Hermeneutica Bíblica
Hermeneutica Bíblica
Hermeneutica Bíblica
APOSTILA DE HERMENÊUTICA
PROF: JONNY VIDAL
PAÇO DO LUMIAR- MA
03/16
HERMENÊUTICA BÍBLICA
I - INTRODUÇÃO
Não basta ter uma Bíblia. E necessário lê-la. Não basta lê-la. É necessário entendê-la. E
poderíamos continuar dizendo que não basta entender a Bíblia. E preciso obedecê-la. Mas, geralmente, nos
deparamos com textos do qual não compreendemos ou temos uma compreensão equivocada.
A palavra “hermenêutica” é um legado da língua grega (hermeneutike), emprestado à nossa
língua do latim hermenêutica. E, hodiernamente, tida como uma teoria ou filosofia da interpretação — capaz
de tornar compreensível o objeto de estudo mais do que sua simples aparência ou superficialidade. O termo
grego hermeios remete-nos ao deus Hermes, que, segundo a mitologia grega, foi o descobridor da linguagem e
da escrita. Assim, Hermes era tido como aquele que descobriu o objeto utilizado pela compreensão humana
para alcançar o significado das coisas e transmiti-lo às outras pessoas. Essa divindade grega era vinculada a
uma função de transmutação, ou seja, transformava aquilo que a compreensão humana não alcançava em algo
que esta compreensão conseguisse compreender.
O termo “hermenêutica”, no âmbito teológico, está ligado:
a) Aquilo que concerne à interpretação;
b) Àquilo que se relaciona com a habilidade de interpretação;
c) Às técnicas para a hábil explicação do texto, à natureza do processo interpretativo.
A palavra básica hermenêutica (Gr. hermeeneia, verbo hermeneuo) significa “interpretar”,
“expor”, “explicar” (Dicionário Bíblico Wycliffe, pg 311).
O termo “hermenêutica” procede do verbo grego hermeneueín, usualmente traduzido por
“interpretar”, e do substantivo hermeneia (έρμενεΐα), que significa “interpretação”. Tanto o verbo quanto o
substantivo podem significar “traduzir, tradução”, ou “explicar, explicação”.
Seu objetivo primário é estabelecer regras gerais e específicas de interpretação, a fim de entender
o verdadeiro sentido do autor ao redigir as Escrituras. E a ciência da compreensão de textos bíblicos.
No que concerne aos seus períodos históricos, pode-se afirmar que a hermenêutica bíblica passou
por sete períodos distintos: Pré Cristão; Cristão Primitivo; Patrística;Medieval; Reforma e ortodoxo;
Moderno;Contemporâneo.
IV - ESCOLAS DE INTERPRETAÇÃO
Entre elas destacamos duas: alegorista e literalista. Vejamos a posição interpretativa
dessas duas escolas de interpretação bíblica e os principais métodos por elas empregados.
1 - Alegórica
O termo alegoria procede da combinação de dois termos gregos, allos, isto é, “outro”, e
agoreyo, “falar”, ou “proclamar”. Literalmente significa “dizer uma coisa que significa outra”. O
vocábulo aparece em Gálatas 4:24, a fim de indicar a explicação ou expressão de alguma coisa por
meio do nome ou imagem de outra. Quem alegoriza fala ou escreve sobre alguma coisa por
intermédio de outra, procurando desvendar sentidos simbólicos, espirituais ou ocultos.
Em Lucas 13.32, Cristo usa a alegoria quando diz: “Ide dizer a essa raposa...” referindo-
se à natureza ardilosa e má de Herodes, principalmente a sua agudez. Como figura literária, a
alegoria é uma metáfora estendida e um recurso literário válido e útil; porém, como sistema de
interpretação, mutila os textos bíblicos. A Escritura está repleta de alegorias que são usadas como
recurso retórico e didático.
De acordo com o método alegórico, o sentido literal e histórico das Escrituras é
completamente desprezado, e cada palavra e acontecimento são transformados em alegoria de algum
tipo, a fim de escapar de dificuldades teológicas ou para sustentar certas crenças estranhas e alheias
ao texto bíblico. Assim, não interpreta o texto bíblico, mas perverte o verdadeiro sentido deles,
embora sob o pretexto de buscar um sentido mais profundo ou mais espiritual.
Bultmann chama esse tipo de interpretação de alegorese, e não alegoria: “...Pois se o
texto apresenta uma alegoria, ela naturalmente precisa ser explicada como alegoria. Essa explicação,
entretanto, não é alegorese, uma vez que pergunta pelo sentido tencionado pelo texto.”
M. S. Terry assim se expressa acerca do método alegórico: “O método alegórico de
interpretação se baseia em uma profunda reverência pelas Escrituras e um desejo de exibir suas
múltiplas profundidades de sabedoria. Porém, se notará imediatamente que seu costume é desatender
o significado comum das palavras e dar a elas toda classe de ideias fantásticas. Não se extrai o
significado legítimo da linguagem do autor, mas sim, introduz toda fantasia e capricho do
intérprete.”
O método alegórico, como sistema de interpretação, é repleto de perigos que o tornam
inaceitável ao intérprete da Escritura, a saber:
a) Ele despreza o significado comum e ordinário das palavras, especulando sobre o
sentido místico de cada uma delas;
b) Ele ignora a intenção do autor, inserindo no texto todo tipo de extravagância ou
fantasias que um intérprete possa desejar;
c) O intérprete que usa o presente método rejeita os métodos válidos de interpretação, e a
única base de interpretação encontra-se na arte que sua própria mente concebe;
d) A autoridade básica da interpretação deixa de ser a Bíblia, e passa a ser a mente
engenhosa do intérprete. D. Pentecost assevera que “a interpretação pode então ser distorcida pelas
posições doutrinárias do intérprete, pela autoridade da igreja à qual o intérprete pertence, por seu
ambiente social e por sua formação ou por uma enormidade de fatores”.
e) Quem usa o método alegórico não possui meios de provar as suas conclusões, afirma o
teólogo Ramm:
“Ele não pode estar seguro de coisa alguma, exceto do que lhe foi ditado pela igreja, e
em todas as eras a autoridade da ‘igreja’ tem sido falsamente reivindicada pela presunçosa tirania das
falsas opiniões dominantes... afirmar que o principal significado da Bíblia é um sentido secundário e
que o principal método de interpretação é a ‘espiritualização’, é abrir a porta à imaginação e
especulação praticamente desenfreadas. Por essa razão, insistimos que o controle na interpretação se
encontra no método literal”.
O método alegórico foi usado pelas escolas filosóficas gregas no afã de interpretar os
poemas de Homero e Hesíodo, e reduzir os problemas teóricos e religiosos entre a tradição religiosa
e a herança filosófica.
No tempo de Cristo, estavam entre os quatro tipos principais de exegese: mídráshica,
alegórica, literal e pesher. Filo, provavelmente, foi o maior defensor do método alegórico. Acreditava
que o método literal era uma forma imatura de com- preensão, que deveria ser superado pelo
alegórico. Henrv A. Virkler colaciona dez regras instituídas por Filo. O método deveria ser usado:
a) Se o significado literal repugna a santidade de Deus;
b) Se contraria outra declaração das Escrituras;
c) Se o registro alega tratar-se de uma alegoria;
d) Se as expressões são dúplices ou se há emprego de palavras supérfluas;
e) Se há repetição de algo já conhecido;
f) Se uma expressão é variada;
g) Se empregam sinônimos;
h) Se for possível um jogo de palavras;
i) Se houver algo anormal em número ou tempo (verbal);
j) Se há presença de símbolos.
Filo, comentando sobre a peregrinação de Abrão, afirma:
“A viagem de Abrão para a Palestina é realmente a históna de um filósofo estóico que
deixa a Caldéia (entendimento sensual) e se detém em Harã, que quer dizer “buracos”, e significa o
vazio de conhecer as coisas pelos buracos, isto é, os sentidos. Ao tornar-se Abraão, ele se torna um
filósofo verdadeiramente esclarecido. Casar-se com Sara é casar-se com a sabedoria abstrata”.
Na exegese patrística, Clemente de Alexandria e Orígenes adotaram com devida ênfase o
método alegórico. Clemente desenvolveu a teoria de que cinco sentidos estão relaciona- dos à
Escritura: histórico, doutrinal, profético, filosófico e místico, este por sua vez, suas riquezas são
disponíveis so- mente aos que entendem os sentidos mais profundos. Orígenes, discípulo de
Clemente, cria ser a Escritura uma vasta alegoria na qual cada detalhe é simbólico, e dava grande
importância a I Coríntios 2:6-7, principalmente à expressão “falamos a sabedoria Deus em mistério”.
Orígenes cria que assim como o homem constitui de três partes: corpo, alma e espírito, da mesma
forma a Escritura possui três sentidos: o corpo é o sentido literal, a alma o sentido moral, e o espírito
o sentido alegórico ou místico, do qual usou amplamente ignorando os restantes.
Posteriormente, Agostinho concebeu várias regras para interpretar as Escrituras. Na
prática, contudo, menosprezou todas as suas regras, exceto o método alegórico. Agostinho justificou
suas interpretações alegóricas em II Coríntios 3:6, “porque a letra mata, mas o espírito vivifica”,
querendo com isto dizer que uma interpretação literal da Bíblia mata, mas a alegórica ou espiritual
vivifica. Para ele as Escrituras possuía um sentido quádruplo: histórico, etiológico, analógico e
alegórico.
Na exegese medieval (600-1500), o sentido quádruplo elaborado por Agostinho era a
norma para a interpretação da Bíblia. Segundo a exegese medieval, as quatro regras de Agostinho
existiam em toda passagem bíblica. Virkler assevera que neste período: “a letra mostra-nos o que
Deus e nossos pais fizeram; a alegoria mostra-nos onde está oculta a nossa fé; o significado moral
dá-nos as regras da vida diária e a anagogia mostra-nos onde terminamos nossa luta. ״
Durante essa época os místicos ou cabalístas judaicos acreditavam que cada letra possuía
um significado sobrenatural. O método era substituir uma palavra bíblica por outra que tinha o
mesmo valor numérico, acrescentar ao texto por considerar cada letra de uma palavra como a letra
inicial de outras; substituir novas palavras num texto por algumas letras das palavras primitivas.
O intérprete deve, a todo custo, evitar o uso do método alegórico como princípio válido
de interpretação das Escrituras.
2 - Método Literalista
A princípio não devemos confundir o método literalista, híperliteralista ou letrista com o
método literal ou linguístico gramatical. O método literal reconhece princípios de tradução e
interpretação não reconhecidos pelo seu oposto. O literalismo é o extremo da escola gramatical. O
método literal considera o valor das palavras no texto, mas não ignora os matizes da linguagem
figurada, e o sensus plenior próprio da linguagem escriturística. Ocupa-se tanto da lexicografia, isto
é, do significado das palavras e de sua relação com a oração (sintaxe), quanto do valor retórico da
linguagem conotativa, quando assim intencionada pelo autor. Na escola literalista ignoram-se esses
valores e interpreta-se tudo “ao pé da letra”.
As fraquezas do literalismo
a) Alguns textos são observados, em detrimento a outros.
Textos como Deuteronômio 22:5, I Coríntios 11:13 ou II Coríntios 13:12 são
interpretados literalmente, ignorando as finuras da cultura do mundo de então. Porém, quando se
trata de textos como os de Deuteronômio 21:18-21, 22:8, 5:12 e I Timóteo 2:11-12, dificilmente
alguém os interpreta literalmente. Mas vejamos qual é o sentido de Deuteronômio 22:5. O texto
afirma que:
“Não haverá trajo de homem na mulher, e não vestirá o homem veste de mulher; porque
qualquer que faz isto abominação é ao Senhor, teu Deus”.
Ao que parece a exegese de Deuteronômio 22:5 não é tarefa fácil; entretanto, admitir que
o texto prova que a mulher não deve usar calças compridas (o que é um anacronismo semântico,
visto não existir essa indumentária naqueles dias) carece de autenticidade exegética, senão vejamos.
O texto está envolto em vários aspectos culturais equidistantes de nossa
contemporaneidade, porém, o espírito legal da proibição atravessa qualquer temporalidade cultural.
Dois termos são inclusivos para a exegese de Deuteronômio 22: 5: a palavra hebraica klí, que se
traduz por “que é pertinente a”, mas que se refere contextualmente a qualquer tipo de produtos
manufaturados, embora também possa relacionar- se a adornos e jóias; e o vocábulo sinlah, traduzido
por “roupa, veste ou manta”.
Sínlah é um entre vários termos hebraicos para designar a palavra portuguesa roupa ou
veste. A princípio era feita de lã, e mais tarde utilizou-se pelo de camelo. Tratava-se de uma
vestimenta exterior semelhante a um lençol grande com capuz, e os judeus a usavam como roupa de
frio. Os pobres a usavam como vestido básico de dia e como capa de noite (Ex 22:26-27).
Sem e Jafé tomaram esta vestimenta para cobrir a nudez de seu pai (Gn 9:23). Outros
termos são: beged (Gn 27:15) que era considerado pelos israelitas como um distintivo de dignidade
do usuário; o addereth que indicava que o usuário era um cidadão respeitável (Js 7:21); e o labesb (Ct
5:3), termo genérico para roupa, vestimenta, ou estar vestido.
No contexto bíblico, o uso que se faz desses vocábulos poderia variar um do outro. Às
vezes, fala de vestimentas em sentido próprio, outras como sinal de nível social ou hierárquico, ou
ainda como recurso poético para comparar vestimentas com qualidades abstratas. E assim que se diz
de “vestes de justiça” (Jó 29:14), de “salvação” (II Cr 6:41), de “força” (Is 52:1), e assim por diante.
No trato com o texto de Deuteronômio 22:5, deve-se verificar que sendo os judeus um
povo nômade no período de sua formação, as modas dos homens israelitas permaneceram quase
inalteradas, geração após geração, sofrendo alguma influência, no início, da indumentária dos
egípcios durante o tempo em que lá foi cativo. Havia pouquíssimas diferenças entre o vestuário
feminino e o masculino. A veste interior que se assemelhava a uma camisa justa e apertada chamada
de kethoneth, era feita de lã, linho ou algodão, e geralmente a pessoa que usava apenas esta
vestimenta interior, dizia-se que estava nu (I Sm 19.24; Is 20.2-4). Não havia qualquer diferença
entre a ketbonet masculina e feminina. A vestimenta exterior dos homens consistia numa faixa de
pano quadrada ou oblonga, de 2 a 3 metros de largura que em hebraico se chamava meyil, e é
traduzida por “capa, manto, túnica ou vestimenta”. Era enrolada no corpo como uma coberta
protetora, com dois cantos do material na frente unido ao corpo com um cinto (uma faixa de couro,
com 10 cm de largura ou mais). Os homens judeus usavam franjas com fitas azuis na orla (Nm
15.38). A vestimenta exterior da mulher hebréia era parecida com as do homem, todavia, as
diferenças eram suficientemen- te observáveis (Dt 22.5). Era mais comprida, com borda e franja
suficientes para cobrir os pés (Is 47.22), um material mais fino e mais colorido. Prendia-se à cintura
por um cinto. Como no caso dos homens, a vestimenta da mulher podia ser feita de materiais
diferentes, de acordo com a condição social de cada pessoa. Uma outra peça de destaque no vestuário
femimino era o véu e um ornato para a cabeça.
Do que acima foi descrito fica claro que a diferença entre a indumentária feminina e
masculina era ínfima. Daí, considerarmos que a proibição e a rotulação de “coisa abominável”
revestia-se de um caráter muito mais moral e sacramental do que de usos e costumes. A proibição
como tal era uma referência às perversões sexuais e homossexuais relacionadas ao culto pagão em
Canaã. Thompson assinala que Luciano de Samosata e Eusébio mencionam a prática do travesti no
culto à deusa da fertilidade Astarte. As mulheres apareciam com roupas masculinas e os homens com
roupas femininas nesses cultos, e invertiam a posição sexual e relacionai característica de cada sexo.
Essa inversão da ordem natural era ofensiva e repugnava a distinção criada por Deus entre macho e
fêmea. Todas as leviandades praticadas nos cultos pagãos são severamente rejeitadas por Deus nesse
versículo, pois que, como afirma Matthew Henry: ״A adoção das vestimentas de um sexo por outro é
um ultraje à decência, mancha as distinções da natureza, produzindo efeminação no homem,
indecoro e falsa modéstia na mulher, como também leviandade e hipocrisia para ambos”. Fica claro
que a condenação divina é contra o travestismo, ao indecoro e a hipocrisia característica a quem
assim procede. Embora esta lei em seu contexto original não tenha implicações diretas para com a
nossa vida moderna, há algumas implicações indiretas: "... porque qualquer que faz tais cousas é
abominável ao Senhor teu Deus”. Portanto, é bastante questionável se essa provisão especial da lei
mosaica deve ser relegada ao nível de mero rito inconsequente, que se pode ou deve eliminar
mediante a emancipação dos crentes neotestamentários, os quais devem estar livres do jugo
legalístico do Antigo Testamento.
O Novo Testamento enfatiza o vestuário adequado, modesto, como elemento importante
do testemunho cristão (I Tm 2:9), pelo que o crente dedicado deve vestir-se de maneira a honrar ao
Senhor. Em Gálatas 3:28 a afirmação de Paulo de que não há macho e fêmea não se aplica a coisas
como roupas ou costumes, mas à nossa posição espiritual perante Deus. O reconhecimento das
diferenças relativas entre os sexos, dentro de sua unidade comum à humanidade, é um princípio
digno de ser preservado, mas facilmente mal interpretado.
b) Ignora-se a situação histórica.
A situação histórica do texto também é ignorada no método literalista. As orientações
bíblicas nem sempre são as mesmas em todas as circunstâncias; por exemplo, em Esdras 10:2-3, ele
obriga os judeus a despedirem suas esposas. Porém, o apóstolo Paulo aconselha aos casados com
cônjuges incrédulos a não se apartarem um do outro (I Co 7:12,13).
c) Usa textos de prova isolados para provar certas doutrinas e tradição eclesiástica com
sentidos diferentes do propósito do texto.
A maneira como o Diabo usou o texto bíblico comprova esta prática inverossímil do
texto. Em Mateus 4:6, Satanás cita literalmente o Salmo 91:11-12, não para consolar, e sim para
tentar. Usou literalmente, mas sangrou o propósito principal do texto. Outro exemplo disto é Isaías
55:2 para condenar qualquer uso do dinheiro que não seja para comprar pão. Comentando o primeiro
verso do Salmo 130, tão carregado de dramatismo espiritual e rico ao ser examinado à luz da
totalidade contextual do Salmo, o intérprete literahsta judeu, sempre inclinado ao legalismo, só
observava uma forma correta de orar “das profundezas”, significando, segundo eles, que a oração
devia ser praticada na posição mais baixa possível.
d) Aceitam a inspiração mecanicista das Escrituras Sagradas. Neste caso os hagiógrafos
eram extremamente passivos no ato da inspiração, onde suas idiossincrasias foram ignoradas.
VI - CONTEXTO
O termo contexto significa “tecido com’’. É o nexo recíproco dos vários elementos duma
oração, sejam próximos (contexto imediato), sejam distantes (contexto remoto). Num texto, ou uma
sequencia de textos, o contexto é constituído pela sequencia de parágrafos ou blocos que precedem e
seguem imediatamente o texto, e que podem, de uma forma ou de outra, fazer pesar sobre o texto
certas coerções.
O exame do contexto é extremamente importante por três razões:
a) As palavras, as locuções e as frases podem assumir sentidos múltiplos.
b) Os pensamentos normalmente são expressos por sequencia de palavras ou de frases.
c) Desconsiderar o contexto acarreta interpretações falsas, além de se constituir numa
eisegese.
Tipos de contexto
A interpretação da Bíblia deve levar em consideração os diversos tipos de contexto.
a) Contexto Inicial
E a própria frase ou versículo em que o termo foi usado. Antes mesmo de recorrer ao
contexto imediato e remoto, é extremamente necessário entender o texto (frase) onde o termo
aparece em seu conjunto.
Nos termos principais cujos textos são irregulares em seu contexto, deve-se atentar para:
o gênero literário que o caracteriza; o propósito da obra; a totalidade da mensagem do autógrafo.
Cada um desses itens serve de parâmetro para identificar o significado pretendido pelo
hagiógrafo. Em razão de as Escrituras serem tanto descritivas quanto prescritivas, ocorre a repetição
quase que proposital de certos vocábulos. Assim sendo, se o vocábulo já apareceu em contextos
anteriores ligado a um fato histórico ou código legal, leis cerimoniais, etc., pode ser que o autor
pretenda ao repeti-lo: dar o mesmo significado; esclarecer o sentido anterior; reinterpretar o termo
original aplicando um novo contexto social, moral, religioso ou vivencial.
Não se deve dar prosseguimento a uma interpretação enquanto os termos principais não
forem devidamente compreendidos, isto é, determinado os seus significados. Um bom dicionário do
hebraico e grego bíblicos, uma análise diacrônica do termo, o uso de uma concordância e a
observação do contexto remoto são necessários a fim de que se compreenda o uso dos vocábulos em
contextos distintos. Na análise contextual decompõe-se o texto em suas partes fundamentais. A
postura do intérprete é primariamente analítica, e só depois crítica. No contexto inicial, saber se o
vocábulo está sendo usado em sentido literal (denotativo) ou figurado (conotativo) é imprescindível.
b) Contexto imediato
O contexto imediato, consequente, microcontexto ou subsequente é aquele que procede
imediatamente ao texto. Quando o texto está numa sequencia ordenada, é um termo ou texto que
sucede imediatamente o outro de modo racional, lógico e coerente.
O contexto imediato de um versículo ou texto é forma- do pelos textos que vêm antes e
depois do versículo considerado.
Deve-se: verificar a situação histórica do texto; saber quem foi o autor; a quem o autor
destinou o escrito; e qual foi o propósito do autor.
Assim sendo: o contexto imediato de um versículo é o parágrafo pelo qual é formado; o
contexto de um parágrafo é o capítulo que o forma; o contexto do capítulo é todo o livro.
c) Contexto remoto
O macrocontexto, também chamado amplo, imediato ou remoto de uma palavra ou de
um versículo, é um contexto maior que a palavra ou o versículo que precede ou segue o versículo
considerado. O contexto remoto é formado pelas passagens que não vêm imediatamente antes ou
depois do texto, mas que se referem ao assunto do texto.
Além de o exegeta contar com o esclarecimento do texto, derivado do contexto imediato,
ele também é auxiliado pelo contexto remoto. Pois este é formado por todas as passagens que se
referem ao assunto do texto.
d) Contexto gramatical e lógico
Contexto gramatical e lógico regem-se simultaneamente pelas leis da gramática e da
lógica. O contexto gramatical e lógico confundem-se de modo que é impossível falar de um sem
penetrar na esfera de ação do outro. O contexto gramatical estuda as regras para a construção e
coordenação das frases, exclusivamente através da sintaxe, a disposição das palavras na oração e das
orações no período. O propósito do contexto gramatical é verificar o nexo dos termos com outros
termos na mesma frase, e a relação da oração com outras orações do mesmo período. No contexto
lógico, entretanto, a conexão das ideias de uma determinada sentença, oração ou frase, relativas a
outras orações do mesmo parágrafo, capítulo ou livro do mesmo autor.
O contexto lógico apresenta-se unido ao gramatical, principalmente através do uso de
palavras que estabelecem ligações entre dois termos ou duas orações, os chamados conectivos. Os
conectivos podem apresentar-se como preposições, conjunções , etc.
Os conectivos são palavras que ligam orações subordina- das e coordenadas à anterior.
Os conectivos são de duas espécies: coordenantes, pois ligam orações coordenadas, e subordinantes,
que ligam orações subordinadas. Há, ainda, outros conectivos: os pronomes relativos (que, quanto,
quem, o qual, onde, cujo — depois de substantivo), que ligam orações subordinadas adjetivas.
e) Contexto literário
Os escritores estavam familiarizados não somente com a cultura contemporânea à sua
época, mas também com a literatura poética e filosófica.
Chama-se de contexto literário (no âmbito bíblico) o contexto que é próprio à literatura e
publicações correntes no período vetero ou neotestamentário, e que servem como fundo literário para
a compreensão dos matizes literários das Escrituras.
VI I- FIGURAS DE LINGUAGEM
1 – Metáfora
A metáfora implica, pois, numa comparação em que o conectivo comparativo fica
subentendido (Jo 15:1; 10:9; 14:6; 6:51; Mt 5:13-14; 6:22; I Co 3:9; Lc 13:32; Gn 49:9; SI 71:3;
84:11).
2 - Sinédoque
Faz-se uso desta figura quando se toma a parte pelo todo ou o todo pela parte, o plural
pelo singular, o gênero pela espécie, ou vice-versa. o salmista toma a parte pelo todo ao dizer:
“Minha carne repousará segura”, em lugar de dizer: “meu corpo ou meu ser”, que seria o todo, sendo
a carne só parte de seu ser (SI 16:9). O apóstolo toma a o todo pela parte quando diz sobre a ceia do
Senhor: “Todas as vezes que [...] beberdes o cálice”, em lugar de dizer “beberdes do cálice”; isto é,
parte do que há no cálice (I Co 11:26).
3 - Metonímia
A metonímia consiste em substituir uma palavra por outra. Na Bíblia, existem pelo
menos três tipos de metonímia.
A – A causa é usada em lugar do efeito. Os opositores de Jeremias disseram: “... Vinde,
firamo-lo com a língua...” (Jr 18.18). Como seria absurdo produzir ferimentos com a língua, é óbvio
que eles estavam referindo-se a palavras. A língua era a causa, e as palavras o efeito.
B – O efeito é usado em lugar da causa. Davi disse: “Eu te amo, ó Senhor, minha força”
(Sl 18.1). A força (efeito) é empregada em lugar da causa (o Senhor).
C – O objeto é empregado em lugar de outro semelhante ou que está a ele relacionado.
Quando Paulo disse: “Não podeis beber o cálice do Senhor...” (1 Co 10.21), estava referindo-se ao
conteúdo do cálice, não ao cálice em si.
Quando Jesus disse: “Se uma casa estiver dividida contra si mesma, tal casa não poderá
substituir” (Mc 3.25), é claro que ele não estava falando de uma casa de verdade; referia-se à família
que mora na casa.
4 – Prosopopéia
Usa-se esta figura quando se personificam as coisas inanimadas, atribuindo-lhes os
feitos e ações das pessoas (I Co 15:55; I Pd 4:8; Is 55:12; Sl 85:10-11).
5 – Ironia
A ironia consiste em dar a sensação de louvar o que se pretende condenar, em exprimir
as suas intenções por antífrases, em dizer o inverso do que se pretende deixar entender. Com a ironia
pretende-se sugerir o contrário daquilo que se diz com as palavras. A ironia assemelha-se à
hipocrisia, mas combatendo-a com as armas que esta mesma utiliza. ( II Co 11: 5; 12:11; I Rs
18:27).
6 - Hipérbole
Na linguagem corrente, seu domínio de preferência, a hipérbole, consiste em utilizar
termos excessivos e impróprios, como “genial”, “fantástico”, “sublime”, “ignóbil”, “execrável”,
entre outros; além de comparações irrealistas (“forte como um touro”) e abuso de superlativos. (Nm
13:33; Dt 1:28;Jo 21:25).
7 – Alegoria
A alegoria é, na verdade, uma acumulação de metáforas referindo-se ao mesmo objeto. A
alegoria bíblica consta de várias metáforas unidas, cada uma delas representando realidades
correspondentes. Costuma ser tão palpável a natureza figurativa da alegoria, que uma interpretação
ao pé da letra quase que se é impossível.
Exemplos: Jesus nos faz tal exposição alegórica, ao dizer: “Eu sou o pão vivo que desceu
do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo, é a
minha carne [...] Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna” (Jo 6:51-65).
Esta alegoria tem sua interpretação na mesma passagem da Escritura.
O salmista apresenta outra alegoria (SI 80:8-13) representando os israelitas, sua
trasladação do Egito a Canaã e sua sucessiva história sob as figuras metafóricas de uma videira com
suas raízes, ramos, etc., à qual, depois de trasladada, lança raízes e se estende, ficando, porém, mais
tarde, estropiada pelo javali da selva e comida pelas bestas do campo (representando, o javali e as
bestas, poderes gentílicos).
Ainda outra alegoria nos apresenta o povo israelita sob as figuras de uma vinha em lugar
fértil, à qual, apesar dos melhores cuidados, não dá mais que uvas silvestres, etc. Também, esta
alegoria está acompanhada de sua explicação correspondente: “Porque, a vinha do Senhor dos
Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta dileta do Senhor” (Is 5:1-7).
8 - Fábula
A fábula é uma alegoria histórica, pouco usada nas Escrituras, na qual um fato ou alguma
circunstância se expõe em forma de narração mediante a personificação de coisas ou de animais.
Lemos, em II Reis 14.9: “Ό cardo que está no Líbano, mandou dizer ao cedro que lá está: Dá tua
filha por mulher a meu filho; mas os animais do campo, que estavam no Líbano, passaram e pisaram
o cardo”.
9 - Enigma
O enigma também é um tipo de alegoria, porém, sua solução é difícil e abstrusa (Jz
14:14; Pv 30:24).
10 - Parábola
Parábola, do grego parabolé, significa “colocar ao lado de”, e leva a ideia de colocar uma
coisa ao lado de outra com o objetivo de comparar. A parábola envolve uma contradição aparente
apresentada em forma de narração, relatando fatos naturais ou acontecimentos possíveis, sempre com
o objetivo de declarar ou ilustrar uma ou várias verdades importantes. Uma parábola pode ser
inventada, mas um acontecimento histórico ou uma anedota pode servir de parábola, fora de tempo, o
que explica o sentido proverbial de certas expressões. As parábolas do evangelho adquiriram um
sentido exemplar e integram-se no discurso de igual modo.
Uma parábola é uma espécie de alegoria apresentada sob forma de uma narração,
relatando fatos naturais ou acontecimentos possíveis, sempre com o objetivo de declarar ou ilustrar
uma ou várias verdades importantes.
Quanto à correta compreensão e interpretação das parábolas, é preciso observar o
seguinte: Deve-se buscar seu objetivo; em outras palavras, qual é a verdade ou quais as verdades que
ilustra. Encontrado isso, tem-se a explicação da parábola, e, note-se que, às vezes, consta o objetivo
na sua introdução ou no seu término. Outras vezes, se descobre seu objetivo tendo presente o motivo
com que foi empregada. Devemos ter em conta os traços principais das parábolas, deixando-se de
lado o que lhes serve de adorno ou para completar a narrativa. Não se esqueça de que as parábolas,
como as demais figuras, servem para ilustrar as doutrinas e não para produzi-las.
Oito passos para interpretar as parábolas, segundo bailey: 1 - Determine o auditório.
Jesus está falando aos escribas e fariseus, às multidões, ou aos discípulos? 2 - Examine
cuidadosamente o contexto / interpretação propiciados pelos evangelistas ou sua fonte. 3 -
Identifique a “peça dentro da peça” e observe a parábola nesses dois níveis. 4 - Procure discernir os
pressupostos culturais da estória, tendo em mente que os seus personagens são aldeões palestinos. 5 -
Veja se a parábola se divide em várias cenas, e veja se os temas constantes das diferentes cenas se
repetem segundo algum padrão discernível. 6 - Procure discernir quais os símbolos que o auditório
original teria identificado imediatamente e instintivamente na parábola. 7 - Determine que única
decisão / reação o auditório original é levado a tomar quando ela originalmente foi contada. 8 -
Discirna o conglomerado de temas teológicos que a parábola afirma e / ou pressupões, e determine o
que a parábola está dizendo a respeito desses temas.
Três passos para determinar o sentido de uma parábola, segundo M.S. Terry: 1 - Deve-se
determinar a ocasião histórica e o propósito da parábola. 2 - Deve-se fazer uma análise muito
cuidadosa do assunto de que se trata e observar a natureza e propriedade das coisas empregadas
como imagens na similaridade. 3 - Devemos interpretar as várias partes com estrita referência ao
objeto e desígnio geral do conjunto, de uma maneira que se conserve uma harmonia de proporções,
se mantenha a unidade de todas as partes e se faça proeminente na verdade central.
11 - Símile
Consiste, como o próprio nome indica, em comparar dois seres, fazendo uso de
conectivos apropriados (Pv 1:27; 6:5; Mt 23:37; Is 55:8-11).
12 – Atintese
É um contraste direto em que dois elementos são colocados em oposição um ao outro:
Adão/Cristo (Rm 5:12-21); carne/lei/espírito (Rm 7-8).
13 - Clímax ou gradação
A palavra clímax ou gradação procede do latim clímax e esta, do grego klimax, que
significa “escala”, no sentido figurado da palavra. O essencial é que exista avanço ou progresso na
oração, parágrafo, tema, livro ou discurso. A maioria dos sermões bem preparados tem mais de uma
gradação, e termina mediante uma gradação final de caráter extraordinário(I Co 15; Hb 11, Rm 8; Is
40 — 55; Ef 3:14-21, Fp 2:5-21).
BIBLIOGRAFIA: