Revista Arautos Do Evangelho Janeiro 2019
Revista Arautos Do Evangelho Janeiro 2019
Revista Arautos Do Evangelho Janeiro 2019
Sumário
Bento XVI recebe os Arautos
Tudo o que se faz para evitar uma eternidade de tormentos é pouco, é nada:
“nenhuma segurança é excessiva quando está em jogo a eternidade”, escreveu
São Bernardo.
E tu, o que fazes, depois de merecer tantas vezes o inferno pelo pecado?
Lança-te aos pés de teu Deus e diz a Ele: “Senhor, vede-me pronto a fazer tudo
o que quiserdes. Já Vos ofendi demais até agora; de hoje em diante não Vos
quero mais ofender; enviai-me, se preciso for, todos os males nesta vida, desde
que possa salvar minha alma”.
Bom Despacho – MG
Mostra a beleza da Igreja em todos os seus aspectos
A Revista é um meio de fazer chegar às famílias os ensinamentos de que o
mundo carece: mostra a beleza da Igreja em todos os seus aspectos, em todos
os seus patamares, em todas as suas doutrinas, explicitando para cada família
um ponto que toca a fundo a alma daqueles que estão buscando a esperança e
a felicidade que perdura para sempre.
Por todos esses motivos somos gratos aos Arautos do Evangelho, e rogamos a
Deus e a Maria Santíssima que multipliquem os frutos de seu valioso ministério.
São Paulo – SP
Verdadeiramente bem-aventurada,
escolhida entre todas
A vida humana é feita de ciclos que se seguem uns aos outros. Cada começo
costuma ser inseguro e frágil, mas a nova fase vai se firmando à medida que se
desenvolve, até chegar ao seu próprio auge. Atingida a plenitude, o ciclo se
esgota a si mesmo, anunciando a iminência do próximo, numa corrente de
sucessivos desdobramentos.
Assim acontece com o sol a cada dia, e da mesma forma sucedem-se os anos.
Todo fim de ano se dá num contexto de balanço, de análise do que ficou para
trás. Por sua vez, todo ano que começa é ocasião de novos projetos e traz
consigo novas esperanças, mas está também marcado pela incógnita, pois o
homem nunca sabe o que o futuro lhe reserva.
Justamente por isso a Igreja, sábia Mestra da vida, instituiu no primeiro dia do
ano a Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus. É uma forma, sem dúvida, de
o homem consagrar-Lhe tudo aquilo que almeja realizar ao longo do ano que
apenas se inicia; mas é também um filial reconhecimento de que todo
empreendimento – e, portanto, todo ano – deve começar e terminar com Ela,
n’Ela e por Ela. Por quê?
Foi nos braços de Maria que Jesus esteve no momento de seu nascimento, e foi
igualmente nos braços d’Ela que se depositou o Corpo de Cristo ao ser descido
da Cruz. Assim, Deus quis que a passagem de seu Unigênito por esta terra se
iniciasse e se encerrasse junto ao Coração Imaculado d’Aquela que Ele
escolhera, desde toda a eternidade, para ser sua perfeita Filha, Mãe e Esposa.
Este fato histórico, entretanto, não é senão o reflexo terreno de uma realidade
mística muito mais elevada. Nossa Senhora, constituída por Deus como Rainha
do Universo, preside verdadeiramente ao governo que Ele exerce sobre as
criaturas. N’Ela tudo começa, pois toda iniciativa parte da graça, e esta nos vem
sempre por meio de Maria; n’Ela, também, tudo se encerra, pois o fim das
criaturas é dar glória a Deus, e esta só se torna perfeita ao passar pelas mãos
puríssimas d’Ela.
“Após ouvir as palavras do rei, partiram. E eis que a estrela, que tinham visto no
Oriente, os foi precedendo até chegar sobre o lugar onde estava o Menino e ali
parou. A aparição daquela estrela os encheu de profunda alegria. Entrando na
casa, acharam o Menino com Maria, sua Mãe. Prostrando-se diante d’Ele, O
adoraram. Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-Lhe como presentes:
ouro, incenso e mirra. Avisados em sonhos de não tornarem a Herodes, voltaram
para sua terra por outro caminho” (Mt 2, 1-3.9-12).
De nossa parte, ofereçamos ouro ao Senhor, confessando que Ele reina em toda
parte. Ofereçamos-Lhe incenso, proclamando que, tendo nascido no tempo, é
Deus desde antes de todos os tempos. Ofereçamos-Lhe mirra, reconhecendo
que Aquele que cremos ser impassível em sua divindade, tornou-Se mortal ao
assumir nossa carne.
Devemos, portanto, voltar por outro caminho. Tendo sido por causa dos prazeres
que nos afastamos das alegrias do Paraíso, hão de ser as lamentações que nos
reconduzam a ele.
Consideremos que há de vir o implacável Juiz. Ele nos ameaça com o terrível
tribunal enquanto Se mantém oculto. Causa pavor aos pecadores e, mesmo
assim, ainda é paciente: se retarda sua vinda, é para que a condenação seja
menor. Expiemos pelas lágrimas nossos pecados e, conforme o dito do salmista,
“apresentemo-nos diante d’Ele com louvores, e cantemos-Lhe alegres cânticos”
(Sl 94, 2).
Não nos deixemos enlaçar pelos embustes da volúpia ou seduzir pelas alegrias
fúteis. Bem próximo, de fato, está o Juiz que nos adverte: “Ai de vós, que agora
rides, porque gemereis e chorareis!” (Lc 6, 25). Disse igualmente Salomão:
“Misturar-se-á o riso com a dor, e a alegria terminará na aflição” (Pr 14, 13). E
também: “Do riso eu disse: ‘Loucura!’; e da alegria: ‘Para que serve?’” (Ecl 2, 2).
E ainda: “O coração dos sábios está na casa do luto; o coração dos insensatos
na casa da alegria” (Ecl 7, 4).
Nossas antigas faltas foram lavadas pelo Batismo, mas desde então cometemos
muitas outras, e não podemos mais ser purificados pela água desse Sacramento.
Já que manchamos nossa vida após recebê-lo, batizemo-nos agora com as
lágrimas da nossa consciência. Desta forma, retornaremos à nossa pátria por
outro caminho. Se dela nos afastaram os bens que deleitam, que a ela nos
reconduza a amargura da penitência, com o auxílio de Nosso Senhor Jesus
Cristo.
A força da Palavra!
O mundo atual tornou-se uma imensa Nazaré. Para
salvá-lo, é necessário apresentar a Palavra de Deus
em toda a sua força e fazê-lo experimentar a
felicidade que só a graça pode nos dar.
Evangelho
1,1 Muitas pessoas já tentaram escrever a história dos acontecimentos que se
realizaram entre nós, 2 como nos foram transmitidos por aqueles que, desde o
princípio, foram testemunhas oculares e ministros da Palavra. 3 Assim sendo,
após fazer um estudo cuidadoso de tudo o que aconteceu desde o princípio,
também eu decidi escrever de modo ordenado para ti, excelentíssimo Teófilo.
Pois bem, a palavra humana, tão importante para a boa convivência, não é senão
pálida imagem de uma realidade muito mais alta: a Palavra de Deus manifestada
aos homens, temática central da Liturgia deste III Domingo do Tempo Comum.
Deus comunica-Se com os homens através da Palavra
Na primeira leitura (cf. Ne 8,2-4a.5-6.8-10) encontramos a figura de Neemias,
um dos israelitas exilados entre os persas, que servia na corte do Rei Artaxerxes
(465-424 a.C.). Ali ele recebe o relato da triste situação da Cidade Santa,
reduzida praticamente a ruínas. Entre lágrimas, Neemias faz uma belíssima
oração pedindo perdão pelos pecados de Israel e rogando o restabelecimento
do povo em Jerusalém. Deus o atende, e ele obtém o favor do monarca a fim de
reconstruir a cidade.
Vê-se nessa cena a sabedoria divina em deixar por escrito a Lei. Com efeito, o
homem sempre cria razões erradas para justificar seus desvios e facilmente se
esquece dos preceitos que o levam à salvação. Naquela quadra histórica era
preciso relembrá-los, e o Senhor usou da Palavra escrita por Moisés para entrar
em comunicação com o seu povo.
Eis a importância da Palavra de Deus que, uma vez dita e recolhida pelos
hagiógrafos, serve de elemento para recordar nossa aliança com o Altíssimo.
Contudo, aprouve ao Pai das misericórdias conceder aos seus eleitos ainda
mais: após o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, temos não apenas a
Lei posta em palavras escritas, como os judeus no tempo de Neemias, mas o
próprio Criador da Lei, a Palavra Encarnada para a salvação da humanidade, a
Lei em Pessoa.
Escritor exímio, São Lucas reúne em si qualidades diversas que revelam ter ele
sido um homem muito culto. Enquanto médico, preocupou-se em incluir nos seus
relatos aspectos muito precisos sobre a vida de Nosso Senhor. Isso, porém, não
lhe tirou o estro poético, sendo de sua lavra algumas das mais belas passagens
dos Evangelhos.
Inspirado pelo Alto, São Lucas resolveu relatar também a vida de Nosso Senhor,
com base naquilo que ouvira diretamente ou lhe contaram testemunhas
oculares. Quem foram estes seus depoentes? Certamente os próprios Apóstolos
e discípulos. Há, porém, outra informante pouco mencionada, mas sem dúvida
muito relacionada com ele: Maria Santíssima. Pelas descrições tão minuciosas,
embora sintéticas, de episódios sublimes como a Anunciação e Encarnação do
Verbo, a Visitação ou a Natividade, vê-se que São Lucas conversou longamente
com Nossa Senhora e d’Ela ouviu maravilhas.
Concluída sua vida oculta, no momento determinado pelo Pai, Nosso Senhor
deixou Nazaré, onde passara mais de vinte anos preparando-Se para sua
missão pública, e começou a percorrer diversas cidades de Israel.
As origens do Nazareno
16a E veio à cidade de Nazaré, onde Se tinha criado.
O Evangelista escreve com precisão, pois não afirma que Nosso Senhor nasceu
em Nazaré, mas sim que ali foi criado. Com exceção do período do nascimento
em Belém e da fuga para o Egito, sua vida transcorrera em Nazaré, onde era
conhecidíssimo. Agora, essa cidade assistia ao retorno de Jesus já aureolado
pela fama de profeta e taumaturgo.
Reza o ditado que “a caridade começa da própria casa”. Ele, de fato, quis voltar
a Nazaré para beneficiar aqueles com os quais tinha convivido, porque os
amava. Desejava dizer-lhes uma palavra, mas desta vez “com a força do
Espírito”. Antes o Consolador não tocava as almas como o faria nesta nova visita,
apresentando-O enquanto Filho de Deus e não mais como um simples Homem.
Por sua vez, aqueles judeus sabiam que em Cafarnaum Nosso Senhor havia
operado diversas curas, inclusive de cegos. Era o sinal de que Ele também trazia
a luz para todos os incapazes de ver a Deus. Sim, porque no Paraíso Terrestre
o homem enxergava com facilidade as maravilhas divinas, mas tornou-se cego
após o pecado. Jesus vinha restaurar a antiga visão.
Se isso não bastasse, Ele ainda devia “proclamar um ano da graça do Senhor”.
Este, à diferença dos anos jubilares instituídos por Moisés (cf. Lv 25, 10), não
mais teria fim. À saída do Paraíso, fora instituído o regime da lei natural, sucedido
pelo regime da lei mosaica; tratava-se agora da abertura da era da graça.
De onde nos vem a força para sermos membros sadios desse Corpo e não
membros apodrecidos pelo pecado? Vem da graça, a qual constitui o sexto plano
da criação, acima dos minerais, vegetais, animais, homens e Anjos. Ela nos dá
a possibilidade de participar da natureza divina, de sermos filhos de Deus (cf. I Jo
3, 1). A partir do Batismo, a Santíssima Trindade passa a inabitar nossas almas
e se estabelece um relacionamento do Pai, do Filho e do Espírito Santo conosco.
Esse comércio sobrenatural vale mais do que todo o universo criado!
Ora, para viver sempre da graça é condição indispensável ter uma vida interior
fervorosa. Deus concede a todos graças suficientes, mas quase sempre elas
resultam insuficientes pela deficiência de nossa natureza. Para obtermos as
graças de que necessitamos, devemos rezar com constância: oração, se
possível em família, pois a oração em conjunto apresenta muito mais eficácia
que a oração particular. Ademais, precisamos nos aproximar dos Sacramentos,
pois eles são fonte infalível da graça, evitar as ocasiões próximas de pecado e
estar constantemente crescendo na prática das virtudes.
Tal como fez Nosso Senhor em Nazaré, é preciso apresentar aos nossos
contemporâneos a Palavra de Deus com toda a sua força, a fim de levá-los a
experimentar a felicidade que só a vida da graça nos dá. A humanidade tem
apenas um caminho para salvar-se: a fé manifestada pelas obras (cf. Tg 2, 17-
18), ou seja, a prática dos Mandamentos da Lei de Deus.
Que cada um de nós compreenda a grandeza do chamado que lhe foi confiado
e, inteiramente fiel às inspirações do Alto, atento à Palavra de Deus e ungido
pela força da graça, anuncie a Boa-nova aos pobres de espírito, rumo à vitória
de Maria Santíssima profetizada em Fátima: “Por fim, o meu Imaculado Coração
triunfará!”
Ambos deviam aguardar alguns minutos até Sua Santidade concluir o Rosário
junto à gruta de Lourdes, nos jardins pontifícios. Enquanto isso, muitas
impressões vinham-lhes ao espírito, entremeadas pela emoção de comparecer
em nome de Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, diante de um Papa que
muito representa para a Santa Igreja.
Este era o terceiro encontro dos Arautos com Bento XVI desde que ele deu início
à vida de recolhimento no Mosteiro Mater Ecclesiæ. Ora, as duas audiências
anteriores também merecem ser aqui recordadas, pelo seu particular significado.
Dom Georg Gänswein – cuja simpatia sempre nos acompanha, e que participava
da conversa – interveio nesse momento para corroborar: “São muitos, são um
exército!” Um dos sacerdotes frisou o quanto esse crescimento permite
desenvolver novos e dinâmicos meios de evangelização, entre os quais as
Missões Marianas, que fazem retornar à vida paroquial muitos católicos
afastados das práticas religiosas, além de propiciar abundantes conversões.
A integridade de vida dos Arautos foi outro aspecto ressaltado na conversa, pelo
seu impacto favorável na conquista das almas para Deus. Então Sua Santidade,
com olhar expressivo, exclamou: “Isto é o mais importante!”
Em carta dirigida ao Santo Padre a respeito de sua própria renúncia, Mons. João
assim se exprimia: “Permita-me, Vossa Santidade, transmitir-vos filialmente um
segredo: ao ver-vos subir ao Sólio Pontifício, a graça divina já me fazia intuir
tratar-se vossa pessoa de um varão providencial para o nosso tempo. É verdade
que um acontecimento me deixou perplexo em relação a essa perspectiva: a
renúncia de Vossa Santidade ao exercício ativo do ministério petrino. Sem
compreender as razões para isso, fui sustentado pela confiança de que a
Onipotência Divina vos reservava para desígnios superiores.
Esta postura, como Mons. João faz constar mais adiante no texto da missiva,
supõe grande confiança nas autoridades eclesiásticas. Os sacerdotes
explicaram a Bento XVI que tendo sido sempre dócil e obediente à Sagrada
Hierarquia, sem desejar outra coisa senão prestar-lhe fervorosa submissão,
nosso fundador esperava de sua parte uma acolhida materna em relação à obra
nascida das suas mãos, face às novas circunstâncias. Enquanto isto lhe era
transmitido, o Papa abriu bem os olhos e assentiu: “Sim, rezarei. Vós sois muito
importantes para a Igreja”.
Por sua vez, Bento XVI demonstrou ao longo dos anos uma consciência clara da
autenticidade do carisma depositado pela Providência na alma de Mons. João,
acompanhada por uma receptividade paternal para tudo o que dependesse de
sua intervenção, desejando que os Arautos do Evangelho se
institucionalizassem em plena conformidade aos desígnios do fundador.
As expressões de reconhecimento de Mons. João em relação a este modo de
proceder abundam no contato epistolar entre os dois, como na própria carta que
trata da renúncia: “Lembro com emoção a vossa passagem pelo Brasil,
prenúncio da realização das promessas de Deus para as glórias da Igreja nessas
terras. E não posso deixar de mencionar aqui outro momento histórico: receber
de vossas mãos, portadoras do anel de Pedro pescador, a chancela da obra que
Deus me inspirou fundar, unindo-a à Igreja Celeste”.i
Com a amplitude de visão própria aos grandes pastores, Bento XVI conferiu a
Mons. João dignidades eclesiásticas como o canonicato da Basílica Papal de
Santa Maria Maggiore e a medalha Pro Ecclesia et Pontifice, em reconhecimento
pelos serviços prestados à Santa Igreja.
Então, Bento XVI quis folhear o livro. Ao contemplar certa foto de Dr. Plinio
discursando, um dos sacerdotes comentou que ele fora presidente da Ação
Católica de São Paulo. “Corrêa de Oliveira, um nome que todos os Bispos do
Brasil conheciam bem”, acrescentou Sua Santidade.
Algumas páginas mais adiante surgiu uma fotografia de Dr. Plinio em pequeno,
aos quatro anos de idade. A limpidez de seu olhar inocente despertou a
admiração do Papa, que exclamou enquanto tocava a respectiva página:
“Guarda, che bello bambino! – Veja, que belo menino!”
Terminado o rápido aperçu da obra, Sua Santidade quis folheá-la uma segunda
vez, com especial atenção às ilustrações.
Quando Nossa Senhora pediu em Fátima a prática diária desta devoção, deixava
claro ser o meio privilegiado de os homens se dirigirem a Ela para obter os
favores que necessitam, sobretudo aqueles relacionados com os destinos do
mundo. Ora, as promessas vinculadas ao Rosário se aplicam de forma muito
especial ao Sucessor de Pedro, varão que é chamado a um altíssimo grau de
união com Maria.
Em meio a essas lutas, contar com o apoio de alguém tão ligado à esfera
sobrenatural como Bento XVI revigora a nossa certeza de que junto à Virgem
Imaculada nada há que temer. Impetrar, unidos a Pedro, o pleno cumprimento
dos desígnios da Providência sobre esta obra é uma grande consolação.
Deste modo, estas alentadoras palavras do Primeiro Papa nos são dirigidas
ainda hoje por meio de seus Sucessores: “O que nós esperamos, de acordo com
a sua promessa, são novos céus e uma nova terra, onde habitará a justiça” (II Pd
3, 13). Eis a meta que nos une às esperanças de Sua Santidade Bento XVI: a
transformação de todas as coisas pela união entre o Céu e a terra, que virá
quando o reinado de Maria se tornar efetivo sobre os corações e o mundo.
1A 3 de fevereiro de 2010, Bento XVI aprovou em caráter definitivo os estatutos da Sociedade Clerical de
Vida Apostólica Virgo Flos Carmeli e da Sociedade de Vida Apostólica Feminina Regina Virginum. Ambas
são constituídas, respectivamente, pelos membros do ramo sacerdotal e pelos elementos mais dinâmicos
do ramo feminino dos Arautos do Evangelho, Associação Privada Internacional de Fiéis de Direito
Pontifício erigida em 22 de fevereiro de 2001 pelo então Papa João Paulo II, agora elevado à honra dos
altares.
2BENTO XVI. Luce del mondo. Il Papa, la Chiesa e i segni dei tempi. Città del Vaticano: LEV, 2010, p.89-
90.
4Idem, ibidem.
5Idem, ibidem.
7Atualmente esta iniciativa pastoral conta com 39.980 oratórios circulando em residências, edifícios,
escolas, hospitais, asilos, presídios e instituições comerciais. Ao ser favorecida pelas orações do Papa
Bento XVI, certamente crescerá ainda mais em número e fervor daqui por diante.
9Idem, ibidem.
Por que Jesus recebeu o Batismo? Eis que nos resta dizer, e ao mesmo tempo
vos explicaremos que Batismo Ele recebeu, pois estes dois pontos são de igual
importância. Começaremos pela segunda questão, para poderdes assim
entender melhor a primeira.
A ablução judaica apagava apenas as manchas corporais
O batismo dos judeus lavava as impurezas do corpo, mas não os pecados que
estavam na consciência: se alguém cometia um adultério, um roubo ou qualquer
outro crime, esse batismo não os apagava; mas se tocava os ossos de um morto,
comia alimentos proibidos pela Lei, vinha de um lugar impuro ou tinha estado
com leprosos, devia lavar-se e ficava impuro até a tarde, depois disso se tornava
puro. “Ele lavará seu corpo em água pura e permanecerá impuro somente até a
tarde” (cf. Lv 15, 5).
Esses não eram verdadeiros pecados nem imundices propriamente ditas, mas,
sendo os judeus um povo bruto e imperfeito, queria Deus, pelas observâncias
legais, prepará-los com muita antecedência para a observação de prescrições
mais importantes.
Que o batismo de João era imperfeito, por não conferir a graça do Espírito Santo
nem o perdão dos pecados, deduz-se das palavras de São Paulo a alguns
discípulos que ele havia encontrado:
— O de João.
Percebeis quanto era imperfeito o batismo de João? Pois, se ele não fosse
imperfeito, Paulo não os teria batizado de novo, não teria lhes imposto as mãos;
fazendo estas duas coisas, ele proclamou a excelência do Batismo dos
Apóstolos e a inferioridade do outro.
Ele não recebeu o batismo dos judeus nem o nosso, pois não tinha necessidade
da remissão dos pecados; esta era, aliás, impossível, já que n’Ele não havia
pecado, conforme diz São Pedro: “Ele não cometeu pecado, nem se achou
falsidade em sua boca” (I Pd 2, 22). E em São João lemos: “Quem de vós Me
acusará de pecado?” (Jo 8, 46). Sua carne não podia receber mais ainda o
Espírito Santo, pois ela tinha por princípio o próprio Espírito Santo, que a
formara. Portanto, se essa carne não era estranha ao Espírito Santo nem sujeita
ao pecado, por que batizá-la?
Comecemos por explicar qual batismo Jesus recebeu, e o restante será de toda
evidência. Qual foi, pois esse batismo? Não foi o dos judeus nem o nosso, mas
o de João. Por quê? Para a própria natureza deste batismo nos ensinar que o
Salvador não foi batizado por causa de seus pecados, nem por Lhe faltar a graça
do Espírito Santo, uma vez que este batismo não possuía nem uma nem outra
destas duas coisas, como acima se demonstrou. De onde fica claro que Ele não
veio a João para receber o Espírito Santo nem a remissão de seus pecados. E
para que nenhum dos circunstantes imaginasse que Ele vinha fazer penitência
como os demais, vede como João preveniu essa falsa interpretação. Ele que
gritava a todos: “Dai frutos de verdadeira penitência” (Mt 3, 8), disse ao Salvador:
“Eu devo ser batizado por Ti e Tu vens a mim!” (Mt 3, 14). Afirma isto para deixar
claro que Nosso Senhor não tinha vindo pela mesma necessidade dos outros e
que, longe de ser batizado pelo mesmo motivo, Ele era muito superior ao próprio
João Batista, e infinitamente mais puro.
Por dois outros motivos. Um deles nos foi revelado pelo discípulo, e o outro foi
indicado a João pelo próprio Salvador.
Qual a causa deste batismo, dada por João? Segundo o dito de São Paulo, o
povo precisava saber que “João dava um batismo de penitência, a fim de que
todos cressem n’Aquele que havia de vir depois dele” (At 19, 4). Eis o objetivo
deste batismo.
Se tivesse sido necessário ir a todas as casas e fazer as pessoas saírem para
lhes mostrar o Cristo, dizendo: “Este é o Filho de Deus”, tal testemunho seria
suspeito e muito difícil. Se João tivesse entrado com Jesus na sinagoga, para
mostrá-Lo, também este testemunho seria suspeito. Entretanto, que o próprio
Jesus tenha vindo para ser batizado diante do povo de todas as cidades
adjacentes ao Jordão, acotovelando-se às suas margens, que Ele tenha sido
recomendado pela voz de seu Pai, descida do céu, e que sobre Ele tenha
pousado o Espírito Santo sob a forma de uma pomba: eis aqui algo que não nos
permite duvidar do testemunho de João. Não por outro motivo, o santo Precursor
acrescenta: “Eu mesmo não O conhecia” (Jo 1, 31), demonstrando assim que
seu testemunho é digno de fé.
Jesus e João eram parentes segundo a carne: “Também Isabel, tua parenta,
concebeu um filho” (Lc 1, 36), disse o Anjo a Maria, falando da mãe de João.
Então, para que tal parentesco não parecesse ser a causa do testemunho que
João dava do Cristo, a graça do Espírito Santo dispôs as coisas de modo que
João passou no deserto sua primeira juventude e, assim, seu testemunho não
se apresentou como ditado pela amizade e com um desígnio premeditado, mas
sim inspirado por um aviso do alto. Eis o motivo pelo qual ele diz (cf. Jo 1, 32-
33):
— Aquele sobre quem vires o Espírito Santo descer como uma pomba e
repousar, este é quem batiza no Espírito Santo.
Como vedes, o texto sagrado fala do Espírito Santo, não como devendo descer
pela primeira vez sobre Jesus Cristo, mas como devendo mostrá-Lo, apontá-Lo
com o dedo, por assim dizer, e torná-Lo conhecido de todos. Eis o motivo pelo
qual Ele veio fazer-Se batizar.
Obedecer aos profetas era justiça
Há outra razão, indicada por Ele próprio. Qual? Quando João Lhe disse: “Eu
devo ser batizado por Ti e Tu vens a mim”, Jesus respondeu: “Deixa por agora,
pois convém que assim cumpramos toda a justiça” (Mt 3, 14-15). Percebestes a
modéstia do servo? Notastes a humildade do Mestre? O que é “cumprir toda a
justiça”? Entende-se por justiça o cumprimento de todos os Mandamentos de
Deus, conforme esta passagem: “Ambos eram justos diante de Deus e
observavam de modo irrepreensível todos os Mandamentos e preceitos do
Senhor” (Lc 1, 6). Todos os homens deviam cumprir esta justiça, mas nenhum
foi fiel, nenhum a cumpriu; por isto veio Cristo e a cumpriu.
Perguntar-me-eis que justiça há em Ele ser batizado? Obedecer aos profetas era
justiça. Da mesma forma como Jesus foi circuncidado, ofereceu o sacrifício,
observou o sabá e celebrou as festas judaicas, assim acrescentou Ele aqui o
que faltava cumprir, submetendo-Se ao profeta que batizava.
Tal era vontade de Deus que todos recebessem o batismo, que João nos diz:
“Aquele que me enviou a batizar em água” (Jo 1, 33), e o próprio Cristo assim
Se exprime: “O povo e os publicanos atenderam aos desígnios de Deus,
recebendo o batismo de João; mas os fariseus e os escribas, recusando esse
batismo, desprezaram o conselho de Deus a seu respeito” (Lc 7, 29-30).
Se, pois, é justiça obedecer a Deus, e se Deus enviou João para batizar o povo,
Jesus cumpriu este ponto da Lei com todos os outros.
A Nova Arca divina voltou para o Céu
Por quê? Porque vinha ao mundo Aquele que, sendo o próprio Deus, ligara a Si
todo esse conjunto por meio da natureza humana.
Ao olharmos a menor das pedras, a menor das plantas, o menor dos animais ou
o menor dos homens, devemos pensar nisto: a natureza deles está, de algum
modo, presente em Nosso Senhor Jesus Cristo e, assim, ligada a Deus,
participando de sua glória no mais alto do Céu, no oceano de esplendor de
santidade da Trindade Beatíssima.
Esse ser é precisamente Nossa Senhora. Ela foi colocada numa altura
insondável, e numa plenitude de glória, de perfeição e de santidade
inimagináveis. Acima d’Ela está somente a humanidade de seu Divino Filho e a
Santíssima Trindade.
Nenhuma outra criatura humana tinha valor e virtude suficientes para impetrar e
alcançar tal graça. Ela foi criada especialmente com a missão de obter a vinda
do Messias esperado.
Para que os homens pudessem ser salvos e dar glória a Deus, Ela consentiu em
ser a Mãe do Redentor e suportar esses tremendos sofrimentos.
Imaginemos o que sentiria qualquer mãe que, andando pela rua, ouvisse de
repente um alarido e, aproximando-se, visse seu filho sendo chicoteado,
deitando sangue por todos os poros, padecendo dores indizíveis, carregando
uma cruz, objeto da selvageria de um populacho brutal, vil, que dava risada dele,
dizia atrocidades e levava-o, junto com essa cruz, para ser crucificado e morrer
no mais horroroso dos martírios, no alto de uma montanha.
Essa mãe desmaiaria, ficaria psicótica, louca, conforme o caso poderia até
morrer.
É difícil imaginar a graça e encanto manifestados por Nosso Senhor como Filho:
todo o respeito, a ternura, a veneração, a delicadeza, a grandeza! Como terão
sido os trinta anos de intimidade entre Ele e Nossa Senhora, durante os quais
Ela O viu crescer em graça e santidade diante de Deus e dos homens, e amou,
com amor perfeito, cada estágio da perfeição d’Ele que ia se desenvolvendo?
Qual era o abismo de adoração no qual Ela Se desfazia em relação a Ele?
Pois bem, Ela vê esse Filho, o próprio Deus, a própria Santidade, tratado assim
por aquele populacho!
Quando Ela teve o encontro com Ele durante a Via Dolorosa, quando O abraçou,
O osculou e recebeu a glória enorme de ter o seu rosto virginal e sua túnica tintos
com o Sangue divino; quando Ela recolheu os gemidos d’Ele, e foi a seu lado
subindo até o alto do Calvário; quando Ela viu seus estertores finais e Ele gritar:
“Eli, Eli lamá sabactâni – Meu Deus, meu Deus, por que Me abandonastes?”, e
depois dizer: “Tudo está consumado”, inclinar a cabeça e exalar o espírito… Ao
contemplar tudo isso, qual terá sido o sofrimento d’Ela?
Até o último instante, Ela dizia ao Padre Eterno: “Eu consinto em que aconteça
isso a meu Filho, para que Ele Vos dê a glória devida, salve as almas para Vós,
ó meu Pai, e para que elas gozem da felicidade eterna junto a Vós no Céu”.
Dizem os teólogos que do alto da Cruz Nosso Senhor, cuja inteligência é infinita,
conhecia todos os homens pelos quais Ele haveria de derramar até a última gota
de seu Sangue. Via, individualmente, todos os pecados que cada um cometeria,
sofria por todos esses pecados e dava a sua vida para resgatar os pecadores
que correspondessem à graça da Redenção.
Creio que para a compaixão de Nossa Senhora ser completa, Ela também nos
conheceu individualmente naquela ocasião, e rezou em favor de cada um de
nós. De maneira que, enquanto o Verbo de Deus via aquela multidão de pecados
que se desprenderia dos homens ao longo dos séculos, Ela pedia perdão para
cada um, e Ele ia perdoando pelo pedido d’Ela pois, sendo inocente, Ela merecia
o perdão que nós não merecíamos.
Foi, portanto, por causa das súplicas de Maria que cada um de nós obteve o dom
de ser batizado, de conhecer a Igreja Católica, de receber os demais
Sacramentos, de ter devoção a Ela e de manter-se fiel à Igreja nesses dias
tormentosos em que vivemos. Será também pelo favor d’Ela que alcançaremos
o Céu.
Foi, então, por meio de Nossa Senhora que Deus veio a nós na Encarnação e
deu-se o Natal do Salvador, e é por intermédio d’Ela que vamos a Ele e
recebemos os benefícios da Paixão e Cruz, isto é, da Redenção.
Por isso, morto Nosso Senhor, Maria Santíssima continuou a ser a grande
intercessora junto a Ele, a Advogada que nunca abandonou homem algum, por
mais pecador que fosse. A ponto de ensinar a Teologia que se São Pedro, depois
de ter cometido o pecado horroroso de negar o Divino Mestre, não desesperou,
arrependeu-se e se salvou, foi pelos rogos de Maria, que lhe obteve a graça do
arrependimento e o perdão.
E se Judas Iscariotes, o mercador péssimo que vendeu Nosso Senhor por trinta
moedas, tivesse recorrido a Nossa Senhora, Ela o receberia com toda a bondade
e misericórdia, e obteria o perdão também para ele.
Após a Morte do Salvador, é a Santíssima Virgem quem reúne os Apóstolos em
torno de Si, está junto a eles em Pentecostes, acompanha a Igreja nos primeiros
passos e é a sua grande protetora ao longo de toda a sua existência, presente
nas batalhas onde os guerreiros católicos venceram os exércitos inimigos da Fé,
presente nos combates contra as heresias, e na luta que noite e dia cada homem
trava contra seus defeitos, para adquirir maiores virtudes.
E ainda que não nos lembremos de Nossa Senhora, Ela está Se lembrando de
nós do alto dos Céus, pedindo por nós com uma misericórdia que nenhuma
forma de pecado pode esgotar. Basta nos voltarmos para esta clementíssima
Mãe para que Ela, cheia de bondade, nos atenda e nos limpe a alma, dando-nos
força para praticarmos a virtude e nos transformarmos de pecadores em homens
bons.
Rainha do universo
Maria Santíssima é chamada pela Igreja a Porta do Céu. É por esta Porta que
todos os homens obtêm as graças: por Ela nossas orações chegam a Deus, e
também todas as graças descem para os homens. Tudo nos vem por intermédio
de Nossa Senhora.
São Luís Grignion de Montfort utiliza uma bela imagem para ilustrar essa
realidade. Imaginemos alguém do povo que quer presentear o rei, mas não tem
outra coisa para oferecer-lhe a não ser uma maçã. Entretanto, não tem coragem
de apresentá-la ao monarca, por ser um presente muito comum. Então, pede à
mãe do rei que oferte a ele essa maçã.
A mãe do monarca coloca a fruta numa bandeja de prata e lhe diz: “Meu filho,
essa pessoa é minha filha também e pede-me para vos oferecer isto”. O rei sorri
e a recebe como se fosse uma esfera de ouro.
Por vezes, as melhores ações dos homens têm o valor de uma maçã; mas,
oferecidas pelas mãos virginais de Maria e acompanhadas do sorriso d’Ela, Deus
as recebe com encanto, agradece e as recompensa. Quanto mais unidos a
Nossa Senhora, mais poderemos praticar a virtude e nos tornar agradáveis a seu
Divino Filho.
Alguém dirá: “Mas eu sinto minha fraqueza, minha imperfeição. Será que Nossa
Senhora quererá uma elevação dessas para mim, tão cheio de pecados?” Eu
respondo: Não tenho dúvida, porque Ela não recua diante do pecado de nenhum
homem.
Nós devemos pedir a Maria Santíssima que Ela vença nossos obstáculos,
aniquile nossas maldades e que seja verdadeira para o mundo contemporâneo,
como para cada um de nós, a promessa do triunfo de seu Imaculado Coração,
tornando-nos apóstolos dos últimos tempos, perfeitos filhos e escravos d’Ela. Por
essa forma, o Reino de Maria substituirá o reino do demônio sobre a face da
terra.
Extraído, com pequenas adaptações, da revista
Nosso Senhor Jesus Cristo, antes de partir deste mundo, colocou ao nosso
alcance um auxílio sobrenatural que seria inesgotável manancial de graças para
todos os homens: Maria.
Do alto da Cruz em que Se encontrava, Ele olhou para Nossa Senhora dizendo-
Lhe: “Mulher, eis aí teu filho” (Jo 19, 26); e, em seguida, virou-Se para São João:
“Filho, eis aí tua Mãe” (Jo 19, 27). Fez assim a entrega de sua própria e
santíssima Mãe a todos aqueles que se tornariam seus irmãos através do
Sacramento do Batismo.
A partir daquele momento, a Santíssima Virgem levantou-Se como uma aurora
em nossa existência pois, “na noite das maiores provações e das mais espessas
trevas, Ela surge e desde logo começa a vencer as dificuldades com que nos
defrontávamos”.i
Sendo Deus onipotente, poderia ter criado Nosso Senhor Jesus Cristo por um
simples ato de vontade, ou tê-Lo feito surgir de uma figura de barro, como Adão,
ou até mesmo tê-Lo moldado servindo-Se das nobres matérias existentes no
Paraíso. Entretanto, assim como através de uma mulher – Eva – o demônio
arrastou os homens para a ruína, assim também quis o Padre Eterno salvá-los
por meio de outra Mulher: Maria.
E uma vez que o Filho Se encarnou para salvar-nos, Nossa Senhora pode ser
chamada, sem dúvida, de Mãe do Redentor. Com efeito, devido ao “fiat”
pronunciado por Ela Deus assumiu a nossa natureza, e através d’Ela o gênero
humano deu o seu placet para a Redenção. “Da Anunciação se esperava o
consentimento da Virgem em nome de toda a natureza humana”,i ensina o
Doutor Angélico.
Maria é, portanto, nossa Mãe porque assim Jesus o estabeleceu, mas também
porque, sem o auxílio e a aceitação d’Ela, jamais teríamos nascido para o Céu e
para a vida da graça. Conforme afirma o Pe. Gabriel Roschini, OSM,i Nossa
Senhora nos concebeu enquanto filhos em Nazaré, e nos deu à luz no Calvário.
Nos três dias que precederam a Ressurreição, nada faltou aos Apóstolos para
acreditarem que ela haveria de se dar. O próprio Jesus a tinha previsto, Santa
Maria Madalena anunciou-lhes que o Corpo do Divino Mestre não estava mais
no sepulcro, e os discípulos de Emaús relataram-lhes seu encontro com Nosso
Senhor, a quem reconheceram ao partir o pão.
Não houve em toda a História um Santo que não A tenha louvado; não há Anjo
no Céu que não A tenha proclamado bem-aventurada, não existe recanto no
mundo onde não lhe seja rendido culto; mesmo assim, afirmam São Bernardo,
São Luís Maria Grignion de Montfort, e com eles toda a Igreja, “De Maria
nunquam satis!” Por muito que esteja presente em nossas vidas e orações,
jamais nos saciaremos d’Ela.
A Ela, que possui o cetro de Deus em suas mãos e governa a História, deve
voltar-se o nosso olhar de súplica. É Ela a Rainha de todos os corações, até dos
mais empedernidos; é Ela a Mãe de bondade, que abate as nossas misérias e
lhes dá aparência de beleza diante de Deus; é Ela a Luz da Igreja, “formosa
como a lua, brilhante como sol, terrível como um exército em ordem de batalha”
(Ct 6, 10), contra a qual as trevas jamais prevalecerão!
1 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Conferência, 8/9/1963, apud CLÁ DIAS, EP, João Scognamiglio.
Pequeno Ofício da Imaculada Conceição comentado. 2.ed. São Paulo: ACNSF, 2010, v.I, p.349.
3 Cf. ROSCHINI, OSM, Gabriel. Instruções Marianas. São Paulo: Paulinas, 1960, p.79.
4 Idem, p.74.
5 p.20.
6 SÃO BERNARDO DE CLARAVAL. En alabanza de la Virgen Madre. Homilia II, n.17. In: Obras
Não pensemos, todavia, que este gênero de vocações se distingue sempre pela
abundância e grandeza das suas obras, pois ensina o Divino Mestre que “na
casa de meu Pai há muitas moradas” (Jo 14, 2). De certas almas Ele espera
prodigiosas realizações; a outras chama para a renúncia e o sacrifício ou, até
mesmo, para serem vítimas de seu próprio fracasso. Tanto umas quanto outras
são grandes aos olhos de Deus, que não julga pelas aparências exteriores, mas
pela docilidade a seus desígnios.
Aos quinze anos entregou seu coração a Deus para sempre, fazendo
secretamente o voto de perpétua castidade, na Igreja de San Juan de los
Caballeros. Era o dia 25 de março de 1865, festa da Encarnação do Verbo, na
qual se comemora o “fiat” da Santíssima Virgem como “Escrava do Senhor”
(cf. Lc 1, 38). E quando a família começou a fazer planos de casamento para as
jovens Porras, as duas irmãs já haviam escolhido “a melhor parte” (cf. Lc 10, 42).
Foi então que conheceram o Pe. José Antonio Ortiz Urruela, sacerdote que as
havia de orientar e acompanhar nos primeiros passos de sua vocação, e
aconselhadas por ele uniram-se à Sociedade de Maria Reparadora. Tratava-se
de um instituto de recente criação, não sujeito à rigorosa clausura monástica,
que visava conjugar a devoção eucarística às tarefas de apostolado, a serviço
da Igreja universal.
De noviça a fundadora
Em março de 1875, algumas religiosas desta congregação, provenientes de
Sevilha, se transladaram a Córdoba para fundar um noviciado, aproveitando o
espaçoso prédio que lhes era oferecido pela família Porras. As duas irmãs
começaram ali o postulantado e, em curto tempo, outras jovens seguiram seu
exemplo.
A vida de noviça parecia-lhes uma parcela do Céu nesta terra. Todas admiravam
a humilíssima virtude de Rafaela e intuíam o chamado especial que lhe reservara
a Providência. Contudo, incontáveis perplexidades as aguardavam…
Para as outras noviças a escolha era clara: fariam o que fizesse Rafaela. Seu
exemplo lhes havia atraído à vida religiosa e era sob o mesmo impulso que
desejavam continuar. Quando souberam que ela e Dolores permaneceriam na
cidade, sob a direção do Pe. Antonio Ortiz, decidiram acompanhá-las. Apenas
quatro noviças seguiriam as religiosas de Maria Reparadora a Sevilha.
Rafaela, para sua surpresa, foi nomeada superiora da nova instituição. Nunca
lhe passara pela cabeça ter que mandar em alguém, sobretudo em sua própria
irmã. Dolores era de um temperamento vivíssimo, intuitivo e brilhante, e diziam
que possuía capacidade para governar um reino, se fosse necessário. Ela, no
entanto, havia-se acostumado a obedecer e escutar.
Aceitando o encargo que lhe impunham, não fazia mais do que tinha feito a vida
inteira: sujeitar-se ao que parecesse melhor aos outros. Desde então, ela era
noviça e mestra de noviças ao mesmo tempo. A Dolores coube o encargo de
administrar os bens temporais da comunidade, o que soube executar com
perfeição. As duas irmãs se transformaram em fundadoras do novo instituto que
nascia.
Primeiros obstáculos
Quando se aproximava a primeira emissão de votos, algo veio perturbá-las: o
Bispo, Dom Zeferino González y Díaz Tuñón, OP, quis examinar as constituições
e nelas introduzir diversas modificações, pois desejava dar ao novo instituto uma
nota mais dominicana. Considerava excessivo exporem diariamente o
Santíssimo Sacramento, queria submetê-las a um regime mais restrito de
clausura e estabelecer mudanças no hábito. E concedia-lhes vinte e quatro horas
para aceitar as alterações que propunha.
Não houve outro remédio senão se mudarem para a vizinha cidade de Andújar,
pertencente à Diocese de Jaén. Fizeram-no à noite, sem prévio aviso e de
comum acordo entre si. Chegadas a seu destino, hospedaram-se em um hospital
beneficente. Passados poucos dias, um agente da autoridade local se
apresentou em busca das religiosas desaparecidas de Córdoba, sob a acusação
de serem contrabandistas! A denúncia era tão ridícula que as religiosas caíram
na gargalhada…
Os vendavais da desunião
Não demorou, porém, para que os vendavais da desunião viessem atingir o
edifício sagrado das Escravas do Sagrado Coração de Jesus. Críticas injustas,
incompreensões e desconfianças, provenientes de religiosas que formavam o
núcleo do governo do instituto, foram se avolumando em relação a Rafaela, a
ponto de a relegarem ao total isolamento. Todos os que desde o princípio a
haviam apoiado, agora a abandonavam e a culpavam pelos males que pudesse
sofrer a congregação. Madre Maria do Sagrado Coração não teve outra saída
senão renunciar ao generalato nas mãos de sua irmã Dolores.
Encaminhada à casa de Roma, Rafaela Maria via os dias se passarem com uma
quietude assustadora. Isolamento, incertezas, silêncio, inutilidade: seria este seu
destino por mais de trinta anos. Até então sua vida havia sido empregada em
trabalho contínuo, em ações apostólicas de toda sorte. De Roma assistiria ao
desenvolvimento de sua obra, “adivinhando só por indícios, por pequenos sinais,
seus problemas, suas dores e suas alegrias”.i
Grandes tribulações atormentavam seu puro coração, como ela escreve: “Minha
vida foi sempre de luta, mas de dois anos para cá são penas tão extraordinárias
que só a onipotência de Deus, que me ampara milagrosamente a cada instante,
impede que meu corpo caia por terra. […] Todo o meu ser está em contínua
angústia e desamparo, e prevendo que isto vai durar muito, muito. Por isto penso
que Deus me abandonou? Não”!i
Humildade e serviço até o fim
Em meio a tantos sofrimentos, Rafaela se distinguia na comunidade por jamais
deixar de estar disposta a ajudar às demais, salvando-as de qualquer apuro.
Apesar da idade avançada, fez-se escrava de todas para que seu Senhor fosse
plenamente servido. Qualquer pena lhe parecia um consolo, por saber que a
glória vindoura ultrapassa qualquer infortúnio.
Apenas três pessoas assistiriam a seu enterro… Mas aquela alma enamorada
de Deus atingira a plenitude das virtudes em meio ao silêncio, à dor e ao
apagamento mais completos. Ela participaria, do Céu, do crescimento de sua
obra, fruto do sacrifício de sua vida.
1 YAÑEZ, ACI, Inmaculada. Amar siempre. Rafaela María Porras Ayllón. Madrid: BAC, 1985, p.9.
2 Idem, p.10.
3 Idem, p.17.
4 Idem, p.23.
5 Idem, p.28.
6 Idem, ibidem.
7 SÁNCHEZ, ACI, Evelia. Santa Rafaela María del Sagrado Corazón. In: ECHEVERRÍA, Lamberto;
LLORCA, SJ, Bernardino; REPETTO BETES, José Luis (Org.). Año Cristiano. Madrid: BAC, 2002, v.I,
p.158.
8 Idem, ibidem.
9 Idem, ibidem.
10 DESCALZO, José Luis Martín. Prólogo. In: YAÑEZ, ACI, Inmaculada (Ed.). Santa Rafaela María del
Sagrado Corazón. Palabras a Dios y a los hombres. Cartas y apuntes espirituales. Madrid: Congregación
11 YAÑEZ, Amar siempre. Rafaela María Porras Ayllón, op. cit., p.67.
12 SANTA RAFAELA MARIA DO SAGRADO CORAÇÃO. Carta n.116, a la M. María de la Paz. Madrid,
septiembre de 1883. In: YAÑEZ, Santa Rafaela María del Sagrado Corazón. Palabras a Dios y a los
14 Idem, p.161.
15 SANTA RAFAELA MARIA DO SAGRADO CORAÇÃO. Carta n.380, al P. Isidro Hidalgo, SJ, Roma,
29/9/1892. In: YAÑEZ, Santa Rafaela María del Sagrado Corazón. Palabras a Dios y a los hombres.
Testemunhos
Entretanto, Jesus Se encontra muito perto de nós, operando ainda mais milagres
e prodígios do que outrora, pois como Ele mesmo disse antes de partir rumo ao
Céu: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 20).
Num primeiro sábado do mês de julho, durante uma novena a Nossa Senhora
do Carmo, ela encontrou no Sacramento da Penitência o descanso que sua alma
tanto buscava: “Naquela tarde, ajoelhada diante de um representante da
divindade, me permiti imaginar ardentemente que o próprio Deus encontrava-Se
ali me ouvindo. Por um suave toque percebi estar junto a Ele, à minha Mãe
Santíssima e, por impulso, me joguei confiante em seus braços e chorei todas
as minhas faltas, lamentei todos os meus pecados, pedi perdão por todo o mal
injustamente cometido”.
Com a consciência leve e a certeza de ter sido perdoada de suas faltas, Ludmila
afirma: “Ali senti-me piedosamente amada e acolhida. Tomada por piedosa
graça, fui docemente aconselhada a rezar o terço todos os dias e convidada a
reconhecer Jesus Cristo, como o caminho de minha santificação”.
“Tudo começou há quatro anos, num período muito difícil da minha vida.
Sabendo da existência de um padre arauto em minha cidade, peguei o número
na internet e liguei. Ele atendeu o telefone com muito zelo, não se importou com
a distância, não quis saber quantas horas levaria para chegar até minha casa,
apenas disse ‘sim’”.
No dia combinado, o sacerdote apresentou-se na residência: “Ao abrir o portão,
me surpreendi, porque pude observar da janela um belo sorriso de um rapaz
muito novo, acompanhado por um jovem. Logo me atendeu em confissão,
ministrou a Eucaristia, dando-me várias bênçãos e a Unção dos Enfermos”.
Porém, este primeiro contato com os Sacramentos foi apenas o início de muitos
outros, através dos quais se iniciou uma grande transformação em sua vida.
“Eu senti algo diferente naquele lugar: santidade, desejo do Céu, pessoas que
buscavam a Deus e não os favores d’Ele. Eu pude e posso a cada Missa
experimentar algo diferente. Ao ver o padre arauto purificando o cálice, sinto que
ele está cuidando das feridas de Nosso Senhor, como se fosse Jesus todo
machucado no cálice e na patena. E o sacerdote com todo zelo do mundo faz
aquilo. E todo domingo eu quero mais, espero a semana inteira pelo domingo,
porque poderei participar da Santa Missa”.
Cheia de contentamento pelas maravilhas operadas em sua vida por meio dos
Sacramentos, Daniele afirma: “Deus usou e usa deste sacerdote arauto. Usou
para mudar a minha vida, usou para mudar a vida de muitos. A partir da entrada
deste grande servo que se faz tão pequeno, a minha alma voltou a reviver. Não
a mesma vida, mas uma vida que, mesmo com todo sofrimento e muitas lutas,
me impulsiona a buscar as coisas do Céu”.
“Com grande emoção relato que fui admitido no setor masculino dos Arautos,
sem merecimento algum, e que lá passei oito anos. Foram, de longe, os
melhores dias de minha vida, e só saí por problemas de saúde.
“Consegui um emprego modesto, me casei, fiz minha faculdade, tive uma filha
e, durante este período, devido à correria do dia a dia, pois minha esposa
também estava frequentando o ensino superior, me afastei dos Arautos e
problemas conjugais começaram a aparecer. Mas como Nossa Senhora é Mãe,
e nunca o deixa de ser, fui lembrado com um convite inesperado da parte de um
arauto, comecei a frequentar a Eucaristia na sede e a levar minha família…
“Recebi uma grande graça: minha mãe, há anos e anos com depressão, a ponto
de não assumir os trabalhos domésticos, com a frequência à Missa celebrada
pelos padres arautos, ficou curada. É assídua às Missas e evangeliza o esposo
e os filhos. Agora, rendo graças a Deus e a Nossa Senhora por ter colocado em
meu caminho e no de minha família esses instrumentos benditos”.
Estes são alguns dos incontáveis relatos que chegam às nossas mãos,
comprovando as maravilhas operadas por Nosso Senhor em nossos dias. Mais
do que a cura de um paralítico, de um cego, um leproso ou hidrópico, numa
época em que o pecado atingiu grande parte da humanidade, vemos, através
dos Sacramentos, almas reluzindo para a virtude como lírios surgidos, tantas
vezes, do lodo, na noite e sob a tempestade.
Colômbia – Os Cooperadores dos Arautos se reuniram em Tocancipá para
realizar o seu I Congresso Nacional. Houve palestras (à esquerda) e momentos
de oração (à direita). Durante uma solene Eucaristia celebrada pelo Pe. Juan
Francisco Ovalle, EP, (no centro) vinte e quatro novos membros receberam suas
túnicas.
Algo dessa predileção de Nossa Senhora pelos moradores da região foi sentida
pelos missionários arautos que, convidados pelo Pe. William Hoffman,
realizaram uma Missão Mariana na Paróquia São Filipe Apóstolo, de Green Bay,
entre 28 de outubro e 4 de novembro (fotos 1 e 2).
Nesses dias, dois sacerdotes da instituição, Pe. Timothy Joseph Ring, EP, e Pe.
Arturo Nicolas Hlebnikian Momdjian, EP, acompanharam a equipe de
missionários que visitaram as residências conduzindo a Imagem Peregrina do
Imaculado Coração de Maria (fotos 3, 4 e 5), celebraram Missas e deram
concorridas palestras na igreja matriz (foto 6).
Essa é uma das formas de a Igreja no mundo participar dos preparativos para o
Congresso Eucarístico de Budapeste. Ao receber o anúncio do congresso, o
Cardeal Péter Erdő, Primaz da Hungria, comentou: “O Congresso Eucarístico
Internacional será uma ocasião para nos apresentarmos diante da Igreja
universal, mas também ao mundo laico. Espera-nos uma preparação pastoral
muito séria”.
A Missa foi presidida pelo Bispo Diocesano, Dom Carlos Manuel Escribano
Subías, e concelebrada por cerca de duzentos sacerdotes. Entre as autoridades
da esfera civil presentes cabe assinalar o presidente da Comunidade Autônoma
de La Rioja, José Ignacio Ceniceros, e a prefeita de Logroño, Concepción
Gamarra Ruiz-Clavijo.
O percurso teve início com um tríduo na Igreja de Santa Maria, em New Haven,
entre os dias 16 e 18 de novembro, durante o qual o templo ficou repleto de fiéis.
De 9 a 12 de dezembro, a relíquia esteve no Santuário Nacional da Imaculada
Conceição em Washington. Neste local, mais de mil e quinhentas pessoas
participaram da Missa de abertura da veneração pública, celebrada por Dom -
Christophe Pierre, Núncio Apostólico nos Estados Unidos.
Algo nunca visto, porém, chama a nossa atenção: as árvores de uma colina
próxima começam uma inusitada conversa!
— Minhas irmãs, tenho o prazer de anunciar-vos que Josefina dos Cedros, vossa
reverenda professora, foi levada à carpintaria do Sr. Mateus, a fim de ser
transformada num barco de pesca para um homem chamado Simão.
— Minha pequena, saiba que para nos transformarmos em algo muito bonito e
de boa qualidade é necessário, antes de tudo, passar por longos e cruéis
sofrimentos, como o de ser cortada em diversas partes e sentir uma série de
pregos a nos perfurar – disse a sábia anciã.
— Sim, Da. Figueira, mas não é verdade que depois de passar por tantas dores
estaremos prontas para as mais altas missões? Sinto um forte desejo de servir
a um rei… Acho que serei um trono!
As árvores mais velhas riram diante de tanta ingenuidade, logo voltando aos
assuntos do dia a dia e não fazendo muito caso de Susana, que ainda era quase
um brotinho.
Os anos se passaram e ela se desenvolveu; contudo, percebeu ter ficado bem
menor do que suas companheiras. Afinal, não pertencia à majestosa família dos
cedros, nem ao pujante gênero dos pinheiros… Era uma humilde azinheira!
Todas as suas amigas tinham partido para outros lugares. Com frequência via
passar diante de si Margarida Carvalho, convertida em arca, carregando no seu
interior ricos tecidos vindos do Oriente, ou Josefina dos Cedros, que singrava
altaneira o Lago de Genesaré em busca dos mais disputados peixes. Susana,
porém, se sentia cada vez mais ignorada, prevendo que seu destino seria o
anonimato!
— Que decepção! – dizia de si para consigo a pobre azinheira, com lágrimas nos
olhos.
Ao observar à sua volta, percebeu não estar sozinha: com ela havia uma enorme
quantidade de cabos que tiveram a mesma sina.
Desiludida e resignada com seu triste estado, numa tranquila manhã ouviu uma
voz diferente das outras: doce, atraente, ao mesmo tempo transbordante de
nobreza e seriedade:
Ao ver a moedinha de ínfimo valor que lhe era apresentada, o homem enfureceu-
se interiormente. Todavia, impactado pela dignidade repleta de doçura da nobre
dama, segurou-se e, contrariando seu temperamento um tanto grosseiro,
respondeu com amabilidade:
— Tenho algumas disponíveis no armazém. Por favor, pegue a que mais lhe
agradar, sem nenhuma paga!
Ao ver Susana, a bondosa Senhora foi logo ao seu encontro e a pegou para levá-
la consigo.
Difícil seria avaliar a alegria que a pequena azinheira sentiu ao ser acariciada
por mãos suaves e delicadas como o arminho, e por perceber que do rosto da
Senhora emanava uma luz discreta e envolvente.
São Górdio de Cesareia, mártir (†304). Centurião romano, morto por ter
confessado sua fé em Jesus, Filho de Deus.
12. São Bento Biscop, abade (†c. 690). Fundou os mosteiros beneditinos de
Wearmouth e Jarrow, dedicados a São Pedro e São Paulo.
16. São Marcelo I, Papa (†309). São Dâmaso o define como verdadeiro pastor,
ferozmente hostilizado por apóstatas que se recusavam a aceitar as penitências
que lhes foram impostas. Morreu no exílio.
19. São Remígio de Rouen, Bispo (†c. 762). Irmão do Rei Pepino, o Breve. Teve
grande influência na introdução do canto gregoriano na França.
Santo Asclas, mártir (†séc. IV). Foi submetido a cruéis torturas e, por fim, jogado
no Rio Nilo, em Antinoópolis, Egito.
24. São Francisco de Sales, Bispo e Doutor da Igreja (†1622 Lyon - França).
São Feliciano de Foligno, Bispo (†séc. III). Evangelizou uma vasta zona da
Úmbria, Itália, e foi, durante cinquenta e seis anos, o primeiro Bispo daquela
região.
25. Conversão de São Paulo, Apóstolo.
Beata Maria Antônia Grillo, religiosa (†1944). Após ficar viúva e vender os seus
bens, fundou em Alessandria, Itália, a Congregação das Irmãzinhas da Divina
Providência.
Santa Paula, viúva (†404). Viúva romana, discípula espiritual de São Jerônimo,
que foi viver com sua filha, Santa Eustóquia, em um mosteiro por ela fundado
próximo a Belém da Judeia.
28. São Tomás de Aquino, presbítero e Doutor da Igreja (†1274 Priverno - Itália).
30. Beato Columba Marmion, abade (†1923). Natural da Irlanda, foi superior do
Mosteiro beneditino de Maredsous, Bélgica, onde resplandeceu como guia das
almas e pela sua doutrina espiritual e eloquência.
31. São João Bosco, presbítero (†1888 Turim - Itália).
São Metrano, mártir (†c. 249). Por negar-se a proferir palavras ímpias, foi
torturado e apedrejado pelos pagãos em Alexandria, Egito.
Algo semelhante acontece com os homens: assim como as plantas não podem
crescer rumo ao sol, fonte de sua vida e energia, sem estar enraizadas em terra
úmida, as almas são incapazes de chegar até Deus sem a ajuda e mediação de
Maria Santíssima.
Nossa Senhora cuida das suas “sementinhas” evitando que caiam em terreno
pedregoso, intervém para retirá-las do meio dos espinhos, mas também as
vivifica como a água faz com o vegetal. Robustece-as, ajuda-as a crescer e dá-
lhes vigor suficiente para se tornarem “árvores” frondosas e saudáveis de acordo
com sua “espécie”, isto é, segundo sua própria vocação.