Estudo Dos Glaciares Da Serra Da Estrela

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Estudo dos glaciares da Serra da Estrla

Author(s: Lautensach, Hermann


Published by: Imprensa da Universidade de Coimbra
Persistent URL: http://hdl.handle.net/10316.2/36490

Accessed : 1-Dec-2017 20:46:46

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PUBLICAES DO MUSEU MINERALGICO E GEOLGICO
DA

UNIVERSIDADE DE COIMBRA

N. 6

Memrias
e Notcias

COIMBRA
IMPRENSA DA UNIVERSIDADE

1932
Estudo dos glaciares da Serra
da Estrla(1)
POR

HERMANN LAUTENSACH

(Com 2 cartas topogrficas, 1 figura e 12 fotografias, dedicado (2)


ao 70. aniversrio de Albrecht Penck)

A. Obermaier, no seu estudo sobre a glaciao da Espa


nha (3) separou em dois perodos o estudo dos glaciares. No

(1) Traduzido do vol. xvii, Fase, 4-5, 1929 do Zeitschrift fr Glets


cherkunde.
O ilustre professor de Giessen, Dr. Hermann Lautensach, concedeu
ao Museu Geolgico a traduo deste interessante trabalho sobre os
glaciares da Serra da Estrela. Encarregou-se da traduo o Dr. Cust
dio de Morais. Para ambos, os protestos do nosso reconhecimento.
O Director, A. Ferraz de Carvalho.
(2) Circunstncias pessoais adiaram a ltima redaco do estudo aqui
apresentado, o qual est j pronto h mais dum ano, e j nessa altura
dedicado a Albrecht Penck. A publicao dos esboos de cartas e foto
grafias foi auxiliada pela Hochschul Gesellschaft de Giessen, a quem apre
sento aqui o meu agradecimento.
(3) Die eiszeitlich Vergletscherung Spaniens. Pet. Mit., 1921, pg. 158-
-162. Tambm : H. Obermaier y J. Carandel, Datos para la climatologia
cuaternaria en Espana. Bol. Real Soc. esp. Hist nat., xv, 1915, pg. 402-
411. H. Obermaier, El hombre fosil. Com. de Investigaciones paleont.
y prehistor. Mem. 9, Madrid, 1916. Kap. VI, E, H. del Villar, El glacia-
rismo cuaternario en la Peninsula Iberica. Archivo Geogr. de la Pen.
Jberica, 1916, pg. 75-84. L. Fernandes Navarro, Le glaciarisme cuater-
naire dans la Pninsule Ibrique, Rev. gn. des Sciences pures et apli-
ques, xxviii, 1917, pg. 263-270.
4

mais antigo, que vai talvez at ao fim do ltimo sculo, incli


na-se a maioria dos autores, como B. Baysselance, Schimper
e Macpherson, embora sem grande material de observao,
para uma grande extenso de glaciares, desde as montanhas
at s suas regies vizinhas enquanto que outros, como por
exemplo Drasche e Hellman, duvidam da existncia de vest
gios de glaciares na pennsula.
Obermaier notou que Penck era um dos poucos que no
enfileirava em nenhum destes extremos. Em 1884, fundando-se
na existncia de pequenas lagoas de montanhas admitia j a
existncia de glaciares na Serra da Guadarrama e na da Es-
trla(1), e j um ano antes le apresentava a hiptese dos
glaciares dos Pirineus centrais, fundado num grande nmero
de observaes (2), hiptese que nas suas linhas gerais ainda
hoje prevalece. Em 1892 estendia estas pesquisas aos Peri-
neus orientais assim como Pealara, na Serra da Guadarrama
e publicou em 1894 simultneamente com as observaes j
indicadas, um resumo crtico do perodo glacirio de toda a
pennsula (3). Mostra o autor a que as mais altas montanhas
da pennsula contm abundantes vestgios da aco glaciria,
como seja: lagoas de montanhas, rochas polidas, rochas aborre-
gadas (4) e moreias, e que estes vestgios no atingem as bases
das montanhas. J ste autor tem tambm a idea que o limite

(1) Geographische Wirkungen der Eiszeit. Verhandle iv. Deutsch.


Geogr. Tag. 1884, pg. 66.
(2) Die Eiszeit in der Pyrenen. Mitt. Verein Erdk. Leipzig, 1883,
pg i 63-23 i .
(3) Studien ber das Klima Spaniens whrend der jngeren Ter
tirperiode und der Diluvialperiode. Zeitsch. Ges. Erdk. Berlim; xxix,
1894, pg. 109-141.
(4) Expresso adoptada pelo Dr. Gonalves Guimares e correspon
dente espanhola rocas aborregadas; francesa rochas moutones;
e alem Rundhoker. (Nota do Tradutor.)
5

das neves glacirias, desce, com o aumento das precipitaes,


de E para W.
O segundo perodo dos estudos glacirios na pennsula ,
segundo Obermaier, o dos estudos individuais, feitos em cen
tros de glaciao muito distantes. Esto a eles ligados os
nomes: O. Quelle, W. Halbfasz, H. Obermaier, O. Schmie-
der, E. H. DEL VlLLAR, J. CARANDELL F. ARAGON, L. F. Na-
varro, J. G. de Llarena, L. Mengaud, O Mengel, M. Che-
valier, Fr. Nuszbaum, P. Vosseler, R. Stickel. Junta-se-lhe
tambm o presente trabalho, feito com materiais que reuni
em trs semanas dedicadas a duas viagens na Serra da Estrela
(Outubro 1927, Agosto e Setembro 1928).

O que expusemos sobre o desenvolvimento histrico dos


estudos dos glaciares da pennsula diz unicamente respeito
parte espanhola. Os dois estados ibricos vivem ao
lado um do outro numa grande separao em todos os cam
pos, at no cientfico. Assim continua Portugal, no estudo
dos seus glaciares, no primeiro dos dois perodos acima indi
cados.
Carlos Ribeiro, o primeiro director dos servios geolgicos
portugueses, comeou a estudar os terrenos quaternrios; era
porm um observador muito cuidadoso para no cair em erros,
tirando concluses muito apressadas (1).
Vasconcelos Cabral acreditava, pelo contrrio, numa gla
ciao do N. de Portugal, que se estendeu at costa, junto

(1) Descrio do terreno quarternrio das bacias do Tejo e Sado,


164 pg. Lisboa, 1866. Note sur le terrain quaternaire de Portugal.
Bul. Soc. Geol. France (3), xxiv, 1867, pg. 692-717.
6

do Porto (1). Augusto Nobre (2) W. de Lima e P. Chof-


fat (3) contestaram-no. As superfcies polidas de granito e
gneisse, que Vasconcelos apresentou como prova da sua afir
mao, so de origem marinha e no glaciaria. O mesmo se
diz das ranhuras e sulcos que aparecem nas costas vizinhas.
Esses sulcos dependem das juntas do gneisse. Mais tarde
disse-se que alguns daqueles sulcos provinham duma cadeia
a que se ligava uma barca, que os produzia, basculejando (4).
Os enormes blocos de granito das supostas aluvies antigas
da Boa Vista, a W. do Porto, no so mais que vestgios da
aco da intemprie.
No foi mais feliz que Vasconcelos, Fonseca Cardoso (5)
que sups encontrar em Lisboa vestgios da aco glaciria.
Foi tambm Choffat (6) que mostrou que no se tratava de
tais vestgios, mas de brechas de frico nos calcreos cretci-
cos do Vale de Alcntara.
Choffat tinha dvidas na apreciao dos blocos gigan-

(1) Notcia sobre rochas estriadas da bacia do Douro Rev. de


Obras pblicas e Minas, I, 1870, pg. 27-31. Rsum dune tude sur
quelque depots superficiels du bassin du Douro. Presence de lhomme,
Vestiges daction glaciaire. Compt Rendu Congrs intern.. Antro-
pol. et Archeol. Lisbonne, 1880, pg. 155-189. Lisbonne 1884. Estudo
de depsitos superficiais da bacia do Douro. Mem. Serv. Geol. Port. Lis
boa 1881, 87 pg.
(2) tude geologique sur le bassin du Douro . Ann. Soc. Royale
Malacologigue de Belgique, t. xxvii, 1892, pg. 3-29.
(3) Depots superficiels. Glaciaire. Ann. Geol. Universel, x, 1893,
pg. 579-584, publicado nas Comunicaes da Direco dos Trabalhos Geo
lgicos de Portugal, III, 1895-1898 pgs. 108-112.
(4) P. C hoffat , in Comm. Serv. Geol. Port., vi, 1904-1905, pg. 172,
tambm Bull. Soc. Geol. France (4), iv, 1904, pg. 739-753.
(5) Nota sobre uma estao cheleana no vale de Alcntara. Rev.
Scienc. Nat., III , 1893, em 12 pgs.
(6) Comm. Dir. Trab. Geol. Port., III, 1895-1898 e An. Geol. Univ., j
citado.
7

tescos, de quartzito e arcoses(1), que aparecem dispersos entre


o Vouga e Mondego, ou antes entre Aveiro e Condeixa, sobre
a superfcie de eroso (2), com cotas que raras vezes excedem
100 metros, a qual est coberta pelo Pliocnio (3).
Num livro facilmente acessvel (4) apresenta num desenho
um grupo destes e chama-lhes blocos errticos, enquanto que
no texto tambm admite um transporte flvio-glacial : cest
peut-tre la meme poque quil faut atribuer le transport de
grands blocs darkose disperss entre Condeixa et Aveiro.
Na carta geolgica de Portugal de 1899 vem tambm a designa
o de blocos errticos.
Pesquizei alguns mas no os encontrei. Aparecendo em
regies arenosas, desprovidas de materiais de construo, eles
constituram para os seus habitantes ddivas da natureza, sendo
aproveitados como pedreiras (1). A origem dstes blocos
ainda um problema difcil. No so certamente de origem
glacial ou flvio-glacial. A cobertura de areias e de arenitos
de fraca consistncia que se estende sobre esta regio, (segundo
os gelogos portugueses) foi considerada do Pliocnio, sobre
tudo no seu extremo S, perto de Leiria, porque contm
lenhites (Marrazes) e margas (Carvide) com fsseis do Plioc
nio (5). No se compreende pois, como foras quaternrias
teriam transportado to grandes-blocos, sem deixarem na vizi
nhana outros vestgios da sua aco.

(1) Comm. Dir. Trab. Geol. Port., III, 1895-1898 e Ann. Geol. Univ. j
citado.
(2) Rumpfflsche ou em Davis peneplain. (Nota do Tradutor.)
(3) H. LautensAch, Morphologische Skisse der Ksten Portugals .
Sonderband Zeitschr. Ges Erdk. Berlim, 1928, pg. 312.
(4) Aperu de la Gologie de Portugal in Le Portugal au point de
vue agricole, Lisbonne, 1900, pg. 40 e seg.
(5) P. Choffat, Aperu, j citado, pg. 37 e Recueil de monographies
stratigraphiques sur le systme cretacique du Portugal. Mem. Serv. Geol.
Port. Lisbonne, 1900, pg. 254, 259 e seg.
8

A existncia de blocos de quartzito de Aveiro a Condeixa


est em relao gentica com uma espessa camada de blocos
que se encontra imediatamente na base N W da Meseta Ibrica,
a cerca de 35 quilmetros a E da linha Aveiro-Condeixa, e
em altitudes que vo de 200 a 600 metros, prximo de Gis
e Arganil.
Depois de Carlos Ribeiro ter chamado a ateno para eles,
foram estudados por Nery Delgado (1) com a seguinte con
cluso :
Deve ter havido trs perodos de glaciares descendo da
principal zona montanhosa. O penltimo perodo glacirio
deve ter deixado uma espssa moreia de blocos entre Gis e
Arganil, tendo depois a fuso dos glos arredondado os blocos
de quartzito, que foram ento espalhados pela j dita regio.
O ltimo periodo glacirio deve ter juntado os blocos nas en
costas, incorporando-os numa moreia. Um glaciar da regio
de S. Pedro do Aor (1.340 metros), o do Ceira, deve ter-se
unido a W de Arganil com o glaciar do Alva, descendo da
Serra da Estrla, e a montante de Penacova com glaciares
que vinham da margem direita do Mondego, continuando o
glaciar total, no perodo mdio glacirio, jusqaux plus basses
plaines (pg. 79). A autoridade de Delgado, como director
dos Servios Geolgicos, e com os seus estudos para a estra-
tigrafia do Paleozoico portugus, imps esta hiptese geo
logia portuguesa (2), e no houve ate' hoje quem a contradi
tasse (3).

(1) Note sur l'existence danciens glaciers dans la valle du Mon


dego. Comm. Die. Trab. Geol. Port., III, 1895-1898, pg. 55-82.
(2) Choffat, emitiu tambm a sua prudente concordncia. (A peru
pg. 40).
(3) As ltimas opinies sobre esta questo reconhecem ainda os re
sultados de Delgado (E. Pleury in C.R. Ac. Sc. Paris, t. 162, 1916, pg. 600-
601.
9

As minhas pesquisas mostraram-me todavia um outro re


sultado.
1. Os blocos de quartzito vo at 1,5 metros de di
metro, e s excepcionalmente a 3 metros. So arredondados
e tm uma face qusi plana, por onde se apoiam. Enterram-se
um pouco num meio cuja composio varia muitas vezes para
baixo. Se esta base so os xistos argilosos do precmbrico,
o terreno uma argila vermelha; se a base so os arenitos
senoniapos, o terreno uma massa branca arenosa ou argilo-
-arenosa. Delgado descreve estes factos com muita clareza
(pg. 70, 73, etc.) Devemos porm concluir que se trata duma
formao inteiramente local. Se estivssemos perante moreias
dum glaciar do Ceira, le devia ter percorrido 35 quilmetros
em montanhas qusi sem deixar restos, sobre os xistos argi
losos e grauvaques do precmbrico. Um tal glaciar devia, ime
diatamente depois de deixar o precmbrico e as montanhas
da meseta, formar moreias, e assim estas deviam ter uma
composio qusi independente da natureza petrogrfica das
formaes onde assentaram, e conter, no quartzitos rolados,
mas uma composio nica de blocos rolados de xistos argi
losos e grauvaques. Um tal glaciar percorreria as faixas
quartziticas do silrico, que afloram no enrugado precmbrico,
dirigidas para NW, unicamente numa estreita passagem junto
de Fajo, e com uma espessura bastante para contactar na sua
margem esquerda com o Penedo de Gis (1.043 metros).
2. E claro que os blocos de quartzito dos depsitos que
falamos provm dos mencionados afloramentos dos quartzitos
do silrico. Podia ainda confirmar a opinio de Delgado
(pg. 67) o facto de os depsitos no aparecerem para W do
Penedo de Saces a Gis.
Isto a prova que a aco transportadora vem de W e
SW e no SE como exigiria um glaciar do Ceira.
Um tal glaciar teria corrido para W sobre a portela
(413 metros) que fica a W da Ponte Sotam, e teria trazido
10

blocos de quartzito para a Lousa. Aqui o depsito atinge,


perto daquela passagem, mesmo o pico do Monte de Carva
lhal (536 metros) e de Saces (595 metros). Que a fora
transportadora vem de W e SW mostra ainda o facto obser
vado por Delgado, de a frequncia dos blocos de quartzito
decrescer para NE.
3. O depsito reveste claramente (embora em espessura
dificilmente determinvel, pela falta de,aberturas), as verten
tes perfiladas em linha recta, e mostra a mxima diferena de
alturas de 400 metros. Umas vezes apresenta-se em cober
tura contnua numa das vertentes dum vale, faltando comple
tamente sobre a outra (Valeiro de Folques); noutros casos,
como no vale de Stam, falta 11a parte superior p&to que este
tenha a sua origem no prprio quartzito e ao aparecimento dos
depsitos na vizinhana se deva incondicionalmente atribuir a
glaciao.
Isto no a forma de depsito de moreias do fundo ou
de moreias terminais numa regio em que o seu carcter se
vai dia a dia tornando prprio de montanhas j meio gastas
pela eroso (1).
4. O valeiro de Folques, a W de Arganil, d-nos tanto
nos sulcos das chuvas como nos taludes das estradas bons
esclarecimentos. Os depsitos cheios de lminas de xistos,
angulosos ou arredondados mostram aqui a estrutura tpica
das vertentes cobertas de blocos soltos (2) mas no de moreias,
como supe Delgado (pg. 72). O mesmo se diz da estrutura
dos depsitos de Bordeiro (pg. 75).
Os blocos, igualmente notados por Delgado na montanha
de Saces (pg. 68), mostram que devem a sua situao unica
mente aco da gravidade.
5. Nos blocos de quartzito podem, por meio da intem-

(1) Mittelgebirg.
(2) Gehngeschutt.
11

prie, formar-se sulcos (pg. 56) que podem ser confundidos


com os de origem glaciria, sobretudo para quem, como Del
gado, no estava habituado s condies do norte e dos Alpes.
Delgado d grande valor a um bloco de 1 metro de di
metro, situado a 1.500 metros ao N. de Gis em frente da
quinta da Capela, e cuja superfcie est, estriada dum lado,
(pg. 55, 64). Segundo este autor pertence tal bloco e os
depsitos vizinhos, moreia frontal do glaciar do Ceira, do
2.0 perodo glacirio, tendo sido ste material transportado
pelas guas no perodo inter-glacial consecutivo, e de novo
arrastado para mais longe no ltimo perodo glacirio.
Os sulcos devem provir do primeiro transporte glacial e
ter sido qusi apagados pelo seguinte transporte fluvial. Um
dos blocos... mostrava uma face plana, sobre a qual le deve
ter sido arrastado, pois que se viam ainda vestgios evidentes
de estriao glaciar, diz Delgado. Na estampa I apresenta o
mesmo autor uma excelente figura da superfcie deste bloco.
Os sulcos teem um raio de curvatura extremamente pe
queno, como pode acontecer num bloco de tais dimenses
unicamente por meio duma rotao livre, sem translao ao
ar livre, e nunca porm numa moreia de fundo. Eu mesmo
no consegui encontrar a nenhum bloco estriado. Alguns
dles mostravam porm a estratificao do quartzito, e por
tanto uns pequenos sulcos facilmente confundiveis com os do
movimento glacirio.
6. Delgado atribui tambm grande importncia aber
tura do corte da estrada da Portela de Gis (406 metros).
A massa xistosa experimentou aqui, na encosta um pouco
escarpada, um escorregamento local e torna-se em vista disso
muito tenra.
Resultam daqui infinitas superfcies de diviso, ao longo
das quais o xisto cinzento se transforma em vermelho sangu
neo. Esta massa torna-se no inverno muito plstica, na sua
metade NE, e resulta da que os blocos deslizam alguns
12

metros, pelo seu prprio pso. No se trata pois duma mis


tura das moreias marginais com o xisto, feita durante o ltimo
perodo glacirio.
Deduz-se daqui que a hiptese de Delgado dum glaciar
do NW do macio da meseta insustentvel.
Isto um resto daquele primeiro perodo das pesquisas
sobre glaciares da pennsula e que j passou h dezenas de
anos. Um glaciar do Ceira que penetrasse s at Gis atin
giria um limite de neves unicamente com 800 metros de altura.
Este limite ainda teria de ser mais baixo para um glaciar
nas condies de Delgado. A depresso da linha das neves
persistentes relativamente actual seria de 2.000 metros (1)!
J os arenitos senonanos que se estendem ao longo da
base NW das montanhas contm blocos de quartzito que
proveem das faixas dos quartzitos silricos acima indicados.
A distribuio do dito depsito de blocos mostra que os quar
tzitos no proveem unicamente dos arenitos.
Deve em grande parte ter sido formado, nos tempos post-
-senonanos, e provir directamente dos quartzitos silricos,
e ter sido espalhado pela aco fluvial (que deu aos blocos
forma arredondada) sobre uma antiga vertente da regio, e
que na metade W daquela regio se dirigia para NE. Quando
aquela vertente, qusi plana, arrastada pela elevao da mon
tanha, foi rasgada com fendas de centenas de metros de pro
fundidade, foram ento riscados os blocos, de que as torrentes
e as encostas escabrosas iam tomando conta.

E to duvidoso que os glaciares da vertente NW da Serra


atingissem Gis e Arganil, como o que os glaciares da prpria
serra alcanassem pelo Vale do Zzere, no SE, o lugar abaixo
de Valhelhas.
F. de Vasconcelos (2) descreve um depsito situado

(1) Veja adiante.


(2) Traces dactions glaciaires dans la Serra dEstrella. Comm.
13

1,5 quilmetros abaixo desta aldeia e atribui-o a um glaciar


do Zzere com 26 quilmetros de comprimento. Uma reviso
das suas observaes mostrou-me que se trata dum amon-
tuado com 5oo metros de altitude, cortado na sua base pelo
Zzere, e que se estende para SW da Serra do Mar, a 852 me
tros. A E deste amontoado encontra-se o limite entre os xistos
precmbricos e o granito (1).
O xisto est transformado num xisto noduloso rico em
quartzo, numa longa faixa com a extenso de 1 quilmetro,
devido ao contacto do granito. Os blocos amontoados de placas
de xisto noduloso so arredondados, e esto envolvidos num
barro vermelho que os liga, mostrando assim pela sua compo
sio que se trata duma formao local.

E preciso subirmos parte mais alta da Serra da Estrela


para encontrar em Portugal vestgios do perodo glacirio.
Deve-se ao falecido gelogo Vasconcelos Pereira Cabral o
grande servio de ter encontrado, em 1883, na Serra da
Estrla, sulcos de glaciares, rochas aborregadas, blocos errti-
ticos e moreias, tendo assim publicado a primeira prova evi
dente duma glaciao sobre a pennsula (2), no obstante dois
anos antes a Sociedade de Geografia de Lisboa ter a man
dado uma completa expedio cientfica que, a-pesar-dos muitos
e preciosos elementos colhidos, deixou ainda de parte os pro-

Trab. Geol. Port., I, 1883-1887, pg. 189 a 210, especialmente pg. 206 e seg.
Este trabalho foi anteriormente publicado em portugus na Revista de
Obras pblicas e Minas (1884, t. xv, n.os 177 e 178). A. Penck j em 1894
tinha exteriorizado as suas dvidas sobre a significao do depsito de
Valhelhas. (Studien ber das Klima Spaniens, j cit., pg. 135.)
(1) A carta geolgica marca este limite entre os xistos e o granito
mais para baixo, para o vale.
(2) Traces dactions glaciaires dans la Serra dEstrella j cit. Uma
repetio, dos principais resultados publicou A. Penck nos estudos sobre
o clima de Espanha etc. j cit., pg. 135.
14

blemas morfolgicos (1). Vasconcelos limitou-se a umas pesqui


sas nos vales da Lagoa do Conde, da Lagoa Comprida e do Z
zere. Trinta anos mais tarde publicou Fleury uma nota sobre
a glaciao da Serra da Estrla (2) e anunciou em 1919 um
trabalho completo sobre esta questo em Portugal (3), que
ainda no foi porm publicado. No est pois ainda publicada
uma monografia sobre a glaciao da primeira serra de Por
tugal.

II

A cordilheira a que pertence a Serra da Estrla, comea


por degraus, em frente do termo anterior da cordilheira central
(Serra da Pena, Serra da Gata, Serra das Mesas) para se ele
var, perto da Guarda, acima de 800 a 85o metros, formando o
planalto da Beira Trasmontana, e estende-se num compri
mento de 115 quilmetros e numa largura media de 25, para
SW, at que, ao chegar linha de grandes perturbaes de
Penela a Ferreira do Zzere, onde o paleozoico da serra mer
gulha por baixo do Mezozico da parte central da costa de
Portugal, tendo a o seu fim.
O tero NE desta montanha distingue-se nitidamente dos
dois teros SW. Podemos fazer a separao pela linha que
vai por Tortozendo, Unhais da Serra, Teixeiras, Alvoco da
Serra, Loriga, Valesim e Vila Cova, o qual nunca atinge a
cota de 1.000 metros. O tero NE, exceptuando uma oval de

(1) Expedio scientfica Serra da Estrela em i 88 l >. Lisboa, 1883.


(2) Sur les anciennes glaciations de la Serra da Estrela (Portugal).
C. R. Ac. Sc. Paris, t. 162, 1916, pg. 599-601.
(3) Formes de desagregation et dusure en Portugal. Mem, publ.par
la Soc. nat. Ser. Geol., 1, Lisbonne 1919, pg. 63 nota 3. Este trabalho
contm muitos factos demonstrativos da existncia das formas na Serra
da Estrela. Exagera porm muito a aco local das fendas devidas a
congelao e do lascado devido s variaes de temperatura.
(15)
(15)
15

xistos que vai da Cabea Alta at s fontes do Vale de Ver-


delhos, de granito.
Podemos contar cinco degraus (Pedra Sobreposta 1.060 me
tros, S. Tiago 1.5oo, Penhas Douradas 165o, Barros Verme
lhos de Manteigas 1.840, Salgadeira 1.920), at ao ponto mais
alto de Portugal o Malho Grande (1.991 metros), onde fica
o marco trigonomtrico chamado geralmente A Torre, caindo-se
abruptamente num nico declive de 1.000 metros para S e SW.
A base desta parte coincide qusi sempre com o contacto dos
xistos e do granito. A escarpa provm da diferena de resis
tncia das suas rochas. Torna-se necessrio delimitar o nome
Serra da Estrela a este tero NE, contrriamente ao uso
corrente. Os restantes dois teros: Serra do Aor, e Serra da~
Lousa formam uma regio mnotona, seca, inculta e desha-
bitada qusi sempre formada de xistos, e cujos picos raras
vezes se elevam acima de 1.100 metros.
A Serra da Estrla propriamente dita, com o comprimento
de 40 quilmetros unicamente na sua parte S, a mais pequena
e a mais alta, oferece os sinais duma montanha com glaciares.
E a parte chamada Serra dos Cntaros. A carta n,0 1 uma
carta topogrfica da regio, fundada na carta Corogrfica de
1:100000, folha n. 14. Esta folha est porm muito im
perfeita, porque o autor no tinha a mais pequena idea da
topografia glaciria. Noutros pontos de importncia morfol
gica, sobretudo na representao da rede das guas dos rios
Zzere e Alfofa, h tambm imperfeies. Esta carta vai por
isso completada por mim, servindo-me para isso de fotogra
fias e esboos meus, tendo tambm juntado alguns nomes.
Como se v no se trata de uma nova edio trigonom
trica desta carta (1).
A Serra dos Cntaros a partir do seu sop, com a cta de

(1) Aqui apresento os meus agradecimentos ao sr. Dr. E. L orey de


Gieszen pelo auxlio que me deu na publicao destas cartas.
16

4oo a Soo metros, e que cortado por rios paralelos s mon


tanhas para onde vo as suas guas, eleva-se qusi em declive
contnuo e qusi em linha recta at 1.600 metros. Esta encosta
muito ravinada por torrentes, que so indicadas por meio do
seu curso mdio. Naquela altitude aparece um sistema de pla
naltos dispostos suavemente em socalcos, as quais-so os res
tos de antigas plancies de transporte. Os cursos superiores
destes rios so do mesmo modo cortados suavemente com
pequena queda. Na Serra dos Cntaros o sistema consiste
em quatro membros que esto ligados entre si por meio de
taludes, os quais so, por ordem crescente: a) nivel i.5oo a
1.600 metros: Corgo das Ms 1539, 1588, Curral da Nave;
b) nivel i65o a 1750 metros: Penhas Douradas, Curral do Mar
tins, Canariz, Altura da Pedreira, Poios Brancos, Curral do
Vento, Pederice; c) nivel 1.800 a i865 metros: Rodeio Grande
1862, 1855, 1841, Malho Grosso, Penha de Abutres, 1859,
Terroeiro; d) a regio culminante (1920 a 1991 metros) 1921,
Salgadeira, Cntaro Gordo, Cntaro Magro, Espinhao do
Co, Torre.
Atravs deste sistema dos planaltos estende-se paralela
mente s encostas das montanhas uma srie de vales rectilneos,
e raras vezes profundos. O Zzere e o Alfofa deixam ambos
o planalto da Torre na direco E, e voltam-se o primeiro para
o N e o segundo para o S, atravs dstes vales. Entre as
duas curvas dstes rios fica a regio qusi plana da passagem
da Nave de Santo Antnio. Tal alinhamento dos vales
frequente no N. de Portugal, especialmente nas regies gra
nticas. Choffat publicou uma monografia sobre estes alinha
mentos, e explica-os com toda a probabilidade. Numa segunda
monografia admite a explicao com toda a segurana (1)

(1) La ligne de depression Rgua-Verin et ses sources carbona-


tes. Remarques et considerations. Com. Serv. Geol. Port., XII, 1917,
pg. 35-69. Notcia sobre a carta hipomtrica de Portugal. Com, Ser.
Geol Port.,VII, 1907, pg. 41.
17

Amorim Giro descreve um caso correspondente num vale do


Rio Vouga (1). Segundo estudo que ainda no publiquei,
cheguei ao mesmo resultado no Vale das Caldas da Serra
do Gerez. Trata-se, debaixo do ponto de vista tectnico, duma
zona fracturada em linha recta, e que a eroso fluvial traba
lhou posteriormente (2). Muitos dles so reconhecidos por
meio do aparecimento de Termas. A ste caso pertence o
alinhamento dos vales do Zzere e Alforfa, onde se encon
tram as Caldas de Manteigas (3) e as termas de Unhais da
Serra (4).
A SE destes vales, vales onde a serra est profundamente
rasgada, encontram-se ainda outros vales tectnicamente dis
postos, correndo paralelamente aos lados da montanha. O
leito do Zzere, abaixo de Manteigas muda trs vezes entre
vale transversal e longitudinal. Esta ltima disposio dos
vales tem todos os sinais duma eroso puramente fluvial. A
E e ao S. do pico Curral da Nave e Curral do Vento a partir
da encosta SE da Serra destrui-se inteiramente o sistema
de velhas regies planificadas. Em seu lugar aparecem picos
como dentes de serra, com o carcter cortante separados por
vales entalhados com perfis rectilneos.
Ao tipo dos vales longitudinais pertence tambm o do
Mondego cujas nascentes esto na encosta N. da Serra dos
Cntaros. Este tem porm um carcter inteiramente diferente
do do seu vizinho de SE. E um termo da velha topografia.

(1) Bacia do Vouga, Coimbra 1922, pg. 37 e seg.


(2) Veja W. Deecke. Der Zuzammenhang von Fluszlauf und Tekto
nik. Fortschr. d. Geol. u. Palont. H. 16. Berlin 1926, especialmente pg. 61
e seg.
(3) 3 quilmetros SSW de Manteigas. 5 fontes em parte contendo
gs sulfdrico, a mais quente com 42o C. L. Torres, Aguas termais de
Manteigas e Unhais da Serra. In: Expedio scientifica Serra da
Estrela, j cit. 25 pg.
(4) 2 fontes, a mais quente com 39,3o igualmente sulfureas.
18

O Mondgo atinge, depois dum percurso de 35 quilmetros,


um leito paralelo Serra, na sua encosta N. A parte supe
rior do seu vale uma bacia extensa e plana de 1.200 a
1.3oo metros de altitude, unicamente cortada pela eroso numa
profundidade de 5o metros, e de forma convexa (Foto 1).
Unicamente a 3 quilmetros de distncia corre o Zzere,
600 metros mais fundo, junto de Manteigas: uma morfologia
notvel que se abrange das alturas volta das vilas e quintas
do Sanatrio Manteigas.
Numa encosta nica, com uma queda de 100 m. desce-se
do alto da Serra para SE para a bacia da Covilh (400 a
450 m.) onde o Zzere corre paralelamente montanha.
A Serra dos Cntaros apresenta-se-nos como uma regio
de levantamento recente, cuja idade no pode porm ser deter
minada devido falta de sedimentos equivalentes nas regies
mais baixas. A parte NW d a impresso duma flexo,
enquanto que a abrupta encosta de SE nos lembra uma falha.
Na zona mdia h evidentes restos de antigas superfcies,
enquanto que a estreita faixa NW est cheia de escarpas, a
mais larga faixa SE est cortada por rios que correm para
lelamente montanha.

III

em vo que se procuram vestgios de glaciares na parte


superior da bacia um pouco alongada do Mondego superior,
assim como na regio das crists que se elevam na Santinha
at 1593 m. e no Corgo das Ms at 1647. Pode-se igual
mente subir da Covilh, por cima do seu sanatrio, at
passagem (1603) entre os Poios Brancos e Pederice sem en
contrar moreias ou rochas aborregadas. Encontra-se pelo
contrrio nestas regies, enquanto elas so granticas (o que
sucede qusi sempre) um fenmeno muito freqente nos gra
nitos de Portugal e at nas regies mais baixas. o que
Est. I

(19)
19

Von Passarge chamou Felsburgen que podemos traduzir


por castelos de rochas (1). No meio eleva-se uma massa ro
chosa mais ou menos cortada por fendas; por fora vem-se
superfcies arredondadas; volta esto os blocos j desligados
que nos parecem batatas gigantescas, (2) no meio dum talude
suave, at com declive mdio, e que feito de areias gran
ticas (Foto 1). Estas massas arenosas apresentam grande es
pessura nestas regies de runas de rochas.
Avanando do Corgo das Ms para S ou para SW atin
gimos o pico 1539, e o das Penhas Douradas que ainda tm
o mesmo aspecto de runas, mas com a forma um pouco
diferente. A ligao das diferentes partes mais firme, as
paredes de blocos arredondados so planas, e chegam at
base, as runas tem a forma de sino, e faltam as batatas
gigantescas (foto 2). Estas formas de sino encontram-se por
toda a parte em Portugal, sobretudo onde uma forte enxurrada
ou uma forte torrente impede a formao daquelas encostas
de areia grossa, isto , sobretudo nas regies de taludes muito
aprumados. Porm nestes pontos da Serra da Estrela so
muitas vezes pequenos os taludes mdios. No s a pe
quenez das camadas de areia grossa que mostra a antiga exis
tncia duma forte eroso superficial, mas tambm a existncia
de superficies qusi planas, formadas das tais areias e rochas,
assim como blocos arredondados que tm a marca dum curto
transporte fluvial, e que esto dispersos sobre aqueles campos
de rochas e cascalhos.
este o aspecto da regio onde se encontra a primeira

(1) Ou runas de rochas.


(1) Die Grundlagen der Landschaftskunde. Vol. I, Hamburg. 1919,
pg. 31.
(2) Veja H. Schmitthener. Die Oberflchengestaltung im auszer-
tropischen Monsunklima. Dusseldorfer Geogr. Vortr. v. Errl. Breslau
1927. III, pg. 27.
20

moreia vindo do N. uma moreia espessa situada a W do


Pico 1665 das Penhas Douradas, e com a cota de 1650 m.,
tendo a W o pico i 6 i 3 e situada sobre o flanco direito de
quem desce o Covo do Urso (carta 2). Com a face exterior
bastante aprumada encontra-se a moreia lateral direita do
glaciar do Covo do Urso sobre uma superfcie de eroso
formada pelo granito (foto 3).
Se passamos por cima da moreia e entramos na regio
outrora coberta de glos nota-se a completa falta de runas de
rochas.
Primeiramente aparecem em seu lugar rochas aborregadas
cuja forma nem sempre tam regular como nos Alpes. Um
dos mais importantes factores que concorrem para esta forma
a direco do movimento do gelo em relao direco das
numerosas fendas que atravessam o granito.
Se o gelo corre numa encosta perpendicularmente a uma
direco de juntas, ento estas rochas tomam a forma de
degraus de escada de arestas rombas.
Em cima, sobre o planalto, onde o ngulo do talude em
geral pequeno e a espessura do glo devia ser tambe'm
pequena, a ordem de grandeza destes degraus muito mais
pequena que no domnio da encosta aprumada do planalto e
no limite das neves do glaciar (ver adiante), onde a expessura
da massa de glo era maior. Parece assim que a ordem de
grandeza das rochas aborregadas proporcional ao ngulo
do talude e espessura do glo (1). Nas escarpas do planalto
estas rochas formam verdadeiras escadas de gigantes (foto 4).
Onde pelo contrrio falta uma das direces de fendas de
fractura que favorecem a formao de cuboides granticas tm
as tochas aborregadas formas mais adoadas, como se v nos
Alpes cristalinos.

(1) Veja H. Lautensach, Die Uebertiefung des Tessingebiets. Geogr.


Abh, X, I, 1912, pg. 147 e seg.
Est. II

(20)
21

Como j notava Vasconcelos (1) as faces dos blocos polidos


no so muito planas, porque o granito de duas micas con
tendo cristais de feldespato que vo at 5 cm. favorece a for
mao de salincias. Onde este granito, que constitui a prin
cipal rocha da S. dos Cntaros, envolve um granito claro de
moscovite, vem-se pelo contrrio notveis faces polidas. Nos
picos dos cabeos de rochas arrebanhadas vem-se s vezes
blocos errticos os quais pela sua forma de arestas um pouco
arredondada se distinguem das batatas gigantescas da zona
das runas granticas (2). Os blocos errticos acumulam-se
sobre as moreias laterais para se associarem, qusi formando
calada.
Em terras espanholas, ao N do Minho, encontrei a demons
trao de que j nos tempos pr-glaciais havia runas de
castelos de rochas. Por diferentes pontos da Serra aparecem
restos de tais aspectos de rochas e cuja distribuio est ainda
por descrever e por explicar. Isto a prova que a Serra da
Estrla j antes da sua glaciao os tinha, j os havendo no
alto da Serra, onde mais tarde devia haver a glaciao. As
runas de castelos faltam, como j disse, naquelas regies que
estiveram cobertas de gelos, a julgar pela distribuio das
moreias terminais e laterais.
Os glaciares movendo-se deviam ter destrudo por toda a
parte todas aquelas formaes fcilmente alterveis, como
por exemplo as runas de castelos. Resulta daqui, sem mais
consideraes, que a regio da foto n. 2 esteve coberta de
gelos mveis.
Os tempos post-glaciais no tm sido suficientes para
formar novos campos de runas. A foto n. 2 mostra ainda
um dstes aspectos onde h em volta uma camada de rochas
de crca de 3o m. de espessura, alteradas pela aco da in-

(1) Traces dactions glaciaires, j cit., pg. 192.


(2) Explendidas fotografia em Vasconcelos, j cit., Est. I e II.
22

temprie. Certamente no faltam regio j alterada pelo


glaciar as transformaes post-glacirias. Na encosta N do
planalto da Torre vem-se tpicos mares de rochas, que so o
refgio dos lobos (1). Ao longo das rasgadas fozes dos vales
suspensos, por exemplo na extremidade de S da rua dos Mer
cadores, e nas vertentes cortadas pelos glaciares nota-se uma
formao post-glacial de pilares, e que comea a dissolver a
superfcie exterior dos blocos polidos, encontrando-se estes
cados em desabamentos pela base da encosta (2).
At aqui ainda se no chegou dentro do domnio dos gla
ciares a uma alterao post-glacial feita ao longo das fendas,
nas vertentes em taludes suaves, como exige a formao das
runas. Temos por isso nesta Serra, ao lado de moreias e
rochas aborregadas, ainda um terceiro critrio para distri
buio dos gelos glacirios, a saber, a falta de runas de
castelos. Onde elas aparecem no pode ter havido glaciares
mveis; quando muito, campos de gelo sem movimento, talvez
do tipo do campo de gelo do Corral de Veleta, na Serra
Nevada (3)
Nos planaltos da Estrela podemos pois observar quatro
formas concntricas: 1.a a regio das [rochas aborregadas e
dos blocos errticos; 2.a a estreita zona das moreias margi
nais e terminais; 3.a a faixa dos rochedos em forma de sino
e dos campos cheios de rochas e cascalhos, o equivalente aos

(1) Confirma-se aqui a hiptese de Salomon, que nas alturas das


rochas granticas da pennsula aparecem, como fenmeno glacial, os mares
de rochas dispostos em corrente, enquanto que nos baixos aparecem, como
seus equivalentes morfolgicos, as runas de castelos (Felsenmeere und
Blockstreuungen. Sitzungsber. Heidelb. A. K. d. Wiss., Math. Naturw.
Klasse. 1926. 12 Abh.
(2) Schutthalden und Bergstrze. (Nota do Trad.).
(3) Veja H. Obermaier y I. Carandel, Los glaciares cuaternarios de
Sierra Nevada. Trab. Mus. nac. Cienc. nat. Ser. geol., 17. Madrid, 1916,
pg. 64 e seg.
23

cones de transio (1) flvio-glaciais; 4.a o extenso domnio das


runas de castelos e vertentes de areias.

IV

O aspecto dos glaciares da Serra da Estrela, conforme


vai indicado na carta n. 2 afasta-se num ponto importante de
qusi todos os outros glaciares das montanhas da pennsula.
As regies de alimentao da glaciar da Estrla eram as
seces b at d das descritas atrs (pg. 16) das antigas super
fcies de eroso, situadas a W dos Vales Zzere e Alforfa.
A partir desta regio central de alimentao estendem-se ln
guas (2) de glaciar para W, S e NE lbos (3) para NW.
Falta a unidade no glaciar da Estrla. Este tipo de glaciar
aproxima-se do recente tipo noruegus.
As montonas extenses do planalto da Torre e as suas re
gies vizinhas so formadas por um granito que se inclina para
uma diviso em placas paralelas face externa, e em parte tem
o aspecto de terras lavradas ou sulcadas (4). As rochas abor-
regadas e calvas, que ste granito mostra, tm o aspecto atrs
descrito em degraus. Estas rochas e os blocos estriados (5)
mostram que a direco da marcha do glo coincide qusi
sempre com a direco dos taludes. Servindo-nos da carta
n. 1 podemos fazer uma ideia das correntes no planalto. A
maior parte do glo situado no planalto ao S da Torre corria
para o Vale de Alforfa, juntamente com algum vindo do longo
e baixo fosso da rua dos Mercadores, ao passo que qusi nada

(1) Uber gangskegel, en fr. cne de transition.


(2) Zunge.
(3) Lappe.
(4) Karrenfeld, (Schrattenfeld).
(5) Schliffe.
24

vem para o vale da Estrela, para o princpio do vale do Al-


vco e para o princpio do Vale que nasce a SE do pico de
1827 m. Ao N da Torre corria o glo para W, tributrio
da grande bacia da parte superior do vale de Loriga. Desde
a Salgadeira por cima dos picos de 1841 m. at ao pico de
1855 m. corria o glo entre este ltimo e o vale da Candieira,
e do pico 1855 at Penha do Gato para entre o vale de
Loriga e o Covo Grande; dos Barros Vermelhos at s Pe
nhas Douradas para entre o Covo do Urso e o vale do Zzere,
e entre os Barros Vermelhos e o Canariz para entre o Covo
Grande e o Covo do Urso.
No mar de rochas aborregadas do planalto aparecem ca
vadas algumas pequenas bacias. A maior parte delas esto
hoje areadas ou transformadas em charcos. Contm relvas
hmidas e servem de pastagens (Covanda do Boi) ou vive
nelas o Nardus Stricta. Outrora estavam cheias de gua,
e at os habitantes de Loriga as aproveitam, construindo pe
quenos muros, para as suas regas de campos de milho que
vivem nas partes profundas (Covanda das Quelhas, Covanda
Serrana, Covanda Francella). Alguns, muito pequenos, alon
gados, tem sido conservados pela natureza entre os cabeos,
mesmo sem entrada ou sada de ribeiros. O maior o Cha
fariz do Rei. Os habitantes da regio chamam s lagoas da
Serra, Olhos marinhos, como sucede nos Crpatos. J a cr
nica de Juan Vasco (Chronici rerum memorabilium Hispaniae.
Salamanca, i 5 5 2 ) diz: Habet altissimus Lusitania montes,
quorum vel praecipuus, qui a stella cognomen habet, in cuius
cacumine frequenter in lacu quodam fragmenta navium repe-
riuntur, quum tamen a mari plus quam duodecim leucis distat.
Quin et exaestuare et tempestatem ibi audivi affirmant accolae,
quoties intumescit mare (1).

(1) Segundo L. F. M arrecas F erreira . A s lendas da Serra da Es


trella na Tradico escripta. Exp. Scient. S. da Estrella, j cit. pg. 17.
25

Ao S do pico 1894 m. no planalto da Estrela, a 1800 m.


de altitude encontrei eu uma moreia stadial (1). Outras acu
mulaes de blocos deviam ter a mesma origem, sem que
contudo a forma me permita uma segura concluso.

Desde o Terroeiro ao S at ao Cntaro Gordo ao N, preci-


pita-se o planalto da Estrela por encostas aprumadas e raras
vezes interrompidas para os vales de Alforfa e Zzere, e para
os dois vales circulares (2) que se dirigem para a Torre: o
Covo das Vacas e o dos Cntaros. Entre estes ltimos e
para o N dles divide-se o planalto da Estrela em trs ramos
de arestas cortantes: o Espinhao do Co (1916) o Cntaro
Magro (1926 m.) que se tornou numa enorme torre de roche
dos por meio da aco glacial e fluvial, e finalmente o enorme
Cntaro Gordo (1910 m.) (foto 5) (3). Entre a extremidade S
do Espinhao do Co e o Cntaro Magro sobre esta parede
aprumada nenhum glo podia correr para os vales de Zzere
e Alforfa, porque paralelamente a les corre a Rua dos Mer
cadores, numa grande proximidade, e que deslocava para o S,
para o Covo das Vacas a massa de glo. Porm entre os
dois Cntaros espalhou-se o glo, como j notmos, formando
uma corrente importante para a origem do vale do Zzere,
dando origem a um vale circular (foto 5). O fundo desta

(1) Stadialmorne.
(2) ou curvos Talzirken, ver foto n. 5. Talvez a traduo melhor
fsse Covo, como l dizem. Nota do tradutor.
A. Penk foi o primeiro que separou os vales circulares (Talzirken)
dos circos glaciares (Gehngezirken, Karen), Die Eiszeit in den Py
renen, j cit., pg. 215. Estes ltimos faltam inteiramente na Serra
da Estrela por causa do carcter planltico da regio de alimentao do
glaciar.
(3) Cntaro no texto. Em alemo Krug. O nome deve provir de, at
no vero mais sco brotar a gua na base deste pico. L. M. Marrecas
Ferreira, j cit., pg. 88 e seg.
26

bacia que desce a 1600 m. hoje um crculo aterrado e arre


dondado com crca de 15o m. de dimetro, lago fechado do
lado do vale por meio duma barra ou barragem (1) constituda
por rochas aborregadas com rochas polidas.
Esta barra tem dois portos : o do actual esgoto e um mais
largo formado pelos rochedos hoje sem gua, e que provavel
mente esteve activo num tempo interstadial. Abaixo destes:
planos em degraus segue-se, 200 m. mais para baixo, para a
base da enorme parede rochosa do Cntaro Magro, um outro
plano menor, tambm fechado por uma barra rochosa, cha
mado Albergaria, e ainda outro a 13oo m. que j o prin
cpio do fundo do vale do Zzere.
Este, num caminho um pouco incerto, volta-se agora par
o vale Zzere-Alforfa. A vertente direita do vale retoma
curvatura numa extraordinria simetria, mergulhando de 1620
a 1530 m. numa aresta mais spera e qusi como uma parede.
Enormes fendas mostram a construo desta vertente direita
do vale do Zzere, com 3oo m. de altura. E formada desde
baixo at acima duma areia amarela no estratificada e de
pequenos fragmentos de rocha onde esto ligados blocos de
granito arredondados e de diferentes tamanhos. A aresta com
a forma de parede exclusivamente formada dum agregado
de blocos gigantescos. O maior deles, o melhor indicador do
vale do Zzere, at Manteigas, elevando-se acima do terreno,
o Poio do Judeu, que mede cerca de 4 x 5 x 1 2 m. num
volume aproximado de 15o m. c. (foto 6). Todo aqule de
psito a moreia de fundo e a situada por cima a moreia
lateral do velho glaciar do Zzere. Ela est, como j disse,
a 1620 m. (2) de altitude, e mostra que o glaciar tinha aqui a
espessura aparente de 3oo m. e um declive de 1:7.

(1) Riegel em fr. verrou, barrage (Haug), esp. umbral (Navarro).


(2) Repetidas medidas pelo barmetro e pelo nivel. O vero da pe
nnsula com semanas seguidas de presso constante presta-se a boas
medidas baromtricas.
Est. III

(26)
27

soberba a vista que se disfruta de cima desta moreia


lateral (foto 7). uma das mais belas e mais regulares
cales ou vales em U (1) que existem. O desenvolvimento re-
ctilneo deste enorme vale deve ser, pelo menos em parte, um
sinal indicador do seu traado tectnico, pois que o mesmo
sucede em todos os vales portugueses da mesma origem (ver
adiante). A profundidade da cale , pelo menos em parte,
a consequncia da aco fluvial pr e interglacial. Ela con
tinua para baixo de Manteigas naqule sistema de vales enta
lhado, ou em V (2) do Zzere, paralelos s montanhas, que
no lado SE do p da montanha tem rasgado e consumido as
antigas extenses planificadas; e a extremidade inferior da
cale no mostra aqui nenhuma queda de retrocesso.
Raras vezes aquela forma de vale est completa no meio
de rocha firme. Como se v na foto 7 as suas paredes
esto cobertas com uma extensa moreia que frequentemente
tem a forma de taludes, estendida ao longo da encosta. As
aberturas mostram porm que esta muitas vezes delgada.
Ela esconde fracamente a forma acima posta a descoberto.
A forma de cale no se estende mais alm do ponto onde
chegou o glaciar. Falta em todos os rios portugueses que no
tiveram glaciares. pois uma obra do glaciar do Zzere.
E possvel seguir a moreia marginal direita com o seu
sco de moreia basal (3) por cima da margem da cale, na
qual no h interrupo por vales laterais (foto 7). Abaixo
dos Poios Brancos a sua aresta est apagada devido eroso
post-glaciria, pelo contrrio abaixo do Curral da Nave, ela
bem evidente na cota de 13oo a 1200 m. (carta n. 2). A

(1) Trog.; fr.: auge; em esp. artesa glaciar. Nestas lnguas apro
veitaram a semelhana do tal vale com artesa ou maceira embora estes
sejam fechados nos topos. Preferimos por isso cale ou calha que aberta
nos topos.
(2) Kerbtal.
(3) Grundmorane.
28

moreia lateral esquerda em parte est conservada, porque deste


lado afluem vrios vales laterais tambm com glaciares. Ao
S do Vale da Candieira, abaixo do Cntaro Gordo, est a
1600 m. uma moreia mdia com a forma de parede, a qual
naturalmente desapareceu ao entrar o glaciar da Candieira no
Zzere. A parte superior da margem da cale do Zzere coin
cide com a moreia lateral, como mostrou tambm Davis nos
exemplos americanos (1), e como frequente nos Alpes Cal-
creos (2), enquanto que nos Alpes cristalinos entre a margem
superior da cale e o limite superior do glaciar intercalam-se as
espaldas da cale (3). As extenses planas que se veem es
querda e direita por cima da aresta superior do vale do Zzere
so antigas superfcies de eroso, e no as espaldas da cale.
O glaciar do Zzere obtm atravs dos j referidos vales
laterais da esquerda uma srie de afluentes (4). Os vestgios
da glaciao esto bem evidentes no mais notvel dles todos,
o vale da Candieira. H duas lagoas intercaladas na escada
gigante de rochas aborregadas que do planalto vem para NE:
a lagoa da Salgadeira e a da Paixo (5). Um pouco mais
abaixo, perto do fundo do vale h rochas aborregadas dum
claro brilhante com faces polidas na direco do vale, E 20o
S. O vale da Candieira tem na sua parte final um fundo de
aluvio que mostra a existncia duma antiga lagoa, com crca
de 600 m. de comprimento e desagua por ltimo no Zzere
por um degrau coroado por uma barragem com crca de 200 m.

(1) Por ex. em Grundzugen der Physeogeographie de W. M. Davis


und G. Braun, Leipzig und Berlin, 1 9 1 1 , pg. 262 e seg.
(2) L. Distels Gantztalige Trogtler.
(3) Trogschuller, em fr. epaulement, esp. hombrera. Refere-se s
duas margens que ficam acima e para fora do U, s vezes em terraos.
(4) No posso afirmar se o glaciar que desceu pelo valeiro entre o
pico 1539 e 1585 metros atingiu o glaciar do Zzere.
(5) Segundo a lenda foi nela afogada a Santa Antonina. L. M. Mar*-
recas Ferreira, j cit., pg. 100.
29

de altura. Os seus vizinhos do N tm tambm confluncias


em degraus (ou vales suspensos) (1) que em parte so acom
panhados de quedas de gua. -me impossvel separar em
dois nveis diferentes estes degraus de confluncia, para con
cluir daqui uma dupla glaciao, como fz Fleury(2).
O fundo da cale do Zzere no mostra nenhum degrau
importante em rochas firmes, pondo de parte aqule que fica
abaixo do plano de 1300 m., j de si pouco pronunciado. O
maior declive da queda de gua um pouco acima das Caldas
de Manteigas originado pela formao de amontoados cni
cos de blocos cados (3) e uma segunda queda situada 3 km.
mais longe, a consequncia dum desabamento de rochas
vindo da encosta do Curral da Nave. O maior bloco desta
queda chama-se Lapa do Carilho. Onde o regato do vale da
Candieira se une com o Zzere, na cota de 11oo m. estende-se
no flanco esquerdo do vale, com 5o m. de altura, uma moreia
estadial do glaciar do Zzere (4). Abaixo das Caldas de Man
teigas, ainda no mesmo alinhamento do largo e profundo vale
de Alforfa-Zzere a forma de cale torna-se insignificante.
Dominam a paisagem os enormes cones de blocos cados, hoje
em grande parte disfarados, sobre um dos quais fica situada
Manteigas, assim como gigantescas acumulaes de blocos
estendidos ao longo da base da encosta, que desceram do
Monte de S. Loureno, a 1160 m. Abaixo dles aparecem ainda
aqui e alm moreias do fundo. O ponto mais baixo destas
moreias est, segundo Vasconcelos, perto da fbrica de S. Ga
briel, no lugar- chamado a Vargem do Crasto a 600 m. de alti-

(1) Stufenmundungen.
(2) Sur les anciennes glaciations, etc., j cit., pg. 601.
(3) Schuttkegel.
(4) Esta visvel na fotog. n. 7; lanando a vista pelo vale abaixo
a primeira mancha sombreada que se descobre no fundo do vale. O lugar
chama-se Apertado. Vasconcelos fotografou a moreia e descreve-a
cuidadosamente.
30

tude. Embora falte uma moreia terminal, eu indico aqui o


fim do glaciar do Zzere. Aqui sai o vale do granito em linha
recta para o xisto (1). Se o glaciar tivesse ido mais alm,
devamos encontrar nas encostas do xisto blocos errticos de
granito, o que no acontece, segundo me parece.
Aqui acaba, truncado tambm, o sistema do vale Zzere e
Alforfa. O Zzere transpe aqui num estreito vale em V as
alturas do Curral da Nave (113 o m.), S. Loureno, Corredor
do Mouro, e depois continua num novo vale paralelo mon
tanha o de Sameiro. Por ltimo v-se um terrao de rochas
inicialmente com 20 m. de altura acima do rio, o qual junto
da aldeia Vale de Moreira mergulha por baixo de aluvies.
Faltam terraos pedregosos flvio-glaciais. No prolongamento
S. do vale do Sameiro mostra o regato que corre do Curral
da Nave para NE um grande aprumo da queda do seu curso
mdio, formando uma pitoresca garganta denominada Poo
do Inferno. Aqui tem lugar o contacto do granito com o xisto
o qual est transformado numa dura corneana. Neste ponto
no h vestgios de corroso glacial.
O vale circular da parte superior do vale de Alforfa, cha
mado Covo das Vacas, est cercado por paredes rochosas.
O glo que descia, quebrando-se, do planalto da Torre, traou
nas paredes rochosas rigolas aprumadas. O solo dste Covo
uma terra spera formada de blocos lascados e restos de
moreias.
No ponto onde atinge o vale Zzere-Alforfa, a 1400 m.,
misturam-se stes blocos com duas largas moreias terminais
estadiais (foto 8).

Chama-se Covanda Mulher a plancie de pastagem entre as


duas moreias. A moreia terminal que fica no vale, mais para
fora, coroa uma barra (barragem) em degrau de granito com

(1) A carta geolgica coloca este limite mais abaixo.


Est. IV

( 30)
31

1oo m. de altura, a qual conduz Nave de Areia. Por cima,


sobre estas moreias estadiais e perpendicularmente a elas es
tende-se a moreia lateral esquerda da mxima fase da ltima
glaciao (foto 8). Ela apoia-se como uma parede na base SE
do Espinhao de Co a 1620 m., e atravessa o vale Zzere-
Alforfa 200 m. acima da Nave de Areia. Abaixo de Pederice
(1756 m.) ela ainda reconhecvel, como uma regio em de
graus rasgados por enormes fendas, desaparece pore'm abaixo
da camada dos gigantescos e aprumados blocos, que se esten
dem desde o pico deste monte at ao regato de Alforfa. Toda
a subida da Nave da Areia at aresta da encosta formada
s de moreias.
A moreia marginal esquerda do vale de Alforfa e a direita
do Zzere correspondem-se simetricamente. Ambas atraves
sam o vale Alforfa-Zzere numa curva cncava para fora, e
transformam a parte do vale compreendida entre elas, numa
bacia fechada que outrora deve ter sido uma lagoa. Hoje
constitui uma plancie arenosa de aluvio com cerca de 1 km.
por 1/2 km. chamada Nave de Santo Antnio (foto 9)(1) com
1530 metros de altitude na sua margem N.
E desconhecida a espessura dos aluvies debaixo da Nave.
A barra de rochedos por cima da Nave de Areia desaparece
na altitude de 1400 metros por debaixo da moreia do Alforfa,
e representa o resto do bordo ocidental prglacial, do vale
Zzere-Alforfa. A elevao por meio dos depsitos sucessivos
pode ter atingido mais de 100 metros. Hoje a moreia mar-,
ginal do Alforfa contm a linha de separao das guas entre
a parte N e S do vale, constituindo-se tambm aqui uma por
tela.
A parte W da montanha domina a Nave sendo cerca de

(1) Devo a foto n.9 amabilidade do Sr. Dr. P. Vosseler porque


se estragou a minha tirada da mesma paisagem. Todas as restantes sao
minhas.
32

4oo metros mais alta, e a parte E ainda com 1oo a 15o m.


Nos tempos preglaciais foi mais ntido o carcter da portela de
S.t0 Antnio. O que fica ainda enigmtico a extensa acumu
lao de blocos gigantescos que enchem o canto NW da Nave
de S.t0 Antnio na unio com a moreia marginal do Zzere.
O vale de Alforfa abaixo da Nave da Areia no apresenta
a bela forma de cale que se v no Zzere, porque o seu gla
ciar era muito mais estreito, e delgado, e porque a intemprie
postglacial lhe alterou bastante a sua forma. A subida da
Nave da Areia est fechada por dois montes de blocos apoiados
na encosta e que se ligam um ao outro.
Na proximidade do Terroeiro e na Torre da Picota de
S. Pedro encontram-se, na vertente direita, muitos valeiros
suspensos, cujos glos alimentaram o glaciar de Alforfa. Para
baixo apresenta a mesma vertente uma moreia estadial, a qual
acaba na ribeira de Alforfa, na cota de 1100 m.
Entre o Terroeiro e o pico 1541, encontra-se para o N, no
planalto, um novo vale circular. A base dste vale de fundo
aprumado encontra-se na cota de 13oo metros. V-se aqui
uma lomba donde sai a moreia estadial, do lado esquerdo.
Dste vale circular desce para o S o glaciar da Estrla, num
leito abrupto ainda interrompido duas vezes. A sua moreia
lateral direita encontra-se entre os 1000 e os 800 metros.
A aldeia de Unhais assenta sobre uma encosta abrupta,
que sobe para o N, e formada por um amontoado de blocos
soltos de granito, meio arredondados, e cada vez maiores,
caminhando para o N, chegando at a ter 2 metros de dimetro.
So envolvidos por um meio arenoso. Esta colina foi cortada
pelo ribeiro de Alforfa. Este amontoado termina na cota de
700 metros, no balnerio de Unhais, e cerca para o lado da
montanha uma superfcie de aluvio. Esta colina um cone
de transio de origem flvio-glacial, e esta plancie foi uma
antiga bacia. E ainda ponto de dvida se terminava aqui s
o glaciar da Estrla, ou a juno dos dois. A favor da pri
33

meira hiptese est a existncia duma pequena bacia no vale


de Alforfa, 1 km. acima do balnerio, a qual est separada da
outra por um esporo de 1oo metros de alto. O ribeiro de
Alforfa corta este esporo um pouco antes da sua parte final,
deixando assim isolada uma pequena elevao. Isto significa
talvez que o glaciar do Alforfa terminava 1 km. acima do
balnerio de Unhais, e levava a sua descarga um pouco mais
abaixo do fim do glaciar da Estrela, mais comprido que o de
Alforfa.

A distribuio dos taludes do planalto da Torre, a que


atraz nos referimos, tornava impossvel que o gelo descesse
pelo vale do Alvoco. Este facto actua juntamente com a desfa
vorvel exposio SW, assim como a falta de picos na sua
vizinhana. Este vale de Alvoco no corta a parte mais alta
da serra, mas unicamente a sua encosta SW. Isto deve ter
tornado muito reduzida a glaciao nesta regio.
As superfcies polidas das rochas deixam supor que no
ramo. principal do vale, situado a NE, deve ter existido um
glaciar suspenso, que descia at cerca de 1.000 m.
A glaciao no vale de Loriga deve pelo contrrio ter sido
imponente, pois para isso apresenta favorveis condies oro
grficas, pertencendo-lhe na parte alta da serra qusi toda a
regio que vai at cota 1.800 m. Emquanto que o vale do
Zzere se compara ao vale de Urseren, o vale de Loriga com
para-se ao Oberhasli.
De E, N e S desce-se da antiga superfcie de eroso e para
as origens do vale de Loriga, reconhecendo-se a um fim
de vale(1) pr-glacial.
As nascentes do ribeiro de Loriga seguem grandes valei
ros cavados suavemente naquele nvel C. O ramo principal
do vale est cavado em ntidos e numerosos degraus cada vez

(1) Talschlusz, em fr. valle aveugle.


34

mais acentuados, para baixo daquele nvel C, e os vales late


rais mais pequenos tm confluncias em degraus (1). Nos
diferentes degraus do flanco S ficam as lagoas j descritas
a pg. 24. A maior parte dos degraus do vale principal
so aprumados, verticais nalguns pontos e formados na rocha
nua. As superfcies dos degraus so planos de aluvio, arrel-
vados, e representam antigas lagoas, que se dispunham em
srie como as pe'rolas de um colar. Os degraus so tambm
barragens na maior parte. A semelhana das encostas les con
tm grandes blocos aborregados com o mesmo aspecto dos
alpinos (veja pg. 19).
A montante (2) mostram-se enormes superfcies polidas e
estriadas na direco do vale, tam perfeitas que brilham com a
luz do sol. Os arbustos Erica arbrea e Juniperus nana so
mente nalgumas fendas podem lanar raizes, ficando os blocos
inteiramente escalvados. Em diversos pontos encontrem-se
restos de desabamentos que cairam das encostas do vale. A
lapa (3) que um s dstes blocos forma abrigou j uma vez se
tenta pessoas que a pernoitaram. So os seguintes os nomes
e cotas dos degraus : Plancie da Capela (1.750 m., o resto do
fundo do vale pr-glacial). Covanda Lameira 1.700 m. Co-
vanda dos Meios 1.750 m. Covanda Nave 1.5oom. Covanda
da Areia 1.430 m. Garganta de Loriga 1.430 m., a qual tem
um perfil em forma de caixa talhado na rocha firme. E aqui
que termina a parte superior do vale de Loriga. Fica situada
entre o pico aprumado da Penha do Gato (1.768 m.) e a Penha
dos Abutres (1.813 m.), os quais representam a extremidade
ocidental da superfcie C, numa face aprumada, com a qual
termina para W a Serra da Estrla. Vista de l ela parece

( 1 ) Stufenmundungen.
( 2 ) Luvseite.
( 3) Hohlraum.
Est. V

(34)
35

um buraco a meia altura desta parede aprumada. Para baixo


segue-se uma escarpa de 400 m. de altura.
Na cota de 1.000 m. aumenta o aperto desta garganta para
dar origem a uma espcie de bacia na cota de 800 m. Este
degrau uma consequncia da diferena de resistncia entre
os granitos e os xistos. Segundo a minha opinio esta dife
rena a causa da queda a W e SW da parte grantica da Es-
trla, em frente do macisso xistoso da serra do Aor (pg. 15).
O degrau abaixo da garganta fica porm ainda no granito,
o qual s a W de Loriga, passa ao xisto. O degrau fica as
sim crca de 3 quil. para E do contacto do xisto e granito.
O corte da ribeira de Loriga na subida para a escarpa apru
mada acompanhado dos dois lados por uma imponente mo
reia (foto 11). Do lado esquerdo, a partir de 1.200 m. a ver
tente contm uma enorme sementeira de blocos. Uma grande
moreira lateral se estende a partir da sua margem, superior
.a 1.000 m., na regio chamada Boqueira. A margem interior
e exterior desta moreia formada por calada de enormes
blocos de granito de arestas desfeitas. As aberturas mostram
que os blocos cinzentos, devido aos lquenes, tm uma delgada
capa amarela de produtos de intemprie, e mergulham numa
farinha amarela. A partir de 1.200 m. a moreia lateral di
reita tem o aspecto de uma parede.
A 1.100 m., na Terra da Raposa, esta parede tem 15 m. de
altura. Neste ponto a moreia constroe um prolongamento do
vale. Veem-se nela alguns biocos gigantescos com o dobro
da altura da casa da antiga Quinta da Raposa. As duas mo-
reias laterais aproximam-se uma da outra de forma a deixar
bem evidente o fim do antigo glaciar de Loriga o qual fica
situado um pouco acima da ponte por onde passa o caminho
que, por cima do rio, vai de Loriga a Alvoco, 1 quil. acima do
meio da aldeia.
Na extremidade do antigo glaciar existe um terrao de ro
chas, nivelado, que d passagem do granito aos xistos. Sobre
36

le assenta qusi toda a aldeia de Loriga. Tanto a ribeira de


Loriga como o afluente que vem da Penha do Gato abriram
nle uma passagem com uma profundidade de ioo m. que
ainda se nota pelo vale abaixo, que em meandros segue atravs
dos xistos, e que se vai progressivamente alargando. No apa
recem vestgios de depsitos fluvio-glaciais.

A glaciao na vertente NW da Serra da Estrela, na re


gio do Rio Alva, inteiramente diferente da das vertentes
estudadas at aqui.
Naquelas vertentes seguiam os vales dos glaciares que
desciam do planalto, ao passo que na regio do Alva as coi
sas so diferentes, como se v no mapa n. 2.
O vale do Covo Grande est encaixado entre montes que
vo at cota 1.862 m., e os do Covo do Urso atingem a
cota de 1.720 m., no Curral do Martins. Resulta daqui que
os glaciares dstes vales se apresentam como lnguas muito
curtas nos modernos cortes da vertente NW, terminando res
pectivamente a i . 2 5 o e 1.35o m.
Acima das extremidades superiores daqueles cortes ficam
as origens dos vales do sistema do Alva (Vale do Conde, Covo
do Urso, Covo do Vidoal e Covo Grande), cavados a crca
de 100 a 200 m. no sistema dos planaltos.
A espessura do glaciar excedia porm a altura dste corte ;
o glo passava por cima das rochas que separam os vales
e formava uma massa nica que, vindo da altura da Pedreira
(1.642 m.), se dividia para as duas lnguas. O movimento do
glo do fundo no seguia por toda a parte a actual direco
das vertentes. F. d e V a s c o n c e l o s avaliou no Covo Grande,
acima da Lagoa Comprida, a direco das estrias no valor m
dio de N31 W, a direco do Vale em N 88 W, constatando
assim uma diferena de direco de 57o (1). O glo do fundo

(1) Traces d'actions glaciaires, j cit., pg. 194.


Est. VI

(37)
37

do glaciar do Covo Grande era obrigado a subir obliqua


mente o flanco direito do vale, evidentemente porque o glaciar
do Covo Grande foi mais fortemente alimentado do S (Rodeio
Grande. P. 1862, P. 1855) do que do NE (Canariz 1.710 m.)
de forma que a direco da queda da superfcie do glaciar
desvia-se fortemente da do fundo do Covo.

Da encosta do planalto do Rodeio Grande desce-se para o


Covo Grande por enormes socalcos de cabeos aborregados.
Desaguam neste Covo, em degraus, alguns pequenos vales
laterais. Num destes vales, enquadrada em tais blocos, est
a Lagoa Escura (1.765 m.) com 12 m. de fundo (1), e no ex
cedendo 100 m. na sua maior dimenso.
No flanco direito dste Covo notam-se estes cebeos abor
regados, com a caracterstica forma alpina, pois que, subindo
o glaciar, os despenhadeiros aprumados ficaram imperfeitos
do lado da juzante(2).
J na encosta N do Canariz eles voltam a aparecer com
nitidez. O fundo do Covo Grande na sua parte oriental
uma plancie de aluvio, pantanosa, e no seu tero ocidental
estende-se a Lagoa Comprida (1.525 m. 1 quil. de comprimento
e 14 m. de fundo), a maior de todas as lagoas da Serra da
Estrela.
Tanto esta como a sua vizinha do Norte, a Lagoa da Fa-
bas, que tem metade do comprimento daquela, so as nicas
lagoas de vale at hoje conservadas, pois que ambas preen
cheram bacias rochosas colocadas acima dos degraus das bar
ragens. As suas extremidades esto exactamente naqueles
pontos onde os altos vales que as contm, com forma alterada

(1) Devo ao Sr. A. Marques da Silva, o proprietrio da Empreza Hi-

dro-Elctrica da Serra da Estrela, os dados sobre ai profundidades das la-


goas.
(2) Leeseite.
38

pelo glo, correm, em geral, numa vertente de taludes apru


mados, como a do NW da serra, de forma que a diviso por
vales desta ltima aqui reduzida ao mnimo. A. seco abaixo
da Lagoa Comprida est coberta por rochas aborregadas,
sem vegetao, como os que a fotografia 10 mostra(1).
Na Altura da Pedreira, a 1.640 m., assenta a moreia direita
do glaciar do Covo Grande. Passa no pico do Coxaril (1.414 m.)
e desce aprumada at ao vale de eroso que vem da Lagoa
Comprida, em Cania. A encosta interior da moreia lateral
est coberta com uma sementeira de blocos qusi atingindo a
Lagoa da Fabas. Sobre a parte aprumada do vale que fica
acima desta lagoa encontra-se a 1.600 m. uma antiga bacia
circular, hoje aterrada, chamada Lagoa Sca, a qual est cer
cada por uma moreia estadial.
Seguindo daqui pela linha de separao das guas entre o
Covo do Vidoal e o Covo do Urso encontra-se abaixo da
escada de rochas aborregadas do Canariz uma ltima lagoa
qusi Circular, com 3oo m. de dimetro, chamada Lagoa Re
donda. Cota 1.55o m. e 10 m. de fundo. Ela fica tambm
situada sobre uma barragem com 100 m. de alto, e que abaixo
conduz ao extenso plano do Covo do Urso.
V-se um pouco mais abaixo, e um pouco acima de um
vale lateral que vem da esquerda, um salto na rocha. No
ponto de unio do Covo do Urso com o Vale do Conde, 11a
cota 1.400 m., o vale mostra um alargamento em forma de
bacia, fechado por um cabeo rochoso arredondado. Da para
baixo comea o vale serrado pelo ribeiro. A moreia lateral
que desce das Penhas Douradas, pico 1.615 m., ao N do Vale
do Conde (foto 3) tam semelhante moreia direita do gla
ciar do Covo Grande que se confundem. J a descrevemos
ao princpio (pg. 20) tendo assim completado o circuito com-

(1) M fotografias- destas rochas em Formes de dsagrgation etc., j


cit., Fleury, Est. IV, 14 e as do Covo em Vasconcelos Est. II e III.
39

pleto da antiga glaciao da Serra da Estrela. Vamos ainda


insistir sobre o Vale Zzere-Alforfa.

Passemos agora uma vista de conjunto ao aspecto fisio-


grfico da Serra da Estrela, por meio da carta 2, onde pro
curo representar as superfcies diluviais do glo, por meio de
isipsas com a equidistncia de 5o m. Na representao do
planalto e da encosta NW torna-se necessria a representao
por esta grande distncia das curvas hipsogrficas. Em quanto
que nos vales se pode determinar o limite superior dos glacia
res por meio das moreias laterais marcadas sobre a carta, e com
grande preciso, naquelas regies faltam-nos marcas para a
determinao da espessura dos gelos. A hiptese admitida de
uma espessura entre 9 e 59 m. para o pico mais alto (1.997 m.)
contm de-certo a verdade. As isipsas esto marcadas de
forma que a sua direco perpendicular direco das estrias
das rochas, emquanto no h base segura para a existncia de
superfcie de desgaste, e em segundo lugar tomando em conta a
forma da superfcie das terras. Naturalmente esta reconstru
o vai, como a de cado fragmento, com incertezas a cada
passo, e ainda vo marcados na carta alguns pontos de inter
rogao. Um dia vir em que se chegar a um conhecimento
mais perfeito destes factos; podemos pore'm estabelecer sem
dvidas os traos gerais da glaciao desta serra.
A comparao da extenso dos glaciares da Estrela, como
foram descritos at aqui, permite-nos mostrar a importncia
dos glaciares quaternrios.
Esta extenso atinge na direco Zzere-Alforfa o mximo
valor, 17 quil., com unicamente 12 quil. na direco perpendi
cular. Tomando as medidas a partir do centro do planalto
obtemos para os diferentes glaciares o seguinte quadro:
4o

Mostra o mapa n. 2 a alta importncia do Vale comum


do Zzere e Alforfa para o estudo da glaciao. E nele que
aparecem as duas maiores lnguas glaciares, e que mais bai
xas descem, sendo mais notvel o glaciar do Zzere. A razo
disso parece-me estar no seguinte : mostram as observaes
feitas no observatrio Meteorolgico da Serra da Estrla, si
tuado a 1.388 m., um pouco ao N do Sanatrio de Manteigas,
41

que em todo o semestre do inverno dominam os ventos tem


pestuosos entre W e NW. Na segunda dcada de Dezembro
de 1914, por exemplo, houve uma velocidade mdia do vento
de 59,5o quil./h contra 21,76 quil./h na cidade da Guarda,
situada a 1.039 m. na parte NE da serra. A frequncia do
vento de W foi na serra, neste perodo, 23%, e a do vento de
WNW 47%, emquanto que na Guarda 10% e 3% respec
tivamente. Estes ventos tempestuosos devem arrastar para o
lado oriental grande quantidade de neve cada do lado oci
dental.
De facto a espessura da neve no lado oriental tam grande
que em muitos anos permanece nas partes mais fundas dos
cntaros a mancha de neve, e provvel que a mesma relao
tenha existido no perodo glacirio. Uma parte, e no pequena,
do glo que correu no vale Zzere-Alforfa deve ter cado na en
costa ocidental.
Na extenso do glaciar do Zzere sucede que o fundo, desde
Albergaria at s Caldas, mergulha lentamente, de forma que
a sua face superior, sobre toda esta extenso, est muito perto
do limite climtico das neves, e sofre por isso uma pequena
ablao, oferecendo alm isso aos gelos arremeados uma
crista paralela na extenso de 6 quil. e sendo ainda alimen
tado por muitos afluentes.
A encosta NW teria uma menor glaciao, porque, como
j foi indicado, uma parte da neve da sua rea de alimentao
teria sido roubada, resultando daqui que uma extensa rea
atacada pela fuso junto do limite das neves. O glaciar de
Loriga estando pelo contrrio cercado pelos dois lados pelas
cristas de 1.800 m. pde ainda produzir uma lngua de 4 quil.,
embora fosse arrastada alguma neve da sua parte mais orien
tal. Uma parte desta perda foi talvez restituda ao seu flanco
N pelo vento NW.
Notam-se os mesmos fenmenos na distribuio da glacia
o na regio da pennsula que para oriente se segue, isto ,
42

para W da Serra de Gredos, no macisso de Trampal-Calvi-


tero. Para a bacia de Bejar, a NW, dirige-se uma parte dos
glaciares suspensos, curtos, e que terminam a 1.540 m.; o lado
oriental pelo contrrio mostra dois glaciares de 3 quil. cada,
que atingem a cota de 1.3oo m. J. Carandel atribui esta
desigualdade reflexo da grande bacia de Bejar (1), explica
o pouco clira. O. Schmieder pelo contrrio, a quem se deve
o primeiro estudo sobre a glaciao da Serra dos Gredos atri
bui tambm este facto aco do vento NW (2).

H uma certa analogia entre os glaciares da Serra da Es


trla e o tipo dos glaciares noruegueses cuja formao o
glaciar de Fjeld. Richter descreve-o da seguinte maneira (3):
Uma calote de glo sobre uma base um pouco abobadada
como regio de alimentao, um largo p de glo (4), que
muitas vezes pende como uma cobertura nos vales vizinhos,
mas a maior parte das vezes se estende sobre as prprias al
turas de Fjeld, como regio de fuso.
Os nossos glaciares da Estrla distinguem-se dstes prin
cipalmente pela formao de uma extensa lngua, h porm
em geral a calote de glo. Este facto traz porm comsigo a
grande dificuldade de determinao do limite das neves nos
tempos glacirios. E. Richter determina o limite climtico
das neves do glaciar noruegs de Fjeld, procurando o limite
sobre os glaciares e sobre as elevaes rochosas que lhe
ficam muito perto, processo s aplicvel nos glaciares re-

(1) La Topografia glaciar del Macizo del Trampol-Calvilero (Be-


jar). Bol. Inst. Geol. Espana , 3.s srie, t. v, Madrid, 1924, pg. 73-96 espe
cialmente 95.
(2) D ie Sierra de Gredos. M itt. Georg. Ges M nchen X, 1915, H. 1,
pg. 34 d. sep.
(3) D ie Gletscher N orw egens. G eogr. Zeitschr . II, 1896, pg. 316.
(4) Eisfusz forma de glaciar s prpria das regies rticas.
43

recentes (1). Tambm regeitamos qusi todos os mtodos


usados nos Alpes para a determinao do limite das neves,
porque eles supem uma limitao natural para os glaciares
isolados por meio de um crculo de cristas (2).
Podamos, segundo Bruckner (3), determinar a altitude m
dia dste limite na Estrla procurando na fig. 2 a isipsa que
divide a rea total glaciada na relao 3: 1. E porm muito
duvidoso se a relao usada por Bruckner, nos Alpes, entre
a rea de alimentao e a de consumo que 3 : 1, seja aplic
vel aos nossos glaciares. E. Richter no glaciar de Jotunheim
tem a ideia que as duas partes do glaciar: a produtiva e a
consumidora, tm a mesma rea (4).
Fica pois para ns unicamente o mtodo usado vrias ve
zes por Penck e Bruckner relativo altitude da base das mo
reias laterais (5). Nos dois lados da Nave de Santo Antnio,
voltada para oriente, esta fica a 1.620 m. (pg. 26, 31). Na
encosta NW ela atinge i.65o m., e esta a encosta de onde
bate o vento das precepitaes. Devemos atribuir ao j citado
transporte das neves pelos ventos tempestuosos, o facto dela
nos dar mais 3o m. para limite das neves. O mesmo sucede
no Trampal Calvitero. Carandel d para limite das neves
nos glaciares expostos a NW 1.85o m., e 1700 m. para os gla
ciares dos vales diridos para E.
A. Penck tomando por base o trabalho de Vasconcelos ps,
em 1894, a questo de saber que altura teria o limite clim
tico das neves de um glaciar que terminava na Margem do
Castro e avaliou esta altura em 1.35o a 1.3oo m. (6). Na falta

(1) J cit., pg. Sop, etc.


(2) Kammumrahmung.
(3) Die Hohen Tauern und ihre Eisbedeckung. Zeitschr. D. u. O. Al
penvereins, 1886.
(4) J cit., pg. 318.
(5) Die Alpen im Eiszeitalter. Leipzig, 1909, pg. 170, 198, 4 1 1 .
(6) Klima Spaniens, j cit., pg. 135.
44

de outros trabalhos sobre esta serra, foram aqueles os nme


ros usados at hoje na literatura(1).
Est agora posto de parte que as moreias laterais situadas
na Nave de Santo Antnio possam corresponder a uma po
sio de repouso, a qual termina acima da Vargem do Castro.
O valor dado por Penck era assim 220 a 270 m. mais baixo.
Parece-me que o motivo le supor o contorno do vale
do Zzere muito baixo, isto , em 1.700 m., e que o circuito
de cristas, como h pouco se mostrou, no aplicvel ao
nosso caso.

Quanto ao facto do limite das neves persistentes dos tem


pos glacirios, na vertente oriental dos Cntaros, ser fixado
em 1.620 m. deve-se notar que a montanha atinge a E do vale
Zzere-Alforfa em frente aos Cntaros, no Curral do Vento,
a cota 1.655 m. e at 1.702 tn. nos Poios Brancos, e 1.756 m.
em Pederice, oferecendo tambm extensos planaltos que re
presentam um excelente campo de fornecimento de neves.
A-pesar-disso no encontrei a vestgio algum de movimento
de gelos.
Estes altos esto cobertos com uma forte camada de areia
grantica e mostram tpicas runas de castelos de rochas. O
Curral do Vento forma uma plancie coroada por um dsses
cabeos ; e os Poios Brancos mostram uma cadeia dles com
2 quil. de comprimento. Isto mostra que esta elevao teve
quando muito massas imveis de nevado (2), neves ou gelos, con
forme vai indicado na carta n. 2. A extensa faixa de blocos
que em linha recta se estende at Nave de Santo Antnio 1 2

(1) Em B. H. Obermaier, Eiszeitl. Vergl. Spaniens, j cit., pg. 161.


Los glaciares cuaternarios de la Sierra de Guadarrama, j cit., pg. 87.
Dados para la Climatologia etc., j cit., pg. 406.
(2) Firn, em francs nv, em espanhol neviza. Encontramos esta tra
duo em Elementos de Geologia, por Gonalves GUIMARIS, Coimbra,
1895, pg. 168.
45

(foto 8) considero-a eu uma pseudo-moreia, uma fila de blocos


que provm das runas de castelos e escorregaram at base
sobre um gelo sem movimento (pg. 22). Ao passo que a
principal crista ao N dos Barros Vermelhos, culminando a
1.720 m. ainda forneceu glo mvel; a parte de Pederice a
Poios Brancos, a-pesar-de se elevar at 1.766 m. no o forne
ceu. Resulta daqui que o limite climtico das neves daqueles
tempos, sobe nesta parte da montanha mais alto que na outra.
ste trao da fisionomia dos tempos glacirios tem o seu pa
ralelo ainda no clima actual.
A Serra da Estrela forma um escudo entre a regio oce
nica NW de Portugal, por um lado, e a regio continental de
SE por outro.
Vem-se muitas vezes na primeira parte nvoas, nuvens ou
precipitaes, chegando aos Cntaros e estao meteorolgica
da Estrla emquanto que continua a brilhar o sol em toda a
terra oriental, sendo bastante ntida a separao destas duas
regies. A estao da Estrla marca a maior quantidade de
chuva medida na pennsula: de 1902 a 1909 deu uma mdia
de 2:517 mm. Nos mesmos anos a estao meteorolgica de
S. Fiel (1) situada na parte oriental deu uma mdia de preci
pitaes igual a 810 mm., ou seja menos de 4/3 da primeira
estao.
A principal estao do Sanatrio de Manteigas desde a sua
instalao (1882) ainda no notou um ms de Julho ou Agosto
inteiramente livre de precipitaes. Esta oposio deve ter
existido tambm, embora em menor escala, nos tempos glaci
rios. Ela explica a diferena de intensidade de glaciao a
que atrz nos referimos.

No encontrei na Serra da Estrla vestgios de dois perodos


de glaciares. Abaixo dos pontos indicados na carta 2, como 1

(1) 4 quil. a oriente da margem das cartas 1 e 2.


46

extremos de glaciares, aparecem modernas ravinas de eroso,


nas quais dificilmente se poderiam conservar depsitos de um
perodo glacirio mais antigo. Um estudo metdico das pe
quenas bacias intercaladas na montanha abaixo de Unhais
daria talvez bons resultados. Fica j fora do meu intuito uma
precisa demonstrao de um maior mbito dos antigos glacia
res da Estrela, fundada sobre as velhas moreias e terraos de
acumulao de fragmentos.
O bom estado de conservao que apresentam os fenme
nos por mim indicados na carta 2 mostram que se trata dos
glaciares da maxima extenso do perodo Wurmiense. Tm
sido encontrados na pennsula importantes vestgios de duas
glaciaes diferentes: na Serra de Guadarrama (1) nos Picos
da Europa (2), nos Pireneus orientais (3) e nas prximas re
gies espanholas (4). No duvido por isso que tambm a Serra
da Estrela tenha tido outra glaciao.
Depois de termos fixado em 1.620 a 1.65o m. o limite cli
mtico das neves do perodo Wurmiense levanta-se agora a
questo: qual a sua depresso abaixo do actual limite.
H. O b e r m a i e r e a sua escola admitem para toda a penn
sula o valor de 1.200 m. medido nos Alpes. No decurso dos
ltimos quinze anos tem-se porm mostrado que o valor da
depresso varia com o clima. F. M a c h a t s c h e k ( 5) foi o pri- 1 2 3 4 5

(1) H. O bermayer y J. C arandell , GuadarramaMonografia, j


c it ., p g . 63 e s e g . e c a r t a .
(2) H . O b e r m a y e r , Estdio de los glaciares de los Picos de Europa.
Trab. Mus. Nac. Cienc. Nat., Ser. Geol. 9 M a d r i d , 1 9 1 4 , p g . 2 5 , 3 4 , 3 9
e seg.
( 3 ) F . N u s z b a u m , Das Riesenkonglemerat von Prades in den Ostli
chen Pyrenen. Eclogae geol. Helv., 1 9 2 6 e o u t r o s .
(4) W . P flanzer, Talentwickelung und Eiszeitklima im nordstlichen

Spanien. Abh. Senc keub. Natur. Ges 39. Bd H. 2. Frankfurt, a. n. 1926.


( 5 ) Die Depression der Eiszeitlichen Schneegrefe. Z e it s c h f. Gle-
tscherk. v m , 1913-1914, p g. 104-128.
47

meiro que o mostrou por induo. O mesmo se v nas tra


balhosas curvas dos limites das neves construdas por F. K lu -
tes (1). Nos climas secos aquela depresso mais pequena
que nos hmidos; nos hmidos trpicos menor que nas h
midas zonas mdias. Deve pois ser determinado para cada
caso isolado.
Para o interior da pennsula o valor de 1.200 m. certa
mente muito exagerado.
Visto que a Serra da Estrla no tem actualmente glacia
res, pode-se perguntar que altura deveria ela ter para atingir
o limite climtico das neves, ou no sentido de H. Louis (2),
a que altura est, sobre ela, esse limite das neves. A res
posta uma simples extrapolao, quere no sentido vertical
quere no horizontal. Segui para isso trs caminhos diferentes.
1 Nos Pireneus ocidentais o limite actual das neves est
nas cercanias do Pico de Anie em crca de 2.5oom.(3); nos
Picos da Europa P e n c k ( 4 ) supe-o um pouco abaixo de 2.600
m., emquanto Obermayer(5) o supe um pouco acima da m
xima altura do pico (2.672 m.). Tomemos o valor 2.65o m.
Os arredores da Serra da Estrla so no inverno um pouco
menos quente que os dos Picos. No centro de Portugal o ve
ro porm mais quente que ns Astrias. Em Oviedo a
temperatura de Agosto reduzida ao nvel do mar 18,9o em'
quanto o Observatrio da Estrla d 24,6o. Na prpria Torre

( 1 ) D ie B e d e u t u n g d e r D e p r e s s io n d e r S c h n e e g r e n z e f r e i s z e it l i s c h e
Problem e. Zeitschr. f. Gletrcherk. x v i , 1 9 2 8 , p g . 7 0 - 9 3 .
( 2 ) D ie V e r b r e i t u n g v o n G l a c i a l fo r m e n i m W e t s e n d e r V e r e in ig t e n
S t a a t e n . Z e it s c h r . f . Geomorph. II, 1 9 2 7 , p g . 2 25 .
(3) A. Penck, A l t e u nd n eue G letscher d er Pyrenen, keitschr. D,
u. O . A .- V . x v , 1 8 8 .4 , p g . 4 5 1 .
( 4 ) D ie P ic o s d a E u r o p a u n d d a s K a n t a b r i s c h e G e b ir g e . Geogr. Zei
tschr. III, 1 8 9 7 , p g . 2 7 8 .
( 5 ) Picos de Europa. Monographie j c it ., p g . 1 0 e s e g . e m Eiszeitl
Vergl. Spaniens, p g . 1 6 2 , d O bemrayer o l im it e 2 .6 0 0 a 2 .7 0 0 m .
48

nota-se s vezes uma temperatura surpreendente. A Expedi


o Cientfica Serra da Estrla mediu, com o seu observa
trio volante, na cota de 1.85o m., como mdia diria entre 6
e 18 de Agosto de 1881, nada menos que 18 , 6 ( 1 ) , o que daria
uma temperatura reduzida de 29,7o, Note-se pore'm que a ex
pedio teve lugar num vero anormal. Com esta elevada tem
peratura est ligada a grande pobreza de nuvens, emquanto
que os Picos esto muitas vezes cobertos com elas. Os Picos
ficam situados na provncia do clima ocenico oeste europeu,
emquanto a Serra da Estrla na provncia subeuropeia-sub-
tropical. Se por um lado estas condies tendem a elevar o
limite das neves sobre a Serra da Estrla, por outro lado a
grande quantidade de precipitaes do inverno, com a forma
de neve, tende a baix-la. Quanto riqueza em neves pode
mos aproximar os Picos da Europa da Serra da Estrlla.
Dos 2.517 mm. de precipitaes da Estrla cabem 1.809 (72%)
ao inverno, e podemos supor que esta percentagem cai como
neve. Parece-me porm que a aco do calor no vero excede
a aco da riqueza das neves de inverno, e sou poi isso levado
a atribuir ao limite climtico das neves da Serra da Estrla
um valor um pouco mais alto que o dos Picos da Europa, ou
seja o valor 2.760 m.
2. A agulha de 2.877 m. do Pico do Midi nos Pirenus
Centrais tem uma estao meteorolgica que nos permite de
terminar muito precisamente as variaes de temperatura no
limite das neves que fica 5o m. mais baixo. A temperatura
mdia anual 1,6o e a do ms mais quente 6,7o. Por
meio do gradiante de temperatura que se deduz das mdias
das estaes da Guarda e da Estrla calcula-se que sobre a
Serra da Estrla a 2.750 m. h uma temperatura mdia anual

(1) A. C. da S ilva, Relatrio da Seco de Meteorologia Exp. Scient.


Serra da Estrla, j cit., pg. 13.
49

de 1,6, e na altura de 2.800 m. atinge-se a temperatura


mdia do ms mais quente, igual a 6,7o.
Podemos assim colocar em 2.755 m. o limite climtico das
neves. Pode-se porm objectar que o pico do Midi est j numa
provncia climtica diferente.
Teramos porisso de fazer a comparao com o mesmo
tipo do clima, o qual se encontra na metade N. da Serra Ne
vada, da Califrnia.
Com os valores da Estao Summit (3g 1/2 N., 2.140 m.)
calcula Koppen (1) como sendo 1 a temperatura mdia
anual do limite local das neves, que le fixa em 3.400 m. A
temperatura mdia do ms mais quente calcula-a 8,5. So
valores mais altos que os do Pico do Midi, correspondendo
maior riqueza de neves da encosta W da Serra Nevada.
Daqui se deduzem para a Estrla os valores 2.53o m. e 2.660 m.
Estes nmeros da Califrnia tm porm o defeito duma grande
extrapolao, e les dariam para a Estrla valores mnimos
porque no inverno a riqueza das neves maior na Nevada
que na Estrla. Os valores tirados do Pico do Midi pare
cem-me pelo contrrio muito altos. Tomo porisso como limite
climtico das neves da Serra da Estrla a cota entre 2.600
e 2.775 m.
3. A cobertura de neve da Serra da Estrla comea em
mdia na cota 800 m. Em Sabugueiro (2.000 m.) dura em
geral 2 meses, no Observatrio Meteorolgico (1.400)5 meses
e no planalto da torre (1.900 m.) 8 1/2 meses (do meio de Ou
tubro ao fim de Junho) segundo me informou o Sr. Antero
Prata Manso, o observador da Estrla.
Se marcrmos como abcissas as cotas e como ordenadas os
meses de durao do manto de neve, forma-se uma curva
convexa para cima, que mostra que durao da neve cresce
mais depressa em baixo que em cima. Continuando com a

(1) Die Lufttemperatur an der Schneegrenze Pet. Mitt., 1920. Pg. 79.
50

mesma para a direita temos a abcissa correspondente aos


12 meses um pouco acima de 2.700 m. Nesta cota apareceria
assim a neve permanente na Serra da Estrela.
Certamente que cada um destes mtodos tem em si grandes

incertezas. Porm uns reforam os outros. Podemos assen


tar como certo que a superfcie do limite climtico da neve
na Serra da Estrla est entre 2.7oo e 2.800 m. O valor 2.750
deve ser o mais prximo da verdade. A depresso do limite
wurmiense assim avaliada em 1.100 m. Para os Picos
da Europa calculou O bermaier (1) o limite das neves da poca
wurmiense na exposio do N em 1.400 a 1.5oo m., dando
assim uma depresso de 1. 1 5 o a 1.250m.

No estudo do domnio dos glaciares da Serra encontrmos


alguns sinais de recuo dos glaciares, com a forma de moreias

(1) Pg. 32 dos Picos, Monographia.


51

estadiais que se dispem em 3 grupos: 1. no Apertado do vale


do Zzere a 1.100 m,; outra a 1.100 m. no meio do vale do
Alforfa; outra a 1.3oo na parte superior do vale da Estrla;
outra antes da Lagoa Sca a 1.600 m. 2.0 No Covo das Vacas,
por cima da Nave da Areia, a 1.5oo m. 3. No planalto cen
tral ao N. do Terroeiro a 1.800 m. O 1. grupo determina
um limite das neves de crca de 1.700 m., o 2.0 de crca de
1.800 m. e o 3. de precisamente 1.900 m. A primeira fase
encontra-se na Serra da Guadarrama onde pertence a uma
altura do limite das neves de 2 . i 3 o m., smente 80 m. acima
da mxima extenso dos glaciares wurmienses (1). A mesma
fase deve existir nas moreias de Bulnes, na regio dos Picos (2)
assim como nas moreias de recuo no vale de Pinar, na Serra
de Gredos(3). Tambm na Serra de Guadarrama se encontra
a segunda fase. O bermaier d-lhe um limite das neves que
est 170 m. acima do limite da fase wurmiense Seria po
rm rro querer igualar estas duas fases alpina de Buhl e
Gschnitz como fz O bermaier .
Estes exigem limites das neves que esto acima do limite
wurmiense, crca de 25% a 50% da depresso geral. A-
-pesar-da depresso total na serra da Guadarrama ser sem
dvida mais pequena que 1.200 m.,.aqueles 170 m.,no podem
certamente representar a metade daquele valor. Na verdade
o limite wurmiense est ainda 35o abaixo do pico, ainda afas
tado da superfcie do limite das neves.
A fase de Buhl unicamente representada pela mais alta
moreia de retrocesso da Estrla com a sua altura de limite
das neves igual a 1.900 m., 280 m.(=25% de 1.100) acima

(1) Guadarrama, Monographia, j cit., pg. 68.


(2) Picos da Europa, Monographia, j cit., pg 29, 35.
(3) H. Obermaier, Contribucion al estudio del glaciarismo cuaternrio
de la Sierra de Gredos. Trab. Mus. nac, Cienc. nat. Ser. geol., 14. Ma
drid, 1916, pg. 36.
52

do limite wurmiense das neves. Uma verdadeira fase de Gs-


chnitz devia representar a importante moreia terminal na base

da Pena Velha nos Picos de Europa. Todas as trs fases


da Estrla se encontram por ltimo na Serra de Urbion(1).
A superior com uma altura do limite das neves 25o m.,
acima do do tempo wurmiense, e tambm a a fase de
Buhl. As duas fases da pennsula fazem-nos lembrar que K.
T roll tambm notou nos Pr-Alpes alemes e na regio do

Drave uma pr fase de Buhl a qual le chamou fase de A m -


MERSEE () (2).

Estas comparaes sobre as fases de recuo na pennsula


tem ainda um ponto de visto comparativo, que agora apli
camos a uma questo da glaciao. E muito provvel, qusi
certo mesmo, que a montanha mais alta de Portugal era ao
mesmo tempo a nica que nos tempos glacirios estava pro
tegida por um manto de glo. A metade S do pas que
comea na base da Serra da Estrla no podia ter sido regio
de glaciares, pois que para o S aumenta o perodo de secura
e de calor, e cada vez mais, e decrece a quantidade total de
precepitaes, e unicamente as serras vizinhas da Guardunha
(1.223 m.) e S. Mamede (1.025 m.) excedem 1000 m. Pelo
contrrio, ao N. do Douro h condies mais favorveis para
uma glaciao.
H muitas montanhas ainda em terra portuguesa acima
de 1.400 e at 15oo m. com bastantes precepitaes, embora
no atinjam as da Serra da Estrla (Porto 1291 m., Monta-
legre 1.126 m.) com uma forte concentrao durante o inverno.
A folha 1 da carta topogrfica de 1:100.000 levou-me a ir

(1) J. Carandel y J. G. de Llarena, El glaciarismo cuaternrio en


los montes Ibricos. Trab. Mus. Nac. Sienc. Nat. Ser. geol. Madrid, 1918.
(2) K. Troll, Die BuckzugStadien der Wrmeiszeit im nrdlichen
Vorland der Alpen. Mitt Geogr. Ges. Mnchen XVIII, 1925. Pg. 281-292.
53

encosta NW do Pico (1.255 m.) numa parte da Serra de


Suajo, no Sul do Minho, em procura dum circo glaciar.
Encontrei l porm um profundo vale afunilado, de origem
fluvial, e um segundo mais antigo, esquerda, abaixo do Pico
1181. Tambm na Serra do Maro, na separao de Entre-
Douro e Minho e Trs-os-Montes, no encontrei vestgio gla
cirio algum. O seu cume estratificado, voltado para ENE
oferece unicamente ravinas de regatos. Nem mesmo as alturas
da Borrageira (1.431 m.) na Serra do Gerez ou na do Larouco
(1.538 m.) que tem entre 1.400 e 1.5oo m. um vasto planalto,
mostram o menor indcio da glaciao.
Nada mais h no N. de Portugal que exceda 1.400 m. E.
Fleury fala duma maneira clara das formaes glaciares que
observou na vertente meridional (!) do Gerez e no N. da Pro
vncia de Trs-os-Montes (1). Tudo me leva a crer que se
enganou. As pesquisas realizadas no N. de Espanha, vizi
nhanas de Portugal, esto inteiramente de acordo com os
meus resultados. O glaciar de Tera que desce na direco
SE de Moncalvo (2.048 m.) e de Pena Trevinca (2.13om.)
deixou moreias terminais a 990 e a 1.o5o m. que entulharam
o lago de Castanheda (2), e deixam supor um limite de altura
de neves de crca de 1.600 m. Devo ao Sr. P. Vosseler de
Basilea valiosos dados sobre as montanhas desta regio. Para
W de Moncalvo sai tambm um glaciar que deixou uma dupla
parede de moreia terminal, e permite calcular 0 limite das
neves em 1.65o e 1.760 m. Encontra-se um terceiro nas nas
centes do Rio Tuela; os seus limites das neves esto a 1.600
e 1.750 m.
O monte Mugo a-pesar-da sua altura de 1.738 no tem
sinal algum de glaciao. Para o N. da Penha Trevinca desce

(1) Sur les anciennes glaciations, etc., j cit., pg. 599.


(2) W. Halbfaso, Der Gastanedasee, der grszte Suszwassersee Spa
niens und seine Umgebung. Pet. Milt., 1913, II, pg. 3o6, 312.
54

o glaciar de Banha cujas moreias terminais do um limite das


neves desde 1.65o a 1.700 e 1.750 m.(1). Os ramos mais
orientais desta regio de glaciares eram, segundo P. V osseler ,
a Penha Negra ao S. de Truchillas com limite das neves em
1.800 e 1.85o m. de altura, assim como o de Teleno (1.700 m.).
Inclino-me a tomar o menor dos dois nmeros como o
limite wurmiense, das neves e considerar o segundo como
uma fase de retrocesso, e esta hiptese -me confirmada pelo
D r . V osseler . Tanto o grupo inferior como o superior destas
moreias mostram estarem completamente frescas. Desta ma
neira confirmada a harmonia climtica dos fenmenos gla
cirios que j em 1882 J. P artsch tinha notado na Europa
central (2). A superfcie do limite wurmiense das neves, de
harmonia com as actuais condies climticas da Serra da
Estrla (1.620 a 1.650 m.) qusi nada baixa daqui para 0 N.
Nas j consideradas Segundera e Cabrera est igualmente a
1.600-1.65o m. de altitude. Para o interior do N. de Leon,
mais seco, eleva se muito ste limite (Mugo- Penha Negra,
Teleno). Sobe ainda maior altura na Meseta de Castela-a-
-Velha, nas serras to pobres de precepitaes como a da
Demanda, de Urbion e Moncayo. J. C arandel e J. G. L la -
rena avaliam-no aqui em 1.950 m. 1.880 m. e 1.930 m. (3).

Ao N. de 42 1/2 de latitude, nas montanhas Cantbricas,


mergulha o limite climtico das neves wurmienses daqueles
1.600 m. do limite portugus para 1.400 a 1.500m. dos Picos
da Europa (pg. 47) e para 1.300 m. nos Pireneus ociden
tais. Abaixo de 42 1/2 N no h nas montanhas da pennsula
ocidental, o vero quente e seco. Montalegre (1.027) tem

(1) Veja F. Aragn, Lagos de la region Leonesa. Trab. Mus. nac.


Cienc. nat. Ser. geol. 5 Madrid, 1913.
(2) Die Gletscher der Vorzeit in der Karpathen und den Mittelgebir
gen Deutschlands. Breslau, 1882.
(3) Montes Ibricos-Monographia. Pg. 56 e seg.
55

ainda uma mdia de Agosto reduzida a 23,7o e uma mdia


dos mximos de Agosto, igualmente reduzida a 37,7o. Em
Julho e Agosto caem unicamente 3,6 /o das precepitaes
anuais.
Em Orense (144 m.) os nmeros correspondentes so 22,5,
39,5o e 4%, pelo contrrio para Santiago de Compostela
(270 m.) 20,8o 35,0 6,5%, assim como para a Corunha (27 m.)
18.9o 28,7 e 6,5%(1). O limite entre os dois tipos de climas
decorre assim entre Orense e Santiago.
Assim como o limite wurmiense das neves sobe da Serra
de Segundera e Cabrera, abaixo de 42o N, para o seco inte
rior da Pennsula, sobe le tambm entre 40o e 41o do prin
cipal macio da Estrela para a Serra da Guadarrama E o
que resulta do que vai dito adiante.
A Serra da Estrla forma assim um pilar de canto na
metade N da Pennsula Ibrica, para a glaciao Wurmiense.
A superfcie do limite wurmiense sobe, a partir daqtri
para E, com o aumento da temperatura do vero e da sua
secura, e fica horizontal para o N. enquanto os meses de vero
so secos e quentes. A regio da Serra Segundera e Cabrera
forma um segundo pilar. A partir daqui eleva-se aquela super
fcie precisamente como para o S e E; para o N baixa ela
fortemente no domnio do clima ocenico do oeste europeu.
A sua situao encontra-se por toda a parte em harmonia
com as condies do clima de ento.

(1) Os valores das precepitaes so de W. Semmelhack, Beitrage zur


Klimatographie von Nordspanien und Portugal 1 Teile. Die Niederschla
gsverhltnisse, Archiv. D. Seewarte, 1910, n. 2. Os valores das tempera
turas devo eu a uma amvel nota do Sr. D r . Semmelhack. Todos os va
lores se referem ao perodo 1861-1900.
56

VI

Resta ainda passar uma reviso sobre a morfologia da


regio glaciada da Serra da Estrla. No h dvida que as
grandes linhas da topografia da Estrla so devidas aco
sub-area, pois que elas se repetem no N. de Portugal, nou-

(1) J. Garandel, La topografia glaciar del Macizo del Trampal-Cal-


vitero, pg. 95.
(2) O Schmieder, Die Sierra de Gredos, pg. 30, 38, etc.
(3) Picos de Gredos, Monographia, pg. 39.
(4) Guadarrama, Monographia, pg. 68.
57

tras regies granticas no glaciadas, como as serras da Gra


lheira, do Gerez, do Caramulo e do Montemuro. Isto in
duziu em erro o topgrafo que desenhou a folha 14 da carta
de 1:100.000, que no era de todo inbil, o qual considerou
no fluviais os traos do relvo da Estrla.
O sistema de planaltos existente na Serra dos Cntaros,
em forma de andares, devido ao transporte sub-areo, e o
mesmo se d nas serras atrs enumeradas. E tambm de
origem fluvial o profundo vale rectilneo Zzere-Alforfa, pois
que abaixo de Manteigas e Unhais tem a forma tpica de vale
em V apertado em garganta. Unicamente em Unhais existe
acima da colina de transio uma plancie de aluvio qusi
horizontal que denuncia uma bacia baixa e pequena. So
frequentes em Portugal (pg. 16) tais vales rectilneos pro
fundamente cavados que seguem zonas de fractura tect
nica. O planalto da Torre que se segue imediatamente a
W do dito vale no podia ser formado sem a aco dos
recortes dos regatos torrenciais. Do mesmo modo os regatos
torrenciais do vale das Caldas do Gerez cavaram o macio
da Borrageira. Estes sulcos fluviais relativamente modernos
devem ser atribudos elevao das montanhas.
Ela foi atacada na aprumada encosta SE at sua parte
central. J o mesmo no sucede com vales pouco profundos
da encosta NW, na zona dos glaciares.
Eles j existiam antes da ltima elevao da serra. Ento
a eroso renovada por esta, consumiu-os a partir da encosta
NW, pouco a pouco. A W j est qusi terminada esta des
truio. S na regio das nascentes de Loriga h ainda restos
dos vales pouco profundos, cavados no planalto. Aqui a aco
fluvial exige um novo momento: Um rpido transporte do
manto xistoso da serra grantica que comea em Loriga, o
qual abaixa aqui a base de eroso 65o m., a 6 1/2 km. de dis
tncia Torre, em linha recta. A glaciao encontrou assim
na Serra da Estrla um relvo de transporte sub-areo forte-
58

mente organizado a E e W e fraco a NW, ao qual tinha de


se adaptar na sua fisiografia.
As transformaes que este relvo experimentou por esta
ltima aco so todavia bastante estranhas para o olho habi
tuado. Ela guarneceu as margens dos vales desde a base
oriental do planalto da Torre, com enormes moreias laterais
e deu uma base para uma acumulao qusi plana na Nave
de S.t0 Antnio. Afastou do seu domnio as runas de cas-
telos as quais qusi s unicamente se podem formar e pro
gredir nos raros lugares sem movimento de gelos, como no
planalto dos Poios Brancos, do Curral da Nave e em Pede-
rice (pg. 44 e segts.), mas tambm nas cercanias da Penha
de Abutres e Penha do Gato. Ela deu ao alto da serra to
estranhas e caractersticas rochas arrebanhadas, as quais so
formadas numa srie de tipos diferentes, e semeou os seus
campos de enormes blocos errticos (pg. 21). Criou o im
ponente vale com a forma de cale do Zzere. Este de ori
gem glacial a-pesar-da sua cobertura de moreias do fundo,
amontoados de blocos pela base da encosta e restos de
desabamentos (pg. 27). A glaciao falta em todos os
restantes vales portugueses que so desta tectnica, e acaba
em Manteigas exactamente acima da margem da glaciao,
wurmiense. A aco do glo na formao da cale mais
uma aco de alargar do que de afundar. Contrriamente
no mostra a existncia de vales suspensos, do lado esquerdo
do dito vale. Estas confluncias encontram-se condicionadas
pela existncia da diferente resistncia, nas vertentes do
vale das Caldas do Gerez. Porm o perfil largo e em
forma de cale do Zzere mostra seguramente uma aco
glaciria. E isto falta no vale das Caldas. O vale de Lo
riga mostra que uma parte da altura dos vales suspensos
se deve atribuir ao aprofundamento do vale principal, pois
que os seus valeiros laterais desaguam por altos degraus, e
porque aqui falta uma condio para o maior aprofunda-
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mento do vale principal, que a menor dureza das rochas.


A glaciao estendeu-se tambm queles funis torrenciais da
encosta oriental do planalto at ao vale. circular do Covo
das Vacas, dos Cntaros e do vale da Estrla, e deu-lhe uma
barra em degraus. Em detalhe, a existncia desta barra gla
ciar numa rocha sem dvida homognea da Serra da Estrla
menos clara do que nas outras montanhas glaciadas. Al
gumas delas, mas no todas, especialmente no vale de Loriga,
compreendem-se como degraus de confluncia. Outras peque
nas bacias fechadas por meio destas barras so bacias termi
nais de lnguas de glaciares estadiais. A principal glaciao
deixou atrs de si extensas bacias de lnguas no Covo do
Urso, acima de Loriga, e junto do Balnerio de Unhais, e
deu por ltimo a esta serra o seu rico ornamento de lagoas.
Estas lagoas esto em bacias de rochas e pertencem a trs
tipos. As mais pequenas so pequenas excavaes entre as
frentes das rochas aborregadas, muitas vezes sem uma cons
tante admisso e sada de guas, donde resulta o seu regime
varivel.
O segundo grupo est em bacias rochosas redondas,
situadas em degraus, e o terceiro so lagoas alongadas nos
altos vales. A ste grupo pertencem a Lagoa Comprida
e a Lagoa das Fabas. Ambas elas se encontram exacta-
mente nos pontos onde os vales suavemente inclinados, aca
bam nas aprumadas encostas do NW da serra, e por isso
saem divergindo aquelas correntes que seguem os altos vales.
Os degraus assim separados pertencem categoria de degraus
difluentes.
So stes os traos morfolgicos que a Serra da Estrla
deve sua glaciao, bem claros e caractersticos, mas porm
unicamente alteraes num relvo deformas sub-areas. ste
resultado final est formulado j por Penck h 47 anos em
os Alpes no perodo glacirio glaciao nos Alpes Ale
mes com as seguintes palavras: Se queremos comparar a
60

aco erosiva que a gua exerceu com a que exerceu o glo,


devemos atribuir gua a formao dos vales, e ao glo, pelo
contrrio, um pequeno alargamento dos mesmos, assim como
a formao de bacias locais.

ERRATA

Na pg. 25 e seguintes deve lr-se circo alongado e no vale circular


para a traduo de Talzirkus,

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