O IRMÃO BRANCO Michael Juste PDF
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AUTOBIOGRAFIA DE
UM OCULTISTA
2007
PARTE I
Prefácio a Edição Brasileira
Prefácio
Os Peregrinos de Júpiter
Encarnação: Um Sonho
Merlin Desperta!
Capítulo I – UMA PRIMAVERA CINZENTA
Imitação Divina
Capítulo II – A TEOSOFIA
A Quimera de Barro
Capítulo III – A SELVA DE ILUSÃO
Os Carregadores de Archotes
Capítulo IV – O ENCONTRO
Espectro Humano
Capítulo V – O FALSO PROFETA
A Casa Escura
Capítulo VI – NO PORÃO
A Legião de Sonhos
PARTE II
Prefácio
Quando a Terra Desperta
Capítulo I – VISÕES E MAGIA
Os Guerreiros da Eternidade
Capítulo II – SAÚDE
A Ilha do Tempo
Capítulo III – VÁRIOS ENSINAMENTOS OCULTOS
O Silêncio prateado
Capítulo IV – VIAGENS NOS PLANOS MENTAIS
Epílogo
O Despertar
Os aspirantes à ciência espiritual que tiveram em suas mãos e estudaram o livro “OS
DEUSES ATÔMICOS” sempre desejaram a oportunidade de ler também o livro agora editado, jamais
compulsado por qualquer leitor no idioma português.
Referido duas vezes no livro “Os Deuses Atômicos” obra autorizada pela Fraternidade
oculta denominada “OS IRMÃOS”, o livro “O IRMÃO BRANCO” ou Autobiografia de um Ocultista
é um livro complementar àquele por narrar coloquialmente os ensinamentos diretos do Mestre M. a
seu discípulo, possibilitando ao estudante o vislumbre das belezas inenarráveis do mundo mental, onde
penetramos todos os dias através das portas do sono reparador e, ao mesmo tempo, nos alerta para os
perigos do que intitula “poderes negros” excepcionalmente atuantes em nosso dia-a-dia sem nos
apercebermos do fato.
Michael Juste, o autor do livro, discípulo direto do Mestre M., começa narrando parte de
sua vida e experiências diretas com o Mestre. Inicialmente desmistifica certas exigências reputadas
como condição sem a qual não se consegue a atenção de um instrutor maior para recebermos as lições
que tanto nos podem ajudar a conquistar um estado de consciência superior ao que possuímos como
também deixa claro que o único limite às nossas conquistas de amanhã no campo espiritual estão
estabelecidos na ausência de uma correta aspiração sustentada e na falta de uma dedicação sincera e
real para conquistar este objetivo.
As revelações sobre o mundo mental se sucedem em detalhes e vivências muito
importantes à orientação e preparação necessária para quem pretende se tornar um acostumado
viajante aos planos mais sutis. Acresce que as informações e ensinamentos dados pelo Mestre M. a seu
discípulo complementam e enriquecem o observador atento sobre certas realidades dos planos de vida
que nos cercam e que não puderam ser abordadas no livro “Os Deuses Atômicos”.
Com este trabalho temos a certeza de que fica superada uma lacuna existente com o
lançamento do livro “Os Deuses Atômicos”. no Brasil e ao mesmo tempo é colocado nas mãos de
todos os estudantes sinceros das verdades espirituais uma obra de valor transcendente e que precisa
chegar ao conhecimento daqueles que buscam.
Termino com o lema da Fraternidade ‘Os Irmãos’:
Panyatara
Saudações dos imortais das colinas para aqueles que vivem nos vales!
Para aqueles que estão adormecidos, para aqueles que dormiram e agora
despertam!
Tudo o que era oculto será agora desvelado antes que ocorra o esponsal
da Verdade.
Educadas lisonjas serão substituídas pelo uso do linho e os mantos
brancos serão usados por todos.
Merlin desperta! E com sua magia encanta os bosques e as águas. Toca nossas
pálpebras com sua varinha de condão para que possamos ver a ninfa amante do luar; a nereida (1)
vestida de mar e o silfo envolto nas nuvens, a salamandra (2) no âmago da chama e os gnomos (3)
barbudos encerrados no seio da Terra. Os trovadores novamente são chamados de seu sono
pesado para fazerem, de suas janelas, serenatas ao lírio da noite. Convidam-nos novamente aos
torneios os cavaleiros fidalgos, revestidos de cintilantes pétalas douradas e prateadas alardeando
suas flâmulas desfraldadas na névoa cinzenta do dia.
Antes que o barro fosse refinado (4) senti o doce vento do espírito e ouvi o sussurro
lânguido da sabedoria que move as estrelas; antes que a alma pudesse sentir o ritmo harmonioso
do lado mais sombrio e caótico das coisas, caminhei sob o esplendor tranqüilo do infinito que será
reivindicado pelas máscaras escuras da tristeza. A abóbada do dia se desfez em noite sem estrelas,
obscurecendo as colinas onde os arautos da beleza trombetearam mensagens para o homem.
Almas que seriam Prometeanas têm de aprender a conquistar, além da miragem da
estrada branca que as fascina, o dragão dentro de si mesmas. Acresce que a força dos precipícios
intransponíveis e a velocidade delicada da corça (6) somente serão suas quando estiverem
preparadas. Mas, antes da vitória virá a solidão da noite. Se eles (5) são os flautistas que repetem a
música da Natureza, suas flautas tornar-se-ão frágeis e quebradiças e os acordes da Divina Mãe
somente serão ouvidos de forma lânguida e apenas como fragrância serão lembrados. Todos os
instrumentos musicais serão colocados em desuso porque todas as coisas estarão sem seiva e sem
nutrição. Os corcéis alados da imaginação dormirão, mas das sementes do tormento crescerão as
flores de amaranto.
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1 - Um dos vários Elementais da Água. Seu habitat são os mares. Eram consideradas pelos gregos como divindades
protetoras dos marinheiros. (N.Trad.)
2 – Um dos vários Elementais da parte sutil do Fogo. (N.Trad.)
3 - Um dos vários Elementais da Terra. Habita, em geral, no interior das pedras e da terra e têm sob seus cuidados os
metais e as pedras preciosas. – ( N.Trad.))
4 – O corpo humano. (N.Trad.))
5 – Aqui “eles” são os faunos, um dos elementais da Terra; eram considerados como protetores dos rebanhos possuindo
uma natureza selvagem e libidinosa. Foram representados como seres com corpo semelhante ao humano, pernas
de bode, orelhas alongadas e pontudas, chifres, cauda. (N.Trad.)
6 – A corça é o símbolo da Intuição espiritual. (N.Trad.)
Nasci num quarteirão pobre e enlameado de uma grande cidade, onde os rostos
servis e magros dos transeuntes se espreitavam mutuamente pelos becos estreitos, malcheirosos e
ruas insalubres, despidas de qualquer atrativo natural. Mostram-se com os lábios cuspindo
palavras lascivas, os olhos queimando de fome ou olhando de soslaio, com luxúria.
Nesta atmosfera cinzenta, entre milhares mais, vim ao mundo como um viajante
condenado a carregar a cruz da pobreza. Qual o pecado terrível nós, pobres almas, havemos de ter
cometido, eu não sei. Não obstante, minha posição não era tão ruim quanto a posição de muitos
outros, porque meus pais não eram analfabetos, mal-educados ou sujos; eram simplesmente
pobres e possuíam caráter e moral forte, que se manifestava como um suporte para seus filhos,
incutindo-lhes força para combater os desejos errôneos e as paixões mundanas que moldaram as
almas de muitos dos que se tornaram fracassados por causa de grandes sofrimentos e caráter
sofrível.
Nosso mundo foi pintado de todos os tons de cinza; ruas cinzentas, faces cinzentas
e mentes e corações cinzentos. Era como tivessem sido esboçados e forjados nas últimas fases do
cinismo pelo amargor de um pintor fracassado. As atitudes e a monotonia da roupa destas
pessoas pobres pareciam ser o resultado da sua filosofia de desespero. As vozes que cortavam o ar
eram altas e pouco musicais; o idioma era cheio de gírias e monotonamente carregado de
palavrões; a risada era severa e zombeteira e, como o riso mostra o cunho e o estado da alma,
parecia que se podia ler dentro dessas vozes dissonantes os sinais de desejos inconseqüentes e
desamparados. Poder-se-ia também dizer que eles possuíam um caráter que parecia nunca ter
sido limpo, sobre o qual a fuligem densa da cidade caía e se misturava.
Além disso, essas pessoas sofriam de uma doença da alma. As Autoridades
Médicas as teriam extinguido com prazer se apresentassem qualquer pestilência física; isto
permitiria que suas casas fossem limpas e desinfetadas. Entretanto, como só sofriam de doenças
mentais e morais, o que era igualmente contagioso, lhes era permitido expandir estes males em
sua numerosa descendência doentia. Porém agora os vejo de um ponto de vista diferente.
Percebo-os como os filhos pródigos que fugiram de sua grande e amável Mãe Natureza e se
mostram nesta existência parecendo crianças perdidas, negligenciadas e viciadas, broncas e
descuidadas no remoinho d’água de uma grande, fria e desinteressante cidade.
Aqui a selvageria tinha verdadeiramente se tornado uma madrasta; usurpado o
trono da humanidade de sua verdadeira mãe: a Natureza, vacinando seus enteados com o próprio
vírus maligno que havia escurecido seus olhos luminosos e descolorindo a pele jovem da
mocidade.
Era uma sociedade em estado de inconseqüência, cuja atmosfera impura e
desgrenhada desnorteava e confundia as marcas mais nobres da alma. E tal era seu poder que só o
espírito inconquistável de um homem superior poderia emergir daquele meio. Mas não era
somente a pobreza que descorava e encarvoava estas ruas abandonadas, mas algo mais terrível,
mais potente, que empurrava a todos para a dor e para o mal: a ignorância. Era esta estarrecedora
ignorância que estabelecia a pobreza tão horrível, tão bestial. Fez da alegria, da fala e dos modos
destas pessoas um pesadelo interminável.
Estas pessoas possuíam, no recôndito de suas Almas, até mesmo um senso de
beleza e as ruas e as casas em que moravam poderiam tornar-se mais suportáveis, e menos como
uma visão de um Inferno de quinta categoria. Mas, como eram arrogantes! Como eram esnobes!
Como eram esbanjadoras! Quase me estarrecem as imagens que surgem em minha mente quando
eu penso nisso tudo...
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1 - Aqui o autor se refere à eclosão de sua libido. (N.Trad.)
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(1) O Capitalismo. (N.Trad.)
(1) - Aqui deveríamos compreender Teosofia no sentido lato da palavra como Sabedoria Divina, embora H.P.
Blavatsky, fundadora da Sociedade Teosófica argumente que esta não seja a mais apropriada definição da palavra,
sugerindo que seu verdadeiro significado seja Sabedoria dos Deuses ou Sabedoria Universal. É o substrato e base de
todas as religiões e filosofias do mundo. Do ponto de vista prático, a Teosofia é puramente “ética divina” (N.Trad.)
O passado é um poder negro que entrelaça seus fios coloridos ao redor dos pés
impacientes do viajante. É um fantasma divino que deveria dormir imóvel para aqueles que
conhecem Deus sob um novo enfoque. Não escute os ecos tristes de sua antiga grandeza ou fique
triste por seu desaparecimento. A beleza arcadiana da Grécia foi tecida em seu sangue; o
crepúsculo insondável do Egito e os seus deuses fazem parte de sua força; a chamada força
indomável de Roma ainda persiste. Nas cidades silenciosas de solo arenoso – as obras, frutos de
pensamentos colossais – serão novamente reconstruídas em uma escala ainda mais vasta. Não
lamente o passado. Se esses trabalhos monumentais foram sacrificados em certo momento, é
porque o grande Arquiteto tem barro novo para moldar. Se os címbalos de bronze que soaram
uma vez invocando os deuses não vierem soar mais, é porque uma música mais poderosa e mais
majestosa irá nascer no novo período quando os deuses novamente despertarão trazendo
presentes e maravilhas para o homem. Lembre-se disso; dentro de vocês moram os ecos
misturados dos séculos.
A TEOSOFIA
Há uma crença entre certas pessoas que a Teosofia é uma concepção absurda e
primitiva do universo, inventada por uma charlatã esperta conhecida como Senhora Blavatsky.
Isto é totalmente falso. A Teosofia é tão antiga quanto o universo, por isto lida com o aspecto
espiritual da Natureza, estuda as causas dos fenômenos e não somente os seus efeitos e nos
explica o significado espiritual da vida, as razões de nossos sofrimentos e a sua cura. A Teosofia
possui uma grande força ética e é tão clara quanto científica em seu próprio ponto de vista, como
qualquer ramo da ciência moderna, embora trate tanto do mundo interno da alma como do
mundo externo. Não nega a necessidade das coisas materiais, mas nos ajuda a dominá-las. É
semelhante à foz de um grande rio dourado com inumeráveis canais cujos nomes são:
Espiritualismo, Magia, Astrologia, Psicologia, Folclore e é máxime anfitriã da maioria das crenças
aceitas pelas nações Orientais, entre elas a lei de Reencarnação, uma das principais bases para
todos os outros aspectos da Teosofia.
Tal era o mundo de pensamentos no qual entrei de boa vontade e com muita
alegria. Além de uma explanação clara das causas de muitos de nossos sofrimentos, a Teosofia
restabelecia muitas das idéias românticas com que minha imaginação tinha brincado desde
quando era uma criança. A percepção de que a Justiça não era somente uma concepção artificial,
mas acima de tudo, uma lei natural, me trouxe um grande alívio mental. O mal que nós
produzimos volta tão inexoravelmente a nós quanto o bem. As forças emocional, mental e física
interagem entre si. Com o conhecimento posteriormente adquirido, considerei que isto pode, em
verdade, ser demonstrado. Até mesmo a própria Ciência admite a verdade da telepatia, uma força
mental que pode aniquilar o espaço da mesma forma que o telégrafo sem fios, e a qual se for
cuidadosamente estudada, poderia agir semelhantemente com tempo.
Acredito que o ser humano possui uma consciência ilimitada, porém limita a si
mesmo e vive, no atual período evolutivo, numa gama extremamente estreita da consciência
universal. Entretanto, agora já começa a usar sua mente numa extensão muito maior de vibrações
que nos últimos séculos e é esta a razão para o aparecimento das reações mórbidas que
classificamos como doenças nervosas. Ignora ainda, entretanto, que pode receber e experimentar
inspirações mentais, emocionais como também físicas de mais elevado teor, como aconteceu
comigo nos últimos anos, tudo em decorrência de meu treinamento oculto, que me tornou mais
sensível, daí que penso ser bastante possível, no futuro, quando a humanidade se tornar mais
sensível, ela também começará a perceber como a pessoa pode ser atacada no reino mais sutil da
mente por criminosos mentais; nessa época, então, será descoberto um novo método para castigar
estes criminosos mentais, da mesma forma como são castigados aqueles que perpetram crimes no
plano físico.
Na Teosofia achei que poderia encontrar a solução de muitos dos vários problemas
que me haviam confundido quando viajei pelos reinos de minha adolescência mental baseado nas
concepções oferecidas por Ateus, Socialistas e Anarquistas, que nada mais eram que remédios
morais, administrados ao corpo físico por médicos que só tinham dois terços de sua visão. Agora,
mesmo tendo descartado de minha mente aquelas sugestões para a cura do homem incapacitado
de alcançar sua dignidade, ainda posso simpatizar com eles, pois percebi que apesar da aparência
externa, eram perfeitamente sinceros; a visão mental que possuíam é que era ainda um pouco
turva e viam apenas vagamente os males de seus muitos pacientes ou vítimas, pouco dispostos a
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serem curados, acabando por se tornarem responsáveis por lhes infligir mais sofrimentos do que
estavam propensos a aceitar. Ainda não são os Socialistas os mais culpados pela perspectiva
materialista da vida em si, mas o cientista cético que nega prontamente muito do que outras
pessoas descobriram, incluindo, até mesmo as experiências daqueles cientistas que realizam
investigações dos denominados fenômenos físicos.
Igualmente censuráveis são as sociedades em geral que publicam em grande
número, o trabalho barato escrito por céticos e os colocam nas mãos de semi-analfabetos que
nunca tiveram a oportunidade de investigar, por eles mesmos, as aparentes verdades colocadas
em teses por estes negadores contumazes. Tinha estado anteriormente em uma posição
semelhante, porque aceitei tudo cegamente até que me rebelei contra o que afirma todo este
material barato e freqüentemente mal escrito. Conseqüentemente não podia culpar o Socialista por
sua perspectiva pessimista, mas seus mestres, os cientistas céticos.
Penso que as escolas primárias deveriam ensinar, como a base mais importante do
treino e desenvolvimento da mente, uma forma simples de filosofia, mostrando em primeiro lugar
o insubstancial das coisas; porque até mesmo o estudioso trata somente dos efeitos e não das
causas. Isto provaria que tudo é incerto e que os nossos sentidos são instrumentos ainda muito
imperfeitos para a percepção da verdade. O resultado seria que por muitos anos a mente não
favoreceria os dogmatismos, mas escutaria todas as coisas e as pesaria cuidadosamente. Hoje em
dia tal treinamento só pode ser feito em universidades, quando todas as escolas deveriam fazer
isto.
Na Sociedade Teosófica conheci várias pessoas com quem rapidamente fiz
amizade. Pessoas interessantes, algumas que já tinham tido certas experiências psíquicas e outras
que esperavam tê-las, entre as quais eu também me incluía. Perguntas e mais perguntas brotaram
de minha mente quando estudei os numerosos trabalhos na biblioteca da Sociedade e percebi
como uma parte tão pequena da humanidade conhece a anatomia da alma, que tive oportunidade
de estudar em estranhos livros de filosofia que derreteram qualquer afirmação dogmática que
ainda teimava em fazer. Ali abundavam livros sobre hipnotismo provando os terríveis poderes
escondidos e aprisionados no interior da mente humana; outros que mostravam os perigos a que
naturalmente a humanidade está exposta e os verdadeiros remédios necessários para sua
extirpação; e finalmente, a maneira e o meio pelo qual o homem pode tornar-se divino e cheio de
conhecimentos maravilhosos. O que eles revelavam, acima de tudo eram as dificuldades que o
homem tem de enfrentar para transmutar a sua fraqueza em força, em espírito de sacrifício e de
abnegação, renunciando a tudo aquilo que é mau e desejando sinceramente ser um instrumento
de trabalho harmonioso pelo bem de todos.
Mas somente ler certamente não era o suficiente.
Minha mente repetia continuamente "Viva a filosofia!" e evitava muitos argumentos
intelectuais. Sabia que a crítica destrói mais do que constrói. Durante este período, apesar da
adoção de uma crença elevada sentia grande prazer em superar qualquer oponente mental em
uma batalha intelectual e isto me trazia um descrédito considerável entre aqueles que eram mais
misticamente inclinados. Amigos que se mudaram para o ar sereno da fé irrefletida passaram a
me ver com maus olhos. Em verdade agitei o mar sereno em que habitualmente viviam. Em
contrapartida, eles também me irritavam, porque aceitavam muitas coisas sem pensar e se
mostravam muito sentimentais e fatalistas. O fato é que a Verdade só é vislumbrada do cume de
uma montanha e nós, que queremos chegar a este vislumbre, deveríamos nos tornar cada vez
mais ansiosos para escalar o pico dessa montanha em vez de apenas aceitar o fato por
acomodação, o que me causa medo. Porém, na época, me achava inquieto e meus pés mentais
tinham me levado para o litoral da Filosofia, só me restando agora navegar em frente. Não podia
mais aceitar o cansaço mental de meus amigos.
Sentia que, se meus estudos estavam sendo úteis, se tornava necessário colocá-los
em prática. Com este entendimento me tornei imediatamente um vegetariano puro, - o que não
era muito difícil para mim, pois nunca havia sido muito apaixonado por carne - entretanto percebi
que ainda estava longe de realizações espirituais que nunca descobri. Conheci muitos
vegetarianos, mas raramente pareciam ter experimentado qualquer coisa de uma natureza
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paranormal. Em momentos estranhos eu tentei também me concentrar e meditar, mas os
resultados não chegaram a me impressionar. Não recebi nenhuma visão surpreendente, nem
vivenciei as experiências auferidas na atmosfera diferente do Espiritismo.
Quando estudava os enormes volumes de "A Doutrina Secreta", entrei num estado
diferenciado de consciência, porém não entendia muito o que lia. Aos poucos fui absorvendo tudo
com um entusiasmo confuso. Achei mesmo que não podia obter ganho maior, porém fazia tudo
com tanta sinceridade quanto qualquer membro da Sociedade Teosófica. Apesar do gigantesco
esforço, me parecia como se uma grande parede invisível estivesse entre mim e os maravilhosos
fenômenos descritos nos numerosos livros que compulsava, o que me levava a crer em minha
incapacidade para realizá-los. Mas, entretanto, sabia que havia certos métodos de ganhar
conhecimento de primeira-mão, mas não desejava despertar alguma força que não pudesse
controlar. Nem quis, naquele momento, os ensinos de outras escolas ocultas que trouxessem os
aspectos que eu desejava. Enquanto isso fui ficando dentro da Sociedade, mergulhando nos
ensinamentos e tentando espasmodicamente entendê-los. Não obstante a tudo, com o tempo, eu
estava moldando para mim uma filosofia de vida mais clara e melhor, ao mesmo tempo em que ia
juntando uma linha aqui e outra lá, tecendo com isto um padrão ideal que esperava ser útil nos
anos futuros de existência.
Meus principais amigos eram os estudantes sinceros. Alguns, que praticaram e
chegaram a alcançar resultados de natureza temporária por serem sensitivos, puderam muito
depressa vivenciar provas desagradáveis do lado mais escuro dos fenômenos, sendo que muitas
de suas experiências eram similares às que tivera no Espiritismo. Reuníamos-nos freqüentemente
num pequeno quarto escuro em cima de uma loja de antiguidades no Soho, para trocar idéias,
meditar e murmurar sobre a inutilidade da vida e esperar pelo melhor. Neste ambiente conheci
Davi que viria a se tornar meu sócio e companheiro em muitas aventuras espirituais e materiais e,
ao mesmo tempo, um companheiro-peregrino em busca da realização espiritual. Ele introduziu-
me num outro grupo de estudantes e, desde essa época, alguns outros também se tornaram meus
companheiros, como descrevo abaixo, e tentavam, como eu, a mesma peregrinação espiritual.
Davi (ele originalmente não acreditou em mim porque me achava muito incipiente
e cheguei mesmo a discutir com ele) era de estatura baixa, um pouco magro, sério, pálido e
intensamente sensitivo e eu o considerava tolerante demais com os acontecimentos deste mundo e
demasiadamente absorvido pelo seu mundo interno. Parecia mover-se dentro de uma neblina
perpétua. Teve, quando jovem, algumas experiências de natureza oculta muito interessantes, que
me ajudaram a comprovar a existência de estados desconhecidos da consciência. Quando o
conheci pela primeira vez, seu aspecto de alma-de-outro-mundo confundiu-me intensamente.
Lembro-me particularmente de um dia, quando estava esperando por ele na sombra de uma
escadaria; ele chegou a me tocar para ver se eu era real ou um fantasma. A vida para ele era então
muito insubstancial, embora desde aquela época teve experiências que lhe ensinaram a sabedoria
de plantar seus pés firmemente na terra. Esforçou-se para viver a vida mística e deu a todo
mendigo que ele conhecia algumas moedas. Infelizmente as pessoas para quem ele dava eram, às
vezes, os que menos mereciam, mas isso pouco lhe importava; sentia-se bem em dar, em ajudar.
Na realidade, sua aura era a de um místico. O ocultista com verdadeira compreensão não dá sua
amizade para qualquer um, porque há algumas pessoas que, se damos afeto, nos devolvem
rancor; mas a razão para isto eu mencionarei em um capítulo mais adiante.
O místico geralmente transborda uma sentimentalidade de forma um pouco
desequilibrada e isto lhe favorece quando não é rico, pois qualquer velhaco poderia muito
depressa drená-lo de seus recursos financeiros até secá-lo. Geralmente o místico é um fanático de
Deus, que tem de aprender o Equilíbrio, a Discriminação e a Compreensão. Desde aquela época
nós aprendemos, por experiência dolorosa, a necessidade destas qualidades. Com a exceção de
um ou dois, praticamente todos de nosso pequeno grupo estavam de uma maneira ou de outra
desequilibrados interiormente. Embora a maior parte da humanidade é semelhantemente aflita,
este grupo tinha desenvolvido certa forma de "neuroticismo" que nos etiquetava de forma
inconvencional como boêmios. Tínhamos orgulho de nós mesmos pelo fato de que não éramos
como os outros mortais e tenho certeza que os outros mortais, vendo o caminhar de nosso grupo e
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nos ouvindo falar, sentiriam satisfação por acreditar que eles mesmo não eram como nós. Ainda
assim penso secretamente que a vida de boêmio tem a capacidade de simpatizar com tudo.
Outro amigo era um irlandês, de tez escura, altura média e bem construído
corporalmente; irascível, argumentativo, e também tinha um pouco de orador, dom que usou
muitas vezes durante uma vida dissipada viajando pelo mundo. Era o membro mais velho do
grupo e geralmente visto como o líder. Muito intolerante em relação às pequenas convenções e
bastante rude na conversação, menosprezava os tolos... Associou-se a nós porque soube que
éramos estudantes sinceros, embora fôssemos pouco práticos. Mesmo possuindo muitas
qualidades superiores, ainda acho que colocou a independência pessoal num pedestal muito alto.
Estou mencionando este fato porque notei, entre outras características do nosso amigo, que a
independência (o que muito freqüentemente não passa de egoísmo inflado) estava muito em
evidência em nossa pequena comunidade. Este irlandês viajou por muitos países e continua
procedendo dessa forma, embora se mantenha sempre em contato conosco. É comum o grupo
freqüentemente se dividir em opiniões contrárias, mesmo sendo iluminado pela mesma paixão e
desejo de transmutar e purificar a argila comum em uma maravilhosa moradia para o espírito,
porém nunca esquecemos um ao outro. O irlandês era muito mais velho que nós e tinha vivido
muitas aventuras interessantes e experimentos psíquicos que relatava repetidamente para nós.
Tinha sido editor e conferencista, engenheiro e escritor, e conheceu muitas outras profissões.
O próximo membro do grupo era um moço francês chamado Paul, esbelto jovem de
cabelos ondulados, artista e impulsivo, que colecionava como amigos e como passatempo pessoas
de caracteres estranhos. Naturalmente as pessoas equilibradas e de bom senso jamais se sentiam
atraídas por ele, porém acontecia o contrário quando se tratava de pessoas erráticas e excêntricas
e, acima de tudo, carentes. Estas, sofredoras geralmente de alguma forma qualquer de neurose,
ocasionalmente nos procuravam para pedir emprestado tudo aquilo que possivelmente
poderíamos dar e, logo depois, desapareciam, parecendo pesadelos. Pessoalmente, dei pouco para
essas pessoas e pude percebê-las enlouquecidas e muito doentes; desde então não encontrei
nenhuma razão para mudar de idéia, pois são pessoas cuja irresponsabilidade me causava mais
mal-estar por uma semana que uma pessoa normal causaria por um ano. Eram tão irregulares
quanto o vento, e se tivessem permanecido por mais tempo entre nós, teríamos ficado tão
neuróticos e irresponsáveis quanto elas. Era notável que depois de algum tempo o ar dos lugares
que visitavam ficava saturado, impregnado com uma força sutil que era sumamente
desagradável. Alguns envidavam esforços para deixar que a meditação os elevasse.
Infortunadamente Paul se encantou com a possibilidade de trazê-los ao nosso
convívio, exagerando seus valores e esquecendo de considerar suas diferenças, achando que se
eles eram diferentes isto acontecia porque seriam melhores do que nós. Paul, como todos os que
faziam parte do grupo era muito sensível e discutia com todos alegando que tendo estudado o
Budismo, compreendia e aceitava que a existência é pura ilusão. E cantava com estas pessoas
repetidamente a canção muito conhecida "Tudo é ilusão, tudo é ilusão, tudo é ilusão". Acreditava
que aqui estava a explicação para o nosso cansaço em relação à Vida, não importando dinheiro, o
casamento e o universo objetivo, pois tudo é ilusão. Deus nos deu olhos com vendas e orelhas
surdas. Em resumo: complicados e maravilhosos atributos do ser nos foram dados apenas para
serem meramente despedaçados e destruídos, o que considero não ser a verdadeira doutrina de
qualquer grande religião.
Obedecer a estas crenças negativas pode ter sido excelente na Índia, onde os
habitantes alimentaram voluntariamente os sacerdotes; obedecê-los em países Ocidentais
resultaria em nossa prisão como mendigos. Penso que cada país tem a religião adaptada da
melhor forma para si e se nós encarnamos no Ocidente, é porque era necessário dar à nossa
personalidade uma experiência diferente. O fato é que nós, mesmo sendo europeus, acreditamos
fortemente em reencarnação. O maior desejo do grupo, com exceção de mim, era visitar a Índia e o
Tibete, morar na selva e, através da meditação, atingir afinal o Nirvana, ou seja, um estado de
consciência espiritual que era, acredito, muito pouco compreendido por todos. Eu tinha ouvido
muitos estudantes Teosofistas-Budistas discutirem sobre esse assunto e para alguns, isto
significava a total aniquilação de cada um dos sentidos e de toda forma de consciência. De minha
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parte, imaginava que, sob esse aspecto, os ateístas tinham uma concepção melhor, bem como todo
estudante do Budismo não-filosófico. Ponderava comigo mesmo que esta aniquilação do ser (para
o qual sacrificaríamos todas as coisas) fosse um ideal de muito menor valor que o desejo do
Cristão sincero de se tornar um instrumento de Deus. E naquela época realmente não podia
entender esse aspecto da vida, embora veja, agora, que era uma percepção errônea da doutrina
budista. Por esta razão não participava de tal paixão pela Índia. Fui atraído muito mais pelo
aspecto romântico destas crenças e considerava também que nossos sinceros motivos de encontrar
a verdade eram suficientes se, claro, vivêssemos de acordo com nossas aspirações mais elevadas.
Devido a esta minha postura fui tratado como um Filisteu, uma criatura enjeitada, que não
conseguia perceber a sutileza da mente Oriental ou possuir suficientes recursos sentimentais no
coração para participar daquele entendimento superior; de alguma maneira havia tropeçado em
um mundo muito rarefeito e etéreo para alguém da minha categoria. Além disso, me interessei
muito também pela literatura de cunho espiritual. De certa forma também era muito
inconveniente em minhas perguntas e queria provas. Procurava demonstrações ocultas as quais
nunca recebia e, finalmente, me deliciava com argumentos vagos. Minha mente estava tão bem
alimentada que, para mim, era difícil de digerir toda aquela comida mental e nem possuía
condições de sistematizar todos aqueles fatos filosóficos e as teorias vislumbradas. Entretanto,
permaneci com este grupo pela simples razão de que nunca tinha conhecido tantas pessoas
esquisitas antes, e elas me fascinavam. Não podia esquecer que tinha chegado da terra pedregosa
do Ateísmo e dos reinos vermelhos do Socialismo, onde as pessoas eram mais ou menos de um
tipo comum, enquanto aqui encontrei amigos de uma espécie mental completamente nova.
Eu só mencionei três de meus amigos porque temos sempre viajado mais ou menos
juntos em estradas semelhantes. Os restantes aparecem apenas como tantas sombras do percurso,
deixando pouco a ser lembrado depois que desaparecem.
Meu progresso na Sociedade Teosófica continuava. Tendo absorvido muitas de
suas concepções comecei a comparecer a uma loja local; escutava conferências e discutia sobre
minhas crenças com meus antigos amigos Socialistas que agora me consideravam ligeiramente
insano por deixar de cantar os bem conhecidos e famosos - mas um pouco desafinados - refrões do
Socialismo, substituindo-os pelas melodias estranhas e selvagens do Espiritismo e da Teosofia,
que não eram consentâneas com seus pontos de vista racionais. A idéia de uma nova forma de
consciência depois da morte foi cumprimentada com risada e zombarias. Eles tinham usado suas
mentes para pensar unilateralmente e não puderam, ou não queriam, vivenciar outras formas de
perceber a vida que não fosse aquela que esposavam. Conjecturavam entre si que estas teorias,
por serem tão antigas, eram falsas; ainda hoje, coisas com as quais desperdiçamos muitos anos de
zombaria, estão sendo aceitas. “Deixe-nos”, dizia o Socialista para mim, “primeiro altere a
estrutura da sociedade erguendo o estado ideal do Socialismo. Comida é de mais importância que
fé; olhe como a humanidade sofre. O homem é moldado por seu ambiente, e só uma modificação
da sociedade pode alterar seu caráter”. Da minha parte redargüia ponderando que isto era só uma
parte da verdade, sendo que a pressão do ambiente social podia ser mais fraca ou mais forte, de
acordo com o tipo de indivíduo. O ser humano mentalmente forte pode ultrapassar suas próprias
limitações tão facilmente quanto o homem puramente físico sucumbe a elas, porquanto a alma
forte molda seu ambiente como cera na qual deixa impressa sua personalidade. Isto considerado
deixa claro que se o homem vive em ambientes ruins é porque geralmente não possui aspiração
de voar mais alto. Da mesma forma, se considerarmos o fato da reencarnação, não podemos
deixar de concluir que nós é que fazemos nosso ambiente para o futuro, de acordo com as ações
de nossas vidas passadas e da presente. Também é possível que o espírito dentro de nós nos force
a um ambiente ruim apenas para desenvolver nossa força e, quem sabe se a alma de uma
encarnação anterior veio de uma esfera ainda mais baixa, onde as condições existentes eram bem
piores do que as existentes neste planeta? Meu professor me disse que existem esferas abaixo
desta Terra em que a atmosfera é sempre sombria, e as faces das almas que lá vivem são de cor
cinzenta. Quantas pessoas que habitam favelas abrigam dentro de si o desejo intenso de manter
suas casas limpas e torná-las cada vez mais luminosas? Então, a pessoa pode dar rapidamente
várias razões para provar que o homem não é tão escravo quanto os sentimentalistas e Socialistas
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nos querem fazer acreditar, embora seja óbvio que nenhum desses dá boas-vindas à dor e à
miséria, e, onde quer que seja possível, deveríamos tentar ajudar a humanidade. Em um capítulo
posterior mencionarei como o ocultista interpreta a necessidade de servir a humanidade.
Enquanto mergulhava cada vez mais profundamente nos bosques, prados e, às
vezes, nas selvas da Teosofia ia perdendo o contato com meus velhos conhecidos das viagens
mentais mais imaturas. Abrigava dentro de mim o desejo intenso e sincero de avançar cada vez
mais em minha busca enquanto eles permaneciam satisfeitos com o entendimento que já tinham
encontrado. Achavam que pouco mais poderia ser descoberto no que diz respeito a verdade e
alegavam que um envolvimento maior no assunto poderia levá-los de volta às antigas
superstições e religiões, o que seria uma forma de degeneração mental.
Uma coisa que me deixou pasmo foi o número de pequenas sociedades que
ensinavam o ocultismo e o misticismo, sendo a maioria delas, ramificações da Teosofia. O
Rosacrucianismo Moderno, o Budismo, o Gnosticismo, o Misticismo Cristão e a Ioga da Índia,
todos tinham muitos representantes. Com respeito à Ioga, eu proferiria uma advertência àqueles
que, entendendo mal seus verdadeiros ensinamentos, tentam praticar a Ciência oculta da
Respiração sem uma boa supervisão, porque, algumas vezes, poderão despertar poderes além do
seu controle e isso causaria muito mais dano do que benefícios. Felizmente, a maioria das pessoas
não tem perseverança suficiente para continuar estas práticas; além disso, muitos a procuram
apenas para desenvolver poderes e alardear que são diferentes dos outros.
Também, algumas vezes, tenho notado o quão rápido e avidamente o materialista
dará ouvidos, em certas situações, que pode conhecer o futuro através da leitura das mãos.
Costumam entregar a palma da mão a primeira pessoa que diz ter esse conhecimento e ficam
esperando respostas que atendam sua ansiedade em relação ao futuro. Empregadas domésticas
não são a única espécie supersticiosa; parece morar no coração de todo ser humano uma crença
secreta de que se pode saber o futuro e todos ficam esperando por aqueles que podem predizê-lo.
De minha experiência prática acho que isto é realmente possível, mas não visitando um charlatão
que somente declara o que os fregueses querem ouvir. De acordo com o que meu Mestre instruiu,
não devem ser usadas coisas de uma natureza espiritual para ganho pessoal. Caso contrário, um
tempo virá quando o clarividente será iludido pelo próprio Eu Superior, trazendo-lhe uma
provável desgraça para si, a fim de que sua alma não se prostitua como mercadoria de
supermercado. Isso é uma lei para todos os discípulos que estão no Caminho e para aqueles que
ainda não estão, onde quer que leituras do futuro possam ser compradas com dinheiro; a pessoa
"que vê" nunca é instrumento da fonte mais alta. Acredito, ainda, que existem métodos de
adivinhação tais como a astrologia e a quiromancia que são permissíveis e válidos. Não obstante,
as pessoas deveriam ter cuidado sobre o desejo de saber sobre o futuro, pois, às vezes, isto pode
conduzi-las a um estado mental mórbido e muito doentio. O pensamento tem o poder de moldar
nossas ações e o adivinho pode chegar a hipnotizar seu cliente e provocar os eventos que prediz.
Essa é uma das razões pela qual o clarividente genuíno costuma dizer muito pouco sobre o futuro
da pessoa e esconda o máximo do presente, a menos que lhe peçam para ajudar alguém,
orientando-a para evitar o erro e o mal. Nesse caso, então, ele o fará livremente, sem esperar
dinheiro ou algo em retorno.
Visitei muitas das pequenas sociedades místicas e apesar de achá-las interessante,
nunca desejei unir-me a elas. Sempre sentia que estas organizações não possuíam a realização da
verdade, sobre a qual tanto havia lido. Aceitei o fato de que todas elas possuíam alguma forma de
verdade, porém sempre me interrogava se tinham alcançado a parte mais alta da verdade, a qual
buscava. Não que tivesse qualquer experiência de natureza espiritual, pois se passaram muitos
anos antes que eu recebesse ensinamentos demonstráveis.
Assim, esperei e estudei continuamente as filosofias das várias escolas, enquanto
sentia que se vivesse de acordo com o que havia de mais elevado dentro de mim, encontraria, no
final das contas, o que tinha buscado durante muito tempo e, muitas vezes, desesperadamente.
Meus amigos também permaneceram na Sociedade Teosófica. Davi às vezes
estudava astrologia, geralmente vagando por pensamentos retirados do labirinto enevoado de
seus sonhos; Paul voltava de suas viagens de descobrimento no estranho submundo dos ciganos,
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sempre trazendo uma presa importante, geralmente era um artista alienado e estranho, do sexo
masculino ou feminino e que nos impressionava com sua genialidade, a qual adorávamos por,
pelo menos, uma semana. Depois, nos cansávamos e dávamos licença para que aquela estrela
desvanecida partisse para outra luminária desconhecida dos céus, que aceitaria ou não nossa
homenagem. Durante todo o tempo o Irlandês reclamava da vida e nós, dele.
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(1) - Lethe - Rio da Mitologia Grega existente no Hades, região para onde vão as almas dos mortos. É conhecido como o
“Rio do Esquecimento”. Antes de encarnar, as almas têm de beber de suas águas para esquecerem as vidas
passadas. (N.Trad.)
AS SELVAS DE MAYA
Como a maioria das noites da semana era livre aproveitávamos para visitar os cafés
do Soho onde a Rainha da Boemia ostentava suas vestes coloridas, típicas de sua corte e abria o
espetáculo com a música intitulada "Bebida, Drogas e Delírio". Com a face bizarramente pintada e
uma esquisita cauda de pavão, ela andava de forma pomposa por todos os recantos, enquanto, em
surdina, com a boca de través e a voz dissonante e intermitente, entoava hinos em homenagem a
Baco e a Vênus.
Recordei estes lugares de glamorosa desarmonia, onde faces pálidas, descoradas e
pintadas me despertaram impressões próprias de atmosferas confinadas e pesadas, deixando
marcas nas almas desgrenhadas que ali buscavam o prazer. Os visitantes que ali se apresentavam
tinham formas flácidas e desfalecidas (isso também seria um sinal de que aquilo era artístico) e
faces variadas, algumas meigas e apáticas de aventureiros suburbanos; outras artísticas, outras
ainda simples e, por fim, algumas indecentemente ardilosas. Certa vez um amigo me chamou a
atenção dizendo que este era um lugar onde a simplicidade alimentou a engenhosidade para o
ridículo. Tudo aqui se apresentava como uma selva mental, onde o macaco imaginário, o leão, a
corça, o elefante, o tigre, o lobo e o periquito ensurdecedor se misturavam promiscuamente e
brigavam encarniçadamente entre si. Era uma atmosfera insidiosamente pervertida que
influenciava negativamente seus visitantes, caso estes fossem fracos ou permanecessem ali por
muito tempo. Lembro ter recolhido deste ambiente muitas pessoas que falharam em suas
ambições de viverem felizes em suas casas e isto, de certa forma me trazia medo. Ser ali um
visitante esporádico é uma experiência interessante; porém visitá-los mais freqüentemente é algo
sempre desastroso.
Aqui a celebridade artística, sentada com toda pompa e tendo sua juba mental
alisada e penteada por seus admiradores empunhava o cetro do egoísmo que arremessaria
incontinenti naqueles que tivessem a audácia de questionar sua alta categoria e só manteria em
seu salão alguém geralmente mais notório do que artístico. Nestes lugares os egoísmos crescem
tão rapidamente quanto cogumelos, e freqüentemente são acesas as chamas do ciúme nos
corações daqueles que desejam estar sentados no trono da celebridade local.
Os súditos desses minúsculos reinos produzem muitas obras de arte, mas
infelizmente ninguém pode vê-las, pois ficam dependuradas nos imensos corredores dos palácios,
academias e salas de exibições do reino do "Amanhã", país saciado com a mais soberba das obras-
primas e onde todo artista é uma celebridade cujo nome será maior que todos os outros quando
morrer; uma terra onde cada um possui um harém de suaves e humildes acompanhantes que
obedecem rapidamente e sem hesitar ao rugido mais lânguido de seu senhor; ali foram erguidas
estátuas que superam em altura as montanhas; e onde os pássaros, os ventos e os rios cantam e
murmuram os elogios de seus habitantes reais.
Visitamos estes lugares por várias razões. Paul, porque desejava conhecer pessoas
diferentes; Davi, porque esperava ir se familiarizando com as pessoas que tinham crenças
místicas, o Irlandês como diversão e, eu, para encontrar literatura, pessoas e, finalmente como
uma alternativa de mudança para os lugares que visitávamos de hábito. Paul encontrou muito
rapidamente aqueles que estava buscando. Davi conheceu alguns sonhadores. O Irlandês adquiriu
toda a diversão que poderia desejar. De minha parte achei pouca coisa. A literatura não morava
ali e havia muitos versejadores modernos que desprezavam Shakespeare e, no entanto, seus
conceitos não chegavam a superar meu desprezo por seus versos: ausência de tonalidade, de
colorido, de imaginação, de técnica e de idéia; também carentes em inspiração, o que hoje em dia
parece não importar muito, pois, segundo me contaram, a tão clamada inspiração nasce de uma
emoção desenfreada e, embora seja verdade que a poesia resultante era pitoresca e em muitos
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(1) - Na época em que este livro foi escrito (1926/27) já tinha surgido na Europa a técnica do cubismo (Picasso e Braque)
e do surrealismo (Salvador Dali) e pela expressão do pensamento do autor, este não endossava o modernismo na
pintura, apesar de que já no final do livro sua postura é outra. (N.Trad.)
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Notamos que as poucas mulheres que ali estavam eram artistas e acredito mesmo
que muitas estavam lá somente para inspirar alguns destes discípulos da arte. O que estas
mulheres faziam era viver um mistério. Algumas, pelo que entendi, eram modelos; outras, atrizes
e dançarinas; e muitas viviam com artistas, sofrendo com esta companhia. Algumas vezes um
verdadeiro artista entrava, mas também costumava ser um esbanjador de horas, como os pseudo-
artistas. Tal homem, normalmente deveria estar muito ocupado e não deveria gastar seu tempo
em lugares como este, porém ali parece haver o mito de que, se uma pessoa era um bom artista,
então devia ser degenerada, portando-se como uma completa besta, seduzindo toda mulher que
encontrava e terminando sua vida bebendo até a morte. É verdade que um artista é obviamente
mais emotivo e sensível que as pessoas normais e reage rapidamente ao seu ambiente; porém,
para se tornar um artista, a pessoa necessita desenvolver força de caráter para poder estudar e
completar seus trabalhos, o que em si só deveria e deve lhe proporcionar o controle e treinamento
necessário para resistir às influências degenerativas que o cercam. É significativo que quando
trabalha, tenta freqüentemente morar no país ou no Continente onde pode ter paz através de sua
tarefa; entretanto, os artistas que encontrávamos nestes cafés eram freqüentemente fracos e
ineficientes e geralmente trabalhavam não para ficarem inspirados ou apaixonados por suas artes,
mas para ganhar mais dinheiro e gastar com bebida ou drogas.
Muitos visitantes aqui chegam por curiosidade e desejando observar como vive um
artista e regressam para casa com uma concepção totalmente errada; outros vêm porque
imaginam com isto estar ousando contra o convencional e, posteriormente mencionam este fato
como tendo sido boêmios e se familiarizado pessoalmente com algumas celebridades (as quais
provavelmente haviam visto sentadas no fim de uma sala e com as quais não ousaram puxar
conversa). Outros, ainda, aqui chegam por estarem totalmente cansados da vida padronizada na
cidade na qual moram. Para o místico ou para o coração e mente famintos de mudanças em que a
cor, o romance e a galanteria, o amor e a paixão desempenham um papel importante ou, ainda,
para o estudante de ocultismo, a aventura e o romance preenchem cada rua e casa deste lugar,
mas, a maior parte desta comunidade não pode ou não quer ver, sob as trivialidades aparentes, as
forças nobres e as negativas que sutilmente agem sobre o mais insignificante dos homens.
Conseqüentemente, observando com pouco interesse e incapazes de trazer beleza ao seu próprio
ambiente, visitam estes cafés ou boates com a esperança de neles encontrar aquela cor que falta
em suas vidas, onde a pessoa pode despir as vestes da convenção e vestir a fantasia de palhaço e
colombina.
Hoje em dia nos movimentamos pelas rígidas e inabaláveis estradas do hábito, sob
a soberania de suas majestades o Rei Macaco e a Rainha Papagaio, sentados desajeitadamente no
trono duro das convenções humanas. De alguma forma tememos mudar de nossos lugares
habituais dentro da vida temendo que os olhos abertos de suas Majestades descubram nossa
ousadia e com suas vozes roucas gritem para que seus vassalos leais nos prendam; e se formos
muito fortes, para que nos boicotem. Assim os seres humanos, temendo as convenções, temendo
fazer aquilo que seus corações lhes dizem o que deveriam fazer, visitam esses cafés apenas para
expressar os difíceis desejos reprimidos na atmosfera de seus lares. Apesar de ninguém ser mais
impiedoso que o inquisidor de fofocas, cujo mundo cinzento de mediocridade nos envolve, não
deixa de ser uma sutileza infernal em se determinar que aquele que ofender estas convenções seja
chamuscado continuamente até que o calor toste sua alma, tirando-lhe a pele e obrigando-o a
caminhar como um pária definhante e torturado, porque nunca teve a coragem de expressar suas
próprias convicções.
Nossas vidas costumam ser bastante ordenadas. Pela manhã digerimos, sem
pensar, o indispensável e apressadamente escrevemos artigos sobre o noticiário; entramos no trem
ou ônibus e viajamos desinteressados por estradas sem beleza; andamos sempre sobre as mesmas
pedras de pavimento moldadas com regularidade, iguais e quadradas, passando pela fila
monótona de postes de rua, cinzentos, iguais. As paredes brilhantes e as horríveis linhas férreas
que são tão eretas que parecem seres humanos hipócritas, afetados e mesquinhos não nos chamam
a atenção. Quando Samuel Butler escreveu em seu livro "Antes que", no qual fica claro que o
resultado de muitas máquinas será nos tornarmos escravos delas fico meditando e achando que
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isto já aconteceu. Fomos dominados pela máquina; fomos quase despojados de nossas artes
manuais, essas habilidades que nos traziam prazer e beleza saudável aos olhos - olhos amorosos
agora quase destruídos pelas máquinas - e elas permanecerão no trono para sempre ou não
sabemos por quanto tempo. Somente estamos revoltados contra essa produção de coisas
dispensáveis e que faz a humanidade esquecer seus poderes.
Foi desta forma que conhecemos, nos antros da boemia, todas essas almas que
estavam cansadas de seus mundos padronizados. Somente mais tarde percebemos que a fraude
era permanente sob este modo de fuga, embora este jogo de ambições pouco tenha nos
prejudicado, pois cedo percebemos os perigos de permitir que nossas fraquezas crescessem e
acabassem nos subjugando. Para nós, que desde pequenos já conhecíamos o ocultismo era
bastante claro que muitos destes artistas eram pessoas obsedadas e que aquilo que chegavam a
ver clarividentemente tem a mesma origem onde o bêbado, em “delirius tremens” tem suas visões,
embora em sua essência todas sejam repugnantes; sabíamos também que eles tinham perdido suas
vontades e tinham se tornado portas abertas para o astral - vítimas das forças invisíveis e doentias
do mal. Mas embora soubéssemos e entendêssemos o tipo de espírito destes lugares, continuamos
visitando-os até que veio a época quando passamos a morar em nossos próprios quartos em
Bloomsbury e tentamos levar a cabo nossas próprias concepções de inconvencionalidade e
liberdade.
Os imponentes jovens moradores destes eternos bosques são tão delicados como
suas fontes imortais; suas faces infantis e meditativas estão, entretanto, preocupadas com os
lânguidos e ainda apaixonados ecos da Terra lastimosa. Andando tão suavemente quanto o
destemido cervo que pasta e se move ao lado deles, questionam e rezam aos belos deuses, cujas
moradas estão nas montanhas, por entendimento e poder para interceder e destruir as plantas
parasitárias do mal, que estendidas como os ramos tenros da videira, mas cinzentos e grossos,
circundam as almas de nosso mundo.
Os deuses de olhos profundos murmuram de seus panteões cerúleo-relampejantes:
"Se vocês chegarem a perder a luz destes refúgios tranqüilos e se tornarem cegos às nossas
presenças, não mais verão os moradores perfeitos das estrelas e, então, ficarão surdos à melodia
de suas vozes reais; se vocês deixarem enfraquecer seus sentidos e esconderem o fogo santo de
seu ser em fibras vermelhas de barro vivo, serão carregados como as pobres folhas pelo vento, na
respiração agressiva deste globo. Contudo, vocês podem fazer com que a Terra pare de se
lamentar".
E os imaculados então abandonaram os riachos luminosos e os estreitos vales
aveludados; a música tranqüila das árvores e as assustadas pombas; os antigos Templos em que
flutuam os odores evasivos das tímidas flores e deixaram o maravilhoso povo das fadas e o cervo
de olhos grandes para fluir sob as correntes invisíveis e pesadas dos pântanos e labirintos de uma
morte viva o amor de seus corações.
O ENCONTRO
O período durante o qual visitamos os cafés foi também marcado por nossa grande
devoção à Teosofia. Embora mentalmente saciados, não tínhamos recebido nenhuma realização,
no que se referia aos poderes ocultos da alma; acreditamos piamente na existência do mundo
interno e escutamos vários conferencistas que alegavam sutilmente possuir conhecimentos
ocultos, entretanto, de minha parte, admito que raramente falavam sobre a posse de faculdades
paranormais, porque geralmente seus conhecimentos eram baseados em certos princípios
retirados de "A Doutrina Secreta" e livros escritos pelos líderes da Sociedade. Conhecíamos um
único homem que falou conosco sobre certos poderes que possuía, e não era bem um
conferencista ou alguém muito conhecido, mas nos proporcionou algumas demonstrações
provando, a nós, que havia coisas que não podiam ser facilmente explicadas por intermédio da
ciência.
Caso contrário, tudo era conversa furada, bonita, sentimental e idealista, mas ainda
assim conversa fiada; conversações sobre amor, beleza e misticismo, devoto e emocional.
Alimentávamos nossas almas com colheradas de neblina. As pessoas ouviam murmúrios da
Sociedade sobre iniciações, adeptos, mestres, profecias da vinda de um Instrutor ao Mundo e,
também, pequenos escândalos e fofocas. Alguns membros reivindicavam uma superioridade
acima de outros, pelo fato que tiveram publicado, no jornal da Sociedade, suas encarnações de
algumas centenas de milhares de anos atrás, embora a razão pelas quais estas supostas vidas
foram tornadas públicas é coisa que eu nunca entendi.
Provavelmente fiquei com ciúmes, pois nosso pequeno grupo era pouco conhecido.
Embora fôssemos tratados amavelmente havia indiferença em relação a nós, pois nenhum líder da
Sociedade se preocupou em descobrir o que estávamos fazendo um milhão de anos atrás, e
sempre me senti um pouco triste em relação a isso, já que o assunto era importante. Em resumo,
os membros da Sociedade eram tão humanos quanto qualquer outro membro de outra sociedade,
e olhando para trás percebo agora que as verdades e realizações espirituais podem ser
encontradas em qualquer parte do Globo. O axioma "Quando o discípulo está pronto o Mestre aparece"
é perfeitamente verdadeiro. Também sei que um genuíno Iniciado nunca reivindicaria
superioridade acima de pessoas mais humildes, embora certos membros da Sociedade o fizessem,
pois o verdadeiro Iniciado sabe que o investigador mais humilde pode possuir um pouco de
conhecimento do qual ignora. Também penso que discutíamos muitas coisas e eventualmente
chegávamos a nos perder numa selva de palavras; nossos passeios nos conduziram à fonte de
origem das coisas através dos rodopiantes vapores da confusão. Estudamos muito aquilo que
realmente não importou tendo tudo se tornado numa aragem perfumada e numa neblina
aprazível; os significados foram distorcidos, maculados e esmagados, até que se tornaram
irreconhecíveis. Permanecemos na Sociedade porque estávamos encantados com as sombras e
fontes de emoção que jorravam em nossos sentidos, tornando-nos mais e mais sonolentos e depois
de um longo tempo fomos forçados a admitir que tudo o que pudemos aprender era de natureza
intelectual e que só poderia nos conduzir para uma miragem perpétua. Pois, acima de tudo, o que
realmente desejávamos eram realizações que nos tornassem aptos para compreender o significado
da vida, entender porque a humanidade sofre e curá-la. Já não acreditávamos que a vida surgia
das paixões inconscientes dos elementos, emaranhava-se em si mesma e tecia, a seu modo, uma
escadaria construída de ossos do menor número de vidas possível.
Só a mocidade não preocupada em mergulhar profundamente nos pequenos lagos
do pensamento e a risada clara de mentes insignificantes que aceitam e vivem nas teorias dos
grandes homens do passado negarão um significado interno às dores de humanidade. E foi por
esta razão que deixamos a costa rochosa das aparências e velejamos intranqüilos nos mares
nebulosos e fantásticos da religião, sempre levados pelos ventos da ambição e esperando assim
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descobrir as imortais Hespérides. Como mencionei previamente tínhamos aportado nas costas
estranhas do Espiritismo e depois viajamos no reino da Teosofia imaginando que aqui
encontraríamos tudo o que queríamos, porém, mais tarde, verificamos que até mesmo o mundo
da Teosofia, que nos pareceu tão extraordinário e lidava com tantos aspectos da vida, acabou se
tornando mais um fragmento minúsculo de um continente muito mais vasto. E, quem sabe, até
mesmo esta terra mais distante, à qual meu professor me conduziu, seria ainda mais um pequeno
reino que finalmente nos conduziria a regiões onde até mesmo os anjos das estrelas se sentem
como crianças hesitantes, que tropeçam em continentes ainda mais imensos de sabedoria.
E novamente ficamos descontentes. Tínhamos descoberto várias novas concepções,
e agora somente nos restava isto para entendermos os ensinamentos que havíamos estudado tão
avidamente. Pois, afinal de contas, só quando a alma pode demonstrar certas verdades para sua
própria satisfação é que pode realmente aceitar essas verdades, caso contrário deve permanecer
esfaimada, até que se torne ressecada e sem esperanças. Então, em sua agonia clama por Deus, e
isso provavelmente pode explicar o motivo de termos vindo para este planeta como se fosse para
uma escola, onde, como crianças alegramos nossos olhos e mentes com uma fotografia de
miríades evanescente cheia de glamour, que acaricia e preenche a câmera de nossos cérebros com
entulhos de lembranças meio apagadas. A alma então é forçada, por causa de sua sede e fome, a
clamar por seu corpo - que também deve ser alimentado - até que o corpo é compelido a escutar
ao seu chamado e a mente é retirada do magnetismo das visões exteriores para ouvir a voz da
alma que clama por uma realização da Verdade e da Liberdade Divinas.
Por essas razões começamos a nos sentir inquietos e visitar outras escolas de
misticismo e ocultismo que eram pequenas, mas numerosas em sua diversidade de ensinamentos.
Como tantos mascates na praça do mercado elas alardeavam a beleza de suas
mercadorias espirituais; algumas eram caras e outras eram baratas, outras altamente adornadas
com decorações e algumas eram primitivas e simples. Havia os contorcionistas mentais e os
conjuradores que faziam truques e usavam todos os artifícios possíveis para ganhar dinheiro.
Ainda alguns eram bastante honestos e certamente tinham algumas verdades para oferecer; mas a
maioria pegava informações umas das outras. Poderíamos aprender em toda parte os mistérios
divinos por tantas libras ou por alguns dólares; se aumentássemos nossos pagamentos
poderíamos nos tornar iniciados, e aqueles que possuíam o bolso maior se tornavam mestres;
contudo acredito que só um milionário poderia se tornar um Logos.
Alguns eram pequenos mascates oferecendo bugigangas sobre suas bandejas,
algumas peculiares, às vezes, insalubres, murmurando furtivamente a excelência de suas
mercadorias. Outros gritavam que haviam visto Deus, mas seus vícios contradiziam aquela
possibilidade e seu Deus pode ter sido um sátiro ou algum Elemental pervertido. Outros ainda
falavam sobre o amor, mas a forma de amor que suspeitamos que eles possuíssem era um amor
por dinheiro. Encontramos também aqueles que nos disseram para deixar todos os outros
distribuidores da Verdade, porque só eles a possuíam. Alguns chegavam a jurar que seus
competidores eram magos negros. Aqui e ali pessoas também havia os “pregadores” que não
precisavam de dinheiro, pois viviam em estado de fé; geralmente tinham a envoltura de um
morcego e eram os mais salafrários de todos estes negociantes. Encontramos também alguns que
claramente nos ameaçavam, jurando que se não comprássemos deles seríamos assados em um
inferno eterno depois que Deus tivesse destruído o mau, que certamente éramos nós mesmos:
uma forma de chantagem que a civilização ignorou.
Havia negociantes presunçosos e gordurosos, que exalavam ambição, que sorriam
maliciosamente e que olhavam de soslaio, grotescos em suas receitas. Alguns eram
desequilibrados e outros equilibravam seus negócios com uma frieza tão científica que fomos
repelidos pela falta de sentimento. Embora nossas mentes lógicas requisitassem razão e ciência,
apenas desejávamos que possuíssem apenas um pouco do sentimento de compaixão; por outro
lado, sabíamos que os ensinamentos extremos baseados somente nos sentimentos necessitavam
também do poder intelectual, o qual deveria esclarecer o que estava sendo ensinado. Ainda assim,
apesar de todas estas coisas e apesar do conhecimento intuitivo que nos avisou de que muitos
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(1) Shekinah: A Divina Presença de Deus como é concebido na Teologia Judaica.
O FALSO PROFETA
Tendo lido muito e percebido pouco enquanto nos abrigávamos na habitação
confortável da Sociedade Teosófica, envaidecemo-nos e desdobramos nossas recém-emplumadas
asas e com grande incerteza voamos para as mãos do apanhador de pássaros que esperava lá fora,
pronto para engaiolar e depenar seus infelizes prisioneiros e, casualmente, disposto a ensinar a
seus cativos, canções de sua própria composição. Pelo qual, ao sermos capturados, o fizemos de
boa vontade e alegres, pois éramos criaturas extremamente sujas e desarrumadas que modesta e
silenciosamente deixavam à gaiola quando aprendiam todas as músicas.
“S”, pois só assim posso chamá-lo, era um homem que tinha estudado a psicologia
dos pardais. Ele sabia quais miolos espalhar para atrair-nos. Falou-nos que estes eram do pão da
fé, mas sabia e escondia que o trigo de que fora feito era cultivado nos campos da tolice e adubado
com egoísmo. Também sabia quais melodias atraíam-nos: melodias honestas e descaradas com
um toque de valentia, as quais imitávamos perfeitamente e assobiávamos em divertido
contentamento. Da mesma forma sabia que chicote usar em suas doutrinações: o chicote do medo.
Pois ele nos falava com freqüência das terríveis aves de rapina que voavam fora de nossa gaiola;
as águias malvadas dos demônios (seus demônios eram algo teatral, completado com coices, rabo
e chifres, e segurando, segundo lembro, um enorme tridente). Era um diabo sorridente que
controlava o mundo inteiro e estava preparado para o grande momento em que poderia arrebatar
as harpas das mãos dos anjos, pois seu Céu era típico também – e reinava com malévola soberania
sobre o mundo inteiro. E também nos ensinou que se recusássemos sua proteção seriamos
afundados nos mais negros departamentos do Inferno com todas as outras criaturas más que
infestam a Terra. Assim, o medo, a fé e a estupidez nos amarraram a ele tão fortemente quanto
cordas de aço.
“S” era idoso com esparsos cabelos cinzento, acima da estatura mediana e com a
face de um homem de negócios durão e um olho que era rápido e quase magneticamente atraído
para um bonito tornozelo ou rosto. Pois lembro que sempre que ele vinha para fazer a palestra,
seus olhos percorriam o cômodo, rápida e seguramente, notando, cada vez, a ausência de algumas
mulheres atraentes, e por quem ele inquiria, dando boas vindas alegremente se elas apareciam.
Costumeiramente perguntava se elas gostariam de visitar seu apartamento, com a proposta de
tomar chá e conversar tête a tête, e se elas estivessem dispostas, lábio-a-lábio.
Quantos casais ele já separou nós não sabemos, mas sabemos de alguns; geralmente
seus discípulos deixavam suas esposas, para segui-lo. Como Davi, Paulo e eu, eles eram sinceros,
mas pouco educados. Rapidamente Davi e eu percebemos este fato por termos pertencido à
Sociedade Teosófica, onde a maioria dos membros possuía certa cultura e refinamento,
notadamente ausentes em nossos novos amigos.
As palestras realizadas por “S” eram, indubitavelmente, muito interessantes e
vigorosas, embora freqüentemente exalassem fragrâncias com uma inspiração que certamente
fluía de uma fonte diferente do espiritual. Da mesma forma, costumava estar verdadeiramente
sempre muito inspirado; ele era uma curiosa mistura de Bem e Mal, entretanto normalmente era a
besta que guiava as rédeas de sua conduta, tornando-o cruel, luxurioso e irrefletido; em verdade
era um excelente espécime para um estudo para aqueles que têm fé não-raciocinada, para aqueles
que nunca vão aprender que o homem é o molde de seus pensamentos: as ações de “S”
expressavam o verdadeiro homem que havia dentro dele. Era extravagante, enquanto muitos de
seus discípulos quase passavam fome para sustentar seu conforto; suas paixões descontroladas
contradiziam seus ensinamentos de pureza e abnegação; certos toques de crueldade, sem
nenhuma necessidade, que ornavam suas atitudes para com os outros provava a ausência dentro
dele, do amor Divino sobre o qual ele incessantemente falava. Este era o homem cuja melodia nos
atraía naquela época.
Aqui, o homem despende seu tempo como se estivesse numa casa escura
lamentando a perda dos velhos candeeiros que uma vez iluminaram seus cômodos, ou seja, os
profetas e seus poderes, cujas mentes calmamente pairam no meio dos poderosos relâmpagos
ziguezagueantes de Deus. No pórtico sombrio, esses irmãos se reúnem e esperam, ouvindo as
pesadas badaladas do relógio que indicarão o sinal para que possam entrar e novamente levar luz
às câmaras sombrias. Têm como missão abrir novamente as poeirentas janelas e acender as
lareiras; novamente destrancarão as portas das bibliotecas e trarão para os homens o
conhecimento antigo que por tanto tempo foi negligenciado, abrindo pergaminhos amarelados e
as monumentais obras literárias estampadas com o símbolo de ouro da Verdade. Em seguida, os
sonoros tons do relógio vibrarão tão ruidosamente que o seu eco repercutirá em cada cômodo,
acordando os homens de sono pesado, que abandonarão o sótão, o porão, a sala de estudos e o
quarto para se reunirem na sala da casa, e mesmo ouvindo os passos daqueles irmãos na varanda,
não se apressarão para abrir as portas, porque os parafusos se desenroscarão dos soquetes sem a
ajuda de mãos e as portas se abrirão, deixando entrar uma rajada forte de vento que purificará
toda a casa.
NO PORÃO
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(1) Este nome se refere a um distrito de Londres onde, entre aproximadamente 1907 e 1930, um grupo de escritores,
filósofos e artistas ingleses se reunia costumeiramente para discutir questões estéticas e filosóficas. (N.Trad.)
Aqui, na Segunda parte deste trabalho, relatarei as várias experiências pelas quais
passei sob a tutela de meu professor, muitas das quais sei que irão soar impossíveis e fantásticas,
apesar de muito ter sido omitido, pois existem vários segredos que não devem ser escritos, e se o
fossem soariam ainda muito mais fantásticos do que os acontecimentos estranhos que eu tentarei
descrever.
((1) – Com o advento da física quântica em nossos dias, podemos compreender melhor o que o Autor do livro pretendia
dizer sobre o assunto. (N.Trad.)
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Quando a Terra Despertar
Por ter o Planeta Terra viajado através das longas e escuras estradas do Tempo e em
sua peregrinarão ter sido pilhada pelos ladrões da Estrada da Ganância que dela roubaram sua
beleza e suas rotas vestes, estes não devem pensar que Ela esqueceu, ou que Deus, seus guardiões
e os outros deuses estão dormindo.
Os olhos da Terra observaram e sua alma esperou. Preenchida com um poder
interior terrível em sua intensidade, ela algumas vezes alimentou sua ira pela devassidão dos
homens, destruindo-os totalmente em alguns momentos.
Na época atual, quando o amor e a esperança se tornaram cinzas, quando o
espectro da Inteligência sentou-se no trono da sabedoria, a fé em Deus e na alma da Terra são
olhados apenas como ilusões de ignorantes. As finas espirais da música esvoaçante da flauta de
Pan(1) só foram ouvidas pelos poetas apaixonados e donzelas saudosas. E por ter o homem
perdido esta herdada intuição e o dom da imaginação, vive de acordo com as leis de suas paixões
e desejos, escondendo sob a mortalha da negação os poderes mais sensitivos e belos que já
reinaram supremos em seu interior. Agora, ele escuta as orações de suas paixões baratas, que se
empenham em fazê-lo destruir o que odeia e a beleza que o ofende.
Mas os becos sombrios percorridos pela Terra por tanto tempo têm um fim, e além
deles, os deuses impacientes esperam, cada um com um presente para a peregrina cansada. Suas
honras a trarão novamente ao êxtase prístino. Alguém cantará para o coro dos elementos uma
nova sinfonia; alguém com um jarro de ouro a banhará com nova doçura(2); outro despertará de
seu âmago os adormecidos poderes da magia e da sabedoria; e outro ainda a guiará para seus
templos antigos, onde o homem pode vir a se tornar seu sacerdote e servo.
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(1) PAN -O grande Deus da Natureza do qual deriva a palavra Panteísmo. Pan é o Deus dos pastores, caçadores, agricultores e habitantes do campo. Segundo
Homero seria filho de Hermes e Dríope. Foi o inventor da chamada flauta do Deus Pan e nenhuma ninfa que ouvisse o som deste instrumento podia
resistir a fascinação do grande Pan, apesar de sua grotesca figura. Pan guarda certa semelhança com o macho cabro de Mendes, só que este último
representa um talismã de grande potência oculta, a força criadora da Natureza e assim como o Baphomet era inegavelmente um talismã cabalístico, o nome
de Pan era de grande virtude mágica no que Elifas Levi chamava “Conjuração dos Elementais”. (N.Trad.)
(2) Aqui o Autor se refere à figura de Ganimedes, símbolo da Era de Aquário, onde estão previstas grandes mudanças na estrutura do pensamento da
humanidade. No Evangelho de Lucas, cap.22 vers.10, escrito provavelmente há mais de 1.700 anos, Ganimedes é citado como o homem com o
cântaro de água que anunciaria o lugar (a época) onde seria feita a Páscoa do Mestre Jesus com seus discípulos, ou seja, a Era de Aquário.
(N.Trad.)
VISÕES E MAGIA
Antes de relatar minhas experiências ocultas, acredito que um capítulo lidando com
as várias visões que tive serão de interesse em relação às coisas vistas após este período, com o
auxílio de “M”.
Se as visões da imaginação são tão substanciais em seus próprios planos de
manifestação quanto às coisas vistas neste mundo pelo olho físico deixo ao julgamento do leitor.
Mais tarde tentarei explicar, à luz do novo conhecimento ensinado por “M”, o motivo pelo qual
acredito serem elas tão reais quanto os elementos de nosso próprio planeta
Quando as vi possuíam grande realidade e uma beleza muito maior do que
qualquer coisa que este Planeta já possuiu e que faz parte do conhecimento da atual humanidade.
Estes esplendores não foram vistos durante o sono, porém algumas vezes eram vistos com o
auxílio de intensa concentração, embora em outras ocasiões acontecessem muito inesperadamente
e com o objetivo deliberado de saber qual beleza se escondia além do estreito campo de visão do
olho físico. Estas maravilhas aconteciam dentro de minha mente com formas distintas e
espontaneamente e possuíam uma atmosfera que me enlevou e preencheu com um êxtase quase
intolerável. Conheço outros estudantes que já viram estes lugares secretos e sagrados e que
relataram em seu próprio trabalho as formas destas deslumbrantes e cintilantes pedras preciosas
trazidas pelos deuses (1).
Aqueles que vêem tais maravilhas ficam admirados com seu poder de imaginação e
lamentam que as pessoas não tentem despertar o dom da clarividência que habita dentro de todos
nós. Da mesma forma como a pessoa que nasce cega não pode conceber a existência das cores, a
maioria das pessoas é mentalmente cega e questionam a sanidade daqueles poucos que
desenvolveram o dom da visão interna julgando-os como desequilibrados mentais.
Naturalmente, com a ajuda da clarividência, amigos deram-me descrições
detalhadas de lugares que nunca visitaram e que somente eu conhecia. Possivelmente tratava-se
de um caso de telepatia, uma forma de transmissão mental de imagens que acredito estar mais ou
menos provada. Então, não é possível que os lugares que descreverei possuam uma existência
real? A diferença consiste no fato de serem feitos de uma substância mais sutil e pertencerem a
uma diferente ordem de vibração. Aqui não me refiro ao plano mental, pois desconheço o plano
em que estes seres e templos habitam, embora seja muito provável que a maioria destes lugares
esteja nos reinos mentais, porquanto possuem a pureza e a magnificência que somente um plano
elevado pode manifestar.
Nessas visões ressalto o fato de que “M” não estava ao meu lado, pois muitas delas
aconteceram antes mesmo de eu o conhecer. Além disso, ver esses lugares e ir até eles são duas
coisas diferentes. “M” me levou a certos lugares mencionados no capítulo que trata da mente. O
que vi, vi sozinho, algumas vezes quando estava andando pelas ruas de Londres, algumas vezes
sentado em pontos de ônibus, algumas vezes caminhando no campo. E há um dia inesquecível,
quando vi por muitas horas um lugar chamado The Joyous Land2, mas isso foi há muitos anos atrás,
e aquele panorama cintilante está enfraquecido pelas brumas dos anos, embora o brilho daquele
dia ainda permaneça vivo, mesmo se tornando cada dia mais fraco.
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(1) “Candle of Vision” publicado por Macmillan & Co. Inglaterra. (N.Trad.)
(2) Mundo da Felicidade ou Mundo da Alegria. (N.Trad.)
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(1) É interessante ressaltar que no mundo mental os símbolos representam uma linguagem muito mais rica que as palavras e os seres da evolução
dévica, ao externarem seus pensamentos o fazem desta forma. (N.Trad.)
SAÚDE
Entre os maravilhosos ensinamentos passados por “M” em nossos colóquios, ficou
muito enfatizada a grande importância da saúde e dos exercícios físicos, porém com moderação
em tudo. Também ensinou a maneira como deveria me sentar e caminhar e, particularmente me
interessou muito suas lições sobre como caminhar, pois me fez recordar um conto estranho que
havia escutado há algum tempo e envolvia a história de um iogue e seu futuro pupilo.
Um jovem oriental certa vez desejou sinceramente se tornar um iniciado nos
Mistérios Divinos, e com esse propósito, se aproximou de um iogue que estava sentado no fundo
de uma enorme sala. Enquanto o jovem se aproximava, o iogue o observava e simplesmente
mandou que retornasse após um ano. O jovem estudou profunda e seriamente durante aquele
tempo, e voltou a marcar hora para falar com o iogue; mas novamente este o mandou voltar para
seus estudos e retornar um ano mais tarde. Pensativo, o estudante fez como lhe foi mandado, e o
ano passou rapidamente em suas tentativas de aprender a sabedoria. Então novamente veio até o
iogue, que o mandou pra casa mais uma vez. Ao fim do terceiro ano ele visitou o iogue, e este,
olhando-o, disse que agora estava pronto para se tornar seu discípulo e explicou o motivo de
tantas dispensas. O iogue percebeu pela maneira como ele andava qual iluminação espiritual que
havia adquirido e, desse modo soube se possuía ou não certo conhecimento necessário à sua
pretensão.
“M” passou instruções minuciosas sobre este assunto exemplificando como
poderia chegar a perceber quando a parte animal ou espiritual controlava a pessoa. Disse ainda
que o pupilo deve aprender muito através da observação; que as coisas pequenas e simples,
ignoradas pela maioria, às vezes são de muito mais importância para o estudante de ocultismo do
que as coisas óbvias que atraem as multidões. O fato de que se pode aprender muito com as
pessoas em geral e com qualquer coisa em particular me impressionou sobremaneira. E aqui devo
salientar que o místico ou o sonhador que caminha continuamente em terreno nebuloso deixa pra
trás muito conhecimento por seu desinteresse nos assuntos naturais e humanos. O ocultista
verdadeiro deve ter uma mente tão treinada para a observação quanto o cientista, com exceção do
fato que usa métodos diferentes para experimentação sendo seus instrumentos o pensamento e o
sentimento, além de outros sentidos ocultos, dos quais a maioria dos cientistas ainda não percebeu
a existência.
Normalmente o ocultista é aquela pessoa que já treinou sua sensitividade a um
nível extraordinário chegando a perceber também as razões invisíveis que influenciam um
indivíduo ou uma multidão. Por exemplo: com naturalidade se pode dizer que certa pessoa
cometeu um assassinato, embora isso não prove que a pessoa o fez em seu livre-arbítrio; pode ter
acontecido, com muita probabilidade, que uma entidade obsessora possuiu o criminoso.
A pessoa que comete suicídio repentinamente, como acontece constantemente sem
uma razão plausível, pode ter sido, muito possivelmente, obsedada por outros seres que
destruíram seus corpos em existência anterior numa situação semelhante e foram obrigados pela
Lei a vagar pela Terra; ou podem ter sido atingidos e sugados pela corrente de emoções que
perdurou no lugar em que estão ou estiveram e serem vítimas da mesma, pois acredito seja muito
conhecido o fato de que influências antigas permanecem vivas por muito tempo após as pessoas
que as hospedaram ou criaram se mudam daquele lugar (1).
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(1) No livro “Perfumes do Egito” de C.W.Leadbeater, da Editorial Kier (Buenos Aires) estas situações aparecem bem
descritas quando se trata de casas assombradas. Também no livro “Nosso Lar” de Francisco C. Xavier é descrita
situação idêntica em relação as vibrações contidas no espelho de uma casa antiga. (N.Trad.)
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Outro aspecto de um crime é o fato de que pode ser causado por hipnose à
distância. Pode-se atribuir muitos motivos para algumas ações e nenhum deles necessitaria ser o
mesmo; embora, admito, nenhuma delas poderia ser provada à satisfação de uma corte ou juiz,
que utilizam de métodos de exame diferentes e dar explicações gerais óbvias sobre o caso que,
geralmente ao ocultista, podem estar erradas.
Quando falamos do ocultista, fica entendido que também incluímos os místicos,
pois o verdadeiro ocultista desenvolveu seus princípios emocionais simultaneamente aos
princípios mentais, pois ele precisa ser equilibrado se deseja compreender as experiências pelas
quais passa e as verdades sobre o mundo. Sabemos que existem muitos estudantes
desequilibrados e sentimos que é necessário declarar isto, pois muito tempo é desperdiçado
quando nos recusamos a aceitar o fato de que encarnamos em um mundo para podermos
entendê-lo. O ocultista não é um ermitão exceto em algumas ocasiões em que necessita
desenvolver certos poderes e se torna necessário que ele habite em uma parte quieta do mundo e
passe a viver tão perto da natureza quanto é possível. Entretanto, muitos estudantes confundem o
lado prático da vida com o lado místico sem compreenderem que o ocultista não pode viver num
lugar deserto por toda a sua vida e, da mesma forma, viver em cidades por toda a sua vida
quando deseja desenvolver seus poderes interiores. É possível que a pessoa que você imagina ser
a mais prática, mais saudável, mais trivial e a mais mundana ser, com bastante probabilidade,
muito mais um profundo ocultista do que a pessoa excêntrica ou a contumaz sonhadora que
chama a si mesma de estudante de tal assunto, pois esta pode estar tão longe desse propósito
quanto a Terra do Sol. Excentricidade, comportamento duvidoso e conversações sobre visões
delirantes são as provas mais insatisfatórias de que a pessoa é um iniciado e devemos dizer
também que as pessoas que querem manter a mente saudável devem evitar o contato com este
tipo, pois as doenças mentais também são transmissíveis.
Mais tarde, durante meus estudos, “M” ensinou o valor de certos exercícios
respiratórios, uma forma da respiração simples que pratiquei constantemente desde então, e que
me ajudou muito no sentido de clarear minha mente e me deu forças para estudar muito do que
me é ensinado. Também me ensinou certo ritmo respiratório e controle, o que era necessário para
que eu visitasse os planos mentais, aos quais devotarei um capítulo mais à frente. Porém sobre a
respiração repito o comentário abordado neste livro no capítulo intitulado “O Encontro”: - “Pela
concentração na meditação em um determinado assunto, e pelo esforço da respiração regular, quando a
inalação e exalação ocupam o mesmo espaço de tempo, a mente deve estar contida, pois não deve haver espaço
para outros pensamentos além daqueles pertinentes ao objeto ou símbolo de expressão sobre o qual o homem
deseja obter conhecimento”.
Quando o homem persiste nessa prática, ele pode entrar num relacionamento
harmonioso com a Divindade interna, e dessa fonte pode obter o conhecimento resultante da
experiência da própria alma em suas passagensm pelos mais elevados e mais inferiores estados da
matéria. Ao mesmo tempo, ao se concentrar nos planos mais elevados, pode evocar de seu interior
o Poder da Força Solar e que, se for ascendentemente dirigido fará despertar e revitalizará as
glândulas ou órgãos da percepção até agora impedidos de seu uso perfeito. Se é verdade que
viemos de Deus e a Deus retornaremos, o propósito da vida é apenas a obtenção desta
consciência, que é de Deus. O ser humano desconhece sua verdadeira identidade e seus poderes
até que começa buscar sua reconciliação com seu Princípio Vital Divino, quando, então se inicia
sua verdadeira evolução e a manifestação dos poderes que estão dentro de si. Acresce que o fato
de concentrar-se na meditação mantendo a mente receptiva à Divindade interna, numa atitude
positiva de repressão a todos os pensamentos externos, constitui uma forma exaltante de oração
ou comunicação com a Divindade e com a Natureza. Procedendo assim, o homem se torna um
participante das maravilhas da onipotência de Deus e recupera sua soberania perdida.
Muito do que foi exposto acima deve ser considerado uma tentativa de validar,
mostrando resultados, do que tinha sido mencionado anteriormente. A meditação e a respiração
produziram em mim uma sensitividade crescente, a qual, se não houvesse desenvolvido sem
alguma força adicional do meu bem-estar físico, teria produzido um sofrimento intolerável.
Mencionei esse aumento de sentimentos a “M”, e este me disse que agora eu poderia entender o
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que, aquele que foi estudante por muitos anos deveria sofrer, - “mas”, continuou ele, “os deuses
não permitirão que você sinta além de sua força de resistência”.
Tive provas dessa sensitividade aumentada, pois sentia as atmosferas mentais e
emocionais tão claramente quanto aqueles que nadam sentem as ondas. Esse é o motivo pelo qual
mencionei anteriormente que os ocultistas utilizam instrumentos diferentes daqueles utilizados
pelo cientista comum para chegar a uma percepção mais acurada das forças que nos cercam e,
portanto conhecem os poderes internos e motivos que levam pessoas a cometer crimes e fazer
coisas estranhas sem nenhuma razão aparente. Com estas explicações creio que também agora
pode ser entendido porque o místico, que não desenvolveu equilíbrio, mas sim uma sensibilidade
aumentada continuamente, está sujeito à que seu ser se torne negativo, o que acontece com muitos
Espiritualistas, quando obsedados.
Quando se aborda os resultados alcançados a respeito destas várias experiências
ocultas, não se conhece nenhum estudante que não possua alguma vitalidade singular e poderosa
nesses planos. Particularmente “M” possuía em grau avançado todos estes aspectos.
Em relação à respiração, “M” uma vez me disse: “A energia derivada da respiração
harmoniza as condições da pessoa e proporciona uma energia singular que está além dos
conceitos normais da mente humana. Quando respiramos estimulamos alguns princípios ativos
no interior de nosso ser e obtemos energia de seu equivalente mental. O ato da respiração ocultista
se compara a um homem jogando uma corda a um centro de energia sutil, e essa energia se une a
ele para harmonizá-lo com a natureza de suas essências”.
“M” sempre impressionado com a relatividade existente entre a contraparte
superior e a inferior de nossa natureza. Certa vez disse: “As pessoas gostam sempre de ter uma
muleta para auxiliá-las a andar, mas raramente sabem como usá-la, pois o melhor amigo do
homem é a lei de sua soberania, pois ela acende o fogo que ilumina sua inteligência. É fácil falar
destas coisas, porém somente pelo esforço próprio é que o ser humano poderá obter o pleno uso
de seus valores mais elevados”.
Acredito que com esses poucos fundamentos o estudante sincero poderá encontrar
muito do que lhe será útil em sua tentativa de resolver alguns dos problemas que o afligem
quando começa a se aventurar através das terras da ilusão em direção a Grande Realidade que
sempre ampara e cuida das almas pioneiras.
Neste capítulo relatarei alguns dos ensinamentos que me foram dados por “M”
durante os vários períodos de nosso convívio, com a adição de alguns comentários feitos por mim.
Os ensinamentos de “M” estão entre aspas.
Como sei que o estudante de ocultismo sempre está interessado em novos
conhecimentos que dizem respeito às suas pesquisas escrevo este capítulo na esperança de que
encontrem soluções que possam servir de esclarecimento para naturais dúvidas motivadas pela
ausência de uma bibliografia mais completa sobre estes assuntos. Sei que em muitos casos a
resposta não será completa por causa da impossibilidade de fazê-lo sem um afastamento do
verdadeiro objetivo deste livro, que trata primeiramente com ensinamentos que dizem respeito e
estão relacionados aos planos mentais. Portanto, embora este capítulo possa parecer um pouco
incoerente e de difícil entendimento, ainda assim espero que ele atraia o estudante sincero.
Sei que na prática exotérica os ensinamentos que dizem respeito à iniciação
obviamente vêm primeiro, porém aqui transcrevo a resposta dada por “M” em relação a esta
pergunta.
“Dentro da alma de cada mortal habita um Guardião que espera pacientemente
pela hora em que sua tutela lhe permitirá proclamar a existência de uma consciência mais
consentânea com as realidades divinas, e quando isso acontecer, este Guardião interior guiará o
pesquisador por uma série de experiências que o aperfeiçoarão e o tornará apto para adentrar os
templos da Verdade. Onde quer que o pesquisador habite, seja ele branco, amarelo ou negro,
habite uma cabana ou um palácio, desejará imediatamente se tornar um servidor da humanidade
e passa a trabalhar em unidade com as leis do espírito, ouvindo diretamente à voz compelidora da
intuição que o convida a buscar além do glamour dos acontecimentos externos, e ele obedecerá.
Quando isto acontece o Guardião interno o leva para uma viagem que só termina quando o
pesquisador encontra a si mesmo. Porém, enquanto guia-o, o Guardião também lhe dá várias
chaves, chaves estas que abrirão cada uma das sete portas que levam à câmaras antigas, onde
pode-se encontrar livros escritos pelos outros eus do passado, trabalhos nos quais estão inscritos
os símbolos dos poderes divinos. Somente através da perseverança e busca implacável é que o
pesquisador pode alcançar seus desejos. Pois em sua aspiração pela iniciação, ele não deve
permitir que suas energias sejam dissipadas nos clamores mentais de vozes parasitas e interesses
vagos, que são moldados de neblina e trazem somente sustentação temporária. A iniciação real,
pois, consiste em descobrir as suas próprias limitações, embora também se descubra uma
afinidade com os elementos da natureza e do universo. Então chegará uma hora em seus estudos
ocultos em que penetrará através das cortinas etéricas e descobrirá novas regiões, novas leis e
verdades que o levarão a construir em seu caráter poderes que poderão demonstrar à
humanidade a existência de forças e reinos mais elevados”
“A verdade não vem ao homem após sua morte, pois os Valores Celestiais devem
ser procurados e encontrados enquanto ele ainda anda sobre a Terra. Como mencionei
anteriormente, cada civilização não perece em vão, pois seus poderes, apesar de adormecidos,
permanecem cheios de vitalidade. O homem encarna para ganhar novas experiências e também
para a ampliação de sua consciência que, como lamparinas de chama eterna, trarão a ele a
perpétua iluminação interna.”
Antes de escrever o capítulo que trata de minhas viagens mentais, “M” entregou-
me um grande número de anotações relativas à mente; e acredito que será de grande interesse
colocá-los neste capítulo que trata de ensinamentos ocultos.
O sol desperta a mente para diversas atividades, enquanto a lua a adormece e lhe
dá poder para absorver mais Sabedoria Divina do material dos eus interiores.
A lua tem uma parte importante nas atividades mentais, pois ensina a mente mais
mundana a vibração que pode uni-la à mente mais elevada e, com isso, trazer equilíbrio mental,
pois o poder da mente vem de sua ligação com as órbitas solar e lunar e é na luz do sol que ela
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(1) As “sete diferentes fontes” se referem aos 7 centros de força (chacras) principais do corpo humano. (N.Trad.)
(2) “Realidade” Esta palavra é usada pelo Mestre M. para significar o Deus de todas as religiões e que se manifesta no
ser humano através do “Íntimo” ou Divina Presença. (Ver glossário do livro OS DEUSES ATÔMICOS (N.Trad.)
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(1) Ella Wheeler Wilcox (5 de novembro de 1850 a 30 de novembro de 1919) foi uma poetisa e autora americana. Sua
obra mais conhecida foi “Poemas de Paixão”, e sua autobiografia, “O Universo e eu” foi publicado em 1918 pouco
antes de sua morte. (N.Trad.)
(2) Região do Canadá (N.Trad.)
(3) James A. Macneill Whistler (1834 a 1903) pintor e gravador de vanguarda norte-americano. (N.Trad.)
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(1) – Aqui o mestre está se referindo ao conhecimento da Ciência dos Tattwas. (N.Trad.)
Por mais de dois anos pratiquei vários exercícios dados por “M” e nesse período,
despertei a minha clarividência adormecida e a melhorei devagar, mas com firmeza. Nunca
imaginei que possuísse este poder até depois de muitos encontros com “M”, quando ele sugeriu,
numa noite, que eu procurasse por ele. E para minha grande surpresa, descobri que podia fazer
isso, e embora tenha visto muitas coisas belas em minhas visões, nunca tive o poder de despertar
esse dom. Ele veio para mim repentinamente, quando menos esperava, mas sob a tutela de “M”,
podia evocá-lo sempre que quisesse, apesar dos resultados não serem sempre satisfatórios; a aura
de uma cidade e de um país influencia o dom da segunda visão.
A respeito desse poder é interessante notar que se alguém está na companhia de
uma pessoa que possui certos dons, essa companhia desenvolve qualidades similares, embora seja
evidente que a pessoa deve ser sensitiva. O ambiente mental produz um efeito similar no
ambiente físico.
Após estes dois anos de treinamento constante, “M” esclareceu que rapidamente
viveria a interessante experiência da viagem fora do corpo no mundo mental. Esperei por esta
experiência impacientemente, pois ele contou algumas vezes sobre as suas aventuras nos outros
planos, porém deve-se notar que eu apenas falo dos reinos mentais. Existem muitos outros planos
para os ocultistas, porém neste livro abordarei somente experiências com o aspecto mental das
coisas, embora venha a fazer uma pequena menção sobre esses outros lugares.
Estou completamente ciente que para a ciência moderna essas coisas parecem
absurdas e impossíveis. Mas como os cientistas são compelidos a revisar muitas das suas
concepções passadas, acredito que também serão compelidos à luz deste novo conhecimento, a
fim de reconhecerem que muitas das teorias que aparentemente são fantásticas, em verdade são
fatos comuns e simples dentro de uma nova ótica. Pessoalmente, minhas experiências com as
forças espirituais me forçaram a aceitar a existência de outras consciências desencarnadas que
existem sem o invólucro da carne; consciências completas, com sentidos, formas e conhecimentos
individuais, movendo-se em suas tênues atmosferas com perfeita ciência de estarem longe de seus
corpos físicos. Relembro com exatidão experiências longe de meu corpo adormecido, nas quais
viajava completamente consciente que meu corpo estava deitado na cama e que estava viajando
em outra esfera. Numa dessas ocasiões um incidente me impressionou particularmente, pois senti
que havia deixado meu corpo permanentemente, e ficava dizendo para mim mesmo: “Mas isto é
assustador; devo retornar, pois ainda não terminei meu trabalho”. Devo acrescentar que naquele
momento minhas percepções de uma existência interior eram tão completas quanto qualquer
percepção da consciência terrena, mas também sabia que meu corpo estava longe e dormindo e
isso me afligia. Tenho encontrado muitas outras pessoas com experiências semelhantes, e sobre
elas posso ouvir os psicanalistas amadores e profissionais dizendo: “Oh, eu posso explicar isto.
Muito simples. Era a realização de um desejo”. Deixo para eles as suas explicações, que não
significam nada neste caso particular, além do fato que nunca tiveram tal experiência ou, então, a
descartaram por não ter provas o suficiente de uma consciência desencarnada.
Para os Teosofistas esse capítulo deve ser de interesse, já que a sua literatura é
geralmente ligada à forma da consciência astral, apesar de eles terem pouco interesse nos planos
acima do astral; porém acredito que muito poucas informações foram dadas - se é que alguma foi
dada – sobre o que diz respeito a estes reinos de ilusão, superiores ou inferiores.
Em resposta às minhas perguntas sobre os reinos mentais “M” esclareceu que esta
forma de consciência e viagem era como passar de uma cela de prisão estreita e escura para um
espaço amplo e puro, onde se podem ver cidades e pessoas, mares e montanhas e muitos templos
maravilhosos sobre os quais nosso mundo sabe muito pouco. Mencionou ter visto uma vez uma
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cidade com cerca de cinqüenta milhões de habitantes, cuja arquitetura era cheia de cores e muito
bonita e que os que lá moravam eram pessoas muito sábias e governadas por um grande ser
espiritual.
Quando penso nos mundos pelos quais “M” viaja posso entender porque ele é tão
paciente para aceitar todos os pequenos e intoleráveis problemas da vida, pois para ele nosso
plano de consciência é tão pequeno, que seria inútil, à luz de um conhecimento maior, anotar a
mesquinhez das pessoas. Em todos os seus ensinamentos, nosso mundo tem sua parte importante
no desenvolvimento da alma humana, porém, cabe perguntar: quando alguém tem o poder de
sair do corpo como se fosse uma porta permaneceria com a mesma visão insuficiente e
entendimento limitado que os outros prisioneiros?
Quando saímos do corpo, ensinou “M”, os sentidos se tornam muito mais alertas
do que em nosso plano e o método de locomoção é o vôo; mas sobre este assunto falarei depois.
Ensinou ainda que nestes reinos sutis agem os deuses que os homens imaginavam ser míticos. E
quando disse a ele que vi em algumas das minhas visões passadas construções com desenhos tão
soberbos e vitais que irradiavam uma aura como se possuíssem uma existência consciente, ele
confirmou que já havia visto coisas de uma natureza semelhante, tão belas que se lembrou de um
incidente, no qual um pupilo, que estava com ele, se recusou a viajar mais além detendo-se para
bater palmas à uma visão que lhe aparecia como a de uma criança. Também falou sobre imensos
cumes de montanhas onde havia cidades de grande esplendor, que possuíam uma serenidade
real, enquanto pontes de milhas de distância uniam cidades em alturas similares.
O que vou relatar aconteceu na noite em que visitei “M” pela primeira vez, pronto e
disposto a aprender sobre o plano mental, porém antes de entrar neste assunto eu vou contar um
incidente que aconteceu como uma pequena prova da realidade dessas coisas. Isto ocorreu com
“M” e comigo e nada teve a ver com o plano mental e sucedeu quando ele me mostrou sobre outra
forma de viajar fora do corpo permitindo-me, dessa forma, entender que existem muitos outros
métodos para sair do corpo conscientemente.
Um amigo comum nosso, também um estudante das ciências antigas viajou alguns
anos atrás para a África, e não tendo notícias suas por um tempo considerável estávamos ansiosos
para saber se ele estava bem. Então uma noite “M” perguntou se gostaria de acompanhá-lo
através de um vôo mental para a África, convite que eu obviamente aceitei. Deixando nossos
corpos do jeito de sempre, rapidamente descobrimos em que lugar nosso amigo estava. Era uma
pequena cabana na selva. Algumas milhas de distância vimos uma fogueira de acampamento e
sentamos perto de um xamã, com dois outros nativos, um deles pupilo do xamã e usava um
chapéu arredondado. “M” brincando disse que estavam fumando um tipo ruim de tabaco. De
minha parte ainda não havia desenvolvido uma completa consciência no que diz respeito a esses
sentidos mentais nessas viagens, porém entendi que com a prática, esses sentidos despertam
naturalmente. O xamã possuía certo objeto que queríamos que ele desse ao nosso amigo e essa era
a razão de o visitarmos. Em seguida retornamos para o nosso amigo que estava dormindo e logo
depois retornamos aos nossos corpos. Alguns dias depois “M” escreveu para o nosso amigo
distante e falou de nossa tentativa de contatá-lo, e deu também a ele uma descrição do xamã,
mencionando o pupilo que estava usando o chapéu arredondado. Alguns meses depois
recebemos uma resposta na qual o nosso amigo disse que tudo era exatamente como descrito, e
que tentou ficar amigo do xamã, mas com pequeno sucesso até agora. Adoraria saber qual outra
explicação os cientistas podem ter para provar que isso não foi uma experiência oculta, pois nossa
experiência foi realizada envolvendo, conscientemente, uma situação no plano físico com nossos
corpos adormecidos.
Voltemos agora para a minha primeira jornada mental. Embora viajar mentalmente
seja um conceito vago, não deve ser confundido com “entrar em transe”, pois é algo muito
diferente. Pelo contrário, meus sentidos nesta viagem estavam mais aguçados e sensíveis para o
menor som no quarto e na rua do que jamais estiveram, e a voz de “M” soava mais alta, apesar de
ter, depois, dito que falava bem baixo. Nessa experiência, nenhuma tentativa foi feita para tentar
acalmar meus sentidos.
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(1) - Macrobius (Flavius Macrobius Ambrosius Theodosius- 395 a 423)) foi um escritor, filósofo e filólogo latino, autor da
obra “Saturnalia” e dos “Comentários ao Sonho de Cipião”do texto original de Cícero, sobre a visão deste em relação
ao cosmos e a doutrina da imortalidade da alma. Em seus escritos referiu-se ao fato de que Herodes mandou matar
durante o inverno (7-6 a. C.) dois dos seus próprios filhos, Alexandre e Aristóbulo e o seu filho mais velho e seu
herdeiro, Antípater (4 a. C). Estudando estes dados, podemos situar a matança dos meninos de Belém, incluindo a
do filho mais velho de Herodes, que devia ser o seu sucessor como rei dos Judeus, no início do ano (4 a. C) e
contando os 2 anos do tempo do aparecimento da estrela que guiou os reis magos, para os astrônomos uma
conjunção de Júpiter e de Saturno na constelação de Peixes, fenômeno que é visível de 794 anos em 794 anos,
podemos situar o nascimento de Jesus em 6 ou 7 a. C.
(2) – Fedo (Phaedo) Diálogos de Platão que põe em cena os últimos momentos de Sócrates entre seus discípulos e que
trata da imortalidade da Alma.
Aqui, por enquanto, terminam os ensinamentos dados por meu Mestre. Se vão ser
considerados pelo leitor como um novo despertar de antigas verdades, ou como crenças
fantásticas de um estudante, não sei. Mas sei que estas instruções me ensinaram a entender e
realizar muitas das desconhecidas leis da Natureza em relação aos acontecimentos comuns da
vida. Em verdade, se deve subentender de tudo que encontrei muitas dificuldades para viver de
acordo com a maioria desses ensinamentos, estudados por mim durante alguns anos e que é
muito difícil aplainar, em pouco tempo, os ângulos agudos e afiados de um caráter. Tenho certeza
que os estudantes e pesquisadores mais sinceros que acreditam, como eu, que em algum lugar
desse planeta vivem irmãos mais poderosos que nós, que movem as nações como movemos as
peças de um tabuleiro de xadrez, se interessarão pelo que escrevi. Outros negarão o valor deste
trabalho e não o lerão por considerá-lo semelhante a outros ou então alegarão que nunca
souberam de sua existência.
Sei perfeitamente que alguns leitores com mente científica vão tratar com grande
ceticismo o que escrevi, de acordo com seus pontos de vista, sem ter estudado o assunto mais a
fundo. Entretanto, posso entendê-los por agirem desse modo, já que só podem olhar com suspeita
para aquilo que traz ensinamentos que requerem um método moral de investigação em vez de um
método químico. Quantos cientistas no passado inseriram dogmaticamente as verdades de suas
teorias no contexto científico mundial e pergunto, quais delas foram depois provadas incorretas?
Da mesma forma e apesar de poder confiar e afirmar a segurança de minhas investigações deixo
claro que os ensinamentos aqui apresentados têm o mesmo cunho e também só deverão ser
julgados depois de testadas as sãs informações dadas no livro; mas, isso deixo para futuros
investigadores do oculto.
Encarnação após encarnação erguemos nobres civilizações para os nossos mais
sublimes sonhos; escutamos músicas das suas suaves asas nas calmas e remotas noites dos nossos
nascimentos passados, quando imaginávamos que as estrelas podiam ser ninhos de prata de seres
alados. Navegamos durante muito tempo por mares desconhecidos e desembarcamos em areias
que os pés humanos nunca pisaram; escutamos a cadência ciciante das folhas e a pequena melodia
dos pássaros pensando que nossos sonhos eram enfeitiçados e aprisionados na música da
Natureza; estivemos em ilhas coloridas onde permaneciam deitados comedores de Lótus
desfalecidos, com seus sentidos enternecidos e encantados por muitas riquezas; caminhamos e
buscamos os vales adornados com as jóias das Verdades Imortais. Abandonamos, aos poucos,
nossas capas de barro por toda terra, em todo topo de montanha e as desfizemos fora das águas
sempre enriquecendo a poeira do mundo, enquanto a chama incansável de nossa alma continuou
seguindo, trabalhando arduamente, sempre procurando a sua perdida divindade; sempre
desejando escutar a sinfonia do seu próprio Deus interior, aquele acorde que iria levantá-la e
transformá-la em una com o seu próprio pequeno universo.
Quando nossos humores subiram acima da trama da carne, não chegamos a
perceber a sagrada e gelada chama do Deus que mora dentro de nós banhando nossas almas e
ascendendo conosco de uma forma suave e tranqüila para as calmas alturas do espírito, onde a
imensa lembrança de uma existência imortal revela-se como uma flor perfeita. Por alguns
momentos a paixão que nos ancorou à Terra foi afrouxada, e os desejos negros da vida foram
silenciados, e acima, nos palimpsestos, estão inscritas as palavras eternas da Verdade para
(1) – O Altar da Contemplação fica na parte mais alta do ventrículo esquerdo do coração, formado da matéria mais sutil
de nossa manifestação nos planos materiais (físico, etérico, astral, mental e intuicional).
Dentro de pouco tempo as pesadas e lentas formas dos séculos escuros e sombrios
que cobriram com seus mantos de ilusão os olhos do homem devem ser dispersas pelos ventos
dos deuses mensageiros que retornam. Antes dos desumanos fantasmas em decadência o homem
implorou e se ajoelhou durante muito tempo, mas mesmo assim a época do fascínio não pôde se
sustentar viva para o florescimento da aspiração; então os deuses voltaram para trazer uma nova
melodia, uma nova arte e um novo entendimento. Através das crescentes ondas de luz e das asas
da Terra ornadas pelos raios do Sol que circundam o firmamento e o horizonte infinito, brilha
fracamente neste momento um esplendor que aumenta e, então, de repente, as penas enevoadas
dos pássaros desabam, e ali, da realeza pantanosa, se elevam velozes cavalos com freios
prateados, arreados à carruagens incandescentes onde permanecem altaneiros os jovens e virgens
deuses, com elmos dourados e cintilantes armaduras para as pernas, quais não podem ser
golpeadas ou sujas. Estes deuses são as celestiais dinastias e as crianças etéreas nascidas da divina
e eterna Mãe Ardente, cujos seios são as estrelas que amamentaram essas crianças com um leite de
fogo. Logo devemos escutar o som estridente dos relinchos dos cavalos e as tempestades cantando
em coro entre suas crinas balançantes. As carruagens deslizam e deixam um rastro de luta no ar
conforme vão mergulhando nas cristas brancas das montanhas. Enquanto isso os trovões
desencadeados pelos deuses, como cornetas anunciam cantando triunfantes o surgimento das
verdades, mais uma vez relembradas e irrompendo através dos séculos obscuros, para libertar as
mentes aprisionadas dos seres humanos.
Doce é o nascer
Da mais doce Terra;
Clara, serena e frescor dos céus.
Para mais valiosos poderes
Mande antes suas flores
Das quais ela o perfume purifica.
A alma do homem
Dirige-se para um plano,
Guiada por Deus e deuses,
Que corretamente lideram
Cada cavaleiro cansado
Dos períodos escuros.
Imutáveis,
Inescrutáveis,
Eram todas as estradas do tempo antigo,
Agora todo sinal
É cristalino,
E todo caminho é ouro.