Trincas e Fissuras

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RINCAS E FISSURAS

26 de janeiro de 2015

Um fenômeno construtivo muito comum é caracterizado


pelo afastamentoou abertura do material em determinados locais,
denominado fissura,trinca, rachadura ou fenda, de acordo com a
magnitude.

Estes fenômenos nem sempre são patológicos. Muitos deles


ocorremnaturalmente, e com um olhar técnico é possível determinar
as causas e as possíveis soluções.

Listamos abaixo 10 destes fenômenos que com muita facilidade você


irá encontrar em uma construção.

Ressaltamos que muitas vezes o problema é muito complexo, dada


a quantidade de fatores que influenciam o surgimento destes efeitos.
Portanto, leia abaixo, estude e procure pesquisar em campo os
fenômenos, e só então tire suas conclusões.

1 – Retração de Argamassa
A argamassa utilizada no revestimento de paredes e lajes sofre
naturalmente perda de água por evaporação. O material, no
momento em que é aplicado na superfície, encontra-se no estado
fresco e com determinado volume. Durante a secagem, a perda de
água faz com que o volume original seja reduzido, dando origem as
fissuras.
Fissuras de retração na argamassa de revestimento.

Não é necessário tratá-las logo após o surgimento. Elas serão


preenchidas posteriormente por massa PVA de resina vinílica – a
famosa massa corrida. Este material é aplicado sobre o reboco para
nivelar a superfície e promover a aderência necessária
à aplicação da pintura.

É importante ressaltar que maiores aberturas no revestimento


podem indicar outros fatores (fora a retração) como causa principal
das fissuras. Neste caso, aconselha-se consultar profissional
especializado para indicação de solução específica para o novo
problema em questão.

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ENGENHARIA CIVIL
2 – Amarração em Parede-Pilar
A parede de alvenaria e o pilar de concreto são dois conjuntos
distintos, com composições e características diferentes. Logo, irão
se deformar de maneira diferente de acordo com os esforços
solicitantes (de força e de temperatura). Dessa forma, é necessário
utilizar-se de um artifício que promova rigidez no encontro da parede
com o pilar.

Falta de amarração da parede no pilar, originando posteriormente a trinca. Tela de reforço em


Alvenaria Estrutural e no encontro de alvenaria de vedação com pilar.

Este tipo de fissura ocorre devido à existência de esforços de tração,


quenão são resistidos pela argamassa presente na alvenaria. Para
contornar o problema, deve-se realizar a amarração com material
resistente à tração. E nada melhor do que o aço.

3 – Deformação de Viga
Ao dimensionar uma viga de concreto armado, é previsto que a peça
sedeforme e fissure. As principais fissuras que ocorrem são devidas
aoesforço de tração causado pela flexão.
Ensaio de rompimento de viga por imposição de flexão simples. Observe as fissuras que
ocorrem no centro da viga, indicando tração na face inferior da peça.

Existem também as fissuras devido ao esforço cortante, que são


mais difíceis de se notar, pois esses esforços não são
predominantes nas peças de concreto. Essas fissuras ocorrem a
aproximadamente 45 graus do local onde a viga está apoiada.

Ensaio em viga de concreto, revelando fissura devido à tensão cisalhante.

Portanto, as fissuras do concreto podem ser previstas na fase de


projeto, ao observar os diagramas de esforços. Tais deformações
são um tipo decontrole tecnológico, uma vez que fornecem ao
engenheiro informações sobre o comportamento da estrutura.

Por exemplo: tem-se um viga prevista para ter deformação máxima de


2 centímetros. Após submetê-la ao carregamento de projeto – uma
parede de alvenaria – percebe-se que a mesma deformou 4
centímetros, indicando que algo não está correto – seja o projeto, a
execução ou algum carregamento não previsto.

Do contrário, se a peça estivesse muito rígida (super-armada, ou


seja, mais aço do que o necessário),
as deformações seriam discretas e mínimas, e caso um
carregamento maior do que o de projeto fosse colocado sobre a viga a
mesma não iria “denunciar” a situação ao engenheiro, e dessa forma,
poderia acontecer o rompimento súbito por compressão da viga.
Por este motivo, as vigas de concreto são dimensionadas para terem
deformações controladas, para que se obtenham subsídios para
a avaliação visual do desempenho.

4 – Ascensão Capilar
em Revestimento
A impermeabilização dos baldrames (base das alvenarias) e
fundações em geral serve para prevenir a ascensão capilar da
água vinda do solo. Se a água ascender, irá causar, entre outros
problemas, o descolamento dosrevestimentos da parede.

Revestimento argamassado sendo comprometido pela ação capilar.

É importante ressaltar que a impermeabilização não garante que


esta patologia não ocorra, pois muitos fatores estão envolvidos –
qualidade do material, execução correta dos serviços, substrato
agressivo aos baldrames, etc. Além disso, com o passar do tempo, o
material impermeabilizante começa a se desgastar e o efeito da
água poderá ser notado no revestimento argamassado.

5 – Cura Deficiente do Concreto


Durante o processo de endurecimento, o concreto perde água por
evaporação. Essa perda de água
é prejudicial pois diminui diretamente aresistência do concreto, por
dar espaço ao surgimento de poros e aberturas na estrutura.

Fissuras devida à perda de água do concreto.

Para prevenir este fenômeno, realiza-se a cura, que consiste


em hidratar regularmente as peças de concreto. Existe
a probabilidade destas fissuras ocorrerem ainda que se realize a
cura (mas em menor escala), devido à imprecisão do serviço e
também das características dos materiais envolvidos, além do clima
da região.

6 – Ausência / Ineficiência de Verga


Em uma parede (seja de vedação ou estrutural), o esforço
predominante no conjunto é o de compressão (devido ao peso
próprio). Ao se retirar umafração de material para abrir um vão para
instalação de esquadria,esforços de tração surgem devido à
tendência dos materiais se flexionarem.
Representação das deformações que ocorrem em vão de esquadria.

As vergas e contra-vergas são vigas de concreto


armado posicionadas nas aberturas dos vãos de esquadrias, que
têm como função resistir aos esforços e prevenir o surgimento de
trincas nas bordas.

Trincas devido à inexistência ou à ineficiência das vergas e contra-vergas instaladas. À direita,


indica-se a posição das peças de concreto armado.

7 – Deformação do Gesso
Assim como a parede de alvenaria, o gesso precisa ser “amarrado” às
suas bordas, onde geralmente se localizam paredes e vigas,
elementos sujeitos a deformações. As movimentações do conjunto
causam, com o tempo, odescolamento do gesso nas bordas,
revelado por uma fissura contínua.
Trincas em encontro do gesso com a parede. À direita, rebaixamento utilizado para esconder
as possíveis fissuras.

Para prevenir esta patologia devem ser previstos mecanismos que


permitam maior movimentação do conjunto, ou até mesmo formas de
esconder as fissuras – geralmente é feito o rebaixamento do forro.

8 – Trinca em Alvenaria por Dilatação


Um fissura horizontal ocorre muito facilmente nas alvenarias
do último andar de edifícios, devido à exposição da superfície da
laje à radiação solar, que faz o conjunto se dilatar e dessa
forma tracionar as vigas, e consequentemente as paredes que a elas
estão vinculadas.

Representação da dilatação da laje devido à carga térmica da incidência solar.

A fissura se dá, de maneira mais objetiva, na argamassa, elemento


menos resistente do conjunto.
Trincas em alvenaria devido à dilatação térmica da laje.

Para evitar esta patologia, primeiramente, o engenheiro projetista


da estrutura deve ter em mente a probabilidade dela ocorrer e
projetar os elementos da região superior de forma que os mesmos
consigam resistir ao máximo às dilatações. Em segundo lugar,
o engenheiro de execução deve saber que os materiais de
impermeabilização, geralmente na cor preta, retêm calor e isso
contribui para as dilatações da laje.

O efeito da dilatação pode ser mais devastador ainda em edifícios


dealvenaria estrutural, pois estes não tem vigas – possuem somente
ascintas de fiada, são muito menos rígidas do que uma peça de
concreto armado.

9 – Trinca em Alvenaria por Recalque


Este tipo de trinca é muito perigosa, uma vez que revela
ocomprometimento da estrutura da edificação.
Como as alvenarias encontram-se, geralmente, confinadas entre os
elementos estruturais, elas “denunciam” o recalque diferencial de
fundação por meio de longas trincas.

Trincas em alvenaria devido ao recalque diferencial de fundação.

10 – Descolamento de pintura
Um dos problemas comuns em pinturas é a ocorrência
de enrugamento. Isso ocorre devido à aplicação do material sobre
superfície úmida.

Descolamento e enrugamento de pintura devido à umidade.

Outro problema é caracterizado pelo descolamento da película de


pintura. Isso pode acontecer devido à umidade, proveniente
de infiltrações ou deascensão capilar.

Podemos concluir, após o conhecimento dos fenômenos citados


acima, que a ocorrência de trincas e fissuras é de certa
forma benéfico para a construção. Isto porque o surgimento destas
aberturas nos materiais “informa” ao técnico construtor
o desempenho e o comportamento do objeto. Do
contrário, possíveis problemas construtivos que não se
manifestassem iriam evoluir até tornarem-se extremamente
prejudiciais ecomprometedores ao empreendimento.
Dessa forma, é reconhecido então o valor da engenharia: formar
profissionais capazes de solucionar problemas em diversas
situações. Existem milhares de patologias e outras manifestações
nas construções que podem ter várias explicações, que
requerem conhecimentos sólidos,experiência e raciocínio
lógico para serem explicados. O engenheiro atua, dessa
forma, analisando cada situação isoladamente e propondo em
seguida às soluções cabíveis.
Para atuar na área de avaliações e perícias técnicas, é muito
importante que o engenheiro tenha experiência com obras de
construção civil e que tenha cursado na sua graduação ao menos uma
disciplina voltada à identificação e recuperação de patologias
construtivas.

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