Repouso No Espírito

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"Pe. DeGrandis perguntou se eu queria ser batizado no Espírito Santo. Quando disse
sim, ele me tocou suavemente e caí no chão"

REPOUSO NO ESPÍRITO

Robert DeGrandis, S.S.J.

No momento em que iniciamos nossa busca da revelação de Deus sobre o "repouso no


Espírito", peço ao leitor que também participe dos "Seminários de Deus" e faça algumas
perguntas ao Senhor. Ele diz em Jeremias 33,3: "Invoca-me e eu te responderei e te
anunciarei coisas grandes e inacessíveis, que tu não conheces".

INTRODUÇÃO

O "repouso no Espírito" é um assunto de grande interesse em nossos dias e relacionado


com a Renovação Carismática. Tal como o dom de línguas, a experiência de cair no
chão durante uma oração tem despertado a atenção das pessoas. Pouco se tem escrito
sobre ele e muito ainda é desconhecido. É como um território virgem, especialmente na
comunidade católica.
E justamente porque esse assunto está começando a se destacar e a ter os seus efeitos,
quero abrir a comunicação e iniciar o diálogo a respeito. Desejo examinar o que acredito
ser mais uma moção do Espírito Santo em nossos dias.
O repouso no Espírito é, provavelmente, mais um dom carismático, pelo menos em
parte. Parece haver um duplo carisma: o carisma de algumas pessoas, em quem o poder
é tão forte que a maior parte dos que recebem suas orações cai; e o carisma daqueles
que recebem a oração e que ficam tão abertos para receber que caem sob o poder
quando alguém ora.

A Constituição Dogmática sobre a Igreja, Lumen gentium, do Concílio Vaticano II,


$12, ao falar dos dons carismáticos diz:

"Estes carismas, quer eminentes, quer mais simples e mais amplamente difundidos,
devem ser recebidos com gratidão e consolação, pois que são perfeitamente
acomodados e úteis às necessidades da Igreja".

Desse modo, o que queremos fazer aqui é começar a explorar a "adequação e a


utilidade" deste dom, e "recebê-lo com gratidão".

Minha primeira experiência pessoal com o repouso no Espírito aconteceu durante uma
reunião de oração com Kathryn Kuhlman, em 1971. Lembro-me de ter ficado deitado
no chão, sentindo uma paz profunda e a consciência do enorme poder de Deus. Desde
aquela ocasião, acredito que já repousei pelo menos 25 vezes. Se eu contar todas as
vezes em que repousei no Espírito enquanto recebia uma oração, sentado em uma
cadeira, creio que seriam de 75 a 100 vezes. Quase todas as vezes que recebo cura
interior, repouso no Espírito.

Uma das melhores experiências que já tive foi no Brasil, após um longo e cansativo dia
de pregação. Estava exausto e alguém se ofereceu para me fazer repousar no Espírito.
Após alguns momentos de repouso com o Senhor, levantei-me totalmente reanimado e
renovado. Foi fantástico! Algumas vezes, quando estou tenso, antes de um seminário,
peço a alguém que me faça repousar no Espírito. Posso repousar cerca de vinte minutos
e, então, estarei pronto para ir, mais sensível, aberto e apto a perceber a direção que o
Senhor quer que eu siga naquela pregação.

Em 1972, quando fui chamado para orar em uma equipe com Francis MacNutt, na
universidade de Notre Dame, tive minha primeira experiência de ser utilizado como
instrumento para o repouso no Espírito de outra pessoa. Surpreso, chamei Bárbara
Schlemon para que examinasse a pessoa que tinha caído. Ela me assegurou que o
indivíduo estava "simplesmente repousando no Espírito". Era algo que eu nunca tinha
visto.
O tempo passou e comecei a me dedicar inteiramente ao ministério de cura na
Renovação Carismática, e o repouso no Espírito se tornou uma via poderosa de cura,
especialmente com grandes grupos, onde não havia tempo para a oração individual
prolongada. Comecei a ouvir histórias de que o Senhor realizara curas profundas em
espaços de tempo incrivelmente curtos, enquanto as pessoas repousavam calmamente
em seus lugares ou no chão, durante as orações de cura. Pessoas que haviam se
submetido a aconselhamento por muitos anos, sem conseguirem melhora significativa,
obtinham profunda cura e rápido crescimento enquanto repousavam no Espírito por
breve espaço de tempo.

Tenho experiência de que uma das maneiras mais poderosas de ajudar a cura e o
crescimento das pessoas na oração é através do repouso no Espírito. Eu costumava dar
cursos sobre a oração e, atualmente, com esses cursos também ajudo as pessoas a se
abrirem à experiência do repouso no Espírito. Algumas vezes, em seminários de um dia,
ou em retiros de fim de semana, oro para que os participantes repousem no Espírito no
começo, antes de iniciar a palestra, no meio e no fim do retiro ou do dia. Essa
experiência os abre para receber o Senhor e é mais eficiente do que qualquer outro
método que eu já tenha descoberto. Algumas das curas mais profundas ocorrem em
retiros nos quais as pessoas repousam no Espírito.

Hoje, quando viajo pelos Estados Unidos e por diversos países, coordenando
treinamentos de líderes e orações de cura, em meu ministério de tempo integral, vejo
participantes sem-conta repousarem no Espírito - até mesmo bispos!

Um dos comentários mais comuns que ouço quando estou pregando é: "Padre, o senhor
é o primeiro a nos dar uma explicação detalhada sobre o repouso no Espírito". Lembro-
me que já em 1974, algumas pessoas em grupos de oração ficavam sob o poder do
Espírito enquanto estavam louvando o Senhor. Muitos não sabiam do que se tratava e
ficavam com muito medo. A falta de compreensão provoca confusão, interpretações
equivocadas e abusos. O assunto precisa ser aberto à discussão. Não podemos
simplesmente dar as costas ou reprimi-lo.

Não quero negar que haja problemas pastorais. Creio que o que devemos fazer é obter
umas respostas pastorais para os problemas pastorais, sem extinguir o Espírito. João diz
nas epístolas: "Examinai os espíritos" (I Jo 4,1) e é isto que estamos tentando fazer:
examiná-los em sua autenticidade e praticidade.

De acordo com minha pesquisa, alguns críticos do repouso no Espírito nunca viveram a
experiência. Não creio que seja correto alguém que não tenha tido uma experiência tão
subjetiva como o repouso no Espírito se posicione contra ela com simples argumentos
intelectuais. Seria a mesma coisa que fazer um homem escrever um livro sobre a alegria
de dar a luz uma criança. Nenhum homem poderia descrever adequadamente essa
sensação, porque é uma experiência subjetiva da mulher.

Entretanto, somos gratos àqueles que questionaram negativamente este dom, porque nos
forçaram, a nós que damos valor positivo a essa experiência, a dar a razão da nossa fé.
O negativismo que encontrei levou-me a examinar mais profunda e cuidadosamente a
posição que eu e outros, que também se dedicam inteiramente ao ministério de cura,
defendemos a respeito desse assunto, ao mesmo tempo tão poderoso e delicado.

Em todos os lugares aonde vou, ouço sacerdotes dizendo: "Precisamos de alguma coisa
... o povo tem fome ... o povo está buscando". Eles se confrontam com as necessidades
do povo tomados por uma sensação de incapacidade de realizar qualquer mudança.
Em um artigo para a revista New Covenant, Pe. James Hughes fala da necessidade de
formação espiritual dos jovens de sua paróquia e a solução que Deus lhe deu:

"Comecei com um pequeno grupo de jovens que concordou em fazer um retiro. Durante
o rito penitencial, a presença de Deus se tornou tão forte que quase todos foram
dominados pelo Espirito Santo e chamados a uma profunda conversão. Muitos foram
batizados no Espirito e começaram a falar em línguas... Na verdade, surgiram problemas
quando tivemos de fazer algumas mudanças ... mas continuamos. Logo fui confrontado
com um desafio formidável - uma classe numerosa de crisma com cerca de 100 jovens.
Abandonei os manuais e resolvi fazer um Seminário de Vida no Espirito, confiando na
orientação do Espirito Santo para me conduzir pelo caminho certo.. A classe
correspondeu ... A partir do momento em que decidimos correr o risco, Deus respondeu
imediatamente ... O programa gira em torno da conversão. Enfatizo os dons
carismáticos e o batismo no Espirito Santo porque são eles que levam à conversão - à
mudança da mente e do coração. Esses jovens precisam de Jesus. A experiência
carismática faz com que Seu amor e poder se tornem evidentes ... Qual o segredo da
mudança? O Senhor se encarrega disso. Os corações dos jovens são transformados
quando nos retiramos e deixamos o Senhor agir".

A necessidade de conversão é a mesma tanto para uma pessoa de 80 anos como para
uma criança de oito. Conversão significa mudança, e mudança freqüentemente significa
risco, medo e problema.
Em cada história que se houve, encontra-se a semente da conversão sendo regada nos
corações do povo. Cada história é um exemplo de entrega ao ministério do Espírito
Santo.

Paulo VI, na Evangelii nuntiandi, n. 75., afirma:


"Repleta do conforto do Espirito Santo, a Igreja ia crescendo (cf. At 9,31) . Ele é a alma
desta mesma Igreja. É Ele quem faz com que os fiéis possam entender os ensinamentos
de Jesus e o seu mistério. Ele é aquele que, hoje ainda, como nos inícios da Igreja, age
em cada um dos evangelizadores que se deixa possuir e conduzir por Ele...".

Certa vez, Pe. Matthew Linn fez uma observação interessante de que há um aspecto de
"pré-evangelização" e de "pós-evangelização" no repouso no Espírito. Para os não-
cristãos, ou para os cristãos indiferentes que não prestam obediência ao Senhor, o
repouso geralmente abre seus corações para ouvir a palavra de Deus. O aspecto de pós-
evangelização do repouso é para aqueles que aceitaram o Senhor e estão produzindo
frutos. O repouso os atrai para a oração profunda, intensificando o dom da
contemplação. A necessidade de conversão é constante para todos nós.

Em 1967, alguns católicos carismáticos da Universidade de Duquesne permitiram que o


Espírito Santo os possuísse e conduzisse. Após receberem o batismo no Espírito e
começarem a orar em línguas, puseram em risco a própria reputação ao narrar a história
extraordinária a uma Igreja que não aceitava o dom de línguas. O Espírito de Deus, ao
conferir dons de impacto, certamente atrai a atenção dos católicos, frios ou quentes. Ele
parece estar cativando tanto os fiéis como os infiéis com uma nova espécie de amor.

DEFINIÇÕES

Creio que seja útil começar de um ponto elementar, definindo primeiramente o que é
"experiência religiosa". E para os leitores que estão se iniciando no assunto do repouso
no Espírito, daremos algumas definições sobre a experiência a partir de diversas
perspectivas. Em seguida, abordaremos a diferença entre o repouso "espontâneo" e
"ministrado".

EXPERIÊNCIA RELIGIOSA: consciência de Deus em "nível de sensação e emoção"


que gera uma resposta espontânea. É, freqüentemente, acompanhada por revelação,
inspiração, vozes, visões e conversão.

REPOUSO NO ESPÍRITO: experiência que consiste em cair de costas no chão durante


uma oração, também algumas vezes chamada de "Dominado no Espírito", "Cair sob o
poder", "Dormição", "Morrer no Espírito" ou simplesmente "A bênção". Ainda que eu
prefira chamar essa experiência de "Repouso no Espírito", haverá uma série de citações
que se referem a ele como "Morte ou morrer" no Espírito. Esses termos para nós serão
sinônimos.

Não parece haver uma descrição simples do que essa experiência abrange. Em meu
livro, Ministério de cura para leigos (4.a ed.) afirmo:

"Parece que enquanto repousamos no Espírito, as nossas funções físicas e psicológicas


se desaceleram e a sensibilidade se intensifíca no relacionamento com o Senhor. ..".

Nas definições a seguir, existe certa concordância quanto à submissão, entrega, renúncia
ou repouso da atividade e dos sentidos do corpo físico para que Deus possa Se
manifestar mais claramente ao íntimo do homem.
Francis MacNutt, em O poder de curar, afirma: "Tanto quanto posso ver, é o poder do
Espírito enchendo de tal forma a pessoa com uma consciência íntima muito elevada, que
a energia do corpo desfalece a ponto de não poder ficar de pé".

Pe. George Montague afirma, na revista Catholic Charismatic: " ...a pessoa é dominada
por uma profunda sensação de bem-estar que lhe causa um relaxamento momentâneo, a
tal ponto que ela cede o controle de seu sistema motor e desmaia ou cai flácida".

Pe. Ralph DiOrio comenta: "Ele é parte do dom de cura, um toque direto, no mais
íntimo do ser, da plenitude do amor e da paz de Deus".

Morton Kelsey comenta em Discernment: ". ..geralmente descrevem uma sensação de


poder divino ou energia que flui interiormente, que os faz relaxar e cair...".

Gosto também da descrição simples feita por um pediatra: "Parece ser a evidência
exterior da entrega interior que se faz ao Senhor".

Pe. Ted Dobson prefere separar totalmente o ato de cair da avaliação da causa da queda,
e simplesmente se refere à experiência como "o fenômeno da queda". Referindo-se às
variadas descrições, ele afirma: " ...Esses nomes só começam a nos dar uma pista do que
realmente está acontecendo ... faremos referência a ele como o fenômeno da queda não
só porque a queda no chão é o aspecto comum a todas as diversas formas da
experiência, mas também porque é um termo isento de avaliação, pois não pressupõe
uma causa para a experiência".

Pe. Thomas Keating em Open mind, open heart afirma: " ...sente-se uma leve
interrupção no funcionamento normal dos sentidos e escorrega-se para o chão. Se as
pessoas não experimentaram este tipo de oração anteriormente, caem com uma sensação
de bem-estar e permanecem deitadas todo o tempo que podem".

Uma analogia que uso algumas vezes é com o banho de sol. As pessoas simplesmente
se estendem ao sol, deixam que ele venha e relaxam. O repouso no Espírito é como
deixar que o sol do Espírito Santo penetre no íntimo. Enquanto repousam, terão, em
muitos casos um encontro direto com o Senhor. Então, o Senhor realizará muitas curas.
Elas sentem o Seu amor, ouvem o Senhor falando com elas e simplesmente repousam
em Sua presença.

Mons. Vincent Walsh se refere a essa experiência como uma "dormição", palavra que
sugere "sono" e aponta para certa semelhança com a experiência de êxtase narrada nos
escritos dos santos. Mas não se trata de sono. Durante o repouso, permanece a
consciência dos outros agindo e falando ao redor; o sono é diferente. A pessoa pode
ouvir o que está acontecendo, mas não se importa com nada. Sua energia parece estar
canalizada para o Senhor. É como estar completamente absorvido por um programa de
televisão em uma sala barulhenta e cheia de gente. A pessoa se concentra na televisão e
desliga-se totalmente dos outros. No repouso no Espírito, ela também está
profundamente concentrada no Senhor.

REPOUSO ESPONTÂNEO E MINISTRADO

Outra definição que poderá ser útil é a que distingue o repouso "espontâneo" do repouso
"ministrado".

Repouso Espontâneo: consiste em cair sob o poder do Espírito Santo sem nenhum
intermediário.

Repouso Ministrado (também citado como repouso induzido ou cooperativo): é o


repouso que pode acontecer como resultado ou de orações para a remoção de barreiras
ao Espírito Santo, ou de música, ensinamento, movimento físico como levantar os
braços num gesto de entrega, ou desejo explícito de repousar.

"O Deus, relembraremos a vossa misericórdia, no interior do vosso Templo!" (Sl 47,10).

FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA

À medida que entramos em contato com o fenômeno do repouso no Espírito, uma das
primeiras perguntas é: "Onde podemos encontrá-lo na Escritura?" Há situações paralelas
ou semelhantes na Bíblia? Norton Kelsey afirma:

"É óbvio que nos tempos bíblicos não havia nada exatamente similar à uma cerimônia
moderna em que as pessoas se dirigem para a frente, são tocadas e caem; por outro lado,
há muitas referências no Antigo e no Novo Testamentos a pessoas que caíram diante de
Deus e parecem ter sido atingidas pelo Seu Espírito".

Há referências bíblicas a quedas ante a presença de Deus, tanto voluntárias como


involuntárias, em contextos positivos é negativos.

1. Prostração voluntária

A. Em ação de graças. Prostrar-se diante do Deus em adoração e gratidão. Lc 17,15-16,


onde o leproso foi curado, é um exemplo. "Um dentre eles; vendo-se curado, voltou
atrás, glorificando a Deus em alta voz, e lançou-se aos pés de Jesus com o rosto por
terra, agradecendo-lhe."

B. Em um ímpeto de profunda oração. "Por essa razão eu dobro os joelhos diante do Pai
- de quem toma o nome toda família no céu e na terra -, para pedir-lhe que ele conceda,
segundo a riqueza da sua glória, que vós sejais fortalecidos em poder pelo seu Espírito
no homem interior..." (Ef 3,14-16).

Também em Mt 26,39 , Jesus no Getsêmani "... prostrou-se com o rosto em terra e orou:
Meu pai, se é possível, que passe de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero,
mas como tu queres ".

2. Prostração involuntária

A. Conflito espiritual

"No caminho, pelo meio-dia, eu vi, ó rei, vinda do céu e mais brilhante que o sol, uma
luz resplandecente ao redor de mim e daqueles que me acompanhavam. Caímos todos
por terra, e ouvi uma voz que me dizia em língua hebraica: Saulo, Saulo, por que me
persegues? ... " (At 26,13-14).
Jr 46,15: "Por que o teu Touro não resistiu? Porque lahweh o derrubou!"

Quando Jesus foi preso, Judas levou os soldados ao Getsêmani:

(Jo 18,4-6) "...Sabendo Jesus tudo o que lhe aconteceria, adiantou-se e lhes disse: A
quem procurais? Responderam: Jesus o Nazoreu. Disse-lhes: Sou eu ... Quando Jesus
lhes disse: Sou eu, recuaram e caíram por terra."

B. Dominado pela presença de Deus em posição estática

No Antigo Testamento, na dedicação do templo de Salomão (2 Cr 5,13-14): "Cada um


dos que tocavam a trombeta ou cantavam, louvavam e celebravam lahweh a uma só
voz; elevando a voz ao som das trombetas, dos címbalos e dos instrumentos de
acompanhamento, louvavam a lahweh... a Casa se encheu com a Nuvem da glória de
Iahweh. Os sacerdotes não puderam continuar o seu serviço por causa da nuvem, pois a
glória de lahweh enchia a Casa de Deus.

Dn 10,8-9: "Fiquei sozinho, pois, a contemplar esta grande visão: não restou força
alguma em mim, a bela cor do meu rosto mudou-se em lividez, perdi todo o vigor.
Ouvi, então, o som de suas palavras. Ao ouvir o som de suas palavras, desfaleci sobre o
meu rosto, meu rosto contra a terra".

Ez 1,28: "...Tal era o brilho em torno, isto é, uma aparência semelhante à Glória de
lahweh. Ao vê-la, caí com o rosto em terra e ouvi a voz de alguém que falava comigo".

Ez 43,3: "A aparência que vi era igual à aparência que eu vira quando vim para a
destruição da cidade e igual à aparência que eu vira junto ao rio Cobar. Então, prostrei-
me com o rosto em terra".

Ap 1,17: João, em Patmos, foi arrebatado em êxtase, quando viu "alguém semelhante a
um filho de Homem". "Ao vê-lo, caí como morto a seus pés..."

Quando Deus faz com que um homem caia de bruços (ou de costas), por que o faz? Pe.
John Hampsch sugere algumas razões prováveis:

"Com Pedro e Paulo, o objetivo era assegurar que aquele que estava recebendo a
revelação tivesse um impacto ao perceber o seu envolvimento direto com Deus... Com
Daniel, foi para convencê-lo de que a visão e a profecia eram verdadeiras... Em Patmos,
João foi dominado quando recebeu a revelação que resultou em um livro completo, o
livro do Apocalipse. Com os soldados no sepulcro, Deus demonstra Seu poder
dominador. Deus pode fazer com que Seus amigos e Seus inimigos caiam por terra, com
diferentes propósitos para cada caso. Em uma oportunidade, demonstra que o poder do
homem não sobrepuja o poder de Deus; em outra, com os amigos, é para que o poder de
Deus os fortaleça. A ênfase principal deste fenômeno especial está no poder de Deus. At
1,8 diz: Mas o Espírito Santo descerá sobre vós e dele recebereis força. O poder também
foi manifestado através do domínio de Deus, como quando os soldados foram
dominados pela presença de Jesus e caíram por terra, no momento em que tentaram
prendê-lo. Em outras situações, o poder talvez tenha possibilitado um fortalecimento ao
se tomar consciência da natureza e da bondade de Deus... "
"...Jesus, aproximando-se deles, falou: Toda a autoridade Sobre o céu e sobre a terra me
foi entregue... " (Mt 28,18).

O objetivo do que se segue é dar uma visão geral e acessível do repouso no Espírito,
qual a aparência exterior e qual a sensação de repousar - uma visão externa e interna.

"TODA AQUELA GENTE ALI DEITADA ..."


A visão externa

O repouso no Espírito parece ser uma das maneiras através da qual Deus nos leva a uma
posição, ou estabelece uma dinâmica, que nos permite receber cura. Pe. John Hampsch
descreve alguns métodos de cura por meio dos quais o repouso no Espírito pode
ocorrer:

"A cura pode ser comunicada exclusivamente através da imposição de mãos; pela
aspersão de água benta, estendendo-se as mãos sobre o grupo; pela bênção dos doentes,
com ou sem a bênção do Santíssimo Sacramento. A cura é ministrada de diversos
modos. Pode-se simplesmente pedir que o grupo todo imponha as mãos sobre os
ombros e a cabeça da pessoa por quem se deseja orar, ou pode-se receber a oração como
membro do grupo, permanecendo-se em círculo, de mãos dadas.

O repouso no Espírito pode acontecer em qualquer desses contextos. Geralmente, ocorre


com a imposição de mãos e/ou com unção".

O ambiente

"Eu estava sozinha, fazendo meu repouso diário, durante um retiro. Por 15 ou 30
minutos experimentei uma presença tão forte do Senhor (eletricidade, vibrações, paz),
que senti que precisava ficar imóvel. Pensei que, provavelmente, não seria mesmo capaz
de me mexer" (bibliotecária).

"Repouso freqüentemente no Espírito em pequenas reuniões de grupo em casas de


família. O Senhor realiza profundas curas nessas ocasiões..." ( esposa e mãe) .

"A maior parte de minhas experiências de repouso no Espírito tem sido em grandes
reuniões de 200 a 1.000 pessoas; contudo, quando estou repousando no chão, fico
sozinha com Jesus. Ele fala comigo e me permite sentir o Seu amor como se eu fosse a
única pessoa na sala" (empresária).

A posição

"Eu estava de pé com um grupo, orando para que uma pessoa recebesse o batismo,
quando ouvi o líder dizer: Segure, ele está caindo. Pensei que estivesse falando de outra
pessoa, até que me vi no chão. .." ( engenheiro civil) .

"Repousei no Espírito muitas vezes mesmo estando sentada. .." (irmã beneditina).

"Uma amiga orou por mim quando eu estava deitada, e repousei no Espírito
profundamente durante 30 minutos" (professora).

O instrumento

"Pe. DeGrandis perguntou se eu queria ser batizado no Espírito Santo. Quando disse
sim, ele me tocou suavemente e caí no chão" (gerente de processamento de dados) .

"Há ocasiões em que parece quase impossível permanecer de pé, ainda que ninguém o
esteja tocando ou fazendo imposição de mãos" (dona de casa).

Sensação durante a queda

"Senti-me sem peso, como um astronauta. .." (balconista) . " ...como uma folha ao
vento, voando para o chão. .." (mãe).

"Senti como se alguma coisa pesada estivesse caindo sobre mim. .." (gerente de
processamento de dados) .

Mudança das sensações físicas durante o repouso no chão

Nos testemunhos que recebi, parece haver, freqüentemente, uma anestesia suave e
parcial dos sentidos, que possibilita uma mudança do foco de atenção do exterior para o
interior. Quando esta mudança acontece, o mundo espiritual parece emergir de modo
poderoso.

Expressão física

Tranqüila, agitada, sorridente, chorosa.

Tempo de permanência no chão

O tempo pode variar de minuto a horas, dependendo, provavelmente, da profundidade e


extensão da cura interior que está sendo realizada.

"Em minha experiência, o repouso foi algumas vezes breve e em outras, mais
prolongado. Senti o Espírito vir suave e rapidamente, com intensidades diferentes"
(secretária).

"Vi toda aquela gente ali deitada, e me perguntei o que será que Deus estaria fazendo..."
(professora) .

"ELE CUIDA, AMPARA, EMBALA..."


A visão interna

Em Ministério de cura para leigos, afirmo que o Senhor nos fala freqüentemente em
níveis profundos enquanto repousamos no Espírito:
"Muita gente tem tido a experiência de obter uma visão retrospectiva de toda a sua
vida... e, segundo creio, quando isso acontece num clima de oração é porque a cura
interior está ocorrendo. .."
Os 200 entrevistados de nossa pesquisa comunicaram grande variedade de modos com
que o Senhor tocou seus corações.

A agitação geralmente sugere que profundas feridas emocionais foram tocadas ou que
as influências negativas foram substituídas pela presença de Jesus.

"SABES QUANDO ME DEITO..."


Algumas áreas controversas

Alguns líderes da Renovação têm a preocupação de que o repouso no Espírito não seja
ativado pelo Espírito Santo, mas que, pelo contrário, seja um fenômeno misto. O autor
de um artigo na revista New Covenant comenta:

"... Outros têm algumas reservas sobre este fenômeno. Vêem a experiência como algo
muito semelhante aos estados de hipnose e de auto-sugestão que não estão,
necessariamente, relacionados com o Espírito Santo. Eles questionam seriamente a base
escriturística do fenômeno e têm graves reservas sobre a sabedoria pastoral de encorajá-
lo".

O Cardeal Suenens, em A controversial phenomenon, resting in the Spirit, conclui que a


tendência a cair pode estar relacionada mais à dinâmica psicológica do que à moção do
Espírito Santo, e por este motivo, publicou uma advertência.

Inclino-me a acreditar que a maior da parte dos repousos são uma experiência de Jesus.

Pe. Richard Bain, de San Francisco, afirma:


"Pode ser verdade que a maior parte do repouso no Espírito seja causado pela dinâmica
psicológica. Talvez muitas pessoas simplesmente queiram cair. Não acredito que isto
deva causar preocupação, pois uma vez no chão, poderão se tornar abertas ao toque de
Deus. Para mim, a questão não é por que caem, mas o que acontece quando estão
deitadas.

A Igreja não é Deus, os sacramentos não são Deus. O rosário não é Deus. Mas cada um
deles estabelece a dinâmica que nos ajuda a encontrar Deus. Acredito que o repouso no
Espírito também possa nos ajudar a encontrar Deus. Todas as pessoas com quem tenho
conversado encontraram nele uma experiência muito positiva.

Minha primeira experiência do repouso, com Pe. Dennis Kelleher, de Nova lorque,
abriu as portas para o meu ministério de cura".

Há, provavelmente, um misto entre a dinâmica psicológica e a espiritual no repouso no


Espírito, devido à inter-relação de corpo, mente e espírito. Pe. George Maloney, no
artigo "How to understand and evaluate the charismatics newest experience: Slaying in
the Spirit ", afirma: "O fenômeno da morte no Espírito não deve ser julgado por um
critério de e/ou: se é natural ou sobrenatural, induzido somente pela natureza psíquica
do homem, ou uma demonstração cabal do poder do Espírito Santo entre os homens... ".

Outro aspecto comum de controvérsia está relacionado com o repouso "espontâneo"


versus o repouso "induzido, cooperativo ou ministrado". O repouso "espontâneo" não é,
na verdade, problema para muita gente. A área de conflito está naquilo que é aceitável
em termos de encorajamento para que as pessoas se abram à experiência do repouso,
isto é, o repouso "induzido, cooperativo ou ministrado". O conflito emerge quando a
dinâmica psicológica está envolvida no processo do repouso.

Acredito que ajudar as pessoas a chegarem a uma condição de entrega a Deus é uma
ação positiva e construtiva. Deste modo, a questão a ser levantada é: "Para quem elas
estão entregando seus corações? Qual é a intenção delas? Pedro tomou a iniciativa
pessoal de andar sobre as águas (Mt 14,29) e, então, o Senhor o conduziu. O senhor diz:
" Ah! todos vós que tendes sede, vinde..." (Is 55,1). Ele diz: "Vinde... e eu vos darei
descanso" (Mt 11,28). Esta "vinda" inicial é um ato natural em resposta ao Seu
chamado. Ele está sempre nos chamando à entrega, e então, quando o fazemos, Ele nos
conduz para o domínio espiritual. No dom de línguas, abrimos a boca para que Ele nos
dê a palavra espiritual. Ele também nos diz que devemos suscitar os dons. No estágio
inicial, esta ação é natural. Fazemos uma escolha interna para passar de uma ação no
campo natural para uma ação no campo espiritual. Quando nos decidimos pela entrega
confiante, estamos dizendo: "Conduze-me, Senhor, à Tua Morada". Ele honra a nossa
escolha.

Ao longo desses anos, tenho me sentido à vontade quando oro com as pessoas e
incentivo-as a se abrirem e se entregarem ao Espírito Santo. Há alguns princípios nesta
área que, acredito, poderão ser úteis:

1. Muitos católicos têm medo da experiência religiosa exterior, classificando-a


imediatamente de "emocionalismo". Alguns observadores têm dito que precisamos de
emoção na fé para dar equilíbrio à dimensão intelectual. Sto. Agostinho diz: "A fé em
busca do entendimento". Precisamos abrir nossos corações ao amor e ao poder de Deus.

2. A maior parte das pessoas não consegue soltar o corpo para trás porque se sente
desprotegida do ponto de vista humano. Quando nos perguntam sobre o repouso e peço-
lhes que caiam para trás sem proteção, nenhuma delas é capaz de fazê-lo. No entanto,
sob o poder do Espírito Santo, elas conseguem fazer o que, normalmente, seria
impossível.

3. Muitas pessoas que ficam sob o poder do Espírito são pessoas cultas, cujo último
desejo seria deitar-se no chão. No entanto, mesmo pessoas muito elegantes e distintas
parecem perder esta preocupação quando repousam no Espírito.

4. Busco o processo de discernimento comunitário. Somos orientados em l Jo 4,1 para


"examinar os espíritos". A comunidade, os ministros de oração e as pessoas que
recebem oração geralmente têm uma percepção muito boa da presença ou ausência do
Senhor durante a oração. Freqüentemente, a comunidade sentirá a presença do Espírito
Santo durante o processo de repouso.

5. Muitos sacerdotes que se dedicam totalmente ao ministério de cura estão de acordo


com os bons frutos produzidos pelo repouso no Espírito. Os bispos que estiveram
presentes durante essas orações e que também repousaram dão apoio a esse fenômeno
do ministério de cura.

6. Nosso Deus é um Deus de surpresas. Precisamos estar abertos às maneiras através


das quais o Espírito parece estar conduzindo o Seu Corpo. Quanto mais espessa a
escuridão, mais brilhante a luz. Com a agressão ousada do demônio à nossa cultura,
precisamos estar mais entregues à liderança do Senhor. Ele nos diz: "Brilhe do mesmo
modo a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, eles
glorifiquem vosso Pai que está nos céus" (Mt 5,16).

7 .Devemos acreditar na honestidade e integridade básicas das pessoas até prova em


contrário. Alguns diriam que nem todos os que caem estão repousando no Espírito. Isto,
talvez, seja verdade, mas eu presumiria que a grande maioria está sob o poder do
Espírito. Por isso, fico à vontade quando uso essa terminologia.

8. A maior parte dos fenômenos está sujeita a uso e abuso. Já conheci pessoas que
jejuaram tanto que chegaram a prejudicar a saúde. Algumas vezes, encontramos pais
que vão à missa diariamente esquecendo-se das necessidades da família. Contudo,
preferimos focalizar o uso e não o abuso.

9. A ordem e o decoro devem ser sempre preservados. Acredito que do ponto de vista
pastoral, devemos averiguar e impedir qualquer abuso, tal como permitir o repouso no
Espírito durante a Comunhão, no meio da missa dominical, ou em um lugar público.
Sem dúvida, isto constitui abuso e deve ser corrigido pastoralmente.

NENHUM MAL TEMEREI, POIS ESTAS JUNTO A MIM


Jerusalém. ..as montanhas a envolvem, e o Senhor envolve o seu povo, desde agora e
para sempre (81 125,2).

Nem todo mundo é bastante livre interiormente para se entregar à experiência do


repouso no Espírito. Francis MacNutt faz uma reflexão sobre esta falta de liberdade:

"Há uma sorte de pessoas que bloqueiam esta experiência principalmente aquelas que
na vida tiveram de aprender a controlar em demasia suas emoções. Há pessoas que têm
verdadeiro pavor de se deixar levar. Não é tanto um problema espiritual; é antes
emocional; têm medo de tudo o que não conseguem controlar pela razão. Algumas
pessoas... perderam a capacidade de responder à vida com espontaneidade".

Freqüentemente os intelectuais terão mais dificuldade em repousar no Espírito. Mas este


não foi o caso com o meu antigo professor de Sagrada Escritura no seminário. Ele é
licenciado em Sagrada Escritura pelo Instituto Bíblico de Jerusalém e doutorado em
psicologia. A primeira vez em que recebeu uma oração, instantaneamente caiu sob o
poder do Espírito, com uma grande abertura. Ele é muito culto e, contudo, tem uma
grande receptividade. Mas, isto não é comum.

Em geral, acredito que o tipo de pessoa que repousa com maior prontidão é aquele que é
livre, aberto, corajoso e dócil. Em geral, são pessoas com uma certa dose de
simplicidade. Os tipos mais intelectuais, reservados e conservadores tendem a
demonstrar maior resistência ao repouso no Espírito. Portanto, parece haver necessidade
de abertura psicológica, bem como de abertura espiritual.

RESUMO DE ALGUMAS PREOCUPAÇÕES PASTORAIS

Eminente personalidade afirmou que não há problemas teológicos com o repouso no


Espírito, mas há inúmeros problemas pastorais. Eu concordo e apresento alguns
aspectos básicos:

Onde usá-lo: precisamos ser cautelosos a respeito do local onde ocorrerá o repouso. Eu
mesmo não usaria o repouso, por exemplo, em uma missão paroquial, ou em uma
reunião de oração de uma igreja não-carismática. O ideal, acredito, seria que fosse
usado em particular ou em situações de aconselhamento. Pode ser usado também para
orações carismáticas de cura.

Necessidade de ensinamento: isso é extremamente importante. Quando estou me


preparando para ungir e orar, e sempre ávido que algumas pessoas talvez caiam no chão.
Explico que o repouso é uma experiência comum e que, portanto, não precisam chamar
uma ambulância nem mandar buscar o médico. Sei de pessoas que fizeram orações para
grandes multidões, sem ao menos mencionar o que poderia acontecer. As pessoas caíam
sob o poder do Espírito e com isso, os que estavam observando, ficavam chocados e
amedrontados e abandonavam a reunião. Em nossa sociedade, quando vemos uma
pessoa cair, pensamos que está se sentindo mal ou tendo um ataque cardíaco.
Precisamos prevenir a todos sobre o que pode acontecer, e dar-lhes uma noção do que
devem esperar, tanto exterior como interiormente, tal como o médico ou o dentista que
geralmente informam o paciente sobre todo procedimento que levarão a cabo com ele.

Às vezes, precisamos ajudar as pessoas a abrirem espaço em suas mentes, para que o
repouso no Espírito aconteça. Isto permite que elas ajam da maneira que o Espírito
Santo inspirar.

Algumas pessoas que não repousam no Espírito se sentem desprezadas ou sentem que
Deus não as ama. É preciso que se lhes assegure que Deus as ama. Talvez necessitem de
mais ensinamento e oração, até que se tornem psicologicamente mais abertas à
experiência. É preciso tranqüilizar as pessoas de que a falta do repouso no Espírito não
significa que não estão perto de Deus. Do mesmo modo, devemos dizer que o repouso
não é sinal de santidade. Suponho que Madre Teresa de Calcutá nunca tenha feito o
repouso no Espírito, ao passo que conheço algumas pessoas desprezíveis que já
repousaram.

O repouso pode ser controlado: o ato de cair geralmente está sob o controle da pessoa
que repousa. Se uma cerimônia carismática estiver sendo realizada em um local que não
se preste ao repouso no Espírito, ou em uma situação inadequada, é preciso orientar os
participantes a fecharem seus espíritos à experiência e pedir-lhes que não entrem em
repouso. Na maioria dos casos, pode-se observar que se assim procedem, o repouso não
acontecerá. Pedi a cerca de 700 pessoas em uma pequena igreja de Brisbane, Austrália,
que evitassem o repouso, fechando seus espíritos à experiência, porque as circunstâncias
não eram adequadas, e elas assim procederam.

Experiências negativas: segundo minha experiência eu diria que atitudes negativas não
são freqüentes durante o repouso. Aqueles que se preocupam com a ocorrência de
acontecimentos negativos geralmente têm uma experiência inadequada ou não
compreenderam o que são as forças negativas das quais as pessoas estão sendo
libertadas. Algumas vezes, nesses casos, lembranças dolorosas ou espíritos do mal estão
sendo substituídos pela presença de Jesus e aquilo que pode parecer negativo é, na
verdade, positivo. Freqüentemente, os maus espíritos são trazidos por profundas mágoas
emocionais, ou estão relacionados com elas e, portanto, poderá haver uma forte
liberação de emoções durante o processo de cura. Francis MaçNutt diz: " nada que não
seja simples e tranqüilo não é a ação direta do Espírito, mas sim a reação da natureza
humana ferida, ou as forças do mal".

Quando uma pessoa, durante o repouso, parece se mexer ou está agitada de algum
modo, o dirigente maduro e experiente (com algum conhecimento da batalha espiritual
que está sendo travada e sobre a oração de cura interior) deve orar pela pessoa
imediatamente.

Considerações sobre o espaço: em um grupo deve haver amplo espaço para que as
pessoas repousem no chão.

Recepcionistas: é preciso certificar-se de que os recepcionistas sejam bons e bem-


treinados para que tudo seja mantido em ordem, em uma atmosfera de tranqüilidade e
reverência.

Servos: deve haver servos treinados para ficar atrás das pessoas que estão recebendo
oração para que sejam amparadas em sua queda. Verificar sempre se há um servo
disponível antes de começar a oração por uma pessoa. Os servos também devem estar
atentos para ajudá-las a se levantarem quando estiverem prontas.

Música: acredito no valor de se ter uma boa equipe de músicos tocando músicas
carismáticas durante o tempo em que as pessoas repousam no Espírito. Isto ajuda a
focalizar a atenção em Jesus, leva a um louvor profundo, que por sua vez propicia uma
entrega maior.

Testemunho após o repouso: após o repouso é aconselhável ouvir os testemunhos das


pessoas que o experimentaram de modo que o que foi ensinado possa agora ser
apreciado e confirmado pela experiência. Há três perguntas que podem ajudar a
apresentação individual:

1. Foi uma experiência válida?


2. Veio ao encontro de alguma necessidade?
3. Houve uma profunda experiência de Deus?

Só quem experimentou o repouso poderá dizer se ele realmente aconteceu. Muitas


vezes, será surpreendente a profundidade da experiência de algumas pessoas. Para mim
a profundidade de satisfação que acompanha a experiência é uma indicação de sua
autenticidade. Isto leva à necessidade de partilha.

Material informativo: deve haver folhetos ou outros recursos, incluindo listas dos
grupos locais de oração, bem como sugestões de leituras para crescimento.

Acompanhamento: acredito que deve haver pessoas amadurecidas e treinadas para fazer
o acompanhamento. As pessoas com experiências negativas devem ser assistidas
continuamente com aconselhamento e oração. O despertar de emoções profundas, sem
que haja um acompanhamento, é matéria de grande preocupação pastoral.

Como lidar com abusos: todos temos consciência de que para tudo pode haver uso e
abuso. Os dons podem gerar abusos, e por isso necessitam de orientação e
discernimento de mestres e pastores. O repouso no Espírito pode ser usado para o bem,
mas pode provocar abusos. Por exemplo: o fato de alguém apresentar-se a três pessoas
diferentes para a oração pode ser considerado um abuso. Focalizar a atenção naquele
que ministra o dom e não em Jesus pode ser um abuso. A fixação excessiva na
experiência exterior em prejuízo da experiência interior pode ser um abuso. (Isso indica
uma falta de entendimento sobre a essência do repouso e, portanto, é um sinal da
necessidade de ensinamento). Ministros de oração que estejam em uma aventura
egocêntrica de levarem as pessoas ao repouso no Espírito por sua própria capacidade,
podem estar abusando deste dom. Penso que é responsabilidade daqueles que estão no
ministério de ensinamento estabelecer orientações e recomendações para que todos os
abusos sejam corrigidos.

"ANTES, DURANTE E DEPOIS. .."


Preparando-se para o repouso

Como já mencionei em Ministério de cura para leigos, "eu sugeriria a algumas pessoas
que talvez nunca tenham repousado no Espírito e desejam crescer no amor do Senhor,
que peçam a Ele para lhes proporcionar esse repouso... As pessoas dizem eu quero, mas
se o desejarem apenas mentalmente e não de coração, em geral não receberão. Se vocês
se abrirem, a porta se abrirá de dentro para fora. Digam ao Senhor: Eu quero receber
tudo o que tens para mim, Senhor. Quero receber tudo o que possa fazer de mim uma
pessoa melhor, mais capaz de amar-Te, de servir-Te mais, a Ti e aos outros".

Irmã Frances Clare faz as seguintes recomendações:

Antes da experiência: "não faça com que as coisas aconteçam e não impeça que o poder
de Deus venha até você, devido ao seu medo de onde irá cair, ou qual será a sua
aparência e o que os outros irão pensar. Liberte-se de qualquer desses medos. Relaxe no
amor de Deus e louve-O pelo seu amor por você. Livre-se de todo o sentimento de culpa
de não ser digno. Esta experiência não depende de seu merecimento; é para aqueles que
necessitam de libertação, cura interior e de plenitude interior.

Durante a experiência: relaxe no amor de Deus. Entregue-se ao Seu amor. Acredite,


com toda a fé, que algo está acontecendo dentro de si, ainda que emocionalmente não
sinta nada. Permaneça em posição de relaxamento pelo tempo que desejar .

Após a experiência: quando voltar ao nível normal de consciência, não permita qualquer
pensamento de auto-condenação, auto-análise, preocupação com o que os outros vão
pensar ou decepção por não ter sentido nada. O fato de permanecer em repouso por
cinco minutos ou cinco horas não é sinal de um número maior de pecados ou de maior
santidade. As palavras de amor e louvor ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, vindas de
um coração sincero, mantêm a cura fluindo continuamente no coração. Mantenha-se
disposto a viver de acordo com a vontade de Deus todos os dias. Esta experiência do
repouso no Espírito é só o começo. O Senhor continuará Sua tarefa nas próximas horas,
semanas, meses e talvez até mesmo nos anos vindouros. É, de fato, uma grande alegria
saber que Ele deseja amar-nos e permitir que Seu Precioso Sangue nos purifique deste
modo.

É Jesus que cura e Seu Santo Espírito realiza a cura porque o Pai assim o deseja, neste
momento especial de sua vida".
Recomendamos o livro: O REPOUSO NO ESPÍRITO, de Roberto DeGrandis S.S.J.,
Edições Loyola, onde fomos colher os extratos deste relato. É uma obra exaustiva sobre
este assunto amplamente pesquisado em nossos dias. Na obra, além de vários
testemunhos, o autor descreve as áreas de interesse em pesquisa com médicos e
psicólogos.

c 


"Pe. DeGrandis perguntou se eu queria ser batizado no Espírito Santo. Quando disse
sim, ele me tocou suavemente e caí no chão"

Renovação Carismática Católica do Brasil - Secretaria Moisés.

REPOUSO NO ESPÍRITO

O que se entende por ³ repouso no Espírito´?


Em primeiro lugar, vamos descrever o fenômeno tal como é sentido pelos que o
experimentaram.
Com esse nome, trata-se geralmente de um fenômeno de queda involuntária, geralmente
para trás, com muita freqüência no decorrer de algum serviço religioso de cura ou de
oração. Essa manifestação física visível pode ser descrita ± vista de fora ± pôr toda uma
gama de expressões: cair,abater-se, desmoronar, deslizar, ficar abalado, estirar-se,
oscilar, ficar rígido.
O termo clássico, proveniente do pentecostalismo, e empregado habitualmente em
diversos meios carismáticos, é:
-³Slain in the Spirit´( fulminado pelo Espírito) ou ³Overpowering of the Spirit´ (
invadido pelo poder do Espírito) ou ³Resting in He Spirit´( repouso no Espirito) ou
³The Blessing´( a bênção).
Todas essas expressões supõem que p fenômeno-visto do interior ± é ligado a uma ação
particular do Espírito Santo. Sendo essa interpretação, justamente, problema e matéria
para discussão, a primeira questão que se apresenta, antes mesmo de se iniciar uma
análise crítica e de se optar por uma pastoral, é pôr-se de acordo sobre o próprio
vocabulário.
Vocabulário
Um ministro anglicano, J.Richards, sugeriu que se adotasse de início um termo neutro,
que ficasse no plano puramente descritivo e que não prejulgasse o conteúdo espiritual e
a interpretação. Propôs que o chamássemos ³falling phenomenon ( o fenômeno de
queda ), sem falar de imediato em´ ³repouso no Espírito , pois o papel do Espírito
justamente está em questão nesse contexto. A queda como tal é um fenômeno visível,
natural; a queda, como efeito de uma ação do Espírito santo, pertencia ± se a
interpretação for exata ± à ordem das realidades supranaturais´.
Deve-se distinguir esses dois planos. O vocabulário ³neutro´ deixa a porta aberta a um
estudo e a uma discussão serena. Vejo que um autor norte-americano e outro alemão
aderiram à sugestão de J. Richards, que adoto, por minha vez.E, para ser breve, falarei,
na maioria das vezes, do ³falling´, da ³queda´.
Esse fenômeno se encontra, em graus diversos, entre os cristãos pertencentes às grandes
Igrejas históricas ± em meios católicos, anglicanos, luteranos -, à medida que foram
tocados por certos ³³revivals´do passado ou pelo pentecostalismo surgido no início do
século. Mas foi sobretudo depois da guerra mundial de 1940-1945 que se produziu o
fenômeno nos grandes grupos cristãos e, mais recentemente, na Igreja católica´.
Não é fácil uma descrição do fenômeno, no estado puro, pois são muitas as variantes;
procuraremos, no entanto, tirar uma espécie de denominador comum.
Ouvindo testemunhos
Como eu disse, em resposta a meu pedido através do I.C.C.R.º, recebi número
considerável de testemunhos vindos de diversos continentes. Eles atestam a
universalidade do fenômeno e merecem estudo e atenção.
Para evitar repetições, agrupo aqui as respostas recebidas, em função das principais
perguntas feitas.
Abstenho-me, nesta fase, de qualquer reflexão crítica, para dar a palavra às testemunhas,
à sua vivência e às próprias interpretações ou deduções .
Quem cai ?
Relaciono, de início, grande variedade de pessoas; são citados, porém, com amor
freqüência:
‡ na maioria mulheres;
‡ pessoas com depressão e outros problemas psíquicos;
‡ pessoas com fortes ressentimentos dos outros;
‡ pessoas em situações difíceis de vida, como casais em estado de tensão;
‡ pessoas que precisam de cura espiritual, emocional, mais do que as que sofrem de
moléstia física.
Como se desencadeia o fenômeno?
A pergunta vem naturalmente ao espírito. Aqui estão algumas respostas recebidas:
‡ através de personalidades muitas conhecidas, que são como que especialidades no
assunto e que atraem multidões;
‡ através de pessoas que, rezando por outras, como costumam, um belo dia percebem
que alguns começam a cair, sendo que elas próprias jamais passaram pôr essa
experiência;
‡ numa mesma reunião, alguns podem cair sob a ação de determinada pessoa, mas não
de outra;
‡ alguns atestam que, durante a oração pôr outros, não sabem o que desencadeia a queda
de certas pessoas: apenas o constatam, sem mais.
Em que contexto se produz?
A julgar pelas respostas, o contexto é muito variado:
‡ trata-se ás vezes de um grande ajuntamento, com milhares de pessoas, num ambiente
que se presta à sugestão, e através de personalidades leigas ou de padres especializados;
‡ o fato pode ocorrer também num pequeno grupo de oração, onde jamais alguém caiu
até certo dia;
‡ na maioria das vezes, acontece em reuniões em que o fenômeno é esperado e onde
uma equipe está preparada para cuidar das pessoas que caem. Ocorre, de modo
particular, durante um serviço de cura;
‡ às vezes o fenômeno se desencadeia em grupos, depois da passagem de um
³profissional´; acontece também de desaparecer depois de certo tempo sem que os
responsáveis pelo grupo saibam realmente o por quê;
‡ às vezes a oração não acompanha o gesto de contato, e o fenômeno se produz sem
gesto de contato, e o fenômeno se situe no contexto de uma celebração eucarística.
O que se sente ao cair?
Indicam-me experiências variadas:
‡ sensação de ser empurrado por uma força invisível; pressão na testa, no peito, nas
pernas;
‡ sensação de fraqueza que vai aumentando, até não poder resistir por mais tempo, e cair
ao chão;
‡ alguns se encontram no chão, sem saber o que lhes está acontecendo;
‡ muitas vezes, uma sensação de ³ausência de peso´,
‡ alguns têm a sensação de que as pernas como que se levantam, antes de cair ao chäo;
‡ embora alguns caiam pesadamente, é raro se machucarem;
‡ a duração do fenômeno varia de alguns minutos a algumas horas;
‡ caem geralmente para trás;
‡ as pessoas que oram, em geral colocam as mãos sobre a cabeça de quem cai, e às
vezes fazem-lhe ligeira pressão na testa ou ungem-na com óleo;
‡ às vezes isso acontece também sem que se toque ou sem que se esteja perto da pessoa
que cai;
‡ às vezes, esse fenômeno ocorre sem testemunhas¶;
‡ algumas pessoas estremecem, oscilam, mas não caem, tendo as mesmas sensações das
que caem;
‡ há quem declare que, ao cair, não tem tanto a sensação de perda de consciência, mas
sim de perda de controle.
É possível resistir?
À minha pergunta, respondem, na maioria dos casos: sim, se quisermos. Às vezes, no
entanto, isso acontece apesar do ceticismo, da resistência, da reserva da pessoa que cai.
Mas recomenda-se que não se resista, de modo - estou citando ³a permitir que Deus aja
quando a pessoa está caída, em posição de distenção´.
Acrescenta-se, porém: ³se a pessoa se encontra num meio que não compreende essa
experiência, aconselha-se a não se expor.´
O que se sente durante a queda?
A pergunta prenderá a atenção de modo especial, pois as respostas são múltiplas e
variadas.
Apresentamos, sem classificação, em desordem, algumas constatações:
‡ Sente-se uma presença especial de Deus, uma sensação de euforia, de paz;
‡ µcontinuamos conscientes, mas, com os olhos fechados, ouvimos o que se diz ao redor
de nós embora os sons às vezes pareçam muito longínquos µ;
‡ alguns não têm lembrança, depois do fato, do que aconteceu;
‡ a maioria sente que é capaz de se levantar, mas não tem vontade. Contudo, alguns são
incapazes de se erguer;
‡ alguns têm experiências sensoriais, como um doce perfume, ou como se ouvissem uma
espécie de canto de coro;
‡ várias pessoas têm imagens mentais ou ³visões´ que as põem ³em contato com Seus e
com o mundo sobrenatural´.
Que ajuda oferecer a quem cai?
A pergunta visa à pastoral que deve ser praticada quando se produz o fenômeno. Notar-
se-á, de passagem. O pormenor das precauções.
È preciso que haja pessoas atrás daqueles ou daquelas que vão cair, para amortecer o
choque e impedir que vão de encontro aos vizinhos já caídos.
Não é mais preciso orar pelos que já caíram no ³repouso no Espírito´. O senhor já está
agindo neles ³³.
Esclarece-se inclusive que, para evitar o constrangimento das mulheres, deve-se
preparar uma coberta que lhes será jogada sobre as pernas em caso de necessidade, a
fim de preservar a modéstia.
O que se sente depois da experiência?
A maioria diz ter uma sensação de reavivamento espiritual, emocional, físico. Uma
sensação de leveza, de paz, de alegria, que dura horas ou dias.
Freqüentemente, também o desejo de louvar a Deus.
Se a pessoa se levanta cedo demais, antes de voltar ao estado normal, sente-se fraca,
atordoada, e tem vontade de se sentar ou deitar, até que voltem as forças.
Quais são os frutos?
‡ melhoras em perturbações psíquicas;
‡ curas totais de profundos problemas psíquicos;
‡ curas de feridas internas, de ressentimentos;
‡ curas de feridas internas, de ressentimentos;
‡ curas no campo das relações ( casamentos etc.. )
‡ sensação de paz;
‡ possibilidade de perdoar, de se arrepender;
‡ amor pela oração, pela Escritura; encontro profundo com Jesus;
‡ algumas curas físicas(raras).
O fenômeno no nível das multidões
O fenômeno voltou bruscamente a ter sucesso nos Estados Unidos, em conseqüência do
ministério de cura praticados por uma forte personalidade de religião batista: Katherine
Kuhlman( falecida em 1976).
Seu nome aparece em razão do caráter espetacular das sessões de ³cura´, em que o
³falling phenomenon´. Tinha lugar importante. Os meios de comunicação de massa
tornaram-na celebre nos Estados Unidos, no Canadá e em outros lugares. Milhares de
pessoas se amontoavam regularmente em suas sessões. O ministério de cura era
animado por uma grande orquestra, e um serviço de vigilância, executado por ³catcher´
bem preparados, cuidava de atenuar a queda das pessoas tocadas por Katherine
Kuhlman.
Várias obras lhe foram dedicadas, seja para exaltar seu ministério, seja para contestar-
lhe a personalidade e as curas. Não nos cabe tomar partido a esse respeito, uma vez que
estamos na fase da descrição.
Entre as muitas descrições coletadas que tive ocasião de ler, ou ouvir da bica de
testemunhas, destaco o relatório enviado por um padre americano, e que parece típico e
sugestivo. Seu testemunho tem particular interesse porque meu correspondente
participou, ele próprio, de uma equipe sacerdotal especializada num ministério de cura,
que comportava habitualmente o ³repouso±queda,´ em estilo menos espetacular.
Meu primeiro contato com ³slain in He Spirit´, escrevia-me ele, data de 1972: assisti a
um serviço de cura de Katherine Kuhlman, na cidade de Nova Iorque, no salão de baile
do hotel Americana.
Alguns milhares de pessoas enchiam o salão: a multidão que invadira locais contíguos
ligava-se aos outros através de microfones. Percebia-se, com toda clareza, uma
atmosfera de fé ³expectante´. Alguns oradores fizeram curtas introduções: muitos
cânticos criaram a atmosfera preparatória à entrada ³dramática´ de Katherine Kuhlman.
Ela se aproximou, sorridente, vestida com um longo vestido flutuante; imediatamente,
dirigiu a oração do povo e animou o canto. Depois, fez um sermão de cerca de vinte
minutos, sem talento oratório nem profundidade especial, mas com sinceridade que
despertava a fé. Várias vezes atribuiu unicamente a Deus a glória de seus êxitos.
Pareceu-me alguém que amava e queria anunciar Jesus Cristo. Depois do discurso, fez
uma pausa, como se estivesse escutando, e em seguida anunciou que no auditório
alguém estava curado de determinada doença, chegando até a indicar aproximadamente
o lugar em que se encontrava a pessoas curada; para melhor situa-la, deu pormenores da
roupa que usava. O serviço de cura bem organizado: grande número de ³assistentes´ de
serviço esperavam nos lados da sala, para conduzir até o estrado os doentes curados ou
que assim se acreditavam. Quando lá chegavam, Katherine Kuhlman interrogava-os,
sob a luz dos projetores, a respeito de sua doença e cura.
A cada cura, o auditório aplaudia e manifestava, em oração, seu reconhecimento para
com Deus.
Meu correspondente chama atenção para o fato de que um seus paroquianos, que o
acompanhava, declarou-se curado de câncer, o que provocou entusiasmo. Ele próprio se
apresentou a Katherine Kuhlman, que lhe impôs as mãos. Diz que teve a tentação de
resistir ao ³empurrão que sentiu, mas por fim se deixou cair para trás, nos braços de um
guarda. Em seguida se pôs em pé, sem ter experimentado pessoalmente nenhum efeito
especial. O serviço havia durado de três a quatros horas.
Mais tarde, meu correspondente tornou a fazer a experiência, assistindo a outro serviço
de Katherine kulman numa igreja presbiteriana de Pittsburg, na Pennsylvania. Durante
esse serviço, alguns membros do círculo de Katherine Kuhlman aproximaram-se dele
para dizer-lhe que também tinha o poder de fazer ³cair no Espírito´. Pediram que
exercesse esse dom misterioso sobre eles mesmos, e estes efetivamente caíram ao chão.
Essa experiência levou-o a adotar pessoalmente esse método, durante alguns anos, o
método totalmente inesperado para ele, da cura de doentes. Feitas mais experiências, e
com o passar dos anos, ele se recusou a essa prática cujos perigos se lhe revelaram
pouco a pouco.
O testemunho que me enviou termina pelas seguintes reflexões, que são aqui
condensadas:
Hoje ele vê o fenômeno como uma experiência de ordem natural de que a graça pode às
vezes servir, excepcionalmente, mas que não deve ser colocado entre os carismas
sobrenaturais.
Sua difusão atual em meios católicos - O clima ecumênico
A difusão do fenômeno, em meios católicos, explica-se, de um lado, pelo clima pos-
conciliar de abertura ecumênica, entendido às vezes como um ecumenismo depreciado,
que tende a unir os cristãos - e não as igrejas cristãs ± com base no menor denominador
comum, e em referência direta ao Espírito onde parece estar perdendo velocidade.
Estendeu-se rapidamente pelo mundo, nestes últimos anos, em parte devido à
internacionalização que vem ocorrendo.
Missionários que tiveram contato com o fenômeno, sobretudo nos Estados Unidos,
tornaram-se propagandistas do que consideravam um carisma para os novos tempos,
que o senhor dava à sua igreja. Surgiram imitadores e imitadoras de katherine kuhlman,
que por sua vez fascinaram multidões e se tornaram centros de atração.
Há referências na Bíblia?
Para evitar qualquer confusão, é preciso, antes de procurar pontos de apoio na escritura,
ter em emente, com toda a clareza, a descrição do fenômeno que estudamos.
Nos textos da escritura que mencionam ³queda´, ³prostração´ diante da majestade de
Deus, ou simplesmente ³sono´, estes não correspondem, nem aos fenômenos do tipo
Katherine Kulhman, nem ao ³repouso no Espírito´, apresentados em termos mais
suaves e atenuados, como um ³abandono físico calmo e consciente à operação curativa
de Deus´.
Na escritura não se fala de uma pessoa que recebe a imposição das mãos de outra ou de
um grupo em oração, e nem de cair para trás; trata-se geralmente de quedas com o rosto
em terra.
Quando a bíblia fala de pessoas que ³caem diante de Deus´, não é sempre fácil
distinguir se é um ato de adoração consciente e desejado, por um ato de abandono ao
poder de deus, ou ainda simplesmente uma manifestação de obediência. Podemos citar
muitos exemplos de queda no Antigo TESTAMENTO, no Novo Testamento, nos Atos
dos Apóstolos.
No Antigo Testamento:
EZ 1,28: ³Vi uma aparência semelhante à glória de Iahwed. Ao vê-la, caí com rosto em
terra e ouvi a voz de alguém que falava comigo´.
No Novo Testamento: MT 17,6: Os discípulos que caem quando na transfiguração.
At 9,4: A conversão de São Paulo, que cai por terra no caminho de Damasco.
Conclusão:
O estudo comparativo entre textos da Escritura e o ³falling phenomenon´ não foi, que
eu sabia, objeto de pesquisas exegéticas que chegassem, com precisão, ao essencial de
nosso tema. Limito-me a apresentar três testemunhos que indicam o contraste dos
fenômenos.
Em todos esses textos não reconheço o fenômeno do ³slain in He Spirit´. O êxtase não
se pode comparar a um desmaio provocado por outro homem, que não é Jesus Cristo.
Não consigo encontrar um paralelo para esse fenômeno. Sabemos que Pedro, Paulo e os
outros discípulos pregaram e curaram: os atos dizem-no com certeza. Mas quase não se
tem base para crer que as pessoas caíssem nesse tipo de repouso quando era implorada
sobre elas a plenitude do Espírito.
Há referências nos autores Místicos?
A prudência da Igreja:
Dissemos que a igreja, ao longo da história, confrontou-se muitas vezes com fenômeno
de interação entre corpo, alma e espírito. Quanto mais repercute sobre o corpo uma
reação psíquica, mais se exige discernimento. Nos processos de canonização, a Igreja se
preocupa em distinguir o que provém da santidade autêntica - com base nas virtudes
teologais: fé, esperança e caridade - daquilo que diz respeito a manifestações corporais
exteriores, como êxtases, levitações, estigmas etc..
Um exemplo típico dessa prudência foi dado por Pio XII, quando da canonização da
Irmã Gemma Galgani. O papa tomou o cuidado de dizer que declarava autêntica sua
santidade não em razão de certos fenômenos físicos que apareceram em sua vida, mas
apesar deles, não hesitando em relaciona-los a tenências neuróticas. Seria impossível
dizer, com maior clareza, que os dois aspectos são dissociáveis.
Confusão que deve ser evitada:
Para apoiar a interpretação sobrenatural da queda, alguns divulgadores baseia-se em
³analogias´, místicas que seriam provenientes da mesma família de fenômenos. O
³repouso no Espírito´ é comparado ao repouso da alma ou ainda à oração de quietude.
Deve-se dize-lo claramente: são dois mundos, de planos diferentes.
Repouso no Espírito e repouso na alma
Aqui esta o que escreve são Francisco de Sales a respeito do ³repouso da alma´.
Estando, pois a alma dentro dela mesma, em Deus ou diante de Deus, fica às vezes tão
docemente atenta à bondade de seu bem-amado, que lhe parece que sua atenção é quase
atenção, de tal modo é simples e delicada: como acontece em certos rios que correm
com tanta doçura e regularidade que, a quem os olha ou navega neles, parece não estar
vendo nem sentindo movimento algum, porque não o vê ondular nem se agitar. É esse
agradável repouso da alma que a bem-aventurada virgem Teresa de Jesus chama oração
de quietude, quase igual ao que ela mesma designa como o sono das potências, se é que
entendo bem. (Tratado do Amor de Deus, livro 6, cap.8)
A oração de quietude tem forma bem diversa.
Pode ser obscura ou luminosa. As descrições que dela se fazem são muito defeituosas:
pode-se facilmente confundir a oração e quietude a oração de recolhimento (mais ou
menos a Terceira Morada) com a oração de quietude. São vítimas dessa confusão
especialmente os que têm grande experiência da oração de quietude. O que significa a
afirmação de que o ³repouso no Espírito´, quando é autentico, assemelha-se à oração de
quietude. Não há santidade: para se beneficiar de forma habitual da oração de quietude é
necessário já ter atingido um elevado grau de santidade e grande pureza de coração.
Exatamente porque as pessoas não estão preparadas para deixar que o senhor lhes
purifique o coração, é que ele não pode dar essa graça.
O discernimento dos grandes místicos
Santa Teresa de Ávila - No livro de fundações, santa Teresa de Ávila , falando dos
desfalecimentos físicos durante a meditação, escreve:
Pode-se perguntar em que esse estado difere do arrebatamento: as aparências são as
mesmas; a realidade, porém, é totalmente outra.
O arrebatamento, do modo que digo, dura pouco e seus benefícios são imensos,
deixando a alma banhada de luz interior; o entendimento não atua em nada, mas é o
senhor que atua sobre a vontade. Muito diferente no outro caso; o corpo fica prisioneiro,
mas a vontade, o entendimento, a memória permanecem livres. Essas faculdades agem
como que desnorteadas; se, por acaso, estiverem ocupadas por uma idéia, aderem-lhe
com todas suas forças. Penso que a alma nada tem para ganhar com esses
desfalecimentos do corpo ....Aconselho, pois, às prioresas, que condenem esses longos
desmaios a meu ver, não é outra coisa...
Os ³frutos´são um critério decisivo ?
No caso presente, o que pensar do adágio: ³julga-se uma árvore por seus frutos´?
Se os testemunhos atestam frutos excelentes e múltiplos, é o que basta para decidir a
questäo e garantir a interpretação espiritual.
Vimos, no capitulo 2, que, muitas pessoas que passaram por essa experiência dizem ter
tido, na ocasião, sensações surpreendentes de paz interior, de alegria, de abandono em
Deus, de cura espiritual ou física; dizem ainda que sentiram um contato extraordinário
com o sobrenatural.
Não deveremos concluir, pois, aplicando o príncipio de que se julga a àrvore pelos
frutos, que os efeitos benéficos citados provam por si mesmos, que se trata de fato de
uma ação extraordinária do Espírito.
Sem dúvida, julga-se a árvore pelos frutos, mas não nos devemos enganar, nem quando
à identidade da árvore, nem quanto à avaliação dos frutos, e nem quanto ao vínculo que
os liga.
Não faltam exmplos de excelentes frutos provindos de uma causa pelo menos duvidosa
ou inclusive totalmente errônea. Penso no despertar religioso passageiro surgido num
lugar do mundo depois de alguma aparição que, mais tarde, revelar-se-ia inautêntica.
Penso num Vincent Ferrier que anunciava o fim do mundo no século XIV, com frutos
maravilhosos de conversões entre seus ouvintes.
No caso, para apreciar os frutos desse fenômeno, é preciso também observar
cuidadosamente todos eles.
Há frutos que podem ser bons e positivos em determinado plano, mas prejudiciais por
outro lado; por exemplo, através da repercussão sobre o grupo ou a coletividade,
podendo acentuar neles a tendência à emotividade, à super valorização do extraordinário
etc..
Todas essas reflexões, que nada têm de exaustivo, visam somente a alertar contra todo
simplismo na aplicação ao campo moral.
Sobretudo quando o fenômeno ocorre no contexto de uma assembléia ad hot, o espírito
crítico deve estar particularmente atento.
Se quisermos considerar, como ³frutos´, certos efeitos psicológicos de contentamento e
de paz interior, obtidos nesses momentos, observaremos que diversas condutas de
ordem humana podem obter resultado semelhante e suscitar comportamentos melhores
nos que as experimentam.
Mudanças do mesmo gênero, para melhor, podem ser o efeito próprio deste ou daquele
tratamento psicológico. Assim, não se pode atribuí-las necessariamente a um toque
particular do Espírito.
O fenômeno é natural ou sinal da ação do Espírito Santo?
Prosseguindo o estudo do fenômeno em si, falta considerar a questão final, para além
dos perigos apontados, que nada têm de hipotético: estaremos diante de um fenômeno
de ordem natural ou de uma intervenção especial do Espírito, que transcende as forças
da natureza?
Assim, abordamos as relações, sempre delicadas de se tratar, entre natureza e graça.
De um lado, é sutil a definição da ação da graça que opera diretamente, de tal modo ela
se adapta às formas dos fatores humanos, sem no entanto justapor-se a ele como um
caminho paralelo.
Por outro lado, a definição do termo ³natureza´ também é delicada. O Dictionnaire
philosophique de Lalande dá-lhe dezoito significações diferentes. E essa definição é
necessariamente estática e não pode dizer onde pára o campo das forças naturais, ainda
desconhecidas, cujo domínio será possível, amanhã, através de novas descobertas
científicas que têm progressivamente aumentando os poderes do homem.
Lembremos a palavra de Santos Agostinho: ³Os mistérios do Invisível não estão em
contradição com a natureza; estão em contradição apenas com o que sabemos dela´.
Exortação à Reserva
Não podemos fechar os olhos a esse fenômeno e ignorar que ele teve real crescimento
através da Renovação Carismática na Igreja, e que coloca muitos pontos de
interrogação.
É necessário que tomemos posição no tocante à pastoral, e que as autoridades
responsáveis dêem diretrizes.
Enquanto se procedia à pesquisa cuja síntese fiz no capítulo 2, entrevistei certo número
de teólogo e psicólogos de diversos países.
Houve, em geral, convergência, convidando a uma atitude de reserva.
Em primeiro lugar, vejamos a resposta vinda de uma comissão de estudos teológicos e
pastorais, interrogada a esse respeito pelo Serviço Nacional da Renovação Carismática
para a Igreja da Irlanda.
Destaco suas principais passagens:
Quanto à pastoral, sugerimos:
Que evite o termo ³queda no Espírito´ pois isso leva as pessoas a creditar que o
fenômeno vem, segura ou provavelmente, de Deus. É melhor adotar a palavra neutra
³queda´ - proposta pelo John Richards -, que fica no plano descritivo e que convida a
julgar mais objetivamente e a discernir sem prejulgar a causa da queda.
Nós sempre dissuadimos as pessoas de criar circunstâncias em que o fenômeno pudesse
se produzir.
Não convidamos ministros cuja oração e ensinamento estejam associados a esse
fenômeno.
Falando de ³queda no Espírito´ adotamos sempre uma atitude negativa, deixando aberta
ao mesmo tempo a possibilidade de que, em algumas ocasiões, muito raras, seja uma
graça de Deus.
De modo nenhum incitamos as pessoas a buscar essa queda como uma graça de Deus,
porque isso as expõem à quedas provocadas por elas mesmas...

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