Cultura Afro Nas Escolas PDF
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RESUMO ABSTRACT
O presente artigo visa discutir a importância e This paper discusses the importance and
indispensabilidade da Lei 10.639/2003 dando indispensability of Law 10639/2003 em-
ênfase ao papel desempenhado pelas popula- phasizing the key role played by people of
ções de origem africana na construção da his- African descent in the construction of Brazil's
tória do Brasil, bem como as circunstâncias que history and the circumstances that led to the
levaram a criação da referida Lei. Também são creation of the aforementioned Act are also
analisados como se estabelecem as relações in- examined as are established ethnic relations
terétnicas no contexto escolar, as manifesta- in the school context, the manifestations of
ções de discriminação no ambiente escolar co- discrimination in the school environment
metidas tanto por alunos(as), professores(as), committed by both the students, teachers,
diretores(as), etc; a maneira como os docentes directors, etc., and the way teachers and
e a escola devem lidar com o racismo e com o schools should deal with racism and prejudice,
preconceito, trata brevemente sobre a questão it briefly on the issue of education maroon, and
da educação quilombola; e a aplicação da Lei the application of law by both the teacher and
tanto por parte do educador como da escola, the school, showing routes to be followed by
apontando caminhos a serem trilhados por educators through the reframing of the
parte dos educadores através da resignificação concepts of some words used in everyday
dos conceitos de algumas palavras utilizadas school life.
no cotidiano escolar.
∗
Mestranda em História pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) / Brasil.
∗∗
Mestrando em História e Bolsista do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB) da
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) / Brasil.
conservadores.
As duas LDBs que seguiram a de 1961, a Lei 5.540/68 e 5.692/71, foram
importantes na organização do ensino brasileiro, além de manterem a
condenação à discriminação racial; já na LDB de 1988 resultado de amplas
discussões dos educadores progressistas, a questão racial desaparece do texto.
A Constituição de 1988 serviu de base para a criação da Lei 9.394/96,
noaqual o ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições de
diferentes etnias e culturas na formação do povo brasileiro, especialmente as de
origem: africana, indígena e europeia.
A década de 90, evidentemente, apresenta uma trajetória de melhoria
nos indicadores educacionais, [...], os avanços são, por vezes, tímidos
e, em geral, não interferem de forma significativa na estrutura de
discriminação racial e de gênero. Assim, apesar dos avanços nos
indicadores quantitativos, as desigualdades raciais e de gênero
continuam significativas e sinais relevantes de transformação nos
padrões da discriminação ainda não são detectáveis com nitidez. O
desafio estrutural de uma reforma educacional implica, portanto, a
construção de bases efetivas para implementação de um ensino
norteado pela qualidade e equidade, que enfrente os contornos da
desigualdade racial que atravessam, de forma contundente, o sistema
educacional brasileiro (HENRIQUES Apud DIAS, 2005: 60).
Constituição Federal de 1988, no Art. 68 que trata dos Atos das Disposições
Constitucionais Transitórias que garantiu a propriedade dessas terras aos seus
moradores. Amparados pela Lei os quilombolas lutam pela escritura definitiva
de suas terras. Atualmente buscam superar prática da cultura de subsistência,
acreditam na possibilidade de sobreviverem cultuando as tradições do passado e
o legado dos ancestrais, sempre usando estratégias de desenvolvimento
sustentável, como garantia de uma vida digna.
O Movimento Negro classifica os Quilombos, tanto os do período
escravista como os contemporâneos, como “pedaços da África no Brasil”, pelo
fato da organização dos mesmos se assemelhar com diversas sociedades
africanas:
Na cultura africana tradicional, todos os elementos da vida estão
interligados. A religião, a política, a família, o território, a moradia
somente têm sua função plenamente cumprida se estão
intrinsecamente relacionados, e sua existência formal e estrutural está
profundamente conectada com a estrutura dos demais itens da vida.
Sendo assim, a tradição oral de transmissão do conhecimento, típica
das sociedades africanas, só tem sentido com a proximidade do
interlocutor, já que, para o africano, a comunicação tem que ser viva,
dinâmica, e essa energia viva não é transmitida por meio das letras
(Nascimento, 2002). A família, por sua vez, tem nas tradições de
linhagem e parentesco um componente importante de estruturação
familiar, de transmissão de conhecimento para as gerações seguintes.
Isso cria a necessidade de proximidade das famílias, com a construção
das casas dos filhos casados em torno das moradias dos mais velhos,
pais e avós, o que estabelece, por si só, a manutenção da tradição, o
aprendizado dos mais novos pela experiência dos mais velhos e as
relações de vizinhança. Sendo assim, o princípio organizacional do
espaço quilombola, ao constituir na atualidade um local de resistência
e da vivência dos africanos que aqui chegaram, cumpre um papel
fundamental na manutenção das formas de produção social, da
cosmovisão africana e na sobrevivência desta população como
comunidade negra constituída, com consciência de grupo e de origem
comum. Esta ocupação territorial pelas famílias obedece a um sistema
de relações em que a casa principal do grupo é a residência dos pais,
que tem ligações diretas com a residência dos filhos; além destas, há
uma terceira esfera de relações com as áreas de plantio e criação, com
cada unidade de moradia tendo suas próprias hortas e pomares,
embora de usufruto de todos os membros do núcleo familiar,
obedecendo a um sistema de organização encontrado também em
regiões de Guiné-Bissau, Angola e Moçambique até os dias atuais. As
relações sociais assim determinadas levam a uma autonomia das
famílias agrupadas, com suas áreas de criação e plantio para
subsistência contidas na área familiar. Ao mesmo tempo, identifica-se
o planejamento conjunto dos elementos de infra-estrutura da
comunidade, como fontes de água, as antigas matas e áreas de pesca,
fontes de alimento e manutenção do quilombo, em um sistema de
autonomia e interdependência (PARÉ; OLIVEIRA; VELLOSO, 2007:
220-221).
o casal tem filhos e os mesmos nascem com a pele clara é comum dizer que o
casal foi “afortunado”, se a criança nasce com a pele escura é vista com pesar.
Mesmo que se combata ostensivamente o preconceito, a ideologia do
branqueamento ou miscigenacionista se constitui como uma manifestação do
mesmo, especialmente porque o indivíduo branco espera que o branqueamento
seja realizado por outros brancos, e não por si mesmo, principalmente quando
se trata do matrimônio (NOGUEIRA, 2006: 297).
O processo de embranquecimento ou branqueamento ocorre
principalmente no campo sócio-cultural; na qual os negros absorvem valores
culturais brancos tais como a língua, religião, vestes, etc. Mesmo os negros
assumindo inicialmente os aspectos culturais ocidentais na tentativa de serem
vistos em pé de igualdade com os brancos, continuavam sendo vistos como
inferiores a estes. A recusa social se perpetuava, os intelectuais negros se dão
conta que a única saída possível é a retomada de si, a negação do
embranquecimento através da aceitação de sua herança sócio-cultural que
deixava de ser considerada inferior. Essa retomada dos valores culturais
africanos é chamada de negritude. Sem pretender cair num racismo às avessas.
Como nos diz Munanga: “Tratava-se de uma reação. Legítima defesa ou racismo
anti-racial, a negritude não deixa de ser uma resposta racial negra a uma
agressão branca de mesmo teor”. (MUNANGA, 1988: 6).
A negritude é resultado da frustração dos intelectuais negros que não
encontraram no humanismo ocidental a totalidade das dimensões de sua
personalidade. Neste aspecto se configura como uma reação, uma defesa dos
aspectos culturais negros. Configurando-se em protesto contra a postura
europeia em querer ignorar outra realidade que não seja a sua, uma negação à
assimilação colonial, rejeição política, um conjunto de valores negros que devem
ser reencontrados, defendidos e até mesmo repensados.
No Brasil não houve uma tendência de utilizar o termo negritude para
nomear todos os momentos da tomada de consciência do ser negro, a palavra
passou a ser utilizada a partir da década de 1960, primeiramente por poetas e
sempre com o sentido abrangente fazendo alusão à consciência e à reivindicação
da comunidade negra. Dentre os vários momentos da tomada de consciência do
ser negro no país, podemos destacar o surgimento do TEN (Teatro
Experimental do Negro), em São Paulo em 1944, pois ele foi uma “espécie de
oponham ao uso deste conceito, sendo o mesmo substituído pelo termo etnia.
A utilização deste visa enfatizar que os diversos grupos humanos não são
marcados pelas características biológicas herdadas dos progenitores e
ancestrais, mas sim por processos históricos e culturais. A etnia pode ser
definida como:
Um grupo possuidor de algum grau de coerência e solidariedade,
composto por pessoas conscientes, pelo menos em forma latente, de
terem origens e interesses comuns. Um grupo étnico não é mero
agrupamento de pessoas unidas ou proximamente relacionadas por
experiências compartilhadas (CASHMORE Apud GOMES, 2005: 50).
Apesar das falhas presentes na Lei nº 10.639/03 se faz necessário que nós
enquanto educadores(as) brancos(as) ou negros(as) cobramos junto ao Estado
Brasileiro a aplicação efetiva da Lei, para que a mesma não venha a tornar-se
letra morta. Pois, a partir do momento que a relação com o conhecimento não
tiver como referência a valorização de uma cultura hegemônica, e que a
diversidade passe a ser encarada como algo positivo para a relação social,
estaremos caminhando para uma sociedade mais justa, tolerante e equânime.
O educador como mediador do processo de transformação na escola
deve atuar contra a exclusão e pela promoção da igualdade. Essa é a
única forma, no nosso entendimento, de construir uma escola plural e
democrática, e, fundamentalmente, trabalhar uma visão de educação
voltada para a humanização. Ao olhar a escola, a sala de aula, o
educador comprometido na Promoção da Igualdade Racial deverá
“desarmar o espírito”, buscar compreender a discriminação e os
preconceitos embutidos na postura, linguagem e prática escolar;
muitos deles construídos historicamente pela mentalidade escravista
que permeia a sociedade. É necessário que os educadores assumam o
compromisso com a perspectiva multicultural da educação.
Ultrapassar os limites das ações pontuais para fazer com que o
cotidiano das escolas as políticas educacionais de combate ao racismo
façam parte da discussão sobre Reorientação Curricular,
(re)construção do Projeto Político-Pedagógico e Formação
Permanente dos Educadores (ROCHA, 2005: 203).
Bibliografia
ABREU, Martha e MATTOS, Hebe. Em torno das “Diretrizes curriculares
nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história
e cultura afro-brasileira e africana”: uma conversa com historiadores. Estudos
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