PISCITELLI - Recriando A Categoria Mulher
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2016
A CIRANDA DO CURRÍCULO
COM GÊNERO, PODER E RESISTÊNCIA1
Marlucy Alves Paraíso2
Universidade de Minas Gerais – UFMG
Resumo
Este artigo usa fragmento de pesquisas por mim realizadas no campo curricular, sobretudo
da discussão do Projeto ideologia de gênero com um grupo de professoras da escola
básica, para analisar a ciranda existente em torno do currículo, gênero, poder e resistência
e para explorar a possibilidade de operar no campo do currículo com uma noção de
resistência como força que mobiliza e cria possíveis. O artigo analisa as estratégias de
poder usadas por grupos reacionários do Brasil para controlar os currículos e proibir a
discussão de gênero e sexualidade na escola. O argumento desenvolvido é o de que tais
estratégias são postas em ação, por um lado, para tentar governar os/as diferentes que não
aceitam mais ser subordinados ao velho princípio da identidade universal, e, por outro
lado, para fazer o ódio às diferenças de gênero e sexualidade se alastrarem pelo social de
diferentes modos. Isso, por sua vez, demanda de nós uma resistência que seja inventiva,
estratégica e com diferentes focos, sem nos desviarmos, em nenhum momento, das
práticas de afirmação da vida.
Palavras chaves: Currículo. “Ideologia de gênero”. Resistência.
Abstract
This article uses fragment of my research in the curriculum field, especially the discussion
of the "gender ideology" with a primary school group of teachers, to analyze the existing
sieve around the curriculum, gender, power and resistance, and to explore the possibility
of operating in the field of curriculum with a sense of resistance as a force that mobilizes
and creates possibilities. The article analyses the strategies of power used by reactionary
groups in Brazil to control the curriculum and prohibit the discussion of gender and
sexuality in school. The developed argument is that such strategies are put into action, on
the one hand, to try to govern the different that no longer accept being subordinate to the
old principle of universal identity, and, on the other hand, to the hatred of differences of
gender and sexuality to spread by the social in different ways. This, in turn, demands from
us a resistance that is inventive, strategic and with different focuses, without deviating us
in any time, the life affirming practices.
Key words: Curriculum. “Gender ideology”. Resistance.
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encontros que escapam ao controle, que resistem e extrapolam ao planejado, que se abrem
para a novidade. Paradoxalmente, exatamente por ser incontrolável, o currículo é escolhido
por grupos reacionários para se fazer a coibição, o impedimento, a proibição e o controle dos
temas gênero e sexualidade. Pelo caráter incontrolável do currículo, os grupos que defendem
o slogan “ideologia de gênero” tentam ganhar adeptos entre as famílias dos/as alunos/as para
auxiliar nesse “impossível” controle. Pela dimensão de incontrolável do currículo, tenta-se
controlar os materiais didáticos e as avaliações, e tenta-se também criminalizar os/as docentes
que persistirem e falarem sobre o tema na escola.
O argumento aqui desenvolvido é o de que as estratégias de tradução, multiplicação,
distorção e amedrontamento, usadas para controlar os currículos e proibir a discussão de
gênero e sexualidade na escola, são postas em ação, por um lado, para tentar governar, reparar
e integrar os/as diferentes em si mesmos que não aceitam mais ser borrados, excluídos,
calados, comparados, subordinados e nem integrados ao velho princípio da identidade
universal, e, por outro lado, para fazer o ódio às diferenças de gênero e sexualidade se
alastrarem pelo social de diferentes modos, conquistando mais pessoas que se dediquem a
esse objetivo. Argumento também que isso, por sua vez, demanda de nós uma rebelião que
se traduza em uma resistência inventiva, estratégica e com diferentes focos, sem nos
desviarmos, em nenhum momento, das práticas de afirmação da vida.
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A ciranda do currículo com gênero, poder e resistência
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que tem dirigido seu discurso nesses inúmeros países a: gestores públicos, parlamentares,
juristas, jornalistas e dirigentes escolares (Junqueira, 2016).
O histórico e a compreensão da gênese desse “slogan ou rótulo político” e de sua difusão
em diferentes países é importante para compreendermos o quão preocupante é ver o ideologia
de gênero se alastrando entre nós no Brasil atual com tantos grupos
conservadores/reacionários exercendo poder político e jurídico. É importante, sobretudo,
para entendermos os vínculos transnacionais do que estamos vendo ocorrer no Brasil.
Contudo, este artigo aborda o slogan ideologia de gênero transformado em projetos de lei
aqui no Brasil atual com pretensões a controlar o currículo e o/a professor/a. O ideologia de
gênero trata-se de uma tentativa de tapar os vazamentos produzidos pelos mapas culturais
atuais que afirmam a “diferença em si mesmo dos/as diferentes” (CORAZZA, 2005, p. 18).
Diferentes que fazem suas “instigantes experiências” explodirem por toda parte: na
sociedade, nas ruas, nas praças, nas casas, nas escolas, nos currículos, nos pátios, na vida. O
ideologia de gênero trata-se, claramente, de um rótulo dogmático que, se antes era enunciado
meio na surdina, agora se torna premissa para um ódio declarado às lutas por igualdade de
direitos entre homens e mulheres, às discussões críticas sobre gênero e sexualidade na escola
e aos direitos de todas as pessoas que não identificam seus desejos com os desejos dos
heterossexuais.
O objetivo de interromper as conquistas dos direitos das mulheres e dos grupos LGBTS
é evidente nesse slogan. Para atingir esse objetivo, considera-se imprescindível controlar o
currículo. Embora esse seja apenas um dos pontos do controle que se deseja imprimir nas
escolas quando se reivindica a sua “neutralidade”, considero que o ideologia de gênero é
exemplar do quão longe podem ir esses grupos reacionários que querem um controle maior
dos currículos e dos/as docentes.
Para atingir seus objetivos, os grupos reacionários não se intimidam com nada. Se
alguém diz que o ideologia de gênero é contrário ao que está no Plano Nacional de Educação
(PNE), os grupos reacionários, que desejam “tapar os vazamentos da diferença”, propõem
mudar o PNE. Se alguém diz que a ideia é contrária ao que determina a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB), representantes desses grupos fazem Projetos de Lei para
mudar a LDB. Se alguém diz que é contrário ao que está nos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN), elabora-se projeto de lei para mudar os PCN. Também não se intimidam
em ter que controlar os materiais didáticos e as avaliações e criminalizar o/a docente. Têm
sido elaborados vários Projetos de Lei para dar conta disso tudo.
Os depoimentos das professoras que uso aqui como mote para a discussão sobre
resistência, gênero e currículo parecem evidenciar uma grande necessidade de liberação.
Liberação que é importante para desabafar e compartilhar indignações; mas é necessária
também para traçar caminhos que resistem e afirmam a vida. A liberação é necessária para
voltar “a acreditar no mundo”, para fugir ao controle. Afinal, diz Deleuze (1992), “acreditar
no mundo é o que mais nos falta” (Deleuze, 1992, p. 218). “Acreditar no mundo, significa
principalmente suscitar acontecimentos, mesmo pequenos, que escapem ao controle, ou
engendrar novos espaços-tempos, mesmo de superfície ou volume reduzidos” (Deleuze,
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A ciranda do currículo com gênero, poder e resistência
(...) Não podemos aceitar isso que eles falam (...). É como se nós tivéssemos
corrompendo as crianças... Será que eles imaginam o que sofrem as crianças que
recebemos na escola? Dá vontade de falar da quantidade de crianças que sofrem
violência sexual nas famílias, dos próprios parentes, crianças de seis, sete, oito
anos ... Aí, na lógica deles, devemos fazer de conta que não sabemos de nada...
porque se é a família que decide sobre o que falar ou não para as crianças, isso
quer dizer que temos que fazer de conta que está tudo bem?... Um bando de
hipócritas!
(...) Mesmo se gênero não tiver nos Planos [está se referindo aos Planos
Nacionais, Estaduais e Municipais de Educação], essas questões aparecem na
sala de aula e não tem jeito de não fazer nada. (...)É absurda essa ideia. O que
eu acho complicado é que isso pode dificultar que tenhamos formação na área de
gênero e sexualidade, o que é fundamental para nós. Muitos professores não têm
formação para trabalhar o que surge na escola e nem para reagir a isso. Existe
muito moralismo entre nós mesmas. E isso me preocupa (...). Nossa luta tem que
ser por ai.
(...) Como se já não bastasse a vergonha que a gente tem quando sente que, sem
querer, sem perceber, contribui para o machismo, para a discriminação, porque
simplesmente acostumamos com isso. Fomos educadas assim (...). Eu confesso,
professora, quando li seu texto eu (...)me identifiquei no seu texto. Eu sei que é
uma luta para a gente mudar essas práticas(...). Agora os políticos querem que a
escola não discuta nada do que aparece disso em sala. Como pode? E querematé
prender professor (...). Não dá nem para acreditar que estamos vivendo isso!
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MARLUCY A. PARAÍSO
deixar espaço para ver qualquer possibilidade. Também preciso pensar sobre essas amarras
atuais do poder, me liberar de um sentimento de sufoco com todas as atrocidades políticas
que estamos vivendo para encontrar um pouco de possível.
Quero lembrar que, apesar de todos os poderes e saberes que em nós são investidos para
nos governar, sujeitar e normalizar, aprendi de Foucault (1986 e 2006b) que, nós mesmos
conduzimos nossa conduta e somos artífices dessa condução. Necessito lembrar também que,
como aprendi de Deleuze (2002), “(...) a sociedade nunca pára de escapar. (...) O problema
para a sociedade é parar de vazar” (Deleuze, 2002, p. 74). Apesar de toda a resistência, de
todos os vazamentos, os poderes insistem em tentar “tapar os vazamentos”, em tentar
aprisionar a diferença (Deleuze, 2002, p. 74). É necessário, portanto, movimentar para liberá-
la. Liberar a diferença para que continue fazendo seus jogos leves e de afirmação da vida.
Quero lembrar que da resistência podem surgir condutas negativas previstas, mas também
singularidade, novidade, possibilidades, nesses modos de nos conduzirmos. Os possíveis (ou
as possibilidades) devem ser inventados no aqui e agora do correr da vida porque o possível
é devir. E o devir sempre escapa, foge, resiste... Afinal, “mais aquém estão os devires que
escapam ao controle, as minorias que não param de ressuscitar e de resistir” (Deleuze, 1992,
p. 190). Sim, lembremos o que afirma Deleuze (1992): “um campo social (...) foge por todos
os lados” (Deleuze, 1992, p. 190). Quero, necessito, desejo entrar em devires que escapam
ao controle; resistir e continuar afirmando a vida, apesar de todos os poderes que querem nos
ver tristes e lamuriantes.
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“A ideologia de gênero afirma que ninguém nasce homem ou mulher, mas deve
construir sua própria identidade, isto é, o seu gênero ao longo da vida. Então, o
que significa gênero? Gênero seria uma construção pessoal, autodefinida, e
ninguém deveria ser identificado como homem ou mulher, mas teria de inventar
sua própria identidade. Quer dizer que essas pessoas acham que ser homem e ser
mulher são papéis que cada um representa como quiser? Exatamente. Para eles,
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A ciranda do currículo com gênero, poder e resistência
não existe homem ou mulher, cada um deve inventar sua própria personalidade
como quiser”23.
O deputado fala também contra o uso de banheiros de acordo com a identidade de gênero
dos/as alunos/as na escola. Impressiona ver como ele aborda o tema e, sobretudo, como essa
fala do deputado recebe tantos apoios e adeptos cheios de ódio na internet. No discurso o
deputado diz:
A Resolução nº 12, de 2015, da Secretaria de Direitos Humanos, publicada no Diário
Oficial da União de 12 de março de 2015, garante o uso de banheiros e vestiários de acordo
com a identidade de gênero de cada sujeito em todas as instituições da rede de ensino, em
todos os níveis. Imaginem, Sras. e Srs. Parlamentares, suas filhas irem ao banheiro da escola
e de repente lá encontrarem um sujeito homem que resolveu naquele instante ser mulher. É
perturbador acreditar que isso possa ocorrer. Pois é isso e mais o que está por traz dessa
ideologia de gênero24.
No final do discurso, o deputado usa as estratégias da distorção, dizendo que materiais
didáticos serão usados para “deformar a identidade das crianças”, e do amedrontamento,
sugerindo que os pais podem ser “criminalizados”, para mais uma vez conclamar os pais a
impedirem que aquilo que chamam de ideologia de gênero chegue nas escolas. Em suas
palavras:
Essas falas utilizadas para conclamar as famílias a impedirem a inclusão do tema gênero
nos Planos de Educação também produzem vergonha de ser humano em mim e nas
professoras que discutiram o tema comigo. A informação dada por Fernando Penna,
professor-adjunto da Faculdade da Educação da Universidade Federal Fluminense, que tem
debatido e estudado alguns desses Projetos de Lei e os argumentos dos seus formuladores e
defensores26, de que “projetos de lei com esses teores tramitam em Assembleias Legislativas
de pelo menos nove estados da federação e em outros 13 municípios, incluindo capitais como
São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba”27, produz preocupação.
Em Alagoas, por exemplo, o Projeto de Lei (PL 69/2015) Programa Escola Livre
(ALAGOAS, 2015a), contrário ao que o nome parece sugerir, determina que fica “vetada a
prática de doutrinação política e ideológica em sala de aula, bem como a veiculação, em
disciplina obrigatória, de conteúdos que possam induzir aos alunos a um único pensamento
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“Você já ouviu falar sobre a Ideologia de gênero? Conheça essa ideologia e saiba
os riscos que seus filhos estão correndo”30; “A Ideologia de Gênero nos Planos
Municipais de Educação: perigo perto de todos31”; “A ideologia de gênero quer
destruir a família tradicional, diz ex-feminista Sara Winter”32; “Ajude a combater
a Ideologia de Gênero em Santa Catarina”33; “Plano da Unesco ensina aborto e
direito à masturbação para crianças de 5 anos”34; “Caindo no conto do gênero”35;
“Ideologia de gênero: o conceito que rejeita a criação divina do homem e da
mulher”36; “Abuso: pediatras alertam sobre os malefícios psicológicos da
ideologia de gênero para crianças”37; “Vamos vencer: Santa Catarina sem
Gênero!”38; “Vereador evangélico distribui cartilhas para alertar pais sobre o
perigo da ideologia de gênero”39;“Líderes evangélicos se reúnem com Michel
Temer para pedir combate à ideologia de gênero”40; “Pais na cadeia! Crime:
discriminação de gênero. Vítimas: os filhos. Cuidado! Este pode ser o futuro
próximo se não combatermos a ideologia de gênero”41; “O perigo está mais
próximo do que você imagina. O plano para introduzir a Ideologia de Gênero nas
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A ciranda do currículo com gênero, poder e resistência
escolas saiu do Congresso Nacional e está nas Câmaras Municipais de todo o país,
bem perto da sua casa”42; “Afinal, o que está acontecendo? Como agir diante dessa
nova ameaça à família brasileira? Entenda já os riscos e saiba o que fazer”43; “A
bíblia é contra a ideologia de gênero”44; “A Maçonaria alerta: ideologia de gênero
é a morte da família”45; “Querem destruir nossas famílias”46; “Procurador oferece
documento para pais combaterem ensino da ideologia de gênero nas escolas”47.
Com a estratégia de poder da tradução, que opera aqui junto com a estratégia da
distorção, esses textos e cartilhas sintetizam em uma linguagem simplificada o que é para
eles gênero; distorcem o tema ao defender que “gênero é uma ideologia contrária aos
interesses da família tradicional” e dão o “passo a passo” de como devem agir para impedir
que gênero esteja nos Planos Estaduais e Municipais de Educação ou que seja discutido na
escola. A estratégia da multiplicação, acionada por deputados para garantir a proibição da
discussão sobre gênero nos mais diferentes artefatos da política educacional brasileira e nos
currículos das escolas, é usada nesses textos, manchetes e cartilhas de modo articulado com
a estratégia do amedrontamento, numa operação que objetiva alarmar e produzir medos nas
famílias, endereçando claramente o discurso aos pais dos/as alunos/as, para multiplicar os
adeptos ao Projeto.
Cabe registrar que, diferentemente de outras partes do mundo que, segundo Junqueira
(2016), o slogan ideologia de gênero é laico, no Brasil o discurso sobre o ideologia de gênero
está claramente atrelado à religião. Ele, portanto, não é laico. É endereçado, sobretudo, às
famílias dos/as alunos/as e já se espalhou pelo social. Encampada, portanto, por grupos
reacionários do Brasil, tais como: políticos de partidos da direita (sobretudo PSC, PSDB,
PTB e PR), membros da ala conservadora da igreja católica48, sobretudo da ala denominada
Renovação Carismática e membros de igrejas evangélicas49, com apoio de membros da
Maçonaria50, as manifestações contra as discussões de gênero e sexualidade na escola, que
recebeu o nome de “Ideologia de Gênero”, e se uniu mais recentemente em alguns locais com
o Movimento do Escola Sem Partido51, para defender a exclusão do termo gênero dos Planos
de Educação, se espalhou pela sociedade. O site do Escola sem Partido tem conclamado
“pais” para processarem “professores”, e disponibiliza, até mesmo, um Modelo de
Notificação Extrajudicial52 anônimo para “os pais” usarem, forçando para que o/a docente
“se abstenha de adotar certas condutas em sala de aula”53. Padres, bispos, papa, pastores,
políticos, ator, pediatras, psicólogos, professores, pais, jornalistas, advogados etc. se juntam
nessa onda de tentativa de coibição ao tema e amedrontamento da população.
As estratégias discursivas usadas em seu conjunto apresentam gênero como uma “não-
verdade”, como um “conto”, como um “falseamento da realidade” ou como “uma ideologia”.
Tentam, portanto, destituir gênero de seu caráter de ciência. As estratégias são
cuidadosamente usadas para ganhar mais adeptos reacionários, conservadores, autoritários,
machistas e homofóbicos para a causa de controlar os currículos e os/as docentes de modo a
que docentes se silenciem em relação a gênero e sexualidade ao mesmo tempo em que
silenciam completamente esse tema no currículo.
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“Gente, isso é sério demais (...), eu posso ser presa fácil fácil (...). Eu já chamei
várias vezes conselho tutelar para resolver abuso de familiares a crianças. Mas
é nojento porque ninguém quer nem escutar sobre isso. Não aguento essa
hipocrisia(...)”
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Suzana, professora há 11 anos desabafa: “É (...), e esse idiota desse deputado, que
é aqui de Minas, que quer prender professor que trabalhar gênero ou qualquer
política na escola, já foi longe demais. É cada coisa que a gente vê...”
A professora Simone com um riso nervoso contemporiza: “Não tem cadeia para
prender todas nós. Rsss.”
A professora Magna sugere esperançosa: “Sabe o que eu acho? Que o efeito pode
ser contrário. Ao falar tanto de gênero isso vai é provocar que alguns professores
que não trabalhavam comecem a trabalhar porque é muito absurdo o que eles
falam...muitas professoras vão ficar indignadas com isso... E se houver uma
grande união dos professores contra isso, ninguém segura!”
Claramente, o projeto de lei apresentado por Jean Willis é uma estratégia de resistência
ao controle dos currículos e ao impedimento de discussões críticas, políticas e culturais na
escola. E é muito importante que a resistência tenha diferentes focos, inclusive esse de
Projetos de Lei. Contudo, a estratégia de resistência de abaixo-assinados e de discussão na
mídia por acadêmicos críticos desses Projetos ainda não tem sido suficientes para conseguir
o arquivamento dos Projetos. Os Projetos de Lei vinculados ao slogan ideologia de gênero
colocam em risco as bases da educação escolar brasileira, tentam controlar o currículo e os
materiais didáticos e pedagógicos, tentam impedir de várias formas as discussões de gênero
e sexualidade na escola, tentam impedir qualquer discussão política e criminalizar a prática
docente. Os textos desses Projetos, a quantidade de pessoas que os defendem e as estratégias
usadas para defendê-los são, de fato, assustadoras. Por isso nossa resistência precisa ser mais
inventiva e com diferentes focos. Precisamos encontrar meios para liberar a vida que os seres
humanos aprisionaram e não param de aprisionar.
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Esses Projetos de Leis e todas as discursões e materiais sobre eles partem de um slogan
estrategicamente pensado e construído aos poucos – já que Junqueira (2016) tem mostrado
que mundialmente ele tardou a receber esse nome de “ideologia” – para destituir gênero de
suas discussões científicas: a de que gênero e sexualidade são “ideologias”, são “invenções
ideológicas”, “não têm base na ciência” e nem na “realidade”. Dado o prestigio que a ciência
ainda possui em nossa sociedade, essa é uma estratégia comum que tem se mostrado eficiente
quando se quer desqualificar pessoas, grupos ou temas. A estratégia consiste em mostrar que
as compreensões do mundo que querem desqualificar são “ideológicas”, portanto, destituídas
de “verdade científica”.
É comum, também, dizer o contrário: que um determinado saber ou mesmo produto é
resultado de comprovações cientificas quando se quer atribuir a eles um caráter de verdade.
Jurjo Torres Santomé (1995) mostrou como se usou a ciência de modo equivocado para
“tergiversar” sobre grupos e culturas que não exercem poder na sociedade (Santomé, 1995,
p.176). Isso ocorre porque a ciência tem prestigio na sociedade contemporânea. Assim, os
grupos reacionários tentam destituir gênero de seu caráter cientifico e apresentá-lo como
ideologia porque assim retiram dele exatamente aquilo que lhe qualifica.
Sabemos, e esses grupos também o sabem, que o conceito de “gênero” foi produzido e é
discutido no meio acadêmico com base em todos os parâmetros autorizados de produção de
saberes científicos contemporâneos61. Trata-se de um conceito usado para identificar,
compreender e analisar os processos históricos e culturais que nos posicionam como homens
e mulheres, que criam sentidos para as diferenças percebidas em nossos corpos e que
hierarquizam pessoas, limitando possibilidades de algumas e aumentando as possibilidades
de outras62. Trata-se de um conceito usado para mostrar como as normas conformam,
ordenam e hierarquizam os corpos masculinos e femininos por meio de repetições e citações
infindáveis, produzindo e reproduzindo relações de poder que dividem, hierarquizam e
incluem/excluem (Butler, 2002 e 2006).É por isso que o conceito de gênero tem sido
extremamente importante para que muitas pesquisas consigam identificar, descrever e
analisar o funcionamento da produção das desigualdades e das diferenciações hierárquicas
nos currículos e nos contextos escolares.
Toda a produção científica sobre o conceito de gênero é feita, portanto, seguindo os
parâmetros da ciência. Exatamente o contrário das “doutrinas” que movem esses grupos
reacionários, que tem interferido nas políticas educacionais para impedir que nelas apareçam
a menção a gênero, e que são sustentadas pela crença ou fé. Exatamente o contrário, portanto,
das “ideologias”, que esses grupos adotam, usadas para promover o conformismo das pessoas
diante de desigualdades sociais, políticas e culturais.
O conceito de gênero tem sido usado na luta pela vida digna de milhões de pessoas, na
luta para promover igualdades de oportunidades, na luta por políticas que combatam as
injustiças. No campo do currículo, gênero tem sido usado para mostrar os raciocínios
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A ciranda do currículo com gênero, poder e resistência
generificados que conduzem práticas excludentes (Paraiso, 2011 e 2016) e na luta por
currículos escolares que não anulem as diferenças percebidas entre as pessoas ao mesmo
tempo em que não compactuem com as desigualdades (Carvalhar, 2009, Cunha 2011, Reis
2011). O gênero é um conceito, portanto, que tem sido historicamente útil para mostrar o
funcionamento de uma relação de poder que tem violentado63, estuprado64, matado65,
aniquilado possibilidades, subjugado milhões de pessoas e que tem tornado muitas vidas,
portanto, impossíveis de serem vividas. É claro que o currículo escolar, como espaço de
socialização, de encontros, de transformação e de possibilidade, não pode ficar alheio a tudo
isso que ocorre em nosso país.
No grupo de professoras com o qual discuti gênero e o projeto “ideologia de gênero”,
olhamos dados sobre violência, estupro e morte de mulheres, meninas e de pessoas não
heterossexuais. Após muitas manifestações de preocupação, indignação e incompreensão,
produz-se no grupo uma formulação sobre a necessidade de lutar e de resistir, como formula
a professora Ana Paula: “uai gente, temos que lutar contra esse absurdo”! “Sim, devemos
resistir”. O grupo todo concorda.
Deleuze (2001) diz que, às vezes, sentimos a necessidade de resistir: “resistir para
impedir que a estupidez seja tão grande”, diz o filósofo. Pois a tentativa clara de grupos
reacionários de controlarem os currículos com a disputa em torno desses projetos, acirrada
em vários estados e municípios brasileiros, tem tido como efeito um sentimento de
necessidade de resistência. “Resistir à estupidez”. Resistir à tentativa de controle dos
currículos e dos/as professores/as. Resistir à proibição de um pensamento crítico e político
na escola. Resistir à proibição da discussão sobre gênero e sexualidade. Resistir à
criminalização dos/as professores/as.
Resistir e pensar no campo do currículo com a resistência. Pensar uma resistência que
possa operar possíveis nos currículos. E, se ‘’o que a resistência extrai do velho ‘homem’ são
as forças, como dizia Nietzsche, de uma vida mais ampla, mais ativa, mais afirmativa, mais
rica em possibilidades (...)” (Deleuze, 1995, p.100), é essa força da resistência que
necessitamos para reinstaurar a vida e para acreditar na possibilidade de fazer um currículo
rico em vida e em possibilidades.
Quando pergunto às professoras: “como vocês acham que podemos lutar contra isso?
Como resistir aqui na escola?”, uma professora, a Ana Maria, diz algo que dá o que pensar.
Ela diz:
“(...) não dá para abaixar a cabeça. (...) fazer de conta que nada está
acontecendo, não pode (...) Eles estão manipulando, enganando, mentindo e
fazendo leis (...)Estão jogando pais contra professores. Onde já se viu? E o pior
é que o que eles falam está colando(...). Cola porque (...) o povo não tem nem
ideia do que é gênero. Vamos ser sinceras, nem professores sabem. Muitos
professores não sabem. Só sabem: qual é o gênero? Feminino ou masculino? E
pronto. Nunca estudaram nada sobre gênero. Fica difícil cobrar deles, ne? E se
essa gente explica do modo que vimos que fazem, até com cartilhas, é porque eles
estão sabendo lidar com as pessoas mais que nós. (...) É claro que muitos pais e
mães vão acreditar. Mas nós também temos força e muitos pais acreditam no que
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falamos e fazemos. Temos que saber falar com eles. Então nós temos que fazer
nosso trabalho de formiguinha, temos que fazer as pessoas deixar de acreditar
neles e passar a acreditar em nós. Nós professoras temos força para isso(...).
Aqui nesta escola nós temos”.
O que a professora Ana Maria está sugerindo como tática de luta e de resistência, e que
me parece muito importante para operar no campo do currículo, de certo modo, é convocar
as famílias à deserção, isto é, ao abandono do lugar que se ocupava ou frequentava por
compromisso ou afinidade. É trabalhar pela extinção dos frequentadores ou apoiadores de
um grupo. No caso aqui em questão é fazer a “despovoação” do grupo que apoia o controle
do currículo e dos/as docentes. Realmente, “as deserções podem ser tão ou mais perigosas
para o funcionamento do poder que seu enfrentamento” (Deleuze, 2001). Afinal, como sugere
Deleuze (2001), “enfrentar, combater, lutar são ações que precisam ser acompanhadas por
uma ou mais linhas de fuga, uma ou mais potência desertora66”.
Quando uma professora, a Rita, pergunta “será?”, duvidando da eficiência da estratégia
da deserção, a professora Ana Maria insiste:
Gente, esses dados que vimos e outros que estão na internet são super importantes
para a gente mostrar na escola (...). Se nós mostramos, por exemplo, para os/as
alunos/as, ou mesmo para as mães em reuniões, vídeos contando casos como o
daquele menininho que o pai matou porque gostava de fazer os trabalhos de casa
e gostava de dança, acho que dança do ventre, vocês acham que não conseguimos
emocioná-los? Esses casos sempre emocionam e revoltam e podemos passar
nossa mensagem. Claro que sim... depende muito de nossa capacidade de
escolher as coisas certas no momento certo para discutir.
Esses casos realmente produzem choques e emoções. Se eles servem para produzir
espantos e para tocar as pessoas fazendo pensar sobre as barbaridades que se fazem pelo
medo/horror à diferença, então eles precisam mesmo ser lidos, discutidos, trazidos à tona
uma e outra vez. Eles podem ser elementos para a resistência no currículo. A professora está
se referindo aí ao caso de Alex, garoto de 8 anos, morto em 2014 pelo próprio pai por gostar
de lavar louça e de dançar a dança do ventre. Alex era surrado constantemente pelo pai.O
garoto escutava de seu pai que deveria “se comportar como homem”. Após uma surra do pai,
o fígado de Alex se rompeu e ele morreu. O caso do Alex foi muito divulgado na mídia.
Buscamos na internet e lemos sobre o caso do Alex juntas.67
O exemplo comove o grupo. Uma professora diz: “nossa, será que a escola desse garoto
não podia ter feito algo que impedisse essa tristeza?”. Uma outra diz: será que esses políticos
irresponsáveis não vêem que o que estão fazendo ajuda para que esses casos ocorram? E
uma outra conclui: “É! Nós jamais podemos nos omitir frente a essas barbaridades. Façam
o que quiser; não podem nos calar”. A estratégia de resistência anunciada pela professora
contagia. Um sentimento de possibilidade nos invade.
Necessitamos em nosso professorar, e eu necessito em meu pesquisar/ler/escrever, desse
sentimento de possibilidade para um currículo, de afirmação da vida, da diferença e da
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A ciranda do currículo com gênero, poder e resistência
alegria. Preciso continuar criando possíveis. Essa sensação sempre me dá a coragem que
necessito para caminhar, seguir...Afinal, nesses Projetos de Lei, nesse desejo de controlar os
currículos e criminalizar professores/as, de não tocar nas desigualdades existentes, de
destituir direitos, de deixar a vida triste, se esconde um enorme ódio ao que é belo, alegre e
afirmativo. É um ódio que tudo negativiza e que não podemos levar para o nosso professorar
e nem para o nosso pesquisar. É a esse ódio, ao controle, às injustiças, ao medo que querem
instaurar que precisamos resistir.
Pois é sobre a resistência que falarei mais detalhadamente no próximo tópico, parte final
deste artigo. Busco sintetizar aí elementos do conceito resistência, de modo a que busque
pistas para seguir, impedir o controle do currículo e anular a tentativa desilenciamento das
questões de gênero e sexualidade na escola. Ao mesmo tempo, sintetizo elementos de um
conceito que pode ser produtivo para análises no campo curricular; importante para ver,
mapear e criar possíveis nos currículos.
A imagem de um currículo que desfaz, que ative, que afirme e que experimente pode
maquinara resistência. Isso porque a resistência condiz com a imagem de um “currículo-
aventureiro”, como nomeia Corazza (2014), “que não propõe gestos a serem reproduzidos ou
conteúdos a serem reconhecidos” (Corazza, 2014, p. 457); mas que faz pensar e que mostra
a importância de cada um traçar o seu caminho. Aquilo que move para resistir é um
professorar/pesquisar que “emite signos” para desenvolvermos “no heterogêneo”. Afinal, diz
Deleuze (1988) sobre isso: “não aprendemos com aquele que nos diz: faça como eu. Nossos
únicos mestres são aqueles que nos dizem ‘faça comigo’ e que, ao invés de nos propor gestos
a serem reproduzidos, sabem emitir signos a serem desenvolvidos no heterogêneo” (Deleuze,
1988, p. 54).
Resistir a toda essa ciranda que envolve currículo, gênero e poder aqui analisada
demanda trabalhar no miudinho, no aqui e agora construindo os caminhos possíveis em cada
território ou criando possíveis em cada caminhar, sempre apontando para a
desterritorialização. Trabalhar no miudinho para aniquilar a tristeza que esses e quaisquer
outros discursos do ódio, da exclusão, da separação querem ver em nós. Trabalhar no aqui e
agora para promover encontros que destruam as tristezas que esses e outros projetos
produzem e espalham pelo currículo e por todo o social. Estar à espreita de algo que nos toca
e nos faça seguir um outro caminho.
Resistir demanda liberar a vida lá onde ela é prisioneira, onde quer que ela seja
prisioneira. Liberar a vida é enfrentar os intoleráveis e dizer do jeito que conseguimos: basta!
Chega! Não suporto mais! Não aceito! Em um currículo é sempre possível dizer basta; é
sempre possível enfrentar os intoleráveis; é sempre possível liberar a vida. Afinal, “não há
currículo que não expresse ou não viva uma vida” (Corazza, 2012, p. 2).
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MARLUCY A. PARAÍSO
Para resistir ao ideologia de gênero e a outros poderes é preciso “dizer não”, aprendo de
Foucault (1986, p. 268). E nós professoras e professores estamos dizendo não a esse controle
do currículo, às tentativas de impedir a discussão de gênero e sexualidade na escola, à
criminalização do/a professor/a. No campo do currículo temos sabido dizer não: aos
currículos nacionais, aos materiais que silenciam culturas que não exercem poder, aos
currículos feitos em gabinetes fechados, às metanarrativas que querem dar conta de tudo, às
explicações universais... No entanto, o “não” constitui a forma mínima de resistência. Diz
Foucault (1986): “(...) naturalmente, em alguns momentos é muito importante. É preciso
dizer não” (...). Contudo, o não é apenas o começo”. É necessário “fazer deste não uma forma
decisiva de resistência” (Foucault, 1986, p. 268).
Fazer desse “não” uma resistência é fazer desse “não” uma força que aniquile os efeitos
do poder. Resistir é fazer do “não” uma intensidade de vida como potencialidade de
mudanças. Após o não é preciso todo um movimento intensivo que mobiliza agenciamentos
potentes para encontrar saídas. Então, após dizer o não a tudo que entristece, desanima e
impede o movimento, é preciso seguir e dizer um sim à vida.
Resistir é, às vezes, seguir, caminhar, não parar, se movimentar. Mas é um seguir,
caminhar, apreendo de Deleuze e Guattari (1997a), como os nômades, desterritorializando e
destruindo os aparelhos de Estado que codificam a vida68. Resistir é acoplar máquinas e fazer
maquinações que movem. Cada um com suas pequenas máquinas69! Cada um com suas
maquinações, com suas invenções, com suas fabulações. Afinal, no pensamento da diferença
Deleuze-Guattariano, “há tão somente máquinas em toda parte, e sem qualquer metáfora:
máquinas de máquinas, com seus acoplamentos, suas conexões” (Deleuze e Guattari, 2010,
p. 11). Então, operar com a resistência no campo curricular ou resistir ao ideologia de gênero
é fazer empreender uma busca incansável por acoplar as “máquinas desejantes”70 que se
conectam com os devires e criam possibilidades. Trata-se de fazer funcionar uma “máquina
de guerra” contra as tristezas, os desânimos e os poderes.
Para Foucault (1988) resistência e poder estão sempre juntos e fazem parte da mesma
relação, e isso não diminui a força da resistência. Ao contrário, as resistências são efetivas
“porque são formadas bem no ponto onde as relações de poder são exercidas” (Foucault,
1988, p. 142). Nesse sentido, “a resistência ao poder não precisa vir de outro lugar real, nem
é inexoravelmente frustrada por ser compatriota do poder” (Foucault, 1988, p. 142). Em meio
a todas essas estratégias de poder que tentam controlar os currículos, e jogar para o silêncio
as questões de gênero e sexualidade, há possibilidade de se formar resistências efetivas.
Afinal, como lembra Negri (2001), “ao lado do poder, há sempre potência. Ao lado da
dominação há sempre a insubordinação. E trata-se de cavar, de continuar a cavar, a partir do
ponto mais baixo: este ponto é simplesmente lá onde as pessoas mais sofrem” (Negri, 2001,
p.68).
Mesmo que os poderes insistam em tentar tapar a potência ou a insubordinação, elas de
fato estão aí em tudo. A possibilidade de resistência está sempre presente em todos os
momentos, em todas as relações. Isso porque, como disse Deleuze (1992), “uma sociedade”
se define “menos por suas contradições que por suas linhas de fuga, ela foge por todos os
lados, e é muito interessante tentar acompanhar em tal ou qual momento as linhas de fuga se
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A ciranda do currículo com gênero, poder e resistência
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currículo é território propício para isso. Resistir “criando novas maneiras de pensar, sentir,
interpretar, avaliar; construindo novas possibilidades de vida; produzindo uma arte de
trabalhar” (Corazza, 2005, p. 42). Afirmar a vida encontrando maneiras de falar com as
crianças, com as mães, com os pais, com as colegas... Educar criando pontes entre as
diferenças. Afinal, pergunta Deleuze (1995, p.100), “a vida não seria essa capacidade da
força de resistir?”.
É claro que resistir sempre implica medos e riscos. Medos muitos, inclusive o medo de
não conseguir trabalhar com a arte necessária para sermos professoras situadas no nosso
tempo. Um tempo que Sandra Corazza (2005) chama de tempo da diferença pura e que
necessita, mais que sempre, que sejamos capazes de mostrar o quão importante e
imprescindível é ver a diferença proliferar; o quão importante é discutir gênero e sexualidade
na escola. Riscos, muitos também, inclusive o risco de não sermos entendidas...
Mas os/as diferentes com os quais lidamos todos os dias em nossas salas de aulas também
não vivem muitos medos e muitos riscos? Não vivem medos e riscos inclusive relacionados
a suas vivências de gênero e sexualidade? Podemos imaginar os medos e os riscos com os
quais viveu Alex em sua curta vida? Podemos imaginar também os riscos e medos que muitos
de nossos/as alunos/as vivem todos os dias? Basta seguir os movimentos e acompanhar a
vida de alguns/as alunos/as nas escolas e vemos/sentimos esses medos e riscos. Por isso é
com eles/as que estaremos conectados em nossas lutas e resistências. Afinal, “ou aprendemos
as lições deste tempo e fazemos os diferentes e suas culturas”, seus medos e os riscos que
vivem, “entrarem, efetivamente, em nossos currículos e práticas pedagógicas ou vamos
acabar cedendo nosso lugar de educadores críticos para os a-críticos” (Corazza, 2005, pp. 20-
21), inclusive para os políticos reacionários, para os padres fundamentalistas e pastores
moralistas, para a mídia descompromissada com a justiça social e com as lutas dos/as
diferentes, para pais homofóbicos e violentos, para sexistas e machistas que estão por toda
parte.
Todos/as nós sentimos ou podemos sentir a possibilidade da resistência, se não
estivermos tomados demais pelos efeitos das relações de poder, se não nos esquecermos de
afirmar a vida. Clarissa Estes (2007), em seu tocante livro “A ciranda das mulheres sábias”,
diz que “o lugar que almejamos é a terra onde os humanos ainda são tão perigosos quanto
divinos, onde o que é derrubado cresce de novo, e onde os ramos das árvores mais velhas
florescem por mais tempo. A mulher oculta conhece esse lugar”, diz a autora, “Ela conhece.
E você também” (Ester, 2007, p. 34).
A resistência possui um potencial de crescimento, florescimento e transformação que
necessitamos para habitar a terra, para operar no campo curricular e para impedir o controle
dos currículos e o silenciamento das questões de gênero e sexualidade na escola. Ela
possibilita criar espaços de combates, de lutas, de insubordinação, de insurreição. A
resistência é a criação de possíveis. Ela é força agenciadora que transforma e funda outras e
novas relações. É esse seu potencial de criação que precisamos acionar para impedir que os
desejos sejam codificados pelos poderes. É esse potencial de criação da resistência que
necessitamos acionar para embaralhar esses códigos tristes e para voltar a sorrir. Afinal, como
disse Deleuze, em seu “Pensamento nômade” – e é com a imagem do seu riso que quero ver
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A ciranda do currículo com gênero, poder e resistência
multiplicada que termino este artigo –: “Não se pode deixar de rir quando se embaralham os
códigos” (Deleuze, 1985, p. 64).
Notas
1. Este artigo está vinculado a pesquisa intitulada: “Currículo e relações de gênero: modos de subjetivação na alfabetização
de crianças”, realizada com Bolsa Produtividade em Pesquisa do CNPq.
2. Professora Associada IV da Faculdade de Educação da UFMG e do Programa de Pós-graduação em Educação:
Conhecimento e Inclusão Social da mesma faculdade. Fundadora e coordenadora do GECC (Grupo de Estudos e
Pesquisas em Currículos e Culturas). Pesquisadora 1D do CNPq.
3. Os trabalhos de Deleuze e Parnet (1998) e Deleuze e Guattari (1996, 1997a) também são inspirações importantes para
o modo como trabalho com possibilidades e com resistência no campo curricular.
4. Para Michael Hardt e Antonio Negri (2014) a multidão é constituída de “singularidades que agem em comum” (p. 139).
5. Dessas 17 professoras, 8 haviam realizado curso de pós-graduação lato senso na Faculdade de Educação da UFMG no
LASEB (Pós-graduação Especialização Latu Senso em Docência na Educação Básica) e haviam cursado comigo a
disciplina currículo. Já temos, portanto, uma história de convivência que facilita a discussão. Além disso, quatro dessas
professoras haviam participado de uma pesquisa que coordenei e que investigou o currículo dos Projetos de Intervenção
Pedagógica da Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte. Elas haviam lido alguns artigos com resultados da
pesquisa. As normas de gênero que eu tinha descrito e analisado tinham produzido muita discussão entre um grupo de
professoras que havia participado da pesquisa. Na roda de conversa, as professoras se referiram várias vezes aos
resultados dessa pesquisa, sobretudo a um artigo sobre o currículo e as aprendizagens de gênero (cf. Paraíso, 2011)
oriundo da investigação que havia sido discutido com elas.
6. Michel Foucault (1995) assim explicou o que ele chama de estratégia de poder: “Podemos chamar estratégia de poder
ao conjunto dos meios operados para fazer funcionar ou para manter um dispositivo de poder. Podemos também falar
em estratégia própria às relações de poder na medida em que estas constituem modos de ação sobre a ação possível,
eventual, suposta dos outros. Podemos então decifrar em termos de estratégias os mecanismos utilizados nas relações
de poder” (FOUCAULT, 1995, p. 248)
7. Palestra proferida na Faculdade de Educação da UFMG, no dia 25 de agosto de 2016, intitulada: “Ideologia de Gênero:
Uma ofensiva reacionária aos direitos humanos e à educação”.
8. Opus dei (obra de deus) é uma instituição hierárquica e reacionária da igreja católica com enorme poder politico nas
hierarquias da igreja católica e com força de penetração em mais de 60 países. Ver mais informações no site oficial do
opus dei: http://opusdei.org.br/pt-br/article/historia-2/.
9. Ver alguns das intervenções nacionais feitas nos últimos anos sobre os currículos em: Brasil (2009, 2010a, 2010b, 2014,
2015). Ver algumas análises desses movimentos de intervenção nos currículos em Macedo (2012, 2014, 2015).
10. Trata-se dos seguintes Projetos de Lei: 1) o PL 2731/2015 de autoria do deputado federal Eros Biondini(PTB-MG) que
quer alterar o Plano Nacional de Educação (PNE); 2) o PL 7180/2014, de autoria do deputado Erivelton Santana (PSC-
BA), que pretende alterar a Lei de Diretrizes e Bases (LDB); 3) o PL 7181/2014, também de autoria do deputado
Erivelton Santana (PSC-BA), que pretende alterar os Parâmetros Curriculares Nacionais; 4) o PL 867/2015, de autoria
do deputado federal Izalci Lucas Ferreira (PSDB-DF), que alterar e controlar todos os materiais sobre os conteúdos que
os/as professores ministrarão nas aulas. 5) O Projetos de Lei nº 1859/2015, também de autoria do deputado federal Izalci
Lucas Ferreira (PSDB-DF), que quer proibir a discussão de gênero nas escolas
11. Ele também é cantor de música gospel e foi apresentador da TV Canção Nova. Ver
https://www.youtube.com/user/ErosBiondini. Acessado em 20 de julho de 2016. Foi candidato derrotado a prefeito de
Belo Horizonte na eleição de outubro de 2016.
12. http://educacaointegral.org.br. Acessado em 19 de julho de 2016.
13. http://educacaointegral.org.br/noticias/projeto-de-lei-preve-prisao-de-docente-que-falar-sobre-ideologia-de-genero/.
Acessado em 19 de julho de 2016
14. Ver: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm. Acessado em 23 de julho de 2016.
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64. Em 2011, foram notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da
Saúde, 12.087 casos de estupro no Brasil, o que equivale a cerca de 23% do total registrado na polícia em 2012,
conforme dados do Anuário 2013 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Ver:
http://www.compromissoeatitude.org.br/dados-nacionais-sobre-violencia-contra-a-mulher/. Acessado em 26 de julho
de 2016.
65. Na última década, cerca de 44 mil mulheres foram assassinadas no país. O Mapa da Violência 2013: Homicídios e
Juventude no Brasil mostra que os homicídios de mulheres aumentou 17,2% entre 2001 e 2011, ano em que 4,5 mil
mulheres foram assassinadas no Brasil. Ver: http://www.compromissoeatitude.org.br/dados-nacionais-sobre-violencia-
contra-a-mulher/. Acessado em 26 de julho de 2016.
66. Gilles Deleuze fala da deserção no “Abecedário de Deleuze” quando discute o R de resistência. Ver Deleuze (2001).
67. Ver http://oglobo.globo.com/rio/menino-teve-figado-dilacerado-pelo-pai-que-nao-admitia-que-crianca-gostasse-de-
lavar-louca-11785342. Acessado em 26 de julho de 2016.
68. Deleuze e Guattari (1997a) dizem que o seguir ou o caminhar é um importante “procedimento científico” para a
“ciência nômade” (DELEUZE e GUATTARI, 1997a, p. 39). Isso me inspira em minhas pesquisas, em minha docência
e também aqui neste artigo para pensar as possibilidades de desterritorializações em um currículo e pensar a resistência
no campo curricular.
69. Deleuze e Guattari (2010) – para falar das conexões que fazemos ou não com a natureza, com as pessoas, com os objetos,
com os corpos, com o livro, com a arte, com o cinema e com tudo no mundo – afirmam a existência de maquinas:
máquinas desejantes, máquinas produtivas, máquinas de Estado, máquinas de guerra, máquinas... que se conectam, se
acoplam ou não.
70. Nas máquinas desejantes “tudo é produção: produção de produções, de ações e de paixões; produções de registros, de
distribuições e de marcações, produções de consumos, de volúpias, de angustias e de dores” (DELEUZE e GUATTARI,
2010, p. 14).
71. Trecho da música “Como uma onda” do Lulu Santos.
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A ciranda do currículo com gênero, poder e resistência
Correspondência
Marlucy Alves Paraíso: Doutora em Educação e Professora da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-
Graduação em Educação da UFMG, Brasil
E-mail: [email protected]
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