Conservação e Manejo de Grandes Felinos
Conservação e Manejo de Grandes Felinos
Conservação e Manejo de Grandes Felinos
Coordenação:
Dênis Aléssio Sana – Biólogo (Instituto Pró-Carnívoros)
Ronaldo Gonçalves Morato, PhD – Médico Veterinário (Instituto Pró-
Carnívoros)
Pesquisadores Associados:
Eduardo Eizirik, PhD – Biólogo (Instituto Pró-Carnívoros)
Laury Cullen Jr., MSc – Engenheiro Florestal (Instituto de Pesquisas
Ecológicas - IPÊ)
Laury Cullen Jr
Eng. Florestal
Instituto de Pesquisas Ecológicas - IPÊ
Eduardo Eizirik
Biólogo
Instituto Pró-Carnívoros
Subprojeto I - Ecologia e conservação de grandes felinos no
Alto Rio Paraná
Introdução
Os grandes felinos, como a onça-pintada (Panthera onca) e a onça-parda (Puma
concolor), predadores de topo na pirâmide alimentar, são espécies que desempenham
importantes funções na regulação dos processos ecológicos (predador/presa), mantendo a
diversidade de espécies e o equilíbrio dos ecossistemas (Terborgh et al. 1999). A onça-
pintada tem sido utilizada como espécie focal, no planejamento de áreas de conservação,
já que as necessidades para sua sobrevivência refletem um ambiente ecologicamente
saudável (Miller e Rabinowitz, 1999) e como “detetives ecológicos” da paisagem, na
identificação de áreas importantes para a conservação da biodiversidade e no manejo para
melhoria de habitat (Cullen et al. 2005).
A onça-pintada é considerada criticamente ameaçada na mata atlântica (CBSG,
1995). Com apenas 8% da floresta original, estima-se que sua população é de poucos
indivíduos (Leite e Boulhosa, 1999), e em algumas áreas dentro do domínio deste bioma
como nas várzeas do rio Paraná (mata atlântica de interior), está distribuída em
metapopulações ameaçadas e possivelmente em processo de isolamento (Sana et al.
2000).
Esta área úmida têm sofrido grandes impactos ambientais, seja para utilização
agro-pastoril ou pela construção de hidrelétricas alagando extensas áreas de várzea. A
planície de inundação do alto rio Paraná, na divisa do Mato Grosso do Sul com os
estados de São Paulo e Paraná possui apenas 35% de sua extensão livre de barragens
(Agostinho e Zalewsky, 1996).
Nesta região desenvolvemos estudos de ecologia envolvendo padrões de
movimentos e utilização de área por grandes felinos, dando ênfase às áreas mais
preservadas, como o Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema (PEVRI), MS, na
jusante da hidrelétrica Sérgio Motta (Porto Primavera). Também é priorizada a espécie
Panthera onca, devido a sua maior vulnerabilidade e exigências ecológicas, visando
auxiliar no plano de manejo regional desta espécie.
Apresentamos neste relatório dados referentes ao trabalho realizado no P. E. do
Ivinhema e dados do monitoramento de ocorrências dos grandes felinos na montante de
Porto Primavera.
Os trabalhos em parceria do Instituto Pró-Carnívoros e Instituto de Pesquisas
Ecológicas (IPÊ) têm possibilitado uma visão mais ampla da situação das onças-pintadas
no Alto Paraná com estimativas de densidade, áreas de vida e seleção de habitat em
diferentes ambientes, que contribuirão para planos de conservação da espécie. Portanto
são apresentados também dados de toda a região, acessados por este e outros projetos
parceiros desenvolvidos na área.
Objetivos
Referências bibliográficas
CBSG. 1995. Felid Conservation Assessmant and Management Plan and Global
Captive Action Recommendations: Review Draft. IUCN/SSC Conservation
Breeding Specialis Group. Apple Valley, MN, USA.
Cullen, L., Abreu K. C., Sana D. e Nava, A.F.D. 2005. As onças-pintadas como detetives
da paisagem no corredor do Alto Paraná, Brasil. Natureza & Conservação Vol 3,
1: 43-58
Leite R. P. e Boulhosa R.L.P. 1999. Ecology and conservation of jaguars in the Atlantic
Rainforest of Brazil In El Jaguar en el Nuevo Milenio: Deteccion de Prioridades
y Recomendaciones para la Conservacion de los Jaguares en America Eds RA
Medellin, C Chetkiewicz, A Rabinowitz, KH Redford, JG Robinson, E Sanderson
e A Taber Universidad Nacional Autonoma de Mexico/Wildlife Conservation
Society, Mexico DF.
Sana, D.A., P.G. Crawshaw Jr, R. Morato, e E. Eizirik. 2000. Relatório final do
projeto"Translocação e Monitoramento de Grandes Felinos na Área de Influência
da UE de Porto Primavera, SP/MS". Associação Pró-Carnívoros / CESP.
Capturas
Duas metodologias distintas para a captura de espécimes vivos de grandes felinos
têm sido usadas mais freqüentemente: cães rastreadores e armadilhas de ferro do tipo
“live-trap”. O primeiro tem sido mais eficiente em áreas extensas, de vegetação aberta e
com grande disponibilidade de presas, onde é difícil atrair os animais para armadilhas. Já
estas são mais adequadas para áreas florestais.
Na área de influência do enchimento do reservatório foram utilizados cães
rastreadores e na área do parque do Ivinhema cães rastreadores e armadilhas.
Nas capturas com cães foram utilizados animais treinados para a captura de
grandes felinos, conduzidos por um caçador prático. Ao serem encontrados vestígios
recentes de onça, os cães eram soltos. Estes seguiam o animal, forçando-o a subir em uma
árvore. Uma vez acuada, a onça era então sedada com dardos contendo substância
anestésico-tranqüilizante (Zoletil, Virbac do Brasil, SP) disparados por um rifle (CBC,
série especial). O monitoramento anestésico teve início tão logo o animal permitiu
aproximação. Freqüência cardíaca, freqüência respiratória e temperatura retal, eram
medidos, quando possível, em intervalos aproximados de 15 min.
Durante a contenção química, procedia-se a biometria, coleta de ectoparasitas e de
sangue para análises sorológicas e genéticas. Quando necessário ou possível, atendendo o
proposto pelo projeto, os animais adultos capturados foram aparelhados com rádios
transmissores VHF com ou sem GPS, sendo deixados no mesmo local da captura, tanto
na montante de Porto Primavera quanto no parque do Ivinhema.
No parque do Ivinhema foram realizadas campanhas de sete a vinte dias, com
equipes de quatro a sete pessoas, entre biólogos, veterinários, ajudantes e caçador prático.
Percorríamos ao amanhecer as estradas do parque buscando vestígios recentes das onças.
Em outros momentos procuramos alternativas para otimizar as buscas, passando em
outros locais e conversando com moradores do entorno da unidade de conservação. Na
montante de Porto Primavera não foram realizadas campanhas, sendo utilizadas ocasiões
favoráveis para captura, como a predação de animais domésticos que nos eram relatados.
As capturas foram acompanhadas por veterinários da CESP.
Visitas às fazendas e ocorrências
Com o objetivo de se levantar informações a respeito da ocorrência de grandes
felinos nas áreas de estudo, na montante e na jusante da UHE Porto Primavera, foram
contatados proprietários e empregados de fazendas, visitando-se estas áreas. Informações
adicionais sobre a biologia das onças foram obtidas averiguando-se os relatos de
ocorrências e predações de animais domésticos, atendendo solicitações de moradores
locais.
Resultados
Coletas
Dos grandes felinos capturados foram feitas coletas de sangue para análises
sanitárias e genéticas entre 2001 e 2006 e de ectoparasitas entre 1999 e 2006 (tab. 4).
Para análises genéticas as amostras de sangue e de outros tecidos foram enviadas para a
Pontifície Universidade Católica (PUC) de Porto Alegre, RS, aos cuidados do professor
doutor Eduardo Eizirik, daquela instituição e pesquisador da Pró-carnívoros. Além de 37
amostras de sangue coletadas de animais capturados no projeto, foi coletado sangue de
uma onça-preta no zoo de Ilha Solteira (CESP) e cinco amostras de tecido foram
adquiridas de peles apreendidas e animais atropelados. Outras cinco amostras de fezes
foram encaminhadas para tentativa de extração de DNA. Com as amostras estão sendo
desenvolvidos trabalhos de mestrado e doutorado em genética na UFRGS e PUC, em
Porto Alegre, já com resultados preliminares para onça-pintada (capítulo VII). Estas 43
amostras de tecidos serão preservadas para análises futuras e duplicadas para o banco
genômico do CENAP- IBAMA (capítulo VIII).
O soro do sangue de 17 animais foram coletados e encaminhados para análises
sorológicas, sob cuidados do pesquisador do IPÊ associado ao projeto, Laury Cullen.
Uma publicação - “First evidence of canine distemper in brazilian free-ranging felids”-
foi submetida ao J. Wildlife Diseases (capítulo VI). Estas amostras estão armazenadas no
IPÊ, em Teodoro Sampaio e ainda serão utilizadas em trabalhos futuros.
Dos animais capturados foram coletadas amostras de ectoparasitas de 28 onças.
Os carrapatos foram enviados para a Universidade de São Paulo (USP) aos cuidados do
professor Marcelo Labruna. Dois trabalhos já foram publicados com a utilização deste
material (capítulo VI).
As amostras de fezes coletadas no parque do Ivinhema estão sendo analisadas
para estudos de hábitos alimentares. Entre 2001 e 2006 foram coletadas 13 amostras de
onça-pintada, 13 de onça-parda e 12 de grande felino não identificado (capítulo V).
Tabela 4. Quantidade de amostras coletadas (N) de onças-pardas (Pc) e onças-pintadas
(Po) na região de influência do Reservatório da UE “Sérgio Motta” (Porto Primavera)
(PP), MS e do P. E. das Várzeas do Rio Ivinhema(PEIVI), MS, entre 1998 e 2006.
Amostra Ectoparasitos Análises sorológicas Análises genéticas
Local PP PEIVI PP PEIVI PP PEIVI
Espécie Pc Po Pc Po Pc Po Pc Po Pc Po Pc Po
N 14 7 2 4 4 3 4 6 17 12 7 10
CAP. II
Resultados
Figura 2. Área de uso total da fêmea Po15 (50, 85 and 95% fixed kernel) e localizações
no P. E. das Várzeas do Rio Ivinhema, MS.
Figura 3. Área de uso total da fêmea Po17 (50, 85 and 95% fixed kernel) e localizações
no P. E. das Várzeas do Rio Ivinhema, MS.
P. E. do Ivinhema
Po18 M 1 799 20 147 299 399 31 157 295 400 21 139 290
Po15 F 4 326 7 87 135 148 31 89 152 179 6 68 119
Po17 F 1 183 26 173 289 154 24 125 241 30 18 45 63
Média 2,5 254 16 130 212 151 27 107 196 104 12 56 91
Fêmeas
Média 2 436 18 136 241 234 29 124 229 203 15 222 157
Total
* Para os cálculos foram incluídos os animais com ≥ 30 localizações.
Comparando as áreas de ocupação destes animais em ambientes abertos como as
áreas de várzeas (PEIVI), com os de mata fechada, na região do alto Paraná (P.E. do
Morro do Diabo, SP) os machos apresentam resultados similares (*280 km2, n=2), já as
fêmeas de ambientes abertos apresentam o dobro do tamanho das áreas de uso das de
mata (*92 km2, n=5). Comparando-se as médias de todos animais, os de ambiente aberto
apresentam uma área de vida cerca de 60% maior do que os de mata (*155 km2,
n=7).(*Cullen L., dados não publicados). Tanto a busca de refúgio como de presas podem
fazer com que as áreas sejam maiores em ambientes abertos. Porém nos dois parques,
com ambientes distintos, a presença de gado na periferia ou no interior, caso do
Ivinhema, pode favorecer a diminuição destas áreas, com a oferta de alimento. Mas
questões reprodutivas, filhotes no caso de fêmeas e a busca de parceiras pelos machos,
além da territorialidade, interferem nos processos de ocupação e tamanho das áreas.
Portanto vários fatores podem influenciar nos padrões de uso de área e movimentação.
Incursões de até 30 Km pela paisagem fragmentada evidenciaram que alguns
indivíduos conseguem atravessar áreas degradadas com pastagens e lavouras, usando
florestas de galeria como corredores principais. Esse potecial de longos movimentos e
longas incursões pela paisagem esta diretamente relacionado com a característica de
detetive ecológico da onça-pintada, podendo capturar importantes elementos da paisagem
que auxiliem no manejo de sua conectividade. Por exemplo, durante essas longas
incursões alguns indivíduos de onça-pintada podem ajudar a identificar importantes
corredores, e ou pequenos fragmentos florestais essenciais para a conectividade entre as
unidades de conservação ou importantes manchas (patches) de habitat na paisagem do
alto Rio Paraná.
Figura 4. Macho adulto Po18 durante suas longas incursões pela paisagem no entorno do
Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema. Incursões de até 30 Km para um
fragmento de 2.000 ha foram observadas, com a utilização de matas de galeria e
paisagens abertas.
2.Seleção de Habitat
Neste componente do projeto estudamos aspectos de seleção de habitat praticados
pelas onças-pintadas em duas escalas de magnitude (segunda e terceira ordem). Nossos
resultados mostraram de maneira bastante consistente que, floresta primária e várzeas
mais densas e fechadas são os habitats preferidos e ou selecionados pela espécie na região
do Alto Rio Paraná. Por outro lado, muitos dos indivíduos estudados evitaram
significativamente o uso de áreas como agricultura e pastagens. Duas conclusões
principais podem ser extraídas desses resultados:
- Primeiro: as várzeas e varjões mais densos no Alto Rio Paraná foram os tipos de
habitats mais usados e preferidos pela espécie. Ao mesmo tempo, esse tipo específico de
habitat é o único tipo de ambiente que potencialmente conecta as várias UCs localizadas
ao longo do eixo do Rio Paraná, formando um quase contínuo entre o Parque Estadual do
Morro do Diabo e a Parque Nacional de Ilha Grande, também potencialmente ligando ao
Parque de Iguaçu. Assim, esses ambiente produtivos podem e devem potencialmente
conectar essas populações de onças-pintadas ainda parcialmente isoladas.
- Segundo: quando analisamos seleção de habitat a terceira ordem (ou seja, comparando
uso e disponibilidade de habitats dentro de seu próprio home range), alguns animais
parecem se concentrar em áreas mais altas próximas as pastagens. Alguns indivíduos se
estabelecem temporariamente nas proximidades de pastagens onde a criação de gado é
intensa e isso pode levar a conflitos com fazendeiros. Ao mesmo tempo esses conflitos
podem impedir a dispersão de alguns indivíduos obstruindo as oportunidades de
conectividade e fluxo gênico e demográfico entre as populações outrora conectadas,
impedindo o cenário metapopulacional. Resumidamente, as onças pintadas no Alto Rio
Paraná parecem ter a habilidade para se dispersar, mas essa dispersão pode ser
comprometida devido a conflitos com fazendeiros e ou outros proprietários de terra.
4.Viabilidade Populacional
Como mencionado anteriormente, considerando o cenário atual com o status de
proteção das áreas representadas neste estudo, (figuras 8 e 9), o tempo médio de declínio
para 50% da população na região do Alto Rio Paraná (de aproximadamente 126
indivíduos adultos para 63) é cerca de 18 anos e o risco de extinção nos próximos 50 anos
é de 25%. O tamanho mínimo da população esperada daqui a 50 anos é de 17 indivíduos.
Figura 8. Tamanho estimado da metapopulação do Alto Rio Paraná para os próximos 50
anos.
5.Discussão
A conservação da onça-pintada bem como de muitas outras espécies nesse
ecossistema, não só depende de estudos aplicados de auto ecologia da espécie como aqui
relatado, mas principalmente de um modelo de gestão, conservação e desenvolvimento
que garanta a integridade das paisagens e das UCs nesta região. Trabalhos com
envolvimento comunitário e restauração de paisagens no entorno das Unidades de
Conservação ao longo do Corredor Ecológico do Alto Rio Paraná poderiam ser
implementados contribuindo para a conservação do ambiente e ecodesenvolvimento,
como o trabalho realizado pelo IPÊ no entorno do parque Estadual do Morro do Diabo,
SP.
As descobertas preliminares dessa pesquisa a longo prazo sobre a onça-pintada
enfatizam a importância do aumento das taxas de vida para as populações de onça. A
curto prazo, o aumento da taxa de vida (maior fecundidade e menor mortalidade) parece
ser mais importante que o aumento da taxa de dispersão. O aumento da dispersão,
especificamente para a metapopulação do Alto Paraná-Paranapanema, só é recomendado
uma vez que as populações de onça atinjam pontos de maior estabilidade. A sensibilidade
dessa análise sugere que esses resultados preliminares não devem ser interpretados em
termos absolutos. Particularmente, seria inapropriado usar esses resultados para concluir
que a metapopulação de onças na bacia do Alto Paraná-Paranapanema está ameaçada de
extinção. Há simplesmente muitas incertezas sobre a maioria dos parâmetros para prever
com confiança qual será o tamanho da população daqui a cinqüenta anos, ou qual poderia
ser o risco de extinção. Apesar dessa incerteza, esses modelos podem ter uso prático de
duas maneiras (Akçakaya & Atwood, 1997): 1) eles proporcionam informações sobre
quais parâmetros precisam de uma estimativa mais cuidadosa e onde os trabalhos de
conhecimento e de campo deveriam ser concentrados, 2) eles permitem alinhar as opções
de manejo de acordo com seus efeitos previstos na viabilidade da espécie-alvo. Com o
desenvolver deste trabalho e com mais dados demográficos e ecológicos acumulados,
será possível alcançar resultados mais confiáveis e propor recomendações de manejo
mais pragmáticas.
OBS: Fonte de figuras e tabelas não identificadas: tese de doutorado Laury Cullen Jr.
Publicação
Parte dos dados preliminares do trabalho de monitoramento no parque do
Ivinhema foram publicados na revista científica Natureza e Conservação: As onças-
pintadas como detetives da paisagem no corredor do Alto Paraná – Cullen et al. 2005.
(ANEXO)
Referências Bibliográficas
Hooge P. N. & Einchenlaub, B. 2000. Animal movement extention to Arcview, ver. 2.0.
Alaska Science Center – Biological Science Office, U.S. Geological Survey, Anchorage,
AK, USA.
As onças-pintadas como detetives da paisagem no corredor do Alto Paraná, Brasil
Artigos Técnico-Científicos
As onças-pintadas como
detetives da paisagem no corredor
do Alto Paraná, Brasil1
Artigos Técnico-Científicos 43 Natureza & Conservação - vol. 3 - nº1 - Abril 2005 - pp. 43-58
Laury Cullen Jr. - Kauê Cachuba Abreu - Dênis Sana - Alessandra Ferreira Dales Nava
dências que sugerem que muitos ecossiste- 1) diversidade e densidade das presas: a es-
mas são regulados pelos carnívoros de topo trutura, a resiliência e a diversidade de ecos-
de cadeia, sendo que tais ecossistemas podem sistemas são freqüentemente sustentadas pe-
desestruturar-se ou serem radicalmente alte- las interações tróficas que são iniciadas e
rados sem eles, tendo como conseqüência a mantidas pelos grandes predadores (Ter-
perda de sua diversidade e resiliência (Ter- borgh, 1998; Terborgh et. al., 1999). A especifi-
borgh, 1999). Por exemplo, predadores com cidade de presas é um componente-chave do
ampla área de vida, como as onças-pintadas hábitat para a maioria dos grandes carnívoros
(Panthera onca), freqüentemente desempe- (Seidensticker, 1986). Portanto, estudando a
nham um papel essencial na regulação do nú- dinâmica presa-predador da onça-pintada
mero e na diversidade das espécies-presa na juntamente com a seleção de hábitat será pos-
cadeia alimentar. Uma abordagem em larga sível detectar a estrutura da presa, sua resili-
escala para a conservação da natureza neces- ência e sua diversidade em áreas nas quais a
sita de grandes reservas-núcleo conectadas onça-pintada ocorre.
entre si e com sua totalidade de espécies nati-
vas (Soulé & Noss, 1998). O objetivo central 2) grandes áreas-núcleo: predadores com am-
desta abordagem é manter ou restaurar popu- pla área de vida geralmente requerem espaço
lações ecologicamente viáveis de grandes car- e áreas protegidas extensas para procurar ali-
nívoros e outras espécies-chave (Soulé & Ter- mento, movimentarem-se sazonalmente e
borgh, 1999, Foreman & Daly, 2000). atender a outras necessidades. Estudando e
comparando a distribuição e densidade da
Neste trabalho, propõe-se o uso da onça-pin- onça-pintada em locais específicos, será pos-
tada como detetive da paisagem, dada sua sível detectar áreas-núcleo ou manchas de há-
significância ecológica e necessidade de gran- bitat para formar uma rede de áreas de con-
des áreas de hábitat protegido e de alta quali- servação. Estas áreas protegeriam o hábitat
dade. Espécies detetives da paisagem podem natural, a biodiversidade, a integridade eco-
ser definidas como organismos que nos mos- lógica, os serviços ambientais e os processos
tram como planejar e manejar reservas e evolutivos no ecossistema do Alto Paraná-Pa-
grandes eco-regiões interconectadas, pois ranapanema.
suas exigências para sobreviver incluem fato-
res importantes para manter ambientes ecolo- 3) conectividade da paisagem: a conectivida-
gicamente saudáveis. Mais especificamente, o de é também requerida porque as reservas,
principal objetivo deste trabalho é usar a em geral, não são grandes o suficiente na
onça-pintada como um detetive da paisagem maioria das regiões; portanto, elas devem
para desenvolver uma rede de reservas natu- ser ligadas para garantir a viabilidade a lon-
rais conectadas na região do Alto Paraná-Pa- go prazo das espécies que precisam de gran-
ranapanema, no Brasil. des áreas para sobreviver. Rastreando a dis-
persão de onças jovens que usam os frag-
Nesta região, as onças-pintadas apresentam mentos de floresta como via de ligação na
estrutura de metapopulação, definida neste paisagem fragmentada, pode-se detectar
trabalho como uma “rede de populações iso- possíveis ligações-chave entre grandes áreas
ladas ou semi-isoladas com algum nível de naturais. Isso poderia garantir a continuação
migração regular ou intermitente e fluxo ge- da migração e outros movimentos vitais
nético entre elas, na qual cada população para a sobrevivência das populações e meta-
pode ser extinta, porém podendo ser recolo- populações saudáveis de fauna silvestre. O
nizada através de outra população” (Meffe & planejamento da conservação eco-regional
Carroll, 1997:678). Três argumentos científicos que enfatiza a onça-pintada como um deteti-
importantes constituem a abordagem de de- ve da paisagem oferece uma nova aborda-
tetive da paisagem e justificam a ênfase nos gem para o design de reservas. Esta é uma
grandes predadores, como as onças-pintadas: abordagem focada nos detalhes, que usa a
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As onças-pintadas como detetives da paisagem no corredor do Alto Paraná, Brasil
onça-pintada para definir as paisagens a se- Em 1997 foi iniciado um estudo sobre a ecologia
rem conservadas, o que em troca conservará e a conservação da onça-pintada no Parque Es-
todo o ecossistema, considerando-se que os tadual Morro do Diabo, uma área protegida de
carnívoros de topo de cadeia precisam de 370 km2 (37,000 ha) na região do Pontal do Para-
uma boa base alimentar e grandes áreas-nú- napanema, no estado de São Paulo. A área pro-
cleo conectadas entre si. Certamente este é o porciona uma oportunidade única para estudar
maior passo com relação a algumas práticas a onça-pintada como detetive da paisagem. No
atuais, que incluem a análise de uma ima- limite oeste da remanescente Floresta Atlântica,
gem de satélite em um escritório e imaginar junto com o ecossistema do Alto Paraná, ainda
onde uma área-núcleo, mancha de hábitat, existem aproximadamente 5.000 km2 de frag-
ou corredor poderiam estar. Não está sendo mentos de Floresta Atlântica semidecidual e de
proposto o uso de detetives da paisagem várzeas semiconectados e relativamente bem
para todas as espécies de interesse. Entretan- preservados. A região está entre as poucas áreas
to, na região do Alto Paraná, as decisões ad- onde grandes carnívoros como a onça-pintada,
ministrativas não podem esperar a conclu- os pumas e as jaguatiricas podem sobreviver
são dos estudos a longo prazo sobre espécies (Sanderson et al., 2002) (FIGURA 1). Onças-pin-
mais sedentárias. Nessa região, o uso de da- tadas são relativamente comuns na região do
dos adquiridos através das onças com rádio- Pontal (Cullen et al., 2000, Leite et al., 2002) e in-
colar de GPS pode ser o meio mais prático formações empíricas sobre sua densidade, pre-
para integrar a informação biológica com a sas e exigências de hábitat, estrutura de disper-
análise dos impactos negativos da fragmen- são e metapopulação são necessárias para de-
tação e com as tentativas de mitigação relaci- senvolver um modelo de detetives da paisagem
onadas ao manejo da vida selvagem, ecolo- com base em informações consistentes e no co-
gia da paisagem e planejamento. nhecimento de campo sobre a espécie.
“Áreas Prioritárias
para Conservação de
Felinos Neotropicais”
“Área de Conservação
do Alto Paraná
Paranapanema”
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Laury Cullen Jr. - Kauê Cachuba Abreu - Dênis Sana - Alessandra Ferreira Dales Nava
Considerando-se a situação crítica da onça- vel. Os resultados obtidos através dessas ar-
pintada na região, são necessárias respostas madilhas foram analisados seguindo-se a me-
claras e confiáveis para algumas questões bá- todologia delineada por Karanth & Nichols
sicas. Essas perguntas estão relacionadas aos (2002) e com a utilização do programa CAP-
três amplos argumentos científicos que cons- TURE (Rexstad & Burnham, 1991; Otis et al.,
tituem a abordagem de detetives da paisa- 1978) para estimar os parâmetros populacio-
gem: 1) qual é a densidade absoluta de onças- nais (por exemplo, o tamanho da população)
pintadas em áreas protegidas prioritárias através dos padrões de recaptura dos indiví-
para a conservação? 2) Como as onças-pinta- duos reconhecidos (FIGURA 2).
das selecionam os hábitats e o que determina
o tamanho do seu território e o padrão da sua
movimentação? 3) Qual é a estrutura espacial
da metapopulação de onças na região, sua lo-
calização, seu tamanho, sua abundância total,
sua capacidade de suporte e a distância uma
da outra? 4) Qual a área mínima necessária
para garantir populações viáveis de onças-
pintadas e a conservação da biodiversidade?
MÉTODOS E RESULTADOS
Figura 2: Uma onça preta e uma pintada
Estimativa da densidade de onças no Par- fotografadas no mesmo ponto de amostragem.
que Estadual Morro do Diabo
No período entre os meses de março e agosto Os dados obtidos das câmeras estão sumari-
de 2003, realizou-se no Parque Estadual Mor- zados como histórico de captura. Durante o
ro do Diabo o primeiro censo preliminar e sis- levantamento, houve sete períodos de amos-
temático de onças-pintadas, através de arma- tragem totalizando 1.120 noites de esforço
dilhas fotográficas, no qual se obteve um sur- amostral, que renderam trinta e quatro captu-
preendentemente grande número de fotos de ras de seis diferentes indivíduos adultos e
onças-pintadas, pumas e jaguatiricas. O le- sub-adultos de onça-pintada. Essas capturas
vantamento foi realizado utilizando um equi- foram usadas com o programa CAPTURE
pamento moderno de armadilha fotográfica para calcular estatísticas relacionadas à pre-
combinado com a análise de captura-recaptu- missa de populações fechadas e à seleção de
ra, uma técnica estatística para estimar o ta- modelo, bem como a estimativa de abundân-
manho da população através dos dados cia baseada no modelo. O teste utilizado não
amostrais (Karanth & Nichols, 1998). Foram proporcionou evidência estatística de que a
utilizadas dez armadilhas fotográficas CAM- premissa de populações fechadas foi violada
TRAKKER com sensores infra-vermelhos. As (z=0,80, p=0,20). Desse modo, concluiu-se
armadilhas foram instaladas ao longo das ro- que os modelos de população fechada do
tas naturais das onças-pintadas e de suas pre- CAPTURE foram apropriados para esses da-
sas. Sete pontos das armadilhas foram seleci- dos e não foi preciso usar modelos para po-
onados através de um grid de parcelas aloca- pulações abertas. Baseados no procedimento
das sistematicamente, cobrindo cerca de 90% de seleção de modelo da função discrepante,
da área do Parque. As armadilhas fotográfi- os modelos Mo e Mh foram os mais apropria-
cas foram instaladas para atender aos pré-re- dos para este conjunto de dados. Foi escolhi-
quisitos da teoria de captura-recaptura, vi- do o modelo Mh, pois as evidências de campo
sando uma estimativa populacional confiá- indicaram que poderia haver heterogeneida-
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de 102,02 km2 para os machos (n=2) e 87,27 km2 Figura 3: Territórios das onças com rádio-colar
para as fêmeas (n=5). A área de sobreposição no Parque Estadual Morro do Diabo.
média foi de 6,42 km2 (6%) para os machos e 16
km2 (18%) para as fêmeas. Sem dúvida, algu-
mas dessas variações podem ser devidas às di- Em Belize, Rabinowitz & Nottingham (1986),
ferenças entre os sexos, à faixa etária e às prefe- usando a rádio-telemetria por VHF, reporta-
rências de hábitats. ram que o tamanho do território de quatro ma-
chos variou de 28 a 40 km2, com uma média de
Os sete animais com rádio-colar usaram uma 33,4 km2, cerca de três vezes menos que a mé-
área total de aproximadamente 300 km2. A dia dos machos no Morro do Diabo. No mesmo
densidade mínima estimada de adultos e sub- estudo em Belize, duas fêmeas tiveram um al-
adultos em um período de quatro anos foi, cance de 10 e 11 km2, respectivamente, o que
então, de 2,33 onças/100 km2, muito similar à significa oito vezes menos que as fêmeas do
estimada através do levantamento por arma- Morro do Diabo. Ao contrário deste estudo, o
dilhas fotográficas (2,22 onças/100 km2). tamanho do território daquelas duas fêmeas
Tabela 2: Tamanho do território das Onças com rádio-colar no Parque Estadual Morro do Diabo
Artigos Técnico-Científicos 48 Natureza & Conservação - vol. 3 - nº1 - Abril 2005 - pp. 43-58
As onças-pintadas como detetives da paisagem no corredor do Alto Paraná, Brasil
não se sobrepôs em Belize, enquanto que os tem e podem sobreviver. A localização dos há-
dos machos o fez significativamente. A teoria bitats e das onças que originou a base dessa
prevê que a sobreposição de território em ma- análise preliminar é proveniente do Parque Es-
chos de espécies carnívoras solitárias é espera- tadual Morro do Diabo e arredores.
da se a densidade de fêmeas for baixa (Sandell,
1989). No Parque Nacional do Iguaçu, no sul Incluiu-se principalmente o mapa topográfico
do Brasil, o tamanho estimado do território das e o de categorias de hábitats, que melhor ex-
onças (MCP) variou consideravelmente, indo plicaram a distribuição espacial das manchas
de 8,8 km2 até 138 km2 (Crawshaw et al., 2004). de hábitat e das metapopulações de onças-
Novamente, essas diferenças poderiam ser atri- pintadas (TABELA 3). Esses mapas foram
buídas à baixa capacidade de suporte dos hábi- preparados por Alexandre Uezu (unidade
tats semideciduais. IPÊ-GIS) através de imagens Landsat, usando
tanto o conhecimento de campo como a clas-
sificação não supervisionada das três ima-
gens de satélite Landsat 7ETM que cobriram
Seleção de hábitats toda a extensão da região do Morro do Diabo.
A análise foi feita com os programas Erdas
A estrutura espacial da metapopulação de on- Imagine 8.4 e Arcview 3.3/Spatial Analyst.
ças na eco-região do Alto Paraná-Paranapane- Foi avaliada a seleção de hábitat como sendo
ma foi baseada nos dados de hábitat. Essa co- a distribuição de todas as posições indepen-
nexão entre os dados de hábitat e o modelo de dentes das onças em cada tipo de hábitat em
metapopulação foi possível graças ao progra- relação à disponibilidade desse hábitat du-
ma de dados espaciais construído utilizando-se rante o período de estudo (FIGURA 4). A se-
o software Ramas-GIS (Akçakaya, 2002). Esse letividade de hábitat foi então definida, com-
programa usa os dados espaciais de exigências parando-se a disponibilidade (A) e a utiliza-
de hábitat das espécies, como por exemplo, os ção (U), usando-se o índice de seletividade de
mapas de cobertura gerados pelo GIS, e combi- Ivlev (1961), qual seja: índice de seletividade
na esses dados em um mapa de potencial de = (U-A)/(U+A). A seleção de hábitat foi ava-
adequação do hábitat (HS) em função de suas liada em uma escala bruta (equivalente à am-
características. Esse mapa então é usado para pla visão da exigência de um animal), onde as
encontrar manchas de hábitat, por intermédio localizações das onças inclusas nas categorias
da identificação das áreas de alto potencial de de hábitat foram feitas na mesma proporção
adequação onde as populações de onças exis- de sua disponibilidade no local de estudo.
(A) (U)
Tipo de Proporção de Proporção de Índice de
Hábitat disponibilidade localizações seletividade Seleção
no local de das onças- de IVLEV
estudo (%) pintadas (%)
1- Água 4,89 4,03 -0,09663 -
2- Floresta primária 2,56 12,63 0,66265 +++++
3- Floresta secundária 2,95 7,79 0,45048 +++
4- Floresta aluvial 1,27 2,41 0,30943 ++
5- Várzea densa 3,06 6,98 0,38971 ++
6- Várzea aberta 11,69 24,19 0,34810 ++
7- Agricultura 21,84 34,40 0,22343 +
8- Pasto 51,70 7,52 -0,74584 -------
Onde: + (mais) e – (menos) indicam a força de seleção
Artigos Técnico-Científicos 49 Natureza & Conservação - vol. 3 - nº1 - Abril 2005 - pp. 43-58
Laury Cullen Jr. - Kauê Cachuba Abreu - Dênis Sana - Alessandra Ferreira Dales Nava
As onças selecionaram os tipos de hábitat de causada pelo gado e sua relação com a ecolo-
uma forma não aleatória em comparação à gia da onça-pintada nas áreas de estudo mere-
disponibilidade na área de estudo no Morro cem investigação e serão consideradas duran-
do Diabo. Embora as florestas primárias e se- te a continuação desta pesquisa.
cundárias formem em conjunto uma pequena
porcentagem dos hábitats disponíveis (5,51%), Essas análises ressaltam a importância das flo-
elas foram bastante selecionadas. Florestas restas e várzeas como hábitats-chave para a
aluviais, várzeas abertas ou densas foram es- sobrevivência das últimas populações de on-
colhidas em uma proporção equivalente ao ças-pintadas na eco-região do Alto Paraná-Pa-
dobro das suas respectivas disponibilidades. ranapanema. Resultados similares também fo-
Áreas de agricultura e hábitats abertos e com ram reportados para outras populações de on-
água foram pouco procurados. Pastos abertos ças em regiões Neotropicais (Medellin et al.,
não foram selecionados. Com a continuação 2002). Recomenda-se que esses hábitats sejam
deste estudo, será realizada a estimativa de considerados altamente prioritários nas estra-
densidade de ungulados em cada hábitat. Isso tégias de manejo e conservação da eco-região,
permitirá correlacionar o tamanho do territó- na abordagem de conservação da paisagem
rio das onças, sua densidade, movimentos e que vem sendo desenvolvida pela WWF e or-
padrões de atividade com as informações das ganizações parceiras. Exatamente por serem a
presas e incorporar a dinâmica presa-preda- floresta e a várzea os primeiros ambientes per-
dor na abordagem de detetives de paisagem. turbados pela invasão humana, eles atuam
Além disso, durante este estudo, alguns inci- como pontos potenciais de fragmentação. Tri-
dentes de predação de gado foram relatados lhas, estradas e canais de irrigação são cons-
pelos pecuaristas do entorno do parque, mas truídos e a supressão dos complexos de flores-
nenhuma evidência de onças feridas ou balea- ta e várzea pode resultar em mais fragmenta-
das foi encontrada. O impacto da depredação ção dessas populações de onças.
Água
Floresta primária
Floresta secundária
Floresta aluvial
Várzea densa
Várzea aberta
Agricultura
Pasto
O L
Figura 4: Seleção de hábitats de acordo com a distribuição de todos os pontos de ocorrência das onças
em cada tipo de habitat e em relação à disponibilidade dos hábitats durante o período de estudo.
Artigos Técnico-Científicos 50 Natureza & Conservação - vol. 3 - nº1 - Abril 2005 - pp. 43-58
As onças-pintadas como detetives da paisagem no corredor do Alto Paraná, Brasil
Artigos Técnico-Científicos 51 Natureza & Conservação - vol. 3 - nº1 - Abril 2005 - pp. 43-58
Laury Cullen Jr. - Kauê Cachuba Abreu - Dênis Sana - Alessandra Ferreira Dales Nava
qual este não é considerado adequado para re- modelo tipo “Ceiling” dependente de densi-
produção e sobrevivência; a distância dos lo- dade para cada população e usou-se a capa-
cais com características semelhantes, usada cidade de suporte, calculada com base nos
para identificar as células próximas que per- dados de hábitat, como sendo “ceilings” de
tencem ao mesmo fragmento e podem repre- população. Os efeitos da dispersão da onça-
sentar, por exemplo, a distância média de for- pintada na análise de viabilidade também fo-
rageamento da espécie. Com base em evidên- ram modelados e referem-se ao movimento
cias de outras localizações da onça-pintada ao das onças (indivíduos sub-adultos) entre as
longo de toda a bacia, foi definido um limiar manchas de hábitat. Uma taxa de dispersão
de HS de 2,0 para as onças da região do Alto (proporção de indivíduos que dispersam de
Paranapanema. Esse parâmetro foi estimado uma população para outra) de 10% foi inici-
de acordo com o valor mínimo de HS entre as almente usada nessa análise preliminar. A
células do grid, nas quais foram coletadas evi- análise da dinâmica populacional da onça
dências de campo da reprodução da onça (fê- com o modelo descrito anteriormente foi
meas com filhotes). Através dos resultados de composta por uma série de simulações. Cada
telemetria foram definidas 12,40 células (3.720 simulação consistiu de 1.000 repetições e
metros) como sendo a distância média de for- cada uma delas projetou a abundância de
rageamento das onças com rádio-colar. cada população para cem anos. Uma análise
de sensibilidade foi feita, considerando-se
O programa Ramas permite o cálculo da capa- mudanças em taxas de sobrevivência e K nas
cidade de suporte (K) baseado no valor total populações de onça-pintada.
de hábitat de cada fragmento. Com base no
tamanho do território e nos resultados das Através do mapa de hábitat e dos parâmetros
armadilhas fotográficas estimou-se a capaci- descritos anteriormente, o programa encon-
dade de suporte como K=8 para o Morro do trou três manchas de hábitat (grupos de célu-
Diabo, considerando apenas os animais adul- las com características semelhantes próximas
tos e sub-adultos. O número total - com todos umas das outras). A estrutura de manchas en-
os adultos, sub-adultos e indivíduos jovens - contrada foi bastante realista considerando-se
para o Morro do Diabo foi estimado em cer- o hábitat remanescente, ocorrências conheci-
ca de 15 animais. Especificou-se, então, a re- das da onça-pintada e a localização de algu-
lação entre os valores totais de potencial de mas áreas protegidas na região do Alto Para-
adequação de hábitat para o Morro do Diabo, ná-Paranapanema. Os dados de capacidade
K e os números totais em uma função pré-de- de suporte, abundância total e áreas de man-
finida pelo usuário. Para este modelo básico chas identificadas pelo modelo são apresenta-
e preliminar, nenhum ambiente, estocastici- dos a seguir (TABELA 4, FIGURA 5).
dade demográfica e catástrofes foram consi-
derados. Nas simulações, foi assumido um A estimativa populacional da onça para to-
Tabela 4: Capacidade de suporte, abundâncias totais e áreas de manchas identificadas pelo modelo.
Artigos Técnico-Científicos 52 Natureza & Conservação - vol. 3 - nº1 - Abril 2005 - pp. 43-58
As onças-pintadas como detetives da paisagem no corredor do Alto Paraná, Brasil
Figura 5: Estrutura das manchas das populações de onças-pintadas na região do Alto Paraná-
Paranapanema. Os valores do potencial de adequação do habitat estão representados na escala à direita
da figura, com os valores variando de –7,5 (menos adequado) até + 6,8 (mais adequado). O delineamento
em branco representa o limite externo das manchas 1, 2 e 3. A mancha 1 corresponde à área do Parque
Estadual Morro do Diabo; a mancha 2, ao Parque Estadual de Ivinhema; e as várzeas mais ao sul e a
mancha 3 correspondem à área do Parque Nacional de Ilha Grande.
dos os fragmentos foi de cerca de 45 indiví- cial de adequação do hábitat também pode
duos, com a capacidade de suporte igual a ser usado para identificar os corredores de
30, considerando-se apenas adultos e sub- áreas-trampolim – células com alto valor de
adultos. A maior mancha (a 2), com uma potencial de adequação de hábitat fora das
área de 976 km2,compreende a região do manchas identificadas – ligando as sub-po-
Parque Estadual de Ivinhema e uma grande pulações de onça e contribuindo para o pla-
área ao sul em direção ao Parque Nacional nejamento e restauração de uma paisagem
de Ilha Grande, onde ainda existem popula- interconectada.
ções consideráveis de onças. Essa mancha
representou 54% da área total de todas as
manchas. Apenas 2,6% da paisagem total
analisada está coberta pelas três manchas Viabilidade Populacional
consideradas mais adequadas, sendo uma
área muito pequena considerando-se as ne- Com o maior número de combinações de pa-
cessidades da onça. As manchas apresen- râmetros, o modelo previu uma diminuição e
tam intervalos entre elas, que representam risco de extinção da população de onças do
locais não adequados para atender às ne- Alto Paraná-Paranapanema (FIGURAS 6 a
cessidades de hábitat e distância de forrage- 9). O risco de chegar abaixo do limiar de me-
amento da onça. Esses intervalos podem tapopulação de dez indivíduos foi de cerca de
afetar a conectividade da paisagem e a dis- 80% em 80 anos. O tempo médio de extinção
persão entre as manchas. O mapa do poten- é de 88 anos.
Artigos Técnico-Científicos 53 Natureza & Conservação - vol. 3 - nº1 - Abril 2005 - pp. 43-58
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Abundância
Tempo (anos) Tempo (anos)
Abundância
* Os pontos nas figuras representam valores mínimos e máximos obtidos em cada simulação. Linhas verticais ao longo da trajetória
representam (±) desvio padrão (SD) para os a média.
Um resultado surpreendente foi o efeito nega- 15% nas taxas de vida da população (aumen-
tivo, embora fraco, da dispersão natural e dis- to da taxa de sobrevivência em 15% e diminu-
persão manejada (translocação). Quando a ição da taxa de mortalidade em 15%). Consi-
dispersão é modelada entre as três manchas derando-se este cenário, a metapopulação tem
(permitindo uma taxa de dispersão de 10% grandes chances de continuar existindo pelos
entre as manchas; algumas translocações fo- próximos 100 anos, estabilizando em cerca de
ram dispersões naturais, o que não é comum) 40 indivíduos (FIGURA 11).
o modelo produz resultados bastante simila-
res, sem diferenças significativas entre os dois Outro objetivo dessa análise foi demonstrar
cenários (TABELA 5; FIGURA 10). Isso pode qualquer chance na viabilidade através da
ser explicado pelo tipo de fonte e dinâmicas adição de outra população na metapopula-
de fonte e dreno (Alçakaya & Atwood, 1997). ção de onça-pintada do Alto Paraná-Parana-
Embora todas as populações no modelo te- panema. Isso foi feito incluindo-se nas simu-
nham taxas de vida similares (por isso lambdas lações a mais meridional das populações de
similares), as populações menores são mais onças protegidas no Brasil – a do Parque Na-
propensas à extinção como resultado da esto- cional do Iguaçu. O valor usado para a capa-
casticidade demográfica. Portanto, o aumento cidade de suporte da população do Iguaçu
da dispersão significa dispersar as onças-pin- foi K=40 e a abundância total de 67 indivídu-
tadas de populações mais estáveis e maiores os (Crawshaw et al., 2004). Além disso, com
para populações menores e mais propensas à base neste cenário, é muito importante enfa-
extinção. Entretanto, a análise de sensibilida- tizar que a dispersão natural da onça entre o
de mostrou resultados significativos quando a Iguaçu e a região do Alto Paraná-Paranapa-
dispersão é combinada com um aumento de nema é possível quando se considera a dis-
Artigos Técnico-Científicos 54 Natureza & Conservação - vol. 3 - nº1 - Abril 2005 - pp. 43-58
As onças-pintadas como detetives da paisagem no corredor do Alto Paraná, Brasil
Risco de Ocupação da
Parâmetros/Cenário Efeito extinsão Metapopulação MDO IVO IGO
Final A B
Modelo Base - 65% 12 2 8 2
Modelo Base + 10% de taxa de dispersão - 100% 5 1 3 1
Modelo Base + 10% de taxa de dispersão
+ 15% de taxa de vida + 1% 42 12 20 10
Modelo Base + 10% de dispersão natural
+ Parque Nac. Iguaçu + 0% 65 3 3 6
Modelo Base + 10% de dispersão natural
+ transloc + Iguaçu + 0% 74 10 11 6
A. Mostra a probabilidade da abundância da metapopulação acabar abaixo do limiar do número de 10 indivíduos daqui a 50 anos;
B. A ocupação da metapopulação: mostra o número total de indivíduos que a metapopulação está propensa a ter daqui a 50 anos;
MDO = Área de ocupação no Morro do Diabo em 50 anos;
IVO = Área de ocupação de Ivinhema em 50 anos;
IGO = Área de ocupação de Ilha Grande em 50 anos.
Transloc = translocações ou dispersões manejadas em uma taxa de 10% entre todas as populações.
Abundância
Tempo (anos)
Tempo (anos)
* Os pontos nas figuras representam valores mínimos e máximos obtidos em cada simulação. Linhas verticais ao longo da trajetória
representam (±) desvio padrão (SD) para os a média.
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dologia focada em detalhes, que usa o ponto mica de fonte e dreno, presente em populações
de vista do animal para determinar a conser- pequenas e instáveis. A análise de sensibilidade
vação da paisagem, o que em troca pode con- mostrou resultados significativos quando a dis-
servar todo o ecossistema, considerando que persão é combinada com 15% de aumento nas
os carnívoros de topo de cadeia exigem uma taxas de vida da população (aumento da taxa
boa base de presas, grandes áreas-núcleo e co- de sobrevivência e diminuição da taxa de mor-
nectividade entre as populações. talidade) e/ou considerando-se na estratégia as
populações do Parque Nacional do Iguaçu. A
O censo realizado através das armadilhas foto- metapopulação e todas as populações identifi-
gráficas estimou que a população de onças-pin- cadas têm probabilidade de se estabilizar e con-
tadas (adultos e sub-adultos) para o Parque Es- tinuar existindo quando este cenário é conside-
tadual Morro do Diabo está em torno de 2,22 in- rado. Em termos práticos, a curto prazo, o au-
divíduos/100 km2. Essa estimativa é baixa mento das estatísticas de vida da onça significa
quando comparada a outros estudos no Parque evitar a caça ilegal e os conflitos entre onças e
Iguaçu e Pantanal Brasileiro, mas muito similar homem, proteger as populações de presas, con-
às estimativas obtidas em outras áreas neotropi- seqüentemente aumentar a capacidade de su-
cais. Essas diferenças poderiam ser atribuídas à porte e reforçar as regras e regulamentos nas
baixa produtividade de florestas semideciduais áreas de proteção e manchas de hábitat identifi-
do interior do continente que fazem limite com cados neste estudo. O aumento da dispersão
a vegetação de cerrado, afetando portanto a dis- natural e da dispersão manejada é recomenda-
tribuição e densidade das espécies de presas. A do para médio-longo prazo.
análise das manchas identificou três áreas de
hábitat importantes para a conservação da onça As descobertas preliminares dessa pesquisa a
e da biodiversidade, que foi consistente com a longo prazo sobre a onça-pintada enfatizam a
ocorrência já conhecida da onça e a localização importância do aumento das taxas de vida
de áreas protegidas na região do Alto Paraná- para as populações de onça. A curto prazo, o
Paranapanema. Somente 2,6% de toda a paisa- aumento da taxa de vida (maior fecundidade
gem analisada está coberta pelos três hábitats e menor mortalidade) parece ser mais impor-
considerados mais adequados. A população to- tante que o aumento da taxa de dispersão. O
tal de onças estimada para a eco-região foi de aumento da dispersão, especificamente para a
quarenta e cinco indivíduos. Os intervalos en- metapopulação do Alto Paraná-Paranapane-
contrados entre as manchas podem afetar a co- ma, só é recomendado uma vez que as popu-
nectividade da paisagem e a dispersão entre lações de onça atinjam pontos de maior estabi-
elas. Entretanto, o mapa de hábitats identificou lidade. A sensibilidade dessa análise sugere
importantes áreas-trampolim que poderiam ser que esses resultados preliminares não devem
manejadas e restauradas para aproximar e ligar ser interpretados em termos absolutos. Parti-
as populações de onças no futuro. cularmente, seria inapropriado usar esses re-
sultados para concluir que a metapopulação
Com o maior número de combinações entre os de onças na bacia do Alto Paraná-Paranapane-
parâmetros, a análise de viabilidade da popula- ma está ameaçada de extinção. Há simples-
ção (PVA) preliminar previu um declínio e risco mente muitas incertezas sobre a maioria dos
de extinção da população de onças do Alto Pa- parâmetros para prever com confiança qual
raná-Paranapanema. O risco de chegar abaixo será o tamanho da população daqui a cin-
do limiar de metapopulação de dez indivíduos qüenta anos ou qual poderia ser o risco de ex-
foi de cerca de 80% em 80 anos. O tempo médio tinção. Apesar dessa incerteza, esses modelos
para extinção foi de 88 anos. o efeito negativo podem ter uso prático de duas maneiras (Al-
foi surpreendente da dispersão natural. Quan- çakaya & Atwood, 1997): 1) eles proporcio-
do a dispersão é modelada entre as manchas, o nam informações sobre quais parâmetros pre-
modelo produz resultados muito similares cisam de uma estimativa mais cuidadosa e
àqueles explicados pelo tipo de fonte ou dinâ- onde os trabalhos de conhecimento e de cam-
Artigos Técnico-Científicos 56 Natureza & Conservação - vol. 3 - nº1 - Abril 2005 - pp. 43-58
As onças-pintadas como detetives da paisagem no corredor do Alto Paraná, Brasil
po deveriam ser concentrados, 2) eles permi- Karanth, U. and Nichols, J. 2002. Monitoring
tem alinhar as opções de manejo de acordo Tigers and Their Prey A Manual for Resear-
com seus efeitos previstos na viabilidade da chers, Managers and Conservationists in Tro-
espécie-alvo. Com o desenvolver deste traba- pical Asia 208 p. Centre for Wildlife Studi-
lho e com mais dados demográficos e ecológi- es, Bangalore, India
cos acumulados, será possível alcançar resul- Leite, M.R.P., Boulhosa, R.L.P. Galvão, F,. and
tados mais confiáveis e propor recomenda- Cullen, L. 2002. Ecology and Conservation
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CAP.III
Estimativas de densidade
Metodologia
Com o objetivo de estimar a densidade populacional de onças-pintadas e a
densidade relativa de predadores e presas no Parque Estadual das Várzeas do Rio
Ivinhema em dois anos de trabalho foram feitas duas amostragens de aproximadamente
100 dias cada. Foram armadas 20 unidades de armadilhas fotográficas, distribuídas em
dez estações de captura com duas unidades em cada, amostrando diferentes ambientes
(fig.1). A área foi dividida em cinco quadrantes sendo o tamanho dos quadrante (112
km²) baseado nas áreas de vida obtidas com radiotelemetria dos animais no local de
estudo. Foram colocadas duas estações em cada um dos cinco quadrantes, abrangendo
toda área do parque. Os pontos das estações foram escolhidos de acordo com o
conhecimento prévio de utilização da área pelos animais, em estradas e trilhas
(“passadores de onça”).
As armadilhas foram armadas entre maio e agosto de 2005 e entre março e julho
de 2006 e eram revisadas a cada período entre 10 a 15 dias para troca de pilhas e filmes.
De acordo com o acompanhamento, as adequações quanto ao intervalo de tempo entre
disparo e turno de funcionamento foram ajustados. Ista para evitar a perda de fotos com o
gado, nas áreas do parque ainda ocupadas por rebanho bovino e também com o
movimento de carros nas estradas de acesso à sede do parque.
Figura 1- Estações com armadilhas fotográficas nos diferentes tipos de vegetação na área
do P. E das Várzeas do Rio Ivinhema, MS.
Resultados
Abundância relativa de predadores e presas
Na amostragem de 2006 calculamos a abundância relativa para as 13 espécies de
mamíferos silvestres flagradas pelas câmeras. Os índices (fotos da espécie/ 100
armadilhas-dia) mais altos obtidos foram para anta (Tapirus terrestris): 13,02; cachorro-
do-mato (Cerdocyon thous): 3,54; onça-pintada (Panthera onca): 3,44 e onça-parda
(Puma concolor): 2,08. Para as espécies cateto (Pecari tajacu), queixada (Tayassu
pecari), paca (Agouti paca), e tatu-galinha (Dasypus novemcinctus), os índices ficaram
entre 1,0 e 2,0. Índices abaixo de 1,0 foram detectados para lobo-guará (Chrysocyon
brachyurus), capivara (Hydrochoerus hyidrochaeris), cutia (Dasyprocta azarae),
tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e gambá (Didelphis albiventris).
A presença da mastofauna identificada e os altos índices para espécies de grande
porte e predadores indicam que o ambiente ainda se mantém preservado, apesar da ação
antrópica e da presença de gado no interior da unidade. Isto ressalta a importância da área
na conservação da fauna para toda a região do Alto Rio Paraná, nos estados do Mato
Grosso do Sul, Paraná e São Paulo.
Espécies registradas
Nas duas amostragens realizadas em 2005 e 2006 foram flagradas
20 espécies da fauna, sendo 3 aves e 17 mamíferos, entre predadores e presas.
As espécies registradas foram:
2005
Number of trapping occasions was 9
Number of animals captured, M(t+1), was 8
Total number of captures, n., was 22
Estimated probability of capture, p-hat = 0.3056
Population estimate is 8 with standard error 0.6077
Approximate 95 percent confidence interval 8 to 8
Profile likelihood interval 8 to 9
2006
Number of trapping occasions was 9
Number of animals captured, M(t+1), was 8
Total number of captures, n., was 20
Estimated probability of capture, p-hat = 0.2778
Population estimate is 8 with standard error 0.7494
Approximate 95 percent confidence interval 8 to 8
Profile likelihood interval 8 to 10
2005
Number of trapping occasions was 9
Number of animals captured, M(t+1), was 8
Total number of captures, n., was 22
Interpolated population estimate is 10 with standard error 1.9165
Approximate 95 percent confidence interval 9 to 17
2006
Number of trapping occasions was 9
Number of animals captured, M(t+1), was 8
Total number of captures, n., was 20
Interpolated population estimate is 25 with standard error 9.9230
Approximate 95 percent confidence interval 14 to 57
Referências bibliográficas
Nichols, J. D. & Karanth, K. U. 2002. Population monitoring: a conceptual framework.
Pp. 23-28, In: Monitoring Tigers and their prey: a manual for researchers and
conservacionists in Tropical Asia. Karanth, K. U. & Nichols, J. D. (eds). Center for
wildlife studies. Bangalore, India.
Apresentações em congressos
Foram apresentados trabalhos com os resultados do primeiro estudo com
armadilhas fotográficas - para identificação da fauna e estimativa populacional de onça-
pintada - no Parque do Ivinhema, nos seguintes congressos:
O P. E. das Várzeas do Rio Ivinhema, MS, com 73.330 ha, na divisa com o estado do
Paraná, está localizado na última área não afetada por barragens da planície de inundação
do rio Paraná no Brasil. Esta área remanescente ainda abriga espécies de grande porte da
mastofauna, sendo importante na sua conservação. Objetivando identificar as espécies de
mamíferos de médio e grande porte, gerando índices de abundância relativa destas,
utilizamos armadilhas fotográficas por um período de 96 dias no ano de 2006. A área do
parque foi dividida em cinco quadrantes abrangendo diferentes ambientes. Em cada
quadrante duas estações foram armadas, resultando num esforço amostral de 960
armadilhas-dia. Foram flagradas 13 espécies de mamíferos silvestres pelas câmeras. Os
índices (fotos da espécie/ 100 armadilhas-dia) mais altos obtidos foram para anta
(Tapirus terrestris): 13,02; cachorro-do-mato (Cerdocyon thous): 3,54; onça-pintada
(Panthera onca): 3,44 e onça-parda (Puma concolor): 2,08. Para as espécies cateto
(Pecari tajacu), queixada (Tayassu pecari), paca (Agouti paca) e tatu-galinha (Dasypus
novemcinctus), os índices ficaram entre 1,0 e 2,0. Índices abaixo de 1,0 foram detectados
para lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), capivara (Hydrochoerus hyidrochaeris), cutia
(Dasyprocta azarae), tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e gambá (Didelphis
albiventris). Outras espécies de mamíferos identificadas no P. E. do Ivinhema entre os
anos de 2002 e 2006, não flagradas pelas câmeras foram: ratão-do-banhado (Myocastor
coypus), tatu-peba (Euphractus sexcinctus), tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla),
cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus), veado-mateiro (Mazama americana), mão-
pelada (Procyon cancrivorus), quati (Nasua nasua) , furão (Galictis cuja), lontra (Lontra
longicaudis), gato-palheiro (Leopardus colocolo) e gato-mourisco (Puma yagouaroundi).
A presença da mastofauna identificada e os altos índices para espécies de grande porte e
predadores indicam que o ambiente ainda se mantém preservado, apesar da ação
antrópica e da presença de gado no interior da unidade. Isto ressalta a importância da área
na conservação da fauna para toda a região do Alto Rio Paraná (MS, PR, SP). O
monitoramento ao longo do tempo deve ser mantido no P. E. do Ivinhema, visando
auxiliar os trabalhos de conservação das espécies e planos de manejo das unidades de
conservação da região.
Financiador:Companhia Energética de São Paulo - CESP
CAP. IV
Resultados
Referências Bibliográficas
Logan, K. A. & L. L. Sweanor. 2001. Desert Puma: evolutionary, ecology and
conservation of an enduring carnivore. Washington D.C., Island Press.
CAP.V
Hábitos Alimentares
1.5
0.5
o
0
i ll
ad
y
y
r
os
er
te
ar
ar
ra
a
m
er
de
cc
ea
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co
te
na
hi
w
rn
he
ut
so
1. Status and conservation needs of the neotropical Felids International Conference and
Workshop, 9-11 de junho de 2005, São Francisco de Paula, RS, BR.
- Comparison of the food habits of jaguar, Panthera onca, and puma, Puma
concolor, at the flood plain of Parana River, PR/MS, Brazil. (ANEXOS 1 - pôster e 2 -
resumo.
Althoug the food habits of jaguar and puma, have been relatively well documented in the
last years, few researchs focused on the mechanisms that allow these two species to coexist. In
the Neotropical region, most of the natural areas were destroyed in the past years, extinguishing
areas where these felids coexisted. Thus, understanding how these top predators share the
resources at the same area can be an importat tool for their conservation, specialy in areas where
they are threatened. With a single landscape, including flooded areas, semi-deciduous forest and
cerrado, the Flood Plain of High Parana River is one of the last natural areas that suppot these two
large felids in the Brazilian central-south region. Despite its unique characteristcs, this region was
strongly degradated during the past decades, specialy due to construction of dams and cattle
raising activities. In the north of the flood plain, the Varzeas do Rio Ivinhema State Park
(VRISP), with 75,000 hectares, is considered one of the best preserved areas of this ecossistem.
At this protected area we have studied the food habits of jaguar and puma, since 2002, and
present here our parcial results. We have found 24 scats, 13 from jaguar and 11 from puma. There
was no difference between the prey sizes of the two predators. Both consummed medium and
large preys, varying from 3 to 150 kg. Jaguar presented a richer diet including collared-peccary,
white-lipped peccary, armadillo, southern-naked-tailed armadillo, giant-anteater, puma and marsh
deer. In the puma diet we registered armadillo, southern-naked-tailed armadillo, otter, deer, marsh
deer and capybara. We found 51.7% niche overlap between these two species (Simplified
Morisita Index). The richness found in the diet of puma and jaguar may reflect the favorable
environment conditions of the VRISP. Also, the consumption of medium and large preys
indicates that the felids can find enough energetic resource to survive, despite the niche overlap.
Based on these results, the VRISP might be, in a long term, a core area in the fragmented
landscape of the Flood Plain of High Paraná River, mantaining key species for the mantainance of
that ecossistem.
Support: Companhia Energética de São Paulo - CESP
ANEXO 3
Estudios sobre hábito alimentar dan importantes informaciones sobre la ecología de las especies y en caso
de grandes depredadores, como el jaguar, consisten en una importante herramienta de conservación. En la
Planicie de Inundación del Alto Río Paraná (PIARPR), en el centro-sur de Brasil, el hábito alimentar del
jaguar ha sido estudiado desde mayo de 2004. La región es formada por un archipiélago fluvial y áreas
continentales, comprendiendo aproximadamente 200.000 hectáreas de varzeas, bosque atlántico
semideciduo y savanas. Es considerado, aún, el último trecho, brasileño, del Río Paraná libre de presas, y
un importante refugio para la fauna, incluyendo el jaguar. Fecas de los grandes félidos fueron colectadas y
identificadas por medio de la morfología microscópica del pelo. Las 18 muestras del jaguar indicaron el
consumo de 8 especies de mamíferos de medio y gran porte (2Kg hasta 120 Kg.), como Blastocerus
dichotomus, Mazama sp., Dasypus septemcinctus, Dasypus unicinctus, Tayassu tajacu, Pecari tajacu,
Myrmecophaga tridactyla y, en dos oportunidades, Puma concolor. La amplitud del nicho alimentar es de
0,864 (Índice de Levin’s) indicando que en la PIARPR, el jaguar tiene hábito generalita. La mayor riqueza
de cazas en la dieta del jaguar ocurre en el norte de la PIARPR, en el Parque Estadual de Várzeas do Rio
Ivinhema (PEVRI) con 8 especies, en cuanto en el sur, en el Parque Nacional de Ilha Grande, fueron
identificados apenas 3. Esta diferencia en la dieta, así como el mayor número de muestras colectadas en el
norte (N=13), refleja la condición ambiental de la PIARPR, que ofrece mayor abundancia de recursos y
abarca una mayor población del jaguar en esa región. A largo plazo la PIARPR puede ser considerada un
área esencial para el mantenimiento de poblaciones del jaguar en el centro-sur de Brasil, y el PEVRI un
área núcleo de ese paisaje.
CAP. VI
Análises sanitárias
Publicações
Um trabalho (First Evidence of Canine Distemper in Brazilian Free-ranging
Felids, Nava et al.) com os resultados acima, foi submetido à apreciação para publicação
em revista científica. (ANEXO 1)
Outra comunicação foi publicada na revista científica Journal of Wildlife Diseases
com análises serológicas, trabalho no qual foram utilizadas duas amostras de onça-parda
da região do Alto Rio Paraná, uma de Bataguassu e outra de Ilha Solteira: First Evidence
of Feline Herpesvirus, Calicivirus, Parvovirus and Ehrlichia Exposure in Brazilian Free-
ranging Felids, Filoni et al. 2006. (ANEXO 2)
Ectoparasitos
Entre 1999 e 2006 foram coletadas 27 amostras de carrapatos dos grandes felinos
na área de influência de Porto Primavera e no parque do Ivinhema. Este material foi
destinado para análise e conservação na Universidade de São Paulo (USP), aos cuidados
do Professor Doutor Marcelo Labruna.
Publicações
Os estudos realizados incluindo este material foram divulgados em duas
publicações científicas:
1. Ticks (Acari: Ixodidae) on Wild Animals from the Porto Primavera
Hydroelectric Power Station Area, Brazil - Labruna et al., 2002. (ANEXO 3);
2. Ticks (Acari: Ixodidae) on Wild Carnivores of Brazil - Labruna et al., 2005.
(ANEXO 4).
1
1 “Short Communications”
5 Alessandra Ferreira Dales Nava1,5, 6, Laury Cullen Jr1, Dênis Aléssio Sana2, , Cássio
6 Roberto Leonel Peterka1,5, Débora de Sousa Bandeira1, Marcello Schiavo Nardi1, José
7 Domingues de Ramos Filho3, Thiago Ferraz Lima4 Kauê Cachuba Abreu1, Fernando
8 Ferreira5. 1 IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, Rua Ricardo Fogarolli 387, Teodoro
9 Sampaio, SP, 19280-000, Brazil; 2 Pro-Carnívoros, Rua Floriano Peixoto 1172, Anaurilândia,
10 MS, 79770-000, Brazil; 3 Biovet, Rua Coronel José Nunes dos Santos 639, Vargem Grande
11 Paulista, SP, 06730-000, Brazil; 4 CESP, Rodovia Marechal Rondon Km 667, Castilho, SP,
13 Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, Av. Prof. Dr.
14 Orlando Marques de Paiva 87, São Paulo, SP, 05508-270, Brazil; 6 Corresponding author
16
18
19
20
21
22
23
24
2
25 Infections of non domestic felids with viruses that are common in domestic carnivores have
26 been reported for numerous species worldwide (Mochizuki et al., 1990; Olmsted et al., 1992;
27 Ostrowsky et al., 2003). Data on viral infections in Brazilian felids are sparse and have
28 concentrated on feline retroviruses (Nava et al., 2004; Filoni et al., 2006). To our knowledge,
29 there are no publish reports of canine distemper infections (CDV) in wild felids in Brazil.
30 CDV has become of global concern affecting a wide range of carnivore species. In North
31 America, a jaguar (Panthera onca) was infected by CDV during an epizootic event in captive
32 carnivores (Appel et al., 1994; Cleaveland et al., 2003; Funk et al., 2001). In another occasion,
33 the high animal mortality concentrated among large felids such as tigers (Panthera tigris),
34 lions (Panthera leo), leopards (Panthera pardus), and one jaguar (Kennedy-Stoskopf et al.,
35 1999). It was latter demonstrated that the morbilivirus responsible for this deaths were related
36 to other local wild and domestic carnivores (Barret., 1999; Haas et al.,1996).
37
38 The aim of this study was to survey wild jaguars (Panthera onca), pumas (Puma concolor)
39 and ocelots (Leopardus pardalis) from the Atlantic forest determining their exposure to CDV.
40 Free-ranging individuals were sampled from two protected forested areas; The Morro do
41 Diabo State Park (MDSP) (22° 30' S, 52° 20' W) (37.000 ha) and the Ivinhema State Park
42 (ISP) (22° 55' S, 53° 39' W) (73.300 ha). These areas are surrounded by small rural settlements
43 and private properties practicing cattle ranching. Between January 1999 and March 2005, 27
44 blood samples were collected MDSP (Jaguars n=9, Pumas n=2 and Ocelots n=2), and in ISP
45 (Jaguars n=7, Pumas n=7). Animals were captured with either metal box traps or trained
46 hounds and immobilized with the use of darts and a combination of tiletamine HCl and
47 zolazepam HCl (Telazol®, Fort Dodge, Iowa, USA). Samples were sent to Biovet Lab in
48 Vargem Grande Paulista, SP, and analyzed by the CDV serum neutralization method.
3
49 Our results bring the first evidence of CDV exposure in Brazilian free-ranging felids. From
50 the 27 studied samples, two jaguars and one puma were positive for CDV. All positive
51 individuals were from ISP, resulting in 28% of the sampled jaguars and 14% of the sampled
52 pumas, or 21% of the sampled individuals in ISP. No evidence of exposure to CDV was
53 found in MDSP (Table 1). Local settlers and other land owners around both Parks no dot
54 conducts vaccination for CDV in their domestic dogs. The higher prevalence for CDV in ISP
55 compared to MDSP could be related to jaguar habitat use in the area. In ISP, in the wet
56 season, jaguars shift their range from marshlands to upland areas such as pastures. It is know,
57 that jaguar PO 18 positive for CDV has a home range of 280 km2, overlapping with three
58 nearby cattle ranches (Cullen et al. 2005). Local cowboys have the habit of herding the cattle
59 in companion with their dogs. This type of physical contact provides ideal circumstances for
60 the transmission of infectious diseases (Butler et al., 2004). Alternatively, it is possible that
61 infection is contracted when a susceptible animal consumes virus infected tissue via predation
62 or scavenging (Foggin et al., 1988; Wandeler et al., 1994). Canine distemper is excreted as an
64 Appel et al., 1994), but the potential for large carnivores to contract disease via predation of
65 dogs appears to be significant (Butler et al., 2004). In 1994, a CDV epidemic affected lions in
66 Serengeti National Park in Africa. The CDV source was attributed to domestic dogs around
67 the Park (Roelke-Parker et al., 1996). Our results bring evidences of a possible CDV “spill
68 over” from domestic dogs to wild felids in ISP. It’s possible that this occurs from large
69 infected nearby population of domestic dogs to small wild carnivore threatened populations
70 such as jaguars and pumas (Gascoyne et al., 1993). Our findings of CDV antibodies in these
71 species lead to the eminent need of systematic health monitoring in wild carnivores
72 populations and associated domestic carnivores living in and around protected areas,
73 especially where small, fragmented and threatened wild carnivores still roam.
4
74 LITERATURE CITED
75
77 survey of selected canine pathogens among free-ranging jackals in Kenya. Journal of Wildlife
79
82 Canine distemper epizootic in lions, tigers, and leopards in North America. Journal of
84
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99 CULLEN, L., ABREU, K. C., SANNA, D. AND NAVA, A .F. D. 2005. Jaguars as landscape
100 detectives for the upper Paraná River corridor, Brazil. Natureza e Conservação 3: 43-58.
101
102 FILONI, C., J.L. CATÃO-DIAS, G. BAY, E.L. DURIGON, R. S. P. JORGE, H.LUTZ, AND
104 Parvovirus, and Erlichia Exposure in Brazilian Free-ranging Felids. Journal of Wildlife
106
108 Virological and Ecological Aspects. Ph.D Dissertation, University of Zimbabwe, Harare,
110
111 FUNK, S. M., C. V. FIORELLO,S. CLEAVELAND AND M. E. GOMPPER. 2001. The role
112 of disease in carnivore ecology and conservation. In: Carnivore Conservation, 2rd Edition, J.
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117 dogs ( Lycaon pictus) in the Serengeti region, Tanzania. Journal of wildlife disease 29: 396-
118 402.
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120 HAAS, L., H. HOFER, AND M. EAST .2003. Canine distemper virus in Serengeti spotted
122
6
123 KENNEDY-STOSKOPF, S. 1999. Emerging viral infections in large cats. In Zoo and Wild
124 Animal Medicine, 4th Edition, M. E. Fowler and R. E Miller (eds). W. B. Saunders,
126
127 MOCHIZUKI, M., M. AKUZAWA, AND H. NAGATOMO. 1990. Serological survey of the
128 Iriomote cat (Felis iriomotensis) in Japan. Journal of Wildlife Diseases 26: 236–245.
129
130
131 NAVA, A. F. D., C. R. L. PETERKA, D. S. BANDEIRA, AND L. CULLEN. 2004.
132 Avaliação da prevalência pelo vírus da infecção por leucemia felina (FELV) e
133 imunodeficiência felina (FIV) em felinos domésticos e silvestres na região do Parque estadual
134 Morro do Diabo – SP In Anais do VIII Congresso e XII Encontro da Associação brasileira de
136
140 Worldwide prevalence of lentivirus infection in wild feline species: Epidemiologic and
142
145 G. MWAMENGELE, M.N. MGASA, G.A. MACHANGE, B.A. SUMMERS AND M.J.G.
146 APPEL. 1996. A canine distemper virus epidemic in Serengeti lions (Panthera leo). Nature
148
7
149 WANDELER, A. I., S.A. NADIN-DAVIS, R. R. TINLINE AND, C .E. RUPPRECHT. 1994.
150 Rabies epidemiology: some ecological and evolutionary perspectives. In Lyssaviruses, 1rd
151 Edition, C.E. Rupprecht, , B. Dietzschold, and A. Koprowski (eds.). Springer-Verlag, Berlin,
153
Table 1. Titles of positive felids for CDV at 100TCID50.
jaguars, pumas, margays, a pampas cat, tic Forest, Cerrado, and Pantanal) that
and a free-ranging ocelot (Schmitt et al., included 13 municipalities in the states of
2003). To the best of our knowledge, there Rondônia, Acre, Mato Grosso, Mato
are no published reports of FHV 1, FCV, Grosso do Sul, Paraná, São Paulo e Rio
and FPV infections in wild felids in Brazil. de Janeiro (Fig. 1, Table 1). Animals were
Studies have demonstrated the exposure captured with the use of trained dogs (for
of a variety of free-ranging and captive large felids) or live traps (small felids) and
felids to Bartonella henselae, including immobilized with the use of darts and
neotropic felids from North American a combination of tiletamine HCl and
zoos (Kelly et al., 1998; Yamamoto et al., zolazepam HCl (TelazolH, Fort Dodge,
1998; Rotstein et al., 2000; Molia et al., Fort Dodge, Iowa, USA). At the time of
2004; Pretorius et al., 2004). An extensive sample collection, a complete physical
serosurvey of pumas reported seropositive examination was performed; animals were
animals throughout most of the geograph- radio-instrumented and were released at
ical range of the species (Chomel et al., the place of capture for further monitor-
2004a); the overall seroprevalence in ing. One of the samples (serum from heart
South American pumas was found to be clot) was obtained from a necropsy per-
22.4%. To our knowledge, there is no formed on the little spotted cat from
previous report of Ehrlichia canis and Ubatuba, São Paulo (Table 1, Fig. 1).
Anaplasma phagocytophilum infections in Antibody titers to FHV 1, FCV, FCoV,
captive or free-ranging neotropic Brazilian and FPV were determined in 21 serum
felids. samples by IFA as described (Hofmann-
The aim of this study was to serologi- Lehmann et al., 1996). All sera were
cally survey free-ranging felids from Brazil screened at a dilution of 1:20. For FHV
to determine the extent of exposure to 1, FCV, and FPV, positive and question-
selected viruses (FHV 1, FCV, FCoV, able results were titrated in a two-fold
FPV, FeLV, FIV, and the puma lentivirus, serial dilution starting at 1:20 until end-
PLV) and hemoparasites (E. canis, A. point. For FCoV, positive samples were
phagocytophilum, and B. henselae). titrated using 1:25, 1:100, 1:400, and
The Genome Resource Bank from 1:1600 dilutions.
National Research Center for Carnivores Exposure to E. canis and A. phagocyto-
Conservation—CENAP, unity of National philum or closely related agents was
Environmental Agency—IBAMA in Brazil evaluated by IFA with the use of 1:80
provided serum samples, which were dilutions of the serum samples and Mega
transported to Switzerland in full compli- Screen Fluoehrlichia c. slides (MegaCor
ance with specific federal permits like Diagnostik GmbH, 6912 Hörbranz, Aus-
Convention on International Trade in tria) or E. equi slides (VMRD, Inc.
Endangered Species—CITES (Permit Pulman, WA, USA). Serum samples from
Numbers 0112928BR and 1562/04), Ge- 20 animals were assayed for antibodies to
netic Heritage Management Council— B. henselae by IFA (Glaus et al., 1997). All
CGEN and Agriculture Ministry (CSI sera were screened at dilutions of 1:64 and
1530/2004), on dry ice as diagnostic 1:128. Titers of $64 were considered posi-
specimens packed in compliance with tive. Positive serum samples were titrated
IATA Packing Instruction 650. Samples until endpoint by twofold serial dilutions.
were stored at CENAP at 280 C or in For quality control of the IFA slides,
liquid nitrogen. aliquots of the cell cultures (140 ml) or
Blood samples were collected from 18 scrapings from the slides were tested for
free-ranging pumas, one ocelot, and two presence of unwanted antigens. Samples
little spotted cats between 1998 and 2004 were incubated at 40 C for 10 min in
from four biomes (Amazon Forest, Atlan- 300 ml lysis buffer and total nucleic acid
FIGURE 1. Map depicting the geographic areas within Brazil from which samples from 21 free-ranging
felids were collected.
(TNA) was extracted with the use of the FIV (Leutenegger et al., 1999b), FeLV
MagNA Pure LC instrument (Roche, (Hofmann-Lehmann et al., 2001), FCoV
Rotkreuz, Switzerland). TNA samples (Gut et al., 1999), FHV 1 (Vogtlin et al.,
were analyzed by real-time TaqMan poly- 2002), FPV (Meli et al., 2004), and FCV
merase chain reaction (PCR) or reverse (Kummrow et al., 2005). No unwanted
transcriptase (RT) PCR on an ABI Prism agents were detected in any antigen
7700 Sequence Detection System (Ap- preparations.
plied Biosystems, Foster City, CA, USA) All sera were examined for the presence
for the presence of the agents of interest: of antibodies to FeLV by Western blot
TABLE 1. Serologic test results for free-ranging Puma concolor, Felis pardalis, and Felis tigrinis in Brazil.
Serologic resultsc
UP L. tigrinus (20) 1 N 1 N 1 N 1 N N N
4
Antibody titer 20–160 20–40 100 40–640 20,480 64–1024
(range)
a
VR 5 Vilhena/ Rondônia (12u379S, 60u079W); RA 5 Rio Branco/Acre (09u529S, 67u529W); BM 5 Barão de Melgao/ Mato Grosso (16u079S, 55u529W); CM 5 Corumbá/ Mato Grosso
do Sul (19u039S, 57u419W); BaM 5 Bataguassu/Mato Grosso do Sul (21u419S, 52u269W); JM 5 Jardim/Mato Grosso do Sul 21u269S, 56u119W; PM 5 Ponta Porã/Mato Grosso do Sul
(22u339S, 55u419W); PP 5 Parque Nacional do Iguau /Paraná (25u339S, 54u339W); SS 5 Serra da Cantareira/São Paulo (23u339S, 46u419W); lS 5 Ilha Solteira/São Paulo (20u269S,
51u189W); UP 5 Ubatuba/São Paulo (23u269S, 45u039W); Nova Friburgo/Rio de Janeiro (22u189S 42u339W).
Cust # 6891
b
Individual animal identification number.
c
Number of animals positive. All animals tested negative for antibodies to Anaplasma phagocytophium on IFA; all animals tested negative of Direct FeLV p27 ELISA.
d
N 5 negative.
e
No material was available from one puma for the B. henselae IFA.
SHORT COMMUNICATIONS 0
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Authors Queries
Dear Author
During the preparation of your manuscript for publication, the questions listed below have
arisen. Please attend to these matters and return this form with your proof. Many thanks for
your assistance
From June 2000 to June 2001, a total of 741 ticks were collected from 51 free-living wild animals captured at the
Porto-Primavera Hydroelectric power station area, located alongside an approximately 180 km course of the
Paraná river, between the states of São Paulo and Mato Grosso do Sul, comprising 9 species of 3 genera: Ambly-
omma (7 species), Boophilus (1) and Anocentor (1). A total of 421 immature Amblyomma ticks were reared in
laboratory until the adult stage, allowing identification of the species. A. cajennense was the most frequent tick
species (mostly immature stages) collected on 9 host species: Myrmecophaga tridactyla, Tamandua tetradactyla,
Cerdocyon thous, Puma concolor, Tayassu tajacu, Mazama gouazoubira, Hydrochaeris hydrochaeris, Alouatta caraya,
Cebus apella. Other tick species were less common, generally restricted to certain host taxa.
Key words: ticks - wildlife - Amblyomma - Boophilus - Anocentor - Brazil
Ticks are obligate blood feeders that parasitize a wide situation is linked to the lack of a taxonomic keys for iden-
variety of terrestrial and flying vertebrates and a few ma- tification of Amblyomma immature stages in Latin America.
rine snakes and lizards (Hoostraal 1985). More than 800 Currently, the only conclusive means of identifying spe-
tick species have been described in the world (Keirans cies of Amblyomma immature stages from Brazil are by
1992, Camicas et al. 1998). Ticks are vectors of more kinds rearing these ticks until the adult stage, or by the use of
of microorganisms than any other arthropod taxon, in- specific molecular markers (Marrelli et al. 2001).
cluding mosquitoes (Hoogstraal 1985, Oliver 1989). The The present study reports ticks infesting several wild-
vast literature regarding ticks has centered mostly around life species captured alongside the Paraná river, Brazil.
10% of the world tick fauna, which have been well recog- Several Amblyomma immature stages were collected and
nized for their medical and veterinary significance. How- reared until the adult stage in the laboratory, allowing
ever, a comprehensive knowledge of the ecology of “im- conclusive identification of the species.
portant” ticks and tick borne-diseases are best achieved MATERIALS AND METHODS
by knowing the biological and physiological similarities
and differences between all species, in relation to their Porto-Primavera Hydroelectric power station is located
hosts and to the environment. Knowledge of biological in Brazil between the southwest of the state of São Paulo
models of tick parasitism of wildlife is very useful to clarify and the east of the state of Mato Grosso do Sul. Its water
factors that have permitted a few tick species to become reservoir, filled up by the Paraná river, flooded an area of
economically important pests and vectors of disease 2,200 km2 at the São Paulo and Mato-Grosso do Sul bor-
agents to man and animals (Hoogstraal 1985). der (Szabó et al. 2002). During the flooding, some free-
There are 54 valid tick species in Brazil, of which 32 living wild animals were rescued for an extensive research
belong to the genus Amblyomma (Guimarães et al. 2001). program with the financial support of the São Paulo State
Although more than half of the 102 known Amblyomma Energy Company (Cesp). The flooded area was composed
species in the World are endemic to the New World of an extensive flat swamp, interposed by areas of dense
(Keirans 1992), they have been poorly studied. For many forest above high-water level. Altitude ranged from 276
Brazilian species, geographic and host records are scarce to 328 m above sea level.
and new tick species have recently been discovered For the present study, a total of 51 animals was sampled,
(Barros Battesti et al. 1999, Labruna et al. 2002a). Although comprising 15 different species (Table) from the following
all tick species reported in Brazil have been properly de- municipalities: Anaurilândia, Bataguassu, Bataiporã,
scribed in the adult stage, immature stages (larvae and Brasilândia, Santa Rita Pardo in Mato Grosso do Sul;
nymphs) of most of them are still unknown. Thus, host Presidente Epitácio, Primavera and Rosana in São Paulo.
records for immature stages of the majority of the Am- All these municipalities are contiguously located along-
blyomma species from Brazil are even more scarce. This side an approximately 180 km course of the Paraná river,
between Brasilândia (21o15’S, 52o01’W) and Rosana
(22o33’S, 53o01’W). Captures were carried out at irregular
+ Corresponding author. Fax: +55-11-3091.7928. E-mail: intervals from June 2000 to June 2001, a period when flood-
[email protected] ing procedures were divided into stages.
Received 16 April 2002 Captured animals were restrained with or without an-
Accepted 26 August 2002 esthesia (depending on animal species), and given a thor-
1134 Ticks on Wild Animals from Brazil Marcelo B Labruna et al.
ough physical examination. As other biological samples parasitic stages of A. cajennense (Oliveira 1998, Labruna
were taken for other research projects, tick sampling was et al. 2002b). Cattle, another introduced host, was also
performed on a limited period of 3 min/host. After this showed to be a suitable host for A. cajennense (Fairchild
procedure, animals were taken to several Brazilian zoos, et al. 1966, Serra-Freire 1982). During the present study,
authorized breeders, or experimental reintroduction areas. many farms alongside the Paraná river were visited and
Ticks collected on the animals were immediately placed those provided shared areas by horses, cattle and wild
in dry plastic vials containing few fresh grass leaves, and animals. In addition, tapirs were also present in these ar-
covered by a cork containing several minute holes. Vials eas (unpublished data). We believe that our results of A.
were properly identified and conditioned under room tem- cajennense on a great variety of wild animals (Table) can
peratures for few days or weeks, and then they were sent be linked to the availability of several primary hosts for
to the laboratory. The purpose of this procedure was to A. cajennense (horse, cattle, tapir, capybara, peccary). Al-
try to maintain ticks alive inside the vials until arriving at though a variety of animal species and also humans can
the laboratory for taxonomic identification. be infested by A. cajennense (Aragão 1936, Lopes et al.
Engorged larvae or nymphs that arrived alive at the 1998, Pereira et al. 2000, present study), the abundance of
laboratory were immediately placed in an incubator at 25oC the infestations will depend on the availability of the pri-
and RH 85%, to allow them to molt to nymphs and adults, mary hosts for the tick. In addition, environmental condi-
respectively. Nymphs obtained from the engorged larvae tions of the area must have been favorable for the free-
were infested on naive rabbits according to Pinter et al. living stages of A. cajennense in the present study. It has
(2002). Adults obtained from the engorged nymphs were been shown that this tick is very sensitive to vegetation
used for identification of the species of the former imma- cover (Labruna et al. 2001a).
ture ticks collected on the animals. The cattle tick, B. microplus, was collected from marsh
RESULTS
deer (Blastocerus dichotomus) and jaguar (Panthera
onca). This tick is highly prevalent on cattle in almost all
A total of 741 ticks were collected from the 51 animals of Brazil (Horn 1983). It is an Old World tick that was
(Table). Nine tick species were identified, comprising 3 probably introduced in Brazil with cattle (Aragão 1911).
genera: Amblyomma (7 species), Boophilus (1) and Several studies have reported infestations by B. microplus
Anocentor (1). From 495 nymphs and 77 larvae of the on wild and domestic hosts other than cattle, but in all
genus Amblyomma collected from the animals, a total of cases these hosts have a history of sharing the same area
413 and 8, respectively, were successfully reared until the with cattle (Labruna et al. 2001a,b). Another study, con-
adult stage in the laboratory, allowing identification of ducted simultaneously on the same area of the present
the species. The remaining 82 nymphs and 69 larvae died study, showed that B. microplus was the main tick spe-
before reaching the adult stage, and were identified only cies infesting four populations of marsh deers (Szabó et
to their generic level (Amblyomma sp.). al. 2002). So far, cattle is the only known primary host for
A. cajennense was the most frequent tick species, col- B. microplus in Brazil and should be viewed as the main
lected on 9 host species of different mammal taxa (Edentata, source of B. microplus for any other host species. Simi-
Carnivora, Artiodactyla, Rodentia and Primates). All these larly, horses are primary hosts for A. nitens over North-
hosts harbored only immature stages of A. cajennense, ern, Central and Southeastern Brazil (Aragão & Fonseca
except for one Edentata species (Myrmecophaga 1953, Labruna et al. 2001a) and the finding of this tick on
tridactyla) and one Artiodactyla (Tayassu tajacu), on marsh deer in the present study should be linked to the
which adults of A. cajennense were additionally found. presence of infested horses in the studied area.
Other Amvblyomma species were generally found in the A. nodosum was the most common adult tick on both
adult stage, restricted to certain host taxa: A. rotundatum anteaters species, M. tridactyla and T. tetractyla. To our
on snakes (Bothrops moojeni and Boa constrictor), A. knowledge, adults of this species have been reported ex-
nodosum on anteaters (M. tridactyla and Tamandua clusively on anteaters (Aragão 1936, Fairchild et al. 1966,
tetractyla), A. cooperi on capybara (Hydrochaeris Jones et al. 1972, Guimarães et al. 2001). In the present
hydrochaeris) and A. longirostre on porcupine (Coendou study, all 304 adult ticks that molted from engorged
prehensilis). Representative specimens of all ticks spe- nymphs collected on anteaters were identified as A.
cies of the present study have been deposited in the Na- cajennense. Thus, information about hosts for A. nodosum
tional Tick Collection of Faculdade de Medicina Veterinária immature stages remains lacking.
e Zootecnia, Universidade de São Paulo (nos: 302, 326, The present record of A. triste on M. tridactyla (Table)
327, 329, 332-349, 351, 352, 447, 448, 462, 463, 475-477, 488, is the first of this tick on an Edentata. It should not be
489, 575). considered unusual as the adult stage of A. triste has
DISCUSSION shown a broad host range in Uruguay (Sampaio et al.
1992). However, marsh deer seem to be the primary hosts
Our results showed that A. cajennense was the most for the adult stage of A. triste in Brazil (Szabó et al. 2002).
common tick species in the studied area. This species is The taxonomic position of A. triste was formerly confused
endemic to the Neotropical region, where it seems to be with A. tigrinum and A. maculatum in South America
primarily a parasite of large wild mammals, especially ta- (Kohls 1956). It is probable that A. maculatum does not
pirs (Tapirus terrestris), capybaras (H. hydrochaeris), exist in Brazil and adults of A. tigrinum parasitize almost
peccaries (Tayassu spp.) (Aragão 1911, 1936). Horses, exclusively Carnivora hosts (Guglielmone et al. 2000). As
which were introduced into New World during coloniza- this last species is morphologically very similar to A. triste,
tion, have been showed to act as primary hosts for all previous reports of A. tigrinum on marsh deer in Brazil
TABLE
Ticks collected from wild animals in the Primavera hydroelectric power station area, Brazil
Host Tick Number of ticks Mean no. of ticks
Name (n) No. infested/No. non-infested host species Males Females Nymphs Larvae Total ± SE (range)
REPTILA
Bothrops moojeni (1) 1/0 Amblyomma rotundatum - 1 - - 1 1 ± 0.0 (1)
Boa constrictor (1) 1/0 A. rotundatum - 1 - - 1 1 ± 0.0 (1)
1/0 Amblyomma sp. - - 7 2 9 9 ± 0.0 (9)
EDENTATA
Myrmecophaga tridactyla (20) 18/2 A. cajennense 24 12 270 a - 306 15.3 ± 14.2 (0-54)
12/8 A. nodosum 45 7 - - 52 2.6 ± 4.4 (0-18)
1/19 A. triste - 1 - - 1 0.05± 0.2 (0-1)
11/9 Amblyomma sp. - - 30 - 30 1.5 ± 2.2 (0-6)
Tamandua tetradactyla (5) 4/1 A. cajennense - - 34 a - 34 6.8 ± 7.6 (0-18)
4/1 A. nodosum 21 7 - - 28 5.6 ± 9.2 (0-22)
1/4 Amblyomma sp. - - 1 - 1 0.2 ± 0.4 (0-1)
Mem Inst Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Vol. 97(*), December 2002
CARNIVORA
Cerdocyon thous (1) 1/0 A. cajennense - - 3a - 3 3 ± 0.0 (3)
Puma concolor (2) 1/1 A. cajennense - - - 8b 8 4 ± 5.6 (0-8)
1/1 A. coelebs - - 1a - 1 0.5 ± 0.7 (0-1)
2/0 Amblyomma sp. - - - 63 63 31.5 ± 19.0 (18-45)
Panthera onca (2) 2/0 Boophilus microplus - - 8 - 8 4 ± 4.2 (1-7)
2/0 Amblyomma sp. - - 1 2 3 1.5 ± 0.7 (1-2)
ARTIODACTYLA
Tayassu tajacu (5) 5/0 A. cajennense 6 1 23 a - 30 6 ± 5.7 (1-15)
3/2 Amblyomma sp. - - 10 - 10 2 ± 2.5 (0-6)
Mazama gouazoubira (1) 1/0 A. cajennense - - 5a - 5 5 ± 0.0 (5)
1/0 Amblyomma sp. - - 3 - 3 3 ± 0.0 (3)
Blastocerus dichotomus (1) 1/0 B. microplus - 4 - - 4 4 ± 0.0 (4)
1/0 Anocentor nitens 1 1 - - 2 2 ± 0.0 (2)
RODENTIA
Coendou prehensilis (3) 3/0 A. longirostre 5 - - - 5 1.6 ± 0.5 (1-2)
Hydrochaeris hydrochoeris (3) 3/0 A. cooperi 14 10 39 a - 63 21 ± 13.1 (7-33)
1/2 A. cajennense - - 1a - 1 0.3 ± 0.6 (0-1)
3/0 Amblyomma sp. - - 3 1 4 1.3 ± 0.5 (1-2)
PRIMATES
Alouatta caraya (3) 3/0 A. cajennense - - 18 a - 18 6 ± 5.6 (1-12)
2/1 Amblyomma sp. - - 20 1 21 7 ± 10.4 (0-19)
Cebus apella (3) 3/0 A. cajennense - - 19 a - 19 6.3 ± 7.6 (1-15)
3/0 Amblyomma sp. - - 7 - 7 2.3 ± 1.1 (1-3)
a: species identification was carried out after nymphs had molted to the adult stage in the laboratory; b: species identification was carried out after larvae had molted to nymphs that engorged
on rabbits and molted to the adult stage in the laboratory.
1135
1136 Ticks on Wild Animals from Brazil Marcelo B Labruna et al.
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cerning an immature stage of this species. Adults of A. 1844. Proc Ent Soc Wash 58: 143-147.
coelebs have been found on a variety of medium and Labruna MB, Basano AS, Schumaker TTS, Camargo LMA,
large mammals, but tapirs seem to be its primary hosts Camargo EP 2002a. Fauna de carrapatos de Rondônia:
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Labruna MB, Kasai N, Ferreira F, Faccini JLH, Gennari SM
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the genus Amblyomma comprising the largest number of horses in the state of São Paulo, Brazil. Vet Parasitol 105:
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et al. 1998, Evans et al. 2000, Pereira et al. 2000, Guimarães Labruna MB, Kerber CE, Ferreira F, Faccini JLH, De Waal DT,
et al. 2001, Labruna et al. 2002a). In addition, we found a Gennari SM 2001a. Risk factors to tick infestations and
variety of host records for immature stages of A. their occurrence on horses in the State of São Paulo, Brazil.
cajennense, much broader than for the adult stage. Fur- Vet Parasitol 97: 51-64.
ther studies should emphasize host usage by Amblyo- Labruna MB, Souza SLP, Guimarães Jr JS, Pacheco RC, Pinter
mma immature stages, contributing to a better knowledge A, Gennari SM 2001b. Prevalência de carrapatos em cães
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-1
Abstract. The present study reports field data of ticks infesting wild carnivores captured from July
1998 to September 2004 in Brazil. Additional data were obtained from one tick collection and from
previous published data of ticks on carnivores in Brazil. During field work, a total of 3437 ticks
were collected from 89 Cerdocyon thous (crab-eating fox), 58 Chrysocyon brachyurus (maned wolf),
30 Puma concolor (puma), 26 Panthera onca (jaguar), 12 Procyon cancrivorus (crab-eating raccoon),
4 Speothos venaticus (bush dog), 6 Pseudalopex vetulus (hoary fox), 6 Nasua nasua (coati), 6
Leopardus pardalis (ocelot), 2 Leopardus tigrinus (oncilla), 1 Leopardus wiedii (margay), 1 Her-
pailurus yagouaroundi (jaguarundi), 1 Oncifelis colocolo (pampas cat), 1 Eira barbara (tayara), 1
Galictis vittata (grison), 1 Lontra longicaudis (neotropical otter), and 1 Potus flavus (kinkajou).
Data obtained from the Acari Collection IBSP included a total of 381 tick specimens collected on
13 C. thous, 8 C. brachyurus, 3 P. concolor, 10 P. onca, 3 P. cancrivorus, 4 N. nasua, 1 L. pardalis, 1
L. wiedii, 4 H. yagouaroundi, 1 Galictis cuja (lesser grison), and 1 L. longicaudis. The only tick-
infested carnivore species previously reported in Brazil, for which we do not present any field data
are Pseudalopex gymnocercus (pampas fox), Conepatus chinga (Molina’s hog-nosed skunk), and
Conepatus semistriatus (striped hog-nosed skunk). We report the first tick records in Brazil on two
Felidae species (O. colocolo, H. yagouaroundi), two Canidae species (P. vetulus, S. venaticus), one
Procyonidae species (P. flavus) and one Mustelidae (E. barbara). Tick infestation remains
150
unreported for 5 of the 26 Carnivora species native in Brazil: Oncifelis geoffroyi (Geoffroy’s cat),
Atelocynus microtis (short-eared dog), Pteronura brasiliensis (giant otter), Mustela africana
(Amazon weasel), and Bassaricyon gabbii (olingo). Our field data comprise 16 tick species repre-
sented by the genera Amblyomma (12 species), Ixodes (1 species), Dermacentor (1 species), Rhipi-
cephalus (1 species), and Boophilus (1 species). Additional 5 tick species (3 Amblyomma species and
1 species from each of the genera Ixodes and Ornithodoros) were reported in the literature. The most
common ticks on Carnivora hosts were Amblyomma ovale (found on 14 host species), Amblyomma
cajennense (10 species), Amblyomma aureolatum (10 species), Amblyomma tigrinum (7 species),
Amblyomma parvum (7 species), and Boophilus microplus (7 species).
Introduction
From July 1998 to September 2004, ticks were collected from field-captured
wild carnivores in different regions of Brazil, as part of different projects
sponsored by several institutions (see Acknowledgments). The collected ticks
were transported alive or preserved in 70% alcohol to the laboratory for
taxonomic identification. When possible, live immature specimens of the genus
Amblyomma were reared to the adult stage in the laboratory for identification
of the tick species (Labruna et al. 2002a). The collected ticks were deposited in
the tick collection Coleção Nacional de Carrapatos (CNC) of the Faculty of
Veterinary Medicine of the University of São Paulo, São Paulo, SP. Additional
data of ticks on carnivores in Brazil were obtained from the Acari Collection of
the Instituto Butantan (IBSP). Published records of ticks on carnivores in
Brazil were extracted from the literature and presented according to the
location, when available.
Results
During the field work from 1998 to 2004, ticks were collected from 246 wild
carnivores as follows: 89 Cerdocyon thous (crab-eating fox), 58 Chrysocyon
brachyurus (maned wolf), 30 Puma concolor (puma), 26 Panthera onca (jaguar),
12 Procyon cancrivorus (crab-eating raccoon), 6 Pseudalopex vetulus (hoary
fox), 6 Nasua nasua (coati), 6 Leopardus pardalis (ocelot), 4 Speothos venaticus
(bush dog), 2 Leopardus tigrinus (oncilla), 1 Leopardus wiedii (margay), 1
Herpailurus yagouaroundi (jaguarundi), 1 Oncifelis colocolo (pampas cat), 1
Eira barbara (tayara), 1 Galictis vittata (grison), 1 Lontra longicaudis (neo-
tropical otter), and 1 Potus flavus (kinkajou). All animals were captured in wild
life except for 1 C. brachyurus, 1 P. vetulus, and 1 L. wiedii. A total of 3437 ticks
were collected and identified.
Data obtained from the Acari Collection IBSP included a total of 381 tick
specimens collected on the following host species: 13 C. thous, 8 C. brachyurus,
3 P. concolor, 10 P. onca, 3 P. cancrivorus, 4 N. nasua, 1 L. pardalis, 1 L. wiedii,
4 H. yagouaroundi, 1 Galictis cuja (lesser grison), and 1 L. longicaudis. The tick
species found infesting each host species from our field work and the IBSP data
were grouped and presented in Tables 1–3. The locations of the tick records are
indicated in Table 4.
Table 1. Ticks on Felidae species from different locations in Brazil. 152
a
Ticks Host species [Number of examined individuals]
Ixodes aragaoi
Adult 1 (13)
Amblyomma aureolatum
Adult 3 (47,58,68) 2 (32,68)
A. brasiliense
Nymph b 1 (70)
A. cajennense
Adult 3 (7,13) 8 (4,5,7,17) 1 (60)
Nymph b 2 (7,70) 2 (13)
Larva b 1 (7) 1 (70) 1 (13)
A. coelebs
Nymph b 1 (9) 4 (70)
A. oblongoguttatum
Adult 1 (34)
A. ovale
Adult 13 (4,7,11,13,17,27) 11 (2,5,7,20,21,34,59,70) 2 (27,61) 1 (1)
A. parvum
Adult 7 (3,13) 3 (2,4,59) 1 (13) 1 (18)
A. tigrinum
Adult 3 (3,4) 4 (4,5)
A. triste
Adult 1 (4) 2 (4,59) 1 (18)
Larva b 1 (11)
Amblyomma sp.
Nymph 6 (7,9,11) 13 (2,4,7,11,59,70) 2 (4,13) 1 (4) 1 (4)
Larva 5 (7,11,13) 4 (7,11) 1 (4)
Dermacentor nitens
Adult 4 (7,66) 1 (59) 1 (69)
Nymph 1 (59)
Boophilus microplus
Adult 5 (7,11,13) 6 (7,8,70) 1 (69) 1 (4)
Nymph 2 (7,11) 5 (4,7,57) 1 (4)
Rhipicephalus sanguineus
Adult 1 (35)
a
Number of infested animals (location code in parentheses see Table 4).
b
species identification were made after rearing the tick to the adult stage in the laboratory.
153
154
Amblyomma aureolatum
Adult 5 (45,53,58,68) 1 (56)
A. brasiliense
Nymph b 1 (55)
A. cajennense
Adult 7 (13,14,29,68) 5 (4,10,13,51,69) 2 (4,13)
Nymph b 31 (13,14) 9 (13,65) 1 (14) 1 (13)
Larva b 6 (13)
A. dubitatum
Adult 1 (54)
A. fuscum
Adult 1 (50)
A. ovale
Adult 10 (13,14,16,29,50,52) 4 (13,15,65) 3 (4,13)
A. parvum
Adult 6 (13,16) 3 (13,14)
A. tigrinum
Adult 20 (4,18) 47 (13,14,15,46,49,67) 1 (4)
A. triste
Adult 1 (13) 1 (4)
Amblyomma sp.
Nymph 67 (4,13,14,16,55) 18 (4,13) 1 (14) 3 (4)
Larva 22 (4,13,14,16,69) 2 (4)
Dermacentor nitens
Adult 1 (13)
Boophilus microplus
Adult 1 (16)
Nymph 2 (14,16) 1 (13)
Rhipicephalus sanguineus
Adult 1 (55) 4 (22,24)
Nymph 1 (65)
a
Number of infested animals (location code in parentheses see Table 4).
b
species identification were made after rearing the tick to the adult stage in the laboratory.
Table 5 summarizes the literature records of the tick species that have been
found on carnivores in Brazil, prior to the present study. All records refer to
the tick adult stage except for one nymphal record of Ixodes loricatus on
N. nasua. The only carnivore species cited in the literature (Table 5), for which
we do not present any field data (Tables 1–3) are Pseudalopex gymnocercus
(pampas fox), Conepatus chinga (Molina’s hog-nosed skunk), and Conepatus
semistriatus (striped hog-nosed skunk).
We report the first tick records in Brazil on two Felidae species (O. colocolo,
H. yagouaroundi), two Canidae species (P. vetulus, S. venaticus), one Procy-
onidae species (P. flavus) and one Mustelidae (E. barbara). Tick infestation
155
Table 3. Ticks on Procyonidae and Mustelidae species from different locations in Brazil.
a
Ticks Host species [number of examined individuals]
Amblyomma aureolatum
Adult 4 (27,39,55,68)
A. brasiliense
Nymphb 1 (27)
A. cajennense
Adult 1 (13)
Nymphb 9 (13,14,55)
A. ovale
Adult 4 (13,68) 7 (17,27,62,64) 1 (63) 1 (68) 2 (48,50) 1 (35)
A. rotundatum
Adult 1 (19)
Amblyomma sp.
Nymph 10 (13,14,55) 4 (17,62,64)
Larva 1 (4)
Ornithodoros sp.
Larva 1 (35)
a
Number of infested animals (location code in parentheses see Table 4).
b
species identification were made after rearing the tick to the adult stage in the laboratory.
Discussion
The most common ticks on Carnivora hosts were Amblyomma ovale (found on
14 host species), Amblyomma cajennense (10 species), Amblyomma aureolatum
(10 species), Amblyomma tigrinum (7 species), Amblyomma parvum (7 species),
and Boophilus microplus (7 species). It is noteworthy that all records of
A. aureolatum, A. ovale, A. parvum and A. tigrinum refer to the tick adult stage
whereas most of the records of A. cajennense refer to the immature stages
(nymphs and larvae). These findings are supported by other studies that
156
Table 4. Locations of the present study where ticks were collected on Carnivora.
Table 4. Continued.
appointed Carnivora to be primary hosts for the adult stages and other animal
taxa (birds or small rodents) as hosts for the immature stages of A. aureolatum,
A. ovale, and A. tigrinum (Labruna et al. 2002b; Arzua et al. 2003; Guglielmone
et al. 2003; Pinter et al. 2004). On the other hand, herbivorous hosts such as
tapirs, horses and capybaras are considered primary hosts for all stages of
A. cajennense but its immature stages have shown a much broader host range
than the adult stage (Lopes et al. 1998; Labruna et al. 2002a,c). Primary hosts
for A. parvum ticks have not been appointed in the literature although this tick
has been collected on hosts of several mammalian orders (including Carnivora)
(Guglielmone et al. 1990). Cattle have been considered the only primary host
for the tick B. microplus (both were introduced in Brazil during European
colonization). Thus, infestation by Carnivora hosts by B. microplus indicate
habitat sharing by these Carnivora and cattle, or even a predator–prey relation
(see below). In fact, most of the individuals infested by B. microplus in the
present study were P. onca or P. concolor, which are the main predators of
cattle in Brazil (Cullen et al. 2003).
The remaining tick species shown in Tables 1–3 were less commonly
recorded, each found on 1 to 4 different host species. Several different hosts
species other than Carnivora are considered the main primary hosts for the
adult stage of these tick species in Brazil; i.e. deer are primary hosts for adults
of Ixodes aragaoi and Amblyomma triste (Barros-Battesti and Knysak 1999;
Szabo et al. 2003), capybaras for Amblyomma dubitatum (Labruna et al. 2004),
158
Figure 1. Collection sites (•) for the most frequent tick species found on carnivores in Brazil,
according to the six major biomes. (a) Amblyomma ovale, (b) Amblyomma cajennense, (c) Ambly-
omma tigrinum, (d) Amblyomma aureolatum, (e) Amblyomma parvum, (f) Boophilus microplus.
the majority of their host records have been on these animal hosts and that the
establishment of each of these tick species in a given area will depend on the
presence of its corresponding primary host. On the other hand, these tick
species tend to parasitize hosts other than their primary hosts (i.e. Carnivora)
in situations of high tick burdens in the environment (Labruna et al. 2002a),
when host specificity tends to decrease. In addition, the parasitism of Car-
nivora hosts by unusual tick species could also be a result of predatory or
scavenger habits such as when a tick has its normal feeding process on a
primary host (the prey) interrupted by any reason (i.e. the death of the host
prey). In this case, this tick tends to lose host specificity and will reassume the
feeding process on the closest available host species (i.e. the predator or
scavenger Carnivora) (Hoogstraal and Aeschlimann 1982).
It is noteworthy our findings of Rhipicephalus sanguineus on the Canidae
species P. vetulus (4 individuals), C. brachyurus (1), C. thous (1) and on the
Felidae L. wiedii (1). The domestic dog is considered the single primary host for
R. sanguineus in the New World, although the tick has occasionally been
reported on domestic cats and rabbits in Brazil (Aragão 1936; Evans et al.
2000). The strong tick–host interaction between R. sanguineus and dogs is
reflected by the absence of an effective immune response of dogs against
repeated infestations by this tick (Szabó et al. 1995). Interestingly, similar
160
as this taxonomic problem remains unsolved, we are adopting the species name
P. vetulus.
Finally, even that we evaluated a limited number of host records for some
biomes, it was possible to conclude that the ticks infesting wild Carnivora in
Brazil are the result of the main tick species established in each area, as a result
of particular faunal and environmental characteristics.
Acknowledgements
Field work of the present study was sponsored by the following institutions
(office location in parentheses): Associação para a Conservação dos Carnı́vo-
ros Neotropicais – Pro-Carnı́voros (Atibaia, SP), Companhia Energética de
São Paulo CESP (São Paulo, SP), Reserva Particular de Patrimônio Natural
SESC Pantanal (Cuiabá, MT), Furnas Centrais Elétricas S.A (Chapada dos
Guimarães, MT), Floresteca Agroflorestal Ltda (Jangada, MT), Associação
Mata Ciliar (Jundiaı́, SP), and Parque Zoológico Municipal ‘Quinzinho de
Barros’. All captures of wild animals were previously approved by the Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
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CAP.VII
Análises genéticas
Introdução e Objetivos
Métodos utilizados
Resultados preliminares
Também foi investigado um caso forense com duas das amostras de onça-pintada
obtidas da região do Alto Rio Paraná. Um indivíduo macho da espécie, de coloração preta,
capturado em setembro/2002 no Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema/MS pelo
biólogo Dênis Sana, vinha sendo monitorado através da rádio telemetria. Após um período
de seis meses, esse animal não foi mais localizado, desaparecendo supostamente por caça.
Em dezembro de 2004, no município de Nova Andradina/MS, foi apreendido pelo IBAMA
um material de caçadores que atuavam na região, incluída uma pata de um indivíduo
melânico. Para verificar se este material apreendido não era pertencente ao mesmo animal
que fora monitorado no parque, análises genéticas para a identificação individual foram
realizadas. Para isso foram utilizados os mesmos 12 locos de microssatélites e, destes, sete
locos eliminaram a possibilidade de o material apreendido pelo IBAMA ser pertencente ao
indivíduo que havia desaparecido.
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Tabelas:
Tabela 1. Amostras recebidas da região do Alto rio Paraná, MS/SP para análises de
genética molecular.
Nº DA SEXO NºRG Nº COLETOR LOCAL MATERIAL
AMOSTRA
bPon03 F Fazenda Ariranha Sangue
bPon11 F Anaurilândia/MS Sangue
bPon15 F Po08 DS(T)018 Anaurilândia/MS Sangue
bPon16 M Po09 DS(T)023 Bataguassú/MS Sangue
bPon17 M Po05 Anaurilândia/MS Sangue
bPon18 M Po06 Anaurilândia/MS Sangue
bPon19 F Po07 Anaurilândia/MS Sangue
bPon20 F Po03 Anaurilândia/MS Sangue
bPon21 F Po04 Anaurilândia/MS Sangue
bPon22 F Po02 Anaurilândia/MS Sangue
bPon23 M Po01 Anaurilândia/MS Sangue
bPon27 M Po13 DS(T)022 Anaurilândia/MS Sangue
bPon28 F DS(T)041 Zoo Ilha Cesp Sangue
bPon29 M DS(T)001 Anaurilândia/MS Músculo
bPon30 F Po 10 DS(T)006 Anaurilândia/MS Sangue
bPon31 M Po11 DS(T)020 Anaurilândia/MS Sangue
bPon32 F Po12 DS(T)021 Anaurilândia/MS Sangue
bPon35 F Po17 DS(T)092 P.E.Ivinhema Sangue
bPon36 M? Po16? DS(T)100 N. Andradina /MS Músculo (Pata)
bPon37 F Po15 DS(T)101 P.E.Ivinhema Sangue
2ª captura
bPon38 ? DS(T)104 N. Andradina -MS Pele (restos)
bPon39 ? DS(T)105 N. Andradina -MS Pele (restos)
bPon40 M Po18 DS(T)106 P.E.Ivinhema Sangue
bPon41 F Po19 DS(T)107 P.E.Ivinhema Sangue
bPon45 F Po14 DS(T)089 Faz.S. Carlos Sangue
bPon46 F Po15 DS(T)090 P.E.Ivinhema Sangue
bPon47 M Po16 DS(T)091 P.E.Ivinhema Sangue
bPon78 F Po20 DS(T)115 P.E.Ivinhema Sangue
Pon39 M Zoo Ilha Solteira, Sangue
norte P. Primavera
Pon40 F Bataguassu, MS Sangue
Pon41 F Ilha do Jazão Sangue
Pon42 F Fazenda Ariranha Sangue
Pon44 F Fazenda Ariranha Sangue
Tabela 2. Amostras recebidas do Parque Estadual do Morro do Diabo, SP, para análises de
genética molecular.
Nº DA SEXO COLETOR LOCAL MATERIAL
AMOSTRA
bPon24* M Laury Cullen Morro do Diabo Sangue
bPon25* F Laury Cullen Morro do Diabo Sangue
bPon48 M Laury Cullen Morro do Diabo Sangue
bPon49* M Laury Cullen Morro do Diabo Sangue
bPon50 F Laury Cullen Morro do Diabo Sangue
bPon51 F Laury Cullen Morro do Diabo Sangue
bPon52 F Laury Cullen Morro do Diabo Sangue
bPon53* F Laury Cullen Morro do Diabo Sangue
bPon54 F Laury Cullen Morro do Diabo Sangue
*animais melânicos
Tabela 4. Número e tamanho dos alelos, heterozigosidade observada (Ho) e esperada (He)
para cada loco estudado.
Loco Nº indivíduos Nºalelos Faixa alélica HO HE
FCA740 35 5 300-312 0,686 0,631
FCA723 35 6 220-258 0,571 0,622
FCA742 35 10 142-188 0,771 0,818
FCA441 35 4 157-173 0,571 0,603
FCA391 35 7 215-239 0,829 0,735
F146 35 4 170-179 0,629 0,625
F124 33 7 199-223 0,818 0,784
F98 33 3 189-195 0,758 0,615
F85 29 6 147-171 0,483 0,681
F53 32 9 176-204 0,906 0,815
F42 34 7 247-275 0,676 0,693
Apresentações em congressos
1. Status and conservation needs of the neotropical Felids International Conference and
Workshop, 9-11 de junho de 2005, São Francisco de Paula, RS, Brasil.
- CONSERVATION GENETICS OF JAGUARS (PANTHERA ONCA :
MAMMALIA, FELIDAE). (ANEXO 1 - Resumo);
Publicações
Em 2001 Eduardo Eizirik e demais autores publicaram : Phylogeography,
population history and conservation genetics of jaguar (Panthera onca, Mammalia, Felidae)
na Molecular Ecology. Das amostras de 44 indivíduos de onça-pintada utilizadas, de
diversos pontos de toda distribuição da espécie nas Américas, quatro indivíduos foram
capturados no projeto em Porto Primavera. (ANEXO3).
ANEXO 1
Panthera onca is the largest Neotropical felid and is currently threatened mainly by
habitat loss and human persecution. Since the mid-1900s it has been extirpated from broad
portions of its original distribution and currently subsists in fragmented populations of
variable size. In order to develop adequate conservation and management strategies it is
important to incorporate a reliable understanding of its population structure, as well as a
characterization of the distribution of its genetic diversity. Ecological studies investigating
this species are ongoing in several areas, including the Brazilian Pantanal, Cerrado and
Inland Atlantic Forest fragments. These studies are critical for the development of
conservation plans for jaguars, and would benefit significantly from the input of
complementary genetic analyses. Large-scale phylogeographic analyses have been
performed for jaguars, however detailed studies of population genetics on a regional scale
are still lacking. This study aims to fill this gap, by investigating the genetic diversity and
patterns of geographic differentiation among Brazilian populations of jaguars. We will
estimate genetic diversity and population structure using 10-15 microsatellite loci, selected
from a panel of candidate markers designed for the domestic cat. So far, samples of 34
jaguars were obtained from fragmented areas of Inland Atlantic Forest (P. E. Turvo, P. N.
Ivinhema, P. N Iguaçu, P. E. Morro do Diabo and the region flooded by the Porto
Primavera dam). DNA extraction was carried out using 15 of these samples, resulting in
high-quality DNA that was used in a pilot study of the Porto Primavera population.
Moderate levels of genetic diversity were estimated using six microsatellite loci and nine
individuals. Ongoing tests include analyses of pooled jaguar DNA samples to assess
variability at additional candidate loci. Recently, six new tetranucleotide loci were found to
be polymorphic for the species, and will likely be included in this study.
ANEXO 2
Haag, T.1; Santos, A. S.2; Sana, D. A.3; Cullen, L.4; Morato, R. G.3; Crawshaw, P. G.5;
Salzano, F. M.6 & Eizirik, E.2, 3
1
Programa de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular, UFRGS, Porto Alegre, Rio
Grande do Sul, Brasil ([email protected]); 2Faculdade de Biociências, PUCRS, Porto Alegre,
Rio Grande do Sul, Brasil; 3Instituto Pró-Carnívoros, Atibaia, São Paulo, Brasil; 4Instituto de
Pesquisas Ecológicas, Teodoro Sampaio, São Paulo, Brasil; 5IBAMA, Brasil; 6Departamento de
Genética, UFRGS, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.
Subprojeto II
Introdução
70
60
integridade acrossomal (% normal)
50
40
30
20
10
0
2-step 1-step dry shipper
Hormônios da adrenal
Neste estudo, avaliamos o potencial de metabólitos de corticóides e androgênios
fecais para monitorar a atividade adrenal e testicular em onça pintada. Três machos,
adultos, mantidos em cativeiro foram contidos quimicamente (Zoletil 50®, 10 mg/Kg) e
submetidos a eletroejaculação duas (n=2) ou uma (n=1) vez com dois meses de
intervalo. Amostras de fezes foram obtidas diariamente cinco dias antes a cinco dias
depois do procedimento de contenção e coleta de sêmen. As amostras foram
identificadas e armazenadas em freezer -20oC até o momento da análise. Metabólitos de
hormônios corticóides e androgênicos foram extraídos (Morato et al., 2004) e
submetidos ao radioimunoensaio de fase sólida para detecção de variações dos
metabólitos hormonais antes e depois do procedimento de contenção e eletroejaculação.
Em quatro ocasiões, os níveis de metabólitos de corcitcóides estavam acima da linha
basal (100 a 350%) (Figura 2) na primeira amostra coletada após a contenção e
eletroejaculação. Em uma ocasião, não foi detectada variação. A média ±SEM da
concentração de androgênios fecais não variou após contenção e eletroejaculação (antes:
131.1 ± 26.7 ng/g de fezes secas; depois: 213.7 ± 43.6 ng/g de fezes secas) (Figura 3). O
estudo demonstra que a análise de hormônios extraídos das fezes pode ser uma
ferramenta útil na avaliação de bem estar, comportamento, fisiologia reprodutiva e
patologia reprodutiva. No entanto, a relação entre atividade adrenal e condição
reprodutiva, em onça pintada, ainda deve ser investigada.
(A)
400
350 Dia do
300 procedimento
(% de resposta)
Cortisol fecal
250
200
150
100
50
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Dias
Dia do (B)
procedimento
450
400
350
(% de resposta)
300
Cortisol fecal
250
200 Dia do
procedimento
150
100
50
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Dias
300 (C)
Dia do
procedimento
250
(% de resposta)
Cortisol fecal
200
150
100
50
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9
Dias
350 (D)
300 Dia do
procedimento
250
(% de resposta)
Cortisol fecal
200
150
100
50
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Dias
Figura 2. Porcentagem de respota dos metabólitos de cortcóides extraídos das fezes após
contenção e eletroejaculação em onça pintada. A, primeiro procedimento para o animal
P01; B, segundo procedimento para o animal P01; C, primeiro procedimento para o
animal P02; and D, segundo procedimento para o animal P03.
300
250
(ng/g de fezes secas)
Androgênio fecal
200
150
100
50
0
Antes Depois
Considerações Finais
artificial. Para a efetiva contribuição dos bancos genéticos, seja in vivo ou in vitro, há
Agradecimentos
Os trabalhos realizados no período foram resultados de colaboração entre várias
instituições: ONGS; universidades; orgãos estatais e empresas, em especial a parceria dos
Institutos Pró-carnívoros e IPÊ, além da CESP, financiadora do programa. A competição
pelo “mercado conservacionista” muitas vezes impede que trabalhos sejam realizados
com o melhor aproveitamento, trabalhando-se isoladamente. No nosso caso as parcerias
com a contribuição de todos possibilitaram e ainda vão possibilitar a realização de
inúmeros trabalhos, gerando um maior conhecimento a respeito das espécies estudadas, o
que devem contribuir para a conservação não só delas como de todo o ambiente onde
ocorrem, além das demais espécies que ali coabitam, no Alto Rio Paraná.
Agradecemos portanto todos amigos e parceiros citados no relatório ou que
participaram de alguma forma: assistentes de campo, caçador, pessoal das fazendas,
estudantes, professores, veterinários, biólogos e demais profissionais em campo,
escritório ou laboratório, enriquecendo os trabalhos de conservação, gerando
conhecimento ou possibilitando o andamento de trabalhos para a conservação.
PROGRAMA
2. In situ:
2.1 - Monitoramento.
Para sabermos se há necessidade de manejo e quais ações na população são necessárias
para sua conservação, devemos ter informações a longo prazo, adquiridas com o
monitoramento desta população. Na realização de qualquer ação para a conservação este
monitoramento deve ser contínuo.
-Monitoramento radiotelemétrico.
Com o monitoramento radiotelemétrico dos grandes felinos obtivemos grande quantidade
e qualidade de dados, necessários para obtermos o tamanho da área de vida dos animais e
o tipo de ambiente ocupado na paisagem. Com isso podemos inferir sobre tamanho da
população, necessidade de área e seleção de habitat dos indivíduos monitorados. As
onças serviram como “detetives ecológicos”, identificando áreas utilizadas e habitat
favorável para as espécies, através de suas localizações. Dois animais permanecem
aparelhados com radiotransmissores no Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema
(PEVRI), MS, uma onça-pintada fêmea e uma onça-parda (Puma concolor) macho.
Rec.: a continuidade dos trabalhos de monitoramento radiotelemétrico, utilizando os
animais como “detetives ecológicos” podem auxiliar na descoberta de novas áreas
importantes para a conservação. (Instituições envolvidas: Instituto Pró-carnívoros;
Instituto de Pesquisas Ecológicas – IPÊ; CESP).
-Monitoramento da população.
Outra forma de monitorar populações de grandes felinos é com armadilhamento
fotográfico. Para onças-pintadas a dinâmica populacional pode ser estudada com este
monitoramento. Poderemos saber se a população está diminuindo, aumentando ou
estável, se continuado este trabalho ao longo prazo. Em dois anos seguidos oito onças-
pintadas foram fotografadas no PEVRI, porém quatro indíviduos eram diferentes.
Nenhum trabalho a longo prazo tem sido feito com a espécie, pouco sabendo-se das taxas
de natalidade, recrutamento, dispersão ou mortalidade. Além das densidades de onça-
pintada a abundância relativa das outras espécies servem para comparações no tempo e
espaço, retratando a situação da fauna de predadores e presas no PEVRI. As baixas
densidades, comparando-se com outras áreas reforçam a necessidade de
acompanhamento da população de pintada, pois qualquer flutuação pode ser decisiva na
manutenção desta.
Rec.: O acompanhamento por armadilhas fotográficas deve ser continuado no PEVRI no
mínimo por mais 8 anos para obtenção de estimativas de sobrevivência e recrutamento na
população. (Instituições envolvidas: Instituto Pró-carnívoros; Instituto de Pesquisas
Ecológicas – IPÊ; CESP).
-Monitoramento genético.
A região do Alto Rio Paraná é a primeira área em toda distribuição da onça-pintada onde
obteve-se uma amostragem suficiente para análises de genética populacional. Porém os
resultados preliminares obtidos em relação a similaridade genética entre populações de
diferentes fragmentos demonstram a necessidade de dar continuidade ao estudo que vem
sendo realizado com a espécie na região. Estudos mais detalhados envolvendo um
tamanho amostral maior e análises adicionais darão maior confiabilidade e detalhamento
às análises que vêm sendo realizadas, subsidiando a elaboração e efetivação de esforços
urgentes na conservação destas populações.
A onça-parda, que ocorre em simpatria com a onça-pintada nas regiões amostradas,
tende a apresentar um maior tamanho populacional. Ambas as espécies vêm sofrendo
fortes pressões resultantes da destruição de seus habitats, mas a onça-parda parece ser
mais tolerante às paisagens fragmentadas, o que pode ser refletido em seus padrões de
diversidade genética. Esta comparação interespecífica, entretanto, não foi realizada até o
momento em áreas de simpatria das espécies.
Rec.: Ampliar a amostragem (com métodos invasivos ou não) e continuar as análises
para onça-pintada no Alto Rio Paraná, comparando-se com outras áreas de ocorrência.
Realizar análises de diversidade genética da onça-parda nas áreas amostradas do
Alto Rio Paraná para comparação. (Instituições envolvidas: Instituto Pró-carnívoros;
Pontifície Universidade Católica – PUC, Porto Alegre; CESP).
- Monitoramento sanitário.
Foi detectado pela primeira vez no Brasil a exposição de felinos de vida livre ao vírus da
cinomose (CDV), em duas onças-pintadas do PEVRI e uma onça-parda. Mesmo não
havendo manifestação da doença nos animais soropositivos isso deve ser monitorado na
população. Declínios em populações de carnívoros tem sido acompanhados desde o início
dos anos 90, como surtos de raiva em canídeos e de cinomose (CDV) em leões (Panthera
leo) e doninhas (Mustela nigripes), salientando a importância destes estudos na
conservação das espécies de carnívoros. Praticamente todos os cães domésticos
amostrados no entorno e interior do PEVRI são também soropositivos para cinomose
justificando os resultados nas onças.
Rec.: controle sanitário dos cães domésticos no entorno e retirada destes do interior da
unidade, além de outros animais domésticos. (Instituições envolvidas: órgãos estaduais de
controle sanitário animal e de fiscalização, SEMA).
-Fiscalização.
Concluímos também que qualquer manejo realizado em prol do aumento das taxas vitais
da onça-pintada e redução das taxas de mortalidade, a curto prazo, tem um efeito bastante
positivo nas possibilidades de sobrevivência da espécie. Isso enfatiza as necessidades da
diminuição da caça, que na maioria dos casos é feita em retaliação às predações de
animais domésticos. Isso nos remete ao entorno das unidades, ou mesmo ao seu interior,
havendo necessidade de fiscalização e adequação das fazendas às leis ambientas.
Rec.: coibir a caça dos predadores ou de suas presas, bem como o desmatamento, os
quais têm ocorrido dentro da APA das Várzeas e Ilhas do Rio Paraná. Adequação das
propriedades rurais da região às leis ambientais. (Instituições envolvidas: SEMA;
IBAMA; Polícia Ambiental; Ministério Público).