de Mondrian é tão
pouco uma restrição de uma verdade universal preexistente quanto, de
maneira inversa, a "intensidade" de Pollock é reduzida ou prejudicada pela
finitude da arena pictórica. Ao contrário, a limitação do espaço é o
pressuposto indispensável tanto para a franqueza contida de um nexo
pictórico quanto para a densidade excessiva do outro. Ela possibilita,
mesmo quando os projetos da imaginação se tornam impotentes, a repre-
sentação de um todo na experiência, ainda que num sentido inovador,
afastado da tradição num ponto decisivo. A abstração de Mondrian e de
Pollock não oferece mais um projeto imaginário de mundo — e isso única
e exclusivamente porque ela dirige imediatamente para o exterior o segredo
da totalidade pictórica, a superação do sentido objetivo do fenômeno, e
situa o espaço do quadro em meio às coisas. A antiga ordem, de acordo com
a qual no interior dos limites do quadro cada determinação obedece a uma
condição diversa do que no seu exterior, permanece intocada. Nada no
quadro subsiste por si e nenhum espaço sem os outros; tudo se explica a
partir do contraste, da coesão no confronto recíproco. Mas essa condição
imanente da ação pictórica é definitivamente despida do aspecto negativo
de uma ilusão limitada, na medida em que a forma construtiva do
contrastare é sublinhada por ambos e desdobrada em todo o seu alcance,
até o ponto em que a limitação da tela torna-se, ela própria, controversa.
Essa ambigüidade dos limites pictóricos é outro aspecto comum, embora
primário na seqüência da percepção, entre Mondrian e Pollock. Da mesma
maneira que os quadros não se acham centrados neles mesmos, por meio
de simetrias ou de hierarquias formais, assim também eles não se legitimam
como concreções, fragmentos ou partes mensuradas de um contínuo infinito
da experiência. O espaço do quadro não é nem encerrado em si mesmo nem
simplesmente aberto, mas destaca-se da extensão indeterminada do campo
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