Apostila de Práticas Lúdicas 1
Apostila de Práticas Lúdicas 1
Apostila de Práticas Lúdicas 1
Co
le as outras figuras cortadas do saco de lixo nos palitos
conforme a figura acima.
Com a tesoura, faça dois cortes na parte debaixo da
garrafinha. Passe um dos palitos pelos buracos.
Em Veneza, no século XVIII, o uso de máscaras TEATRO DE FANTOCHES - O teatro de bonecos tem
tornou-se um hábito fazendo parte do vestuário sua origem na Antigüidade. Os homens começaram a
da época. modelar bonecos no barro e aos poucos foram
aprimorando esses bonecos, conseguindo mais
tarde a articulação da cabeça e membros para TEATRO DE VARAS - Este teatro é uma variação do
fazer representações mais expressivas. teatro de fantoches, isto é, é um fantoche sustentado
Na China, Índia e Java já existia o teatro de por uma vara. Os bonecos são mais simples, mais
bonecos. Na Grécia Antiga, os bonecos não só baratos e de confecção mais fácil. Podem ser
tinham uma importância cultural, mas religiosa confeccionados com cartolinas, bolinhas de isopor, de
também. A cultura grega do teatro de bonecos foi papel, colher-de-pau, palitos de churrasco, garfos
assimilada pelo Império Romano e se espalhou vestidos com roupas de pano, palitos de picolé,
por toda a Europa. copinhos de plástico sustentados por palitos.
Na Idade Média, os bonecos eram utilizados em O fantoche de cone é um tipo de boneco muito
feiras populares e nas doutrinas religiosas. encontrado em feiras livres e circos populares,
Na Itália, o boneco "maceus" antecessor do podendo representar uma figura humana ou um
polichinelo, era o boneco mais popular. animal, geralmente sobre a forma de um palhaço ou
Na América, os fantoches foram trazidos pelos pierrô. É uma variação do fantoche de vara, basta
colonizadores, apesar dos nativos já fazerem segurá-los pela vareta e dar-lhes o movimento de
bonecos articulados e que imitavam os acordo com a situação.
movimentos dos homens e dos animais.
Depois da Primeira Guerra, os bonecos PANTOMIMA - A pantomima pode ser considerada um
articulados por fios, varas e marionetes jogo teatral que é realizado por cenas de ação
começaram a ser utilizados nas escolas dramática que se caracterizam por explicitação da
americana e tcheca e no Brasil, as ação através do gesto.
representações com bonecos datam do século A pantomima caracteriza-se pela
XVI. No Nordeste, o teatro de bonecos apareceu de caricaturização dos personagens;
principalmente em Pernambuco, onde a tradição pela dramatização e pela expressão através da mímica
permanece até os dias de hoje. Somente em (sem uso de palavras). Tem como objetivos
meados do século XX é que o teatro de bonecos educativos a diversão, a socialização, o
se consolidou fortemente em nosso país. desenvolvimento da coordenação motora, da
Para a confecção dos fantoches são utilizados linguagem gestual e a apreensão do corpo como um
vários tipos de material inclusive sucata, que todo para o ato da expressão/representação.
pode ser um recurso muito bem aproveitado e
sem custos, pois pode ser trazido pelos próprios O VALOR PEDAGÓGICO DO TEATRO DE
alunos, o que tornaria a atividade de BONECOS
confeccioná-los ainda mais interessante.
Um outro recurso é utilizar as próprias mãos Os bonecos utilizados pelos alunos na escola sob a
como fantoches, não necessitando de um orientação do professor, têm um papel importantíssimo
material elaborado. Basta desenhá-lo na própria no processo de ensino-aprendizagem a partir da pré-
mão com caneta esferográfica, tintas especiais, escola. Desenvolvem vários aspectos da formação da
etc. O uso de várias cores tornará os bonecos criança, principalmente os relacionados à
mais alegres. Pode-se acrescentar acessórios às comunicação e a expressão sensório-motora.
figuras enfeitando as mãos e os dedinhos das O professor deve deixar a criança manipular os
crianças. Como exemplo, lã, chapéu, meias ou bonecos à vontade, a ponto de aos poucos, criar seu
penas. Outros tipos também são muito utilizados próprio personagem, sua fala e construir um diálogo
como mãos com luvas, fantoches de copinhos, aliado ao movimento e à palavra interagindo com as
de meias, de garrafas e até mesmo de galhos de outras crianças.
árvores. Essa criação livre e natural leva com o tempo ao
O professor deve incentivar os alunos a explorar desenvolvimento de diálogos mais elaborados
todos os movimentos dos dedos, mãos e braços, baseados por histórias lidas ou ouvidas e fixados em
criando uma atmosfera do conhecimento do textos prontos (roteiros) para este tipo de teatro.
próprio corpo. Para isso, a utilização de músicas Geralmente, as crianças pequenas começam a brincar
populares, folclóricas ou eruditas é fundamental sozinhas com seus bonecos e pouco a pouco, vão
para que o trabalho com o fantoche seja unindo-se com outras crianças criando os seus
desenvolvido, além do diálogo entre os próprios fantoches e iniciando a socialização, pois
participantes. percebem a necessidade de esperar a vez de sua fala,
para ouvir os outros, respeitar a opinião dos teatro de bonecos significa para a criança um jogo e
colegas e exprimirem um manifesto de suas para o professor, uma técnica didático-pedagógico no
opiniões usando de argumentos plausíveis. processo de ensino-aprendizagem.
As brincadeiras com fantoches permitem que a Devemos sempre lembrar que a lógica infantil é
criança desenvolva a expressão oral e artística, diferente da lógica do adulto, sendo o teatro de
pois os bonecos levam a criança sempre ao bonecos real para a criança, dentro da realidade do
mundo da imaginação e do faz-de-conta. jogo, lúdico e do jogo da vida no qual está inserido no
Já os alunos maiores (geralmente do ensino contexto civilizacional do seu grupo social.
fundamental), usam o fantoche para
expressarem seus pensamentos de uma forma FASES DO PLANEJAMENTO DAS PEÇAS
mais livre. Contam suas ações, seus desejos,
aventuras, reproduzem fatos e histórias lidas e O planejamento das peças é realizado pelos alunos e
ouvidas do seu dia-a-dia. pelo professor e passa por três fases:
O teatro de bonecos também estimula a criança Fase do planejamento - Nesta fase ocorre a escolha
a desenvolver a potencialidade da voz porque de do tema, escolha dos personagens, caracterização dos
acordo com o personagem representado, a personagens (o aluno deve descobrir sozinho como
criança interpreta sentimentos na fala impondo vestir os bonecos de acordo com o texto da peça) e a
qualidades de voz grossa, fina, amável, etc; imita escolha do local para apresentação.
sons de bichos, de elementos da natureza, Fase de execução - No ensaio, cada apresentador
abrindo momentos lúdicos e sensoriais. Elas decora a fala e os gestos do personagem que irá
começam a adequar a voz às diversas situações representar. Os ensaios devem ser realizados na
aliando o ritmo vocal ao gestual. presença de todos os alunos da classe junto com o
professor.
A criança ao ouvir aos mais diversos sons, Na representação é onde ocorre a apresentação da
provavelmente ouve com mais interesse o que os dramatização já pronta e ensaiada.
outros falam. Isso faz com que ela perceba a Fase de avaliação - A avaliação é considerada uma
musicalidade de uma canção e o seu ritmo, forma de incentivo à atuação da criança. Nesta fase,
sendo considerado um fator fundamental na os alunos revelam muito as características do seu
educação da audição (sensorial). Um outro fato é próprio eu, atitudes, comportamentos e habilidades. É
que os bonecos confeccionados pelos alunos, a oportunidade que o professor tem de conhecê-los
mesmo que o professor participe da confecção, melhor, analisá-los e auxiliá-los individualmente no
são mais adequados para o aprendizado do que processo de ensino-aprendizagem.
os comprados prontos, pois quando eles mesmos O professor deve avaliar no aluno as mudanças
criam os fantoches, passam a gostar mais deles comportamentais ocorridas durante todo o processo e
unindo neste momento, três aspectos da sua integração com o grupo, considerando o
educação baseados na metodologia triangular desempenho da criança no desenvolvimento da
vivenciadas pelos processos do refletir, do fruir e apresentação da atividade no decorrer das três fases.
do produzir, por meio das expressões oral,
plástica e emotiva.
O teatro de bonecos na formação do educando OFICINA DE ARTES VISUAIS
tem como objetivos: as percepções visuais,
auditivas e táteis; a percepção da seqüência de
fatos (noção espaço-temporal); coordenação de
ELEMENTOS BÁSICOS DA LINGUAGEM
movimentos; expressões gestuais, orais e VISUAL
plásticas; a criatividade; a imaginação; a
memorização; a socialização e o vocabulário. PONTO - É a unidade mais simples e irredutível da
Este tipo de teatro pode ainda revelar ao comunicação visual. Qualquer ponto tem uma força
professor, aspectos do desenvolvimento da visual grande de atração sobre o olho. Diversos pontos
criança que não são observados durante os conectados são capazes de dirigir a visão. Quanto
trabalhos escolares tradicionais. Com isso, o mais próximos entre si, maior a capacidade de guiar o
professor poderá direcionar atividades educativas olho. Em grande quantidade e justapostos, criam a
e recreativas de acordo com a capacidade da ilusão de tom ou cor.
criança e seu contexto sócio-cultural. Assim, o
LINHA - Pode ser definida como uma cadeia de distinguir o que está à nossa volta. Vemos o escuro
pontos tão próximos que não se pode distingui- porque está próximo ou se sobrepõe ao claro, e vice-
los. Nas artes visuais, a linha é o elemento visual versa. O tom é um dos melhores instrumentos de que
por excelência. A linha pode adotar formas muito se dispõe para indicar e expressar a
distintas para expressar intenções diferentes. tridimensionalidade dos objetos.
Pode ser indisciplinada, para aproveitar sua
espontaneidade expressiva, delicada, ondulada, COR - É a mais eficiente dimensão de discriminação.
vacilante, indecisa, nervosa, etc. A linha vertical É o elemento que tem mais afinidade com as
atrai o olhar para o alto; a horizontal provoca a emoções. Nas artes visuais, a cor não é apenas um
impressão de repouso; já a curva nos dá a elemento decorativo ou estético, é o fundamento da
sensação de movimento. As linhas retas expressão. Ela exerce uma ação tríplice sobre o
produzem uma sensação de tranqüilidade, de indivíduo que recebe a comunicação visual: ela
solidez, de serenidade; as curvas, de impressiona a retina quando é vista; provoca uma
instabilidade, emoção, é sentida; e é construtiva, pois, tem um
graciosidade, alegria; a fina produz impressão de significado próprio, tem valor de símbolo e capacidade
delicadeza; a grossa, de energia; a carregada, de de construir uma linguagem que comunique uma idéia.
resolução, violência; linha comprida dá sensação
de vivacidade; linha curta, de firmeza. EQUILÍBRIO -
Diz que uma imagem está equilibrada, ou seja, tem
DIREÇÃO - Os contornos básicos expressam equilíbrio gráfico, quando todos os elementos que a
três direções visuais significativas. O quadrado, compõe estão organizados de tal forma que nada é
as direções horizontal e vertical; o triângulo, a enfatizado, todos passando uma sensação de
diagonal; e o círculo, a curva. Cada uma dessas equilíbrio visual. Este equilíbrio pode ser dinâmico ou
direções é uma valiosa ferramenta para a estático, dependendo do movimento gráfico da
confecção de mensagens visuais. A referência imagem. Uma imagem está desequilibrada, quando
vertical-horizontal constitui a referência primária alguns elementos estão enfatizados de tal forma que
do homem. A diagonal, ao contrário, é a força estes parecem pesar apenas um lado da imagem. Isso
direcional mais instável e provocadora. As curvas não quer dizer assimetria, pois uma imagem
têm significados associados ao enquadramento, assimétrica também pode ser equilibrada.
à repetição e ao calor.
PRINCIPAIS MODALIDADES DAS ARTES
TEXTURA - A textura pode ser percebida tanto
pelo tato quanto pela visão. Mas é possível que VISUAIS
uma textura não tenha nenhuma qualidade tátil,
somente ótica. Já quando há uma textura real, PINTURA - Refere-se genericamente à técnica de
coexistem ambas as sensações. A maior parte da aplicar pigmento em forma líquida a uma superfície, a
nossa experiência com as texturas é visual, e a fim de colori-la, atribuindo-lhe matizes, tons e texturas.
maioria dessas texturas não estão realmente ali. Atualmente o conceito de pintura pode ser ampliado
para a representação visual através das cores.
TRIDIMENSIONALIDADE - A representação de Diferencia-se do desenho pelo uso dos pigmentos
terceira dimensão depende da ilusão. Porque em líquidos e do uso constante da cor, enquanto aquele
nenhuma representação bidimensional da apropria-se principalmente de materiais secos.
realidade, sejam desenhos, pinturas, fotografias,
emissões de televisão, existe um volume real, ele DESENHO - É um suporte artístico ligado à produção
está somente implícito. A ilusão se reforça de de obras bidimensionais, diferindo, porém, da pintura e
muitas maneiras, mas o artifício fundamental da gravura. Neste sentido, o desenho é encarado tanto
para simular a dimensão é a convenção técnica como processo quanto como resultado artístico. No
da perspectiva. primeiro caso, refere-se ao processo pelo qual uma
superfície é marcada aplicando-se sobre ela a pressão
TOM - A luz rodeia as coisas, reflete-se nas de uma ferramenta (lápis, caneta ou pincel) e
superfícies brilhantes, incide sobre objetos que já movendo-a, de forma a surgirem pontos, linhas e
possuem uma claridade ou obscuridade relativas. formas planas. O resultado deste processo é a
As variações de luz, ou seja, os tons, nos fazem imagem obtida, também chamada de desenho. Desta
forma, um desenho manifesta-se essencialmente ou um deus em forma antropomórfica; alto ou baixo-
como uma composição bidimensional formada relevo, o modo de ilustrar uma história em pedra ou
por linhas, pontos e formas. Um aspecto que metal e mobiliário, normalmente utilizado em jardins.
diferencia o desenho da pintura é que, ao
desenhar, um artista usa cores puras e não pode A EVOLUÇÃO DO DESENHO INFANTIL
misturá-las antes da aplicação, enquanto na
pintura, cores novas são geralmente criadas Os primeiros estudos sobre a produção gráfica das
através de misturas. crianças datam do final do século passado e estão
fundados nas concepções psicológicas e estéticas de
GRAVURA - Difere do desenho na medida em então. É a psicologia genética, inspirada pelo
que ela é produzida pensando-se na sua evolucionismo e pelo princípio do paralelismo da
impressão e reprodução. Seus meios mais filogênese com a ontogênese que impõe o estudo
comuns de confecção são a xilogravura (em que científico do desenvolvimento mental da criança. As
a matriz é feita de madeira); a litogravura (cuja concepções de arte que permearam os primeiros
matriz é composta de algum tipo de pedra) e a estudos estavam calcadas em uma produção estética
gravura propriamente dita (cuja matriz é idealista e naturalista de representação da realidade,
metálica). Gravura é a arte de converter uma sendo a habilidade técnica, portanto, um fator
superfície plana em uma matriz para a prioritário.
reprodução de imagens, por meios de Modo de expressão próprio da criança, o desenho
prensagem. Existem dois tipos comuns de constitui uma língua que possui vocabulário e sua
gravura, sendo um em encavo no qual o sulco vai sintaxe. Percebe-se que a criança faz uma relação
receber a tinta e aparece como positivo no próxima do desenho e a percepção pelo adulto. Ao
trabalho final.; e o outro em relevo, onde a prazer do gesto associa-se o prazer da inscrição, a
superfície não escavada é que recebe a tinta e o satisfação de deixar a sua marca. Os primeiros
sulco aparece em negativo (sem tinta). rabiscos são quase sempre efetuados sobre livros e
folhas aparentemente estimados pelo adulto,
ESCULTURA - É uma arte que representa possessão simbólica do universo adulto tão estimado
imagens plásticas em relevo total ou parcial. pela criança pequena.
Vários materiais se prestam a esta arte, uns mais Ao final do seu primeiro ano de vida, a criança já é
perenes como o bronze ou o mármore, outros capaz de manter ritmos regulares e produzir seus
mais fáceis de trabalhar, como a argila, a cera ou primeiros traços gráficos, fase conhecida como dos
a madeira. Embora possam ser utilizadas para rabiscos ou garatujas (termo utilizado por Viktor
representar qualquer coisa, ou até coisa Lowenfeld para nomear os rabiscos produzidos pela
nenhuma, tradicionalmente o objetivo maior foi criança).
sempre representar o corpo humano, ou a O desenvolvimento progressivo do desenho implica
divindade antropomórfica. É considerada a mudanças significativas que, no início, dizem respeito
terceira das artes clássicas. A escolha de um à passagem dos rabiscos iniciais da garatuja para
material normalmente implica na técnica a se construções cada vez mais ordenadas, fazendo surgir
utilizar. Existem várias técnicas de trabalhar os os primeiros símbolos Essa passagem é possível
materiais: a cinzelação, quando de um bloco de graças às interações da criança com o ato de
material se retira o que excede a figura utilizando desenhar e com desenhos de outras pessoas. Na
ferramentas de corte próprias para pedra ou garatuja, a criança tem como hipótese que o desenho
madeira; a modelagem, quando se agrega é simplesmente uma ação sobre uma superfície, e ela
material plástico até conseguir o efeito desejado, sente prazer ao constatar os efeitos visuais que essa
para cera ou argila; a fundição, quando se verte ação produziu. No decorrer do tempo, as garatujas,
metal quente em um molde feito com outros que refletiam, sobretudo o prolongamento de
materiais. Através do tempo, algumas formas movimentos rítmicos de ir e vir, transformam-se em
específicas de esculturas foram mais utilizadas formas definidas que apresentam maior ordenação, e
que outras: O busto, espécie de retrato do podem estar se referindo a objetos naturais, objetos
poderoso da época; a estátua eqüestre, imaginários ou mesmo a outros desenhos.
tipicamente mostrando um poderoso senhor em Na evolução da garatuja para o desenho de formas
seu cavalo; fontes de água, para decorar mais estruturadas, a criança desenvolve a intenção de
aquedutos; estátua, representando uma pessoa elaborar imagens no fazer artístico. Começando com
símbolos muito simples, ela passa a articulá-los Realismo fracassado - Geralmente entre 3 e 4 anos
no espaço bidimensional do papel, na areia, na tendo descoberto a identidade forma-objeto, a criança
parede ou em qualquer outra superfície. Passa procura reproduzir esta forma.
também a constatar a regularidade nos desenhos Realismo intelectual - Estendendo-se dos 4 aos 10-
presentes no meio ambiente e nos trabalhos aos 12 anos, caracteriza-se pelo fato que a criança
quais ela tem acesso, incorporando esse desenha do objeto não aquilo que vê, mas aquilo que
conhecimento em suas próprias produções. No sabe. Nesta fase ela mistura diversos pontos de vista
início, a criança trabalha sobre a hipótese de que (perspectivas).
o desenho serve para imprimir tudo o que ela Realismo visual - É geralmente por volta dos 12 anos,
sabe sobre o mundo. No decorrer da marcado pela descoberta da perspectiva e a submissa
simbolização, a criança incorpora às suas leis, daí um empobrecimento, um
progressivamente regularidades ou códigos de enxugamento progressivo do grafismo que tende a se
representação das imagens do entorno, juntar as produções adultas.
passando a considerar a hipótese de que o
desenho serve para imprimir o que se vê. ESTÁGIOS DO RABISCO
É assim que, por meio do desenho, a criança cria
e recria individualmente formas expressivas, Estágio vegetativo motor - Por volta dos 18 meses, o
integrando percepção, imaginação, reflexão e traçado e mais ou menos arredondado, conexo ou
sensibilidade, que podem então ser apropriadas alongado e o lápis não sai da folha formando
pelas leituras simbólicas de outras crianças e turbilhões.
adultos. Estágio representativo - Entre dois e 3 anos,
O desenho está também intimamente ligado com caracteriza-se pelo aparecimento de formas isoladas,
o desenvolvimento da escrita. Parte atraente do a criança passa do traço continuo para o traço
universo adulto, dotada de prestigio por ser descontinuo, pode haver comentário verbal do
"secreta", a escrita exerce uma verdadeira desenho.
fascinação sobre a criança, e isso bem antes de Estágio comunicativo - Começa entre 3 e 4 anos, se
ela própria poder traçar verdadeiros signos. Muito traduz por uma vontade de escrever e de comunicar-
cedo ela tenta imitar a escrita dos adultos. se com outros. Traçado em forma de dentes de serra,
Porém, mais tarde, quando ingressa na escola que procura reproduzir a escrita dos adultos.
verifica-se uma diminuição da produção gráfica,
já que a escrita (considerada mais importante) ANÁLISE PIAGETIANA SOBRE O DESENHO
passa a ser concorrente do desenho. INFANTIL
O desenho como possibilidade de brincar, o
desenho como possibilidade de falar e de
Garatuja - Faz parte da fase sensório motora (0 a
registrar marca o desenvolvimento da infância,
porém em cada estágio, o desenho assume um 2 anos) e parte da fase pré-operacional (2 a 7
caráter próprio. Estes estágios definem maneiras anos). A criança demonstra extremo prazer nesta
de desenhar que são bastante similares em fase. A figura humana é inexistente ou pode aparecer
todas as crianças, apesar das diferenças da maneira imaginária. A cor tem um papel secundário,
individuais de temperamento e sensibilidade. aparecendo o interesse pelo contraste, mas não há
Esta maneira de desenhar própria de cada idade intenção consciente.
varia, inclusive, muito pouco de cultura para Pode ser dividida em:
cultura. • Desordenada: movimentos amplos e desordenados.
Com relação a expressão, vemos a imitação "eu imito,
ESTÁGIOS DO DESENHO INFANTIL porém não represento". Ainda é um exercício.
• Ordenada: movimentos longitudinais e circulares;
coordenação viso-motora. A figura humana pode
Realismo fortuito - Começa por volta dos 2
aparecer de maneira imaginária, pois aqui existe a
anos e põe fim ao período chamado rabisco. A
exploração do traçado; interesse pelas formas
criança que começou por traçar signos sem
(Diagrama).
desejo de representação descobre por acaso
Aqui a expressão é o jogo simbólico: "eu represento
uma analogia com um objeto e passa a nomear
sozinho". O símbolo já existe. Identificada: mudança
seu desenho.
de movimentos; formas irreconhecíveis com
significado; atribui nomes, conta histórias. A da arte como atividade espontânea. Inicia a
figura humana pode aparecer de maneira investigação de sua própria personalidade. Aparece
imaginária, aparecem sóis, radiais e mandalas. A aqui dois tipos de tendências: visual (realismo,
expressão também é o jogo simbólico. objetividade); háptico (expressão subjetividade). No
espaço já apresenta a profundidade ou a preocupação
Pré- Esquematismo - Dentro da fase pré- com experiências emocionais (espaço subjetivo). Na
operatória, aparece a descoberta da relação figura humana as características sexuais são
entre desenho, pensamento e realidade. Quanto exageradas, presença das articulações e proporções.
ao espaço, os desenhos são dispersos A consciência visual (realismo) ou acentuação da
inicialmente, não relaciona entre si. Então expressão, também fazem parte deste período. Uma
aparecem as primeiras relações espaciais, maior conscientização no uso da cor, podendo ser
surgindo devido à vínculos emocionais. A figura objetiva ou subjetiva. A expressão aparece como: "eu
humana torna-se uma procura de um conceito represento e você vê" Aqui estão presentes o
que depende do seu conhecimento ativo, inicia a exercício, símbolo e a regra.
mudança de símbolos. Quanto à utilização das
cores, pode usar, mas não há relação ainda com FAIXAS ETÁRIAS REFERENCIAIS DA ARTE
a realidade, dependerá do interesse emocional. INFANTIL PARA A PSICO-PEDAGOGIA
Dentro da expressão, o jogo simbólico aparece
como: "nós representamos juntos". • De 1 a 3 anos - É a idade das famosas garatujas:
simples riscos ainda desprovidos de controle motor, a
Esquematismo - Faz parte da fase das criança ignora os limites do papel e mexa todo o corpo
operações concretas (7 a 10 anos).Esquemas para desenhar, avançando os traçados pelas paredes
representativos, afirmação de si mediante e chão. As primeiras garatujas são linhas longitudinais
repetição flexível do esquema; experiências que, com o tempo, vão se tornando circulares e, por
novas são expressas pelo desvio do esquema. fim, se fecham em formas independentes, que ficam
Quanto ao espaço, é o primeiro conceito definido soltas na página. No final dessa fase, é possível que
de espaço: linha de base. Já tem um conceito surjam os primeiros indícios de figuras humanas, como
definido quanto à figura humana, porém cabeças com olhos.
aparecem desvios do esquema como: exagero,
negligência, omissão ou mudança de símbolo. • De 3 a 4 anos - Já conquistou a forma e seus
Aqui existe a descoberta das relações quanto à desenhos têm a intenção de reproduzir algo. Ela
cor; cor-objeto, podendo haver um desvio do também respeita melhor os limites do papel. Mas o
esquema de cor expressa por experiência grande salto é ser capaz de desenhar um ser humano
emocional. Aparece na expressão o jogo reconhecível, com pernas, braços, pescoço e tronco.
simbólico coletivo ou jogo dramático e a regra.
• De 4 a 5 anos - É uma fase de temas clássicos do
Realismo - Também faz parte da fase das desenho infantil, como paisagens, casinhas, flores,
operações concretas, mas já no final desta fase. super-heróis, veículos e animais, varia no uso das
Existe uma consciência maior do sexo e cores, buscando um certo realismo. Suas figuras
autocrítica pronunciada. No espaço são humanas já dispõem de novos detalhes, como
descobertos o plano e a superposição. Abandona cabelos, pés e mãos, e a distribuição dos desenhos no
a linha de base. Na figura humana aparece o papel obedecem a uma certa lógica, do tipo céu no
abandono das linhas. As formas geométricas alto da folha. Aparece ainda a tendência à
aparecem. Maior rigidez e formalismo. antropomorfização, ou seja, a emprestar
Acentuação das roupas diferenciando os sexos. características humanas a elementos da natureza,
Aqui acontece o abandono do esquema de cor, a como o famoso sol com olhos e boca. Esta tendência
acentuação será de enfoque emocional. Tanto no deve se estender até 7 ou 8 anos.
Esquematismo como no Realismo, o jogo
simbólico é coletivo, jogo dramático e regras • De 5 a 6 anos - Os desenhos sempre se baseiam em
existiram. roteiros com começo, meio e fim. As figuras humanas
aparecem vestidas e a criança dá grande atenção a
Pseudo Naturalismo - Estamos na fase das detalhes como as cores. Os temas variam e o fato de
operações abstratas (10 anos em diante). É o fim não terem nada a ver com a vida dela são um indício
de desprendimento e capacidade de contar REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
histórias sobre o mundo.
BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, Arte e Política. Obras
• De 7 a 8 anos - O realismo é a marca desta Escolhidas. vol.1, São Paulo, Brasiliense, 1985.
fase, em que surge também a noção de FEIJÓ, Olavo. Corpo e Movimento: Uma Psicologia para o
perspectiva. Ou seja, os desenhos da criança já Esporte. Rio de Janeiro: Shape Ed., 1992.
dão uma impressão de profundidade e distância. FERNÁNDEZ, A. O saber em jogo. A psicopedagogia
Extremamente exigentes, muitas deixam de propiciando autorias de pensamento. Porto Alegre: Artmed,
desenhar, se acham que seus trabalhos não 2001.
ficam bonitos. FERRAN, P et.al. Na Escola do Jogo. Lisboa: Editorial
Como podemos perceber o linha de evolução é Estampa, 1979.
KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogos Tradicionais Infantis.
similar mudando com maior ênfase o enfoque em
São Paulo: Vozes, 1993.
alguns aspectos. O importante é respeitar os
LADEIRA, Idalina; CALDAS, Sarah., Fantoches & Cia. Rio
ritmos de cada criança e permitir que ela possa
de Janeiro, Ed. Scipione, 1993.
desenhar livremente, sem intervenção direta, LUQUET, G.H. Arte Infantil. Lisboa: Companhia Editora do
explorando diversos materiais, suportes e Minho, 1969.
situações. MALVERN, S.B. "Inventing 'child art': Franz Cizek and
Para tentarmos entender melhor o universo modernism" In: British Journal of Aesthetics, 1995, 35(3),
infantil muitas vezes buscamos interpretar os p.262-272.
seus desenhos, devemos porem lembrar que a MEREDIEU, F. O desenho Infantil. São Paulo: Cultrix, 1974.
interpretação de um desenho isolada do contexto MORAIS, R. Filosofia, Educação e Sociedade. Campinas:
em que foi elaborado não faz sentido. Papirus, 1989.
É aconselhável, ao professor, que ofereça às NAVILLE, Pierre. "Elements d'une bibliographie critique". In:
crianças o contato com diferentes tipos de Enfance, 1950, n.3-4, p. 310. Parsons, Michael J.
desenhos e obras de artes, que elas façam a Compreender a Arte. Lisboa: Ed. Presença, 1992.
leitura de suas produções e escutem a de outros PIAGET, J. A formação dos símbolos na Infância. PUF, 1948
e também que sugira a criança desenhar a partir Novo Dicionário Aurélio. São Paulo: Nova Fronteira, 2001.
de observações diversas (cenas, objetos, RABELLO, Sylvio. Psicologia do Desenho Infantil. São
pessoas) para que possamos ajudá-la a nutrisse Paulo: Companhia Editora Nacional, 1935.
de informações e enriquecer o seu grafismo. READ, HEBERT. Educação Através da Arte. São Paulo:
Martins Fontes, 1971.
Assim elas poderão reformular suas idéias e
RIOUX, George. Dessin et Structure Mentale. Paris: Presses
construir novos conhecimentos.
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ROUMA, George. El Lenguage Gráfico del Niño. Buenos
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