Eja - Aspectos Históricos e Sociais
Eja - Aspectos Históricos e Sociais
Eja - Aspectos Históricos e Sociais
SOCIAIS
Adriana de Almeida/UERJ1
Angela Maria Corso/UNICENTRO2
Resumo
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Doutora em Educação pela Universidade Federal Fluminense. Professora Adjunta da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro – Faculdade de Formação de Professores. E-mail: [email protected].
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Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná. Professora da Universidade Estadual do Centro
Oeste. Coordenadora do Núcleo de Estudos a Distância/UNICENTRO. E-mail:
ISSN 2176-1396
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Introdução:
Os estudos de Vanilda Paiva (1987) e Celso Beisegel (1974) são referências para
aqueles que desejam entender as fontes mais remotas, em busca da historia e da tradição da
EJA em nosso país. Sobre o período do regime militar, de 1964 a 1985, os trabalhos
publicados por Sérgio Haddad trazem uma contribuição essencial para a compreensão da EJA
neste período.
O período de 1930 é marcado pela estruturação do Brasil urbano-industrial que,
sobrepondo-se às elites rurais, firmou uma nova configuração da acumulação capitalista no
país. Esse processo alterou, significativamente, as exigências referentes à formação,
qualificação e diversificação da força de trabalho. Em especial, adaptou-a psíquica e
fisicamente às técnicas e à disciplina da fábrica, para difundir uma concepção favorável a uma
concepção de mundo atrelada às novas exigências da acumulação do capital. Desse modo,
cabia a elite brasileira, permitir os patamares mínimos de educação a todos, entretanto, sem
colocar em risco o controle ideológico e o nível de exploração exercido sobre a classe
trabalhadora.
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Paiva (1975), Haddad e Di Pierro (2000), Jane Paiva ( 1998 ), Machado (1990), Rummert (2005, 2006) .
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A finalidade era levar essa educação aos brasileiros iletrados das cidades e das zonas
rurais e estimular o desenvolvimento social e econômico, por meio de um processo educativo
que, supostamente, poderia promover a melhoria nas condições de vida da população.
O Serviço de Educação de Adultos (SEA) do Ministério da Educação e Saúde
elaborou várias publicações endereçadas aos respectivos SEAs dos estados e aos professores
das classes de ensino supletivo. Analisando esse material produzido ao final dos anos de 1940
e durante a década de 1950, deparamo-nos com frases e afirmações que revelam as
concepções que deram suporte à organização da campanha.
A análise dos documentos revela, por exemplo, que o investimento na educação era
concebido como solução para os problemas da sociedade. Outra concepção presente nesses
documentos diz respeito ao papel do alfabetizador, identificado como aquele que tem uma
missão a cumprir. O analfabeto, por sua vez, era visto de maneira preconceituosa, chegando-
se a atribuir a causa da ignorância, da pobreza, da falta de higiene e da escassa produtividade
à sua existência. Em um dos documentos da campanha, afirma-se que “ignorância popular e
escassa produção econômica andam sempre juntas”.
Aceitava-se que ensinar a adolescentes e a adultos era mais fácil, mais rápido e mais
simples, logo, qualquer pessoa podia desempenhar essa função. Se qualquer pessoa podia
desempenhar essa função, não seria necessário formar e qualificar um profissional específico
para tal. Se a função não requeria qualificação profissional, logo não seria necessária uma
remuneração condizente com um docente preparado. Não foi por acaso que a campanha
procurou recrutar um grande contingente de “voluntariado”.
No início de 1950, 55% da população brasileira maior de 18 anos era constituída por
analfabetos. Perante esse diagnóstico, apoiada no conceito de educação funcional 4, a
UNESCO estimulou um movimento de estímulo à criação de programas nacionais de
educação de adultos analfabetos para atender as regiões consideradas mais atrasadas do país.
Após, o Primeiro Congresso de Educação de Adultos, em 1952, foi criada a Campanha
Nacional de Educação Rural (CNER), voltada para a região nordeste. Nesse Congresso, foi
legitimada a frase “ser brasileiro é ser alfabetizado”, essa perspectiva buscava enfatizar a
importância da educação de adultos para a democracia e defendia a alfabetização em nome da
cidadania.
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A educação funcional era entendida como um processo global e integrada, de formação técnica e profissional
do adulto – em sua fase inicial – feito em função da vida e das necessidades do trabalho; um processo educativo
diversificado, que tem por objetivo converter os alfabetizados em elementos conscientes e eficazes na produção
e no desenvolvimento em geral.
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sociedade civil que tinham como base de suas ações a transformação social, foi interrompido
em 1964 com o Golpe Militar.
existência do homem comum (BEISIEGEL, 1974). Paulo Freire produziu um novo arcabouço
conceitual e uma nova postura epistemológica para os processos de alfabetização e educação
popular.
A tensão do período 1961-1964 foi decidida com a intervenção dos militares apoiados
pelas elites civis. Todas as manifestações de reformas foram abolidas e colocadas na
clandestinidade. Entre os movimentos de educação popular, a ditadura civil-militar permitiu a
sobrevivência apenas do MEB, sob o custo da ruptura com os compromissos da educação de
classe que vinha desenvolvendo e da revisão de seus objetivos teóricos e metodológicos, além
de sua mudança geográfica (deslocamento do nordeste para a Amazonia).
Com o Golpe de 1964, o país ingressou na fase capitalista monopolista de Estado. O
Estado, ao mesmo tempo em que atuou com base em uma política econômica fortemente
modernizadora, manteve e aprofundou a dependência ao imperialismo, as disparidades
regionais e a desigual distribuição de renda. Para Haddad e Di Pierro (2000, p.7) o golpe
militar produziu uma ruptura política, os movimentos de educação e cultura popular fora
reprimidos e seus dirigentes censurados. A Campanha “De pé no chão também se aprende a
ler” foi interrompida e seus dirigentes foram presos. Então os primeiros anos do período
militar o problema da educação de adultos é deixado de lado, isso tem repercussão
internacional e a Unesco intervêm e as orientações pedagógicas e técnicas para a área passam
a ser da responsabilidade e orientação de técnicos americanos.
Três foram as ações criadas para a EJA pelo regime civil-militar. Em primeira
instância, o governo autoritário criou a Cruzada Ação Básica Cristã (Cruzada ABC).
Organizada como programa de impacto estadunidense, com financiamento e acordos MEC-
USAID, e ideologia da segurança nacional, a Cruzada visava a integração e subordinação ao
capital internacional. Sua ação restringiu-se, no entanto, a distribuição de alimentos para
manter elevada a frequência escolar.
Como uma das respostas àquele período de intensa mobilização social, o governo
militar criou o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) que permaneceu vigente
por quinze anos. Distante de prosseguir o que era realizado anteriormente pelos movimentos
de alfabetização, o MOBRAL centralizou as iniciativas, como órgão de concepção e de
execução, restringindo o conceito de alfabetização à habilidade de aprender a ler e a escrever.
Fávero (2009) destaca que o MOBRAL foi a campanha de alfabetização mais rica
executada no país, pois, seus recursos provinham da transferência voluntária de 1% do
imposto de renda devido por empresas e 24% da renda líquida da Loteria Esportiva.
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O MOBRAL foi instituído no início do governo Médici (1970) e substituído no governo José Sarney (1985/89)
pela Fundação Educar, extinta pela medida Provisória 251, editada no dia da posse do presidente Fernando
Collor em 1990.
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Um estudo analítico dessas políticas e programas pode ser consultado em Cêa (2007), Frigotto, Ciavatta e
Ramos (2005), Kuenzer (2006).
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chamado Sistema “S” (SENAI, SENAC, SENAR, SENAT, SESI, SESC e SEBRAE). A
gestão desses recursos privilegiou, por um lado, a expansão da Educação Profissional que
tivesse a iniciativa privada como mantenedora, a partir de um investimento público em
infraestrutura; e, por outro lado, a pulverização de cursos de qualificação oferecidos por
instituições governamentais e não governamentais, mantidos por recursos públicos, mas que
prescindiam de investimentos em infraestrutura.
Apesar da relevância de algumas medidas adotadas, como é o caso da inclusão da EJA
no Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB), não se constituíram em
política de Estado; limitaram-se à sobreposição de ações de vários setores do governo,
particularmente, realizadas por meio da adesão por interesse nos recursos dos programas
federais, e/ou por meio da parceria pública-privada.
A política para a EJA priorizou programas de menor institucionalidade, vinculados à
alfabetização de adultos e a elevação de escolaridade e/ou à educação profissional. Diante da
complexidade e da amplitude desses três eixos da modalidade, trazemos para discussão o
Projovem e o Proeja, pois nesses dois encontraremos uma constante: os limites do trabalhador
em que são levados a escolher entre estudar ou sobreviver, e portanto, abandonam a escola.
O Programa Nacional de Inclusão de Jovens: Educação, Qualificação e Ação
Comunitária (Projovem) volta-se para conclusão e certificação do ensino fundamental
articulado à formação profissional inicial para um público de 18 a 29 anos. Esse Programa foi
criado em 2005, sendo parte das ações da Política Nacional de Juventude e sua meta inicial
era a inclusão de jovens por meio da elevação de escolaridade, da profissionalização básica e
da ação comunitária. Sua criação possuía um caráter emergencial, com a duração de 18 meses
(primeiramente eram 12 meses), material pedagógico próprio e um auxílio de custo.
Constitui-se, portanto, de 360 dias letivos, de 4 horas de atividades cada um, cinco vezes por
semana. Isso significa um total de 1440 horas de aula ao final desse percurso, ou seja, ao final
de 72 semanas de 20 horas cada uma. O curso é organizado em seis unidades formativas e
cada uma delas deve ser desenvolvida em 12 semanas, totalizando 72 semanas de aulas e
1440 horas.
Com a reformulação do Projeto pelo Decreto Nº 6.629/08, que unificou vários
programas sociais para juventude desenvolvidos por órgãos federais e passou a ser chamado
de Projovem Integrado, com quatro linhas de atuação: O Projovem Urbano, sob
responsabilidade do Ministério da Educação; o Projovem Adolescente – Serviço
Socioedutivo, sob responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
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Considerações finais
REFERÊNCIAS
BEISEGEL, Celso Rui. Estado e educação popular: um estudo sobre a educação de adultos.
São Paulo: Pioneira, 1974.
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CURY, Carlos Roberto Jamil. A Educação Básica no Brasil. Educação e Sociedade. Set.
2002, v. 23, n. 80, p.168-2000, Campinas. Disponível em: www.scielo.br. Acesso em 22 de
abr. 2006.
DI PIERRO, Maria Clara. Notas sobre a redefinição da identidade e das políticas públicas de
educação de jovens e adultos no Brasil. Educação e Sociedade, Campinas, vol. 26, n. 92, p.
1115-1139, out. 2005.
HADDAD, Sérgio & DI PIERRO, Maria Clara. Escolarização de jovens e adultos. Revista
Brasileira de Educação. São Paulo, n. 14, p. 108-30, mai./jun./jul./ago. De 2000. Disponível
em:
1299
http://www.anped.org.br/rbe/rbedigital/RBDE14/RBDE14_08_SERGIO_HADDAD_E_MAR
IA_CLARA_DI_PIERRO.pdf. Acesso em 20/03/2014.
PAIVA, Vanilda P. Educação popular e educação de adultos. 5.ed. São Paulo: Loyola,
1987.
SILVA, Nilce da. “Ser adulto”: alguns elementos para a discussão deste conceito e para a 36ª
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Tecnologia, n. 29, jun/2004. p. 281-290.
SOUSA, Filomena Carvalho. O que é “ser adulto”: as práticas e representações sociais sobre
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Alfabetização nos Países de Língua Portuguesa. São Paulo: USP, ano/vol 1, nº2,
marago/2007, p. 55-69.