Medicamentos Ototoxicos e Ruido Ocupacional

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RELAO DOS MEDICAMENTOS OTOTXICOS E ATIVIDADES

LABORAIS

SERVILIERI, Kerly Maire1; REGAZZI, Rogrio Dias2 ; SARTORELLI, Elza Maria 3;


MINARI, Ariane Bocolli4; SARTORELLI, Edenir 4; LIMA, Leonardo Bernardes 5;
BASTOS, Snia Regina Valentin Santos 5; COSTA, Valter1 ; YONEZARI, Cristiane 6

1
Docente do Curso de Farmcia do Centro Universitrio So Camilo.
2
Docente de Ps-graduao em Segurana do Trabalho da UFRJ, PUC-RIO, UEPA.
3
Fonoaudiloga - Centro Universitrio So Camilo.
4
Hospital e Maternidade So Camilo do Ipiranga.
5
Discente do Curso de Farmcia do Centro Universitrio So Camilo.
6
Docente do Curso de Fonoaudiologia do Centro Universitrio So Camilo

Resumo:
O agente fsico rudo pode afetar o bem estar fsico e mental, e em forte intensidade
pode provocar perda auditiva. Diariamente as pessoas so expostas ao rudo em seu
ambiente de trabalho e, muitas vezes, alm da exposio a este agente, fazem uso
concomitante de medicamentos ototxicos, o que predispe a um maior risco de
surgimento de danos auditivos. Mesmo com todo o trabalho de preveno auditiva e
promoo da sade obrigatrios segundo as Normas Regulamentadoras do Ministrio
do Trabalho, o uso de medicamentos realizado pelos funcionrios, muitas vezes sem
orientao mdica, pode interferir diretamente na sade geral destes, deixando o
trabalhador mais susceptvel aos efeitos do rudo. A orientao realizada pelo
profissional farmacutico sobre os medicamentos que causam, como reaes adversas,
os efeitos ototxicos (cocleotoxicidade e vestibulotoxicidade), pode prevenir um
aumento na sensibilidade aos riscos de danos auditivos nos funcionrios expostos aos
elevados nveis de presso sonora (NPS) em seu ambiente de trabalho.

Palavras chaves: Frmacos Ototxicos, Perda Auditiva, Segurana do Trabalho.

1. INTRODUO
A exposio ao rudo em forte intensidade a principal causa de problemas auditivos
em adultos. Diariamente as pessoas so expostas a diferentes nveis de presso sonora
em seus ambientes de trabalho, sem ter o conhecimento dos danos e das leis que regem
o assunto. A segunda maior causa so as substncias ototxicas, poluentes ambientais e
alguns medicamentos, este trabalho cita os principais grupos medicamentosos
relacionados toxicidade das clulas do rgo vestibular e coclear.

O som fundamental para as relaes pessoais e sociais do ser humano. Na natureza


existem milhares de sons, alguns inclusive imperceptveis orelha humana. E a partir
destes sons ou do significado que eles transmitem, o ser humano reage de maneiras
diferentes. Ele pode significar alegria, alerta, medo e irritao. No entanto, todos os sons
tm potencial para serem descritos como rudos, o rudo considerado aceitvel quando
no causar incmodo nem interferncia nos sinais de fala dos ocupantes de um ambiente
(COUTO e LICHTIG,1997; LHEUREUX e PENALOZA, 2004).

2. OBJETIVO
O objetivo desta pesquisa foi verificar a importncia da orientao do profissional
farmacutico sobre efeitos medicamentosos, principalmente sobre os medicamentos
ototxicos e seu sinergismo com o agente fsico rudo.

3. MATERIAL E MTODOS
Foram realizadas pesquisas literrias e meno da legislao vigente.

4. REVISO DA LITERATURA

4.1 Fisiologia Auditiva

A orelha humana um rgo sensvel que capacita a percepo e interpretao das


mais variadas freqncias de ondas sonoras (20 20.000 Hz). A captao do som at
sua percepo e interpretao uma seqncia de transformaes de energia iniciando
pela sonora, passando pela mecnica, hidrulica e finalizando com a energia eltrica dos
impulsos nervosos que chegam ao crebro.
A energia sonora captada pelo pavilho auricular, a orelha externa, penetra pelo
meato acstico externo que termina em uma delicada membrana, a membrana
timpnica.
A membrana timpnica transforma as vibraes sonoras em vibraes mecnicas que
se comunicaro com os ossculos: martelo, bigorna e estribo. Os ossculos funcionam
como alavancas, aumentando a fora das vibraes mecnicas. O ltimo ossculo, o
estribo, pressiona a janela oval da cclea, as vibraes mecnicas se transformam em
ondas de presso hidrulica que se propagam no fludo que a preenche. Finalmente, as
ondas no fludo so detectadas pelas clulas ciliadas do rgo de Corti que enviam ao
crebro sinais nervosos (eltricos) que so interpretados como som. Os sinais nervosos
levados pelo nervo auditivo ao crebro j contm as informaes das freqncias que
compem o som que est sendo recebido. Essa anlise se processa na membrana basilar
da cclea, sobre a qual esto dispostas as milhares de clulas ciliadas. Essa sensibilidade
espectral da orelha se processa da seguinte maneira: as clulas ciliadas mais prximas
janela oval (incio das ondas hidrulicas) tem uma sensibilidade maior s altas
freqncias (OLIVEIRA, 1993).

4.2 Efeitos do Rudo na Audio

Uma das maiores ocorrncias, atualmente, so as chamadas perdas auditivas


ocupacionais, que podem ser provocadas por exposio em nveis de presso sonora
elevados e a produtos qumicos ototxicos (MELNICK, 1999).
A perda auditiva induzida por rudo a doena que mais atinge o sistema auditivo,
podendo provocar leses irreversveis na orelha interna, sendo assim, extremamente
importante a sua preveno. Sem dvida alguma, o rudo ocupacional um dos mais
graves problemas sociais do trabalhador brasileiro (KS & KS, 1998).

Hoje em dia estamos constantemente expostos a nveis elevados de rudo no trabalho,


no trnsito, no cabeleireiro, nos momentos de lazer: em bares, danceterias, parques de
diverso, aulas em academias de ginstica, que podem prejudicar a nossa audio e
nossa qualidade de vida. O rudo pode provocar no organismo efeitos auditivos e extras
auditivos.
Os efeitos auditivos do rudo so: zumbido, sensao de plenitude auricular,
desconforto para sons intensos, dificuldade para entender em locais ruidosos, perda
auditiva temporria, e quando instalada a alterao auditiva irreversvel(KATELAN e
PERES, 2001).
Segundo DANILLO e MANHANINI (2000), os efeitos extras auditivos do rudo
so: dor de cabea, alteraes no sistema digestrio, falta de concentrao, irritabilidade
e estresse. A exposio ao rudo por todo seu efeito no organismo prejudica muito a
qualidade de vida do indivduo.
OLIVEIRA e COLS (1997), consideraram que o rudo nocivo sade humana
quando ultrapassa 85 dBNA, sendo este o limite para uma exposio diria de oito
horas, porm no se deve estabelecer rigorosamente um nvel de intensidade, pois cada
indivduo possui caractersticas peculiares.
De acordo com a Portaria 19, 1998, do Ministrio do Trabalho, Entende-se por
perda auditiva em nveis de presso sonora elevados as alteraes dos limiares
auditivos, do tipo sensorioneural, decorrente da exposio ocupacional sistemtica a
nveis de presso sonora elevados. Tem como caractersticas principais a
irreversibilidade e a progresso gradual com o tempo de exposio ao risco. A sua
histria natural mostra, inicialmente, o acometimento dos limiares auditivos em uma ou
mais freqncias da faixa de 3.000 a 6.000 Hz. As freqncias mais altas e mais baixas
podero levar mais tempo para serem afetadas. Uma vez cessada a exposio, no
haver progresso da reduo auditiva.
Os efeitos do rudo sobre a audio podem ser divididos geralmente em trs
categorias: mudana temporria do limiar, mudana permanente do limiar e trauma
acstico (MELNICK, 1999).
O termo trauma acstico restrito aos efeitos de exposies nicas ou exposies aos
NPS muito elevados. Neste caso, o NPS que atinge as estruturas da orelha interna
ultrapassam os limites mecnicos dessas produzindo freqentemente uma destruio
completa e leso do rgo de Corti. Pessoas que passam pela experincia de tais
exposies a rudos elevados podem tambm sofrer a ruptura da membrana timpnica e
danos aos ossculos da orelha mdia. A perda auditiva a partir do trauma acstico na
maioria dos casos permanente (MELNICK, 1999).
De acordo com SANTOS & MORATA (1994), muito provvel que quando as
clulas externas so atingidas, o feedback que elas realizam no rgo de Corti, no que
se refere ao funcionamento na transmisso do som, estar afetado. A mudana dessa
performance pode aumentar a susceptibilidade das clulas ciliadas internas e das
estruturas que a cercam, resultando leses por hiper-estimulao. Quando ocorre
exposio aos rudos, as orelhas so dotadas de mecanismos protetores que alteram a
sensibilidade auditiva durante e aps a estimulao acstica. Ocorre a ao de um
fenmeno descrito como mascaramento, toda vez que a percepo de um som
diminuda em presena de um rudo de maior intensidade que encubra este som. Se a
sensibilidade auditiva reduzida durante a exposio de um estmulo sonoro intenso e
duradouro, diz-se que houve adaptao auditiva. Quando, porm, isto ocorre aps o
trmino do estmulo, entra-se em fadiga auditiva, tambm chamada mudana temporria
do limiar. A mudana permanente no limiar decorrente de um acmulo de exposies
ao rudo, normalmente dirias repetidas constantemente, por um perodo de muitos
anos. Posteriormente, o limiar auditivo no se recupera mais, dando lugar a uma perda
auditiva neurossensorial bilateral mais acentuada para as freqncias altas, o que leva a
dificuldades de compreenso de fala, principalmente em presena de rudo ambiental e
intolerncia e sons intensos.
A PAIR (Perda Auditiva Induzida por Rudo) sempre neurossensorial, em razo ao
dano causado s clulas do rgo de Corti. Uma vez instalada, a PAIR irreversvel e
quase sempre similar bilateralmente. Raramente leva a perda auditiva profunda, pois,
geralmente, no ultrapassam os 40dBNA nas baixas freqncias e os 75dBNA nas altas
freqncias. Manifesta-se, primeira e predominantemente, nas freqncias de 6 e 4kHz,
e nas freqncias de 8, 2, 1, 0,5 e 0,25kHz, as quais levam mais tempo para serem
comprometidas. Tratando-se de uma patologia coclear, o portador da PAIR pode
apresentar intolerncia a sons intensos e zumbidos, alm de ter comprometido a
inteligibilidade de fala, prejudicando o processo de comunicao. No dever haver
progresso da PAIR uma vez cessada a exposio ao rudo intenso. A instalao da
PAIR influenciada pelas caractersticas fsicas do rudo (tipo, espectro e NPS), tempo
de exposio e susceptibilidade individual. A PAIR no torna a orelha mais sensvel a
futuras exposies a rudos intensos. medida que os limiares auditivos aumentam, a
progresso da perda torna-se mais lenta. A PAIR geralmente atinge seu nvel mximo
para as freqncias de 3, 4 e 6kHz nos primeiros 10 a 15 anos de exposio sob
condies estveis de rudo (SOUZA et al, 2001; SISNANDO, 2002).

O rudo pode provocar leses na orelha interna, isto pode levar a diminuio de
concentrao e de memorizao, insnia, irritao, ansiedade e depresso, aumento do
nmero de acidentes no trabalho.

4.3. Efeitos dos Medicamentos Ototxicos na Audio

Medicamentos tambm podem provocar problemas auditivos. A utilizao de


medicamentos ototxicos, isto , txicos para a orelha interna, pode levar leso
permanente das clulas ciliadas da cclea, resultando em perda auditiva neurossensorial
irreversvel (OLIVEIRA, DEMARCO e ROSSATO, 2005).
importante conhecer os diferentes tipos de drogas que podem provocar
ototoxicidade, para sugerir medidas preventivas. O aparecimento da perda auditiva
mediante medicamento ototxicos pode ser rpido ou insidioso, podendo ocorrer
durante a exposio ou meses depois do uso do medicamento ter sido interrompido. A
perda pode ser precedida ou acompanhada por um tinitus agudo. Se o sistema vestibular
for danificado, o paciente pode referir tontura e marcha oscilante. O grau inicial da
perda pode ser instvel. Por exemplo, depois que a exposio tenha cessado, a perda
auditiva pode recuperar-se para os limiares normais e em outros casos pode progredir
para um grau mais severo. O quadro clnico o de uma labirintopatia perifrica e o
paciente pode apresentar sinais e sintomas relacionados com leso coclear, como
hipoacusia, zumbidos de alta freqncia e plenitude auditiva ou relacionados com a
funo vestibular, especialmente vertigens, desequilbrios, nistagmo (movimentos
oculares anormais) e manifestaes neurovegetativas. A alterao auditiva, bem como a
disfuno vestibular, pode ser unilateral ou bilateral (OLIVEIRA,1990; LHEUREUX e
PENALOZA, 2004).
Os efeitos ototxicos provocados por medicamentos envolvem leses progressivas e
destruio das clulas sensoriais da cclea e rgo vestibular da orelha, alterando duas
funes importantes do organismo: a audio e o equilbrio (PAGE et al, 2000).

As primeiras deteces de leses ototxicas foram observadas nos primeiros


tratamentos de Sfilis com mercrio. Houve descries de casos com desenvolvimento
de surdez, tremores e "loucura", sugerindo tanto oto como neurotoxidade (SURDO,
2004).

4.3.1. Frmacos Ototxicos

As drogas podem produzir efeitos benficos ou malficos ao organismo. Os frmacos


tm como principal ao os efeitos teraputicos, porm podem ocorrer os efeitos
nocivos, que so os efeitos adversos aos medicamentos (RAM). Os efeitos adversos
inclusos na primeira categoria da classificao de Rawlins e Thompson so previsveis,
podendo ser designadas como reao adversa do Tipo A, enquanto reaes adversas
idiossincrticas so denominadas do Tipo B (RANG et al, 2000).

importante conhecer os diferentes tipos de medicamentos que podem provocar


ototoxicidade, com objetivo de prevenir os danos auditivos. Os fatores de risco so
dependentes de: 1. Idade; 2. Susceptibilidade individual; 3. Funo renal; 4. Interaes
com outras drogas ototxicas; 5. Modo de administrao da droga: ototoxicidade
maior aps injees, e portanto ela deve ser fornecida em baixas doses, divididas em
vrios tempos; 6. Dose acumulativa.

Os sintomas mais comuns sugestivos de ototoxicidade so: 1. Otalgia; 2. Zumbido:


ocorre em 2% a 36% dos pacientes. Geralmente transitrio, desaparecendo aps
algumas horas ou semanas do fim do tratamento; 3. Sintomas vestibulares: pode ocorrer
ocasionalmente em pacientes com funo vestibular anormal pr-existente; 4. Perda
auditiva ocorre em 9% a 91% dos pacientes. Geralmente bilateral e inicialmente nas
altas freqncias (6000-8000 Hz), que podem estender a freqncias menores com o
tratamento prolongado. O paciente pode apresentar certo grau de reversibilidade, mas se
a perda for profunda; geralmente permanente. A perda pode ser progressiva e
cumulativa ou pode ser sbita.

4.3.1.1 Antibiticos Aminociclitis

Esta classe de Antibiticos Aminociclitis (AA) inclui tanto os antibiticos


aminiglicosdicos (aminoacar), quanto os antibiticos que possuem um aminociclitol.

Os AA so mais aplicados em combate a infeces por bacilos Gram-negativas


aerbicos. Fazem parte desta classe a estreptomicina, a espectinomicina, a framicetina
(neomicina B), a diidroestreptomicina, a neomicina, a kanamicina A e B, a
paramomicina, a aminosidina, a gentamicina, a amicacina, a tobramicina, a netilmicina.
Desse grupo, a estreptomicina, a tobramicina, a gentamicina tm maior tendncia a
interferir na funo vestibular; os outros so mais cocleotxicos, afetando
principalmente a audio. A netilmicina a menos ototxica de todos, sendo preferida
quando houver necessidade de terapia prolongada. A ototoxicidade pode ser
potencializada com o uso concomitante de outros frmacos ototxicos como os
diurticos de ala (KOROLKOVAS, 2004; PAGE et al, 2000; LHEUREUX &
PENALOZA, 2004).

Alguns autores estudaram o mecanismo de ao ototxica provocada por estes


antibiticos. Os AA combinam com receptores das membranas das clulas ciliadas do
rgo de Corti, da mcula sacular e da utricular, e tambm das cristas do sistema
vestibular. Esses receptores so os polifosfoinostideos, so lipdeos componentes da
membrana celular. A formao de complexos entre os AA e os polifosfoinostideos
produz modificaes na fisiologia da membrana e na sua permeabilidade, acabando por
afetar a estrutura e funo dos clios, e depois da prpria membrana e, finalmente, pode
causar destruio das clulas receptoras (SCHACHT et al, 1977).

RISHARDSON (1991), realizou a partir de tcnicas de cultivo celular das clulas


ciliadas de rgo de Corti de camundongos, estudos com microscopia ptica e
eletrnica para avaliao dos AA. Esses estudos demonstram que as clulas ciliadas da
espira apical cultivadas so menos sensveis do que as das espirais basais.

HAYASHIDA (1989) tambm utilizou cultivo celular para o estudo da


ototoxicidade aguda de medicamentos in vitro, utilizou-se clulas ciliadas do rgo de
Corti isoladas de cobaia e mantidas em meio de cultura. Foram estudados os efeitos da
gentamicina, por exemplo, na viabilidade celular e nas respostas mveis das clulas.
No h tambm modificao da viabilidade das clulas ciliadas externas, nem alterao
da contractilidade das clulas ao estmulo eltrico. SHEPPARD et al (2004) avaliou
padres de danos ototxicos sustentados de gentamicina aplicado diretamente janela
oval em veculos variados. O objetivo dos autores encontra um mtodo seguro de
distribuio do frmaco para a orelha interna. O veculo de Fibrin/Gelfoam foi o
nico sistema mais seguro. O dano ototxico dependeu do veculo.

Existem numerosos estudos na relao entre administrao de AA e danos cocleares.


KUSUNOKI et al (2004), observou falncia das clulas ciliadas precoce com
administrao de AA. Os grupos deste estudo receberam gentamicina, kanamicina ou
tobramicina, e demonstraram em um perodo curto (2 semanas) aps administrao de
AA, houve uma diminuio no nmero de clulas ciliadas do rgo de Corti.

4.3.1.2 Antibiticos Macroldeos

Os antibiticos macroldeos (AM) so um grupo considerado geralmente como


drogas seguras. A eritromicina o prottipo desta classe, desde sua descoberta em 1952
por McGuire, se transformou em uma droga popular utilizada por indivduos sensveis
penicilina. O primeiro relato de ototoxicidade da eritromicina foi por Mintz et al. em
1972, relataram dois casos da perda de audio sensorioneural reversvel aps a
administrao intravenosa. Em cada caso, um audiograma revelou uma deficincia da
percepo auditiva bilateral (nveis do dB de 50-55) que retornou ao normal aps ter
interrompido a droga (BRUMMETT, 1993). Foi pesquisado a possvel toxicidade
coclear em cobaias, dos macroldeos como a eritromicina (ER), a azitromicina (AZ) e a
claritromicina (CL), utilizando medidas de emisses otoacsticas. Uma nica dose de
125 mg/kg de ER (IV) no causou mudana em emisses otoacsticas, 45 mg/kg (VO)
de AZ e 75 mg/kg de CL (IV) reduziram a resposta de emisso, porm reversivelmente.
Os resultados sugerem que seja planejado nas pesquisas clnicas a monitoria em
pacientes que recebem doses altas de AZ ou CL (UZUN et al, 2001).

4.3.1.3 Outros Antibiticos

Alguns antibiticos tm sido citados na literatura como ototxicos. Dentre estes


esto o cloranfenicol, principalmente por ao tpica; a ampicilina; a minocilina, e a
tetraciclina com ao vestibulotxica; a cefalosporina, a viomicina; a capreomicina,
com maior toxicidade vestibular; a polimixina B e E (colistina).

A vancomicina muito utilizada por ser eficaz principalmente em bactrias Gram-


positivas como os estafilococos e enterococos resistentes, tem seus efeitos ototxicos
em discusso, de acordo com Goodman e Gilman, e a Farmacopia americana, foi
confundida com um AA por causa do sufixo do "micina". Postulou-se que porque
muitos indivduos souberam da ototoxicidade da neomicina e estreptomicina na poca
da descoberta da vancomicina, em 1950, ela foi considerada como ototxica tambm.
Muitos casos de ototoxicidade da vancomicina foram relatados na literatura, entretanto,
em muitos destes relatos houve potencializao com o uso de outros agentes ototxicos,
como pacientes que fizeram a terapia com AA anteriormente (BRUMMETT , 1993).
Atualmente a vancomicina tem registros de efeitos indesejveis como a ototoxicidade
(KOROLKOVAS, 2004; PAGE et al, 2000); e esta ototoxicidade ocorre quando o nvel
srico supera 80 g/ml (GERBRAS, 2005; GAO et al, 2004). Nos estudos com animais
experimentais, novos glicopeptdeos como norvancomicina apresentaram resultados
semelhantes a vancomicina, em pesquisas de ototoxicidade com cobaias, em dosagens
de 54, 108 mg/kg no houve ototoxicidade funcional e morfolgica, na dose de 216
mg/kg houve rebaixamento do limiar de audio, mas sem alteraes morfolgicas
(GAO et al, 2004).

4.3.1.4 Antiinflamatrios

Medicamentos antiinflamatrios, como os salicilatos (aspirina), os quininos, podem


provocar alteraes auditivas, a cocleotoxicidade dos salicilatos so reversveis, perdas
auditivas temporrias bilaterais, simtricas, horizontais ou descendentes (maior nas altas
freqncias). conhecido que o salicilato afeta as clulas ciliadas externas ou o
suprimento sangneo da cclea. Outras pesquisas tm mostrado que o salicilato afeta a
liberao de neurotransmissores na juno das clulas ciliadas internas e do nervo
auditivo, afetando-as bastante. Outro achado a demonstrao de que o salicilato reduz
in vitro a motilidade das clulas ciliadas externas artificialmente induzida pela
estimulao eltrica. Isso se deve a alteraes observadas nas cisternas laminares
supostamente necessrias para a contrao dessas clulas. Para deteco de
ototoxicidade por salicilatos utilizaram-se mtodos de cultivo de clulas ciliadas
externas isoladas (SHEBATA, 1991). Os salicilatos tambm apresentam reaes
adversas no sistema auditivo tais como zumbido (PAGE et al, 2000).

4.3.1.5 Antimalricos
O quinino e seus derivados, procainamida e quinidina so utilizados como
antimalricos, porm so ototxicos, embora esteja sendo substitudo por substncias
semi-sintticas, como a cloroquina, com menor ototoxicidade, est sendo investigado
seu sinergismo com os salicilatos devido as suas manifestaes txicas similares
(LHEUREUX e PENALOZA, 2004).

4.3.1.6 Agentes Antineoplsicos

Antineoplsicos podem ser ototxicos, como o caso da cisplatina, da mostarda


nitrogenada e da vincristina, 6-amino nicotinamida misonidazole DL-difluorometil
ornitina. Essa cocleotoxicidade pode ser reversvel ou irreversvel.

Estudos recentes em animais de experimentao mostraram a ao ototxica similar


da cisplatina com os aminoglicosdeos, com acometimento das clulas ciliadas externas
da espira basal da cclea inicialmente e da espira apical posteriormente. Sua ao est
relacionada reduo da sua motilidade, bloqueando os canais de transduo e
eventualmente destruio das clulas. Experimentalmente, observou-se leso da estria
vascular apenas com injeo em altas doses endovenosas de cisplatina levando a
reduo do potencial endococlear, o que no foi observado com mltiplas injees em
baixas doses. Dose acumulativa: estudos prospectivos sobre a ototoxicidade da
cisplatina latina mostram que: a) dose de 20 mg/m2 - 9% desenvolvem perda auditiva;
b) dose de 50 mg/m2 - 46% desenvolvem perda auditiva; c) dose de 100-120 mg/m2 -
81 % desenvolvem perda auditiva. O efeito da ototoxicidade determinado mais pela
quantidade fornecida em cada dose do que pela dose cumulativa. Devido importncia
da cisplatina como quimioterpico, essencial a investigao de mtodos para alterar a
dose limite de toxicidade, sem causar reduo em sua atividade antineoplsica
(EKBORN et al, 2004).

PLINKERT e KROBER (1991) estudaram as alteraes do registro das emisses


otoacsticas, em pacientes que se encontravam em tratamento citosttico com cisplatina,
comparando estes resultados com os limiares auditivos tonais. Eles demonstraram
reduo da amplitude das emisses significativamente anterior s modificaes dos
limiares tonais.

A carboplatina um derivado da cisplatina, e sua vantagem se d pela diminuio


dos efeitos ototxicos, porm mais mielotxica (PAGE et al, 2000). MAY et al (2004),
estudaram em macacos a ao ototxica da carboplatina. Atravs de infuses
carboplatina, induziram um prejuzo auditivo nos macacos tratados. Este estudo sugeriu
que a sensibilidade toxicidade so das clulas ciliadas do rgo de Corti e no so
compartilhadas pelos neurnios auditivos.

4.3.1.7 Anticoncepcionais e Repositores Hormonais

Os contraceptivos orais ou medicamentos de reposio hormonais podem provocar


em alguns casos perdas auditivas uni ou bilaterais progressivas e irreversveis. Os
medicamentos a base de medroxiprogesterona tem efeito ototxicos comprovados
(OLIVEIRA,1990; JANCZEWSKI, 1995).

4.3.1.8 Diurticos

Diurticos, como o cido etacrnico, a furosemida, a bumetanida, a piretamida e a


indapamida, so cocleotxicos, mas as alteraes auditivas so reversveis. Essas drogas
no so vestibulotxicas; entretanto podem potencializar a ao txica dos AA.
A furosemida um diurtico de ala, a incidncia de ototoxicidade de 6,4%. Pode
causar uma hipoacusia temporria e totalmente reversvel, existindo porm, casos
permanentes. Sua eliminao urinria diminui de maneira significante em pacientes com
insuficincia renal podendo prolongar a meia vida de eliminao, de 30 minutos para 10
a 20 horas, levando a um aumento no nvel plasmtico e assim a um maior risco de
ototoxicidade geralmente associada a nveis maiores que 50 mg/L. Existem estudos
referindo que a ototoxicidade da furosemida possa ser minimizado com uso de infuso
continua em baixas doses para evitar um pico srico, que estaria associado a um maior
risco (LHEUREUX e PENALOZA, 2004).

4.3.2 Consideraes Preventivas


As alteraes cocleares subclnicas causadas pela exposio a substncias ototxicas,
como alguns diurticos, salicilatos, (AA), podem ser diagnosticadas precocemente,
ainda em fase reversvel, atravs dos registros das emisses otoacsticas (GARRUBA et
al., 1990).

5. DISCUSSO

O principal objetivo de um programa de conservao auditiva a preveno da perda


auditiva e a promoo da sade e qualidade de vida dos funcionrios que trabalham
expostos ao rudo em forte intensidade.
O trabalhador que faz uso de medicamentos ototxicos dever ser colocado em
condies especiais, com o objetivo de evitar danos auditivos uma vez que um sujeito
com maior susceptibilidade: Trocar o trabalhador de posto de trabalho proporcionando a
ele um ambiente de conforto auditivo durante o tratamento medicamentoso; Mesmo que
o rudo ambiental no ultrapasse o limite de tolerncia estabelecido na NR15-anexo1, os
responsveis podero sugerir que o trabalhador que est em fase de teraputica
medicamentosa com os frmacos citados, utilizem os equipamentos de proteo
individual (EPIs), como exemplo plug de insero e/ou abafadores (concha).
Colocando em prtica estas sugestes a empresa poder evitar transtornos
fisiopatolgicos como estes citados por SANTOS e OKAMOTO (1994), os quais
podem aumentar o nmero de erros ocupacionais: a) Diminuio do rendimento nos
testes de fala; b) Alteraes cardiovasculares; c) Viso; d) Alteraes gastrintestinais; e)
Alteraes neuropsquicas.

6. CONCLUSO

Com nfase na sade do trabalhador exposto ao rudo e que faz uso de frmacos
ototxicos, a medicina, a fonoaudiologia, a farmacologia e a engenharia de segurana
do trabalho buscam evitar a evoluo de danos auditivos ocupacionais potencializados
pelo uso desses medicamentos. Os medicamentos ototxicos podem promover
alteraes no sistema auditivo causando assim sintomas como hipoacusia, que podem
ser reversveis ou a destruio das clulas ciliadas do rgo de Corti gerando assim a
perda auditiva irreversvel. O NPS elevado causa fadiga celular podendo aumentar ainda
mais os efeitos nocivos audio quando o indivduo exposto faz uso
concomitantemente dos medicamentos ototxicos. A somatria destes fatores pode
aumentar a sensibilidade das clulas ciliadas aos danos.
H uma necessidade evidente de conscientizao sobre rudo no ambiente de
trabalho. Desde a monitorizao da exposio ao rudo: controle de rudo na fonte,
realizao de exames audiomtricos periodicamente nos funcionrios, indicao de
equipamentos de proteo individual, alerta quanto utilizao de medicamentos
ototxicos, educao, treinamento e motivao do pessoal envolvido no programa. Os
objetivos de um programa desta natureza visam beneficiar tanto a empresa quanto o
trabalhador.
Com relao qualidade de vida na sade ocupacional, h necessidade de um
trabalho multidisciplinar preventivo e de orientao. Alm de mdicos do trabalho,
fonoaudilogos, engenheiros de segurana do trabalho, fisioterapeuta e enfermeiros
ocupacionais, o farmacutico um profissional qualificado para fazer avaliaes quanto
s reaes adversas e interaes dos medicamentos relacionados aos fatores de riscos
ambientais, como exemplo o rudo. Portanto a ateno farmacutica ocupacional poder
otimizar os resultados em sade ocupacional, melhorar a qualidade de vida de seus
pacientes, os trabalhadores, e garantir o aumento da produtividade na empresa.

AGRADECIMENTOS
Clnica Escola de Fonoaudiologia do Centro Universitrio So Camilo. A Grfica
KWG. A 3R Brasil Tecnologia Ambiental. Ao Inmetro. Thais C. Morata.
([email protected]) NIOSH - The National Institute for Occupational Safety and Health.

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