Revista Unicatólica Saúde

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 77

Chanceler

Dom Angelo Pignoli

Reitor
Manoel Messias de Sousa

Vice-Reitor
Renato Moreira de Abrantes

Pró-reitor de Graduação e Extensão


Marcos Augusto Ferreira Nobre

Pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa


Marcos James Chaves Bessa

Núcleo de Publicação
Stânia Nágila Vasconcelos Carneiro – Coordenação
Manoel Miqueias Maia – Suporte de TI
Wendel de Sousa Nogueira – Normalização

Revisão Ortográfica e Gramatical da Língua Portuguesa


Lívia Maria Pessoa Nobre

Tradução para Língua Inglesa


Gisele Andrade Pereira

Bibliotecário Responsável
Vasco Robson Soares Correia (CRB 3/1313)

Capa e diagramação
Manoel Miqueias Maia

Financiamento
Centro Universitário Católica de Quixadá

EDITORA CHEFE EDITORA ASSOCIADA


Dra. Stânia Nágila Vasconcelos Carneiro Dra. Huana Carolina Cândido Morais

CONSELHO EDITORIAL

Dr. Abrahão Cavalcante Gomes de Souza Carvalho Dr. José Carlos Pettorossi Imparato
Centro Universitário Christus, Fortaleza, Ceará, Brasil Universidade de São Paulo, São Paulo;
Faculdade São Leopoldo Mandic, Campinas, São Paulo, Brasil
Dra. Anamaria Cavalcante e Silva
Centro Universitário Christus, Fortaleza, Ceará, Brasil Dr. Leandro Pereira de Moura
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, São Paulo, Brasil
Dr. Carlos Eduardo de Azevedo Souza
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Ceará, Brasil Dr. Marcílio Sampaio dos Santos
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Ceará, Brasil
Dra. Cristiana Brasil Almeida Rebouças
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Ceará, Brasil Dr. Mario A. Secchi
Instituto Universitário Italiano, Rosário, Santa Fé, Argentina
Dra. Daniele Mendes Guizoni
Universidade Estadual Paulista, São Paulo, São Paulo, Brasil Dr. Nicolás Rodríguez León
Instituto Universitário Italiano, Rosário, Santa Fé, Argentina
Dr. Eduardo Rigoti
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Dr. Ricardo Freitas Dias
Natal, Rio Grande do Norte, Brasil Universidade de Pernambuco, Petrolina, Pernambuco, Brasil

Dr. Francisco José Félix Saavedra Dr. Rodrigo Augusto Dalia


Universidade de Trás-os-Montes & Alto Douro, Vila Real, Portugal Centro Universitário Hermínio Ometto de Araras,
Araras, São Paulo, Brasil
Dra. Jamaira Aparecida Victorio
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, São Paulo, Brasil Dr. Romeu Duarte Mendes
Universidade de Trás-os-Montes & Alto Douro, Vila Real, Portugal
Dr. João Paulo Reis Gonçalves Moreira Brito
Instituto Politécnico de Santarém, Rio Maior, Santarém, Portugal Dr. Tanes Iamamura de Lima
Universidade de São Paulo, São Paulo, São Paulo, Brasil
Dr. José Carlos Bernardino Carvalho Morgado
Instituto de Educação e Psicologia, Dr. Victor Manuel Machado de Ribeiro dos Reis
Campus de Gualtar, Braga, Portugal Universidade de Trás-os-Montes & Alto Douro, Vila Real, Portugal

Dra. Zélia Ferreira Caçador Anastácio


Universidade do Minho, Campus de Gualtar, Braga, Portugal

CONTATO Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Núcleo de Publicação Revista Expressão Católica Saúde / Centro Universitário Católica de Quixadá / v. 2, n.
Centro Universitário Católica de Quixadá. Rua Juvêncio Alves, 660, 1, jan./jul. 2017. Quixadá (CE): Unicatólica, 2018.
Centro, CEP 63.900-257, Quixadá(CE), Brasil
Telefone: (88) 3412-6740 Semestral
E-mail: [email protected]
ISSN: 2526-964X (versão online)

1. Ciências da Saúde - Periódico. 2. Centro Universitário Católica de Quixadá. I. Título.


1
CDD - 610
EDITORIAL

O Centro Universitário Católica de Quixadá – UNICATOLICA publica a


Revista Expressão Católica Saúde com o intuito de oferecer aos professores,
alunos, pesquisadores e profissionais da saúde a oportunidade de divulgar e
disseminar seus conhecimentos, novos conceitos e descobertas, junto à
comunidade acadêmica local, regional e nacional.
Os 10 artigos que compõem esta edição agrupam diferentes profissionais
e temáticas não só da Unicatólica, mas de outras IES, os quais possuem
interesses similares, como por exemplo a necessidade de refletir acerca do
papel do preceptor de enfermagem e do psicanalista nos estágios
supervisionados de enfermagem e psicologia, respectivamente. Ou a
necessidade de avaliar a satisfação dos usuários atendidos por acadêmicos,
como na discussão sobre o atendimento no complexo odontológico.
Mostra-se como uma ferramenta de divulgação de resultados de
pesquisas realizadas no interior do Ceará, como a estratégia educativa
realizada em Quixeramobim e a reflexão sobre o papel do fisioterapeuta de
Aracoiaba. Ademais, a revista transforma-se em um veículo de divulgação para
pesquisadores externos, retratando realidades dos serviços de saúde de outras
cidades do Estado do Ceará como Fortaleza, Aracati e Maracanaú, e de
conhecimento teórico para embasar a prática farmacológica.
Assim, apesar de abranger conhecimentos diferentes, servirá
coletivamente para a edificação de um produto científico fundamentado na ética
e nos princípios da interdisciplinaridade, empregada numa visão abrangente e
apropriada para intervir e transformar a realidade.
Agradecemos a todos: pesquisadores, docentes e discentes internos e
externos, que colaboraram com a escrita deste exemplar. Sejam bem-vindos e
participem da continuidade deste projeto comprometido com a evolução das
Ciências da Saúde.

Profa. Dra. Huana Carolina Cândido Morais


Editora associada
RECS

2
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X.

ATUAÇÃO DO FISIOTERAPEUTA NA PROMOÇÃO DA SAÚDE


NA PERSPECTIVA DA POLÍTICA NACIONAL DA ATENÇÃO
BÁSICA NO MUNICÍPIO DE ARACOIABA – CEARÁ

João Paulo Alencar Vieira RESUMO


Mariza Maria Barbosa Carvalho
Maria Udete Facundo Barbosa A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) apresenta diretrizes para orientar
Jean Barbosa Raulino da Silva a produção de saúde, com foco na promoção da saúde e na prevenção de
Karine Maria Martins Bezerra doenças. Dessa forma, passa a ser demandado um novo tipo de profissional de
Carvalho saúde, autônomo, crítico, reflexivo, capaz de conceber saúde como um complexo
bem-estar físico, mental e social. O objetivo desse estudo foi analisar a atuação
do fisioterapeuta na promoção de saúde na perspectiva da PNAB no município
de Aracoiaba-Ce. Trata-se de um estudo de natureza qualitativa, descritivo e
exploratório. Os participantes do estudo foram todos os fisioterapeutas envolvidos
com o trabalho no Núcleo de Apoio a Saúde da Família - NASF de Aracoiaba-Ce.
Esses participantes são do sexo feminino, com idade média de 34 anos, pós-
graduados e com tempo médio de cinco anos de trabalho no município. As
informações foram analisadas utilizando-se da técnica do Discurso do Sujeito
Coletivo (DSC) de Lefévre. Os resultados apontaram onze DSC, a partir dos
quais, percebeu-se que os fisioterapeutas de Aracoiaba-Ce acolhem os usuários
encaminhados pela atenção terciária e pelas equipes de saúde da família por
meio de avaliação fisioterapêutica não criteriosa, centrado na doença. Concluiu-
se que a atuação desses profissionais ainda está distante do que preconiza a
PNAB, embora já se apresentem algumas iniciativas, ainda tradicionais, de
promoção da saúde e prevenção terciária. Sugere-se o investimento na educação
permanente dos fisioterapeutas e/ou outros profissionais de saúde para o
incremento das ações em saúde de Aracoiaba-Ce, com vistas ao atendimento
das necessidades de saúde da população, sobretudo no campo da promoção da
saúde.
PALAVRAS-CHAVE: Fisioterapia. Promoção da Saúde. Sistema Único de
Saúde.

ROLE OF PHYSIOTHERAPISTS IN HEALTH PROMOTION IN


THE NATIONAL POLICY OF BASIC ATTENTION PERSPECTIVE
IN THE CITY OF ARACOIABA-CEARÁ
ABSTRACT

The National Policy of Basic Attention (PNAB) presents guidelines to conduct the
health production, focusing on health promotion and disease prevention. Hence,
a new type of health professional is required, being autonomous, critical, reflexive,
and capable of conceiving health as a complete physical, mental and social well-
being. This study aimed at analyzing the role of physiotherapists in health
promotion according to the National Policy of Basic Attention perspective in the
city of Aracoiaba-Ce. It is a qualitative, descriptive and exploratory study. The
study participants were all physiotherapists involved with work at the Family Health
Support Center (NASF), from Aracoiaba-Ce. The participants are female, with the
medium age of 34 years, postgraduate and with an average working life of five
years in the city. The information was analyzed using the Discourse of the
Collective Subject (DSC) technique of Lefévre. The results indicated eleven DSC,
from which it was observed that the physiotherapists from Aracoiaba-Ce welcome
the users sent by tertiary care and by the family health teams through non-
Enviado em: 11/01/2018 judgmental, disease-centered physical therapy evaluation. It is concluded that the
Aceito em: 10/04/2018
role of the professionals is still far from what it is indicated by PNAB, however
Publicado em: 30/04/2018
some initiatives of health promotion and tertiary prevention, still traditional, are
already presented. It is suggested more investment in continuing education of
physiotherapists and/or other health professionals to the help with health actions
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

in Aracoiaba-Ce, in face of health needs of the KEYWORDS: Physiotherapist. Health Promotion.


population, especially concerning health promotion. Unified Health System.

1 INTRODUÇÃO fonoaudiólogo e um (01) nutricionista. O NASF de


Aracoiaba, modalidade um (01), foi implantado no ano
de 2008, por meio da portaria ministerial n° 154 de 24 de
Com a promulgação da Constituição Federal de Janeiro de 2008. É responsável por 10 (dez) equipes de
1988 e a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), Saúde da Família, cobrindo, portanto, uma população de
resultado da participação de inúmeros atores da aproximadamente vinte e seis mil habitantes. Os
sociedade e movimentos sociais como a reforma serviços assistenciais de Fisioterapia em Aracoiaba são
sanitária, a saúde passou a ser um direito de todos e compostos por um conjunto de ações que envolvem
dever do Estado (BRASIL, 2012). basicamente atendimentos ambulatoriais e de
A nova Política Nacional de Atenção Básica assistência fisioterápica domiciliar, para pacientes
(PNAB) foi aprovada mediante a portaria do Gabinete incapacitados de se dirigirem ao local de atendimento.
Ministerial (GM) nº 2.488 de 21 de outubro de 2011, Diante desse contexto, surgiram algumas
estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a indagações: Como está sendo a atuação do
organização da Atenção Básica, para a Estratégia Saúde fisioterapeuta na atenção básica à saúde da população
da Família (ESF) e o Programa de Agentes Comunitários em Aracoiaba? A sua prática está em consonância com
de Saúde (BRASIL, 2010). o preconizado na política nacional de atenção básica? O
A PNAB é a responsável por orientar e organizar que precisa ser melhorado? Que reflexões podemos
todas as ações desenvolvidas nesse nível de atenção à construir para alcançar esse objetivo?
saúde repercutindo e influenciando todo o sistema de O interesse por esse estudo surgiu da
saúde. Aborda de forma clara e contundente os seus necessidade de conhecer a atuação dos profissionais de
princípios e diretrizes. Trata da forma de financiamento Fisioterapia no município de Aracoiaba, localizado na
e responsabilidades das três esferas de governo, microrregião maciço de Baturité, Estado do Ceará, sob o
infraestruturas das Unidades Básicas de Saúde (UBS), olhar da PNAB e por considerar importante a atuação do
da importância da educação permanente das equipes de fisioterapeuta na atenção básica a saúde, embora essa
atenção básica, atribuições e responsabilidades de cada profissão possua uma gênese curativista e reabilitadora.
profissional, especificidades do ESF, atenção básica, Desse modo, o presente trabalho foi motivado pela
dos Núcleos de Apoio a Saúde Família (NASF), necessidade de analisar a maneira pela qual os
programa saúde na escola, da implantação de novas fisioterapeutas atuam na atenção básica a saúde,
UBS, etc. Portanto, ela proporciona a todos os observando se esse proceder está em consonância com
profissionais e atores da saúde as bases para atuação PNAB. Os objetivos desse estudo foram analisar a
nesse estágio de atenção a saúde (BRASIL, 2012). atuação do fisioterapeuta na promoção de saúde na
Segundo Brasil (2010), com o surgimento dos perspectiva da Política Nacional da Atenção Básica no
NASF, os municípios brasileiros passaram a aderir à município de Aracoiaba-CE e desvelar as ações da
proposta governamental seguindo o critério Fisioterapia na atenção básica em saúde no município
populacional, de modo que o NASF 1 deve estar de Aracoiaba-CE.
vinculado a, no mínimo, 8 (oito) Equipes de Saúde da 2 MÉTODO
Família e no máximo 15 (quinze) equipes de Saúde da
Família e/ou equipes de atenção básica para populações De natureza qualitativa, descritivo e exploratório.
específicas. Excepcionalmente, nos municípios com A pesquisa qualitativa não se preocupa com
menos de 100.000 habitantes dos Estados da Amazônia representatividade numérica, mas sim, com o
Legal e Pantanal Sul Mato-grossense, cada NASF 1 aprofundamento da compreensão de um grupo social, de
poderá realizar suas atividades vinculado a, no mínimo, uma organização (SILVEIRA; CÓRDOVA, 2009). O
5 (cinco) e no máximo 9 (nove) equipes. estudo foi realizado no município de Aracoiaba-CE
Ainda segundo Brasil (2010), o NASF 2 deve situado no maciço de Baturité, Ceará. Segundo dados
realizar suas atividades vinculado a, no mínimo, 3 (três) apresentados pelo o Instituto Brasileiro de Geografia e
equipes de Saúde da Família e no máximo 7 (sete) Estatística (IBGE) no ano de 2014, Aracoiaba possuía
equipes de saúde da família. Dessa forma, poder-se-á uma população de 26.062 habitantes e uma área
oferecer à população e aos outros profissionais de saúde territorial de 656,597 Km² e densidade demográfica de
que não fazem parte da equipe saúde da família, um 38,68 habitantes/Km². Essa pesquisa foi realizada no
serviço de saúde que tem como objetivo fundamental ano de 2014.
oferecer apoio matricial à Estratégia Saúde da Família e Incluiu-se como participantes desta pesquisa
que oportuniza a esses profissionais desenvolver o todos os profissionais fisioterapeutas que atuavam no
trabalho, sobretudo, na promoção da saúde às NASF da cidade de Aracoiaba-CE. O estudo apresentou
populações do território adscrito. caráter censitário, considerando-se que todos os
De acordo com Melo (2014), este município está fisioterapeutas, que são cinco, participaram do estudo.
situado na microrregião do maciço de Baturité;
caracteriza-se como sendo de pequeno porte, implantou
o NASF tipo I, composto por cinco (05) fisioterapeutas,
um (01) psicólogo, um (01) educador físico, um (01)
4
Silva, Carvalho, Barbosa, Vieira e Carvalho
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

O instrumento de coleta das informações foi um


questionário semi-estruturado, adaptado pelos "Eu acolho os usuários na unidade NASF de
pesquisadores, contendo questões referentes aos dados Aracoiaba através de encaminhamentos
sócio-demográficos e questões abertas referentes ao DSC 3 realizados pelo hospital e postos de saúde
assim como de médicos e enfermeiros do
trabalho do fisioterapeuta no âmbito da promoção de PSF.”
saúde, sendo norteadas pela PNAB.
As informações foram analisadas utilizando-se
da técnica do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC)
baseado em Lefevre. O DSC é um discurso síntese De acordo com a Política Nacional de Atenção
elaborado com pedaços de discursos de sentido Básica (2012), o acolhimento dos usuários deve ser
semelhante reunidos num só discurso (LEFEVRE; realizado mediante escuta qualificada das necessidades
LEFEVRE, 2014). de saúde, procedendo à primeira avaliação
Ainda para o autor supracitado, a técnica (classificação de risco, avaliação de vulnerabilidade,
consiste basicamente em analisar o material verbal coleta de informações e sinais clínicos) e identificação
coletado em pesquisas que tem depoimentos como sua das necessidades de intervenções de cuidado,
matéria-prima, extraindo-se de cada um destes proporcionando atendimento humanizado, o qual pode
depoimentos as Ideias Centrais ou Ancoragens e as ser compreendido como a observância das realizações
suas correspondentes Expressões Chave. Com as de práticas em saúde que vão além do aspecto tecnicista
Ideias Centrais/Ancoragens e Expressões Chave e biopatológico do indivíduo. Trata-se de uma
semelhantes compõe-se um ou vários discursos-síntese abordagem integral a qual leva em consideração a
que são os Discursos do Sujeito Coletivo. dimensão social, cultural, política, econômica, espiritual
Este estudo foi realizado mediante aprovação do das pessoas e etc., responsabilizando-se pela
Comitê em Pesquisa da Faculdade Católica Rainha do continuidade da atenção e viabilizando o
Sertão e está construído considerando os princípios da estabelecimento do vínculo.
Bioética em conformidade com a resolução 466/12 do Conforme podemos perceber nos DSC, os
Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta as participantes do presente estudo concebem o ato de
pesquisas envolvendo seres humanos, com o parecer n° acolher o paciente, que é encaminhado ao NASF de
672.504, atribuindo dessa forma livre arbítrio aos sujeitos Aracoiaba, para serviços de Fisioterapia, por meio da
de participarem ou não do estudo em questão. realização de uma avaliação terapêutica não muito
criteriosa, pela enorme demanda de pacientes, seguida
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO da elaboração de um plano de tratamento adequado a
Para a consecução deste trabalho, acerca da cada patologia, estabelecendo desta forma uma postura
atuação do fisioterapeuta na promoção de saúde sob a imparcial frente a esses pacientes, detendo-se à
perspectiva da Política Nacional de Atenção Básica no patologia.
município de Aracoiaba-Ceará, foi elaborado um rol de O profissional deve escutar a queixa, os medos
cinco questões discursivas, as quais tiveram a finalidade e as expectativas, identificar os riscos e a
de desvelar o conhecimento desta atuação vulnerabilidade, acolhendo também a avaliação do
fisioterapêutica, possibilitando-nos assim a elaboração próprio usuário, e se responsabilizar para dar uma
de discussões e reflexões sobre este tema. resposta ao problema, de tal modo, que deixa de ser uma
A primeira pergunta, interpela os sujeitos da ação pontual e isolada dos processos de produção de
pesquisa sobre: "Como é realizado o acolhimento dos saúde e se multiplica em inúmeras outras ações, que,
usuários na unidade NASF de Aracoiaba que são partindo do complexo encontro entre o sujeito
encaminhados ao serviço de Fisioterapia?" profissional de saúde e o sujeito demandante,
Mediante análise dos dados, obtivemos três possibilitam que sejam analisados: o ato da escuta e a
produção de vínculo como ação terapêutica; as formas
discursos que indicam como o acolhimento é realizado
de organização dos serviços de saúde; o uso ou não de
no contexto em estudo:
saberes e afetos, para a melhoria da qualidade das
ações de saúde, e o quanto esses saberes e afetos estão
"Eu acolho os usuários na unidade NASF de
Aracoiaba que são encaminhados ao serviço a favor da vida; a humanização das relações em serviço,
de Fisioterapia, por meio de uma avaliação etc. (BRASIL, 2010).
DSC 1 A atuação desses profissionais, participantes do
terapêutica do paciente, porém trata-se de
uma avaliação não muito criteriosa, devido a estudo, parecem estar pautadas em ações tecnicistas,
grande quantidade de pacientes." aos moldes do modelo biomédico-curativista-
reabilitador, baseados no modelo flexineriano.
Valorizam, sobretudo a técnica e a patologia, como
"Eu acolho os usuários que são vemos na ideia central: "É realizado tratamento de
encaminhados ao serviço de Fisioterapia na
acordo com a patologia e a necessidade do paciente."
Unidade NASF de Aracoiaba por meio da
DSC 2 elaboração de um plano de tratamento, Esquecem, porém, que esse "paciente" não se resume
conforme a necessidade do paciente, de apenas a um segmento de seu corpo, mas, trata-se de
modo que esse tratamento seja adequado. um cidadão que está inserido em um contexto social,
Geralmente, o tratamento é de dez ou mais político e econômico, o qual influencia o seu estado de
sessões, dependendo da patologia." saúde. Daí a importância desses profissionais realizarem
um atendimento mais humanizado, mudando, pois, o
foco de sua atuação, ou seja, dando mais prioridade ao
sujeito do que a patologia.
5
Silva, Carvalho, Barbosa, Vieira e Carvalho
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

A segunda pergunta do questionário abordou interação dinâmica entre saberes. “No projeto
sobre: "como é desenvolvido o trabalho interdisciplinar e interdisciplinar não se ensina, nem se aprende:
em equipe, integrando áreas técnicas e profissionais de vive-se, exerce-se”. Ela deve ser entendida
diferentes formações na solução de problemas de saúde também como uma atitude de permeabilidade
dos indivíduos que utilizam o serviço de Fisioterapia na aos diferentes conhecimentos que podem
unidade NASF de Aracoiaba?" auxiliar o processo de trabalho e a efetividade do
Mediante análise dos materiais, obtivemos dois cuidado num determinado momento e espaço.
discursos: Complexidade, por sua vez, tem sido a palavra
mais empregada para caracterizar o panorama mundial
"Eu realizo trabalho interdisciplinar e em e os problemas que nele se apresentam (VILELA;
equipe, integrando áreas técnicas e MENDES, 2003).
profissionais de diferentes formações na Logo, os inúmeros problemas de saúde, que
solução de problemas de saúde dos estão a surgir diariamente, nas sociedades de todo o
indivíduos que utilizam o serviço de mundo, não podem ser resolvidas com um olhar
DSC 1 Fisioterapia na unidade NASF de Aracoiaba, meramente biocêntrico. Tal pensamento mostra-se
e para tal realizo atendimentos que
retrógado e insipiente. Poder-se-á resolve-los com um
envolvem dois ou mais profissionais ao
mesmo tempo, dependendo da patologia, olhar mais abrangente, do qual seja capaz de conceber
como por exemplo, fono e fisio, de tal modo o ser humano como um ser integral, constituído por
que o atendimento é facilitado." várias dimensões, não somente biológica, mas um ser
físico, social e psíquico, inserido em ambiente sócio-
político-econômico, muitas vezes selvagem bem como
"Eu realizo trabalho interdisciplinar e em gerador de iniquidades sociais e problemas de saúde.
equipe, integrando áreas técnicas e O reconhecimento da multidimensionalidade do
profissionais de diferentes formações na ser humano e a necessidade de intervenções cada vez
solução de problemas de saúde dos
mais complexas no contexto do trabalho em saúde
indivíduos que utilizam o serviço de
Fisioterapia na unidade NASF de Aracoiaba, impõem uma abordagem interdisciplinar, uma vez que
através de discussões de casos, trocas de um profissional isoladamente não conseguirá dar conta
experiências e interações, quando de todas as dimensões do cuidado humano (MATOS;
DSC 2 PIRES, 2009).
necessário, com os demais profissionais, por
estarmos bem próximos uns dos outros, e A atuação interdisciplinar neste caso deve ser
dessa forma, buscamos uma melhoria no maximizada e potencializada, por meio de outras ações
tratamento, de tal maneira que acaba como: visitas multiprofissionais aos usuários internados,
beneficiando o usuário pelo fato de possibilitando uma visão mais global do paciente e o
conversarmos sobre sua patologia, fazendo
estabelecimento de condutas mais adequadas às
assim o melhor por ele e para o seu bem-
estar." necessidades desse indivíduo, reuniões com familiares
para a discussão de propostas de tratamentos, ajustes
Trabalhar de forma multiprofissional, de condutas profissionais, esclarecimentos sobre a
interdisciplinar e em equipe, realizando a gestão do evolução da doença e apoio aos familiares, sala de
cuidado integral dos usuários e coordenando-o no espera, formação de grupos de estudo, etc., tornado
conjunto da rede de atenção, contando com a presença essas e outras ações, de cunho interdisciplinar, um
de diferentes formações profissionais, assim como um hábito profissional, uma constante no trabalho e não uma
alto grau de articulação entre os profissionais, é possibilidade ou eventualidade.
essencial, de forma que não só as ações sejam A pergunta de número três, contida no
compartilhadas, mas também tenha lugar um processo questionário semi-estruturado deste estudo, por sua vez,
interdisciplinar, no qual progressivamente os núcleos de abordou sobre: "Que ações são realizadas pela
competência profissionais específicos vão enriquecendo Fisioterapia domiciliar e nos demais espaços
o campo comum de competências, ampliando, assim, a comunitários (escolas, associações, igrejas, pastorais e
capacidade de cuidado de toda a equipe. Essa etc)? Qual a frequência dessas ações?
organização pressupõe o deslocamento do processo de
trabalho centrado em procedimentos, profissionais para "Eu realizo ações de Fisioterapia a nível
um processo centrado no usuário, no qual o cuidado do domiciliar e nos demais espaços
usuário é o imperativo ético-político que organiza a comunitários por meio de promoção e
prevenção de saúde tais como formação de
intervenção técnico-científica (BRASIL, 2012).
grupo de idosos, Programa Saúde na
Conforme afirma Brasil (2010, p.18), Escola, assim como palestras, reuniões e
interdisciplinaridade é: sala de espera no NASF que consistem em
DSC 1
informações e orientações sobre cada caso
o trabalho em que as diversas ações, saberes e
e cada patologia bem como de orientações
práticas se complementam. Disciplinas implicam posturais e alongamentos posturais, sendo
condutas, valores, crenças, modos de realizadas duas a três vezes por mês, além
relacionamento que incluem tanto modos de de procurar lembrar das principais datas de
relacionamento humano quanto de modos de saúde (tabagismo, câncer de mama)".
relação entre sujeito e conhecimento. O prefixo
“inter” indica movimento ou processo instalado
tanto “entre” quanto “dentro” das disciplinas. A
interdisciplinaridade envolve relações de
6
Silva, Carvalho, Barbosa, Vieira e Carvalho
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

com saúde, como por exemplo com doenças


"Eu desenvolvo ações de Fisioterapia a nível como Hanseníase e Tuberculose."
domiciliar e nos demais espaços
DSC 2
comunitários sempre que o paciente está
precisando, sendo que estas visitas ocorrem
uma vez por semana."
Ao refletir os graus de mobilização, organização
e da consciência dos direitos, alcançados pela
Segundo Coffito (2014), o fisioterapeuta presta sociedade nos anos 1980, a Constituição Federal
assistência ao ser humano, tanto no plano individual consagrou a participação da comunidade, ao lado da
quanto coletivo, participando da promoção, prevenção descentralização e da integralidade, como diretriz da
de agravos, tratamento e recuperação da sua saúde e rede regionalizada e hierarquizada que constitui o SUS
qualidade de vida. Portanto, estas atribuições (BRASIL, 2011).
profissionais estão em consonância com o novo conceito Dessa forma, a participação social na área da
mundial de saúde. saúde foi concebida na perspectiva do controle social no
Conforme a Política Nacional de Atenção Básica sentido de os setores organizados na sociedade civil
(2012), atenção à saúde deve ser realizada na Unidade participarem desde as suas formulações - planos,
Básica de Saúde, no domicílio, em locais do território programas e projetos –, acompanhamento de suas
(salões comunitários, escolas, creches, praças etc.) e execuções, até a definição da alocação de recursos para
em outros espaços que comportem a ação planejada, que estas atendam aos diversos interesses da
desenvolvendo dessa forma intervenções que priorizem sociedade.
os grupos de risco e os fatores de risco clínico- Dentre os princípios e diretrizes gerais da
comportamentais, alimentares e/ou ambientais, com a Política Nacional de Atenção Básica (2012),
finalidade de prevenir o aparecimento ou a persistência encontramos, pois, o princípio da participação popular.
de doenças e danos evitáveis em dada sociedade. Visando estimular a participação dos usuários como
Nos DSC, ora obtidos por meio de análises, forma de ampliar sua autonomia e capacidade na
podemos perceber que há um certo esforço na direção construção do cuidado à sua saúde e das pessoas e
da realização de ações contidas no rol das promoções e coletividades do território, no enfrentamento dos
prevenções em saúde por parte desses profissionais, determinantes e condicionantes de saúde, na
não na sua essência, que escapam um pouco daquele organização e orientação dos serviços de saúde a partir
ultrapassado pensamento meramente curativista- de lógicas mais centradas no usuário e no exercício do
reabilitador, apesar de serem ações esporádicas e controle social.
pontuais, como podemos comprovar no final do discurso Participação social, portanto, pode ser definida
do sujeito coletivo 1 "...sendo realizadas duas a três como: o controle sobre a própria situação e sobre o
vezes por mês, além de procurar lembrar das principais próprio projeto de vida, mediante a intervenção em
datas de saúde (tabagismo, câncer de mama)..." decisões, iniciativas e gestões que afetam o entorno
Com isso, podemos perceber o quão é complexo onde tal situação e projetos se desenvolvem, indo além
e abrangente o conceito de promoção de saúde, sendo do acesso coletivo à tomada de decisões (SANTOS;
que não se deve ficar restrito apenas a realização de BASTOS, 2010).
palestras, orientações e eventos de saúde em datas Logo, podemos perceber claramente uma
específicas, as quais versem sobre alguns temas tidos enorme diferença entre o sentido que é atribuído às
como pertinentes pelo terapeuta, sendo que as mesmas expressões, mobilização e participação popular em
podem apenas apresentar um caráter de transmissão de saúde, por parte dos integrantes dessa pesquisa, e o real
informações, sem apresentar, no entanto, um sentido sentido propalado pela PNAB. Para eles, entrar em
bem definido para os usuários de determinado serviço contato com os Agentes Comunitários de Saúde e dessa
de saúde, de tal modo que, tais ações acabam tornando- forma convocar a população para a participação de
se incipientes, não capazes de alterar hábitos ou estilos eventos de saúde, em datas comemorativas, significa,
de vida classificados como de risco. literalmente, promover mobilização e participação
A questão de número quatro, interpelou os popular em saúde.
entrevistados sobre: "Que estratégias a Fisioterapia, no Portanto, a mobilização e participação popular
âmbito do município de Aracoiaba, utiliza para promover em saúde está relacionada a questão de democracia,
a mobilização e participação da comunidade buscando liberdade de expressão, cidadania, direitos e deveres,
autonomia, empoderamento, etc., não a simples
efetivar o controle social?"
participação em eventos ou orientações em saúde,
"Eu entro em contato com as ACS para sendo que o fisioterapeuta deve fomentar, instigar e
convocar a comunidade para os eventos de contribuir diretamente para o pleno desenvolvimento não
saúde, datas comemorativas como o dia das só físico como também social das pessoas,
DSC 1 mães, dia da mulher, prevenção do câncer transcendendo o velho estigma de profissional
de mama assim como para comunicar a reabilitador, fazendo com que as pessoas assumam
população sobre a importância de cuidados realmente um papel de protagonista frente ao setor
com a saúde". saúde, contribuindo no seu crescimento e
desenvolvimento como política pública, seja participando
de conselhos de saúde, associações de bairros,
"Eu oriento a população sobre a prevenção
e o controle das patologias por meio de fiscalizando, ou elaborando projetos.
DSC 2
folders, cartazes, sala de espera e palestras, Deve-se desenvolver ações educativas que
divulgando assim a importância do cuidado possam interferir no processo de saúde-doença da
7
Silva, Carvalho, Barbosa, Vieira e Carvalho
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

população, no desenvolvimento de autonomia, individual NASF, e após esse encaminhamento-acolhimento, dá-


e coletiva, e na busca por qualidade de vida pelos se a elaboração da avaliação e plano de tratamento; foi
usuários (BRASIL, 2012). possível perceber que a atuação desses profissionais
Outra questão aplicada aos participantes foi: "No aponta para uma certa ação interdisciplinar, ainda
tocante ao cuidado familiar e dirigido às coletividades e tímida.
grupos sociais fale sobre as intervenções que a A mobilização popular para o controle social é
Fisioterapia realiza para interferir no processo saúde - entendida como a forma de entrar em contato com os
doença desses indivíduos, visando melhorar os índices Agentes Comunitários de Saúde e dessa forma convocar
de saúde da população de Aracoiaba". a população para a participação de eventos de saúde,
Ao analisarmos esta questão obtivemos como em datas comemorativas. A participação social adota o
resultado dois DSC, os quais constam a seguir. simples sentido de participação em eventos de saúde,
ou orientações de saúde, adotando assim um conceito
"Eu realizo palestras educativas, distorcido da realidade. As intervenções que a
DSC 1 panfletagem, reuniões e orientações a Fisioterapia realiza para interferir no processo saúde -
população sobre atividades visando os doença desses indivíduos, visando melhorar os índices
temas e datas comemorativas". de saúde da população de Aracoiaba, restringem-se
apenas a realização de palestras educativas,
"Eu realizo reuniões de orientação de
atividades aos pacientes, assim como panfletagem, reuniões e orientações a população sobre
reuniões de orientação familiar e com os atividades visando os temas e datas comemorativas.
DSC 2 cuidadores dos pacientes, orientando os Portanto, após o exposto, vemos que atuação da
mesmos na maneira correta de manusear os Fisioterapia no município de Aracoiaba deve ser
pacientes, no dia a dia, bem como darem ampliada, exercendo assim um enorme papel
continuidade ao tratamento proposto". profissional e social, tendo em vista a vasta gama de
ações que podem ser executadas, como acabamos de
De acordo com a Política Nacional de Atenção ver, não restingindo-se apenas ao que fora dito nos
Básica (2012), deve-se desenvolver ações educativas discursos aqui apresentados, sendo que, se assim
que possam interferir no processo de saúde-doença da proceder conseguir-se-á um enorme reconhecimento
população, no desenvolvimento de autonomia, individual popular, deixando um pouco de lado a velha
e coletiva, e na busca por qualidade de vida pelos estereotipação de profissional curativista e reabilitador.
usuários, priorizando os grupos de risco e os fatores de Dessa forma, considerou-se que a atuação
risco clínico-comportamentais, alimentares e/ou desses profissionais ainda está distante do que
ambientais, com a finalidade de prevenir o aparecimento preconiza a PNAB, embora já se apresentem algumas
ou a persistência de doenças e danos evitáveis. iniciativas, ainda tradicionais, de promoção da saúde e
Promover, pois, a qualidade de vida e reduzir prevenção terciária. Sugere-se o investimento na
vulnerabilidade e riscos à saúde relacionados aos seus educação permanente dos fisioterapeutas e/ou outros
determinantes e condicionantes – modos de viver, profissionais de saúde para o incremento das ações em
condições de trabalho, habitação, ambiente, educação, saúde de Aracoiaba-Ce, com vistas ao atendimento das
lazer, cultura, acesso a bens e serviços essenciais é reais necessidades de saúde da população, sobretudo
primordial para o estabelecimento de saúde nas no campo da promoção da saúde.
populações (BRASIL, 2005).
Segundo a Carta de Ottawa (1986), para que REFERÊNCIAS
alcancemos um nível satisfatório de saúde devemos
buscar constantemente a elaboração e implementação BRASIL. Constituição da República Federativa do
de políticas públicas saudáveis, criar ambientes Brasil de 1988. Brasília: Câmara dos Deputados, 2012.
favoráveis a saúde, desenvolver as competências BRASIL, A. C. O. et.al. O papel do fisioterapeuta do
pessoais, reforçar a ação comunitária e reorientar os programa saúde da família do município de Sobral-
serviços de saúde. Ceará. Revista Brasileira em Promoção da Saúde,
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Fortaleza, v.18, n. 1, p. 3-6, dez. 2005.
BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de Atenção
Os sujeitos do presente estudo concebem o ato Básica: Diretrizes do Núcleo de Apoio a Saúde da
de acolher o paciente, que é encaminhado ao NASF de Família. Brasília: Ministério da Saúde, 2010.
Aracoiaba para serviços de Fisioterapia, por meio da
realização de uma avaliação terapêutica não muito ______. PNAB: Política Nacional de Atenção Básica.
criteriosa, pela enorme demanda de pacientes, seguida Brasília: Ministério da Saúde, 2012.
da elaboração de um plano de tratamento adequado a
cada patologia, estabelecendo desta forma, uma postura ______. Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia
imparcial frente a esses pacientes, detendo-se a Ocupacional: Código de Ética e Deontologia da
patologia. Fisioterapia. Disponível em: <http://www.coffito.org.br>.
A Atuação dos fisioterapeutas participantes Acesso em: 26 abr. 2014.
deste estudo está pautada em ações tecnicistas, aos
moldes do modelo biomédico-curativista-reabilitador,
baseados no modelo flexineriano, valorizam, sobretudo CARTA DE OTTAWA: Promoção da saúde nos
a técnica e a patologia. países industrializados: 1ª Conferência Internacional
O acolhimento é entendido como o ato de sobre Promoção da Saúde. Ottawa, Canadá, 17-21 de
receber aqueles pacientes que são encaminhados ao Novembro de 1986. Disponível
8
Silva, Carvalho, Barbosa, Vieira e Carvalho
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

em:<http://www.dgidc.min-
edu.pt/educacaosaude/index.php?s=directorio&pid=96> Maria Udete Facundo Barbosa
. Acesso em: 19 mar. 2014. Centro Universitário Católica de Quixadá, Brasil
LEFEVRE, F. LEFEVRE, A. M. C. O Discurso do Graduada em Fisioterapia pela Faculdade Católica
Sujeito Coletivo e os depoimentos obtidos em Rainha do Sertão de Quixadá - Ceará (2008). Mestre em
grupo. Disponível em: <www.fsp.usp.br>. Acesso em: Ensino na Saúde, pela Universidade Estadual do Ceará
09 abr. 2014. - UECE, Docente do Centro Universitário Católica de
MATOS, E.; PIRES, D. E. P. Práticas de cuidado na Quixadá.
perspectiva interdisciplinar: um caminho promissor.
Rev. enfermagem, Florianópolis, v. 18, n. 2, p. 338-346, E-mail: [email protected]
abr./jul. 2009.
Jean Barbosa Raulino da Silva
MELO, I. K. S. Entrevista sobre os serviços de saúde Prefeitura Municipal de Aracoiaba, Brasil
pública no município de Aracoiaba-Ceará,
concedida ao pesquisador. Aracoiaba, 15 abr. 2014. Graduado em Fisioterapia pela Faculdade Católica
Rainha do Sertão.
______. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro.
Portaria nº 2.488, de 21 de outubro de 2011. Aprova a E-mail: [email protected]
Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a
revisão de diretrizes e normas para a organização da Karine Maria Martins Bezerra Carvalho
Atenção Básica, para a Estratégia Saúde da Família - Centro Universitário Católica de Quixadá, Brasil
ESF e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde
Doutorado em Ciências Médicas pela Universidade
- PACS. Diário Oficial da República Federativa do
Federal do Ceará (2015). Atualmente é professora do
Brasil, Brasília, DF, 24 out. 2011.
Centro Universitário Católica de Quixadá e fisioterapeuta
SANTOS, C.C. S.; BASTO, R. L. Participação social: a do Hospital Dr. Carlos Alberto Studart Gomes - Hospital
construção da democracia na saúde brasileira. Rev. de Messejana.
brasileira em promoção de saúde, Fortaleza, v. 24, n.
E-mail: [email protected]
3, p.266-273. Jul./set. 2011.
SILVEIRA, D. T.; CÓRDOVA, F. P. A pesquisa
Científica. In: GERHARDT, T. E.; ______. Métodos de
pesquisa. Porto Alegre: UFRGS, 2009.
VILELA, E. M.; MENDES, I. J. M. Interdisciplinaridade e
saúde: estudo bibliográfico. Rev. latino-americana de
enfermagem, v. 11, n. 4, p. 525-531, jul./ago. 2003.

SOBRE OS AUTORES

João Paulo de Alencar Vieira


Clínica Reabilitar, Brasil

Graduado em Fisioterapia pelo Centro Universitário


Católica de Quixadá (2017), pós-graduando em
Fisioterapia em Terapia Intensiva pela Faculdade
Inspirar. Atualmente é Fisioterapeuta na Clínica
Reabilitar.

E-mail: [email protected]

Mariza Maria Barbosa Carvalho


Centro Universitário Católica de Quixadá, Brasil

Doutoranda em Ciências da Educação com


especialidade em Desenvolvimento Curricular pela
Universidade do Minho, Mestre em Saúde Pública pela
Universidade Estadual do Ceará-UECE, Graduada em
Fisioterapia pela Universidade de Fortaleza (1995).
Docente do curso de Fisioterapia, Psicologia e
Administração do Centro Universitário Católica de
Quixadá.

E-mail: [email protected]

9
Silva, Carvalho, Barbosa, Vieira e Carvalho
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X.

ATUAÇÃO DO FISIOTERAPEUTA NO DESMAME DA


VENTILAÇÃO MECÂNICA: UMA REVISÃO DE LITERATURA

Carlos Augusto de Souza RESUMO


Moreira
Francisca Soraya Lima Silva O fisioterapeuta é relevante nesse processo, auxiliando na condução da
Natalia Jacinto de Almeida Ventilação Mecânica (VM), desde o preparo e ajuste do VM à intubação, evolução
Leal durante esse processo, desmame do suporte ventilatório e extubação. Foi
Maria Bruna Madeiro da Silva realizada uma revisão sistemática na base de dados BIREME, acerca da Atuação
Samia Jardelle Costa de do Fisioterapeuta no desmame da VM. Estudo seccional e documental realizado
Freitas Maniva por meio de revisão sistemática da literatura disponível na BIREME. Com esta
Raimunda Rosilene revisão observou-se como se dá a atuação do Fisioterapeuta na condução do
Magalhães Gadelha desmame da VM, evidenciando os benefícios e os parâmetros ventilatórios mais
Thiago Brasileiro de utilizados objetivando o sucesso nesse processo.
Vasconcelos
PALAVRAS-CHAVE: Fisioterapia. Desmame. Ventilação mecânica.

THE ROLE OF PHYSIOTHERAPISTS IN THE WEANING FROM


MECHANICAL VENTILATION: A LITERATURE REVIEW

ABSTRACT

The physiotherapist is relevant in this process, assisting the conduction of


Mechanical Ventilation (MV), from preparation and adjustment of MV to intubation,
the evolution during such process, weaning from the ventilator support and
extubation. A systematic review was carried out on database BIREME, concerning
the role of the Physiotherapist in the weaning from MV. Sectional and documentary
study was accomplished through a systematic review of the literature available on
BIREME. Through this review, it has been observed how the role of a
physiotherapist takes place in the conduction of the weaning from MV,
emphasizing the benefits and the ventilator settings more used to achieve success
in this process.

KEYWORDS: Physiotherapist. Weaning. Mechanical Ventilation.

Enviado em: 13/01/2018


Aceito em: 09/04/2018
Publicado em: 30/04/2018
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

1 INTRODUÇÃO A apresentação dos resultados e discussão dos


dados obtidos foi feita de forma descritiva, possibilitando
O desmame da ventilação mecânica (VM) pode ao leitor a avaliação da aplicabilidade da revisão
ser definido como a transição da ventilação artificial para sistemática elaborada, de forma a atingir o objetivo
a ventilação espontânea em pacientes que desse método, ou seja, relatar sobre a atuação da
permaneceram em VM por um período superior a 24 fisioterapia no desmame da ventilação mecânica.
horas (GOLDWASSER et al., 2007). Deve-se buscar a A coleta de dados ocorreu durante o mês de
otimização dos resultados do desmame, uma vez que, fevereiro de 2015, realizada por dois pesquisadores, de
este pode interferir no desfecho clínico do paciente forma cega. Para a efetivação da busca foram usados
(MACINTYRE et al., 2001). dois fluxos de descritores, de forma combinada:
Podem ocorrer falhas no processo de desmame
da VM que na maioria das vezes são decorrentes de  Fluxo 1 - Foram utilizados dois descritores:
déficit muscular respiratório por conta da hipotrofia do "Fisioterapia" e "Desmame" associados.
diafragma ou outras complicações adversas. Quando  “Fluxo 2 - Foi utilizado o descritor “Fisioterapia” em
ocorrer insucesso no desmame no período de uma associação com “Ventilação Mecânica”.
semana, este é caracterizado como desmame difícil
(DD) (GIMENES et al., 2004; BLACKWOOD et al., 2010). Após a inclusão dos resumos foi realizada uma
Cerca de 60% a 70% dos pacientes podem ser primeira leitura exploratória. Foram desenvolvidas duas
extubados após um breve teste em ventilação planilhas: uma contendo as seguintes variáveis: autor,
espontânea (GOLDWASSER et al., 2000a). A ano de publicação, país, título, amostra, características
dificuldade no desmame reside em cerca de 5% a 30% da amostra e desfecho clínico. Assim pôde-se situar
dos pacientes, que não conseguem ser retirados do todas as variáveis estudadas, que foram resumidas, e
ventilador em uma primeira ou segunda tentativa dessa forma permitiram determinar a possibilidade de
(GOLDWASSER et al., 2000b). comparar ou não os estudos selecionados. Outra
A VM prolongada é uma realidade dentro das planilha foi composta visando descrever as intervenções
Unidades de Terapia Intensiva (UTI), podendo ocasionar propostas em cada artigo e para tanto utilizou-se das
um maior tempo de permanência hospitalar com maior variáveis: condutas adotadas, objetivos, descrição e
risco de morbidade e mortalidade (GIMENES et al., tempo da intervenção. Tais planilhas foram organizadas
2004; BLACKWOOD et al., 2010). Tal fato também pode nos quadros 1 e 2.
estar relacionado a retenção de secreção pulmonar
(BERNEY et al., 2004). Estratégias como a fisioterapia 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
respiratória, podem ajudar a eliminar a secreção
Na base de dados escolhida, no fluxo 1-
pulmonar e a prevenir complicações pulmonares,
"Fisioterapia " e "Desmame" 28 artigos foram
reduzindo o tempo de permanência na UTI
encontrados, no fluxo 2- “Fisioterapia” em associação
(NTOUMENOPOULOS et al., 2002; RIBEIRO et al.,
com “Ventilação Mecânica" 172 artigos foram
2014).
encontrados (Fluxograma 1).
A Fisioterapia faz parte do atendimento
multidisciplinar oferecido aos pacientes em UTI, tem o
Fluxograma 1 – Distribuição dos achados de acordo
objetivo de evitar complicações respiratórias e motoras
com a base virtual pesquisada.
na assistência a pacientes graves que necessitam de
suporte ventilatório. Nesta fase, o fisioterapeuta tem uma
importante participação, auxiliando na condução da
ventilação mecânica, evolução do paciente, interrupção
e desmame do suporte ventilatório e extubação. Além
disso, estudos mostram que o desmame protocolado e
guiado por fisioterapeutas reduz a duração da VM e
aumenta a taxa de sucesso no desmame (JERRE,
2007).
Deste modo, o objetivo deste estudo é realizar
uma revisão sistemática acerca da atuação do A partir da busca descrita no fluxograma 1 foram
Fisioterapeuta no desmame da VM. selecionados 8 estudos para a leitura completa, pois
tratavam sobre o objetivo do presente estudo - a atuação
2 MÉTODO do Fisioterapeuta no desmame, porém, apenas 5
atenderam aos critérios de inclusão previamente
Estudo seccional e documental realizado por estabelecidos. Dentre os artigos incluídos na revisão
meio de revisão sistemática da literatura através da sistemática 4 apresentavam no idioma português e 1 em
Biblioteca Virtual de Saúde (BIREME). Os critérios de inglês.
inclusão foram: estudos que tratassem sobre a atuação Para melhor análise dos resultados, o quadro 1
do Fisioterapeuta no desmame da ventilação mecânica, apresenta a categorização dos artigos recuperados
sendo esses temas abordados em conjunto, artigos quanto ao título, autores, ano de publicação, País,
publicados em português, inglês ou espanhol, textos cidade, amostra, características da amostra e desfecho
completos disponíveis online e datados entre 2004 a clínico.
2014. Os critérios de exclusão foram: artigos repetidos,
incompletos e que não abordassem o assunto proposto.

11 Moreira, Silva, Leal, Silva, Gadelha e Vasconcelos


Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

Quadro 1- Descrição dos artigos selecionados. Verificam-se as variáveis listadas em cada artigo: autor e ano de
publicação, país, título, amostra, características da amostra e desfecho clínico.

País- Características da Resultados


Autor e ano Título Amostra
Cidade amostra Principais
Pacientes que foram O uso combinado de
HM* combinada com
submetidos a HM* e CTE* por 5 dias
CTE* para redução do
BERTI et al., Brasil - intubação acelerou o processo
período de internação
2012 Botucatu 49 endotraqueal e VM* e de desmame e de alta
em UTI* em pacientes assim permaneceram da UTI*.
críticos sob VM*. durante 24-72 h.
Houve ganho da força
muscular inspiratória e
Influência da mobilização
Foram estudados periférica para a
precoce na força
DANTAS et Brasil - indivíduos de ambos população estudada
muscular periférica e 59
al., 2012 Recife os sexos que quando submetida a
respiratória em pacientes
estivessem em VM*. um protocolo de
críticos.
mobilização precoce
sistematizado.
Fisioterapeutas com Os fisioterapeutas têm
Caracterização de mais de seis meses de realizado estratégias
parâmetros da VM* e atuação na UTI* semelhantes entre si e
MEIRELES Brasil -
estratégias do desmame 63 adulto, independente correspondentes à
et al., 2013 Fortaleza
difícil adotados por do sexo e que literatura, mas não em
fisioterapeutas. aceitaram a participar relação aos
da pesquisa. parâmetros.
Idade superior a 18 A fisioterapia esteve
anos, de ambos os associada ao aumento
sexos, submetidos à do sucesso no
ANDERSON Brasil - Efeitos da fisioterapia no VM por mais de 24 desmame, à redução
50
et al., 2013 Curitiba desmame da VM*. horas, e colocados em do tempo de
desmame de acordo desmame, tempo de
com a decisão da VM* e de internação
equipe. na UTI*.
A presença de um
fisioterapeuta na UTI*
Eficácia da fisioterapia contribui
respiratória para reduzir decisivamente para o
a hospitalização e Avaliou todos os início da recuperação
Brasil -
CASTRO et Tempo de VM*, taxa de pacientes internados do paciente, reduzindo
São 146
al., 2013 infecção pulmonar e em UTI* de dois a necessidade de VM*,
Paulo
mortalidade em hospitais públicos. número de dias de
pacientes internados em internação, a
UTI*. incidência de infecção
respiratória e risco de
mortalidade.
*Legendas: VM = Ventilação Mecânica; UTI = Unidade de Terapia Intensiva; HM = Hiperinsuflação Manual; CTE =
Compressão Torácica Expiratória.

As Intervenções descritas nos artigos e as variáveis listadas para descrição das intervenções: condutas,
objetivos da intervenção, descrição das condutas e tempo de intervenção, estão descritas no quadro 2.

12 Moreira, Silva, Leal, Silva, Gadelha e Vasconcelos


Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

Quadro 2 – Intervenções descritas nos artigos. Demonstra as variáveis listadas para descrição das intervenções:
condutas, objetivos da intervenção, descrição das condutas e tempo de intervenção.
Objetivos da Tempo de
Autor e ano Condutas Descrição das condutas
intervenção intervenção
49 pacientes que
preencheram os critérios do Um manovacuômetro era conectado
Avaliar o efeito ao ressuscitador manual, e cada
estudo, e foram
da HM* insuflação era realizada com pressão
randomicamente alocados
combinada com de pico em vias aéreas de 40 cmH2O
nos grupos. Durante o
CTE* na Finalmente, a traqueia era aspirada
período de 5 dias, os
BERTI et al., duração de durante 15 s após cada conjunto de 1 ano
pacientes do grupo
2012 internação em respirações com HM*. A percussão e
Fisioterapia Respiratória
UTI* e no tempo a CTE* foram realizadas por um
receberam HM* combinada
de VM* em fisioterapeuta, ao passo que a HM* e a
com CTE*, enquanto os
pacientes sob aspiração foram realizadas por um
controles receberam o
VM*. enfermeiro.
tratamento padrão de
enfermagem.
Os voluntários do estudo foram
divididos em dois grupos: grupo
Avaliar os
Os pacientes do estudo fisioterapia convencional, no qual os
efeitos de um
foram divididos em grupo pacientes receberam um atendimento
protocolo de
fisioterapia convencional - diário, cinco vezes por semana, de
mobilização
grupo controle, n = 14, que mobilização passiva nos quatro
DANTAS et precoce na 2 anos
realizou a fisioterapia do membros, sendo otimizado para
al., 2012 musculatura
setor, e grupo mobilização exercícios ativo-assistidos, e grupo
periférica e
precoce, n = 14, que recebeu mobilização precoce, no qual os
respiratória de
um protocolo sistemático de pacientes receberam um protocolo de
pacientes
mobilização precoce. mobilização precoce sistematizado
críticos.
duas vezes ao dia, todos os dias da
semana.

Estudo transversal incluindo


todos os fisioterapeutas que Todos os fisioterapeutas dos referidos
atuam nas Unidades de Caracterizar as hospitais com mais de seis meses de
Terapia Intensiva adulto em principais atuação na UTI* adulto, independente
três hospitais públicos da estratégias e do sexo. Utilizou-se um questionário
cidade de Fortaleza-CE. parâmetros com perguntas de múltipla escolha, 1 ano
MEIRELES et
Utilizou-se um questionário adotados por originalmente elaboradas pelas
al., 2013
com perguntas objetivas, fisioterapeutas próprias pesquisadoras, abordando a
relacionadas ao desmame no desmame identificação e os parâmetros e
difícil da VM*, havendo itens difícil da VM*. estratégias adotadas para o desmame
com possibilidade de difícil.
respostas múltiplas.

Foram estudados 61
pacientes com idade
superior a 18 anos, de Foram estudados 50 pacientes, 31
ambos os sexos, submetidos fizeram fisioterapia (GF) e 19 não
à VM* por mais de 24 horas. Avaliar os fizeram (GC). O GF realizou dois
Um grupo recebeu o efeitos da atendimentos diários (quarenta Não
ANDERSON protocolo de atendimento fisioterapia no minutos cada), composto das técnicas: informado
et al., 2013 fisioterapêutico (grupo desmame da CTE*, HM*, aspiração traqueal e de
fisioterapia, GF) e o outro VM*. vias aéreas, movimentação e
recebeu o tratamento usual, condução do desmame. O GC
não sendo acompanhado recebeu tratamento médico usual.
pela fisioterapia (grupo
controle, GC).

13 Moreira, Silva, Leal, Silva, Gadelha e Vasconcelos


Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

Verificar se os
cuidados de
fisioterapia
Avaliou-se as diferenças
prestados no
entre um hospital onde Os pacientes foram divididos em dois
prazo de 24
pacientes receberam grupos (serviço A e 24 horas/dia;
h/dia para
atendimento fisioterápico por Serviço B e 6 h/dia). O protocolo de
pacientes
24 h/dia e outro hospital com atendimento foi similar para ambos os
internados na
apenas 6 h/dia. Foram serviços priorizando a Fisioterapia
UTI* reduz a
CASTRO et avaliados de acordo com: motora e respiratória para cada UTI*
duração da 1 mês
al., 2013 diagnóstico clínico, que admitiu paciente. Protocolo de
estadia,tempo
medicação em uso, tratamento em ambos os hospitais
de VM*,
presença de doenças consistiram em técnicas de remoção
infecção
associadas, APACHE II e do muco (endotraqueal sucção e
pulmonar e
SOFA, tempo de UTI e VM*, manual de percussão do tórax) e geral
mortalidade em
desenvolvimento de mobilização (membros superiores e
comparação
infecções pulmonares e inferiores).
com uma
sobrevivência.
assistência de
fisioterapia de 6
h/dia.
*Legendas: VM = Ventilação Mecânica; UTI = Unidade de Terapia Intensiva; HM = Hiperinsuflação Manual; CTE =
Compressão Torácica Expiratória.
Baseados nesta revisão observou-se, de acompanhamento e condução do desmame. O grupo
maneira geral, como se dá a atuação do Fisioterapeuta controle recebeu tratamento usual com procedimentos
na condução do desmame da ventilação mecânica, de aspiração traqueal, quando necessário e mudança de
evidenciando os benefícios e os parâmetros ventilatórios decúbito, realizado pela equipe de enfermagem, além do
mais utilizados objetivando o sucesso nesse processo. tratamento médico. Os autores constataram que a
Entretanto, vale considerar que a atuação do fisioterapia esteve associada ao aumento do sucesso no
Fisioterapeuta nesse processo deve ser mais estudada desmame, à redução do tempo de desmame, tempo de
com intuito de aplicar protocolos mais eficazes e VM e de internação na UTI, porém, não houve diferença
concisos. no tempo de internação hospitalar e na mortalidade.
Um estudo realizado por meio de entrevista com Outro ensaio clínico randomizado avaliou os
fisioterapeutas de diferentes hospitais mostrou que os efeitos de um protocolo de mobilização precoce na
principais parâmetros adotados para o desmame difícil musculatura periférica e respiratória de pacientes
eram: redução do volume corrente (26 - 46,4%) e críticos. Os pacientes foram divididos em dois grupos:
dessaturação durante aspiração (17 - 30,4%). grupo fisioterapia convencional e grupo mobilização
Adicionalmente, os autores afirmaram que 38 (67,9%) precoce. A força muscular periférica foi avaliada por
fisioterapeutas intercalavam pressão positiva contínua meio do Medical Research Council e a força muscular
em vias aérea (CPAP) e tubo T como estratégia adotada respiratória (dada por pressão inspiratória máxima e
no desmame difícil, e que 28 (50%) utilizavam a redução pressão expiratória máxima) foi mensurada pelo
da pressão de suporte (MEIRELES et al., 2013). manovacuômetro. Sendo assim, os autores concluíram
Um ensaio clínico randomizado realizado em que houve ganho da força muscular inspiratória e
2004, dividiu os pacientes em grupos de fisioterapia periférica para a população estudada quando submetida
respiratória e grupo controle. No grupo que realizava a um protocolo de mobilização precoce e sistematizado.
Fisioterapia respiratória eram utilizadas as técnicas de A partir desses resultados percebe-se a importância da
Hiperinsuflação Manual (HM) e Compressão Torácica mobilização precoce para o ganho de força muscular
Expiratória (CTE), o grupo controle recebeu tratamento otimizando o desmame da ventilação mecânica e
padrão de enfermagem. O principal resultado deste reduzindo o tempo de internação (DANTAS et al., 2012).
estudo evidenciou que o uso combinado de HM e CTE Um estudo de coorte que comparou o desfecho
por 5 dias acelerou o processo de desmame e de alta da de pacientes de duas UTI’s de dois hospitais, onde em
UTI. Deste modo pode-se perceber a importância das uma UTI havia Fisioterapeuta seis horas por dia e na
técnicas realizadas pelo fisioterapeuta acelerando o outra vinte e quatro horas. Observou-se melhores
desmame e diminuindo o tempo de internação na UTI resultados na UTI em que havia fisioterapeuta por vinte
(BERTI et al., 2012). e quatro horas, evidenciando que a presença desse
Corroborando com esses resultados, Anderson profissional na UTI contribui decisivamente para o início
et al. (2013) em um estudo controlado avaliaram os da recuperação do paciente, reduzindo a necessidade
pacientes de uma UTI em dois períodos: quando havia de suporte de ventilação mecânica, número de dias de
atendimento fisioterápico e outro período em que os internação, incidência de infecção respiratória e risco de
pacientes ficaram sem atendimento fisioterápico por mortalidade (CASTRO et al., 2013).
razões administrativas e de contratação de pessoal. As O Fisioterapeuta tem papel fundamental no
técnicas utilizadas pela Fisioterapia foram: CTE, HM, processo de desmame da ventilação mecânica
aspiração traqueal e de vias aéreas superiores, promovendo uma melhor condução nesse processo,
exercícios passivos e ativos assistidos, reduzindo os índices de insucesso, além de contribuir

14 Moreira, Silva, Leal, Silva, Gadelha e Vasconcelos


Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

para uma redução do tempo de internação, porém, é GOLDWASSER, R.; MESSEDER, O.; AMARAL, J. L. G
necessário que as estratégias utilizadas para o et al. Desmame da ventilação mecânica. J Pneumol, v.
desmame sejam padronizadas e novos protocolos 26, n. Suppl 2, p. S54-S60, 2000.
estudados e implantados nas UTI’s.
O presente estudo apresentou algumas JERRE, G.; BERALDO, M. A.; SILVA, T. J.; GASTALDI,
limitações tais como, a disponibilidade de artigos A.; KONDO, C.; LEME, F. et al. Fisioterapia no paciente
completos, a escassez de estudos sobre a temática, e sob ventilação mecânica. Rev. bras. ter. intensiva, v.
principalmente, ensaios clínicos randomizados que 19, n. 3, p. 399-407, 2007.
especifiquem o papel do Fisioterapeuta no desmame da
ventilação mecânica. JOSÉ A.; PASQUERO R. C.; TIMBÓ S. R.;
CARVALHÃES, S. R. F.; BIEN, U. S.; DAL CORSO, S.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Efeitos da fisioterapia no desmame da ventilação
Foi evidenciado vários benefícios da Fisioterapia mecânica. Fisioter Mov., v. 26, n. 2, p. 271-9, 2013.
na UTI e da importância desse profissional na condução
da ventilação mecânica e no desmame, contudo, deve- MACINTYRE, N. R.; COOK, D. J.; ELY, E. W. JR.;
se destacar a necessidade de maiores estudos sobre o EPSTEIN, S. K.; FINK, J. B.; HEFFNER, J. E. et al.
assunto e a criação de protocolos de desmame que Evidence-based guidelines for weaning and
visem otimizar esse processo baseado em evidencias. discontinuing ventilatory support: a collective task force
facilitated by the American College of Chest Physicians;
REFERÊNCIAS the American Association for Respiratory Care; and the
American College of Critical Care Medicine. Chest, v.
BERNEY, S.; DENEHY, L.; PRETTO, J. Head-down tilt 120, n. 6 Suppl, p.375-95, 2001.
and manual hyperinflation enhance sputum clearance in
patients who are intubated and ventilated. Aust J MEIRELES, F. M. S.; BARBOSA, I. O.; VIANA, M. C.
Physiother, v. 50, n. 1, p. 9-14, 2004. C.; KUEHNER, C. P. Caracterização de parâmetros e
estratégias do desmame difícil da ventilação mecânica
BERTI, J. S. W.; TONON, E.; RONCHI, C. F.; BERTI, adotados por fisioterapeutas. Rev Bras Promoç
H. W.; STEFANO, L. M.; GUT, A. L. et al. Saúde, v. 26, n. 1, p. 51-55, 2013.
Hiperinsuflação manual combinada com compressão
torácica expiratória para redução do período de NTOUMENOPOULOS, G.; PRESNEILL, J. J.;
internação em UTI em pacientes críticos sob ventilação MCELHOLUM, M.; CADE, J. F. Chest physiotherapy for
mecânica. J Bras Pneumol, v. 38, n. 4, p. 477-86. the prevention of ventilator-associated pneumonia.
2012. Intensive Care Med, v. 28, n. 7, p. 850-6, 2002.

BLACKWOOD, B.; ALDERDICE, F.; BURNS, K. E.; RIBEIRO, N. M.; VASCONCELOS, T. B.; BASTOS, V.
CARDWELL, C. R.; LAVERY, G.; O'HALLORAN, P. P. D. Efeitos da tosse manualmente assistida sobre o
Protocolized versus non-protocolized weaning for comportamento da mecânica respiratória de pacientes
reducing the duration of mechanical ventilation in intubados e ventilados artificialmente. ASSOBRAFIR
critically ill adult patients. Cochrane Database Syst Ciência, v. 5, p. 35-46, 2014.
Rev., n. 5, 2010.

CASTRO, A. A.; CALIL, S. R.; FREITAS, S. A.;


OLIVEIRA, A. B.; PORTO, E. F. Chest physiotherapy SOBRE OS AUTORES
effectiveness to reduce hospitalization and mechanical
ventilation length of stay, pulmonary infection rate and Carlos Augusto de Souza Moreira
mortality in ICU patients. Respiratory Medicine, v. 107, Faculdade Farias Brito, Brasil
n. 1, p. 68-74. 2013.
Fisioterapeuta formada pela Universidade de Fortaleza
(2013). Especialização em Terapia Intensiva pela
DANTAS, C. M.; SILVA, P. F. S.; SIQUEIRA, F. H. T.;
Faculdade Farias Brito (2015).
PINTO, R. M. F.; MATIAS, S.; MACIEL, C. et al.
Influência da mobilização precoce na força muscular
Francisca Soraya Lima Silva
periférica e respiratória em pacientes críticos. Rev Bras
Hospital Universitário Walter Cantídio, Universidade
Ter Intensiva, v. 24, n. 2, p. 173-8, 2012.
Federal do Ceará, Brasil
GIMENES, A. C. O.; SILVA, C. S. M.; SCARPINELLA- Fisioterapeuta formada pela Universidade de Fortaleza
BUENO, M. A. Desmame da ventilação mecânica. In: (2013). Especialização em Terapia Intensiva pela
Knobel E. Terapia intensiva: pneumologia e Faculdade Farias Brito (2015). Residência
fisioterapia respiratória. São Paulo: Atheneu, 2004. Multiprofissional em Terapia Intensiva pelo Hospital
Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do
GOLDWASSER, R.; FARIAS, A.; FREITAS, E. E.; Ceará (2016).
SADDY, F.; AMADO, V.; OKAMOTO, V. Mechanical
ventilation of weaning interruption. J Bras Pneumol, v. E-mail: [email protected]
33, n. Supl 2, p.128-36, 2007.

15 Moreira, Silva, Leal, Silva, Gadelha e Vasconcelos


Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

Natalia Jacinto de Almeida Leal


Centro Universitário Católica de Quixadá, Brasil

Discente do curso de Fisioterapia do Centro Universitário


Católica de Quixadá.

E-mail: [email protected]

Maria Bruna Madeiro da Silva


Centro Universitário Católica de Quixadá, Brasil
Discente do curso de Fisioterapia do Centro Universitário
Católica de Quixadá.

E-mail: [email protected]

Samia Jardelle Costa de Freitas Maniva


Centro Universitário Católica de Quixadá, Brasil
Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do
Ceará (2016). Mestre em Cuidados Clínicos em Saúde
pela Universidade Estadual do Ceará (2011).
Especialização Enfermagem em Unidade de Terapia
Intensiva pela Universidade Estadual do Ceará (2009).
Graduada em Enfermagem pela Universidade Estadual
do Ceará (2007). Coordenadora da Residência
Multiprofissional em Saúde com ênfase em Neurologia e
Neurocirurgia/ESP-HGF. Docente do Curso de
Enfermagem do Centro Universitário Católica de
Quixadá. Enfermeira da Unidade de AVC do Hospital
Geral de Fortaleza. Tem experiência na área de Saúde
do Adulto e Neurologia (Acidente vascular cerebral).

E-mail: [email protected]

Raimunda Rosilene Magalhães Gadelha


Centro Universitário Católica de Quixadá, Brasil
Fisioterapeuta. Mestre em Saúde Pública pela
Universidade Federal do Ceará (UFC). Coordenadora do
Programa de Residência em Terapia Intensiva Neonatal
(HGF). Docente e Coordenadora do Curso de
Fisioterapia do Centro Universitário Católica de Quixadá
(UNICATÓLICA).

E-mail: [email protected]

Thiago Brasileiro de Vasconcelos


Centro Universitário Católica de Quixadá, Brasil
Fisioterapeuta. Mestre em Farmacologia pela
Universidade Federal do Ceará (UFC). Docente do
Centro Universitário Católica de Quixadá
(UNICATÓLICA).

E-mail: [email protected]

16 Moreira, Silva, Leal, Silva, Gadelha e Vasconcelos


Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X.

AVALIAÇÃO DA PRÁTICA DA AUTOMEDICAÇÃO EM


ACADÊMICOS DO CURSO DE FARMÁCIA EM UMA
INSTITUIÇÃO PRIVADA DE ENSINO SUPERIOR EM
FORTALEZA-CE

Daniely Mara Lima RESUMO


Juliana de Siqueira da Silva
Leonardo Freire Vasconcelos A automedicação é a prática de consumir medicamentos por conta própria, visto
Malena Gadelha Cavalcante que há uma série de fatores que a leva a ser praticada tão comumente. O
Alyne Mara Rodrigues Carvalho presente estudo teve como objetivo analisar a prevalência da automedicação em
acadêmicos do curso de Farmácia em uma instituição privada de Fortaleza,
identificando os principais grupos terapêuticos envolvidos. É um estudo
prospectivo com uma abordagem quantitativa baseado em um roteiro estruturado.
A pesquisa foi realizada em uma faculdade particular do município de Fortaleza,
de agosto a dezembro de 2017. Foram entrevistados 205 acadêmicos, com faixa
etária predominante entre 18 e 28 anos 65,37% (n= 134), sendo o gênero
feminino predominante 72,68% (n= 149). Ao analisar a prática da automedicação
99,51% (n= 204) foram adeptos do qual o motivo principal a cefaleia 35,27% (n=
149) e a classe farmacológica mais utilizada foram os analgésicos com 41,96%
(n= 141). Cerca de 61,35% (n= 154) realizam a automedicação por conta própria
e baseado em conhecimentos teóricos como conseguinte (50,00%; n= 94).
Conclui-se que a automedicação entre os alunos é alto e há necessidade de uma
maior conscientização da comunidade acadêmica, evitando que essa consciência
seja propagada à população.

PALAVRAS-CHAVE: Automedicação. Universitários. Prevalência. Intoxicações.

EVALUATION OF SELF-MEDICATION PRACTICE IN


PHARMACY STUDENTS OF A PRIVATE INSTITUTION OF
HIGHER EDUCATION IN FORTALEZA-CE
ABSTRACT

Self-medication is a practice of having medicines on your own; however, there is


a series of factors which causes it to be so commonly practiced. The present study
aimed at analyzing the prevalence of self-medication in pharmacy students of a
private institution in Fortaleza, identifying the main therapeutic groups involved. It
is a prospective study with a qualitative approach based on a structured guide.
The research was carried out in a private institution in the city of Fortaleza, from
August to September, 2017. 205 academics were interviewed, with age group
predominantly between 18 and 28 years old 65.37% (n= 134), prevailing the
female gender 72.68% (n= 149). When analyzing the self-medication practice
99.51% (n= 204) were adepts when the main reason was headaches 35.27% (n=
149) and the most used drug class was analgesics with 41.96% (n= 141). Around
61.35% (n= 154) practice self-medication on their own and consequently based
on theoretical knowledge (50.00%; n= 94). It is concluded that self-medication in
students is high and there is a necessity of a greater awareness of the academic
community, avoiding such practice from being spread to the population.

KEYWORDS: Self-medication. College students. Prevalence. Intoxication.

Enviado em: 21/03/2018


Aceito em: 05/04/2018
Publicado em: 30/04/2018
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

1 INTRODUÇÃO Ceará, Brasil, nos meses de novembro e dezembro de


2017, após a aprovação na Plataforma Brasil com
A automedicação é a prática de consumir parecer número: 2.396.447 e CAAE:
medicamentos por conta própria, no qual o próprio 76459317.4.0000.5684.
paciente escolhe o medicamento que irá usar, sendo Os critérios de inclusão utilizados foram os
realizada por todas as classes sociais. É uma prática alunos do sexo masculino e feminino do curso de
simples e rápida de diminuir ou até mesmo acabar com farmácia do turno da manhã, com idade maior ou igual a
doenças de baixa gravidade (LOYOLA FILHO et al., 18 anos, que estavam regulamente matriculados,
2002). incluindo apenas informações cedidas por cada aluno
Existe uma série de fatores que levam a durante o período da entrevista. Foram excluídos
automedicação a ser praticada tão comumente, como a àqueles indivíduos que não assinaram o termo ou os que
propaganda desenfreada e seus vários meios de preencheram o questionário de forma errônea. Os
comunicação, o acesso limitado ao serviço público de alunos assinaram um termo de consentimento livre e
saúde, medicamentos isentos de prescrições por terem esclarecido (TCLE) juntamente com a apresentação do
um acesso mais facilitado, armazenamento de questionário, a fim de facilitar a comunicação e a
medicamentos nas residências, e indicações de pessoas obtenção dos dados.
próximas (AMARAL, 2008). O roteiro da entrevista, continha perguntas
A propaganda de medicamentos é um meio objetivas e permitiu a coleta de dados sobre o perfil dos
utilizado para que as pessoas conheçam seus entrevistados em relação ao sexo, idade e semestre. A
benefícios, entretanto, transformou-se em um estímulo segunda parte, consiste em questões relacionadas à
ao consumo desse tipo. Dessa forma, a proposta do automedicação, o qual foi perguntado se já realizou a
alívio imediato ofertado nas propagandas de prática da automedicação, a frequência dessa prática,
medicamentos aumenta a probabilidade da qual a classe de medicamento mais utilizada, sobre
automedicação, podendo causar mascaramento de orientação de quem, quais os sintomas que levaram a se
doenças, posologia inadequada, e até mesmo automedicar, se já utilizaram medicamentos com base
intoxicações (AQUINO, 2008). em propaganda de TV, se fazia uso de medicamentos
A precariedade do serviço público de saúde tem armazenados em casa, se já teve algum efeito colateral
por consequência o encurtamento da relação entre o devido à automedicação e achavam que a
paciente e o profissional médico, tornando a automedicação poderia trazer algum dano para a sua
automedicação uma opção rápida e fácil para o alivio de saúde, e se considerava dependente dessa prática.
seus sintomas (SERVIDONI et al., 2006). Os dados coletados foram analisados através de
A intoxicação é um dos principais riscos ao se uma estatística descritiva para a caracterização da
automedicar, podendo ocorrer por vários motivos, desde amostra com auxílio do programa Microsoft Excel (2010),
uma posologia errada a uma tentativa de suicídio seguido, organizados em gráficos e tabelas verificando-
(TELES, 2013). se o percentual das variáveis.
Portanto, se a automedicação for feita de forma
racional com o recrutamento de um médico e com o 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
acompanhamento de um farmacêutico, visto que, é um
dos profissionais de saúde mais adequados para orientar No presente estudo foram entrevistados 205
as pessoas, pois atua em todas as etapas do acadêmicos, a faixa etária distribuiu-se da seguinte
medicamento, desde a pesquisa até a chegada ao forma: 65,37% (n=134) possuíam de 18 a 28 anos, 29 a
usuário, evitando assim, que o medicamento seja
39 anos 27,32% (n=56), 40 a 50 anos 6,38% (n=14), e
utilizado de forma errônea por leigos no assunto,
assumindo, entretanto, a responsabilidade de acima de 51 anos 0,49% (n=1). Quanto ao sexo, a
intervenção da automedicação, conduzindo-o quando maioria dos entrevistados é do sexo feminino 72,68%
necessário ao médico, pois, visa sempre à melhoria da (n=149).
qualidade de vida do paciente (MOURA; COHN; PINTO, O estudo revela que a faixa etária de maior
2012). predominância foi entre 18 a 28 anos, resultado também
O presente estudo analisou a prevalência da encontrado por Araújo (2007), onde a faixa etária entre
automedicação em acadêmicos do curso de Farmácia 20-30 anos era mais adepta da automedicação. Dados
em uma instituição privada de Fortaleza-CE, semelhantes também foram encontrados no estudo
identificando as possíveis causas para essa prática. realizado por Arrais (2016), com maior destaque na faixa
Tendo como objetivos, identificar os principais grupos etária entre 20 e 39 anos. Os dados podem ser
terapêuticos envolvidos na automedicação, determinar o justificados devido aos jovens serem imediatistas,
número de acadêmicos que recorrem à automedicação,
optarem por não esperar em consultas médicas, e se
e avaliar o nível de conhecimento dos acadêmicos.
utilizarem da tecnologia para pesquisar o que acham que
2 MÉTODO devem usar.
Com base na análise dos dados pode-se
Trata-se de um estudo observacional observar que a maioria dos participantes era do sexo
prospectivo com uma abordagem quantitativa realizada feminino, dados esses que se encontram em
por meio técnico de entrevista com base em um roteiro concordância com o estudo realizado por Lopes et al.
estruturado. A pesquisa foi realizada em uma faculdade (2014), foi verificado que 42,86% dos homens se
particular no município de Fortaleza, no Estado do automedicavam, não diferindo muito do sexo feminino,

18 Lima, Silva, Vasconcelos, Cavalcante e Carvalho


Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

cuja porcentagem de pessoas que realizavam tal prática à dor de cabeça 35,27% (n=146), logo depois
foi de 57,14%. No estudo realizado por Silva et al. (2005), gripe/resfriado 15,94% (n=66). Os resultados estão
os resultados também se encontram em concordância, apresentados na Tabela 1.
visto que 74,7% eram do sexo feminino. Conforme o
estudo, as mulheres geralmente possuem um cuidado Tabela 1 – Problemas de saúde que levaram a
maior com a saúde, dessa forma, essa prática pode está automedicação nos acadêmicos
diretamente relacionada ao fato das mulheres realizarem
mais ações de autocuidado, como também por Sintomas n %
possuírem o clico menstrual, por conseguinte, Dor de cabeça 146 35,27
apresentando-se cólicas mensalmente, além disso, por Gripe/Resfriado 66 15,94
ser a maior responsável de providenciar a saúde da Dores musculares 54 13,04
família, tendo como consequência a automedicação. Dor de garganta 50 12,08
Na análise da prática de automedicação Febre 41 9,90
observou-se que a maioria foram adeptos, sendo que Dores nas costas 32 7,73
99,51% (n=204) alegaram automedicar-se. Resultado Outros 25 6,04
esse encontrado no estudo de Silva e Rodrigues (2014), Total 414 100
onde 98,1% dos participantes afirmaram que já usaram *Houve mais de uma resposta por acadêmico, n= 204
medicamentos sem orientação ou receita médica. De Fonte: os autores.
acordo com Silva et al. (2011), a prática também se
mostrou elevada, 90,6% afirmaram praticar a
De acordo com a pesquisa, a dor de cabeça foi
automedicação. Os participantes relataram que isso
o principal sintoma, seguido de gripe/resfriado, resultado
pode estar associado ao fato do acúmulo de
esse que se encontra em concordância no estudo
conhecimentos adquiridos em sala de aula,
realizado por Montanari (2014) do qual os problemas de
conhecimento esse devido às disciplinas cursadas ao
saúde que levaram a automedicação a maior proporção
longo do curso de graduação, e pelas experiências
foram devido às cefaleias 73% e resfriados 45%.
vividas, sentindo-se confiantes para se automedicar.
Segundo Rodrigues et al. (2015) a dor de cabeça
Tendo em vista que a automedicação é muito
também foi o maior motivo para automedicação, sendo
comum na maioria da população, e existem inúmeros
considerada a principal doença que os acadêmicos
motivos para se fazer uso dessa prática, os acadêmicos
creem possuir. Sintoma que pode está diretamente
foram questionados em relação à frequência. Os
relacionado com a pressão do dia a dia em virtude de
resultados revelaram que 49,51% (n=101) realizavam
longas horas de estudo, também pode estar relacionado
essa prática às vezes, 34,80% (n=71) raramente / quase
aos trabalhos de extensões, e provas.
nunca, e 15,69% (n=32) frequentemente. Segundo o
Ao analisar as classes farmacológicas mais
estudo de Santos et al. (2015), quando questionado à
utilizadas pelos acadêmicos, os analgésicos foram a
frequência com que recorreram à automedicação,
principal escolha 41,96% (n=141), seguido dos anti-
afirmaram que 54% se automedicavam com alguma
inflamatórios 21,13% (n=71). Os resultados estão
frequência, 26% com muita frequência e 19% dos
apresentados na Tabela 2.
inquiridos responderam automedicar-se raramente. A
frequência do uso de medicamentos em universitários
pode estar ligada com as dores pelo esforço diário nos Tabela 2 – Classe de medicamento mais utilizada na
estudos, que podem causar cefaleias e dores forma de automedicação entre os acadêmicos
musculares. Os resultados estão demostrados no
Gráfico 1. Classe de medicamentos n %
Analgésico 141 41,96
Gráfico 1 – Percentual relacionado com a frequência da Anti-inflamatório 71 21,13
automedicação entre os acadêmicos Antialérgico 62 18,45
Antitérmico 37 11,01
Antimicrobiano 16 4,76
Outros 09 2,68
Total 336 100
*Houve mais de uma resposta por acadêmico, n=204.
Fonte: os autores.

No estudo realizado por Dhamer et al. (2012), as


classes de medicamentos mais utilizadas foram
analgésicos/antitérmicos 48,2%, seguido dos anti-
inflamatórios 14,2%, resultados que se encontram em
concordância com esse estudo. Portanto, relataram que
isso se dá pela facilidade do acesso a esses
Fonte: os autores. medicamentos, por serem usados no alívio de dores e
serem medicamentos isentos de prescrições. De acordo
com Aquino, Barros e Silva (2010), os analgésicos
Em relação aos problemas de saúde que lideraram a preferência dos entrevistados 24,0%, em
levaram à automedicação, a maior proporção foi devido seguida a segunda classe terapêutica mais utilizada pela
19 Lima, Silva, Vasconcelos, Cavalcante e Carvalho
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

população em estudo foram as vitaminas 18,9%. Logo, os medicamentos quando acharem necessário, 11,6%
foram justificados esses resultados em virtude das várias acreditam ter conhecimento suficiente para se
formas de propaganda, principalmente das vitaminas automedicar, 10,5% foi devido a todos os familiares
que estão associadas à beleza, e bem-estar físico. usarem e saberem que resolverá o problema.
Portanto, a classe de maior escolha é a dos analgésicos, De acordo com os dados obtidos nesse estudo,
por ser um aliado contra a dor, e terem um acesso fácil, 80,20% (n=162) não se medicam com base em
trazendo assim uma maior comodidade. propagandas de TV, entretanto 19,80% (n=40) já se
Em relação ao responsável pela indicação dos medicaram baseado nessas propagandas. De acordo
medicamentos, 61,35% (n=154) dos entrevistados com a pesquisa de Tomasini et al. (2015), apenas 4,2%
afirmaram se automedicar por conta própria, frente a assumiram ser influenciados pelas propagandas de
19,52% (n=49) por orientação de um profissional medicamentos. Já Lyra et al. (2010) relataram que
farmacêutico. Os resultados estão demostrados no 17,8% da amostra do seu estudo foram influenciados.
Gráfico 2. Diante dos estudos apresentados, observou-se que há
um pequeno número de estudantes que se automedicam
Gráfico 2 – Percentual relacionado ao responsável pela influenciados por propagandas, isso pode se dar pelo
a indicação dos medicamentos fato da comunidade universitária não ser influenciada
como a população em geral, já que eles possuem
conhecimentos sobre os medicamentos adquiridos em
sua trajetória acadêmica.
Quando questionados a respeito do uso de
medicamentos armazenados em casa, 85,57% (n=172)
não utilizam
Observou-se nessa pesquisa que a maioria dos
graduandos não utiliza medicamentos armazenados em
casa. No estudo de Rodrigues e Pereira (2016), os
entrevistados afirmaram que 57,5% têm os
medicamentos disponíveis em casa, enquanto 35,6%
não possui esse estoque. No entanto, de acordo com a
pesquisa de Pinto et al. (2008), os entrevistados
relataram que 64,3% do 8º período e 23,5% do 1º
Fonte: os autores.
período não possuem os medicamentos em domicílio,
entretanto compram apenas quando necessitam. A
farmácia caseira é uma forma de praticidade que as
Constatou-se que no presente estudo, a maioria pessoas, em geral, encontram para o momento de suas
dos acadêmicos utilizam os medicamentos sobre aflições, já os graduandos de farmácia por terem uma
orientação própria. Em um comparativo com o estudo de maior noção dos riscos e as causas que essa prática
Santos e Coutinho (2010), observa-se que a prevalência pode causar, tem mais prudência ao utilizar
de indicações a automedicação 56% foi por conta medicamentos estocados em domicílio.
própria, seguido de 32% sobre indicações dos pais. Quando questionados se já tiveram algum efeito
Conforme Medeiros (2013) foi evidenciado em seu colateral devido se automedicar, 93,10% (n=189)
estudo na área da saúde que 47,2% automedicou-se por afirmaram nunca terem sentido, no entanto 12,87%
conta própria, enquanto 36,4% foram indicados por (n=26) afirmaram que já tiveram algum efeito.
parentes e 16,4% por amigos. O resultado afirmou que a Esses resultados estão em concordância com o
maioria dos universitários utilizou o medicamento por estudo realizado por Luras et al. (2016), no qual 92% dos
indicação própria, no entanto, essa prática pode-se entrevistados nunca tiveram nenhum efeito adverso,
justificar em razão dos entrevistados serem acadêmicos confirmando apenas 8% tiveram esse problema. Silva,
do curso de farmácia, obtendo-se mais confiança e Goulart e Lanzarine (2014), também afirmaram que a
segurança na sua indicação em relação a terceiros, já maioria dos acadêmicos não declarou a ocorrência de
que possuem um grande conhecimento sobre como um efeitos adversos durante o uso de medicamentos. O
medicamento é utilizado, assim como para quê é número de automedicações e efeitos adversos pode
indicado, a posologia correta e os efeitos adversos. estar diretamente relacionado com o período da
Quando questionados em que se baseavam graduação, como também ao acúmulo de
para fazer a automedicação por conta própria, 50% conhecimentos adquiridos ao longo do curso, logo, torna
(n=94) afirmaram ter conhecimento teórico para se o indivíduo mais seguro e confiante com seus próprios
automedicar, enquanto que 40,43% (n=76) afirmaram já entendimentos técnicos e teóricos. Desta forma, espera-
ter costume com o medicamento devido terem se se que tal conhecimento seja determinante para atitudes
consultado uma vez, portanto, continuou o uso do conscientes e adequadas a sua formação.
mesmo medicamento quando os sintomas semelhantes Segundo os entrevistados, 93,10% (n=189)
reapareceram, e 9,57% (n=18) foram devido algum acham que a automedicação pode trazer danos à saúde,
familiar usar e saber que resolve o problema. No estudo embora 6,90% (n=14) achem que tal prática não ofereça
realizado por Tomasini et al. (2015), notou-se que o riscos. Conforme a pesquisa, 68% (n=178) dos
motivo que mais levou os acadêmicos a se acadêmicos não se considera dependente da
automedicarem com 72% é o fato de terem se automedicação, frente a 12,32% (n=25) que se
consultado uma vez e se sentirem seguros para repetir considerou dependente.

20 Lima, Silva, Vasconcelos, Cavalcante e Carvalho


Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

Segundo Tomasini et al. (2015), relatam em seu BERTOLDI, A. D. Prevalência da automedicação no


estudo que 87,4% acreditam que a automedicação pode Brasil e fatores associados. Revista de Saúde Pública,
trazer algum dano à saúde e 12,6% não creem que a v. 50, p. 49-54, 2016.
automedicação ofereça riscos. De acordo com Silva
(2014) os medicamentos são os principais causadores DHAMER, T.; DAL-MOLIM, A. P.; HELFER, A. P.;
de intoxicações no Brasil, sendo causadores frequentes CARNEIRO, M.; POSSUELO, L. G.; KAUFFMANN, C.;
de efeitos colaterais, alergias, em razão da falta de VALIM, A. R. M. A automedicação em acadêmicos de
informações sobre ele. De acordo com Sousa et al. cursos de graduação da área da saúde em uma
(2008) o fármaco possui efeitos benéficos para certas universidade privada do estado do Rio Grande do Sul.
pessoas e maléficos para outras nas mesmas condições, Revista de Epidemiologia e Controle de Infecção, v.
havendo a necessidade da atenção profissional 2, p.138-140, 2012.
especializada. Desta forma, por tratar-se de futuros LOPES, W. F. L.; COELHO, M. R. O. M.; OLIVEIRA, J.
profissionais da área de saúde é importante que tenham P.; ARAÚJO, Y. M. O.; MELO, M. C. N.; TAPETY, F. I.
noção exata dos possíveis danos aos usuários, pois logo A prática da automedicação entre estudantes de uma
mais serão agentes multiplicadores de informações instituição de ensino superior de Teresina-Pi. Revista
quanto ao uso racional de medicamentos, assumindo o Interdisciplinar, v. 7, p. 17-24, 2014.
papel de acolhedores e orientadores de seus pacientes
em relação à prática da automedicação. LOYOLA FILHO, A. I. L.; UCHOA, E.; GUERRA, H. L.;
FIRMO, O. A. J.; COSTA, M. F. L. Prevalência e fatores
4 CONCLUSÃO associados à automedicação: resultados do projeto
Bambuí. Revista de Saúde Pública, v. 36, p. 80-9,
No presente estudo foi possível verificar que a 2002.
automedicação entre os acadêmicos do curso de
farmácia teve alta prevalência, sendo que, o sexo LURAS, A.; MARQUES, A. A. F.; GARCIA, L. F. R.;
feminino foi mais adepto dessa prática e o mais SANTIAGO, M. B.; SANTANA, L. K. L. Prevalência da
predominante no estudo. Verificou-se que o automedicação entre estudantes da Universidade do
conhecimento teórico adquirido ao longo do curso foi o Estado do Amazonas (Brasil). Revista Portuguesa
principal fator para a automedicação. A dor de cabeça foi Estomatologia, Medicina Dentária e Cirúrgica
o principal sintoma que levou os acadêmicos a se Maxilofacial, v. 57, p.104-111, 2016.
automedicarem, motivo que pode estar relacionado às
muitas horas de estudo, por conseguinte, a classe de LYRA, D. P.; NEVES, A. S.; CERQUEIRA, K. S.;
medicamento mais utilizada foi a dos analgésicos. MARCELLINI, P. S.; BARROS, J. A. C. Influência da
O estudo revela a necessidade de uma maior propaganda na utilização de medicamentos em um
conscientização da comunidade acadêmica evitando grupo de idosos atendidos em uma unidade básica de
que esta consciência seja passada para a população, saúde em Aracaju (SE, Brasil). Revista Ciências e
sendo assim, se faz necessária à criação e Saúde Coletiva, v. 15, p. 102-110, 2010.
disseminação de campanhas educativas relacionadas
ao autocuidado, a fim de orientar e garantir o bem-estar MEDEIROS, S. B. Automedicação e guarda de
dos estudantes universitários e da população em geral. medicamentos por universitários da área de saúde
e tecnologia. 2013. 105 f. Monografia (Mestrado em
REFERÊNCIAS
Enfermagem), Universidade Federal do Rio Grande do
AMARAL, S. M. Fatores que influenciam na tomada Norte. Natal, 2013.
de decisão dos consumidores na compra de
medicamentos isentos de prescrição. 2008. 62 f. MONTANARI, C. M.; SOUZA, W. A.; VILELA, D. O.;
Monografia (Pós-graduação em administração) – ARAÚJO, F. S.; PODESTÁ, M. H. M. C.; FERREIRA, E.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto B. Automedicação em acadêmicos de uma
Alegre, 2008. universidade pública do sul de Minas Gerais. Tempus,
Actas de Saúde Coletiva, v. 8, p. 257-268, 2014.
AQUINO, D. S. Por que o uso racional de
medicamentos deve ser uma prioridade?, Ciência & MOURA, B. V.; COHN, A.; PINTO, R. M. F. Farmácia: a
Saúde Coletiva, v.13, p. 33-9, 2008. porta de entrada para o acesso a medicamentos para
idosos residentes em Santos. Saúde Sociedade, v. 21,
AQUINO, D. S.; BARROS, J. A. C.; SILVA, M. D. P. A p. 50-62, 2012.
automedicação e os acadêmicos da área de saúde.
Ciência & Saúde Coletiva, v.15, p. 2533-2538, 2010. PINTO, F. C.; QUEIROZ, M. I. C.; CARVALHO, M. R.;
CASTRO, R. B. Automedicação praticada por
ARAÚJO, J. C.; VICENTINI, G. E. Automedicação em acadêmicos do curso de graduação em
adultos na cidade de Guairaçá - PR. Arquivos enfermagem. 2008. 60 f. Monografia (Trabalho de
Ciências Saúde Unipar, Umuarama, v.11, p. 83-88, Conclusão de Curso). Universidade Presidente Antônio
2007. Carlos – UNIPAC. Bom Despacho, 2008.

ARRAIS, P. S. D.; FERNANDES, M. E. P.; PIZZOL, T. RODRIGUES, A. P.; BOAVENTURA, C. M.;


S.; RAMOS, L. R.; MENGUE, S. S.; LUIZA, V. L.; MAGAZONI, V. S.; CARDOSO FILHO, C. M. A prática
TAVARES, N. U. L.; FARIAS, M. R.; OLIVEIRA, M. A.; da automedicação em acadêmicos do curso de

21 Lima, Silva, Vasconcelos, Cavalcante e Carvalho


Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

fisioterapia de uma instituição de ensino superior Farmacêuticas Básica e Aplicada, v. 34, p. 281-288,
privada. Revista Eletrônica da Reunião Anual da 2013.
Ciência, v. 5, p. 62-9, 2015.
TOMASINI, A. A.; FERRAES, A. M. B.; SANTOS, J. S.
RODRIGUES, C. R.; PEREIRA, I. A. G. Prevalência da Prevalência e fatores da automedicação entre
automedicação entre acadêmicos da Universidade estudantes universitários no Norte do Paraná. Revista
Estadual de Goiás – Campus Ceres. Revista de Biosaúde, v. 17, p. 1-12, 2015.
Biotecnologia & Ciência, v. 5, p. 36-52, 2016.
SOBRE OS AUTORES
SANTOS, D. P.; COUTINHO, G. C. Avaliação da
prática da automedicação em acadêmicos da Daniely Mara Lima
associação educacional de Vitória. 2010. 43 f. Faculdade UNINASSAU, Brasil
Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso).
Associação Educacional de Vitória unidade de Egressa do curso de Farmácia da Faculdade
Conhecimento em Ciências Médicas e Saúde. Vitória – UNINASSAU.
ES, 2010.
E-mail: [email protected]
SANTOS, W. L. S.; FERREIRA, N. S. S.; FIGUEIREDO,
I. V.; NUNES, S. F. Perfil da automedicação em Juliana de Siqueira da Silva
universitários da Universidade Estadual do Faculdade UNINASSAU, Brasil
Maranhão. 2015. 10 p. Monografia (Trabalho de
Conclusão de Curso). Faculdade de Farmácia da Egressa do curso de Farmácia da Faculdade
Universidade de Coimbra. Maranhão, 2015. UNINASSAU.

SERVIDONE, A. B.; COELHO, L. NAVARRO, M. L.; Leonardo Freire Vasconcelos


ÁVILA, F. G.; MEZZALIRA, R. Perfil da automedicação Faculdade UNINASSAU, Brasil
nos pacientes otorrinolaringológicos. Revista
Brasileira de Otorrinolaringologia, v. 72, p. 87-94, Fisioterapeuta e doutor em Biotecnologia em Saúde pela
2006. UFC. Docente da Faculdade UNINASSAU.

SILVA, G. M. S.; ALMEIDA, A. C.; MELLO, N. R. S.; E-mail: [email protected]


OLIVEIRA, R. N. O.; OLIVEIRA, T. B.; PEREIRA, V. N.
M.; PINHEIRO, R. O. Análise da automedicação no Malena Gadelha Cavalcante
município de Vassouras – RJ. Infarma, v.17, p. 37-48, Faculdade UNINASSAU, Brasil
2005.
Farmacêutica, mestre em Ciências Médicas.
SILVA, L. S. F.; COSTA, A. M. D. D.; TERRA, F. S.; e doutoranda em Ciências Médicas. Docente da
ZANETTI, H. H. V.; COSTA, R. D.; COSTA, M. D. Faculdade UNINASSAU.
Automedicação em acadêmicos de cursos de
graduação da área da saúde de uma universidade E-mail: [email protected]
privada do Sul do estado de Minas Gerais. Revista
Odontologia Clínico-Científica, v. 10, p. 57 - 63, 2011. Alyne Mara Rodrigues Carvalho
Faculdade UNINASSAU, Universidade Federal do
SILVA, F. M.; GOULART, F. C.; LAZARINI, C. A. Ceará, brasil
Caracterização da prática de automedicação e fatores
associados entre universitários do curso de Docente dos cursos de Farmácia e Enfermagem da
Enfermagem. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. Faculdade UNINASSAU. Doutora em Farmacologia
16, p. 644-51, 2014. pesquisadora do Nucleo de Pesquisa e Desenvolvimento
de Medicamentos (NPDM) da Universidade Federal do
SILVA, L. A. F.; RODRIGUES, A. M. S. Automedicação Ceará.
entre estudantes de cursos da área de saúde. Revista
Brasileira de Farmácia, v. 95, p. 961 – 975, 2014. E-mail: [email protected]
SOUSA, H. W. O.; SILVA, J. L.; MARCELINO NETO, S.
A importância do profissional farmacêutico no combate
à automedicação no Brasil. Revista Eletrônica de
Farmácia, v. 5, p. 67-72, 2008.

TELES, A. S.; OLIVEIRA, R. F. A.; COELHO, T. C. B.;


RIBEIRO, G. V.; MENDES, W. M. L.; SANTOS, P. N. P.
Papel dos medicamentos nas intoxicações causadas
por agentes químicos em município da Bahia, no
período de 2007 a 2010. Revista de Ciências

22 Lima, Silva, Vasconcelos, Cavalcante e Carvalho


Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X.

ESTUDO IN SILICO DO FLAVONOIDE ANTITROMBÓTICO


TERNATINA, PRESENTE NOS CAPÍTULOS FLORAIS DE
EGLETES VISCOSA LESS “MACELA-DA-TERRA”

Aurineide Ribeiro Lima RESUMO


Emanuelle Machado Marinho
Jacilene Silva Ternatina é um flavonoide que pode ser isolado da Egletes viscosa Less (Macela-
Márcia Machado Marinho da-terra), que possui atividade antitrombótica na agregação plaquetária. O
Emmanuel Silva Marinho conhecimento da estrutura tridimensional de uma molécula é de fundamental
importância, pois a partir de descritores energéticos e estruturais é possível
analisar a interação da substância com seu alvo biológico. Os métodos quânticos
semi-empíricos utilizam parâmetros e ajustes matemáticos para o entendimento
das propriedades estruturais e eletrônicas de uma molécula, que são necessários
para o seu entendimento farmacológico. A metodologia consistiu em otimizar a
estrutura da ternatina e obter parâmetros energéticos como energia total, energia
nuclear, energia eletrônica e energia dos orbitais moleculares de fronteiras HOMO
e LUMO, utilizando o programa MOPAC configurado para realizar método semi-
empírico PM7. Para correlacionar estrutura e reatividade da molécula, foram
utilizados os valores dos orbitais de fronteira para calcular o GAP, bem como a
identificação dos sítios interacionais e reacionais da molécula. Concluímos que
foi possível realizar uma caracterização eletrônica e estrutural, identificando a
estrutura conformacional termodinamicamente mais estável, possibilitando a
visualização tridimensional da molécula e de seus possíveis sítios interacionais e
reacionais, sendo o presente trabalho uma etapa fundamental para futuros
estudos de drug design e docking molecular, visando fomentar o potencial deste
flavonoide, bem como entender seu mecanismo de ação.
PALAVRAS-CHAVE: HOMO. LUMO. MESP. Parametric Method 7. Ternatina.

IN SILICO STUDY OF FLAVONOID ANTITHROMBOTIC


TERNATIN PRESENT IN THE FLOWERS CHAPTERS OF
EGLETES VISCOSA LESS “MACELA-DA-TERRA”
ABSTRACT

Ternatin is a flavonoid that can be isolated from Egletes Viscosa Less (Macela-
da-terra) which it has an antithrombotic activity in platelet aggregation. The
knowledge of the three-dimensional structure of a molecule is of great importance
because it is possible to analyze substance interaction with its biological target
from energetic and structural descriptors. Semi-empirical quantum methods use
parameters and mathematic adjustments to understand structural and electronic
properties of a molecule, which are essentially important for pharmacological
understanding. The methodology consisted on optimizing the structure of ternatin
and obtaining energetic parameters such as total energy, nuclear energy,
electronic energy and energy of frontier molecular orbitals HOMO and LUMO,
using MOPAC program configured to develop semi-empirical method PM7. To
correlate molecular structure and reactivity, there were used values of frontier
orbitals to calculate the GAP, as well as the identification of interactional and
reactional sites of molecules. In conclusion, it was feasible to develop a structural
and electronic characterization, identifying the thermodynamically steadier
Enviado em: 04/03/2018 conformational structure, making possible the visualization of three-dimensional
Aceito em: 10/04/2018 molecular and its possible interactional and reactional sites. The present research
Publicado em: 30/04/2018 is a fundamental stage for forthcoming studies of drug design and docking
molecular, aiming to promote the potentiality of this flavonoid as well as to
understand its mechanism of action.

KEYWORDS: HOMO. LUMO. MESP. Parametric Method7. Ternatin.


Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

1 INTRODUÇÃO Figura 1 – Exsicata da Egletes viscosa Less.


Entre 2013 e 2015, a busca por tratamentos à
base de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos
pelo Sistema Único de Saúde (SUS) apresentou um
crescimento de 161% (BRASIL, 2016). A Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), define como
fitoterápico, medicamentos obtidos empregando-se
exclusivamente matérias-primas ativas vegetais, sendo
caracterizados pela sua eficácia, bem como efeitos
adversos, sendo conhecidos seus mecanismos de ação
(BRASIL, 2004; MACHADO et al., 2010).
Em virtude de sua ampla gama de ações
terapêuticas já demonstradas tanto experimentalmente
quanto em humanos os flavonoides estão entre os
fitoterápicos com maior número de estudos em
andamento (MACHADO et al., 2010) pois apresentam
diversos efeitos biológicos e farmacológicos, como
atividade antitrombótica, antibacteriana, antiviral,
antiulcerogênica, anti-inflamatória, antialérgica,
antineoplásico, antioxidante, antihepatotóxica, anti- Fonte: DE MELO,1991.
hipertensiva, hipolipidêmica, anti-inflamatória,
antiplaquetário, vasodilatadora (GUARDIA et al., 2001; A ternatina é uma tetrametoxi flavona
PIETTA, 2000; MARRONI, MARRONI, 2002; (flavonoide) isolado da Egletes viscosa Less, por meio
DEGÁSPARI, WASZCZYNSKYJ, 2004; ZERAIK, 2010), de extração com etanol (componente majoritário), que
sendo estes efeitos relacionados às propriedades possui atividade antitrombótica na agregação
inibitórias em sistemas enzimáticos (hidrolases, plaquetária (SOUZA et al.,1994).
isomerases, oxigenases, oxidoredutases, polimerases, Atualmente, os progressos na química
fosfatases, proteínas fosfoquinases e aminoácido computacional vêm se destacando de forma significativa
oxidases (FERGUSON, 2006). com relação ao mercado farmacêutico na área de
Sintetizados em plantas a partir da via dos desenvolvimento de fármacos. Os recentes avanços na
fenilpropanóides (MACHADO et al., 2010), os área computacional demostraram eficientes algoritmos
flavonoides são caracterizados quimicamente pela de cálculos químico-quânticos fornecendo parâmetros
presença de uma fenilcromona, substituída em uma ou moleculares dos métodos ab-initio e semi-empírico,
mais hidroxilas (BIRT, HENDRICH, WANG, 2001), expressando propriedades geométricas e eletrônicas
sendo que essas substituições (hidrogenação, das moléculas e suas interações em curto intervalo de
hidroxilações, metilações, malonilações, sulfatações e tempo (ARROIO et al., 2010; CARNEIRO et al., 2016),
glicosilações) estão diretamente relacionadas as suas permitindo assim, o uso de métodos matemáticos para
atividades bioquímicas, fomentando assim, a relação o cálculo de propriedades moleculares e para a
estrutura atividade (BIRT, HENDRICH, WANG, 2001; simulação do comportamento molecular, possibilitando o
MACHADO et al., 2010). fomento no desenvolvimento de novos fármacos, a partir
Egletes viscosa Less conhecida popularmente de fármacos pré-existentes e de novas substâncias que
como "macela" ou "macela-da-terra" pertence à apresentam atividade biológica (SANT'ANNA et al.,
família Compositae (Figura 1), é uma planta anual, 2009). Neste contexto, o presente trabalho teve como
aromática, amarga e pilosa, com folhas recortadas e objetivo caracterizar in silico a molécula do flavonoide
flores alvas com o centro amarelo, dispostas em ternatina pelo método quântico semi-empírico
pequenos capítulos, distribuída na América intertropical, Parametric Method 7, como etapa fundamental para
encontradas às margens das lagoas, açudes e cursos futuros estudos de drug design.
d’água (LIMA et al., 1996). Seu uso na medicina popular
está focado nos capítulos florais (cabecinhas), que são 2 MÉTODO
largamente utilizados na forma de infuso por grande Para o desenvolvimento deste trabalho, foram
parte da população brasileira, sendo as indicações mais utilizados softwares de acesso gratuito, baseados no
conhecidas dessa planta como amargo-tônica e Sistema Operacional Microsoft Windows®, utilizando um
emenagoga estomáquica, carminativa e computador com processador Intel® Core™ i7-770HQ
antiespasmódica, podendo ser administradas 1 a 2 CPU @ 2.00GHz, com 16,00 Gb de RAM e placa de
xícaras por dia nos casos de dispepsia, azia e indigestão vídeo GTX 1080 4 GB.
preparado na proporção de 3 a 4 g/xícara (MATOS, No primeiro momento, foi realizada uma busca
2006; SILVA-FILHO et al., 2007). no repositório Open Chemistry Databese - PubChem®
(https://pubchem.ncbi.nlm.nih.gov/)(KIM, et al., 2015),
utilizando o descritor “ternatina”, dos quais foram
coletadas informações estruturais e taxonômicas. Em
seguida, utilizando a metodologia proposta por Marinho
e Marinho (2016), foram realizadas simulações
computacionais de pré-otimização utilizando o software

24
Lima, Marinho, Silva, Marinho e Marinho
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

freeware Marvin Sketch® 17.12.0 (internal build id: Figura 2 – Estrutura bidimensional do flavonoide
17.12.0-7011), configurado para realizar cálculos de Ternatina
campo força clássico Molecular Mechanic Force Field 94
(MMFF94) (HALGREN, 1996) com limite de otimização
very strict, diversity limit de 0,1 em Hyperfine. Durante o
processo de pré-otimização, foram geradas 500
estruturas conformacionais (conformeros), onde foi
possível identificar a estrutura conformacional de menor
energia potencial, sendo esta utilizada para realizar
caracterização físico-química da molécula (Log S), bem
como identificar os números de átomos e sítios doadores
e aceptores de Hidrogênio, o vetor de momento dipolar
e ainda, plotar o mapa de superfície de Van der Waals.
Na segunda etapa, foi utilizada a metodologia
proposta por Dewar e colaboradores (1985) para
otimizar a estrutura e obter parâmetros energéticos. Fonte: PubChem
Nessa etapa foi utilizado o programa Molecular Orbital (https://pubchem.ncbi.nlm.nih.gov/compound/5459184#
Package (MOPAC, 2016), Versão 16.111W (STEWART, section=Top).
2013), configurado para realizar método semi-empírico
Parametric Method 7 (PM7) (DRAL et al., 2016), usando Os repositórios moleculares, não
a aproximação de Hartree-Fock (HF) (método de campo necessariamente, disponibilizam a estrutura
autoconsistente), para função de onda, considerando a bidimensional na conformação mais estável, ou seja, em
molécula no estado fundamental e no vácuo. um estado mínimo de energia potencial, sendo indicado
Utilizando o arquivo de saída gerado pela para a obtenção de cálculos mais precisos sobre a
otimização da estrutura, foram plotados os orbitais de molécula e sua conformação mais estável, realizar uma
fronteira, HOMO (Highest Occupied Molecular Orbital e otimização geométrica, sendo esta que utiliza o processo
LUMO (Lowest Unoccupied Molecular Orbital), e o Mapa de minimização de energia (CARVALHO et al., 2003).
de superfície do potencial eletrostático (MESP). Para Utilizando o Marvin Sketch®, foi possível calcular os 500
correlacionar estrutura e reatividade das moléculas, conformeros de menores energia, encontrando uma
foram utilizados os valores dos orbitais de fronteira variação de energia da ordem de 114, 53 a 151,01 kcal
(HOMO e LUMO) para calcular o GAP (Equação 1) mol-1. A estrutura conformacional calculada de menor
(ARROIO, HONORIO e SILVA, 2010). energia (114,53 Kcal mol-1(Figura 3)), apresenta a
menor energia potencial e considerada a mais estável,
Equação 1 teve suas coordenadas moleculares utilizadas como
arquivo de entrada para simulações a nível quântico.
GAP = (HOMO − LUMO)
Figura 3 – Estrutura tridimensional do flavonoide
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Ternatina
Os flavonoides são formados por um anel
benzênico, ligado a um anel de 6 átomos formando o
composto, do qual temos um fenil ligado ao carbono 2
(DE MELO,1991), o flavonoide ternatina (Figura 2),
possui nome sistemático 4',5-dihydroxy-3,3',7,8-
tetramethoxyflavone e pode ser classificado, como um
composto orgânico, heterocíclico, pertencente a classe
dos Piranos, subclasse dos Benzopiranos. Disponível no
repositório PubChem® sob o código “5459184”
(PubChem cid), possui CAS número “571-71-1”. Possui
fórmula molecular C19H18O8, com massa molar no valor
de 374.345 g mol-1, tendo InChI Key
“DGUWNYKZOJRCQQ-UHFFFAOYSA-N”.

Fonte: Dados da pesquisa.


A modelagem molecular auxiliada pela
computação moderna, tornou-se uma ferramenta
essencial no processo de desenvolvimento racional de
fármacos (MARINHO, CASTRO, MARINHO, 2017).
Um dos grandes avanços na modelagem, foi a
capacidade de simular a distribuição espacial das
cargas, permitindo compreender a forma de interação

25
Lima, Marinho, Silva, Marinho e Marinho
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

entre uma molécula e outra (SEMINARIO, 1996; GOSS Figura 5 – Representação do vetorial de momento
e PETRUCCI, 2007). O momento dipolar (μ) é uma dipolar do flavonoide Ternatina
propriedade relacionada à distribuição de cargas
elétricas nas moléculas, depende da separação de
cargas positivas e negativas numa molécula
(polarização), motivada pela diferença de
eletronegatividade dos átomos na molécula (KOTZ,
TREICHEL, TOWNSEND, 2012), sendo necessário
inferir que a distribuição e conectividade dos átomos
influenciam o ponto de fusão, ebulição e a solubilidade
em diferentes solventes, pois quanto maior o momento
dipolar, maior a solubilidade em substâncias polares, e
maiores os pontos de fusão e ebulição (ATKINS e
JONES, 2009). Segundo Leal e colaboradores (2010), o
momento dipolo elétrico, é medido em debyes (D),
através da relevância das cargas parciais (Figura 4) e
das distâncias entre os extremos de um dipolo.
Fonte: Dados da pesquisa.
Figura 4 – Distribuição de cargas no flavonoide
Ternatina, obtidos utilizando a simulação campo força O coeficiente de partição é a proporção da
clássico Molecular Mechanic Force Field 94 (MMFF94) concentração do composto em octanol para a sua
concentração em água (XU et al., 2016). O coeficiente
de distribuição é a razão da soma das concentrações de
todas as espécies do composto em octanol até a soma
das concentrações de todas as espécies do composto
em água. Com base em reações de dissociação
ácida/básica, podemos introduzir o conceito de
coeficiente de partição para espécies catiônicas e
aniônicas e para espécies neutras. A molécula do
flavonoide ternatina apresentou solubilidade em água
intrínseca na ordem de -3,61 (logS) e em pH 7,4
apresentou um valor de -3,41 (logS), sendo classificada
como tendo uma alta solubilidade (> 0,06 mg mL-1)
(Gráfico 1).
Gráfico 1 – Solubilidade do flavonoide Ternatina em
relação a variação de pH

Fonte: Dados da pesquisa.


A molécula do flavonoide ternatina, apresentou
um momento dipolar no valor de 4,76 Debye (Figura 5),
sendo as componentes X, Y e Z, no valor de -1,05, 3,10
e -3,94 Debye, respectivamente.

Fonte: Dados da pesquisa.

26
Lima, Marinho, Silva, Marinho e Marinho
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

A ligação de Hidrogênio consiste numa interação posição fixa dos núcleos, a equação de Schroedinger foi
entre átomos de hidrogênio de uma molécula, com resolvida a fim de se encontrar a energia eletrônica total
átomos de elementos altamente eletronegativos da molécula. Com base na mecânica-quântica para
(oxigênio, flúor e nitrogênio), presentes na mesma realização da otimização de geometria, utilizou-se o
molécula (intramolecular) ou de outra molécula método semi-empírico Parametric Method 7 (PM7)
(intermolecular), sendo de ampla importância para os (STEWART, 2013), usando a aproximação Hartree-Fock
sistemas biológicos, pois estão envolvidas nos (HF-SCF) configurada para 500 interações, com valor de
enovelamentos proteicos e no metabolismo de convergência de 10-10 kcal mol-1 (ARROIO et al., 2010).
macromoléculas biológicas (KOTZ, TREICHEL e De acordo com estes parâmetros, determinou-se uma
TOWNSEND, 2012; NELSON e COX, 2015). Podemos formação de energia estável através do método de
identificar (Figura 6) dois átomos e dois sítios doadores, interações de convergência SFC de -4678.46232 eV
8 átomos e dezesseis sítios aceptores de ligação de para o flavonoide ternatina, tendo ainda como
Hidrogênio, possibilitando assim inferir sobre a parâmetros energéticos calculados o calor de formação
localização de possíveis sítios de interações (818,34213 KJ MOL-1), energia eletrônica (-31171.65239
intermoleculares do flavonoide Ternatina. eV), repulsão CORE-CORE (26493,19006 eV) energia
de repulsão elétron/núcleo (-7152,8921 eV (um elétron)
Figura 6 – Átomos e sítios aceptores e doadores de e 2990,0471 eV (dois elétrons)),energia de ressonância
ligação de hidrogênio do flavonoide Ternatina (-523,2386 eV), energia de repulsão elétron-elétron
(25946,9891 eV ), energia de atração núcleo/elétron (-
52219,9706 eV),energia de repulsão núcleo/núcleo
(26493,1901 eV), energia total de interação eletrostática
(220.2085 eV), gradiente de normalização (0,69293),
potencial de ionização (8,985002 eV), área COSMO
(307,54 Å2) e volume COSMO (342,00 Å3), obtendo
assim, a estrutura potencialmente mais estável (Figura
7).
Figura 7 – Estrutura otimizada do flavonoide Ternatina
com Hidrogênios implícitos

Fonte: Dados da pesquisa.


Para relacionar estrutura e atividade de
determinada molécula, são utilizados parâmetros
energéticos a fim de se estimar a energia eletrônica,
energia total e o calor de formação, a qual utiliza-se a
equação de Schroedinger (Equação 2) para obter a
energia eletrônica, repetindo o processo inúmeras vezes
através das interações de SCF. O valor mínimo de
energia corresponde à geometria de equilíbrio da Fonte: Dados da pesquisa.
molécula, assim, a energia total e o calor de formação
são usados para indicar a estabilidade de uma espécie Utilizando como base a representação
química, mas de maneiras distintas (LEWARS, 2004; esférica de Van der Waals (Figura 8), pode-se plotar uma
JENSEN, 2007; ARROIO et al., 2010). grade de pontos localizados em diferentes camadas em
torno da molécula, que denominamos mapa de
Equação 2 superfície de potencial eletrostático (MESP). O potencial
eletrostático num ponto (x, y, z) é dado pela energia
potencial eletrostática entre um íon imaginário carregado
positivamente, situado na posição (x, y, z) e a molécula
(PRABAVATHI, NILUFER e KRISHNAKUMAR, 2013). A
No qual Ep representa energia potencial na análise do potencial é baseada na repulsão ou atração
região considerada, m é a massa da partícula associada do íon, do qual consideramos o potencial positivo ou
com esta função de onda e ∂ψ/∂t representa a derivada negativo, respectivamente (RAMACHANDRAN, DEEPA,
parcial da função de onda em ordem ao tempo; 2 é o NAMBOORI, 2008). Regiões com alta densidade de
chamado laplaciano de  , ℏ=h/2π. elétrons apresentam potenciais negativos e regiões com
A energia total foi utilizada para estimar a baixa densidade, geralmente, tem potencial positivo.
estabilidade da molécula, e corresponde a soma da
energia de repulsão nuclear com a energia eletrônica.
Utilizando a aproximação de Born-Oppenheimer
(COELHO et al., 1999), que desvincula os
movimentos eletrônico e nuclear assumindo-se uma

27
Lima, Marinho, Silva, Marinho e Marinho
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

Figura 8 - Mapa de superfície de Van der Waals do e outro, antiligante, de maior energia (SANT’ANNA,
flavonoide Ternatina 2009). A teoria dos orbitais de fronteira, trabalha com os
orbitais moleculares, que são construídos através de
combinações lineares de orbitais atômicos, onde nestas
combinações, altos coeficientes presentes na expressão
matemática, utilizados para o cálculo, indicam uma alta
probabilidade de encontrarmos elétrons. Os diagramas
de orbital molecular, podem ser montados segundo
resultados experimentais pelo qual a energia destes
orbitais são encontradas via espectroscopia fotoelétrica
(UV) ou por meio de métodos computacionais (cálculos
teóricos) (ATKINS, 2010). A energia dos orbitais de
fronteira, que envolvem o orbital molecular ocupado de
maior energia (HOMO - Highest Occupied Molecular
Orbital) e o orbital molecular desocupado de menor
energia (LUMO - Lowest Unoccupied Molecular Orbital)
são descritores químico-quânticos bastante utilizados
que desempenham um papel importante nas reações
Fonte: Dados da pesquisa. químicas e na formação de diversos complexos de
O MESP é gerado após a sobreposição na transferência de cargas (SANT’ANNA, 2009). Para o
molécula de uma partícula carregada positivamente, que flavonoide ternatina, o orbital Homo (Figura 10), possui
percorre a superfície de contato de Van der Waals e ao distribuição simétrica entre as fases, com um valor de
revelar uma região de repulsão (REED e energia igual a -8,985 eV, sendo formado pela
WEINHOLD,1985). Juntamente com o momento dipolar contribuição dos átomos de Carbono (C12, C21, C22, C24 e
da molécula, pode ser usado para prever os tipos de C27) e dos átomos de Oxigênio (O7, O8 e O1 (pequena
interação intermolecular, bem como, os locais mais contribuição)).
propícios para a formação de interações entre moléculas Figura 10 – Orbitais de Fronteira ocupado de maior
biológicas e seus receptores (YEARLEY et al., 2008; energia (HOMO) do flavonoide Ternatina
POLITZER e MURRAY, 2002), como também, é uma
importante ferramenta no estudo de melhoramento e
desenvolvimento de novas moléculas potencialmente
bioativas (HIBBS et al., 2004; POLITZER e MURRAY,
2002). O mapa de superfície de Van der Waals, do
flavonoide ternatina, foi utilizado para a construção do
Mapa de Superfície de Potencial Eletrostático (Figura 9),
onde foi possível identificar as regiões de maior
nucleofilicidade nos átomos de oxigênio (O 5, O6, O8),
justificada pela diferença de eletronegatividade entre os
átomos de oxigênio e os átomos de ligantes próximos. Fonte: Dados da pesquisa.
Figura 9 – Mapa de superfície do potencial eletrostático Com relação ao LUMO (Figura 11), também
(MESP) do flavonoide Ternatina podemos observar uma distribuição assimétrica entre as
fases, com um valor de energia igual a -3,167 eV, sendo
este formado pela contribuição dos átomos de Carbono
(C9, C14, C16, C18 e C26) e dos átomos de Oxigênio (O5 e
O6). Utilizando os valores dos orbitais, foi possível obter
o diagrama de energia, onde podemos observar a
formação de um Gap (Energia do HOMO - Energia do
LUMO) igual a 5,825 eV, que pode ser designado com a
energia necessária para o primeiro salto quântico, sendo
este um importante descritor molecular, para futuros
estudos termodinâmicos, relacionados a reatividade da
molécula. As energias HOMO e LUMO são usadas como
descritores químicos de reatividade e geralmente, estão
associados a outros índices como a afinidade eletrônica
e o potencial de ionização (ZHANG, MUSGRAVE, 2007;
SANT’ANNA, 2009; VIJAYARAJ, SUBRAMANIAN e
CHATTARAJ, 2009; ARROIO, 2010).
Fonte: Dados da pesquisa.
Baseada no princípio de interação entre os
orbitais atômicos dos reagentes, quando começam a
interagir e a se sobrepor, ocasiona a formação de dois
novos orbitais moleculares, um ligante, de menor energia

28
Lima, Marinho, Silva, Marinho e Marinho
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

Figura 11 – Orbitais de Fronteira desocupado de menor CARVALHO, I. et al. Introdução a modelagem


energia (LUMO) do flavonoide Ternatina molecular de fármacos no curso experimental de
química farmacêutica. Química Nova, v. 26, n. 3, p.
428-438, 2003.
COELHO, L. W. et al. Aplicação de mecânica molecular
em química inorgânica. Química Nova, v. 22, n. 3, p.
396-404, 1999.
DE MELO, C. l. ESTUDO FARMACOLÓGICO DA
TERNATINAA, UM FLAVONÓIDE ISOLADO DE
Egletes viscosa, LESS. 1991. Dissertação (Mestrado)
– Universidade Federal do Ceará, pós-graduação em
Farmacologia, Fortaleza, 1991.
Fonte: Dados da pesquisa.
DEGÁSPARI, C. H.; WASZCZYNSKYJ, N.
4 CONCLUSÃO
Propriedades antioxidantes de compostos fenólicos.
A utilização da química teórica computacional Visão acadêmica, v. 5, n. 1, 2004.
traz vantagens e benefícios para a ciência, por meio de
DEWAR, M. J. S. et al. Development and use of
estudo in silico do flavonoide Ternatina, foi possível
quantum mechanical molecular models. 76. AM1: a new
realizar uma caracterização eletrônica e estrutural, general purpose quantum mechanical molecular model.
identificando a estrutura conformacional Journal of the American Chemical Society, v. 107, n.
termodinamicamente mais estável, possibilitando a 13, p. 3902-3909, 1985.
visualização tridimensional da molécula e de seus
possíveis sítios interacionais e reacionais, sendo o DRAL, P. O. et al. Semiempirical quantum-chemical
presente trabalho uma etapa fundamental para futuros orthogonalization-corrected methods: theory,
estudos de drug design e docking molecular, visando implementation, and parameters. Journal of chemical
fomentar o potencial deste flavonoide, bem como theory and computation, v. 12, n. 3, p. 1082-1096,
entender seu mecanismo de ação. 2016.
REFERÊNCIAS FERGUSON, P. J. et al. In vivo inhibition of growth of
human tumor lines by flavonoid fractions from cranberry
ARROIO, A. et al. Propriedades químico-quânticas extract. Nutrition and cancer, v. 56, n. 1, p. 86-94,
empregadas em estudos das relações estrutura-
2006
atividade. Química Nova, v. 33, n. 3, p. 694-699, 2010.
GUARDIA, T. et al. Anti-inflammatory properties of plant
ATKINS, P. W.; JONES, L. Princípios de Química:
flavonoids. Anti-inflammatory properties of plant
Questionando a Vida Moderna e o Meio Ambiente.
flavonoids. Effects of rutin, quercetin and hesperidin on
Bookman Editora, 2009. adjuvant arthritis in rat. Il Farmaco, v. 56, n. 9, p. 683-
ATKINS, P. Shriver and Atkins' inorganic chemistry. 687, 2001.
Oxford University Press, USA, 2010. GOSS, D. J.; PETRUCCI, R. H. General Chemistry
BIRT, Diane F.; HENDRICH, S.; WANG, Weiqun. Principles & Modern Applications, Petrucci,
Dietary agents in cancer prevention: flavonoids and Harwood, Herring, Madura: Study Guide.
isoflavonoids. Pharmacology & therapeutics, v. 90, n. Pearson/Prentice Hall, 2007
2-3, p. 157-177, 2001. HALGREN, T. A. Merck molecular force field. I. Basis,
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de form, scope, parameterization, and performance of
Vigilância Sanitária. Resolução de Diretoria Colegiada MMFF94. Journal of computational chemistry, v. 17,
no. 48 de 16 de março de 2004. Aprova o regulamento n. 5‐6, p. 490-519, 1996.
técnico de medicamentos fitoterápico junto ao Sistema
HIBBS, D.E. et al. Experimental and theoretical charge
Nacional de Vigilância Sanitária. DOU. Diário Oficial
density studies of tetrafluorophthalonitrile and
da União, Poder Executivo, DF, Brasília, 18 mar. 2004.
tetrafluoroisophthalonitrile. The Journal of Physical
BRASIL. Medicina Alternativa: Uso de plantas Chemistry B., v. 108, n. 11, p. 3663-3672, 2004.
medicinais e fitoterápicos sobe 161%. Disponível em:
JENSEN, F. Introduction to computational chemistry.
<http://www.brasil.gov.br/saude/2016/06/uso-de-
England: John wiley & sons, 2017.
plantas-medicinais-e-fitoterapicos-sobe-161>. Acesso
em:10 dez. 2018. KIM, S. et al. PubChem substance and compound
databases. Nucleic acids research, v. 44, n. D1, 2015.
CARNEIRO, S. S. et al. In silico Study Of The
Therapeutic Agent In The Treatment Of Non-Hodgkin's KOTZ, J. C.; TREICHEL, P. M.; TOWNSEND, J.
Lymphomas, Peripheral T-Cell Belinostat, A Semi- Chemistry and chemical reactivity. Cengage
Empirical Approach. Imperial Journal of Learning, 2012.
Interdisciplinary Research, v. 2, n. 8, 2016.

29
Lima, Marinho, Silva, Marinho e Marinho
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

LEAL, R. C. et al. A química quântica na compreensão SEMINARIO, J. M. (Ed.). Recent developments and
de teorias de química orgânica. Quim. Nova, v. 33, n. applications of modern density functional theory.
5, p. 1211-1215, 2010. Elsevier, 1996.
LEWARS, E. G. Computational chemistry: SKETCH, M. Version 6.2, 2014, ChemAxon.
introduction to the theory and applications of molecular
and quantum mechanics. Springer, 2016. SILVA-FILHO, F. A. et al. A Labdane diterpene from the
aerial parts of Egletes viscosa less. Journal of the
LIMA, M. A. S. et al. Biologically active flavonoids and Brazilian Chemical Society, v. 18, n. 7, p. 1374-1378,
terpenoids from Egletes viscosa. Phytochemistry, v. 2007.
41, n. 1, p. 217-223, 1996.
SOUZA, M. F. et al. Antithrombotic activity of ternatina,
MACHADO, H. et al. Flavonóides e seu potencial a tetramethoxy flavone from Egletes viscosa Less.
terapêutico. Boletim do Centro de Biologia da Phytotherapy Research, v. 8, n. 8, p. 478-481, 1994.
Reprodução, v. 27, n. 1/2, 2010.
STEWART, J. JP. Optimization of parameters for
MARINHO, M. M.; CASTRO, R. R.; MARINHO, E. S. semiempirical methods VI: more modifications to the
UTILIZAÇÃO DO MÉTODO SEMI-EMPÍRICO PM7 NDDO approximations and re-optimization of
PARA CARACTERIZAÇÃO DO FÁRMACO parameters. Journal of molecular modeling, v. 19, n.
ATALURENO: HOMO, LUMO, MESP. Revista 1, p. 1-32, 2013.
Expressão Católica Saúde, v. 1, n. 1, 2017.
VIJAYARAJ, R.; SUBRAMANIAN, V.; CHATTARAJ, P.
MARINHO, E. S.; MARINHO, M. M. A DFT study of K. Comparison of global reactivity descriptors calculated
synthetic drug topiroxostat: MEP, HOMO, LUMO. using various density functionals: a QSAR perspective.
International Journal of Scientific & Engineering Journal of chemical theory and computation, v. 5, n.
Research, v. 7, n. 8, 2016. 10, p. 2744-2753, 2009.
MARRONI, N. P.; MARRONI, C. A. Estresse Oxidativo XU, X. et al. Predicting solubility of fullerene C60 in
e antioxidante. ULBRA, Canoas, 2002. diverse organic solvents using norm indexes. Journal
of Molecular Liquids, v. 223, p. 603-610, 2016.
MATOS, F. J. de A. O projeto farmácias-vivas e a
fitoterapia no nordeste do Brasil. Rev. Cienc. Agrovet, YEARLEY, E. J. et al. Experimental electron density
v. 5, n. 1, p. 24-32, 2006. studies of non-steroidal synthetic estrogens:
Diethylstilbestrol and dienestrol. Journal of Molecular
MOPAC2016, Version: 16.111W, James J. P. Stewart, Structure, v. 890, n. 1, p. 240-248, 2008.
2016.
ZERAIK, M. L. Estudo analítico dos flavonoides dos
NELSON, D. L.; COX, M. M. Lehninger: principios de frutos do maracujá (Passiflora edulis Sims f. flavicarpa
bioquímica. 2015. Degener). 2010. Tese (Doutorado) – Universidade de
PIETTA, P.-G. Flavonoids as antioxidants. Journal of São Paulo, 2010.
natural products, v. 63, n. 7, p. 1035-1042, 2000. ZHANG, G.; MUSGRAVE, C. B. Comparison of DFT
POLITZER, P.; MURRAY, J. S. The fundamental nature methods for molecular orbital eigenvalue calculations.
and role of the electrostatic potential in atoms and The journal of physical chemistry A, v. 111, n. 8, p.
molecules. Theoretical Chemistry Accounts, v. 108, 1554-1561, 2007.
n. 3, p. 134-142, 2002.
PRABAVATHI, N..; NILUFER, A.; KRISHNAKUMAR, V. SOBRE OS AUTORES
Vibrational spectroscopic (FT-IR and FT-Raman)
studies, natural bond orbital analysis and molecular Aurineide Ribeiro Lima
electrostatic potential surface of Isoxanthopterin. Universidade Estadual do Ceará, Brasil
Spectrochimica Acta Part A: Molecular and https://orcid.org/0000-0003-1964-0190
Biomolecular Spectroscopy, v. 114, p. 101–113,
2013. Licencianda em Química na Faculdade de Filosofia Dom
Aureliano Mattos-FAFIDAM/UECE.
RAMACHANDRAN, K. I.; DEEPA, G; NAMBOORI, K.
Computational chemistry and molecular modeling: E-mail: [email protected]
principles and applications. Springer Science &
Business Media, 2008. Emanuelle Machado Marinho
Universidade Federal do Ceará, Brasil
REED, A. E.; WEINSTOCK, R. B.; WEINHOLD, F.
Natural population analysis. The Journal of Chemical Graduanda em Bacharelado em Química na
Physics, v. 83, n. 2, p. 735-746, 1985. Universidade Federal do Ceará.
SANT’ANNA, C. M. R. et al. Métodos de modelagem E-mail: [email protected]
molecular para estudo e planejamento de compostos
bioativos: Uma introdução. Revista Virtual de
Química, v. 1, n. 1, p. 49-57, 2009.
30
Lima, Marinho, Silva, Marinho e Marinho
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

Jacilene Silva
Universidade Estadual do Ceará, Brasil
https://orcid.org/0000-0001-5008-858X

Licencianda em Química na Faculdade de Filosofia Dom


Aureliano Mattos-FAFIDAM/UECE.

E-mail: [email protected]

Márcia Machado Marinho


Universidade Federal do Ceará, Brasil
Graduada em Farmácia pela Universidade Federal do
Ceará, Licenciada em Química pela Universidade
Estadual do Ceará, Mestre em Biotecnologia pela
Universidade Federal do Ceará, Doutoranda em
Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal do
Ceará.

E-mail: [email protected]

Emmanuel Silva Marinho


Universidade Estadual do Ceara, Brasil
https://orcid.org/0000-0002-4774-8775
Possui graduação em Química pela Universidade
Federal do Ceará, mestrado em Bioquímica pela
Universidade Federal do Ceará, Doutorado em
Bioquímica pela Universidade Federal do Ceará.
Atualmente é professor Adjunto da Universidade
Estadual do Ceará, lotado na unidade de Limoeiro do
Norte. Tem experiência na área de Bioquímica, com
ênfase em Química de Proteínas, atuando
principalmente nos seguintes temas: Bioprospecção,
Química computacional, Bioinformática, Ensino de
Química, informatica educacional.

E-mail: [email protected]

31
Lima, Marinho, Silva, Marinho e Marinho
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X.

INFLUÊNCIA DO MÉTODO PILATES NA FUNÇÃO


CARDIORRESPIRATÓRIA DE IDOSOS

Maria Edgleuma Braz de RESUMO


Sousa
David Jonathan Nogueira A deterioração da função do sistema de transporte de oxigênio está intimamente
Martins ligada ao declínio do desempenho físico no idoso. O Método Pilates surge como
Diego Bastos Gonzaga forma de condicionamento físico particularmente interessado em proporcionar
Carlos Ariel Souza de bem-estar geral ao indivíduo. O presente estudo teve como objetivo investigar a
Oliveira influência do Método Pilates na função cardiorrespiratória de idosos. Trata-se de
Germana Mesquita uma pesquisa de campo do tipo intervencionista, descritiva, quantitativa e
Magalhães prospectiva. Participaram 24 idosas de idade média 65,37 (± 5,76 anos), com
Vasco Pinheiro Diógenes autonomia cognitiva preservada, submetidas à avaliação cardiorrespiratória
Bastos contendo os dados da manovacuometria, fluxometria expiratória e sinais vitais,
além da avaliação da qualidade de vida pelo questionário SF-36. A seguir, foi
aplicado um protocolo de quatro sessões de Pilates com duração de 60 minutos
cada, perfazendo uma sequência de 27 exercícios, utilizando-se como recurso a
faixa elástica de resistência forte. Após intervenção as idosas foram reavaliadas.
Os resultados encontrados demonstraram que em todos os domínios do SF-36
houve melhora da pontuação, porém, apenas os domínios Aspectos Emocionais
(ρ = 0,03; Teste de Wilcoxon) e Vitalidade (ρ = 0,02; Teste t de Student, pareado)
foram significativamente diferentes quando comparados antes e após
intervenção. Em relação à avaliação cardiorrespiratória não houve diferença
estatística significante nas variáveis analisadas. Conclui-se que o Pilates não teve
influência sobre as variáveis cardiorrespiratórias, mas foi responsável pela
melhora da qualidade de vida das idosas estudadas.
PALAVRAS-CHAVE: Exercício. Idoso. Respiração.

THE INFLUENCE OF PILATES METHOD IN


CARDIORESPIRATORY FUNCTION IN OLDER ADULTS
ABSTRACT

The deterioration of the body’s oxygen transport system is intimately related to the
decline of elderly physical performance. Pilates Method rises as a form of physical
conditioning particularly interested in providing a general state of well-being for the
individual. The present study aimed to investigate the influence of Pilates Method
in cardiorespiratory function in older adults. It is an interventionist, descriptive,
quantitative and prospective field research. 24 elderly women with average age of
65,37 (± 5,76 years) participated in the study, with cognitive autonomy preserved,
being submitted to cardiorespiratory assessment containing manovacuometry
data, expiratory flow rate and vital signs, besides quality of life measures by the
questionnaire SF-36. Then, it was applied a protocol with four Pilates sessions
lasting 60 minutes each, along with a sequence of 27 exercises, using as resource
the resistance of elastic band. After the intervention, the elderly were revaluated.
The results indicated that in all SF-36 domains there was a punctuation
improvement, however only the Emotional Aspects (ρ = 0.03, Wilcoxon's Test) and
Vitality (ρ = 0.02; Student's t-test, paired) domains were significantly different when
compared before and after the intervention. In relation to the cardiorespiratory
assessment there were no different statistics in the variables analyzed. It is
concluded that Pilates had no influence on the cardiorespiratory variables, but it
Enviado em: 11/03/2018 was responsible for improving the quality of life of the elderly women studied.
Aceito em: 12/04/2018
Publicado em: 30/04/2018 KEYWORDS: Breathing. Exercise. Old Adult.
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

1 INTRODUÇÃO Essas alterações são responsáveis pela redução


Uma das características da sociedade atual é o da força muscular respiratória, prejudicando não só a
grande número de pessoas que atinge idade avançada. função de bomba ventilatória como também as funções
Uma realidade largamente documentada por todas as não ventilatórias do sistema respiratório. As funções não
entidades nacionais e internacionais. Para a ONU, o ventilatórias incluem: tossir, espirrar, falar, cantar,
Brasil, dentro de 25 anos, terá a sexta maior população realizar a manobra de Valsalva e outras funções que são
de idosos no mundo, com mais de 32 milhões de acompanhadas pelo esforço expiratório. A redução da
indivíduos com 60 anos ou mais, representando cerca de força muscular respiratória pode ser amenizada com a
15% da população total (SILVA, 2010). prática de exercícios físicos (KIM; SAPIENZA, 2005).
Vive-se mais, e este sempre foi o intuito do ser O declínio progressivo do sistema circulatório,
humano, porém, o lado otimista desta tão propagada também é um fator preocupante, uma vez que, as
conquista de um envelhecimento positivo, não inibe a alterações anátomo-funcionais do mesmo facilitam o
visão negativa no campo da saúde. Dados do Ministério desenvolvimento de doenças cardiovasculares que
da Saúde comprovam este fato ao mostrar que cerca de podem resultar em uma velhice malsucedida
25% da população idosa brasileira não apresenta (GALLAHUE; OZMUN, 2005).
perspectivas de envelhecimento positivo (SILVA, 2010). O enrijecimento arterial é um processo próprio
Notabilizando, portanto, que a tendência atual é desta fase da vida, decorrente do desgaste imposto ao
termos um número crescente de indivíduos idosos que, longo dos anos levando à ruptura das fibras de elastina
apesar de viverem mais, apresentam maiores condições na parede das artérias e sua substituição por colágeno
crônicas. E o aumento no número de doenças crônicas menos distensíveis, resultando na redução da
está diretamente relacionado com maior incapacidade complacência arterial e aumento da Pressão Arterial
funcional (ALVES, 2007). Sistólica (PAS), responsável pelo aparecimento de
Realidade esta evidenciada por um estudo que Hipertensão Arterial Sistólica (HAS), Hipertrofia
mostrou que as idosas dependentes das Atividades da Ventricular (HVE) e aumento atrial (WAJNGARTEN,
Vida Diária (AVD) apresentam maior prevalência de 2010).
doença pulmonar, seguida da doença cardíaca. Acredita-se que a deterioração da função
Portanto, a necessidade de respirar, tal como outras neuromuscular, osteoarticular e do sistema de transporte
necessidades fundamentais, é afetada na sua dimensão de oxigênio está intimamente ligada ao declínio do
biológica pelo envelhecimento (ALVES, 2007). desempenho físico no idoso (NÓBREGA et al., 1999).
O envelhecimento consiste na degeneração Levando em consideração os fatos
progressiva dos sistemas corporais, o que afeta a apresentados, estudos ressaltam a importância da
capacidade de funcionamento do corpo (ABREU et al., atividade física para esta população, pois o processo de
2005; VALE, 2005). Além dos fatores biológicos, a envelhecimento beneficia as perdas, principalmente, nos
redução do desempenho funcional pode estar associada aspectos cognitivos e físicos, tornando-se assim a
ao sedentarismo, ao tabagismo e à alimentação atividade física um fator que pode ajudar a amenizar
inadequada. Esses fatores contribuem esses danos (RABACOW et al., 2006).
significativamente para a perda de força, flexibilidade, E apesar do exercício físico ser conhecido por
resistência e capacidade cardiorrespiratória, que por sua promover alterações positivas na saúde, incluindo
vez causam prejuízo no desempenho motor, benefícios cardiorrespiratórios, aumento da densidade
repercutindo negativamente na autonomia funcional de mineral óssea, diminuição do risco de doenças crônico-
idosos (ABREU et al., 2005). degenerativas e aperfeiçoamento do desempenho
Dentre os sistemas do organismo, acredita-se muscular e funcional, o nível de atividade física praticada
que o respiratório seja o que envelhece rapidamente, por idosos ainda é pequeno (NÓBREG et al., 1999).
devido à maior exposição a poluentes ambientais ao Evidenciando este contexto, o método Pilates
longo dos anos (BELINI, 2004). De acordo com Kim e surge como forma de condicionamento físico
Sapienza (2005), uma das principais mudanças no particularmente interessado em proporcionar bem-estar
sistema respiratório com o avançar da idade é a geral ao indivíduo, sendo capaz de melhorar a força,
diminuição do recolhimento elástico dos pulmões e da flexibilidade, boa postura, controle postural, consciência
complacência da caixa torácica. Essas alterações estão corporal e percepção do movimento (EMMANUEL;
relacionadas às mudanças na quantidade e na GUALBERTO; LISLEI, 2014).
composição dos componentes dos tecidos conjuntivos O Pilates se caracteriza pela tentativa do
do pulmão, como elastina, colágeno e proteoglicanos. controle dos músculos envolvidos nos movimentos da
Estudos demonstram que a idade é um preditor forma mais consciente possível (SILVA, 2009). Segundo
negativo das forças musculares respiratórias tanto em McNeill (2011) o Pilates, técnica criada no início da
homens quanto em mulheres (EMMANUEL; década de 1920 por Joseph Pilates, se baseia numa
GUALBERTO; LISLEI, 2014). Observam-se declínio da integração geral de todos os movimentos do corpo,
capacidade vital forçada, volume expiratório forçado no envolvendo contrações musculares de alto ou baixo
primeiro segundo e fluxo expiratório desse tipo, bem limiar, e explora exercícios de amplitude de movimento
como aumento na capacidade residual funcional e completa ou com a articulação em posição neutra.
volume de reserva expiratório, que se relacionam com a O método se baseia no conceito da contrologia,
redução no recolhimento elástico pulmonar e a em que todos os movimentos do corpo devem ser
diminuição da complacência da caixa torácica (RUIVO, totalmente conscientes, entendendo seus princípios de
2009). equilíbrio e gravidade nos diferentes momentos
(KOLYNIA et al., 2004).

33
Sousa, Martins, Gonzaga, Oliveira, Magalhães e Bastos
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

Os exercícios que compõem o método envolvem dados, mediante a assinatura do Termo de


contrações isotônicas (concêntricas e excêntricas) e, Consentimento Livre Esclarecido (TCLE).
sobretudo isométricas, com ênfase no que Joseph Como instrumento para a coleta de dados foi
Pilates denominou powerhouse (ou centro de força). utilizado uma ficha de avaliação, para verificar as
Este centro de força é composto pelos músculos atitudes posturais e as variáveis cardiorrespiratórias dos
abdominais, glúteos e paravertebrais lombares, que são indivíduos pesquisados, contendo os dados obtidos da
responsáveis pela estabilização estática e dinâmica do manovacuometria e fluxometria expiratória, sendo
corpo. Então, durante os exercícios, a expiração é avaliada também a qualidade de vida por meio da
associada à contração do diafragma, do transverso resolução do questionário SF-36.
abdominal, dos multífidos e dos músculos do assoalho A ficha de avaliação foi aplicada a todas as
pélvico (PIRES; DE SÁ, 2005). participantes, do qual foi possível avaliar os aspectos
Sua característica principal é o trabalho resistido relacionados à condição de saúde das participantes
e o alongamento dinâmico, realizados em conjunto com (doenças associadas, pressão arterial sistêmica,
a respiração e respeitando os seguintes princípios: frequência respiratória e cardíaca, avaliação postural),
controle, precisão, centralização, fluidez de movimento, bem como obter informações sobre os antecedentes
concentração e respiração (CURNOW et al., 2009). pessoais e familiares e medicamentos em uso.
Os benefícios dos exercícios do método Pilates Para a mensuração da força muscular
e seu possível impacto nas alterações cardiopulmonares respiratória foi utilizado um manovacuômetro analógico
em idosos, é um tema pouco discutido na literatura. da marca MIR®, com escalas de ±150cmH2O
Justificando-se, portanto, a realização deste estudo, que (devidamente calibrado). Foram obtidas as medidas de
teve como objetivo geral investigar a influência do pressão inspiratória máxima (PImáx) e pressão
método Pilates na função cardiorrespiratória de idosos e expiratória máxima (PEmáx), realizadas no máximo
como objetivo específico, verificar o efeito dos exercícios cinco vezes, aceitáveis e reprodutíveis, sendo feitas na
nas pressões respiratórias estáticas e na capacidade posição sentada, com uso de clipe nasal. O valor da
respiratória, identificar as possíveis variações dos sinais PImáx foi obtido a partir do volume residual, e a PEmáx,
vitais e analisar o impacto da prática dos exercícios a partir da capacidade pulmonar total. Considerando-se
sobre a qualidade de vida dos idosos. o maior valor obtido desde que esse não fosse o último.
A avaliação do pico de fluxo expiratório foi
2 MÉTODO realizada utilizando-se o aparelho Peak Flow Meter da
marca Assess®, com escala de 60 a 880L/min. Para a
Trata-se de uma pesquisa de campo do tipo obtenção desta medida o indivíduo permaneceu sentado
descritiva, quantitativa, intervencionista, prospectiva, com um clipe nasal, e realizou uma manobra expiratória
realizada no Centro Integrado de Esporte e Lazer Agacil forçada a partir da inspiração máxima, ao nível da
Camurça, situado em Maracanaú/CE. Capacidade Pulmonar Total, sendo executadas três
O Centro Integrado pertence a um projeto da vezes, computando-se o maior valor obtido.
prefeitura de Maracanaú denominado “De bem com a A pressão arterial foi aferida utilizando-se o
vida” onde é desenvolvido um trabalho com idosos e esfigmomanômetro aneróide e estetoscópio da marca
familiares, para uma melhor qualidade de vida da Premium®, com o participante sentado e braço esquerdo
população, por meio da realização de atividades físicas apoiado.
como aulas de aeróbica, hidroginástica e ballet, bem A frequência cardíaca e respiratória foi
como outras atividades ocupacionais. observada pelas pesquisadoras de modo visual,
O projeto conta com a participação de 1500 contando durante 60 segundos, com o auxílio de um
integrantes, dos quais 500 encontram-se na faixa etária cronômetro. Outros aparelhos utilizados foram a balança
de 60 anos ou mais, sendo que 54 preencheram os digital para medir o peso corporal, estadiômetro e fita
critérios de inclusão, que consistia em: idade igual ou métrica para realizar as medidas antropométricas.
superior a 60 anos, sem história pregressa de doenças Após a avaliação os participantes foram
cardíacas, pulmonares, neurológicas e traumato- submetidos ao treinamento por meio de exercícios do
ortopédicas que os impossibilitassem de realizar os método Pilates, que foi realizado em quatro semanas,
exercícios propostos, não fazer uso de dispositivo de com frequência semanal de uma sessão de Pilates solo,
auxílio à marcha, autonomia cognitiva preservada, com duração de 60 minutos, perfazendo uma sequência
independente de raça, sexo, estado socioeconômico e de 27 exercícios (Quadro 1), executados em 1 série de
que aceitassem participar do estudo. Foram excluídos os 10 repetições cada, utilizando-se como recurso a faixa
idosos que se recusaram a continuar com os elástica de resistência forte. E após esse período os
procedimentos da pesquisa e os que faltaram a 10% do participantes foram reavaliados para servir de
treinamento previsto. comparativo.
Inicialmente foi realizada uma visita ao Centro
Integrado de Esporte e Lazer Agacil Camurça, para
explicar ao coordenador a respeito do presente estudo,
e solicitar a aprovação do responsável para execução da
pesquisa, mediante assinatura do Termo de Anuência.
Em seguida, foi feito o convite aos idosos cadastrados
no programa, esclarecendo a importância da pesquisa e
solicitando o consentimento destes para a coleta de

34
Sousa, Martins, Gonzaga, Oliveira, Magalhães e Bastos
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

Quadro 1: Exercícios de Pilates realizados durante o estudo.

DECÚBITO DECÚBITO DECÚBITO


SENTADO ORTOSTÁTICA
DORSAL VENTRAL LATERAL
1. Conscientização 1. Single Leg 1. Abdução de 1. Abdominal 1. Flexão de tronco em pé
da respiração Kick quadril com 2. Spine Strech 2. Marmeid (sereia)
diafragmática 2. Alongamento joelho estendido 3. Saw 3. Rotação torácica
2. Alongamento da da CA 2. Flexão de quadril 4. Rotação 4. Fortalecimento de MMSS
CP dos MMII 3. Prece com joelho torácica 5. Alongamento de cervical
3. Alongamento da estendido 5. Marmeid 6. Alongamento dos MMSS
CM dos MMII 3. Extensão de (sereia)
4. Alongamento da quadril com
CL dos MMII joelho estendido
5. Ponte 4. Círculo de pernas
6. Leg Circle
7. Single Leg
Strech
8. Footwork
9. Abdominal (reto
e oblíquo)
CP: cadeia posterior; CM: cadeia medial; CL: cadeia lateral; CA: cadeia anterior; MMII: membros inferiores; MMSS:
membros superiores.
Os dados foram analisados pelo programa Quadro 2 – Distribuição dos dados de acordo com o
SigmaPlot versão 11.0, e foram expressos em média e perfil da amostra em estudo. Fortaleza/CE, 2015.
desvio-padrão, adotando como significância estatística o
valor de ρ<0,05. Para tanto, foi utilizado os Testes t de Variáveis Média (DP)
Student, para variáveis paramétricas (frequência
Idade (anos) 65,38 (±5,76)
cardíaca de repouso; frequência respiratória; pressão
expiratória máxima obtida; pico de fluxo expiratório, Peso (Kg) 67,43 (±11,13)
capacidade funcional, dor, aspectos sociais, saúde
mental, vitalidade e estado geral de saúde), e Wilcoxon, Estatura (m) 1,51 (±0,04)
utilizado nas variáveis não paramétricas (pressão arterial
média; pressão inspiratória máxima obtida; pressão IMC (Kg/m²) 29,23 (±4,14)
expiratória máxima predita, limitação por aspectos DP: Desvio Padrão
físicos e aspectos emocionais). Esses dados iniciais
Em relação à história clínica pode-se observar, no
coletados dos idosos, dados não comparativos foram
gráfico 1, que a hipertensão arterial e o excesso de peso
expressos em valores percentuais.
são fatores relevantes que se destacam nesta
A pesquisa teve início após aprovação do
população, apesar de apresentarem outras morbidades
Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário
como: doença cardíaca, diabetes e doença pulmonar.
Estácio do Ceará, protocolo nº 1.057.473/ 2015.

3 RESULTADOS Gráfico 1 - Distribuição dos dados de acordo com a


história clínica da amostra em estudo. Fortaleza/CE,
Foram incluídos 54 idosos, dos quais 30 foram 2015.
excluídos, por terem faltado mais de 10% do treinamento
previsto, sobrando uma amostra de 24 membros, do
sexo feminino, com média de idade de 65,37 (± 5,76
anos). A caracterização da mesma quanto à estatura,
peso, Índice de Massa Corporal (IMC) e idade
encontram-se no Quadro 2. Dentre os dados analisados
chamou a atenção o IMC por representar que as idosas
estão em uma faixa de sobrepeso.

TTO = tratamento.
O Quadro 3 apresenta os valores obtidos da
avaliação cardiorrespiratória realizada no pré e pós-
intervenção. Os resultados mostram que não houve
diferença estatística em nenhuma das variáveis
analisadas, porém quando a PImáx obtida foi comparada
com a PImáx predita, antes da intervenção, as pressões
35
Sousa, Martins, Gonzaga, Oliveira, Magalhães e Bastos
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

foram significativamente diferentes (ρ = 0,002; Teste t de 0,051; Teste t de Student, não pareado), após a
Student, não pareado), dado que não foi repetido quando intervenção.
comparadas a PImáx obtida com a PImáx predita (ρ =

Quadro 3 - Distribuição dos dados de acordo com as variáveis avaliadas através da manovacuometria, peak flow e
sinais vitais antes e após o período de intervenção. Fortaleza/CE, 2015.
Pré-Intervenção Pós-Intervenção
Variáveis Média (DP)
Média (DP) ρ (valor)

67,33 71,95
FCrep (bpm) 0,07
(±12,91) (±9,51)
17,62 17,33
FR (ipm) 0,68
(±3,95) (±3,30)
97,77 97,77
PAM (mmHg) 1
(±10,47) (±10,47)
- 61,04* - 85
PImáx obtido (cmH2O) 0,13
(±40,70) (±45,27)
- 78,36 - 78,36
PImáx predito (cmH2O) 1
(±2,82) (±2,82)
+ 74 + 78
PEmáx obtido (cmH2O) 0,45
(±26) (±29)
+ 76 + 76
PEmáx predito (cmH2O) 1
(±4) (±4)
267 275
PFE (L/min) 0,58
(±58) (±68)
DP = Desvio Padrão; FCrep = frequência cardíaca de repouso; bpm = batimentos por minuto; FR = frequência respiratória; ipm
= incursões por minuto; PAM = pressão arterial média; PImáx = pressão inspiratória máxima; PEmáx = pressão expiratória
máxima; PFE = pico de fluxo expiratório. *Teste t de Student, não pareado, quando comparado a PImáx obtida com a PImáx
predita antes da intervenção.

O gráfico 2 representa os dados obtidos da manovacuometria antes e após o período de prática dos
exercícios de pilates, mostrando que houve uma melhora da força muscular inspiratória, com um aumento de 33% (n
= 8) no percentual de idosas com uma PImáx boa, bem como da força muscular expiratória que obteve um aumento
de 4% (n = 1).
Gráfico 2 - Distribuição dos dados de acordo com a PImáx e PEmáx obtidas antes e após a prática do pilates.
Fortaleza/CE, 2015.

A qualidade de vida foi analisada pela aplicação do questionário SF-36, onde foi observado que em todos os
domínios houve melhora da pontuação, porém, apenas os domínios Aspectos Emocionais (ρ = 0,03; Teste de

36
Sousa, Martins, Gonzaga, Oliveira, Magalhães e Bastos
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

Wilcoxon) e Vitalidade (ρ = 0,02; Teste t de Student, pareado) foram significativamente diferentes quando comparados
antes e após a intervenção.
A maior pontuação após a intervenção ocorreu no domínio aspectos sociais com 89,06 ± 20,62 pontos
representando uma classificação considerada “muito boa”, enquanto os demais foram classificados em “bom”. A
menor pontuação foi observada no domínio estado geral de saúde com 58,33 ± 15,44 pontos representando na
classificação um estado “regular” (Quadro 4).

Quadro 4 - Distribuição dos dados de acordo com pontuação obtida do questionário de qualidade de vida SF-36
antes e depois da intervenção. Fortaleza/CE, 2015.

CF LAF D AS SM AE V EGS

Antes
Média 64,12 63,15 66,14 79,68 71 70,58 66,66 51,68
(DP) (±21,23) (±24,10) (±22,48) (±21,74) (±12,60) (±28,58) (±18,45) (±16,72)

Depois
Média 73,14 76,25 70,31 89,06 75,33 94,73 76,45 58,33
(DP) (±21,77) (±27,47) (±22,03) (±20,62) (±17,16) (±12,48) (±17,22) (±15,44)

Ρ 0,11 0,06 0,38 0,09 0,24 0,03* 0,02** 0,20

CF = Capacidade Funcional; LAF = Limitação por Aspectos Físicos; D = Dor; AS = Aspectos Sociais;
SM = Saúde Mental; AE = Aspectos Emocionais; V = Vitalidade; EGS = Estado Geral de Saúde. *Teste de Wilcoxon, quando
comparado antes e depois do tratamento. **Teste t de Student, pareado, quando comparado antes e depois do tratamento.

4 DISCUSSÃO respiratória (FR). Entretanto, a resposta do padrão


respiratório é diferente de acordo com a intensidade do
De acordo com Reis et al., (2011), no Brasil, há exercício, e apresenta uma grande variação entre os
uma maior quantidade de mulheres na faixa etária idosa sujeitos.
e esta diferença acentua-se de acordo com o avanço da No estudo feito por Liberalino et al., (2013) com
idade. Essa superioridade feminina predomina também seis mulheres de idade média 26 anos praticantes do
sobre os praticantes de Pilates, podendo ser atribuída método Pilates, a FR de repouso apresentou uma
essa maior tendência ao autocuidado. Justificando, redução após as 20 aulas, inicialmente com uma média
portanto, a prevalência absoluta de mulheres na nossa de 19,17 (± 3,25) irpm e ao final, ficou em torno de 14,33
pesquisa. (± 3,39) irpm sendo o nível de significância igual a 0,01
Para Rech et al., (2006), em pesquisas feitas no (p < 0,05).
Brasil, há um aumento significativo na prevalência de Na pesquisa atual não se observou alteração na
excesso de peso e obesidade na população nacional, FR, ela se manteve constante (antes 17,33 ± 3 irpm
sendo as mulheres as mais acometidas. depois 17,63 ± 4 irpm), exatamente como ocorreu no
Segundo Barreto (2002), em um grupo de estudo de Rocha et al., (2015) onde não houve diferença
pacientes com obesidade, foi encontrado aumento do estatisticamente significativa no comportamento da FR
volume residual e redução dos fluxos máximos a baixos em mulheres na faixa etária de 60 anos ou mais
volumes pulmonares, sugerindo obstrução de vias submetidas a oito sessões de Pilates. Esta diferença de
aéreas periféricas com aprisionamento aéreo. resultados deveu-se provavelmente ao tempo reduzido
O estudo realizado por Rocha et al., (2015) de treinamento físico e da diferença de faixa etária
comprovou este fato ao mostrar que o excesso de peso, abordada.
observado através do IMC, entre 31 e 59 anos (25,1 ± Ao se analisar a frequência cardíaca de repouso
2,93) e em maiores que 60 anos (26,50 ± 3,34), nas (FCrep) antes e após a prática do Pilates observou-se
alunas praticantes de Pilates, poderia justificar uma que não há diferença estatística, fato comprovado pelos
redução na capacidade respiratória nessas faixas estudos de Liberalino et al., (2013) e Rocha et al., (2015).
etárias. Corroborando com os resultados da nossa Já em relação à pressão arterial há
pesquisa onde 80% (n = 19) das mulheres estavam controvérsias, Liberalino et al., (2013) em sua verificação
acima do peso e 96% (n = 23) tiveram um desempenho antes e após 20 aulas de Pilates, observou diferença
ruim no pico de fluxo expiratório, sugerindo obstrução de significativa na pressão arterial sistólica (PAS) (antes
vias aéreas. 118,33 ± 9,83 mmHg e depois 103,33 ± 13,66 mmHg) e
Lopes et al., (2005) relataram em seu estudo que na pressão arterial diastólica (PAD) (início 80 ± 0,00
há um aumento do volume minuto durante todo o mmHg e ao final 78,33 ± 11,69 mmHg).
exercício e um dos fatores é por meio da frequência Em 44 estudos randomizados e controlados (n =
respiratória, no qual em exercícios de baixa intensidade 2.674), Fagard (2001) avaliou a relação exercício e
há aumento do volume corrente (VC) e da frequência pressão arterial em repouso, encontrando redução da
37
Sousa, Martins, Gonzaga, Oliveira, Magalhães e Bastos
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

média de pressão sistólica (3,4 mmHg em geral; 2,6 exercício, melhorando a expansibilidade torácica,
mmHg em normotensos; 7,4 mmHg em hipertensos) e ventilação, perfusão e nutrição dos tecidos
da pressão diastólica (2,4 mmHg em geral; 1,8 mmHg (LIBERALINO; SOUSA; SILVA, 2013).
em normotensos; 5,8 mmHg em hipertensos). Kokkinos Segundo Blount e Mckenzie (2006) a respiração
e Papademetriou (2000) relataram reduções de correta do método Pilates deve ser realizada com os
10mmHg na pressão sistólica e de 7,5 mmHg na pressão músculos da região abdominal contraídos, não
diastólica com treinamento. movimentando o abdome para não deixar a região
Em contrapartida, no estudo de Rocha et al., lombar desprotegida e utilizando os músculos torácicos
(2015) não houve alteração estatística em relação às e costais para gerar expansão lateral da caixa torácica.
pressões arteriais de mulheres de 60 anos ou mais Este tipo de respiração é denominada respiração lateral
submetidas ao treinamento com o Pilates (antes 102,3 ± e utiliza uma respiração torácica associada a uma
10,7 e depois 101,7 ± 9,6). Assemelhando-se com os contração principalmente dos músculos transverso do
resultados do presente estudo que não apresentou abdome (TrA), multífido lombar (ML) e oblíquo interno
mudança na pressão arterial média (PAM) entre a (OI) que são considerados músculos estabilizadores da
primeira e a última sessão de Pilates (antes 97,78 ± 10 e coluna vertebral (BALOGH, 2005).
depois 97,92 ± 14), tendo como fator determinante dessa Ao realizar a contração destes músculos há
diferença, o tempo diminuído de treinamento. participação do principal músculo da respiração, que é o
Estudos relatam que a prática de exercícios diafragma, o qual trabalha em conjunto ao conter o
físicos tem se mostrado eficiente na melhoria da deslocamento das vísceras (BARR; GRIGGS; CADBY,
musculatura respiratória (KIM; SAPIENZ, 2005; 2005).
GONÇALVES et al., 2006). Entre as várias atividades Sendo assim, o músculo diafragma durante a
físicas o Método Pilates vem demonstrando eficácia respiração em condições normais, com o abdome
sobre a força muscular respiratória, no qual as pesquisas relaxado, tem a sua excursão livre gerando pouca
de Liberalino et al. (2013), Andrade et al. (2010) e Lopes resistência dos órgãos internos e músculos abdominais
et al., (2014) mostraram um aumento estatístico da que se deslocam fornecendo espaço para sua
PEmáx após a prática do Pilates, do qual não ocorreu na movimentação. Essa dinâmica é alterada durante os
PImáx, que apesar de apresentar valores acima do exercícios de Pilates porque ao realizar a respiração
predito, não obteve significância estatística. lateral o músculo diafragma encontra resistência em sua
Santos et al., (2015) ao analisarem os excursão pela contração dos músculos abdominais que
parâmetros respiratórios em 10 mulheres saudáveis impedem o deslocamento dos órgãos, aumentando a
submetidas a 20 sessões de Pilates no solo encontraram pressão intra-abdominal e essa tensão do músculo
aumento da ventilação voluntária máxima, força diafragma possivelmente é a que gera seu
muscular inspiratória e expiratória e na cirtometria axilar, fortalecimento (SANTOS et al., 2015).
mostrando que o método Pilates é eficaz na melhora da Em relação à análise do pico de fluxo expiratório
força e resistência muscular respiratória, além da não se observou alteração estatisticamente significativa.
mobilidade tóraco-abdominal. No entanto, nota-se um fluxo inferior ao previsto
Em contrapartida, Fonseca (2012) em seu (ROCHA; COSTA; LUDUVICE, 2015).
experimento com 33 idosas de idade média 70,88 anos, Sobre a relação qualidade de vida e exercício,
saudáveis e sedentárias submetidas a 24 sessões de as pesquisas mostram que idosos envolvidos em
Pilates, não encontrou diferença estatística nem na atividades físicas apresentam escores mais altos em
PImáx e nem na PEmáx após a prática do exercício. praticamente todos os domínios do SF-36 (GUALLAR-
Resultado este que também foi observado na presente CASTILLON et al., 2004; CAPORICCI; NETO, 2011).
pesquisa, não obtendo diferença estatística entre as Barros (2011) ao analisar os aspectos da
pressões respiratórias máximas antes e após a prática qualidade de vida de idosos praticantes do método
do Pilates, apesar de apresentar valores acima do Pilates, utilizando-se como instrumento o questionário
predito. WHOQOL-bref adaptado, encontrou um elevado nível de
Esses resultados podem ser justificados por qualidade de vida nos participantes.
meio das adaptações decorrentes do exercício físico que
pode gerar alterações nas propriedades contráteis, 5 CONCLUSÃO
morfológicas e metabólicas das fibras musculares,
modificando o comprimento, o diâmetro, a força e o tipo Os resultados desse estudo sugerem que os
de fibra, Fonseca (2012) e Polito et al., (2010). Acredita- exercícios de Pilates foram responsáveis pela melhora
se ainda, que as adaptações ocorridas, estejam da qualidade de vida das idosas estudadas, porém não
vinculadas, a um maior recrutamento de fibras geraram influências nas variáveis cardiorrespiratórias.
musculares e unidades motoras, melhor sincronismo e Isso pode ser justificado pelo pouco tempo de
frequência de disparo dessas unidades e melhor relação atividade, sendo necessário, talvez, um tempo mais
agonista-antagonista, ocasionando aumento na prolongado para que seja notada uma melhor resposta
produção de força (GALVAN; CATANEO, 2007). nesses marcadores funcionais.
Para a realização do método Pilates, diversos Programas de exercícios por meio do método
músculos são ativados e, entre eles, os músculos Pilates colaboram para melhoria e manutenção da
envolvidos na respiração (FACIROLLI; FORTI, 2010), qualidade de vida de mulheres. A prática regular dessa
influenciados pelo princípio do método que promove ao modalidade de exercícios por mulheres idosas influencia
paciente uma reeducação respiratória, através da suas vidas de forma positiva, contribuindo para maior
coordenação das incursões ventilatórias com o autonomia e independência, conforme constatado nos

38
Sousa, Martins, Gonzaga, Oliveira, Magalhães e Bastos
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

resultados desta pesquisa. Entretanto, há necessidade muscular respiratória de idosas: um ensaio clínico. Rev
de um número maior de estudos, bem como de um Bras Geriatr Gerontol, v.17, n.3, p.517-523, 2014.
tempo mais prolongado de execução desta atividade, a
fim de avaliar os efeitos aqui abordados. FAGARD, R.H. Exercise characteristics and blood
pressure responses to dynamics physical training. Med
REFERÊNCIAS Sci Sports Exerc, v.21, n.33, p.484-492, 2001.
FONSÊCA, A.M.C. Influência do método pilates na
ALVES, L.C; LEIMANN, B.C.Q; VASCONCELOS, força e atividade elétrica dos músculos
M.E.L; CARVALHO, M.S; VASCONCELOS, A.G.G; respiratórios de idosas – ensaio clínico controlado
FONSECA, T.C.O et al. Influência das doenças randomizado. 2012. Dissertação (Mestrado em
crônicas na capacidade funcional de idosos. Cad. fisioterapia) – Universidade Federal do Rio Grande do
Saúde Pública, v.23, n.8, p.1924-1930, 2007. Norte, Natal, 2012.
ABREU, F.M.C; PERNAMBUCO, C.S; VALE, R.G.S; FACIROLLI, K.; FORTI, E.M.P. Efeitos do método
DANTAS, E.H.M. Envelhecimento: atividade física para pilates sobre respostas respiratórias. Apresentação na
a saúde, a autonomia, o condicionamento e a qualidade 8ª Mostra Acadêmica Unimep; 2010.
de vida. In: DANTAS, E.H.M.; FERNANDES FILHO, J.
Atividade física em ciências da saúde. 2005. p.161- GALLAHUE, D.L.; OZMUN, J.C. Compreendendo o
183 desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes
e adultos. 3a Edição. São Paulo: Phorte; 2005.
ANDRADE, E. R; SOUZA, F.S.P; FORTI, E.M.P.
Avaliação da força muscular respiratória de GONÇALVES, M.P; TOMAZ, C.A.B; CASSIMINHO,
mulheres praticantes do Método Pilates. A.L.F; DURA, M.F. Avaliação da força muscular
Apresentação na 8ª Mostra Acadêmica Unimep; 2010. inspiratória e expiratória em idosas praticantes de
atividade física e sedentárias. Rev Bras Ciênc Mov;
BALOGH, A. Pilates and pregnancy. RCM Midwives, v.14, n.1, p.37-44, 2006.
v.8, n.5, p.220-222, 2005.
GALVAN, C.C.R.; CATANEO, A.J.M. Efeito do
BARROS, N.V.S. Qualidade de vida através do treinamento dos músculos respiratórios sobre a função
método pilates: avaliando os idosos praticantes no pulmonar no preparo pré-operatório de tabagistas. Acta
município de Campina Grande-PB. 2011. Artigo de Cir Bras, v.22, n.2, p.98-104, 2007.
conclusão de curso (Bacharel em Fisioterapia) –
Universidade Estadual da Paraíba Campus I, Campina GUALLAR-CASTILLON, P.; SANTA-OLALLA, P.P.;
Grande; 2011. BANEGAS, J.R.; LOPEZ, E.; RODRIGUEZ-ARTALEJO,
F. Actividad física y calidad de vida de la población
BARRETO, S. S. M. Volumes Pulmonares. J Pneumol, adulta mayor em España. Medicina Clínica, n.123,
v.28, n. 3, 2002. p.606-610, 2004.
BLOUNT, T.; MCKENZIE, E. Pilates Básico. São KIM, J.; SAPIENZA, C.M. Implications of expiratory
Paulo: Manole, 2006. muscle strength training for rehabilitation of the elderly:
tutorial. J Rehabil Res Dev, v.42, n.2, p.211-224, 2005.
BARR, K.P.; GRIGGS, M.; CADBY, T. Lumbar
stabilization: Core concepts and current literature, part KOLYNIA, I.E.G.G; CAVALCANTI, S.M.B; AOKI, M.S.
1. Am J Phys Med Rehab, v. 84 n.6, p.473-480, 2005. Avaliação isocinética da musculatura envolvida na
flexão e extensão do tronco: efeito do método Pilates.
BELINI, M.A.V. Força muscular respiratória em Rev Bras Med Esporte, v.10, n.6, p.487-490, 2004.
idosos submetidos a um protocolo de
cinesioterapia respiratória em imersão e em terra. KOKKINO, P.F; PAPADEMETRIOU, V. Exercise and
Trabalho de conclusão de curso – hypertension. Coron Artery Dis, v.1, n.11, p.99-102,
Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Centro de 2000.
Ciências Biológicas e da Saúde, Cascavél, 2004.
LIBERALINO, E.S.T; SOUSA, T.C.C; SILVA, V.R.L.
CAPORICCI, S.; OLIVEIRA NETO, M.F. Estudo Influência dos exercícios do método Pilates sobre o
comparativo de idosos ativos e inativos através da sistema cardiorrespiratório. REBES, v.3, n.3, p.59-64,
avaliação das atividades da vida diária e medição da 2013.
qualidade de vida. Motricidade, v.7, n.2, p.15-24, 2011.
LOPES, R; BRITO, R; PARREIRA, V. Padrão
CURNOW, D.; COBBIN, D.; WYNDHAM, J.; respiratório durantes o exercício – revisão literária. R
BORICHOY, S.T. Altered motor control, posture and the Bras Ci e Mov., v.2, n.13, p.153-160, 2005.
Pilates method of exercise prescription. J Bodyw Mov
Ther, v.13, p.104-111, 2009. LOPES, E.D.S; RUAS, G.P.L.J. Efeitos de exercícios do
método Pilates na força muscular respiratória de
EMMANUEL, D.S.L; GUALBERTO, R; LISLEI, J.P. idosas: um ensaio clínico. Rev Bras Geriatr Gerontol,
Efeitos de exercícios do método Pilates na força v.17, n.3, p.517-523, 2014.

39
Sousa, Martins, Gonzaga, Oliveira, Magalhães e Bastos
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

respiratórios de indivíduos saudáveis. R bras Ci e Mov,


MCNEILL, W. Decision making in Pilates. J Bodyw v.23, n.1, p.24-30, 2015.
Mov Ther, v.15, n.1, p.103-107, 2011.
SILVA A.O. O idoso e o contexto atual da saúde. Esc
NÓBREGA, A.C.L; FREITAS, E.V; OLIVEIRA, M.A.B; Anna Nery, v.14, n.4, p.664-666, 2010.
LEITÃO, M.B; LAZZOLI, J.K; NAHAS, R.M et al.
Posicionamento oficial da Sociedade Brasileira de SILVA, Y.O; MELO, M.O; GOMES, L.E; BONEZI, A;
Medicina do Esporte e da Sociedade Brasileira de LOSS, J.F. Análise da resistência externa e da
Geriatria e Gerontologia: atividade física e saúde no atividade eletromiográfica do movimento de extensão
idoso. Rev Bras Med Esporte, v.5, n.6, p.207-211, de quadril realizado segundo o método Pilates. Rev
1999. Bras Fisioter, v.13, n.1, p.82-88, 2009.

PIRES, D.C; DE SÁ, C.K.C. Pilates: notas sobre WAJNGARTEN, M. Grandes Temas. O Coração no
aspectos históricos, princípios, técnicas e aplicações. idoso. Jornal Diagnósticos em Cardiologia, v.13,
Efdeportes.com, v.10, n.91, p.1-4, 2005. n.43, p.1-9, 2010.

POLITO, M.D.; CYRINO, E.S.; GERAGE, A.M.; VALE R.G.S. Avaliação da autonomia funcional do
NASCIMENTO, M.A.; JUNUÁRIO, R.S.B. 12-week idoso. Fit Perform J, v.4, n.1, p.4, 2005.
resistance training effect on muscular strength, body
composition and triglycerides in sedentary men. Rev VERDIJK, L.B.; GLEESON, B.G.; JONKERS, R.A.M.;
Bras Med Esporte, v.16, n.1, p.29-32, 2010. MEIJER, K.; SAVELBERG, H.H.C.M.; DENDALE, P et al.
Skeletal muscle hypertrophy following resistance training
RABACOW, F.M; GOMES, M.A; MARQUES, P; is accompanied by a fiber type – specific increase in
BENEDETTI, T.R.B. Questionários de Medidas de satellite cell content in elderly men. J Gerontol A Biol
Atividade Física em Idosos. Rev bras cineantropom Sci Med Sci, v.64 n.3, p.332-339, 2009.
desempenho hum, v.8, n.4, p.99-106, 2006.
SOBRE OS AUTORES
REIS, L; MASCAREENHAS, C; LYRA, J. Avaliação da
qualidade de vida em idosos praticantes e não Maria Edgleuma Braz de Sousa
praticantes de método. CED – Revista Eletrônica da Centro Universitário Estácio do Ceará, Brasil
Fainor, v.4, n.1, p.38-51, 2011.
Graduando em Fisioterapia pelo Centro Universitário
RECH, C.R.; PETROSKI, E.L.; SILVA, R.C.R; SILVA, Estácio do Ceará.
J.C.N. Indicadores antropométricos de excesso de
gordura corporal em mulheres. Rev Bras Med Esporte, E-mail: [email protected]
v.12, n.3, p.12-16, 2006.
David Jonathan Nogueira Martins
ROCHA, A.A.O; COSTA, A.C.S.M; LUDUVICE, F.S. Centro Universitário Estácio do Ceará, Brasil
Análise da capacidade física e respiratória de alunas
praticantes do método pilates no município de Graduando em Fisioterapia pelo Centro Universitário
Aracaju/SE. Interfaces Científicas – Saúde e Estácio do Ceará.
Ambiente, v.3, n.2, p.73-86, 2015.
E-mail: [email protected]
ROLIM, F.S. Atividade física e os domínios da
qualidade de vida e do autoconceito no processo de
Diego Bastos Gonzaga
envelhecimento. 2005. Dissertação (Mestrado em
Centro Universitário Estácio do Ceará, Brasil
Educação Física) – Faculdade de Educação Física,
Universidade Estadual Estadual de Campinas, Graduando em Fisioterapia pelo Centro Universitário
Campinas, 2005. Estácio do Ceará.

RODRIGUES, B.G.S; CADER, S.A; TORRES, N.V.O.B; E-mail: [email protected]


OLIVEIRA, E.M; DANTAS, E.H.M. Autonomia funcional
de idosas praticantes de Pilates. Fisioter Pesq, v.17,
n.4, p.300-305, 2010. Carlos Ariel Souza de Oliveira
Centro Universitário Estácio do Ceará, Brasil
RUIVO, S; VIANA, P; MARTINS, C; BAETA, C. Efeito
do envelhecimento cronológico na função pulmonar: Graduando em Fisioterapia pelo Centro Universitário
comparação da função respiratória entre adultos e Estácio do Ceará; Graduando em Gestão Hospitalar pelo
idosos saudáveis. Rev Port Pneumol, v.15, n.4, p.629- Centro Universitário Estácio do Ceará; Aluno bolsista do
653, 2009. Programa de Iniciação Científica do Centro Universitário
Estácio do Ceará; Integrante do grupo de pesquisa
SANTOS, M; CANCELLIERO-GAIAD, K.M; ARTHURI, Saúde e Movimento.
M.T. Efeito do método Pilates no Solo sobre parâmetros
E-mail: [email protected]

40
Sousa, Martins, Gonzaga, Oliveira, Magalhães e Bastos
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

Germana Mesquita Magalhães


Hospital Geral de Fortaleza, Brasil
Graduação em Fisioterapia pela Universidade de
Fortaleza (1992), Mestrado em Ciências Médico-
Cirúrgicas pela Universidade Federal do Ceará (2013).

E-mail: [email protected]

Vasco Pinheiro Diógenes Bastos


Centro Universitário Estácio do Ceará, Brasil
Doutorado em Farmacologia pela Universidade Federal
do Ceará (2009). Mestrado em Farmacologia (2001) pela
Universidade Federal do Ceará. Docente do Curso de
Fisioterapia do Centro Universitário Estácio do Ceará

E-mail: [email protected]

41
Sousa, Martins, Gonzaga, Oliveira, Magalhães e Bastos
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X.

NÍVEL DE SATISFAÇÃO DOS PACIENTES ATENDIDOS NO


COMPLEXO ODONTOLÓGICO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO
CATÓLICA DE QUIXADÁ - CE

Camila Souza Praxedes RESUMO


Sofia Vasconcelos Carneiro
Luiz Filipe Barbosa Martins A satisfação é um sentimento de aceitação e de eficácia no serviço que foi
Cosmo Helder Ferreira da prestado. Através de estudos que possibilitem uma análise da perspectiva dos
Silva pacientes, é possível melhorar a qualidade do atendimento. Este estudo objetivou
Ana Caroline Rocha de Melo avaliar a satisfação do paciente com o atendimento e suas expectativas e relatar
Leite o perfil socioeconômico dos pacientes atendidos nas clínicas integradas do
Centro Universitário Católica de Quixadá. Foi aplicado um questionário
semiestruturado contendo 10 questões sobre perfil socioeconômico e satisfação
do atendimento odontológico em 45 pacientes, os mesmos foram escolhidos por
conveniência na sala de espera da clínica e assinaram o termo de consentimento
livre e esclarecido. Os Pacientes demonstraram-se satisfeitos com o atendimento
na clínica 57,8% (n=26), como também com o atendimento de alunos 48,9%
(n=22) e professores 71,1% (n=32). De forma geral os pacientes atendidos no
Complexo odontológico São João Calábria do Centro Universitário Católica de
Quixadá, encontram-se satisfeitos com os serviços prestados, porém, mesmo os
resultados indicando um ótimo nível de satisfação, torna-se necessário
reavaliações periódicas para obtenção de informações importantes que
possibilitem melhorias na estrutura e no atendimento da academia.
PALAVRAS-CHAVE: Atendimento. Avaliação. Odontologia.

PATIENT’S LEVEL OF SATISFACTION WITH CARE AT THE


DENTAL COMPLEX OF THE UNIVERSITY CATHOLIC CENTER
OF QUIXADÁ-CE
ABSTRACT

Satisfaction is a feeling of acceptance and effectiveness regarding the service


provided. Through studies which enable an analysis of the patients’ perspective,
it is possible to improve the quality of care. This study aimed to assess patient
satisfaction with care and expectations as well as to report socio-demographic
profile of patients treated in the clinics integrated to the University Catholic Center
of Quixadá. A semi-structured questionnaire containing 10 questions was applied
with information about socio-demographic profile and satisfaction with dental care
directed to 45 patients; the participants were selected in the clinic waiting room,
and understanding its purpose, they signed an inform consent form. The patients
indicated to be satisfied with the clinic care 57.8% (n=26), as well as when treated
by students 48.9% (n=22) and professors 71.1% (n=32). In general, the patients
cared at São João Calábria Dental Complex of the University Catholic Center of
Quixadá are pleased with the services provided; yet, even with the results
indicating a good level of satisfaction, periodic assessments are necessary in
order to obtain important feedback for the improvement of the structure and the
academic service care.

KEYWORDS: Assessment. Dental care. Dentistry.

Enviado em: 21/12/2017


Aceito em: 24/04/2018
Publicado em: 30/04/2018
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

1 INTRODUÇÃO faculdades de odontologia (SILVA; SALES-PEREZ,


2007).
Como todas as áreas da saúde, a odontologia A profissão liberal do dentista sofreu grandes
vem passando por vários processos de transformações alterações nas últimas décadas, saiu-se de uma
no ramo cientifico para melhorar seu crescimento social odontologia essencialmente curativa, para uma prática
e humanitário (RAMALHO, 2005). No sistema de ensino de promoção de saúde bucal e geral do paciente
das escolas de odontologia, a prática clínica se (RAMALHO, 2005).
desenvolve de maneira separada, onde primeiramente Até o século passado as ciências clínicas foram
os alunos cursam disciplinas fragmentadas por ensinadas separadamente, alunos executando
especialidades, e após cursadas, nos últimos períodos tratamentos por uma especialidade em cada paciente.
do curso que essas disciplinas são integradas em uma Metodologia que se mostrou deficiente no que se refere
única (ARRUDA et al. 2009). ao preparo de futuros cirurgiões-dentistas
Segundo Padilha (2004), a disciplina de clínica (RODRIGUES; REIS, 2004).
integrada é um sistema educacional que deve propiciar Para a associação Brasileira de Ensino
através do processo ensino-aprendizagem a integração Odontológico (ABENO), A clínica integrada é
dos conhecimentos, habilidades e valores adquiridos considerada indispensável para a preparação do
pelos alunos ao longo do curso e proporcionar ao profissional de odontologia, esta deve promover
paciente, uma atenção odontológica global das conhecimentos, habilidades e valores adquiridos ao
necessidades evidenciadas. Devido a essa integração longo do curso, proporcionando atendimento integral das
de especialidades, a clínica integrada aumenta a necessidades do paciente (ABENO, 2006).
satisfação dos seus pacientes, por atenderem suas A prática pedagógica das clínicas integradas tem
necessidades com um único aluno, possibilitando um demonstrado uma grande visão no conceito de
maior vínculo com o paciente, para que se possa adquirir tratamento bucal, a teoria e a prática se unem em uma
confiança e credibilidade no tratamento realizado atividade clínica, promovendo um aprendizado mais
(PADILHA, 2004) humanístico, com possibilidades de crescimento para
A satisfação é um sentimento de aprovação, de alunos e professores (POMPEU et al., 2012). O
missão cumprida, sendo avaliada pelo cliente. É uma conhecimento e a técnica se unem objetivando a
combinação física e material, na qual um dos melhores execução de um tratamento de qualidade para o
princípios para avaliar se o padrão de atendimento dos paciente (CASTRO; SILVA, 2008).
serviços odontológicos está sendo favorável, é verificar Para Garbin et al. (2009), a humanização
a satisfação do cliente. A avaliação dos serviços de durante o tratamento é um dos aspectos mais
saúde bucal deve incluir uma melhoria na estética, importantes. Respeito e dignidade a vida humana, ética
função e dor no paciente, considerando um na relação paciente-profissional é a ideia principal
melhoramento contínuo no tratamento realizado, sendo (VAITSMAN; ANDRADE, 2005). A satisfação do
também importante avaliar a relação do aluno, em sua paciente é uma combinação de base afetiva e avaliação
orientação e habilidade (NOBRE et al. 2005). cognitiva de quem recebe o tratamento em saúde, é uma
Algumas pesquisas vêm sendo feitas nas áreas relação entre emocional, físico e material, seus valores
sociais, buscando saber quais expectativas dos estão diretamente ligados com a qualidade (AZEVEDO;
pacientes e sua satisfação em relação a esses serviços. BARBOSA, 2007).
E é através dessas pesquisas que podem ser avaliados
a qualidade da relação entre paciente-profissional, 2.2 AVALIAÇÃO DA SATISFAÇÃO COM OS
paciente-aluno, buscando melhorar a qualidade dos SERVIÇOS ODONTOLÓGICOS
serviços dentro da clínica integrada (FERNANDES; De acordo com Kotler (1998), a satisfação é o
COUTINHO; PEREIRA; 2008). resultado do sentimento de ter sido bem atendido pelo
Portanto, é através desses aspectos, que se faz produto ou serviço que vai além das suas expectativas.
necessário a busca de informações sobre a qualidade Os pacientes diferenciam tipos de desempenho dos
dos serviços prestados, o que pode proporcionar serviços e estabelecem uma zona de tolerância, que se
melhorias tanto ao complexo, mais como profissionais, situa entre os serviços desejados e os adequados,
pacientes e alunos da academia em que funciona o quando o desempenho ultrapassa ou é inferior à zona de
Complexo Odontológico. O presente estudo teve como tolerância, o paciente sente-se satisfeito ou insatisfeito
objetivo avaliar a satisfação dos pacientes com o (ESPERIDÃO; TRAD, 2005).
atendimento e suas expectativas no complexo Estudos sobre a satisfação, avaliam qualidade
Odontológico São João Calábria. dos serviços sob a visão do usuário, contribuem para
aqueles que administram tais serviços, possibilitando a
2 REFERENCIAL TEÓRICO melhoria das limitações identificadas (ROBLES;
2.1 CLÍNICA INTEGRADA NA GRADUAÇÃO EM GROSSEMAN; BOSCO, 2008). Um fator importante a
ODONTOLOGIA ser observado nos serviços de saúde, é a mudança no
comportamento de seus usuários, que estão cada vez
O ensino sistematizado de Odontologia no Brasil mais exigentes, cada vez mais envolvidos nas escolhas
foi instituído através do Decreto número 9.311 de 25 de e decisões relacionadas as suas doenças, ocasionando
outubro de 1884 (ALMEIDA, 2009). E foi a partir do uma avaliação com mais rigor a execução e qualidade
século XX que ocorreu um rápido avanço da ciência dos serviços (FERNANDO; COUTINHO; PEREIRA,
odontológica no Brasil, sendo criadas as primeiras 2008).

43
Praxedes, Carneiro, Martins, Silva e Leite
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

Na odontologia, a satisfação do usuário está Os participantes da pesquisa foram pacientes


relacionada com a qualidade técnica, aquela que está atendidos nas Clínicas Integradas no Complexo
relacionada com o serviço recebido e a competência do Odontológico São João Calábria do Centro Universitário
profissional, e a qualidade funcional, que está ligado com Católica de Quixadá. A pesquisa foi realizada na sala de
o relacionamento paciente-profissional, pelo espera das clínicas no horário de manhã e tarde das
afetivo/pessoal do paciente (FERNANDO; COUTINHO; quartas-feiras no período de março e abril de 2017 e os
PEREIRA, 2008). O Sucesso do tratamento está dados foram coletados pelos pesquisadores do estudo.
diretamente relacionado com a satisfação dos usuários Esse projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética
(DOUGLASS; SHEETS, 2000). Gurdal et al. (2000) em Pesquisa do Centro Universitário Católica de
acreditam que pacientes satisfeitos, respondem melhor Quixadá com o número de protocolo 20120046.
o tratamento. Obedecendo a todos os princípios éticos legais
Para alcançar a satisfação, além da qualidade contemplados na Resolução nº 466/12 do Conselho
do profissional e da infraestrutura didática e operacional Nacional de Saúde.
da clínica, é necessário que seja implantada uma política A amostra contou com 45 pacientes
de educação para conscientizar alunos e professores em selecionados por conveniência, foram excluídos
um processo de transformação social, que revele a ética pacientes que não tinham recebido nenhum atendimento
odontológica que o profissional deve ter com a clínico no Complexo Odontológico, pacientes que se
sociedade (POMPEU et al., 2012). negaram a participar da pesquisa e pacientes menores
Ainda segundo Lima; Maia e Bezerra (2016), ”o de 18 anos. Foram inclusos na pesquisa pacientes que
respeito às queixas e sentimentos do paciente, uma tivessem prontuário no complexo odontológico e que
atitude acolhedora, a disposição para explicar tivessem sendo atendidos nas clínicas integradas,
claramente os procedimentos que serão realizados ,são pacientes que aceitassem participar da pesquisa, que
atitudes de humanização que podem minimizar e até possuíssem algum nível de escolaridade e pacientes
suprimir a ansiedade do paciente melhorando suas maiores de 18 anos.
condições de saúde em geral.” Todos os pacientes receberam um Termo de
A insatisfação na Odontologia pode se Consentimento Livre e Esclarecido, explicando com
manifestar de duas formas; insatisfações fundamentais linguagem apropriada, todos os possíveis riscos e
que são ligadas aos trabalhos mal executados, e as benefícios, que os mesmos estivessem sujeitos no
insatisfações não fundamentais, que geram um decorrer do estudo. Como também a possibilidade de
descontentamento por causa de uma expectativa desistência do referido estudo a qualquer momento, sem
originada em torno de um trabalho que o profissional nenhum tipo de prejuízo para o mesmo.
poderia executar de forma limitada (ARAUJO, 2003). A coleta de dados foi realizada através de um
A adesão e a aceitação do plano de tratamento questionário semiestruturado de 10 questões pelo qual
pelo paciente estão diretamente ligadas à confiança que foram obtidas informações a respeito das variáveis
o paciente tem no dentista e na sua habilidade técnica sócio-econômico-demográficas e nível de satisfação dos
(WOO et al., 2005). Para Freeman (1999), um pacientes atendidos na Clínica Integrada do curso de
tratamento considerando as necessidades clínicas e Odontologia do Centro Universitário Católica de
psicológicas do paciente e um dentista assuma uma Quixadá.
posição de igualdade com o seu paciente, deve ser Os dados foram tabulados e feita análise
realizado. O dentista deve ter conhecimento de todos os descritiva de acordo com os objetivos da pesquisa,
sentimentos envolvidos no tratamento, não apenas os utilizando o programa SPSS 20.4 e apresentados em
sintomas, estabelecendo uma comunicação adequada e forma de gráficos e tabelas.
proporcionando motivação ao paciente para cuidar da
sua saúde bucal e colocar em prática as orientações 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
repassadas (FREEMAN, 1999).
Ao pesquisar sobre qualidade, é encontrado um Foram tabulados os dados de 45 pacientes,
leque de conceitos, em alguns casos discordantes, em conforme apresentado na Tabela 1.
outros contrários, essa diversidade torna as questões
relacionadas à qualidade na prestação de serviços de
saúde, difíceis de abordar (SILVA JUNIOR, 2002). O
conhecimento sobre o nível de satisfação do paciente,
avaliação da qualidade da assistência em saúde, mede
se o serviço está sendo capaz de atender as
expectativas, nesse contexto a percepção do paciente é
necessária para a avaliação da qualidade do serviço
(LIMA; CABRAL; VASCONCELOS, 2010).
3 MÉTODO
Trata-se de um estudo transversal, descritivo,
com análise quantitativa. Esse tipo de pesquisa é
caracterizado por observar e descrever as
características de uma determinada população e avaliar
a satisfação dos indivíduos.

44
Praxedes, Carneiro, Martins, Silva e Leite
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

Tabela 01 – Descrição do perfil socioeconômico dos entrevistados


Variáveis n %
Sexo
Feminino 31 68,9
Masculino 14 31,1
Total 45 100,0
Idade
18 aos 27 anos 21 46,6
28 aos 37 anos 12 26,6
38 aos 47 anos 7 15,6
48 aos 57 anos 3 6,6
58 aos 67 anos 2 4,4
Total 45 100,0
Local de Moradia
Zona Urbana 32 71,1
Zona Rural 13 28,9
Total 45 100,0
Renda Familiar
Nenhuma 6 13,3
1 a 2 salários mínimos 29 64,4
2 a 3 salários mínimos 8 17,8
3 a 4 salários mínimos 2 4,4
Total 45 100,0
Grau de Escolaridade
Ensino Fundamental Incompleto 11 24,4
Ensino Fundamental Completo 3 6,7
Ensino Médio Incompleto 7 15,6
Ensino Médio Completo 14 31,1
Nível Superior Incompleto 9 20,0
Nível Superior Completo 1 2,2
Total 45 100,0

No perfil socioeconômico do paciente, verificou-se que (n=21). Acredita-se que a procura dos serviços
66,9% (n=31) dos pacientes eram do sexo feminino. A odontológicos está sendo iniciada mais cedo ou que os
predominância do sexo feminino pode ser justificada problemas de saúde bucal também estejam aparecendo
porque as mulheres estão mais ligadas à estética e mais cedo, já que esses pacientes são atendidos nas
autocuidado, porque as mesmas têm mais clínicas integradas, sendo essas com várias
disponibilidade em horários diurnos, o que coincide com especialidades. Em outros estudos, como no Pompeu et
o horário de atendimento das clínicas integradas do al. (2012), a faixa etária mais prevalente foi de pacientes
Complexo Odontológico São João Calábria. Resultados de 31 a 40 anos. Já no estudo de Sousa; Souza e Araújo
parecidos podem ser encontrados nos estudos de (2015), a faixa etária foi semelhante à desse estudo.
Sousa; Souza e Araújo (2015). A maioria dos participantes reside na zona
Segundo Gomes et al. (2007), a baixa procura urbana, 71,1% (n=32). Essa diferença pode ser
masculina por serviços odontológicos está ligada a explicada pela facilidade dos meios de locomoção e
questões culturais que dificultam a adoção de práticas também pelas informações, que na zona rural é mais
de cuidados, o mesmo sente medo e vergonha de expor precária.
seu corpo para profissionais de saúde. O consumo de bens materiais pelas pessoas e a
Quanto à idade dos participantes da pesquisa, aquisição de serviços de saúde são influenciados pela
os mesmos possuíam de 18 a 67 anos, sendo o grupo condição socioeconômica (BALDANI et al., 2010). Nesse
mais prevalente, os jovens de 18 a 27 anos com 46,6%
45
Praxedes, Carneiro, Martins, Silva e Leite
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

estudo, 64,4% (n=29) dos pacientes relataram ter renda maioria dos participantes são jovens, e nos tempos
familiar de 1 a dois salários mínimos. atuais o acesso à escola é bem mais fácil que em tempos
Sobre o grau de escolaridade, 31,1% (n=14) antigos.
disseram ter ensino médio completo. Semelhante ao
estudo de Sousa, Souza e Araújo (2015). Essa A Tabela 2 apresenta as respostas relacionadas
prevalência pode ser justificada pelo fato de que a à satisfação dos clientes com o atendimento oferecido.

Tabela 02 – Descreve os dados dos entrevistados com relação à satisfação com o atendimento
Variáveis n %

Qualidade dos Materiais


Regular 3 6,6
Bom 12 26,7
Ótimo 30 66,7
Total 45 100,0
Atendimento do Aluno
Regular 5 11,1
Bom 18 40,0
Ótimo 22 48,9
Total 45 100,0
Atendimento do Professor
Regular 2 4,4
Bom 11 24,4
Ótimo 32 71,1
Total 45 100,0
Sugestões para melhorar
Ser atendido mais vezes durante a semana 13 28,9
Nenhuma Sugestão 13 28,9
Reduzir o tempo de atendimento no banco 6 13,3
Atendimento noturno 6 13,3
Reduzir o tempo de espera no banco 5 11,1
Deixar o atendimento na clínica só para quem precisa 2 4,4
Total 45 100,0
Satisfação com o atendimento na clinica
Péssimo 1 2,2
Regular 1 2,2
Bom 17 37,8
Ótimo 26 57,8
Total 45 100,0

Sobre a qualidade dos materiais utilizados no serviço não exclui a necessidade de uma atenção
atendimento, 66,7% (n=30) dos participantes individual ao paciente.
classificaram como ótimo, 26,7% (n=12) bom, 6,7% Os participantes da pesquisa demonstraram
(n=3) regular. A satisfação com a aparência dos dentes satisfação com o atendimento dos professores: 71,1%
e com a capacidade de mastigação, a necessidade de (n=32) classificaram como ótimo, 24,4% (n=11) bom e
tratamento, presença de dor e tipo de tratamento 4,4% (n=2) regular. Esses resultados são semelhantes
recebido, devem estar inclusas nas avaliações de aos de pesquisa de satisfação de outras faculdades,
serviços de saúde (BACCI; CARDOSO; PASIAN, 2002) como o de Pompeu et al. (2012) que pesquisou a
Sobre o atendimento prestado pelo aluno, 48,9% satisfação de usuários da clínica odontológica de
(n=22) ótimo, 40,0% (n=18) bom e 4,4% (n=2) regular. Faculdade Novafapi em Teresina no Piauí.
Para Matos et al. (2002), o profissional deve comportar- Como sugestões para melhoria no atendimento,
se de modo que os pacientes não se sintam diminuídos a mais sugerida foi ser atendido mais vezes durante a
por receber serviço gratuito, portanto esse tipo de semana com 28,9% (n=13), reduzir o tempo de
46
Praxedes, Carneiro, Martins, Silva e Leite
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

atendimento na cadeira foi por 13,3% (n=6), atendimento AZEVEDO, J.M.R.; BARBOSA, M.A. Triagem em
noturno por 13,3% (n=6), reduzir o tempo de espera no serviços de saúde: percepções dos usuários. Rev
banco por 11,1% (n=5) e deixar o atendimento só para Enferm, UERJ, 2007.
quem precisa por 4,4% (n=2). 28,9% (n=13) das pessoas
não sugeriram nada. Nesse quesito podemos identificar BACCI, A.V.F.; CARDOSO, C.L.; PASIAN, S.R.; Locus
que o paciente tem desejo de terminar o tratamento mais de controle em estudantes de odontologia: uma
rapidamente, já que, muitas vezes, o tratamento é contribuição para estudo de aspectos da personalidade.
interrompido por férias ou provas. Rev. Assoc Paul Cir Dent, São Paulo, 2002.
Os pacientes também se demonstram satisfeitos
com o atendimento recebido na clínica, 57,8% (n=26) BALDANI, M.H.; BRITO, W.H.; LAWDER, J.A.C.;
classificam o atendimento como sendo ótimo, 37,8% MENDES, Y.B.E.; SILVA, F.F.M.; ANTUNES. J.L.F.
(n=17) bom, 2,2% (n=1) regular e 2,2% (n=1) péssimo. Determinantes individuais da utilização de serviços
Segundo Mialhe et al. (2008), a expectativa do usuário odontológicos por adultos e idosos de baixa renda. Rev
sobre o tratamento está sendo supervisionado por um Bras Epidemiol, 2010.
bom profissional, a falta de dinheiro para arcar com
serviços particulares e a pouca qualidade ofertada no CASTRO, J.D.; SILVA, V.B. Satisfação no atendimento
serviço público os fazem aceitar de forma submissa as odontológico: Um estudo na COE (Clínica Odontológica
condições que as instituições de ensino têm a oferecer. de Ensino) de Anapolis – Unievangélica. Revista
Administra-Ação, 2008.
5 CONCLUSÃO
O presente estudo possibilitou uma análise da CFO (conselho federal de odontologia). Consolidação
qualidade do atendimento em diversos aspectos do das normas para procedimentos nos conselhos de
Complexo Odontológico São João Calábria, como odontologia Aprovada pela resolução CFO-63/2005.
também as expectativas dos usuários. Os dados Atualizada em 23 de dezembro de 2011.
coletados podem possibilitar a melhoria do atendimento
da instituição bem como de alunos e professores, DOUGLASS, C.W.; SHEETS, C.G. Patients
visando o paciente como um todo. Outros fatores que expectations for oral health care in the 21st century.
podem ter contribuído para esse resultado é a motivação JADA, 2000.
por parte dos alunos e professores. Embora tenha sido
reforçada a confidencialidade dos dados para esse ESPERIDÃO, M.A, TRAD LAB. Avaliação de satisfação
estudo, notava-se que, durante a coleta de dados, de usuários: considerações teórico-conceituais. Cad
alguns usuários teriam receio de que respostas Saúde Pública, 2006.
negativas interferissem no tratamento. Os resultados
indicam um bom nível de satisfação, porém, tornam-se FERNANDES, S. K. S.; COUTINHO, A. C. M.;
necessárias reavaliações periódicas para obtenção de PEREIRA E. L. Avaliação do perfil socioeconômico e
informações importantes que possibilitem melhorias na nível de satisfação dos pacientes atendidos em clínica
estrutura e no atendimento da academia. integrada odontológica universitária. RBPS, v. 21, n. 2,
p. 137-143, 2008.

REFERÊNCIAS FREEMAN, R. A psychodynamic understanding of the


dentist-patient interaction. British Dental Journal 1999.
ABENO. Recomendações: clínica integrada. In: GOMES, R.; NASCIMENTO, E.F.; ARAÚJO, F.C.; Por
Reunião da ABENO, 15. Encontro nacional de que os homens buscam menos serviços de saúde do
dirigentes de faculdades de odontologia, 6, 1978. que as mulheres? As explicações de homens com
Jornal ABENO Notícias, Camaragibe, v. 1, n. 1, p. 2, baixa escolaridade e homens com ensino superior. Cad
set./out. 1978. Saúde Pública, 2007.

ALMEIDA, A. P. História e Evolução: passo a passo da JUNIOR, J. J. L. S. Qualidade: um enfoque por teoria
Odontologia. In: Conselho Regional de Odontologia do da decisão. Dissertação (Mestrado em Engenharia de
Rio de Janeiro. 125 anos de autonomia da Odontologia Produção) – Universidade Federal de Pernambuco,
no Brasil. Revista CRO-RJ, 2009. Recife, 2002.

ARAÚJO, I. C. Avaliação da satisfação dos KOTLER, P. Administração de marketing. 5. ed. São


pacientes atendidos na Clínica Integrada do Curso Paulo: Atlas, 1998.
de Odontologia da Universidade Federal do Pará.
2003. 126 p. Dissertação (Mestrado em Odontologia) – LIMA, A. C. S.; CABRAL, E. D.; VASCONCELOS, M. M.
Faculdade de Odontologia de São Paulo, Universidade V. B. Satisfação dos usuários assistidos nos Centros de
de São Paulo, São Paulo. 2003. Especialidades Odontológicas do Município do Recife,
Pernambuco, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de
ARRUDA, W. B.; SIVIERO, M.; SOARES, M. S.; Janeiro, v. 26, n. 5, p. 991-1002, maio2010.
COSTA, C. G.; TORTAMANO, I. P. Clínica Integrada: o
desafio da integração multidisciplinar em Odontologia. LIMA, K. M. A.; MAIA, A. H. N.; BEZERRA, M. de H. O..
RFO, v. 14, n. 1, p. 51-55, jan./abr. 2009. PSICOLOGIA E ODONTOPEDIATRIA:
POSSIBILIDADE DE ATUAÇÃO EM UMA CLÍNICA -

47
Praxedes, Carneiro, Martins, Silva e Leite
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

ESCOLA. Revista Expressão Católica Saúde, v. 1, n. VAITSMAN J.; ANDRADE G.R.B. Satisfação e
1, jun. 2016. responsividade: formas de medir a qualidade e a
humanização da assistência à saúde. Ciênc Saúde
MATOS, D.L.; LIMA-COSTA, M.F.; GUERRA, H.L.; Coletiva, v.10, n. 3, p. 599-613, 2005.
MARCENES, W. Projeto Bambuí: avaliação de serviços
odontológicos privados, públicos e de sindicato. Rev WOO D.; SHELLER B.; WILLIANS B.; MANCL L.;
Saúde Pública, 2002. GREMBOWSKI D. Dentists and patients´ perceptions of
health, esthetics and treatment of maxillary primary
MIALHE, F.L.; GONÇALO, C.; CARVALHO, L.M.S. incisors. Pediatric Dentistry, v. 27, n. 1, p. 19-23,
Avaliação dos usuários sobre a qualidade do serviço 2005.
odontológico prestado por graduandos do curso de
Odontologia da FOP/Unicamp. Rev. Fac. Odont. UPF,
v. 13, n. 1, p.19-24, 2008. SOBRE OS AUTORES

NOBRE, E. S.; CÂMARA, G. P.; SILVA, K. P.; NOTU, Camila Souza Praxedes
S. A. S. Avaliação da qualidade de serviço odontológico Centro Universitário Católica de Quixadá, Brasil
prestado por universidade privada: visão do usuário.
RevBras Promoção Saúde, v. 18, n. 4, p. 171-6, 2005. Graduação em Odontologia pelo Centro Universitário
Católica de Quixadá .
PADILHA, W. W. N. Análise da situação do ensino
(evolução, modelo pedagógico e foque curricular) da E-mail: [email protected]
disciplina de clínica integrada nos cursos de graduação
em odontologia. Resumo. Pesquisa Brasileira em
Odontopediatria e Clínica Integrada, João Pessoa, v. Sofia Vasconcelos Carneiro
4, n. 2, p. 158, maio/ago., 2004. Centro Universitário Católica de Quixadá, Brasil

POMPEU, J. G. F.; CARVALHO, I. L. M.; PEREIRA, J. Mestre em Odontopediatria. Professora do Curso de


A.; NETO, R. G. C.; PRADO, V. L. G.; SILVA, C. H. V. Odontologia do Centro Universitário Católica de
Avaliação do nível de satisfação dos usuários atendidos Quixadá.
na clínica integrada do curso de odontologia da
Faculdade Nova fapi em Teresina (PI). Odontol. Clín.- E-mail: [email protected]
Cient, v. 11, n. 1, p. 31-36, Recife, 2012
Luiz Filipe Barbosa Martins
RAMALHO, A. L. J. Avaliação dos aspectos
Centro Universitário Católica de Quixadá, Brasil
emocionais envolvidos na prática de
odontopediatrias de fortaleza. Dissertação
Mestre em Odontopediatria. Professor do Curso de
apresentada ao Curso de Mestrado em Psicologia da
Odontologia do Centro Universitário Católica de
Universidade de Fortaleza, como requisito parcial para
Quixadá.
a obtenção do título de Mestre em Psicologia. Fortaleza
2005.
E-mail: [email protected]
ROBLES, A. C. C.; GROSSEMAN, S.; BOSCO, V. L.
Satisfação com o atendimento odontológico: estudo Cosmo Helder Ferreira da Silva
qualitativo com mães de crianças atendidas na Centro Universitário Católica de Quixadá, Brasil
Universidade Federal de Santa Catarina. Ciência &
Saúde Coletiva, v. 13 n. 1 p. 43-49, Santa Catarina, Mestre em Sociobiodiversidade. Professor do Curso de
2008. Odontologia do Centro Universitário Católica de
RODRIGUES, M. M.; REIS, S. M. A Quixadá.
interdisciplinaridade e a integração no ensino
odontológico: reflexos sobre o perfil profissional E-mail: [email protected]
em relação ás reais demandas da maioria da
população por atenção odontológica. Uberlândia v.
4, n. 1, setembro, Uberlândia, 2004. Ana Caroline Rocha de Melo Leite
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia
SILVA, R. H. A.; SALES-PERES, A. Odontologia: Um Afro-Brasileira, Brasil
breve histórico. Clín.-Científ., Recife v. 6, n. 1, p.7-11,
jan/mar. 2007. Doutora em Ciências Médicas. Docente do Curso de
Enfermagem e do Mestrado Acadêmico em Enfermagem
SOUSA C.N; SOUZA T.C; ARAÚJO T.L.C. Avaliação da Universidade da Integração Internacional da
da satisfação dos pacientes atendidos na clinica escola Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB). Redenção, CE,
de odontologia em uma instituição de ensino superior. Brasil.
Rev Interfaces saúde, humanas e tecnologia, 2015.
E-mail: [email protected]

48
Praxedes, Carneiro, Martins, Silva e Leite
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X.

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA HANSENÍASE NO MUNICÍPIO


DE ARACATI-CE

Rose Lidice Holanda RESUMO


Hinkilla dos Santos Giló
Roque Ribeiro da Silva A hanseníase é uma doença dermatológica e infecciosa, causada por um
Junior microorganismo chamado Mycobacterium leprae (bacilo de Hansen). Ela se
Tiele Gessica Ramos Soares apresenta por meio de lesões na pele com alterações de sensibilidade, e
Denilson de Queiroz Cerdeira espessamento do nervo. A fisioterapia atua ativamente no tratamento da
hanseníase, visto que é uma doença que se não for tratada, se torna altamente
incapacitante. Objetivo: Traçar o perfil epidemiológico de pessoas com
hanseníase em Aracati, fazendo uma análise epidemiológica da situação desta
doença na mesma cidade. Método: Foi realizado coleta de dados de portadores
com hanseníase referente aos anos de 2011 a 2015 na cidade de Aracati, através
do SINAN – Sistema de Notificação de Agravos de Notificação. Foram
pesquisados os seguintes requisitos: quantidade de casos novos em cada ano,
sexo, faixa etária, classificação operacional, forma clínica da doença, quantidade
de lesões cutâneas, grau de incapacidade e o tipo de saída. Resultados: No
município de Aracati, verificou-se que foram notificados 44 casos novos,
correspondente ao período de 2011 a 2015. Em relação ao sexo, há presença da
doença em maior quantidade no sexo masculino (59%). Na faixa etária o que
prevaleceu foi de 50 a 64 anos, a classe operacional foi a multibacilar, não há
preenchimento da forma clínica, quantidade de lesões foi ignorado e o tipo de alta
que se destacou foi a cura. Conclusão: É possível inferir que é importante o
incentivo dos gestores priorizando esta doença, em busca de erradicá-la e
diminuir o impacto social negativo perante a sociedade.
PALAVRAS-CHAVE: Epidemiologia. Hanseníase. Perfil epidemiológico.

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA HANSENÍASE NO MUNICÍPIO


DE ARACATI-CE

ABSTRACT

A hanseníase é uma doença dermatológica e infecciosa, causada por um


microorganismo chamado Mycobacterium leprae (bacilo de Hansen). Ela se
apresenta por meio de lesões na pele com alterações de sensibilidade, e
espessamento do nervo. A fisioterapia atua ativamente no tratamento da
hanseníase, visto que é uma doença que se não for tratada, se torna altamente
incapacitante. Objetivo: Traçar o perfil epidemiológico de pessoas com
hanseníase em Aracati, fazendo uma análise epidemiológica da situação desta
doença na mesma cidade. Metodologia: Foi realizado coleta de dados de
portadores com hanseníase referente aos anos de 2011 a 2015 na cidade de
Aracati, através do SINAN – Sistema de Notificação de Agravos de Notificação.
Foram pesquisados os seguintes requisitos: quantidade de casos novos em cada
ano, sexo, faixa etária, classificação operacional, forma clínica da doença,
quantidade de lesões cutâneas, grau de incapacidade e o tipo de saída.
Resultados: No município de Aracati, verificou-se que foram notificados 44 casos
novos, correspondente ao período de 2011 a 2015. Em relação ao sexo, há
presença da doença em maior quantidade no gênero masculino (59%) e o
feminino (41%). Na faixa etária o que prevaleceu foi de 50 a 64 anos, a classe
Enviado em: 16/01/2018 operacional foi a multibacilar, não há preenchimento da forma clínica, quantidade
Aceito em: 16/04/2018 de lesões foi ignorado e o tipo de alta que se destacou foi a cura. Conclusão: É
Publicado em: 30/04/2018 possível inferir que é importante o incentivo dos gestores priorizando esta doença,
em busca de erradicá-la e diminuir o impacto social negativo perante a sociedade.

KEYWORDS: Epidemiologia. Hanseníase. Perfil epidemiológico.


Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X
1 INTRODUÇÃO pacientes existentes no mundo, em 2009,
respectivamente.
A hanseníase é uma doença dermatológica e
“No continente americano, dos 33.926 casos
infecciosa, causada por um microorganismo chamado
prevalentes de hanseníase registrados no primeiro
Mycobacterium leprae (bacilo de Hansen). Há registros
trimestre de 2012, 29.311 foram notificados no Brasil,
muito antigos dessa doença. Nessa época, os “leprosos”
segundo estatísticas da OMS, o que corresponde a 86%
- assim eram conhecidos - eram isolados, viviam em
dos casos prevalentes” (TALHARI, 2015, p 09).
colônias, sendo excluídos do convívio social com o
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil
objetivo de eliminar ou diminuir a corrente de contágio.
estipulou como meta, eliminar a hanseníase até 2015,
O isolamento compulsório ocorria naquele período,
visto que em 2009, o país havia registrado mais de
devido à falta de conhecimento da doença, sua forma de
37.000 novos casos da doença. A estratégia utilizada foi
transmissão e tratamento (BRASIL, 2008).
detectar os municípios com o maior número de casos e
Ela se apresenta por meio de lesões na pele com
incluir a detecção precoce no programa Saúde na
alterações de sensibilidade, e espessamento do nervo.
Escola, não só para identificar os casos entre as
O contágio ocorre através de uma pessoa doente, não
crianças, mas para informar os estudantes e mobilizar o
tratada, que elimina o bacilo pela via respiratória superior
conjunto das famílias (BRASIL, 2012). A meta
para o meio exterior, contaminando indivíduos
infelizmente não foi atingida (um caso a cada dez mil
susceptíveis que tenham um convívio maior com os
habitantes), devido esse número de novos portadores da
infectados, com um período de incubação de 2 a 7 anos
doença ainda ser uma constante no país.
(VERONESI, 2002 apud CASSOL et al., 2015).
“A prevenção de incapacidades em hanseníase
Atualmente, todo recém-nascido tem o direito de
inclui um conjunto de medidas visando evitar a
tomar a vacina BCG, que apesar de ter sido
ocorrência de danos físicos, emocionais e
desenvolvida para combater a tuberculose, pesquisas
socioeconômicos. Em danos já existentes, a prevenção
mostraram que ela tem um efeito protetor também contra
é adotar medidas que visam evitar complicações”
a hanseníase, sendo que a segunda dose da vacina
(BRASIL, 2016, p. 10).
acrescenta proteção. (BARRETO; PEREIRA;
A fisioterapia atua ativamente no tratamento da
FERREIRA, 2006, p. 07). Provavelmente, esta seja a
hanseníase, visto que é uma doença que, se não tratada,
causa da resistência da maioria da população ao bacilo,
se torna incapacitante. O paciente é encaminhado para
e acabam não adoecendo. Dessa forma, podemos ver
tratamento fisioterapêutico quando é apresentado dano
que é uma doença altamente infectante, mas apresenta
físico que necessita de técnicas mais complexas,
baixa patogenicidade.
buscando assim a sua reabilitação.
Esta doença se manifesta através de quatro
De início é necessário avaliar o paciente e ver
formas clínicas: Indeterminada, Tuberculóide,
qual o grau de incapacidade em que ele se encontra,
Virshowiana ou Dimorfa, podendo ser classificada em
analisando: as diferentes disfunções sensitivo-motoras,
paucibacilares (quando apresenta até 5 lesões) e
deformidades, comprometimento neural,
multibacilares (apresenta acima de 5 lesões). Essa
comprometimento funcional e força muscular. Dentre os
classificação irá definir a forma de tratamento da doença,
principais objetivos da fisioterapia para esses pacientes
especificamente quanto ao tempo e ao tipo de droga a
estão: evitar deformidades, treinamento funcional –
ser utilizada (CASSOL et.al., 2015). A poliquimioterapia
trabalhar marcha e Atividades de Vida Diária – órteses,
é a forma medicamentosa para tratar pessoas com
propriocepção e estimulação sensitiva.
hanseníase, e tem apresentado resultados positivos. A
De acordo com Almeida Filho e Rouquayrol
transmissão da doença é interrompida a partir do
(2006), “a epidemiologia se constitui na principal ciência
momento em que o portador do bacilo começa a tomar a
da informação em saúde”. Através dela é possível
medicação. Hoje, a hanseníase é uma doença tratável e
quantificar os casos de doença no país, e a partir desses
curável, tendo como principal forma de prevenção o
dados traçar estratégias de combate as demais
diagnóstico precoce, além de ter um baixo custo.
enfermidades, possibilitando um avanço do
O hanseniano vive em conflitos constantemente.
conhecimento sobre o processo saúde/doença.
Muitas vezes, por não ter a informação correta sobre a
A coleta dos dados é feita por meio do
doença, passa a se isolar do convívio social, sendo
preenchimento de notificações que são distribuídos em
preconceituoso consigo mesmo. Devido à doença gerar
todo o país. Muitos casos ainda não são relatados devido
uma incapacidade funcional e deformidades no corpo,
à falta de conhecimento de alguns profissionais, ou até
faz com que a sociedade acabe tratando-o com
mesmo por negligência. Cada caso que não é notificado,
discriminação, interferindo dessa forma na sua auto-
acaba gerando um dado irreal para o Ministério da
estima.
Saúde.
Conforme Talhari et al. (2015, p. 01):
A hanseníase, por ser uma doença
A hanseníase ainda se configura como grave transmissível, é uma das enfermidades de maior
problema de Saúde Pública em muitos países, relevância para a sociedade por causar grande
inclusive no Brasil. [...] Segundo a Organização incapacidade ao portador, não sendo tratado. Por isso, a
Mundial da Saúde (OMS), atualmente, um país informação epidemiológica dessa doença é de suma
é considerado endêmico quando apresentar um relevância para o país, visto que o Ministério da Saúde
ou mais doentes para 10.000 habitantes tem como objetivo eliminá-la.
(1/10.000). O Brasil e a Índia são os dois países
mais endêmicos do mundo, contribuindo com
A escolha do tema está relacionada ao fato de
15,4% (37.610 casos) e 54,7% (133,717) dos que há um alto índice de casos de hanseníase no Brasil,
e por mais que seja um problema de saúde pública, há
pouca discussão e estudos sobre a doença.
50
Holanda, Giló, Silva Junior, Soares e Cerdeira
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X
Essa lacuna precisa ser preenchida, devido a humoral por depósitos de imuno-complexos em indivíduo
possibilidade de incapacidade do portador, podendo com pouca capacidade para destruir bacilos”
afetar de forma temporária ou permanente a sua vida (TRINDADE, 2014).
nos aspectos físicos, emocionais e sociais. A incapacidade e deformidade causada pela
Esse estudo teve por objetivo traçar o perfil hanseníase, são os grandes responsáveis pelo
epidemiológico de pessoas com hanseníase em Aracati, preconceito sofrido pelos portadores desta doença,
fazendo uma análise epidemiológica da situação desta gerando assim um afastamento dos mesmos do convívio
doença na cidade. social e familiar.
“Registram-se em média, a cada ano, 47.000
2 REFERENCIAL TEÓRICO novos casos, dos quais 23,3% com graus de
incapacidade I e II” (BRASIL, 2008).
Considerado um grave problema de saúde Nesse contexto, a fisioterapia se torna
pública, a hanseníase é uma doença que atinge uma boa necessária indicando condutas que devem ser
parte da população mundial, apresentando grandes realizadas e fazendo o acompanhamento do tratamento.
índices de novos casos no Brasil. Anualmente, o A avaliação frequente e exames regulares facilitam esse
Ministério da Saúde luta contra a disseminação da acompanhamento da evolução da doença e o progresso
doença, tendo como objetivo eliminá-la do país. para a cura.
É uma doença transmissível e incapacitante, Segundo Dias, Cyrino e Lastória (2007):
caso o portador do bacilo de Hansen, que é o agente
etiológico da doença, não receba o tratamento correto. A atuação do fisioterapeuta na hanseníase
Mesmo tendo essa facilidade na transmissão da doença, deverá, assim, fazendo parte de uma formação
a maioria da população é resistente ao agente mais ampla focada no cuidado integral ao
paciente, conter orientação sobre a doença ao
patológico, o que reduz a probabilidade de uma pessoa
doente, ao comunicante e à população em geral;
ter a doença, mas não a impede de contraí-la se mantiver realização de diagnóstico precoce; prevenção de
um contato constante com portadores. novos casos; avaliação, prevenção, tratamento e
Ela se manifesta por meio de lesões na pele, reabilitação de incapacidades; e por fim,
espessamento do nervo e ausência da sensibilidade. Os reintegração dos doentes à sociedade.
nervos periféricos mais afetados são: facial, trigêmeo,
auricular, radial, mediano, ulnar, tibial e fibular comum De acordo com a Sala de Apoio à Gestão
(IGNOTTI, 2014). Estratégica – SAGE, do Ministério da Saúde, o município
A hanseníase se apresenta de quatro formas de Aracati teve um aumento significante no ano de 2015
clínicas. A indeterminada, que é a fase inicial, na taxa de detecção da população geral (20,62 por
apresentando uma lesão, geralmente mais clara que a 100.000 hab/ano), e em 2014 apresentou um aumento
pele normal, com alteração de sensibilidade. A de casos em menores de 15 anos (11,24 por 100.000
tuberculóide se apresenta em pessoas com alta hab/ano), conforme mostra o gráfico 1 abaixo.
resistência ao bacilo, com poucas lesões, alteração de
Gráfico 1 – taxa de detecção de hanseníase em Aracati
sensibilidade térmica, tátil e dolorosa e espessamento do
(2001 à 2016)
nervo. Pode ter lesões papulosas ou nodulares, únicas
ou em pequeno número, principalmente na face. A
dimorfa apresenta uma maior quantidade de lesões, o
acometimento de nervo é mais extenso, podendo ocorrer
neurites agudas. E a virchowiana, que é a mais grave de
todas, podendo causar até deformidades (BRASIL,
2014).
Atualmente a hanseníase é tratada com o uso da
poliquimioterapia, que é um conjunto formado por três
medicamentos: rifampicina, dapsona e clofazimina.
Juntos, elas são capazes de eliminar o bacilo do
organismo, onde o hanseniano toma doses
supervisionadas mensais e doses diárias. Tomando o
medicamento de forma correta, os doentes não
transmitem a doença, e progridem para a cura.
A poliquiomioterapia é ofertada de forma gratuita Fonte: SAGE – Sala de Apoio a Gestão Estratégica.
e realizada na atenção básica. Seu esquema de
medicamento é dividido de acordo com a classificação Em relação à quantidade de casos novos no
apresentada pelo paciente: paucibalar ou multibacilar período de 2001 a 2015, os anos de 2001 e 2008
(TRINDADE, 2014). recebem destaque por apresentar uma maior incidência.
Alguns portadores da doença podem apresentar Comparado à capital do estado, Fortaleza, (ver o gráfico
algumas reações hansênicas a partir do momento que 2 abaixo), pode-se perceber que Aracati predomina em
começam o tratamento, durante ou após o mesmo. quase todos os anos analisados, níveis altos de novos
Essas reações são classificadas como reação hansênica casos de hanseníase, mesmo apresentando uma
tipo 1 – que “ocorre por exacerbação da resposta imune população menor.
celular em indivíduo com boa capacidade para destruir
bacilos” (TRINDADE, 2014); e a reação hansênica tipo 2
– que “ocorre por exacerbação da resposta imune
51
Holanda, Giló, Silva Junior, Soares e Cerdeira
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

Gráfico 2 – Percentual de casos de hanseníase em Aracati (2001 a 2016) e Fortaleza (2001 a 2016).

Fonte: SAGE – sala de apoio a gestão estratégica.

Esse fato pode estar relacionado a uma falha da 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO


Secretaria Municipal de Saúde ou dos colaboradores
deste setor, em ter um maior acompanhamento dos Realizado a pesquisa no SINAN dos casos de
casos registrados e uma deficiência em promover uma hanseníase no município de Aracati, verificou-se que
política de conhecimento sobre a doença, sua forma de foram notificados 44 casos novos, correspondente ao
transmissão e tratamento que seja designado à período de 2011 a 2015. Pode-se observar também que
população como forma de informação e prevenção. houve um aumento de novos casos nos últimos anos–
2013 a 2015 - (FIGURA 1), chegando a uma média de
3 MÉTODO 12,33 casos/ano numa amostra de 100.000 habitantes.
Este estudo é do tipo retrospectivo, descritivo, Figura 1 - Quantidade de casos novos por ano (2011 a
com abordagem quantitativa. 2015).
A população deste estudo foram os habitantes
da cidade de Aracati diagnosticadas com hanseníase. As
amostras foram as pessoas diagnosticadas com
hanseníase na cidade de Aracati nos anos de 2011 a
2015.
Foi realizada uma pesquisa no Sistema de
Informação de Agravos de Notificação – SINAN,
coletando a quantidade de casos de hanseníase em
Aracati nos anos de 2011 a 2015.
Foram pesquisados os seguintes requisitos:
quantidade de casos novos em cada ano, sexo, faixa
etária, classificação operacional, forma clínica da Fonte: SINAN – Sistema Informação de Agravos De
doença, quantidade de lesões cutâneas, grau de Notificação
incapacidade e o tipo de saída.
Foram excluídos do estudo, os casos que foram Essa progressão de casos acaba confirmando o
diagnosticados em anos anteriores a 2011 e posteriores que está registrado na Sala de Apoio à Gestão
a 2015. Estratégica – SAGE (2016), do Ministério da Saúde. Isso
Todos os dados foram coletados e tabulados no pode ser visto como um descuido da parte da Secretaria
Microsoft Excel®, sendo expostos na pesquisa com Municipal de Saúde, visto que a hanseníase é um grave
gráficos produzidos neste mesmo programa. Foram problema de saúde pública. E mesmo Aracati
cruzados os dados de todos os portadores da doença, e demonstrando quantidade de casos relevantes dessa
registrado aqueles que apresentaram a maior incidência doença, a mesma não está inclusa como cidade
de cada requisito, para assim construir o perfil prioritária no combate a hanseníase no estado do Ceará
epidemiológico da cidade de Aracati. (BRASIL, 2005).
A pesquisa utilizou dados secundários, Já de acordo com o último relatório do Governo
disponíveis na plataforma SINAN-NET, sem risco para a do Estado do Ceará (2017), é possível constatar que
população de estudo ou identificação nominal dos houve uma queda bem significante no número de casos,
sujeitos. Foram cumpridas as diretrizes e normas como pode ser visto na tabela abaixo. Mesmo
regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres apresentando um único caso na 7º CRESS, o mesmo foi
humanos, estabelecidas pela Resolução 466/12 do diagnosticado em Aracati.
Conselho Nacional de Saúde.

52
Holanda, Giló, Silva Junior, Soares e Cerdeira
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

Tabela 1 – Casos de Hanseníase


LOCAL QUANT. DE CASOS DE HANSENÍASE 13/2017
Ceará 235
7º CRESS (Aracati, Fortim, Icapuí e Itaiçaba) 1
Aracati 1
Fonte: Site do governo do estado do Ceará

É importante ressaltar que todos os municípios Figura 3 - quantidade de casos por faixa etária (2011-
do Estado do Ceará fazem diagnósticos e realizam 2015)
tratamento poliquimioterápico, visto que houve um
treinamento em 2004 para 2.067 profissionais (BRASIL,
2005). Esse fato reforça que as pessoas que estão em
constante contato com a população têm a obrigação de
saber realizar um diagnóstico precoce e a informação
necessária para o encaminhamento deste indivíduo ao
tratamento.
Em relação ao sexo, podemos observar que há
a presença da doença em maior quantidade no sexo
masculino (59%), mas o feminino (41%) não deixa de ser
significante por apresentar também um número
considerável de casos (figura 2).
Figura 2 - Quantidade de casos em pessoas do sexo Fonte: SINAN – Sistema Informação de Agravos De
masculino e feminino (2011 a 2015). Notificação
Segundo Pereira et al. (2011), em relação a faixa
etária, há uma presença maior de casos de hanseníase
em pessoas com idade abaixo de 15 anos, apresentando
um aumento da transmissibilidade da doença por
contato.
Neste estudo, foi diagnosticado a doença em
crianças de 5-9 anos, o que reforça essa teoria de
transmissão, mas houve um índice maior em adultos e
idosos de 50-64 anos, confirmando com os estudos de
Queiroz et al. (2015), comprovando a falta de cuidado
dos cuidadores e responsáveis por essas pessoas, visto
que já se encontram em uma idade mais avançada.
Em relação à classe operacional, na maioria dos
casos notificados já apresentavam a fase da doença de
maior facilidade para transmissão, que são os
multibacilares (figura 4).
Fonte: SINAN – Sistema Informação de Agravos De Figura 4 – Quantidade de casos por classe operacional
Notificação (2011- 2015)
A pesquisa apresentou uma prevalência do sexo
masculino, corroborando com outros estudos, como de
Veronesi e Focacia (2002) deduzindo que o homem
apresenta um descuido em relação ao corpo e mantém
mais relação social do que a mulher, mas, acaba
discordando de Melão et al., (2011), do qual afirma que
o gênero feminino é mais prevalente na detecção de
casos de hanseníase, devido as mulheres apresentarem
uma maior preocupação com a saúde e com a estética,
tendo assim mais oportunidades de diagnóstico do que
em homens.
Analisando a faixa etária, verificou-se que houve
casos desde em crianças até idosos, mostrando que a
doença permeia por todas as idades. Houve uma maior
incidência de casos entre a faixa etária de 50 a 64 anos Fonte: SINAN – Sistema Informação de Agravos De
(figura 3). Notificação
Muitos estudos corroboram com a
predominância multibacilar, ou seja, a doença no seu
estágio mais avançado. Dentre estes estudos,
53
Holanda, Giló, Silva Junior, Soares e Cerdeira
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

confirmam com os dados da pesquisa de Melão et al., a 4 lesões, confirmando com os dados obtidos nesta
(2011) e Queiroz et al., (2015). Isso pode nos mostrar pesquisa. Dessa forma, pode-se observar que o
que há uma detecção tardia da doença devido a uma diagnóstico precoce está sendo bem realizado.
falta de informação da população ou ineficiência dos Zanardo et al., (2016), em seus estudos,
agentes comunitários de saúde ou demais profissionais mostrou que 74% dos casos estudados apresentavam
da área em realizar diagnóstico da doença. mais de 5 lesões, e apenas 26% de 1 a 2 lesões.
Para Imbiriba et al., (2008), a classe operacional Levando-se em consideração que o número de lesões
paucibacilar se destaca, demonstrando que há uma está relacionado ao nível da doença, pode-se observar
eficácia no diagnóstico precoce. que há um diagnóstico tardio, visto que o
Em Pereira et. al. (2012), diz que os casos desenvolvimento da doença acontece de forma lenta.
paucibacilares apresentam duas formas clínicas da O grau de incapacidade apresentado durante a
doença, a tuberculóide e indeterminada. Sendo que a pesquisa, pode-se observar que 56,8% dos doentes era
tuberculóide se caracteriza de forma leve, e a grau 0, sem incapacidade. Por outro lado, 20,4%
indeterminada se desenvolve para tipo mais grave. Nos apresentaram grau I, e 18,1% grau II, um nível maior de
casos multibacilares, se apresentam as formas incapacidade. É importante ressaltar que 4,5% desses
virchowiana e dimorfa. Respectivamente, a virchowiana casos ficaram sem avaliação (figura 6).
atinge as vísceras de forma mais agravante e a dimorfa
atua em nível de comprometimento neurológico. Figura 6 – Grau de incapacidade presentes nos casos
A forma clínica em todos os anos foi ignorada, notificados (2011- 2015)
ou seja, não sabemos realmente em que estado cada
indivíduo se encontrava no momento do diagnóstico,
podendo apresentar a doença de forma mais amena ou
mais agravante. Não foi detectada ou registrada nos
casos que foram notificados.
Essa falta de informação pode representar uma
deficiência das pessoas que realizam o cadastro e que
detectam a doença, mas não sabem classificá-las. E
esse déficit de informação pode ocasionar uma maior
disseminação da doença e ter complicações na forma de
tratamento, visto que, dependendo do grau em que o Fonte: SINAN – Sistema Informação de Agravos De
paciente se encontra, há presença de reações Notificação
hansênicas, que devem também ser classificadas como
tipo 1 ou tipo 2. Essa falta de dados acaba interferindo Para Lima et. al. (2010), o grau 0 em relação ao
numa análise mais detalhada dos casos notificados. nível de incapacidade se destaca em relação aos
De acordo com Miranzi, Pereira e Nunes (2010), demais. Apesar de ter vários casos de hanseníase, a
a forma clínica determinante é a dimorfa. Esse tipo se maioria não chega a um grau significante de perda da
apresenta através de uma maior quantidade de lesões, funcionalidade.
podendo ocorrer inflamações, devido ao acometimento Já de acordo com Corrêa et al., (2014), o grau II
de nervo ser maior. Em seguida se destaca a de incapacidade se apresenta de forma predominante,
virchowiana, acompanhada da tuberculóide e do qual o paciente perde boa parte de suas funções.
indeterminada. Esta última é a forma mais amena da Nesse estudo, dentre as sequelas mais frequentes
doença. apresentadas pelos pacientes estão à perda da
Já em relação à quantidade de lesões sensibilidade e deformidades. Ele também destaca a
apresentadas por cada hanseniano, na maioria das presença de sintomas depressivos, como tristeza,
notificações foram registrados branco/ignorado, mas insônia, choro fácil, dificuldade de trabalho e alteração
prevaleceram também casos em que apresentavam uma da imagem.
única lesão ou de 2 – 5 lesões (figura 5). Nos estudos de Ikehara et al., (2010), os danos
mais relatados pelos pacientes depois da hanseníase
Figura 5 – Quantidade de lesões presentes nos casos são dores nos braços e pernas, dormência de mãos e
notificados (2011-2015) pés, deformidades, diminuição da ADM do tornozelo e
membros, visão desfocada e depressão.
É nesse momento que a fisioterapia atua de
forma ativa, com o objetivo de reverter essa insuficiência
funcional, evitando deformidades.
No tipo de alta, se destaca a cura, estando
presente na maioria dos casos, mas também chegou a
ser registrado um óbito por causa da doença (figura 7).

Fonte: SINAN – Sistema Informação de Agravos De


Notificação

Segundo Vieira et al., (2014), a quantidade de


lesões que se apresentam em maior proporção são de 1

54
Holanda, Giló, Silva Junior, Soares e Cerdeira
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

Figura 7 – quantidade do tipo de saída (2011-2015) facilitando a fonte de pesquisa para quem tenha
interesse. Depois desse momento de aprendizagem dos
servidores, criar um movimento para conscientização da
população e a busca pela eliminação da doença no
município, e assim diminuir os índices de novos casos,
além de ofertar a fisioterapia às pessoas que já
contraíram a doença e apresentam algum tipo de
incapacidade, tentando restabelecê-las ou melhorando
de alguma forma sua qualidade de vida.
Com a análise epidemiológica, é possível
concluir que é importante o incentivo dos gestores
priorizando esta doença, em busca de erradicá-la e
diminuir o impacto social negativo perante a sociedade.

Fonte: SINAN – Sistema Informação de Agravos De


Notificação REFERÊNCIAS
ALMEIDA FILHO, N. de; ROUQUAYROL, M. Z.
A cura é o tipo de saída mais frequente nos Introdução à epidemiologia. 4. ed. Rio de Janeiro:
casos relatados, concordando com os estudos de Rocha Grupo editorial nacional, 2006.
e Garcia (2014). Mesmo tendo como resultados desta
pesquisa um óbito, e apesar da falta de dados em alguns
BARRETO, M. L.; PEREIRA, S. M.; FERREIRA, A. A.
campos de informação, isso mostra a eficiência na forma
BCG vaccine: efficacy and indications for vaccination
de tratamento da doença. and revaccination. Jornal de pediatria, v. 82, n. 3, p.
Segundo Lana et al., (2007), prevê-se que s45-s54, 2006.
apenas 1/3 dos pacientes sejam registrados e que
destes, muitos realizam o tratamento não apropriado ou BRASIL. Brasil quer eliminar a hanseníase até 2015.
afastam-se, elevando o índice da doença.
Ministério da Saúde, 2012. Disponível em:
Moreira et. al (2014), relata em seus estudos a
<http://www.brasil.gov.br/saude/2012/06/brasil-quer-
importância da ação educativa sobre a hanseníase. eliminar-a-hanseniase-ate-2015>. Acesso em: 15 ago.
Muitas informações sobre a doença são desconhecidas 2016>.
pela população e acabam favorecendo a
transmissibilidade da patologia. Vale ressaltar também ______. Diretrizes para vigilância, atenção e
que uma das causas de abandono do tratamento é eliminação da hanseníase como problema de saúde
justamente essa falta de informação. pública. Brasília. Secretaria de Vigilância em Saúde,
2016.
5 CONCLUSÃO
A hanseníase é uma doença que precisa de ______. Guia de Vigilância em Saúde. Volume único.
muitos cuidados e conhecimento da população para que Brasília. Ministério da Saúde do Brasil, 2014.
ela seja eliminada, principalmente por propiciar ao
portador uma incapacidade funcional, ser vítima de ______. Hanseníase e direitos humanos: direitos e
preconceito e exclusão social. deveres dos usuários do SUS. Brasília. Ministério da
A luta pelo extermínio desta doença é uma Saúde do Brasil, 2008.
constante em vários países, e no Brasil não pode ser
diferente. Nele está presente o Morhan – Movimento de ______. Manual de prevenção de incapacidades.
Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase, Cadernos de prevenção e reabilitação em hanseníase;
instituição sem fins lucrativos, que desde 1981 busca n. 1. Brasília. Ministério da Saúde do Brasil, 2008.
construir políticas públicas que favoreçam a população,
garantir o respeito e os direitos humanos às pessoas ______. Sistema Nacional de Vigilância em Saúde.
atingidas pela doença, levando conhecimento sobre o Relatório de Situação. Brasília. Ministério da Saúde do
tratamento e cura, tentando desmistificar a figura da Brasil, 2005.
lepra. Trabalham realizando Campanhas de
Conscientização em Hanseníase, em todo o Brasil. _____. Sala de Apoio a Gestão Estratégica – SAGE.
Possuem uma rede de voluntários e oferece um telefone Hanseníase – Notificações Registradas: banco de
gratuito (telehansen) para delação de desrespeito e dados. Disponível em: <http://sage.saude.gov.br/>.
esclarecimentos sobre a doença (MENDONÇA, 2012). Acesso em: 20 mar. 2017.
Tendo como exemplo o Morhan, sugere-se um
maior engajamento da Secretaria Municipal de Saúde de _____. Sistema de Informação de Agravos de
Aracati, em ofertar aos seus funcionários e pessoas que Notificação – SINAN. Hanseníase – Notificações
atuam na área, a participação em palestras sobre o que Registradas: banco de dados. Disponível em:
é a doença, como diagnosticá-la, sua forma de <portalsinan.saude.gov.br>. Acesso em: 10 mar. 2017.
transmissão e tratamento. Podendo ser requisitado ao
Morhan a realização desse projeto. Em seguida, um CASSOL, A. M. et al. Perfil epidemiológico e
treinamento na base de dados do SINAN, para que todas incapacidades físicas em pacientes com hanseníase no
as informações sejam preenchidas corretamente,
55
Holanda, Giló, Silva Junior, Soares e Cerdeira
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

centro de saúde de Barra do Garças – MT. Revista hanseníase. Varia hist., Belo Horizonte, v. 28, n. 47, p.
Eletrônica da UNIVAR, v. 1, n. 13, p. 64-68, 2015. 341-360, jun. 2012. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?
GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ. Boletim script=sci_arttext&pid=S0104-
Epidemiológico. Doenças de Notificação Compulsória. 87752012000100016&lng=pt&nrm=iso>. Acesso
Notificação referente as semanas epidemiológicas em: 17 abr. 2017.
13/2017. Secretaria da Saúde do estado, 2017.
Disponível em: MIRANZI, S. de S. C.; PEREIRA, L. H. de M.; NUNES,
<http://www.saude.ce.gov.br/index.php/boletins> A. A. Perfil Epidemiológico da hanseníase em um
Acesso em: 13 maio 2017. município brasileiro, no período de 2000 a 2006.
Revista da Sociedade Brasileira de Medicina
CORRÊA, B. J. et. al. Associação entre sintomas Tropical, v. 43, n. 1, p. 62-67, jan. / fev. 2010.
depressivos, trabalho e grau de incapacidade na
hanseníase. Acta Fisiatr., v. 21, n. 1, p. 1-5, 2014. MOREIRA, A. J. et al. Ação educativa sobre
hanseníase na população usuária das unidades básicas
DIAS, A.; CYRINO, E. G.; LASTORIA, J. C. de saúde de Uberaba-MG. Saúde Debate, Rio de
Conhecimentos e necessidades de aprendizagem de Janeiro, v. 38, n. 101, p. 234-243, abr./jun. 2014.
estudantes de fisioterapia sobre a hanseníase.
Hansenol. int. (Online), Bauru, v. 32, n. 1, PEREIRA, D. L. et. al. Estudo da Prevalência das
2007. Disponível em: formas clínicas da hanseníase na cidade de Anápolis –
<http://periodicos.ses.sp.bvs.br/scielo.php?script=sci_ar GO. Ensaios e Ciências, Ciências Biológicas,
ttext&pid=S1982- agrárias e da saúde, v. 16, n. 1, 2012.
51612007000100002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso
em: 07 nov. 2016. PEREIRA, E. V. E. et al. Perfil Epidemiológico da
hanseníase no município de Teresina, no período de
IGNOTTI, E. Hanseníase na Atenção Básica: 2001-2008. Anais Brasileiros de Dermatologia, 2011.
Hanseníase como problema de saúde pública. Sistema
Universidade Aberta do SUS – UNA-SUS, 2014. QUEIROZ, T. A. et. al. Perfil clínico e epidemiológico de
Disponível em: pacientes em reação hansênica. Revista Gaúcha de
<https://app2.unasus.gov.br/UNASUSPlayer3/player/LTI Enfermagem, 2015.
/7/9>. Acesso em: 26 out. 2016.
ROCHA, M. C. N.; GARCIA, L. P. Investigação
IKEHARA, E. et al. Escala Salsa e grau de epidemiológica dos óbitos notificados tendo como
Incapacidades da Organização Mundial de Saúde: cauda básica a hanseníase, ocorridos em Fortaleza,
avaliação da limitação de atividades e deficiência na Ceará, 2006-2011. Epidemiol. Ser. Saúde, Brasília, v.
hanseníase. Acta Fisiatrica, v.17, n.4, p. 169-174, 23, n. 2, p.277-286, abr./jun. 2014.
2010.
TALHARI, S. et al. Hanseníase. 5. ed. Manaus: Di
IMBIRIBA, E. B. et. al. Perfil Epidemiológico da Livros Editora Ltda, 2015.
hanseníase em menores de quinze anos de idade,
Manaus (AM), 1998 – 2005. Rev. Saúde Pública, TRINDADE, M. Â. B. Hanseníase na Atenção Básica.
2008. Tratamento. Sistema Universidade Aberta do SUS –
UNA-SUS, 2014. Disponível em:
LANA, F. C. F. et al. Hanseníase em menores de 15 <https://app2.unasus.gov.br/UNASUSPlayer3/player/LTI
anos no Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais, /7/9>. Acesso em: 26 out. 2016.
Brasil. Rev. Bras. Enferm., Brasília, v. 60, n. 6, p. 696-
700, dez. 2007. Disponível em: VERONESI, R.; FOCCACIA, R. Tratado de
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid= Infectologia. 2. ed. São Paulo: Atheneu; 2002.
S0034-71672007000600014&lng=en&nrm=iso>.
Acesso em: 04 jun. 2017. VIEIRA, G. de D. et al. Hanseníase em Rondônia:
incidência e características dos casos notificados, 2001
LIMA, H. M. N. et. Al. Perfil Epidemiológico dos a 2012. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 23, n. 2, p.
pacientes com hanseníase atendidos em centro de 269-275, abr./jun. 2014.
saúde em São Luíz, MA. Rev. Bras. Clin. Med., v. 8, n.
4, p. 323-7, 2010. ZANARDO, T. S. et. al. Perfil epidemiológico dos
pacientes com hanseníase na atenção básica de saúde
MELÃO, S. et.al. Perfil Epidemiológico dos pacientes de são luis de montes belos, no período de 2008 a
com hanseníase no extremo sul de Santa Catarina, no 2014. Revista Faculdade Montes Belos (FMB), v. 9,
período de 2001 a 2007. Revista da Sociedade n. 2, p. 77-141, 2014.
Brasileira de Medicina Tropical, v. 44, n. I, p. 79-84,
jan./fev. 2011.

MENDONCA, R. F. Táticas cotidianas e ação coletiva: a


resistência das pessoas atingidas pela

56
Holanda, Giló, Silva Junior, Soares e Cerdeira
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

SOBRE OS AUTORES

Rose Lidice Holanda


Faculdade do Vale do Jaguaribe, Brasil

Fisioterapeuta, especialista em Processos Educacionais


na Saúde. Professora na Faculdade do Vale do
Jaguaribe

E-mail: [email protected]

Hinkilla dos Santos Giló


Faculdade do Vale do Jaguaribe, Brasil

Graduada em Fisioterapia pela Faculdade do Vale do


Jaguaribe.

E-mail: [email protected]

Roque Ribeiro da Silva Junior


Faculdade do Vale do Jaguaribe, Brasil

Graduado em Fisioterapia pela Faculdade do Vale do


Jaguaribe.

E-mail: [email protected]

Tiele Gessica Ramos Soares


Faculdade do Vale do Jaguaribe, Brasil

Graduada em Fisioterapia pela Faculdade do Vale do


Jaguaribe.

E-mail: [email protected]

Denilson de Queiroz Cerdeira


Centro Universitário Estácio do Ceará, ESTÁCIO/FIC,
Brasil

Doutor pela Rede Nordeste Biotecnologia - RENORBIO


- UECE (2017). Docente do Centro Universitário Estácio
do Ceará - Estácio/FIC (Fisioterapia/
Psicologia/Nutrição/Enfermagem) e na Faculdade Vale
do Jaguaribe - FVJ.

E-mail: [email protected]

57
Holanda, Giló, Silva Junior, Soares e Cerdeira
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X.

PRÁTICA DOCENTE: PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO-


DIDÁTICO NO ESTÁGIO SUPERVISIONADO DE
ENFERMAGEM NA ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE

Semiramis Bernardino RESUMO


Marinho
Ana Paula Vasconcelos de O planejamento pedagógico-didático é uma ferramenta importante para a
Oliveira Tahim instituição educacional, que possibilita a facilitação para que diferentes docentes
Tiago Bruno Areal Barra possam discutir e construir atividades de ensino interligadas, a fim de viabilizar as
Regilane Matos da Silva atividades planejadas. O docente ao programar esta ferramenta, está optando por
Prado aprimorar as atividades de docência com o uso do planejamento pedagógico
Rose Anne Holanda didático na perspectiva de que diferentes disciplinas se adequem às mudanças e
as formas de condução da docência proposta pelo grupo. Temos como objetivo
neste estudo compreender como os preceptores de Enfermagem percebem o
planejamento e tratam sobre a preparação de suas aulas e atividades para a
prática no estágio supervisionado com vistas a uma formação profissional de
qualidade. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de caráter descritivo. O cenário
de pesquisa e a coleta de dados foi realizado por meio de um questionário
eletrônico semiestruturado enviado através do google drive para o e-mail
institucional dos participantes, juntamente com o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido. A pesquisa foi realizada com seis preceptores do curso de
Enfermagem do Centro Universitário do Sertão Central. Foi aplicado em outubro
de 2016, do qual possibilitou o levantamento do planejamento dialógico do estágio
supervisionado de enfermagem na atenção básica. Os dados obtidos foram
apresentados por meio de um quadro comparativo para uma análise dos
resultados mediante inferência e interpretação. Conclui-se que, o estágio
curricular supervisionado agrega conhecimento, constitui situações de
expectativas, estudos, pesquisas, discussões, reflexões, propicia amizades e
desafios a serem enfrentados.
PALAVRAS-CHAVE: Avaliação. Estágio. Planejamento.

TEACHING PRACTICE: DIDACTIC AND PEDAGOGICAL


PLANNING IN REGISTERED NURSE INTERNSHIP IN BASIC
HEALTH CARE

ABSTRACT

Didactic and pedagogical planning is an important tool for an educational


institution that allows facilitation so different teachers may discuss and create
interconnected teaching activities, in order to enable planned activities. The
teacher, when programming this tool, chooses to improve teaching activities using
didactic and pedagogical planning in such a way that different disciplines are
adapted to changes and to types of teaching proposed by the group. This study
aims at comprehending how Nurse Preceptors accomplish planning and how they
prepare their lessons and activities for the nursing internship practice focusing on
the quality of professional development. This is a qualitative, descriptive research.
The research setting and data collection were carried out through a semi
structured electronic questionnaire sent by Google drive to the participants’
institutional e-mail, along with the Informed Consent Form. The research was
performed with six preceptors of an Undergraduate Nursing Course at Sertão
Enviado em: 01/03/2018
Central University Center. It was applied in October 2016, at which it was possible
Aceito em: 16/04/2018
Publicado em: 30/04/2018 to bring up the dialogical planning of the nursing internship program in basic health
care. The data obtained were presented through a comparative board for the
analysis of results through inference and interpretation. It is concluded that the
supervised internship program adds knowledge, constitutes prospective
situations, studies, researches, discussions, reflections, and it provides
friendships and challenges to be faced.
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

KEYWORDS: Assessment. Internship. Planning.

1 INTRODUÇÃO O planejamento dialógico do Estágio


Supervisionado em Enfermagem na Atenção Básica
No Brasil, a formação profissional voltada às permite que a imersão do estudante nos serviços de
necessidades sociais vem suscitando profundas saúde contemple diferentes dimensões da realidade
mudanças na educação superior e de modo particular na (social, econômica, política, cultural etc.). O cenário real
formação superior em saúde (PIMENTEL et al., 2015). é sempre desafiador, assim como a prática desenvolvida
A Atenção Básica à Saúde (ABS) tornou-se um pelos profissionais de saúde é sempre cercada de
tema especialmente relevante e resultou na admiração e desafios para os estudantes (RODRIGUES;
reformulação de diferentes sistemas nacionais de saúde. TAVARES, 2012).
A universalidade e a garantia de acesso por meio dos Não há mais espaço para a repetição
cuidados primários de saúde têm sido preconizadas em automática, para a aprendizagem mecânica e que não
vários países do mundo como forma de alcançar maior seja significativa. Os estudantes precisam aprender de
equidade e satisfação das expectativas dos usuários maneira que aquele novo saber ou o saber reconstruído
(TRAJMAN et al., 2009). faça sentido, uma vez que, intervir no real é o último
Em agosto de 2001, concretizou-se o Parecer passo da aprendizagem, e esta não é uma atividade que
1133 do CNE/CES que reforçou a necessidade de o aprendiz exerce sozinho, pois o docente tem papel
articulação entre Educação e Saúde, objetivando a fundamental e deverá ser o mediador desse processo
formação geral e específica dos egressos/profissionais, (FREITAS et al., 2016).
com ênfase na promoção, prevenção, recuperação e Centrando-se o ensino na aprendizagem e no
reabilitação da saúde. Esse parecer apresenta a trabalho autônomo dos estudantes, dos quais constroem
concepção de saúde, os princípios e diretrizes do os conhecimentos e as competências necessárias à
Sistema Único de Saúde (SUS) e o objeto e objetivo das docência, avaliação das aprendizagens e das
Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação na competências que os futuros professores vão adquirindo
área (FERNANDES; REBOUÇAS, 2013). ao longo da sua formação, constitui um processo que
Atualmente, o desafio das Instituições de Ensino não pode ser desintegrado do processo de ensino e de
Superior (IES) é formar profissionais de saúde com perfil aprendizagem pelo qual ocorrem. Isto porquê, avaliar
humanista, capazes de atuar nessa integralidade da competências pressupõe avaliar contextos de
atenção à saúde e em equipe, características realização, nos quais o indivíduo mobiliza recursos
indispensáveis aos serviços do Sistema Único de Saúde cognitivos, afetivos e motores, com ênfase na
(SUS), considerando também as Diretrizes Curriculares transferibilidade do conhecimento (FERREIRA, 2013).
Nacionais (DCN) (PIMENTEL et al., 2015). O planejamento pedagógico-didático é uma
Para o atendimento dessas exigências, o estágio ferramenta importante na instituição educacional, para
supervisionado é de grande valia, pois é o momento facilitar que diferentes docentes possam discutir e
capaz de despertar a autonomia dos discentes, construir atividades de ensino interligadas, a fim de
aumentar a capacidade técnica e política dos mesmos e viabilizar as atividades planejadas e propostas em
coletividade no reconhecimento, análise e conjunto, na perspectiva de que diferentes disciplinas se
enfrentamento de problemas de vida no campo saúde, adequem às mudanças e as formas de condução da
subsidiando assim a tomada de decisão e o controle docência, visando um planejamento dialógico.
social. Tal prática possibilita ao docente organizar e
O estágio curricular supervisionado pode planejar o desenvolvimento dos temas relevantes, e esta
possibilitar experiências didático-pedagógicas que perspectiva apresenta o ensino e a aprendizagem como
proporcionam experiências inovadoras e a mobilização processo social e coletivo que valoriza o ser humano
dos saberes necessários para a atuação profissional. crítico capaz de construir sua liberdade e autonomia,
Esse momento pode ou deve ser aquele em que o configurando os fundamentos cognitivos, a historicidade
estudante procura compreender o processo de ensino do grupo inerente a cada um dos sujeitos, valorizando as
em seu todo, e construir, refletir, legitimar e consolidar vivências e hábitos, e o ambiente no qual ocorre à
sua identidade (LIMA, 2015). aprendizagem.
A aproximação entre a universidade, os serviços O estudo teve como objetivo compreender a
de saúde e a comunidade deve funcionar como um meio prática docente no planejamento pedagógico-didático no
de direcionar a formação do aluno à realidade – nacional estágio supervisionado de Enfermagem na Atenção
e regional – da saúde e do trabalho (VASCONCELOS; Básica à Saúde, visando uma formação profissional de
STEDEFELDT; FRUTUOSO, 2016). qualidade, analisando os princípios que norteiam a
No âmbito do estágio curricular, o planejamento prática pedagógica e consequentemente seu processo
deve ser considerado um fator primordial para a avaliativo.
construção de um processo de ensino-aprendizagem
concatenado com as exigências de atenção à saúde da 2 MÉTODO
sociedade. Para tanto, o planejamento deve ter como Estudo descritivo com abordagem quantitativa,
característica a dialogicidade - valorização dos realizado em um Centro Universitário de um município
conhecimentos acadêmicos, respeito à experiência localizado no Sertão Central no interior do Ceará. A
concreta advinda do mundo do trabalho e atenção às pesquisa contou com a participação de 6 preceptores
demandas dos usuários dos serviços de saúde atuantes do curso de Enfermagem da instituição de
(RODRIGUES; TAVARES, 2012).

59
Marinho, Tahim, Barra, Prado e Holanda
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

pesquisa, os quais ministram disciplinas teórico-práticas a desistência dos entrevistados. Para análise dos dados
e tem, no mínimo, um ano de experiência na docência. utilizou-se o Epi info 3.5. Os mesmos foram tabulados
Para a coleta dos dados foi utilizado um por meio do Excel.
questionário estruturado dividido em três seções, cada A pesquisa em questão obedeceu a todas as
uma contemplando questões relacionadas a um recomendações advindas da Resolução 466/2012 do
determinado tema: seção 1 - estágio curricular Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde, sendo
supervisionado; seção 2 – planejamento; e seção 3 - aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa via
avaliação da aprendizagem. Os entrevistados Plataforma Brasil sob nº de protocolo 1.579.794.
responderam cada pergunta segundo uma escala de
possibilidades preestabelecida, escala de Likert, à qual 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
foi atribuído um valor de acordo com as possibilidades Os resultados foram expostos em tabelas,
de respostas: 1 (discordo muito); 2 (discordo); 3 (não divididos nas três seções principais presentes no
posso opinar); 4 (concordo); e 5 (concordo muito). questionário, com respectivos eixos de perguntas
inerentes a cada seção.
A coleta ocorreu nos meses de outubro e A seguir, a tabela 1 fala sobre o estágio
novembro de 2016, pelo método autoaplicado com o e- supervisionado e a função do preceptor.
mail institucional dos profissionais, objetivando minimizar

Tabela 1 – Estágio Curricular Supervisionado. Quixadá – 2016.


PERGUNTAS RESPOSTAS n %

Considera o ECS um procedimento didático que oportuniza situar,


Concordo 1 16,7
observar e aplicar criteriosa e reflexivamente, princípios e referenciais
Concordo muito 5 83,3
teórico-práticos.
Possibilita experiências didático-pedagógicas que proporcionam Concordo 1 16,7
experiências inovadoras. Concordo muito 5 83,3
Considerado um espaço de aprendizagem da profissão e de Concordo 2 33,3
construção da identidade docente. Concordo muito 4 66,7
Sob supervisão docente, deverá ser desenvolvido de forma articulada Concordo 1 16,7
e com complexidade crescente ao longo do processo de formação. Concordo muito 5 83,3
Considera o objetivo dessa proposta pedagógica capaz de construir a Concordo 4 66,7
capacidade de autonomia profissional e política do aluno. Concordo muito 2 33,3
O impacto sobre a formação dos profissionais é inegavelmente maior Discordo 1 16,7
quando o estágio ocorre no ambiente dos serviços. Concordo 5 83,3
O preceptor assume o papel de facilitador da aprendizagem e busca
Concordo 1 16,7
alcançar os objetivos da formação e os interesses da instituição que
Concordo muito 5 83,3
sedia o estágio e da população atendida.
O preceptor assume uma supervisão direta em momentos presenciais Não posso opinar 1 16,7
e indireta. Concordo muito 5 83,3
Considera a realização do estágio curricular de extrema importância. Concordo muito 6 100
Considera a análise das experiências vividas pelos estudantes capaz
de subsidiar a compreensão dessas vivências na formação da Concordo 5 83,3
identidade do profissional enfermeiro, como pessoa capaz de crítica, Concordo muito 1 16,7
reflexão e efetiva transformação da realidade.

Fonte: Dados da pesquisa


Pôde-se observar que foi considerado pelos aprendizagem do desenvolvimento profissional,
preceptores o ECS importante para a formação do aluno, favorecendo a aquisição de habilidades e competências
sendo essa afirmativa unânime entre os entrevistados. pelos recém-graduados, em situações clínicas reais, no
Botti e Rego (2008) afirmam que o preceptor é o próprio ambiente de trabalho.
profissional que atua dentro do ambiente de trabalho e Os preceptores também consideram que o
de formação, estritamente na área e no momento da objetivo do ECS é capaz de construir a capacidade de
prática clínica. Portanto, entre as suas características autonomia profissional e política do aluno. De acordo
marcantes devem estar o conhecimento e a habilidade com Machado (2008) autonomia é um processo de
em desempenhar procedimentos clínicos. Nesse decisão e de humanização que vai construindo
sentido, o preceptor se preocupa principalmente com a historicamente, a partir de várias ou inúmeras decisões
competência clínica ou com os aspectos de ensino- que tomamos ao longo da existência.
60
Marinho, Tahim, Barra, Prado e Holanda
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

Freire (1996, 2002) destaca que uma das tarefas ‘cercar’ o objeto ou fazer sua aproximação metódica, sua
mais importantes da prática educativo-crítica é propiciar capacidade de comparar, de perguntar. A dialogicidade
as condições em que os educandos em relação a uns não nega a validade de momentos explicativos,
com os outros e todos com o professor ou a professora, narrativos em que o professor expõe ou fala do objeto. O
ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir- fundamental é que o professor e alunos saibam que a
se como ser social e histórico, como ser pensante, postura deles, do professor e dos alunos, é dialógica,
comunicante, transformador, criador, realizador de aberta, curiosa, indagadora e não apassivada, enquanto
sonhos. fala ou enquanto ouve. O que importa é que professor e
Para Freire (1996) a construção ou a produção alunos se assumam epistemologicamente curiosos.
do conhecimento do objeto implica o exercício da A segunda tabela engloba os resultados do
curiosidade, sua capacidade crítica de ‘tomar distância’ planejamento como fator fundamental sobre o sucesso
do objeto, de observá-lo, de delimitá-lo, de cindi-lo, de do ECS.

Tabela 2 – Planejamento. Quixadá – 2016.


PERGUNTAS RESPOSTAS n %
É possível uma efetiva mudança nas práticas de ensino universitário sem ações Discordo muito 2 33,3
e mudanças na organização e gestão do curso. Discordo 3 50
Concordo muito 1 16,7
O Curso de Graduação em Enfermagem deve ter um projeto político pedagógico,
construído coletivamente, centrado no aluno como sujeito da aprendizagem e Concordo 4 66,7
apoiado no professor como facilitador e mediador do processo ensino- Concordo muito 2 33,3
aprendizagem.
O planejamento pedagógico-didático é uma ferramenta importante na instituição
educacional, de tal forma a facilitar que diferentes docentes possam discutir e Concordo 2 33,3
construir atividades de ensino interligadas, a fim de viabilizar as atividades Concordo muito 4 66,7
planejadas e propostas em conjunto.
O planejamento deve ter como característica a dialogicidade valorização dos
conhecimentos acadêmicos, respeito à experiência concreta advinda do mundo Concordo 4 66,7
do trabalho e atenção às demandas dos usuários dos serviços de saúde. Concordo muito 2 33,3

O planejamento didático deve ser realizado no cotidiano do docente, ao iniciar


cada atividade de ensino, devendo ser projetado com precisão e atender vários Concordo 1 16,7
aspectos. Concordo muito 5 83,3

O preceptor deverá estar preparado para situações de improviso e conflito de


ideias, e aproveitar esses momentos para estimular a criatividade e a participação Concordo 2 33,3
ativa dos alunos, num processo contínuo de construção do conhecimento. Concordo muito 4 66,7

O preceptor deve estar apto e selecionar os recursos tecnológicos adequados aos


objetivos propostos, executando um planejamento de ensino com Concordo 4 66,7
responsabilidade e desenvolvendo as habilidades necessárias como educador. Concordo muito 2 33,3

Há a necessidade da integralidade da atenção, do trabalho em equipe e a


apropriação do SUS para ampliar nossa capacidade de percepção e intervenção Concordo 2 33,3
sobre a saúde. Concordo muito 4 66,7

Considera que o planejamento da prática docente em saúde deve ter um


compromisso com a construção de um projeto político-pedagógico, onde o ponto Concordo 5 83,3
de partida é a análise da clientela por meio de uma reflexão de suas Concordo muito 1 16,7
características.
O ensino em saúde tem por objetivo a organização de um sistema de relações
nas dimensões do conhecimento, de habilidades e de atitudes, de tal modo que
Concordo 2 33,3
favoreça, ao máximo, o processo ensino/aprendizagem, exigindo, para seu
Concordo muito 4 66,7
desenvolvimento, um planejamento que concretize objetivos em propostas
viáveis.
Fonte: Dados da pesquisa
A prática docente requer um planejamento conhecimento do objeto”. O planejamento das ações se
estratégico para disseminação do conhecimento aos torna necessário para que o aluno seja protagonista do
alunos durante o estágio supervisionado, visando à seu conhecimento.
autonomia dos mesmos. Segundo Paulo Freire (1997, p. Libâneo (2010) define o planejamento como um
77) “Todo ensino de conteúdos demanda de quem se processo de racionalização, organização e coordenação
acha na posição de aprendiz que, a partir de certo da prática docente, articulando a ação escolar e o
momento, vá assumindo a autoria também do contexto social. Ao mesmo tempo, o planejamento é um
61
Marinho, Tahim, Barra, Prado e Holanda
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

momento de pesquisa e reflexão intimamente ligado à na organização e gestão do curso, sendo enfatizado por
avaliação. Assim, o ato de planejar não se reduz ao mero 50% da amostra essa afirmativa.
preenchimento de formulários administrativos. É a ação O projeto político pedagógico é outra ferramenta
consciente de prever a atuação do educador, alicerçada fundamental e segundo 66,7% dos entrevistados deve
nas suas opções político-pedagógicas e fundamentada estar centrado no aluno. Outro dado importante refere-
nos problemas sociais, econômicos, políticos e culturais se ao planejamento didático que segundo 83,3% das
que envolvem os participantes do processo de ensino– respostas deve ser realizado no cotidiano do docente e
aprendizagem. iniciar cada atividade de ensino, devendo ser projetado
Fundamentalmente as ações mais efetivas com precisão e atender vários aspectos de acordo com
segundo os preceptores estão relacionadas a um bom a necessidade do aluno e comunidade assistida.
planejamento, sendo possível uma efetiva mudança nas Adiante, a terceira tabela corresponde à
práticas de ensino universitário com ações e mudanças avaliação da Aprendizagem.
Tabela 3 – Avaliação da Aprendizagem. Quixadá – 2016.
PERGUNTAS RESPOSTAS n %
Avaliar é uma atividade complexa que provoca interpretações de diferentes
intensidades no campo da formação profissional e nas suas relações com o Concordo 2 33,3
contexto histórico cultural. Concordo muito 4 66,7

As tendências pedagógicas mais recentes indicam a necessidade de superar a Discordo 1 16,7


prática tradicional de avaliação. Concordo 3 50
Concordo muito 2 33,3
Centrando-se o ensino na aprendizagem e no trabalho autônomo dos
estudantes, através dos quais constroem os conhecimentos e as competências
necessárias à docência, avaliação das aprendizagens e das competências que Concordo 4 66,7
os futuros professores vão adquirindo ao longo da sua formação constitui um Concordo muito 2 33,3
processo que não pode ser desintegrado do processo de ensino e de
aprendizagem.
A avaliação é concebida e praticada de diversas maneiras. Pode ser vista como
instrumento de medida destinado à verificação da aprendizagem ou como meio Concordo 5 83,3
de diagnóstico para subsidiar a análise e reflexão das atividades de ensino e Concordo muito 1 16,7
acompanhamento do aluno.
A avaliação deva ser um instrumento de controle, de adaptação e de seleção,
de modo a adquirir uma aparência democrática e a seleção deva ser resultado Discordo 1 16,7
de um processo que analise o sujeito em sua complexidade. Concordo 5 83,3

Uma proposta avaliativa que possibilite ao estudante integrar conteúdos,


articular diferentes perspectivas de análise, exercitar a dúvida e o
desenvolvimento do espírito de investigação, colocando-se a aprendizagem Concordo 6 100,0
como um ato de ampliação da autonomia do aluno e a avaliação da
aprendizagem como oportunidade de inovação.
Considera que os processos avaliativos devem construir os campos sociais de
discussão e valoração a respeito dos processos, contextos, produtos, objetivos,
procedimentos, estruturas, causalidades, metas de superação dos problemas, Concordo 5 83,3
enfim, sobre o que importa conhecer e o que precisa ser feito para melhorar o Concordo muito 1 16,7
cumprimento das finalidades essenciais da educação.
As práticas avaliativas no ensino superior é um caminho promissor para
descortinar a sua complexidade e as possibilidades que ela coloca, quando
integrada aos objetivos de ensino e da formação profissional, para atuar a Concordo 6 100
serviço da aprendizagem do aluno.
Embora os professores expressem um entendimento de avaliação como um Discordo 2 33,3
processo contínuo e dinâmico, os alunos reclamam de sistemas de avaliação Não posso opinar 2 33,3
estanques, meramente somativos, desvinculados do processo. Concordo 1 16,7
Concordo muito 1 16,7
A avaliação deve ser, sobretudo um processo dinâmico. Deve refletir sobre
processos, contextos, produtos, estruturas, causalidades e metas, pôr em
questão os significados das ideias e das ações pedagógicas, dos valores das
Concordo 2 33,3
práticas e das políticas educativas e de seus efeitos na formação dos cidadãos
Concordo muito 4 66,7
e da sociedade, em vista de transformações e aprofundamentos necessários e
socialmente desejados.
Fonte: Dados da pesquisa
62
Marinho, Tahim, Barra, Prado e Holanda
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

Os preceptores consideram que a avaliação prática docente. O professor deve organizar as ações
pode ser concebida e praticada de diversas maneiras e que serão desenvolvidas, os conteúdos, as atividades,
pode ser vista como instrumento de medida destinado à ter clareza nos objetivos, traçar estratégias, e novos
verificação da aprendizagem ou como meio de métodos de avaliações (para cada situação passível de
diagnóstico para subsidiar a análise e reflexão das avaliação), deve analisar e prever quais resultados ele
atividades de ensino e acompanhamento do aluno, essa pretende obter visando à aprendizagem dos alunos para
afirmativa teve um percentual de 83,3% entre os um bom desenvolvimento profissional.
entrevistados. O estágio curricular supervisionado integra
Os preceptores participantes do estudo prática e teoria, vivencia limites e possibilidades,
defendem também que o processo avaliativo deve proporcionando oportunidades educativas ao aluno,
possibilitar ao estudante integrar conteúdos, articular permitindo que o mesmo reflita sobre as complexas
diferentes perspectivas de análise, exercitar a dúvida e o relações que ocorrem no ambiente (lócus profissional)
desenvolvimento do espírito de investigação, colocando- no qual está inserido. Ao mesmo tempo em que,
se a aprendizagem como um ato de ampliação da proporciona o desenvolvimento de suas competências e
autonomia do aluno e a avaliação da aprendizagem habilidades profissionais, enriquece a (re)construção de
como oportunidade de inovação, sendo essa afirmativa conhecimentos e investigação, explicação, interpretação
unanime entre os entrevistados obtendo um índice de e intervenção da realidade.
100%. Neste sentido, constata-se que, o estágio
Para Luckesi (2002) pode ser caracterizada curricular supervisionado agrega conhecimento,
como uma forma de ajuizamento da qualidade do objeto constitui situações de expectativas, estudos, pesquisas,
avaliado, fator que implica uma tomada de posição a discussões, reflexões, propicia amizades e desafios a
respeito do mesmo, para aceitá-lo ou para transformá-lo. serem enfrentados.
A avaliação é um julgamento de valor sobre Nessa perspectiva, são as demandas suscitadas
manifestações relevantes da realidade, tendo em vista pela realidade escolar que norteiam o estágio,
uma tomada de decisão. considerando que não basta observar e/ou denunciar,
A avaliação vai além da aplicação de provas e faz-se necessário enfrentar as situações e construir
atribuição de notas, decorre de uma prática pedagógica alternativas de ação. O estágio é, portanto, uma ação
coerente e organizada, articulada no processo de ensino educativa e social, uma forma de intervir na realidade. O
aprendizagem, aos objetivos, conteúdos, métodos, e ao estágio pode ser considerado instrumento de pesquisa e
projeto político pedagógico da instituição de ensino e aos reflexão que orienta a ação docente no sentido de
objetivos, características e perfil do profissional que se superação da reprodução da ação pedagógica.
quer formar. É necessário possibilitar ao aluno integrar Neste sentido os objetivos propostos foram
os conteúdos, articular as diferentes perspectivas de alcançados satisfatoriamente, podemos observar que o
análise, exercitar a dúvida e o desenvolvimento de planejamento pedagógico-didático foi considerado uma
investigação, visando à construção da autonomia do ferramenta importante, com o intuito de facilitar que
aluno, oportunizando inovação, ampliação da docentes possam discutir e construir atividades de
aprendizagem, possibilitando questionar suas ações e ensino interligadas, a fim de viabilizar as atividades
decisões diante das situações divergentes com vistas à planejadas e propostas em conjunto. E que a realização
melhoria da qualidade da formação. do estágio curricular supervisionado é fundamental, do
qual o preceptor assume o papel de facilitador do
4 CONCLUSÃO processo ensino/aprendizagem, além de ser
Esta pesquisa foi motivada, principalmente, no considerado um espaço de construção da identidade e
sentido de compreender quais seriam as contribuições autonomia docente e aluno.
do planejamento para a prática no estágio A partir das informações recolhidas e
supervisionado com vistas a uma formação profissional analisadas, o processo de avaliação deverá permitir ao
de qualidade, analisando os princípios que norteiam a professor do Ensino Superior uma análise da aquisição
prática pedagógica consequentemente seu processo de conhecimentos e de competências por meio da
avaliativo. aprendizagem. Essa aprendizagem só é conseguida se
Planejamento é uma tomada de decisão forem utilizadas metodologias de ensino ativas (projetos,
sistematizada e organizada das ações dos educadores debates sobre temas da realidade, fóruns, pesquisas de
durante o processo de ensino, integrando professores, temas do interesse dos alunos, trabalho de campo etc.)
coordenadores e alunos, na elaboração de uma proposta realizadas pelo confronto com situações ou problemas
política pedagógica educacional, vinculados à realidade reais relacionados com os futuros contextos
social, refletindo sobre a importância de uma prática profissionais. Os professores têm que criar
crítica e transformadora. oportunidades de aprendizagem por meio de um ensino
Os desafios constantes do planejamento são as baseado em situações ou problemas da realidade
dificuldades didático-metodológicas vinculadas às profissional e de intervenções nas situações da realidade
disciplinas trabalhadas no curso, observando-se os educativa propostas no contexto de ensino.
objetivos determinados para o alcance das proposições Espera-se que este estudo contribua com a
do projeto político-pedagógico. discussão desse tema fundamental na área de formação
Podemos considerar que planejar envolve criar em saúde que, embora revele aspectos conhecidos,
estratégias para o saber fazer, elaborar, e organizar a vivenciados no cotidiano dos professores, ainda é objeto
de muitos questionamentos em razão da forma como
63
Marinho, Tahim, Barra, Prado e Holanda
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

ainda tem sido uma prática desvinculada da realidade RODRIGUES, L.M.S, TAVARES, C.M.M. Estágio
social contribuindo pouco para as mudanças na supervisionado de enfermagem na atenção básica: o
qualidade do ensino. Faz-se necessário que se planejamento dialógico como dispositivo do processo
compreenda e reflita quanto à necessidade do ensino-aprendizagem. Rev RENE., v. 13, n. 5, p. 1075-
planejamento como uma prática crítica e transformadora. 83, 2012.
TRAJMAN, A; ASSUNÇÃO, N; VENTURI, M; TOBIAS,
REFERÊNCIAS D; TOSCHI, W; BRANTI, V. A preceptoria na rede
básica da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de
BOTTI, S.H.O; REGO, S. Preceptor, supervisor, tutor e Janeiro: opinião dos profissionais de Saúde. Rev.
mentor: quais são seus papéis?. Rev. Brasileira de Educação Médica, v. 33, n. 1, p. 24-32,
bras. Educ. Med., Rio de Janeiro, v. 32, n. 3, p. 363- 2009.
373, Setembro de 2008.
VASCONCELOS, A. C. F; STEDEFELDT, E;
BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de FRUTUOSO, M. F. P. Uma experiência de integração
Saúde, Resolução Nº 466, de 12 de dezembro de 2012 ensino-serviço e a mudança de práticas profissionais:
(240ª Reunião Ordinária, realizada nos dias 11 e 12 de com a palavra, os profissionais de saúde. Interface
dezembro de 2012). (Botucatu), Botucatu, v. 20, n. 56, p. 147-158, mar.
2016.
FERREIRA, J.L; CARPIM, L; BEHRENS, M.A. O
professor universitário construindo conhecimentos
inovadores para uma prática complexa, colaborativa e
dialógica. Rev Dialogo Educ., v.13, n. 38, p. 69-84, SOBRE OS AUTORES
2013.
Semíramis Bernardino Marinho
FREITAS, M. A.O; CUNHA, I. C. K.O; BATISTA, S. H. Centro Universitário Católica de Quixadá, Brasil
S. S; ROSSIT, R. A. S. Docência em saúde:
percepções de egressos de um curso de especialização Enfermeira. Especialista em Docência par o Ensino
em Enfermagem. Interface (Botucatu), Botucatu, v. Superior. Preceptora Estágio Supervisionado Rede
20, n. 57, p. 427-436, jun. 2016. Básica Enfermagem UNICATÓLICA

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes E-mail:


necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e [email protected]
Terra, 2002.
Ana Paula Vasconcelos de Oliveira Tahim
______. Pedagogia da autonomia: saberes Universidade Federal do Ceará, Brasil
necessários à prática educativa. 35. ed. São Paulo: Paz
e Terra, 1997. Pedagoga, Mestre em Educação

______. Pedagogia da autonomia: saberes E-mail: [email protected]


necessários à prática educativa. 13. ed. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1996. Tiago Bruno Areal Barra
Universidade Federal do Ceará, Brasil
LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 2010.
Coleção magistério. Série formação do professor. Pedagogo, Mestre em Educação

LIMA, J. P. C; PASSOS, M.M; ARRUDA, S.M; DODL, Regilane Matos da Silva Prado
V.V. Aprofundando a compreensão da aprendizagem Centro Universitário Católica de Quixadá, Brasil
docente. Ciênc. educ. (Bauru), v. 21, n. 4, p. 869-891,
dez. 2015. Farmacêutica, Doutora em Farmacologia, Docente
UNICATÓLICA
LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar.
13. ed. São Paulo: Cortez, 2002. E-mail: [email protected]

MACHADO, R.C.F. Autonomia. In:. STRECK, D. R.; Rose Anne Holanda


REDIN, E.; ZITKOSKI, J. J. (Org.). Dicionário Paulo Prefeitura Municipal de Marco, Faculdade Luciano
Freire. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. Feijão, Brasil

PIMENTEL, E.C; VASCONCELOS, M.V.L; RODARTE, Psicopedagoga da Secretaria Municipal de Educação,


R.S; PEDROSA, C.M.S; PIMENTEL, F.S.C. Ensino e do Município de Marco.
Aprendizagem em Estágio Supervisionado: Estágio
Integrado em Saúde. Rev. bras. educ. med., Rio de E-mail: [email protected]
Janeiro, v. 39, n. 3, p. 352-358, set. 2015.

64
Marinho, Tahim, Barra, Prado e Holanda
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X.

REANIMAÇÃO CARDIOPULMONAR NAS ESCOLAS:


AVALIAÇÃO DE ESTRATÉGIA EDUCATIVA

Anne Fayma Lopes Chaves RESUMO


Paulo Henrique Silva Muniz
Primeiros socorros são definidos como ações e procedimentos, em situações de
Luana Cavalcante Lima
urgência ou emergência, prestados à vítima. O contexto escolar pode ser visto
Huana Carolina Cândido
como laboratórios ideais para inserir a população no treinamento sobre técnicas
Morais
básicas que compõem o suporte básico da vida. O objetivo do estudo foi avaliar
Rose Eloise Holanda
a eficácia de uma intervenção educativa sobre suporte básico de vida. Trata-se
Barbara Brandão Lopes
de um estudo experimental de intervenção com grupo de controle não
equivalente, do tipo anterior-posterior realizado em uma Escola Estadual de
ensino Profissional no município de Quixeramobim/Ceará. A amostra do estudo
foi composta por 114 alunos. A coleta de dados ocorreu nos meses de setembro
e outubro de 2017 em três etapas: primeiramente foi aplicado um questionário
contendo dados sociodemográficos e um questionário relacionado a reanimação
cardiopulmonar para medir o conhecimento antes da intervenção educativa.
Posteriormente, foi realizada uma intervenção educativa por meio de aula
expositiva, dialogada e prática. Ao final, aplicado novamente o mesmo
questionário que mediu o conhecimento sobre reanimação cardiopulmonar. A
pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob o parecer de
número 2.209.775. Foi possível perceber que a intervenção educativa foi eficaz
para aumentar o conhecimento dos alunos, preparando-os para prestar socorro
às vítimas diante de uma parada cardiorrespiratória. Ressalta-se a necessidade
da realização contínua de treinamentos com os estudantes para que se obtenha
mais cidadãos capacitados em realizar um suporte básico de vida com qualidade.
PALAVRAS-CHAVE: Educação em Saúde. Enfermagem. Instituições
Acadêmicas. Reanimação Cardiopulmonar.

CARDIOPULMONARY RESUSCITATION IN SCHOOLS:


EDUCATION EVALUATION STRATEGY
ABSTRACT

First aid is defined as actions and procedures, in situations of urgency or


emergency, rendered to the victim. The school context can be seen as ideal
laboratories to insert the population to the training on basic techniques that make
up the basic support of life. The objective of the study was to evaluate the efficacy
of an educational intervention on basic life support. It is a quasi-experimental study
of intervention with non-equivalent control group, of the anterior-posterior type
carried out in a State School of Professional Education in the municipality of
Quixeramobim / Ceará. The study population consisted of 114 students. The data
collection took place in September and October 2017 in three stages: first a
questionnaire containing sociodemographic data and a questionnaire related to
basic life support were used to measure knowledge before the educational
intervention. Subsequently, an educational intervention was carried out through
an expositive, dialogical and practical class. At the end, reapplied the same
questionnaire. The research was approved by the Research Ethics Committee
under the opinion of number 2.209.775. It was possible to perceive that the
educational intervention was effective to increase the knowledge of the students,
preparing them to provide relief to the victims before a cardiorespiratory arrest. It
Enviado em: 17/01/2018 is important to emphasize the need for continuous training with students so that
Aceito em: 05/04/2018 more citizens can be trained in basic quality life support.
Publicado em: 30/04/2018
KEYWORDS: Cardiopulmonary Resuscitation. Health Education. Nursing.
Schools.
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

1 INTRODUÇÃO A adesão de primeiros socorros na grade


curricular das escolas públicas e privadas contribui para
Primeiros socorros são definidos como ações e o conhecimento e capacitação dos alunos na realização
procedimentos, em situações de urgência ou de procedimentos de suporte básico à vida, com isso
emergência, prestados à vítima inicialmente. Possui amenizando os agravos e números de óbitos em
como objetivo preservar os sinais e não agravar os situações de emergência (STOCCO et al., 2011)
ferimentos para que logo após se receba os cuidados Em um estudo realizado na cidade de São Paulo
necessários por profissionais capacitados (FLORIANO, foi observado que a população leiga ou pessoas já
2010). treinadas em SBV, possuem um conhecimento para se
Essa ação tem como finalidade manter os sinais realizar um atendimento em situações de emergência.
vitais e garantir a vida, podendo ser realizada por Porém, seus conhecimentos são incompletos ou
qualquer pessoa, no entanto, deve-se ter um mínimo de incorretos, podendo, assim, comprometer o socorro,
conhecimento para realizar essa assistência acarretando em prejuízos ao paciente (PÉRGOLA;
(RAGADALI FILHO et al., 2015) ARAÚJO, 2008).
Diante de uma urgência o atendimento inicial a A realização de cursos em primeiros socorros
vítima busca identificar os fatores que estão ou podem para escolas é um método importante que pode
colocar a vida do paciente em risco, sendo importante contribuir para minimizar os grandes índices de
realizar o suporte básico o mais rápido possível morbimortalidade ocorridas por acidentes. A iniciativa do
(PARANÁ, 2013). O atendimento precoce e de qualidade curso com jovens e crianças, mostrou que elas podem
por meio de ações padronizadas repercute em maior contribuir com os profissionais diante de um atendimento
probabilidade de eficácia da intervenção, evitando a de emergência (ANDRAUS et al., 2005).
mortalidade, lesões cerebrais e sequelas irreversíveis Pesquisa realizada em Campinas, com
(FERREIRA, 2014) estudantes de 13 a 15 anos, concluiu que aulas
Perante as diversas situações de urgência pode- semanais com 60 minutos de duração, foi o suficiente
se citar a parada cardiorrespiratória como um problema para contribuir, de maneira geral, no conhecimento dos
prevalente nos atendimentos pré-hospitalares e alunos. Porém, ainda não é suficiente para atuação em
hospitalares. O procedimento realizado diante de tal situações de emergências (VECCHIO et al., 2010).
situação é chamado de reanimação cardiopulmonar Em 2013, cerca de 8,4 milhões de estudantes
(RCP), o qual é feito através de compressões torácicas estavam matriculados em escolas da rede pública de
intercaladas com ventilações por vias aéreas ensino. As escolas no Brasil são ambientes ideais para
(BERGERON et al., 2007). a implantação de primeiros socorros, no entanto, não
Entre as vítimas acometidas por PCR, em geral, existe atualmente uma legislação que assegure a
95% morrem antes de chegar ao hospital. É visto que a implementação de suporte básico de vida na rede de
PCR é líder em mortes na Europa, atingindo uma faixa ensino (FERNANDES et al., 2014).
de 350 a 700 mil indivíduos por ano, ou seja, 30% da sua A busca pelo tema se dá pela forte incidência de
população (CANOVA et al., 2015). situações de emergências em que a população está
Segundo as diretrizes da American Heart exposta diariamente. Saber agir é essencial, e com isso
Associantion os primeiros socorros têm como meta surgiu o seguinte questionamento: a realização de uma
reduzir a morbidade e mortalidade com alívio do intervenção educativa seria eficaz na melhora do
sofrimento, prevenção de doenças/lesões e promoção conhecimento sobre RCP entre alunos de ensino médio
da recuperação. Se a reanimação cardíaca pulmonar de uma escola pública?
(RCP) for realizada no primeiro minuto, as chances de A relevância da pesquisa ora apresentada
sucesso são de até 98%. Porém, a partir do quinto fundamenta-se no fato de que a partir do conhecimento
minuto, as chances de sucesso caem para 25% e após sobre a eficácia dessas atividades educativas, pode-se
dez minutos, a chance da vítima sobreviver cai para 1% subsidiar os profissionais de saúde e gestores da área
(AMERICAN HEART ASSOCIATION, 2015). escolar para a implementação de estratégias no âmbito
Ante esse contexto, percebe-se o quão escolar, desse modo, os alunos estarão capacitados
necessário é o conhecimento da população sobre os para atender uma vítima de forma qualificada,
atendimentos a RCP, devendo ser treinados o mais impactando na diminuição da mortalidade bem como em
precoce possível. Em 2004, a American Heart um melhor prognóstico do paciente. Logo, o objetivo do
Association (AHA) recomendou que as escolas estudo foi avaliar a eficácia de uma intervenção
americanas treinassem todos os professores e educativa sobre Suporte Básico de Vida aplicada para
estudantes em RCP. A maioria dos estados americanos alunos de uma escola pública do município de
e alguns países europeus vem implementando na grade Quixeramobim.
acadêmica dos alunos do nível médio o treinamento em
RCP e o uso do desfibrilador externo automático (DEA) 2 MÉTODO
(FERNANDES et al., 2014).
As escolas fundamentais podem ser vistas como Trata-se de um estudo experimental de
laboratórios ideais para inserir a população ao intervenção com grupo controle não equivalente anterior-
treinamento em relação as técnicas básicas que posterior, devido a aplicação do teste de conhecimentos
compõem o suporte básico de vida (SBV), pois as antes e depois de submetidos à intervenção.
pessoas estão habitualmente presentes no cenário de O estudo ocorreu em uma Escola Estadual de
uma emergência, como residências, shoppings, Ensino Profissional (EEEP) Dr. José Alves da Silveira no
aeroportos, estádios etc. (MIRO et al., 2008). município de Quixeramobim, localizado na região do

66
Chaves, Muniz, Lima, Morais, Holanda e Lopes
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

Sertão Central do Ceará. A escola disponibilizou aulas Terceira Etapa (Pós-Teste): Após a realização
para alunos do ensino médio e possui o ensino da ação educativa, aplicou-se novamente o mesmo
profissional configurando cenários de cidadania que questionário, a fim de comparar se a intervenção
articulam o direito à educação e ao trabalho. educativa foi eficaz no que diz respeito aos
A amostra do estudo foi composta por alunos conhecimentos do suporte básico de vida.
que estão cursando o segundo ano do ensino médio no Os dados foram compilados no programa Excel
colégio onde foi realizado o estudo. O critério adotado 2010 para posterior análise no programa Epiinfo versão
para inclusão no estudo era somente, ser devidamente 3.5.3. A análise exploratória dos dados consta de
matriculado na escola. Como critérios de exclusão: frequência absoluta, relativa, média e desvio padrão. Os
alunos com problemas mentais ou cognitivos que resultados estão apresentados em tabelas e gráficos, e
impossibilitam a compreensão dos instrumentos de discutidos de acordo com a literatura pertinente.
coleta de dados e alunos que faltaram a aula no dia da A pesquisa respeitou a Resolução Nº 466/12 do
intervenção. Conselho Nacional de Saúde vinculado ao Ministério da
Segundo dados cedidos pela instituição, a Saúde a qual leva em consideração os aspectos da
escola possui quatro turmas do segundo ano do ensino autonomia, não-maleficência, beneficência e justiça.
médio no turno manhã e tarde, totalizando 180 alunos. Dessa forma, o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética
Para cálculo amostral o nível de confiança empregado em Pesquisa do Centro Universitário Unicatólica de
foi de 95,0%, erro amostral de 5,0% e valor de Quixadá com o parecer de Nº 2.209.775.
prevalência do desfecho de 50%. Para o cálculo
amostral foi utilizada a fórmula para populações finitas. 3 RESULTADOS
Após estes cálculos encontrou-se o tamanho da amostra
como sendo igual a 123. Porém, devido alguns alunos se A pesquisa foi composta por 114 alunos do 2º
ajustarem dentro dos critérios de exclusão, a amostra ano do ensino médio. A faixa etária dos alunos variou de
final foi de 114 alunos. 15 a 21 anos, com média de 16 anos (DP±0,7). A tabela
A coleta de dados ocorreu nos meses de 1 apresenta a caracterização sociodemográfica dos
setembro e outubro de 2017, após assinatura do Termo estudantes.
de Anuência por parte da escola sendo programado um
horário prévio com a coordenação da escola para Tabela 1 – Caracterização sociodemográfica dos
adequação da intervenção educativa, no intuito de não estudantes. Quixeramobim - 2017
prejudicar as atividades escolares.
Inicialmente, os alunos abordados em sala de Variáveis n %
aula foram convidados a participar do estudo, mediante
a explicação do objetivo e benefícios da pesquisa. Sendo Estado civil
enviado aos pais/responsáveis de alunos menores de 18 114 100,00
Solteiro
anos o termo de consentimento livre e esclarecido
(TCLE) para os que aceitaram participar. Todos os Ocupação
alunos receberam e assinaram o termo de assentimento Estudante 100 87,71
para menores. Outros 14 12,29
No dia agendado com a coordenação, foi feito o Renda familiar (Salário mínimo)*
recebimento dos TCLE e posteriormente iniciado a ≤1 90 78,94
pesquisa. Para melhor aproveitamento da aprendizagem >1 24 21,06
as turmas foram divididas em dois grupos para
*Salário mínimo no período da coleta de dados
realização da atividade educativa. Como havia 114
(R$788,00).
alunos, inicialmente foram treinados 57 alunos e,
posteriormente, os outros 57 restantes.
A partir da tabela 1 pode-se perceber que todos
A primeira etapa (Pré-Teste) consistiu-se na
os estudantes eram solteiros, em sua maioria exerciam
aplicação de um questionário contendo dados
apenas a ocupação de estudante e viviam com uma
sociodemográficos e o pré-teste com questões de
renda inferior a um salário mínimo.
múltiplas escolhas relacionadas ao suporte básico de
Quanto ao treinamento prévio sobre RCP,
vida.
apenas 14 (12,3%) responderam que já tiveram e 100
A segunda Etapa (Intervenção) ocorreu após a
(87,7%) nunca obtiveram nenhum treinamento dessa
aplicação desses instrumentos, foi realizada a
natureza. O gráfico 1 mostra a comparação do acerto
intervenção educativa por meio de aula teórica
dos estudantes relacionados a avaliação de
expositiva e dialogada com duração de 15 minutos e aula
responsividade e a quem deve chamar diante de uma
prática com duração de 15 minutos, totalizando 30
vítima.
minutos. A aula teórica sobre suporte básico abordou os
seguintes aspectos: anatomia e fisiologia
cardiorrespiratória, reanimação cardiopulmonar
abrangendo a definição da parada cardiorrespiratória,
sinais e sintomas de identificação, avaliação primária,
manobras de liberação das vias aéreas e compressões
torácicas. Para a atividade prática utilizou-se boneco e
equipamentos de treinamento de liberação de vias
aéreas e compressões torácicas.

67
Chaves, Muniz, Lima, Morais, Holanda e Lopes
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

Gráfico 1 – Conhecimento dos estudantes quanto Gráfico 3 – Conhecimento dos estudantes quanto aos
avaliação de responsividade e a quem deve-se pedir sintomas de uma PCR e posição da vítima durante uma
ajuda diante de uma PCR. Quixeramobim – 2017 RCP. Quixeramobim – 2017

Percebe-se que a intervenção educativa


melhorou o conhecimento dos alunos tanto em relação a
responsividade da vítima, quanto em relação ao
No gráfico 4 é apresentado o conhecimento dos
acionamento do serviço de emergência, apesar da
estudantes sobre o local exato para realizar as
maioria já apresentar um bom conhecimento, a
intervenção proporcionou 100% de acertos entre os compressões e a profundidade das compressões em
alunos. uma RCP.
Para avaliar o conhecimento dos estudantes Gráfico 4 – Conhecimento dos estudantes quanto ao
quanto ao modo de verificar a respiração e o método de local para realizar as compressões e a profundidade das
liberação das vias aéreas foi construído o gráfico 2. compressões em uma RCP. Quixeramobim – 2017

Gráfico 2 – Conhecimento dos estudantes quanto ao


modo de verificar a respiração e o método de liberação
das vias aéreas. Quixeramobim – 2017

No questionamento quanto ao local correto para


realizar as compressões torácicas, a maior parte dos
O gráfico 2 aponta que a intervenção alunos já tinham conhecimento (76,30%), porém a
proporcionou uma melhora no conhecimento dos alunos intervenção foi capaz de aumentar para 91,20%. Sobre
em 32,40% sobre verificar se a vítima está respirando e a profundidade das compressões, foi visto uma enorme
em 56,10% quanto a liberação das vias aéreas para lacuna entre os alunos, no entanto, a intervenção
facilitar respiração. Logo, vislumbra-se a efetividade realizada proporcionou um aumento de 57,00% nesse
dessa intervenção para os alunos. quesito, sendo possível vislumbrar sua eficácia.
O gráfico 3 apresenta o conhecimento dos No gráfico 5 é apresentado o conhecimento dos
estudantes sobre os sintomas de uma PCR e a posição estudantes sobre o número de ventilações e a relação
da vítima durante uma RCP. compressão/ventilação em uma reanimação.

68
Chaves, Muniz, Lima, Morais, Holanda e Lopes
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

Gráfico 5 – Conhecimento dos estudantes quanto ao emergenciais, para que possam prestar uma assistência
número de ventilações e a relação em casos necessários, diminuindo as condições de
compressão/ventilação durante a RCP. Quixeramobim – risco, bem como praticarem a divulgação entre a
2017 comunidade (TINOCO; REIS; FREITAS, 2014).
O ensino sobre reanimação cardiorrespiratória
quando iniciado no período escolar, contribui para uma
troca de experiência com o estudante, tornando um meio
importante para a diminuição da morbimortalidade
decorrente ao desconhecimento sobre o assunto e o
despreparo do socorrista frente a situação de
emergência (TERASSI et al., 2015).
Quando questionados como avaliar a
responsividade da vítima, foi visto um resultado de
apenas 29,8% de acertos no pré-teste, e no pós-teste
vislumbrou-se um aumento para 79,8%. A avaliação da
responsividade da vítima é o passo inicial para identificar
uma PCR, sendo primordial que os alunos saibam
identificar se a vítima está responsiva, pois esse tempo
de atendimento faz uma diferença no prognóstico do
Um dado preocupante no gráfico 5 foi o baixo paciente (AMERICAN HEART ASSOCIATION, 2015).
conhecimento dos estudantes sobre ventilação durante Após realizar a avaliação é necessário saber
a reanimação antes da intervenção. No entanto, após a agir, pedir ajuda é essencial para que seja prestada uma
realização, esse índice elevou-se de 7,90% para assistência qualificada precoce. Assim, foi perguntado a
57,00%, sendo um ótimo resultado. No que tange a quem deve-se pedir socorro diante de uma vítima em
relação compressão/ventilação durante a RCP também PCR e foi visto que após a intervenção educativa todos
foi visto um aumento de 50,90% no conhecimento dos os estudantes sabiam responder corretamente a quem
estudantes. deveriam chamar. Esses achados corroboram com
estudo realizado em Itaperuna-RJ em que 75% dos
4 DISCUSSÃO alunos entrevistados souberam identificar que o SAMU é
a escolha certa para se acionar durante uma
A média de idade dos estudantes deste estudo emergência, pois é um serviço especializado capaz de
foi semelhante ao da pesquisa realizada em Maceió a prestar assistência técnica e clínica a uma vítima
qual envolveu 87 alunos de escolas públicas e privada. (TINOCO; REIS; FREITAS, 2014).
Isso comprova que os alunos estão cumprindo Em relação ao conhecimento dos alunos quanto
corretamente a cronologia escolar de acordo com sua a verificar se a vítima está respirando, foi possível
idade (FERNANDES et al., 2014). observar certa melhora após a intervenção. Esse achado
Os achados da pesquisa em relação ao estado corrobora com pesquisa realizada com 385 populares
civil corroboram com pesquisa que envolveu 532 jovens, leigos, na qual também foi vista que após intervenção
mostrando que os estudantes em sua maioria são educativa os populares obtiveram êxito quanto a
solteiros durante o período escolar (MEINCKE et al., verificação da presença de movimentos respiratórios
2017). (PÉRGOLA; ARAÚJO, 2008).
Observou-se que grande parte da amostra Sobre o quesito liberação de vias aéreas foi
exercia apenas a ocupação de estudante, sendo um evidenciado um conhecimento muito baixo entre os
fator positivo, visto que a pesquisa de âmbito participantes, sendo melhorado expressivamente os
educacional aponta que o trabalho concomitantemente acertos após intervenção. Apesar da liberação de vias
com os estudos é prejudicial ao processo ensino- aéreas ser um procedimento de fácil realização,
aprendizagem (EMILIANI, 2011). necessita-se de conhecimento teórico e prático para ser
A prevalência da renda da população estudada realizado de forma correta evitando danos físicos a
foi menor que a de outro estudo realizado com alunos no vítima. Outro estudo realizado em São Paulo com
Sul do Brasil, no qual prevaleceu 55,2% de estudantes estudantes também evidenciou a minoria dos
com renda entre um e três salários mínimos. Esse fato entrevistados (16,4%) respondeu corretamente sobre as
pode estar relacionado as disparidades regionais manobras de liberação de vias aéreas (PERGOLA;
(MEINCKE et al., 2017). ARAUJO, 2008). Logo, percebe-se a necessidade de
Percebeu-se que a minoria dos estudantes havia intensificar práticas educativas voltadas para esse
realizado treinamento prévio sobre RCP, assim como em aspecto, o qual é tão importante durante a RCP.
estudo realizado em Campina Grande no qual todos os Saber reconhecer os sinais e sintomas é
alunos nunca tiveram contato com primeiros socorros, na essencial diante de uma parada respiratória, assim é
escola ou fora dela (ALBUQUERQUE et al., 2015). possível agilizar o atendimento a uma vítima e com isso
Sabendo que as crianças e adolescentes aumentar a probabilidade de um prognóstico positivo. Ao
passam em média um terço do dia na escola, durante um indagar os alunos sobre o assunto, apenas 22,8%
longo período de tempo, estudando e desenvolvendo responderam a alternativa correta no pré-teste, sendo
sua educação, caráter, cultura e cidadania, é essencial observado um aumento no conhecimento no pós-teste
envolvê-los em atividades de promoção e proteção da com 71,1 % de acertos. Apesar do público entrevistado
saúde dos indivíduos e soluções de eventos não ser profissionais de saúde, é essencial que durante

69
Chaves, Muniz, Lima, Morais, Holanda e Lopes
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

as atividades educativas, seja enfatizado os sinais 5 CONCLUSÃO


clássicos da PCR, como a perda da consciência
acometida pela diminuição da circulação, pulsos fracos Percebemos que a intervenção educativa foi
ou ausentes, bem como a parada de movimentos eficaz para aumentar o conhecimento dos alunos,
respiratórios, para que seja identificado precocemente preparando-os para prestar socorro às vítimas diante de
(CAMBOIN; FERNANDES, 2016). uma PCR. Porém, ressalta-se a necessidade da
A posição da vítima durante a reanimação realização contínua de treinamentos com os estudantes
cardiopulmonar é sem dúvidas um dos critérios mais para que se obtenha mais cidadãos capacitados ao
importantes, pois, é a partir dela que o socorrista realizar um suporte básico de vida com qualidade.
consegue realizar as compressões com a devida O profissional enfermeiro pode ser um porta voz
qualidade. Nesse aspecto, também foi visto que a da comunidade e escolas, sendo ele capacitado e
intervenção educativa foi capaz de melhorar o responsável por exercer atividades de educação em
conhecimento dos alunos. Em uma pesquisa que saúde, repassando conhecimento e, assim, capacitando
envolveu 60 alunos de uma escola pública do município a população, tornando-se essencial no planejamento e
de Mossoró- RN, foi evidenciado que os alunos implementação das estratégias do programa saúde nas
conheciam a posição preconizada, que é colocar a vítima escolas (PSE).
deitada de costas em superfície sólida e plana. O estudo teve como limitação a avaliação do
Consideração importante, pois, o posicionamento da conhecimento apenas teórico dos estudantes, não sendo
vítima durante a massagem cardíaca, se estiver avaliadas as habilidades práticas, as quais também são
incorreto pode invalidar toda a manobra impossibilitando necessárias para julgamento da RCP. Logo, sugere-se a
de a vítima ter uma resposta positiva (FERREIRA et al., realização de novas pesquisas que abordem o
2014). conhecimento prático e o controle emocional, visando
O local para se realizar as compressões avaliação completa desse procedimento o qual é
torácicas foi um aspecto em que os alunos já tinham um importante para salvar vidas.
certo conhecimento, mas no pós-teste foi percebido um
aumento no percentual de 15% em acertos das REFERÊNCIAS
questões. A massagem deve ser realizada na porção
central o esterno, fazendo com que o coração seja ALBUQUERQUE A.M. et al, Salvando vidas: avaliando
pressionado contra a coluna, promovendo assim o seu o conhecimento de adolescentes de uma escola pública
esvaziamento e a circulação (PAZIN-FILHO et al., 2003). sobre primeiros socorros. Rev Enferm UFPE Online,
Um aspecto que chamou atenção foi o aumento V.9, N.1, P.32-8, Recife, 2015.
expressivo em 57% no nível do conhecimento dos
estudantes em relação a profundidade após a American Heart Association. Guidelines for
intervenção educativa. É interessante que os alunos Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency
saibam sobre a não realização correta da massagem Cardiovascular Care. Destaques da atualização das
quanto a profundidade ocasiona danos a vítima, pois a Diretrizes da AHA 2015 para RCP e ACE. Texas
profundidade correta cria um fluxo sanguíneo artificial (EUA): American Heart Association; 2015.
após criar uma pressão intratorácica e comprimir o
coração (FERREIRA et al., 2013). ALVES C.A; BARBOSA C.N.S; FARIA H.T.G. Parada
No quesito ventilação foi visto que os estudantes cardiorrespiratória e enfermagem: o conhecimento
apresentaram um conhecimento significativamente acerca do suporte básico de vida. Cogitare Enferm,
baixo de apenas 7,9% de acertos, porém, foi notável o V.18, N.2, P.296-301, 2013.
aumento de acertos no pós- teste, mostrando assim que
o conhecimento foi ampliado. ANDRAUS L.M.S. et al, Primeiros Socorros para
Quanto a relação ventilação/compressão que criança: Relato de Experiência. Acta. Paul. Enferm.
deve ser realizada durante uma RCP, observou-se um V.18, N.2, P 220-225, São Paulo, 2005.
baixo conhecimento dos alunos, o que é modificado após
a intervenção. Baseado nas diretrizes de atendimento a BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de
RCP da American Heart Association (2015), a Atenção Básica. Programa saúde na Escola (PSE).
reanimação deve ser executada por leigos somente com Brasília, 2017.
compressões torácicas, pois são fáceis de serem
executadas. Caso o socorrista leigo seja treinado e BERGERON et al. Primeiros Socorros. Editora
capacitado para realizar as ventilações, a recomendação Atheneu, ed. 2ª, São Paulo, 2007.
continua sendo na aplicação de 30 compressões para CAMBOIN F.F.; FERNANDES L.M. Primeiros socorros
cada 2 ventilações. para o ambiente escolar. Evangraf, Porto Alegre, 2016.
Pesquisa realizada em Minas Gerais que
envolveu enfermeiros também mostrou lacunas quanto CANOVA J.C.M. et al, Parada Cardiorrespiratória e
ao número de ciclos compressão versus ventilação, ressuscitação cardiopulmonar: Vivências da equipe de
sendo recomendado a reavaliação e capacitação enfermagem sob o olhar da técnica do incidente crítico.
contínua desses profissionais para realizarem adequado Rev. Enferm. UFPE On line, V.9, N.3, P.7095-7103,
desempenho no atendimento em PCR, contribuindo para Recife, 2015.
a sobrevida da população (ALVES; BARBOSA; FARIA,
2013).

70
Chaves, Muniz, Lima, Morais, Holanda e Lopes
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

COELHO J.P.S.L; Ensino de primeiros socorros nas PERGOLA A.M; ARAUJO I.E.M; O leigo em situação de
escolas e sua eficácia. Revista Científica do ITPAC, Emergência. Rev. Esc. Enferm. USP, V.42, N.4, P 769-
V.8, N.1, Pub.7, Araguaína, 2015. 776, São Paulo, 2008.

EMILIANI A.P. Impactos do trabalho juvenil remunerado PEREIRA et al, Práticas educativas em saúde na
na vida escolar dos estudantes. Trabalho de conclusão formação de acadêmicos de Enfermagem. Cogitare
de curso (Pós Graduação em Educação, Pobreza e Enferm, 2015.
Desigualdade Social). Universidade Federal do Mato
Grosso do Sul, 2011. OLIVEIRA B.F.M.; PAROLIN M.K.F.; TEIXEIRA JR,
E.V. Trauma: Atendimento pré-hospitalar.3ªed. rev. e
FERNANDES J.M.G et al; Ensino de suporte básico de atual. São Paulo: Atheneu, 2014.
vida para alunos de escola pública e privada do ensino
médio. Arq. Bras. Cardiol , V.102, N.6, P.593- STOCCO J. A. et al, O enfermeiro na educação escolar
601,2014. ensinando noções básicas de primeiros socorros para
alunos do ensino fundamental. Revista Eletrônica de
FERREIRA C.E., Projeto de intervenção: capacitar os FACIMED, V.3, N.3, P 363-370, Rondônia, 2011.
profissionais de enfermagem do hospital municipal
nossa senhora da penha de conceição do castelo no TERASSI M. et al, A percepção de crianças do ensino
atendimento de urgência e emergência no extra e intra fundamental sobre parada cardiorrespiratória. SEMINA:
hospitalar. Universidade Federal de Santa Catarina, Ciências Biológicas e da Saúde, Londrina, V.36, N.1,
março, 2014. P.99-108, 2015.

FERREIRA L.A. et al. Capacitação em suporte básico TINOCO V.A.; REIS M.M.T.; FREITAS L.N. O
de vida para vigilantes: uma atividade extensionista. enfermeiro promovendo saúde como educador escolar:
Revista Extendere, V.2, N.1, P.123-134, 2014. atuando em primeiros socorros. Revista Transformar,
N.6, P.104-113, 2014.
FERREIRA M.M.M et al. Ressucitação cardiopulmonar:
uma abordagem atualizada. Revista Enfermagem VECCHIO F.B.D. et al, Formação em primeiros
Contemporânea, Salvador, V.1, N.2, P.70-81, 2013. socorros: estudo de intervenção no âmbito escolar.
Cadernos de Formação RBCE, P56-70, 2010.
FIORUC B.E. et al, Educação em saúde: abordando
primeiros socorros em escala pública no interior de São
Paulo. Rev. Eletr. Enf., V.10, N.3, P.695-702, 2008. SOBRE OS AUTORES

FILHO A.R. et al, A importância do treinamento de Anne Fayma Lopes Chaves


primeiros socorros no trabalho. Revista Saberes Rolim Universidade Federal Do Ceará, Brasil
de Moura, V.3, N.2, P.114-125, 2015.
Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do
FLORIANO C.O, Manual de primeiros socorros. Ceará. Docente do Centro Universitário Católica de
Associação dos Funcionários da Unc- canoinhas, Porto Quixadá e Centro Universitário Estácio do Ceará.
União, 2010.
E-mail: [email protected]
LEITE A.C.Q.B. et al, Primeiros Socorros nas escolas.
Revista Extendere, V.2, N.1, P.61-70, Rio Grande do
Norte, 2013. Paulo Henrique da Silva Muniz
Centro Universitário Católica de Quixadá, Brasil
MEINCKE S.M.K. et al, Doenças sexualmente
transmissíveis: conhecimento e comportamento sexual Enfermeiro graduado pelo Centro Universitário Católica
de adolescentes. Texto Contexto Enferm, V.26, N.2, de Quixadá.
2017.
E-mail: [email protected]
MORAIS C.L.K et al, Desafios enfrentados pela equipe
de enfermagem na reanimação cardiorrespiratória em
uma unidade de emergência hospitalar. Revista Luana Cavalcante Lima
Eletrônica Estácio Saúde, V.5, N.1, P.90-99, 2016. Centro Universitário Estácio do Ceará, Brasil
Acadêmica de enfermagem do sexto semestre do Centro
PARANÁ. Casa Militar da Governadoria. Coordenadoria Universitário Estácio do Ceará.
Estadual de Defesa Civil. Socorros de Urgência
Manual de Procedimentos. Paraná. 2013. E-mail: [email protected]
PAZIM-FILHO A. et al. Parada Cardiorrespiratória
(PCR). Medicina Ribeirão Preto, V.36, N.1, P.163-178,
2003.

71
Chaves, Muniz, Lima, Morais, Holanda e Lopes
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

Huana Carolina Cândido Morais


Centro Universitário Católica de Quixadá, Brasil
Doutora em Enfermagem pelo Programa de Pós-
Graduação da Universidade Federal do Ceará. Docente
do Centro Universitário Unicatólica de Quixadá.

E-mail: [email protected]

Rose Eloise Holanda


Centro Universitário Católica de Quixadá, Brasil

Mestranda em Saúde da Criança e Adolescente pela


Universidade Estadual do Ceará. Docente do Centro
Universitário Unicatólica de Quixadá

E-mail: [email protected]

Barbara Brandão Lopes


Universidade Federal do Ceará, Brasil

Mestranda em Enfermagem pelo Programa de Pós-


Graduação da Universidade Federal do Ceará.

E-mail: [email protected]

72
Chaves, Muniz, Lima, Morais, Holanda e Lopes
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X.

UMA PSICANÁLISE POSSÍVEL: ENTRELAÇAMENTOS DE


UMA PRÁTICA PSICANALÍTICA EM UMA CLÍNICA-ESCOLA
NO SERTÃO CENTRAL DO CEARÁ

Jomábia Cristina Gonçalves dos RESUMO


Santos
Erika Teles Dauer A psicanálise postula recomendações e técnicas para aqueles que desejem
Karla Patrícia Holanda Martins realizar atendimentos clínicos de cunho psicanalítico. Muitas destas
recomendações, inclusive de autores mais contemporâneos, dissertam sobre a
prática e posturas do analista que atua em consultórios particulares. Partindo da
literatura e juntamente com o relato de experiência do que foi vivenciado durante
as disciplinas de Estágio Profissionalizante I e II, este trabalho objetiva traçar
considerações sobre a prática psicanalítica realizada no SPA, uma clínica-escola
que possui regras específicas e está inserida em uma instituição maior: a
Universidade. Como então as recomendações e ética da psicanálise conseguem
dialogar com os discursos institucionais? Quais seriam os limites e possibilidades
para a realização dos atendimentos? Serão discutidas, ainda, questões
relacionadas com o tempo – do inconsciente, das sessões e do estágio, sobre a
transferência e o pagamento das sessões. A partir da experiência vivenciada,
pôde-se perceber que é possível se praticar a psicanálise no contexto
institucional, utilizando-se do desejo particular do estagiário de construir a sua
clínica a partir da experiência aliada aos postulados da teoria, como a associação
livre, transferência, realidade psíquica do sujeito. A forma como se dá o manejo
de alguns dos pressupostos básicos da psicanálise podem ocorrer de um modo
distinto quando se opera em uma clínica-escola, entretanto, isso não significa
dizer que estes não aconteçam, pois é através do diálogo com as regras da
instituição que a psicanálise se faz acontecer.
PALAVRAS-CHAVE: Clínica-escola. Instituição. Psicanálise.

A FEASIBLE PSYCHOANALYSIS: A PSYCHOANALYTIC


PRACTICE AND ITS RELATIONS IN A CLINIC SCHOOL IN THE
SERTÃO CENTRAL OF CEARÁ
ABSTRACT

Psychoanalysis provides recommendations and techniques for professionals who


wish to accomplish psychoanalytic clinical care. Some of these recommendations,
including the ones from contemporary authors, take into account the practice and
posture of analysts who work at private offices. Based on the literature as well as
on the experience report fulfilled throughout the disciplines Professional
Internships I and II, this study aims to highlight considerations of psychoanalytic
practice developed in SPA, a clinic school that has specific rules and it is part of a
larger institution: the University. Thus, how do recommendations and
psychoanalytic ethics get involved with institutional discourses? Which are the
limits and possibilities of care achievements? Also, it will be discussed time-related
aspects of – the unconscious, the sessions and the internship program,
transference and payment for sessions. From the experience reported, it has been
Enviado em: 08/03/2018 possible to practice psychoanalysis in the institutional context, using the trainee’s
Aceito em: 24/04/2018 private interests in order to build his/her own clinic allied with experience and
Publicado em: 30/04/2018 theoretical postulates, such as free association, transference, the individual’s
psychic reality. The management of the basic assumptions of psychoanalysis can
occur in a different way when operating in a clinic school; however, this does not
mean that the surmises will not happen, for the reason that it is dialoguing with
institutional rules that psychoanalysis makes progress.

KEYWORDS: Clinic School. Institution. Psychoanalysis.


Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

1 INTRODUÇÃO
Cazanatto e Martta (2016) afirmam que a
Ao se realizar leituras sobre a teoria presença da prática psicanalítica em instituições vem
psicanalítica, bem como dos casos clínicos que a acompanhando o próprio desenvolvimento da teoria
ancoram, são recentes os textos que dissertam sobre psicanalítica, mas que é necessário adaptar a técnica às
como utilizar-se da psicanálise fora do consultório novas condições de trabalho, sem, contudo, modificar os
particular tradicional, e poucos que relatam sobre a seus pressupostos. Logo, aquelas regras recomendadas
experiência psicanalítica em uma clínica que por si só já por Freud (1912/2006), em seu texto “Recomendações
possui um funcionamento próprio, uma clínica-escola de para os médicos que exercem psicanálise”, devem ser
Psicologia. Clínica esta que presta atendimento público levadas em consideração.
para a população, que possui regras quanto a horários Partindo do fato de que as instituições também
de atendimento, tempo de sessão, número de pacientes estão sujeitas às leis de funcionamento da linguagem,
por estagiário, burocratização com relação à papelada, existe a possibilidade de se operar lendo os discursos na
termo de consentimento, entre outros. E mais, uma instituição, da mesma maneira como se lê o discurso de
clínica que funciona dentro de uma instituição maior: a um sujeito em tratamento (CAZANATTO e MARTTA,
Universidade, que lhe impõe suas próprias regras. 2016). Então, neste caso, a psicanálise precisará
Logo, a proposta deste trabalho é traçar dialogar com as regras e pressupostos da instituição.
considerações sobre a clínica psicanalítica dentro de Marcos (2011) postula que a clínica psicanalítica
uma instituição de ensino. Figueredo (2002), em seu livro não se restringe mais somente ao âmbito do consultório
“Vastas confusões e atendimentos imperfeitos”, discorre privado, ela foi ampliada a outros campos, como,
sobre condições para que se pratique psicanálise em instituições de saúde mental, centros de saúde, serviços
instituições, na obra em destaque a autora disserta sobre de urgência e hospitais psiquiátricos, na assistência
sua vivência em um ambulatório. No caso desta social e, também nas universidades, através da clínica-
pesquisa, a experiência se dá em um Serviço de escola.
Psicologia Aplicada – SPA, onde encontros e Freud (1919/2006), no texto “Sobre o ensino da
desencontros ocorrem, mas se objetiva construir uma psicanálise nas universidades”, sugere a prática clínica
clínica, através da prática e do desejo dos estagiários. aos cursos universitários através da criação de
O Serviço de Psicologia Aplicada da Unicatólica ambulatórios, o que se assemelha ao Serviço de
de Quixadá atende à população do município de Psicologia Aplicada da Unicatólica. O autor disserta
Quixadá e cidades vizinhas, oferecendo sobre as possíveis interseções entre psicanálise e
acompanhamento terapêutico individual e grupal para universidade, indagando-se se poderia a psicanálise ser
crianças, adolescentes, adultos e idosos, em diferentes transmitida no meio universitário. Freud chega à
vertentes clínicas, dentre elas, a psicanálise, juntamente conclusão de que a psicanálise poderia contribuir à
com os serviços de avaliação psicológica e orientação universidade, entretanto, sua transmissão ocorre através
profissional. da experiência do sujeito, logo, o saber da clínica
Figueredo (2002) aponta que para se praticar psicanalítica parte muito mais do desejo particular do
psicanálise fora do consultório particular é necessário sujeito, independe deste estar inserido ou não na
levar em consideração: o uso da regra fundamental – a universidade.
associação livre, atenção flutuante, o respeito à Lima e colaboradores (2013) pontuam que
realidade psíquica do sujeito, o dispositivo da devido ao fato de os atendimentos na clínica-escola
transferência, a ética do analista, dentre outros. Aqui, serem realizados por alunos em formação, estes podem
será discorrido, através de um relato de experiência ser influenciados por um discurso social ou institucional
ancorado em referencial teórico, como ocorrem esses que vise a cura ou a educação do paciente. Portanto
aspectos na clínica-escola, bem como outros convoca-se que, nestes casos, o aluno esteja
questionamentos que surgiram durante o estágio, por constantemente respondendo ao fundamental da ética
exemplo: a questão do tempo e do pagamento. da psicanálise de escutar o sujeito a partir de seu
2 MÉTODO inconsciente e da posição pela qual ele é responsável,
não cedendo a estes discursos.
Este trabalho apresenta um relato de Em uma clínica-escola, os estagiários têm a
experiência do que foi vivenciado durante as disciplinas oportunidade de “pôr em prática” o que aprendem
de Estágio Profissionalizante I e II do curso de durante o curso de graduação através da vivência na
Psicologia, com ênfase na Clínica Psicanalítica. Foi clínica. Sendo esta a proposta da psicanálise, a
realizado ainda o levantamento teórico da obra de construção da clínica a partir da experiência. Portanto,
autores como Freud, Lacan e demais contemporâneos, existe a possibilidade de se fazer psicanálise no serviço,
que sugerem regras e condições para aqueles que se utilizando-se do desejo particular do estudante e dos
propõem a utilizar psicanálise, relacionando-as com a pressupostos básicos da teoria. A forma como manejam
prática exercida na clínica-escola. Vale salientar que não alguns dos postulados da psicanálise podem ocorrer de
será realizado estudo de caso de nenhum atendimento um modo distinto quando se opera em uma clínica-
específico, mas sim, recortes dos casos atendidos a fim escola, mas isso não significa dizer que estes não
de ilustrar as temáticas trabalhadas. aconteçam, pois é através do diálogo com as regras da
instituição que a psicanálise se faz acontecer.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.2 SOBRE O PAGAMENTO
3.1 A PRÁTICA PSICANALÍTICA EM UMA CLÍNICA-
ESCOLA
74 Santos, Dauer e Martins
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

Freud (1913/2006), em seu texto “Sobre o início Ligado à teorização sobre a transferência, temos
do tratamento”, aponta que o psicanalista não deve o conceito de Sujeito-Suposto-Saber, proposto por
desempenhar um papel de filantropo desinteressado, Lacan. Esse conceito relaciona-se com o fato de que
necessitando abster-se de fornecer tratamento gratuito quando alguém procura um analista ou especialista, é
ou fazer favores a amigos e familiares. Freud salienta porque se credita a ele algum saber, a esperança de que
que essa advertência diz respeito não apenas ao fato de ele lhe dê a resposta de seu sofrimento ou adoecimento.
o analista trabalhar sem receber, mas que está ligada à É essa suposição, o deslanchamento da transferência, a
lógica de funcionamento inconsciente do paciente. aposta de que o analista dará conta dessa falta; será isso
Para Freud (1913/2006), as questões de que mobilizará o tratamento analítico (Maurano, 2006).
dinheiro têm uma relação com as questões sexuais dos Na clínica-escola, como se dá o dispositivo da
clientes e, portanto, o analista deve estar determinado transferência, já que o paciente nada sabe sobre o
desde o princípio a tratar, com seus pacientes, dos estagiário que lhe atenderá, bem como o primeiro
assuntos de dinheiro do mesmo modo com que deseja contato deste é com a instituição em que a clínica está
educá-los nas questões relativas à vida sexual. O inserida?
pagamento das sessões faz, então, semblante ao Diferente do que ocorre em um consultório
investimento que o paciente deve fazer em seu particular, aonde o paciente vai por que alguém indicou
tratamento. Todavia, questiona-se como funciona a aquele analista específico, os clientes do SPA vão para
questão do pagamento em uma clínica-escola que a Unicatólica. A transferência do cliente, então, é para
oferece atendimento gratuito a uma população, em sua com a instituição, a Unicatólica e, posteriormente o SPA,
grande maioria, vulnerável e que não possuem grandes por isso é bastante comum se ouvir relatos como: “então,
recursos financeiros? me encaminharam aqui para a Unicatólica (sic)”, “aqui na
De acordo com Oliveira (2007), a questão do Unicatólica que vão me ajudar a melhorar”.
valor do tratamento surgirá, mesmo que não seja na Figueredo (2002) argumenta que o paciente
forma monetária. O autor afirma que em uma clínica- estabelece “transferências”, pois inicialmente, este
escola o estagiário pode lançar mãos de outros recursos credita saber à universidade, apostando que lá há uma
a fim de pontuar para o paciente que este precisa investir resposta para seu problema, para somente
em seu tratamento, como por exemplo, “demarcando um posteriormente transferir para o serviço de psicologia, e,
limite no não comparecimento das sessões e dizendo da em seguida, para o estagiário responsável pelo seu
importância do atendimento ao menos uma vez por atendimento. É tão clara a transferência para com o
semana” (OLIVEIRA, 2007, p. 81). No SPA, são essas serviço, que no SPA ocorrem mudanças constantes de
as orientações que costumam ser feitas aos pacientes, estagiários (geralmente semestrais) e mesmo assim,
que eles atentem as faltas para que não sejam existem clientes tão transferidos, que dão continuidade
desligados, visto que a instituição tem uma regra de que ao seu tratamento para além do estagiário que lhe
após três faltas consecutivas o paciente perde a vaga no atende.
serviço.
Oliveira (2007, p.81) salienta ainda que “a 3.4 SOBRE O TEMPO
questão do dinheiro e do valor do tratamento aparecerá Marcos (2011, p. 212) coaduna que “na clínica-
na própria fala dos pacientes – ou desmarcando sessões escola, o tratamento é limitado no tempo”, visto que o
por motivos supérfluos ou até mesmo interrompendo o tempo de estágio por semestre é de duração média de 4
tratamento”, neste caso, “caberia ao estagiário manejar meses. A autora afirma que esse tempo equivaleria às
o tratamento a fim de que o paciente sinta seu valor, entrevistas preliminares, que são a porta de entrada na
mesmo que seja no dinheiro gasto para chegar às análise propriamente dita, desse modo, questiona-se:
sessões”. Esse fenômeno citado é bastante presente no quais são os efeitos terapêuticos produzidos nesse
SPA, pois, muitas vezes os clientes precisam pagar o período?
transporte que os deslocam de casa à clínica, o que de Existe já nesse tempo uma oferta de escuta ao
alguma forma é um investimento. paciente por parte do estagiário, que produz alívio pela
Oliveira (2007) finaliza seu texto dissertando que palavra (MARCOS, 2011). A referida autora sinaliza que
em uma instituição pública, a questão financeira aparece existe a possibilidade que nesse curto período de tempo
de modo distinto da clínica particular, mas que isso não já ocorra uma retificação subjetiva do paciente, logo, não
impossibilita o tratamento. Neste caso, é de extrema dá para se prever nada, visto que o tempo do
importância que o estagiário cuide da condução do caso inconsciente é particular a cada sujeito.
para que o paciente passe a investir, pois esse manejo Outras questões relacionadas à temporalidade
será o responsável para que o tratamento siga o seu já surgiram durante a experiência no SPA, como a
curso. impossibilidade de estender a sessão que possui tempo
3.3 SOBRE A TRANSFERÊNCIA máximo limitado pela instituição de 50 minutos, pois o
estagiário precisava liberar a sala para a realização do
O fenômeno da transferência é a chave do próximo atendimento, visto que havia uma organização
tratamento psicanalítico (Maurano, 2006), sem ela o acerca da disponibilidade de salas e horários para cada
tratamento não se sustenta. Freud (1913/2006), em seu aluno.
texto sobre a transferência, disserta que cada sujeito, Marcos (2011) pontua que essas situações,
através das influências recebidas nos primeiros anos de infelizmente, podem ocorrer, visto que existem normas
vida, possui um modo particular de conduzir o que ele básicas a serem cumpridas dentro de uma clínica-
chama de vida erótica, que o sujeito direciona também escola. Para a autora, o desafio do estagiário, nesses
tais influências para a figura do médico. momentos, é tentar dialogar com os atravessamentos
75 Santos, Dauer e Martins
Revista Expressão Católica Saúde; v. 2, n. 1; Jan – Jun; 2017; ISSN: 2526-964X

institucionais, deixando espaço para o singular de cada


caso. OLIVEIRA, H. M. O valor do tratamento numa instituição
pública. Revista Epistemo-Somática, Belo Horizonte, v.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 4, 2007.
A psicanálise é uma teoria que sempre se
construiu a partir da experiência clínica daqueles que a
estudam, teoria que, na atualidade, vem se propondo a SOBRE AS AUTORAS
ser utilizada em diversos espaços, sendo a clínica-
escola, um destes, já que é neste espaço que o Jomábia Cristina Gonçalves dos Santos
estagiário de psicologia inicia a sua prática. Centro Universitário Católica de Quixadá, Brasil
Então a experiência do estágio em clínica Graduada em Psicologia pela Unicatólica de Quixadá.
psicanalítica no SPA proporciona ao discente, o
aprendizado através da prática nos atendimentos e E-mail: [email protected]
supervisões com o professor, tendo como um dos
desafios, o diálogo – possível – da psicanálise com Erika Teles Dauer
aquilo que é norma da instituição, como foi exemplificado Centro Universitário Católica de Quixadá, Brasil
nas questões relativas ao tempo, transferência e
pagamento. Doutoranda em Psicologia pela Universidade Federal do
De acordo com o vivenciado, bem como o que Ceará e Docente do curso de Psicologia da Unicatólica
os autores mais contemporâneos salientam, a prática em de Quixadá.
psicanálise nos serviços de psicologia, em ambulatórios,
escolas, e outras instituições, ocorre com algumas E-mail: [email protected]
modificações das regras sugeridas por Freud, visto que
nestes espaços é necessário lidar com questões Karla Patrícia Holanda Martins
institucionais, logo, cabe um diálogo da ética Universidade Federal do Ceará, Brasil
psicanalítica com o discurso institucional juntamente ao
desejo do estagiário de aprender. Doutora em Teoria Psicanalítica pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Possui Pós-Doutorado em
REFERÊNCIAS Psicologia Clínica pela USP. Professora Adjunta do
Departamento de Psicologia da Universidade Federal do
CAZANATTO, E.; MARTTA, M. K. A escuta clínica Ceará e Coordenadora do Programa de Pós-Graduação
psicanalítica em uma instituição pública: construindo em Psicologia da UFC.
espaços. Psicologia Ciência e Profissão, v. 36, 2016.

FIGUEREDO, A. C. Vastas confusões e


atendimentos imperfeitos: a clínica psicanalítica no
ambulatório público. 3. Ed. Rio de Janeiro: Editora
Relume Dumará, 2002.

FREUD, S. (1912). Recomendações ao médico que


exercem psicanálise. Edição standard brasileira das
obras psicológicas completas. v. XXII. Rio de Janeiro:
Imago, 2006.

______. A dinâmica da transferência. Edição


standard brasileira das obras psicológicas completas. v.
XXII. Rio de Janeiro: Imago, 2006.

FREUD, S. (1913). Sobre o início do tratamento.


Edição standard brasileira das obras psicológicas
completas. v. XXII. Rio de Janeiro: Imago, 2006.

Freud, S. (1919). Sobre o ensino da psicanálise nas


universidades. Edição standard brasileira das obras
psicológicas completas. v. XVII. Rio de Janeiro: Imago,
2006.

MARCOS, C. M. Reflexões sobre a clínica escola, a


psicanálise e sua transmissão. Revista Psicologia
Clínica, Rio de Janeiro, v. 23, 2011.

MAURANO, D. A transferência: uma viagem rumo ao


continente negro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed,
2006.
76 Santos, Dauer e Martins

Você também pode gostar