Histórias Com... Matemática PDF

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histrias com...

matemtica
organizao : lusmenezes . ctiarodrigues . lilianaferraz . anamartins

edio : escola superior de educao de viseu


Ttulo
Histrias com... Matemtica

Organizao
Lus Menezes, Ctia Rodrigues, Liliana Ferraz e Ana Martins

Reviso de texto
Isabel Menezes

Coordenao das Ilustraes


Maria Custdia Pais

Edio
Escola Superior de Educao de Viseu
http://www.esev.ipv.pt
1 edio, Viseu 2009

Capa e composio
Jos Lus Loureiro

Tiragem: 1000 exemplares


ISBN: 978-989-96261-0-2
Depsito legal:
Impresso: Tipografia Beira Alta

Apoio:
histrias com... matemtica
Introduo

Matemtica e Literatura, porque no? A ideia de associar a Matemtica


Literatura, no sendo nova, contudo pouco discutida e, menos ainda, concreti-
zada em Portugal. Escrever sobre Matemtica, para crianas e de modo ficciona-
do, implica, em primeiro lugar, considerar que esta rea do conhecimento pode
ser um tema interessante para desenvolver. Em segundo lugar, imprescindvel
que os autores tenham uma certa proximidade com esta rea do saber, facto que
envolve a posse de um conjunto mnimo de conhecimentos sobre os quais se vai
ficcionar. Os problemas que existem no nosso pas com a aprendizagem da Ma-
temtica, a imagem social que a disciplina ainda tem e uma certa viso da Litera-
tura e da Matemtica como reas opostas tm contribudo para que a fico de
autores portugueses, nesta rea, seja diminuta. Ainda assim, vale a pena destacar
alguns livros, como Figuras figuronas, de Maria Alberta Menres, e O pequeno
livro de desmatemtica, de Manuel Pina. Enquanto o primeiro livro fala da poesia
que possvel encontrar nas formas geomtricas, o segundo mostra, de forma
divertida, a Matemtica nos nmeros e nas operaes.
As histrias infantis sobre temas matemticos tm um importante valor
educativo, que reconhecido por diversos autores, tanto no nosso pas como
no estrangeiro. Esse valor decorre de a literatura infantil permitir que, a partir
dela, os alunos tenham actividade matemtica relevante, na base tambm de
uma diversificao dos contextos de aprendizagem da disciplina. Para alm da
leitura, os alunos podem ser envolvidos na produo de histrias que tenham
a Matemtica como tema. Escrever sobre Matemtica, num registo de fico,
conduz os alunos a reflectir sobre as suas aprendizagens, a desenvolver o seu
esprito criativo e a comunicar. Foi com esta convico que, no mbito do Pro-
grama de Formao Contnua em Matemtica, resolvemos em 2007 lanar um
concurso literrio para alunos que frequentavam os dois primeiros ciclos do
ensino bsico na regio de Viseu. A resposta dos alunos foi entusistica, tendo
sido recebidas mais de uma centena de histrias. Por isso, os alunos participan-
tes esto de parabns. Neste livro renem-se catorze dessas histrias (as pri-
meiras oito de alunos do 2. Ciclo e as restantes de alunos do 1. ciclo), aquelas
que o Jri considerou, do ponto de vista matemtico e do ponto de vista liter-
rio, as mais interessantes.
As histrias so acompanhadas por ilustraes, realizadas, na sua maioria,
por alunos do 1. ano do curso de Artes Plsticas e Multimdia, da Escola Supe-
rior de Educao de Viseu. Cada uma dessas ilustraes uma leitura de uma his-
tria. As ilustraes podem, tambm elas, ser pontos de partida para exploraes
didcticas na aula. Matemtica e Literatura em sala de aula, porque no?

Viseu, Junho de 2009


Lus Menezes
. sumrio .

O QUADRADO CONVENCIDO . . 29 . vinte e nove . XXIX

A VIAGEM NO TEMPO . . 40 . quarenta . XL

UM ROUBO MATEMTICO . . 54 . cinquenta e quatro . LIV

RELATRIO DA AULA GEOMTRICA . . 15 . quinze . XV

A MENINA MATEMTICA NA ESCOLA . . 63 . sessenta e trs . LXIII

PITGORAS A CAMINHO DE SIRACUSA . . 23 . vinte e trs . XXIII

MATEMALNDIA: A PRINCESA CALCULATRIK . . 43 . quarenta e trs . XLIII

UMA HISTRIA COM... MATEMTICA . . 66 . sessenta e seis . LXVI

UMA LINDA E SEDUTORA MENINA . . 49 . quarenta e nove . XLIX

UMA AVENTURA MATEMTICA . . 19 . dezanove . XIX

A IMPORTNCIA DO ZERO . . 69 . sessenta e nove . LXIX

A SAPATARIA SOMA . . 11 . onze . XI

A AMIZADE PODEROSA . . 58 . cinquenta e oito . LVIII

A HISTRIA DOS POLGONOS . . 36 . trinta e seis . XXXVI


parte um . 1
11 . onze . XI

PITGORAS A CAMINHO DE SIRACUSA


texto: gustavomarques . ilustrao: nunoribeiro

Certo dia, estava Pitgoras a passear na linda floresta dos nmeros. Ia a ca-
minho de Crotona, quando encontrou o ngulo Recto Mau, que lhe perguntou:
Onde vais?
Pitgoras respondeu:
Vou a caminho de Crotona.
E que levas a, nessa mochila? perguntou o ngulo Recto Mau.
Um livro de Matemtica. Vou estudar as potncias com o meu mestre,
Sr. p respondeu ele.
Agora j no vais. Vou comer-te tens um ar bastante apetitoso e mate-
mtico. disse o ngulo Recto Mau.
Isso que no vais. Vou transformar-te num tringulo rectngulo. disse
o matemtico, pegando na sua espada d ao (raiz quadrada de ao).
Depois de uma rdua luta entre ambos, Pitgoras deu um golpe sobre o
ngulo Recto e quebrou um dos segmentos de recta, conseguindo transform-
-lo num tringulo rectngulo.
Assim nunca mais comers ningum! exclamou o estudioso.
Pitgoras continuou o seu caminho para Crotona, levando consigo o Trin-
gulo Rectngulo. Parou para descansar um pouco e comer uns bolos de que
tinha preparado em casa da sua me, pois tinha l ido passar o fim-de-semana.
Que delcia estes bolos! A minha me tem c umas receitas! exclamou
Pitgoras, enquanto olhava para os maravilhosos bolos.
XII . doze . 12

Estava sombra de uma rvore chamada poligoneira, que tinha como


nome cientfico fructus poligonalis. Trepou at copa, mas apenas apanhou
um pentgono, um heptgono, um enegono e um giggono. Ficou admirado
como um polgono podia ter tantos lados:
Meu Deus! Aqui se v quo bela a matemtica! Este poligfruto deve ter
um bilio de lados, sendo assim um giggono!...
Apanhados estes frutos, Pitgoras prosseguiu o seu caminho at que chegou
a Crotona, uma cidade grande, barulhenta, mas de grande valor matemtico.
Ding dong fez o sino que servia de campainha da casa do Sr. p .
Boa tarde, jovem. Preparado para mais uma aula de Matemtica? per-
guntou o Sr. p .
Claro. Para ter uma aula de matemtica, estou sempre pronto. respon-
deu Pitgoras. Hoje vamos dar as potncias, no ? Pesquisei um pouco sobre
o assunto e parece-me interessante.
E , meu jovem. Servem para representar multiplicaes onde o factor se
repete. Mas entremos, que eu j te explico em pormenor.
E Pitgoras entrou na humilde casa do seu mestre e comeou a aula de
matemtica. Pitgoras ficou to entusiasmado, que se servia de tudo para fazer
potncias. Acabada a explicao, agradeceu ao Sr. p.
Quando ia a caminho de casa, em Siracusa, sentiu o Tringulo Rectngulo
mexer-se dentro da sua mochila.
Que ests a fazer? perguntou ele.
Estava a ler o teu livro de matemtica. bastante interessante. respon-
deu o Tringulo Rectngulo, que estava mais interessado no livro do que na sua
conversa com o novo amigo.
Tive uma ideia. Posso fazer uma potncia com o comprimento dos teus
lados? perguntou Pitgoras com ar amigvel.
Est bem. respondeu o Tringulo Rectngulo com ar pouco importado.
13 . treze . XIII
XIV . catorze . 14

O matemtico tirou um lpis e um papel da sua mochila e comeou a


elevar a medida dos lados do Tringulo Rectngulo ao quadrado e, de repente
deu um berro:
Eureka! Eureka!
O qu?! Eureka?! O que isso?! perguntou com ar de admirao o
Tringulo Rectngulo.
Quem disse isto foi Arquimedes, quando descobriu o Princpio da Hidros-
ttica. Esta palavra significa descobri. respondeu o estudioso.
Mas, afinal, descobriste o qu? perguntou o Tringulo Rectngulo.
Se somarmos o quadrado do comprimento dos dois lados do teu ngulo
recto igual ao quadrado do restante lado. explicou Pitgoras.
Podias simplificar isso, dando nomes aos lados? aconselhou o amigo.
J sei, os lados que constituem o ngulo recto vo-se chamar Catetos a
e b, o nome do meu papagaio e o outro lado vai ser a Hipotenusa, o nome da
minha gata. disse Pitgoras.
A mim parece-me bem. Ento e no h uma frmula? Todos os teoremas
tm uma frmula. disse o Tringulo Rectngulo, quase como picando o seu
amigo matemtico.
Ento, deixa-me c ver J sei: H2 = Ca2 + Cb2. respondeu Pitgoras.
Entretanto, apareceram os netos do matemtico:
Ol av, que ests a fazer?
Acabei de fazer uma descoberta. respondeu o av muito vaidoso.
Os netos do estudioso adoravam matemtica e pediram-lhe empolgados:
Conta-nos a tua descoberta.
Est bem! Conto-vos a caminho de Siracusa. respondeu o av.
Eles partiram, juntamente com o Tringulo Rectngulo, que foi viver para
casa de Pitgoras e este l foi explicando o teorema aos netos, e foi assim que
surgiu a lengalenga: A caminho de Siracusa disse Pitgoras aos seus netos, o
quadrado da Hipotenusa igual soma do quadrado dos Catetos.
15 . quinze . XV

O QUADRADO CONVENCIDO
texto: susanagomes . ilustrao: rosatavares

Era uma vez um quadrado que era muito convencido. Vangloriava-se de


que sem ele no haveria cubos, pirmides quadrangulares e muito mais. Mas
um dia, um tringulo cansado de tanta presuno foi falar com ele:
Por que ests sempre com esse ar superior? perguntou o tringulo.
Porque sou indispensvel. explicou o quadrado. No sei se j reparaste
mas, sem mim, no Egipto no haveria pirmides! s cego?
Tu que pareces cego de vaidade! No te apercebeste que, ns, os trin-
gulos, somos as faces laterais das pirmides? questionou o tringulo.
Sim, mas eu tambm estou na pirmide, sou a base. Sem mim no ha-
veria
Cala-te, que eu estou farto de te ouvir e sem ti haveria muita coisa! Tu
tens que admitir que nas pirmides ests no cho, na base quero eu dizer, e
se tirarem uma fotografia s pirmides, tu no apareces, pois ests por baixo!
Somos ns que percorremos o mundo, nas fotografias dos turistas.
Mas toda a gente sabe que eu l estou, e alis sem mim
Pra! Eu j percebi que no mudas de ideias, mas olha, tambm h pir-
mides triangulares! E esta, hem?
Ora, ora se cortarem uma parte de mim, podemos ter uma pirmide,
meu caro, e no s, tambm possvel obter outros slidos!
s mesmo convencido! Sofres de superioridade?
Bem, desculpa mas tenho de ir embora gozou o quadrado. Tenho
XVI . dezasseis . 16

uma sesso de autgrafos, sabes como Ai no, tu no sabes, alis como


poderias saber? que eu tenho fs, muitos fs. Bye-bye!
Passados alguns dias, o quadrado ficou doente, uma forte constipao f-
-lo ficar com os seus quatro ngulos rectos infeccionados, dois pareciam obtu-
sos e os outros dois agudos. Coitado, estava feito num trapzio! Os servios do
quadrado foram ento solicitados, pelos alunos de uma escola, numa tarefa de
investigao matemtica e no tinham quem o pudesse substituir. Foi ento
organizada uma reunio urgente entre polgonos:
Como ser que vamos substituir o quadrado? perguntou o chefe que
era um experiente icosgono.
J sei exclamou um dos tringulos. Ns, os tringulos, se nos juntar-
mos dois a dois formamos um quadrado!
Grita de um canto um preguioso tringulo obtusngulo e escaleno, ten-
tando fugir ao trabalho:
No podem ser quaisquer tringulos!
Um hexgono irregular, habituado s irritaes dos tringulos obtusngu-
los, compreendendo o que ele quis dizer, explicou melhor a sua ideia:
No se esqueam que s aos tringulos rectngulos que se pode atri-
buir a tarefa de substituir o quadrado.
Timidamente, um losango questionou:
E pode ser qualquer tringulo rectngulo?
Neste momento todos os tringulos comearam a tentar arranjar par, a
encaixarem-se noutros tringulos, mas nem sempre resultava muito bem
Depois de um grande corrupio, verificou-se que apenas os tringulos rec-
tngulos e issceles que podiam transformar-se num quadrado.
E assim foi, foram ento escolhidos dois tringulos deste tipo, eleitos entre
todos os polgonos presentes na reunio, para substituir o quadrado. E pode dizer-
se que a tarefa foi um xito! Os tringulos rectngulos e issceles, substituram o
quadrado na perfeio! At houve quem no se apercebesse da inevitvel troca.
17 . dezassete . XVII
XVIII . dezoito . 18

Sabendo do que se passou, no dia seguinte, o quadrado foi falar com os


tringulos substitutos, j com uma atitude bem diferente.
Eeeuueeueueu soube que fostes vs, que me substitustes
Sim fomos ns, porqu? Vais criticar-nos, ? Achas que no estivemos
altura?
Nno, antes pelo contrrio, eu queria agradecer-vos. Eu fui muito injus-
to em relao aos tringulos e aos outros polgonos. Durante o perodo em que
estive doente, pude reflectir um pouco, e cheguei concluso de que estava
cego de presuno at pontinha dos meus quatro vrtices. Acho que aprendi
uma lio, nenhum de ns insubstituvel no mundo dos polgonos, qualquer
um de ns pode ser obtido por decomposio de outros polgonos, ou constru-
do com a sua unio. Agradeo-vos por terem sido solidrios comigo, mesmo
depois das minhas feias atitudes foram capazes de me substituir, no tentando
colher quaisquer dividendos com isso. Isso sim que so atitudes de polgonos
amigos, amigos verdadeiros.
O quadrado foi sincero no seu pedido de desculpas e a verdade que ago-
ra quadrados e tringulos parecem mais unidos. At h quem os considere os
melhores amigos. Nunca mais ningum teve queixas do quadrado.
19 . dezanove . XIX

A MENINA MATEMTICA NA ESCOLA


texto: beatrizmelo . ilustrao: mrioarajo

Era um dia especial. Era o primeiro dia de escola da menina Matemtica.


Quando acordou, saltou da cama e foi escolher a roupa para aquele dia.
O que vou vestir hoje? Um quadrado ou um rectngulo? Um tringulo ou
um nmero decimal? perguntou a menina matemtica, muito confusa.
E que tal um dois? Esse o meu nmero da sorte! sugeriu a calculadora.
No, um sete! reclamou o transferidor.
Por que no um 2,7? retorquiu o compasso.
De repente, ouviu-se um barulho vindo do pulso da menina Matemtica.
So quase oito horas e trinta minutos. Despacha-te avisaram o oito e o
seis do relgio, num coro desafinado.
A menina Matemtica vestiu uma fraco, uma proporo e calou dois n-
gulos agudos. Colocou um mais e um menos na mochila, comeu uma sandes de
dezassete com vinte e um e meteu-se dentro da pasta de um professor.
Quando chegou, viu muitos meninos e meninas que vieram cumprimentar o
professor. Estava to fascinada, que at se assustou com a campainha da escola.
Agora vou para a sala quinze! disse o professor para uma colega.
O nmero quinze, que estava gravado na porta, murmurou para a menina
Matemtica:
Boa sorte!
A menina Matemtica sorriu, mas logo que entrou na sala de aula encheu-se
de vergonha.
XX . vinte . 20

O professor apresentou-se:
O meu nome Lus e sou o vosso professor de Matemtica. Hoje vou ensi-
nar-vos como se adicionam e se subtraem fraces.
Quando ouviu isto, a menina Matemtica saiu, muito coradinha, da pasta do
professor e deu um pulo para o quadro. Apareceram nmeros, sinais e contas.
A menina Matemtica olhou discretamente para os alunos e reparou no seu
olhar aborrecido. Ficou to tristinha, a menina Matemtica!
De repente, ouviu-se novamente a campainha. A aula chegara ao fim.
Como foi? perguntou o quinze, muito curioso.
Muito mal respondeu a menina Matemtica com o oito no canto do olho.
Por que que ests a chorar? perguntou o porttil, novinho em folha,
que estava tambm dentro da pasta.
Os alunos no gostam de me aprender! respondeu a menina Matem-
tica Bocejaram e quase adormeceram durante a aula.
Mas porqu? Tu s to divertida! elogiou o livro de matemtica.
Antes de ir para casa, a menina Matemtica passou pelo Continmero para
comprar mais uns dezassetes e vinte e uns para o pequeno-almoo.
Quando chegou a casa foi tomar um duche rpido e deitou-se no seu con-
fortvel ngulo obtuso. Antes de dormir ainda telefonou aos seus nmeros pri-
mos para desabafar:
Foi s o primeiro dia e j estou assim? No pode ser! Amanh pensarei
numa soluo para resolver este problema. afirmou, despedindo-se.
No dia seguinte, acordou muito bem-disposta e com a cabea cheia de
nmeros racionais. Ento, decidiu mudar o seu visual: vestiu uma proporo
e uma semi-recta, colocou um sinal de multiplicar na cabea e calou os seus
confortveis ngulos rectos. Depois, encheu a carteira de nmeros, sinais de
mais, de menos, de multiplicar, de dividir, de igual, parnteses, ngulos, formas
geomtricas levava tudo o que precisava.
Quando entrou na sala quinze, ganhou coragem e correu energeticamente
21 . vinte e um . XXI
XXII . vinte e dois . 22

para o quadro. Ento, saltaram da sua carteira os nmeros, os sinais, os parnte-


ses que se organizaram numa animada dana, formando as mais variadas ope-
raes, resolvendo os mais complicados problemas, dando sempre resultados
certssimos.
A partir desse dia, a menina Matemtica deixou de ver aborrecimento nos
olhos dos alunos, que aprenderam a brincar consigo e a gostar da sua companhia.
A prova disso que a menina Matemtica e os alunos dessa turma se juntam
todos os dias, para tomar um cocktail de algarismos e resolver os seus problemas,
na esplanada do bar Tabuada, que fica na pgina trinta e cinco de um caderno de
exerccios de matemtica.
23 . vinte e trs . XXIII

UM ROUBO MATEMTICO
texto: marianamenezes . ilustrao: analusasilva

Como todas as histrias comeam por Era uma vez... esta no vai fugir
regra.
Era uma vez uma cidade chamada Numeropolis onde todos os habitantes
eram amigos e no causavam problemas... viviam em paz, na paz dos deuses
matemticos. At que um dia um grande mistrio pairou sobre a cidade...
A lua estava cheia, os gatos miavam e os ces ladravam... No meio daquele
luar prateado, mas estranho, algo de surpreendente aconteceu. Houve um cri-
me no Museu de Histria Matemtica.
Algum roubara um dos mais valiosos nmeros do mundo, o Nmero de
Ouro que estava bem guardado no centro da sala maior daquele espao. O
guarda X e o guarda Y do museu, quando se aperceberam, contactaram o Ban-
do da Justia. Pensaram que s esse bando seria capaz de resolver um proble-
ma desta gravidade! Eles vieram rapidamente no seu square mobile.
Analisaram o local do crime. Depois de muito investigarem, encontraram
um bilhete que dizia Divide o permetro da circunferncia pelo dimetro do
crculo. Segue o resultado e ters uma surpresa. Quando acabaram de ler aqui-
lo viram um enorme crculo desenhado no cho.
Calcularam tudo e obtiveram um nmero infinito cujos primeiros dgitos
eram 3,141592654... Ficaram sem entender o que queria dizer aquela mensa-
gem. Entretanto, mandaram chamar o elemento neutro para ajudar na resolu-
XXIV . vinte e quatro . 24

o daquele problema. Rapidamente ele chegou concluso que aquele era o Pi.
O historiador do Museu de Histria Matemtica, ao ouvir aquele nome, lem-
brou-se que tinha catalogado uma caixa com uma inscrio que dizia Pi. Todos
foram arrecadao e viram-na a um canto. Junto dela estava outro bilhete que
dizia: Com o vocs vo sofrer. Depois de lerem esta mensagem enigmtica,
olharam uns para os outros, mas no se preocuparam muito Parecia ser uma
brincadeira de mau gosto, pois este caso estava a ser muito mediatizado. As tele-
vises, a rdio, os jornais, as revistas no se cansavam de falar do assunto. E afinal,
que mal poderia fazer o desaparecimento de um simples nmero? Est bem, era
um nmero de elite, sempre era o Nmero de Ouro Mas que raio, no mundo
matemtico mais nmero menos nmero
Todos estavam curiosos para abrir a caixa. Olharam uns para os outros e
resolveram tirar ventura quem a haveria de abrir. Logo foi calhar a sorte ao
elemento absorvente da multiplicao. Destemido, abriu-a E qual no foi o
espanto!!! Dentro daquela caixa saiu um fumo vermelho. O que seria aquilo?!
De repente, todos os que estavam presentes comearam a correr pelas ruas a
calcularem permetros de crculos, tinham febres cbicas, delrios com contas
de dividir e uma imensa vontade de estudar Matemtica.
Todos os cursos de Matemtica ou algo que tivesse a ver com ela estavam
sobrelotados. Era uma correria, todos queriam aprender e trabalhar contedos
matemticos A cidade fervilhava de tanta agitao. A rotina calma e serena
daquela cidade tinha sido perturbada e no havia como parar.
Um dia, houve um estranho comunicado na rdio. O emissor identificou-
se como M.M.. O comunicado dizia o seguinte: Esta cidade ir pagar por
tudo o que nos fez. A caixa continha uma infinita e--dmia. Toda a gente j viu
quais so os sintomas. Conseguem ver do que ns somos capazes. E aviso-vos,
esta e--dmia no s ataca os cidados de Numeropolis como tambm ataca
as letras que compem a palavra Matemtica.
25 . vinte e cinco . XXV
XXVI . vinte e seis . 26

A e--dmia alastrava cada vez mais, apesar das vrias tentativas de cura.
Foram chamados os mais famosos cientistas, pensadores e investigadores do
mundo inteiro. Ningum conseguia resolver o problema. Eles prprios tambm
ficavam contaminados e comeavam a estudar e a resolver grandes problemas
matemticos.
Os meses foram passando, a cidade estava cada vez mais estranha. As pes-
soas no comiam, no trabalhavam, as crianas no brincavam Mas esta si-
tuao estava a rebentar pelas costuras, no podiam ficar assim para sempre
Todos iriam morrer de desgaste, pois nem s de Matemtica vive o homem.
Todos sabemos como ela importante na nossa vida, mas assim no havia
quem aguentasse. Aquela vontade incessante, aquele amor estava a tornar-se
fastidioso e com o tempo tornou-se um grande aborrecimento. Achavam que
aquilo era obra dos Malficos Matemticos (M.M.).
Certo dia, apareceu por l a doutora Gertrudes Lingustica. Ao ver aquele
cenrio, ficou aterrorizada e resolveu investigar aquele caso to indito. Foi
pesquisar em dicionrios, enciclopdias, livros de medicina at que na Inter-
net encontrou o site dos M.M.
Depois de vrios meses de pesquisa, a nossa amiga encontrou um blog no
qual vinha em destaque uma entrada que dizia: Sou a Magnifgicameteora123
e gostaria de comentar o seguinte tema O interesse humano pela Matemti-
ca. Ao longo dos meus anos como vigilante da terra tenho-me vindo a aper-
ceber que o interesse dos terrqueos est a descer a um nvel assustador. Isto
deixou--me bastante preocupada e ento tomei a liberdade de libertar para o
planeta terra uma e--dmia matemtica. Todos devem estar a pensar que eu
estou maluca. Mas no tm motivos para se alarmarem, porque benigna e s
ataca os terrqueos. At vista e mandem-me uma mensagem caso queiram
saber mais informaes. Ao ler esta mensagem foi logo avisar as autoridades.
O polcia Joo Pestana, que estava a ser chamado da terra do sono, no
ligou muito ao que ela disse. Achou que aquela mulher estridente estivesse
27 . vinte e sete . XXVII

com algum problema mental e aconselhou-a a ir consultar um mdico da rea


da Psiquiatria. A vigi-la, estava bem distante noutro planeta a Magnifgicame-
teora123. Ao ver que muita gente tinha lido o seu artigo, resolveu fazer uma
visitinha a Numeropolis
Era feriado municipal. Toda a gente estava reunida no largo, perto da C-
mara Municipal, quando o Sol ficou encoberto por uma grande infoestrutura
com uma forma redonda a pairar no cu. Uma porta abriu-se e de l de dentro
saiu uma menina quase to pequenina como um boto. Ela apresentou-se e
disse que tinha sido ela quem tinha libertado aquela e--dmia.
A nossa histria est prestes a acabar como naqueles filmes de comdia
em que o futuro das personagens principais aparece em rodap este final vai
ser do mesmo gnero
Quando a Magnifgicameteora123 se ofereceu para os curar da e--dmia,
todos lhe suplicaram que no o fizesse, pois estavam a gostar de conhecer as
maravilhas do mundo matemtico.
Mas afinal quem roubou o nmero de ouro?! Com toda esta confuso at
se tinham esquecido dele o que se passou foi o seguinte: o guarda-nocturno,
que j tem uma certa idade, andou a fazer uma arrumao por l. Tinham liga-
do o alarme e ele sem querer activou-o. Aquilo fez uma grande barulheira e ele
assustou-se. Andou por ali a cambalear. No meio daquela confuso conseguiu
avistar um assaltante encapuzado que queria roubar o nmero de ouro para o
vender no mercado negro. Decidiu ento retirar o nmero de ouro do expositor
para o salvar. Enquanto fugia para o cofre subterrneo, tropeou, bateu com a
cabea no cho e a porta fechou-se com ele l dentro. Esteve l trs dias, in-
consciente. Quando se apercebeu do que tinha acontecido, o velho segurana
ligou para as autoridades que o resgataram de imediato. Logo nesse dia, o n-
mero de ouro foi colocado na sala, num cubo transparente, mas segurssimo,
prova de qualquer crime. A partir desse dia todos, todos iam visit-lo.
Entretanto, os habitantes de Numeropolis tinham bebido um antdoto que
XXVIII . vinte e oito . 28

fez com que todos gostassem e trabalhassem diariamente na Matemtica, mas


seguissem a sua vida normal. Daquela cidade saram os melhores matemticos
e as mais importantes invenes. At a doutora Gertrudes Lingustica passou
a dedicar-se ao estudo desta cincia, sem se esquecer do estudo da lngua,
claro!... Um dia at decidiu mudar de nome, passou a chamar-se Gertrudes
Linguemat.
29 . vinte e nove . XXIX

MATEMALNDIA: A PRINCESA CALCULATRIK


texto: beatrizpereira . ilustrao: cludiaoliveira

A Matemalndia uma terra encantada, com cu azul, nuvens brancas e um


enorme porto colorido com, , , x, +, , e muito mais. O Rei desta linda ilha
chamava-se Numerik e a sua Rainha, Algebarak. Eles tinham muita sorte em
governar esta maravilha, pois tambm eram amados por toda a gente.
Num certo dia, estava tudo azul, claro e radiante, quando, de repente, come-
ou a chover e o cu escureceu como nunca se tinha visto. Todos ficaram muito
assustados e atormentados com tal acontecimento, pois nunca, alguma vez, isto
tinha acontecido.
Detrs das escurssimas nuvens, apareceu, a voar na sua vassoura mgica, a
bruxa Trs, a mais temvel e aterradora bruxa e Rainha das Trvas.
Caros habitantes de Matemalndia, um feitio eu vos vou lanar. Todos
os recm-nascidos, a partir dos 16 anos, numa calculadora nunca mais podero
tocar. E quem lhes ousar tocar ir adormecer durante anos e nunca mais poder
acordar. E eu voltarei para vos atormentar! Ah, ah, ah! disse a Trs, enquanto
desaparecia por trs das nuvens.
Todos ficaram aterrorizadssimos, olhando para a bruxa a desaparecer.
E agora, caros Rei e Rainha? Que iremos fazer? perguntou um dos habi-
tantes.
Sim, que iremos fazer? No queremos nenhuma maldio para os nossos
filhos! E muito menos com calculadoras! exclamou a senhora Dez.
Acalmem-se, caros amigos. No se esqueam que eu e a Rainha tambm
XXX . trinta . 30

temos uma filha recm-nascida e ela tambm pode estar amaldioada. Ns


vamos fazer uma reunio com os nossos conselheiros e depois iremos infor-
mar-vos da deciso. Por hoje tudo. disse o Rei Numerik, que, apesar de
demonstrar descontraco, tambm estava preocupado.
Numerik e Algebarak saram da varanda e foram para dentro do seu
enorme castelo, contemplar a sua filha, aparentemente, recentemente, amal-
dioada. O seu nome era Calculatrik, pois, desde que tinha nascido, j fazia
clculos difceis tinha uma inteligncia espantosa
Passaram 16 anos e Calculatrik j estava uma bela donzela, com cabelos
compridos, ondulados e castanhos e com uns belos olhos verdes.
Calculatrik, vem c abaixo. Temos uma surpresa para ti! disse o Rei
Numerik.
Ningum respondeu. O Rei fez esta pergunta inmeras vezes, mas, tal
como da primeira vez, no obteve resposta e comeou a ficar preocupado. En-
to chamou os guardas e disse-lhes:
Se calhar hoje que a maldio se concretiza! Ordeno a todos os guardas
que revistem cada canto do Reino, j! gritou o Rei.
Querida Algebarak, a nossa filha desapareceu! exclamou Numerik,
lamentando.
Oh, no! E agora, que fazemos? perguntou a Rainha.
S h uma soluo! GUARDAS!!! Venham c, depressa! gritou o Rei.
Os guardas aproximaram-se e um deles perguntou:
Sim, caro Rei. Do que necessita mais?
Preciso que recolham todas as calculadoras do Reino, imediatamente.
Quando as tiverem todas reunidas, faam uma grande fogueira, com chamas
altas e fumegantes. ordenou Numerik.
Sim, Senhor. Necessita de mais alguma coisa? disse um dos guardas.
Bem, sim. acrescentou o Rei. Quero que todos os habitantes de Ma-
temalndia assistam a esta queimada. E eu tambm quero ver, com os meus
31 . trinta e um . XXXI
XXXII . trinta e dois . 32

prprios olhos, as calculadoras feitas em cinzas!


Querido, tens mesmo a certeza? perguntou Algebarak.
Mas claro que sim! Quero mostrar quela bruxa que quem manda aqui
sou eu, tu e mais ningum! Porque a bruxa no nos mete medo nenhum. S tenho
pena que sejam calculadoras, porque do sempre muito jeito no nosso Reino. Mas
vamos enfrent-la na mesma. disse ele para a Rainha, com convico.
Algures no meio do bosque:
L, l, l, o meu prncipe vou encontrar. L, l, l, e vocs vo-me ajudar
cantou Calculatrik.
Calculatrik, por favor. Tu achas que vais achar o teu prncipe assim to
rapidamente? Isso quase impossvel! disse o velho mocho resmungo, um
dos Ani+ do bosque.
Eu acredito no amor primeira vista. Deve ser nisso que a Calculatrik est
a pensar. disse o pequeno Coelho Circunferncia No achas Peixe-Recto?
Eu acho que sim. E alis, eu tambm acredito no amor primeira vista.
respondeu o Peixe-Recto.
Eu continuo a achar que no! teimou o Mocho.
Senhor Mocho, segundo os meus clculos, que nunca erram, a expresso
igual a sim existe amor primeira vista. disse Calculatrik.
Tu e os teus clculos, Calculatrik! exclamou o Sr. Mocho, um pouco
chateado.
Eu sei! disse ela.
De repente, durante aquela conversa toda, ouviu-se um barulho um pouco
distante. Vinha detrs das copa-circunferncias e das hexgono-flores. Era uma
voz doce e suave, que cantava:
L, l, l, o meu amor vou encontrar. L, l, l, vou continuar a procurar
Ouviram aquilo, amigos. Era uma cano! E igualzinha minha! To
romntico, no ? Quem ser? perguntou-se Calculatrik (a si prpria).
33 . trinta e trs . XXXIII

Ns no sabemos, disseram os Ani+. mas vai l ver, que ns vamos


contigo.
Muito obrigada, amigos, mas no preciso. Mesmo assim, obrigada.
agradeceu Calculatrik.
Est bem, como queiras. E quanto a irmos contigo, no tens de qu.
disseram os Ani+, ao mesmo tempo.
Calculatrik atravessou algumas copa-circunferncias e hexgono-flores
e, finalmente, encontrou aquilo que queria: o tal rapaz. Quando o viu, ficou
logo apaixonada: ele era um rapaz alto, corpulento e tinha um cabelo castanho,
que danava ao ritmo do vento. Era um jovem muito bonito e robusto. E s
para tornar aquele momento mais romntico, ele estava parado, a dar de co-
mer e de beber ao seu lindo semi-cavalo branco.
Toma umas cenourinhas, Pitgoras. Podes comer e beber vontade,
afinal de contas j andmos muito. disse o rapaz para o cavalo.
Acidentalmente, enquanto Calculatrik o observava, desequilibrou-se e
caiu. O jovem ouviu e foi logo ver.
Donzela, est ferida? Magoou-se? perguntou ele.
No, no. Obrigada, eu estou bem. respondeu Calculatrik.
Ser que eu, um rapaz ansioso por a conhecer melhor, poderia saber o
nome desta linda donzela? perguntou o rapaz.
Mas claro que sim. disse ela um pouco envergonhada. Eu chamo-me
Calculatrik. E tu, como te chamas? perguntou.
Calculatrik, h? um nome giro e engraado. Eu chamo-me Estatstik.
Os meus pais deram-me este nome, porque eu sempre fui muito bom a Estats-
tica. explicou ele.
Que coincidncia! Os meus pais tambm me deram este nome, porque
eu sou muito boa numa rea de Matemtica: clculos. Da o nome Calculatrik.
disse a rapariga.
Espera a. Tu s a filha do Rei Numerik e da Rainha Algebarak, no
s?! perguntou Estatstik.
XXXIV . trinta e quatro . 34

Bem, sim. Mas eu no gosto que me tratem de maneira diferente s por


eu ser uma princesa. Mas sim, como sou. disse Calculatrik.
Desculpai-me, Alteza, quer dizer Calculatrik. que os teus pais esto preo-
cupadssimos contigo. Todos os guardas do Reino andam tua procura! exclamou
o rapaz.
Os meus pais preocupam-se de mais. por causa de qualquer coisa, uma
maldio ou l o que ! afirmou ela.
Uma maldio?! Uma maldio!!! exclamou Estatstik. A maldio da
bruxa Trs, a pior das bruxas. Eu tambm estou amaldioado com esse feitio.
Acho que nos probe de tocar em calculadoras.
Calculadoras! Isso terrvel! O meu pai nunca me tinha contado isso. Ele
s dizia que as calculadoras eram perigosas. Mas eu tinha os meus clculos, por
isso no me fazia grande diferena. contou ela.
Para ti no, mas para muitas outras pessoas sim. Agora melhor ires,
porque se nos apanham juntos, eu sou o primeiro suspeito de rapto e sou con-
denado morte. disse ele.
Parece que um adeus, no ? perguntou Calculatrik, com muita pena.
Acho que sim. respondeu Estatstik.
Os dois aproximaram-se e tentaram beijar-se, mas
Rpido, ela est ali! gritou um dos guardas, chamando os outros.
Rpido, foge! disse Calculatrik a Estatstik. Se no eles apanham-te!
Rpido!
Estatstik fugiu e Calculatrik foi levada para casa onde teve uma longa
discusso com o pai.
Mas, pai! disse Calculatrik.
No h mas, nem meio mas. Ficas de castigo e pronto! Tu desobedeceste-
-me! Eu dei-te liberdade, confiei em ti, mas tu traste a minha confiana. Tenho
muita pena que sejam os teus anos, os teus 16 anos, ainda por cima. Mas tem
que ser. Eu s quero segurana para ti. disse o Rei Numerik para a sua filha.
35 . trinta e cinco . XXXV

Isto no confiana, tu ests a aprisionar-me. disse ela, muito chateada.


Eu at tinha uma prenda para ti. Mas agora j no te dou nada! Tens que
perceber, eu s quero o melhor para ti. explicou-lhe.
Numerik saiu do (quarto) e Calculatrik comeou a chorar.
Querido, no achas que foste muito duro com ela? perguntou Algebarak.
No. Ela tem que aprender que, apesar de j ter 16 anos, ainda tem que
nos obedecer. respondeu o Rei.
Pai, isto no vai ficar assim. disse Calculatrik para si prpria. J sei.
Vou fugir! E j. disse ainda a choramingar.
Ela saiu do pela janela. Atou vrios lenis e desceu. De seguida foi,
a correr, para o Museu Louvrecalculadora, onde restavam as nicas calcula-
doras do Reino. Entrou, partiu o vidro de segurana de uma exposio e tirou
uma calculadora. Mal tocou nela, desmaiou e caiu no cho. O alarme tocou e
o segurana foi l ver. Acontece que o segurana era Estatstik, o rapaz que
Calculatrik tinha encontrado no bosque.
SOCORRO!!! Est aqui uma pessoa ferida! SOCORRO!!! gritou ele.
Todos foram ajudar, mas ningum a conseguiu reanimar.
a minha filha! disse Algebarak. Ajudem-na!
meu Deus. O que eu fui fazer? disse o Rei, a chorar. Eu no queria
que isto acontecesse. Por favor acorda, Calculatrik!
Talvez isto a possa ajudar. disse Estatstik.
Querida donzela, um beijo eu te vou dar. Talvez isto faa, o feitio acabar.
disse o jovem.
Estatstik beijou a donzela adormecida e logo de seguida ela acordou.
Todos exclamaram: O beijo do verdadeiro amor!!!
Calculatrik e o pai voltaram a entender-se e todos juntos comemoraram
a festa de 16 anos com ela. At Estatstik.
Os pais da princesa permitiram o namoro deles e, anos mais tarde, casa-
ram-se, tiveram filhos e VIVERAM FELIZES PARA SEMPRE!!!
XXXVI . trinta e seis . 36

A VIAGEM NO TEMPO
texto: lusmelo . ilustrao: joosousa

A Matemtica o mundo dos nmeros muito divertido. s vezes, os n-


meros andam em grandes brincadeiras complicadas, saltando de operao em
operao, ora se juntando, ora se retirando, ora se multiplicando, ora se repar-
tindo em grupos, enfim numa grande brincadeira, quando um deles quis fazer
uma mquina do tempo. Assim que acabou, chamou alguns dos seus compa-
nheiros para se fazer a experincia.
Foi ento que se ouviram alguns rudos e todos os que estavam perto co-
mearam a ser arrastados, em seguida, e iniciaram a viagem mais aventureira
que poderiam ter.
Assim que caram de uma pequena e circular passagem, repararam que
estavam diferentes e at os homens que por ali havia tinham vestes diferentes!
Falavam latim e apreciando a escrita do escrivo repararam que as suas
antigas formas no eram conhecidas:
Que ignorncia! comentavam.
E as expresses numricas e as frmulas das reas do rectngulo e do
quadrado?
E o smbolo do euro? Aqui no h euros? Que desgraa coitados!
Depois de variados comentrios, um dos nmeros disse:
Reparem, ns estamos com vestes romanas! Ns somos a numerao
romana e estes homens so os Romanos!
Foi uma alegria! Os nmeros estavam muito contentes saltando de alegria
37 . trinta e sete . XXXVII

e foram dar uma volta. E ento puderam encontrar-se nos monumentos, nas
fontes, nos aquedutos, nas igrejas e sentiram-se muito importantes. E to
importantes se sentiram que comearam a medir as suas foras. O nove (IX)
proclamava ser o rei, visto ter o maior valor absoluto. Houve uma grande dis-
cusso e quase se declarou uma guerra.
No, o rei sou eu disse logo o oito (VIII) sou o mais belo e o mais per-
feito! Empurrando o oito veio logo o trs (III), dizendo que todos gostam do trs
e por isso ele que deveria ser o rei.
No! gritou o nmero um (I). Sou eu, porque sou o primeiro!
De repente, os nmeros que ali estavam, descobriram que o zero no tinha
vindo e ficaram muito preocupados e calaram-se todos.
Um deles dissera que sem o zero no devia haver nenhuma eleio, que
era uma injustia e que j tinha saudades de regressar, saudades de ser usa-
do nos raciocnios, nos clculos mentais, nas caixas dos supermercados, nos
balces dos centros comerciais, na construo das mquinas, nas fbricas, nas
indstrias, nos aeroportos, nas escolas e em tantos outros lugares.
Todos concordaram.
Mas agora como voltaremos? perguntou outro.
E de repente, comearam todos a chorar. O que lhes tinha acontecido!!...
Um deles, o mais desesperado falara da sorte do zero, pois ele tinha esca-
pado a tal desgraa.
Todos pararam de chorar e pensaram no que teria acontecido ao zero.
O zero, esse, tinha ficado aflito no meio da mquina do tempo circulando
por todo o lado, carregando em todos os botes procura de uma sada.
O tempo parecia passar to devagar, mas o zero no desistia, at que numa
certa altura ouviu-se um rudo e numa grande agitao apareceram todos os
viajantes perdidos que se abraaram tanto que prometeram nunca mais fazer
tal experincia.
Todos preferiam serem usados nos computadores e nos problemas mais
difceis que os homens podem exigir.
XXXVIII . trinta e oito . 38
39 . trinta e nove . XXXIX

Voltaram agora a ser mencionados nas medidas de comprimento de


reas, de volume, nos cadernos dos alunos que os desenhavam com lindos
lpis, canetas ou mesmo carregando apenas em simples teclas.
E, todos os nmeros concordaram que o mundo da Matemtica parecia
agora ainda mais divertido.
O zero, muito satisfeito, voltou a sorrir, pois finalmente tinha conseguido
recuperar o seu lugar!
XL . quarenta . 40

A IMPORTNCIA DO ZERO
texto: joomatos . ilustrao: acciosantos

L na longnqua Arbia, vivia um nmero muito importante chamado Zero.


Todos gostavam dele e lhe reconheciam valor. Os outros nmeros enchiam-
no de mimos e constantemente o chamavam:
Sr. Zero, venha para junto de mim, se, se colocar minha direita eu fico
maior, mais poderoso
Ora o Dois, que era um nmero muito invejoso, resolveu mandar-lhe uma
carta annima, com o objectivo de o envergonhar.
Nessa carta chamava-lhe mau amigo, pessoa sem prstimo e dizia-lhe que
um zero esquerda nada valia.
At lhe posso comprovar o que digo comentou o Dois cheio de ener-
gia. Ora oua: 0+0+0+0=0; 1+0=1; 2+0=2 e por a adiante, meu triste Senhor
Zero. Est a ver? Eu sou o Dois, lindo e elegante e voc nada vale. Est a mais
no seu pas e no mundo. Desaparea imediatamente, olhe que eu tanto posso
representar um par de sapatos como um casal de pombos, veja l a minha im-
portncia!...
O pobre do Zero, ao ouvir estes insultos, chorou amargamente e resolveu
desaparecer do pas dos nmeros.
E ento eis o que aconteceu:
Os carros, que deviam andar a setenta quilmetros por hora, passaram a
andar a sete. As pessoas perdiam a pacincia e as viagens tornaram-se inter-
minveis.
41 . quarenta e um . XLI
XLII . quarenta e dois . 42

Os bancos, onde se acumulavam grandes fortunas, comearam a ter as po-


bres e tristes moeditas de um e dois euros e as notitas de cinco euros, nada mais!
Oh! Que grande desgraa! gritavam os donos das gordas contas banc-
rias. Estamos na misria, acudam-nos!...
E o Dois, escondido e envergonhado, ouvia do seu canto todas estas queixas,
mas sem nunca dizer uma palavra.
Foi ento que o Nove percebeu a importncia do Zero e trepou ngremes
montes e desceu inclinados vales, achando que como era o ltimo da srie devia
resolver o problema.
Encontrou-o num buraco, escondido e coberto de lgrimas.
Perdoe, meu amigo. A quem o insultou mostre que a sua bondade igual
ao seu grande valor e venha de novo para o nosso pas.
O Zero regressou e, pela grande festa que lhe fizeram, percebeu que tinha
feito mal dar ouvidos ao Dois.
Afinal, muitos o amavam e reconheciam a sua importncia.
43 . quarenta e trs . XLIII

A SAPATARIA SOMA
texto: inssilva . ilustrao: michellemiranda

Numa sapataria, estava a senhora Soma junto da mquina registadora.


Um cliente entrou e depois de experimentar vrios sapatos, escolheu uns
que custavam 15 euros. Por os achar muito baratos, decidiu levar quatro pares.
Rapidamente a senhora Soma calculou: 15+15+15+15= 60 euros.
A D. Multiplicao, que nas horas vagas gostava de fazer companhia
senhora Soma, disse-lhe:
Se a senhora fosse esperta fazia essa conta muito mais depressa, bastava
multiplicar 15 por quatro que o resultado seria o mesmo e
Ora, ora. interrompeu a senhora Soma. Se eu me chamo Soma
porque tenho de somar, por isso deixe-me fazer as coisas minha maneira.
Eu s queria ajudar, pois eu facilito tudo, comigo as contas so mais
rpidas de fazer. Sempre que precisar, aqui estou eu para trabalhar.
Tudo bem, aceito a sua ajuda, mas s aos sbados que quando h mais
clientes. Nos outros dias no preciso! exclamou um pouco aborrecida a
senhora Soma.
O sbado chegou e as duas amigas l estavam prontas para o trabalho. A
senhora Soma comeou a sentir um pouco de inveja da rapidez com que a sua
amiga Multiplicao trabalhava e, sem se aperceber comeou a cantar:
XLIV . quarenta e quatro . 44
45 . quarenta e cinco . XLV

Como eu desejava
Poder multiplicar
Mas nasci Soma
S aprendi a somar

Ao ouvi-la, a senhora Multiplicao afirmou:


Minha amiga, no fique triste. Cada uma nasce para o que . As duas
somos importantes!
A partir desse dia, ainda se tornaram mais amigas.
XLVI . quarenta e seis . 46
parte dois . 2
49 . quarenta e nove . XLIX

UMA HISTRIA COM... MATEMTICA


texto: evatanque . ilustrao: angelinaferraz

No ano de 2332, no futuro, o planeta Terra deixou de ser habitado por


seres humanos e passou a ser habitado por uns seres esquisitos, os Numris.
Os Numris so nmeros. Nmeros com vida, olhos, boca, nariz, orelhas, tudo
como o ser humano.
Eles apareceram de uma estranha forma. Era de noite, j estavam todos
a dormir. Os humanos comearam a subir por entre um raio de luz. Quando
caram de novo nas suas camas, eram nmeros. Ningum deu por nada. S
no dia seguinte que se aperceberam do que se tinha passado. Toda a gente
estava transformada, todos menos uma menina chamada Zoe.
Zoe j se tinha apercebido, tal como os outros. Ela tinha de fazer alguma
coisa para os ajudar. No podia continuar sem fazer nada.
Tenho de pensar em algo para ajudar os humanos. Agora at do outro
lado do mundo so nmeros. O pior que s tenho 7 anos, preciso da ajuda
de algum.
Zoe estava enganada. Do outro lado do mundo, na Nova Zelndia, um me-
nino chamado Alex pensava no mesmo que a Zoe.
Preciso da ajuda de algum. No posso fazer nada sozinho! J sei! disse
ele. Vou para Portugal, que fica do outro lado do mundo.
Em Portugal, Zoe apressava-se a ir para a escola. Quando l chegou, ficou
um bocado espantada. Tambm j era de esperar. Todos os seus amigos eram
nmeros, at o professor. Havia era uma coincidncia. Cada aluno era o seu
L . cinquenta . 50

nmero da turma. A Ana era o quatro, a Carla o dez e por a adiante. O Alex j
estava a aterrar. Finalmente, tinha chegado. Aterrou mesmo em frente escola
e na hora do intervalo. Quando viu a Zoe e a Zoe o viu a ele, pensaram logo:
Estamos salvos!
Quando foram ter um com o outro, combinaram encontrar-se noite para
resolverem a situao. Minutos depois, tocou para entrar.
Vamos trabalhar em Matemtica. disse-lhes o professor.
Mas ns j somos matemtica.
Pois, mas vamos fazer assim. Eu vou chamar-vos ao quadro e vo formar
nmeros. Os que esto sentados lem o nmero. Nmero seis, quatro, nove, dois
e um. Vo formar um nmero decimal. Eu vou ser a vrgula, como podem ver.
o nmero vinte e uma unidades e novecentos e sessenta e quatro
milsimas. respondeu imediatamente a Marta.
Certo. Muito bem Marta, estou impressionado!
Algum tempo depois, tocou para sair. Era hora de almoo.
Esta coisa de sermos nmeros at fixe. Ao menos ficamos a perceber
melhor a Matemtica. comentavam os alunos.
At eu, que no percebo nada disto estou uma craque. respondeu
a Marta.
noite, o Alex e a Zoe tentavam resolver o assunto.
Temos de encontrar uma maneira. As coisas no podem continuar assim.
disse o Alex.
Concordo. Tenho uma ideia!
Fala, fala. Estou curioso. Depressa.
O Dr. Cientista pode ajudar-nos. Ele uma pessoa mais avanada em
termos de cincia.
Claro. Ento vamos, do que estamos espera?
E l foram os dois a correr para o laboratrio do Dr. Cientista que, acordou
de repente e estremunhado.
51 . cinquenta e um . LI
LII . cinquenta e dois . 52

O que fazem aqui a uma hora destas? No deviam estar a dormir? Afinal
o que querem? Desembuchem!
Bom, como sabe, todo o planeta se transformou em nmeros. Menos
ns os dois. Gostvamos de poder ajudar toda a gente, at o senhor.
Eu acho que tenho ali um livro que nos pode ajudar. Era do meu bisav.
Aqui est, Os Numris.
O que que diz?
Eu ainda no estou bem acordado. Importam-se de voltar amanh de
manh, quando eu estiver realmente acordado?
No, no nos importamos nada. Voltamos amanh. Boa noite.
Adeus, meninos. At amanh.
E l foram eles para casa, um pouco mais descansados, depois de saberem
da existncia do tal livro. Com certeza que l dizia o que fazer para as pessoas
voltarem ao normal.
No dia seguinte, de manhzinha, foram de novo ao laboratrio do Dr. Cien-
tista que j se encontrava acordado.
Bom dia, Dr. Cientista. J est bem acordado? perguntou a Zoe.
Sim, claro. Vamos ver o que o livro diz. Mas aonde que eu o meti?
Se me recordo, na mesa-de-cabeceira. Oh, no! Ele no est aqui!
Se calhar p-lo noutro lugar. respondeu Alex.
Vamos procur-lo.
Estiveram horas e horas procura do livro at que...
Encontrei-o! exclamou Zoe Estava debaixo da estante.
Vejamos. Diz assim: Para acabar com os Numris tm de resolver um
problema matemtico.
A Filipa vai comprar 15 bolos. Quando chega confeitaria verifica que
cada um custa 65 cntimos. Ento diz ao empregado:
Eu no tenho dinheiro para pagar tudo porque apenas trago uma nota
53 . cinquenta e trs . LIII

de dez euros.
Ser que a Filipa tem razo? Justifica a resposta com os clculos.

Vamos ter de pensar. disse Zoe J sei! 0,65 15 que vai dar...
9,45.
De repente, os humanos deixaram de ser nmeros e ficaram de novo normais.
Viva! Obrigado, meninos.
E assim, ficou tudo resolvido.
LIV . cinquenta e quatro . 54

A AMIZADE PODEROSA
texto: anamargaridaalmeida . ilustrao: hernnipestana

Era uma vez um planeta chamado Numerolndia. L, s habitavam n-


meros, mas s nmeros. Nesse planeta gigantesco, apenas existiam 9 escolas,
9 salas, 9 meninos, 9 professores Ningum, mas mesmo ningum, tinha in-
ventado o nmero 10, o nmero 22 ou at mesmo o nmero 100. Para ns,
agora parece no ter importncia nenhuma, porque todos os nmeros fazem
parte da nossa vida, mas na verdade devia ser muito estranho viver naquele
planeta.
Numa dessas escolas onde os nmeros estudavam calmamente ouviu-se
algum a bater porta.
Quem ser? interrogaram em coro, o nmero 1, o nmero 2, o nmero
3, o nmero 4, o nmero 5, o nmero 6, o nmero 7, o nmero 8 e o nmero 9.
Do outro lado da porta ouviu-se uma voz, que parecia mais um gemido.
Sou eu! O nmero zero!
O nmero 9, que era o mais engraadinho, soltou uma gargalhada impie-
dosa, seguido pelos seus colegas, que se julgavam os maiores. Apenas o nme-
ro 8 teve uma atitude diferente, levantou-se do seu lugar e disse serenamente:
Respeitem a professora! Deixem entrar quem quer!
Depois de ter esperado um bom bocado, o zero l entrou, sentou-se numa
carteira e calou-se.
Todos os dias acontecia o mesmo, o zero entrava, dizia Bom dia! e s saa
da carteira quando a aula acabasse.
55 . cinquenta e cinco . LV
LVI . cinquenta e seis . 56

Um dia, a professora disse aos alunos:


Amanh, vamos ao Portugal dos Grandes!
O que o Portugal dos Grandes? perguntaram os nmeros.
um lugar que tem nmeros GRANDES!
Grandes?!...
Sim. um lugar onde vivem nmeros maiores que 9! Maiores que
todos vocs.
Isso impossvel! Maior do que eu no h ningum. E menor do que o
zero? AH! AH! AH! Menor do que o zero no h!!! O zero um falhado! AH! AH!
AH! disse em tom de troa o nmero 9.
Ouvindo isto, o zero correu para fora da sala a chorar revoltado contra
tudo e todos. O nmero 8 ficou furioso com aquilo que viu, ouviu e sentiu.
Ento, foi ao encontro do nmero zero. Zero no parava de chorar e s dizia:
No valho nada! Sou um falhado Todos tm razo. Sou mesmo um intil.
O nmero 8 no sabia o que dizer, apenas o abraava e tentava acalmar.
medida que o abraava, estava a formar um nmero GIGANTE o nmero
80. Naquela troca de afectos, eles no se aperceberam, mas os outros colegas
perguntavam-se:
Que nmero aquele?
A professora foi ver ao dicionrio:
Nmero oitenta formado pelo 8 e o 0. um nmero muito grande.
Quando os alunos leram aquilo ficaram pasmados. Eles que pensavam que
o zero no valia nada, afinal bastava algum juntar-se a ele e formava-se um
nmero GRANDE! O 9 foi o primeiro a dizer:
Ele vem comigo na visita de estudo!
E logo os outros o repetiram. Mas foi o zero a escolher. O zero escolheu ir
com o seu verdadeiro amigo, aquele que sempre o defendeu nos bons e nos
maus momentos.
57 . cinquenta e sete . LVII

Quando o zero chegou ao Portugal dos Grandes, teve uma grande surpresa,
s via zeros e o 1, o 2, o 3, o 4, o 5, o 6, o 7, o 8 e o 9,mas cada um deles, sempre
acompanhado pelo menos com um zero. Ento ele percebeu, que era um algaris-
mo muito importante para todos e que tambm os outros algarismos faziam toda
a diferena, quando acompanhados por si ou pelos seus irmos zero.
Todos, a partir daquele momento, perceberam que no mundo todos te-
mos um lugar e uma misso para cumprir. Todos perceberam que, indepen-
dentemente do lugar que ocupamos e da misso que temos, devemos sempre
respeitar a diferena e se pudermos unirmo-nos a ela e da unio fazer a fora.
LVIII. cinquenta e oito . 58

UMA LINDA E SEDUTORA MENINA


texto: gonaloflix . ilustrao: mariapais

O chefe do reino das criaturas mgicas convocou uma assembleia, para a


eleio de uma equipa que conseguisse libertar uma linda menina, chamada
Matemtica, e destruir o mito de que ela um terrvel Bicho-de-Sete-Cabeas.
No fim de uma ponderada eleio, esta equipa ficou constituda por cinco
elementos: o ogre chamado Xis, o elfo Ipslon, o gnomo Alfa, o feiticeiro
mega e a fada Beta.
Como a Matemtica estava aprisionada no cume de uma serra ventosa,
o grupo, para l chegar, precisava de ultrapassar um pntano lamacento, um
deserto arenoso e uma floresta cerrada.
Apesar de cientes da dificuldade da misso, a equipa partiu alegre e
confiante.
Chegados ao pntano, o ogre ofereceu-se logo para passar em primeiro
lugar, mas rapidamente ficou surpreso e um pouco assustado quando, depois
de alguns passos, se sentiu a afundar. Perante esta adversidade, a fada e o
feiticeiro uniram os seus poderes e criaram uma matria viscosa, cheia de
algarismos, grafismos e smbolos que, depois de envolver o ogre, o elevou e
permitiu o seu regresso a terra firme.
De seguida, os smbolos construram uma ponte rectangular, apoiada em
diversos pilares cilndricos, com 3 quilmetros de comprimento, 20 metros de
largura, que uniu as duas margens do pntano e permitiu a sua passagem em
segurana.
59 . cinquenta e nove . LIX
LX . sessenta . 60

Junto ao deserto, o feiticeiro, depois de consultar o mapa virtual do seu


livro mgico, exclamou:
Ups... para conseguirmos ultrapassar o deserto, quente e arenoso,
necessitamos de um meio de transporte adequado, ou seja, camelos. Mas,
para os encontrarmos, temos que resolver este enigma: quantas meninas
tem um ano?
Comearam a olhar uns para os outros at que o elfo, ufanamente, res-
pondeu:
52, ou seja, 52 semanas.
Depois surgiram cinco fortes camelos que, rapidamente, os transportaram
at ao fim do deserto e ao incio da floresta cerrada e escura.
Como ouviram um barulho estranho e repetido, aproximaram-se cautelo-
sos de uma clareira onde avistaram um lenhador. Ao v-los, o lenhador limpou
a testa suada e perguntou-lhes:
O que fazem aqui?
Em coro, o grupo respondeu:
Precisamos de encontrar e libertar a Matemtica que est aprisionada no
cume daquela montanha que se avista no horizonte da floresta.
Ento, o lenhador pensou um pouco e disse:
Eu conheo esta floresta como a palma da minha mo e ajudo-vos se
resolverem o seguinte problema: ontem de manh, cortei 15 rvores, tarde o
triplo. Hoje, como estou cansado, ainda s cortei metade das que cortei ontem,
por isso, quantas j cortei hoje?
De rompante, o gnomo, dando saltos de alegria, respondeu:
30 rvores.
O lenhador sorriu e, depois de poisar o pesado machado, convidou-os a
subir para a carroa. A seguir subiu ele tambm, pegou nas rdeas e fustigou
os cavalos.
Ultrapassada a floresta, atravs de um caminho labirntico, o lenhador
61 . sessenta e um . LXI

parou a carroa e disse-lhes:


Sigam aqueles sinais que eles vos guiaro at a uma escada ngreme que
termina exactamente no cume da montanha.
O grupo agradeceu ao lenhador, dirigiu-se para o local indicado, pelos sinais,
e iniciou a subida da escada. Como os degraus eram irregulares e escorregadios,
por vezes caam e tinham de recomear, mas motivados pelo desafio da misso
no desistiram e, depois de vrios recuos e muitos avanos, conseguiram chegar
ao topo. Ao olhar em redor, depararam-se com um enxame flutuante de
nmeros e sinais que rodeava o corpo de uma encantadora menina que
olhava o infinito.
Perplexos com o enxame dos nmeros, sinais e letras, mas encantados
pelas formas da menina, disseram:
Ol.
Como a menina no reagiu, repetiram bem alto:
Ol, ests acordada?
Ento, a menina abanou o corpo, afastou um pouco o enxame que
flutuava sua volta e, virando-se vagarosamente para eles, disse:
Ol, o que querem?
O grupo viu ento que do pescoo da menina nasciam sete medonhas ca-
beas e, assustados, recuaram um pouco dizendo:
Ento, sempre verdade, tu s a Matemtica e s um bicho-de-sete-
cabeas!
A menina, um pouco envergonhada, tentou tapar as cabeas com as mos
e disse:
Sou um bicho-de-sete-cabeas devido ao feitio de uma malvada fada,
chamada Preguia. Contudo, o feitio quebra-se se vocs souberem responder
a estas questes: O que faz um sbio? O que faz um mestre?.
O grupo confiante respondeu em coro:
O estudo e a prtica.
LXII . sessenta e dois . 62

Ento, os nmeros, sinais e letras que rodeavam e ofuscavam a menina,


comearam a agrupar-se em conjuntos, frmulas, etc., e as sete cabeas trans-
formaram-se numa nica, perfeita e bela cabea.
Radiante, o grupo abraou a menina, aproximou-se do cume mais alto da
montanha e gritou em coro:
Preguiosos deste mundo, afinal a Matemtica no um Bicho de
Sete-Cabeas, sim uma linda e sedutora menina. Todavia, quem a quiser
conhecer tem que muito estudar e muito praticar.
63 . sessenta e trs . LXIII

A HISTRIA DOS POLGONOS


texto: joslusalmeida . ilustrao: davidrebelo

Era uma vez uma figura geomtrica fininha e flexvel que vivia no Pas dos
Polgonos. Tinha muitos amigos, todos polgonos como ela: uns trapzios iss-
celes at quadrados e rectngulos. Um dia, ao ir brincar com as suas colegas,
encontrou um losango triste que lhe disse:
Deixa-me sozinho! rejeitando-a, com ar rabugento.
Eu sou um solitrio trapzio escaleno e gostaria de saber por que ests
triste?! perguntou ele com um ar preocupado.
E o losango respondeu:
Estou perdido e sou novo por aqui! E ningum me liga porque sou um
quadrado deformado.
No fiques triste, porque vais ver que encontras muitos amigos, neste pas.
Mas como que vou ter amigos, se ningum me liga nenhuma
Ento j tens aqui uns bons amigos, que somos ns. Vem tambm con-
nosco procura de muitos amigos para depois connosco construres poliedros.
E ento, quando chegaram cidade de TRIPOLGONO, encontraram mui-
tas espcies de tringulos, tais como escalenos, issceles e equilteros, que
no tinham amigos e por isso perguntaram-lhes:
Por que que esto to tristes?
E os trs tringulos responderam em coro:
Ns estamos tristes, porque no temos amigos e ningum nos liga
nenhuma
LXIV . sessenta e quatro . 64
65 . sessenta e cinco . LXV

Se vocs quiserem podemos ser vossos amigos.


E eles logo responderam:
SIM pode ser, pode ser
E os outros amigos disseram:
Andamos procura de muitos polgonos para depois sermos os polgo-
nos de um poliedro e construirmos muitos. Ento, continuaram a andar e en-
contraram amigos que tinham conhecido quando eram ainda muito pequenos.
Eles j sabiam que andavam procura de muitos polgonos para construrem
novos poliedros e, por isso, juntaram-se logo a eles.
O prximo destino era a cidade DECAPOLGONO onde havia muitos de-
cgonos e alguns at j se conheciam. Os que j conheciam o que eles estavam
a preparar juntaram-se imediatamente a eles. Depois de tanto caminharem,
estavam quase a chegar cidade DODEPOLGONO onde encontraram doze
dodecgonos muito tristes e lhes perguntaram o que tinham. E eles disseram:
Ns estamos tristes, porque no temos amigos!
Se quiserem, podemos ser vossos amigos.
Juntaram-se a eles e seguiram at avistarem a cidade ICOSAPOLGONO,
onde encontraram icosgonos muito tristes que lhes disseram em coro:
Ns estamos tristes, porque toda a gente tem inveja de ns, pois temos
vinte lados.
Eles responderam:
Andem connosco cidade POLIPOLGONO, porque vamos l construir
muitos poliedros.
Quando l chegaram construram muitos poliedros e formaram o pas mais
bonito do mundo!
LXVI . sessenta e seis . 66

RELATRIO DA AULA GEOMTRICA


texto: joscarlospaiva . ilustrao: fbioquerido

Um cubinho,
Dois cubinhos,
Trs cubinhos a girar.
A aula de Geometria,
Aqui vamos ns contar.

Ao entrar na sala de aula,


Ficmos logo espantados,
Com aquelas grandes malas,
Que tinham tringulos e quadrados

Que malas to interessantes,


Eram aquelas.
Ao abri-las,
Fomos logo trabalhar com elas.

Descobrimos uma coisa,


Que os tringulos fazem quadrados
Mas nem todos,
Alguns, fazem-nos espalmados.
67 . sessenta e sete . LXVII
LXVIII . sessenta e oito . 68

O senhor Daniel,
Fez o poliedro estrelado,
Era multicolorido,
E muito engraado!

Aprendemos a frmula de Euler


E aprendemos a jogar,
O jogo dos poliedros,
Que de encantar.

O prisma triangular,
E o hexagonal construmos,
E quando j estavam todos feitos,
Todos ns nos rimos!

A professora fez-nos uma proposta,


Construir uma pirmide,
Mas que esteja bem-posta.

A professora de Matemtica foi-se embora,


E muito tristes ficmos,
Ns gostamos tanto dela,
Para ns uma donzela.

Um cubinho,
Dois cubinhos,
Trs cubinhos j giraram.
A aula e todas as figuras,
Foi assim que acabaram
69 . sessenta e nove . LXIX

UMA AVENTURA MATEMTICA


texto: miguelpereira . ilustrao: mariapais

Num belo dia de sol, fui ao encontro do amigo Mrio. Perto da casa dele, vi
uma papelaria onde vendiam revistas, jornais e outras coisas mais. Decidi com-
prar uma caderneta de cromos de futebol. Eu tive muita sorte, pois o Senhor
da papelaria conhecia-me e ofereceu-me um livro com enigmas matemticos.
Estava ansioso por mostrar ao Mrio o que me tinha oferecido, porque ele ado-
rava Matemtica e, assim, podamos desvendar os enigmas.
Cheguei a casa dele por volta das dez horas. Nesse momento, ele estava a
ver uns desenhos animados muito engraados que, por acaso, eu tambm cos-
tumava ver. Eu disse-lhe que tinha um livro com enigmas matemticos. Ele des-
ligou logo a televiso e fomos para o quarto dele tentar resolver os problemas.
Abrimos o livro e reparmos que tinha problemas, semana a semana.
Como j estvamos no dia catorze de Agosto, abrimos nessa semana e depar-
mo-nos com um problema estranhssimo. O problema era o seguinte:

Completa com nmeros:


Se ( ) ladro ( ) num bar e ( ) sair ( ) pagar, vem ( ) polcia e diz
( ) prender.

Eu e o Mrio fartmo-nos de pensar e pensar, mas s desvendmos duas


partes do enigma: Se (1) ladro e vem (1) polcia. Ns decidimos ir pergun-
tar ao senhor da papelaria, no dia seguinte, pois o Mrio tinha natao tarde
e eu tinha futebol da a meia hora. Despedimo-nos.
LXX . setenta . 70

No dia seguinte, eram oito horas quando o Mrio telefonou. Ele disse-me
que a papelaria do Sr. Carlos abria s nove. Ns combinmos ir l ter quando a
papelaria abrisse, portanto s s nove que nos amos encontrar.
Antes das nove j l estvamos os dois, pois queramos imenso saber qual
era a resposta. Quando chegou, o Sr. Carlos estranhou ver-nos por ali to cedo.
S quando ns lhe perguntmos a soluo do problema, que ele percebeu o
que ns queramos. Ele no nos quis dizer a resposta, ns insistimos, mas ele
no nos disse. Ento, fomos para minha casa destroados.
Quando l chegmos, tentmos resolver o enigma, mas nada. Resolvemos,
ento, perguntar s professoras de Matemtica e Portugus que, por mero aca-
so, iramos ter, nesse mesmo dia, tarde.
Perguntmos s duas professoras, mas nem uma, nem outra sabiam a res-
posta e ainda tiveram de explicar turma toda, desde o incio, a histria. Ns j
estvamos a pensar: ser que este problema tem soluo?
No fim das aulas, fomos para nossas casas. Mal sabamos o que nos espe-
rava no dia seguinte.
De manh, fomos para a escola. No entanto, fomos por caminhos diferen-
tes. Eu ia muito bem no meu caminho, quando um senhor, que eu no conhe-
cia, lia um jornal, cuja manchete dizia: assalto a um banco os ladres deixa-
ram uma pista:

Se ( ) ladro roubar ( ) caixas multibanco e ( ) fugir, aparece ( ) polcia e


diz ( ) prender.
O prximo banco a ser assaltado o banco 2 16 9.

Que coisa to estranha!


O ladro tinha-se baseado no nosso livro, quem seria o homem? Que era
inteligente era. Se calhar o senhor Carlos j sabia a resposta e tinha ido avisar
as autoridades.
71 . setenta e um . LXXI
LXXII . setenta e dois . 72

Quando cheguei escola, contei tudo ao Mrio e ele ficou admiradssimo.


Ao incio, nem acreditava. Escrevemos num papel o problema para no nos
esquecermos de nenhum pormenor e combinmos encontrar-nos em minha
casa para o vermos bem.
Eu j estava impaciente, quando chegou o Mrio. Fomos para a sala de
estar analisar o enigma. At que o Mrio teve uma grande ideia: tentar ver no
alfabeto a que letras correspondiam os nmeros do enigma. Qual no foi a nos-
sa surpresa quando nos deu: BPI.
O prximo assalto iria ser no BPI da minha rua. Ns chegmos a essa con-
cluso, porque vimos na televiso que os assaltos tinham sido todos na mesma
zona.
Ligmos para a polcia, mas ningum acreditou em ns, tambm no era
para menos: dois pequenitos a decifrarem uma parte do cdigo que nem a
polcia conseguiu decifrar. Ns ficmos irritadssimos, porque ainda por cima,
gritaram connosco ao telefone. Depois de muito pensar, resolvemos agir por
conta prpria, de braos cruzados que no amos ficar. Depois de debatermos
muito o tema, concordmos que amos noite ao tal banco e dizamos aos nos-
sos pais que amos jantar um a casa do outro.
Eram sete da noite, quando avismos os pais. Eles concordaram, pois ns
insistimos muito. Antes, fomos a minha casa buscar a mquina fotogrfica. J
era noite cerrada e no aparecia ningum. A, ouvimos um rudo e ficmos com
o corao aos pulos. Era um homem encapuzado. Ainda bem que tnhamos
trazido a mquina, pois tirmos logo trs fotos. Decidimos aproximar-nos para
tirar mais algumas fotos. O homem j tinha tirado o capuz, porque pensava que
ningum o via e que surpresa: era o Sr. Carlos, tirmos mais algumas fotos e
fomos embora.
No dia seguinte, tivemos que contar tudo aos nossos pais. Apesar de ter-
mos mentido, ficaram orgulhosos. O meu pai foi mostrar as fotos polcia e
prenderam o Sr. Carlos.
73 . setenta e trs . LXXIII

Passado algum tempo, conseguiram descobrir os dois enigmas, o primeiro


era:

Se (1) ladro (60) num bar e (70) sair (100) pagar, vem (1) polcia e diz: (20)
prender.

O segundo era:

Se (1) ladro roubar (2) caixas multibanco e (70) fugir aparece (1) polcia e
diz (20) prender.
O prximo banco a ser assaltado o banco 2 16 9 = BPI.

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