A Bacia Das Almas
A Bacia Das Almas
A Bacia Das Almas
4. Estocado em GOIABAS
ROUBADAS
5. A CRIAÇÃO: As primeiras coisas criadas
6. No princípio, dois mil anos antes do céu e da
terra, sete coisas foram criadas: a Torá,
escrita com fogo negro sobre fogo branco e
repousando sobre o colo de Deus; o Trono
Divino, erguido no céu e que mais tarde
estaria sobre as cabeças dos Hayyot; o
Paraíso à direita de Deus, o Inferno à sua
esquerda; o Santuário Celestial diretamente à
frente de Deus, tendo em seu altar uma jóia
gravada com o Nome do Messias, e a Voz que
clama: “Voltai, filhos dos homens”.
7. Quando decidiu a respeito da criação do
mundo, Deus tomou conselho com a Torá. A
recomendação dela foi:
8. – Oh, Senhor, um rei sem um exército e sem
cortesãos e atendentes não merece o nome
de rei, pois ninguém há perto para prestar-
lhe a homenagem devida.
9. A resposta agradou a Deus sobremaneira.
Dessa forma ele ensinou todas as coisas
terrenas, através do seu divino exemplo, a
nada empreender antes de primeiro
consultar os seus conselheiros.
10. O conselho da Torá foi dado com algumas
reservas. Ela duvidava do valor de um mundo
terreno por causa do pecado do homem, que
iria por certo negligenciar os seus preceitos.
Porém Deus dissipou as suas dúvidas,
dizendo a ela que o arrependimento havia
sido criado muito antes, e que os pecadores
teriam oportunidade de corrigir sua conduta.
Além disso, o serviço do templo seria
investido de poder de remissão, e o Paraíso e
o inferno destinavam-se a fazerem sua
obrigação como recompensa e punição. Final-
mente, o Messias era designado a trazer
salvação, que poria um fim a toda a
pecaminosidade.
11. Porém nem mesmo este mundo
teria permanecido, se Deus tivesse
executado o seu plano original de
governá-lo sob o princípio da justiça
estrita.
Tampouco foi este mundo habitado pelo
homem a primeira das coisas terrenas
criadas por Deus. Ele fez diversos mundos
antes deste, mas destruiu a todos, porque não
se satisfez com nenhum antes de criar o
nosso. Porém nem mesmo este mundo mais
recente teria permanecido, se Deus tivesse
executado o seu plano original de governá-lo
sob o princípio da justiça estrita. Foi apenas
quando viu que a justiça por si mesma traria
a ruína do mundo que ele associou à justiça a
misericórdia, e fez com que ambas governas-
sem conjuntamente. Desta forma, desde o
princípio de todas as coisas prevaleceu a
bondade divina, sem a qual nada teria conti-
nuado a existir. Se não fosse por isso, as
miríades de espíritos malignos já teriam
colocado um fim às gerações dos homens.
Porém a bondade de Deus ordenou que a
cada mês de Nisã, por ocasião do equinócio
da primavera, os serafins aproximem-se do
mundo dos espíritos, e os intimidem de modo
a que eles temam fazer mal ao homem.
13. Além disso, se Deus em sua bondade não
tivesse concedido proteção aos fracos, os
animais mansos já teriam sido há muito
tempo eliminados pelos animais selvagens.
No mês de Tamuz, por ocasião do solstício do
verão, quando a força do beemote está no seu
auge, ele urra tão alto que todos os animais o
ouvem, e por um ano inteiro permanecem
assustados e temerosos, e seus atos tornam-
se menos ferozes do que seriam por
natureza. Novamente, no mês de Tisri, por
ocasião do equinócio do outono, o grande
pássaro ziz bate suas asas e dá o seu grito,
para que todas as aves de rapina, águias e
abutres, recuem de medo, e passem a temer
lançaram-se sobre os outros e aniquilá-los
em sua cobiça. Além disso, não fosse a miseri-
córdia de Deus, o vasto número de peixes
grandes teria rapidamente colocado um fim
nos pequenos. Porém por ocasião do solstício
do inverno, no mês de Tebet, o mar torna-se
agitado, pois o leviatã espirra água, e os
grandes peixes ficam inquietos; eles refream
seu apetite, e os pequenos escapam da sua
rapacidade.
14. Finalmente, a bondade de Deus se
manifesta na preservação de seu povo, Israel.
Ele não poderia ter sobrevivido à inimizade
dos gentios, se Deus não tivesse designado
para ele protetores, os arcanjos Miguel e
Gabriel. Quando acontece de Israel desobede-
cer a Deus, e é acusado de mau comporta-
mento pelos anjos de outras nações, ele é
defendido pelos seus guardiões designados,
com resultado tão positivo que os outros
anjos passam a temê-los. Uma vez que os
anjos das outras nações estão aterrorizados,
as próprias nações não ousam levar avante
seus perversos intentos contra Israel.
15. Para que a bondade de Deus reinasse na
terra como no céu, aos Anjos da Destruição
foi designado um posto na extremidade mais
distante dos céus, do qual não devem nunca
se mover, enquanto os Anjos da Misericórdia
circundam o trono de Deus, às suas ordens.
16.
17. Lendas dos Judeus é uma compilação de
lendas judaicas recolhidas das fontes
originais do midrash (particularmente o
Talmude) pelo talmudista lituano Louis
Ginzberg (1873-1953). Lendas foi publicado
em 6 volumes (sendo dois volumes de notas)
entre 1909 e 1928.
18. O alfabeto
47.
48. Lendas dos Judeus é uma compilação de
lendas judaicas recolhidas das fontes
originais do midrash (particularmente o
Talmude) pelo talmudista lituano Louis
Ginzberg (1873-1953). Lendas foi publicado
em 6 volumes (sendo dois volumes de notas)
entre 1909 e 1928.
49.
50. O primeiro dia
51. PAULO BRABO, 26 DE JANEIRO DE
2006
52. O PRIMEIRO DIA
97.
98. Lendas dos Judeus é uma compilação de
lendas judaicas recolhidas das fontes
originais do midrash (particularmente o
Talmude) pelo talmudista lituano Louis
Ginzberg (1873-1953). Lendas foi publicado
em 6 volumes (sendo dois volumes de notas)
entre 1909 e 1928.
108.
O verdadeiro propósito do leviatã é servir de
iguaria aos justos no mundo do porvir. A
fêmea foi colocada em salmoura tão logo
morta, para ser preservada até o momento
em que sua carne será necessária. O macho
está destinado a prover uma visão extraordi-
nária a todos os espectadores antes de ser
consumido. Quando sua última hora chegar
Deus convocará os anjos para que entrem em
combate contra o monstro. Mas tão logo o
leviatã lance o seu olhar sobre eles os anjos
fugirão, desfalecidos de medo, do campo de
batalha. Eles retornarão à carga com espadas,
porém em vão, porque suas escamas podem
repelir o ferro como se fosse palha. Eles não
terão mais sucesso quando tentarem matá-lo
arremessando pedras e lanças; tais mísseis
ricochetearão sem causar a menor impressão
no corpo do monstro. Desanimados, os anjos
desistirão do combate, e Deus ordenará que o
leviatã e o behemoth entrem em duelo um
contra o outro. Como resultado ambos cairão
mortos, o behemoth esmagado por um golpe
das barbatanas do leviatã, o leviatá morto
por um açoite da cauda do behemoth. Da pele
do leviatã Deus construirá tendas para
abrigar as multidões dos piedosos enquanto
eles desfrutam dos pratos feitos da sua carne.
A quantidade designada a cada justo será
proporcional a seus merecimentos, e
ninguém invejará ou se ressentirá da porção
maior de outro. O que sobrar da pele do
leviatã será esticado como toldo sobre
Jerusalém, e a luz que se projetará dela
iluminará o mundo inteiro, e o que restar da
sua carne, depois que os justos tiverem
saciado seu apetite, será distribuído entre o
restante dos homens.
5.
6. Lendas dos Judeus é uma compilação de
lendas judaicas recolhidas das fontes
originais do midrash (particularmente o
Talmude) pelo talmudista lituano Louis
Ginzberg (1873-1953). Lendas foi publicado
em 6 volumes (sendo dois volumes de notas)
entre 1909 e 1928.
7. O sexto dia
1
E se me fizeres um altar de pedras, não o cons-
truirás de pedras lavradas; pois se sobre ele
levantares o teu buril, profaná-lo-ás. *Êxodo
20:25*
25. Deus:
26. – Vou cuidar para que um remanescente
seu seja poupado.
27. Em sua indignação o camundongo
mordeu o gato, e o gato por sua vez atirou-se
sobre o camundongo, perfurando-o com os
dentes até matá-lo. Desde aquele momento o
camundongo tem tamanho pavor do gato que
não tenta nem mesmo se defender dos
ataques do inimigo, e vive escondido.
28. CÃES E GATOS
29. Do mesmo modo, cães e gatos desfruta-
vam de uma relação amigável, e só mais tarde
tornaram-se inimigos. Cão e gato eram
parceiros, e compartilhavam um com o outro
do que quer que tivessem. Aconteceu certa
vez que nenhum dos dois foi capaz de
encontrar coisa alguma para comer por três
dias. O cachorro então propôs que encerras-
sem a parceria. O gato iria até Adão, cuja casa
teria por certo o bastante para ele comer,
enquanto o cachorro tentaria a sorte em
outro lugar. Antes de se separarem os dois
juraram jamais recorrer ao mesmo mestre. O
gato foi habitar com Adão, e encontrou
camundongos em número suficiente para
satisfazer o seu apetite. Vendo o quanto era
útil para espantar e exterminar os camun-
dongos, Adão passou a tratar o gato com toda
gentileza.
30. O cachorro, por sua vez, passou maus
bocados. Na primeira noite depois da
separação ele dormiu na caverna do lobo, que
havia-lhe oferecido abrigo por uma noite.
Durante a noite o cão ouviu passos e foi
contar a seu hospedeiro, que disse que ele
fosse expulsar os intrusos. Eram animais
selvagens, e o cachorro por pouco não
perdeu a vida. Desconsolado, o cachorro
fugiu da casa do lobo e foi buscar refúgio com
o macaco. Este recusou-se a conceder a ele
abrigo por uma noite que fosse, e o fugitivo
foi forçado a apelar para a hospitalidade da
ovelha. Novamente o cão ouviu passos no
meio da noite. Obedecendo ao comando de
sua hospedeira ele saiu em perseguição dos
ladrões, que revelou-se no fim das contas
serem lobos. O latido do cachorro informou
os lobos da presença da ovelha, de modo que
ele causou inocentemente a morte dela.
31. O cão havia agora
perdido seu último amigo. Noite após noite
ele saía pedindo abrigo, sem jamais
encontrar um lar. Ele finalmente decidiu
retornar à casa de Adão, que também
concedeu-lhe abrigo por uma noite. Quando
os animais selvagens aproximaram-se da
casa, sob o manto da escuridão, o cão
começou a latir e Adão acordou, expulsando-
os em seguida com seu arco e flecha. Reco-
nhecendo a utilidade do cachorro, Adão
pediu que ele permanecesse para sempre.
Porém logo que viu o cachorro na casa de
Adão o gato começou a discutir com ele,
repreendendo-o por ter violado seu
juramento. Adão fez o melhor que pôde para
apaziguar o gato: disse que ele mesmo tinha
convidado o cão a fazer dali a sua casa, e
assegurou que o gato não perderia nenhum
privilégio com a presença do cachorro; ele
queria que os dois ficassem com ele. Mas foi
impossível aplacar o gato. O cão prometeu
não tocar nem o gato nem qualquer coisa
destinada a ele, mas o gato disse que não
podia viver na mesma casa com um ladrão
como o cachorro. As disputas entre cão e gato
tornaram-se a ordem do dia. Finalmente o
cão disse que não agüentava mais e deixou a
casa de Adão, dirigindo-se á de Sete. Ele foi
acolhido com carinho por Sete e, da casa de
Sete, continuou seus esforços de reconcilia-
ção com o gato. Em vão. Sim, a inimizade
entre o primeiro cão e o primeiro gato são
até hoje transmitidas a seus descendentes.
32. A BOCA DO CAMUNDONGO
33. Até mesmo as peculiaridades físicas de
determinados animais não faziam parte do
seu aspecto original, mas devem sua existên-
cia a algo que ocorreu depois dos dias da
criação. O camundongo tinha a princípio uma
boca muito diferente da atual. Na Arca de
Noé, na qual todos os animais viviam pacifi-
camente a fim de garantir a preservação de
cada espécie, o par de camundongos estava
sentado perto do gato. De repente esse
último lembrou que seu pai tinha o hábito de
devorar ratos; pensando que não havia mal
algum em seguir o seu exemplo, o gato saltou
sobre o camundongo, que procurava sem
sucesso por um buraco por onde escapar.
Então um milagre aconteceu: apareceu um
buraco onde não havia existido nenhum, e o
camundongo buscou abrigo ali. O gato
perseguiu o camundongo, e embora não
pudesse segui-lo buraco adentro, conseguia
enfiar a pata, tentando tirar o camundongo
de seu esconderijo. Depressa o camundongo
abriu a boca na esperança de que a pata
entrasse nela, e o gato fosse assim impedido
de apertar as garras contra sua carne. Mas
como a cavidade da boca não era grande o
bastante o gato conseguiu abrir com as
garras as bochechas do camundongo. Isso
não ajudou muito, pois apenas alargou a boca
do rato, e a presa acabou escapando. Depois
de sua escapada feliz o camundongo
69.
70. Lendas dos Judeus é uma compilação de
lendas judaicas recolhidas das fontes
originais do midrash (particularmente o
Talmude) pelo talmudista lituano Louis
Ginzberg (1873-1953). Lendas foi publicado
em 6 volumes (sendo dois volumes de notas)
entre 1909 e 1928.
71. Todas as coisas louvam ao Senhor
93.
94. Lendas dos Judeus é uma compilação de
lendas judaicas recolhidas das fontes
originais do midrash (particularmente o
Talmude) pelo talmudista lituano Louis
Ginzberg (1873-1953). Lendas foi publicado
em 6 volumes (sendo dois volumes de notas)
entre 1909 e 1928.
1
Salmo 85:11
2
Salmo 8:4
117.
118. Lendas dos Judeus é uma compilação de
lendas judaicas recolhidas das fontes
originais do midrash (particularmente o
Talmude) pelo talmudista lituano Louis
Ginzberg (1873-1953). Lendas foi publicado
em 6 volumes (sendo dois volumes de notas)
entre 1909 e 1928.
140.
Os nomes dos animais não foram a única
herança deixada por Adão para as gerações
que seguiram-se a ele, pois a humanidade
deve a ele todos os ofícios, especialmente a
arte de escrever, e foi ele o inventor de todos
os setenta idiomas. Ainda outra tarefa Adão
realizou pelos seus descendentes: Deus
mostrou a ele toda a terra, e Adão designou
quais lugares seriam mais tarde ocupados
pelos homens, bem como os lugares que per-
maneceriam desabitados.
141.
142. Lendas dos Judeus é uma compilação de
lendas judaicas recolhidas das fontes
originais do midrash (particularmente o
Talmude) pelo talmudista lituano Louis
Ginzberg (1873-1953). Lendas foi publicado
em 6 volumes (sendo dois volumes de notas)
entre 1909 e 1928.
Estocado em GOIABAS
ROUBADAS · ILUSTRAÇÃO
ADÃO: A queda de Satanás
As extraordinárias qualidades com que Adão foi
abençoado, tanto físicas quanto espirituais, susci-
taram a inveja dos anjos. Esses tentaram
consumi-lo com fogo, e ele teria perecido, não
tivesse a mão protetora de Deus se estendido
sobre ele, e estabelecido a paz entre ele e os
exércitos celestiais.
Satanás, em particular, tinha ciúme do primeiro
homem, e seus maus pensamentos levaram por
fim à sua queda. Depois de ter dotado Adão de
alma, Deus convidara todos os anjos para virem e
prestarem-lhe reverência e homenagem. Satanás,
o mais insígne anjo do céu, dotado de doze asas
ao invés das seis de todos os outros, recusara-se a
obedecer à ordem de Deus, dizendo:
– Criaste a nós, os anjos, a partir do esplendor
da Shekiná, e agora ordenas que nos prostremos
diante da criatura que moldaste do pó da terra!
Deus respondeu:
– Todavia o pó da terra exibe mais sabedoria e
entendimento do que você.
Satanás exigiu uma prova de inteligência com
Adão, e Deus assentiu, dizendo:
– Criei animais selvagens, pássaros e répteis. Tra-
los-ei a todos diante de você e de Adão. Se você
for capaz de dar nomes a eles, mandarei que Adão
lhe preste homenagem, e você habitará junto à
Shekiná da minha glória. Caso contrário, no
entanto, se Adão chamá-los pelos nomes que
designei a eles, você se sujeitará a Adão, e ele terá
um lugar no meu jardim, e o cultivará.
“Preste adoração à imagem de Deus!”
Assim disse Deus e dirigiu-se ao Paraíso, seguido
por Satanás. Quando viu a Deus, Adão disse a sua
mulher:
– Venha, adoremos e prostemo-nos; ajoelho-mo-
nos diante do Senhor, nosso Criador.
Satanás tentou então atribuir nomes aos animais,
tendo fracassado nas duas primeiras tentativas, o
touro e a vaca. Deus conduziu dois outros animais
até diante dele, o camelo e o jumento, com o
mesmo resultado. Deus voltou-se então para
Adão, e questionou-lhe a respeito dos nomes dos
mesmos animais, construindo suas perguntas de
modo a que a primeira letra da primeira palavra
fosse a primeira letra do nome do animal posto
diante dele. Desta forma Adão foi capaz de
adivinhar os nomes corretamente, e Satanás viu-
se forçado a reconhecer a superioridade do
primeiro homem. Ele porém irrompeu em
clamores bárbaros que atingiram o céu,
recusando-se a prestar homenagem a Adão como
lhe havia sido ordenado.
O exército de anjos comandado por Satanás agiu
da mesma forma, a despeito dos protestos de
Miguel, que foi o primeiro a prostrar-se diante de
Adão a fim de dar exemplo aos outros anjos.
Miguel dirigiu-se a Satanás:
– Preste adoração à imagem de Deus! Se você se
recusar, o Senhor Deus lançar-se-á em cólera
contra você.
Satanás retrucou:
– Se ele se lançar em cólera contra mim, exaltarei
meu trono acima das estrelas de Deus, e serei
como o Altíssimo!
Imediatamente Deus lançou Satanás e seu
exército para fora do céu sobre a terra, e é
daquele momento que data a inimizade entre
Satanás e o homem.
144. A mulher
145. PAULO BRABO, 21 DE FEVEREIRO
DE 2007
146. A MULHER
148.
149. ADÃO: A mulher
150. Quando abriu seus olhos pela primeira
vez e contemplou o mundo ao seu redor,
Adão irrompeu em louvor a Deus:
151. — Quão grandes são tuas obras, Senhor!
152. Porém sua admiração pelo mundo ao seu
redor não excedeu a admiração que todas as
coisas criadas dispensaram a Adão. Elas
tomaram-no por seu criador, e vieram
prestar-lhe adoração. Ele porém disse:
153. — Por que vocês vêem adorar a mim?
Não, eu e vocês juntos reconheceremos a
majestade e o poder daquele que nos criou a
todos. “O Senhor reina” — declarou ele, — “e
está revestido de majestade!”
154. Não apenas as criaturas da terra: até
mesmo os anjos chegaram a pensar que Adão
fosse senhor de todos, e eles estavam prestes
a saudá-lo com o “Santo, santo, santo é o
Senhor dos exércitos” quando Deus fez com
Adão caísse no sono; os anjos souberam
então que ele não passava de um ser humano.
155. O propósito do sono que recaiu sobre
Adão era dar a ele uma esposa, para que a
raça humana pudesse se desenvolver e todas
as criaturas reconhecessem a diferença entre
Deus e o homem. Quando ouviu o que Deus
estava decidido a fazer, a terra começou a
tremer e sacudir.
156. — Não tenho forças — ela disse – para
prover comida para multidão dos descenden-
tes de Adão.
157. Por essa razão o tempo foi dividido entre
Deus e a terra: Deus ficou com a noite, a terra
com o dia. O sono reconfortante sustenta e
fortalece o homem, proporciona-lhe vida e
descanso, enquanto a terra produz fruto com
a ajuda de Deus, que a rega. Ainda assim o
homem tem de trabalhar a terra a fim de
ganhar o seu sustento.
158. A decisão divina de conceder uma com-
panheira a Adão veio ao encontro dos anseios
do homem, que havia sido tomado por uma
sensação de isolamento quando os animais
vieram até ele em pares para receberem
seus nomes.
159. Apesar de todo cuidado empregado,
a mulher apresenta todas as falhas que
Deus procurou evitar.
160. A fim de banir sua solidão, a primeira
mulher dada como esposa a Adão foi Lilith.
Como ele, Lilith foi criada do pó da terra; ela
porém permaneceu com ele por um intervalo
muito curto, porque insistia em desfrutar de
igualdade completa com seu marido. Ela jus-
tificava seus direitos a partir de sua origem
comum. Com a ajuda do Nome Inefável, que
ela proferiu, Lilith fugiu de Adão e desapare-
ceu em pleno ar. Adão veio reclamar diante
de Deus que a mulher que ele lhe havia dado
o havia abandonado, e Deus enviou três anjos
para capturá-la. Esses foram encontrá-la no
Mar Vermelho, e tentaram fazê-la voltar com
a ameaça de que caso não fosse ela perderia
diariamente cem de seus filhos-
demônios.
178.
Adão deu a sua mulher o nome de Ishah e
passou a chamar a si mesmo de Ish, abando-
nando o nome Adão, que ele usara antes da
criação de Eva. Isso porque Deus acrescen-
tara seu próprio nome Yah aos nomes do
homem e da mulher – a letra Yoide a Ish e a
letra He a Ishah, – para indicar que enquanto
andassem nos caminhos de Deus e observas-
sem os seus mandamentos, seu nome lhes
seria um escudo contra todo mal. Porém se se
desviassem seu nome seria retirado, e ao
invés de Ish restaria Esh, o fogo, um fogo
brotando de cada um e consumindo o outro.
179. Lendas dos Judeus é uma compilação de
lendas judaicas recolhidas das fontes
originais do midrash (particularmente o
Talmude) pelo talmudista lituano Louis
Ginzberg (1873-1953). Lendas foi publicado
em 6 volumes (sendo dois volumes de notas)
entre 1909 e 1928.
190.
221.
222. 1
Conforme Jeremias 31:30
223. 2
Conforme Salmo 36:11
224. A punição
ADÃO: A punição
Enquanto Adão permaneceu nu, buscando algum
meio de escapar do seu embaraço, Deus não
apareceu a ele, pois não devemos “nos esforçar
para ver um homem na hora da sua desgraça”. Ele
esperou que Adão e Eva se cobrissem com folhas
de figueira. Porém mesmo antes que Deus falasse
com ele, Adão sabia o que estava para acontecer.
Ele ouviu os anjos anunciarerm:
– Deus está dirigindo-se àqueles que habitam o
Paraíso.
Ele ouviu mais, aquilo que os anjos estavam
dizendo uns aos outros sobre a sua queda, e o que
estavam dizendo a Deus. Perplexos, os anjos
exclamavam:
– Quê? Ele ainda anda livremente pelo Paraíso?
Não morreu ainda?
Pelo que Deus se pronunciou:
– Eu disse a ele “no dia em que comer você certa-
mente morrerá”. Ora, vocês não sabem de que
tipo de dia eu estava falando; se de um dos meus
dias de mil anos ou de um dos dias de vocês.
Darei a ele um dos meus dias: ele terá novecentos
e trinta anos para viver, e setenta para deixar aos
seus descendentes.
Quando Adão e Eva ouviram Deus se aproxi-
mando, esconderam-se entre as árvores – o que
não teria sido possível antes da queda. Antes de
cometer o seu pecado, a altura de Adão ia da terra
ao céu, mas depois foi reduzida a cem côvados.
Outra conseqüência do seu pecado foi o medo que
Adão sentiu quando ouviu a voz de Deus; antes da
queda ela não o inquietava de modo algum. Por
isso quando Adão disse “Ouvi a sua voz no jardim
e tive medo”, Deus replicou: “Antes você não
tinha medo, agora tem?”
Deus conteve as repreensões a princípio. Em pé
no portão do Paraíso ele apenas perguntou:
– Adão, onde está você?
Deus queria dar a ele a oportunidade de
se arrepender.
Através disso Deus estava querendo ensinar ao
homem uma regra de boas maneiras, a de nunca
entrar na casa de outra pessoa sem anunciar-se
primeiro. Não há como negar que as palavras
“onde está você?” estavam prenhe de signficado;
elas destinavam-se a fazer com que Adão perce-
besse a vasta diferença entre seu estado anterior
e o atual: entre seu tamanho sobrenatural
anterior e as dimensões reduzidas de agora;
entre o senhorio do Senhor de antes e o senhorio
da serpente de agora. Ao mesmo tempo, Deus
queria dar a ele a oportunidade de se arrepender
do seu pecado, para o qual Adão teria recebido o
perdão divino. Porém, longe de arrepender-se,
Adão difamou a Deus, proferindo blasfêmias
contra ele. Quando Deus perguntou: “Você comeu
da árvore que eu mandei que não comesse?”
Adão não confessou o seu pecado, mas tentou
justificar-se com as seguintes palavras:
– Ah, Senhor do mundo! Enquanto eu estava
sozinho não caí em pecado, mas logo que me veio
essa mulher ela me tentou.
Deus replicou:
– Eu a dei a você para ajudá-lo, e você está se
mostrando ingrato ao acusá-la dessa forma,
dizendo “foi ela que me deu o fruto da árvore”.
Você não a deveria ter obedecido, pois a cabeça é
você, não ela.
Deus, que sabe todas as coisas, já havia previsto
exatamente isso, e não havia criado Eva até que
Adão lhe pedisse uma ajudadora, para que ele
tentasse colocar a culpa em Deus por ter criado a
mulher.
Adão tentava colocar em outra pessoa a culpa
pelo seu delito, e o mesmo fez Eva. A mulher,
como seu marido, também não confessou sua
transgressão e orou por perdão, o que teria sido
concedido a ela. Gracioso como é, Deus não teria
proferido condenação sobre Adão e Eva antes
deles se mostrarem obstinados. Não foi assim
com a serpente. Deus infligiu a maldição sobre a
serpente sem ouvir a sua defesa, porque a
serpente é perversa, e os iníquos são bons argu-
mentadores. Se Deus a tivesse questionado a
serpente teria perguntado:
– O senhor deu-lhes um mandamento e eu o
neguei. Por que eles obedeceram a mim e não ao
senhor?
Por isso Deus não entrou numa discussão com a
serpente, mas decretou diretamente as seguintes
dez punições: a boca da serpente foi fechada e ela
perdeu a capacidade de falar; suas mãos e pés
foram cortados fora; a terra lhe foi dada como
alimento; ela é forçada a sofrer dor intensa
durante a troca de pele; inimizade passou a
existir entre ela e o homem; se ela comer as
iguarias mais finas ou beber as bebidas mais
doces, essas se transformarão em pó na sua boca;
a gravidez da fêmea dura sete anos; as pessoas
tentarão matá-la logo que a virem; mesmo no
mundo futuro, quando todos os seres serão
benditos, ela não escapará a punição decretada
para ela; e desaparecerá da Terra Santa se Israel
seguir nos caminhos do Senhor.
Além disso, Deus disse à serpente:
– Criei você para reinar sobre todos os animais,
tanto os animais domésticos quanto as feras do
campo, mas isso não lhe satisfez. Você será por
essa razão mais maldita do que qualquer animal
doméstico ou fera do campo. Criei você para ter
uma postura ereta, mas isso não lhe satisfez. Você
deverá por essa razão andar sobre sua barriga.
Criei você para comer a mesma comida que o
homem, mas isso não lhe satisfez. Você deverá
por essa razão comer poeira todos os dias da sua
vida. Você procurou causar a morte de Adão a fim
tomar dele a sua esposa. Eu por isso estabeleço
inimizade entre você e a mulher.
Quão verdadeiro é que aquele que cobiça o que
não lhe é devido não apenas não obtém o que
deseja, mas perde também aquilo que tem!
Os anjos estavam presentes quando a condenação
foi proferida contra a serpente (pois Deus havia
convocado o Sinédrio dos setenta e um anjos ao
sentar-se para julgá-la), portanto a execução do
decreto contra ele foi confiada aos anjos. Eles
desceram do céu e cortaram as mãos e os pés da
serpente. Seu sofrimento foi tamanho que seus
berros de agonia foram ouvidos de uma extremi-
dade a outra do mundo.
O veredito contra Eva consistiu também de dez
maldições, sendo que o seu efeito é ainda percep-
tível até hoje na condição física, espiritual e social
da mulher. Não foi o próprio Deus que anunciou a
Eva a sua sina. A única mulher com quem Deus
jamais falou foi Sara. No caso de Eva ele valeu-se
dos serviços de um intérprete.
Finalmente, a punição de Adão também foi
dividida em dez partes: ele perdeu seu traje
celestial – Deus o despiu; com dificuldade ele
teria de ganhar o seu pão; a comida que ele comia
se transformaria de boa em ruim; seus filhos
vagariam pela terra; seu corpo secretaria suor;
ele teria uma inclinação para o mal; na morte seu
corpo seria presa de vermes; os animais teriam
poder sobre ele, no sentido de que poderiam
matá-lo; seus dias seriam poucos e cheios de
adversidade; e no fim ele teria de prestar contas
de toda a sua conduta sobre a terra.
Deus teria permitido que eles permane-
cessem no Paraíso.
Esses três pecadores não foram os únicos a
receberem punição. A terra não teve melhor
sorte, sendo culpada de vários delitos. Em
primeiro lugar, ela não havia obedecido por
completo à ordem que Deus dera no terceiro dia,
de produzir “árvores frutíferas”. O que Deus
desejara era uma árvore cuja madeira fosse
agradável ao paladar da mesma forma que o
fruto. A terra produziu árvores que davam frutos,
mas a árvore em si não era comestível. A terra,
além disso, não cumpriu o seu dever em relação
ao pecado de Adão. Deus havia designado o sol e
a terra para testemunharem contra Adão caso ele
transgredisse. O sol, em conformidade com isso,
escurecera no instante em que Adão tornara-se
culpado de desobediência; porém a terra, não
sabendo como apontar a queda de Adão,
desconsiderou-a por completo. A terra sofreria
também uma punição dividida em dez partes:
sendo antes independente, a terra teria agora de
esperar para ser regada pela chuva do alto; os
grãos que ela produz seriam suscetíveis a resse-
camento e mofo; ela teria de produzir toda
espécie de vermes odiáveis; a partir daquele
momento ela seria dividida em vales e
montanhas; teria de fazer crescer árvores infe-
cundas, que não dão fruto; espinhos e abrolhos
brotariam dela; muito seria semeado na terra,
mas pouco colhido; no futuro a terra terá de
revelar o sangue que abriga, não podendo mais
encobrir seus mortos; e, finalmente, ela
deveria envelhecer como uma roupa.
Quando Adão ouviu as palavras “você produzirá
espinhos e abrolhos” dirigidas [por Deus] à terra,
seu rosto começou a suar, e ele disse:
– Quê? Será que eu e meu gado comeremos do
mesmo coxo?
O Senhor teve misericórdia dele, e disse:
– Por causa do suor do seu rosto, você comerá
pão.
A terra não foi a única coisa criada a sofrer com o
pecado de Adão. O mesmo destino sobreveio à
lua. Quando a serpente seduziu Adão e Eva,
expondo a sua nudez, ambos choraram amarga-
mente, e com eles choraram o céu, o sol e as
estrelas, e todos os seres criados e coisas diante
do trono de Deus. Os próprios anjos e seres celes-
tiais lamentaram a transgressão de Adão. Apenas
a lua riu, pelo que Deus se enfureceu e diminuiu a
sua luminosidade. Ao invés de brilhar de forma
invariável como o sol, ao longo de todo o dia, a lua
envelhece rápido, e é obrigada a nascer e
renascer vez após outra.
A conduta insensível da lua ofendeu a Deus, não
apenas pelo contraste com a compaixão demons-
trada por todas as outras criaturas, mas porque
ele mesmo enchera-se de pena de Adão e sua
esposa. Ele fez para eles roupas da pele tirada da
serpente, e teria feito ainda mais; teria permitido
que eles permanecessem no Paraíso, se eles
apenas tivessem se mostrado arrependidos. Mas
Adão e Eva recusaram-se a se arrepender e
tiveram de partir, para que seu entendimento
semelhante ao divino não os levasse a pilhar a
árvore da vida e aprendessem a viver para
sempre. De certo modo, ao expulsá-los do
Paraíso, Deus não deixou que o atributo divino da
justiça prevalecesse por completo. Ele associou
misericórdia à justiça, e enquanto partiam
ele disse:
– Ah, que pena que Adão não foi capaz de guardar
o mandamento dado a ele nem por um pouco
de tempo!
Para guardar a entrada do Paraíso, Deus designou
os querubins, também chamados de espadas fla-
mejantes eternamente revolventes, porque os
anjos podem alternar-se entre um formato e
outro de acordo com a necessidade. Ao invés da
árvore da vida, Deus deu a Adão a Torá, que é
semelhantemente uma árvore da vida para os que
se apegam a ela, permitindo que ele habitasse no
oriente, nas proximidades do Paraíso.
Tendo a sentença sido pronunciada sobre Adão,
Eva e a serpente, o Senhor ordenou que os anjos
conduzissem o homem e a mulher para fora do
Paraíso. Esses começaram a chorar e suplicar
amargamente, e os anjos tiveram pena deles,
deixando de cumprir a ordem divina até que
pudessem pedir a Deus que mitigasse o seu
severo veredito. Porém o Senhor foi irredutível:
– Fui por acaso eu que cometi uma transgressão
ou pronunciei falso julgamento?
Também a oração de Adão, que lhe fosse dado de
comer o fruto da árvore da vida, foi negada –
porém com a promessa de que, se ele levasse uma
vida piedosa, ser-lhe-ia dado o fruto no dia da
ressurreição, e viveria para sempre.
Eles haviam desfrutado dos esplendores
do Paraíso por poucas horas.
Vendo que Deus estava irremediavelmente
decidido, Adão começou a chorar e implorar aos
anjos que lhe dessem pelo menos permissão para
levar consigo especiarias de doce aroma para fora
do Paraíso, para que lá fora ele também pudesse
oferecer ofertas a Deus, e suas orações fossem
aceitas diante do Senhor. Pelo que os anjos foram
até Deus e disseram:
– Rei da eternidade, ordena-nos que demos a
Adão temperos de doce aroma do Paraíso.
E Deus ouviu a oração deles. Adão colheu açafrão,
nardo, cálamo e canela, e além disso toda sorte de
sementes para o seu sustento. Carregando essas
coisas, Adão e Eva deixaram o paraíso e vieram à
terra. Eles haviam desfrutado dos esplendores do
Paraíso por um brevíssimo período, de umas
poucas horas. Foi na primeira hora do sexto dia
da criação que Deus teve a idéia de criar o
homem; na segunda hora ele pediu o conselho
dos anjos; na terceira ele juntou terra para o
corpo do homem; na quarta, formou Adão; na
quinta revestiu-o de pele; na sexta seu corpo sem
alma estava completo, de modo que ele podia
postar-se de pé; na sétima a alma foi soprada
nele; na oitava o homem foi conduzido ao
Paraíso; na nona foi dada a ele a ordem divina
que proibia-o de comer o fruto da árvore no meio
do jardim; na décima ele transgrediu essa ordem;
na décima primeira foi julgado, e na décima
segunda hora foi expulso do Paraíso para
expiação do seu pecado.
229.
230. ADÃO: O sábado no céu
231. Antes que o mundo fosse criado ninguém
havia para louvar a Deus e conhecê-lo. Por
essa razão ele criou os anjos e os santos
Hayyot, o céu e todo o seu exército e também
Adão. Todos esses deveriam louvar e glorifi-
car o seu Criador. Durante a semana da
criação, no entanto, não era apropriado
louvar o Senhor e proclamar o seu esplendor.
Apenas no Sábado, quando toda a criação
cessou, os seres da terra e do céu, todos
juntos, irromperam em cântico e adoração
enquanto Deus subia até seu trono e tomava
assento nele. Era no Trono da Alegria que ele
assentava-se, e fez passar todos os anjos
diante de si – o anjo da água, o anjo dos rios,
o anjo das montanhas, o anjo das colinas, o
anjo dos abismos, o anjo dos desertos, o anjo
do sol, o anjo da lua, o anjo das Plêiades, o
anjo de Orion, o anjo das ervas, o anjo do
Paraíso, o anjo do Gehenna, o anjo das
árvores, o anjo dos répteis, o anjo dos
animais selvagens, o anjo dos animais domés-
ticos, o anjo dos peixes, o anjo dos gafanho-
tos, o anjo dos pássaros, o anjo-chefe sobre
os anjos, o anjo de cada um dos céus, o anjo-
chefe de cada divisão dos exércitos celestiais,
o anjo-chefe dos Hayyot, o anjo-chefe dos
querubins, o anjo-chefe dos ofanim, e todos
os outros esplêndidos, terríveis e poderosos
anjos.
232. Esses todos compareceram diante de
Deus com grande alegria, banhados numa
torrente de alegria, e regozijaram-se e
dançaram e cantaram, e exaltaram o Senhor
com muitos louvores e muitos instrumentos.
233. Era no Trono da Alegria que ele
assentava-se.
234. Os anjos ministrantes começaram:
235. – Dure para sempre a glória do Senhor!
236. E o restante dos anjos retomaram a
canção com as seguintes palavras:
237. – Alegre-se o Senhor nas suas obras!
238. Arabot, o sétimo céu, estava cheio de
júbilo e glória, esplendor e força, poder e
força e orgulho e magnificência e grandiosi-
dade, louvor e celebração, cântico e alegria,
lealdade e integridade, honra e adoração.
239. O Senhor chamou então o Anjo do
Sábado para assentar-se num trono de glória,
e trouxe diante dele os anjos-chefes de todos
os céus e de todos os abismos, e convocou-os
a dançar e celebrar, dizendo:
240. – É Sábado diante do Senhor!
241. Os príncipes exaltados do céu
responderam:
242. – Diante do Senhor é Sábado!
243. Foi permitido até mesmo a Adão subir ao
mais alto céu, para participar dos festejos por
causa do Sábado.
244. Foi conferindo a alegria do Sábado sobre
todos os seres, sem excetuar Adão, que o
Senhor dedicou sua criação. Ao ver a
majestade do Sábado, sua honra e grandiosi-
dade, e a felicidade que conferia a todos, por
ser a fonte de toda alegria, Adão entoou uma
canção de louvir ao dia do Sábado. Deus
então disse a ele:
245. – Você canta uma canção em louvor ao
dia do Sábado, e a mim, o Deus do Sábado,
não canta canção alguma?
246. Diante do que o Sábado ergueu-se do seu
assento e prostrou-se diante de Deus,
dizendo:
247. – Bom é dar graças ao Senhor.
248. E toda criação acrescentou:
249. – E cantar louvores ao seu nome, ó,
Altíssimo.
250. Este foi o primeiro sábado, e esta foi sua
celebração no céu por parte de Deus e dos
anjos. Os anjos foram informados na mesma
ocasião que em em dias futuros Israel obser-
varia aquele dia como santo de modo similar.
251. – Separarei para mim mesmo um povo
dentre todos os povos – Deus disse a eles. –
Esse povo guardará o Sábado, e eu o santifi-
carei para que seja o meu povo, e eu serei o
seu Deus. De todos que tenho visto, escolhi
toda a semente de Israel, e o designei como
meu filho primogênito, e o santifiquei para
mim mesmo por toda a eternidade, a ele e ao
Sábado, para que guarde o Sábado e
abstenha-se nele de qualquer trabalho.
252. Para Adão o Sábado teve um significado
peculiar. Quando ele foi forçado a abandonar
o Paraíso no crepúsculo da véspera de
Sábado, os anjos disseram enquanto ele se
afastava:
253. – Adão não passou nem sequer uma noite
residindo na sua glória.
254. O Sábado então apareceu diante de Deus
para defender Adão, e disse:
255. – Ó Senhor do mundo, nos seis dias de
trabalho nenhuma criatura foi morta. Se o
senhor começar agora matando Adão, o que
será da santidade e da benção do Sábado?
256. Deste modo Adão foi resgatado dos fogos
do inferno, que seriam a punição adequada
para seus pecados. Ele em gratidão compôs
uma salmo em honra ao Sábado, que Davi
mais tarde incorporou no seu saltério.
257. Ainda outra oportunidade foi concedida a
Adão de aprender e apreciar o valor do
Sábado. A luz celestial, através da qual Adão
podia contemplar o mundo de ponta a ponta,
deveria por justiça ter desaparecido imedia-
tamente após o seu pecado. Porém, por consi-
deração ao Sábado, Deus permitiu que essa
luz continuasse a brilhar, e os anjos, ao entar-
decer do sexto dia, entoaram uma canção de
louvor e gratidão a Deus, pela luz radiante
que brilhava noite adentro. Apenas quando o
Sábado foi embora a luz celestial cessou, para
consternação de Adão, que temia que a
serpente pudesse atacá-lo no escuro. Deus
porém iluminou o seu entendimento, e ele
aprendeu a esfregar duas pedras uma contra
a outra e desta forma produzir luz para
suprir suas necessidades.
258. A luz celestial foi apenas uma das sete
dádivas preciosas das quais Adão desfrutou
antes da queda e que serão concedidas
novamente ao homem apenas na era messiâ-
nica. As outras são a resplandescência do seu
rosto, a vida eterna, a elevada estatura, os
frutos do solo, os frutos da árvore e as lumi-
nárias do céu, o sol e a lua – pois no mundo
que há de vir a luz da lua será como a luz do
sol, e a luz do sol será sete vezes mais
intensa.
259.
260. Photo by wiseacre
266.
267. ADÃO: O livro de Raziel
268. Depois de ser expulso do Paraíso Adão
orou a Deus com as seguintes palavras:
269. – Ó Deus, Senhor do mundo! O senhor
criou o mundo inteiro para honra e glória do
Poderoso, e fez da forma que lhe agradou.
Seu reino é por toda a eternidade, e seu
reinado por todas as gerações. Nada lhe está
oculto, e nada escondido dos seus olhos. O
senhor criou-me como obra das suas mãos, e
estabeleceu-me como governante sobre as
suas criaturas, para que eu exercesse
domínio sobre as suas obras. Porém a
ardilosa e execrável serpente seduziu-me
com desejo e com lascívias; seduziu, é
verdade, a esposa do meu coração. O senhor,
no entanto, não revelou-me o que sobrevirá a
meus filhos e às gerações depois de mim. Sei
muito bem que nenhum ser humano é capaz
de ser íntegro aos seus olhos. E que é minha
força para que eu me coloque na sua
presença com rosto impudente? Não tenho
boca com que falar nem olho com o qual ver,
pois verdadeiramente pequei e cometi trans-
gressão, e por causa dos meus pecados fui
expulso do Paraíso. Devo arar a terra da qual
fui tomado, e os demais habitantes da terra,
os animais selvagens, não mais, como antes,
demonstram assombro e temor diante de
mim. A partir do instante em que comi da
árvore do conhecimento do bem e do mal a
sabedoria me abandonou: sou um tolo que
nada sabe, um ignorante que nada compre-
ende. Agora, misericordioso e gracioso Deus,
peço que volte novamente a sua compaixão
ao cabeça das suas obras, ao espírito que
instilou nele e à alma que soprou nele. Venha
ao meu encontro com a sua graça, pois o
senhor é gracioso, tardio em irar-se e pleno
de amor. Que a minha oração alcance o trono
da sua glória, e a minha súplica o trono de
sua misericórdia; que o senhor se incline na
minha direção com amor. Que as palavras da
minha boca sejam aceitáveis, e o senhor não
dê as costas à minha petição. O senhor é
desde a eternidade e será até a eternidade;
era rei, e será rei. Tenha agora misericórdia
da obra das suas mãos; conceda-me conheci-
mento e compreensão, para que eu saiba o
que sobrevirá a mim, à minha posteridade e a
todas as gerações que virão depois de mim, e
o que me sobrevirá a cada dia e a cada mês.
Não negue a mim o auxílio dos seus servos e
dos seus anjos.
270. No terceiro dia depois que Adão ofereceu
essa oração, enquanto sentava às margens do
rio que flui do Paraíso, apareceu a ele, na
hora mais quente do dia, o anjo Raziel,
trazendo nas suas mãos um livro. O anjo
dirigiu-se a Adão com as seguintes palavras:
271. – Adão, porque está tão desanimado?
Porque tão aflito e ansioso? As suas palavras
foram ouvidas no momento em que, entre
apelos e súplicas, você as proferiu, e recebi a
incumbência de ensinar-lhe palavras puras e
compreensão profunda, de torná-lo sábio
através do conteúdo do livro sagrado que
trago nas mãos, e de dar-lhe a conhecer o que
irá lhe sobrevir até o dia da sua morte.
Quanto a todos os seus descendentes e todas
as gerações posteriores, se lerem este livro
em pureza, com um coração devoto e uma
mente humilde, e obedecerem aos seus
preceitos, tornar-se-ão como você: eles
também saberão de antemão o que aconte-
cerá, em qual mês e em qual dia ou qual
noite. Tudo estará manifesto para eles:
saberão e compreenderão se uma calamidade
está por vir, uma fome ou animais selvagens,
inundações ou seca; se haverá abundância de
grão ou escassez; se os perversos governarão
o mundo; se gafanhotos devastarão a terra;
se os frutos cairão das árvores ainda verdes;
se furúnculos afligirão os homens; se guerras
predominarão, ou doenças ou pragas entre
homens e gado; se o bem foi resolvido no céu,
ou o mal; se o sangue fluirá, e o rumor de
morte dos abatidos será ouvido na cidade. E
agora, Adão, venha e dê ouvidos a tudo que
lhe direi a respeito da natureza deste livro e
da sua santidade.
272. O anjo Raziel então leu do livro e, quando
ouviu as palavras do santo volume proferidas
pela boca do anjo, Adão caiu no chão, tomado
de pavor. Porém o anjo o encorajou:
273. – Levante-se, Adão – ele disse. –
Coragem, não tenha medo, aceite este livro
de mim e guarde-o, pois dele você extrairá
conhecimento e se tornará sábio, e irá
também ensinar o conteúdo dele a todos que
forem dignos de saberem o que ele contém.
274. No momento em Adão pegou o livro uma
chama de fogo brotou das proximidades do
rio, e o anjo subiu sobre ela em direção ao
céu. Adão então soube que o que havia falado
com ele era um anjo de Deus, e que o livro
vinha do próprio Rei Santo, e usou-o em
santidade e pureza. Esse é o livro do qual
podem ser aprendidas todas as coisas que
vale à pena saber, e todos os mistérios; que
ensina também como invocar os anjos e fazê-
los aparecerem diante dos homens, e respon-
derem todas as suas perguntas. Porém não
são todos que podem fazer uso do livro,
apenas aquele que é sábio e temente a Deus,
e recorre a ele em santidade. Esse estará
seguro contra todos os conselhos perversos,
sua vida será serena, e quando a morte tirá-lo
do mundo, encontrará repouso num lugar
onde não há nem demônios nem espíritos do
mal, e das mãos dos perversos será veloz-
mente resgatado.
275. * * *
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Em grande parte foram os anjos caídos e sua posteridade de gigantes que ocasio-
naram a depravação da humanidade. O sangue derramado pelos gigantes clamava
da terra até o céu, e os quatro arcanjos acusaram os anjos caídos e seus filhos
diante de Deus, pelo que ele deu-lhes uma série de ordens. Uriel foi enviado a Noé
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Sete nasceu formado de tal modo que não foi necessário executar nele o rito da
circuncisão. Dessa forma Sete foi um dos treze homens que de algum modo
nasceram perfeitos ((Segundo uma tradição judaica, os treze homens que
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Elas referiam-se ao fato de que Adão vinha ele mesmo vivendo separado da esposa
desde a morte de Abel, pois havia dito: “porque eu deveria gerar filhos, se é para
expô-los à morte?”
Embora evitasse o intercurso com Eva, Adão era visitado em seus sonhos por
espíritos do sexo feminino, e dessa união com elas foram gerados demônios de
várias espécies, que foram dotados de capacidades peculiares.
Quando foi expulso do Paraíso, Adão chegou primeiro à mais inferior das sete
terras, Erez, que é escura, sem um raio de luz, e inteiramente vazia. Ele ficou
apavorado, especialmente diante das chamas da espada que se revolve incessante-
mente, e que está nesta terra.
Depois que Adão efetuou penitência Deus conduziu-o à segunda terra, Adamah,
onde há luz refletida do seu próprio céu e de suas estrelas e constelações seme-
lhantes a espectros. Aqui habitam os seres semelhantes a espectros frutos da união
de Adão com os espíritos. Vivem perpetuamente tristes; a emoção da alegria é
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A GERAÇÃO DO DILÚVIO
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NOÉ SAI DA ARCA
Porém quando Deus lhe disse que saísse da arca Noé se recusou, pois temia que
depois de viver sob terra seca por algum tempo e gerar filhos, Deus traria outro
dilúvio. Ele não saiu da arca até Deus jurar que jamais voltaria a visitar a terra com
um dilúvio.
“Isso eu lhe disse para que você pudesse implorar mise ricórdia para
a terra”.
Quando saiu da arca e pisou em céu aberto, Noé chorou amargamente diante da
devastação causada pelo dilúvio
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