A Semana Ilustrada - História de Uma Inovação
A Semana Ilustrada - História de Uma Inovação
A Semana Ilustrada - História de Uma Inovação
Cadernos da Comunicação
Série Memória
A Semana Ilustrada
História de uma
inovação editorial
Preto
2 Cadernos da Comunicação
Inclui bibliografia.
ISSN
CDD: 070.1750981
Preto
Série Memória 3
Prefeito
Cesar Maia
CADERNOS DA COMUNICAÇÃO
Série Memória
Comissão Editorial
Ágata Messina
Milton Coelho da Graça
Regina Stela Braga
Edição
Regina Stela Braga
Redação e pesquisa
Álvaro Mendes
Wilson Moreira
Revisão
Alexandre José de Paula Santos
Capa
José Carlos Amaral/SEPROP
Marco Augusto Macedo
Preto
4 Cadernos da Comunicação
CADERNOS DA COMUNICAÇÃO
Edições anteriores
Série Memória
1 – Correio da Manhã – Compromisso com a verdade
2 – Rio de Janeiro: As Primeiras Reportagens – Relatos do século XVI
3 – O Cruzeiro – A maior e melhor revista da América Latina
4 – Mulheres em Revista – O jornalismo feminino no Brasil
5 – Brasília: Capital da Controvérsia
6 – O Rádio Educativo no Brasil
7 – Ultima Hora – Uma revolução na imprensa brasileira
8 – Verão de 1930-31 – Tempo quente nos jornais do Rio
9 – Diário Carioca – O máximo de jornal no mínimo de espaço
10 – Getulio Vargas e a Imprensa
11 – TV Tupi, a Pioneira na América do Sul
12 – A Mudança do Perfil do Rádio no Brasil
13 – Imprensa Alternativa – Apogeu, queda e novos caminhos
14 – Um Jornalismo sob o Signo da Política
15 – Diario de Noticias – A luta por um país soberano
16 – 1904: Revolta da Vacina – A maior batalha do Rio
17 – Jogos Pan-Americanos – Uma olimpíada continental
18 – O Jornal – Órgão líder dos Diários Associados
Série Estudos
1 – Para um Manual de Redação do Jornalismo On-Line
2 – Reportagem Policial – Realidade e ficção
3 – Fotojornalismo Digital no Brasil
4 – Jornalismo, Justiça e Verdade
5 – Um Olhar Bem-Humorado sobre o Rio nos Anos 20
6 – Manual de Radiojornalismo
7 – New Journalism – A reportagem como criação literária
8 – A Cultura como Notícia no Jornalismo Brasileiro
9 – A Imagem da Notícia – O jornalismo no cinema
10 – A Indústria dos Quadrinhos
11 – Jornalismo Esportivo – Os craques da emoção
12 – Manual de Jornalismo Empresarial
13 – Ciência para Todos – A academia vai até o público
14 – Breve História da Imprensa Sindical no Brasil
15 – Jornalismo Ontem e Hoje
16 – A Cobertura de Moda na Mídia Impressa Carioca
17 – Folkcomunicação – A mídia dos excluídos
18 – A Blague do Blog
Preto
Série Memória 5
CESAR MAIA
Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro
Preto
6 Cadernos da Comunicação
Preto
Série Memória 7
Sumário
Gravura e imprensa ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 21
Guerra do Paraguai ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 24
A Questão Christie ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 31
A Questão Religiosa ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 37
Críticas ao Parlamento ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 39
Bibliografia ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 51
Preto
8 Cadernos da Comunicação
Frontispício (capa) do primeiro número da Semana Ilustrada, publicado sem data, mas
provavelmente em 16 de dezembro de 1860.
Preto
Série Memória 9
Cara e coragem de
um inovador
Mesmo tendo apenas oito páginas – quatro de texto e quatro de
ilustrações –, a Semana Ilustrada, de Henrique Fleiuss, realizou uma
pequena mas importante revolução de caráter inovador na impren-
sa brasileira da segunda metade do século 19. De dezembro de 1860
até abril de 1876, a Semana estabeleceu novos parâmetros gráficos,
jogou a qualidade editorial da época para cima e, de cara bem defi-
nida, entrou para a história da comunicação social de nosso país.
Machado de Assis, Quintino Bocaiúva, Joaquim Nabuco são
nomes respeitáveis da cultura nacional que foram destaques nas
páginas da Semana, além, é claro, das verdadeiras obras de arte que
eram as ilustrações desenhadas por Fleiuss, formuladas sempre por
irreverências e espírito satírico da melhor qualidade. Mistura tão
bem elaborada de conteúdo e forma fizeram da Semana Ilustrada o
periódico mais popular do país em seu tempo.
Como não há bem que sempre dure, Fleiuss acabou por se depa-
rar com o mal: contrito e premido por dificuldades financeiras, as-
sistiu ao desaparecimento da sua Semana em abril de 1876 e, ainda
por cima, deve ter tido a coragem de suportar inesperado epitáfio
tão mordaz e cáustico:
Preto
10 Cadernos da Comunicação
pôde dar vida; mas agora que elas já não existem, ao gover-
no cabe enterrar os mortos e tratar dos vivos.
Preto
Série Memória 11
Preto
12 Cadernos da Comunicação
(Em uma repartição) O espírito satírico foi a marca indelével da Semana : irreverência
e fino humor como instrumentos para crítica da realidade social da época.
Preto
Série Memória 13
Preto
14 Cadernos da Comunicação
Preto
Série Memória 15
Preto
16 Cadernos da Comunicação
Pioneira (também)
do marketing
Uma intensa e moderna campanha de marketing precedeu o
lançamento da revista pioneira de caricaturas e variedades para
despertar a curiosidade do público que viria a ser leitor de seu
periódico. Henrique Fleiuss, também nesse ramo, foi pioneiro.
Produziu o primeiro cartaz-anúncio ilustrado de que se tem no-
tícia, no Rio. Inventivou, e seguindo um modelo já adotado na
Europa, imprimiu a capa, em tamanho maior, do número de es-
tréia da Semana Ilustrada. Mandou afixá-la, como cartaz de pu-
blicidade, em pontos estratégicos, como nas paredes de um quar-
teirão denominado na época Boulevard Cerceler, situado entre
o Beco dos Barbeiros e a Rua do Ouvidor, onde ficavam a Con-
feitaria Francioni (ali foram servidos os primeiros sorvetes do
Rio de Janeiro), o Cercle du Commerce e o restaurante O Glo-
bo, onde brilhavam espelhos e mármores. O Boulevard Cerceler
era o ponto chic (o point), o espaço elegante das confeitarias e
boticas, onde também estacionavam os tílburis, precursores dos
táxis. E era ali que ficava o ponto inicial de “uma das linhas de
bondes a burros da Carris Urbanos”. 4
A sede da Semana Ilustrada era vizinha do, na época, famoso res-
taurante Muller e Petzold, quase na esquina com Rua da Alfânde-
ga, conhecido pela excelente culinária alemã e “pelo chope
Columbacher, importado da Alemanha, e conhecido então como
cerveja de tonel”.5 Fleiuss tinha escolhido bem o lugar, estratégico
para instalar a sua revista.
Não é de se admirar portanto que, dada a novidade, a quali-
dade gráfica, a publicidade e a ausência de concorrentes à sua
altura, a Semana Ilustrada se tenha transformado num sucesso de
vendas desde o lançamento.
Preto
Série Memória 17
PUBLICAÇÃO
Sairá à luz em um dos dias da próxima semana, um grande
quadro litografado, representando – O desastre que teve lu-
gar na fortaleza de S. João, no dia 7 do corrente, e do qual
escapou milagrosamente S.M. o Imperador e sua comitiva.
O quadro representa o momento em que rebentou a peça, e
traz os retratos de todas as pessoas que se achavam presen-
tes nessa ocasião, bem como uma fiel cópia do lugar, desenha-
do do natural, na fortaleza.
O preço de cada estampa, impressa em duas tintas, é de
5$000, e para os assinantes da Semana Ilustrada é de
3$000. 6
Preto
18 Cadernos da Comunicação
Preto
Série Memória 19
A SEMANA ILUSTRADA
“Ridendo Castigat Mores”
Preto
20 Cadernos da Comunicação
Preto
Série Memória 21
Gravura e imprensa
A gravura teve sua divulgação multiplicada pela imprensa, que a
solicitava. O texto cinzento das folhas começou e receber a anima-
ção de bonecos, ou apenas desenhados ou como caricatura. No
Rio, começaram a aparecer, desde 1831, em pasquins despretensio-
sos, lançados pela litografia Briggs. Os desenhistas, caricaturistas
ou fundadores de jornais e revistas chamaram-se Henrique Fleiuss,
Rafael Lusson, Aurélio de Figueiredo, Pinheiro Guimarães, Belmiro,
Pedro Américo, Angelo Agostini, posteriormente Calixto, J. Carlos,
Belmonte, Raúl, Cordeiro, Rafael Bordalo Pinheiro. Foi com eles
que nasceu e se desenvolveu a caricatura brasileira. Os periódicos
que surgiam chamavam-se por nomes bem curiosos: Lanterna Mági-
ca (1844), Diabo Coxo (1864), Semana Ilustrada (1860), O Gabrião
(1866), Vida Fluminense (1868), O Mosquito (1869).
Ao fundar a Semana Ilustrada, o desejo de Henrique Fleiuss era
criar um periódico de padrão elevado, que nada ficasse a dever às
melhores revistas da Europa, quer na qualidade técnica das ilustra-
ções, quer no que dissesse respeito à perfeita adequação imagem/
texto. Mas em pouco tempo ele se defrontou com uma dificuldade
séria: a falta de mão-de-obra especializada.
Foi para resolver esse problema que a firma Fleiuss, Irmão &
Linde, fundadora do Instituto Artístico em abril de 1861 (a partir
de 1863, graças ao título honorífico concedido por Dom Pedro II,
denominado Imperial Instituto Artístico), especializado em tipo-
grafia, litografia, aquarela, pintura a óleo e fotografia, decidiu abrir
uma escola de xilografia (gravura em madeira). O interesse básico
de Fleiuss era a criação de uma equipe de especialistas em
xilogravura, necessários para dar continuidade à qualidade gráfica
da Semana Ilustrada. A escola fundada em 1863 (a primeira de gra-
vura em madeira no Brasil) tinha um currículo de três anos e logo
Preto
22 Cadernos da Comunicação
Preto
Série Memória 23
Preto
24 Cadernos da Comunicação
Guerra do Paraguai
Um dos pontos altos da Semana Ilustrada foi sua cobertura da
Guerra do Paraguai (1865-1870), que opôs a este país as nações
ligadas pelo chamado Tratado da Tríplice Aliança (assinado em 1o/
5/1865): Argentina, Brasil e Uruguai. A rigor, a guerra começou
em dezembro de 1864, antes da assinatura do tratado.
O conflito, um dos mais trágicos e sangrentos de que o Brasil até
hoje participou, eclodiu devido a um conjunto de problemas relativos
a jogos de alianças já tradicionais naquela região, e que diziam respeito
à política externa paraguaia, dirigida por Solano López, e considerada
expansionista pelos adversários. Um dos motivos próximos da guerra,
para o Brasil, foi “a necessidade de livre acesso ao território brasileiro
pelo Rio Paraguai, vedado aos nossos barcos por López”.12
No que se refere à enorme mortandade de pessoas, causa-
da pela violência bélica e pelas doenças, foi uma das guerras
mais devastadoras do século XIX: o Paraguai perdeu mais de
metade da população, e até hoje não se refez totalmente
desse desastre. O Brasil perdeu um número de pessoas que
uns autores calculam em torno de 50 mil, outros, de até 100
mil. As batalhas desenrolaram-se principalmente nas lagoas
e nos charcos paraguaios.
A guerra, enfim, terminou com a vitória dos três países
aliados. As conseqüências econômicas, financeiras e políti-
cas exerceram igualmente pesados impactos estruturais so-
bre os vencedores. Do ponto de vista de como a informação foi
veiculada (ou apenas fixada), foi a primeira guerra com a parti-
cipação do Brasil a envolver o uso da fotografia (embora uma
fotografia de características especiais, como se verá adiante).
A Semana Ilustrada exerceu, neste sentido, papel decisivo. Assim
que teve início o conflito, publicou charges instigando ao alista-
Preto
Série Memória 25
Preto
26 Cadernos da Comunicação
(Episódios da guerra contra o Paraguay) Sua Majestade, o imperador Dom Pedro II não
estava, evidentemente, nas frentes da guerra do Paraguai. Contudo, esta ilustração
magistralmente desenhada monta uma cena bem próxima da realidade.
Preto
Série Memória 27
to. Uma dessas charges mostra uma conversa de dois homens num
café: “Que fim levou o Juca?” – pergunta um; ao que o outro res-
ponde: “O Pimentel prendeu-o para voluntário”. [19/2/1865]
Nessa época, as notícias entre o teatro da guerra e a Corte
vinham (e iam) nos navios da carreira Rio da Prata–Rio de Ja-
neiro. As notícias que chegavam (as “últimas notícias”) eram
esperadas com ansiedade. Foi, então, a Guerra do Paraguai que
tornou possível para Henrique Fleiuss a primeira cobertura
jornalística regular, com caricaturas, desenhos, comentários,
enviados por um corpo de “correspondentes de guerra”, alguns
deles, combatentes. Foi a primeira vez, informam os historiado-
res, que um editor de revista, no Rio, decidiu constituir uma
equipe de fotógrafos para colherem imagens de uma guerra, em
vista de sua publicação.
Com efeito, em 2 de abril de 1865, a Semana Ilustrada anunciava:
Preto
28 Cadernos da Comunicação
Preto
Série Memória 29
Preto
30 Cadernos da Comunicação
Preto
Série Memória 31
A Questão Christie
Outro incidente da política externa brasileira, incomparavelmente
menos importante do que a Guerra do Paraguai, mas que teve peso
diplomático, foi a chamada Questão Christie, um sério acontecimen-
to que levou Dom Pedro II a declarar o rompimento das relações
diplomáticas do Brasil com a Inglaterra. Também neste caso a Se-
mana Ilustrada adotou uma posição em que ficou bem marcado o
patriotismo do editor Fleiuss.
Em 1858, havia sido criada uma comissão mista para tratar das
questões pendentes entre os governos do Brasil e da Grã-Bretanha,
tendo esta última apresentado uma lista de reclamações que somavam
a enorme quantia de 300 mil libras esterlinas. Grande parte dos itens
referia-se a perdas totais ou parciais de navios e cargas ocorridas desde
1856. O Brasil, por sua vez, apresentava reclamações relativas à apre-
ensão de cargas e navios brasileiros pela Royal Navy.
No dia 2 de abril de 1861, o navio mercante inglês Prince of
Wales partiu de Glasgow, Escócia, com destino a Buenos Aires, le-
vando uma carga de carvão, louças, fazendas e barricas de azeite e
vinho. No início de junho, o navio naufragou na costa do Albardão,
província do Rio Grande do Sul.
A notícia do naufrágio se espalhou por toda essa região do Bra-
sil. Alguns tripulantes deixaram o navio para avisar à Capitania dos
Portos sobre o ocorrido. Ao regressarem, encontraram o navio pi-
lhado e, na praia, os corpos de 12 dos seus companheiros.
Uma reclamação formal foi feita pelo embaixador inglês, o mi-
nistro plenipotenciário William Dougal Christie, que a encaminhou
ao imperador Dom Pedro II. Anexa, uma exigência: que o Brasil
pedisse desculpas pelo incidente, pagasse uma indenização corres-
pondente ao valor da carga desaparecida e permitisse a presença de
um oficial inglês para acompanhar as investigações.
Preto
32 Cadernos da Comunicação
Preto
Série Memória 33
Preto
34 Cadernos da Comunicação
Preto
Série Memória 35
Preto
36 Cadernos da Comunicação
Preto
Série Memória 37
A Questão Religiosa
No cabeçalho do primeiro número da Semana Ilustrada (16 de
dezembro de 1860) aparece um padre, ou um homem vestido de
padre, sentado na companhia de uma mulher entre outras
figurinhas dançantes, sob o foco da Lanterna Mágica, manobra-
das por Mefistófeles.
A presença irreverente de um sacerdote é mais do que bastante
para mostrar a atitude hostil de Henrique Fleiuss relativa à Igreja
católica. Não era atitude isolada do jornalista, pois o combate à
Igreja católica foi comum aos três semanários litografados da Corte
(Semana Ilustrada, Vida Fluminense e O Mosquito). Muito embora sua
linha política fosse diferente, eles concordavam no que dizia res-
peito aos problemas implicados na chamada Questão Religiosa, um
conflito aberto entre a Igreja católica e a maçonaria, que eclodiu no
Brasil na década de 1870.
Tudo começou com um sermão pregado no Rio de Janeiro, dia 3
de março de 1872, pelo padre Almeida Martins, em que o sacerdote
saudava em linguagem de maçom a Lei do Ventre Livre, proposta
pelo presidente do Conselho de Ministros, então o visconde do Rio
Branco. Esse padre-maçom foi logo suspenso pelo bispo do Rio,
Dom Pedro Maria de Lacerda. Em maio do mesmo ano, o bispo de
Olinda, Dom Vital de Oliveira, admoestou dois sacerdotes de sua
diocese por serem maçons e depois os afastou, porque desobedece-
ram ao bispo. Também impediu que outro sacerdote, monsenhor
Pinto Campos, celebrasse o casamento de um católico pertencente
à maçonaria. Por fim, o bispo do Pará, Dom Antônio de Macedo
Costa, suspendeu padres maçons de sua diocese.
Na interpretação dos historiadores, a Questão Religiosa se de-
sencadeou porque a união do Trono e do Altar, estipulada na Cons-
tituição de 1824, dava origem a conflitos entre correntes ideológi-
Preto
38 Cadernos da Comunicação
Preto
Série Memória 39
Críticas ao Parlamento
Não foi apenas nas questões ligadas à política externa (Guerra
do Paraguai, Questão Christie) que a Semana Ilustrada se fez presen-
te. A ausência de crítica à família real não foi seguida no que diz
respeito ao Parlamento, alvo há muito escolhido para os ataques
da imprensa.
Uma das mais antigas caricaturas com que a imprensa, já no
século XIX, retratava os políticos e parlamentares era a que os trans-
formava em papagaios, aves vorazes e barulhentas, principalmente
nas datas de abertura das sessões do Congresso Nacional. Nesses
Preto
40 Cadernos da Comunicação
Moleque – Olhe, Nhonhô, como estes vêm caindo! Por que uns
caem e outros estão perto do Sol?
Dr. Semana – É porque uma das asas destes é falsa, não
presta. Chegaram ao Sol da apuração e o Sol os derreteu.
Moleque – E o que se há de fazer desta cera que se derrete?
Dr. Semana – Velas para alumiar defuntos.
Preto
Série Memória 41
Preto
42 Cadernos da Comunicação
Preto
Série Memória 43
Reações cotidianas
à fotografia
Quase desde o começo, a Semana Ilustrada versa o assunto foto-
grafia, que a interessava diretamente, por muitos motivos. Entre
outros, pelo seu aspecto tecnológico (ela estava marcando o início
de uma nova era para a imprensa), e pelo impacto que essa nova
técnica de fixação e reprodução da figura estava causando, dia-a-
dia, no comportamento cotidiano das pessoas.
Com efeito, a fotografia não teve uma recepção fácil. Muitos dos
que se deixavam fotografar tinham dificuldade de reconhecer como
“seu” o rosto que a “escrita da luz” [com efeito, a palavra fotografia
significa escrita (grafia) da luz (foto)] tinha registrado. É freqüente a asso-
ciação do rosto de um fotografado com a cara dos animais (do macaco,
por exemplo, ou do galo, do porco ou do coelho). A Semana Ilustrada
registra, com humor, muitas dessas reações do universo da fotogenia.
Uma charge de 7 de abril de 1861 mostra dois cavalheiros, cor-
retamente vestidos, trocando idéias diante de uma máquina foto-
gráfica. Um deles, de chapéu e casaca, segura um charuto nos de-
dos da mão direita e, com a esquerda, mostra um ambrotypo18 com
uma foto dele mesmo, e pondera: “O diabo leve os ambrotypos...
isto é mais uma cara de macaco do que o meu retrato”.
Outra situação da mesma natureza vem apresentada na edição
de 1o de março de 1863: diante do fotógrafo com sua máquina foto-
gráfica estão duas mulheres, mãe e filha. No momento de “tirar o
retrato”, a mãe comenta: “Quem se quer fotografar deve meter a
viola no saco, para não sair com cara de mono”.
Há muitas outras referências ao tema fotografia na Semana Ilustra-
da, referências que se estendem por anos e anos, o que mostra a
demora com que o processo foi sendo absorvido pela população.
Em dois outros números da Semana há nova referência à fo-
Preto
44 Cadernos da Comunicação
Preto
Série Memória 45
Preto
46 Cadernos da Comunicação
Preto
Série Memória 47
Preto
48 Cadernos da Comunicação
Periódicos publicados
nos anos de 1860
- O Aliciente; - O Album,
- Brado Americano; - O Clamor Público,
- Chronica do Foro (1860-1865); - O Conservador,
- O Clamor da Verdade; - O Esforço Juvenil,
- Corriere; - Gazeta dos Hospitaes,
- L´Echo du Brésil; - O Jaguari,
- Gazeta Musical do Brasil (1860-1862); - O Melhoramento,
- O Militar (1860-1863); - O Regenerador ,
- Monitor Italiano; - Revista Homeophatica,
- O Noticiador Curioso; - Revista Luso-Brasileira,
- Revista Semanal; - Sentinela do Povo,
- Revista Theatral (1860-61); - O Barco dos Traficantes
- O Entre-Acto, - O Ramalhete (estes dois,
- Ilustrado; - ilustrados), todos de 1861
- O Acajá, - a 1862.
Preto
Série Memória 49
Preto
50 Cadernos da Comunicação
Preto
Série Memória 51
Preto
52 Cadernos da Comunicação
Bibliografia
ANDRADE, Joaquim Marçal Ferreira de. História da
fotorreportagem no Brasil. A fotografia na imprensa do Rio de Janeiro
de 1839 a 1900. Rio de Janeiro: Editora Campus/Edições Biblio-
teca Nacional. 2004.
FERREIRA, Orlando da Costa. Imagem e Letra: introdução à bibli-
ografia brasileira – a imagem gravada. São Paulo: Melhoramentos. Edit.
Da USP/Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia, 1977.
FLEIUSS, Max. “A imprensa no Brasil”, in Diccionário histórico,
geographico e ethnographico do Brasil. (Comemorativo do primeiro Cen-
tenário da Independência). Segundo volume: Estados, Rio de Janeio:
Edição Facsimilar Nedéln/Liechtenstein, 1872.
———— Páginas de História. 2 ed. Rio de Janeiro: Imprensa
Nacional, 1930.
———— Recordando (Casos e perfis). Rio de Janeiro: Imprensa
Nacional, 1941.
FREIRE, Laudelino. Um século de pintura: apontamentos para a his-
tória da pintura no Brasil – 1816-1916. Rio de Janeiro: Fontana, 1988.
GERSON, Brasil. História das ruas do Rio. 5ª ed. Rio de Janeiro:
Editora Nova Aguilar, 2000.
GUIMARÃES, Lúcia Maria Paschoal. Henrique Fleiuss: vida e
obra de um artista prussiano na Corte (1859-1882). Monografia/ UERJ,
Rio de Janeiro.
IPANEMA, Rogéria de A Idade da pedra ilustrada: litografia –
um monólito na gráfica e no humor do jornalismo do século XIX
no Rio de Janeiro. Dissertação de mestrado apresentada à Escola
de Belas Artes da UFRJ: Rio de Janeiro, 1995.
LAGO, Pedro Correa do. Caricaturistas brasileiros: 1836-2001.
Rio de Janeiro: Contracapa, 2001.
LEMOS, Renato (org.) Uma história do Brasil através da caricatu-
Preto
Série Memória 53
Preto
54 Cadernos da Comunicação
Preto