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Aula 2 – Modelo de referência OSI

Objetivos

Compreender a necessidade de padronização de redes.

Apresentar as principais entidades que atuam na padronização


de redes.

Apresentar as diferentes camadas do modelo OSI.

Discernir as camadas e suas funções.

Com mais teoria, esta aula complementa o que dissemos na aula anterior,
cuja palavra-chave é padronização. O modelo OSI, que será apresentado aqui,
é uma espécie de consagração da padronização para o mundo das redes.

Quando as primeiras redes de computadores surgiram, elas eram, na maio-


ria, soluções proprietárias. Isso quer dizer que qualquer equipamento ou
software para aquela rede deveria ser adquirido com o mesmo fabricante,
pois equipamentos e software de fabricantes diferentes não se comunica-
vam. Assim, um único fabricante era o responsável por fornecer todos os
componentes de rede de que você precisaria.

Isso era um ponto negativo, pois essas soluções tendem a ser mais caras por
não haver concorrentes para o mesmo produto. Sendo caras, não atingiam
escala suficiente para que os produtos fossem popularizados, o que, por sua
vez, impedia a evolução da tecnologia.

2.1 Introdução
Para que a interconexão de sistemas de computadores chegasse a acon-
tecer com fabricantes diferentes, foi necessário estabelecer uma padro-
nização para as redes. Surgiu então o modelo RM-OSI (Reference Model
– Open System Interconnection – Modelo de Referência – Interconexão de

Aula 2 – Modelo de referência OSI 27 e-Tec Brasil


Sistemas Abertos). Esse modelo baseia-se em uma proposta desenvolvida
pela ISO (International Organization for Standardization – Organização In-
ternacional para Padronização).

Um exemplo simples de como as tecnologias funcionam agora pode ser


visto na navegação na internet. Você, como usuário pode utilizar nave-
gadores (browsers) de fabricantes diferentes, como o Internet Explorer,
Mozilla Firefox, Opera, Chrome ou outro de sua preferência. Ou ainda
pode utilizá-los em sistemas operacionais diferentes, como Windows ou
Linux. Ainda assim, você consegue navegar sem problemas. Isso se deve a
uma padronização do protocolo HTTP (Hypertex Transfer Protocol – Proto-
colo de Transferência de Hipertexto).

Outro exemplo são os e-mails. Você pode utilizar um serviço de e-mail dispo-
nibilizado pelo Hotmail e enviar para um endereço de um amigo que usa o
Gmail. São servidores diferentes que estão rodando programas diferentes. En-
tretanto, as mensagens vão e vêm de uma forma completamente transparente
para o usuário. Neste caso dos e-mails, o protocolo utilizado é o SMTP (Simple
Mail Transfer Protocol – Protocolo de Transferência de Correio Simples).

A Figura 2.1 demonstra o uso desses protocolos por dois usuários navegan-
do na internet (usando HTTP) e por outro remetendo um e-mail: nesse caso
o e-mail fica armazenado em um servidor até que o destinatário o leia e
jogue no lixo. A internet está representada pelo globo terrestre.

SMTP

HTTP

SMTP
HTTP
Figura 2.1: Comunicação entre protocolos
Fonte: Elaborada pelo autor

e-Tec Brasil 28 Redes de Computadores


Esses dois protocolos são apenas exemplos de vários outros que são utiliza-
dos nas redes, cuja comunicação foi dividida em camadas. Em cada camada
existem vários protocolos, cada qual com sua função. Por exemplo, os dois
protocolos citados, SMTP e HTTP, fazem parte da camada de aplicação. O
nome é bem sugestivo, já que se trata de uma aplicação (programa) que o
usuário está usando, como Internet Explorer, Outlook Express, Gmail, Hot-
mail, Opera. Vamos ver a seguir esse modelo em camadas.

2.2 Camadas do modelo OSI


ISO é uma organização para definição de padrões de arquiteturas abertas.
O modelo de referência OSI foi criado pela ISO, sendo um modelo teórico
que os fabricantes devem seguir para que sistemas diferentes possam trocar
informações. Foram adotadas sete camadas (Figura 2.2): Aplicação, Apre- ISO
International Organization for
sentação, Sessão, Transporte, Rede, Enlace de Dados e Física. Standardization (Organização
Internacional para Padroni-
Os dados passam pelas camadas zação): fundada em 23 de
fevereiro de 1947, aprova todas
as normas internacionais nos
campos técnicos, exceto eletri-
cidade e eletrônica, que ficam
a cargo da IEC (International
APLICAÇÃO (CAMADA 7) Eletrotechnical Commission).

APRESENTAÇÃO (CAMADA 6)

SESSÃO (CAMADA 5)

TRANSPORTE (CAMADA 4)

REDE (CAMADA 3)

ENLACE (CAMADA 2)

FÍSICA (CAMADA 1)

Figura 2.2: As sete camadas do modelo OSI


Fonte: Elaborada pelo autor

As camadas são numeradas de 1 a 7 (de baixo para cima). Assim, muitas ve-
zes nas aulas e nos livros, citamos apenas o número da camada: “A camada
3 fornece suporte ao protocolo IP”. Fica subentendido que estamos falando
da camada de rede.

Aula 2 – Modelo de referência OSI 29 e-Tec Brasil


Como explica Morimoto (2008), o modelo OSI é fundamental para o enten-
dimento das teorias de funcionamento da rede, mesmo que seja apenas um
O exame de cada camada e seus modelo teórico que não precisa ser seguido à risca.
protocolos é bastante extenso.
Assim, vamos examinar a seguir
cada camada, mas de forma 2.2.1 Camada 7 – Aplicação
introdutória. Se você precisar se
aprofundar desde agora, pode Na camada Aplicação o programa solicita os arquivos para o sistema operacio-
obter mais informações em nal e não se preocupa como será feita a entrega desses arquivos, pois isso fica
Tanembaum (2003), conforme
referências ao final deste caderno. a cargo das camadas mais baixas. Por exemplo, quando você digita o endereço
http://www.google.com, você apenas recebe o conteúdo da página (que é
um arquivo), caso ela exista e esteja disponível. Embora você tenha digitado
o endereço daquela forma, na verdade foi feita uma tradução para o IP da
página que você está acessando. Isso fica a cargo de um serviço desta camada
chamado DNS (Domain Name System – Sistema de Resolução de Nomes).

Outros exemplos de serviços e protocolos desta camada: o download de


arquivos via FTP (File Transfer Protocol – Protocolo de Transferência de Ar-
IP (Internet Protocol)– é quase quivos); o uso dos e-mails através dos protocolos SMTP, POP3 (Post Office
impossível falar de internet sem
falar de IP. Cada site na internet Protocol 3 – Protocolo de Correio versão 3) e IMAP (Internet Message Access
é encontrado por endereçamento Protocol – Protocolo de acesso a mensagens da internet).
IP, que funciona como se fosse
o número do telefone do seu
computador. Você não consegue
decorar os números IP de cada
2.2.2 Camada 6 – Apresentação
site; é mais fácil decorar o nome. Como o próprio nome sugere, trata-se de se apresentar os dados de forma in-
Por exemplo: o site citado do
Google, http://www.google.com, teligível ao protocolo que vai recebê-los. Podemos citar como exemplo a con-
corresponde ao endereço IP versão do padrão de caracteres (afinal, existem diversos alfabetos) de páginas
64.233.161.99.
de código. Um exemplo prático seria a conversão de dados ASCII (American
Standard Code for Information Interchange – Código Padrão Americano para
o Intercâmbio de Informação) em EBCDIC (Extended Binary Coded Decimal
Você pode entender o conceito Interchange Code – Codificação Binária Estendida com Intercâmbio em Códi-
de sessão como a duração go Decimal), em que uma estação gera dados no formato ASCII e a estação
de uma ligação telefônica: a
ligação tem um processo para interlocutora entende apenas EBCDIC. Nesse caso, a conversão é feita aqui.
ser iniciada, há uma troca de Nesta camada 6 também há a compressão dos dados, como se fosse utilizado
mensagens durante o tempo
da ligação e depois há um um compactador de arquivos, como ZIP ou RAR. Para mais informações sobre
processo de término (em alguns
casos um dos interlocutores codificações ASCII e EBCDIC, consulte as referências bibliográficas.
simplesmente desliga).
Assim, no momento em que você
entra em um site, uma sessão 2.2.3 Camada 5 – Sessão
é aberta para você naquele Permite que dois programas em computadores diferentes estabeleçam uma
servidor; depois de navegar pelo
site, você poderá encerrar essa sessão de comunicação. O evento da sessão tem algumas regras. As aplica-
sessão civilizadamente clicando
em algum botão Sair, ou pode ções definem como será feita a transmissão dos dados e colocam uma es-
simplesmente sair para outro site; pécie de marca no momento da transmissão. Quando acontecer uma falha,
neste caso o servidor encerrará
sua seção depois de ficar algum apenas os dados depois da marcação serão transmitidos. Isso impede que
tempo sem uma resposta sua. grandes volumes de dados sejam retransmitidos sem necessidade.

e-Tec Brasil 30 Redes de Computadores


2.2.4 Camada 4 –Transporte
Também é um nome bem sugestivo para a função. Esta camada é a respon-
sável por transportar os dados provenientes da camada de sessão. Como
qualquer transporte por caminhão, sua carga precisa estar devidamente em-
pacotada e endereçada com remetente e destinatário. A camada de trans-
porte inicialmente faz isso. Da mesma forma que os caminhões chegam ao
seu destino e entregam suas caixas corretamente, a camada de transporte
precisa garantir a entrega dos pacotes. Ela o faz controlando o fluxo (co-
locando os pacotes em ordem de recebimento) e corrigindo os erros pelo
envio de uma mensagem chamada ACK (Acknowledge – Reconhecimento).
Um protocolo muito conhecido desta camada é o TCP (Transmission Control ACK
É um pacote enviado ao
Protocol – Protocolo de Controle de Transmissão). transmissor para informá-lo de
que os pacotes foram recebidos
com sucesso. Em caso negativo,
2.2.5 Camada 3 – Rede é enviado um NACK que, como
o nome sugere, é uma negação
Esta camada é uma das mais conhecidas, pois nela são tratados os endereços do ACK, dizendo que o pacote
de rede, conhecidos resumidamente como IP (Internet Protocol). Os endere- não foi entregue corretamente
ou não chegou.
ços IP são números predefinidos atribuídos aos computadores que compõem
uma rede. Afinal, não adianta nada você querer enviar uma encomenda para IP
É um número de 32 bits que
um amigo se você não sabe qual o endereço dele correto. A camada de rede define o endereço de uma
rede ou de um computador,
é responsável pelo endereçamento dos pacotes, adicionando endereços IP escrito em quatro blocos
para que eles sigam sua rota até o destino. separados por ponto. Ex-
emplos: 192.168.10.33 ou
200.176.155.147. Cada bloco
2.2.6 Camada 2 – Enlace corresponde a um número de 8
bits, que pode variar, portanto,
Nesta camada, os pacotes que vêm da camada de rede com endereços de 0 a 255 (256 números ou
28). A versão do protocolo
IP já definidos são transformados em “quadros” ou “frames”. Os qua- IP mais usado atualmente é
dros acrescentam outra forma de endereçamento chamada endereço MAC a IPv4. Entretanto, como a
escassez é iminente, uma nova
(Media Access Control – Controle de Acesso ao Meio). Mas você poderia versão (IPv6) de 128 bits já está
se perguntar: mas os endereços já não estavam definidos na camada de padronizada para uso.

rede, pelo IP? Acontece que o endereço IP não é suficiente para identificar MAC
É um endereço exclusivo da
um computador específico dentro da internet hoje em dia. Em virtude do placa de rede. Os fabrican-
significado de cada bloco do IP, um pacote pode ser destinado a qualquer tes adotam um processo de
numeração para garantir que
lugar do mundo. Cada computador tem, na sua placa de rede, um endere- não ocorram números MAC
ço MAC exclusivo, gravado de fábrica. iguais em suas placas. Assim,
é garantido que numa rede
não existam dois endereços
2.2.7 Camada 1 – Física físicos iguais. O número contém
48 bits, normalmente escrito
Os dados provenientes da camada de enlace, com os endereços já preesta- em notação hexadecimal, por
exemplo: 00-C0-95-EC-B7-93.
belecidos, são transformados em sinais que serão transmitidos pelos meios Falaremos mais sobre MAC nas
físicos. Assim, a camada física converte os quadros de bits 0 e 1: próximas aulas.

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• em sinais elétricos, caso o meio físico seja o cabo de cobre;

• em sinais luminosos, caso o meio físico seja a fibra óptica; ou

• em frequência de rádio, caso seja uma rede sem fio.

Resumo
O modelo OSI, como o próprio nome indica, é apenas uma referência. Ele
guia as especificações a que os protocolos devem atender em cada camada.
As camadas são níveis de abstrações, que no geral estão divididas em 7 (apli-
cação, apresentação, sessão, transporte, rede, enlace e física). Cada camada
provê um nível de serviço e faz interface com duas camadas, trocando dados
entre elas. Elas são fundamentais para a padronização das redes.

Atividades de aprendizagem
1. Associe os termos aos textos a seguir:

a) Camada Rede.

b) Camada Aplicação.

c) Endereço MAC.

d) Camada Enlace.

e) Endereço IP.

f) Camada Transporte.

g) http.

h) Camada Física.

e-Tec Brasil 32 Redes de Computadores


( ) Corresponde aos endereços das redes e dos computadores e está especi-
ficado na camada de rede.

( ) É a responsável pelo roteamento dos pacotes, de forma que conheçam a


sua origem e o seu destino.

( ) É o protocolo utilizado em páginas de hipertexto, como páginas da internet.

( ) Recebe os quadros de bits 0 e 1 e os transforma em sinais que podem


trafegar no meio físico.

( ) É responsável por transformar os dados em pacotes e também pela en-


trega correta dos dados ao destinatário.

( ) Os pacotes aqui são transformados em quadros, de modo que possam


chegar a um computador com um endereço único exclusivo e assim possam
ser encaminhados adiante.

( ) É um endereço da placa de rede que nunca pode se repetir. Ele é único e


exclusivo de cada fabricante.

( ) É a camada mais próxima dos usuários que utilizam programas em rede


ou internet. Nesta camada o usuário interage com protocolos que serão en-
capsulados nas camadas mais baixas.

2. Considere a numeração possível num IP. Quantos números de IP podem


ser obtidos com todas as combinações possíveis? Faça a mesma conta
para o MAC. Compare os dois valores.

3. Quantos números você disca numa ligação de telefone interurbano


(DDD) e numa ligação DDI? Compare a quantidade de números possíveis
de telefone com os endereços IP possíveis.

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