Revista Arautos Do Evangelho Janeiro 2019

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A Revista Católica Arautos do Evangelho!

Sumário
Bento XVI recebe os Arautos

Edição Nº 205 - 01/2019

Matérias desta Edição:


• Meu filho, converte-te
• Escrevem os leitores
• Verdadeiramente bem-aventurada, escolhida entre to
• Três presentes cheios de simbolismo
• A força da Palavra!
• Um vínculo que perdura e se fortalece
• Por que Nosso Senhor veio ser batizado?
• A glória excelsa de Maria Santíssima
• Mãe de Deus e Mãe nossa
• O amargo cálice do abandono
• Sinais sensíveis da graça
• Estados Unidos: Missão Mariana em Green Bay
• Missões Marianas no interior da Bahia
• Aconteceu na igreja e no Mundo
• O valor da espera e do abandono
• Os Santos de cada dia
• Como uma semente…

“Meu filho, converte-te!”


Ah! meu filho, ouve atentamente o meu conselho: se a consciência te censura
de algum pecado, vai imediatamente confessar- -te para principiar logo uma boa
vida; põe em prática todos os conselhos do teu confessor e se for necessário faz
uma confissão geral; promete fugir das ocasiões perigosas, das más
companhias, e se Deus te chamar a deixar o mundo, obedece-Lhe com
prontidão.

Tudo o que se faz para evitar uma eternidade de tormentos é pouco, é nada:
“nenhuma segurança é excessiva quando está em jogo a eternidade”, escreveu
São Bernardo.

Oh! quantos jovens na flor da idade abandonaram o mundo, a pátria, a família e


foram sepultar-se nas grutas e desertos, não vivendo senão de pão e água, às
vezes só de algumas raízes! ...E tudo isso para evitarem o inferno!

E tu, o que fazes, depois de merecer tantas vezes o inferno pelo pecado?

Lança-te aos pés de teu Deus e diz a Ele: “Senhor, vede-me pronto a fazer tudo
o que quiserdes. Já Vos ofendi demais até agora; de hoje em diante não Vos
quero mais ofender; enviai-me, se preciso for, todos os males nesta vida, desde
que possa salvar minha alma”.

São João Bosco,

“O jovem instruído na prática dos seus deveres”

Acredito nesta obra e rezo com vocês


Sou grande amigo, intercessor e entusiasta dos Arautos do Evangelho.
Conversando com alguns amigos arautos, me recomendaram mandar um e-mail
para vocês solicitando o envio mensal da Revista. Ela tem feito muito bem e
gostaria de recebê-la para uso pessoal, como também para a divulgação desta
grande obra de Deus.

Ressalto a beleza da diagramação. O conteúdo, como sempre, espetacular. É


grande alimento espiritual e meio seguro para a salvação das almas o que nesta
Revista se apresenta.

Obrigado pelo belo trabalho. Que Deus e a Santíssima Virgem Maria os


abençoem e guardem sempre. Acredito nesta obra e rezo com vocês e por
vocês. Meu abraço fraternal bem como minhas orações, Missas e sacrifícios.

Pe. Douglas Rodrigues Xavier

Bom Despacho – MG
Mostra a beleza da Igreja em todos os seus aspectos
A Revista é um meio de fazer chegar às famílias os ensinamentos de que o
mundo carece: mostra a beleza da Igreja em todos os seus aspectos, em todos
os seus patamares, em todas as suas doutrinas, explicitando para cada família
um ponto que toca a fundo a alma daqueles que estão buscando a esperança e
a felicidade que perdura para sempre.

Ela é como um arauto que anuncia a mensagem que salvará o mundo e a


chegada da Rainha para todos os povos. Cabe a nós nos associarmos por inteiro
e nos entregarmos nas mãos da Providência, para a implantação do Reino de
Maria nesta terra.

Luiz Sávio Defanti da Cruz

Campos dos Goytacazes – RJ

Gratidão de um pároco canadense


Conheci os Arautos do Evangelho quando exercia meu ministério presbiteral na
Paróquia de Our Lady of the Rosary em Scarborough, a partir do ano de 2001.
Durante esses anos recebi deles uma ajuda preciosa, particularmente no tempo
de Natal, quando trabalhavam com afinco, sem medir sacrifícios, na preparação
de um elaborado presépio, que servia como meio para apresentar uma cativante
narração da história de nossa Redenção. Um grande número de nossos fiéis se
beneficiou desse apostolado, para aprofundar e fortalecer a sua fé.

Os Arautos sempre se mostraram receptivos a participar das peregrinações a pé


que promovíamos ao Santuário de Mary Lake, ao norte de Toronto, e sua jovem
presença, alegre e piedosa, dava ânimo e inspiração aos demais participantes.
Também o ramo feminino muitas vezes participava da devoção dos primeiros
sábados de cada mês, conduzindo a meditação do Terço.

Eles organizaram grupos do Apostolado do Oratório, a fim de promover a oração


do Terço em família. Esses Oratórios continuam a circular entre as famílias, tanto
em minha paróquia anterior como na atual, alimentando a devoção a Nossa
Senhora e reforçando os vínculos da nossa comunidade.

Por todos esses motivos somos gratos aos Arautos do Evangelho, e rogamos a
Deus e a Maria Santíssima que multipliquem os frutos de seu valioso ministério.

Pe. André Chilmon

Paróquia de Nossa Senhora de Fátima


Brampton – Canadá
Visita à Basílica de Nossa Senhora do Rosário
A paz de Maria e o amor de Jesus. Eu visitei, em Caieiras, a Basílica de Nossa
Senhora do Rosário e fiquei para a Missa, a qual me pareceu linda e
emocionante. E agora gostaria de receber a Revista de vocês que vem pelos
correios, mês a mês. Como faço para assinar? Muito obrigada.

Cláudia Celenia dos Santos Belo

São Bernardo do Campo – SP

Matérias sobre os Santos


A cada mês a revista Arautos do Evangelho traz uma matéria sobre um Santo
ou Beato da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Escrevo para pedir aos
senhores que passem à redação da Revista a sugestão de que, no mês de
setembro, possam publicar algo sobre São Sigismundo Felinski, Arcebispo
polonês, cuja memória se comemora no dia 17 daquele mês.

Maria Helenice Santos Apolinário

São Paulo – SP

Verdadeiramente bem-aventurada,
escolhida entre todas
A vida humana é feita de ciclos que se seguem uns aos outros. Cada começo
costuma ser inseguro e frágil, mas a nova fase vai se firmando à medida que se
desenvolve, até chegar ao seu próprio auge. Atingida a plenitude, o ciclo se
esgota a si mesmo, anunciando a iminência do próximo, numa corrente de
sucessivos desdobramentos.

Assim acontece com o sol a cada dia, e da mesma forma sucedem-se os anos.
Todo fim de ano se dá num contexto de balanço, de análise do que ficou para
trás. Por sua vez, todo ano que começa é ocasião de novos projetos e traz
consigo novas esperanças, mas está também marcado pela incógnita, pois o
homem nunca sabe o que o futuro lhe reserva.

Justamente por isso a Igreja, sábia Mestra da vida, instituiu no primeiro dia do
ano a Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus. É uma forma, sem dúvida, de
o homem consagrar-Lhe tudo aquilo que almeja realizar ao longo do ano que
apenas se inicia; mas é também um filial reconhecimento de que todo
empreendimento – e, portanto, todo ano – deve começar e terminar com Ela,
n’Ela e por Ela. Por quê?
Foi nos braços de Maria que Jesus esteve no momento de seu nascimento, e foi
igualmente nos braços d’Ela que se depositou o Corpo de Cristo ao ser descido
da Cruz. Assim, Deus quis que a passagem de seu Unigênito por esta terra se
iniciasse e se encerrasse junto ao Coração Imaculado d’Aquela que Ele
escolhera, desde toda a eternidade, para ser sua perfeita Filha, Mãe e Esposa.

Este fato histórico, entretanto, não é senão o reflexo terreno de uma realidade
mística muito mais elevada. Nossa Senhora, constituída por Deus como Rainha
do Universo, preside verdadeiramente ao governo que Ele exerce sobre as
criaturas. N’Ela tudo começa, pois toda iniciativa parte da graça, e esta nos vem
sempre por meio de Maria; n’Ela, também, tudo se encerra, pois o fim das
criaturas é dar glória a Deus, e esta só se torna perfeita ao passar pelas mãos
puríssimas d’Ela.

Por consequência, Maria desempenha, na vida de todo homem, o papel de “pré-


cursora” e de “pós-cursora”. Cuidadosamente, Ela prepara em cada alma o
caminho para a atuação de Cristo e a penetração de sua Palavra, da mesma
forma que em Caná Ela tudo dispôs para o primeiro milagre do Salvador. Mas
Ela é também a primeira Evangelista, que, tendo acolhido de seu Filho a Divina
Palavra, a transmite maternalmente a todos os seus filhos, como a mais fiel
intérprete do Coração de Deus.

Com quanta razão, pois, exclamava Maria: “Todas as gerações Me proclamarão


bem-aventurada” (Lc 1, 48). Ela é verdadeiramente bem-aventurada por ter
acreditado na Palavra de Deus que Lhe foi dirigida, porque de fato se cumprirá
tudo o que o Senhor Lhe prometeu (cf. Lc 1, 45): o seu triunfo sobre o mal e a
implantação de seu Reino.

Três presentes cheios de


simbolismo
Tenhamos grande temor dos Mandamentos de Deus
a fim de celebrarmos verdadeiramente sua solene
festa, pois o sacrifício agradável a Deus é a dor
provocada pelos pecados cometidos.
Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do Rei Herodes, eis
que Magos vieram do Oriente a Jerusalém. Perguntaram eles: ‘Onde está o Rei
dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos
adorá-Lo’. A esta notícia, o Rei Herodes ficou perturbado e toda Jerusalém com
ele. […]

“Após ouvir as palavras do rei, partiram. E eis que a estrela, que tinham visto no
Oriente, os foi precedendo até chegar sobre o lugar onde estava o Menino e ali
parou. A aparição daquela estrela os encheu de profunda alegria. Entrando na
casa, acharam o Menino com Maria, sua Mãe. Prostrando-se diante d’Ele, O
adoraram. Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-Lhe como presentes:
ouro, incenso e mirra. Avisados em sonhos de não tornarem a Herodes, voltaram
para sua terra por outro caminho” (Mt 2, 1-3.9-12).

Como acabastes de ouvir neste trecho do Evangelho, irmãos caríssimos, um rei


da terra perturbou-se com o nascimento do Rei do Céu, pois a grandeza terrena
sente-se desconcertada à vista da majestade celeste. […] Os Magos, porém,
conduzidos pela estrela, encontram o Rei que acaba de nascer, entregam-Lhe
seus presentes e são avisados em sonhos de que não deviam voltar a ver
Herodes. […]

Ouro, incenso e mirra


Eles oferecem ouro, incenso e mirra. O ouro convinha bem ao Rei; o incenso
costuma ser apresentado em sacrifício a Deus; e usa-se a mirra para
embalsamar os corpos dos falecidos. Assim, os Magos proclamam, por seus
simbólicos presentes, quem é Aquele que eles adoram. Eis o ouro: é um rei; eis
o incenso: é um Deus; eis a mirra: é um mortal.

Há hereges que creem na divindade de Cristo, não, porém, na sua realeza


universal; oferecem-Lhe incenso, mas não querem oferecer-Lhe ouro. Outros
reconhecem sua realeza, mas negam sua divindade; estes Lhe oferecem ouro,
mas se recusam a Lhe oferecer incenso. Outros, por fim, O proclamam Deus e
Rei, mas negam que Ele tenha assumido uma carne mortal; estes Lhe oferecem
ouro e incenso, mas não querem presenteá-lo com a mirra, símbolo da condição
mortal por Ele assumida.

De nossa parte, ofereçamos ouro ao Senhor, confessando que Ele reina em toda
parte. Ofereçamos-Lhe incenso, proclamando que, tendo nascido no tempo, é
Deus desde antes de todos os tempos. Ofereçamos-Lhe mirra, reconhecendo
que Aquele que cremos ser impassível em sua divindade, tornou-Se mortal ao
assumir nossa carne.

Sabedoria, prece e mortificação


Pode-se, contudo, entender de modo diferente o ouro, o incenso e a mirra.
Conforme no-lo atesta Salomão, o ouro simboliza a sabedoria: “Há na boca do
sábio um valioso tesouro” (Pr 21, 20, Septuaginta). O incenso queimado em
louvor a Deus representa o poder da prece, como nos testemunha o salmista:
“Que minha oração suba até Vós como a fumaça do incenso” (Sl 140, 2). Quanto
à mirra, ela significa a mortificação de nossa carne. “A mirra escorria de minhas
mãos” (Ct 5, 5), diz a Santa Igreja, a respeito daqueles que a servem
combatendo por Deus até à morte.

Assim, entregamos ouro ao Rei recém-nascido se a seus olhos resplandecemos


do brilho da sabedoria. Oferecemos-Lhe incenso quando, em ardorosa prece,
queimamos nossos pensamentos carnais no altar de nosso coração, deixando
evolar-se até Deus o agradável odor de nossos desejos do Céu. Obsequiamo-
Lo com mirra ao mortificarmos pela abstinência nossos vícios carnais; pois, como
já dissemos, a mirra impede o apodrecimento da carne morta.

Submeter este corpo mortal às depravações da luxúria equivale a permitir que a


carne morta se corrompa. “As bestas de carga apodreceram em sua imundície”
(Jl 1, 17, Vulgata), afirma o profeta a respeito de certos homens, significando que
quem é carnal termina sua vida na fetidez da lascívia.

Portanto, oferecemos mirra a Deus quando, pelos aromas de nossa continência,


impedimos que a luxúria apodreça este corpo mortal.

Pelo orgulho, nos afastamos de nossa pátria


Retornando por outro caminho ao seu país, dão-nos os Magos mais uma
importantíssima lição. O que eles fizeram ao serem advertidos ensina-nos o que
devemos também nós fazer pois, sendo nossa pátria o Paraíso e tendo
conhecido Jesus, é-nos vedado voltar para lá seguindo o caminho pelo qual
viemos.

Afastamo-nos de nossa pátria pelo orgulho, pela desobediência, pela ambição


dos bens terrenos e pela avidez de provar os frutos proibidos. Para retornar a
ela, são-nos necessárias as lágrimas, bem como a obediência, o desprezo dos
bens terrenos e o domínio dos apetites carnais.

Devemos, portanto, voltar por outro caminho. Tendo sido por causa dos prazeres
que nos afastamos das alegrias do Paraíso, hão de ser as lamentações que nos
reconduzam a ele.

Tenhamos em vista a vinda do Juiz


É preciso, caríssimos irmãos, que, permanecendo sempre temerosos e
expectantes, tenhamos perante os olhos da alma, de um lado, nossos pecados,
e, de outro, o extremo rigor do julgamento.

Consideremos que há de vir o implacável Juiz. Ele nos ameaça com o terrível
tribunal enquanto Se mantém oculto. Causa pavor aos pecadores e, mesmo
assim, ainda é paciente: se retarda sua vinda, é para que a condenação seja
menor. Expiemos pelas lágrimas nossos pecados e, conforme o dito do salmista,
“apresentemo-nos diante d’Ele com louvores, e cantemos-Lhe alegres cânticos”
(Sl 94, 2).

Não nos deixemos enlaçar pelos embustes da volúpia ou seduzir pelas alegrias
fúteis. Bem próximo, de fato, está o Juiz que nos adverte: “Ai de vós, que agora
rides, porque gemereis e chorareis!” (Lc 6, 25). Disse igualmente Salomão:
“Misturar-se-á o riso com a dor, e a alegria terminará na aflição” (Pr 14, 13). E
também: “Do riso eu disse: ‘Loucura!’; e da alegria: ‘Para que serve?’” (Ecl 2, 2).
E ainda: “O coração dos sábios está na casa do luto; o coração dos insensatos
na casa da alegria” (Ecl 7, 4).

Tenhamos grande temor dos Mandamentos de Deus a fim de celebrarmos


verdadeiramente sua solene festa, pois o sacrifício agradável a Deus é a dor
provocada pelos pecados cometidos, como atesta o salmista: “Meu sacrifício, ó
Senhor, é um espírito contrito” (Sl 50, 19).

Nossas antigas faltas foram lavadas pelo Batismo, mas desde então cometemos
muitas outras, e não podemos mais ser purificados pela água desse Sacramento.
Já que manchamos nossa vida após recebê-lo, batizemo-nos agora com as
lágrimas da nossa consciência. Desta forma, retornaremos à nossa pátria por
outro caminho. Se dela nos afastaram os bens que deleitam, que a ela nos
reconduza a amargura da penitência, com o auxílio de Nosso Senhor Jesus
Cristo.

São Gregório Magno.

Excertos das Homilias sobre


os Evangelhos. Homilia X,

6/1/591: PL 76, 1110-1114

Comentário ao Evangelho – III Domingo do Tempo Comum

A força da Palavra!
O mundo atual tornou-se uma imensa Nazaré. Para
salvá-lo, é necessário apresentar a Palavra de Deus
em toda a sua força e fazê-lo experimentar a
felicidade que só a graça pode nos dar.

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

Evangelho
1,1 Muitas pessoas já tentaram escrever a história dos acontecimentos que se
realizaram entre nós, 2 como nos foram transmitidos por aqueles que, desde o
princípio, foram testemunhas oculares e ministros da Palavra. 3 Assim sendo,
após fazer um estudo cuidadoso de tudo o que aconteceu desde o princípio,
também eu decidi escrever de modo ordenado para ti, excelentíssimo Teófilo.

4 Deste modo, poderás verificar a solidez dos ensinamentos que recebeste.


Naquele tempo, 4,14 Jesus voltou para a Galileia, com a força do Espírito, e sua
fama espalhou-se por toda a redondeza. 15 Ele ensinava nas suas sinagogas e
todos O elogiavam. 16 E veio à cidade de Nazaré, onde Se tinha criado.
Conforme seu costume, entrou na sinagoga no sábado, e levantou-Se para fazer
a leitura. 17 Deram-Lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, Jesus achou a
passagem em que está escrito: 18 “O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque
Ele Me consagrou com a unção para anunciar a Boa-nova aos pobres; enviou-
Me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista;
para libertar os oprimidos 19 e para proclamar um ano da graça do Senhor”.
20 Depois fechou o livro, entregou-o ao ajudante, e sentou-Se. Todos os que
estavam na sinagoga tinham os olhos fixos n’Ele. 21 Então começou a dizer-
lhes: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”
(Lc 1, 1-4; 4, 14-21).

I – O papel da palavra no relacionamento dos homens entre


si e com Deus
Em seu infinito amor por nós, Deus tem enorme desejo de entrar em contato
conosco e fazer-nos partícipes de sua alegria eterna. Para facilitar ao máximo
esse relacionamento, quis Ele deixar na própria natureza reflexos de seu anseio
de comunicar-Se. Analisando, por exemplo, as formigas, vemos como, ao
descobrir algum alimento, elas rapidamente se organizam num verdadeiro
cortejo a fim de levá-lo até o formigueiro. Embora não conversem entre si,
transmitem informações umas às outras ao se “cumprimentarem” com as
antenas, tornando possível o trabalho em conjunto.

Aos homens, porém, o Criador reservou um meio mais perfeito para se


comunicarem: a palavra. De fato, se não tivéssemos essa capacidade de nos
expressar, como transmitiríamos aos demais nossos pensamentos, juízos e
experiências? A palavra é um elemento essencial no convívio humano, a ponto
de, em muitas ocasiões, se constituir num critério para indicar com quem
queremos ou não nos relacionar. Cortar a palavra com alguém significa um
rompimento, chegando às vezes a criar graves indisposições até entre
familiares. Do mesmo modo, negar a outro o uso da palavra no ambiente social
pode feri-lo profundamente. E não menos trágica é a situação de quem precisa
de uma palavra de orientação, mas não encontra quem a diga.

Pois bem, a palavra humana, tão importante para a boa convivência, não é senão
pálida imagem de uma realidade muito mais alta: a Palavra de Deus manifestada
aos homens, temática central da Liturgia deste III Domingo do Tempo Comum.
Deus comunica-Se com os homens através da Palavra
Na primeira leitura (cf. Ne 8,2-4a.5-6.8-10) encontramos a figura de Neemias,
um dos israelitas exilados entre os persas, que servia na corte do Rei Artaxerxes
(465-424 a.C.). Ali ele recebe o relato da triste situação da Cidade Santa,
reduzida praticamente a ruínas. Entre lágrimas, Neemias faz uma belíssima
oração pedindo perdão pelos pecados de Israel e rogando o restabelecimento
do povo em Jerusalém. Deus o atende, e ele obtém o favor do monarca a fim de
reconstruir a cidade.

No trecho recolhido na leitura deste domingo (Ne 8, 2-4a.5-6.8-10), Neemias


reúne os israelitas repatriados numa esplanada próxima à Porta das Águas em
Jerusalém, e pede a Esdras, sacerdote e escriba, que leia diante de todos o livro
da Lei de Moisés.

Ao ouvir a leitura e explicação desses preceitos, desde o nascer do sol até o


meio-dia, eles percebem o quanto haviam traído a aliança feita com o Senhor,
seguindo as vias do pecado. Compungidos até as lágrimas, dão-se conta de que
a felicidade não está no rompimento da Lei, mas sim em seguir a Palavra de
Deus.

Vê-se nessa cena a sabedoria divina em deixar por escrito a Lei. Com efeito, o
homem sempre cria razões erradas para justificar seus desvios e facilmente se
esquece dos preceitos que o levam à salvação. Naquela quadra histórica era
preciso relembrá-los, e o Senhor usou da Palavra escrita por Moisés para entrar
em comunicação com o seu povo.

Eis a importância da Palavra de Deus que, uma vez dita e recolhida pelos
hagiógrafos, serve de elemento para recordar nossa aliança com o Altíssimo.

Contudo, aprouve ao Pai das misericórdias conceder aos seus eleitos ainda
mais: após o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, temos não apenas a
Lei posta em palavras escritas, como os judeus no tempo de Neemias, mas o
próprio Criador da Lei, a Palavra Encarnada para a salvação da humanidade, a
Lei em Pessoa.

II – A Palavra Eterna e Encarnada


A Igreja escolhe para este domingo a abertura do Evangelho de São Lucas,
iniciando assim o percurso pela vida pública de Nosso Senhor segundo este
Evangelista, que será seguido ao longo da Liturgia dominical do Ano C.
Escrivão do testemunho de Maria Santíssima

1,1 Muitas pessoas já tentaram escrever a história dos acontecimentos que se


realizaram entre nós, 2 como nos foram transmitidos por aqueles que, desde o
princípio, foram testemunhas oculares e ministros da Palavra. 3 Assim sendo,
após fazer um estudo cuidadoso de tudo o que aconteceu desde o princípio,
também eu decidi escrever de modo ordenado para ti, excelentíssimo Teófilo.

4 Deste modo, poderás verificar a solidez dos ensinamentos que recebeste.

Escritor exímio, São Lucas reúne em si qualidades diversas que revelam ter ele
sido um homem muito culto. Enquanto médico, preocupou-se em incluir nos seus
relatos aspectos muito precisos sobre a vida de Nosso Senhor. Isso, porém, não
lhe tirou o estro poético, sendo de sua lavra algumas das mais belas passagens
dos Evangelhos.

Conforme ele afirma nesses primeiros versículos, já em sua época muitos


haviam tentado escrever a história de Jesus Cristo. Ora, quem se atirava a esta
empresa sem a inspiração do Espírito Santo, fundamentando-se apenas naquilo
que vira sem entender ou ouvira dizer, facilmente adulterava a realidade. Daí
terem surgido diversos Evangelhos apócrifos, que a Igreja não acolheu como
parte da Revelação, tanto mais que vários deles continham heresias,
especialmente de caráter gnóstico. Com o tempo, estas deturpações da figura
do Salvador caíram em descrédito ou esquecimento, pois Deus só permite que
permaneça a Palavra provinda d’Ele.

Inspirado pelo Alto, São Lucas resolveu relatar também a vida de Nosso Senhor,
com base naquilo que ouvira diretamente ou lhe contaram testemunhas
oculares. Quem foram estes seus depoentes? Certamente os próprios Apóstolos
e discípulos. Há, porém, outra informante pouco mencionada, mas sem dúvida
muito relacionada com ele: Maria Santíssima. Pelas descrições tão minuciosas,
embora sintéticas, de episódios sublimes como a Anunciação e Encarnação do
Verbo, a Visitação ou a Natividade, vê-se que São Lucas conversou longamente
com Nossa Senhora e d’Ela ouviu maravilhas.

No contexto da Liturgia deste domingo, a introdução de seu Evangelho ressalta


mais uma vez a importância da Palavra e o enorme empenho de Deus em entrar
em contato conosco para nos formar e mostrar o seu amor. Esse divino anseio
se manifestará em plenitude na cena descrita no capítulo quatro, na qual
encontramos Nosso Senhor Jesus Cristo em Nazaré.

Início da vida pública com a força do Espírito


Naquele tempo: 4,14 Jesus voltou para a Galileia, com a força do Espírito, e sua
fama espalhou-se por toda a redondeza. 15 Ele ensinava nas suas sinagogas e
todos O elogiavam.

Concluída sua vida oculta, no momento determinado pelo Pai, Nosso Senhor
deixou Nazaré, onde passara mais de vinte anos preparando-Se para sua
missão pública, e começou a percorrer diversas cidades de Israel.

Pouco tempo depois de iniciada a pregação da Boa-nova, Ele retornou à Galileia


“com a força do Espírito”. Esta sempre O acompanhou, mas aqui a expressão
do Evangelista diz respeito à sua manifestação diante da opinião pública. O
Espírito Santo havia preparado as almas, de forma que a fama de Jesus se
espalhou com ímpeto por toda aquela região, tanto mais que Ele continuava o
caminho aberto por São João Batista, multiplicando os efeitos de sua pregação.

Todos os sábados, Nosso Senhor dirigia-Se à sinagoga do local onde Se


encontrava e ali ensinava por meio de palavras e sinais. Multidões cada vez
maiores O estimavam e seguiam, pois aquela poderosa força predispunha seus
ouvintes para compreenderem a beleza do que Ele falava. Sua atuação produzia
forte comoção e “todos O elogiavam”. O Reino de Deus havia começado!

Como é natural, os comentários a respeito d’Ele borbulhavam nas cidadezinhas


daquele tempo e percorriam grandes distâncias, chegando logo a Nazaré.
Assim, Jesus determinou visitar também sua cidade.

As origens do Nazareno
16a E veio à cidade de Nazaré, onde Se tinha criado.

O Evangelista escreve com precisão, pois não afirma que Nosso Senhor nasceu
em Nazaré, mas sim que ali foi criado. Com exceção do período do nascimento
em Belém e da fuga para o Egito, sua vida transcorrera em Nazaré, onde era
conhecidíssimo. Agora, essa cidade assistia ao retorno de Jesus já aureolado
pela fama de profeta e taumaturgo.

Reza o ditado que “a caridade começa da própria casa”. Ele, de fato, quis voltar
a Nazaré para beneficiar aqueles com os quais tinha convivido, porque os
amava. Desejava dizer-lhes uma palavra, mas desta vez “com a força do
Espírito”. Antes o Consolador não tocava as almas como o faria nesta nova visita,
apresentando-O enquanto Filho de Deus e não mais como um simples Homem.

Era o momento da graça, o momento ideal. Se a respeito do nascimento de


Cristo, São Tomás de Aquinoi ensina que ele se deu no tempo preciso, porque
Deus tudo faz com perfeição, o mesmo se pode asseverar sobre a oportunidade
dessa visita.

Nosso Senhor já havia convertido a água em vinho em Caná, manifestado um


miraculoso discernimento dos espíritos em relação a Natanael e convertido a
Samaritana, entre outras obras admiráveis. Ora, em Nazaré todos O conheciam
como o Filho do carpinteiro e, portanto, estavam muito curiosos em saber,
sempre por um prisma humano, onde Ele tinha aprendido o que ensinava e como
operava aqueles milagres. No fundo, ansiavam por comprovar a veracidade
daquilo que ouviam e, pragmáticos e interesseiros como eram, esperavam
aproveitar-se d’Ele para elevar o conceito da cidade em toda a nação judaica.

A despeito dessa visualização errada, podemos supor que Nosso Senhor


encontrou-Se familiarmente com aquela gente, em especial com seus amigos de
infância, tratando-os com indizível afeto e recordando episódios antigos. Ao ser-
Lhe pedido para prolongar a conversa, talvez Ele tenha anunciado que no
sábado estaria na sinagoga, e a informação correu como rastilho de pólvora…
Suspense na sinagoga de Nazaré
16b Conforme seu costume, entrou na sinagoga no sábado, e levantou-Se para
fazer a leitura.

17 Deram-Lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, Jesus achou a passagem


em que está escrito:

Não é difícil imaginar a pequena sinagoga repleta e crepitando de expectativa.


Até mesmo alguns que, por razões de força maior, costumavam faltar, não
deixaram de comparecer naquele dia… Todos estavam na ponta dos pés!

Provavelmente os presentes insistiram com o ministro da sinagoga para que


Jesus fosse o assistente convocado para fazer a leitura, segundo o costume no
culto sabático. Como Ele já pregara em vários lugares, esperavam que
comentasse longamente o trecho da Escritura escolhido.

A leitura era feita do alto de um estrado. Ao vê-Lo subir, os nazarenos


começaram a analisá-Lo, comparando-O com o jovem que tinham conhecido. O
Espírito trabalhava aquelas almas levando-as a perceber que, de fato, alguma
coisa mudara. Sua elegância e distinção os encantavam. Até os mínimos gestos,
como uma virada de cabeça ou um levantar da mão, apareciam-lhes revestidos
de algo inteiramente diferente e superior.

Naquele tempo em que não existiam obras impressas, a Escritura era


conservada em rolos manuscritos, cada qual contendo um dos Livros Sagrados
ou parte dele. Costumava-se guardá-los num armário próprio, que constituía
uma peça fundamental em toda sinagoga. A leitura não era combinada antes
com a pessoa escolhida, mas separada no momento pelo ministro da sinagoga.
Nessa ocasião, porém, provavelmente deram a Nosso Senhor o rolo do profeta
Isaías por considerarem-no um dos mais difíceis de comentar. Assim, expunham
Jesus a uma prova, a fim de verificar se sua fama correspondia à realidade.

Em meio ao suspense geral, o Divino Mestre desenrolou um pouco o livro. Já


nesse descerrar, todos os presentes devem ter estremecido. Enquanto Segunda
Pessoa da Santíssima Trindade, Ele inspirara Isaías a escrever aquelas palavras
e agora, enquanto Homem, as proclamaria. De forma aparentemente casual, Ele
abriu o rolo em versículos muito bem escolhidos e começou a ler.

Uma profecia lida pelo profetizado


18 “O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Ele Me consagrou com a unção
para anunciar a Boa-nova aos pobres; enviou-Me para proclamar a libertação
aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos 19 e
para proclamar um ano da graça do Senhor”.

Poder-se-ia pensar que o fato de os olhos de Nosso Senhor caírem exatamente


em um trecho da profecia que Lhe dizia respeito foi ocasional… uma
coincidência, um golpe de sorte! Mas o que muitas vezes julgamos ser mera
coincidência, constitui na verdade um desígnio de Deus. Por sua ciência divina,
Jesus conhecia as Escrituras desde toda a eternidade, e esse “acaso” havia sido
preparado pela Providência.

A profecia indicava características essenciais do Messias. Ora, era o próprio


Messias, o Salvador, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, quem abria
aquele rolo. Tratava-se, portanto, de uma proclamação cujo eco ressoaria não
só na minúscula sinagoga de Nazaré, mas atravessaria o universo inteiro e os
séculos futuros. As estrelas, por assim dizer, dobraram os joelhos para ouvir
Aquele que é, declarar: “O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Ele Me
consagrou com a unção…”

De fato, ao ser batizado no Jordão pelo Precursor, já escolhido desde toda a


eternidade para a missão de Redentor, Jesus foi consagrado pelo Espírito Santo
em sua humanidade santíssima e tornou-Se o Ungido por excelência. A partir de
então, Ele estava pronto para anunciar a Boa-nova aos pobres.

Esses pobres não eram simplesmente os privados de recursos financeiros, como


se ouve em algumas pregações superficiais. Nosso Senhor também evangelizou
famílias riquíssimas como a de Lázaro, Marta e Maria Madalena, a qual foi
elogiada pelo Senhor ao derramar um perfume caríssimo sobre Ele. Pobres
neste contexto eram aqueles que não punham sua esperança nos bens deste
mundo, mas estavam ávidos da fé e do sobrenatural. Inteiramente desprendidos,
sobretudo de si mesmos, almejavam conhecer a finalidade para a qual haviam
sido criados; porém, ninguém os assistia, porque os sacerdotes da época
negavam-lhes o ensinamento que deveriam dar. Eles careciam – e ainda
carecem em nossos dias – de uma palavra de verdade.

Os cativos e oprimidos a serem libertados não eram, como dizem alguns, os


tiranizados pelo poder político, mas sim aqueles que viviam sob a tremenda
pressão preternatural promovida na sociedade pelo pecado. Eles gostariam de
praticar a virtude com toda a liberdade e não conseguiam, por estarem
acabrunhados pelo peso de consciência decorrente das culpas passadas.
Concebidos no pecado original e prostrados pelas faltas atuais, eram escravos
do demônio, pois “todo homem que se entrega ao pecado é seu escravo”
(Jo 8, 34). Mas Nosso Senhor vinha libertá-los, outorgando-lhes a força para
manter o estado de graça. O poder dos demônios estava sendo quebrado!

Por sua vez, aqueles judeus sabiam que em Cafarnaum Nosso Senhor havia
operado diversas curas, inclusive de cegos. Era o sinal de que Ele também trazia
a luz para todos os incapazes de ver a Deus. Sim, porque no Paraíso Terrestre
o homem enxergava com facilidade as maravilhas divinas, mas tornou-se cego
após o pecado. Jesus vinha restaurar a antiga visão.

Se isso não bastasse, Ele ainda devia “proclamar um ano da graça do Senhor”.
Este, à diferença dos anos jubilares instituídos por Moisés (cf. Lv 25, 10), não
mais teria fim. À saída do Paraíso, fora instituído o regime da lei natural, sucedido
pelo regime da lei mosaica; tratava-se agora da abertura da era da graça.

Expectativa toda sobrenatural, criada pela graça


20 Depois fechou o livro, entregou-o ao ajudante, e sentou-Se. Todos os que
estavam na sinagoga tinham os olhos fixos n’Ele.

Recolhido o rolo, Jesus passou a fita e o entregou ao ajudante. A seguir sentou-


Se pois, ao contrário de nossos dias, naquele tempo o pregador tomava essa
posição, enquanto os fiéis assistiam à pregação em pé. Nesse ínterim, o
Salvador concedia mais graças àquelas almas e o Espírito Santo as trabalhava
a fim de compreenderem bem quem tinham diante de si.

Um frêmito percorreu a assembleia. Conhecedores das repercussões da


passagem de Nosso Senhor por outras cidades, os nazarenos percebiam o
quanto elas se adequavam ao vaticínio de Isaías. Mais ainda, bastava-lhes ver
os reflexos da personalidade divina que transluziam em sua humanidade
santíssima… Era evidente que se tratava de Alguém completamente incomum.
Quem, contemplando Nosso Senhor, divisando sua fisionomia, analisando seu
modo de ser, seus gestos, seus cabelos, enfim, a magnificência que emanava
d’Ele por todos os poros, seria capaz de negar que ali estava Deus se isto lhe
fosse revelado?

Profecia cumprida diante de seus olhos


21 Então começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura
que acabastes de ouvir”.

Ao usar a expressão “começou a dizer-lhes”, São Lucas indica que Nosso


Senhor fez um longo sermão, do qual só registrou o início em seu manuscrito.
Tanto mais que no versículo seguinte, não incluído nesta Liturgia, ele acrescenta
que “todos davam testemunho a seu respeito, admirados com as palavras cheias
de encanto que saíam de sua boca” (Lc 4, 22).

Talvez só no dia do Juízo conheceremos essas maravilhas que, infelizmente,


não constam nas Escrituras. Entretanto, à maneira de hipótese, podemos supor
que o Divino Mestre transmitiu o significado dessa passagem dando uma noção
histórica a respeito das circunstâncias nas quais o profeta Isaías a escreveu, e
mostrando sua ligação com os fatos passados e com o que previa para o futuro,
desde sua época até o fim do mundo.

A cada explicação, tornava-se mais clara a conclusão registrada em forma de


síntese pelo Evangelista: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que
acabastes de ouvir”. Abria-se uma nova era, pois se oficializava, de certo modo,
o regime de graças do Novo Testamento.

III – Nosso Senhor nos convida a fazer parte de seu Corpo


Esta lindíssima Liturgia mostra-nos a importância da palavra, tanto na primeira
leitura quanto na introdução do Evangelho de São Lucas, para apresentar a
seguir a própria Palavra Encarnada.

Tão forte e substancioso é o desejo do Pai de entrar em contato conosco, que o


Verbo Se fez carne e manifestou-Se aos homens para que pudéssemos
contemplar n’Ele a divindade, como declarou ao Apóstolo Filipe: “Aquele que Me
viu, viu também o Pai” (Jo 14, 9). Sendo idênticas as Três Pessoas Divinas,
quem visse a Nosso Senhor, veria não só o Filho, mas também o Pai e o Espírito
Santo.
Convidados a integrar o Corpo Místico de Cristo
Pois bem, como consequência desse empenho do Redentor, somos convidados
a fazer parte da família divina. E é o que nos diz São Paulo na segunda leitura
deste domingo (I Cor 12, 12-30). Todos nós, batizados, nos tornamos membros
do Corpo Místico de Cristo, pertencemos a Ele e em tudo d’Ele dependemos.

De onde nos vem a força para sermos membros sadios desse Corpo e não
membros apodrecidos pelo pecado? Vem da graça, a qual constitui o sexto plano
da criação, acima dos minerais, vegetais, animais, homens e Anjos. Ela nos dá
a possibilidade de participar da natureza divina, de sermos filhos de Deus (cf. I Jo
3, 1). A partir do Batismo, a Santíssima Trindade passa a inabitar nossas almas
e se estabelece um relacionamento do Pai, do Filho e do Espírito Santo conosco.
Esse comércio sobrenatural vale mais do que todo o universo criado!
Ora, para viver sempre da graça é condição indispensável ter uma vida interior
fervorosa. Deus concede a todos graças suficientes, mas quase sempre elas
resultam insuficientes pela deficiência de nossa natureza. Para obtermos as
graças de que necessitamos, devemos rezar com constância: oração, se
possível em família, pois a oração em conjunto apresenta muito mais eficácia
que a oração particular. Ademais, precisamos nos aproximar dos Sacramentos,
pois eles são fonte infalível da graça, evitar as ocasiões próximas de pecado e
estar constantemente crescendo na prática das virtudes.

Vivemos numa imensa Nazaré


O mundo de hoje tornou-se uma imensa Nazaré, porque deixou de crer como
em outros tempos. Não há fé na Presença Real de Nosso Senhor no Santíssimo
Sacramento; não se venera Maria Santíssima como protetora nossa e
Medianeira de todas as graças; já não se pratica a Lei de Deus. A sociedade vai
se constituindo com base em novas leis e nova moral, cada vez mais agressivas.

Tal como fez Nosso Senhor em Nazaré, é preciso apresentar aos nossos
contemporâneos a Palavra de Deus com toda a sua força, a fim de levá-los a
experimentar a felicidade que só a vida da graça nos dá. A humanidade tem
apenas um caminho para salvar-se: a fé manifestada pelas obras (cf. Tg 2, 17-
18), ou seja, a prática dos Mandamentos da Lei de Deus.

Que cada um de nós compreenda a grandeza do chamado que lhe foi confiado
e, inteiramente fiel às inspirações do Alto, atento à Palavra de Deus e ungido
pela força da graça, anuncie a Boa-nova aos pobres de espírito, rumo à vitória
de Maria Santíssima profetizada em Fátima: “Por fim, o meu Imaculado Coração
triunfará!”

Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. III, q.35, a.8.

Bento XVI e Mons. João

Um vínculo que perdura e se


fortalece
Quando Bento XVI subiu ao Sólio Pontifício, os
vínculos que os Arautos do Evangelho e seu
fundador tinham com o Sucessor de São Pedro
tornaram-se indissolúveis. Em recentes visitas a ele
no Vaticano, foi possível comprovar a força dessa
união de pessoas e de missão.

Ir. Carmela Werner Ferreira, EP

Caía a tarde no Vaticano no último dia 29 de novembro. A baixa temperatura de


inverno não impedia que o azul do firmamento fosse intenso e discretas nuvens
tingidas de lilás adornassem o horizonte dos palácios apostólicos. Uma
atmosfera de serenidade marcava o ambiente enquanto se aproximava o
momento em que Bento XVI receberia dois sacerdotes Arautos do Evangelho: o
Pe. Alex Barbosa de Brito e o Pe. Antônio Guerra de Oliveira Júnior.

Ambos deviam aguardar alguns minutos até Sua Santidade concluir o Rosário
junto à gruta de Lourdes, nos jardins pontifícios. Enquanto isso, muitas
impressões vinham-lhes ao espírito, entremeadas pela emoção de comparecer
em nome de Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, diante de um Papa que
muito representa para a Santa Igreja.

De um lado, grande era a alegria em poder apresentar ao Santo Padre a


homenagem cheia de afeto do fundador dos Arautos do Evangelho, a ele
vinculado por uma estreita relação que ousaríamos qualificar de amizade. De
outro, a visita oferecia a possibilidade de conhecerem pessoalmente aquele a
quem tanto devíamos como instituição e por quem tanto temos rezado.

Este era o terceiro encontro dos Arautos com Bento XVI desde que ele deu início
à vida de recolhimento no Mosteiro Mater Ecclesiæ. Ora, as duas audiências
anteriores também merecem ser aqui recordadas, pelo seu particular significado.

Numerosas vocações e integridade de vida


Desde há muito tempo nosso fundador acalentava o desejo de oferecer a
Bento XVI um cálice litúrgico semelhante aos utilizados pelos Arautos do
Evangelho, para que o Papa tivesse presente as intenções de sua obra na
celebração da Santa Missa. A primeira das visitas, feita pelos padres Ramón
Ángel Pereira Veiga e Carlos Javier Werner Benjumea, deu-se em 1º de agosto
de 2017 e tinha por objetivo entregar este filial presente para Sua Santidade.

Logo no início, ao cumprimentá-los, Bento XVI os segurou firme pela mão


manifestando afáveis boas-vindas, e em seguida se deteve na apreciação do
cálice, comprazido com o dom e atento às explicações que sobre ele eram
dadas.
Os sacerdotes comentaram que o presente tinha por finalidade agradecer a
aprovação pontifícia concedida em 2009 às duas sociedades de vida apostólica,
que ele acolheu no seio da Igreja por inspiração do Espírito Santo.i Esta medida
inaugurou uma nova fase para todos os seus membros, que pode ser
comprovada pelos abundantes frutos que se seguiram a partir daquele ano.
Nesse sentido, basta mencionar quanto o vínculo com a Cátedra de São Pedro
fez crescer o número de atividades, casas e sobretudo vocações em ambas as
sociedades, além de fortalecer a família espiritual dos Arautos do Evangelho em
seu conjunto.

Dom Georg Gänswein – cuja simpatia sempre nos acompanha, e que participava
da conversa – interveio nesse momento para corroborar: “São muitos, são um
exército!” Um dos sacerdotes frisou o quanto esse crescimento permite
desenvolver novos e dinâmicos meios de evangelização, entre os quais as
Missões Marianas, que fazem retornar à vida paroquial muitos católicos
afastados das práticas religiosas, além de propiciar abundantes conversões.

A integridade de vida dos Arautos foi outro aspecto ressaltado na conversa, pelo
seu impacto favorável na conquista das almas para Deus. Então Sua Santidade,
com olhar expressivo, exclamou: “Isto é o mais importante!”

A privilegiada memória que sempre caracterizou Bento XVI em nada se viu


afetada com o passar dos anos. “Lembro-me de São Paulo”, comentou. “Lá a
evangelização faz muita falta, pela proliferação das seitas”. Referia-se ele à
multitudinária Missa de canonização de Santo Antônio de Sant’Ana Galvão, em
11 de maio de 2007 no aeroporto paulista Campo de Marte, onde centenas de
arautos atuaram nas funções litúrgicas.

No decorrer daquela viagem ao Brasil houve outros encontros, mas a histórica


Celebração marcada pela receptividade das jovens vocações calou a fundo no
coração do Sumo Pontífice. Tempos depois, já no ano de 2010, ele declarou em
seu livro-entrevista Luz do mundo: “Vê-se que o Cristianismo, neste momento,
também está desenvolvendo uma criatividade totalmente nova. No Brasil, por
exemplo, de um lado se registra um forte crescimento das seitas, com frequência
muito equivocadas, por prometerem essencialmente riqueza e sucesso exterior;
por outro lado, se presencia também grandes renascimentos católicos, um
dinâmico florescer de novos movimentos como, por exemplo, os Arautos do
Evangelho, jovens cheios de entusiasmo por terem reconhecido em Cristo o
Filho de Deus, e desejosos de anunciá-Lo ao mundo”.i

Renúncia motivada pela sabedoria da Cruz


A conversa então rumou para o tema da renúncia de Bento XVI ao Sólio Petrino.
Mons. João e todos os seus filhos queriam agradecer a atitude do Santo Padre
de permanecer em recolhimento, sofrendo e rezando pela Igreja, como uma
forma de testemunhar a sabedoria da Cruz. Mover o coração de Deus, disseram-
lhe, é mais importante do que mover o coração dos homens. Ao que ele
respondeu: “Mover o coração de Deus é o modo mais eficaz de mover o coração
dos homens”.

Interessando-se pela demissão de Mons. João da presidência dos Arautos do


Evangelho e do generalato da Sociedade de Vida Apostólica Virgo Flos Carmeli,
Sua Santidade quis perguntar sobre os motivos que o levaram a tomar esta
decisão. Os sacerdotes lembraram-lhe que nosso fundador também sentiu a
necessidade de tocar o coração de Deus por uma vida de oração mais intensa
e, espelhando-se no gesto corajoso do Romano Pontífice, fez o mesmo para
pedir pela Santa Igreja, por ele próprio, Bento XVI, e pela obra dos Arautos do
Evangelho.

Em carta dirigida ao Santo Padre a respeito de sua própria renúncia, Mons. João
assim se exprimia: “Permita-me, Vossa Santidade, transmitir-vos filialmente um
segredo: ao ver-vos subir ao Sólio Pontifício, a graça divina já me fazia intuir
tratar-se vossa pessoa de um varão providencial para o nosso tempo. É verdade
que um acontecimento me deixou perplexo em relação a essa perspectiva: a
renúncia de Vossa Santidade ao exercício ativo do ministério petrino. Sem
compreender as razões para isso, fui sustentado pela confiança de que a
Onipotência Divina vos reservava para desígnios superiores.

“Naquela data, eu já me encontrava em meio a outra grande perplexidade:


estava há três anos debilitado por uma terrível enfermidade, que subtraiu-me as
forças físicas consideravelmente, tolhendo-me uma capacidade presenteada por
Maria Santíssima para fazer florescer o carisma que seu Divino Esposo me havia
concedido: o dom da palavra. Em consequência, fui galardoado por um
acréscimo num dom superior: a fé na vitória da Santa Igreja.

“Por isso, seguindo o paternal exemplo de Vossa Santidade, vi-me na


contingência de renunciar o comando efetivo de minha fundação, para, recolhido
e orante, obter de Deus a perpetuidade dessa obra perante os vagalhões que se
aproximavam”.i

Esta postura, como Mons. João faz constar mais adiante no texto da missiva,
supõe grande confiança nas autoridades eclesiásticas. Os sacerdotes
explicaram a Bento XVI que tendo sido sempre dócil e obediente à Sagrada
Hierarquia, sem desejar outra coisa senão prestar-lhe fervorosa submissão,
nosso fundador esperava de sua parte uma acolhida materna em relação à obra
nascida das suas mãos, face às novas circunstâncias. Enquanto isto lhe era
transmitido, o Papa abriu bem os olhos e assentiu: “Sim, rezarei. Vós sois muito
importantes para a Igreja”.

Uma antiga amizade


As relações entre Bento XVI e Mons. João sempre se caracterizaram por um
elevado sentido eclesial de ambas as partes, e pelo vínculo afetivo que se
desenvolve nas amizades em cuja origem está o próprio Deus.

A condição de fundador e pai de incontável número de almas fez de Mons. João


um discípulo atento aos rumos indicados pelo Santo Padre, desde o início do
seu pontificado. Consciente de que o poder das chaves conta-se entre as
prerrogativas mais sagradas postas por Deus em toda a criação, e que este
confere a quem o detém uma dignidade a bem dizer ilimitada, nosso fundador
empenhou-se em incutir naqueles que se orientavam pelos seus ensinamentos
um amor incondicional ao Vigário de Cristo, unido ao acatamento entusiasmado
de seu magistério.

Por sua vez, Bento XVI demonstrou ao longo dos anos uma consciência clara da
autenticidade do carisma depositado pela Providência na alma de Mons. João,
acompanhada por uma receptividade paternal para tudo o que dependesse de
sua intervenção, desejando que os Arautos do Evangelho se
institucionalizassem em plena conformidade aos desígnios do fundador.
As expressões de reconhecimento de Mons. João em relação a este modo de
proceder abundam no contato epistolar entre os dois, como na própria carta que
trata da renúncia: “Lembro com emoção a vossa passagem pelo Brasil,
prenúncio da realização das promessas de Deus para as glórias da Igreja nessas
terras. E não posso deixar de mencionar aqui outro momento histórico: receber
de vossas mãos, portadoras do anel de Pedro pescador, a chancela da obra que
Deus me inspirou fundar, unindo-a à Igreja Celeste”.i

O desejo de acompanhar as cogitações do Sumo Pontífice, estar junto a ele e


colocar-se às suas ordens é outra disposição externada por Mons. João
repetidas vezes, como ao encerrar a mencionada missiva: “Na esperança de nos
encontrarmos mais uma vez, para, quem sabe juntos, proclamarmos altivos as
palavras da Virgem de Fátima: ‘Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará’,
coloco-me ao vosso dispor e incondicional serviço”.i

Com a amplitude de visão própria aos grandes pastores, Bento XVI conferiu a
Mons. João dignidades eclesiásticas como o canonicato da Basílica Papal de
Santa Maria Maggiore e a medalha Pro Ecclesia et Pontifice, em reconhecimento
pelos serviços prestados à Santa Igreja.

Contudo, os laços de amizade entre ambos não se limitam apenas a estas


expressões de mútuo reconhecimento. Com efeito, se encontram eles ligados
por uma união profunda, como Mons. João procura explicitar em sua última
carta: “Por alguma razão misteriosa – talvez vós o saibais discernir melhor –
sinto-me intimamente unido a vós, em minha própria missão e vocação. Por isto,
rezo incessantemente por Vossa Santidade, pois é como se eu, de alguma
forma, rezasse por mim mesmo. Talvez o futuro esclareça melhor este meu
sentimento interior”.i
Presentes pelo aniversário
A segunda visita ocorreu por ocasião do 91º aniversário de Bento XVI, em que
ele seria recordado com empenho nas orações de toda a Igreja. Os Arautos do
Evangelho quiseram manifestar sua proximidade e entregar-lhe uma lembrança,
confeccionando para esta data um busto de Nossa Senhora de Fátima como os
do Apostolado do Oratório Maria Rainha dos Corações, que todos os meses
visitam milhares de famílias ao redor do mundo.i

A entrega deu-se em 13 de abril – três dias, portanto, antes do aniversário –,


após o costumeiro passeio pelos jardins do Vaticano, que naquele dia Bento XVI
fez acompanhado pelo seu irmão, Mons. Georg Ratzinger. Desta vez, coube o
privilégio de levá-lo aos padres Mario Beccar Varela Amadeo e Carlos Javier
Werner Benjumea.

Após cumprimentá-los com bondade, o Papa Bento recebeu o oratório


visivelmente tocado pela invocação de Fátima e, voltando-se para
Dom Gänswein, disse-lhe: “Temos que encontrar um lugar para colocá-lo em
nosso apartamento”.

Junto com o oratório os sacerdotes apresentaram um exemplar da obra de


autoria de Mons. João sobre seu mestre e formador: Plinio Corrêa de Oliveira.
Um profeta para os nossos dias, que resume a existência, atuação e vida mística
do líder católico brasileiro. Com gesto comprazido o Papa demonstrou ter
presente de quem se tratava, mesmo antes de ser explicado que Mons. João
aprendera a ser fiel à Igreja graças a seu exemplo e ensinamentos.

Então, Bento XVI quis folhear o livro. Ao contemplar certa foto de Dr. Plinio
discursando, um dos sacerdotes comentou que ele fora presidente da Ação
Católica de São Paulo. “Corrêa de Oliveira, um nome que todos os Bispos do
Brasil conheciam bem”, acrescentou Sua Santidade.
Algumas páginas mais adiante surgiu uma fotografia de Dr. Plinio em pequeno,
aos quatro anos de idade. A limpidez de seu olhar inocente despertou a
admiração do Papa, que exclamou enquanto tocava a respectiva página:
“Guarda, che bello bambino! – Veja, que belo menino!”

Ao chegar nos capítulos finais, onde se trata da última enfermidade e falecimento


de Dr. Plinio, Bento XVI se deteve na foto que apresenta Mons. João
confortando seu mestre no leito do hospital. Ele fixou-se na imagem por longo
tempo, antes de passar a observar uma outra, de Dr. Plinio já falecido.

Terminado o rápido aperçu da obra, Sua Santidade quis folheá-la uma segunda
vez, com especial atenção às ilustrações.

Antes da bênção e dos cumprimentos finais, entregou algumas medalhas


comemorativas como recordação, dizendo: “Fico muito agradecido por tudo”.

Um rosário especial para


Sua Santidade
A vida retirada e pautada pela contemplação no Mosteiro Mater Ecclesiæ torna
propícia ao Santo Padre a vida de oração que corresponde às suas íntimas
aspirações. E rezar, sobretudo na atual fase da História da Igreja, significa a
título especial recitar o Rosário em honra da Santíssima Virgem.

Quando Nossa Senhora pediu em Fátima a prática diária desta devoção, deixava
claro ser o meio privilegiado de os homens se dirigirem a Ela para obter os
favores que necessitam, sobretudo aqueles relacionados com os destinos do
mundo. Ora, as promessas vinculadas ao Rosário se aplicam de forma muito
especial ao Sucessor de Pedro, varão que é chamado a um altíssimo grau de
união com Maria.

Em carta de 26 de novembro dirigida a Bento XVI, explica Mons. João o


significado do terço que desejava enviar-lhe como presente: “Através de meus
filhos, quero vos oferecer este rosário todo branco, símbolo da misericórdia de
Deus, pois é Ele quem pode transformar o rubro do escarlate na alvura da lã e
da neve (cf. Is 1, 18)”.i

Na mesma missiva Mons. João comentava que a misericórdia de Deus se


manifesta de inúmeras maneiras, recordando o modo como Santa Teresinha do
Menino Jesus a considerava. E concluía: “Comigo, confesso, a misericórdia de
Deus tem-se mostrado neste ano de outra forma: são as oportunidades que
surgiram de manifestar a minha admiração, a minha veneração, a minha união
com a vossa pessoa e com a vossa missão! Por isto ‘cantarei eternamente as
misericórdias do Senhor!’ (Sl 88, 2)”.i

“Ter o fundador vivo


é uma imagem do Céu!”
Portando esta carta junto ao simbólico presente, o Pe. Alex Barbosa de Brito e o
Pe. Antônio Guerra de Oliveira Júnior apresentaram-se no Vaticano para a nova
visita ao Papa Bento XVI. Ele logo os reconheceu, por estarem revestidos do
hábito próprio dos Arautos e, em seguida, os cumprimentou muito satisfeito.

Ato contínuo, os sacerdotes entregaram o estojo que continha o presente, uma


pequena caixa feita de pau-brasil, explicando ser aquela a madeira de cuja
árvore se originava o nome do nosso País. Em seu interior estava o rosário. Ao
vê-lo, Bento XVI e Dom Gänswein reagiram em uníssono, elogiando sua beleza
e afirmando tratar-se de um tesouro. Foi esclarecido, porém, que o intuito era
oferecer algo que, pertencendo à terra, de alguma forma tocasse no Céu, por
ser destinado a Sua Santidade. Ao que ele sorriu e respondeu: “Especialmente
precioso não tanto pelo valor material, mas sobretudo como um presente
espiritual”.

Passaram-lhe em seguida a missiva de nosso fundador. Enquanto ele abria o


envelope, quis saber como estava Mons. João. Responderam encontrar-se ele
muito bem, e que rezava todos os dias por Sua Santidade. O Papa Bento
agradeceu por duas vezes as orações e acrescentou: “Ter o fundador vivo é uma
imagem do Céu!”

Chegada a hora da despedida, eles se ajoelharam para receber a bênção. À


procura de termos que definissem as impressões colhidas durante a visita, um
dos sacerdotes comentou: “Estar diante de Vossa Santidade em um momento
como esse, é como estar diante de um ‘mistério’, no sentido litúrgico da palavra;
de um ‘sacramento’ que dá força e alegria para seguir adiante!”
Bento XVI os ouvia com paternal condescendência. Eles pediram que incluísse
todos os Arautos do Evangelho e Mons. João em suas orações, ao que ele
aquiesceu e, apertando as mãos de ambos os sacerdotes, disse antes de
abençoá-los: “Mi piacciono molto gli Araldi! – Eu gosto muito dos Arautos!”

Unidos a Pedro, nada há que temer


Os dias de incerteza, confusão e abandono da Fé em que vivemos exigem da
parte daqueles que se colocaram sob a bandeira do Supremo General das
hostes do bem uma particular assistência da graça para perseverarem até o fim
no bom combate.

Em meio a essas lutas, contar com o apoio de alguém tão ligado à esfera
sobrenatural como Bento XVI revigora a nossa certeza de que junto à Virgem
Imaculada nada há que temer. Impetrar, unidos a Pedro, o pleno cumprimento
dos desígnios da Providência sobre esta obra é uma grande consolação.

Deste modo, estas alentadoras palavras do Primeiro Papa nos são dirigidas
ainda hoje por meio de seus Sucessores: “O que nós esperamos, de acordo com
a sua promessa, são novos céus e uma nova terra, onde habitará a justiça” (II Pd
3, 13). Eis a meta que nos une às esperanças de Sua Santidade Bento XVI: a
transformação de todas as coisas pela união entre o Céu e a terra, que virá
quando o reinado de Maria se tornar efetivo sobre os corações e o mundo.

Porém, os esforços humanos são insuficientes em si mesmos para realizar os


prodígios da graça que esta mudança deve comportar. Ela só será possível
quando Maria Santíssima disser novamente fiat!, e, atendendo à sua voz
melodiosa e harmônica, um novo regime de graças se estabelecer sobre a
Esposa Mística de Cristo, defluindo do mais puro e cristalino manancial: o seu
Imaculado Coração!

1A 3 de fevereiro de 2010, Bento XVI aprovou em caráter definitivo os estatutos da Sociedade Clerical de

Vida Apostólica Virgo Flos Carmeli e da Sociedade de Vida Apostólica Feminina Regina Virginum. Ambas

são constituídas, respectivamente, pelos membros do ramo sacerdotal e pelos elementos mais dinâmicos
do ramo feminino dos Arautos do Evangelho, Associação Privada Internacional de Fiéis de Direito

Pontifício erigida em 22 de fevereiro de 2001 pelo então Papa João Paulo II, agora elevado à honra dos

altares.

2BENTO XVI. Luce del mondo. Il Papa, la Chiesa e i segni dei tempi. Città del Vaticano: LEV, 2010, p.89-

90.

3CLÁ DIAS, EP, João Scognamiglio. Carta de 29 de julho de 2017.

4Idem, ibidem.

5Idem, ibidem.

6CLÁ DIAS, EP, João Scognamiglio. Carta de 26 de novembro de 2018.

7Atualmente esta iniciativa pastoral conta com 39.980 oratórios circulando em residências, edifícios,

escolas, hospitais, asilos, presídios e instituições comerciais. Ao ser favorecida pelas orações do Papa

Bento XVI, certamente crescerá ainda mais em número e fervor daqui por diante.

8CLÁ DIAS, EP, João Scognamiglio. Carta de 26 de novembro de 2018.

9Idem, ibidem.

Por que Nosso Senhor veio ser


batizado?
Jesus não foi batizado por causa de algum pecado,
nem por Lhe faltar a graça do Espírito Santo. O
verdadeiro motivo de seu Batismo nos é indicado por
João Batista e pelo próprio Salvador.

São João Crisóstomo

Por que Jesus recebeu o Batismo? Eis que nos resta dizer, e ao mesmo tempo
vos explicaremos que Batismo Ele recebeu, pois estes dois pontos são de igual
importância. Começaremos pela segunda questão, para poderdes assim
entender melhor a primeira.
A ablução judaica apagava apenas as manchas corporais
O batismo dos judeus lavava as impurezas do corpo, mas não os pecados que
estavam na consciência: se alguém cometia um adultério, um roubo ou qualquer
outro crime, esse batismo não os apagava; mas se tocava os ossos de um morto,
comia alimentos proibidos pela Lei, vinha de um lugar impuro ou tinha estado
com leprosos, devia lavar-se e ficava impuro até a tarde, depois disso se tornava
puro. “Ele lavará seu corpo em água pura e permanecerá impuro somente até a
tarde” (cf. Lv 15, 5).

Esses não eram verdadeiros pecados nem imundices propriamente ditas, mas,
sendo os judeus um povo bruto e imperfeito, queria Deus, pelas observâncias
legais, prepará-los com muita antecedência para a observação de prescrições
mais importantes.

A ablução judaica, portanto, não apagava os pecados, mas apenas as manchas


corporais. Não ocorre o mesmo com a nossa, que é bem melhor e cheia de
graças abundantes, pois ela livra do pecado, purifica a alma e dá a graça do
Espírito Santo. Quanto ao batismo de João, este era muito superior ao dos
judeus, mas inferior ao nosso; era como o hífen que os unia e conduzia de um
ao outro.

O batismo de João era superior ao dos judeus


João não orientava os homens a observar as purificações corporais; pelo
contrário, delas os desviava, para exortá-los a passar do vício à virtude, e a
depositar nas boas obras suas esperanças de salvação, não nos diversos
batismos e abluções. Ele não lhes dizia: “Lavai vossas vestes e vossos corpos,
e sereis puros”, mas sim: “Dai frutos de verdadeira penitência” (Mt 3, 8).
Sob este ponto de vista, o batismo de João era superior ao dos judeus, mas
inferior ao nosso, pois ele não dava o Espírito Santo, não conferia, pela graça, a
remissão dos pecados. Ele levava à penitência, mas não tinha o poder de
perdoar os pecados. Por este motivo, dizia João: “Eu vos batizo com água, mas
Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo” (cf. Mt 3, 11). Logo, João não
batizava no Espírito Santo. Mas por que no Espírito Santo e no fogo? Para
recordar-nos aquele dia no qual viram-se como que línguas de fogo pousar sobre
os Apóstolos (cf. At 2, 3).

Que o batismo de João era imperfeito, por não conferir a graça do Espírito Santo
nem o perdão dos pecados, deduz-se das palavras de São Paulo a alguns
discípulos que ele havia encontrado:

— Recebestes o Espírito Santo, quando abraçastes a Fé? – indagou-lhes.

— Não, nem sequer ouvimos dizer que há um Espírito Santo! – responderam.

— Que batismo recebestes?

— O de João.

Ora, o Precursor dava “o batismo da penitência”, não o da remissão. Por que,


então, ele batizava? Ele batizava “dizendo ao povo que cresse n’Aquele que
havia de vir depois dele, isto é, em Jesus”. Depois disso, aqueles discípulos
foram batizados em nome do Senhor Jesus. “E quando Paulo lhes impôs as
mãos, o Espírito Santo desceu sobre eles” (cf. At 19, 2-6).

Percebeis quanto era imperfeito o batismo de João? Pois, se ele não fosse
imperfeito, Paulo não os teria batizado de novo, não teria lhes imposto as mãos;
fazendo estas duas coisas, ele proclamou a excelência do Batismo dos
Apóstolos e a inferioridade do outro.

Jesus era muito superior ao próprio João Batista


Sabemos agora qual é a diferença entre os três batismos dos quais falamos. Mas
por que o Salvador foi batizado? Qual batismo Ele recebeu? Eis o que falta
explicar-vos.

Ele não recebeu o batismo dos judeus nem o nosso, pois não tinha necessidade
da remissão dos pecados; esta era, aliás, impossível, já que n’Ele não havia
pecado, conforme diz São Pedro: “Ele não cometeu pecado, nem se achou
falsidade em sua boca” (I Pd 2, 22). E em São João lemos: “Quem de vós Me
acusará de pecado?” (Jo 8, 46). Sua carne não podia receber mais ainda o
Espírito Santo, pois ela tinha por princípio o próprio Espírito Santo, que a
formara. Portanto, se essa carne não era estranha ao Espírito Santo nem sujeita
ao pecado, por que batizá-la?

Comecemos por explicar qual batismo Jesus recebeu, e o restante será de toda
evidência. Qual foi, pois esse batismo? Não foi o dos judeus nem o nosso, mas
o de João. Por quê? Para a própria natureza deste batismo nos ensinar que o
Salvador não foi batizado por causa de seus pecados, nem por Lhe faltar a graça
do Espírito Santo, uma vez que este batismo não possuía nem uma nem outra
destas duas coisas, como acima se demonstrou. De onde fica claro que Ele não
veio a João para receber o Espírito Santo nem a remissão de seus pecados. E
para que nenhum dos circunstantes imaginasse que Ele vinha fazer penitência
como os demais, vede como João preveniu essa falsa interpretação. Ele que
gritava a todos: “Dai frutos de verdadeira penitência” (Mt 3, 8), disse ao Salvador:
“Eu devo ser batizado por Ti e Tu vens a mim!” (Mt 3, 14). Afirma isto para deixar
claro que Nosso Senhor não tinha vindo pela mesma necessidade dos outros e
que, longe de ser batizado pelo mesmo motivo, Ele era muito superior ao próprio
João Batista, e infinitamente mais puro.

O Espírito Santo queria torná-Lo conhecido por todos


Mas então, precisava Ele ser batizado, se não era por penitência, nem para o
perdão dos pecados, nem para receber a plenitude do Espírito Santo?

Por dois outros motivos. Um deles nos foi revelado pelo discípulo, e o outro foi
indicado a João pelo próprio Salvador.

Qual a causa deste batismo, dada por João? Segundo o dito de São Paulo, o
povo precisava saber que “João dava um batismo de penitência, a fim de que
todos cressem n’Aquele que havia de vir depois dele” (At 19, 4). Eis o objetivo
deste batismo.
Se tivesse sido necessário ir a todas as casas e fazer as pessoas saírem para
lhes mostrar o Cristo, dizendo: “Este é o Filho de Deus”, tal testemunho seria
suspeito e muito difícil. Se João tivesse entrado com Jesus na sinagoga, para
mostrá-Lo, também este testemunho seria suspeito. Entretanto, que o próprio
Jesus tenha vindo para ser batizado diante do povo de todas as cidades
adjacentes ao Jordão, acotovelando-se às suas margens, que Ele tenha sido
recomendado pela voz de seu Pai, descida do céu, e que sobre Ele tenha
pousado o Espírito Santo sob a forma de uma pomba: eis aqui algo que não nos
permite duvidar do testemunho de João. Não por outro motivo, o santo Precursor
acrescenta: “Eu mesmo não O conhecia” (Jo 1, 31), demonstrando assim que
seu testemunho é digno de fé.

Jesus e João eram parentes segundo a carne: “Também Isabel, tua parenta,
concebeu um filho” (Lc 1, 36), disse o Anjo a Maria, falando da mãe de João.
Então, para que tal parentesco não parecesse ser a causa do testemunho que
João dava do Cristo, a graça do Espírito Santo dispôs as coisas de modo que
João passou no deserto sua primeira juventude e, assim, seu testemunho não
se apresentou como ditado pela amizade e com um desígnio premeditado, mas
sim inspirado por um aviso do alto. Eis o motivo pelo qual ele diz (cf. Jo 1, 32-
33):

— Eu mesmo não O conhecia.

— Então, onde O conheceste?

— Aquele que me enviou a batizar em água me disse.

— Que disse ele?

— Aquele sobre quem vires o Espírito Santo descer como uma pomba e
repousar, este é quem batiza no Espírito Santo.

Como vedes, o texto sagrado fala do Espírito Santo, não como devendo descer
pela primeira vez sobre Jesus Cristo, mas como devendo mostrá-Lo, apontá-Lo
com o dedo, por assim dizer, e torná-Lo conhecido de todos. Eis o motivo pelo
qual Ele veio fazer-Se batizar.
Obedecer aos profetas era justiça
Há outra razão, indicada por Ele próprio. Qual? Quando João Lhe disse: “Eu
devo ser batizado por Ti e Tu vens a mim”, Jesus respondeu: “Deixa por agora,
pois convém que assim cumpramos toda a justiça” (Mt 3, 14-15). Percebestes a
modéstia do servo? Notastes a humildade do Mestre? O que é “cumprir toda a
justiça”? Entende-se por justiça o cumprimento de todos os Mandamentos de
Deus, conforme esta passagem: “Ambos eram justos diante de Deus e
observavam de modo irrepreensível todos os Mandamentos e preceitos do
Senhor” (Lc 1, 6). Todos os homens deviam cumprir esta justiça, mas nenhum
foi fiel, nenhum a cumpriu; por isto veio Cristo e a cumpriu.

Perguntar-me-eis que justiça há em Ele ser batizado? Obedecer aos profetas era
justiça. Da mesma forma como Jesus foi circuncidado, ofereceu o sacrifício,
observou o sabá e celebrou as festas judaicas, assim acrescentou Ele aqui o
que faltava cumprir, submetendo-Se ao profeta que batizava.

Tal era vontade de Deus que todos recebessem o batismo, que João nos diz:
“Aquele que me enviou a batizar em água” (Jo 1, 33), e o próprio Cristo assim
Se exprime: “O povo e os publicanos atenderam aos desígnios de Deus,
recebendo o batismo de João; mas os fariseus e os escribas, recusando esse
batismo, desprezaram o conselho de Deus a seu respeito” (Lc 7, 29-30).

Se, pois, é justiça obedecer a Deus, e se Deus enviou João para batizar o povo,
Jesus cumpriu este ponto da Lei com todos os outros.
A Nova Arca divina voltou para o Céu

Se quiserdes, comparai os Mandamentos da Lei a duzentos denários: o gênero


humano precisava saldar essa dívida. Não a tínhamos pago, e a morte nos
agarrava sob o peso dessas prevaricações. O Salvador, tendo vindo e nos
encontrado atados, quitou nossa dívida e resgatou aqueles que não tinham
meios de pagar. Por este motivo Ele não diz: “Convém que façamos isto ou
aquilo”, mas sim “que cumpramos toda a justiça”. É como se dissesse: “Convém
que Eu, o Mestre, pague por aqueles que nada têm”.

Tal é a ocasião de seu Batismo, a necessidade de manifestar o cumprimento de


toda a justiça, e a esta causa deve-se acrescentar a que foi dada acima. Eis
porque o Espírito Santo desceu sob a forma da pomba, a qual é o símbolo da
reconciliação com Deus. É assim que no tempo da Arca de Noé a pomba,
trazendo no bico um ramo de oliveira, veio anunciar a misericórdia divina e o fim
do dilúvio. Ainda agora, é sob a forma de uma pomba – notai que eu digo forma,
não corpo – que o Espírito de Deus vem anunciar o perdão ao mundo, e ao
mesmo tempo comunicar que o homem espiritual deverá ser inocente e simples,
e afastar-se do mal, conforme esta palavra de Cristo: “Se não vos converterdes
e não vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos Céus”
(Mt 18, 3).
A primeira arca ficou na terra, após o cataclismo, mas a Nova Arca divina, Nosso
Senhor Jesus Cristo, voltou para o Céu quando a cólera divina foi apaziguada e
agora seu Corpo inocente e puro está à direita do Pai.

Homilia sobre o Batismo de

Nosso Senhor e a Epifania.

In: “Œuvres Complètes”.

Bar-le-Duc: L. Guérin et Cie,

1804, t.III, p.185-188

A glória excelsa de Maria


Santíssima
Colocada no alto do universo e contendo em Si toda
a beleza das meras criaturas, a Santíssima Virgem é
o grampo de ouro que liga a criação ao Divino
Redentor. Qual é o papel d’Ela junto a cada um de
nós?

Plinio Corrêa de Oliveira


Quando Nosso Senhor Jesus Cristo nasceu, houve uma alegria em toda a
natureza, e esta se revestiu de um novo esplendor: os astros brilharam com mais
intensidade, o ar tornou-se mais puro, as águas das fontes ficaram mais
cristalinas, as plantas tomaram maior viço, os animais se alegraram e se
tornaram mais saudáveis; os homens bons adquiriram mais esperança.

Por quê? Porque vinha ao mundo Aquele que, sendo o próprio Deus, ligara a Si
todo esse conjunto por meio da natureza humana.

Ao olharmos a menor das pedras, a menor das plantas, o menor dos animais ou
o menor dos homens, devemos pensar nisto: a natureza deles está, de algum
modo, presente em Nosso Senhor Jesus Cristo e, assim, ligada a Deus,
participando de sua glória no mais alto do Céu, no oceano de esplendor de
santidade da Trindade Beatíssima.

Um abismo preenchido pela Santíssima Virgem


Contudo, o espírito humano, sequioso de ordem e de razoabilidade em todas as
coisas, busca um ser que preencha o abismo infinito ainda existente entre Nosso
Senhor Jesus Cristo e a mera criação: um ser tão próximo do Homem-Deus, que
estivesse acima dos Anjos; mas que, sendo pura criatura humana, englobasse
também todas as demais naturezas.

Esse ser é precisamente Nossa Senhora. Ela foi colocada numa altura
insondável, e numa plenitude de glória, de perfeição e de santidade
inimagináveis. Acima d’Ela está somente a humanidade de seu Divino Filho e a
Santíssima Trindade.

Por um mistério também insondável, Maria Santíssima gerou virginalmente


Nosso Senhor Jesus Cristo, permanecendo virgem antes, durante e depois do
parto por ação do Espírito Santo, de quem Se tornou, assim, verdadeira Esposa.

A dignidade de ser Mãe do Verbo Encarnado, Esposa do Espírito Santo e Filha


dileta do Padre Eterno A coloca, embora sendo uma criatura puramente humana,
acima dos Anjos.

Criada com a missão de obter a vinda do Messias


Nossa Senhora é o grampo de ouro que liga a criação a Nosso Senhor Jesus
Cristo. Posta no alto do universo, Ela contém em Si toda a beleza das meras
criaturas.

Qual é o papel dessa criatura tão excelsa?


A Santíssima Virgem sempre foi representada como estando em oração, no
momento em que recebeu o anúncio do Arcanjo São Gabriel.

Sem dúvida, Ela pedia a vinda do Salvador que haveria de resgatar a


humanidade e fundar a instituição a qual dispensaria a graça em tal abundância,
que os homens afinal se tornariam mais frequente e facilmente virtuosos e,
assim, a verdade, a beleza, o bem, a grandeza, o amor a Deus poderiam
constituir-se no mundo e levar as almas ao Céu.

Nenhuma outra criatura humana tinha valor e virtude suficientes para impetrar e
alcançar tal graça. Ela foi criada especialmente com a missão de obter a vinda
do Messias esperado.

Seus sofrimentos durante a Paixão


Em certo momento, a Virgem Santíssima recebeu a revelação da Paixão pela
qual passaria seu Divino Filho e dos sofrimentos atrozes que viriam sobre Ele e
sobre Ela. Nossa Senhora deveria padecer em união com Aquele que sofreu
como nunca nenhum homem tinha sofrido e nem sofreria até o fim do mundo. À
Passio – Paixão – de Jesus se uniria a compassio – a compaixão, o “co-
sofrimento” – de Maria.

Para que os homens pudessem ser salvos e dar glória a Deus, Ela consentiu em
ser a Mãe do Redentor e suportar esses tremendos sofrimentos.

É possível conceber o que Nossa Senhora sofreu durante a Paixão?

Imaginemos o que sentiria qualquer mãe que, andando pela rua, ouvisse de
repente um alarido e, aproximando-se, visse seu filho sendo chicoteado,
deitando sangue por todos os poros, padecendo dores indizíveis, carregando
uma cruz, objeto da selvageria de um populacho brutal, vil, que dava risada dele,
dizia atrocidades e levava-o, junto com essa cruz, para ser crucificado e morrer
no mais horroroso dos martírios, no alto de uma montanha.

Essa mãe desmaiaria, ficaria psicótica, louca, conforme o caso poderia até
morrer.

Ora, Nossa Senhora queria a Nosso Senhor Jesus Cristo incomparavelmente


mais bem do que qualquer mãe possa querer a seu filho. Em primeiro lugar,
porque Ela é a melhor Mãe que houve e haverá; mas também porque Ela teve
um Filho incomparavelmente melhor do que qualquer outro.

É difícil imaginar a graça e encanto manifestados por Nosso Senhor como Filho:
todo o respeito, a ternura, a veneração, a delicadeza, a grandeza! Como terão
sido os trinta anos de intimidade entre Ele e Nossa Senhora, durante os quais
Ela O viu crescer em graça e santidade diante de Deus e dos homens, e amou,
com amor perfeito, cada estágio da perfeição d’Ele que ia se desenvolvendo?
Qual era o abismo de adoração no qual Ela Se desfazia em relação a Ele?

Pois bem, Ela vê esse Filho, o próprio Deus, a própria Santidade, tratado assim
por aquele populacho!

Quando Ela teve o encontro com Ele durante a Via Dolorosa, quando O abraçou,
O osculou e recebeu a glória enorme de ter o seu rosto virginal e sua túnica tintos
com o Sangue divino; quando Ela recolheu os gemidos d’Ele, e foi a seu lado
subindo até o alto do Calvário; quando Ela viu seus estertores finais e Ele gritar:
“Eli, Eli lamá sabactâni – Meu Deus, meu Deus, por que Me abandonastes?”, e
depois dizer: “Tudo está consumado”, inclinar a cabeça e exalar o espírito… Ao
contemplar tudo isso, qual terá sido o sofrimento d’Ela?

Ela pedia o perdão para cada um de nós


Nesses momentos em que Maria Santíssima sofreu de um modo indizível, Ela
manteve uma serenidade tão perfeita que Se conservou de pé o tempo inteiro
junto à Cruz, com uma resignação e uma força que fazem d’Ela o modelo da
criatura humana posta no sofrimento.

Até o último instante, Ela dizia ao Padre Eterno: “Eu consinto em que aconteça
isso a meu Filho, para que Ele Vos dê a glória devida, salve as almas para Vós,
ó meu Pai, e para que elas gozem da felicidade eterna junto a Vós no Céu”.

Dizem os teólogos que do alto da Cruz Nosso Senhor, cuja inteligência é infinita,
conhecia todos os homens pelos quais Ele haveria de derramar até a última gota
de seu Sangue. Via, individualmente, todos os pecados que cada um cometeria,
sofria por todos esses pecados e dava a sua vida para resgatar os pecadores
que correspondessem à graça da Redenção.

Creio que para a compaixão de Nossa Senhora ser completa, Ela também nos
conheceu individualmente naquela ocasião, e rezou em favor de cada um de
nós. De maneira que, enquanto o Verbo de Deus via aquela multidão de pecados
que se desprenderia dos homens ao longo dos séculos, Ela pedia perdão para
cada um, e Ele ia perdoando pelo pedido d’Ela pois, sendo inocente, Ela merecia
o perdão que nós não merecíamos.

Foi, portanto, por causa das súplicas de Maria que cada um de nós obteve o dom
de ser batizado, de conhecer a Igreja Católica, de receber os demais
Sacramentos, de ter devoção a Ela e de manter-se fiel à Igreja nesses dias
tormentosos em que vivemos. Será também pelo favor d’Ela que alcançaremos
o Céu.

Nossa Mãe e Advogada


Deus é Juiz, mas Nossa Senhora, como Mãe, é naturalmente a Advogada dos
filhos.

É próprio ao papel de mãe defender o filho, por mais miserável, imundo,


asqueroso e crápula que ele seja. Ela perdoa e pede a Deus que o perdoe
também. Está solidária com o filho até quando o pai o abomina completamente.

Nossa Senhora, Mãe supremamente boa, rezou por cada um de nós e,


considerando que as chagas de Nosso Senhor foram causadas, em parte, por
nossos pecados, pediu a Ele: “Meu Deus, meu Filho, pela minha inocência, pela
minha virgindade, pelo amor que Vós sabeis que Vos tenho, Eu Vos peço por
este filho pecador. Em nome dessa chaga que Vós sofreis por causa dele, peço-
Vos que o perdoeis”. E assim cada um de nós foi perdoado.

Foi, então, por meio de Nossa Senhora que Deus veio a nós na Encarnação e
deu-se o Natal do Salvador, e é por intermédio d’Ela que vamos a Ele e
recebemos os benefícios da Paixão e Cruz, isto é, da Redenção.

Por isso, morto Nosso Senhor, Maria Santíssima continuou a ser a grande
intercessora junto a Ele, a Advogada que nunca abandonou homem algum, por
mais pecador que fosse. A ponto de ensinar a Teologia que se São Pedro, depois
de ter cometido o pecado horroroso de negar o Divino Mestre, não desesperou,
arrependeu-se e se salvou, foi pelos rogos de Maria, que lhe obteve a graça do
arrependimento e o perdão.

E se Judas Iscariotes, o mercador péssimo que vendeu Nosso Senhor por trinta
moedas, tivesse recorrido a Nossa Senhora, Ela o receberia com toda a bondade
e misericórdia, e obteria o perdão também para ele.
Após a Morte do Salvador, é a Santíssima Virgem quem reúne os Apóstolos em
torno de Si, está junto a eles em Pentecostes, acompanha a Igreja nos primeiros
passos e é a sua grande protetora ao longo de toda a sua existência, presente
nas batalhas onde os guerreiros católicos venceram os exércitos inimigos da Fé,
presente nos combates contra as heresias, e na luta que noite e dia cada homem
trava contra seus defeitos, para adquirir maiores virtudes.

E ainda que não nos lembremos de Nossa Senhora, Ela está Se lembrando de
nós do alto dos Céus, pedindo por nós com uma misericórdia que nenhuma
forma de pecado pode esgotar. Basta nos voltarmos para esta clementíssima
Mãe para que Ela, cheia de bondade, nos atenda e nos limpe a alma, dando-nos
força para praticarmos a virtude e nos transformarmos de pecadores em homens
bons.

Nunca nos faltarão forças para os sacrifícios necessários à prática da Lei de


Deus, desde que as peçamos a Nossa Senhora. Aqueles que se voltam a Ela
recebem tudo; aqueles que se afastam d’Ela não recebem nada.

Rainha do universo
Maria Santíssima é chamada pela Igreja a Porta do Céu. É por esta Porta que
todos os homens obtêm as graças: por Ela nossas orações chegam a Deus, e
também todas as graças descem para os homens. Tudo nos vem por intermédio
de Nossa Senhora.

São Luís Grignion de Montfort utiliza uma bela imagem para ilustrar essa
realidade. Imaginemos alguém do povo que quer presentear o rei, mas não tem
outra coisa para oferecer-lhe a não ser uma maçã. Entretanto, não tem coragem
de apresentá-la ao monarca, por ser um presente muito comum. Então, pede à
mãe do rei que oferte a ele essa maçã.

A mãe do monarca coloca a fruta numa bandeja de prata e lhe diz: “Meu filho,
essa pessoa é minha filha também e pede-me para vos oferecer isto”. O rei sorri
e a recebe como se fosse uma esfera de ouro.

Por vezes, as melhores ações dos homens têm o valor de uma maçã; mas,
oferecidas pelas mãos virginais de Maria e acompanhadas do sorriso d’Ela, Deus
as recebe com encanto, agradece e as recompensa. Quanto mais unidos a
Nossa Senhora, mais poderemos praticar a virtude e nos tornar agradáveis a seu
Divino Filho.

Como ensina a doutrina católica, se Maria Santíssima é de tal maneira a


distribuidora de todos os dons, Ela é a Rainha do universo. E se Ela governa o
universo inteiro, é também verdade que devemos nos consagrar a Ela como seus
servos, deduz São Luís Maria Grignion de Montfort, para em tudo fazer a vontade
d’Ela.

Alguém dirá: “Mas eu sinto minha fraqueza, minha imperfeição. Será que Nossa
Senhora quererá uma elevação dessas para mim, tão cheio de pecados?” Eu
respondo: Não tenho dúvida, porque Ela não recua diante do pecado de nenhum
homem.

Misericórdia de Nossa Senhora


Em nossa época, a Santíssima Virgem está sofrendo agressões terríveis, pois
os pecados são muito mais cheios de malícia. Entretanto, Ela não quer o fim da
humanidade, mas deseja o perdão para ela. E quando, em Fátima, Ela
prenunciou castigos para o mundo, e disse até que várias nações
desaparecerão, ao mesmo tempo anunciou a misericórdia, pois, diante dos
castigos, pelo menos certo número dos homens contemporâneos vai se
arrepender e ainda irá para o Céu. E muitos hão de viver perdoados por Ela,
para entrarem no Reino de Maria. Assim, Ela afirmou: “Por fim, o meu Imaculado
Coração triunfará!”

Nós devemos pedir a Maria Santíssima que Ela vença nossos obstáculos,
aniquile nossas maldades e que seja verdadeira para o mundo contemporâneo,
como para cada um de nós, a promessa do triunfo de seu Imaculado Coração,
tornando-nos apóstolos dos últimos tempos, perfeitos filhos e escravos d’Ela. Por
essa forma, o Reino de Maria substituirá o reino do demônio sobre a face da
terra.
Extraído, com pequenas adaptações, da revista

“Dr. Plinio”. São Paulo.

Ano XVIII. N.212

(Nov., 2015); p.18-25

Mãe de Deus e Mãe nossa


No Filho e pelo Filho, a Santíssima Virgem é
Senhora de toda a criação. Assim, a devoção a Ela
tornou-se “conditio sine qua non” para que os
degredados filhos de Eva vençam as tribulações
deste mundo e cheguem seguros ao porto desejado.

Ir. Cássia Thaís Costa Dias de Arruda, EP

Nosso Senhor Jesus Cristo, antes de partir deste mundo, colocou ao nosso
alcance um auxílio sobrenatural que seria inesgotável manancial de graças para
todos os homens: Maria.

Do alto da Cruz em que Se encontrava, Ele olhou para Nossa Senhora dizendo-
Lhe: “Mulher, eis aí teu filho” (Jo 19, 26); e, em seguida, virou-Se para São João:
“Filho, eis aí tua Mãe” (Jo 19, 27). Fez assim a entrega de sua própria e
santíssima Mãe a todos aqueles que se tornariam seus irmãos através do
Sacramento do Batismo.
A partir daquele momento, a Santíssima Virgem levantou-Se como uma aurora
em nossa existência pois, “na noite das maiores provações e das mais espessas
trevas, Ela surge e desde logo começa a vencer as dificuldades com que nos
defrontávamos”.i

Maternidade espiritual promulgada por Cristo


A Maternidade Divina de Nossa Senhora é a razão de todos os seus privilégios
e o fundamento de todo o edifício das doutrinas mariológicas.

Sendo Deus onipotente, poderia ter criado Nosso Senhor Jesus Cristo por um
simples ato de vontade, ou tê-Lo feito surgir de uma figura de barro, como Adão,
ou até mesmo tê-Lo moldado servindo-Se das nobres matérias existentes no
Paraíso. Entretanto, assim como através de uma mulher – Eva – o demônio
arrastou os homens para a ruína, assim também quis o Padre Eterno salvá-los
por meio de outra Mulher: Maria.

E uma vez que o Filho Se encarnou para salvar-nos, Nossa Senhora pode ser
chamada, sem dúvida, de Mãe do Redentor. Com efeito, devido ao “fiat”
pronunciado por Ela Deus assumiu a nossa natureza, e através d’Ela o gênero
humano deu o seu placet para a Redenção. “Da Anunciação se esperava o
consentimento da Virgem em nome de toda a natureza humana”,i ensina o
Doutor Angélico.

Maria é, portanto, nossa Mãe porque assim Jesus o estabeleceu, mas também
porque, sem o auxílio e a aceitação d’Ela, jamais teríamos nascido para o Céu e
para a vida da graça. Conforme afirma o Pe. Gabriel Roschini, OSM,i Nossa
Senhora nos concebeu enquanto filhos em Nazaré, e nos deu à luz no Calvário.

E o mesmo célebre mariólogo acrescenta: “Todos os homens, membros místicos


de Cristo, foram juntamente com Ele, nossa Cabeça, misticamente concebidos
por Maria e d’Ela nasceram. Este é o fundamento supremo da maternidade -
espiritual de Maria, promulgada por Cristo”.i

Luzeiro de fé que sustentou a Igreja


Qual a importância de Maria na vida da Igreja, precioso e inequívoco fruto do
Sangue de Cristo? Ela tem um papel preponderante e insubstituível, que
começou a manifestar-se logo após a Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Nos três dias que precederam a Ressurreição, nada faltou aos Apóstolos para
acreditarem que ela haveria de se dar. O próprio Jesus a tinha previsto, Santa
Maria Madalena anunciou-lhes que o Corpo do Divino Mestre não estava mais
no sepulcro, e os discípulos de Emaús relataram-lhes seu encontro com Nosso
Senhor, a quem reconheceram ao partir o pão.

Apesar disso, São João narra em seu Evangelho que, no domingo da


Ressurreição, os Apóstolos estavam reunidos numa mesma casa, com as portas
fechadas, “por medo dos judeus” (Jo 20, 19). Por que temiam, uma vez que eles
mesmos tinham sido testemunhas de inúmeros milagres operados por Nosso
Senhor? Logo no despontar da Igreja Católica, os mais importantes seguidores
de Cristo duvidaram… Faltava-lhes a virtude da fé.

Neste momento, Nossa Senhora exerceu na Igreja nascente um papel decisivo


para a perpetuação da obra fundada por seu Divino Filho, pois n’Ela nunca
diminuiu a fulgurante chama da fé. Ela sustentou a Igreja, naqueles dias em que
as trevas pareciam cobrir o coração dos membros do Colégio Apostólico. Para
eles, parecia tudo acabado, mas o olhar confiante de Maria os fortalecia.

Mesmo depois de Pentecostes, todos recorriam a Ela quando se fazia necessário


tomar alguma decisão. E quando a noite das mais terríveis perseguições
começou a afligir a Igreja, a Virgem foi a estrela que alentou as almas para não
soçobrarem.

Para Ela deve voltar-se o nosso olhar


“Ó altura incompreensível! Ó largura inefável! Ó grandeza incomensurável! Ó
abismo insondável!”i É o que exclama quem pensa em Maria Santíssima.

Não houve em toda a História um Santo que não A tenha louvado; não há Anjo
no Céu que não A tenha proclamado bem-aventurada, não existe recanto no
mundo onde não lhe seja rendido culto; mesmo assim, afirmam São Bernardo,
São Luís Maria Grignion de Montfort, e com eles toda a Igreja, “De Maria
nunquam satis!” Por muito que esteja presente em nossas vidas e orações,
jamais nos saciaremos d’Ela.

No Filho e pelo Filho, a Santíssima Virgem é Senhora de toda a criação. Desse


modo, o culto a Maria tornou-se a chave de nossa salvação, conditio sine qua
non para que os degredados filhos de Eva vençam as tribulações deste mundo
e cheguem seguros ao porto desejado.

Sejamos, pois, filhos amorosos d’Ela e apóstolos inflamados de zelo pela


propagação da devoção mariana, sabendo, a exemplo de São Bernardo de
Claraval, proclamar aos homens: “Ó tu, quem quer que sejas, que te sentes
longe da terra firme, arrastado pelas ondas deste mundo, no meio das borrascas
e tempestades, se não queres soçobrar, não tires os olhos da luz desta estrela
[…], invoca Maria!”i

A Ela, que possui o cetro de Deus em suas mãos e governa a História, deve
voltar-se o nosso olhar de súplica. É Ela a Rainha de todos os corações, até dos
mais empedernidos; é Ela a Mãe de bondade, que abate as nossas misérias e
lhes dá aparência de beleza diante de Deus; é Ela a Luz da Igreja, “formosa
como a lua, brilhante como sol, terrível como um exército em ordem de batalha”
(Ct 6, 10), contra a qual as trevas jamais prevalecerão!

1 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Conferência, 8/9/1963, apud CLÁ DIAS, EP, João Scognamiglio.

Pequeno Ofício da Imaculada Conceição comentado. 2.ed. São Paulo: ACNSF, 2010, v.I, p.349.

2 SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. III, q.30, a.1.

3 Cf. ROSCHINI, OSM, Gabriel. Instruções Marianas. São Paulo: Paulinas, 1960, p.79.

4 Idem, p.74.

5 p.20.

6 SÃO BERNARDO DE CLARAVAL. En alabanza de la Virgen Madre. Homilia II, n.17. In: Obras

Completas. 2.ed. Madrid: BAC, 1994, v.II, p.637-639.

Santa Rafaela Maria do Sagrado Coração

O amargo cálice do abandono


O Coração de Jesus chamou-a a fundar uma
congregação em sua honra, mas permitiu que ali se
tornasse uma desconhecida. Foi em meio ao
silêncio, ao apagamento e à dor que ela atingiu a
plenitude das virtudes heroicas.
Ir. Isabel Lays Gonçalves de Sousa, EP

Ao analisar a vida dos Bem-aventurados, entusiasma-nos contemplar as almas


que, incendiadas pelas chamas do Divino Espírito Santo, não recuam diante das
maiores decepções ou derrotas. A ousadia de suas metas, a férrea oposição que
enfrentam para alcançá-las, uma íntima união com Nosso Senhor, como esteio
para suportar atrozes sofrimentos, fazem-nas brilhar quais estrelas rutilantes no
firmamento da santidade.

Não pensemos, todavia, que este gênero de vocações se distingue sempre pela
abundância e grandeza das suas obras, pois ensina o Divino Mestre que “na
casa de meu Pai há muitas moradas” (Jo 14, 2). De certas almas Ele espera
prodigiosas realizações; a outras chama para a renúncia e o sacrifício ou, até
mesmo, para serem vítimas de seu próprio fracasso. Tanto umas quanto outras
são grandes aos olhos de Deus, que não julga pelas aparências exteriores, mas
pela docilidade a seus desígnios.

Santa Rafaela Maria do Sagrado Coração é um dos mais belos exemplos de


abandono absoluto nas mãos da Providência, pois foi-lhe pedido ver-se relegada
a uma aparente inutilidade, enquanto seu coração ardia em desejos de
conquistar o mundo inteiro.

Alma feita para o sobrenatural


Rafaela Maria Porras Ayllón nasceu em Pedro Abad, na província andaluza de
Córdoba, na Espanha, a 1º de março de 1850. Seus pais, católicos fervorosos e
de fortuna acomodada, a educaram com esmero no amor à virtude e na prática
dos Mandamentos.

Seus primeiros anos transcorreram na pacatez do pequeno povoado natal e,


apesar de possuir muitos irmãos, as circunstâncias fizeram com que a partir dos
sete anos só tivesse por companhia em seus afazeres e divertimentos sua irmã
Dolores, quatro anos mais velha. Levava uma vida semelhante à das outras
moças de sua idade, embora parecesse ter sido feita mais para a contemplação
das coisas celestes do que para as preocupações terrenas.

Aos quinze anos entregou seu coração a Deus para sempre, fazendo
secretamente o voto de perpétua castidade, na Igreja de San Juan de los
Caballeros. Era o dia 25 de março de 1865, festa da Encarnação do Verbo, na
qual se comemora o “fiat” da Santíssima Virgem como “Escrava do Senhor”
(cf. Lc 1, 38). E quando a família começou a fazer planos de casamento para as
jovens Porras, as duas irmãs já haviam escolhido “a melhor parte” (cf. Lc 10, 42).

Descortina-se a vocação religiosa


Queria o Altíssimo que Rafaela seguisse a via do abandono em suas divinas
mãos. Para isso, exigia-lhe a cada passo um completo desapego das coisas
terrenas, como ela mesma comenta a respeito de um episódio ocorrido quando
contava dezoito anos: “Alguns fatos de minha vida, em que vi a misericórdia e a
providência de meu Deus patente: a morte de minha mãe, a quem fechei os olhos
por encontrar-me sozinha com ela naquela hora”. Este episódio, acrescenta ela,
“abriu os olhos de minha alma, produzindo-me tal desilusão que a vida me
parecia um desterro. Segurando sua mão, prometi ao Senhor jamais pôr meu
afeto em qualquer criatura terrena”.i

Transcorridos os meses, a existência de Rafaela Maria, bem como a de sua irmã,


transformou-se de modo radical. Passavam o tempo junto à cabeceira dos mais
indigentes e repugnantes enfermos, rezando o Rosário ou distribuindo esmolas
aos pobres. Não poucas objeções tiveram de enfrentar na própria família,
segundo conta Dolores: “Inteiramente órfãs e sendo muito perseguidas por
nossos parentes mais achegados, minha irmã e eu, depois de quatro anos de
terrível luta, decidimos nos tornar religiosas”.i

Em qual instituto religioso ingressariam? Muitas possibilidades se descortinavam


para elas. Em 1874 transladaram-se para Córdoba, onde tinham pensado, a
princípio, tornar-se carmelitas. Não obstante, recolheram-se por certo tempo no
convento das clarissas e, a instâncias de algumas autoridades diocesanas,
acabaram por entrar em tratativas com as visitandinas, a fim de estabelecer na
cidade um pensionato dirigido pela ordem da Visitação.

Foi então que conheceram o Pe. José Antonio Ortiz Urruela, sacerdote que as
havia de orientar e acompanhar nos primeiros passos de sua vocação, e
aconselhadas por ele uniram-se à Sociedade de Maria Reparadora. Tratava-se
de um instituto de recente criação, não sujeito à rigorosa clausura monástica,
que visava conjugar a devoção eucarística às tarefas de apostolado, a serviço
da Igreja universal.

De noviça a fundadora
Em março de 1875, algumas religiosas desta congregação, provenientes de
Sevilha, se transladaram a Córdoba para fundar um noviciado, aproveitando o
espaçoso prédio que lhes era oferecido pela família Porras. As duas irmãs
começaram ali o postulantado e, em curto tempo, outras jovens seguiram seu
exemplo.

Segundo o costume da época, ao receberem o hábito, Rafaela e Dolores


deveriam trocar de nome para significar a nova vida que levariam. Chamar-se-
iam, respectivamente, Maria do Sagrado Coração e Maria do Pilar.

A vida de noviça parecia-lhes uma parcela do Céu nesta terra. Todas admiravam
a humilíssima virtude de Rafaela e intuíam o chamado especial que lhe reservara
a Providência. Contudo, incontáveis perplexidades as aguardavam…

Em 1876, após uma série de desavenças com o novo Bispo, as reparadoras


retornaram a Sevilha. Rafaela, porém, discernia que Deus a queria em Córdoba,
ainda que isto implicasse na criação de um novo instituto. Mas a fim de não impor
sua opinião às demais, permanecia em profundo silêncio.

Para as outras noviças a escolha era clara: fariam o que fizesse Rafaela. Seu
exemplo lhes havia atraído à vida religiosa e era sob o mesmo impulso que
desejavam continuar. Quando souberam que ela e Dolores permaneceriam na
cidade, sob a direção do Pe. Antonio Ortiz, decidiram acompanhá-las. Apenas
quatro noviças seguiriam as religiosas de Maria Reparadora a Sevilha.

Rafaela, para sua surpresa, foi nomeada superiora da nova instituição. Nunca
lhe passara pela cabeça ter que mandar em alguém, sobretudo em sua própria
irmã. Dolores era de um temperamento vivíssimo, intuitivo e brilhante, e diziam
que possuía capacidade para governar um reino, se fosse necessário. Ela, no
entanto, havia-se acostumado a obedecer e escutar.

Aceitando o encargo que lhe impunham, não fazia mais do que tinha feito a vida
inteira: sujeitar-se ao que parecesse melhor aos outros. Desde então, ela era
noviça e mestra de noviças ao mesmo tempo. A Dolores coube o encargo de
administrar os bens temporais da comunidade, o que soube executar com
perfeição. As duas irmãs se transformaram em fundadoras do novo instituto que
nascia.

Primeiros obstáculos
Quando se aproximava a primeira emissão de votos, algo veio perturbá-las: o
Bispo, Dom Zeferino González y Díaz Tuñón, OP, quis examinar as constituições
e nelas introduzir diversas modificações, pois desejava dar ao novo instituto uma
nota mais dominicana. Considerava excessivo exporem diariamente o
Santíssimo Sacramento, queria submetê-las a um regime mais restrito de
clausura e estabelecer mudanças no hábito. E concedia-lhes vinte e quatro horas
para aceitar as alterações que propunha.

Deus, entretanto, havia inspirado no coração das fundadoras que adotassem as


regras da Companhia de Jesus e, ao tomarem conhecimento daquelas
imposições, as noviças exclamaram em uníssono: “Queremos as regras de
Santo Inácio”.i

Não houve outro remédio senão se mudarem para a vizinha cidade de Andújar,
pertencente à Diocese de Jaén. Fizeram-no à noite, sem prévio aviso e de
comum acordo entre si. Chegadas a seu destino, hospedaram-se em um hospital
beneficente. Passados poucos dias, um agente da autoridade local se
apresentou em busca das religiosas desaparecidas de Córdoba, sob a acusação
de serem contrabandistas! A denúncia era tão ridícula que as religiosas caíram
na gargalhada…

Em meio a estas e muitas outras dificuldades, Rafaela Maria é a “mais alegre e


a que mais alegra às demais”,i diziam as noviças, embora seu interior estivesse
inundado de dor e perplexidades.

A vida da nova congregação


Após idas e vindas, as “fugitivas” acabaram por se estabelecer em Madri, onde
o Arcebispo Primaz da Espanha, Cardeal Juan de la Cruz Ignacio Moreno y
Maisanove, as acolheu. A nova congregação foi por ele aprovada com o nome
de Instituto das Irmãs Reparadoras do Sagrado Coração de Jesus, que mais
tarde o Vaticano mudaria para Escravas do Sagrado Coração de Jesus.

O entusiasmo invadia o apartamento em que se instalaram no centro da cidade,


embora fosse paupérrimo. Era tão pobre que se alguém as quisesse visitar
recomendavam-lhe levar a própria cadeira…

Como primeira devoção tinham a Sagrada Eucaristia e logo pediram autorização


para manter em sua capela a reserva do Santíssimo Sacramento. A licença,
todavia, dependia de Roma. Rafaela não desanimou e, sem titubear, escreveu
ao Papa nestes termos: “Humildemente prostradas aos pés de Vossa Santidade,
encarecidamente lhe rogamos e suplicamos se digne conceder-nos a graça
inestimável de ter reservado em nossa capela, para nosso maior consolo e
principal objeto de nossa reunião, Jesus Cristo Sacramentado”.i

De Roma todas as coisas tardam, diziam-lhe… Mas a Providência procurou


atender de forma inusitada aos anseios das jovens devotas: terminada a Missa
diária, o capelão deixava-lhes, sem querer, algumas partículas na patena ou na
toalha do altar e as religiosas, exultantes, passavam horas adorando aqueles
pequenos fragmentos de Jesus Sacramentado. O fato era inexplicável! “Quanto
mais cuidado tenho ao limpar a patena, maiores são as partículas que restam”,i
comentava o piedoso sacerdote.

Enraizado no fervor eucarístico e na devoção ao Sagrado Coração de Jesus, o


instituto se expandia. Em 1885 já contava com quase cem religiosas. As
fundações se multiplicavam, floresciam as obras de apostolado: “escolas
populares, colégios, casas de exercícios espirituais, congregações marianas e
de adoradoras do Santíssimo Sacramento, etc.”.i A nova associação ia
adquirindo a característica tão desejada por Santa Rafaela Maria: “universal
como a Igreja”.ii

As virtudes na alma de Rafaela também se intensificavam e chegou a ser


qualificada como “a humildade feita carne”.i

Às suas filhas espirituais incutia a necessidade de estarem unidas para


enfrentarem as futuras provações: “Agora, minhas queridas, que estamos nos
alicerces, assentemo-los bem, para que os vendavais que vierem depois não
derrubem o edifício; e todas juntas, sem deixar nenhuma fresta por onde o diabo
possa meter a unha da desunião; todas unidas em tudo, como os dedos das
mãos, e assim conseguiremos tudo o que queremos, porque temos a Deus,
Nosso Senhor, a nosso favor”.i

Os vendavais da desunião
Não demorou, porém, para que os vendavais da desunião viessem atingir o
edifício sagrado das Escravas do Sagrado Coração de Jesus. Críticas injustas,
incompreensões e desconfianças, provenientes de religiosas que formavam o
núcleo do governo do instituto, foram se avolumando em relação a Rafaela, a
ponto de a relegarem ao total isolamento. Todos os que desde o princípio a
haviam apoiado, agora a abandonavam e a culpavam pelos males que pudesse
sofrer a congregação. Madre Maria do Sagrado Coração não teve outra saída
senão renunciar ao generalato nas mãos de sua irmã Dolores.

Que explicação dar às religiosas acerca da renúncia de Rafaela, elas que a


consideravam como a mais santa dentro do instituto? Começa a difundir-se por
todos os ambientes que ela já não tinha capacidade mental para governar e a
razão a estava deixando…

Encaminhada à casa de Roma, Rafaela Maria via os dias se passarem com uma
quietude assustadora. Isolamento, incertezas, silêncio, inutilidade: seria este seu
destino por mais de trinta anos. Até então sua vida havia sido empregada em
trabalho contínuo, em ações apostólicas de toda sorte. De Roma assistiria ao
desenvolvimento de sua obra, “adivinhando só por indícios, por pequenos sinais,
seus problemas, suas dores e suas alegrias”.i

A Cruz do abandono e do olvido


Sabendo Rafaela que “nenhum obediente foi condenado”,i determinou-se a
fazer, sem descanso, tudo o que estava em suas mãos. “Se chego a ser santa,
farei mais pela congregação, pelas irmãs e pelo próximo do que se estivesse
dedicada aos ofícios de maior eficácia”.ii

Já não teria Rafaela autoridade alguma sobre o instituto. As religiosas mais


antigas a encobriram com o véu do silêncio, e delas Rafaela só receberia
humilhações e ingratidão. Aquelas que desde a “fuga” de Córdoba a seguiram
com tanto entusiasmo, tornavam-se agora os algozes de sua crucifixão.

Aceitando o amargo cálice do abandono que o Senhor lhe oferecia, Rafaela


tornou-se uma desconhecida dentro da obra que fundara. “Sem que ninguém
estranhasse, verão a madre, já anciã, ajudando uma postulante coadjutora
recém-chegada a montar as mesas. […] Cada vez mais desconhecida, chega
um momento em que nem mesmo as que vivem na congregação sabem que a
fundadora é ela”.i

Grandes tribulações atormentavam seu puro coração, como ela escreve: “Minha
vida foi sempre de luta, mas de dois anos para cá são penas tão extraordinárias
que só a onipotência de Deus, que me ampara milagrosamente a cada instante,
impede que meu corpo caia por terra. […] Todo o meu ser está em contínua
angústia e desamparo, e prevendo que isto vai durar muito, muito. Por isto penso
que Deus me abandonou? Não”!i
Humildade e serviço até o fim
Em meio a tantos sofrimentos, Rafaela se distinguia na comunidade por jamais
deixar de estar disposta a ajudar às demais, salvando-as de qualquer apuro.
Apesar da idade avançada, fez-se escrava de todas para que seu Senhor fosse
plenamente servido. Qualquer pena lhe parecia um consolo, por saber que a
glória vindoura ultrapassa qualquer infortúnio.

De onde lhe advinham as forças necessárias para suportar tanto o abandono


dos mais próximos quanto o aparente desamparo da Providência? Não raras
eram as horas que passava diante do Santíssimo Sacramento! Com o decorrer
dos anos apreendeu a ficar constantemente em oração, transformando as
tarefas mais servis na mais alta contemplação. Diante de Deus Infinito, centro de
seu amor, depositava ela sua vida, suas angústias, seus sacrifícios. Ao oferecer-
Lhe seus afazeres, todo trabalho era-lhe suave e toda dor agradável.

Devido às contínuas horas que ficava ajoelhada adorando a Sagrada Eucaristia,


acabou contraindo uma enfermidade no joelho direito que, pouco a pouco, a
levaria à morte. Embora tivesse dores agudíssimas, nunca fez da doença uma
desculpa para deixar de servir a todas. Preocupava-se antes pelas dificuldades
alheias que pelas próprias.

No dia 6 de janeiro de 1925, após sofrimentos terríveis suportados com


heroísmo, expirou santamente da mesma forma como havia vivido: humilde na
consolação e no abandono.

Apenas três pessoas assistiriam a seu enterro… Mas aquela alma enamorada
de Deus atingira a plenitude das virtudes em meio ao silêncio, à dor e ao
apagamento mais completos. Ela participaria, do Céu, do crescimento de sua
obra, fruto do sacrifício de sua vida.

1 YAÑEZ, ACI, Inmaculada. Amar siempre. Rafaela María Porras Ayllón. Madrid: BAC, 1985, p.9.

2 Idem, p.10.

3 Idem, p.17.

4 Idem, p.23.
5 Idem, p.28.

6 Idem, ibidem.

7 SÁNCHEZ, ACI, Evelia. Santa Rafaela María del Sagrado Corazón. In: ECHEVERRÍA, Lamberto;

LLORCA, SJ, Bernardino; REPETTO BETES, José Luis (Org.). Año Cristiano. Madrid: BAC, 2002, v.I,

p.158.

8 Idem, ibidem.

9 Idem, ibidem.

10 DESCALZO, José Luis Martín. Prólogo. In: YAÑEZ, ACI, Inmaculada (Ed.). Santa Rafaela María del

Sagrado Corazón. Palabras a Dios y a los hombres. Cartas y apuntes espirituales. Madrid: Congregación

de las Esclavas del Sagrado Corazón de Jesús, 1989, p.19.

11 YAÑEZ, Amar siempre. Rafaela María Porras Ayllón, op. cit., p.67.

12 SANTA RAFAELA MARIA DO SAGRADO CORAÇÃO. Carta n.116, a la M. María de la Paz. Madrid,

septiembre de 1883. In: YAÑEZ, Santa Rafaela María del Sagrado Corazón. Palabras a Dios y a los

hombres. Cartas y apuntes espirituales, op. cit., p.144.

13 SÁNCHEZ, op. cit., p.160.

14 Idem, p.161.

15 SANTA RAFAELA MARIA DO SAGRADO CORAÇÃO. Carta n.380, al P. Isidro Hidalgo, SJ, Roma,

29/9/1892. In: YAÑEZ, Santa Rafaela María del Sagrado Corazón. Palabras a Dios y a los hombres.

Cartas y apuntes espirituales, op. cit., p.420.

• Como uma semente…

Testemunhos

Sinais sensíveis da graça


No dia a dia do seu trabalho evangelizador, os
missionários arautos têm o consolo de ver a eficácia
santificadora dos Sacramentos. Instituídos pelo
próprio Cristo, eles confortam e revigoram as almas,
tornando-as mais próximas d’Ele e de sua Igreja.
Pe. Ricardo José Basso, EP

Apesar da iconografia procurar representar das mais variadas formas a figura


adorabilíssima do Divino Mestre, nenhuma consegue atender por inteiro as
expectativas de quem deseja conhecê-Lo. Sonhamos, então, com voltar ao
passado, ainda que seja por alguns instantes, para poder conviver de perto com
Aquele que é o centro das nossas vidas. Desejaríamos vê-Lo com nossos
próprios olhos, ouvi-Lo com nossos próprios ouvidos, oscular-Lhe os pés mil
vezes benditos com os nossos próprios lábios…

Entretanto, Jesus Se encontra muito perto de nós, operando ainda mais milagres
e prodígios do que outrora, pois como Ele mesmo disse antes de partir rumo ao
Céu: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 20).

Ao rezarmos junto a Jesus Sacramentado preso por amor a nós na Hóstia


exposta no ostensório, é realmente a Ele que nos dirigimos, embora oculto sob
os véus eucarísticos. E ao sermos regenerados pelo Batismo, fortalecidos com
a Confirmação, alimentados com a Comunhão, perdoados na Confissão,
reanimados ou preparados para uma boa morte na Unção dos Enfermos,
elevados ao sacerdócio na Ordem ou santificados pelas bênçãos derramadas no
Matrimônio, o Espírito opera em nós maravilhas ainda maiores do que as
narradas nos Evangelhos.

Evangelizar é fazer com que as pessoas se unam a Nosso Senhor, Cabeça do


Corpo Místico da Igreja, de quem provém todas as graças. E isso só se consegue
recorrendo com generosa abundância a um poderoso recurso instituído pelo
próprio Jesus: os Sacramentos.

No dia a dia do seu labor apostólico, os Arautos do Evangelho têm oportunidade


de constatar a eficácia desses sinais visíveis que confortam, revigoram e
infundem de forma invisível a graça santificante. Eis o que relatam alguns
testemunhos nesse sentido.

“Senti-me piedosamente acolhida e amada”


Ludmila Matos Andrade, de Montes Claros (MG), narra-nos como era sua vida
antes de frequentar assiduamente aos Sacramentos: “Tentei alçar voo em
direção à glória, me entregando a falsas visões e ruídos dos ventos – criatura
fraca que sou, só pensava em saciar-me! – e acabei me perdendo pelo caminho,
confiando em falsos deuses e mentirosas promessas…”
Porém, após passar por um período de grande dificuldade com o falecimento de
sua mãe, Nosso Senhor encontrou um meio de ir ao encalço da pequena ovelha
que se extraviara: “Algumas semanas se passaram e recebo, por indicação de
uma amiga, uma ligação dos Arautos do Evangelho oferecendo a visita de Nossa
Senhora em minha casa. Dias depois, estou diante da caridosa presença deles
e do Oratório de Maria, e ali junto a eles, me recolho em meu deserto interior
sedenta de explicações…”

E, recebendo de Maria Santíssima as respostas que tanto procurava, continua:


“Após esta visita iniciei a minha caminhada nos Arautos do Evangelho,
participando da catequese dos adultos, onde pude ver minha condição de vida
pecaminosa e repleta de injustiças. Através dos professores, estes exemplos de
servos de Maria, conheci a salvação e o encontro com Deus, por meio da
conversão e da busca pela santidade. Na caminhada constante com a palavra
de Deus, procurei a Confissão, pois desejava ardentemente conhecer a
misericórdia dada aos santos convertidos”.

Num primeiro sábado do mês de julho, durante uma novena a Nossa Senhora
do Carmo, ela encontrou no Sacramento da Penitência o descanso que sua alma
tanto buscava: “Naquela tarde, ajoelhada diante de um representante da
divindade, me permiti imaginar ardentemente que o próprio Deus encontrava-Se
ali me ouvindo. Por um suave toque percebi estar junto a Ele, à minha Mãe
Santíssima e, por impulso, me joguei confiante em seus braços e chorei todas
as minhas faltas, lamentei todos os meus pecados, pedi perdão por todo o mal
injustamente cometido”.

Com a consciência leve e a certeza de ter sido perdoada de suas faltas, Ludmila
afirma: “Ali senti-me piedosamente amada e acolhida. Tomada por piedosa
graça, fui docemente aconselhada a rezar o terço todos os dias e convidada a
reconhecer Jesus Cristo, como o caminho de minha santificação”.

“Minha alma voltou a reviver”


Assaltada por uma grave doença que a tem feito sofrer com lancinantes dores e
impossibilidade de locomoção, Daniele Cardoso, de Campos dos Goytacazes
(RJ), relata-nos as graças por ela recebidas:

“Tudo começou há quatro anos, num período muito difícil da minha vida.
Sabendo da existência de um padre arauto em minha cidade, peguei o número
na internet e liguei. Ele atendeu o telefone com muito zelo, não se importou com
a distância, não quis saber quantas horas levaria para chegar até minha casa,
apenas disse ‘sim’”.
No dia combinado, o sacerdote apresentou-se na residência: “Ao abrir o portão,
me surpreendi, porque pude observar da janela um belo sorriso de um rapaz
muito novo, acompanhado por um jovem. Logo me atendeu em confissão,
ministrou a Eucaristia, dando-me várias bênçãos e a Unção dos Enfermos”.
Porém, este primeiro contato com os Sacramentos foi apenas o início de muitos
outros, através dos quais se iniciou uma grande transformação em sua vida.

Depois de algum tempo, Daniele conseguiu vencer suas dificuldades de


locomoção, e foi participar em uma Missa celebrada na Casa dos Arautos.

“Eu senti algo diferente naquele lugar: santidade, desejo do Céu, pessoas que
buscavam a Deus e não os favores d’Ele. Eu pude e posso a cada Missa
experimentar algo diferente. Ao ver o padre arauto purificando o cálice, sinto que
ele está cuidando das feridas de Nosso Senhor, como se fosse Jesus todo
machucado no cálice e na patena. E o sacerdote com todo zelo do mundo faz
aquilo. E todo domingo eu quero mais, espero a semana inteira pelo domingo,
porque poderei participar da Santa Missa”.

Cheia de contentamento pelas maravilhas operadas em sua vida por meio dos
Sacramentos, Daniele afirma: “Deus usou e usa deste sacerdote arauto. Usou
para mudar a minha vida, usou para mudar a vida de muitos. A partir da entrada
deste grande servo que se faz tão pequeno, a minha alma voltou a reviver. Não
a mesma vida, mas uma vida que, mesmo com todo sofrimento e muitas lutas,
me impulsiona a buscar as coisas do Céu”.

“A fé foi se iluminando novamente”


De Joinville (SC), Margarete Schulze Miranda explica como conheceu os Arautos
num momento crítico de sua vida. Esse encontro a levou a frequentar novamente
os Sacramentos, aumentando-lhe o fervor na oração e firmando-a na Fé e em
seus princípios morais.
“Eu ia desenvolvendo uma cegueira espiritual adversa, que estava me afastando
cada vez mais da Igreja, quando, pelas mãos maternais de Maria, tive a
felicidade de encontrar um arauto que veio até a minha paróquia para dar um
curso de Consagração a Nossa Senhora. A partir deste preciosíssimo curso
comecei a participar da Eucaristia na Sede dos Arautos e fui sendo assistida no
Sacramento da Confissão por um padre arauto; aos poucos a Fé foi se
iluminando novamente em minha alma.

“Conhecer os Arautos do Evangelho me levou a orar com mais intensidade e


fervor, a frequentar semanalmente a Santa Missa, recebendo a Eucaristia e, sob
a luz do Espírito Santo, também o Sacramento da cura da alma, que é a
Confissão”.

E, agradecida, acrescenta: “Os Arautos do Evangelho, por onde passam,


promovem o bem e trazem um carisma que tanto me chama a atenção, que é de
salvar as almas para Deus… Eles fazem um trabalho apostólico para a Igreja de
Jesus Cristo, em meio ao caos em que se encontram os princípios morais da
educação e da Fé, que são a essência de cada ser humano. Se todas as crianças
do globo tivessem a graça de frequentar a Casa dos Arautos do Evangelho, nós
teríamos, sem dúvida nenhuma, um mundo eticamente dentro da moral e dos
bons costumes”.

“Comecei a frequentar a Eucaristia”


Mesmo fazendo parte da Igreja pelo Batismo e havendo constituído sua família
sob as bênçãos de Deus, Edson Pacheco, de Joinville (SC), conta que, por ter-
se afastado da Missa, começou a ter problemas familiares, os quais se
solucionaram com a frequência à Eucaristia:

“Com grande emoção relato que fui admitido no setor masculino dos Arautos,
sem merecimento algum, e que lá passei oito anos. Foram, de longe, os
melhores dias de minha vida, e só saí por problemas de saúde.
“Consegui um emprego modesto, me casei, fiz minha faculdade, tive uma filha
e, durante este período, devido à correria do dia a dia, pois minha esposa
também estava frequentando o ensino superior, me afastei dos Arautos e
problemas conjugais começaram a aparecer. Mas como Nossa Senhora é Mãe,
e nunca o deixa de ser, fui lembrado com um convite inesperado da parte de um
arauto, comecei a frequentar a Eucaristia na sede e a levar minha família…

“Minha vida teve um novo rumo, a tempestade da incompreensão passou e hoje


tenho um relacionamento sólido com minha esposa – grande causa de angústia
e sofrimento para mim era a instabilidade conjugal. Deus, através desta obra
magnífica, tem me devolvido a paz de espírito, a esperança de um mundo melhor
e uma família consistente, tão rara nestes nossos dias”.

“Regularizei minha vida matrimonial”


Havendo constituído um lar afastado da Religião, Janaína Bueno Joaquim, de
Mairiporã (SP), teve a alegria de receber as bênçãos de Deus para sua família:
“Conheci os Arautos do Evangelho através de meu esposo, que prestava serviço
a eles, quando recebi em minha casa um diácono que então era chefe imediato
do meu esposo. E minha vida foi mudando! Regularizei meu matrimônio,
comecei a frequentar as Missas dominicais e demais Sacramentos. Meu marido,
inclusive, fez a Primeira Comunhão”.

E continua: “O diácono, que hoje é sacerdote, se dizia nosso amigo, e suas


palavras eram verdadeiras, pois em suas visitas trazia muita alegria e conforto,
sempre acolhedor e disposto a ajudar.

“Recebi uma grande graça: minha mãe, há anos e anos com depressão, a ponto
de não assumir os trabalhos domésticos, com a frequência à Missa celebrada
pelos padres arautos, ficou curada. É assídua às Missas e evangeliza o esposo
e os filhos. Agora, rendo graças a Deus e a Nossa Senhora por ter colocado em
meu caminho e no de minha família esses instrumentos benditos”.

Estes são alguns dos incontáveis relatos que chegam às nossas mãos,
comprovando as maravilhas operadas por Nosso Senhor em nossos dias. Mais
do que a cura de um paralítico, de um cego, um leproso ou hidrópico, numa
época em que o pecado atingiu grande parte da humanidade, vemos, através
dos Sacramentos, almas reluzindo para a virtude como lírios surgidos, tantas
vezes, do lodo, na noite e sob a tempestade.
Colômbia – Os Cooperadores dos Arautos se reuniram em Tocancipá para
realizar o seu I Congresso Nacional. Houve palestras (à esquerda) e momentos
de oração (à direita). Durante uma solene Eucaristia celebrada pelo Pe. Juan
Francisco Ovalle, EP, (no centro) vinte e quatro novos membros receberam suas
túnicas.

Moçambique – Os sacerdotes dos Arautos do Evangelho de Maputo não deixam


de auxiliar as comunidades da região na administração dos Sacramentos. Nas
fotos acima, vê-se o Pe. Santiago Canals, EP, na Comunidade São Martinho, da
Paróquia Santa Maria Mãe de Deus, onde habitualmente celebra a Santa Missa.
Espanha – Membros dos Arautos do Evangelho participaram das comemorações
em honra a Nossa Senhora da Almudena, padroeira de Madri. Após a Missa
campal na Praça Maior, presidida pelo Arcebispo, Cardeal Carlos Osoro Sierra
(à esquerda), os fiéis acompanharam a imagem da Santíssima Virgem em
procissão até a catedral (à direita).

Estados Unidos: Missão Mariana


em Green Bay
Em 1859, Nossa Senhora apareceu a Adele Brise no povoado de Robinsoville,
Wisconsin, e doze anos mais tarde, tendo sido esse estado norte-americano
atingido por um terrível incêndio, a Virgem Maria protegeu miraculosamente os
que se encontravam no local das aparições.

Algo dessa predileção de Nossa Senhora pelos moradores da região foi sentida
pelos missionários arautos que, convidados pelo Pe. William Hoffman,
realizaram uma Missão Mariana na Paróquia São Filipe Apóstolo, de Green Bay,
entre 28 de outubro e 4 de novembro (fotos 1 e 2).

Nesses dias, dois sacerdotes da instituição, Pe. Timothy Joseph Ring, EP, e Pe.
Arturo Nicolas Hlebnikian Momdjian, EP, acompanharam a equipe de
missionários que visitaram as residências conduzindo a Imagem Peregrina do
Imaculado Coração de Maria (fotos 3, 4 e 5), celebraram Missas e deram
concorridas palestras na igreja matriz (foto 6).

Durante a Eucaristia de encerramento, o Pe. Hoffman consagrou solenemente a


paróquia ao Imaculado Coração de Maria (foto 7). A todo momento, os fiéis da
paróquia se aproximavam da Imagem Peregrina para venerá-la com grande
fervor (foto

Caieiras (SP) – No dia 18 de novembro, houve solene Celebração Eucarística


na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, durante a qual crianças das diversas
comunidades da Paróquia Nossa Senhora das Graças fizeram sua Primeira
Comunhão. A Missa foi presidida pelo Pe. Alex Brito, EP, e concelebrada pelo
Pe. David Ritchie, EP.
Missões Marianas no interior da
Bahia
Sempre em viagem pelo Brasil para atender os pedidos feitos pelos párocos,
missionários arautos percorreram no mês de novembro diversas cidades do
Estado da Bahia.

Em Itabela, a Imagem Peregrina do Imaculado Coração de Maria foi recebida


com grande fervor na Paróquia Nossa Senhora Aparecida (foto 1). Frei
Regenilson dos Santos Silva, MsS, fez questão de acompanhar os missionários
nas visitas a comércios e residências.

Na Paróquia Nossa Senhora da Boa Nova, em Boa Nova, numerosos fiéis


receberam o escapulário das mãos do Pe. Eneilson Santos de Jesus (foto 2) e
acompanharam com entusiasmo a procissão luminosa (foto 3).

Em Ituruçu, a pedido do Pe. Juvan Celestino da Silva, a Imagem Peregrina


percorreu os lares na Paróquia de Santo Antônio, e presidiu concorrida procissão
à luz de tochas (foto 4).

Lima se prepara para o 52º Congresso Eucarístico


Internacional
Na véspera da Solenidade de Cristo Rei, a Arquidiocese de Lima uniu-se à
Adoração Mundial ao Santíssimo Sacramento preparatória para o 52º Congresso
Eucarístico Internacional, que será realizado em Budapeste, Hungria, no ano de
2020. A Adoração teve início na noite do dia 24 de novembro, sábado, nas mais
de vinte paróquias da capital peruana inscritas, estendendo-se até a primeira
Missa do domingo.

Essa é uma das formas de a Igreja no mundo participar dos preparativos para o
Congresso Eucarístico de Budapeste. Ao receber o anúncio do congresso, o
Cardeal Péter Erdő, Primaz da Hungria, comentou: “O Congresso Eucarístico
Internacional será uma ocasião para nos apresentarmos diante da Igreja
universal, mas também ao mundo laico. Espera-nos uma preparação pastoral
muito séria”.

Imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima já deu


quinze voltas ao mundo
Numa palestra realizada no mês de novembro, o diretor do Departamento de
Estudos do Santuário de Fátima, Marco Daniel Duarte, informou que a mais
antiga imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima percorreu cerca de
seiscentos e trinta mil quilômetros, pelos cinco continentes, o que equivale a
quinze voltas ao mundo, tomando como referência o perímetro equatorial. O
primeiro lugar visitado pela imagem foi a cidade de Maastricht, na Holanda, no
dia 13 de maio de 1947.

Duarte acentuou que essa “epopeia” permitiu a “recepção e inculturação do culto


mariano e do próprio Catolicismo em escala mundial”. Enfatizou ainda que a
imagem é “o primeiro ramo de uma árvore iconográfica que nasce em Fátima”,
pois é cópia fiel daquela que se encontra permanentemente na Capelinha das
Aparições, esculpida sob a orientação da Ir. Lúcia, uma das videntes de 1917, e
serviu de inspiração para inúmeras outras que, sob os cuidados de grupos
marianos, percorrem as vastidões da terra.

O Santuário de Fátima tem atualmente mais de doze imagens peregrinando pelo


mundo. Para o ano de 2019 estão agendadas vinte viagens, incluindo visitas à
Itália, Espanha, Benim, Estados Unidos, Canadá, Colômbia e Brasil.

Diocese espanhola inicia missão


com Missa participada por onze mil
fieis

A Diocese de Calahorra e La Calzada-Logroño deu início no dia 17 de novembro


à missão Euntes, que vai se estender por um período de quatro anos. Para
assinalar a data, foi celebrada uma solene Eucaristia na praça de touros de
Logroño, especialmente preparada para isso, da qual participaram mais de onze
mil fiéis.

A Missa foi presidida pelo Bispo Diocesano, Dom Carlos Manuel Escribano
Subías, e concelebrada por cerca de duzentos sacerdotes. Entre as autoridades
da esfera civil presentes cabe assinalar o presidente da Comunidade Autônoma
de La Rioja, José Ignacio Ceniceros, e a prefeita de Logroño, Concepción
Gamarra Ruiz-Clavijo.

Após a Eucaristia, os presentes partiram em procissão pelas ruas da cidade


portando sessenta imagens das principais invocações da diocese. Encabeçava
o cortejo a padroeira de Logroño, a Virgem da Esperança, e o fechava a Virgem
de Valvanera.

Coração do Santo Cura D’Ars


peregrina nos Estados Unidos
Heart of a priest – Coração de um sacerdote – é o lema escolhido para a
peregrinação, de seis meses de duração, do coração incorrupto de São João
Maria Vianney por diversas dioceses norte-americanas.

O percurso teve início com um tríduo na Igreja de Santa Maria, em New Haven,
entre os dias 16 e 18 de novembro, durante o qual o templo ficou repleto de fiéis.
De 9 a 12 de dezembro, a relíquia esteve no Santuário Nacional da Imaculada
Conceição em Washington. Neste local, mais de mil e quinhentas pessoas
participaram da Missa de abertura da veneração pública, celebrada por Dom -
Christophe Pierre, Núncio Apostólico nos Estados Unidos.

A relíquia, gentilmente cedida pelo Santuário de Ars aos Cavaleiros de Colombo,


foi removida do corpo do Santo, também incorrupto, quarenta e cinco anos após
seu falecimento. Ela já visitou outras paróquias nos Estados de Connecticut,
Flórida, Luisiana, Alabama e Geórgia.
Devoção ao Rosário manteve o
Cristianismo no Japão
Um significativo documento dos primeiros tempos do Cristianismo no Japão foi
descoberto no Museu Sawada Miki Kinenkan, na cidade de Oiso, onde se
conservam muitos objetos relacionados com a história do Catolicismo no país.

Trata-se de um rolo de vinte e dois centímetros de largura por três metros de


comprimento, feito de papel washi. Nele estão retratadas quinze encantadoras
cenas da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Santíssima Virgem,
representando os Mistérios Gozosos, Dolorosos e Gloriosos do Rosário.
Também aparecem ali orações em latim escritas em caracteres fonéticos
japoneses, e no fim do rolo lê-se a inscrição “1592 anos desde seu nascimento”.
Segundo os especialistas, este último dado revela que a obra pode ter mais de
quatrocentos anos de antiguidade, indicação confirmada pelo teste de carbono-
14, que data sua elaboração entre o fim do século XVI e o início do século XVII.

O diretor do museu, Osamu Inoue, assegura tratar-se de uma das pinturas


católicas mais antigas do Japão, ou talvez a mais antiga, por ter sido realizada
em estilo tradicional japonês, como os fiéis do país utilizavam em suas devoções,
reproduzindo pinturas ocidentais.

Se a datação do carbono-14 é precisa, o documento remonta a um período de


cruel e violenta perseguição contra os mais de duzentos mil católicos que viviam
no Japão. O fato de os desenhos representarem os Mistérios do Rosário
comprova como esta devoção se converteu em ponto central para a
perseverança e fidelidade dos japoneses à Fé Católica, numa época em que
sequer havia sacerdotes entre eles.

História para crianças… ou adultos cheios de fé?

O valor da espera e do abandono


Quando já estava desiludida e resignada com seu
triste estado, Susana ouviu uma voz diferente das
outras: doce, atraente, ao mesmo tempo
transbordante de nobreza e seriedade. De quem
seria aquela voz?

Sarah Ramos Mafort

Amanhece um alegre dia de primavera. O sol expande seus raios de forma


esplêndida sobre as margens do Lago de Genesaré. Os pássaros embelezam o
ar com seus cânticos e toda a natureza parece rejubilar-se para comemorar a
mais sorridente das estações do ano.

Algo nunca visto, porém, chama a nossa atenção: as árvores de uma colina
próxima começam uma inusitada conversa!

Da. Figueira, anciã de 327 anos, inicia o diálogo:

— Minhas irmãs, tenho o prazer de anunciar-vos que Josefina dos Cedros, vossa
reverenda professora, foi levada à carpintaria do Sr. Mateus, a fim de ser
transformada num barco de pesca para um homem chamado Simão.

— Senhora – disse Margarida Carvalho –, com vossa permissão peço que me


deis a oportunidade de revelar aqui o fim de minha querida irmã Terebinda
Carvalho. Por sua nobreza de porte e formosura, ela se tornou um lindo armário
entalhado para uso do sumo sacerdote. Ela o agradou tanto que recebeu por
missão custodiar os mais valiosos objetos de culto do Templo!

— Que felicidade a dela! – exclamou a jovem Susana Azinheira – Como eu


gostaria…

— Minha pequena, saiba que para nos transformarmos em algo muito bonito e
de boa qualidade é necessário, antes de tudo, passar por longos e cruéis
sofrimentos, como o de ser cortada em diversas partes e sentir uma série de
pregos a nos perfurar – disse a sábia anciã.

— Sim, Da. Figueira, mas não é verdade que depois de passar por tantas dores
estaremos prontas para as mais altas missões? Sinto um forte desejo de servir
a um rei… Acho que serei um trono!

As árvores mais velhas riram diante de tanta ingenuidade, logo voltando aos
assuntos do dia a dia e não fazendo muito caso de Susana, que ainda era quase
um brotinho.
Os anos se passaram e ela se desenvolveu; contudo, percebeu ter ficado bem
menor do que suas companheiras. Afinal, não pertencia à majestosa família dos
cedros, nem ao pujante gênero dos pinheiros… Era uma humilde azinheira!

Todas as suas amigas tinham partido para outros lugares. Com frequência via
passar diante de si Margarida Carvalho, convertida em arca, carregando no seu
interior ricos tecidos vindos do Oriente, ou Josefina dos Cedros, que singrava
altaneira o Lago de Genesaré em busca dos mais disputados peixes. Susana,
porém, se sentia cada vez mais ignorada, prevendo que seu destino seria o
anonimato!

Certo dia, ouviu-se um tumulto na colina. Era o lenhador, que caminhava em


direção a Susana! Uma única e dolorosa machadada fê-la sentir-se livre da terra
e todas as suas esperanças voltaram-lhe à mente com uma força redobrada.
Pouco depois foi entregue a um homem de aparência modesta que começou a
manuseá-la, enquanto ela, preparando-se para os maiores sofrimentos,
imaginava qual seria a grandeza do seu destino.

O artesão, entretanto, executou um trabalho muito rápido e simples. Sem ter


quase tempo de sentir dor, Susana viu-se transformada… num cabo de
vassoura! E foi jogada no fundo de um armazém.

— Que decepção! – dizia de si para consigo a pobre azinheira, com lágrimas nos
olhos.

Ao observar à sua volta, percebeu não estar sozinha: com ela havia uma enorme
quantidade de cabos que tiveram a mesma sina.

Passaram-se os dias e as semanas, e ninguém se interessou por ela. Na solidão,


pensava: “Se minhas amigas me vissem neste estado, ririam de mim! Não era
melhor ter morrido de velha na colina? Quantos sonhos perdidos… Agora
mofarei aqui, sem ver novamente a luz do sol!”
Sempre que a porta do armazém era aberta suas esperanças renasciam, mas
tudo era ilusão! Instantes depois fechava-se de novo e os sonhos de Susana se
esvaneciam mais uma vez.

Desiludida e resignada com seu triste estado, numa tranquila manhã ouviu uma
voz diferente das outras: doce, atraente, ao mesmo tempo transbordante de
nobreza e seriedade:

— Bom dia, senhor vendedor! Como tem passado?

— Vamos indo… Infelizmente estamos em tempos de crise e as vendas andam


muito fracas… Em que posso servi-la, Senhora?

— Gostaria muitíssimo de poder ajudá-lo, no entanto meu esposo e eu não


temos condições de comprar muitas coisas. Preciso de uma vassoura e pergunto
se o senhor teria alguma bem simples, pois só possuo isto para oferecer por ela.

Ao ver a moedinha de ínfimo valor que lhe era apresentada, o homem enfureceu-
se interiormente. Todavia, impactado pela dignidade repleta de doçura da nobre
dama, segurou-se e, contrariando seu temperamento um tanto grosseiro,
respondeu com amabilidade:

— Tenho algumas disponíveis no armazém. Por favor, pegue a que mais lhe
agradar, sem nenhuma paga!

Ao ver Susana, a bondosa Senhora foi logo ao seu encontro e a pegou para levá-
la consigo.

Difícil seria avaliar a alegria que a pequena azinheira sentiu ao ser acariciada
por mãos suaves e delicadas como o arminho, e por perceber que do rosto da
Senhora emanava uma luz discreta e envolvente.

Quem seria Ela?… Era a Virgem Maria!

A partir de então Susana recebeu o maior tesouro que já houve no mundo:


participar do convívio da Sagrada Família. Por ter sofrido com resignação e
humildade a dor da espera e do abandono, ela obteve a graça de servir à Rainha
do Céu e da terra!
Os Santos de cada dia
1. Solenidade da Santa Mãe de Deus, Maria.
Santo Odilon, abade (†1049). Pacificou em nome de Deus os povos beligerantes
e, em tempo de fome, socorreu os mais necessitados. Enquanto abade de Cluny,
na França, foi o primeiro a ordenar que se celebrasse nos seus mosteiros a
Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos no dia seguinte à Solenidade de
Todos os Santos.

2. Santos Basílio Magno (†379 Capadócia - Turquia) e Gregório Nazianzeno (†c.


389 Capadócia - Turquia), Bispos e Doutores da Igreja.

Santo Adalardo, abade (†826). Sendo superior do mosteiro de Corbie, na França,


se dedicava a que cada um tivesse o suficiente, isto é, nem gozasse do supérfluo
nem vivesse na penúria, mas todos atendessem diligentemente ao louvor de
Deus.

3. Santíssimo Nome de Jesus.

São Górdio de Cesareia, mártir (†304). Centurião romano, morto por ter
confessado sua fé em Jesus, Filho de Deus.

4. Santa Ângela de Foligno, viúva (†1309). Procedente de uma rica família da


cidade de Foligno, na Itália, depois da morte do esposo e dos filhos ingressou na
Ordem Terceira de São Francisco, consagrando-se inteiramente a Deus.
5. Beata Maria Repetto, virgem (†1890). Religiosa das Irmãs de Nossa Senhora
do Refúgio no Monte Calvário em Gênova, Itália, notável na sua atividade para
confortar os aflitos e fortalecer os vacilantes na esperança da salvação.

6. Solenidade da Epifania do Senhor.

Santo André Bessette, religioso (†1937). Membro da Congregação da Santa


Cruz, exerceu a função de porteiro no Colégio de Nossa Senhora das Neves em
Montreal, Canadá, e erigiu junto a ele um eminente santuário dedicado a São
José.

7. São Raimundo de Penyafort, presbítero (†1275 Barcelona - Espanha).

Beato Mateus Guimerá, Bispo (†1451). Da Ordem dos Menores, dedicou-se


intensamente ao culto e à exaltação do Santíssimo Nome de Jesus, em
Agrigento, Itália.

8. Beato Eduardo Waterson, presbítero e mártir (†1593). Durante o reinado de


Isabel I, chegou à Inglaterra para exercer o seu ministério sacerdotal, sendo
condenado à morte e enforcado no patíbulo.

9. São Felano, abade (†c. 710). Superior do Mosteiro de Santo André, na


Escócia, insigne pela vida de grande austeridade.

10. São João de Jerusalém, Bispo (†417). Em tempos de controvérsia sobre a


verdadeira doutrina, na cidade de Jerusalém, trabalhou arduamente pela Fé
Católica e pela paz na Igreja.

11. São Tomás de Cori, presbítero (†1729). Sacerdote franciscano italiano,


pregador e diretor espiritual. Exerceu seu apostolado em Subiaco e dioceses
circunvizinhas.

12. São Bento Biscop, abade (†c. 690). Fundou os mosteiros beneditinos de
Wearmouth e Jarrow, dedicados a São Pedro e São Paulo.

13. Batismo do Senhor.

Santo Hilário de Poitiers, Bispo e Doutor da Igreja (†367 Poitiers - França).

Beata Verônica Negroni de Binasco, virgem (†1497). Religiosa do Convento


agostiniano de Santa Marta, em Milão, Itália.

14. Beato Odorico Mattiuzzi de Pordenone, presbítero (†1331). Missionário


franciscano, percorreu durante trinta e três anos vários países do Extremo
Oriente.
15. São Francisco Fernández de Capillas, presbítero e mártir (†1648). Sacerdote
dominicano espanhol, que levou o nome de Cristo às Filipinas e depois a Fujian,
China, onde foi preso e decapitado.

16. São Marcelo I, Papa (†309). São Dâmaso o define como verdadeiro pastor,
ferozmente hostilizado por apóstatas que se recusavam a aceitar as penitências
que lhes foram impostas. Morreu no exílio.

17. Santo Antão, abade (†356 Tebaida - Egito).

São Sulpício, o Pio, Bispo (†647). Bispo de Bourges, França, despertou


admiração por sua generosidade, especialmente para com os pobres e os
doentes.

18. Beata Regina Protmann, virgem (†1613). Fundou em Braniewo, Polônia, a


Congregação das Irmãs de Santa Catarina.

19. São Remígio de Rouen, Bispo (†c. 762). Irmão do Rei Pepino, o Breve. Teve
grande influência na introdução do canto gregoriano na França.

20. II Domingo do Tempo Comum.

São Fabiano, Papa e mártir (†250 Roma).

São Sebastião, mártir (†séc. IV Roma).

Santo Asclas, mártir (†séc. IV). Foi submetido a cruéis torturas e, por fim, jogado
no Rio Nilo, em Antinoópolis, Egito.

21. Santa Inês, virgem e mártir (†séc. III/IV Roma).

Beata Josefa Maria de Santa Inês, virgem (†1696). Religiosa agostiniana


descalça do convento de Benigànim, Espanha, favorecida com o dom do
conselho.

22. São Vicente, diácono e mártir (†304 Valência - Espanha).

Santos Francisco Gil de Federich e Mateus Afonso de Leziniana, presbíteros e


mártires (†1745). Sacerdotes dominicanos mortos a fio de espada no Vietnã.

23. Santos Clemente, Bispo, e Agatângelo, mártires (†séc. IV). Mortos em


Ancara, Turquia, durante a perseguição de Diocleciano.

24. São Francisco de Sales, Bispo e Doutor da Igreja (†1622 Lyon - França).

São Feliciano de Foligno, Bispo (†séc. III). Evangelizou uma vasta zona da
Úmbria, Itália, e foi, durante cinquenta e seis anos, o primeiro Bispo daquela
região.
25. Conversão de São Paulo, Apóstolo.

Beata Maria Antônia Grillo, religiosa (†1944). Após ficar viúva e vender os seus
bens, fundou em Alessandria, Itália, a Congregação das Irmãzinhas da Divina
Providência.

26. Santos Timóteo (Éfeso - Turquia) e Tito (Creta - Grécia), Bispos.

Santa Paula, viúva (†404). Viúva romana, discípula espiritual de São Jerônimo,
que foi viver com sua filha, Santa Eustóquia, em um mosteiro por ela fundado
próximo a Belém da Judeia.

27. III Domingo do Tempo Comum.

Santa Ângela Merici, virgem (†1540 Bréscia - Itália).

Santo Henrique de Ossó y Cervelló, presbítero (†1896). Sacerdote da Diocese


de Tortosa, Espanha, fundador da Companhia de Santa Teresa de Jesus.

28. São Tomás de Aquino, presbítero e Doutor da Igreja (†1274 Priverno - Itália).

Beata Olímpia Bidà, virgem e mártir (†1952). Religiosa ucraniana da


Congregação das Irmãs de São José, enviada para um campo de concentração
na Sibéria.

29. Beata Boleslava Maria Lament, virgem (†1946). Fundadora da Congregação


das Irmãs Missionárias da Sagrada Família.

30. Beato Columba Marmion, abade (†1923). Natural da Irlanda, foi superior do
Mosteiro beneditino de Maredsous, Bélgica, onde resplandeceu como guia das
almas e pela sua doutrina espiritual e eloquência.
31. São João Bosco, presbítero (†1888 Turim - Itália).

São Metrano, mártir (†c. 249). Por negar-se a proferir palavras ímpias, foi
torturado e apedrejado pelos pagãos em Alexandria, Egito.

Como uma semente…


Vivificada e robustecida com as graças obtidas por
Maria Santíssima, a mais estéril das “sementes”
transforma-se numa majestosa “árvore”. Para isso,
basta-lhe abrir a alma à sua afetuosa e
clementíssima mediação.

Mariana Roffer da Costa Viccari


Carregando com exuberância delicados e coloridos cachos de flor, brancos,
róseos ou amarelos, o ipê evoca a inefável beleza do Altíssimo. A jabuticabeira,
por sua vez, com seus troncos e galhos repletos de frutinhas, lembra a
generosidade com que a Divina Providência atende as necessidades dos seus
filhos.

Mas quem, ao contemplar tão frondosas criaturas, recorda terem elas se


originado de uma diminuta semente?

Sim, o esplendor daquelas árvores, antes de chegar a seu estado de perfeição,


estava já contido dentro de um invólucro pequenino e frágil, que corria o risco de
servir de alimento para os pássaros, morrer sem germinar num terreno
pedregoso, ou ser afogado entre os abrolhos quando ainda era um brotinho.
Porém, tendo encontrado as condições adequadas, o princípio vital contido na
sementinha levou-a a deitar raízes, haurir minerais da terra e fazer surgir o tenro
caule prenunciador da árvore adulta.

Ao analisar esse processo, vemos ser indispensável a presença de um elemento


fundamental, sem o qual a planta nunca adquirirá as forças necessárias para
atingir sua plenitude: o sol. Contudo, ela jamais poderá se elevar do chão em
pós do astro rei se não concorrer um outro fator igualmente vital: a água.

Algo semelhante acontece com os homens: assim como as plantas não podem
crescer rumo ao sol, fonte de sua vida e energia, sem estar enraizadas em terra
úmida, as almas são incapazes de chegar até Deus sem a ajuda e mediação de
Maria Santíssima.

Nossa Senhora cuida das suas “sementinhas” evitando que caiam em terreno
pedregoso, intervém para retirá-las do meio dos espinhos, mas também as
vivifica como a água faz com o vegetal. Robustece-as, ajuda-as a crescer e dá-
lhes vigor suficiente para se tornarem “árvores” frondosas e saudáveis de acordo
com sua “espécie”, isto é, segundo sua própria vocação.

Há, entretanto, uma grande diferença: se na natureza existem desertos e


períodos de seca, isso nunca acontece na esfera sobrenatural. Quando uma
alma não corresponde aos desígnios que Deus teve ao criá-la e termina por
murchar e morrer, não é por falta do socorro de Maria, mas sim por haver se
fechado à sua afetuosa e clementíssima mediação.

A Virgem Santíssima é capaz de transformar até mesmo as “sementes” estéreis


em frondosas e majestosas “árvores”, marcando-as com a formosura
característica das obras emanadas de suas puríssimas mãos. Quem se põe sob
a influência cristalina d’Ela e se deixa embeber pelo frescor de sua santidade,
prepara-se da melhor forma possível para viver na Jerusalém Celeste, onde não
brilham a lua nem o sol, “porque a glória de Deus a ilumina, e a sua luz é o
Cordeiro” (Ap 21, 23).

As “sementes” vivificadas e governadas por Maria Santíssima têm, já nesta terra,


a alegria de participar de algum modo dessa Luz. E, chegando à vida eterna,
farão elas parte do feérico conjunto das almas justas, mais belo e magnífico do
que qualquer floresta de ipês, carvalhos ou jabuticabeiras que neste mundo se
possa encontrar.

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