Cab Ind A
Cab Ind A
Cab Ind A
1885 :
A Conferência de Berlim reconhece a partilha dos três Congo, a saber: Congo
francês, Congo belga e Congo português com seu Governador geral.
Nascimento de Cabinda. Na época onde as potências coloniais dividiam a
África, desputando as fronteiras, o Tratado de Berlim retirou a Portugal a
margem Norte do Congo, um dos seus bastiões, concedendo-lhe um território de
recuo, Cabinda.
1956 :
Com o objectivo de administrar com menos despesas as suas colónias de
Ultramar, Portugal decide de colocar Cabinda e Angola sob a autoridade de um
mesmo governador geral, consoante o modelo de África Equatorial Francesa
(A.E.F); agrupando 4 territórios distinctos ou do modelo que chamamos Congo-
Ruanda-Urundi.
1960 (6 Octobre) :
A O.N.U.,Sr. Tchitchele, Vice-Presidente e Ministro dos Negócios Estrangeiros
da República do Congo-Brazzaville, exige a independência total de Cabinda.
1964 :
A Organisação da Unidade Áfricana (U.A.) coloca Cabinda em 39° entre os
países a descolonizar, distinctamente de Angola classifacado em número 35.
1975 :
Declaração na tribuna da U.A. pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros do
Congo, Sr. David Charles GANAO e o Chefe da delegação do Zaïre na Etiopia, o
sr BAGBENI NZENGEYA Adeito (Ambaixador do Zaïre na Etiopia).
FONDAMENTOS HITÓRICO -
JURIDÍCOS:
Os 500 anos de hitória colonial de Angola (1482-1975) tão afastados dos 90 anos
de ocupação do Protectorado Português de Cabinda (1885-1975), pelo mesmo
país opressor comum, Portugal, define e confirma o facto: a existência inegável
de uma verdadeira história claramente marcada pela dupla trajectória dos dois
povos soberanos colocados entre dois paises não frontalieiros.
Donde a demarcação natural da mesma ligna e lógica que se deve seguir: a
demarcação entre os dois territórios como nações distintas uma da outra, como
confirma o texto e o contexto da Constituição política portuguesa no momento da
descolonisação quase inacabada em cabinda.
Por algures, uma simples torre de horizonte sobre o passado viciado imposto ao
povo Cabindês basta para fazer constatar a todo observador imparcial que
Cabinda nunca fez parte integrante de Angola e este facto foi publicamente
declarado e reconhecido, algumas semanas pelo presidente da União Nacional
pela Independência Total de Angola (UNITA), Sr. Jonas SAVIMBI nestes
termos:
Cabinda nunca fez parte integrante de Angola, nem antes nem aquando nem
depois da retirada do colonizador do nosso país.
Em oposição a esta declaração pertinente e honesta, o acordo de Alvor
(Portugal), caducado depois de ser assinado, é o único suporte das pretenções
expansionistas de Angola sobre Cabinda.
Assim, é coveniente que este acordo violado e revocado pelos signatários, sem
compentência em matérias, possa constituir o fundamento da posição oficial
angolana, através aqual, continua ainda sem vergonha justificar a actual ocupação
pelo estado angolano. Todavia, longe de querer fazer uma lição de história,
vejamos três provas em apoio que confortam a posição Cabindesa:
Do resto, alem dessas três provas tanto concluentes entre outras também
fundadas e verificadas, a resistência nacionalista Cabindesa representada à mesa
de discuções em curso pela F.L.E.C não cederá nenhum lugar a debates estériles
levando sobre a constitucionalidade do facto Cabindês, em razão do defeito da
competência e da legitimidade requisa pela parte dos interlocutores angolanos
que não podem em nenhuma forma recuperar a paternidade jurídica de Portugal
sobre Cabinda, porque so haveria mesmos debates já tidos no passado em
linguagem de surdos, em redor das indeterminaveis querelas escolásticas sem
efeito e marcadas de apetites não confessados e tanto contrário a verdade da
história e ao bom senso.
O DRAMA DE CABINDA
A Gente de Cabinda
Os Cabindas (29) constituem um povo considerado, por norma,
pelos investigadores e pessoas que com eles contactaram, tanto no
passado como no presente, com Tradições próprias bem marcadas e
uma Cultura Superior à da maioria das populações vizinhas (30), um
"povo" de quem João Falcato diz que "quase não desejaria chamar
negros tanto se distinguem dos demais na cor bronzeada, na perfeição
dos traços e no nível dos costumes " (31). Dotados de um "vivo
espírito filosófico e proverbialista" (32), o exuberantemente traduzido no
singular simbolismo artístico - para o Padre Dom Joaquim Martins, "
uma verdadeira escrita ideográfica" sem paralelo em parte alguma de
África (33) - foram considerados por Almada de Negreiros como "os
melhores marinheiros da África portuguesa" e "indivíduos de índole
pacífica, muito morigerados nos costumes, respeitadores, e dedicados
aos patrões".
Desde tempos recuados Portugal vinha exercendo exclusiva influência naquele pequeno
enclave coberto, em sua maior parte, por frondosa mata atlântica e interiorizado por densa
floresta de tipo tropical, constituída de inúmeras e valiosas espécies arbóreas.. No pequeno
país peninsular viviam-se tempos difíceis, pois sua economia era calamitosa, as finanças
estavam fortemente deficitárias, sendo também muito pesada a sua dívida externa.
• D. José Franque evidenciava, sem medo, que a situação resultante desse tratado,
bem diferente de um termo de capitulação, não constituia uma anexação mas
sim, um protetorado solicitado pelos governantes autóctones sob ameaça de
ocupação francesa a partir do vizinho Congo-Brazzaville; mas, essa situação,
sublinhava o nobre cabindense, não fora devidamente respeitada pelos sucessivos
governos de Portugal, sobretudo depois da implantação da República neste País, em
5 de Outubro de 1910.
• O ATO COLONIAL E O IMPÉRIO COLONIAL PORTUGUÊS
Na primeira das citadas ocorrências, assinala-se a questão com a França, provocada pelo
apresamento da barca Charles & Georges; na segunda registram-se as explorações de Serpa
Pinto, Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens, e também a de Henrique de Carvalho; na
terceira, dá-se o Ultimatum em 1890, ao qual se seguiu a grande gesta da presença
portuguesa em África...Porém, a situação econômica agravou-se, os empréstimos sucediam-
se uns aos outros, o governo procedia a novas conversões da dívida externa, aumentando
sempre os seus compromissos. De 1856 a 1892 fez 14 empréstimos no valor de mais de 58
milhões de libras esterlinas. Em 1890 a Casa Baring de Londres, que sustentava as finanças
portuguesas, viu-se forçada a terminar as suas transações. Deste modo, o ano de 1891 foi
um ano de aguda crise econômica, ampliada pela pressão conseqüente do Ultimatum inglês.
Em 1892 o governo teve de editar uma lei de Salvação Pública porque o País havia entrado
em situação de bancarrota...
• PARTE II – O CONGRESSO DE VIENA, A QUESTÃO DO ZAIRE, AIA,
A CAMPANHA ANTI-ESCRAVAGISTA E UM GOVERNADORÀ FRENTE
DA SUA ÉPOCA
Desde fins do século anterior que estava se desenvolvendo uma campanha internacional, de
inspiração inglesa, visando à extinção do tráfico de escravos... Em Angola ela encontrava
amplo respaldo no próprio governador da colônia, Sousa Coutinho. Enquanto o Brasil era
colônia havia razões de sobra para não apoiar essa medida, as quais cessaram de existir em
1822...A abolição conquistou assim, a adesão de todos os filantropos europeus; contudo, foi
a época de transição a que se revelou mais cruel para os escravos, o que ressalta das
afirmações de Oliveira Martins que nos diz terem saído de África 5 milhões de escravos
Negros entre 1807 e 1847! Já em 1815, por ocasião do Congresso de Viena – a Santa
Aliança...- Portugal e a Inglaterra haviam assinado um protocolo visando a abolição gradual
desse nefando tráfico. Mas, somente em 10 de Dezembro de 1836 o Marquês de Sá da
Bandeira publicou o primeiro decreto a esse respeito, o qual foi muito mal recebido em
Moçambique, onde, no ano seguinte, o governador geral suspendeu a sua execução.
Agastada com isso, a Inglaterra assumiu então atitudes hostis a Portugal , germinando a
partir daí, a medida extrema do Ultimatum que viria mais tarde...
Em 1855, Portugal ocupou o porto de Ambriz, a norte de Luanda, por onde os negreiros
escoavam o seu comércio de "marfim negro"; para complemento dessa ação foi publicada,
em 5 de Julho de 1856, uma lei abolindo a escravidão em Ambriz, Cabinda e Molembo. E
logo no dia 18 do mês seguinte, nova lei foi editada concedendo alforria a todos os
escravos que desembarcassem em Portugal, Açores, Madeira, Índia e Macau. Dois anos
mais tarde, em 25 de Abril de 1858, data do casamento de D.Pedro V, novo decreto foi
promulgado determinando que a escravatura e a escravidão (vidé nosso artigos sobre Os
Escravos em Portugal) acabariam em todo o território português vinte anos depois,
portanto em 1878, mas esse prazo acabaria sendo encurtado na medida em que o tráfico de
escravos foi definitivamente encerrado em 1869.
É conveniente, para se entender qual a importância que Cabinda sempre exerceu na região,
relembrarmos vários fatos históricos sobre a chamada QUESTÃO DO ZAIRE:
No meio de todo o frenesi que emoldurou as arrojadas explorações africanas, que a seu
tempo abordaremos noutro trabalho, o rei Leopoldo II, da Bélgica, que governou de 1865 a
1908, lançou a idéia de uma Associação Internacional Africana, a qual brotou de uma
conferência internacional que ele convocou em 1876.
Aparentemente a intenção seria: « abrir à civilização a única parte do nosso globo onde ela
ainda não penetrou»...
c) Abolir a escravatura.
Portugal formou sua própria comissão, presidida pelo visconde de S. Januário, mas absteve-
se de enviar representante à conferência de 1877 realizada em Bruxelas.
Tal como a Europa..."Unida" de hoje, essa associação, inspirada pelo ambicioso monarca
belga, até tinha bandeira própria – azul e uma estrela de ouro - que seria hasteada no Lago
Tanganica. Na verdade, somente o rei dos belgas continuou interessado nas atividades da
associação...
Stanley é autorizado pela AIA a realizar uma expedição a África. Em 10 de Maio ele já está
em Zanzibar onde anunciou sua próxima partida para o continente que iria interiorizar. A
24 de Julho, no entanto, aparece de repente em Serra Leoa usando o apelido de Swinborne,
ali recrutando pessoal. Desconfiando-se que fosse um negreiro sem escrúpulos, teve de
revelar sua verdadeira identidade. A 3 de Setembro já está na foz do rio Congo, para onde o
navio belga BARGA, de Anvers, havia transportado todo o equipamento e suprimentos
necessários à sua expedição, que logo iniciou conseguindo vencer todas as dificuldades e
perigos que o cercavam no inóspito interior africano desse tempo.
É óbvio que Savorgnan estava agindo como preboste do governo francês que, já
estabelecido no Gabão, se antecipara aos eventos.
Como explicar a presença deste oficial francês, que denotava a maior eutímia, no interior
africano? Acontece que o explorador francês soubera em Bruxelas, através de um
diplomata estrangeiro, dos planos concluídos entre o rei Leopoldo II e Stanley, pelo que
regressou prontamente a Paris informando e aconselhando o seu governo sobre o assunto. E
este, claro, tomou as suas providências para não serem "lesados" os interesses francos na
região da bacia do Congo (ou Zaire).
Monsieur De Brazza regressou ao Gabão onde permaneceu até 1882, regressando então a
França.
As obrigações impostas eram ruinosas para Portugal, falido como se encontrava. Tratava-se
de reformar todos os serviços, desde o militar ao aduaneiro. E havia ambições ínvias e
externas a pairar sobre as terras de influência lusitana. O quintal portucalense, diga-se em
abono da verdade, era apenas um ocupante litorâneo preocupado sobretudo, por
incorrigível vocação (predominância genética hebraica?...) em comerciar e sem qualquer
poder efetivo no interior dos territórios...que até desconhecia ou muito pouco conhecia. Os
sobas faziam o que bem lhes apetecia e ali mesmo às portas de Luanda, no Cacuaco, as
colunas militares portuguesas, uns quantos soldados negros e um ou dois graduados
brancos para passarem em terra de sobado tinham de pagar "pedágio" ao soba, o que
evidenciava a fragilidade, ou inexistência até, da soberania portuguesa. Iniciava-se assim ,
uma vida nova naquelas paragens, nova e difícil porque tinha de ser vivida depressa pois o
tempo corria célere e a vigilância externa era cada vez mais apertada...
DE 26 de Fevereiro de 1885
Os trabalhos dos antropólogos, etnólogos e historiadores são
concordantes no relevo concedido à especificidade e à excepcional
perenidade da cultura espiritual e material dos Bakongo
comparativamente com a dos outros povos do centro-oeste e sul de
África (48).
Em segundo lugar, porque a herança étnico-cultural dos Cabindas
fundada numa origem identitária comum (etnia Bakongo) e numa
grande densidade das relações colectivas e das solidariedades étnicas foi
sendo historicamente reforçada e fidelizada pelo uso e percepção do
espaço como produto cultural específico. Com efeito, as vastas
potencialídades geo-económicas da sua costa marítima - pesca,
salicultura, comércio, hidrocarbonetos - e os generosos recursos
florestais e mineiros do seu interior conjugaram-se numa feliz relação
de complementaridade e autonomia, enraizamento e mobilidade social
(49). Em 1895, um oficio do governador do Congo abordava a
dificuldade em levar os Cabindas a ausentarem-se da sua terra natal: "
(..) Este meu pedido resulta da relutância que todos os naturais deste
enclave têm em morrer fora dele, sendo, como é, o principal motivo de
repugnância que existe entre estes, em abandonarem a terra da sua
natalidade (..)" (50). São estes factores que conferem às sociedades
que os possuem em mais alto grau a consciência de comunidade política
e a orientação objectiva que as levam a demarcar-se e mesmo a tentar
impor o seu domínio sobre outros grupos sociais.
Finalmente porque, e ao invés do que sucedeu no vizinho Reino
do Congo que integrava o território do actual Estado de Cabinda e onde
os portugueses puderam estabelecer, desde o início relações pacíficas
fundadas no principio de igualdade de tratamento.
Em Cabinda estarão reunidas a diversidade e
complementaridade das características geográfico-naturais do seu
território e a coesão e especificidade etnocultural da sua população
temperadas por uma longa história de intensas comunicações entre os
seus membros e com o exterior, constituem, no nosso entendimento, o
"equipamento" de identificação, necessário e suficiente para integrarmos
os Cabindas no conceito de Povo tal como é definido por Karl Deutsch
(51). É esse Cabindas no conceito "equipamento" que, em última
análise, determina o êxito ou o fracasso das aspirações políticas de uma
comunidade.
Os Cabindas parecem tê-lo compreendido. Na ausência de
autonomia política, i.é., de instituições que assegurem e representem a
unidade política de uma comunidade, só a defesa dos seus valores
socioculturais (Mitos, Dogmas, Ritos, Poderes Místicos, etc.) poderá
preservar a solidariedade entre os diferentes segmentos sociais e os
interesses seccionais em conflito. Mais do que qualquer outra coisa,
pensamos que foi a adesão histórica dos Cabindas a esses valores
exteriorizados (e actualizados) pelas ritualizações simbólicas que lhes
permitiu pensar e agir como uma comunidade, lhes conferiu coesão e
continuidade.
Residirá aqui, em grande parte, a explicação para fenómenos
que justificariam bastante mais atenção por parte dos estudiosos: a
sobrevivência destes Bakongo à desarticulação do antigo "Reino" do
Congo nos finais do séc. XVII e princípios do séc. XVIII; a peculiaridade
das suas relações históricas com portugal; a singularidade e o sentido
afirmativo das escolhas adoptadas pelos Cabindas tanto no processo
oitocentista de "partilha da África" como nos p fenómenos mais recentes
da "Descolonização".
Notas :
29 - Por "Cabindas", termo de utilização comum na documentação
oficial, entende-se os naturais da Republica de Cabinda Territorial e
dominialmente definido aquando da partilha de África no séc. XIX.