O Desenvolvimento Como Expansão de Capacidades
O Desenvolvimento Como Expansão de Capacidades
O Desenvolvimento Como Expansão de Capacidades
1993
Amartya Sen1
1
Professor de Economia e Filosofia da Universidade de Harvard
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-64451993000100016
Lua Nova no.28-29 São Paulo Apr. 1993
Apenas para ilustrar um aspecto do problema, o quadro 1 apresenta o PIB per capita de
seis países e as respectivas esperanças de vida no momento do nascimento.
[QUADRO 1]
Um país pode ser muito rico em termos econômicos convencionais (isto é, em termos
do valor das mercadorias produzidas per capita) e, mesmo assim, ser muito pobre na
qualidade de vida dos seus habitantes. A África do Sul, que dispõe de um PIB per capita
cinco ou seis vezes maior que os do Sri Lanka ou da China, tem uma esperança de vida
muito menor, e a mesma observação aplica-se, de maneiras diversas, ao Brasil, México,
Oman e a vários outros países não incluídos na tabela.
RAÍZES CONCEITUAIS
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Entre os autores clássicos da economia política, tanto Adam Smith quanto Karl Marx
discutem explicitamente a importância da efetivação e a capacidade para tanto como
determinantes do bem-estar4. O enfoque de Marx relaciona-se estreitamente à análise
aristotélica (e ao que parece foi diretamente influenciado por ela)5. Com efeito, uma
parte importante do programa marxista de reformulação dos fundamentos da economia
política claramente diz respeito à concepção do sucesso da vida humana em termos de
cumprimento das atividades humanas necessárias. Nos termos do próprio Marx: “em
lugar da riqueza e da pobreza da economia política, veremos surgir o rico ser humano e
a rica necessidade humana. O rico ser humano é simultaneamente o ser humano que
necessita de uma totalidade de atividades vitais — o ser humano em quem a auto-
realização existe como necessidade interior”6.
MERCADORIAS E CAPACIDADE
Se se concebe a vida como um conjunto de “atividades e modos de ser” que são valiosos,
a avaliação da qualidade da vida toma a forma de uma avaliação dessas efetivações e da
capacidade de efetuá-las. Essa avaliação não pode ser feita levando-se em conta apenas
as mercadorias ou rendimentos que auxiliam no desempenho daquelas atividades e na
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das circunstâncias e do acaso sobre os indivíduos pelo domínio dos indivíduos sobre o
acaso e as circunstâncias”11.
O enfoque da capacidade pode ser contrastado não somente com sistemas de avaliação
baseadas em mercadorias, mas também com avaliações baseadas num critério de
utilidade. A noção utilitarista de valor, que é invocado explícita ou implicitamente na
economia do bem-estar, percebe o valor, em última análise, somente na utilidade
individual que é definida em termos de uma condição mental tal como o prazer, a
felicidade, a satisfação dos desejos. Essa perspectiva subjetiva tem sido extensivamente
utilizada, mas pode ser enganosa, pois pode ser incapaz de refletir a real privação de
uma pessoa.
Uma pessoa indigente, levando uma vida muito pobre, poderia não estar mal em termos
de utilidade medida pelo seu estado mental, caso se verificasse que essa pessoa aceita
sua situação com silenciosa resignação. Em situações de privação por longos períodos,
as vítimas não persistem em queixas contínuas, com frequência fazem grandes esforços
para tirar prazer das mínimas coisas e reduzem seus desejos pessoais a proporções
muito modestas, “realistas”. A privação da pessoa pode não ser captada por escalas de
prazer, auto-realização, etc., mesmo que ela não consiga alimentar-se adequadamente,
vestir-se decentemente, ser minimamente educada e assim por diante12.
Ademais de sua relevância no plano dos princípios, essa questão pode ter um impacto
imediato na prática das políticas públicas. A acomodação resignada à privação
continuada e à vulnerabilidade é frequentemente apresentada como justificável com
base na ausência de uma forte demanda pública e de um desejo intensamente
manifestado de modificar essa situação13.
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Convém notar também que há sempre um elemento de escolha real na descrição das
efetivações, uma vez que o formato das “atividades” e dos “modos de ser” permite que
se definam e incluam “conquistas” adicionais. Frequentemente as mesmas atividades e
modos de ser podem ser vistos de diferentes perspectivas, com variadas ênfases. Da
mesma forma, algumas efetivações são fáceis de descrever, mas sem grande interesse
no contexto relevante (por exemplo, usar um certo sabão em pó na lavagem de
roupas)16. Não se pode escapar do problema da avaliação quando se define uma classe
de efetivações como importantes e outras como não tão importantes. A avaliação não
pode ser plenamente realizada sem que se enfrentem explicitamente questões sobre
quais sejam as conquistas e liberdades valiosas e quais não o sejam. O foco escolhido
tem de ter relação com as preocupações e valores sociais subjacentes em termos dos
quais algumas efetivações e capacidades podem ser importantes e outras triviais e
negligenciáveis. A necessidade de selecionar e discriminar não é um estorvo nem uma
dificuldade peculiar para a conceituação da efetivação e capacidade17.
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O foco nas mercadorias e nos meios de realização pessoal neste trabalho contrastado
ao enfoque da capacidade é também influente na moderna filosofia moral. Na notável
obra de John Rawls sobre a justiça — que pode ser considerada a mais importante
contribuição à filosofia moral nas últimas décadas — a atenção, no que concerne às
comparações interpessoais, recai nos “bens primários” à disposição de cada pessoa. Sua
teoria da justiça, e em particular o “princípio da diferença”, depende desse
procedimento para comparações interpessoais. Em parte, esse procedimento é baseado
em mercadorias, pois a lista dos “bens primários” inclui “rendimentos e riqueza”,
ademais das “liberdades básicas”, “poderes e prerrogativas de cargos e posições de
responsabilidade”, as “bases sociais do auto-respeito” e assim por diante24.
Na verdade, a lista completa dos “bens primários”, segundo Rawls, refere-se a meios e
não a fins; ela diz respeito a coisas que ajudam a realizar o que queremos, e não à
realização enquanto tal ou a liberdade de realização. Alimentar-se não consta da lista,
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mas dispor de rendimentos para comprar alimentos consta. Da mesma forma, a lista
inclui as bases sociais do auto-respeito, mas não o auto-respeito enquanto tal.
O fato de que diferentes pessoas têm objetivos diferentes e que as pessoas devem ser
livres para persegui-los não deve ser esquecido, segundo Rawls, no processo de
avaliação. Esse cuidado é realmente importante, e o enfoque da capacidade também
valoriza a liberdade nesse sentido. Na verdade, pode-se argumentar que o enfoque da
capacidade descreve melhor as liberdades realmente desfrutadas pelas pessoas que o
enfoque da disponibilidade de bens primários. Os bens primários são meios para as
liberdades, ao passo que as capacidades de realização são expressões das próprias
liberdades.
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É muito mais difícil aplicar praticamente a perspectiva do valor intrínseco que a do valor
instrumental, pois nossas observações diretas dizem respeito ao que foi escolhido e
realizado. A consideração do que poderia ter sido escolhido, por sua própria natureza, é
mais problemática (envolvendo, em particular, suposições sobre as restrições reais com
as quais a pessoa se defronta). Os limites de cálculos práticos desse tipo são postos pela
limitação de informações, e isso torna particularmente difícil a representação dos
conjuntos completos de capacidades, por oposição à representação dos conjuntos de
capacidades a partir da realização observada de efetivações.
Não há perda real na utilização do enfoque da capacidade nessa forma reduzida no caso
de se adotar a perspectiva instrumental da liberdade, mas há perda se se adota a
perspectiva do valor intrínseco. Para esta última, uma representação do conjunto das
capacidades enquanto tal é importante.
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Na verdade, a base informacional das efetivações é não obstante uma base de avaliação
muito mais fina da qualidade de vida e do progresso econômico que várias alternativas
mais comumente recomendadas, tais como as utilidades individuais ou a posse de
mercadorias. O fetichismo da mercadoria, neste último caso, e a métrica subjetivista, no
primeiro, fazem dessas alternativas algo profundamente problemático. Assim, o foco
nas efetivações desempenhadas tem méritos vis-à-vis aos critérios rivais factíveis
(mesmo que possa não se basear em tantas informações quantas seriam necessárias
para atribuir importância intrínseca à liberdade). E em termos de disponibilidade de
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dados, manter o registro das efetivações (incluindo as vitais, como alimentar-se bem e
evitar a morbidade evitável ou a morte prematura) tipicamente não é mais difícil — pelo
contrário, é muitas vezes mais fácil — do que obter informações a divisões no âmbito
da família, para não mencionar as informações sobre utilidades.
Esse ponto pode ser ilustrado por meio de um exemplo. Um aumento da longevidade é
tido, por comum acordo, como uma melhoria da qualidade de vida (embora, em termos
estritos, possamos considerá-lo como um aumento da quantidade de vida). Em parte,
isso ocorre porque viver mais tempo é uma realização valorizada. Em parte, isso ocorre
também porque outras realizações, tais como evitar as doenças, tendem a acompanhar
a longevidade (de modo que esta ainda serve como substituto para realizações que
também são intrinsecamente valorizadas). Mas uma longevidade maior também pode
ser vista como um aumento da liberdade de viver mais tempo. Frequentemente damos
isso por aceito como base no raciocínio sólido de que, havendo opção, as pessoas
valorizam viver mais tempo; assim, a realização observada de uma vida prolongada
reflete uma liberdade maior do que a que se desfrutou.
A questão interpretativa surge precisamente aqui. Por que o fato de uma pessoa viver
bastante, e não pouco, constitui a evidência de uma liberdade maior? Por que não
constitui simplesmente uma realização preferida, sem que nisso se envolva uma
diferença em termos de liberdade? Uma resposta consiste em dizer que uma pessoa
tem sempre a opção de suicidar-se, de modo que aumentar a longevidade aumenta as
opções à disposição da pessoa. Mas há uma outra questão aqui. Consideremos a
hipótese em que, por alguma razão (legal, psicológica ou outra), uma pessoa não pode
suicidar-se (a despeito da presença no mundo de venenos, facas, edifícios altos e outros
objetos úteis). Diríamos então que essa pessoa não tem mais liberdade em virtude de
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ser livre de viver mais, mas não menos? Pode-se argumentar que se uma pessoa valoriza,
prefere e deseja viver mais tempo, então a mudança em questão constitui de fato um
aumento da sua liberdade, dado que a avaliação da liberdade não pode ser dissociada
da consideração das opções reais em termos dos julgamentos avaliativos da pessoa30.
A ideia de liberdade leva-nos para além das realizações, mas isso não implica que a
avaliação da liberdade deva ser independente da avaliação das realizações. A liberdade
de viver o tipo de vida desejado tem uma importância que a liberdade de viver o tipo de
vida odiado não tem. Assim, a tentação de ver mais liberdade em maior longevidade
justifica-se de vários pontos de vista, incluindo-se a consideração da opção do suicídio e
a sensibilidade à estrutura avaliativa das realizações que afetam diretamente a métrica
da liberdade.
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podem não ter uma percepção clara de estarem desprovidas de bens de que os homens
dispõem, e podem não ser mais infelizes que os homens. Isso pode ou não ser verdade,
mas mesmo que for verdade pode-se argumentar que a métrica mental da utilidade
pode ser particularmente inadequada para a avaliação da desigualdade nesse contexto.
A presença de carências objetivas, sob a forma de maior desnutrição, enfermidades mais
frequentes, maior analfabetismo, etc, não podem ser tidos por irrelevantes com base
na aceitação silenciosa e resignada, por parte das mulheres, da sua situação de
carência32.
Estudos sobre a divisão da comida na família, por exemplo, tendem a ser muito
problemáticos, porquanto a observação requerida para detectar quem está comendo
que quantidade é difícil de realizar com grau mínimo de precisão. Por outro lado, é
possível comparar os sintomas de desnutrição em meninos e meninas, determinar as
taxas respectivas de morbidade, etc; essas diferenças de funções são mais fáceis de
observar e, ao mesmo tempo, têm maior relevância intrínseca33.
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Certamente, ser capaz de sobreviver é apenas uma capacidade entre outras (embora
sem dúvida uma capacitação básica), outras comparações podem ser feitas com base
em informações sobre saúde, morbidade, etc. A capacidade de ler e escrever também é
muito importante, e as taxas de analfabetismo são muitas vezes escandalosamente mais
altas entre as mulheres em diversas partes do mundo. O efeito combinado de uma alta
taxa de analfabetismo em geral (a carência de uma capacidade básica nos dois gêneros)
e de uma desigualdade de gênero nessa taxa (carência maior das mulheres com respeito
a essa capacidade básica) tende a ser desastroso para as mulheres. Aparentemente,
mesmo deixando de lado muitos países sobre os quais não dispomos de informações
confiáveis, em muitos outros a taxa de analfabetismo das mulheres é superior a 50%.
Na verdade, é superior mesmo a 70% em 26 países, a 80% em 16 e a 90% em pelo menos
535.
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CONCLUSÃO
De fato, a expansão educacional tem vários papéis que devem ser cuidadosamente
diferenciados. Em primeiro lugar, melhor educação pode aumentar a produtividade.
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Segundo, uma distribuição ampla do benefício educacional pode contribuir para uma
melhor distribuição de renda nacional agregada entre as pessoas. Terceiro, melhor
educação pode ajudar na conversão de rendas e recursos em funções e modos de vida
diversos. Por último (o que de modo algum significa o menos importante) a educação
também auxilia na escolha inteligente entre diferentes tipos de vida que uma pessoa
pode levar. Todas essas distintas influências podem afetar importantemente o
desenvolvimento de capacidades valiosas e, por isso mesmo, o processo de
desenvolvimento humano.
Há também outras conexões entre as diferentes áreas cobertas pela coleção. A boa
saúde, por exemplo, é uma realização em si mesma, ao mesmo tempo em que contribui
tanto para o aumento da produtividade como para a capacidade de converter rendas e
recursos em qualidade de vida. Ao enfocar as capacidades humanas como o padrão de
medida em termos do qual os êxitos e fracassos do desenvolvimento humano devem
ser avaliados, a atenção recai nessas conexões sociais. Se se dispõe de clareza quanto
aos fins (evitando-se, em particular, a armadilha de tratar os seres humanos como
meios), as instrumentabilidades sociais e econômicas envolvidas nas relações entre
meios e fins podem ser exploradas amplamente.
Uma das mais importantes tarefas de um sistema de avaliação é levar em conta nossos
valores humanos mais prezados. Q desafio do desenvolvimento humano não pode ser
plenamente compreendido sem que nós enfrentemos conscientemente essa questão e
prestemos atenção deliberada ao aumento das liberdades e capacidades de realização
que são mais importantes nas vidas que podemos viver. Ampliar as vidas limitadas das
quais, queiram ou não, a maioria dos seres humanos são prisioneiros por força das
circunstâncias, é o maior desafio do desenvolvimento humano no mundo
contemporâneo. Uma avaliação informada e inteligente tanto das vidas a que somos
forçados como das vidas que poderíamos escolher mediante reformas sociais é o
primeiro passo para o enfrentamento daquele desafio. É uma tarefa que temos de
enfrentar.
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1 Grundlegung (1785), seção II. Tradução inglesa Fundamental Principles of the Metaphysics of
Morals, in Kant 's Critique of Practical Reason and Other Works on the Theory of Ethics, 6ª edição
de T. K. Abbot, Longmans, Londres: 1909, p. 47. [ Links ]
3 Aristóteles, The Nicomachean Ethics, livro I, seção 7, tradução de David Ross, World's classics,
Oxford University Press, 1980, pp. 12-14. [ Links ] Note que o termo aristotélico “eudaimonia”,
mal traduzido freqüentemente por “felicidade”, expressa a plena realização da vida, que
ultrapassa de muito a perspectiva utilitarista. Ainda que o prazer possa resultar da realização,
isso é considerado urna conseqüência, e não a causa, da valorização da realização. Para um
exame do enfoque aristotélico e sua relação com trabalhos recentes sobre funções e
capacidades, ver Nussbaum: Martha. “Nature, Function and Capability: Aristotle on Political
Distribution”, Oxford Studies in Ancient Greek Philosophy, vol. suplementar, 1988. [ Links ]
4 Ver Smith, Adam, An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations, vol. I, livro
V, seção II, republicado, com edição de R.H.Campbell e A.S. Skinner, Oxford: Clarendon Press,
1976, pp. 869-872 e Marx, [ Links ] K., Economic and Philosophic Manuscripts of 1844, tradução
inglesa Moscou Progressive Publishers, 1977. [ Links ]
5 Ver de Sainte Croix, G.E.M., The Class Struggle in the Ancient Greek World, Londres:
Duckworth, 1981, [ Links ] e Nussbaum, Martha, “Nature, Function and Capability”, op.cit.
8 Marx, K, Capital, vol. I, tradução inglesa de S. Moore e E. Aveling, Londres: Sonnenschein, 1887,
cap. I, seção 4, pp. 41-45. [ Links ] Ver também Marx, K., Economic and Philosophic Manuscripts
of 1844, op.cit.
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9 Smith, A. op.cit., vol. II, livro V, cap.II, seção entitulada “Taxes upon Consumable
Commodities”, republicado na op.cit., pp. 469-471.
10 Neste artigo, não me preocuparei com questões formais, para cujo tratamento envio
a Commodities and Capabilities, op.cit., especialmente caps. 2,4 e 7.
11 Marx, K, e Engels, F., The German Ideology, 1846. [ Links ] 0 trecho citado foi tirado da
tradução de David Mclellan, Karl Marx: Selected Writings, Oxford: Oxford University Press, p.
190. [ Links ]
12 Ver Sen, Amartya, “Well Being, Agency and Freedom”, op.cit., e Commodities and
Capabilities, op.cit.
13 Presume-se às vezes que ir além dos desejos e prazeres reais de uma pessoa como padrão
de avaliação seria introduzir o paternalismo no exercício avaliativo. Essa posição negligencia o
importante fato de que ter prazer e desejar não são em si mesmas atividades valorativas, mesmo
que o desejo muitas vezes resulte da valorização de algo e o prazer resulte freqüentemente na
obtenção de algo valorizado. A utilidade de uma pessoa não deve ser confundida com a
valorização que ela mesma faz; assim, vincular o exercício de avaliação à utilidade da própria
pessoa é muito diferente de julgar o sucesso de uma pessoa em termos da valorização que ela
mesma faz. A distinção importante a fazer nesse contexto é a seguinte: uma pessoa pode não
ter coragem de desejar uma grande mudança social, presa às circunstâncias em que vive, desde
que tenha a oportunidade de avaliar a situação; contudo — o que caracteriza essencialmente
um exercício político nesse contexto —, a pessoa pode valorizar uma mudança. Uma vantagem
da valorização, por oposição ao sentimento, é a de que uma avaliação tem de ser um exercício
reflexivo — aberto ao exame crítico —, coisa que o sentimento não necessita ser (o requisito do
exame crítico não se aplica aos sentimentos da mesma forma como se aplica à avaliações
reflexivas). Essas questões, e outras relacionadas a elas, são discutidas em “Well Being, Agency
and Freedom”, op.cit.
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15 Ver Sen, Amartya, Choice, Welfare and Measurement, op.cit., ensaios 17-20.
16 Bernard Williams levanta essa questão nos seus comentários às Tanner Lectures sobre os
padrões de vida. Ver The Standard of Living, Tanner Lectures of Amartya Sen, com discussões de
John Muellebaner, Rawi Kanbur, Keith Hart e Bernard Williams, edição de Geoffrey Hawthorn,
Cambridge: Cambridge: University Press, 1987, pp. 98-101 e 108-109. [ Links ]
18 Ver Sen, Amartya, Resources, Values and Development, cap. 15, 19 e 20, [ Links ] e “The
Conception of Development”, in Handbook of Development Economics, editado por H. Chenery
e T. N. Seimivasan, Amsterdam: North-Holland. [ Links ]
19 O número de funções e capacidades que podem ser de interesse para a avaliação do bem-
estar de uma pessoa pode ser muito grande. Ver Sen, Amartya, “Well Being, Agency and
Freedom”, op.cit.
20 Ver, entre outras contribuições, Lipton, Michael, Assessing Economic Performance, Londres:
Staples Press, 1968; [ Links ] Streeten, Paul, The Frontiers of Development Studies, Londres:
Macmillan, 1972; [ Links ] Adelman, Irma, e Tuft Morris, Cynthia, Economic Growth and Social
Equity in Developing Coutries, Stanford: Stanford University Press, 1973; [ Links ] Sen, Amartya,
“On the Development of Basic Income Indicators to Supplement GNP Measures”, Economic
Bulletin for Asia and the Far East, publicação das Nações Unidas, nº E. 74, II, F. 4; [ Links ] Chenery
H. e outros Redistribution With Growth, Londres: Oxford University Press, 1974;
[ Links ] Adelman, Irma, “Development Economics: a Reassessment of Goals”, American
Economic Review, Papers and Proceedings, 66, 1975; [ Links ] Grant, James P., Disparity
Reduction Rates in Social Indicators, Overseas Development Council, Washington D.C., 1978;
[ Links ] Griffin, Keith, e Hhan,Azizur Rahman, “Poverty in the Third World: Ugly Facts and Fancy
Models”, World Development, 6, 1978; [ Links ] Streeten, Paul, e Burbi, S.J., “Basic Needs: Some
Issues”, World Development, 6, 1978; [ Links ] Morris, D.Morris, Measuring the Conditions of the
World's Poor: the Physical Quality of Life Index, Oxford: Pergamon, 1979; [ Links ] Streeten,
Paul, Development Perspectives, Londres: Macmillan, 1981; [ Links ] Streeten, Paul e
outros, First Things First: Meeting Basic Needs in Developing Contries, Nova York: Oxford
University Press, 1981; [ Links ] Osmani, S.R., Economic inequality and Group Welfare, Oxford:
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-64451993000100016
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Claredon Press, 1982; [ Links ] e Stewart, Frances, Planning to Meet Basic Needs, Londres:
Macmillan, 1985. [ Links ]
21 A questão geral dos fundamentos e das bases informacionais á discutida em Amartya Sen
“Informational Analysis of Moral Principles”, in Rational Action, editado por Ross Harrison,
Cambridge: Cambridge University Press, 1979; [ Links ] e “Well-Being, Agency and
Freedon, op.cit.. Nesta última análise, foram feitas algumas distinções (especialmente entre
função (agency) e bem-estar, e entre realização e liberdade) que vale a pena desenvolver um
tratamento mais elaborado dessa matéria; mas resistirei à tentação de trabalhar esses pontos
aqui.
22 Sobre essa questão e sobre a relação entre bens, características e funções, ver Sen,
Amartya, Commodities and Capabilities, op.cit., cap. 2.
23 Sobre esse ponto, ver Sen, Amartya, Resources» Values and Development, op.cit., ensaios 19
c 20; e Streeten, Paul, “Basic Needs: Some Unsettled Questions”, World Development, 17, 1984.
[ Links ]
24 Rawls, John, A Theory of Justice, Oxford: Clarendon Press, c Cambridge: Harvard University
Press, 1971, pp. 60-65. [ Links ]
25 Ver Sen, Amartya, “Equality of What? op.cit., e Resources, Values and Development, op.cit..
26 Ver Sen, Amartya, “Freedom of Choice: Concept and Content”, Alfred Marshall Secture na
Associação Econômica Européia, European Economic Review, 1988. [ Links ]
28 Ver Sen, Amartya, “Well-Being, Agency and Freedom”, op.cit., e “Freedom of Choice, Concept
and Content”» op.cit.
30 De fato, não levar em conta a avaliação da própria pessoa com respeito ao estado de coisas
para o estabelecimento de uma medida da liberdade pode gerar uma concepção muito peculiar
da liberdade, contraditória com a tradição de valorização da liberdade. Sobre isso, ver Sen,
Amartya, “Liberty as Control: an Appraisal”, Midwest Studies in Philosophy, 7, 1982, [ Links ] e
“liberty and Social Choice” op.dt.
31 Ver, por exemplo, Atkinson, A.B., Unequal Shares: Wealth in Britain, Penguin, Londres, 1972,
[ Links ] e The Economics of Inequality, Oxford: Clarendon Press, 1975. [ Links ]
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33 Para uma tentativa de fazer tais comparações baseadas em funções entre homens e
mulheres, ver Kynch, Jocelyn, e Sen, Amartya, “Indian Women: Weil-Being and
Survival”, Cambridge Journal of Economic, 7, 1983. [ Links ]
34 Ver Kynch, Jocelyn, “How Many Women Are Euronch: Sex Ratios and the Right to Life”, Third
World Affairs, 1985, [ Links ] Third World Foundation for Social and Economic Studies Londres,
1985. A esperança de vida parece ter evoluído em favor das mulheres segundo as estatísticas da
maioria dos países; ver The State of the World's Children 1988, United Nations Children's Fund,
Nova York: Oxford University Press, 1988, [Links] tabela 7; a reversão de vieses passados contra
as mulheres no que diz respeito à composição da população, contudo, é um processo de longa
duração.
35 The State of the World's Children 1988, United Nations Children's Fund, [Links] tabela 4.
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