Direito Processual Civil II
Direito Processual Civil II
Direito Processual Civil II
Tema I
Notas de Aula1
1. Processo de conhecimento
Há decisões em que o juiz trabalha ainda sem fazer o juízo de certeza, dada a
necessidade de solução de algum aspecto que eventualmente poderá ser complementado.
Nestes casos, a cognição é sumária, pautada em juízo de probabilidade, quase certeza.
Exemplo em que este juízo é feito é o das sentenças exaradas nos processos cautelares, ou
na antecipação dos efeitos da tutela.
E há ainda a cognição superficial, que se trata de juízo de verossimilhança, e não de
probabilidade, em que o juiz calca sua decisão em pressupostos de possibilidade das
alegações. Este juízo de verossimilhança, de possibilidade, é feito nas liminares das ações
cautelares, por exemplo: a própria sentença cautelar é feita em juízo de probabilidade,
bastando, para a liminar neste processo, o juízo de possibilidade, a cognição superficial.
Por esta diferença entre verossimilhança, que é possibilidade, e a probabilidade, é
que o caput do artigo 273 do CPC se demonstra atécnico:
1.2. Procedimentos
Se não for caso de realização de audiência, o juiz saneará o feito por escrito, através
do “despacho saneador”, que é de fato uma decisão interlocutória.
Na fase probatória, todas as provas a serem produzidas e juntadas o serão, e o
processo será posto a termo pela sentença, encerrando a atividade cognitiva do primeiro
grau de jurisdição. Veja que primeiro grau de jurisdição não é sinônimo de primeira
instância: esta expressão pode ser empregada em qualquer grau de jurisdição, identificando
a competência originária de um processo.
Voltando à fase postulatória, é nela que o autor narra os seus argumentos e faz os
pedidos, contrapostos pelo réu. A petição inicial e a contestação, postas uma de frente a
2
Se não há argüição de preliminares ou prejudiciais, respectivamente defesas indiretas processuais ou de
mérito (que são fatos modificativos, impeditivos ou extintivos do direito do autor), não existe necessidade de
réplica. De fato, a réplica feita quando não é necessária consiste em desequilíbrio processual, dado que ao
autor são abertas duas oportunidades de manifestar-se, e ao réu apenas uma. Fora das hipóteses dos artigos
326 e 327 do CPC, não deve haver réplica. Veja:
“Art. 327. Se o réu alegar qualquer das matérias enumeradas no art. 301,
o juiz mandará ouvir o autor no prazo de 10 (dez) dias, permitindo-lhe a produção
de prova documental. Verificando a existência de irregularidades ou de nulidades
sanáveis, o juiz mandará supri-las, fixando à parte prazo nunca superior a 30
(trinta) dias.”
outra, formam a exata noção da lide que se discute. A sentença será um espelho da lide
fixada na fase postulatória. Analisemos, então, o primeiro ato postulatório, a petição inicial.
“Art. 286. O pedido deve ser certo ou determinado. É lícito, porém, formular
pedido genérico:
I - nas ações universais, se não puder o autor individuar na petição os bens
demandados;
II - quando não for possível determinar, de modo definitivo, as conseqüências do
ato ou do fato ilícito;
III - quando a determinação do valor da condenação depender de ato que deva ser
praticado pelo réu.”
“Art. 292. É permitida a cumulação, num único processo, contra o mesmo réu, de
vários pedidos, ainda que entre eles não haja conexão.
§ 1o São requisitos de admissibilidade da cumulação:
1.4. Distribuição
“Art. 257. Será cancelada a distribuição do feito que, em 30 (trinta) dias, não for
preparado no cartório em que deu entrada.”
Esta decisão desafia apelação, pois é de extinção sem resolução do mérito, na forma
do artigo 267, IV. Mas veja que a apelação que aqui é cabível é a do artigo 296 do CPC,
peça excepcional que abre possibilidade a que o juiz se retrate, pois não houve citação,
tratando-se de situação análoga à do indeferimento da inicial:
“Art. 296. Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, facultado ao juiz, no
prazo de 48 (quarenta e oito) horas, reformar sua decisão.
Parágrafo único. Não sendo reformada a decisão, os autos serão imediatamente
encaminhados ao tribunal competente.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
d) Sem que seja dada oportunidade para o autor complementar, não; tendo sido
aberto prazo, poderá cancelar.
Questão 2
Resposta à Questão 2
dos requisitos, a petição deve ser considerada inepta: os pedidos são incertos, e as causas de
pedir, indefinidas, no caso.
Questão 3
Reposta à Questão 3
Tema II
Pedido. Conceito. Objeto mediato e imediato. Relevância jurídica. Interpretação. Pedido certo e pedido
genérico. Espécies de cumulação de pedidos. Modificações qualitativas e quantitativas dos pedidos.
Notas de Aula3
1. Pedido
A petição inicial possui um núcleo essencial, composto pelas partes, pelo pedido, e
pela causa de pedir. Estes elementos compõem o que tecnicamente se chama de demanda.
Do ponto de vista do autor, a petição inicial retrata a materialização do seu direito
de ação, e do ponto de vista do Estado, a petição possibilita a deflagração da atividade
jurisdicional, tirando o Estado-juiz da inércia. E o pedido assume grande importância, neste
núcleo essencial da inicial.
Pedido, portanto, é um dos elementos da demanda, que materializa o direito de ação,
deflagrando a atividade jurisdicional.
O pedido tem quatro aspectos de grande relevância: ele delimita a pretensão;
vincula a atividade jurisdicional; define o órgão com atribuição para julgá-lo 4; e define o
rito processual a ser adotado.
O pedido também pode ser conceituado como a pretensão material e processual
deduzida em juízo. O conceito de pedido vem se transformando, dado ao processo
sincrético que hoje vige: ao findar a cognição, se o réu não adimplir a obrigação consignada
na sentença, ao autor, credor, caberá peticionar pelo cumprimento forçado da sentença. E
veja que esta petição, este pedido, é executivo, alheio ao conceito clássico de pedido, mas
ainda assim o sendo. Além deste caso, há pedidos em diversos momentos do processo: em
declaratórias incidentais, em produção de provas, pedido contraposto nos juizados, pedidos
em incidentes processuais, etc. Por isso, chamar o pedido de pretensão deduzida em juízo é,
hoje, o conceito que se aplica a qualquer dos casos.
O pedido, como dito, pode ser pretensão material ou processual, e tem relação com
a classificação em pedido mediato ou imediato. O pedido imediato é processual, vez que se
destina a obter medida jurisdicional de cunho eminentemente processual, prestação judicial
processual; o pedido mediato, por sua vez, é material, vez que se destina a obter o bem da
vida almejado pelo autor.
Em alguns momentos, a pretensão material pode ficar em segundo plano, diante da
pretensão processual. Como exemplo, as tutelas liminares, divididas em tutela antecipada e
tutela cautelar: sabe-se que a tutela antecipada tem natureza satisfativa, e a cautelar tem
natureza instrumental. Na cautelar, portanto, a pretensão processual sobrepõe-se à matéria,
pois o que se pede é que o processo seja efetivo, e que a decisão judicial tenha a autoridade,
quando prolatada, pois o bem da vida, que ainda será posto à discussão, precisa ser
resguardado antes, ou de nada servirá a pretensão satisfativa material adiante.
Já a tutela antecipada é eminentemente material, pois consiste na entrega do bem da
vida antecipadamente, visando a tutelar o direito subjetivo das partes.
“Art. 286. O pedido deve ser certo ou determinado. É lícito, porém, formular
pedido genérico:
I - nas ações universais, se não puder o autor individuar na petição os bens
demandados;
II - quando não for possível determinar, de modo definitivo, as conseqüências do
ato ou do fato ilícito;
III - quando a determinação do valor da condenação depender de ato que deva ser
praticado pelo réu.”
que a este é imputado. Se o tratamento está em curso, o pedido não pode ser quantificado,
vez que o valor do tratamento não está ainda definido quando da formulação do pedido.
O inciso III do artigo em comento determina que se as informações que são
necessárias à quantificação do pedido estiverem em poder do réu, o autor poderá consignar
pedido genérico, o qual será definido no curso da ação. É exemplo deste caso a ação de
prestação de contas.
Se o pedido for genérico, a sentença poderá ser ilíquida, quando então demandará
liquidação. Diga-se, a liquidação, hoje, para a maior parte da doutrina, pode ser realizada
mesmo se o recurso da sentença ilíquida for recebido no efeito suspensivo, porque se
entende que a liquidação não tem condão de causar qualquer tipo de prejuízo às partes, pois
não importa em expropriação de bens.
O caso do inciso II do artigo 286 do CPC é o único em que se admite pedido
genérico no rito do juizado especial. Veja que a Lei 9.099/95 não detalha qual será a
solução dada pelo juiz, vez que ali não cabe sentença ilíquida, mas o artigo 475-A, § 3º, do
CPC será aplicável:
“Art. 475-A. Quando a sentença não determinar o valor devido, procede-se à sua
liquidação.
§ 1o Do requerimento de liquidação de sentença será a parte intimada, na pessoa de
seu advogado.
§ 2o A liquidação poderá ser requerida na pendência de recurso, processando-se em
autos apartados, no juízo de origem, cumprindo ao liquidante instruir o pedido com
cópias das peças processuais pertinentes.
§ 3o Nos processos sob procedimento comum sumário, referidos no art. 275, inciso
II, alíneas ‘d’ e ‘e’ desta Lei, é defesa a sentença ilíquida, cumprindo ao juiz, se for
o caso, fixar de plano, a seu prudente critério, o valor devido.”
Assim, calcado em juízo de equidade, o juiz buscará arbitrar com justiça valor que
provavelmente seja suficiente ao cumprimento da obrigação, devendo o autor, se não
entender este valor correto, dele recorrer, ou com ele se conformar – caso em que, se for
insuficiente futuramente, nada poderá fazer.
Questão 1
Resposta à Questão 1
"A" propõe ação de indenização por dano moral em face da empresa "B", em razão
de inclusão indevida do nome daquele em cadastro de devedores inadimplentes. O pedido
de indenização é formulado sem indicação, pelo autor, de quantia certa. É empregado o
procedimento sumário, por ter o autor atribuído à causa o valor de 60 salários mínimos.
Pergunta-se:
A) É cabível o pedido genérico neste caso?
B) Admitido que fosse pelo juízo o pedido genérico, poderia o autor, em caso de
procedência da demanda, apelar para obter do órgão judicial ad quem aumento do
valor da indenização?
C) Pode o juízo, considerando que a demanda seguiu o procedimento sumário em
razão do valor, condenar o réu em quantia superior a 60 salários mínimos?
Resposta à Questão 2
quo considerou a inicial inepta por falta de pedido líquido e certo. Considerando
que a quantificação do dano moral contra pessoa jurídica é extremamente difícil,
em razão da inexistência de dispositivo legal específico, a Turma entendeu que
essa estimativa deve ser feita por arbitramento, pois os referenciais legislativos
existentes, tais como os arts. 1.549 e 1.522 do CC, a Lei de Imprensa e o CDC,
assim indicam proceder. Precedente citado: REsp 8.768-SP, DJ 6/4/1992. REsp
406.585-SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 7/5/2002.”
Tema III
Indeferimento total ou parcial da petição inicial. Natureza da decisão e meios de impugnação. Procedimento
adotado quando o indeferimento é com fundamento no art. 295 do CPC. Pressupostos para o juiz proferir
julgamento liminar de mérito (art. 285-A) e procedimento a ser adotado posteriormente.
Notas de Aula5
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Aula proferida pelo professor Rodolfo Kronemberg Hartmann, em 23/9/2008.
O indeferimento da inicial só pode ser feito antes da citação do réu. Isto não
significa que se o vício porventura permanecer após a citação, estará convalidado, por
preclusão. O que ocorrerá é que, ao invés de indeferir a inicial por conta deste vício, após a
citação o juiz irá extinguir o processo, em uma sentença terminativa, nos termos do artigo
267 do CPC: as mesmas hipóteses que permitem o indeferimento, após a citação,
permitirão a extinção do processo conforme o estado. Se o juiz não indefere liminarmente a
inicial, ainda assim poderá extinguir o feito, quando da oportunidade do julgamento
conforme o estado, julgamento imediato da lide no momento final do saneamento.
O indeferimento, logicamente, por se motivar por vício processual, não resolve o
mérito. Há apenas um caso de indeferimento em que há enfrentamento do mérito: a
hipótese do artigo 295, IV. Havendo prescrição6 ou decadência, a petição será indeferida,
apesar de se tratar, em verdade, de uma impropriedade se valer de indeferimento, para esta
hipótese, porque a sentença será definitiva, na forma do artigo 269, IV, do CPC – com
resolução do mérito, faz coisa julgada material:
6
O artigo 219, § 5º, ao permitir pronunciamento de ofício da prescrição, trouxe problemática ao próprio
conceito de prescrição: o réu poderia renunciar a prescrição, em regra, mas se o juiz a reconhece de ofício
antes mesmo de o réu ser citado, esta oportunidade lhe é retirada. Por isso, a questão é controvertida, e há
autores, como Alexandre Câmara, que sustentam que é imperativa a citação do réu para oportunizar-lhe a
renúncia. De outro lado, há quem defenda o indeferimento liminar pela prescrição, porque o réu não deve ser
importunado por demandas fadadas ao insucesso, e, neste aspecto, a prescrição está em favor do réu, e não
contra ele. O STJ vem entendendo desnecessária a citação do réu, permitindo a prescrição de ofício.
§ 1o Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts.
267 e 269 desta Lei.
(...)”
É por isso que alguns autores, como Tereza Wambier, entendem que hoje o processo
tem, de fato, diversas sentenças, e este seria um caso. Outro caso seria o da prescrição de
parte de uma dívida, prosseguindo o processo até o julgamento do mérito do restante do
débito.
O problema deste entendimento é que a sentença parcial desafia apelação. Como
poderia haver apelação desta sentença intermediária, se este recurso é processado dentro
dos autos? Por conta desta perplexidade, os autores que defendem que há mais de uma
sentença no mesmo processo trazem o conceito de apelação por instrumento, similar ao
agravo de instrumento.
Mas veja que não há como prosperar esta tese, pela vedação imposta pelo princípio
da taxatividade dos recursos: a parte não pode criar recurso, apenas podendo se valer
daqueles que a lei prevê. Mas ressalte-se que, na prática, especialmente na justiça federal,
há quem admita esta apelação, colhendo as cópias e dando prosseguimento ao feito na parte
não indeferida.
Alexandre Câmara, salientando que os artigos 267 e 269 estão dentro do capítulo do
CPC que trata da formação, suspensão e extinção do processo, defende que, para ser
sentença, é necessário que seja encerrada alguma fase processual, de conhecimento ou de
execução, ou seja, é imperioso que haja extinção de alguma coisa. Estes indeferimento
parcial, portanto, só poderia ser decisão interlocutória, que desafia recurso de agravo de
instrumento. E mais: o próprio artigo 267 do CPC, no caput, dispõe que “extingue-se” o
processo, e esta decisão não extingue coisa alguma.
O indeferimento total, por sua vez, é claramente uma sentença, posto que extingue o
processo, e desafia apelação. Mas veja que se trata de uma apelação extremamente peculiar:
é um dos raros casos em que a apelação permite juízo de retratação, na forma do artigo 296
do CPC:
“Art. 296. Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, facultado ao juiz, no
prazo de 48 (quarenta e oito) horas, reformar sua decisão.
Parágrafo único. Não sendo reformada a decisão, os autos serão imediatamente
encaminhados ao tribunal competente.”
Outros casos em que a apelação permite retratação, além do 296 do CPC, são os
previstos nos artigos 285-A, § 1º, do CPC, e 198, VII, da Lei 8.069/90 (ECA):
“Art. 285-A. Quando a matéria controvertida for unicamente de direito e no juízo
já houver sido proferida sentença de total improcedência em outros casos idênticos,
Veja que a alteração da sentença, em regra, só é possível nas hipóteses do artigo 463
do CPC:
A retratação permitida pelo artigo 296 não pode ser feita de ofício, ou seja, não é
possível ao juiz reconsiderar a decisão sem que a apelação tenha sido admitida. Uma vez
admitida a apelação, somente então poderá se retratar; inadmitida a apelação, a sentença
não pode ser reconsiderada de ofício.
Indeferida totalmente a inicial – o que se dá, como visto, antes da citação –, o autor
poderá apelar. Admitida a apelação, e não reconsiderada a decisão, o recurso terá
seguimento. Então surge a questão: o réu será cientificado desta apelação para oferecer
contra-razões? E, se for, será citado ou intimado?
Imagine-se que seja indeferimento por prescrição ou decadência: se o tribunal
reformar a sentença, o processo voltará à primeira instância, e o réu deverá ser citado. Ao
ser citado, poderá este réu alegar a mesma matéria novamente, ou seja, poderá alegar
prescrição ou decadência, ou esta matéria estará preclusa, por já ter sido decidida?
Debalde estas perplexidades, assevera a doutrina, e o STF tem julgados dispondo
neste sentido, que não há que se citar nem intimar o réu: a apelação não terá contra-razões,
qualquer que seja a matéria do indeferimento. Se porventura o julgado for reformado, aí
sim o réu será citado, mas para contestar. Neste momento, como é a primeira manifestação
do réu, a mesma matéria poderá novamente ser suscitada, não tendo precluído para a
defesa.
Mas há quem defenda, minoritariamente, em apreço ao devido processo legal, que o
réu deverá ser intimado ou citado para contra-arrazoar a apelação do indeferimento, sendo o
único meio de haver sua participação neste ponto, e por isso a preclusão se operaria.
No processo penal, o recurso contra a rejeição da denúncia, situação similar, é
matéria sumulada, no verbete 707 do STF, que impõe a intimação do réu para contra-
arrazoar:
Já o artigo 285-A do CPC, que adiante será mais bem abordado, traz sentença de
improcedência, do artigo 269, I, do CPC. O § 2º deste artigo 285-A, acima transcrito,
determina que será citado o réu para contra-arrazoar a apelação que combate esta sentença.
Há, portanto, uma tendência a adotar este posicionamento que já é até mesmo sumulado no
processo penal.
Pelo ensejo, passemos à análise do artigo 285-A do CPC.
O artigo 285-A do CPC surgiu por causa dos juizados especiais federais. Criada a
competência destes juizados pela Lei 10.259/01, os órgãos físicos não foram imediatamente
instalados. Por isso, as varas federais passaram a cumular a competência dos juizados, e
houve enorme acúmulo de feitos. Os juizes federais, então, passaram a julgar liminarmente
o mérito de ações, quando improcedente, construindo este raciocínio, que acabou por se
positivar, agora, no artigo 285-A do CPC.
É claro que a procedência jamais poderia ser decidida liminarmente, sendo
imperativa a citação do réu, dado o prejuízo que lhe acarretaria. O artigo 285-A jamais
poderia prejudicar o réu, a rigor. Contudo, novamente nos juizados especiais federais, há
movimento vanguardista que tem julgado liminarmente procedentes os pedidos em algumas
ações. A respeito, vide o enunciado 2 do Fonajef:
I - quando intempestivos;
II - quando inepta a petição (art. 295); ou
III - quando manifestamente protelatórios.”
Esta hipótese é até mais ampla do que a do artigo 285-A. Exige-se, para rejeição
liminar dos embargos (que têm natureza de ação), apenas que sejam manifestamente
protelatórios – o que se trata de mérito, sentenciando na forma do artigo 269, I, do CPC. E
esta situação, de manifesta protelação, é muito mais aberta do que as condições do artigo
285-A do CPC (não exige sequer o julgado precedente paradigmático do mesmo juízo).
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
A petição não é inepta. Pela teoria da substanciação, basta que seja narrado o fato e
o fundamento, que a verificação amiudada destes elementos será feita no curso da
demanda. A descrição fática não se atém a detalhes, e sim à menção do fato.
Poder-se-ia entender, outrossim, que a mera narrativa de que houve negligência não
é descrição fática, necessária à substanciação, e por isso seria sim inepta a inicial.
Prevalece, porém, o primeiro entendimento.
Questão 2
Resposta à Questão 2
Questão 3
O art. 285-A do CPC, que permite o indeferimento liminar da petição inicial com
resolução de mérito, ofende o Princípio do Devido Processo Legal? Em caso negativo, esta
sentença deve estar lastreada em verbete de súmula de Tribunal Superior?
Resposta à Questão 3
Tema IV
Citação. Conceito. Sistemas de citação. Indispensabilidade da citação. Citação válida e nula. Falta de
citação. Conseqüências da falta ou da nulidade de citação. Suprimento da falta ou da nulidade de citação.
Notas de Aula7
7
Aula proferida pelo professor Marco Antônio Rodrigues, em 24/9/2008.
1. Citação
A citação pode ser realizada em sistema direto ou indireto. A citação direta consiste
naquela feita diretamente ao réu ou ao seu representante legal, e é a regra geral. A citação
indireta, por sua vez, se dá por meio de terceiros que tenham alguma vinculação com o réu.
Esta citação indireta não se trata da citação ao representante legal, que é direta,
como visto. Trata-se da citação feita ao procurador legalmente habilitado, ou seja, o
procurador que a lei erigiu. É indireta porque o réu, propriamente dito, ele mesmo ou seu
representante, não é quem recebe a citação, e sim um terceiro que é vinculado ao réu.
Exemplo claro é o do advogado com poderes especiais para receber citação: em regra, a
procuração judicial não entrega ao mandatário este poder, mas se o mandante optar por
fazer constar tal poder, o seu advogado, que não é representante, e sim mandatário, poderá
receber a citação em seu nome.
Outro exemplo de citação indireta vem no artigo 215, § 1º, do CPC:
Este dispositivo cuida de caso bem específico, quando o réu estiver ausente: sequer
são exigidos os poderes especiais concedidos pelo réu aos terceiros ali mencionados. A
doutrina diz que este § 1º confere poderes presumidos às pessoas ali arroladas. Como o réu
tem autonomia sobre sua vontade, nada impede que consigne vedação a esta citação ao
mandatário enquadrado ali, mas este afastamento de nada valerá, pois a lei entrega este
poder às pessoas ali mencionadas, e não pode ser este afastado por ato da vontade do
mandante.
“Art. 1.105. Serão citados, sob pena de nulidade, todos os interessados, bem como
o Ministério Público.”
“Art. 263. Considera-se proposta a ação, tanto que a petição inicial seja
despachada pelo juiz, ou simplesmente distribuída, onde houver mais de uma vara.
A propositura da ação, todavia, só produz, quanto ao réu, os efeitos mencionados
no art. 219 depois que for validamente citado.”
Veja que, segundo este dispositivo, o processo já existe entre autor e juiz, desde o
despacho inicial da petição, ou da distribuição da própria ação. Existe entre autor e juiz,
mas não existe ainda para o réu (é por isso que há, desde então, a litispendência para o
autor, mas não para o réu). A formação do processo para o réu, contudo, só se opera quando
da sua citação: somente ali se aperfeiçoa a angularização processual plena.
Assim, é a citação que torna o processo existente para o réu, e portanto é
indispensável. Mesmo por isso, a citação é considerada um pressuposto processual de
existência para o réu, vez que o processo somente existe para o réu desde sua efetivação.
Esta natureza jurídica da citação merece comentários mais aprofundados. Cândido
Dinamarco entende que os pressupostos processuais não se dividem em dois planos, de
existência e validade: há um só plano. Mas como todos os atos processuais são atos
jurídicos, a maior corrente entende que há, sim, divisão em três planos, como qualquer ato
jurídico: existência, validade e eficácia (tripartição pontiana dos atos jurídicos).
Sendo adotada a concepção tripartite, a análise de enquadramento de um elemento
no plano da existência ou da validade da relação jurídica processual é bastante
controvertida, aduzindo-se ainda à análise os pressupostos processuais negativos. Vejamos.
São pressupostos processuais de existência da relação processual: partes capazes
(havendo divergência quanto a quem é parte, efetivamente); órgão jurisdicional; demanda;
e citação. Assim determina, por exemplo, Nelson Nery Júnior.
Mas há quem entenda que a citação não é pressuposto processual de existência, e
sim de validade do processo. Esta corrente defende que o processo não existiu para o réu,
quando a citação for inválida, mas existia intrinsecamente, entre autor e juiz. Veja que se o
pressuposto processual de validade estiver defeituoso, o resultado é a invalidação de atos
processuais, retornando ao estado em que se encontrava antes. Mas a falta da citação, mais
do que acarretar o retorno do processo ao que era antes, leva a que jamais tenha existido
para o réu, e por isso a corrente da inexistência tem certa força.
Em que pese a controvérsia, é fato que o vício na citação faz a sentença inexistente
para o réu, mas não para o autor, que terá efeitos da demanda infrutífera – ou seja, existiu
processo para o autor8.
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Pessoalmente, entendo mais coerente se tratar de pressuposto processual de validade, pois a existência do
processo deve ser considerada intrinsecamente, ou seja, não faz sentido entender que o processo não existiu
para o réu, mas existiu para o autor: ou ele existiu em si, ou não. Sendo pressuposto de validade, o processo
existiu, não tendo efeitos sobre o réu, sendo inválido e ineficaz para este.
Casos há, inclusive, que por não haver prejuízo ao réu, a sentença proferida em
processo sem citação terá efeitos para autor e para o réu. É caso de prescrição, por
exemplo, verificada no saneamento, tendo havido defeito na citação: aproveita a ambos,
mesmo o réu não tendo sido devidamente citado. Neste caso, inclusive, autor e réu sequer
poderão pretender nulificar a sentença, pois a invalidade da citação não trará benefício
algum, a nenhum deles: pas de nulitè sans grief.
Pelo ensejo, são pressupostos de validade do processo, para quem comunga da tese
que a citação é pressuposto de existência: capacidade de estar em juízo, capacidade
postulatória; órgão jurisdicional competente e imparcial; e demanda regularmente
formulada. A falta de um pressuposto de validade não acarreta extinção sem resolução do
mérito, ao contrário do que determina o artigo 267, IV, do CPC:
O vício pode ser alegado também nos embargos à execução, como dispõe o artigo
741, I, do CPC:
Caso haja execução contra a Fazenda Pública, se esta não foi citada no processo de
conhecimento, caberá ajuizamento da ação autônoma de embargos à execução, e nestes
embargos, poderá a Fazenda argüir nulidade ou falta da citação. Ressalte-se, pelo ensejo,
que a impugnação ao cumprimento de sentença não é ação autônoma.
Haveria ainda possibilidade de ação rescisória contra sentença de mérito transitada
em julgado, calcada no artigo 485, V, quando a citação do processo em que tal sentença foi
exarada for viciada:
Todavia, o STJ não admite esta rescisória: o raciocínio desta corte é que se o
processo sequer existiu para o réu, não pode este ajuizar ação, pois não há, para ele, título a
ser discutido. Deverá, o réu, ajuizar uma ação declaratória de inexistência da sentença (ou
nulidade da sentença, para parte da doutrina). Veja o entendimento do STJ, proferido no
informativo 308 desta corte:
Assim, o processo, como um todo, pretende atingir sua finalidade, antes de tudo,
que é a prestação jurisdicional.
Como dito, a convalidação só é possível se não prejudicar as partes: trata-se do
princípio do prejuízo, ou do aproveitamento dos atos processuais, extraído do artigo 250,
parágrafo único, do CPC:
“Art. 250. O erro de forma do processo acarreta unicamente a anulação dos atos
que não possam ser aproveitados, devendo praticar-se os que forem necessários, a
fim de se observarem, quanto possível, as prescrições legais.
Parágrafo único. Dar-se-á o aproveitamento dos atos praticados, desde que não
resulte prejuízo à defesa.”
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Veja que há, então, uma “relativa instrumentalidade”, pois a citação, mesmo nulificada, não é repetida.
e do aproveitamento dos atos processuais, e o réu não será prejudicado pelo defeito na
citação – o comparecimento espontâneo supre a falta ou defeito da citação.
Mas pode ser que venha o réu a juízo apenas para contestar a demanda, ignorando o
defeito da citação, sequer argüindo o vício. Neste caso, o juiz igualmente ignorará o defeito,
aplicando-se novamente o tratamento dado ao comparecimento espontâneo do réu.
“Art. 321. Ainda que ocorra revelia, o autor não poderá alterar o pedido, ou a
causa de pedir, nem demandar declaração incidente, salvo promovendo nova
citação do réu, a quem será assegurado o direito de responder no prazo de 15
(quinze) dias.”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
O artigo 12, VI, do CPC, estabelece quem representa a pessoa jurídica e, portanto,
teria poderes para receber a citação:
Entretanto, de outro lado, o artigo 223, parágrafo único, prevê que quando o réu for
pessoa jurídica, pode receber a citação quem tenha poderes de gerência ou de
administração:
Questão 2
Resposta à Questão 2
Há diversos erros na sentença. Primeiro, não se julga procedente a ação, mas sim os
pedidos. Segundo, o litisconsórcio é necessário pela natureza da relação jurídica, e, estando
ausente um dos participantes necessários, o juízo deveria ter aplicado o artigo 47, parágrafo
único, do CPC, determinando ao autor que promovesse a citação do litisconsorte necessário
ausente.
Além disso, não há que se falar em revelia, pois a ausência de litisconsorte
necessário determina que o processo não pudesse ter prosseguido, inclusive porque o prazo
para contestar contar-se-ia da juntada aos autos do último mandado de citação.
Outro erro é a expressão “prazo de lei”: esta expressão não pode ser utilizada,
devendo contar do mandado a advertência do artigo 285 do CPC, sem a qual não há que se
falar em revelia:
Além de tudo, a consignação final da sentença, de que esta atinge apenas quem
participou da relação processual, é menção tecnicamente incabível, dada a previsão do
artigo 472 do CPC, que prevê exatamente esta situação, sendo dispensável esta redação, na
sentença:
A respeito, vide o REsp 436.838:
Questão 3
A Fazenda Pública move ação rescisória contra acórdão proferido pelo Tribunal de
Justiça, que lhe foi desfavorável. Os réus da ação rescisória, funcionários públicos
aposentados, alegam em preliminar de contestação a falta de citação de outros réus,
litisconsortes necessários. O Tribunal de Justiça julga a rescisória considerando a
Fazenda Pública carecedora do direito de ação, sem, no entanto, apreciar a preliminar de
falta de citação ou mesmo o mérito. A Fazenda Pública interpõe recurso especial e o
Superior Tribunal de Justiça afasta a carência de ação e determina ao Tribunal de Justiça
que prossiga no julgamento da rescisória. O Tribunal de Justiça prossegue no julgamento
sem apreciar a preliminar de falta de citação e provê, em parte, o pedido da Fazenda
Pública. O acórdão transita em julgado. Pergunta-se: os réus, litisconsortes necessários,
poderão promover ação declaratória para combater o acórdão proferido, fundando seu
pedido na ausência de citação?
Resposta à Questão 3
Notas de Aula10
1. Destinatários da citação
O artigo 215 do CPC, como visto, traz a regra: a citação faz-se na pessoa do réu ou
de quem possa representá-lo, sendo direta ou indireta. Mas há algumas situações que
10
Aula proferida pelo professor Marco Antônio Rodrigues, em 24/9/2008.
demandam comentários específicos. O réu absolutamente incapaz, por exemplo, será citado
por meio do seu representante, pois ele não tem capacidade para estar em juízo sozinho,
pois não tem capacidade de governo sobre seus atos.
O réu relativamente incapaz, por sua vez, demanda citação bifronte: será citado o
próprio réu e o assistente legal deste.
As pessoas jurídicas e pessoas formais são citadas por meio das pessoas que são
apontadas no artigo 12 do CPC. Pela relevância deste artigo para o tema, vale trazê-lo na
íntegra:
“Art. 57. O opoente deduzirá o seu pedido, observando os requisitos exigidos para
a propositura da ação (arts. 282 e 283). Distribuída a oposição por dependência,
serão os opostos citados, na pessoa dos seus respectivos advogados, para contestar
o pedido no prazo comum de 15 (quinze) dias.
Parágrafo único. Se o processo principal correr à revelia do réu, este será citado na
forma estabelecida no Título V, Capítulo IV, Seção III, deste Livro.”
2. Lugar da citação
Como dispõe o artigo 216 do CPC, a citação será realizada em qualquer lugar em
que o réu se encontre:
“Art. 217. Não se fará, porém, a citação, salvo para evitar o perecimento do
direito:
I - a quem estiver assistindo a qualquer ato de culto religioso;
II - ao cônjuge ou a qualquer parente do morto, consangüíneo ou afim, em linha
reta, ou na linha colateral em segundo grau, no dia do falecimento e nos 7 (sete)
dias seguintes;
III - aos noivos, nos 3 (três) primeiros dias de bodas;
IV - aos doentes, enquanto grave o seu estado.”
Este artigo objetiva proteger alguns direitos do réu, como sua liberdade de religião,
ao luto, às bodas e à situação de enfermidade. Não se trata, no entanto, de inadmissibilidade
absoluta da citação, pois as hipóteses não terão oponibilidade à citação se representarem
risco de perecimento ao direito em jogo.
Dirceu de Aragão defende que estas limitações só se aplicam para a citação na
figura do réu, pois são hipóteses em que seu direito pessoal deve prevalecer, o que não
ocorre se a citação for feita na figura do representante legal ou procurador constituído com
tais poderes.
O artigo 218 do CPC traz ainda outra situação peculiar:
“Art. 218. Também não se fará citação, quando se verificar que o réu é demente
ou está impossibilitado de recebê-la.
§ 1o O oficial de justiça passará certidão, descrevendo minuciosamente a
ocorrência. O juiz nomeará um médico, a fim de examinar o citando. O laudo será
apresentado em 5 (cinco) dias.
§ 2o Reconhecida a impossibilidade, o juiz dará ao citando um curador,
observando, quanto à sua escolha, a preferência estabelecida na lei civil. A
nomeação é restrita à causa.
§ 3o A citação será feita na pessoa do curador, a quem incumbirá a defesa do réu.”
3. Efeitos da citação
A citação tem efeitos processuais e materiais. O artigo 219 do CPC trata deste
assunto:
“Art. 219. A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e faz
litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui em
mora o devedor e interrompe a prescrição.
§ 1o A interrupção da prescrição retroagirá à data da propositura da ação.
Mas veja que estes efeitos somente decorrem da citação válida, pois se houver caso
de falta ou nulidade da citação, o artigo 219 não operará seus efeitos.
“Art. 106. Correndo em separado ações conexas perante juízes que têm a mesma
competência territorial, considera-se prevento aquele que despachou em primeiro
lugar.”
Veja que este artigo estabelece que a prevenção se determina pelo despacho,
enquanto o artigo 219 prevê que a prevenção é induzida pela citação válida. Assim se
resolve este aparente conflito: no artigo 106, a expressão “mesma competência territorial”
deixa claro que o despacho só induz a prevenção quando se tratar de juízos compreendidos
na mesma base territorial (comarca, na seara estadual, e seção judiciária, na federal). Se os
juízos concorrentes são de bases territoriais diferentes, a norma a ser seguida é a do artigo
219, estando prevento o juízo que alcança a citação válida.
O segundo efeito da citação válida, também efeito processual, é a indução à
litispendência. O artigo 219 estabelece que a citação válida induz litispendência, e esta,
como visto, se trata de um pressuposto processual negativo, ou seja, a ação só é admissível
se inexistir uma ação idêntica já em curso. Mas veja que o conceito de litispendência, neste
artigo 219 do CPC, é mais intrínseco do que a litispendência que consiste na preexistência
de outra ação: trata-se de fazer com que esta ação, onde há a citação, torne-se o paradigma
para as eventuais ações ulteriores idênticas que porventura venham a ser propostas.
Significa, em última análise, pendência de causa – litis pendentia –, ou seja, aquela causa
em que se alcançou a citação se tornou pendente para o réu (pois já era pendente para o
autor desde a propositura da ação).
“Art. 42. A alienação da coisa ou do direito litigioso, a título particular, por ato
entre vivos, não altera a legitimidade das partes.
§ 1o O adquirente ou o cessionário não poderá ingressar em juízo, substituindo o
alienante, ou o cedente, sem que o consinta a parte contrária.
§ 2o O adquirente ou o cessionário poderá, no entanto, intervir no processo,
assistindo o alienante ou o cedente.
§ 3o A sentença, proferida entre as partes originárias, estende os seus efeitos ao
adquirente ou ao cessionário.”
Dois são os efeitos materiais da citação válida, efeitos sobre a relação jurídica que é
traduzida naquele processo.
O primeiro efeito material é a constituição do réu em mora: o autor deu ciência ao
réu o conhecimento da sua obrigação inadimplida. Contudo, este efeito não se opera
sempre, pois como a mora diz respeito à relação material, os artigos do direito material que
dela tratam são relevantes, quais sejam, os artigos 397 e 398 do CC:
Assim, se a mora for ex re, na forma do caput do artigo 397 e do artigo 398, estará
constituída desde quando inadimplida a obrigação, e não pela citação, que só terá este efeito
quando da mora ex personae. E, diga-se, mesmo a mora ex personae pode já ter sido
constituída anteriormente, pela interpelação, na forma do parágrafo único do artigo 397,
quando então a citação também não terá este efeito.
O segundo efeito material da citação válida é a interrupção da prescrição. O artigo
202, I, do CC, tem relevante previsão para este tema:
“Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-
se-á:
I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o
interessado a promover no prazo e na forma da lei processual;
(...)”
“(...)
IV - PRESCRIÇÃO. INTERRUPÇÃO PELO DESPACHO QUE DETERMINOU
A CITAÇÃO NA CAUTELAR.
1. A prescrição ocorre quando o titular do direito não exerce, no prazo legal, ação
tendente a proteger tal direito. A inércia é o requisito essencial da prescrição.
2. O despacho do juiz que determina a citação na ação cautelar preparatória tem o
condão de interromper o prazo prescricional referente à pretensão principal a ser
futuramente exercida (Art. 202, I, do novo Código Civil).”
Atente-se que este prazo só é oponível ao autor se o ato que atrasa a citação for imputável a
ele, pois do contrário, não tendo dado causa ao atraso, ele não poderá sofrer esta
penalidade. Neste sentido, a súmula 106 do STJ assim dispõe:
“Súmula 106, STJ: Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora
na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da justiça, não justifica o
acolhimento da argüição de prescrição ou decadência.”
4. Modalidades de citação
“Art. 222. A citação será feita pelo correio, para qualquer comarca do País, exceto:
a) nas ações de estado;
b) quando for ré pessoa incapaz;
c) quando for ré pessoa de direito público;
d) nos processos de execução;
e) quando o réu residir em local não atendido pela entrega domiciliar de
correspondência;
f) quando o autor a requerer de outra forma.”
O STJ, no informativo 315, deixa claro seu entendimento sobre a citação postal da
pessoa física:
A citação por oficial de justiça, por sua vez, será cabível quando for vedada a
citação postal, o que se vê nas alíneas do artigo 222 do CPC. Por exemplo, quando estiver
em jogo algum interesse de pessoa jurídica de direito público, ou nos processos de
execução, será necessária a citação pelo oficial de justiça.
São modalidades de citação ficta a citação por hora certa e a citação por edital.
A citação por hora certa demanda dois pressupostos, um objetivo e um subjetivo. O
pressuposto de caráter objetivo consiste no comparecimento do oficial de justiça ao local da
diligência por três vezes, sem obter qualquer êxito. O pressuposto subjetivo trata-se da
suspeita de ocultação do réu, ou seja, não basta que o oficial tenha comparecido três vezes
sem sucesso: é necessário que este insucesso seja devido à má-fé do réu, que se esconde
para não ser citado (se não é certa esta ocultação, deve ao menos haver sérios indícios desta
situação).
A citação por hora certa tem o procedimento tratado, de forma auto-explicativa, nos
artigos 227 a 229 do CPC:
“Art. 227. Quando, por três vezes, o oficial de justiça houver procurado o réu em
seu domicílio ou residência, sem o encontrar, deverá, havendo suspeita de
ocultação, intimar a qualquer pessoa da família, ou em sua falta a qualquer vizinho,
que, no dia imediato, voltará, a fim de efetuar a citação, na hora que designar.”
“Art. 229. Feita a citação com hora certa, o escrivão enviará ao réu carta,
telegrama ou radiograma, dando-lhe de tudo ciência.”
O artigo 229 exige comunicação adicional ao réu, de forma a preservar suas chances
de contraditar no processo. Se esta regra for desrespeitada, o STJ entende que a citação será
nula, mesmo já tendo sido feita.
A citação por edital, a seu turno, se opera nos casos previstos no artigo 231 do CPC:
Ao contrário do que se passa na citação por hora certa, na citação por edital não é
exigido o requisito subjetivo a ensejá-la, qual seja, a suspeita de ocultação do réu. Os
requisitos que demandam a citação por edital são todos objetivos, previstos nos incisos
deste artigo 231.
O inciso III determina que a citação por edital se dará nos casos expressos em lei.
exemplo desta previsão está no artigo 942 do CPC:
Perceba que, se não fosse real, a Fazenda não poderia ser assim citada, como
autoriza a lei, pois a Fazenda Pública não pode ser citada de forma ficta.
Casos Concretos
Questão 1
João e sua esposa propuseram ação divisória de imóvel em face de Jofre e outros
com pedido julgado procedente pelo juízo monocrático.
Os réus apelaram para anular o feito por defeito de citação, tendo o Tribunal
acolhido o recurso.
Retornando os autos à vara de origem, os autores observaram que os réus,
intimados do acórdão por publicação no D.O., estavam desde então citados, visto que a
nulidade da citação faz incidir o disposto no art. 214, § 2º do CPC. Assim sendo
pleitearam o julgamento antecipado da lide, tendo em vista que os réus deixaram
transcorrer o prazo para a contestação, conforme art. 330, II do CPC.
O juiz acolheu essa argumentação e julgou procedente o pedido.
Resposta à Questão 1
Assiste razão aos apelantes. O artigo 214, § 2º, do CPC, prevê que, comparecendo o
réu apenas para argüir a nulidade da citação, esta se considera feita desde o momento em
que houver a intimação da decisão sobre a nulidade, mas esta regra só se aplica, na sua
literalidade, quando a argüição da nulidade se passar em primeiro grau de jurisdição. Se a
nulidade for declarada em segundo grau, a contestação não poderá ser lá realizada, e por
isso não se aplica o artigo 214, § 2º, como expresso. Por isso, o STJ entende que é da
intimação em primeiro grau do acórdão de segunda instância, com o retorno dos autos à
vara de origem, que se conta este prazo.
A respeito, veja o REsp 73.186:
Questão 2
Túlio propôs ação de indenização por danos morais em face do Banco X, pelo fato
deste ter transferido a totalidade do numerário contido em sua conta-corrente para uma "
conta poupança", razão pela qual, vários cheques foram devolvidos por falta de provisão
de fundos e em conseqüência, o autor teve seu nome inscrito no cadastro de emitentes de
cheques sem fundos e SERASA, vindo a sofrer até mesmo problemas de saúde, já que
durante seus 86 anos nunca deixou de honrar com suas obrigações.
O Banco réu, após o prazo de sua contestação, pede a nulidade da citação por ter
sido efetivada pelo correio na pessoa de funcionário sem poderes para recebê-la e alega
ofensa aos arts. 12 e 215 do CPC, além da violação ao contraditório e ampla defesa.
Conclusos os autos, decida.
Resposta à Questão 2
Tecnicamente, o réu teria razão, mas para o STJ a citação é perfeitamente válida,
pois aqui vige a teoria da aparência, e para tal tese, basta que haja a presunção forte da
ciência da pessoa jurídica, como o há, in casu. Se a pessoa que recebeu a citação não
informou não ter poderes para tanto, nada há a reparar no ato citatório.
Ressalte-se que se o caso correu em juizado especial, é ainda mais simples a
solução, pois o artigo 18 da Lei 9.099/95 autoriza a citação de qualquer empregado.
Assim se posicionou o TJ/RJ, na apelação cível 2001.001.26123
Questão 3
Resposta à Questão 3
A) Sim. Em que pese certa controvérsia, o STJ entende que é possível, tendo
sumulado a matéria no enunciado 196 de sua súmula:
“Súmula 196, STJ: Ao executado que, citado por edital ou por hora certa,
permanecer revel, será nomeado curador especial, com legitimidade para
apresentação de embargos”
B) O enunciado 5.2 dos juizados especiais veda esta modalidade de citação, porque
não é compatível com a celeridade e economia processual que são buscadas nos
processos dos juizados:
“Enunciado 5.2.: Citação por hora certa. Inadmissibilidade. Não é cabível a citação
por hora certa em sede de juizados especiais cíveis.”
Tema VI
Resposta do réu. Teoria geral da exceção. Acepções diversas do termo "exceção". Objeção e exceção.
Espécies de exceções/defesas: a) processuais/instrumentais (peremptória ou dilatória); b)
meritórias/substanciais (direta ou indireta). Casos em que a lei prevê a réplica (art. 326 e art. 327, CPC).
Notas de Aula11
1. Resposta do réu
11
Aula proferida pela professora Flávia Pereira Hill, em 25/9/2008.
desta inércia, o que não haveria, em caso de mera faculdade. Por isso, a doutrina é pacífica
em caracterizar a resposta do réu como um ônus.
“Art. 297. O réu poderá oferecer, no prazo de 15 (quinze) dias, em petição escrita,
dirigida ao juiz da causa, contestação, exceção e reconvenção.”
Mesmo não tendo, neste caso, sido juntado o mandado, esta falta de juntada foi
decorrente de ato que o STJ julgou expediente malicioso do advogado do réu, e a
contestação foi tida por intempestiva.
A dilação fixada pelo juiz, a que alude o inciso V deste artigo, é a que é referida no
artigo 232, IV, do CPC:
Um outro julgado curioso sobre o tema é o REsp 1.020.729, no qual o STJ entendeu
inexistente a juntada de um mandado aos autos que foi efetivada por estagiário do cartório:
Em combinação com este artigo 191, aplica-se o inciso III do artigo 241, que
determina que o termo a quo, deste prazo que agora é de trinta dias, será a juntada aos autos
do último mandado cumprido.
Num caso curioso enfrentado pelo STJ, havendo dois litisconsortes passivos, tendo
sido um dos réus citado e o respectivo mandado juntado aos autos, o outro deixou de
constituir advogado, e não contestou. O primeiro réu, crendo que seu prazo seria em dobro,
pois presumiu que o segundo réu teria constituído advogado diferente, apenas contestou em
prazo posterior aos quinze dias, mas anterior aos trinta que entendia corretos. Veja que, sob
a moldura legal, o prazo seria simples, pois nunca houve mais de um patrono na causa;
todavia, o STJ, no REsp 683.956, resguardou a boa-fé do primeiro réu, mesmo porque ele
não teria como adivinhar que o segundo réu não constituiria patrono algum. Veja:
Desde quando a revelia for decretada, porém, é claro que o prazo será simples.
Para a Fazenda Pública ou o MP, o prazo é quadruplicado, na forma do artigo 188
do CPC:
“Art. 5º. O juiz, se não tiver fundadas razões para indeferir o pedido, deverá julgá-
lo de plano, motivando ou não o deferimento dentro do prazo de setenta e duas
horas.
§ 1º. Deferido o pedido, o juiz determinará que o serviço de assistência judiciária,
organizado e mantido pelo Estado, onde houver, indique, no prazo de dois dias
úteis o advogado que patrocinará a causa do necessitado.
§ 2º. Se no Estado não houver serviço de assistência judiciária, por ele mantido,
caberá a indicação à Ordem dos Advogados, por suas Seções Estaduais, ou
Subseções Municipais.
§ 3º. Nos municípios em que não existirem subseções da Ordem dos Advogados do
Brasil. o próprio juiz fará a nomeação do advogado que patrocinará a causa do
necessitado.
§ 4º. Será preferido para a defesa da causa o advogado que o interessado indicar e
que declare aceitar o encargo.
§ 5° Nos Estados onde a Assistência Judiciária seja organizada e por eles mantida,
o Defensor Público, ou quem exerça cargo equivalente, será intimado
pessoalmente de todos os atos do processo, em ambas as Instâncias, contando-se-
lhes em dobro todos os prazos.”
O § 2º do artigo 214 do CPC, já bem abordado, trata do comparecimento espontâneo
do réu aos autos. Vindo apenas com a finalidade de argüir nulidade da citação, a data em
que o réu for intimado da decisão em que o juiz reconhece a nulidade da citação será o dies
a quo do prazo para contestar. O § 1º deste artigo estabelece que, havendo a contestação já
na mesma oportunidade da argüição da nulidade da citação, esta será tempestiva, se for
realmente constatada a nulidade.
“Art. 298. Quando forem citados para a ação vários réus, o prazo para responder
ser-lhes-á comum, salvo o disposto no art. 191.
Parágrafo único. Se o autor desistir da ação quanto a algum réu ainda não citado, o
prazo para a resposta correrá da intimação do despacho que deferir a desistência.”
Os demais réus, que terão o processo prosseguindo contra si, terão o prazo para
resposta correndo desde a intimação desta desistência. Se o juiz homologar a desistência de
um réu, e dentre os remanescentes houver algum ainda não citado, observar-se-á para este
réu a regra geral do artigo 241, III, do CPC, ou seja, o prazo começará a correr desde a data
de juntada aos autos do último aviso de recebimento ou mandado citatório cumprido. Esta
dinâmica, inclusive, já foi alvo de julgado no STJ – REsp 727.065 –, quando esta corte
anulou decisão que considerava revel o réu com base apenas na aplicação do artigo 298,
parágrafo único, sem considerar o que dispõe o artigo 241, III, do CPC:
“Art. 173. Durante as férias e nos feriados não se praticarão atos processuais.
Excetuam-se:
I - a produção antecipada de provas (art. 846);
II - a citação, a fim de evitar o perecimento de direito; e bem assim o arresto, o
seqüestro, a penhora, a arrecadação, a busca e apreensão, o depósito, a prisão, a
separação de corpos, a abertura de testamento, os embargos de terceiro, a
nunciação de obra nova e outros atos análogos.
Parágrafo único. O prazo para a resposta do réu só começará a correr no primeiro
dia útil seguinte ao feriado ou às férias.”
Já a oposição de exceção não tem o condão de fazer preclusa a defesa, que poderá,
ainda, contestar ou reconvir após a exceção. Veja, neste sentido, o REsp 457.710:
Em procedimentos especiais, o prazo para resposta, por vezes, é mais exíguo. Veja o
artigo 890, § 1º do CPC:
“Art. 890. Nos casos previstos em lei, poderá o devedor ou terceiro requerer, com
efeito de pagamento, a consignação da quantia ou da coisa devida.
§ 1o Tratando-se de obrigação em dinheiro, poderá o devedor ou terceiro optar
pelo depósito da quantia devida, em estabelecimento bancário, oficial onde houver,
situado no lugar do pagamento, em conta com correção monetária, cientificando-se
o credor por carta com aviso de recepção, assinado o prazo de 10 (dez) dias para a
manifestação de recusa.
(...)
“Art. 278. Não obtida a conciliação, oferecerá o réu, na própria audiência, resposta
escrita ou oral, acompanhada de documentos e rol de testemunhas e, se requerer
perícia, formulará seus quesitos desde logo, podendo indicar assistente técnico.
(...)”
“Art. 30. A contestação, que será oral ou escrita, conterá toda matéria de defesa,
exceto argüição de suspeição ou impedimento do Juiz, que se processará na forma
da legislação em vigor.”
O artigo 902, II, do CPC, traz também prazo exíguo para a resposta da ação de
depósito, prazo de cinco dias:
A ação de prestação de contas tem prazo de cinco dias para a contestação, na forma
do artigo 915 do CPC:
“Art. 915. Aquele que pretender exigir a prestação de contas requererá a citação
do réu para, no prazo de 5 (cinco) dias, as apresentar ou contestar a ação.
(...)”
Por fim, o Decreto-Lei 911/69 trazia no artigo 3º, § 1º, prazo de apenas três dias
para contestar a busca e apreensão em alienação fiduciária, mas esta previsão foi alterada,
em 2004, quando o prazo passou a ser de quinze dias, na forma do atual artigo 3º, § 3º. Veja
o antigo § 1º e o atual § 3º deste artigo:
De acordo com o artigo 297 do CPC, três são as modalidades de resposta pelo réu,
as consabidas contestação, reconvenção e exceções. A contestação será alvo de estudo
amiúde adiante, dada sua relevância.
Dinamarco e Didier defendem que, na verdade, a análise sistemática do CPC faz
depreender que as modalidades de resposta vão além destas três mencionadas, como a
impugnação ao valor da causa ou à gratuidade de justiça, ou o incidente de falsidade
documental, etc. Mas a doutrina, em geral, não passa, no tema resposta do réu, das três
modalidades assim nominadas pelo legislador.
A reconvenção consiste, de fato, em um contra-ataque, mais do que uma mera
resposta. É uma ação incidente no bojo do mesmo processo, em que o réu original se torna
autor, formulando pedidos contra o autor original.
O artigo 297 do CPC traz também as exigências formais da resposta do réu. Reveja:
“Art. 297. O réu poderá oferecer, no prazo de 15 (quinze) dias, em petição escrita,
dirigida ao juiz da causa, contestação, exceção e reconvenção.”
Assim, a resposta do réu deve ser escrita (no procedimento comum ordinário), e
deve ser dirigida ao juiz da causa, mesmo se se tratar de exceção de incompetência. Mas
veja que pode parecer estranho que o réu se dirija, formulando postulação, a juiz que
entende incompetente: parece ser contraditória, esta atuação. Todavia, vige aqui o princípio
da competência sobre competência, do alemão kompetenz-kompetenz, que determina que o
juiz é competente ao menos para declarar sua incompetência, ou seja, há sempre ao menos
este mínimo de competência em todo juízo.
A clara separação entre a relação jurídica de direito processual e a de direito
material é um marco significativo na análise das espécies de defesa. A relação processual,
relação de ordem pública, se inicia com a propositura da ação, pelo autor, e se angulariza,
se aperfeiçoa, com a citação válida da parte ré, quando então jungem-se os três grandes
personagens do processo – autor, juiz e réu.
A relação jurídica de direito material, por sua vez, é a própria controvérsia de direito
travada entre as partes, é o próprio objeto do litígio entre parte autora e parte ré. Se for um
direito público o que a fundamenta, a relação será de direito público; se for privado, a
relação é privada. A relação jurídica de direito material será revelada na causa de pedir e no
pedido mediato formulado pela parte autora.
Se duas relações jurídicas são contidas no processo, há defesas que serão pertinentes
a uma, e outras que serão referentes a outra: há defesas de direito material, e defesas de
direito processual. Vejamos, então, as defesas processuais e as defesas de mérito.
São também chamadas defesas instrumentais, ou defesas de rito. Estas defesas, por
óbvio, se insurge contra aspectos formais, que dizem respeito apenas à relação jurídica de
direito processual.
Classificam-se as defesas processuais em peremptórias, ou próprias; ou dilatórias,
impróprias.
A defesa peremptória é aquela que, caso acolhida, põe fim ao processo, sendo este
extinto sem resolução do mérito. São exemplos clássicos a alegação defensória de ausência
de pressupostos processuais ou de condições da ação.
A defesa dilatória, por sua vez, quando acolhida, não enseja a extinção do processo,
mas apenas a regularização de um vício formal. O que ela acarreta é apenas um
dilargamento do processo, um prolongamento do seu curso, para que seja regularizado o
vício alegado e constatado. Exemplo claro é a alegação da nulidade da citação, ou as
exceções, em geral.
O provimento jurisdicional de acolhimento de uma defesa imprópria, dilatória, é
uma decisão interlocutória, pois, como se viu, o processo não se extingue. Mas há exceções
em que uma defesa que, em tese, seria dilatória, acaba por se demonstrar, no caso concreto,
peremptória. Imagine-se, por exemplo, uma irregularidade de representação da parte autora:
o juiz fixará prazo para a regularização da representação, mas se este prazo correr in albis,
ou se a parte não cumprir corretamente a regularização determinada, a confirmação e não
sanação do vício fará com que o processo seja extinto.
“Art. 326. Se o réu, reconhecendo o fato em que se fundou a ação, outro lhe
opuser impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, este será ouvido
no prazo de 10 (dez) dias, facultando-lhe o juiz a produção de prova documental.”
Outro exemplo é o dos embargos à execução, em que a própria ação tem por mérito
questão processual ocorrida no processo de execução. Ao refutar o mérito, nestes casos, o
réu estará tratando de questão processual, mas ainda é defesa de mérito, pois este é uma
questão processual, nestas ações.
O termo “exceção” tem uma acepção bem ampla, em geral, no tratamento dos
autores sobre o tema. Em regra, exceções são todas as defesas que se referem a
impedimento, suspeição ou incompetência do juízo.
Por outro lado, o sentido estrito do termo “exceção” só pode se referir a argüição de
matéria de defesa que depende necessariamente da manifestação pela parte ré, não podendo
ser conhecidas de ofício pelo juiz. Bom exemplo é a exceção de contrato não cumprido, a
exceptio non adimpleti contractus: é preciso que a parte ré argua esta matéria, não sendo
dado ao juiz dela conhecer de ofício – é exceção em sentido estrito, portanto. Da mesma
forma, a exceção de incompetência relativa do juízo, ou a de compromisso arbitral.
Quando a matéria em questão for passível de conhecimento de ofício pelo juiz, sem
que seja necessária a provocação da parte ré, não se trata, em análise estrita, de uma
exceção, mas sim de uma objeção. Como exemplo, o impedimento ou a suspeição, ou a
incompetência absoluta, ou ainda a litispendência.
Como dito, o termo “exceção”, em amplo sentido, abarca ambas as matérias –
exceção stricto sensu e objeção –, pois o legislador emprega este termo para identificar o
instrumento pelo qual serão deduzidas estas questões em juízo. São as exceções
instrumentais, ou seja, o instrumento de defesa denominado “exceção”, que pode conter
matéria de exceção estrita ou objeção.
Há inclusive defesas de mérito que são objeções, quais sejam, a decadência e, desde
há pouco tempo, a própria prescrição, ou a nulidade absoluta de um negócio jurídico, como
dispõem os artigos 168, parágrafo único, e 424 do CC:
“Art. 168. As nulidades dos artigos antecedentes podem ser alegadas por qualquer
interessado, ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir.
Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer
do negócio jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo
permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes.”
“Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia
antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio.”
A regra, no processo civil, é que a parte ré reúna toda a matéria de defesa na sua
contestação, seja defesa de mérito, seja defesa processual. Daí vem a aplicação do princípio
da eventualidade, ou concentração, que será mais bem abordado adiante. O legislador,
quando pretender que alguma matéria venha em instrumento apartado, fará constar esta
exigência expressamente, como o faz para as exceções de incompetência, impedimento ou
suspeição.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
Questão 3
Resposta à Questão 3
Agiu errado o juiz, pois não há litispendência: se a parte autora desistiu do pedido, o
qual caracterizaria tal situação se fosse mantido, fez com que a relação não mais contivesse
tal pedido, não havendo causa para entender litispendente, portanto. Tampouco há
continência (chamada pela doutrina de litispendência parcial), pelo mesmo motivo, ou seja,
a inexistência do pedido que foi alvo de desistência.
A litispendência é uma defesa processual própria, peremptória, que enseja extinção
do processo sem resolução do mérito, na forma do artigo 267, V, do CPC. A continência, de
seu lado, é defesa processual imprópria, dilatória, porque apenas posterga o julgamento dos
processos que serão reunidos no juízo do processo que tem o objeto maior, e não a extinção
do feito.
Ambas podem ser reconhecidas de ofício, sendo matérias de ordem pública.
Questão 4
O que entende por questão preliminar e questão prejudicial? Elas são alcançadas
pelos efeitos objetivos da coisa julgada ? Explique o entendimento.
Resposta à Questão 4
A questão preliminar é defesa processual, devendo ser examinada pelo juiz antes do
mérito, mesmo porque pode impedir que o mérito seja julgado. A prejudicial, por sua vez, é
defesa material que deve ser analisada antes da principal, por ser logicamente antecedente a
esta, por seu exame influenciar o julgamento do mérito.
As questões preliminares sequer dizem respeito ao mérito, pois são defesas
processuais, e por isso é claro que não sofrem efeitos objetivos da coisa julgada – mesmo se
acolhidas, a sentença é terminativa. As questões prejudiciais, igualmente, não integram o
mérito, mesmo sendo questões de direito material, pois como são questões prévias, fazem
parte apenas da ratio decidendi, e não do dispositivo da decisão – também não sofrendo
efeitos da coisa julgada.
Tema VII
Contestação. Forma e prazo (comum ou especial). Princípio da eventualidade e novas teses defensivas
apresentadas posteriormente (art. 303, CPC). Ônus da impugnação especificada. Questões preliminares (art.
301, CPC) e sua distinção com as questões prejudiciais (internas ou externas).
Notas de Aula12
1. Contestação
A contestação é conceituada pela doutrina como o instrumento pelo qual o réu vai
opor defesas processuais ou de mérito à pretensão deduzida pela parte autora. Assim como
a petição inicial é o instrumento da demanda, a contestação, paralelamente, é o instrumento
de defesa.
A contestação conta com alguns requisitos formais, presentes na lei, e
complementados pela doutrina. No procedimento comum ordinário, a contestação é
12
Aula proferida pela professora Flávia Pereira Hill, em 25/9/2008.
“Art. 396. Compete à parte instruir a petição inicial (art. 283), ou a resposta (art.
297), com os documentos destinados a provar-lhe as alegações.”
Partindo da análise deste enunciado, mesmo que seja decretada a revelia do réu,
mesmo sendo desentranhada dos autos a contestação, os documentos anexos à contestação
permanecerão nos autos, pois, afinal, foram apresentados ainda na fase postulatória, e
portanto em tempo hábil. Este raciocínio, mais do que apenas interpretar a súmula em
comento, implementa princípios de direito probatório à perfeição, como o da aquisição
processual da prova, por exemplo, que determina que a prova pertence aos autos, e não às
partes, desde quando apresentada.
O réu vai requerer a providência correspondente a sua defesa, qual seja, a extinção
sem resolução do mérito, se a defesa for processual própria, ou a improcedência do pedido,
se a defesa for meritória, nada impedindo que sejam consignados ambos os pedidos na
mesma contestação, como se verá. É também da praxe que o réu requeira a condenação da
parte autora nas verbas de sucumbência.
O artigo 38 do CPC exige que o réu apresente, junto com a contestação, o
instrumento de mandato para seu advogado; no artigo 39 do CPC, há a exigência da
indicação do endereço para recebimento das intimações. Veja:
“Art. 38. A procuração geral para o foro, conferida por instrumento público, ou
particular assinado pela parte, habilita o advogado a praticar todos os atos do
processo, salvo para receber citação inicial, confessar, reconhecer a procedência do
pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito sobre que se funda a ação, receber,
dar quitação e firmar compromisso.
Parágrafo único. A procuração pode ser assinada digitalmente com base em
certificado emitido por Autoridade Certificadora credenciada, na forma da lei
específica.”
O artigo 300 do CPC, já transcrito, assevera que compete ao réu alegar toda a
matéria de defesa na contestação. A regra, portanto, é a concentração de toda a matéria de
defesa neste momento, nesta peça. Trata-se, aqui, da vigência do princípio da
eventualidade, ou concentração.
Destarte, seja defesa processual, seja de mérito, deve haver a concentração na
contestação. Sempre que houver exceção a esta concentração, ela virá expressamente
prevista na lei, como é o caso das exceções de incompetência relativa, impedimento ou
suspeição, defesas processuais que devem ser argüidas em instrumento apartado da
contestação.
Tendo em vista que a eventualidade exige a concentração das matérias na mesma
peça, aparece como resultado lógico a possibilidade de consignação, pelo réu, de defesas
contraditórias entre si. Mesmo que pela lógica as afirmativas não possam ser feitas
concomitantemente, o réu deverá tecê-las assim mesmo, pois não terá outra oportunidade
para fazê-lo no processo: se deixar de consignar alguma tese defensiva, não poderá fazê-lo
adiante, pois operou-se a preclusão consumativa da defesa.
Mas há exceções a esta preclusão consumativa, em que será permitido que o réu
deduza novas teses após a apresentação da contestação. Constam do artigo 303 do CPC:
“Art. 462. Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, modificativo
ou extintivo do direito influir no julgamento da lide, caberá ao juiz tomá-lo em
consideração, de ofício ou a requerimento da parte, no momento de proferir a
sentença.”
“Art. 22. O réu que, por não argüir na sua resposta fato impeditivo, modificativo
ou extintivo do direito do autor, dilatar o julgamento da lide, será condenado nas
custas a partir do saneamento do processo e perderá, ainda que vencedor na causa,
o direito a haver do vencido honorários advocatícios.”
Destarte, na primeira oportunidade que for dado ao réu em manifestar-se nos autos,
deverá trazer este direito superveniente, sob pena de arcar com as custas decorrentes do
retardamento – mesmo sagrando-se vencedora ao final.
Repare que se o fato ocorre antes da contestação, em regra, não pode ser
considerado direito superveniente. Todavia, se porventura este fato impeditivo,
modificativo ou extintivo pretérito não chegou ao conhecimento do réu a tempo de sobre
ele falar na sua contestação, poderá ser tido por superveniente, e, como tal, poder ser
deduzido após a contestação?
Há duas correntes a disputar o tema. A primeira, majoritária, entende que o artigo
303, I, do CPC, deve ser interpretado restritivamente, ou seja, o direito não será
considerado superveniente: só é assim considerado o direito surgido após a apresentação da
contestação, e não descoberto após a contestação. A segunda corrente, capitaneada por
Cândido Rangel Dinamarco, entende que esta argüição tardia é possível, desde que
comprove não ter tido ciência de tais fatos a tempo de mencioná-los na contestação.
Calmon de Passos, reforçando esta tese, busca fundamento em analogia do artigo 517 do
CPC:
“Art. 517. As questões de fato, não propostas no juízo inferior, poderão ser
suscitadas na apelação, se a parte provar que deixou de fazê-lo por motivo de força
maior.”
O inciso II do artigo 303 determina que as questões de ordem pública, se podem até
mesmo serem conhecidas de ofício pelo juiz, nada obsta que sejam a este noticiadas pelo
réu, mesmo após a contestação. Veja: se a matéria, para ser conhecida, prescinde de
qualquer provocação, esta provocação, se realizada, não causa qualquer anormalidade
processual, mesmo se feita após o momento em que fora dado ao réu consigná-la.
O artigo 267, § 3º, do CPC, impõe que, neste caso, este atraso causado pela
desatenção do réu seja punido com os ônus processuais. Veja:
“Art. 211. Se a decadência for convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-
la em qualquer grau de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação.”
“Art. 302. Cabe também ao réu manifestar-se precisamente sobre os fatos narrados
na petição inicial. Presumem-se verdadeiros os fatos não impugnados, salvo:
I - se não for admissível, a seu respeito, a confissão;
II - se a petição inicial não estiver acompanhada do instrumento público que a lei
considerar da substância do ato;
III - se estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto.
Parágrafo único. Esta regra, quanto ao ônus da impugnação especificada dos fatos,
não se aplica ao advogado dativo, ao curador especial e ao órgão do Ministério
Público.” (grifo nosso)
O termo “precisamente” é o que sintetiza este ônus: é necessário que o réu trate
especificamente de cada fato posto na inicial, não bastando a negativa geral como defesa.
Este dispositivo relativamente novo cria outro efeito da não impugnação específica
dos fatos: o pedido incontroverso autoriza a antecipação de sua tutela. O artigo 330, I, do
CPC, traz previsão similar, ainda mais relevante:
processo em que o mérito que dela depende for ser resolvido. A prejudicial é externa, por
óbvio, quando for suscitada em processo diverso daquele em que a questão principal
subordinada for ser resolvida, ou, ainda, quando ela for a própria questão principal de outro
processo. Vislumbra-se, inclusive, conexão entre o processo em que a prejudicial externa é
questão principal e aquele em que há questão principal a ela subordinada.
Quanto ao ramo do direito, a questão prejudicial pode ser homogênea, se pertence
ao mesmo ramo do direito da questão principal; ou pode ser heterogênea, quando pertence
a ramo do direito diverso daquele a que pertence a questão principal. Exemplo de
prejudicial homogênea é uma alegação de compensação em ação de cobrança; heterogênea,
a autoria de fato criminoso como ensejador de danos indenizáveis na esfera cível.
Vale consignar que, sendo este caso de prejudicial externa heterogênea da seara
criminal, o juiz cível pode sobrestar o feito até que a prejudicial criminal (que é principal
no processo criminal em curso) se resolva, a fim de evitar decisões altamente conflituosas e
contraditórias.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Em regra, não: há preclusão consumativa, pois o direito não pode ser considerado
superveniente, e por isso não se subsume à exceção do artigo 303, I, do CPC. Todavia, há
doutrina que defende que a comprovação da descoberta de tal fato pelo réu somente após a
contestação, é suficiente para torná-lo argüível em separado, em momento ulterior.
Prevalece, porém, o primeiro entendimento.
Questão 2
compensação de créditos, o réu, no 15º dia, apresenta petição com a finalidade de aditar
sua contestação e argüir essas duas questões.
Pergunta-se: É admissível, em geral, o aditamento à contestação, se essa ocorre
ainda no prazo de resposta? As questões trazidas pelo réu na petição de aditamento, ainda
no prazo de resposta, podem ser apreciadas pelo juízo?
Resposta à Questão 2
Questão 3
Princípio da Eventualidade.
a) Conceito jurídico-processual;
b) Seu objetivo e utilidade;
c) Qual o outro princípio processual que o assegura?
Resposta à Questão 3
Tema VIII
Revelia. Conceito. Efeitos materiais e processuais. Comentários ao art. 320 do CPC. Nomeação do curador
especial e o seu papel no processo civil. Revelia no processo de execução e no processo cautelar. Revelia na
ação monitória e nos embargos do executado. Revelia na reconvenção.
Notas de Aula13
1. Revelia
13
Aula proferida pelo professor Sérgio Mandelblatt, em 26/9/2008.
“Súmula 231, STF: O revel, em processo cível, pode produzir provas, desde que
compareça em tempo oportuno.”
Veja então que, ocorrida a revelia, se o juiz entender que não mais há que se
produzir provas, diante das já existentes e da presunção de veracidade das alegações do
autor, poderá julgar o feito no estado. Mas veja que não estará obrigado a proferir sentença,
muito menos a, proferindo-a, julgar procedente o pedido do autor. Ainda vige o livre
convencimento motivado, e o juiz pode, até mesmo, se auto-instruir, na forma do artigo 130
do CPC:
O artigo 320 do CPC prevê três exceções ao efeito material da revelia, em que não
haverá presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor, mesmo estando ausente a
contestação. Veja:
Quando não se operar o efeito material da revelia, qualquer que seja a hipótese,
menciona o artigo 324 do CPC a atitude a ser tomada pelo juiz:
“Art. 324. Se o réu não contestar a ação, o juiz, verificando que não ocorreu o
efeito da revelia, mandará que o autor especifique as provas 15 que pretenda
produzir na audiência.”
O inciso III, por fim, estabelece que se a inicial não vier acompanhada de um
documento essencial à prova do ato, não se poderá presumir que este ato, carecedor de
prova indispensável por força de lei, seja verdadeiro. Exemplo claro é o de uma relação
15
Como curiosidade, este é o único caso em que a lei determina que haja a expedição do despacho de
especificação de provas, mesmo que a praxe tenha tornado comum este despacho em qualquer situação.
jurídica que demande prova do casamento: este só se prova pela certidão de casamento, e se
o autor alega ser casado, mas não junta a certidão, mesmo que o réu não conteste a alegação
de casamento, não se poderá presumir que seja esta alegação verdadeira.
Há ainda mais duas exceções à presunção de veracidade no CPC, nos artigos 52 e
9º, II. O artigo 52 trata da assistência:
“Art. 52. O assistente atuará como auxiliar da parte principal, exercerá os mesmos
poderes e sujeitar-se-á aos mesmos ônus processuais que o assistido.
Parágrafo único. Sendo revel o assistido, o assistente será considerado seu gestor
de negócios.”
Se o assistente intervir, o réu revel terá nele a figura do seu gestor de negócios, que
se trata de um substituto processual, gestor da posição processual do réu na lide, sem
qualquer poder de disposição material pelo réu, contudo, não podendo transacionar ou
renunciar, por exemplo. Ressalte-se que se trata, aqui, do assistente simples, pois se for
assistente litisconsorcial, a hipótese é a já mencionada situação do artigo 320, I, do CPC.
O artigo 9º, II, traz figura de majorada importância: trata-se do curador especial.
Veja:
A citação por edital e a citação com hora certa, como se sabe, são citações fictas, nas
quais não há certeza de que o réu teve realmente ciência da lide. Sendo assim, ao quedar-se
revel, há forte indício que jamais teve ciência efetiva da lide, pelo que seria injusto que se
operasse plenamente o efeito material da revelia. De forma a equilibrar este grande
desfavor em que este réu se encontra, o legislador previu-lhe esta figura do curador
especial, curador à lide.
Na justiça estadual do Rio de Janeiro, este papel é desempenhado pela defensoria
pública; na justiça do trabalho, há os advogados dativos e os escritórios modelo, que
desempenham este papel pro bono.
Veja que é uma situação bem peculiar, em que um patrono assume a defesa do
passivo sem sequer ter qualquer conhecimento dos fatos, sem sequer conhecer o seu
patrocinado. Por isso, a lei ainda lhe garante uma outra benesse, a fim de minimizar sua
desvantagem processual: não está, o curador à lide, sujeito aos ônus da impugnação
específica, trazidos no artigo 302 do CPC, já bem abordado. O curador especial poderá
fazer, validamente, e sem induzir à presunção de veracidade, uma contestação por negativa
geral.
fez controvertida, pois não contestou-a. Mesmo por isso, há autores que defendem que seria
descabida a declaratória incidental.
Contudo, em casos concretos é comum se verificar situações em que, apesar da
revelia, a relação jurídica acaba se tornando controvertida, como nas próprias exceções ao
efeito material, já arroladas. Tem lugar, então, por expressão legal, a declaratória incidental,
com a ressalva que o artigo 321 do CPC consigna:
“Art. 321. Ainda que ocorra revelia, o autor não poderá alterar o pedido, ou a
causa de pedir, nem demandar declaração incidente, salvo promovendo nova
citação do réu, a quem será assegurado o direito de responder no prazo de 15
(quinze) dias.”
Por este dispositivo, fica claro o cabimento da ação declaratória incidental, mas o
autor deverá promover nova intentada citatória do réu revel.
1.4. Confissão ficta em depoimento pessoal vs. confissão ficta por revelia
se falar em revelia do executado que não responde à execução – o direito já é certo, não
havendo fatos a serem presumidos verdadeiros, mas apenas obrigação a ser satisfeita.
A lei é expressa: há revelia e seus efeitos materiais neste processo. Assim dispõe o
artigo 803 do CPC:
“Art. 803. Não sendo contestado o pedido, presumir-se-ão aceitos pelo requerido,
como verdadeiros, os fatos alegados pelo requerente (arts. 285 e 319); caso em que
o juiz decidirá dentro em 5 (cinco) dias.
Parágrafo único. Se o requerido contestar no prazo legal, o juiz designará
audiência de instrução e julgamento, havendo prova a ser nela produzida.”
Casos Concretos
Questão 1
Maria ingressou em juízo com ação de separação judicial litigiosa em face do seu
marido Caio, alegando gravíssima violação do dever matrimonial de fidelidade.
O réu, citado pessoalmente não contesta.
O juiz saneia o processo e determina a realização de AIJ para que a autora
comprove os fatos que alega, tendo em vista que a indisponibilidade do direito em jogo
inviabiliza a presunção de veracidade dos fatos alegados na inicial.
A autora requer a reconsideração da decisão, ao argumento de que, se era possível
o casal se separar consensualmente, como se poderia falar em indisponibilidade do direito
em litígio?
Decida o pedido de reconsideração.
Resposta à Questão 1
As partes podem dispor dos efeitos do direito, o qual é, em si, indisponível, de fato.
Sobre o direito indisponível, as partes não podem transigir, mas os efeitos destes direitos
são transacionáveis. É por isso que o MP intervém, a fim de resguardar estes direitos
indisponíveis. Destarte, a autora deverá, de fato, provar suas alegações, pois não há efeito
material da revelia, vez que os efeitos são passíveis de acordo: o que não seria admissível
seria, por exemplo, uma separação consensual sem preencher o tempo mínimo de
casamento. Não há que se reconsiderar.
Questão 2
Resposta à Questão 2
É claro que não há revelia, pois esta é, de fato, a carência da contestação. O que
poderia se passar, aqui, era a confissão por ausência do réu, mas sequer isso será cabível,
porque o preposto está regularmente constituído, e nada há a reparar na representação. Por
isso, errada a atuação do juiz.
O TJ/RJ assim se posicionou no agravo de instrumento 2001.002.15600:
Tema IX
Impugnação ao valor da causa. Prazo e forma para esta matéria ser veiculada. Possibilidade de o juiz
retificar ou não de ofício o valor da causa, quando este é critério determinante do procedimento ou da
competência do juízo. Conseqüências da decisão para o processo. Recursos. Impugnação à gratuidade de
justiça. Prazo e forma para esta matéria ser veiculada. Conseqüências da decisão para o processo. Recursos
(Lei nº 1.060/50): princípio da fungibilidade.
Notas de Aula16
“Art. 125. Nas ações relativas a locações, considera-se como valor do pedido:
(...)
II - nas ações renovatórias, inicialmente, o aluguel mensal que o autor oferecer
pagar, multiplicado por 24 (vinte e quatro); se a decisão final fixar aluguel superior
ao proposto na inicial, será devida a taxa calculada sobre a diferença entre o
aluguel proposto e o fixado, relativo a 24 (vinte e quatro) meses;
(...)”
“Art. 58. Ressalvados os casos previstos no parágrafo único do art. 1º, nas ações de
despejo, consignação em pagamento de aluguel e acessório da locação, revisionais
de aluguel e renovatórias de locação, observar - se - á o seguinte:
(...)
III - o valor da causa corresponderá a doze meses de aluguel, ou, na hipótese do
inciso II do art. 47, a três salários vigentes por ocasião do ajuizamento.
(...)”
Estes valores legais devem ser obrigatoriamente observados. Mas a lei não trata de
todas as hipóteses possíveis, e por isso surgem casos que não são solucionados em critérios
legais, e quando assim o for, cabe ao autor, discricionariamente, arbitrar o valor que
entender correto e suficiente, correspondente ao valor econômico que busca.
Feita esta distinção, doutrina e jurisprudência entendem, de forma uníssona, que em
se tratando de valor legal, o juiz pode determinar a correção ex officio, pois estará apenas
fazendo com que a lei seja observada.
Contudo, quando o critério não for legal, sendo valor estimado pelo autor, de forma
subjetiva, há severa divergência: a posição majoritária defende que o juiz não pode retificar
de ofício este valor, sendo necessária a impugnação pelo réu. Esta corrente parte de uma
interpretação sistemática, pois o princípio da inércia, princípio dispositivo, exige que não
pode o juiz atuar sem provocação, quando a questão é dada à atuação das partes. A regra é a
inércia, somente podendo haver atuação oficiosa quando o interesse em jogo for de
natureza pública.
Por isso, quando o legislador especifica na lei algum critério objetivo para o valor
da causa, o respeito a este critério é questão de ordem pública. Quando deixa à
discricionariedade das partes, a fixação será mero interesse privado.
A corrente minoritária, que encontra amparo até mesmo no STJ, ampara-se
exclusivamente no princípio da razoabilidade e proporcionalidade. Ainda que não haja
impugnação do valor estimado da causa pelo réu, entende esta tese que o valor
excessivamente alto ou excessivamente baixo em relação ao pedido mediato, ao bem da
vida, ao propósito econômico buscado pelo autor, não é razoável, e pode ser retificado de
ofício pelo juiz.
Veja que o juiz e o escrivão são responsáveis pela exatidão do recolhimento da
taxa judiciária, na forma do artigo 30 da Lei Estadual 3.350/99, e por isso é que exerce esta
função fiscalizatória do seu recolhimento:
2. Gratuidade de justiça
“Art. 2º. Gozarão dos benefícios desta Lei os nacionais ou estrangeiros residentes
no país, que necessitarem recorrer à Justiça penal, civil, militar ou do trabalho.
Parágrafo único. - Considera-se necessitado, para os fins legais, todo aquele cuja
situação econômica não lhe permita pagar as custas do processo e os honorários de
advogado, sem prejuízo do sustento próprio ou da família.”
“Art. 4º. A parte gozará dos benefícios da assistência judiciária, mediante simples
afirmação, na própria petição inicial, de que não está em condições de pagar as
custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo próprio ou de sua
família.
§ 1º. Presume-se pobre, até prova em contrário, quem afirmar essa condição nos
termos desta lei, sob pena de pagamento até o décuplo das custas judiciais.
§ 2º. A impugnação do direito à assistência judiciária não suspende o curso do
processo e será feita em autos apartados.
§ 3º A apresentação da carteira de trabalho e previdência social, devidamente
legalizada, onde o juiz verificará a necessidade da parte, substituirá os atestados
exigidos nos §§ 1º e 2º deste artigo.
Mas veja que o juiz, que é quem decide se concede ou não a gratuidade, não está
obrigado a aceitar tal declaração como verdadeira. Significa, sim, que o juiz não pode
indeferir a gratuidade com o fundamento de que a parte só fez constar esta declaração. Veja:
para indeferir a concessão, se o juiz tiver a impressão que a parte pode pagar as custas,
deverá fundamentar sua negativa em outros aspectos percebidos, ou seja, deverá investigar
a necessidade de que haja realmente este benefício, determinando à parte que junte provas
tais que afastem a suspeita de que há condições em pagar tais custas. O que a declaração faz
é criar presunção de insuficiência de recursos, mas esta presunção pode ser afastada por
provas – é relativa, portanto.
A lei não faz qualquer distinção entre pessoas naturais e jurídicas, ambas podendo
receber o benefício. Contudo, a hipossuficiência da pessoa jurídica é mais difícil de se
verificar, efetivamente, mas não é impossível que exista. Exemplo claro é uma pessoa
jurídica que esteja em recuperação judicial, ou uma que não tenha fins lucrativos.
Outra situação cabível é o indeferimento da concessão, mas com o adiamento do
pagamento das custas para o final do processo. Nada impede que o juiz, indeferindo a
gratuidade, postergue o pagamento dos valores para o final da lide, quando a parte poderá,
até mesmo, desincumbir-se desta obrigação, vez que pode triunfar.
A gratuidade pode ser requerida e concedida a qualquer tempo do processo, pois
trata-se de um benefício atinente à situação econômica da parte. Se, no curso do processo, a
parte que inicialmente era economicamente capaz de custear o processo, tornar-se
economicamente hipossuficiente, pode o juiz conceder-lhe a gratuidade superveniente
(jamais estornando custas pagas, porém). Da mesma forma, a parte que recebera
originalmente o benefício, e tornou-se capaz de custeio no curso do processo, terá o
benefício revogado, e deverá pagar as custas dali em diante. Veja os artigos 1.060/50
pertinentes:
“Art. 6º. O pedido, quando formulado no curso da ação, não a suspenderá, podendo
o juiz, em face das provas, conceder ou denegar de plano o benefício de
assistência. A petição, neste caso, será autuada em separado, apensando-se os
respectivos autos aos da causa principal, depois de resolvido o incidente.”
“Art. 7º. A parte contrária poderá, em qualquer fase da lide, requerer a revogação
dos benefícios de assistência, desde que prove a inexistência ou o desaparecimento
dos requisitos essenciais à sua concessão.
“Art. 12. A parte beneficiada pelo isenção do pagamento das custas ficará obrigada
a pagá-las, desde que possa fazê-lo, sem prejuízo do sustento próprio ou da família,
se dentro de cinco anos, a contar da sentença final, o assistido não puder satisfazer
tal pagamento, a obrigação ficará prescrita.”
Casos Concretos
Questão 1
Antonio moveu ação de cobrança em face de José Carlos atribuindo à causa valor
superior ao somatório do principal, da pena e dos juros vencidos até a propositura da
ação. O magistrado, sem que o réu tenha impugnado o valor atribuído à causa no prazo
legal, de ofício, reduz o valor atribuído à causa aos patamares legais. Indaga-se: Poderia
o magistrado, sem que tenha havido demanda autônoma de impugnação ao valor da causa
proposta pelo réu, reduzir de ofício o valor atribuído à causa sem violação ao artigo 261
do Código de Processo Civil?
Resposta à Questão 1
Sim, pois é hipótese de valor da causa legalmente estatuído, que pode ser retificado
de ofício pelo juiz, diferentemente do que seria se fosse valor dado ao arbítrio da parte
autora.
O STJ, no REsp 753.147, assim se posicionou:
Questão 2
Resposta à Questão 2
Questão 3
Resposta à Questão 3
De fato, há procedência nos argumentos do réu, mas não há que se falar em prova da
hipossuficiência se a sociedade é sem fins lucrativos: a jurisprudência é forte em entender
que basta a declaração de hipossuficiência. Veja que nada impede que o juiz requeira novas
provas, mas pode (e dever) manter a concessão.
O STJ, no REsp 994.397, assim se posicionou:
Tema X
Exceção como modalidade de resposta. Legitimidade, prazo, forma, juízo competente para o oferecimento e
alteração introduzida pela Lei nº 11.280/06. Matérias. Procedimento quando a matéria alegada for a
suspeição ou o impedimento. Procedimento quando a matéria impugnada for a competência relativa do juízo.
Possibilidade ou não de o juiz conhecer de ofício da competência relativa ao nulificar a cláusula que
estabelece foro de eleição em contrato de adesão (art. 112, parágrafo único, Lei nº 11.280/06).
Notas de Aula18
1. Exceção
Ocorre que estes artigos, e todos os demais que possam passar esta idéia de
autonomia, são atécnicos. A exceção realmente é autuada em apenso, como estabelece o
artigo 299 do CPC, mas não se trata de exercício de direito de ação, jamais. Veja:
Sendo decisão interlocutória, desafia agravo retido, pela regra geral, mas é de se
notar forte entendimento de que quando o juiz decide sobre competência, há urgência tal
que motiva a forma de instrumento para o agravo, justamente para evitar nulidade de atos
posteriores, se incompetente.
Pode haver caso em que o tribunal é quem vai apreciar a exceção, como ocorre
quando se trata de impedimento ou suspeição. Nestes casos, um desembargador relator
decidirá monocraticamente a exceção, em regra, nos termos do artigo 138, § 2º, do CPC:
Sendo este o caso, a decisão desafia agravo interno, inominado, na forma do artigo
557, § 1º, do CPC:
Vale ressaltar que quando se tratar de exceção de incompetência relativa, a lei exige
que o excipiente consigne expressamente qual é a competência territorial que entende
correta. Assim diz o artigo 307 do CPC:
Veja que o artigo fala em indicação do juízo, mas o correto, e possível, dada a livre
distribuição, é que indique apenas a base territorial que entende devida (a não ser que o
juízo apontado seja vara única).
As causas que indicam impedimento ou suspeição do magistrado são aquelas
trazidas no artigo 134 e 135 do CPC:
Ressalte-se, porém, que o juiz poderá declarar-se suspeito por motivo alheio a este
rol, que não pode ser considerado exaustivo. Pode o magistrado entender-se suspeito,
declarando motivo de foro íntimo, que sequer precisa ser revelado.
É de se perceber que os motivos de impedimento são mais objetivos que os motivos
de suspeição, como deixa patente o inciso I do artigo 135: a amizade ou inimizade capital é
relação cuja demonstração é de alta subjetividade.
Todos os critérios de impedimento e suspeição também se aplicam também a
servidores, aos membros do parquet, a peritos, etc.
A suspeição parece guardar relação com a incompetência relativa, assim como o
impedimento tem certa semelhança com a incompetência absoluta. Assim como esta pode
ser alegada a qualquer tempo, o impedimento também o pode, debalde o artigo 305 do CPC
estipular prazo:
“Art. 305. Este direito pode ser exercido em qualquer tempo, ou grau de
jurisdição, cabendo à parte oferecer exceção, no prazo de 15 (quinze) dias, contado
do fato que ocasionou a incompetência, o impedimento ou a suspeição.
Parágrafo único. Na exceção de incompetência (art. 112 desta Lei), a petição pode
ser protocolizada no juízo de domicílio do réu, com requerimento de sua imediata
remessa ao juízo que determinou a citação.”
Pode haver exceção na execução? A regra é que possa. Todavia, há que se tecer
breve digressão sobre uma particularidade surgida após a reforma operada na execução. Os
títulos executivos judiciais não mais são executados em apartado, mas sim nos autos
originais, e desafiam impugnação, e não embargos, como anteriormente. Os embargos do
devedor de título judicial, hoje, se destinam apenas à seara da execução contra a Fazenda
Pública, tendo sede no artigo 741 do CPC. E no inciso VII deste artigo 741 estabelece o
legislador que é nos próprios embargos que serão opostas as exceções de incompetência,
impedimento ou suspeição:
Ocorre que logo no artigo subseqüente, 742, o CPC estabelece que as mesmas
exceções serão oferecidas juntamente com os embargos, e não nos próprios embargos,
como dispõe o artigo 741, VII. Há, portanto, clara antinomia.
Há ainda que se ressaltar que este prazo do artigo 738 é geral para embargos à
execução (que será também o prazo para excepcionar), mas há grande discussão sobre qual
é o prazo para a Fazenda Pública embargar. Isto porque o artigo 730 do CPC fala em dez
dias, e o artigo 1º-B da Lei 9.494/97 traz prazo de trinta dias. Qual se aplica?
“Art. 730. Na execução por quantia certa contra a Fazenda Pública, citar-se-á a
devedora para opor embargos em 10 (dez) dias; se esta não os opuser, no prazo
legal, observar-se-ão as seguintes regras:
(...)”
“Art. 1o-B. O prazo a que se refere o caput dos arts. 730 do Código de Processo
Civil, e 884 da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei n o
5.452, de 1o de maio de 1943, passa a ser de trinta dias”
Veja que este artigo 742 do CPC pode ser usado em qualquer execução, e não
apenas naquelas em que a executada é a Fazenda Pública. Sendo assim, este raciocínio se
aplica de forma geral para a execução, e mesmo para a impugnação: havendo outra matéria
diversa da exceção, esta autua-se em apartado; havendo somente a exceção a ser argüida em
defesa, vem esta no corpo da impugnação (e sempre, em um ou outro caso, no prazo da
impugnação de quinze dias).
“Art. 802. O requerido será citado, qualquer que seja o procedimento cautelar,
para, no prazo de 5 (cinco) dias, contestar o pedido, indicando as provas que
pretende produzir.
Parágrafo único. Conta-se o prazo, da juntada aos autos do mandado:
I - de citação devidamente cumprido;
II - da execução da medida cautelar, quando concedida liminarmente ou após
justificação prévia.”
“Art. 306. Recebida a exceção, o processo ficará suspenso (art. 265, III), até que
seja definitivamente julgada.”
“Art. 266. Durante a suspensão é defeso praticar qualquer ato processual; poderá o
juiz, todavia, determinar a realização de atos urgentes, a fim de evitar dano
irreparável.”
“Art. 314. Verificando que a exceção não tem fundamento legal, o tribunal
determinará o seu arquivamento; no caso contrário condenará o juiz nas custas,
mandando remeter os autos ao seu substituto legal.”
Outra ressalva que se deve fazer é que os assistentes técnicos das partes jamais
poderão ser tidos por impedidos ou suspeitos. Por óbvio, se são contratados por uma das
partes, são parciais por conceito, e o artigo 422 do CPC expressa esta lógica:
“Art. 422. O perito cumprirá escrupulosamente o encargo que lhe foi cometido,
independentemente de termo de compromisso. Os assistentes técnicos são de
confiança da parte, não sujeitos a impedimento ou suspeição.”
“Súmula 33, STJ: A incompetência relativa não pode ser declarada de ofício.”
Assim, fica claro que a incompetência relativa é de fato uma exceção, enquanto as
demais, impedimento e suspeição, são tecnicamente objeções, que podem ser conhecidas de
ofício pelo juiz.
O artigo 112, parágrafo único, em conjugação com o artigo 114 do CPC, trazem
uma previsão peculiar:
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
Por isso, o acórdão é que passa a existir no lugar da sentença, e este acórdão foi
proferido por desembargadores que não são suspeitos ou impedidos. Por isso, a sentença
não tem qualquer peso, vez que o juiz não mais tem a voz no processo: se houve vício em
sua atuação, tendo este sido impedido, não há mais relevância, vez que sua decisão não
mais subsiste no feito. Por isso, a rescisória não pode ser conhecida.
Mas veja que se o juiz praticou diversos outros atos que tenham sido influenciados
por seu impedimento (conduziu audiências, produziu provas), mesmo se a sentença deixou
de existir, substituída pelo acórdão, as bases de todo o processo podem estar ainda viciadas
pelo impedimento. Se assim for, a rescisória poderá ter procedência.
Questão 3
Resposta à Questão 3
Os motivos aplicam-se a todos que devem agir com imparcialidade. Das pessoas
mencionadas, apenas o assistente técnico pode ser parcial, pelo que não se exige dele o
pressuposto negativo do não-impedimento. Ademais, este entendimento é expresso nos
artigos 138 e 422 do CPC.
Não há suspensão do processo, por expressa previsão no artigo 138, § 1º, do CPC.
Tema XI
Reconvenção. Conceito. Natureza jurídica. Condições gerais de legítimo exercício do direito à ação
reconvencional. A legitimação e o interesse processual.
Notas de Aula19
1. Reconvenção
“Art. 292. É permitida a cumulação, num único processo, contra o mesmo réu, de
vários pedidos, ainda que entre eles não haja conexão.
§ 1o São requisitos de admissibilidade da cumulação:
I - que os pedidos sejam compatíveis entre si;
II - que seja competente para conhecer deles o mesmo juízo;
III - que seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento.
§ 2o Quando, para cada pedido, corresponder tipo diverso de procedimento,
admitir-se-á a cumulação, se o autor empregar o procedimento ordinário.”
A diferença é bem simples. Veja: o rito sumário, por exemplo, admite pedido
contraposto, na forma do artigo 278, § 1º, do CPC:
“Art. 278. Não obtida a conciliação, oferecerá o réu, na própria audiência, resposta
escrita ou oral, acompanhada de documentos e rol de testemunhas e, se requerer
perícia, formulará seus quesitos desde logo, podendo indicar assistente técnico.
§ 1º É lícito ao réu, na contestação, formular pedido em seu favor, desde que
fundado nos mesmos fatos referidos na inicial.
(...)”
Significa, então, que o réu poderá consignar pedido em seu favor, na mesma peça,
mas sem trazer novos fatos: os fatos que fundamentam o pedido do réu devem ser
exatamente os mesmos narrados como fundamento da inicial do autor.
Dada a autonomia da reconvenção, que se trata de uma nova ação, nova relação
processual dentro do mesmo processo, a extinção da ação original não reverbera na
reconvenção: esta prosseguirá. Veja o artigo 317 do CPC:
Se o autor da ação que corre em rito sumário, por exemplo, desiste da ação original,
o pedido contraposto do réu, enquanto exercício do direito de ação, não se extinguirá,
repetindo-se o que ocorre na reconvenção. Ainda que o autor desista da ação, o processo
seguirá até que o pedido contraposto seja julgado.
A conexão que enseja a reconvenção, a teor do caput do artigo 315 do CPC, não é a
mesma conexão que se verifica no artigo 103 do CPC:
“Art. 315. O réu pode reconvir ao autor no mesmo processo, toda vez que a
reconvenção seja conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa.
(...)”
“Art. 103. Reputam-se conexas duas ou mais ações, quando lhes for comum o
objeto ou a causa de pedir.”
“Art. 315. O réu pode reconvir ao autor no mesmo processo, toda vez que a
reconvenção seja conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa.
Parágrafo único. Não pode o réu, em seu próprio nome, reconvir ao autor, quando
este demandar em nome de outrem.”
Veja que o dispositivo em comento pode parecer exatamente o oposto, mas ali se vê
a expressão “demandar em nom de outrem”, o que significa que se está falando do
representante processual, e não do substituto: este demanda em nome próprio por direito
de outrem, ou seja, a contrário senso, o que se veda ali é a reconvenção contra o
representante, e não contra o substituto.
Se o advogado fizer esta união na mesma peça, estará, a princípio, nula, mas a
instrumentalidade das formas pode fazê-la aproveitável, se a redação deixar de forma
extremamente clara, capitular, as alegações de cada matéria, da contestação e da
reconvenção.
Quanto ao prazo, a reconvenção deve ser procedida em quinze dias, tal qual a
contestação. Seguindo a sorte do prazo da contestação, quando este se dilata, também se
dilarga o prazo da reconvenção. Por exemplo, a Fazenda Pública dispõe de prazo
quadruplicado para contestar, pelo que a reconvenção (e as exceções, diga-se) também
terão seus prazos fixados em quádruplo. Esta é a exegese ampliativa do artigo 188 do CPC:
Note que o artigo 299, supra, fala que a contestação e a reconvenção devem ocorrer
de forma simultânea. Sendo assim, suponha-se que o réu contesta em um dia – décimo dia,
por exemplo –, e, ainda no prazo, digamos no décimo segundo dia, apresenta reconvenção,
esta não será admissível, mesmo que aparentemente tempestiva. Assim ocorre porque não
só o réu descumpriu a exigência da simultaneidade, do artigo 299, como operou-se a
preclusão consumativa deste ato de reconvenção. Mas a jurisprudência não é pacífica neste
sentido, mesmo que a maioria dos julgados reconheça esta preclusão20.
20
O mesmo raciocínio se tem operado na emenda à contestação, quando o réu, ainda no prazo, pretende
adicionar argumentos que se esquecera de fazer constar na contestação. Entretanto, o STJ tem admitido esta
emenda da contestação quando a matéria adicionada for de ordem pública (a qual, a bem da verdade, poderia
vir alegada em peça inominada, sequer precisando ser considerada uma adição à contestação).
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Mévio ajuizou ação de cobrança em face de Tício alegando que este lhe dera um
"golpe" numa compra e venda, acusando-o de estelionatário, ladrão e inescrupuloso e
requerendo, ao final, sua condenação para a devolução das arras que haviam firmado o
negócio.
Resposta à Questão 2
A reconvenção deve ser feita em face do autor da ação original, e não em face do
advogado do autor. Esta reconvenção, de fato, trata-se de uma ação autônoma do réu
primitivo em face do advogado, em nada sendo conexa à original, e não havendo
legitimidade no pólo passivo da reconvenção: deverá haver ação autônoma, em livre
distribuição. Acertou o magistrado.
Questão 3
Resposta à Questão 3
Tema XII
Notas de Aula21
1. Reconvenção
Não há qualquer erro nesta súmula, tampouco há qualquer erro no raciocínio feito
em relação à natureza dúplice da ação declaratória. É, de fato, impossível reconvir em ação
declaratória, quando a providência puder ser obtida pela mera contestação; quando não for
possível, a reconvenção terá interesse, e é por isso que Freddie Didier diz que só será
cabível a reconvenção em sede de ação declaratória se o réu nela exercer pretensão diversa
da meramente contrária à exercida pelo autor da ação principal. Caso o réu, na
21
Aula proferida pelo professor Fabrício Rocha Bastos, em 30/9/2008.
reconvenção, pretenda apenas negar o pedido do autor, não será admissível esta
reconvenção, por ausência de interesse-necessidade – basta-lhe, para tanto, contestar, que
obterá sentença22 favorável, satisfatória de sua pretensão.
Na reconvenção, há o que se chama de cruzamento subjetivo da lide, pois ocorre a
clara troca de posições processuais: o autor da principal se torna réu da reconvenção, e o
autor da reconvenção é quem era réu da ação principal.
Vale trazer uma questão peculiar: caberia reconvenção quando o pólo ativo da ação
principal estiver um substituto processual? O parágrafo único do artigo 315 é relevante:
“Art. 315. O réu pode reconvir ao autor no mesmo processo, toda vez que a
reconvenção seja conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa.
Parágrafo único. Não pode o réu, em seu próprio nome, reconvir ao autor, quando
este demandar em nome de outrem.”
1.1.1. Tempestividade
Para definir a tempestividade é necessária a análise dos artigos 297 e 299 do CPC:
“Art. 297. O réu poderá oferecer, no prazo de 15 (quinze) dias, em petição escrita,
dirigida ao juiz da causa, contestação, exceção e reconvenção.”
22
Aqui cabe enfrentar uma questão periférica: a sentença declaratória pode ser executada? O artigo 584 do
CPC, revogado pela Lei 11.232/05, descrevia a “sentença condenatória” como título executivo judicial. Hoje,
o artigo 475-N, I, do CPC, estabelece que a “sentença que reconhece uma obrigação” é título executivo
judicial, e não apenas a condenatória. E a sentença declaratória reconhece a existência ou inexistência de uma
relação jurídica, que pode ser obrigacional – e seria, portanto, executável. Ocorre que tem prevalecido a tese
de carência de necessidade desta execução da sentença declaratória, pois ela é satisfativa da pretensão do
autor – que era meramente declaratória –, ao contrário da sentença condenatória, que positiva a obrigação,
mas não é satisfativa da pretensão, demandando necessariamente a fase executória para tanto. É por isso que
alguns autores dizem que a ação declaratória sofre apenas a chamada execução imprópria, que consiste na
mera leva da sentença a registro, para fins de publicidade e consolidação do direito (como ocorre na
usucapião e na ação de investigação de paternidade).
Suponha-se, agora, uma sentença de improcedência qualquer, que sabe-se que tem sempre natureza
declaratória negativa, ou mesmo uma sentença de improcedência em uma ação meramente declaratória de
inexistência de uma relação obrigacional (que, dúplice, terá por efeito positivar a existência de tal relação).
Esta sentença, que contém cunho econômico, e é improcedente, é caso especialíssimo em que uma sentença
de improcedência poderia ser executada, por ter conteúdo econômico. A questão é altamente controvertida.
No entanto, parte da doutrina – por todos, Nelson Nery – vem sustentando que se o
réu, ao oferecer a reconvenção, observou nesta peça o ônus da impugnação específica, esta
terá forças de contestação, afastando a revelia. Pelo ensejo, vale dizer que, mesmo havendo
contestação tempestiva, a revelia pode ainda ser decretada, se houver incapacidade
processual ou irregularidade na representação, como exprime o artigo 13, II, do CPC:
1.1.2. Conexão
O artigo 315 do CPC, há pouco transcrito, é a sede do estudo deste requisito. Dali se
colhe que a conexão deve ser feita entre a reconvenção e a ação principal, ou entre aquela e
a matéria de defesa. Há que se ter dois cuidados aqui: este requisito da conexão não se
confunde com o instituto clássico da conexão como causa de modificação da competência,
do artigo 103 do CPC. Barbosa Moreira deixa claro que a conexão, enquanto requisito da
reconvenção, se trata de uma linha tênue, exigindo apenas uma afinidade bastante diáfana,
enquanto a conexão do artigo 103 do CPC é baseada em identidade de aspectos das ações:
“Art. 103. Reputam-se conexas duas ou mais ações, quando lhes for comum o
objeto ou a causa de pedir.”
Então, basta a afinidade entre os objetos ou causas de pedir para que seja reputada
conexa a reconvenção.
O artigo 315 do CPC, supra, traz a assertiva de que “o réu pode reconvir ao autor no
mesmo processo”. A doutrina interpreta esta exigência como a necessária inclusão, no pólo
passivo da reconvenção, da parte autora da ação principal. Surge uma questão: pode haver
reconvenção subjetivamente mais ampla do que a ação principal, ou seja, é possível, por
meio da reconvenção, ocorrer a formação de litisconsórcio no pólo passivo, que era
inexistente no pólo ativo da ação principal?
Há duas correntes sobre esta questão. Freddie Didier e Barbosa Moreira entendem
inadmissível a reconvenção subjetivamente mais ampla, diante da redação do artigo 315 do
CPC, que exige que os pólos da reconvenção sejam preenchidos por autor e réu do mesmo
processo. Barbosa Moreira defende que a legitimidade ativa na reconvenção pertence
somente ao réu, e a passiva somente ao autor. O STJ, no REsp 274.763, deixa clara sua
opção por esta primeira tese, ao menos no que toca a legitimidade ativa:
1.1.4. Competência
Vejamos uma hipótese peculiar: se o autor original reside em uma comarca, e o réu
em outra, e a ação corre na comarca do autor, a reconvenção deve ser proposta no mesmo
juízo, ou seja, na comarca do autor da ação principal.
O autor principal é intimado a contestar a reconvenção, na forma do artigo 316 do
CPC:
Mesmo que o legislador só tenha falado em contestação, pode o autor principal, réu
da reconvenção, valer-se de qualquer modalidade de defesa, inclusive de nova reconvenção.
Mas veja que, pela lógica, não poderia argüir exceção de incompetência relativa, porque a
definição da competência já se operou na ação principal, tendo sido definida por ele
mesmo. Todavia, se o caso for de desrespeito à competência de juízo, como o é, se há o
desrespeito ao artigo 109, tratar-se-á de incompetência absoluta, por violar critério de
competência funcional horizontal. Neste caso, há clara possibilidade de argüir
preliminarmente a incompetência absoluta, em preliminar de contestação.
Como dito, a reconvenção da reconvenção não encontra qualquer óbice,
funcionando nas mesmas bases da reconvenção primária, normalmente.
O artigo 316, supra, estabelece que há intimação, e não citação para a contestação.
Parece indicar, a opção legislativa por este meio de comunicação, que não se cria, na
reconvenção, uma nova relação jurídica processual, porque se fosse criada nova relação, o
reconvindo deveria ser citado para inaugurar sua participação nesta. È certo, no entanto,
que nova relação é de fato criada, com o cruzamento subjetivo.
de contestação, se for claramente identificável uma e outra “peça dentro da peça”, não
havendo prejuízo para o reconvindo ou para o próprio juízo, nada impede que o ato seja
aproveitado.
O indeferimento da inicial de reconvenção é questão que suscita alta indagação. De
fato, a divergência sobre a natureza jurídica desta decisão e o recurso que desafia é a
mesma discussão que se vê na denunciação da lide e na ação declaratória incidental.
Vejamos.
O artigo 162, § 1º, do CPC, trouxe o novel conceito legal de sentença, e o § 2º, o de
decisão interlocutória:
A doutrina critica veementemente a redação deste § 1º. Antes da Lei 11.232/05, este
dispositivo dizia que “sentença é o ato pelo qual o juiz põe termo ao processo, decidindo ou
não o mérito da causa”, ou seja, considerava, para conceituar sentença, as conseqüências
do ato, que se entendia ser a extinção do processo. Esta redação sempre foi também
bastante combatida, pois o que põe termo ao processo não é nem nunca foi a sentença, mas
sim o trânsito em julgado desta, à época (hoje, nem mesmo este trânsito o faz, pois o
processo é sincrético, em regra).
Em verdade, a sentença sempre foi o ato pelo qual o juiz põe fim à sua atividade
judicante, sendo os atos continuativos após a sentença as atividades dedicadas à satisfação
do direito positivado na sentença.
Como se vê na atual redação do artigo 162, § 1º, o legislador passou a considerar o
conteúdo do ato para defini-lo como sentença, deixando de considerar as conseqüências.
Esta definição é hoje criticada, mesmo que não haja mais referência a “pôr termo ao
processo”, ou seja, mesmo tendo sido atendidas as críticas a esta expressão. A maioria da
doutrina, hoje, critica este conceito legal porque defende que, para ser sentença, além do
conteúdo consignado na lei, é necessário que tenha também um de três efeitos possíveis,
quais sejam: o fim da relação jurídica processual; o encerramento da instância; ou o
encerramento de fase, etapa ou módulo processual.
Destarte, voltando ao tema, a doutrina entende que seja sentença a decisão que,
incidindo numa das hipóteses dos artigos 267 ou 269 do CPC, incide também em um dos
três efeitos mencionados.
Havendo indeferimento da inicial da ação principal, não há que se discutir: trata-se
de sentença, porque incide numa hipótese do artigo 162, § 1º, qual seja, a do artigo 267, I,
e também externa o fim de uma relação jurídica processual.
Pois bem. Mas e a decisão de indeferimento da inicial da reconvenção, seria
sentença, ou decisão interlocutória?
A reconvenção tem autonomia da ação principal, como fica bem claro na leitura do
artigo 317 do CPC:
Nos procedimentos especiais, a reconvenção somente será cabível após o rito ser
convertido em ordinário, e se o for a tempo de haver a prática deste ato (ou seja, se a
conversão se der a tempo de contestar). A súmula 292 do STJ traz esta previsão expressa
para a monitória, mas a leitura pode ser transposta em todas as ações de rito especial (pois a
monitória é uma ação de conhecimento de rito especial):
“Art. 922. É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em sua
posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes
da turbação ou do esbulho cometido pelo autor.”
Assim, é lícito ao réu deduzir pedido contraposto, na própria contestação, mas não
reconvenção. Daqui se colhe uma regra geral: sendo admissível o pedido contraposto, não
há interesse processual na reconvenção, sendo descabida.
No rito sumário, então, a situação é controvertida, havendo duas teses sobre o
cabimento da reconvenção: para a primeira tese, majoritária, não é cabível, por não haver
interesse processual, na medida em que seria suficiente o pedido contraposto no bojo da
contestação, conforme preceitua o artigo 278, § 1º, do CPC, e pela concentração dos atos:
“Art. 278. Não obtida a conciliação, oferecerá o réu, na própria audiência, resposta
escrita ou oral, acompanhada de documentos e rol de testemunhas e, se requerer
perícia, formulará seus quesitos desde logo, podendo indicar assistente técnico.
§ 1º É lícito ao réu, na contestação, formular pedido em seu favor, desde que
fundado nos mesmos fatos referidos na inicial.
(...)”
Há, porém, tese contrária, minoritária, que defende que é cabível a reconvenção no
rito sumário porque a lei não mais a veda, como fazia no revogado § 2º do artigo 315 do
CPC, que assim dispunha (sobre o antigo sumariíssimo, hoje sumário):
“(...)
§ 2º Não se admitirá reconvenção nas causas de procedimento sumaríssimo.”
Além disso, esta tese se fundamenta também no artigo 280 do CPC, que igualmente
não veda a reconvenção:
Para esta tese, a reconvenção só não será admissível quando for baseada nos
mesmos fatos narrados na inicial original, porque então realmente não terá interesse
processual, pois o pedido contraposto é suficiente para atender ao réu. No entanto, se a
reconvenção vier calcada em fatos diversos da inicial, mas conexos, não há óbice a sua
efetivação no rito sumário, sendo, de fato, medida de economia processual.
Pelo ensejo, vale consignar um esquema gráfico que bem ilustra a diferença entre
estes institutos:
ReconvençãoPedido contraposto
Formulado no bojo da contestação.
Mas veja que a sentença só será formalmente a mesma, ou seja, será um só corpo
decisório, mas materialmente serão duas sentenças, uma para cada ação.
Casos Concretos
Questão 1
Em ação pelo procedimento comum sumário, na qual não foi possível chegar a um
acordo, o réu contesta e apresenta reconvenção, formulando pedido conexo com os
fundamentos da defesa.
A reconvenção é viável?
Resposta à Questão 1
Questão 2
João, locatário de José, propõe em face deste ação para ressarcir-se de danos
pessoais que alega terem lhe sido causados por agressão física do locador.
José nega haver agredido João; diz que os ferimentos, ocorridos por ocasião de um
tumulto, tiveram outra causa. Quer, por seu turno, demandar João, afirmando que este,
pelo comportamento escandaloso no episódio, infringiu o regulamento do edifício e, por
conseguinte, o contrato de locação, que o obrigava a respeitá-lo; deve, assim, ser
despejado.
É possível o pedido reconvencional?
Resposta à Questão 2
Questão 3
Resposta à Questão 3
A falta da contestação, em princípio, induziria à revelia, que não seria afastada pela
reconvenção, pelo que os fatos alegados pelo autor seriam presumidos verdadeiros. Se as
alegações da peça de reconvenção, no entanto, forem suficientes e precisas para afastar a
presunção de veracidade que se passou na ação principal, mesmo continuando decretada a
revelia, a presunção de veracidade não pode mais subsistir, porque se trataria de uma
desconsideração da verdade real: o conjunto probatório de ambas as ações, principal e
reconvencional, formarão a convicção do juízo.
Tema XIII
Notas de Aula23
1. Providências preliminares
Mesmo já tendo sido estudados os efeitos da revelia, vale consignar alguns detalhes:
é possível a aplicação do efeito material da revelia, qual seja, a presunção da veracidade das
alegações do autor, sem que tenha sido decretada a revelia. Isto ocorre nos casos do artigo
302 do CPC, já analisado amiúde, consistente na inobservância dos ônus da impugnação
especificada. Outro detalhe é a possibilidade de decretação de revelia sem aplicação dos
seus efeitos: trata-se da revelia irrelevante, estudada quando da análise do artigo 320 do
CPC, que é a sua sede legal.
Outro efeito da revelia é a possibilidade de alteração da demanda, na forma do
artigo 321 do CPC, já transcrito, e que exige que mesmo sendo o réu revel se faz necessária
nova citação, quando alterar-se a demanda.
Há ainda que se mencionar a sanatória parcial da revelia, que se depreende do
parágrafo único do artigo 322 do CPC:
“Art. 322. Contra o revel que não tenha patrono nos autos, correrão os prazos
independentemente de intimação, a partir da publicação de cada ato decisório.
Parágrafo único O revel poderá intervir no processo em qualquer fase, recebendo-o
no estado em que se encontrar.”
A doutrina diz que o caput deste artigo só será aplicável ao réu revel ausente, ou
seja, aquele que, validamente citado, não contesta, não comparece ao pleito, nem constitui
patrono nos autos. Para este réu, de fato, os prazos correm sem atenção a intimação alguma.
Todavia, o parágrafo único deste artigo traz o dito efeito sanatório: se o réu comparecer ao
processo, a qualquer tempo, estará sanado este efeito processual da revelia, ou seja, o réu
passará a ser intimado de todos os atos processuais, dali em diante.
O artigo 334, IV, do CPC consigna ainda outro efeito derivado da revelia: afasta o
ônus da prova em favor do autor, se o réu padece do efeito material da revelia:
23
Aula proferida pelo professor Fabrício Rocha Bastos, em 30/9/2008.
É de se salientar, porém, que se não houver o efeito material da revelia, não pode
haver esta inversão do ônus probatório. É o que deixa claro o artigo 324 do CPC:
“Art. 324. Se o réu não contestar a ação, o juiz, verificando que não ocorreu o
efeito da revelia, mandará que o autor especifique as provas que pretenda produzir
na audiência.”
“Art. 1.102-C. No prazo previsto no art. 1.102-B, poderá o réu oferecer embargos,
que suspenderão a eficácia do mandado inicial. Se os embargos não forem opostos,
constituir-se-á, de pleno direito, o título executivo judicial, convertendo-se o
Assim, mais do que presumir qualquer veracidade, neste rito o título ganha desde
logo a executividade quando há revelia, porque a presunção de veracidade já existia ab
initio, aqui.
“Art. 326. Se o réu, reconhecendo o fato em que se fundou a ação, outro lhe
opuser impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, este será ouvido
no prazo de 10 (dez) dias, facultando-lhe o juiz a produção de prova documental.”
“Art. 327. Se o réu alegar qualquer das matérias enumeradas no art. 301, o juiz
mandará ouvir o autor no prazo de 10 (dez) dias, permitindo-lhe a produção de
prova documental. Verificando a existência de irregularidades ou de nulidades
sanáveis, o juiz mandará supri-las, fixando à parte prazo nunca superior a 30
(trinta) dias.”
Veja que o legislador não se valeu do termo réplica em momento algum, sendo este
nomen uma criação do costume processual.
A abertura para réplica só se justifica quando o réu trouxer fatos novos ao processo,
alegações novas que sejam impeditivas, modificativas ou extintivas do direito do autor.
Exemplo clássico de fato impeditivo é a prescrição. Sobre este instituto, hoje ainda
paira controvérsia sobre a sua declaração ex officio, mesmo sendo expressamente
autorizada por lei desde 2005, quando a prescrição for declarada pelo juiz antes da citação,
ou seja, liminarmente. O problema é que, quando declarada neste momento, o réu fica
impedido de se manifestar em renúncia à prescrição, caso o queira.
Veja: sendo uma causa de indeferimento da inicial, a prescrição é declarada no
despacho24 liminar negativo, com resolução de mérito, por tratar de solução do direito
material.
Exemplo de fato modificativo é a exceptio non adimpleti contractus, que altera a
forma com que o direito do autor se exerce. Outro exemplo é a compensação. Por sua vez,
exemplo de fato extintivo é a decadência.
Todas estas matérias se tratam de um mesmo gênero, qual seja, o das exceções
substanciais. Em regra, havendo exceção substancial, é caso de réplica, mas quando o réu
alegar a exceção substancial em sede de reconvenção, não há réplica. Mas veja que este
caso é ainda mais excepcional do que aparenta, porque muitos autores simplesmente não
24
Este termo “despacho” deve ser utilizado com cautela, vez que há casos em que vai se tratar de verdadeira
sentença, como no próprio caso da prescrição.
Veja o artigo 9º, II, do CPC, a súmula 196 do STJ, e o artigo 4º, VI, da Lei
Complementar 80/94:
“Súmula 196, STJ: Ao executado que, citado por edital ou por hora certa,
permanecer revel, será nomeado curador especial, com legitimidade para
apresentação de embargos.”
“Art. 268. Salvo o disposto no art. 267, V, a extinção do processo não obsta a que
o autor intente de novo a ação. A petição inicial, todavia, não será despachada sem
a prova do pagamento ou do depósito das custas e dos honorários de advogado.
Parágrafo único. Se o autor der causa, por três vezes, à extinção do processo pelo
fundamento previsto no no III do artigo anterior, não poderá intentar nova ação
contra o réu com o mesmo objeto, ficando-lhe ressalvada, entretanto, a
possibilidade de alegar em defesa o seu direito.”
Se o juiz reconheceu que o feito está saneado, estes artigos impossibilitariam nova
discussão sobre elas.
Ao contrário, se a decisão saneadora reconhece a existência de vício, terá eficácia
preclusiva? A discussão simplesmente se repete.
25
De qualquer forma – consigno aqui opinião pessoal –, o juiz estaria revendo a matéria, nem que seja para
reafirmar a ausência do requisito de admissibilidade carente da primeira vez. Do contrário, se sequer chegasse
a apreciar a matéria, a extinção seria por coisa julgada (se se tomar esta decisão por formadora de coisa
julgada), e não por carência do mesmo requisito que causou a extinção da primeira vez. Entendo falho este
argumento, portanto.
O juiz terá que verificar, nesta fase, se a hipótese é caso ou não de intervenção
obrigatória de alguns órgãos estatais, como o MP, em diversas hipóteses; o Cade, na forma
do artigo 89 da Lei 8.884/94; a CVM, na forma do artigo 31 da Lei 6.385/76, etc.
“Art. 89. Nos processos judiciais em que se discuta a aplicação desta lei, o Cade
deverá ser intimado para, querendo, intervir no feito na qualidade de assistente.”
“Art. 31 - Nos processos judiciários que tenham por objetivo matéria incluída na
competência da Comissão de Valores Mobiliários, será esta sempre intimada para,
querendo, oferecer parecer ou prestar esclarecimentos, no prazo de quinze dias a
contar da intimação.
(...)”
O artigo 330 limita sua aplicação apenas às hipóteses expressas nos seus incisos.
Veja que o juiz jamais poderá combinar o artigo 330 com as hipóteses do artigo 267 do
CPC, pois este artigo 330 trata de julgamento de mérito. Havendo caso do artigo 267,
incide na previsão do artigo 329.
O inciso II do artigo 330 não é aplicável pelo simples fato de ter havido decretação
da revelia: é necessário que esta tenha seu principal efeito, a presunção de veracidade das
alegações autorais.
A cognição que enseja a utilização do artigo 330 é exauriente, e jamais sumária. O
magistrado só pode se valer deste julgamento imediato do mérito se já formou plenamente
sua cognição. É claro que não se confunde a cognição sumária com o rito sumário: neste
rito, pode acontecer de a cognição, neste ponto do processo, já ter sido exauriente, quando o
artigo 330 será plenamente aplicável. Não há qualquer relevância de qual seja o rito: desde
que a cognição tenha sido exauriente, o artigo 330 é invocável, em rito ordinário ou
sumário.
Outro aspecto fundamental, daí decorrente, é que nunca será possível o julgamento,
neste estado, secundum eventum probationem, ou seja, por insuficiência de provas, de
acordo com as provas já produzidas. Isto porque, se ainda há toda a fase probatória pela
frente, não pode o magistrado contentar-se com o que material probatório que já tem diante
de si, julgando por insuficiência de provas se ainda há possibilidade de extensa produção de
provas. Estaria o juiz inviabilizando o direito constitucional das partes em produzir provas,
quando o rito ainda lhes permitiria tal produção.
“Art. 325. Contestando o réu o direito que constitui fundamento do pedido, o autor
poderá requerer, no prazo de 10 (dez) dias, que sobre ele o juiz profira sentença
incidente, se da declaração da existência ou da inexistência do direito depender, no
todo ou em parte, o julgamento da lide (art. 5o).”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
João ajuizou ação reivindicatória em face de José e sua esposa Maria. No prazo da
resposta, apenas Maria apresentou contestação, onde suscitou a nulidade do contrato de
compra e venda. João ofereceu demanda declaratória incidente para obter o
reconhecimento da validade do título. Citados os réus para oferecerem resposta à
declaratória, José argüiu em preliminar, falta de interesse, por ter sido revel na ação
principal. Pergunta-se: É admissível a demanda incidente? Justifique.
Resposta à Questão 2
É admissível, sim, a declaração incidente, pois seu escopo é tornar coisa julgada a
prejudicial, que seria mera ratio decidendi, em parte integrante do dispositivo. Há a
controvérsia – questão da nulidade –, e a solução da questão principal depende da solução
de tal prejudicial, em nada influindo a revelia.
Questão 3
Resposta à Questão 3
Tema XIV
Julgamento conforme o estado do processo. Extinção do processo. Julgamento antecipado da lide. Audiência
preliminar. Saneamento do processo.
Notas de Aula26
“Art. 329. Ocorrendo qualquer das hipóteses previstas nos arts. 267 e 269, II a V, o
juiz declarará extinto o processo.”
Assim, pode-se dizer que esta é a fase processual em que haverá a extinção do feito,
sem resolver o mérito, ou haverá a resolução do mérito; ou, ainda, se procurará sanear o
feito para futuro julgamento.
O artigo 329, supra, deixa claro que o processo poderá ser extinto, desde logo, nas
hipóteses ali mencionadas. Quando menciona que havendo as hipóteses do artigo 267 do
CPC o processo será extinto, o dispositivo está correto; contudo, quando fala em extinção
do processo por incidência no artigo 269, II a V, o dispositivo é impreciso. Veja:
26
Aula proferida pelo professor Marco Antônio Rodrigues, em 1/10/2008.
O artigo 330 do CPC traz uma segunda previsão de julgamento conforme o estado
do processo, chamada de julgamento antecipado da lide. Veja:
“Art. 330. O juiz conhecerá diretamente do pedido, proferindo sentença:
I - quando a questão de mérito for unicamente de direito, ou, sendo de direito e de
fato, não houver necessidade de produzir prova em audiência;
II - quando ocorrer a revelia (art. 319).”
Mas veja que, mesmo se não houver o efeito material da revelia, ainda assim poderá
ser julgado antecipadamente o mérito, se porventura as provas produzidas forem suficientes
para tanto – recaindo, então, no inciso I deste artigo 330.
O julgamento antecipado do mérito é uma faculdade ou um dever do juiz?
Há precedentes no STJ no sentido de que o julgamento antecipado não é mera
faculdade, e sim dever do juiz. Assim entende, esta corte, por análise sistemática do artigo
130 do CPC, especialmente na sua parte final:
O juiz tem que indeferir diligências inúteis, e, sendo caso do artigo 330, qualquer
nova diligência probatória seria inútil. Julgar imediatamente, então, é um dever.
Quando o juiz julga antecipadamente o mérito, o faz com amparo no artigo 269, I,
do CPC, pois as demais causas do artigo 269 enquadram-se no caso de julgamento
conforme o estado do processo previsto no artigo 329, como visto. Este julgamento do
artigo 330, então, é sempre pela improcedência ou procedência do pedido.
Se não for caso de aplicação dos artigos 329 e 330, o juiz verificará a aplicabilidade
do artigo 331 do CPC:
“Art. 331. Se não ocorrer qualquer das hipóteses previstas nas seções precedentes,
e versar a causa sobre direitos que admitam transação, o juiz designará audiência
preliminar, a realizar-se no prazo de 30 (trinta) dias, para a qual serão as partes
intimadas a comparecer, podendo fazer-se representar por procurador ou preposto,
com poderes para transigir.
§ 1o Obtida a conciliação, será reduzida a termo e homologada por sentença.
§ 2o Se, por qualquer motivo, não for obtida a conciliação, o juiz fixará os pontos
controvertidos, decidirá as questões processuais pendentes e determinará as provas
a serem produzidas, designando audiência de instrução e julgamento, se
necessário.
§ 3o Se o direito em litígio não admitir transação, ou se as circunstâncias da causa
evidenciarem ser improvável sua obtenção, o juiz poderá, desde logo, sanear o
processo e ordenar a produção da prova, nos termos do § 2o.”
Nesta audiência, não se trata, por óbvio, de julgamento da lide, mas sim de
preparação para futuro julgamento.
Esta audiência é cabível em casos de direitos que admitem transação, como diz o
artigo. Até 2002, quando este artigo foi alterado, a audiência era cabível em casos de
direitos disponíveis. Esta alteração se deu porque há direitos indisponíveis que admitem
transação, a exemplo da Fazenda Pública, quando litigante: mesmo que seja regra geral a
indisponibilidade do interesse público – pelo que sequer tem contra si o efeito material da
revelia –, é possível a transação, se o meio para alcançar o interesse público for justamente
a transação (como quando a perda da causa for certa).
A audiência preliminar tem diversas finalidades. A primeira é tentar a conciliação
das partes; não havendo êxito, passa-se ao que dispõe o § 2º deste artigo, que estabelece
que o juiz deverá resolver as questões processuais pendentes, ou seja, sanear mais uma vez
o processo. Em seguida, a terceira atividade da audiência é a organização da fase
probatória, definindo os pontos a serem provados, e as provas a serem produzidas.
Por conta desta pluralidade de atividades é que esta audiência não pode ser chamada
de audiência de conciliação, como o era anteriormente. A conciliação é apenas um dos atos
que ali têm sede.
Esta audiência pode deixar de ser realizada, se as partes não vêem chance de
conciliação. Há quem defenda, porém, que não é possível a dispensa desta audiência, e, se
dispensada, seria causa de nulidade do processo, dali em diante. O fundamento de quem
assim se posiciona, a exemplo de Dinamarco, é exatamente a pluralidade de atividades
desenvolvidas nesta audiência, suas múltiplas finalidades, e não apenas a conciliação.
Predomina, porém, a corrente que entende dispensável esta audiência, porque todas as
demais atividades que lá têm sede não dependem de realização de audiência para serem
realizadas.
O comparecimento pessoal das partes não é necessário, podendo estar representada
por preposto ou por procurador, como o próprio artigo 331 diz. Como a preposição, ou a
constituição de procurador, são feitas por instrumento de mandato, seguem as regras deste
contrato, previsto no CC. Inclusive, pode o preposto ou procurador ser pessoa relativamente
incapaz, na forma do artigo 666 do CC:
“Art. 666. O maior de dezesseis e menor de dezoito anos não emancipado pode ser
mandatário, mas o mandante não tem ação contra ele senão de conformidade com
as regras gerais, aplicáveis às obrigações contraídas por menores.”
Surge uma outra questão: pode o advogado atuar simultaneamente como preposto?
Veja o que dispõe o artigo 23 do Código de Ética da OAB:
Mas veja que no caso da audiência preliminar, a jurisprudência tem entendido que
não se aplica esta vedação do artigo 23, supra. Isto porque se o advogado, que é procurador,
tiver poderes para transigir, atuando como procurador estará representando seu cliente, e,
naturalmente, suprirá sua presença nesta audiência.
Esta decisão tem lugar quando a conciliação for infrutífera, ou quando não for caso
de audiência preliminar. Esta decisão se presta a resolver questões processuais pendentes,
fixar pontos controvertidos, e definir as provas a serem produzidas. Em suma, organiza o
feito para incursar na fase probatória.
Esta decisão foi chamada de despacho saneador por muito tempo, mas é muito
claro o seu conteúdo decisório para que possa ser assim chamada. Por isso, é pacífico se
tratar de decisão saneadora. O artigo 338 do CP, inclusive, corrobora este entendimento:
Tal decisão teria eficácia preclusiva, ou seja, impediria que o juiz revisitasse seus
termos, decidindo posteriormente, de forma contrária, sobre os temas ali tratados?
Como já se pôde adiantar nesta questão, a doutrina se divide, prevalecendo a tese
de que as matérias de ordem pública ali enfrentadas não geram preclusão para o juiz,
porque a própria lei permite que sejam conhecidas de ofício a qualquer tempo e grau de
jurisdição. Para as partes, porém, haveria preclusão, porque se a decisão é recorrível, e a
parte não interpôs o recurso, estará preclusa sua irresignação (nada impedindo que o juiz,
ouvindo mera petição das partes, possa manifestar-se alterando a decisão, posto que para
ele não preclui).
Calmon de Passos, ao contrário, minoritariamente, como dito, raciocina que preclui
também para o juiz, justamente por ser ato recorrível, ou seja, tendente a alcançar
estabilidade, em algum momento – preclusão que se opera quando escoa o prazo para
recurso, fazendo coisa julgada formal.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
Não se aplica o artigo 269, III, do CPC, combinado com o artigo 329, pois a
composição não se implementou de forma integral: pactuado que ficou que o não
pagamento das parcelas imporia prosseguimento do feito, o juiz deveria suspender o
processo enquanto o acordo estivesse em cumprimento, até seu termo.
A respeito, veja a apelação cível 1996.001.4836, do TJ/RJ:
Questão 3
Resposta à Questão 3
Tema XV
A prova. Conceito. Objeto. Destinatário da prova. Ônus da prova. Inversão do ônus da prova e dispensa do
ônus da prova. Sistemas de avaliação das provas. Valoração das provas. Classificação dos meios de prova.
Provas de fora da terra. Provas ilícitas. Provas emprestadas.
Notas de Aula27
27
Aula proferida pelo professor Marco Antônio Rodrigues, em 1/10/2008.
Mas há que se consignar uma restrição a esta regra: o ônus de provar direito
consuetudinário, municipal, estadual ou estrangeiro só se impõe à parte quando, na
comarca, não for comum sua aplicação. Se for de comum sabença, o direito deve ser sabido
também pelo juiz, escapando-se à regra excepcional do artigo 337. Novamente, iura novit
curiae, mesmo se tratando de norma daquelas ali constantes (como uma lei municipal
invocada na própria comarca do município em que atua o juízo).
Nem toda alegação de fato será objeto de prova. Como dito, somente demandarão
prova as alegações de fato que sejam controvertidas. Por isso, se há certeza sobre os fatos,
se não há controversão, não há necessidade de prova. O artigo 334 do CPC enumera os
fatos que prescindem de prova, justamente pelo grau de certeza que demonstram:
Ônus difere de obrigação: ônus é a atividade que deve ser realizada por alguém, sob
pena de que este alguém, descumpridor do ônus, sofra alguma conseqüência negativa. O
descumprimento do ônus é prejudicial a quem o descumpriu, e não à parte contrária, como
ocorre no descumprimento da obrigação: não se cumpre ônus em favor de ninguém, mas
sim em favor próprio, enquanto a obrigação é sempre cumprida em favor da parte contrária,
causando-lhe prejuízo se inadimplida. A resposta do réu, por exemplo, é um ônus a este
imposto; se não responde, poderá sofrer prejuízos decorrentes da revelia.
Como o descumprimento da obrigação causa prejuízo a outra pessoa, ela cria uma
exigibilidade de seu cumprimento. O ônus, ao contrário, não pode ter seu cumprimento
forçado a quem dele se incumbe, pois se descumprido, somente esta pessoa será
prejudicada.
Dito isto, fica claro que provar suas alegações é um ônus, e não uma obrigação. A
parte que não comprova sua alegação, pode ter prejuízo próprio, apenas, qual seja, o
julgamento desfavorável.
partes estiverem em posições materialmente desiguais, esta regra pode levar a situações de
alta injustiça. Por conta disso, o legislador consumerista previu algumas regras especiais de
distribuição do ônus probatório, em que atribui regra especial de distribuição, ou permite a
inversão do ônus probatório. Antes de ver tais hipóteses, vale dissertar sobre o que se passa
quando se inverte o ônus da prova.
A inversão do ônus da prova não significa a exata noção do que a expressão pode
passar, pois fosse assim, entender-se-ia que ao réu caberia provar o fato constitutivo do
direito do autor, e ao autor os fatos impeditivos, modificativos ou extintivos de seu direito –
o que é um absurdo, em termos. Na verdade, então, a alteração que se opera é a cisão da
atividade de prova dos fatos constitutivos em dois níveis: o de probabilidade e a de certeza.
Na verdade, então, o que se faz na inversão é dar ao autor, por causa de sua
hipossuficiência técnica, o direito de que a mera verossimilhança das suas alegações seja
bastante para constituir seu direito, não se exigindo a certeza, como em regra. Na verdade,
o autor continua tendo a responsabilidade de provar a constituição de seu direito, mas basta
provar verossimilhança, e não certeza, como deveria, fosse regularmente distribuído o ônus.
Ao réu, pesa a mesma responsabilidade por provar seus fatos novos, se houver –
impeditivos, modificativos ou extintivos –, mas, além disso, pesa também a
responsabilidade por comprovar fatos desconstitutivos do direito do autor, o que não seria
sua incumbência, em regra, quando o autor não comprovou a constituição do seu direito,
pois como se sabe, se não há, na regular distribuição, a certeza da constituição do direito
pelo autor, se o réu nada provar ainda terá a decisão a seu favor.
Em suma, então, são efeitos da inversão a suficiência da probabilidade do direito do
autor, e a necessidade de que o réu prove desconstituição de tal direito.
Este artigo prevê que o ônus incumbe exclusivamente a quem produz a propaganda.
Não se trata, tecnicamente, de uma inversão do ônus probatório, e sim de uma atribuição
específica de tal ônus: é uma regra específica de distribuição do ônus, dedicada apenas a
este caso expresso.
Aplica-se este ônus por especialidade da regra, descartando o artigo 333 do CPC.
Veja que não se trata de inversão do ônus geral, trazido no CPC, porque pode haver caso
em que a aplicação deste artigo 38 do CDC conduz à própria dinâmica geral; pode
acontecer de o autor da propaganda, fornecedor, ser o autor da ação, e esta prova que dele
se exige é prova constitutiva de seu direito – seguindo-se a mesma dinâmica do artigo 333
do CPC, portanto.
Outra regra consumerista, esta sim, realmente inverte o ônus probatório. Encontra-
se no artigo 6º, VIII, do CDC:
(...)
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da
prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a
alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências;
(...)”
Nesta regra, há, de fato, observação do artigo 333 do CPC, para tornar invertida a
sua previsão. Esta inversão precisa que estejam presentes os requisitos ali previstos, quais
sejam, a hipossuficiência do consumidor, e a verossimilhança nas alegações.
A hipossuficiência do consumidor, que fundamenta a inversão do ônus da prova, é a
técnica. Há três espécies de hipossuficiência: a econômica, que se trata da escassez de
recursos para custeio do processo, e que é amenizada por instrumentos específicos, quais
sejam, a gratuidade de justiça e a defesa patrocinada pela Defensoria Pública; a
hipossuficiência jurídica, que se trata da dificuldade em se defender em juízo, que pode ser
sanada pela constituição de advogado, que, como dito, pode ser a própria Defensoria
Pública; e a hipossuficiência técnica, que é justamente oriunda do pouco ou nenhum
conhecimento técnico do produto consumido, e que dificulta especialmente a produção de
provas em relação a este produto. Somente a hipossuficiência técnica, como dito, enseja a
inversão dos ônus probatórios.
O STJ, no informativo 364, exarou com clareza sua posição sobre o tema: se o
consumidor não conhece, na maior parte das vezes, o próprio funcionamento do produto,
não poderá se exigir que faça prova técnica do mau funcionamento deste, devendo o ônus
da prova de bom funcionamento recair sobre o fornecedor . Veja:
A corrente que defende a cumulatividade dos requisitos, por seu turno, também
encontra bom argumento. Defende que se a inversão é um instituto que foi criado para
promover a igualdade material entre as partes, a inversão que se fundamentasse em apenas
um dos requisitos, e não em ambos cumulados, acabaria por inverter também o próprio
quadro de desigualdade: ao invés de se produzir igualdade material, estar-se-ia criando
situação em que o fornecedor estaria, agora, em posição processualmente desfavorável, ou
seja, não promoveu-se a igualdade, e sim a inversão da desigualdade, tornando quem era
superior em inferior – e não em pólo paritário.
Se fossem alternativos os requisitos, surgiriam situações bastante injustas, de fato.
Imagine-se que um consumidor tem todas as condições de provar sua alegação, ou seja, não
tem hipossuficiência técnica, mas, ao mesmo tempo, suas alegações são verossímeis: esta
verossimilhança inverteria o ônus em favor de quem não precisava de tal inversão. Da
mesma forma, se o consumidor é tecnicamente hipossuficiente, mas consigna alegações
absolutamente inverossímeis, seria invertido o ônus pelo primeiro requisito, fazendo recair
a prova desconstitutiva daqueles fatos absurdos sobre o fornecedor.
Destarte, apenas a cumulatividade realmente parece implementar a mens do
dispositivo, que é a promoção da isonomia, e por isso é a tese mais coerente (e portanto
prevalente), dada a interpretação sistemática e teleológica que deve prevalecer.
A inversão do ônus da prova, na seara consumerista, pode ser propugnada ou
realizada de ofício. Se o CDC é, como um todo, norma de ordem pública, tudo que dele
emana é cognoscível e aplicável de ofício.
Tal teoria, proveniente do direito argentino, determina que é possível que haja a
redistribuição do ônus da prova, do artigo 333 do CPC, mesmo não se tratando de relação
consumerista. Se o julgador perceber as circunstâncias em que verifica que uma das partes
tem excessiva dificuldade em fazer prova das suas alegações, em nome da igualdade
material, seria possível inverter o ônus.
Três são os principais fundamentos que justificam a aplicação desta teoria.
Primeiramente, como dito, a busca pela igualdade material; além disso, a existência do
dever de cooperação entre as partes processuais, se exigindo daquele que pode produzir a
prova que o faça, a fim de esclarecer a questão, e aprimorar a cognição judicial; e o próprio
poder instrutório do juiz, constante do artigo 130 do CPC, que lhe permite comandar a
prova que bem entenda, se relevante para sua cognição.
O STJ, no REsp 69.309, criou precedente importante sobre o tema:
A prova legal consiste na prova tarifada, em que cada meio de prova tem um valor
determinado. Sendo assim, cada prova tendo um valor, aquela parte que somar maior valor
de prova será a vencedora. Veja que o juiz, aqui, não examina a prova em si, mas apenas
contabiliza o valor de cada prova, somando e dando a vitória processual a quem alcançar
maior valor final.
Há um resquício deste sistema, hoje, que se vê no artigo 227 do CC:
No Brasil, vige o princípio da liberdade das provas. O artigo 332 do CPC assim
determina:
“Art. 332. Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que
não especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em
que se funda a ação ou a defesa.”
Segundo este dispositivo, então, vê-se que é possível a utilização de todas as provas
que não sejam vedadas pelo direito, quer sejam os meios de prova nominados ou
inominados na legislação processual.
Esta liberdade das provas remete ao artigo 5º, LVI da CRFB, que estabelece a
inadmissibilidade das provas ilícitas:
“(...)
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;
(...)”
A leitura do artigo do CPC apenas reafirma o que a vedação direta da CRFB impõe:
se não é admissível a prova ilícita, é porque esta não é meio legal ou moralmente legítimo
para tanto.
A doutrina analisa que nem sempre, em processo civil, a prova ilícita será mesmo
inadmissível. À luz do caso concreto, Barbosa Moreira e Vicente Greco Filho defendem
que se o bem jurídico em jogo, ponderado com a vedação constitucional, tiver peso maior,
preponderará sobre a vedação à prova ilícita. Se, aplicada a proporcionalidade, a vedação
tiver menor importância diante do bem que se pretende proteger com o uso da prova ilícita,
esta será admissível. Mas há uma segunda corrente, de Luis Roberto Barroso, que entende
inafastável a vedação das provas ilícitas, ao argumento de que o artigo 5º, LVI, da CRFB,
não deixa qualquer margem à ponderação, dada a concretude desta norma. Hoje, prevalece
esta segunda tese.
No processo penal, diga-se, prevalece a ponderabilidade, por conta do bem jurídico
que é contraposto à vedação: a liberdade, direito de alta valia, é sempre posta em risco para
os réus do processo penal.
Consiste na prova que foi produzida em processo anterior, e trazida como elemento
probatório em outro processo.
Em regra, desde que seja respeitado o contraditório por aquele que sofrerá os efeitos
da prova emprestada, esta prova é plenamente admissível. Vale o exemplo: imagine-se que
tenha havido a produção de uma prova testemunhal em um determinado processo, e esta
testemunha veio a falecer. Em novo processo, posterior à morte daquela pessoa, no qual
contendem as mesmas partes do processo em que foi produzida a prova testemunhal
irrepetível, será perfeitamente cabível o uso da prova emprestada, trazendo-se cópia da ata
do depoimento daquele processo para este.
Imagine-se agora que um terceiro ajuíza ação em face do réu da ação em que se
produziu a prova testemunhal, e pretende usar o depoimento lá colhido: este será
igualmente passível de empréstimo, vez que o réu da ação em curso é o mesmo da época da
produção da prova, ou seja, pôde contraditá-la em sua formação.
Outro caso, porém, é o de uma ação proposta por um dos participantes da ação
original, em que se produziu a prova, em face de um terceiro: esta prova não poderá ser
trazida por empréstimo, porque o réu da ação em curso não teve oportunidade de
contraditar a prova, e por isso não seria correta esta utilização.
Veja que as provas documentais, em regra, não encontram qualquer óbice ao
empréstimo, pois são provas que podem ter-se contraditadas a qualquer tempo, por
qualquer pessoa.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
A respeito, veja o que diz o STJ no REsp 639.534, objeto do informativo 267:
Questão 2
Resposta à Questão 2
Questão 3
Pela mesma sentença foram julgadas duas ações conexas. A 1ª, de cobrança,
proposta por Administradora de cartão em face de Renata, visando o pagamento de
determinada quantia, acrescida de juros de mora, multa contratual e correção monetária,
decorrente de fatura não paga do cartão de crédito; a 2ª, de indenização a título de dano
moral, proposta por Renata em face da mesma Administradora, decorrente da inclusão
indevida do seu nome no Serasa, na qual afirmou ter pago o que estava lhe sendo cobrado
na 1ª demanda. O juiz julgou procedente o pedido da 1ª, atendendo conclusão de prova
pericial deferida a autora, de que era falso o comprovante de pagamento, e improcedente o
pedido da 2ª. Renata, então, interpõe apelação ao fundamento de cerceamento de defesa,
alegando que, embora tivesse protestado pela produção de prova pericial, seu pedido foi
indeferido pelo juiz na audiência preliminar e que a mesma era indispensável para
conferir firmeza ao magistrado da prática abusiva de juros e anatocismo e que ainda a
decisão saneadora afrontou o CDC no que concerne à inversão do ônus da prova. Deve o
Tribunal dar provimento ao recurso ? Justifique.
Resposta à Questão 3
Há um óbice violento à apreciação de tal matéria pelo tribunal: ela deveria ter sido
impugnada por meio de agravo de instrumento, contra a decisão de saneamento que
denegou a prova. Sendo assim, a falta do recurso à época fez preclusa a matéria, e a
apelação não deve ser provida.
Mas observe-se o seguinte: a matéria de ordem pública não preclui para o juiz,
segundo a maior parte da doutrina, e por isso, mesmo tendo sido preclusa para a parte a
argüição desta matéria, mera petição poderia propugnar ao juiz que reconhecesse tal
cerceamento.
A respeito, veja a ementa da apelação cível 2002.001.9895, do TJ/RJ:
Tema XVI
Prova documental. Confissão. Prova testemunhal. Prova pericial. Inspeção judicial. Exibição de documento
ou coisa. Prova dos usos e costumes.
Notas de Aula28
28
Aula proferida pelo professor Felippe Borring Rocha, em 2/10/2008.
1. Provas em espécie
O estudo das provas, em processo civil, parte-se em dois momentos: a teoria geral
das provas, que já se pôde abordar, e as provas em espécie, que trata das modalidades de
provas que são previstas no ordenamento. Como se viu no estudo da teoria geral das
provas, o Brasil adota um sistema aberto, ou atípico, em que qualquer prova que não é
vedada pelo ordenamento é admitida, não precisando ser nominada nos diplomas legais
para ser admissível. Desta forma, o rol de provas específicas que será estudado é
meramente exemplificativo, pois qualquer outra prova que se venha a criar, se não violar
princípios ou leis expressas, será admissível.
O estudo, então, é baseado em análise dos artigos que tipificam as espécies de prova
nominadas. Vejamos, portanto, as principais provas típicas do processo civil.
“Art. 343. Quando o juiz não o determinar de ofício, compete a cada parte
requerer o depoimento pessoal da outra, a fim de interrogá-la na audiência de
instrução e julgamento.
§ 1o A parte será intimada pessoalmente, constando do mandado que se
presumirão confessados os fatos contra ela alegados, caso não compareça ou,
comparecendo, se recuse a depor.
§ 2o Se a parte intimada não comparecer, ou comparecendo, se recusar a depor, o
juiz lhe aplicará a pena de confissão.”
“Art. 345. Quando a parte, sem motivo justificado, deixar de responder ao que lhe
for perguntado, ou empregar evasivas, o juiz, apreciando as demais circunstâncias
e elementos de prova, declarará, na sentença, se houve recusa de depor.”
1.2. Confissão
“Art. 350. A confissão judicial faz prova contra o confitente, não prejudicando,
todavia, os litisconsortes.
Parágrafo único. Nas ações que versarem sobre bens imóveis ou direitos sobre
imóveis alheios, a confissão de um cônjuge não valerá sem a do outro.”
Mas repare que, mesmo que formalmente não se atribua efeito da confissão de um
litisconsorte aos demais, é claro que terá peso implícito na decisão, sobremaneira se a
confissão for de fatos comuns a todos os litisconsortes.
O parágrafo único traz a segunda limitação da confissão: nas ações de bens imóveis
em que haja pessoas casadas, a confissão deve ser um ato composto para ser eficaz: devem
confessar ambos os cônjuges, ou a confissão de nada vale. Veja: se o cônjuge precisa da
presença do outro para ajuizar ação desta matéria, em litisconsórcio necessário, na forma do
artigo 10 do CPC, não teria sentido que pudesse confessar qualquer fato sozinho.
“Art. 351. Não vale como confissão a admissão, em juízo, de fatos relativos a
direitos indisponíveis.”
O artigo 352 do CPC faz uma diferenciação que é um tanto criticada pela doutrina:
“Art. 352. A confissão, quando emanar de erro, dolo ou coação, pode ser
revogada:
I - por ação anulatória, se pendente o processo em que foi feita;
II - por ação rescisória, depois de transitada em julgado a sentença, da qual
constituir o único fundamento.
Parágrafo único. Cabe ao confitente o direito de propor a ação, nos casos de que
trata este artigo; mas, uma vez iniciada, passa aos seus herdeiros.”
Na hipótese do inciso I, a doutrina defende que seria mais acurado se fosse realizada
a revogação no mesmo processo em que realizada a confissão, pois seria medida de
economia: não seria necessária a formação de outro processo, correndo em apenso, como se
dá se for seguido o que este artigo determina. Deveria, portanto, ser mero incidente
processual, e não ação anulatória autônoma.
A hipótese do inciso II, contudo, é correta, pois somente mediante ação rescisória se
poderia atacar aquela sentença moldada por confissão viciada. Funda-se, esta ação, no
artigo 485, VIII, do CPC:
“Art. 354. A confissão é, de regra, indivisível, não podendo a parte, que a quiser
invocar como prova, aceitá-la no tópico que a beneficiar e rejeitá-la no que lhe for
desfavorável. Cindir-se-á, todavia, quando o confitente lhe aduzir fatos novos,
suscetíveis de constituir fundamento de defesa de direito material ou de
reconvenção.”
“Art. 355. O juiz pode ordenar que a parte exiba documento ou coisa, que se ache
em seu poder.”
A principal problemática, sobre este meio de prova, é justamente definir o que seja o
conceito de documento, ou melhor, que tipo de termo é ou não é um documento. A
modernidade trouxe uma infinidade de meios de comunicação, por exemplo, e cada
inovação tecnológica apresenta inovação que suscita dúvidas sobre a sua natureza
documental. Como exemplo, o e-mail.
Assim, a doutrina traça um conceito extremamente abrangente de documentos:
documento é todo meio dentro do qual fique registrada a ocorrência de um fato. Neste
diapasão, não só o e-mail, mas até mesmo o disco rígido de um computador pode ser
considerado documento, com correção técnica.
Por conta dessa amplitude conceitual, o documento, hoje, tem baixo grau de
confiabilidade, pois como os sinais eletrônicos são de turvação e deturpação bastante fácil,
a veracidade dos documentos é bastante questionável.
Veja os artigos mais relevantes sobre este meio de prova, no CPC, os quais, bastante
literais, dispensam muitos comentários, senão em alguns poucos aspectos que serão vistos:
“Art. 364. O documento público faz prova não só da sua formação, mas também
dos fatos que o escrivão, o tabelião, ou o funcionário declarar que ocorreram em
sua presença.”
O inciso IV deste artigo 365 traz uma boa novidade: o advogado pode autenticar a
cópia de documento oriundo do mesmo processo, para uso alhures, administrativamente.
Outra inovação relevante é a do inciso VI deste artigo: aqui se encontram as bases
do processo eletrônico, dos autos virtuais, que vem regulado na Lei 11.419/06.
Os artigos seguintes, 366 a 371, trazem normas que melhor estariam na Lei de
Registros Públicos (e por isso mesmo, alguns lá se repetem):
“Art. 366. Quando a lei exigir, como da substância do ato, o instrumento público,
nenhuma outra prova, por mais especial que seja, pode suprir-lhe a falta.”
“Art. 370. A data do documento particular, quando a seu respeito surgir dúvida ou
impugnação entre os litigantes, provar-se-á por todos os meios de direito. Mas, em
relação a terceiros, considerar-se-á datado o documento particular:
I - no dia em que foi registrado;
II - desde a morte de algum dos signatários;
III - a partir da impossibilidade física, que sobreveio a qualquer dos signatários;
IV - da sua apresentação em repartição pública ou em juízo;
V - do ato ou fato que estabeleça, de modo certo, a anterioridade da formação do
documento.”
O artigo 372 traz, outrossim, norma processual bastante relevante: o documento não
impugnado é tido por presumidamente verdadeiro. Veja:
“Art. 372. Compete à parte, contra quem foi produzido documento particular,
alegar no prazo estabelecido no art. 390, se lhe admite ou não a autenticidade da
assinatura e a veracidade do contexto; presumindo-se, com o silêncio, que o tem
por verdadeiro.
Parágrafo único. Cessa, todavia, a eficácia da admissão expressa ou tácita, se o
documento houver sido obtido por erro, dolo ou coação.”
Os artigos 387 a 389 tratam da falsidade documental, que deve ser argüida em
incidente processual na primeira oportunidade dada à parte que crer em tal falsidade, após a
juntada do documento. Veja:
“Art. 396. Compete à parte instruir a petição inicial (art. 283), ou a resposta (art.
297), com os documentos destinados a provar-lhe as alegações.”
“Art. 397. É lícito às partes, em qualquer tempo, juntar aos autos documentos
novos, quando destinados a fazer prova de fatos ocorridos depois dos articulados,
ou para contrapô-los aos que foram produzidos nos autos.”
“Art. 398. Sempre que uma das partes requerer a juntada de documento aos autos,
o juiz ouvirá, a seu respeito, a outra, no prazo de 5 (cinco) dias.”
O artigo 398 guarda relação direta com o contraditório, e se aplica inclusive para os
litisconsortes, ou seja, a qualquer parte que não aquela que juntou o documento.
O artigo 399 do CPC traz algumas novidades importantes, incluídas recentemente
nos seus parágrafos:
tendência vem no artigo 541 do CPC, especialmente no parágrafo único deste dispositivo,
referente aos recursos especiais por dissídio jurisprudencial:
Destarte, vê-se que nos documentos deste caso específico, não se exige o sistema de
autenticação próprio que se exige para os documentos eletrônicos do artigo 399 do CPC.
Consiste na prova colhida a partir do depoimento de quem, não sendo parte, foi
arrolado no processo. É o depoimento de quem não for parte do processo29.
Para que haja testemunho, é necessário que haja colheita direta do depoimento. Se a
testemunha não for ouvida diretamente pelo juiz, ou seja, se há sua declaração em outro
momento, e suas palavras forem reduzidas a termo e trazidas aos autos, se trata de prova
documental, e não testemunhal.
Surge aqui um problema, no depoimento colhido por meio digital, a chamada
colheita remota do depoimento, na qual o juiz se encontra em um lugar, e a pessoa que
depõe se encontra fisicamente em outro local. No processo penal, esta questão é bastante
controvertida, mas no processo civil a questão é mais simples: é prova testemunhal,
plenamente conceituada, a que for tomada por meio remoto. Inclusive, o CNJ planeja
extinguir colheita direta de prova oral por carta precatória, transformando todos os atos de
colheita em eletrônicos, ou seja, o próprio deprecante seria o juízo tomador dos
depoimentos, por meio digital.
O sistema de colheita da prova oral é o presidencialista: o juiz ouve a pergunta feita
pela parte, e a refaz à testemunha. No processo penal, o sistema, que antes era assim, agora
é o direto, ou seja, a parte inquire diretamente a testemunha.
A prova testemunhal é regulada no CPC a partir o artigo 400. No artigo 401, se
encontra previsão que repete a que é consignada no artigo 227 do CC:
29
Vale dizer que o perito, quando chamado a falar sobre seu laudo, não é testemunho: está apenas
esclarecendo a prova técnica, e não depondo.
Há quem diga, minoritariamente, que este artigo é inconstitucional, por impor óbice
por vezes intransponível à prova de alguns negócios jurídicos. Mas veja que o artigo
seguinte, 402, e o artigo 404, mitigam esta regra de forma significativa:
Estas exceções não vêm previstas no CC, que consigna a regra de forma absoluta. É
de se entender, então, que prevalece a normatização do CPC, que melhor implementa a
ampla defesa.
O artigo 405 do CPC regula quem pode e quem não pode atuar como testemunha.
Vale reproduzir a íntegra:
“Art. 405. Podem depor como testemunhas todas as pessoas, exceto as incapazes,
impedidas ou suspeitas.
§ 1o São incapazes:
I - o interdito por demência;
II - o que, acometido por enfermidade, ou debilidade mental, ao tempo em que
ocorreram os fatos, não podia discerni-los; ou, ao tempo em que deve depor, não
está habilitado a transmitir as percepções;
III - o menor de 16 (dezesseis) anos;
IV - o cego e o surdo, quando a ciência do fato depender dos sentidos que lhes
faltam.
§ 2o São impedidos:
I - o cônjuge, bem como o ascendente e o descendente em qualquer grau, ou
colateral, até o terceiro grau, de alguma das partes, por consangüinidade ou
afinidade, salvo se o exigir o interesse público, ou, tratando-se de causa relativa ao
estado da pessoa, não se puder obter de outro modo a prova, que o juiz repute
necessária ao julgamento do mérito;
II - o que é parte na causa;
III - o que intervém em nome de uma parte, como o tutor na causa do menor, o
representante legal da pessoa jurídica, o juiz, o advogado e outros, que assistam ou
tenham assistido as partes.
§ 3o São suspeitos:
I - o condenado por crime de falso testemunho, havendo transitado em julgado a
sentença;
II - o que, por seus costumes, não for digno de fé;
III - o inimigo capital da parte, ou o seu amigo íntimo;
IV - o que tiver interesse no litígio.
§ 4o Sendo estritamente necessário, o juiz ouvirá testemunhas impedidas ou
suspeitas; mas os seus depoimentos serão prestados independentemente de
compromisso (art. 415) e o juiz lhes atribuirá o valor que possam merecer.”
“Art. 414. Antes de depor, a testemunha será qualificada, declarando o nome por
inteiro, a profissão, a residência e o estado civil, bem como se tem relações de
parentesco com a parte, ou interesse no objeto do processo.
§ 1o É lícito à parte contraditar a testemunha, argüindo-lhe a incapacidade, o
impedimento ou a suspeição. Se a testemunha negar os fatos que Ihe são
imputados, a parte poderá provar a contradita com documentos ou com
testemunhas, até três, apresentada no ato e inquiridas em separado. Sendo provados
ou confessados os fatos, o juiz dispensará a testemunha, ou lhe tomará o
depoimento, observando o disposto no art. 405, § 4o.
§ 2o A testemunha pode requerer ao juiz que a escuse de depor, alegando os
motivos de que trata o art. 406; ouvidas as partes, o juiz decidirá de plano.”
Veja que se o motivo para fundamentar uma contradita só for descoberto no curso
do depoimento da testemunha, esta não será descartada, mas o juiz poderá levar em conta
tal suspeição ou impedimento ao sopesar o valor do depoimento, minorando o seu valor
probatório na fundamentação.
O artigo 407 do CPC determina prazo regressivo para a apresentação do rol de
testemunhas:
“Art. 407. Incumbe às partes, no prazo que o juiz fixará ao designar a data da
audiência, depositar em cartório o rol de testemunhas, precisando-lhes o nome,
profissão, residência e o local de trabalho; omitindo-se o juiz, o rol será
apresentado até 10 (dez) dias antes da audiência.
Parágrafo único. É lícito a cada parte oferecer, no máximo, dez testemunhas;
quando qualquer das partes oferecer mais de três testemunhas para a prova de cada
fato, o juiz poderá dispensar as restantes.”
Assim como o prazo do artigo 277 do CPC, o decêndio para a audiência, este prazo
se conta excluindo o dia da juntada do ato, e o primeiro dia útil anterior será o termo a quo.
Mesmo que o parágrafo único indique que podem ser arroladas até dez testemunhas,
a prática indica que apenas as três testemunhas por fato, ali mencionadas, é que são
realmente ouvidas.
O artigo 408 trata das hipóteses em que a substituição de testemunhas é permitida:
“Art. 408. Depois de apresentado o rol, de que trata o artigo antecedente, a parte
só pode substituir a testemunha:
I - que falecer;
II - que, por enfermidade, não estiver em condições de depor;
III - que, tendo mudado de residência, não for encontrada pelo oficial de justiça.”
“Art. 411. São inquiridos em sua residência, ou onde exercem a sua função:
I - o Presidente e o Vice-Presidente da República;
II - o presidente do Senado e o da Câmara dos Deputados;
III - os ministros de Estado;
IV - os ministros do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, do
Superior Tribunal Militar, do Tribunal Superior Eleitoral, do Tribunal Superior do
Trabalho e do Tribunal de Contas da União;
V - o procurador-geral da República;
VI - os senadores e deputados federais;
VII - os governadores dos Estados, dos Territórios e do Distrito Federal;
VIII - os deputados estaduais;
IX - os desembargadores dos Tribunais de Justiça, os juízes dos Tribunais de
Alçada, os juízes dos Tribunais Regionais do Trabalho e dos Tribunais Regionais
Eleitorais e os conselheiros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito
Federal;
X - o embaixador de país que, por lei ou tratado, concede idêntica prerrogativa ao
agente diplomático do Brasil.
Parágrafo único. O juiz solicitará à autoridade que designe dia, hora e local a fim
de ser inquirida, remetendo-lhe cópia da petição inicial ou da defesa oferecida pela
parte, que arrolou como testemunha.”
O artigo 412 do CPC deixa claro que há dois meios de fazer com que as
testemunhas venham a juízo, quais sejam, o arrolamento com ou sem pedido de intimação:
“Art. 441. Ao realizar a inspeção direta, o juiz poderá ser assistido de um ou mais
peritos.”
“Art. 35. Quando a prova do fato exigir, o Juiz poderá inquirir técnicos de sua
confiança, permitida às partes a apresentação de parecer técnico.
Parágrafo único. No curso da audiência, poderá o Juiz, de ofício ou a requerimento
das partes, realizar inspeção em pessoas ou coisas, ou determinar que o faça pessoa
de sua confiança, que lhe relatará informalmente o verificado.”
Casos Concretos
Questão 1
prova de ofício pelo juiz pode representar maltrato a algum princípio do processo?
Compatibilize os preceitos dos arts. 130 e 1107 do CPC. A inversão do ônus da prova
encontra algum permissivo legal? Com ela deve ser invertido o ônus financeiro? A
confissão difere do reconhecimento do pedido? Qual é a sua natureza jurídica?
Resposta à Questão 1
O artigo 1.107 do CPC está situado na jurisdição voluntária, mas o que este
dispositivo quer dizer, em verdade, é que na jurisdição voluntária a atividade probatória do
juiz é concorrente, enquanto na jurisdição contenciosa, a atividade é suplementar: no artigo
1.107, a iniciativa probatória do juiz não depende do ritmo da atividade probatória das
partes, enquanto no processo contencioso, o artigo 130 determina que só é dado ao juiz
provar aquilo que as partes não provaram ou não conseguiram provar de maneira adequada.
Acerca da inversão do ônus probatório, se encontra permissivo legal apenas nas
relações consumeristas, no artigo 6º, VIII, do CDC. A responsabilidade pelo custeio da
prova, no entanto, permanece com a mesma pessoa que deveria ter produzido a prova,
porque a inversão, na verdade, é só referente à desconstituição do direito do autor, que é
imposta ao réu: se a prova serve à desconstituição, o ônus financeiro é do réu; se a prova
serve à comprovação de verossimilhança, o ônus financeiro incumbe ao autor. Não se
invertem, portanto, os ônus financeiros da prova.
A confissão difere claramente do reconhecimento do pedido. A confissão diz
respeito apenas ao fato que fundamenta a pretensão, enquanto o reconhecimento do pedido
diz respeito à própria pretensão processual. De forma bem plana, se a parte reconhece que
existe dívida a ser por ela paga, está confessando (mas poderá aduzir defesa, direta ou
indireta); quando diz que vai pagar tal dívida, está reconhecendo o pedido – não oferecerá
defesa alguma. Por fim, a natureza jurídica da confissão é de meio de prova, enquanto o
reconhecimento da procedência do pedido tem natureza de ato jurídico processual
dispositivo (para alguns, ato de composição entre as partes, ato negocial).
Questão 2
Resposta à Questão 2
Questão 3
Até que fase do processo pode a parte promover a juntada de documentos? Que
princípio (s) confere (m) suporte à resposta?
Resposta à Questão 3
“Art. 517. As questões de fato, não propostas no juízo inferior, poderão ser
suscitadas na apelação, se a parte provar que deixou de fazê-lo por motivo de força
maior.”
Tema XVII
Notas de Aula30
serem seguidas, e a opção feita abre nova gama de opções, e assim por diante, se
encadeando os atos até o termo do processo.
Dentro desta estrutura encadeada, surge, genericamente, a possibilidade de
realização de duas audiências, a de conciliação (hoje chamada preliminar) e a de instrução e
julgamento. Mas veja que nenhuma das duas é obrigatoriamente realizada, pois,
dependendo dos atos praticados, o sistema combinatório não as incluirá como opção do
deslinde. Por exemplo, se a petição inicial for indeferida, sequer haverá a audiência
preliminar, quanto mais a audiência de instrução e julgamento (doravante AIJ).
A audiência preliminar, então, é ainda mais facultativa, em que pese Dinamarco crer
obrigatória: só se a realizará quando as partes pretenderem conciliação, pois o saneamento,
sua outra finalidade, pode ser feito por escrito, sem necessidade de audiência.
A AIJ só se justifica se houver prova oral a ser produzida. Não havendo prova oral a
ser colhida, a AIJ não é necessária. Quando for realizada, a AIJ é o último ato da fase
instrutória do processo, inclusive sendo nela proferida a sentença 31, se possível, ou aberta
conclusão para prolação posterior da sentença.
Veja que, então, quando a AIJ for realizada, ela é o marco divisório entre a fase
instrutória e a decisória do processo.
A AIJ possui quatro fases: preparatória, conciliatória, probatória e decisória. Veja
que, então, se trata mesmo de uma audiência de conciliação, instrução e julgamento, porque
a intentada conciliatória, pelo julgador, é uma fase necessária na AIJ.
A fase preparatória é a designação de data e intimação das partes. A audiência
começa com o pregão das partes, e tem início, desde já, a tentativa de conciliação.
Frustrada, passa-se à colheita de provas, pela ordem: depoimentos pessoais; depoimentos
testemunhais; oitivas de peritos; e debates orais, culminando em alegações finais.
A última fase, decisória, não consiste apenas em proferir sentença, pois o juiz pode
decidir outras questões prévias à sentença.
“Art. 455. A audiência é una e contínua. Não sendo possível concluir, num só dia,
a instrução, o debate e o julgamento, o juiz marcará o seu prosseguimento para dia
próximo.”
31
Há interessante previsão, neste caso: se o juiz profere qualquer decisão em AIJ, antes da sentença, o agravo
que é cabível é somente o retido, porque a próxima fase será a decisória, e o próximo passo natural é a
sentença (podendo haver conversão da conclusão em diligência, em determinados casos).
A AIJ, no termo legal, só se adia por dois motivos, como esclarece o artigo 453 do
CPC:
Há, contudo, uma infinidade de motivos lógicos, porém inominados, que ensejariam
adiamento da AIJ, como qualquer hipótese de força maior ou fortuito relevante.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Mesmo depois de removido para outro juízo da mesma comarca, o juiz prolatou
sentença em processo que já lhe estava concluso antes da remoção. A parte vencida apelou
em busca da nulidade da sentença sob o argumento de que o juiz prolator da decisão não
tinha mais competência para tal. Aduz que mesmo que já tivesse encerrado a instrução, a
vinculação havia cessado, pelo que o processo deveria ter sido enviado ao substituto legal.
Pergunta-se: A sentença padece do vício alegado pelo apelante ? Justifique.
Resposta à Questão 2
Notas de Aula32
1. Sentença
32
Aula proferida pelo professor Ademar Vidal Neto, em 3/10/2008.
O conceito de sentença, como se sabe, foi alterado pela Lei 11.232/05, modificando
a redação do § 1º do artigo 162 do CPC:
Até então, prevalecia o conceito de sentença traçado por Barbosa Moreira, que dizia
que sentença “é a decisão do juiz que põe fim ao processo em primeiro grau de jurisdição”.
Uma segunda corrente, minoritária, mas tecnicamente correta, defendia que sentença “é a
decisão do juiz que dá uma resposta aos pedidos formulados pelo autor, em primeiro grau
de jurisdição”. Veja que esta segunda corrente era tecnicamente correta porque o juiz, de
fato, pode eventualmente continuar atuando e decidindo no processo, após a prolação da
sentença – a exemplo da sua decisão de primeira admissibilidade da apelação.
Existia ainda uma terceira corrente, que hoje ganha relevância, que defendia que a
sentença se define por seu conteúdo, ou seja, só é sentença a decisão proferida pelo juiz que
se imiscua numa das hipóteses dos artigos 267 e 269 do CPC. Veja que esta corrente, que
era bastante inexpressiva, parece ter sido a adotada pelo legislador reformador, mas, como
se verá, não se resume apenas à leitura literal do dispositivo. Como se sabe, a Lei 11.232/05
veio consolidar o processo sincrético, que já vinha desde 2002 com a Lei 10.444 para
obrigações de dar coisa certa ou de fazer ou não fazer, implementando o sincretismo nas
execuções de obrigações de pagar quantia certa. Para tanto, foi necessário alterar o conceito
de sentença, que passou a ter a redação agora observada.
Imagine-se a seguinte hipótese: havendo litisconsórcio passivo, o juiz acolhe
alegação de ilegitimidade passiva e exclui um dos réus, dando prosseguimento ao feito em
relação ao outro co-réu. Esta decisão, antes da alteração de 2005, era claramente
interlocutória, pois, a prevalecer a tese majoritária da época, esta decisão não punha fim ao
processo em primeira instância, não podendo ser sentença.
Hoje, interpretando-se gramaticalmente o novel § 1º do artigo 162, chegar-se-ia à
conclusão que esta decisão seria sentença, pois seu conteúdo está no artigo 267, VI, do
CPC, e, na literalidade, é o bastante para a configuração da sentença. Surge, para quem
assim interpreta, sério problema: qual recurso é desafiado por esta decisão?
Veja que a hibridez de uma decisão de saneamento que extingue o processo para um
co-réu e dá seguimento para outro cria uma perplexidade na definição do recurso cabível.
Sendo sentença, seria apelação, mas como apelar intermediariamente em um processo? E se
se interpuser agravo de instrumento, não há identificação deste recurso com uma sentença,
pois é dedicado a atacar decisões interlocutórias. E, diga-se, nunca será possível, diante de
uma só decisão, interpor mais de um recurso, pelo principio da unirrecorribilidade, da
singularidade recursal.
Diante desta perplexidade, há mesmo quem defenda que seria cabível espécie de
apelação por instrumento, o que é uma criação onde a lei não permite, ou seja, é criação
não-legislativa de uma nova espécie de recurso – subvertendo gritantemente a taxatividade
dos recursos.
Por conta disso, a doutrina mais sensata vem e critica o problema na sua raiz: o
conceito de sentença. Na verdade, sentença não é apenas aquilo que o § 1º do artigo 162
dispõe; ali, o legislador traçou apenas um início de conceito, que precisa ser
complementado por outros elementos. Vejamos.
Barbosa Moreira e Nelson Nery Júnior estabelecem que, para ser sentença, é
necessário que haja o preenchimento do conteúdo legal, ou seja, é necessária a incidência
em um dos artigos ali mencionados, 267 e 269 do CPC, somada ao principal efeito que se
espera da sentença, qual seja, pôr fim ao processo em primeiro grau de jurisdição.
Somente assim, dizem, soluciona-se a problemática de decisões que incidem em hipóteses
do conteúdo legal, dos artigos 267 ou 269, em momento intercorrente do processo (como
no exemplo dado, da parcial extinção do litisconsórcio).
Destarte, pode-se sintetizar um conceito moderno de sentença: é o ato do juiz que,
incidindo numa das hipóteses do artigo 267 ou 269 do CPC, põe fim ao processo em
primeira instância.
Assim, aquela decisão de saneamento que excluiu um dos co-réus, continua sendo
decisão interlocutória, desafiando recurso de agravo, portanto.
A redação anterior deste artigo dispunha que o mérito seria julgado, enquanto hoje
se vê que é resolvido. Esta alteração é técnica, porque quando o processo chega ao fim por
transigência das partes, por exemplo, ou quando o autor renuncia ao direito, o processo terá
fim com o mérito solucionado, mas sem que o juiz tenha julgado a lide: a resolução do
mérito veio por conta de atividade das partes, e não do juiz, que sequer incursou na
apreciação do mérito.
As sentenças definitivas comportam subclassificação, havendo duas correntes a
disputar qual seja a melhor definição de cada espécie. Trata-se da classificação trinária e da
classificação quinária das sentenças definitivas. Vejamos.
Além da classificação das sentenças exposta na tese trinária, repetida por esta
classificação quinária, esta tese elabora conceitos que subdividem as sentenças
condenatórias, criando duas vertentes autônomas, a executiva lato sensu e a mandamental.
Como dito, a sentença condenatória declara o direito, e impõe ao condenado a
execução forçada. É fato, portanto, que toda sentença condenatória põe fim a uma crise de
inadimplemento, quer seja de pagar uma quantia devida, quer seja de entregar um bem
qualquer. Entretanto, os adeptos desta classificação quinária preferem traçar uma diferença
quanto ao modo como a sentença condenatória será executada: se o inadimplemento é de
pagar quantia, o procedimento é o da execução por quantia certa, ou cumprimento de
sentença; se a obrigação imposta na condenação é de dar, será seguido o rito de execução
apropriado.
E este meio diverso de execução é o que diferencia as sentenças executivas lato
sensu, como nas obrigações de dar, das mandamentais. A sentença executiva lato sensu tem
no seu conteúdo a obrigação que é positivada, a forma de cumprimento, e a sanção pelo
descumprimento. São executivas lato sensu, por exemplo, a sentença da ação de despejo e
as possessórias.
As mandamentais, por seu lado, enfrentam divergências sobre seu conceito mesmo
entre os adeptos da classificação quinária, mas a maior parte entende que é uma simples
ordem, um comando para realizar determinada atividade. O descumprimento da sentença
mandamental pode até mesmo tipificar o crime de desobediência.
Veja que a classificação quinária é um tanto desnecessária, e imprecisa, pois toma
por base para classificar a sentença os seus efeitos, e não a sua essência. Por isso, prevalece
amplamente a classificação trinária.
Toda sentença deve observar uma estrutura formal, prevista no artigo 458 do CPC:
Havendo falta ou defeito em cada um dos elementos desta estrutura, cada vício
ensejará uma conseqüência.
Faltando o relatório, a sentença é nula: não preenchendo a estrutura exigida na lei,
há vício de nulidade. Mas atente-se ao seguinte: não é pela simples informalidade do
relatório que a sentença é nula, sem ressalvas, pois o processo é instrumental. Veja:
imagine-se que o juiz, mesmo sem capitular a sentença, sem expor clara e expressamente
que parte de seu decisum é relatório, que parte é fundamentação e dispositivo, deixa bem
claro que perscrutou amiúde o processo, ou seja, no corpo da fundamentação aponta, passo
a passo, os atos processuais relevantes. Esta sentença não pode ser nulificada: o relatório
não está fisicamente traçado, capitulado, mas está entremeado na própria fundamentação.
Veja que os princípios que regem a teoria das nulidades processuais partem da
premissa que o ato deve ser salvo, e a nulificação de um ato é sempre a ultima ratio. Sendo
assim, esta sentença não é nula, pois na verdade não carece de relatório – o tem diluído na
fundamentação. Se alcançou o objetivo – demonstrar que o juiz leu o processo –, a
instrumentalidade das formas e o não prejuízo fazem válido o ato.
Se o vício é na fundamentação, este sim é absolutamente impossível de ser
superado. Se a sentença não conta com fundamento, é absolutamente nula, nada podendo
mitigar esta imposição constitucional da motivação.
O problema é quando a sentença tem, sim, fundamentação, mas esta é deficiente.
Como exemplo, a fundamentação emprestada, expediente criado pela jurisprudência de
segunda instância, que consiste na utilização, na decisão de segundo grau, dos fundamentos
da própria decisão revista, ou seja: o tribunal, desejoso em manter a sentença na
integralidade, por entender que não tem nada a ser reformado, simplesmente consigna que
se vale dos mesmos fundamentos da sentença, sem ressalvas. A doutrina critica este
expediente, entendendo que se trata, de fato, de uma ausência de fundamentação, porque o
tribunal deveria revisitar passo a passo as argumentações do juiz, e criar seu próprio
fundamento, mesmo que seja apenas prestigiando as assertivas do juiz de primeira
instância. Contudo, a jurisprudência adota esta fundamentação emprestada com freqüência.
O STF, no RE 235.800, entendeu plenamente constitucional esta forma de fundamentação,
indo além: pode até mesmo ser adotada a fundamentação do parecer do parquet, sequer
sendo necessário que seja o fundamento da sentença. Veja:
Sendo extra petita, duas situações podem ocorrer: pode o juiz dar ao autor aquilo
que pediu, e mais alguma coisa que não foi requerida. Sendo este o caso, aplica-se o mesmo
raciocínio da sentença ultra petita: a sentença será anulada apenas na parte excedente,
alheia ao pedido, e mantida na parte atinente ao pedido. Outrossim, pode haver sentença
extra petita que ignora o pedido, dando ao autor apenas algo diverso do que requerera.
Neste caso, não há como salvar o ato, e a sentença deve ser integralmente nulificada.
Se a sentença for citra petita, a questão é mais séria. Se o juiz ignorar um dos
pedidos feitos pelo autor, mas enfrentar os demais, poderá ser convalidada a sentença, na
parte que foi correspondente ao pedido? Veja que a sentença, de fato, é inexistente na parte
que não enfrentou pedidos feitos. Por isso, prevalece o entendimento de Barbosa Moreira,
que diz que, sendo inexistente na parte que ignora pedidos, não há como se salvar o ato –
tornando-se inexistente como um todo.
Outros autores, como Leonardo Greco, entendem que não pode ser considerada
inexistente como um todo, porque mesmo defeituoso, há o dispositivo, não sendo
inexistente – sendo nula, então.
Considerando-se a inexistência, tese majoritária, a conseqüência é que o autor
poderá renovar seu pedido ignorado, sem precisar desconstituir a sentença citra petita –
demanda que será distribuída para o mesmo juízo, por dependência, e só repetirá o pedido
ignorado. Levando em conta a tese minoritária, da nulidade, a conseqüência é que a
sentença citra petita deverá ser desconstituída, em recurso ou ação rescisória, e não apenas
ignorada.
Mas há ainda outros vícios que podem contaminar a sentença, tais como aquele que
se vê no parágrafo único do artigo 459 do CPC:
33
Não se confunde, a sentença citra petita, com a infra petita, que é plenamente válida, pois nesta última o
juiz não deixa de enfrentar nenhum pedido, mas dá apenas parcial procedência a este.
É claro que o réu não tem interesse em combater este vício, pois o pedido que foi
atendido a descontento foi do autor, e não seu, vez que será necessária liquidação que seria
descabida, fosse dada plena atenção pelo juiz ao dispositivo líquido que era devido.
Há ainda um outro vício a ser apontado, previsto no artigo 460, parágrafo único, do
CPC:
“Art. 460. É defeso ao juiz proferir sentença, a favor do autor, de natureza diversa
da pedida, bem como condenar o réu em quantidade superior ou em objeto diverso
do que lhe foi demandado.
Parágrafo único. A sentença deve ser certa, ainda quando decida relação jurídica
condicional.”
Isto significa que a sentença condicional é vedada. O juiz não pode prolatar
sentença condicional, que é considerada nula. Sentença condicional é aquela que relega a
um momento posterior a comprovação do fato constitutivo do direito do autor. Exemplo
bem óbvio do conceito de sentença condicional seria o de um dispositivo que contivesse a
seguinte redação: “condeno o réu ao pagamento de cem mil reais, se o autor demonstrar que
os seus prejuízos preenchem este valor”. Ora, esta comprovação teria que ter sido feita na
fase cognitiva do processo, e se o autor não o fez, a sentença deveria ter sido de
improcedência, e não de condenação condicional.
Não se pode confundir esta vedação à sentença condicional em si mesma com a
sentença que julga relação jurídica sujeita a condição ou termo, que é válida – e devida,
pois não pode o Judiciário deixar de julgar qualquer relação que seja a si submetida. Se a
relação é sujeita a condição ou termo, o artigo 572 do CPC assim expõe:
“Art. 572. Quando o juiz decidir relação jurídica sujeita a condição ou termo, o
credor não poderá executar a sentença sem provar que se realizou a condição ou
que ocorreu o termo.”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
a) Não. O artigo 460 do CPC determina que as provas do prejuízo sejam feitas no
curso do conhecimento, e a liquidação se presta apenas a apurar e quantificar
aquilo que foi provado, e não para ter provados, no seu curso, os prejuízos
alegados. Trata-se de sentença condicional, inadmissível.
b) Não, pois não é admissível que a sentença tenha eficácia condicionada à prova
de qualquer coisa no futuro: as provas devem ser produzidas antes da sentença,
servindo como bases para esta.
c) Também não: o magistrado não pode criar uma providência a ser tomada pelo
autor, para que este tenha o seu direito. Não pode condicionar aquilo que se
espera da jurisdição – dizer o direito – a nenhuma condição alheia aos fatos já
estabelecidos no processo.
Questão 2
Resposta à Questão 2
Não: ainda pode exercer atos posteriores que são atos de jurisdição, em regra
satisfativos, e, para além disso, o artigo 473 do CPC admite alterações por ele procedidas,
só sendo-lhe vedada a revisão substancial da sentença.
Para a teoria que entende que a sentença é simples imputação, os efeitos que a
sentença produzirá são expressamente previstos na lei, e o juiz apenas imputa a uma das
partes, se sucumbente. Mas confunde-se, esta tese, ao dizer que os efeitos da sentença são
da lei: é o conteúdo da sentença que está na lei (constitutivo, declaratório ou condenatório).
O artigo 475-N, I, do CPC, parece permitir a execução de sentença declaratória,
porque esta também reconhece obrigação, como ali está disposto que é característico ao
título executivo judicial. No entanto, a sentença declaratória não é executável, porque
“Súmula 54, STJ: Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de
responsabilidade extracontratual.”
Tema XIX
Notas de Aula34
O artigo 462 do CPC permite que as partes tragam fatos novos, surgidos no curso do
processo, se influenciarem na resolução da lide. Veja:
34
Aula proferida pelo professor Ademar Vidal Neto, em 3/10/2008.
Exemplo clássico em que esta alteração não se faz possível é quando o autor
ingressa em juízo reclamando indenização por danos sofridos em sua integridade física. No
curso do processo, o autor falece em razão das lesões. Veja que é fato ocorrido no curso da
demanda, e é materialmente novo, devendo ser levado em consideração pelo juiz, mas
desse fato não pode surtir alterações do pedido: não poderão os sucessores do autor falecido
pleitear outras providências oriundas daquela morte, como custeio do enterro, majoração do
dano moral, etc.
Destarte, a sentença ficará adstrita à causa de pedir e pedido originais, e os fatos
novos apenas encaminharão o convencimento do juiz.
O artigo 463 do CPC estabelece que a sentença publicada é inalterável, a não ser
para correção de erros materiais (tais como erros datilográficos) ou erros de cálculo (que
são também, a rigor, erros materiais). Veja:
A redação deste artigo, diga-se, foi outra que se fez alterada pela Lei 11.232/05, pois
seu caput não estava mais compatível com o conceito de sentença, vez que mencionava
encerramento da atividade jurisdicional do juiz.
O que este artigo veda é que o juiz reaprecie questões que foram objeto de decisão,
e não que dê novas decisões, em outros momentos pós-sentença (como o faz, por exemplo,
na concessão de antecipação de tutela de eventual recurso interposto, por ele admitido).
Nas hipóteses do § 4º, o valor será equitativamente arbitrado pelo juiz: há, sim certa
liberdade em medir o valor correto. Não se pode, jamais, confundir a apreciação eqüitativa
com a atribuição de valores irrisórios, o que é bastante freqüente nos casos em que a
Fazenda Pública sofre os encargos de honorários – equidade é justiça, e os honorários
devem atender ao que se espera do trabalho desenvolvido.
Quando há beneficiário de gratuidade de justiça, e ele for quem deu causa à despesa,
a condenação ao pagamento de honorários deve ser realizada da mesma forma. Contudo, o
artigo 12 da Lei 1.060/50 estabelece que, condenado, não será exigível dele esta obrigação,
senão quando, e se, sua situação econômica se alterar. Passados cinco anos desde o trânsito
em julgado da condenação, se não houver alteração, a dívida fica prescrita. Veja:
“Art. 12. A parte beneficiada pelo isenção do pagamento das custas ficará obrigada
a pagá-las, desde que possa fazê-lo, sem prejuízo do sustento próprio ou da família,
se dentro de cinco anos, a contar da sentença final, o assistido não puder satisfazer
tal pagamento, a obrigação ficará prescrita.”
Nas ações coletivas, os honorários advocatícios existem, mas são fixados de forma
peculiar, por força do que dispõe os artigos 18 da Lei 7.347/85, e 87, do CDC:
“Art. 18. Nas ações de que trata esta lei, não haverá adiantamento de custas,
emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação
da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas
e despesas processuais.”
“Art. 87. Nas ações coletivas de que trata este código não haverá adiantamento de
custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem
condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de
advogados, custas e despesas processuais.
Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a associação autora e os diretores
responsáveis pela propositura da ação serão solidariamente condenados em
honorários advocatícios e ao décuplo das custas, sem prejuízo da responsabilidade
por perdas e danos.”
Assim, a regra geral é que o autor destas ações, se deu causa às despesas indevidas,
não será condenado ao pagamento destas, pelo mesmo raciocínio que se faz no mandado de
segurança: a ação tem cunho de alta relevância social (pois defende direito coletivo, lato
sensu, e o mandamus combate atos ilegais de autoridades), e por isso deve ser fomentada,
sendo que o vislumbre da condenação sucumbencial, muitas das vezes, inibe a propositura
da ação que seria legítima.
Casos Concretos
Questão 1
prova do dano alegado na inicial, como o acréscimo no custo final da obra, e que a
paralisação provocou o retardamento no lançamento das unidades autônomas e na sua
comercialização, pelo tempo respectivo. O demandado, em contestação, sustentou a
impossibilidade de se invocar a responsabilidade objetiva do art. 811, I do CPC, pois a
ação de nunciação de obra nova não tem caráter cautelar e que o direito à tutela jurídica
do Estado só pode provocar dano indenizável, se pleiteado de forma temerária ou de má-
fé; e que isso não ocorreu, pois não foi reconhecido na sentença proferida na nunciatória.
O juiz julgou o pedido indenizatório procedente, reconhecendo que o demandado litigou de
má-fé na ação anterior, mas afastou a incidência do art. 811, I, do CPC. Pergunta-se: Agiu
corretamente o juiz? Justifique. Qual a natureza jurídica da sanção oriunda do
reconhecimento da litigância de má-fé? É compensatória ou punitiva? Se o juiz não a fixar,
haveria preclusão?
Resposta à Questão 1
Neste caso da nunciação de obra nova, contudo, o artigo 811 do CPC, não se aplica:
a ação não é, tecnicamente, uma cautelar, e este dispositivo é específico para tais ações.
Tendo sido a liminar uma concessão de antecipação de tutela, o artigo 811 é descabido, para
parte da doutrina.
Mas há, todavia, quem defenda, com acerto, ser este artigo aplicável, baseado na
fungibilidade dos provimentos de urgência, do artigo 273, § 7º, do CPC:
Encampando esta tese, o juiz agiu mal. E não parou por aí: mesmo entendendo que
não se aplica o artigo 811, entendeu que houve má-fé na obtenção da liminar, condenando-
o, portanto, e esta condenação pela má-fé não foi requerida pela parte contrária. Desta
forma, fica claro que o juiz julgou extra petita, ferindo a congruência, a adstrição. O juiz
afastou o motivo da condenação pedida, e, modificando por sua conta a causa de pedir
remota (pois a má-fé é alegação fática, e não desdobramento jurídico da conduta),
condenou o demandado por motivo que ele próprio identificou (valendo dizer que se fosse
mera correção da causa de pedir próxima, fundamento do pedido, não haveria problema
algum). Alterar a causa remota é extrapolar a congruência, em clara atuação extra petita.
O STJ, no REsp 154.353, assim se manifestou:
Quanto à natureza da condenação por litigância de má-fé, esta é uma sanção pelo
mau uso, abuso, do direito de agir. Assim, em abstrato, é claramente punitiva, e não
compensatória, nem dedicada a compelir ao cumprimento de qualquer obrigação, como as
astreintes. No caso concreto, a litigância de má-fé não impôs multa, mas sim se prestou a
ser causa de pedir de indenização.
Se o juiz não aplicar a multa pela litigância de má-fé, esta não preclui, podendo ser
constatada e aplicada a qualquer tempo, e em qualquer grau de jurisdição.
Tema XX
A coisa julgada. Conceito. Importância do instituto. Coisa julgada formal, material e soberanamente
julgada. Eficácia da sentença não transitada em julgado. Momento de formação da coisa julgada. Efeitos da
coisa julgada: vinculativo, sanatório e preclusivo (julgamento implícito). Coisa Julgada e Preclusão.
Notas de Aula35
1. Coisa julgada
35
Aula proferida pelo professor Rodolfo Kronemberg Hartmann, em 6/10/2008.
“Art. 467. Denomina-se coisa julgada material a eficácia, que torna imutável e
indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário.”
Este conceito legal é um tanto estranho, pois ali se vê que a coisa julgada é formada
quando não mais há cabimento de “recurso ordinário ou extraordinário”. Esta definição
legal, segundo Barbosa Moreira, é oriunda de uma má tradução do código processual civil
italiano, em que a coisa julgada é passível de afastamento por recurso extraordinário.
Outro erro deste artigo é definir coisa julgada como efeito, eficácia dada à sentença.
Esta concepção há muito se abandonou na doutrina pátria, porque este efeito desapareceria
quando a obrigação consignada na sentença, por exemplo, fosse adimplida, e a coisa
julgada desapareceria – o que não procede. Por isso, esta definição legal não tem muita
relevância para o estudo deste instituto.
No Brasil, a maioria absoluta dos doutrinadores conceitua a coisa julgada como uma
qualidade jurídica que torna imutável o conteúdo da sentença. Desta forma, se a obrigação
eventualmente prevista na sentença for adimplida, esta deixará realmente de ter efeitos, mas
o conteúdo, imutável, não perderá a qualidade de coisa julgada. Neste sentido entendem,
dentre outros, Ada Pellegrini, Marinoni e Humberto Theodoro Júnior.
De outro lado, há alguns autores que conceituam a coisa julgada como situação
jurídica, como Freddie Didier e Alexandre Câmara. Esta teoria, de fato, é uma mescla entre
as duas primeira teses apresentadas, tratando a coisa julgada como uma situação em que se
encontra a sentença, que por um lado tem o conteúdo imutável, e ao mesmo tempo tem
também alguns efeitos, dentre eles o efeito negativo de impedir o ajuizamento de demanda
idêntica, pelo óbice da coisa julgada.
A importância da coisa julgada é que se trata de instituto que implementa
fortemente a segurança jurídica. Sendo formada a coisa julgada, aquela questão sobre a
qual versa terá se estabilizado, não podendo, em regra, ser revisitada. Como a segurança
jurídica é um princípio, é ponderável, e veremos adiante alguns casos em que se cogita da
relativização desta imutabilidade, em prol da justiça e do interesse público.
Outra importância deste instituto, que não é muito abordada, é que foi por força da
coisa julgada é que se desenvolveram melhor os conceitos dos elementos da ação: o que se
vedava, anteriormente ao desenvolvimento do conceito de coisa julgada, era a repetição da
mesma ação; para impor a coisa julgada como qualidade, dada sua força, foi necessário se
desenvolver os elementos da ação – partes, pedido e causa de pedir, a tríplice identidade –,
para que se pudesse identificar com segurança se uma ação estava sendo repetida ou não, e
assim obstar-se ou não sua resolução pelo Judiciário.
O momento de formação da coisa julgada é simples; ocorre assim que há a
preclusão das vias impugnativas, ou seja, quando não mais couber recurso, quer porque
esgotadas as possibilidades, quer porque expirado o prazo in albis, a última decisão transita
em julgado. A coisa soberanamente julgada, como se verá, se forma após dois anos da
formação da coisa julgada material.
Há três estágios de coisa julgada, bem definidos: a coisa julgada formal, a material,
e a coisa soberanamente julgada. Veja que se trata de uma escala de força: a coisa julgada
soberana, antes foi coisa julgada material; esta, por sua vez, antes de ser material, foi coisa
julgada formal. A escalada é obrigatória, iniciando-se na coisa julgada formal. Sendo assim,
vejamos cada uma destas qualidades jurídicas.
Coisa julgada formal é a qualidade que torna imutável o conteúdo da decisão,
apenas naquele processo em que foi exarada. Significa, portanto, que a discussão da
relação material que foi decidida não poderá ser retomada naquele processo, mas não fica
impedida a rediscussão da relação material em outro processo.
A coisa julgada material é a que, além de impedir a discussão da matéria no mesmo
processo em que a decisão se formou, também impede que seja rediscutida em qualquer
outro processo que venha a ser instaurado, à exceção da ação rescisória, por prazo de dois
anos, que é dedicada exclusivamente a atacar decisões com este trânsito em julgado
material. Vê-se claramente, portanto, a escalada da coisa julgada formal para material, pois
esta é também formal.
Por último, a coisa soberanamente julgada nada mais é do que a sentença feita coisa
julgada material que, passados os dois anos desde a sua formação, não mais está sujeita à
ação rescisória: é o que se chama de preclusão máxima, pois nada é capaz de pôr abaixo a
sentença soberanamente julgada. Repita-se, porém, que há hoje modernas discussões sobre
a relativização da coisa julgada, que permitiria alterar até mesmo a coisa soberanamente
julgada. O tema será abordado amiúde, adiante.
A sentença que faz coisa julgada formal, em regra, é da espécie terminativa, ou seja,
das que incidem no artigo 267 do CPC. A material, bem como a soberanamente julgada, em
regra é sentença definitiva, incidente no artigo 269 do CPC. Nesta regra geral, a sentença
terminativa só faz coisa julgada formal, e a sentença definitiva faz coisa julgada material e
formal, como dito, pois que esta é ínsita à material, e quando soberana, tem em si insertas
tanto a formal quanto a material.
Fugindo às regras gerais acima consignadas, há excepcional coisa julgada soberana
que se forma mesmo antes do prazo de dois anos da ação rescisória: assim o é na sentença
de mérito prolatada no juizado especial, como dispõe o artigo 59 da Lei 9.099/95:
“Art. 59. Não se admitirá ação rescisória nas causas sujeitas ao procedimento
instituído por esta Lei.”
1.1.1. Coisa julgada secundum eventum probationis vs. secundum eventum litis
Tomando como exemplo uma ação civil pública, imagine-se que o juiz chega ao
final e constata que as provas não foram suficientes para condenar o réu. Esta sentença será
de improcedência, na forma do artigo 269, I, do CPC, e se trata de decisão secundum
eventum probationis, segundo as provas produzidas. Neste caso, mesmo transitando em
julgado, o legitimado poderá ajuizar uma nova ação, mesmo se tratando, como se trata, de
uma sentença de mérito. Assim autoriza o artigo 16 da Lei 7.347/85:
“Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da
competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado
improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado
poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.”
No processo individual, não há esta regra. Mesmo por falta de provas, a sentença de
mérito, no processo individual, faz coisa julgada material.
Como a sentença secundum eventum probationis, no processo coletivo, não faz
coisa julgada material, a ação rescisória não tem cabimento, pois não encontra objeto: para
combater a sentença, basta ajuizar nova ação, com novas provas.
A coisa julgada secundum eventum litis, de seu lado, é um pouco diferente: trata-se
da coisa julgada in utilibus, que é aquela em que sua imutabilidade só se opera se for para
beneficiar o demandante individual açambarcado pelo titular de uma ação coletiva. Veja:
no processo coletivo, a titularidade do representante – do MP, por exemplo – só se justifica
para otimizar a prestação jurisdicional, pois o direito em si dá legitimidade isolada a cada
um dos indivíduos que sofrerão aqueles efeitos da tutela coletiva. Assim, se o julgado for
procedente, o trânsito em julgado é formal e material, mas há possibilidade de que o
particular escolha entre quedar-se satisfeito com a decisão, ou ajuizar ação individual para
melhorar o resultado. Se o julgamento, ao contrário, for improcedente (à exceção da
improcedência por falta de provas), também faz coisa julgada formal e material apenas no
âmbito coletivo, mas o particular que tenha o direito fica livre para entrar com a ação
individual, a fim de obter provimento. Assim, a coisa julgada é de acordo com a própria
tradução da expressão – de acordo com a solução da lide.
Assim se resume, então, a coisa julgada secundum eventum litis: sempre faz coisa
julgada para o réu e para o autor do processo coletivo, procedente ou improcedente (à
exceção da improcedência por falta de provas, secundum eventum probationis, que cai
diante de novas provas, como visto); e, para os titulares individuais do direito, cabe, na
procedência, a escolha por satisfazer-se com ela, ou ajuizar ação própria para tentar
resultado individual melhor; e na improcedência, sempre poderão ajuizar a ação individual,
se quiserem.
Há ainda, nos processos coletivos, a seguinte peculiaridade: mesmo antes do seu
termo, se o titular individual do direito preferir, poderá ajuizar ação individual. É o que se
chama de right to opt out. Da mesma forma, em sentido inverso, se há demanda individual
em curso, e uma ação coletiva sobre o direito que se discute for proposta, pode o autor da
individual pedir sobrestamento de seu feito, de forma a aguardar o resultado da ação
coletiva, e a ele se sujeitar se for favorável. É o right to opt in, que vem consignado no
artigo 104, usque 103, do CDC:
“Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa
julgada:
I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de
provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com
idêntico fundamento valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do
parágrafo único do art. 81;
II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo
improcedência por insuficiência de provas, nos termos do inciso anterior, quando
se tratar da hipótese prevista no inciso II do parágrafo único do art. 81;
III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as
vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81.
§ 1° Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não prejudicarão
interesses e direitos individuais dos integrantes da coletividade, do grupo, categoria
ou classe.
§ 2° Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência do pedido, os
interessados que não tiverem intervindo no processo como litisconsortes poderão
propor ação de indenização a título individual.
§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art. 13 da
Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de indenização por
danos pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista neste
código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que
poderão proceder à liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.
§ 4º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal condenatória.”
“Art. 2o-A. A sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta por
entidade associativa, na defesa dos interesses e direitos dos seus associados,
abrangerá apenas os substituídos que tenham, na data da propositura da ação,
domicílio no âmbito da competência territorial do órgão prolator.
Parágrafo único. Nas ações coletivas propostas contra a União, os Estados, o
Distrito Federal, os Municípios e suas autarquias e fundações, a petição inicial
deverá obrigatoriamente estar instruída com a ata da assembléia da entidade
associativa que a autorizou, acompanhada da relação nominal dos seus associados
e indicação dos respectivos endereços.”
Este artigo veio ao direito por meio da medida provisória 1.590/97, e, mesmo
absurdo, permanece vigente, pois a medida foi convertida na Lei 9.494/97.
O processo cautelar, para a maioria absoluta da doutrina, como Câmara ou Fux, tem
seu próprio mérito, que se trata da pretensão ali exercida, que não se confunde com o
processo principal (em que pese Humberto Theodoro Júnior entender, isoladamente, que a
cautelar não tem mérito por não haver lide, fazendo associação um tanto imprecisa).
Sendo assim, existindo o mérito cautelar, surge a questão: a coisa julgada da
cautelar é material, ou é sempre formal?
Em regra, a sentença cautelar não faz coisa julgada material, mas apenas formal,
exceto quando pronunciar a prescrição ou a decadência do direito que se quer assegurar.
Todavia, há ainda outros casos em que a sentença cautelar, tecnicamente, faria coisa julgada
material, e um exemplo que poderia assim ser identificado é dado por Dinamarco, qual seja,
o do capítulo da sentença relativo à condenação em custas e honorários advocatícios: se
não transitar em julgado esta condenação, significa que sua execução será para sempre
provisória, o que soa bem estranho.
Outro caso: imagine-se que uma cautelar de arresto tome a posse de um táxi, em
liminar, ficando este na posse do requerente por seis meses. Na sentença da cautelar, o juiz
revoga a liminar, e julga improcedente o pedido – bem como o faz na ação principal. Neste
caso, o parágrafo único do artigo 811 do CPC, plenamente aplicável, determina que o juiz,
na própria sentença de improcedência da cautelar, possa apurar o dano causado pela
liminar. Este capítulo, de apuração do prejuízo, é também um capítulo de sentença cautelar
que faria, para a doutrina, coisa julgada material, e não somente formal. Veja:
“Art. 811. Sem prejuízo do disposto no art. 16, o requerente do procedimento
cautelar responde ao requerido pelo prejuízo que lhe causar a execução da medida:
I - se a sentença no processo principal lhe for desfavorável;
II - se, obtida liminarmente a medida no caso do art. 804 deste Código, não
promover a citação do requerido dentro em 5 (cinco) dias;
III - se ocorrer a cessação da eficácia da medida, em qualquer dos casos previstos
no art. 808, deste Código;
IV - se o juiz acolher, no procedimento cautelar, a alegação de decadência ou de
prescrição do direito do autor (art. 810).
Parágrafo único. A indenização será liquidada nos autos do procedimento
cautelar.”
Em verdade, a lógica da corrente que, com acerto, traça a regra geral de que a
sentença cautelar não faz coisa julgada material, mas somente formal, assenta na previsão
do artigo 807 do CPC:
Ora, uma decisão que pode ser revogada ou modificada a qualquer tempo, não pode
ter a qualidade de coisa julgada, imutável, pois é expressamente mutável. Mas veja que esta
regra só pode ser aplicada em sentenças de procedência das cautelares, pois se for
improcedente, a coisa julgada é material, como se depreende do próprio parágrafo único do
artigo 808 do CPC:
Mesmo sendo esta a regra geral, as exceções apontadas são bastante corretas. Em
suma, a sentença cautelar de procedência só faz coisa julgada formal, mesmo transitando no
artigo 269, I, do CPC – havendo as exceções dos capítulos que fariam, para parte da
doutrina, coisa julgada material, acima vistas, além da prescrição e decadência –, mas a
sentença cautelar de improcedência, na forma do artigo 808, parágrafo único, do CPC, faz,
sim, coisa julgada material.
Outro argumento, de Leonardo Greco, que embasa o entendimento de que a cautelar
somente faz coisa julgada formal, é o de que as decisões prolatadas em cognição sumária
não fazem, nunca, coisa julgada material. Assim, como a cognição na cautelar é sumária,
até mesmo na sentença, de procedência ou improcedência, esta nunca faria coisa julgada
material.
Há sentenças terminativas que, mesmo fazendo coisa julgada formal, têm efeito
análogo ao de coisa julgada material, pois exercem o principal dos efeitos, qual seja, o
óbice à rediscussão da matéria decidida. Trata-se da sentença que decide pelo artigo 267, V,
pelo que vem consignado no artigo 268 do CPC:
“Art. 268. Salvo o disposto no art. 267, V, a extinção do processo não obsta a que
o autor intente de novo a ação. A petição inicial, todavia, não será despachada sem
a prova do pagamento ou do depósito das custas e dos honorários de advogado.
Parágrafo único. Se o autor der causa, por três vezes, à extinção do processo pelo
fundamento previsto no no III do artigo anterior, não poderá intentar nova ação
contra o réu com o mesmo objeto, ficando-lhe ressalvada, entretanto, a
possibilidade de alegar em defesa o seu direito.”
Destarte, a sentença que extingue o processo por perempção, litispendência ou coisa
julgada, impede que nova ação seja conhecida, se versar sobre a mesma discussão.
A sentença condenatória, por sua vez, gera efeitos desde logo, permitindo a
execução provisória, ou cumprimento provisório, na forma dos artigos 475-I, § 1º, e 587 do
CPC:
36
A prova pré-constituída é dispensada, realizando-se uma excepcional “mini-fase instrutória”, quando a
prova estiver em poder da autoridade coatora.
Mas nem sempre a sentença condenatória terá efeitos imediatos, pré-trânsito: basta
haver interposição de um recurso com efeito suspensivo, e a eficácia estará suspensa.
Outro caso seria o da sentença condenatória contra a Fazenda Pública que, na forma
do artigo 2º-B da Lei 9.494/97, não permite execução provisória:
“Art. 2o-B. A sentença que tenha por objeto a liberação de recurso, inclusão em
folha de pagamento, reclassificação, equiparação, concessão de aumento ou
extensão de vantagens a servidores da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, inclusive de suas autarquias e fundações, somente poderá ser
executada após seu trânsito em julgado.”
Este artigo, assim como o 2º-A, antes mencionado, se mantém vigente, pois a Lei
9.494/97 é exatamente a conversão da medida provisória 1.570/97.
37
Alexandre Câmara entende que se trata, esta anulatória de assembléia, de litisconsórcio necessário unitário.
Outro vício que não se convalida é o transrescisório: o vício que pode ser discutido
mesmo após o prazo da rescisória não é sanado, nem mesmo pela coisa soberanamente
julgada. Como exemplo, a sentença inconstitucional, que será mais bem abordada adiante.
Há ainda os vícios da rescindibilidade, que não são sanados: consistem nos vícios
que autorizam a ação rescisória, e que, portanto, existem mesmo após o trânsito em julgado.
Veja que há vícios que eram nulidades, mas quando do trânsito em julgado, transformam-se
em rescindibilidades. A rescisória, de fato, só se presta a revelar vícios, e não a promover
análise de fatos, à exceção do artigo 485, VII, do CPC, em que o objetivo da ação é discutir
a justiça da decisão:
Significa, este efeito, que tudo o que não se consignou no processo, por ficção
jurídica, é como se tivesse sido alegado implicitamente, e julgado implicitamente. Trata-se
de um efeito que impede novas ações por alegações que não foram feitas pelas partes, por
ofensa à coisa julgada, na forma da teoria da identidade da relação jurídica material (pois
não seria, pela tríplice identidade, coisa julgada).
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Tício intentou uma ação reivindicatória em face de Mévio. O objeto da ação era um
apartamento. No decorrer do processo e após a citação, Mévio alienou o imóvel a Caio.
O feito, todavia, prosseguiu tendo como partes Tício e Mévio. O pedido acabou
sendo julgado procedente e a sentença transitou em julgado.
Tício requereu então ao juiz da causa a sua imissão na posse do imóvel, então
ocupado por Caio. Este, ao ser intimado para desocupar o imóvel, interpõe embargos de
terceiro, sustentando que não podia ser alcançado pela coisa julgada formada em processo
do qual não fora parte.
Indaga-se:
a) O processo inicial poderia seguir contra Mévio mesmo depois da venda do
imóvel a Caio? Justifique a resposta.
b) Tem razão Caio ao interpor embargos de terceiro? Por quê?
Resposta à Questão 2
“Art. 42. A alienação da coisa ou do direito litigioso, a título particular, por ato
entre vivos, não altera a legitimidade das partes.
§ 1o O adquirente ou o cessionário não poderá ingressar em juízo, substituindo o
alienante, ou o cedente, sem que o consinta a parte contrária.
§ 2o O adquirente ou o cessionário poderá, no entanto, intervir no processo,
assistindo o alienante ou o cedente.
§ 3o A sentença, proferida entre as partes originárias, estende os seus efeitos ao
adquirente ou ao cessionário.”
Questão 3
quando na atividade, a título de direito pessoal, incorporada aos seus vencimentos por
força da regra constante do artigo 4º da Lei Estadual nº 2365/94. À unanimidade de votos
da turma julgadora, o Colendo Órgão Especial denegou a ordem, fundado no argumento
de que o artigo 4º da lei Estadual 2365/94, que serviu de base à impetração, foi declarado
inconstitucional, pelo mencionado Órgão Especial. Transitado em julgado o respectivo
acórdão, a mesma servidora voltou a juízo para postular o mesmo direito através de uma
ação de conhecimento, submetida ao procedimento comum ordinário. Diante do caso
concreto e analisando o artigo 15 da Lei 1533/51 e Súmula 304 do Supremo Tribunal
Federal, decida.
Resposta à Questão 3
Formas de argüição da coisa julgada. Limites objetivo e subjetivo da coisa julgada. A coisa julgada nas
sentenças determinativas. A coisa julgada nos processos coletivos. A coisa julgada no mandado de
segurança. A coisa julgada e o reexame necessário (art. 475, CPC). A coisa julgada nas ações de estado. A
relativização da coisa julgada: histórico, mecanismos processuais e conseqüências. Comentários aos arts.
741, parágrafo único e 475-L, parágrafo1º, ambos do CPC.
Notas de Aula38
Uma vez que haja formação de coisa julgada em um processo, se o autor ajuíza
novamente a mesma ação, o réu deverá argüir a ofensa à coisa julgada em preliminar de
contestação. Se não o fizer neste momento, no entanto, poderá argüir em momento
38
Aula proferida pelo professor Rodolfo Kronemberg Hartmann, em 6/10/2008.
posterior, pois o artigo 301, § 4º, e o 267, § 3º,do CPC, permitem ao juiz conhecer de ofício
daquela matéria:
Como se vê, o réu que perde o momento da argüição responde pelas custas que
possam ter advindo do retardamento.
A coisa julgada pode ser argüida em sede recursal, pois como se percebe, a matéria
é argüível a qualquer momento (sempre com esta ressalva das custas lhe serem impostas).
Até mesmo em sede de rescisória a matéria é alegável, como dispõe o artigo 485, IV, do
CPC:
“Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da
competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado
improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado
poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.”
por seu prejuízo, o escrivão não poderá defender ausência de culpa ou dolo, pois esta
questão foi solucionada como motivo do processo inicial. Não poderá alegar a matéria que
é considerada “justiça da decisão” do primeiro processo, salvo se comprovar alguma
hipótese dos incisos do artigo 55 supra, ou seja, a exceção do processo mal gerido. Sua
defesa, então, só poderá contrariar o fundamento da primeira se provar que o primeiro
processo foi mal conduzido pelas partes.
“Art. 15. A decisão judicial sobre alimentos não transita em julgado e pode a
qualquer tempo ser revista, em face da modificação da situação financeira dos
interessados.”
sendo tese bem coerente. Mas a tese que prepondera, no entanto, é a que parte da análise da
súmula 423 do STF:
“Súmula 423, STF: Não transita em julgado a sentença por haver omitido o recurso
“ex officio”, que se considera interposto “ex lege”.”
Assim, conclui esta corrente que o reexame necessário é condição para o trânsito
em julgado da sentença, e sem ele, a sentença pode ser revista a qualquer tempo.
Casos Concretos
Questão 1
Tício, dizendo-se filho de Caio, propôs em face do afirmado pai Ação de Alimentos.
Respondeu Caio alegando que não é o pai da criança.
O juiz repeliu essa alegação; em decorrência, afirmou a existência da relação de
parentesco e, por sentença transitada em julgado, julgou procedente o pedido inicial e
condenou o réu a pagar ao autor alimentos de R$ 2.000,00 (dois mil reais), por mês.
Ulteriormente, Caio propôs em face de Tício Ação Negatória de Paternidade.
Respondeu Tício, com preliminar de coisa julgada, fundando-se no argumento de
que a questão da existência da relação de parentesco já foi decidida, no sentido afirmativo,
por sentença transitada em julgado, proferida nos autos da anterior ação de alimentos. O
juiz rejeitou a preliminar e julgou procedente o pedido inicial, por sentença que também
transitou em julgado. Diante do que se decidiu, na segunda ação, Caio requereu ao juiz da
primeira que declare extinta sua obrigação de pagar os referidos alimentos de R$ 2.000,00
(dois mil reais) mensais. Sustenta que não pode continuar a pagar alimentos a quem
sentença transitada em julgado declarou que não é seu filho.
Indaga-se:
Resposta à Questão 1
Sim, inclusive é exemplo clássico utilizado por autores como Marinoni e Ovídio
Batista, pois na ação de alimentos, o parentesco é fundamento, e não dispositivo, não
fazendo coisa julgada, portanto. As sentenças são contraditórias, mas não são juridicamente
incompatíveis.
Se a ação negatória for procedente, a revisão dos alimentos é possível, pois a
sentença ali prolatada é determinativa, por determinar relação continuativa. Mas veja que
deve ser feita esta revisão em ação autônoma, e não nos próprios autos.
Questão 2
Resposta à Questão 2
Veja que, na verdade, poderia haver ação rescisória, pois o vício de incompetência
absoluta foi transformado em rescindibilidade, desde o trânsito em julgado.
Questão 3
Em abril de 1985, João, menor impúbere, representado por sua mãe Maria, ajuizou
ação de investigação de paternidade, cumulada com pedido de alimentos, em face de Ivan ,
a qual foi julgada improcedente por insuficiência de provas tocante à indigitada
paternidade. Em janeiro de 2004, o mesmo menor ingressou com nova ação de
investigação de paternidade, cumulada com pedido de pensão alimentícia, em face do
mesmo réu, sob a alegação de que à época do ajuizamento da 1ª ação o exame pelo DNA
ainda não era disponível, postulando, assim, a realização dessa prova. Aduz que a
sentença da 1ª demanda, não concluiu categoricamente que o demandado não fosse seu
pai biológico, julgando improcedente o pedido "porque a prova reunida era insuficiente
para se afirmar a paternidade imputada". Sustenta que não permitir o ajuizamento de nova
ação, agora que tem à disposição o exame de DNA, método científico que não lhe estava
disponível naquela época, é o mesmo que condená-lo ad aeternum a não ter paternidade.
Em contestação, Ivan arguiu preliminar de coisa julgada, por haver ação idêntica
anteriormente ajuizada com julgamento de mérito e trânsito em julgado. Requereu a
extinção do processo com base no art. 267, V, do CPC. Você é o juiz da causa. Decida,
fundamentadamente.
Resposta à Questão 3
Não há coisa julgada a ser reconhecida. O STJ vem admitindo esta nova ação, por
entender que é prova formalmente nova, e portanto se aplica a teoria da coisa julgada
secundum eventum probationis.
Neste sentido, veja a ementa do REsp 226.436: