Quem Eram Os Leitores Cariocas Do Século XIX
Quem Eram Os Leitores Cariocas Do Século XIX
Quem Eram Os Leitores Cariocas Do Século XIX
p. 40 - 50
Resumo
O desenvolvimento do Rio de Janeiro, no século XIX, foi um fator catalisador de refinamento da popu-
lação, produzindo um aumento significativo na prática de leitura. Com isso, analisa-se, neste trabalho, o
surgimento do público leitor como resultado dessas manifestações, perceptível através da multiplicação
dos espaços de leitura na cidade e do conhecimento específico sobre retórica e literatura, ofertado na
educação formal. Assim, há leitores especializados, com formação suficiente para a compreensão dos
textos literários publicados principalmente nos jornais, suporte que democratizou a leitura no Oitocentos
brasileiro.
Palavras-chave: Rio de Janeiro. Leitura. Jornal.
Abstract
The development of Rio de Janeiro, in the 19th century, was a refinement of the catalyst factor popula-
tion, producing a significant increase in reading practice. With that, analyse, in this work, the emergence
of the readership as a result of these demonstrations, noticeable through the multiplication of the read-
ing spaces in town and specific knowledge about rhetoric and literature, offered in formal education.
Thus, there are specialized readers, with enough training for the understanding of literary texts published
mainly in newspapers, support that democratized the reading in Eight Brazilian.
Keywords: Rio de Janeiro. Reading. Newspaper.
2 No romance Casa de Pensão (publicado em 1884), de Aluísio Azevedo, o narrador, ao situar a importância da cidade
do Rio de Janeiro para o personagem Amâncio, assim declara: “A Corte era “um Paris” diziam na província e ele, por
conseguinte, havia de lá encontrar boas aventuras, cenas imprevistas, impressões novas e amores – oh amores principalmente!”
(AZEVEDO, 1991, p. 38)
3 Márcia Abreu tem coordenado pesquisas importantes sobre a circulação no Rio de Janeiro colonial. Em análise a pedidos de
autorização e às listas de livros enviados (antes da chegada da família real: 1769-1807) aparecem 201 requisições solicitando
autorização para envio, com um total de 1.333 demandas de obras literárias que, ao serem agrupadas por títulos, representam
518 títulos de ficção enviados para a província. A pesquisadora também analisou os itens existentes em vários inventários
post-mortem, de alguns moradores, do século XIX, e percebeu que entre as listas dos objetos de valor há a existência de livros
4 Valéria Augusti em sua comunicação Literatura prescritiva, público leitor e práticas de leitura em bibliotecas do Rio de Janeiro do
século XIX, investiga as regras de funcionamento das bibliotecas e percebe uma maior rigidez nessas instituições: “leitura
vigiada, marcada pelo regramento: estabelece dias, horários; impõe uma maneira de ler silenciosa; restringe o acesso; registra a
identidade daquele que lê; protege o livro e pune sua violação e estipula prazo para a posse do livro.”
5 Também Valeria Augusti, no capítulo O Romance nas Formas Editorias Escolares, de sua tese de doutorado Trajetórias de
Consagração: discursos da crítica sobre o romance no Brasil oitocentista (2006) analisa a penetração que a discussão sobre o romance foi
gradativamente fazendo parte dos manuais de retórica do Colégio Pedro II.
6 Mary Del Priore no livro Histórias das mulheres no Brasil (1997) tece um painel da situação em que a mulher brasileira
do século XIX vivia. Importante também o livro Palácio de destinos cruzados: bibliotecas, homens e livros (1999) de Tania
Maria Bessone, que problematiza o desenvolvimento da leitura no Brasil, citando as dificuldades da mulher tanto como leitora
quanto como escritora.
7 Essas mudanças significativas ocorreram em todo o território brasileiro. Algumas delas, por decisão da corte, como a
própria estruturação da colônia: o Colégio de Medicina, que se funda em Salvador, é um bom exemplo. Outras, advindas das
influências estrangeiras, graças à abertura dos portos.
8 Germana Sales no capítulo “Duas palavras entre dois amores: o autor e o leitor”, de sua tese intitulada Palavra e sedução:
uma leitura dos prefácios oitocentistas (1826-1881) apresenta a leitura de vários prefácios de Alencar e Macedo direcionados
às leituras femininas.
______________ “O Jornal e o Livro”. In:__ MORAIS, Maria Arisnete Câmara de. Leituras
Obra completa. 5ed. Rio de Janeiro, Nova Femininas no Século XIX (1850-1900). (Tese
Aguilar, 1985, v. 3. de Doutorado) Campinas: UNICAMP, 1996.
AUGUSTI, Valéria. Trajetórias de consagração: MEYER, Marlyse. Folhetins: uma história. São
discursos da crítica sobre o Romance no Brasil Paulo: Companhia das Letras, 1996.
oitocentista (Tese de Doutorado) Campinas:
UNICAMP, 2006. NADAF, Yasmim Jamil. Rodapé das
miscelâneas: o folhetim nos jornais de Mato
_______________Literatura prescritiva, Grosso (séculos XIX e XX) Rio de Janeiro:
público leitor e práticas de leitura em 7Letras, 2002.
bibliotecas do Rio de Janeiro do século XIX.
Campinas: UNICAMP s\a (comunicação oral). SALES, Germana Maria Araújo. Palavra e
sedução: uma leitura dos prefácios oitocentistas
AZEVEDO, Aluísio. Casa de Pensão. São Paulo: (1826-1881) Tese de Doutorado,Campinas:
Ática, 1991. UNICAMP, 2003.
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Artigo enviado em: 20/05/2015
Aceite em: 20/12/2015