Haja Coracao 100 Anos de Timao
Haja Coracao 100 Anos de Timao
Haja Coracao 100 Anos de Timao
O amor é paciente.
Da Primeira Carta de Paulo Apóstolo aos Coríntios, capítulo 13, versículo 3
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Antonio Goulart
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Quando, em 1894, or volta de 1884 um menino nascido no Brás, Charles
Miller, filho de pai escocês e mãe brasileira, vai estudar na
Charles Miller Inglaterra, onde aprende a jogar futebol, e joga tão bem
que um dia integra a seleção da sua escola numa partida contra
desembarca na um dos principais times do país, o Corinthian Fooball Club.
Dez anos depois, no dia 18 de fevereiro de 1894, Charles de-
Estação da Luz sembarca na Estação da Luz em São Paulo trazendo na mala duas
bolas de capotão, uma bomba de encher bola, duas camisetas e
com aquela bola um livrinho com as últimas regras do futebol recém-estabelecidas.
Jogador, árbitro e dirigente, Charles William Miller é consi-
e aquele livro, derado o introdutor do futebol no Brasil.
Só que, ao desembarcar aquela tarde em São Paulo, ele não
meu Deus do céu... sabia, não poderia saber, o que estava aprontando.
Ele não imaginava, não poderia imaginar, as diabruras que
brasileiros como Friedenreich, Neco, Teleco, Leônidas, Garrin-
cha, Pelé, Didi, Romário, Sócrates, Rivellino e Ronaldo iam fazer
com aquela bola. O quanto aquilo era com a gente.
Nem como aquele novo esporte logo iria pular os muros dos
colégios e clubes finos para cair nos pés e no gosto do povo, gerar
times, ídolos, cores e lendas, eletrizar a imprensa e emocionar
multidões.
Nem como estava florescendo ali, naquela tarde, uma Seleção
Brasileira que, incerta nos primeiros passos, ferida em 50 no Ma-
racanã, seria redimida na Suécia em 58 para se tornar pentacam-
peã mundial de futebol.
Não, Charles Miller não poderia imaginar, aquela tarde na
estação, o que estava aprontando com aquelas bolas, aquelas
camisetas e aquele livrinho.
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À luz de um or volta das 8h30 da noite do dia 1º de setembro de 1910,
cinco jovens operários do bairro do Bom Retiro, reunidos
lampião, numa sob um lampião a gás que havia numa esquina da Rua dos
Italianos com a Cônego José Martins, discutiam a fundação de
esquina do Bom um novo time de futebol, ali do bairro, com craques ali da várzea.
Eram eles: Joaquim Ambrósio e Antônio Pereira, pintores de
Retiro, cinco paredes; Rafael Perrone, sapateiro; Anselmo Correa, motorista,
cocheiro de tílburi, e Carlos Silva, trabalhador braçal.
jovens operários Esses cinco teríam alguma ideia, alguma pálida ideia, do que
estavam aprontando?
sonham um time. O ano era 1910, futebol era foot-ball, campo era ground, nos
céus do Brasil brilhava o cometa Halley, em Tietê, no interior de
Que em poucas São Paulo, nascia Elisa Alves do Nascimento enquanto na capital,
que tinha 400 mil habitantes, era lançado o Biotônico Fontoura.
semanas tem nome, Sim, mas naquele ano o tal cometa não foi a única criatura de
nome inglês a brilhar por estas bandas.
camiseta e jogo Em 1910, no Brasil, foi Halley no céu e Corinthian na terra.
Um tremenda humilhação?
Nada, foi uma festa. Onde iam, os Corinthians eram recebidos
com flores, banquetes e discursos. Deslumbrados, os jornais elo-
giavam não só o bom futebol deles, como também aquele porte
garboso, aqueles rostos corados.
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Coríntio em português, pelo nome do conjunto dos seus joga- Inglaterra, o Condado de Hampshire.
O Corinthian ganhou: 1 a 0
dores, corinthians, os coríntios, ou corinthianos. Corinthian,
coríntio, quer dizer habitante da cidade grega de Corinto. Era,
pois, uma homenagem do time inglês à culta e animada cidade
grega de Corinto, famosa por sua cerâmica, arquitetura, amor aos
esportes e também por sua independência em relação às manda-
chuvas da época, Esparta e Atenas. Em Corinto viveu também o
apóstolo Paulo, que, mais tarde, escreveria para as comunidades
cristãs ali formadas duas das suas famosas cartas. As Epístolas
aos Coríntios.
Então ficou como o barbeiro Salvador Bataglia, em alto e bom
som, declamara: Sport Club Corinthians Paulista!
O nome ficou assim mesmo no plural, dando um idéia de ga-
lera. E corinthiano ficou o adjetivo pátrio, que coríntio, com o
perdão do Apóstolo, soa meio são-paulino.
O primeiro jogo
Foto: Arquivo Corinthians
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O primeiro Corinthians
No dia 18 de setembro, sem nem saber do filho gerado, o Co-
rinthian Team retorna à Inglaterra. Encantados com o carinho
desta terra, os corinthians ainda tentaram voltar anos depois ao
Brasil, mas tiveram de retornar do porto do Recife: a Primeira
Guerra acabava de estourar e alguns deles serviam ao exército.
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O
Time de novo time agora tem pressa. No dia 14 de setembro,
quatro dias depois do primeiro jogo, já está enfrentando
carroceiros? o Estrela Polar. E ganhando: 2 a 0!
Para a História: o primeiro gol do time foi feito pelo centroavante
Imagina: em sua Luiz Fabbi. O segundo, pelo meia-direita Jorge Campbell.
O time agora já tem até campo próprio na Rua dos Imigrantes,
primeira década, hoje José Paulino. Ali foi alugado, por 30 mil réis mensais, um pá-
tio de depósito de lenha que, uma vez capinado e marcado, virou
é campeão paulista, o nosso primeiro, digamos, estádio - o Lenheiro.
Humilde, mas nele o Corinthias viveria seu primeiro momento
encara o Torino da de glória: 5 a 0 contra a Associação Atlética da Lapa, no dia 27
de setembro do ano alvinegro de 1910.
Itália e já tem um Nos anos seguintes o novo time reina na várzea, mas pouca
notícia se tem dos jogos e dos jogadores. Tudo bem: dizem que,
ídolo: Neco, antes de partir para suas grandes missões, os grandes homens
primeiro se retiram para o silêncio dos desertos.
na foto ao lado Com os grandes times pode ser um pouco assim. Pouco se sabe
do Corinthians varzeano. Mas o que se sabe é promissor.
com a camiseta da Em 17 de setembro de 1911 já ousa ir até Campinas para uma
jornada dupla: de manhã, ganha da Ponte Preta (olha ela aí) e à
seleção brasileira tarde faz 3 a 1 no Corinthians campineiro. Era muita saúde.
Em 1912, entre outras vitórias, devolveu a derrota para o
União Lapa, 3 a 1.
Que se saiba, perdeu só uma, para o Ruggerone, 2 a 1. Mas não
se conformou. No jogo seguinte, tascou 6 a 0 no tal Ruggerone.
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a fazer bicos para ajudar o time, esses dois faziam de tudo. An- Na página ao lado, acima, o time
tônio conseguiu trazer para o time um outro português de valor, do primeiro título paulista: Fúlvio,
Casemiro do Amaral e Casemiro
Casemiro do Amaral, centromédio eficaz que terminou se reve-
González, em pé; Police Bianco e
lando o primeiro grande goleiro do Corinthians.
César, ajoelhados; Aristídes, Peres,
Por força das modestas contribuições dos primeiros sócios e
Amílcar Barbuy, Dias e Neco
vaquinhas sem fim, o time já treinava em campo próprio, mas e o
aluguel da sede? Bem, o aluguel atrasou tanto que o dono perdeu DE MEDALHA NO PEITO
a paciência, trancou as portas e declarou os parcos bens do time Abaixo, em foto também de 1914,
– indisponíveis! a taça do título e no peito de cada
Foi quando, à noite, sorrateiramente, um grupo de jovens en- um a medalha oferecida pelo clube
trou pela janela e desapareceu com o patrimônio todo – uma mesa,
um armário, um livro de atas e uma mesa de pingue-pongue...
Esse resgate não passaria de molecagem pura se não tivesse sido
comandado por um adolescente que se tornaria um dos maiores
ídolos corinthianos de todos os tempos: Manoel Nunes, o Neco.
Enquanto isso, na linha de frente, crescia o sonho de disputar,
já em 1913, o campeonato da Liga Paulista de Futebol, criada e
constituída por clubes mais consagrados. Futebol o Corinthians
achava que já tinha para isso e também sócios mais influentes,
como o estudante Ricardo Oliveira e o dentista João Baptista
Maurício que, aliás, viriam se tornar presidentes.
A cartolagem da Liga Paulista até topava que o novo time con-
corresse a uma vaga para disputar o campeonato. Só que, para
isso, teria que vencer os outros postulantes, o São Paulo do Bexi-
ga e o forte Minas Gerais.
A notícia incendiou o Bom Retiro inteiro.
No domingo de 23 de março de 1913, o São Paulo do Bexiga
vence o São Paulo Railway e o Corinthians consegue eliminar o
Minas Gerais por 1 a 0, em jogo duro, gol de Rodrigues.
Durante esse jogo contra o Minas Gerais, um português
chamado Manoel Domingos Corrêa deu de chamar o Corinthians
de “time de carroceiros” em pleno Velódromo. Ao ouvir isso, um
jovem torcedor parte com tudo para cima do português e a muito
custo são apartados. Nome do jovem: Manoel Nunes. Mesmo
sem entrar em campo como titular, Neco já se dispunha a morrer
pelo Corinthians.
No domingo seguinte, Corinthians 4, São Paulo do Bexiga, 0.
O time do Bom Retiro passeou em campo.
E foi assim, com apenas três anos de idade, que o Sport Club
Corinthians, do Bom Retiro, entrou para a Liga Paulista de Futebol.
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BOLA DE ÉPOCA
Por volta de 1930 este era o tipo de bola com que o Corinthians de Grané,
Del Debbio, Filó, Rato e De Maria arrasava adversários nacionais e estrangeiros
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Campeão do década de 20 é muito importante para o futebol paulista.
As Ligas estao unificadas, agora quem ganha é campeão
Centenário absoluto. Nessa nova era, três clubes se destacam, se fir-
mam e hão de se encarar para sempre. Nasce o trio de ferro que
da Independência tantas emoções e estádios lotados vai propiciar à cidade. O Corin-
thians, que nasceu Corinthians, eternamente. O Paulistano que,
em 22, repete a dose na década de 30, vai ser sucedido pelo São Paulo. E o Palestra
Itália, que, graças ao gênio do Mussolini, esverdeou na Guerra e
em 23 e 24. teve de virar o Palmeiras.
Na década de 20 esses três heróis começam a roubar a cena, a
Mas a taça mais se respeitar, temer, para a graça e a emoção de quem ama futebol.
E bom para o Corinthians, que saiu na frente.
bonita da época Bem, não em 1921, onde deu azar. É que o Corinthians já
era então o Corinthians, time capaz de milagres no impossível e
foi esta aí ao tropeços inglórios no fácil.
Em 1921, por exemplo, tinha o campeonato nas mãos. Era
lado, a Cântara só ganhar do já eliminado Palestra. O jogo foi no dia de Natal,
triste Natal, 3 a 0 para o Palestra. No fim, deu Paulistano, no
Portugália, ganha mole. Natal mais sem graça. Os palestrinos devem ter deixado as
chuteiras embaixo da cama e Papai Noel atendeu. Ah esse velho
contra o palestra... são-paulino e suas renas fatídicas...
Para piorar, o diário A Capital oferece uma taça para o me-
lhor dos vices, Corinthians e Palestra. O jogo nem termina. Os
palestrinos já eram, de alguma forma, palmeirenses. Revoltados
contra um pênalti marcado, deixaram o campo.
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OS IMBATÍVEIS DE 22 Mário, Peres, Amílcar, Rafael, Del Debbio, Gelindo, Neco, Ciasca, Tatu, Gambarotta e Rodrigues
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O GRANDE TIME DE 24 Gelindo, Rafael, Rueda, Colombo, Del Debbio e Ciasca; Peres, Neco, Pinheiro, Tatu e Rodrigues.
Abaixo, bola da nossa primeira vitória internacional, 3 a 1 contra o Barracas, da Argentina, em 1929
Foto: Rômulo Fialdini – Memorial Corinthians
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O primeiro campo, ime de várzea, poucos sócios e sem a retaguarda de um
clube maior, de colônia, já constituído, o Corinthians só
um depósito tinha, para ir em frente, muito futebol, suor e simpatia.
O mais teve que batalhar. Penou até para manter suas modestas
de lenha. primeiras sedes. Saiu da Rua dos Italianos, no Bom Retiro natal,
exilou-se, sob protestos, na Rua dos Protestantes, no Brás, depois
O segundo foi alugou salas na Praça da Sé e na São João.
Por um lado, bom sinal.
feito no braço. Sinal de que, aos poucos, deixava de ser um time de bairro, ca-
seiro, e tomava a cidade com seu entusiasmo pelo futebol e bons
O terceiro resultados em campo.
Mas faltava um estádio.
é a Fazendinha. O Lenheiro da Ribeiro de Lima, onde treinavam, ficava cada
vez mais estreito para as pretensões do time.
Já o próximo... Em 1916, o clube arrenda um terreno ali na Floresta, perto da
Ponte Grande, hoje Ponte das Bandeiras. Floresta era, na época,
um nome merecido. O Tietê ainda era um rio e a Mata Atlântica
expunha ali suas graças como hoje lá em cima, na serra.
Mas o terreno em si era bastante pantanoso e exigiu da torcida
muita mão-de-obra voluntária para dar lugar a um simpático es-
tádio com um campo razoável, arquibancadas dignas, área so-
cial acolhedora. Segundo Tomás Mazzoni em seu livro História
do Futebol no Brasil, de 1950, os jogadores do Corinthians
construíram seu próprio campo: “Nesse ano de 1918, o Corin-
thians inaugurou sua primeira praça de esportes, situada ao lado
da Floresta. Os próprios jogadores corinthianos trabalharam,
na construção do gramado”. Inaugurado no dia 17 de março de
1918 com um vibrante 3 a 3 contra o rival Palestra Itália.
O primeiro gol no primeiro estádio - quem faz? Ele, Manoel
Nunes, Neco. Só podia.
O novo estádio da Ponte Grande foi bastante festejado na épo-
Foto: Alexandre Battibugli
ca, mas infelizmente coincidiu com uma certa maré baixa do time
no campeonato. Como se as energias tivessem sido drenadas para
o novo campo. No campeonato o Corinthians não foi além de
dois vices, em 1918 e 1921.
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Corinthianos ilustres
Multiclassista... Mas o Corinthians não nasceu um time de
operários? Nasceu. Foi criado numa esquina e seus cinco fun-
dadores eram pintores de paredes, ferroviários e trabalhadores
braçais. Seu primeiro presidente pra valer era cocheiro de tílburi,
um taxista de hoje. As primeiras reuniões começavam tarde para
que delas os sócios operários pudessem participar.
Dentre os operários-fundadores, Joaquim Ambrósio e Rafael
Perrone jogaram na estreia e Antônio Pereira foi decisivo na con-
solidação do novo time, os outros dois certamente eram ouvidos
nas primeiras reuniões.
E mais: era um time de bairro, e bairro operário. Bem diferente
dos times da época. O São Paulo Athletic Club, onde Charles
Miller jogava, foi criado e mantido por ingleses. O Mackenzie,
primeiro clube fundado especificamente para jogar futebol, es-
tava ligado a um colégio de elite. O Germânia foi fundado por
um empresário alemão, Hans Nobiling, e era apoiado pela colô-
nia alemã. Ao ser fundado, em 1914, no rastro das passagens do
Torino e o Pro Vercelli pelo Brasil, o Palestra logo contou com o
apoio de italianos novos ricos e do conde Matarazzo em pessoa.
O São Paulo nasceu de remanescentes do Paulistano, clube que
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Popular e global
O Corinthians é também, curiosamente, globalizado. Tem
nome inglês ligado a uma famosa cidade grega e, de certa forma,
está presente até nas Escrituras pelas cartas de São Paulo.
Entre seus fundadores e primeiros torcedores encontram-se
imigrantes portugueses, italianos e espanhóis.
As primeiras vitórias eram celebradas com chope da Casa Ger-
mânia, cujo dono era um alemão que facilitava as comemorações
da mesma forma que Schürig liberava os parafusos da sua loja.
Logo nos primeiros anos o Corinthians enfrentou equipes es-
trangeiras, como o Torino da Itália, o Hakoah, dos Estados Uni-
dos, e o Barracas, da Argentina, sem falar da sua brilhante cam-
panha em 1952 pela Turquia, Suécia e Dinamarca. Na década de
30, forneceu importantes jogadores para a Itália. Como foi o caso
do ponta-direita Filó, campeão mundial jogando pela Itália em
1934 por conta do sobrenome da mãe, Guarisi.
Quando, em 1949, um trágico acidente aéreo mata todo o
time do Torino, contra quem jogara em 1948, o Corinthians faz
questão de jogar uma partida amistosa contra a Portuguesa com
a camisa grená do seu primeiro adversário internacional. A foto
deste time foi enviada para a Itália e recebida com emoção pelos
torcedores do Torino.
E quando, em 2000, o Corinthians sagrou-se campeão do
Mundial da FIFA, recebeu uma carinhosa mensagem do Corin-
thian inglês onde confessavam seu orgulho pela glória do seu co-
irmão brasileiro.
Wlamir, o do basquete
O Corinthians nasceu e continua poliesportivo. Fiel a estatutos
que, desde os primórdios, ligavam o futebol à educação física e
à cultura, o Corinthians muito cedo foi-se tornando um clube
poliesportivo. Seu primeiro troféu não foi ganho em campo, mas
numa maratona no Parque Antártica, vencida em 1913 por três
bravos corinthianos de primeira hora, André Lepre, Batista Boni
e João Collina.
E daí para a frente ele fez questão de se manter o clube de fute-
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Campeão paulista vida é assim e o futebol também. Impasses de toda a or-
dem, pequenos e grandes azares até que, de repente, as
de 28, 29 e 30, o coisas voltam a florescer, a vida se destrava e anda. Foi o
que aconteceu com o Corinthians ali pelo fim da década de 20.
time já tem craques O primeiro estádio, o da Ponte Grande, deu muito orgulho e
pouco título. Já com o Parque São Jorge, inaugurado em 1928,
mosqueteiros a coisa foi diferente. Na Fazendinha, em grama própria, o Corin-
thians deitou e rolou.
e uma torcida Começou ganhando a Taça Balor. Com esse nomezinho estra-
nho, essa taça fora instituída para o vencedor do primeiro turno.
chamada A Fiel. Quem o vencesse três vezes seguidas ficava com ela para sempre.
Vencedor em 23 e 24, o Corinthians em 28 ficou definitivamente
E vejam por com ela. E o melhor: num jogo contra o Palestra, 3 a 0.
E por aí começou.
que Neco é um O time foi campeão, fácil, em 28, 3 a 2 contra a Portugesa na
final. Do Palestra, nem sombra.
corinthiano- Em 29, tivemos a primeira vitória internacional, contra o Bar-
racas da Argentina, 3 a 1 no Parque São Jorge. Com craques como
símbolo Neco, Filó, De Maria, Del Debbio, Gambinha, o goleiro Tuffy e
o demolidor Pedro Grané, o time ganha fama e todo mundo quer
ver o Corinthians jogar. Quando vai a Minas inaugurar o estádio
do Atlético e perde por 4 a 2, a manchete do maior jornal mineiro
foi: “Derrotamos os reis do futebol”.
Ainda bem que reconheceram. Porque na revanche, em São
Paulo, tomaram 11 a 2 no Parque. Gambinha três, Filó três, Rato
dois, Neco dois e De Maria um. Nesse dia, um sábado, 12 de ou-
tubro, Neco ganhava um busto nos jardins do Parque. Começava
se despedir do futebol. Era como que um torneio início da sua
despedida dos campos.
Ah: em 29 ainda o Corinthians ganha o título paulista, um pas-
seio invicto. Na decisão, 4 a 1 contra contra o Palestra, na casa
deles. Demais, demais.
No fim dos anos 20 o Corinthians dá início a importantes fei-
tos internacionais. Em julho de 29, tasca 6 a 1 no Bologna da
Itália e em janeiro de 30 faz 7 a 2 no Tucumán da Argentina.
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5 a 1, na molecagem
Agora uma pequena história e duas grandes marcas destes tem-
pos felizes.
A história foi testemunhada por ninguém menos que Antoni-
nho de Almeida, o grande, implacável e discreto pesquisador da
história do Corinthians.
Em julho de 1930, o time americano do Hakoah, que incluía
alguns jogadores ingleses, veio disputar alguns jogos no Brasil.
Um deles contra o Corinthians, claro. Antes do encontro, os
gringos foram até o Parque São Jorge, conhecer, dar uma espiada
no treino. Vendo aquela meninada em campo, Aparício, Rato,
Nerino, Gambinha, Peres, ninguém muito parrudo e alto, um
dos gringos da cartolagem perguntou: “Aqui os juvenis treinam
antes?”. Ficou chocado quando soube que aqueles eram os
profissionais. E mais chocado ainda quando, no dia seguinte, seus
gigantescos titulares tomaram 5 a 1 daqueles moleques ariscos,
Rato, Nerino, Gambinha...
Agora, as marcas.
Essa época ficou marcada pelo apelido de Mosqueteiro dado
ao Corinthians. O epíteto foi cunhado num comentário do jorna-
lista Thomaz Mazzoni logo depois da vitória corinthiana contra
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O
Eles virão, os leitor nem precisa ser muito perceptivo para notar que
este livro está pontuado, aqui e ali, por tempos de claras
anos difíceis, glórias seguidas de travessias difíceis. Não seria o caso
de maneirar um pouco, extasiar-se nas glórias e passar correndo
as travessias as travessias?
Impossível, porque desse truque o Corinthians sairia como um
complicadas. time qualquer. E o Corinthians não é um time qualquer. Ninguém
trai impunemente seu destino e qualquer torcedor sabe que ser
Essa primeira, de corinthiano é com o mesmo ânimo dispor-se ao êxtase e à agonia,
a eternas idas e vindas entre o céu o inferno. Que o amor pelo
sete anos, começa Corinthians é o único isento da praga maior de todos os amores:
a monotonia.
com nossos craques
De como o nosso Filó virou italiano
sendo exportados
Nossa primeira, difícil travessia começou em 1931, na Itália.
para a Seleção do Nesse ano, a Lazio de Roma encasquetou de formar um belo
time à custa, imaginem, do Brasil. Levou jogadores do Palestra,
Mussolini... e até aí tudo bem; de um outro Palestra, de Belo Horizonte, que
depois virou o Cruzeiro, e até de um certo Atlético Santista, que
hoje nem liga mais para o futebol.
Mas os italianos não eram bobos e o estrago maior foi mesmo
no Corinthians, tricampeão paulista. É bom lembrar que, nessa
época, o futebol nem era ainda oficialmente profissionalizado,
mas informalmente a grana corria solta.
E as liras italianas nos levaram o grande zagueiro Del Debbio,
o habilidoso ponta-direita Filó, e mais De Maria e Rato lá pela
ala esquerda. E quem foi, entre nós, o experiente olheiro que em-
presariou tal êxodo?
Um corinthiano ilustre, Amílcar Barbuy, que saíra do Corin-
thians meio brigado alguns anos antes. Amílcar viria a estabelecer
Foto: Arquivo Corinthians
relações com o filho de Mussolini que, por sua vez, queria que
a Itália brilhasse nas Copas de 34 e 38 e por isso andou caçando
oriundi, descendentes de italianos, pelo mundo inteiro, inclusive
no bom futebol argentino.
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De Neco a Teleco
As primeiras luzes nessa época trevosa vêm do único lugar
onde, em futebol, elas podem vir: do campo, do talento, da bola.
Da inteligência em formar ou contratar bons jogadores.
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C
Craques voltam aro leitor, vem mais um tri aí, 37, 38, 39. O terceiro em
29 anos de existência – é pouco? É muito, demais. Mas
da Itália e Teleco, vem à la Corinthians, aos trancos e relâmpagos.
Estamos falando do ano anterior, 1936, um grande ano para o
esse goleador Corinthians: não perdeu um jogo sequer. Entre dezembro de 1935
e março de 1937, ganhou 28 dos 31 disputados. E três empates.
assombroso No Paulista, foi campeão, campeão invicto do primeiro turno,
garantindo a presença na decisão.
aí ao lado, Um ano abençoado, alvinegro de janeiro a dezembro.
Só que o campeonato foi decidido no ano seguinte, 37, entre
começa a brilhar, abril e maio de 37.
E a decisão foi para uma melhor-de-três contra o Palestra, o
brilhar. campeão do segundo turno.
No Parque Antártica, 1 a 0 para o Palestra, gol controvertido,
o time é três vezes falta clamorosa no goleiro alvinegro. No domingo seguinte, 0 a
0 no Parque. Veio a terceira partida, 2 a 1 para o Palestra e lá se
campeão, 37,38 e 39 foi o título de 36.
Ê Corinthians
Mas o time era bom, sabia que era bom. Lá atrás já reinava
Euclides Barbosa, um negrão que tão alto pulava, e de braços
abertos, que pegou o apelido de Jaú, em homenagem a um avião
muito popular na época.
A linha média logo se tornaria famosa: Jango, Brandão e Mu-
nhoz, o bravo e eterno Munhoz, que havia sido tri em 28/29/30.
João Freire Filho, o Jango, era sempre o mesmo em campo,
invariavelmente bom.
José Augusto Brandão, Mestre Brandão, talvez o centromédio
que mais confiança inspirou na história do Corinthians. Primeiro
corinthiano a participar de um Mundial, ao lado do ponta-direita
Lopes, defendeu a Seleção Brasileira em 38.
Lá na frente, Teleco – e não precisa dizer mais nada, ou só repe-
tir: a maior média de gols por partida da história do Corinthians.
Como se não bastasse, de uma excursão pela Bahia, o Corinthians
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Da esquerda para a direita: José I, Jaú, Brandão, Teleco, Munhoz, Carlito, Carlos, Jango, Daniel, Carlinhos e Filó; agachado: José II
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S
Olha eles outra e esta fosse uma história sagrada, e de certa forma é,
este capítulo deveria assim começar: Leitura da Segunda
vez aí, os anos Travessia do Corinthians, 1941-1951.
Sim, porque, como anunciamos, vem aí mais um destes períodos
difíceis. O time nem de deserto, como que nos preparando para o maior deles, no qual
por enquanto nem é bom pensar.
é ruim, vive Mesmo porque esta média travessia, de 41 a 51, foi, de certa
forma, a mais divertida de todas. Campeão paulista o Corinthians
quase chegando não foi, mas, de resto, não houve o que não fosse.
Campeão da Quinela de Ouro em 42, por exemplo.
lá, ganha até uma Nesse ano, as cinco melhores equipes do país disputaram uma
taça que levava o pomposo nome de Quinela de Ouro, um ensaio
espécie de para o futuro Rio-São Paulo. Os jogos foram no recém-inaugu-
rado Pacaembu. De São Paulo, o trio de ferro; do Rio, vieram o
Rio-São Paulo. Mas Flamengo e o Fluminense
Depois de dois empates e uma vitória, em março o Corinthians
título caseiro, que vai para a decisão com o Palestra: 4 a 1, fácil. O campeão dos
campeões...
é bom, nada.
Sem títulos, mas azarando
Nos campeonatos de 42 e 43 o Corinthians se deu ao luxo de
ser bivice-campeão. Dele foi, nesses dois anos, o artilheiro: Milani
em 42, com 24 gols, e Hércules em 43, com 19.
Teve mais, nesses dois anos. Ganhou duas vezes a Taça São
Paulo, um torneio disputado entre os três primeiros colocados do
Paulista do ano anterior. O campeão dos campeões...
E ainda: na primeira vez, ganhou a Taça justo em cima do Pa-
lestra, goleada de 4 a 2. Na segunda, outra vitória sobre o rival
favorito, agora por 3 a 1. Com um detalhe: o Palestra agora já se
chamava Palmeiras. Que nesse ano, 42, estava para ser campeão
invicto quando, no último jogo, tinha que enfrentar o Corinthians.
Perdeu de novo, 3 a 1 de novo. Invicto pra cima de nós?
Em 1944, vamos reconhecer, só ganhamos o Torneio Início
e em 45 fomos, outra vez, vices, e o único time para o qual o
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O ENIGMA DA
BOLA QUADRADA
Criada na década de 30, o sentido
Foto: Arquivo Corinthians
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O time dobra os uando um bom time se forma e a diretoria não é obriga-
da a deportar parte dele para a Ucrânia ou a Turquia, aí
anos 50 arrasando, não tem quem segure.
No início dos anos 50 ninguém segurava o Corinthians. Deu um
aqui e lá fora. time cantado em prosa, verso e no samba de Alfredo Borba.
E olha que ainda falta gente boa nesse samba. Cabeção, Rafael
Também, com e Nelsinho. E podiam ser incluídos também um grande e apa-
ixonado presidente de charuto mágico e fala candente, Alfredo
craques como Ignácio Trindade, e um técnico de faro fino, José Castelli, o Rato,
aquele que, como jogador, era considerado o rei do drible dos
este Luizinho aí times tricampeões de 22/23/24 e 28/29/30.
Todos somados fizeram o Corinthians merecer o apelido de
ao lado, já no fim Gualicho, um cavalo da época, famoso por não perder corrida.
Esse Corinthians quase não perdia.
dos seus dias de Mesmo perdendo o Rio-São Paulo de 51, vai atrás do títu-
lo paulista, que desde 41 perseguia. Aí foi campeão, e de forma
glórias, mas que espetacular. Goleada atrás de goleada, 9 a 2 no Comercial, 7 a
1 no Jabaquara, 4 a 0 e 4 a 1 no São Paulo, 4 a 1 no Santos.
glórias No começo, bem que o Palmeiras e a Portuguesa ainda tentaram
seguir de perto esse Corinthians Gualicho, mas terminaram co-
mendo poeira. Com uma goleada sobre o Guarani, 4 a 0 já no
início de 52, o Timão liquida a fatura na antepenúltima rodada.
Com 46 pontos, não tinha pra mais ninguém.
Que grande ano, 1951. O ano do lendário ataque dos 103
gols em 28 partidas, média 3,67 por jogo, única no Paulista e na
história do futebol profissional até ali. Nosso, claro, foi o artil-
heiro do ano, Carbone, meia-esquerda.
Mas o ataque todo era fantástico.
Pela direita, Claúdio e Luizinho. Cláudio, de chutes mortais e
passes precisos, o maior artilheiro da história do Corinthians, 305
gols em 549 jogos. Luizinho, 1,64 metro de altura, o Pequeno
Polegar, moleque driblador, alegria do povo.
Ali pelo meio, Baltazar, Cabecinha de Ouro, dos seus 267 gols
em 402 jogos pelo Corinthians, pelo menos 70 foram de cabeça.
Na ponta-esquerda, o misterioso carioca Mário, que fazia o
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Batalha no Maracanã
O Corinthians está com tudo. É convidado para ser um dos
representantes do Brasil na segunda edição da Copa Rio, uma
espécie de Mundial de Clubes disputado no Pacaembu e no
Maracanã. E começa triturando, 6 a 1 no vice-campeão alemão,
Saarbrucken, 6 a 0 no Libertad, campeão paraguaio. Vai às
semifinais ao vencer por 2 a 1 o temido Áustria Viena.
O jogo seguinte, contra o Peñarol, se transforma num pesa-
delo. Ou os uruguaios ainda não haviam esquecido os 4 a 1 em
Montevidéu ou o Peñarol era mesmo um time violento.
Foi uma batalha, com três corinthianos gravemente feridos.
Roberto Belangero teve um dedo do pé quebrado, Baltazar, o mo-
lar fraturado e Murilo nunca mais se recuperou completamente
de uma fratura na perna. Ghiggia, o carrasco do Brasil na final da
Copa de 50, fez 1 a 0, mas no no fim deu Corinthians de virada.
2 a 1, dois de Cláudio. Como da vez do baile em Montevidéu, os
uruguaios não querem saber da partida de volta e o Corinthians
se classifica para a decisão contra o Fluminense de Didi e Telê
Santana.
Os dois jogos são marcados no Maracanã. Desfalcado, exaus-
to, o Corinthians perde o primeiro, 2 a 0, e empata o segundo
num jogo duríssimo, 2 a 2.. É vice, um respeitado vice.
No segundo semestre, mais duas alegrias para a torcida.
O time fica para sempre com a Taça São Paulo, conquistada
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Show em Caracas
Em 1953, São Paulo inteira se preparava para celebrar seu
quarto centenário no ano seguinte. O clima já era de euforia.
O Corinthians não vence o Paulista, mas ganha pela segunda
vez o já prestigioso Torneio Rio-São Paulo. Em agosto vai até a
Venezuela disputar a cobiçada Pequena Taça do Mundo, valo-
rizada pela presença de times como Barcelona e Roma, mais a
Seleção de Caracas.
O Timão nem aí: 1 a 0 na Roma, 3 a 2 no Barcelona e 2 a 1 na
Seleção de Caracas, vence tranquilamente todos os jogos. Parece
que um segundo turno não estava previsto, mas o Corinthians
deixou todo mundo mordido e teve de repetir a dose, só mudando
um pouco o placar para não ficar chato: 1 a 0 no Barça, 2 a 0
na Seleção de Caracas e 3 a 1 na Roma, cujo ponta-direita era o
temível Ghiggia da Seleção Uruguaia de 50.
Tá bom assim, posso voltar pra casa?
Voltou com muita festa no aeroporto de Congonhas. Parece
que todo mundo já sabia de cor o novo hino do time, composto
dois anos antes por Lauro D´Ávila. A multidão inteira cantava:
“Salve o Corinthians, o campeão dos campeões”.
Apoteose no Pacaembu
O ano, enfim, do Quarto Centenário, 1954, começa com a
conquista do bi no Torneio Rio-São Paulo, com vitória sobre o
Palmeiras e tudo.
Mas o sonho mesmo era ser o Campeão do Quarto Centenário
de São Paulo, como já fora nos cem anos da Independência, em
1922. Um campeão literalmente histórico.
E tudo caminhava para isso. Sob o comando do carismático
Oswaldo Brandão, o Corinthians vai ganhando todas. Mas, diz
o Senhor, “meus caminhos não são os vossos”. Os do Corinthi-
ans também não. Mesmo com aquele timaço, tinha que haver um
toque corinthiano de sofrimento na sonhada conquista.
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Time-base desta era de grandes títulos
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e
s e conquistas no Brasil e fora dele
Foto: Arquivo Corinthians
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Cláudio, o regente
Eis como a Gazeta Esportiva celebrou
a conquista do título do IV Centenário Cláudio Christóvam de Pinho, maior artilheiro da história
contra a o Palmeiras. O baixinho corinthiana, 305 gols em 549 jogos. Baixinho, 1,62 de altura, 60
Luizinho fez 1 a 0, de cabeça, logo aos quilos. Apelido: Gerente. Talvez porque usasse pastinha, era con-
10 minutos de jogo tador e despachante marítimo. Talvez porque fosse um líder em
campo, um regente, mais do que um gerente. Foi bi no Paulista,
bi no Rio-São Paulo, campeão do Centenário - dos seus pés saiu o
cruzamento para o gol do título.
Curioso que na sua estreia no time, dia 7 de maio de 1945,
nosso maior goleador não marcou nenhum num jogo contra o
São Paulo que terminou 4 a 4. Vai ver que para fazer seu primeiro
gol dias depois, e em grande estilo: contra o Palmeiras e contra o
lendário Oberdan Catani. Baixinho danado.
Na Seleção Brasileira jogou menos do que merecia. Quando,
na Copa de 50, estava no auge da sua forma, foi preterido por um
certo Alfredo II. No ano anterior, ajudou o Brasil a ser campeão
sul-americano e nos anos seguintes venceria duas vezes, e com
muito brilho, os uruguaios de um combinado e depois do Peñarol.
O que não poderia ter feito naquela trágica tarde no Maracanã?
Certamente mais do que Alfredo II faria.
Era perito em bola parada. Mais que gerente, um contador:
corria, batia – e caixa! Em 1955, na decisão do Torneio Interna-
cional Charles Miller, com tanta arte e malícia cobrou uma falta
que o goleiro do Benfica, Costa Pereira, comentou estarrecido:
“Ué, mas foi de curvita?” Em tradução aproximada.
O jornalista Juca Kfouri conta que só passou a comer agrião
quando seu pai explicou que Cláudio só era o que era porque –
comia agrião! Mais ou menos como Popeye com o espinafre.
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o São Paulo, mas perde, 3 a 1. Termina em terceiro outra vez. O Cabecinha de Ouro: dos 267
Em 58, terceiro de novo. Um ano vibrante para o Brasil, gols que fez, 71 foram de cabeça
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O
Como se explica? s mais radicais vão logo arredondando: foram 23 anos
de espera, de fila e agonia. Os minuciosos amenizam um
Quase 23 anos... pouco. Alegam que, na verdade, entre 6 de fevereiro de
1955, quando o Corinthians foi campeão do Quarto Centenário,
Só que nem só de até a noite de 13 de outubro de 1977, quando conquistou o título
outra vez, passaram-se não 23 anos, mas 22, oito meses, sete dias,
luto e frustrações quatro horas e 36 minutos. Isso de arredondar para 23 já seria
um pouco de masoquismo.
foi essa longa Mas, como em outras travessias, essa foi comprida mas teve
também suas nuances. Nem tudo foi, o tempo inteiro, humilha-
e cruel espera. ção e tristeza. O Corinthians atravessou esses 22 anos corinthia-
namente, aos trancos e relâmpagos. Quedas cruciais e, aqui e ali,
Houve alegrias, luzinhas de esperança.
Mais do que cronometrar anos, dias ou horas, esse período
crescimento, talvez pudesse, com justiça, ser dividido em: Alegrias, alegrias;
Assim não dá; e Quase deu.
fortalecimento
Alegrias, alegrias
Ora, quem pensa que a gente só penou nesses 22, 23 anos, ou
é verde da cabeça ou nada sabe da alma corinthiana.
Vamos agora atravessar um longo deserto de títulos, isso é ver-
dade. Deserto é lugar propício a miragens, isso também é verdade.
Mas nossas muitas vitórias nessa comprida espera não foram, de
forma alguma, miragens. Elas aconteceram de fato.
Sim, ganhamos muito. Não só na vida, aprendendo coisas que
só a dor ensina, mas dentro de campo também.
Ora, vejam só.
No próprio ano do Faz-me Rir, 1961, inaugurando os refle-
tores do Parque São Jorge, tascamos 7 a 2 no Flamengo do Gér-
son e do Dida. E mais 2 a 0 no Santos, pelo Rio-São Paulo, que o
tabu foi só no Paulista.
No ano seguinte, 62, ganhamos a I Taça São Paulo, que reunia
os grandes times do futebol paulista. E mais: com final contra o
Santos, 3 a 1 no Parque e 3 a 3 na Vila Belmiro. No fim do ano,
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Assim não dá
1961 foi um ano de Assim não dá. O time até andou ganhando
o apelido de Faz-me Rir, um bolero que a cantora Edith Veiga
na época consagrou. Dos 11 primeiros jogos disputados, o time
perdeu sete. No desespero, 27 jogadores e dois técnicos passaram
pelo time num rodízio fúnebre. Gilmar foi brilhar no Santos.
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Quase deu
O gaúcho Flávio jogou de
64 a 69; em 67 foi o artilheiro No politicamente fatídico ano de 1964, o Corinthians só
do Paulista, superando Pelé. não ganhou o Rio-São Paulo porque o Palmeiras, digamos, não
Nos 2 a 0 do fim do tabu contra demonstrou maior interesse em endurecer um jogo contra o Bota-
o Santos, fez o segundo gol
fogo do Rio. No Paulista, emparelha firme com o poderoso San-
tos. Na penúltima rodada, um jogo histórico. Por duas vezes o
Corinthians de Flávio e Silva fica na frente do Santos de Pelé e
Coutinho. No fim, não tem jeito, 7 a 4 pra eles, com quatro gols
do Pelé. Mas que jogo para a memória do futebol.
Em 66, o Corinthians vem bem no campeonato, mas termina
vice do Palmeiras, e pior: apenas quase quebra o tabu de nove
anos sem vitórias contra o Santos. O jogo estava 1 a 1 e – pênalti
a favor do Corinthians! É hoje? Não foi. Nair cobra e o goleiro
do Santos, Cláudio, defende.
No Torneio Roberto Gomes Pedrosa de 1967, um Rio-São
Paulo expandido e quase um Brasileirão de hoje, o Corinthians
do clássico Dino Sani e um infernal moleque, Rivellino, estraçalha
durante toda a primeira fase, vai para o quadrangular decisivo e,
bem, fica em terceiro.
No Paulista, sonha com o título até uma derrota para o Pal-
meiras, 2 a 0, duas faltas magistralmente cobradas pelo gaúcho
Tupãzinho. Demitido, o técnico Zezé Moreira sai filosofando:
“Esse time não precisa de um técnico, precisa de um psicólogo...”
Em 69, mais quases.
No Paulista, vitórias sobre o São Paulo, Palmeiras e Santos
prenunciam o fim do sofrimento. Mas uma dor maior se abateu
sobre o time, e não veio do campo, veio da Marginal Tietê, onde o
ponta-esquerda Eduardo o lateral-direito Lidu morrem num aci-
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gundo tempo. Um gol bem corinthiano: antes de entrar, a bola diga-se, no Paulista. Fora dele,
bate na trave e na cara do goleiro Hélio Show. nesses 11 anos, o Corinthians venceu
o Santos quatro vezes, três delas
Depois de empatar com o Fluminense, vai decidir a vaga na
pelo Torneio Rio-São Paulo
final contra o o Botafogo no Maracanã. Basta um empate e sai na
frente, Nélson Lopes, aos 10 do primeiro tempo. Mas o Botafogo
tinha Jairzinho, que marca aos 15 do segundo tempo. O empate
basta. Quando faltam 7 minutos para terminar, Nei Conceição
vem estragar a festa. Botafogo 2 a 1. Baldochi ainda empata para
o Corinthians, mas o juiz vê, só ele, um toque de mão do jogador.
Quem aguenta tanto quase?
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A
A dor da longa deus assim não dá, bye bye quase deu. Em 1974, o espírito
corinthiano era de agora vai. E o time justificava esse senti-
espera chega ao mento. Começa o campeonato goleando o América de São
José do Rio Preto, 5 a 0. Como quem tinha pressa de chegar lá,
seu auge naquela Rivellino fez nesse dia, na saída de bola do segundo tempo, o gol
mais relâmpago do mundo: simplesmente encobriu o goleiro lá do
tarde, em 74, meio do campo. Em cinco segundos, caixa.
Bons sinais, bons sinais, a goleada e o gol.
no Morumbi. Na última rodada, o Corinthians vai disputar contra o São
Paulo o título do primeiro turno. Time coeso, Ado, Zé Maria,
Nossa alma começa Brito e Wladimir lá atrás, Rivellino, Vaguinho e Zé Roberto na fr-
ente. Basta um empate. Aos dois do segundo tempo, Zé Roberto,
a ser lavada de cabeça. Adeus, São Paulo. Mas no jogo seguinte, o primeiro do
segundo turno, contra o Botafogo de Ribeirão Preto, rolo grosso.
naquela chuva em Rolo grosso, em pleno Parque São Jorge. Deu-se que um certo
Sócrates, do Botafogo, com rara maestria, lança um tal de Ge-
76, num Maracanã raldão e 1 a 0 para o time visitante. Geraldão estaria impedido
e Rivellino vai para cima do bandeirinha. Chutou, não chutou a
lotado – por nós? canela do homem? Cutuquei, reconheceria ele mais tarde. Mas o
juiz faz uma súmula severa e o camisa 10 vai a julgamento, amea-
çado de não jogar mais naquele ano. Tem contra ele o fato de ser
o campeão de cartões vermelhos do time, 13 ao todo.
É julgado no dia 5 de novembro, pega cinco jogos de suspen-
são e, ufa!, pode jogar a final. Mas a verdade é que, com tanta
confusão, o time se atrapalha e o Palmeiras de Dudu, César e
Ademir da Guia ganha o segundo turno.
E os dois vão para a final em dois jogos.
Foto: Daniel Augusto Junior – Editora Abril
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na Alemanha em 74, fez o que pôde poeira e se reinventa? De si cada um sabe, mas com o Corinthi-
pelo seu time do coração durante ans, depois de 74, não foi de imediato. Abalado, ainda penou no
uma das suas mais dolorosas fases Paulista de 75 e depois no de 76.
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T
Aquela noite oda a nação corinthiana sabe como terminou aquela noite,
aquela sagrada noite de 13 de outubro de 1977.
sagrada, 13 de Mas quando e onde exatamente ela começou? Quando os
insondáveis deuses do futebol retiraram enfim a maldição que so-
outubro de 77, bre nós pesava? Difícil saber, eles têm razões que a bola obedece,
mas desconhece.
a Fiel sabe de Ela pode ter sido merecida, por exemplo, naquela tarde em que
o Maracanã todo virou preto e branco, um ano antes. Aquilo foi
cor, faz parte de comover o mais palestrino dos deuses.
Mas ela pode ter sido merecida em outros tempos, outros mo-
da sua Bíblia, do mentos mais delicados e secretos.
Quando, em novembro de 1973, seu Dorvalino, no leito de
seu catecismo e, morte, fez o filho Zé Maria prometer que não deixaria o futebol
sem dar um título ao Corinthians.
para muitos, foi a Ou quando, em 18 de maio de 1977, Manoel Nunes, o Neco,
talvez o maior corinthiano de todos os tempos, visitou pela última
primeira comunhão vez o Parque São Jorge, abraçou alguns jogadores e três meses
depois, aos 82 anos de idade, foi ter um particular com São Jorge
com a vitória. lá no céu.
Ela poder ter sido merecida na véspera, dia 12, quando Wladi-
Mas nunca será mir foi visitar o pai e disse na saída: “Não volto sem o título”.
Ninguém sabe quando foi, mas foi assim.
demais revivê-la
A arrancada
Depois de tantos anos de espera, não pode um time vencer em
paz um campeonato, vendo seus adeversários cair, um a um, a
seus pés?
Pode, e merecidamente. Qualquer time do mundo. Menos o
Corinthians.
Foi um longo e penoso campeonato, aquele de 77. Começou
em fevereiro e só foi terminar em outubro.
O time começou mal, mas a torcida ali, firme, farejando coisas
que só a Fiel fareja. Lotou o Morumbi para a estreia de Palhinha e
viu o time tomar 3 a 0 do Guarani. E logo depois tomou a cidade
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C
Aqui se chega aro leitor. Como nos casamentos, na dor e na alegria, na
doença e na saúde, passo a passo caminhamos juntos da
a um impasse, fundação do time à noite de São Basílio, ao longo de 67
anos de história do Corinthians.
à pobre tentativa Uma emocionante e valorosa história. Saímos de um bairro
operário, com apenas 19 anos de idade fomos duas vezes tricam-
de definir o peões, em 1952 honramos o futebol brasileiro na Suécia muito an-
tes de Pelé e Garrincha, fomos os campeões do primeiro centenário
indefinível, da Independência do Brasil e do quarto da fundação de São Paulo,
aguentamos 22 anos de espera numa fila incômoda, vivemos, en-
de colocar em fim, glórias e humilhações suficientes para, agora, parar um pouco
e perguntar: o que é, afinal, ser corinthiano?
palavras deste O poeta Menotti Del Picchia, um dos participantes da histórica
Semana de Arte Moderna de São Paulo, um dia proclamou, ca-
mundo aquilo que breiro: “O Corinthians é um fenômeno social a ser estudado em
profundidade”.
a outro pertence. Bom poeta, melhor profeta: o Corinthians é um time que até
hoje muito tem confundido estudiosos e aos próprios corinthia-
Mas vamos lá nos, que muito se curtem mas pouco se explicam.
Torcedores de outros clubes alegam que com eles também é as-
sim. Que para cada um seu time é único. E pode até ser verdade e
ai do futebol se assim não fosse.
Mas o Corinthians, está provado, e parafraseando Orwell, é
mais único do que os outros.
No planeta Corinthians tudo é diferente, os corinthianos juram.
Por que diferente?, alienígenas verdes e tricolores se perguntam,
já meio enciumados.
Os corinthianos não respondem. Não sabem.
Ninguém sabe. Nem os corinthianos mais ilustres têm a mínima
ideia de como explicar.
Washington Olivetto, um dos homens mais imaginosos desta
terra, publicitário respeitado no Brasil e no mundo, humildemente
reconhece: “O Corinthians não se explica. É uma religião, profana,
é um combustível de um amor que o coração sente, mesmo quando
os olhos não veem”.
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Resumindo
Mas há, neste pequeno grande livro do Lalau, uma história que
talvez resuma tudo o que vem sendo dito sobre ser corinthiano.
Nela, de forma simples e definitiva, entram família, fraternidade,
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U
Um símbolo ma vez não explicado o corinthiano individual, vamos ten-
tar, sem muita esperança, celebrar o corinthiano coletivo,
só pega se bem a torcida.
Da torcida nasceu e floresceu o Corinthians. O jornalista José Ro-
reflete a alma dos berto de Aquino expressou isso numa frase hoje clássica: “Todo
time tem uma torcida. No Corinthians é o contrário. A torcida é
simbolizados. que tem um time”.
Consta que nem precisou do primeiro jogo, em 10 de setembro
Que nos dizem de 1910. Dizem que o primeiro treino do time, ali num campinho
da José Paulino, foi entusiasticamente acompanhado por centenas
a âncora e os de torcedores. Já ouvimos antes o psiquiatra Paulo Gaudêncio di-
zendo que corinthiano é um torcedor que até em treino aplaude,
remos do nosso xinga e sofre.
Numa das suas últimas entrevistas, o gande Neco fala com sau-
distintivo? dade da boa e íntima relação do time com a galera: “Depois dos
jogos, a gente saía abraçado com os torcedores, íamos jantar na
E São Jorge? casa de um ou de outro”.
Também numa das suas últimas entrevistas, convidado a
E o dragão? dar uns conselhos para o time em seu longo jejum de títulos, o
bravo Antônio Pereira, um dos cinco operários que fundaram o
Corinthians, declarou que as diretorias do clube nunca deveriam
esquecer que dinheiro não é tudo num time que nasceu e cresceu
no puro amor pelo bairro e pelo futebol.
Mesmo em relação ao dinheiro a torcida faz o que pode, além
de propiciar as maiores rendas e as melhores negociações com a
mídia e patrocinadores, coisas que alguns marqueteiros nem sem-
pre reconhecem. Quando Wladimir estava renovando o contra-
to, a Fiel achou um jeito de contribuir com as luvas. Quando a
contratação de Marcelinho Carioca foi leiloada através de chama-
das telefônicas, a Fiel simplesmente houve por bem engarrafar as
linhas da Telesp. De tal forma compareceu que, na marra, Mar-
celinho terminou ficando no Corinthians.
Foto: Ed Viggiani
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Quando faleceu, no dia 1º de agosto de 1987, aos 77 anos, desfraldou a bandeira e definiu melhor
os remos e a âncora. São de sua autoria
foi enterrada, como pedira, coberta pela bandeira do Corinthians.
também os desenhos dos presidentes
Aquela toda branca, com o distintivo do time bordado em lante-
na sala do Memorial do Corinthians.
joulas, fio de seda e purpurina.
Abaixo, o brasão do centenário
As circunstâncias talvez não tenham permitido, mas bem que
seu enterro merecia aquela canção de Laura Tetti e César Vieira
que Inezita Barroso chegou a gravar – No meio do povo Elisa agita
a bandeira/ bandeira que é preta, bandeira que é branca....
Podiam ter sidos recitados também os versos de Gioia Júnior:
Lá vem a bandeira brincando na brisa
lá vem o Corinthians suando a camisa
buscando a vitória que o povo precisa
brilhando de novo nos olhos da Elisa.
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N
Como nasceram, ão é de hoje que as torcidas se organizam, que o Corin-
thians tem sua torcida organizada. Já na década de 40 lá
e com que sonhos, estava uma delas cantando:
Ou ainda:
Le e e e leleô
leleô, leleô, leleô
Corinthians!
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Corinthians
Corinthians, minha vida
Corinthians, minha história
Corinthians, meu amor.
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Os Gaviões na avenida
Aos poucos, pelo mérito e força da sua própria batucada, for-
mada por bambas de todas as escolas, especialmente da alvinegra
Vai Vai, cresce entre os Gaviões a ideia de voos próprios no carna-
val paulista. Eles podiam contar, por exemplo, com Vinho Tinto,
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O
Um filósofo difícil não é fácil. De gole em gole a galinha enche o papo.
Depois da tempestade, vem a ambulância.
espontâneo, Isso é uma faca de dois legumes. Jogador tem que ser
completo como o pato, que é um bicho aquático e gramático.
Vicente Matheus, Minha gestação foi a melhor que o Corinthians teve.
Vou inclusive anestesiar os sócios inadimplentes. Por isso, na
e um médico com eleição, todos deviam naufragar meu nome.
E haja o que hajar, o Corinthians vai ser campeão.
nome de filósofo, Nem precisa citar o autor dessas reflexões. E hoje, lá no céu,
Vicente Matheus nem vai se incomodar com toda essa errática fi-
Sócrates, foram losofia que lhe atribuíam na terra. Já em vida não se incomodava.
Para Washington Olivetto, quando, numa festa, ele agradeceu à
personagens de Antarctica pelas Brahmas recebidas, estaria inclusive apenas pro-
fetizando a criação da AmBev.
um movimento que E quando foi a Cuba se tratar de um logotipo, bem sabia que
era de vitiligo que se tratava...
disse a que veio, Nascido em Toro, na Espanha, Vicente Matheus chega ao Brasil
no ano do primeiro campeonato do Corinthians, 1914.
dentro e fora Ainda menino, um dia entrou em campo com a camisa do
Corinthians, num jogo contra o Germânia. Estava ali selado seu
do campo destino, uma paixão sem fim pelo time. Foi o homem que mais
vezes presidiu o Corinthians, de 59 a 61, de 72 a 81 e, por fim,
de 87 a 91. Sem contar o período entre 91 e 93 em que foi vice
plenipotenciário da sua mulher, Marlene.
Pode-se discutir os acertos ou equívocos da suas várias
administrações, mas não a pureza e inteireza do seu grande
coração corinthiano. Tinha fama de autoritário, centralizador e
pão-duro, mas, empresário bem-sucedido, não hesitava em botar
a mão no próprio bolso para ter no Corinthians craques como
Almir e Pa-lhinha. Nesses casos, aliás, revelava-se um negociador
duro mas decente e cumpridor do combinado. No mais, matreiro
e manhoso. Anunciava um tal de Lero-Lero, do Bahia, e vinha de
Biro-Biro, do Sport Recife. Insinuava que ia trazer Falcão, do Inter,
e lá vinha com Sócrates, do Botafogo.
Sócrates. Ironias da história. Matheus, o iletrado, o autoritário,
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T
Corinthians odo time exige certa dose de amor paciente, mas, no caso do
Corinthians, haja coração.
dos impossíveis. Bem, pelo menos esse amor corinthiano está livre da chaga
maior dos amores deste mundo, que é a monotonia. Essa o corin-
Quando o Paulista thiano não conhece. Ele sabe que o Corinthians tanto complica
jogo fácil como vê baixar um anjo nos mais impossíveis.
parecia perdido, vai Bem que dom Paulo Evaristo Arns, que é teólogo e humanista,
diz em seu livro que duas coisas básicas o Corinthians não para de
lá em Campinas e nos ensinar, a paciência e a esperança.
No período pós-democracia, o Corinthians passou a sonhar
Viola... firme com o grande título que lhe faltava, campeão brasileiro.
E, como vamos ver, chegou lá, em 90. Mas do seu jeito, subme-
Quando nem tendo a Fiel a emoções de toda a ordem, entre trancos, relâmpagos
e, no Paulista, um toque mágico de Viola.
esperava muito ser
87, o ano do gato preto
campeão brasileiro,
Depois de 85, os craques bandeirosos, como Dunga, Serginho,
Tupãzinho estica a De León, vão embora, e chegam os operários remadores, Wilson
Mano, Jacenir.
perna e... Não dá certo logo. Em 86, o time fica ali ali, tanto no Paulista
como no Brasileiro.
No ano seguinte, 87, reencontra seu corinthiano e imprevisível
destino. Faz um primeiro turno pavoroso, chega a ficar sete jogos
sem ganhar nenhum, termina lá embaixo, ao lado do Bandeiran-
te de Birigui. Não foi chamado de Faz-me Rir porque o bolero,
aquele, não estava mais nas paradas.
No segundo turno, dispara, corinthianamente.
Na vitória de 1 a 0 contra a Inter de Inter de Limeira, um gato
Foto: Ricardo Correa – Editora Abril
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A década de 90, undado na primeira década do século 20, o Corinthians do-
bra 1990 como campeão brasileiro e entra cheio de espe-
que começou meio rança na última década do segundo milênio da era cristã.
O Bom Retiro, onde, em 1910, o time foi fundado, mudou relati-
assim, lá pela vamente pouco. Já a cidade, o futebol, o mundo...
Só não mudou o destino do time, seu jeito batalhado de chegar
metade, em 95, lá; para cada alegria, muitos sustos; para cada título na rede, tanta
bola na trave.
virou uma festa É só ver esta última década do milênio, a maneira que começa,
a glória em que termina. Puro Corinthians.
de títulos os Até que começa com um título, logo no raiar de 91. Ganha uma
Supercopa do Brasil, disputa que reunia o campeão brasileiro e o
mais variados e da Copa do Brasil do ano anterior. Foi um jogo só, contra o Fla-
mengo, no Morumbi. Corinthians, Neto, 1 a 0.
esperanças as Já na Libertadores...
Bem, classsificou-se em segundo no seu grupo. Aí, contra o Boca
mais justificadas Juniors, pelas oitavas de final, em Buenos Aires, bem que merecia
melhor sorte. Empate suado, 1 a 1, quando o juiz chileno vê mão
na bola numa bola na mão do volante Márcio. Pênalti. Logo de-
pois Guinei comete uma bobeada justo na frente de Batistuta, 3 a
1. No Morumbi, outro azar do Guinei e o jogo termina 1 a 1.
No Brasileirão, ainda em 91, a má sorte continua. No tapetão
o Fluminense elimina o Corinthians das semifinais. No Paulista,
Neto cospe no juiz em jogo contra o Palmeiras e fica fora do
campeonato. Mesmo assim o time vai à final contra o São Paulo,
mas dá com um Raí muito inspirado pela frente.
92 também não resulta num ano bom, nem no Paulista nem no
Brasileiro e nem na Copa do Brasil.
Em 93, os adversários, vamos reconhecer, estão com tudo.
O São Paulo, bom de time, bom de finanças e bom de técnico,
Telê Santana. E o Palmeiras, bem amamentado por um patrocina-
dor de peso, a Parmalat.
Foto: Folha Press
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O caminho para o uma entrevista, Marlene Matheus, essa grande militan-
te corinthiana, conta que a camisa favorita de Vicente
Mundial de Clubes Matheus era uma completamente pura, sem o nome de ne-
nhum patrocinador. Mas a verdade é que, desde a vaquinha para
teve de tudo: comprar a primeira bola em 1910, o futebol mudara bastante.
Para o bem ou para o mal, o século 20 chega ao fim consagran-
Edílson gozando do nos times a era dos grandes patrocinadores. O próprio Corin-
thians teve o desprazer de ver crescer, entre 93 e 94, um imponente
o Palmeiras, Dida alviverde por conta da Parmalat.
Foi isso? Não, foram os tempos. O Corinthians saiu também
pegando pênalti, em busca de apoio. Uma das primeiras empresas a apoiá-lo, ainda
em 1985, foi a de um outro corinthiano militante, Damião Gar-
o belo jogo contra cia, dono da Kalunga.
Em 97, uma parceria com o Banco Excel propicia ao time a
o Real Madrid e, contratação de craques como o zagueiro Antonio Carlos, o lateral-
esquerdo André Luiz e os atacantes Túlio e Donizete.
enfim, no Maracanã,
Dinei, como em 90
o título
Deu certo? Deu certo, quase certo e errado, que nem só de
dinheiro vive o futebol.
Quase certo na Copa do Brasil, o time foi até as semifinais.
Muito certo no Paulistão. Aí não teve para ninguém. Chegou a
tascar 8 a 2 no Guarani e 5 a 2 no Palmeiras. No quadrangular
decisivo, 4 a 3 no Santos, 2 a 0 no Palmeiras e um empate com o
São Paulo para chegar com honras ao seu 22º título estadual.
Mas o Corinthians é o Corinthians.
No Brasileiro, por pouco não é rebaixado.
Na última hora se salvou com modesto 1 a 0 contra o Flamengo
em casa, gol de Edílson, e depois 2 a 0 em Goiânia justo sobre esse
fatídico Goiás. Por pouco, muito pouco, 2008 não chega antes.
No ano seguinte, 1998, a constelação de astros se completa. O
time já tem Gamarra, Rincón, Edílson, Marcelinho de volta e um
técnico experiente, Vanderlei Luxemburgo.
Foi vice no Paulista, mas fez um Brasileirão impecável.
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Edílson, o embaixador
A Fiel está feliz. Sente que o time está com tudo para uma
grande passagem de milênio.
E é o que acontece, é o que acontece.
No começo, a torcida estranhou o nome - Hicks, Muse, Tate
& Furst. Menos corinthiano, impossível. Não vai dar rima para
a Gaviões, era uma das ressalvas. Mas esse era o nome do fundo
de investimentos americano que vinha fazer uma forte parceria
com o Corinthians. Nas asas dela, e para coroar um time que já
era bom, no segundo semestre chega do Cruzeiro o goleiro alto,
elegante e terror dos batedores de pênaltis: Dida. E do La Coruña
da Espanha, o centroavante Luizão.
Pois em 99 esse reforçado Corinthians brilhou em casa e pe-
nou fora. No Paulista, festa na final contra o Palmeiras, 3 a 0 no
primeiro jogo.
O segundo foi aquele do show do Edílson, controvertido mas
inesquecível. O Corinthians, que nem precisava ganhar, empatava
em 2 a 2 quando, aos 31 do segundo tempo, Edílson recebe a
bola lá atrás e, em vez de avançar ou passar, dá de ficar fazendo
embaixadinhas, deixando a bola fluir pelo corpo inteiro, como
se estivesse brincando sozinho na praça. Mordidos que estavam,
os palmeirense, Paulo Nunes à frente, partiram para cima dele, o
tempo fechou e o juiz deu por finda a partida. O Corinthians, pela O SENHOR EMBAIXADOR
23ª vez, era campeão paulista. Edílson, Edílson... àquelas alturas
do campeonato e do jogo, 31
Dida x Raí do segundo tempo, o título
já era nosso, não tinha mais
Nas quartas de final da Libertadores, o Corinthians domina o para o Palmeiras. Mas enfim...
jogo contra o Palmeiras, mas perde, 2 x 0. Precisa pelo menos Aconteceu. E a Fiel não esquece
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Campeão do mundo
Para um time do tamanho emocional do Corinthians, qual a
melhor maneira de fechar um milênio?
Ora, fazendo algo igualmente grandioso. Sendo campeão do
mundo, por exemplo.
Pois não é que, em janeiro de 2000, a FIFA resolve organizar
oficialmente seu campeonato mundial de clubes, e a sede é o Brasil,
o país do futebol.
Da Inglaterra vem o Manchester, da Espanha vem o Real Ma-
drid, da Arábia Saudita vem o Al Naser, do Marrocos vem o Raja
Casablanca e da Austrália, o South Melbourne, e mais o Necaxa
do México.
Do Brasil, o Vasco da Gama, campeão da Libertadores em 98,
e o campeão nacional do país-sede, o Corinthians.
Na chave do Corinthians, em São Paulo, Real Madrid, Al Naser
e Raja Casablanca.
No dia 5 de janeiro o Corinthians vence o Raja Casablanca,
no Morumbi, por 2 a 0, Luizão e Fábio Luciano. Dois dias de-
pois, Corinthians e Real Madrid. Edílson, o Capetinha, num dia
verdadeiramente endiabrado, vira o jogo para 2 a 1. Mas eles
também têm seu endiabrado, o centroavante Anelka, que empata
no segundo tempo e ainda perde um pênalti. Ou talvez fique mais
justo dizer: Dida ganha o pênalti.
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todos os sentidos, na defesa, no ataque e na vida. Seu gol contra o Vasco no Maracanã. Dinei
o Raja Casablanca no Mundial de Clubes foi decisivo para a clas- campeão paulista, brasileiro, mundial,
sificação. A bola nem entrou, mas isso é outra história. arma secreta em jogos decisivos
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Depois a festa em si, que começou 1994/1997, 1998/2002 e 2006 (mais um amistoso de despedida
no Maracanã, atravessou o Rio em 2010) tornou-se o quinto maior goleador da história corinthi-
e pegou a Dutra ana. Veio do Flamengo quase por acaso, meio brigado que andava
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A
Pelas emoções orelha do livro Coração Corinthiano, de Lourenço Dia-
féria, é assinada por Juca Kfouri, que, por sua vez, começa
que deflagra, citando uma música do Gilberto Gil, em homenagem ao
Corinthians. Por aí já se vê o quanto o Corinthians, um time de
pelo sonho que é, origem operária, se tornou um fenômeno cultural, um cult, como
se diz. Juca, um dos cronistas esportivos mais influentes do país, é
o Timão tem atiçado autor de dois livros sobre o Corinthians, Gilberto Gil foi ministro
da Cultura e Lourenço Diaféria, um dos mais amados cronistas de
poetas, músicos, São Paulo até sua morte, em 2008.
Em dezembro de 2009, por inciativa do Comitê de Preserva-
escritores, cineastas, ção da Memória Corinthiana em parceria com o projeto Autor
na Praça, foi realizada no Parque São Jorge mais uma edição da
teólogos, filósofos, Arquibancada Literária, uma semana cultural de apresentação e
debates com autores de livros sobre o Corinthians, que já são mais
ensaístas... de 70. Nascido para comemorar os 25 anos do fim do jejum em
77, este Comitê se tornou um fecunda referência para corinthia-
nólogos de todas as ciências.
Porque a verdade é que, em prosa e verso, palavra e imagem,
o Corinthians tem sido contado e cantado o tempo inteiro nesses
cem anos de existência. Vamos tentar um breve apanhado do que
poderia se multiplicar em livros e livros. O Corinthians na músi-
ca, no cinema, na fotografia, na literatura, nas artes plásticas, na
história de São Paulo...
Um show inesquecível
Só a partir do capítulo “Dois hinos e mil canções”, do livro
Coração Corinthiano, poderia ser montado, por exemplo, um es-
petáculo musical que muito honraria as festas do centenário do
time. Diaféria cita 28 composições alvinegras. Daria show para
corinthiano nenhum botar defeito:
Foto: Conceição Cahú
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Audiovisuais
Há também muito Corinthians nas telas, grandes ou pequenas.
Conta Diaféria que a simples leitura de um roteiro do filme Corin- CONCEIÇÃO CAHÚ
thians, Meu Amor, escrito por Id Almeida, chegou a atrair mais de Outra artista plástica de alma
3 mil pessoas ao Parque São Jorge. corinthiana foi a pernambucana
Um dos maiores sucessos do saudoso Mazzaropi foi, e só podia, radicada em São Paulo Conceição
quini, um filme de suspense e glória sobre a dolorosa travessia da de Cidadã Corinthiana. Maria da
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Foto: Divulgação
Cleusa no filme Linha de Passe torcendo pelo Corinthians no Morumbi e em casa com os quatro filhos, corinthianos de vida batalhada
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Da fé para o humor.
Em Todo-Poderoso Timão, Editora Globo, 2009, o cartunis-
ta Ziraldo cria um personagem, o Mosquetinho, para contar em
quadrinhos a história do Corinthians.
Do humor para a educação.
Com o Meu Pequeno Corintiano, Editora Belas Letras, 2009,
o jornalista Serginho Groisman e o ilustrador Carlinhos Muller
falam das lições de vida que os grandes momentos do Corinthians
podem trazer para as crianças. E para os adultos também, já que,
como todos sabem, com tanta tentação por aí, nem sempre é fácil
educar um filho na fé corinthiana.
Da educação para a arte.
Em meio à recente onda de publicações alvinegras, é possível
que o pequeno grande livro do publicitário e artista gráfico Lalau,
Lázaro Simões Neto, seja o mais bonito visualmente. É com muita
força e delicadeza que Fiel 100 anos, Panda Books, 2009, har-
moniza fotos emocionantes com depoimentos emocionados. Em
edição primorosa, toda em preto e branco, o livro do Lalau é, até
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9/3/10 1:46 PM
A fiel não esquece
Gamarra, Rincón: gracias, hermanos
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O time entra no undado no último ano da primeira década do século pas-
sado, o Corinthians vai atravessar agora a primeira década
novo milênio entre do novo milênio, rumo ao seu – próprio milênio.
Mas não é centenário?
altos e baixos e Depende. Corinthianos mais profundos não ligam para os
calendários deste mundo. Eles contam com o coração. Foram tan-
até aí tudo bem, é tas as emoções que, em caso de Corinthians, cem anos valem por
mil. Os mais radicais juram que o ano da série B, 2008, durou
o Corinthians. mas simplesmente um século.
Filosofias à parte, como foi esta última década rumo ao, diga-
depois não sabe mos, centenário?
Corinthiana, absolutamente corinthiana. Um título por ano, até
como sair de uma dois, e de repente...
Mas vamos primeiro curtir a glória, fartar-se dela, dela fazer
parceria tão uma boa provisão de alma para a última e talvez mais dolorosa
das travessias.
milionária quanto O Corinthians abre o milênio – corinthiando.
2001 começou de mau jeito. No Paulista, perde os primeiros
misteriosa jogos, até para a Portuguesa Santista, 2 a 1. Cai o técnico, claro.
Com Vanderlei Luxemburgo, ainda rateia um pouco, mas agar-
ra vôo, vence sete jogos seguidos e se classifica para encarar o
Santos nas semifinais.
Na Copa do Brasil, uma festa. Vai atropelando todo mundo, 8 a
1 no Flamengo de Teresina, 3 a 0 no São Paulo do Piauí, aliás, do
Morumbi. É que o time já nem fazia muita distinção.
Nas semifinais do Paulistão, o Santos tem a vantagem de dois
empates. O que começou conseguindo na primeira partida, 1 a 1.
Na segunda, também 1 a 1 até o finalzinho.
Caro leitor: a esta altura, a sua memória já é certamente cúm-
plice da nossa narrativa. E deve se lembrar daquele finalzinho entre
Santos e Corinthians no Morumbi. Já nos acréscimos, 40 segundos
para terminar o jogo, Andrezinho rouba a bola na intermediária,
lança Gil que avança, dribla o zagueiro André Luiz e cruza: Mar-
celinho deixa a boa passar entre as pernas, vem Ricardinho e, num
chute colocado, faz 2 a 1. Desse ninguém esquece.
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Numa triste izem os filósofos da história que quem não aprende com as
tragédias corre o risco de repeti-las.
tarde de 2007, o Aquela tarde de domingo em Porto Alegre, 2 de dezembro
de 2007, foi verdadeiramente insuportável.
inimaginável Então vamos tentar aprender com ela. Entendê-la. Perguntar-se:
2007, a série B – quando começou?
acontece: Para alguns, ela teria começado já em dezembro de 2004, quan-
do foi assinado o contrato com a MSI. Veio nas asas do carma
Corinthians cai ruim que a MSI trouxe para o clube.
Para outros, o grande símbolo da derrocada foi em 2006, quan-
em Porto Alegre do, na decisão da vaga para as quartas de final da Libertadores
contra o River Plate no Pacaembu, a torcida humilhada botou
para a série B. abaixo parte do alambrado. Um ato lamentável, mas também uma
tentativa de derrubar o fosso que existia entre a Fiel e uma ma-
Em outubro de neira de conduzir o time que era alheia ao seu coração. Ali, ainda
que de forma errada, a Fiel queria, de alguma forma, participar.
2008, no Pacaembu, Ali, com o alambrado, o time teria começado a vir abaixo.
Tanto que naquele ano, 2006, no Paulista, ficamos atrás do No-
a volta, a festa. roeste e do São Caetano. No Brasileiro, por pouco não caímos,
sob o comando de um Leão brigado com Tevez. Com o Tevez que
Ê Corinthians um dia, sem maiores explicações, largou o time e foi visto numa
boate em Buenos Aires cantando e dançando cúmbia num con-
junto chamado Los Palmeras...
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E quem vai izem os sábios que o ser humano completo é, um pou-
co, bipolar, igualmente capaz de luz e treva, euforia e de-
esquecer o pressão. O ser humano é como o Corinthians, alvinegro.
E dizem também que o contraste é o sal da vida, que o ser humano
primeiro semestre nem estaria estruturado direito para a felicidade contínua, e que
ser corinthiano (isso eles não dizem, mas se entende) que ser corin-
de 2009? thiano, esse eterno viajante entre a tristeza e a alegria, a humilha-
ção e a glória, um jeito até normal e saudável de ser.
Com Ronaldo Por isso, por tudo isso, o Corinthians para tanta gente se torne
mais do que um time e seja também um símbolo e uma pedagogia.
infernizando no Vejam só 2009. Que síntese de cem foi seu último ano antes do
centenário.
Paulista e na Copa Um ano absolutamente bipolar.
Um primeiro semestre só alegria. Essa alegria teve muitos
do Brasil? O time nomes, Felipe, Alessandro, Chicão, William, André Santos, Cris-
tian, Elias, Douglas, Jorge Henrique, Dentinho, Mano Menezes e
todo se acertando? uma alegria maior, Ronaldo.
Ronaldo só foi estrear no time quase três meses depois, no dia
Depois... 4 de março em Itumbiara, pela Copa do Brasil. Depois de Ein-
dhoven, Barcelona, Milão – Itumbiara, Goiás. Só entrou aos 19
do segundo tempo e o Brasil e o mundo ficaram suspensos e logo
lamentando aquela bola que Douglas, fominha, não lhe passou,
livre que estava para concluir e fazer história. Pobre Douglas, teve
de passar a semana se explicando.
Quatro dias depois, o primeiro gol com a camisa do Timão. E
que gol, em que minuto e contra que time. Contra o Palmeiras,
pelo Paulista, em Presidente Prudente, ao 47 do segundo tempo,
empatando o jogo, de cabeça, num escanteio agora gentilmente
cobrado por Douglas.
Como um menino, como se fosse seu primeiro gol na vida, ele
esqueceu todos os títulos e medalhas, correu para a torcida, subiu
no alambrado, que veio abaixo, como o Brasil e o mundo.
Um torcedor fez questão de arrancar um pedaço daquele alam-
brado com um argumento épico: “É como guardar um pedaço do
Muro de Berlim”.
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Eternamente
Volta eletrizante para a série A, título paulista de 2009, campeão
da Copa do Brasil, novos tempos de glória se anunciavam.
Nada, deu Corinthians, o imprevisível. Cristian e André Santos
foram, na cara da torcida, negociados com equipes turcas; o meia
Douglas também se foi. O time como que perdeu o eixo.
Mal no Brasileiro, o time passa a pensar na sonhada Liberta-
dores. E uma nova equipe começa a ser montada. Da Turquia
vem Roberto Carlos. Daquele às vezes cruel Goiás, vem Yarlei.
Daquele Grêmio sempre danado, Tcheco. Do Paraná, uma boa
surpresa, Jucilei.
O time não se classifica para o o quadrangular do Paulista, mas
na primeira fase da Libertadores vai muito bem, passa bem pelo
Racing do Uruguai, pelo Independiente Medellin e pelo Cerro
Porteño do Paraguai.
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E
Que dizer, que ste livro começou se perguntando se, naquela noite de 1º
de setembro de 1910, aqueles cinco operários tinham uma
dizer para aqueles ideia, uma pálida ideia, do que estavam aprontando ao fun-
dar um time naquela esquina, sob aquele lampião.
cinco jovens A resposta hoje se tem.
Não, eles não poderiam imaginar. Mal tinham dinheiro para a
operários com primeira bola de couro, quanto mais para uma bola de cristal.
Não, eles não poderiam imaginar o que viria.
seu sonho aquela Dois tris nos primeiros 20 anos.
Aquelas emoções todas, Neco garantindo tudo, Teleco virando
noite, naquela no ar, o baixinho Luizinho pulando mais alto que todos e selando
o título do Quarto Centenário.
esquina? Cláudio conferindo todas, Gilmar pegando tudo, a cabecinha
de ouro do Baltazar.
Não, nada disso eles não poderiam imaginar naquela noite.
Nem o que veio depois, a longa espera, a dor e a humilhação.
A mágoa unânime de cem mil pessoas naquela tarde de 1974.
Aquela noite sagrada em 1977, eles não poderiam imaginar.
Nem, um ano antes, aqueles 350 ônibus alados de bandeiras e
paixão a caminho do Maracanã.
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Taça Linha Circular (Corinthians Taça Neco Taça Agência Ford (Corinthians
1 x 0 Ypiranga-BA, Salvador, (Corinthians 1 x 0 A. A. São Bento, 2 x 1 Rio Branco, Americana,
23/1/1938) 7/3/1920) 6/12/1925)
Taça de Campeões Rio-São Paulo Taça Doutor Arnaldo Vieira de Taça Studebaker (Corinthians 3 x 0
(Corinthians 5 x 2 Fluminense, Carvalho (Corinthians 4 x 1 A. A. XV de Novembro, Jaú, 15/11/1925)
Pacaembu, 23/12/1941) São Bento, 13/6/1920)
Taça Juvenal Plastídio Filho
Estaduais Taça Prefeitura Municipal de (Corinthians 4 x 3 Guarani,
Taça Beneficência Espanhola Guaratinguetá (Esportiva de Campinas, 13/12/1925)
(Corinthians 3 x 0 A. A. Guaratinguetá x Corinthians,
Palmeiras, 1º/5/1915; Corinthians resultado não encontrado. Jogo Taça Lacta (Corinthians 4 x 0
4 x 1 Germânia, 16/4/1916; o realizado em 19/9/1920) Internacional da capital, 1º/1/1926)
Corinthians desafiou e venceu os
campeões das duas Ligas no ano Taça Ida (Corinthians 5 x 0 Paulista Taça Centenário do Uruguai
anterior.) da capital, 30/1/1921) (Corinthians 0 x 0 Sírio, 25/8/1925;
Corinthians 1 x 0 Sírio, 10/1/1926)
Taça Cronistas Esportivos Taça Antarctica (Corinthians 4 x 2
(Corinthians 3 x 0 Combinado A. A. São Bento, 20/2/1921) Taça Guaraná Espumante
Inter/Vicentino, 20/8/1916) (Corinthians 5 x 1 São João,
Taça Ao Preço Fixo Jundiaí, 17/1/1926)
Taça oferecida pelo dr. Alcântara (Corinthians 2 x 1 Seleção Santista,
Machado (Corinthians 4 x 0 Santos, 13/5/1921) Taça Francisco Rei
Taubaté, Taubaté, 8/10/1916) (Corinthians 5 x 1 Primeiro de
Maio, São Bernardo do Campo,
18/4/1926)
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FONTES CONSULTADAS
ARNS, Dom Paulo Evaristo – Corintiano Graças a Deus – Editora
Planeta do Brasil – 2004
NETO, Lázaro Simões (Lalau) – Fiel 100 anos – Panda Books – 2009
FILMES
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