Alfa Pesquisa Sobre A Multa Por Adultério No Sul de Angola

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TITULO: Gnero

TEMA: UKOY

Local: Poiares/Lubango

Ano: 2007

APOIO:

Coordenador: Bernardo Peso

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[email protected]

Titulo: Gnero
Tema: Ukoy

PESSOAL TCNICO:

I. Bernardo M. Peso Telemvel: 923 499010


II. Leonor Eugenia
III. Agostinho Amado

GLOSSARIO
I. ATOL = Organizao Belga promotor da Formao
II. MINFAMU= Ministrio da famlia e promoo da Mulher
III. SNV = Organizao No Governamental Holandesa

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SUMARIO EXECUTIVO

I. Contexto Geogrfico
II. Titulo da Pesquisa
III. Objectivo
IV. Grupo Focal
V. Ambiente Implementao da Pesquisa
VI. Metodologia
VII. Alguns conceitos sobre do Gnero e Ukoy
VIII. Gnero em Angola
IX. Contexto Real do Gnero em Angola
X. Ukoy
XI. O que dizem algumas pessoas sobre o ukoys sobre o ukoy?
XI .1Depoimento de uma senhora
XII. Que dizem os Sobas sobre o Ukoy
XIII. Depoimento do 1 Soba
XIV. Depoimento do 2 Soba
XV. Depoimento do 3 Soba
XVI. Que dizem os acadmicos sobre o ukoy?
XVI.1 Professora e Tcnica de Desenvolvimento Comunitrio
XVI.2 Tcnica (chefe de seco) do MINFAMU
XVI.3 Ponto de vista da chefe do Departamento do MINFAMU
XVI 4. Ponto de vista da Directora Provincial do Departamento da Cultura
XVII. Desenvolvimento Organizacional
XVIII. Resumo
XIX. Limitaes e Dificuldades
XX. Concluses
XXI. Agradecimentos
XXII. Bibliografia/Fontes Consultadas

I CONTEXTO GEOGRAFICO

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A ASY comeou a intervir na povoao do Poiares em Maio de 2005
implementando um projecto de alfabetizao e micro-credito financiado pela
Embaixada da Holanda.
Poiares uma povoao da comuna da Arimba, dista 18 Km do municpio do
Lubango. Tem uma populao estimada em 3877 habitantes. Uma zona com duas
estaes; a chuvosa/quente que vai de Outubro `a Abril e a seca/fria que vai de Maio `a
Setembro. As quedas pluviomtricas oscilam entre 700 `a 1000 mm, e a humidade
relativa do ar de 55%; e a temperatura mdia anual ronda entre 19 `a 30 c.
A zona apresenta um relevo acidentado com alguns declives em determinadas
reas ou aldeias; cruzada por alguns riachos com gua corrente apenas durante a poca
chuvosa.
O Autoridade Local representado por um chefe do sector. O Poder Tradicional
representado pelos 6 Sobas coadjuvados pelos 6 Seculos. O Poder Tradicional
representado pelos sobas um legado dos antigos povos autctones que habitaram a
zona. A sua principal responsabilidade a conservao e manuteno dos princpios e
valores consuetudinrios. O poder tradicional tem uma estrutura que varia de povo para
povo, mas o que comum em quase todos os povos o Embala e o Tchyoto ou
Onjango.
O Embala a estrutura mxima do poder tradicional responsvel pela manuteno
dos princpios e regras consuetudinrias. Este conselho constitudo por mais velhos
notveis e conhecedores das prticas e costumes do povo. Hoje, em algumas
comunidades tambm integrado por alguns jovens e por mulheres. O seu prestgio e
influncia reduzidos em grande parte nas comunidades peri-urbanas.
Ao nvel das famlias h o ONJANGO ou o OTHOTO, que espao onde os
ancios da famlia sentam-se com os mais jovens para passar os seus conhecimentos e
ensinar os valores e principio s geraes seguintes. O onjango ainda detm alguma
importncia no processo educativo dos jovens, embora se diga que em alguns poucos
casos exera uma influncia negativa sobre questes com o Gnero, na medida em
refora ou mantm as prticas que visam subalternizar a mulher.
A Povoao habitada por varias etnias: Nhaneca umbundo, ganguela, cokwe. A
tribo dominante nhaneca, um povo tradicionalmente agro-pastoril.
A comunidade dedica-se a agricultura de subsistncia e a criao de animais de
grande e pequeno porte. Alguns membros da comunidade sobrevivem do comrcio
informal. O solo arvel e o clima tropical so favorveis a pratica da agricultura. Porm
a gradual degradao do meio ambiente vai contribuindo negativamente para a
irregularidades das chuvas e por conseguinte a infertilidade do solo faz com que muita
gente hoje sobreviva do comercio informal.
Na povoao h algumas infra-estruturas do Governo, tais como Educao,
Sade.

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Figura 1: Beneficirios do Projecto de Alfabetizao, num encontro de avaliao do Projecto

II. TITULO DA PESQUISA: Gnero


II. 1Tema: Ukoy

III. OBJECTIVO: Aprofundar o conhecimento sobre o ukoy.

IV. GRUPO FOCAL


O grupo para focal deste trabalho de pesquisa foi um grupo de 36 mulheres e 6
homens que estavam a beneficiar de um projecto de alfabetizao e micro-credito
financiado pela Embaixada da Holanda. Depois da apresentao do primeiro trabalho a
volta do tema Ukoy em Abril de 2007, houve necessidade de envolver outras pessoas
com o vista o aprofundamento do Tema.

V. AMBITO E IMPLENTAO DA PESQUISA

O presente relatrio de Pesquisa-Acao resultado de um trabalho que a ASY foi


realizando na comunidade do Poiares desde Novembro de 2006. A ideia era pr em
pratica algumas tcnicas e ferramentas que de maneira formal e sistemtica fomos
aprendendo em formaes promovidas pela a ATOL. O objectivo das formaes
adoptar as Organizaes de ferramentas sobre como poderem adquirir, desenvolver,
guardar, compartilhar, transmitir, aplicar e avaliar os conhecimentos de forma
estruturada.

Algumas Referencias Do 1 Trabalho Apresentado Em Abril De 2007:


Prticas Partes positivas Partes negativas
Poligamia Planeamento familiar Impossibilidade do pai acompanhar a
educao dos filhos

Fonte de receitas Sobrecarrega a famlia da me

M gesto dos haveres dos pais pelos


filhos

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Ukoy Reduz o esprito de violncia no caso Quebra a confiana nos lares
de infidelidade conjugal
Aumenta a possibilidade de contrair as
O filho resultante de uma relao DTS
extra-conjugal tem o mesmo
tratamento e considerao que os Aumenta a pobreza feminina
outros filhos

Baixa ndice de divrcios por


infidelidade conjugal

Da 1 apresentao saram as seguintes recomendaes:


A ASAY deveria construir uma agenda de continuidade para aprofundar o
conhecimento do sobre o ukoy,
Partilhar com o grupo focal/comunidade os resultados da pesquisa;
Aprofundar a percepo do tema consultando literaturas, acadmicos, e
autoridades tradicionais;
Conhecer melhor as implicaes profundas do ukoy no lar e nos filhos

VI. METODOLOGIA
O estudo desenrolou-se em duas fases. A primeira, comeou em Novembro de
2006 com apenas o grupo alvo (36 mulheres e 6 homens) do projecto de alfabetizao e
micro-crdito financiado pela Embaixada da Holanda, cujos resultados foram
apresentados em Abril de 2007. A segunda fase teve dois momentos distintos: de Maio
Julho de 2007 cingiu-se novamente ao grupo focal de 36 e 6 homens, que de entre
outras questes visou a elaborao de uma proposta de continuidade ao projecto anterior
para a comunidade do Poiares. Outro momento comeou em Agosto. Nesta altura
procurou-se recolher informaes disponveis sobre o ukoy atravs de literaturas,
consultas aos sobas, acadmicos e estudantes.
Na recolha das informaes foram utilizadas fundamentalmente entrevistas semi-
estruturadas, observao directa, grupos focais diferenciados por sexo, idade e outros
elementos.
Com vista a obter mais informaes sobre o tema, realizou-se dois encontros com
o grupo focal para perceber basicamente o que o Ukoy e como foi evoluindo ao longo
do tempo. Do trabalho conseguiu-se tirar algumas lies positivas e negativos.
Para melhor explorar o tema seria preciso ouvir outras pessoas fora do grupo
focal. Foi nesta lgica que se traou um plano de trabalho que visava encontros com
Sobas (conhecedores e guardis da Lei costumeira), acadmicos e a consultas livros
que abordam a questo. O trabalho de campo/consulta foi realizado interpeladamente e
durou 9 dias. Foram entrevistadas cerca de 29 pessoas no total.
Porm no relatrio no constam todos depoimentos dos nossos entrevistados, uma
vez que muitas coisas eram repeties de outras; mas, foram uma mais valia na medida
em que deram consistncia aos detalhes aqui reportados. O documento contm as
entrevistas mais exaustivas que acabavam por englobar o que foi dito por outras
pessoas.

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Estas entrevistas eram ocasionalmente complementadas com discusses em
pequenos grupos, e conversas informais com outras pessoas que tinha algum domnio
do assunto.
Houve tambm discusses profundas que serviram para explorar informaes
contraditrias ou alcanar melhor entendimento sobre os pontos de vistas apresentados
pelos diferentes entrevistados. Ao partilhar o tema de trabalho com outras pessoas
conhecedoras de hbitos e costumes da regio, surgiram oportunidades informais para
perceber as diferentes interpretaes sobre o ukoy na regio. O equilbrio de gnero foi
rigorosamente respeitado nas comunidades e ao seleccionar os entrevistados. Embora
por parte da equipa o gnero tivesse sido prejudicado pela menor disponibilidade das
mulheres tendo em conta que para consultar os sobas, muitas vezes tivemos de percorrer
grandes distncias subindo e descendo montanhas ou atravessando rios e vales.
A julgar pela diversidade cultural da regio, acreditasse que h ainda muito por se
explorar. E um trabalho mais aprofundado exige muito tempo e mais recursos se
tivermos em conta a disperso demogrfica e geogrfica da regio.

VII. O QUE CONSTA NOS LIVROS SOBRE O GNERO E UKOY?

GNERO. Conceito Conjunto de caractersticas diferenciadas atribudas a


mulheres e homens pela sociedade e variam conforme a sociedade ou atravs do tempo.
Refere-se construo social dos papis e responsabilidade da mulher e do homem e
so influenciados pela percepo e expectativa que surgem da cultura, politica,
ambiente, economia, factores religiosos e preconceitos individuais ou institucionais

O conceito de gnero implica uma relao, isto , na nossa sociedade o feminino


e o masculino so considerados opostos e tambm complementares. Alm disso na
maioria das vezes o que masculino tem mais valor. Desta forma, as relaes de gnero
produzem uma distribuio desigual de poder, autoridade e prestigio entre as pessoas de
acordo com o seu sexo. por isso que se diz que as relaes de gnero so relaes de
poder. O poder, como sabemos, um tema central da cincia politica desde os primeiros
exerccios da filosofia grega e, sobretudo, a partir dos estudos de Maquiavel, no limiar
da idade moderna. Essa teia de ralaes de poder no gnero a que nos referimos foi
construdo social, cultural e psicologicamente ao longo da historia da humanidade,
baseada na ideologia patriarcal que a mulher deve estar numa posio de desvantagem
em relao ao homem, dependendo dos valores, da cultura, do contexto de cada povo,
sociedade, comunidade, grupo e outros agrupamentos humanos.
A questo do gnero esteve sempre, no ocidente ligado aos movimentos
feministas, compreendidos como um movimento social organizado. Assim numa
primeira fase o mesmo esteve associado as reivindicaes femininas, nomeadamente os
aspectos que se prendem com a organizao da famlia, acesso profisso, direitos
iguais e outros aspectos.
No entanto, e sobretudo a partir dos anos 60, este movimento assume uma postura
mais dinmica num contexto de, nas palavras de Guagrira 1998, citado por Simes
(2002) a efervescncia social e politica, de contestao e de transformao, feitas no
somente pelos grupos de consciencializao, marchas e protestos pblicos, mas tambm

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de livros, jornais e revistas. Esta corrente feminista no pode ser compreendida fora do
contexto geral dos anos 60, o que se alongam pela dcada 70, por sua, traz cena dois
expressivos movimentos sociais com liderana feminina, o movimento contra a carestia
e o movimento de luta pelas creches. Ainda de acordo os mesmos autores, o feminino
sustm-se na ideologia dos direitos humanos do individuo, reivindicando para o sexo
feminino e extenso da cidadania ali contida. Assim, o feminino aparece como uma via
para a emancipao da mulher, relativamente a aspectos que tm haver com as questes
relacionadas a segurana, identidade, poder, economia, conhecimentos e justias. Eis
uma das razoes que explicam, na dcada 60, uma abordagem diametralmente oposta
deste problema. Assim, passa-se para o de gnero onde o mesmo encarado sob uma
perspectiva marcadamente social. Guargrira, 1998
Nas palavras de Dourado (1995) O conceito de gnero torna-se
simultaneamente uma ferramenta analtica e politica e pretende-se, desta forma,
reconhecer o debate no campo social, pois na sociedade, na historia e nas formas de
representao que constroem e se reproduzem as relaes (desiguais) entre os sujeitos.
O conceito passa a exigir um olhar dirigido para o processo, para a construo, para um
pensamento plural e para a diversidade. (1)

VII. 1 GENERO EM ANGOLA

A maioria dos grupos tnicos em Angola tem um sistema de parentesco


matrilinear (a descendncia por via matrilinear). Na sociedades matrelineares a
posio da mulher tradicional, espiritual e socialmente mais forte do que nas
sociedades patrelineares. Porm os valores sociais e culturais e as normas introduzidas
pelo poder portugus, como tambm por missionrios catlicos e protestantes, tiveram
uma forte influencia. A aculturao no perodo colonial teve a sua expressado mais forte
na capital e nas cidades ao longo da costa. As relaes de gnero, conceitos e
organizao familiares e, ainda, a socializao e a educao das crianas so alguns dos
campos scio-culturais que foram profundamente afectados. Ainda assim, muitos
angolanos vivem com padres duplos sub influncia ocidental mas com fortes laos
aos valores africanos. As relaes de gnero so uma rea onde as normas so ambguas
e onde as regras sociais e a legislao modernas esto frequentemente em conflito com
os valores tradicionais.
O sistema portugus implementou uma politica especial de assimilao que tornou
possvel os africanos de atingirem um certo nvel de avano na sociedade e na
administrao coloniais. Para obter o estatuto de assimilado o indivduo tinha que deixar
as tradies africanas e abraar os valores ocidentais/cristos representados pelo poder
colonial. As mulheres assimiladas eram igualmente oprimidas, mas tiveram melhor
acesso educao formal do que as no assimiladas e puderam, por vezes criar uma
identidade profissional como professoras, enfermeiras, ou nos graus mais baixos da
administrao colonial. Isto pode explicar, em parte, a falta de concordncia entre
politicas oficiais de gnero e a realidade das mulheres africanas e as suas possibilidades
de beneficiarem de seus direitos formalmente institudos. (2)

VII. 2 CONTEXTO REAL DO GENERO

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Grande parte da populao angolana vive em comunidades tradicionalmente
organizadas onde a vida governada pela Lei costumeira. Matrimnio, direito de
propriedade, custdia das crianas, adultrio e o estabelecimento da paternidade so
todos assuntos importantes que so normalmente tratados de acordo com a Lei
costumeira. Tanto a Constituio como o Cdigo da famlia so desligado das regras e
medidas tradicionalmente aceites para resolver assuntos familiares, o que significa que o
estatuto da mulher na sociedade e na famlia no pode ser analisado apenas luz da
Constituio ou do Cdigo da Famlia.

A dicotomia Lei escrita Lei costumeira e a falta de ateno prestada praticas


legais tradicionais so normalmente explicadas pela necessidade de se criar um sistema
legal unificado, como uma das componentes da construo da nao depois da
independncia. Outra explicao o facto de muitos angolanos, incluindo as elites
viverem com padres duplos (2)

A poligamia, isto , a pluralidade de esposas, ela praticada em grande parte nas


comunidades rurais do sul de Angola. Existe tanto nas sociedades rurais como nas
sociedades urbanas, onde a mulher faz a maior parte do trabalho, sendo toda mulher
novo dbito para o grupo conjugal, quanto em comunidades onde os homens carregam o
peso da responsabilidade econmica, sendo cada esposa um novo dedito. Embora
parea no influenciar o padro ideal, esses factos naturalmente limitam sua prtica.
Onde as mulheres representam ajuda econmica, mesmo um homem pobre pode ser
polgamo a no ser que o preo da noiva seja proibitivo; e a pluralidade tende a ser
comum. Onde as esposas so uma carga, poucos homens podem dar-se o luxo de ter
mais de uma esposa extra. (3)

VII. 3 UKOY
Ukoy multa aplicada pelas autoridades tradicionais nhanecas, quem comete
adultrio com uma mulher casada ou que esteja oficialmente prendida

A vida matrimonial dos nhanecas, como em geral a de todos os bantos baseada


sobre a ordem poligmica. Mas o adultrio, como na maioria parte da Africa, bastante
frequente entre os cuanhamas. Falamos especialmente no delito de tal natureza
praticado pela mulher, porque, como se sabe, quando o homem prevarica, no h em
geral complicaes jurdicas. So muito raras as mulheres que nunca tiveram qualquer
fraqueza neste ponto. De entre todos os povos do Sul, nos cuanhamas que acontece
mais vezes o marido lesado fazer justia por mos prprias, liquidando o seu rival. No
entanto, estes casos so excepcionais. Seguem ordinariamente o geral costume, que o
de exigir o boi (oukodi).Muitas vezes, quando o amante da mulher se sabe descuberto,
executa-se sem mais descussoes e subterfgios, com medo de coisa pior. Outras vezes
tem que intervir uma sentena do chefe do canto. Nota-se bem uma coisa: para
apresentar uma queixa, no necessrio que o marido tenha surpreendido os amantes in
flagranti; basta que tenha provas suficientes do facto. O castigo da adulteira limita-se
em geral a uma pancadas. Devo aqui declarar que no conheo caso algum em que o
marido e a mulher tivessem de conivncia para, por meio de adultrio consentido da
mulher, aumentar as unidades do rebanho. L-se muito a afirmao de tal facto, mas
confesso que para mim, esta coisa no passa de uma fantasia ou ento, quando muito, de
uma generalizao de casos muito isolados.

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Vem a propsito falar aqui da conduta das mulheres abandonadas (oikumbu).
Geralmente uma divorciada ou uma viva vem habitar com a me, uma tia ou irm. At
ser procurada por outro dono - a expresso indgena -, no estando grvida claro
no se sente obrigada a guardar a continncia. Facilmente admitir um ou dois amantes,
mas em regra no ultrapassa esta medida, pois o ir alem disso seria abaixar-se ao nvel
de uma cadela, como costum dizer. Este facto mostra-nos suficientemente que a
prostituio no tem cabimento na mentalidade nem na organizao social destes povos.
verdade que uma ou outra cano a respeito das mulheres sem dono, pode dar a
impresso de que elas aceitam qualquer homem que se lhes apresente, mas a ironia e o
sarcasmo que fazem parte da composio potica levam facilmente ao exagero.
O mongamo que ficou vivo no deixar passar muitos meses sem trazer outra
mulher para a casa. A viva espera mais tempo, antes de poder aceitar um outro hmem.
A norma habitual exige dela que fique ainda uma poca de cultivo (okulima) no campo
que possua quando casada. Isto, porem no quer dizer que ela seja obrigada a aguardar
o fim da colheita para decentemente poder aceitar segundas npcias, sobretudo se o
marido faleceu antes da sementeira..
O que indispensvel, tanto para a viva como para o vivo, submeter-se a
uma cerimonia chamada olufi, antes de poder contrair novo matrimnio. (3)

VIII. QUE DIZEM ALGUMAS PESSOAS SOBRE O UKOY?


VIII. 1 Depoimento de uma senhora
O ukoy uma punio, que as autoridades tradicionais aplicam aos homens que tenham
praticado sexo com uma mulher esposa ou que esteja oficialmente pretendida.
Na minha tradio geralmente quem comete este tipo de violao um primo do esposo
ou do pretendente. Porque qualquer outra pessoa que ousasse ter relaes sexuais com
uma mulher casada ou oficialmente j pretendida, era levado ao Embala e, de l nunca
mais voltava.
E quando algum cometesse ou fizesse sexo com a esposa do primo, o caso era levado ao
Soba e, por ser primo do lesado, e para no ser levado ao Embala, ento era aplicado o
ukoy, (os que eram levados no Embala por terem tido sexo com a esposa de algum que
no fosse seu primo, era lhes aplicado a pena de morte, mais nunca era dito a ningum
fora do Embola que o transgressor foi morto). Por isso ningum se atrevia a conquistar a
esposa de algum.

Geralmente a nica pessoa que poderia pagar o boi do indivduo multado, s tinha de ser
o seu tio, irmo de sua me. S o tio poderia pagar, porque est em causa o seu sobrinho.
O pai no poderia pagar, nem os seus parentes eram obrigados a faze-lo. Porque na minha
cultura diz-se: A me sempre a me mas; o pai pode ser o pai. O homem nunca tem
filhos mas, pode ter filhos. Mas a mulher tem certeza absoluta que o filho dela. Por isso
s o tio deve pagar o ukoy

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IV. O QUE DIZEM OS SOBAS SOBRE O UKOY?

IV. Ponto de vista do Soba 1

O que o Ukoy?

O Ukoy uma multa aplicada a algum que tenha adulterado com a esposa de
outro.
Quando isso acontece, e o individuo que tenha praticado tal acto for apanhado em
flagrante; a pessoa que os encontrou a adulterar deve tirar sempre alguma coisa
(camisa, chapu, sapato, sinto ou qualquer outra coisa) que possa servir de prova
testemunhal. O caso levado ao Soba, e este manda pagar o Ukoy (multa).
Em casos normais a multa sempre um boi e um cabrito. O arguido deve
apresentar os animais em casa do Soba. Os animais ficam com soba durante um certo
perodo de tempo para verificar se os animais trazem algum demnio ou qualquer outra
maldade. Depois do Soba confirmar de que os animais esto em condies, este chama
o esposo da senhora que foi apanhada em adultrio e lhe entrega o boi. Nestes casos, o
cabrito fica sempre para o Soba.
Se durante o tempo que os animais devem ficar com o Soba para serem
examinados, um deles morrer (o boi ou o cabrito), o Soba chama o arguido para que
este pague outro animal e, obrigado a levar a carne do animal morto para a sua casa.
Caso o arguido no tenha boi e cabrito para pagar, os familiares devem ajuda-lo a
pagar. Geralmente, a pessoa mais indicada para ajudar a pagar o tio ou seja o irmo
da me.
O pai tambm pode dar o boi e o cabrito para ajudar o filho a pagar o Ukoy, mas,
ele livre em faze-lo ou no. E a tradio permite isso.

Quem comete adultrio com a mulher do outro deve pagar


Se o arguido no tiver boi para pagar, nem os seus parentes tiverem possibilidade
de ajuda-lo, este morre infalivelmente. Onde houve transgresso deste tipo tem de
haver uma multa. Isto irremedivel, a tradio no permiti que quem cometeu viva
sem que tenha pago a multa (Ukoy).
O Soba disse: em todos os tempos e em todos os lugares, houve sempre mulheres
solteiras. Quem no tem bois, no e nunca deve dirigir-se a uma mulher casada ou que
j havia casada. Quer as prprias mulheres quer os homens da nossa cultura sabem
disso.

Nem sempre o ukoy um boi


No. Se algum adultera com uma mulher j casada a mais de trs anos, o Ukoy
geralmente mais de um boi. Porque nestes casos pagasse o boi correspondente ao
ukoy e mais outros bois que iro corresponder o investimento que o esposo foi fazendo
ao longo dos anos. em funo deste investimento (roupa, alimentao e outras
despesas adicionais) que sero calculados o nmero de bois a serem pagos.

H tambm alguns casos especiais, em que algum tenha a ousadia de conquistar


as mulheres de outros pelo facto de possuir muita riqueza (bois). Nestes casos, o esposo
da mulher apanhada em adultrio livre em pedir o numero de bois que achar
conveniente, tendo em conta que se est perante um caso de abuso de confiana. E os
Sobas e prpria tradio permitem que isso acontea. Isto para limitar que os senhores

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possuidores de muitos bois passem ou levem a vida sempre a conquistar as esposas de
outros.
Se depois de uma mulher ser apanhada em adultrio, o esposo decidir no ficar
mais com ele (expulsa-la); o senhor com quem adulterou deve pagar o ukoy pelo facto
de ter cometido (falta de respeito) e adicionalmente paga outros bois correspondentes
aos gastos feitos na altura do pedido alambamento e outras despesas

fcil apanhar uma esposa em flagrante


possvel apanhar uma esposa com algum em flagrante. Basta ter muita calma.
O segredo nunca se precipitar, nunca mostrar desconfiana de que ela namora com
algum. Tambm nunca deve mostrar-se desconfiado perante o senhor que namora a
sua esposa. Antes pelo contrario. Quando se sabe que a esposa namora com algum, o
que se deve fazer tornar-se mais amigo do suspeito. Ocasionalmente voc deve
organizar festas em casa e convida-lo fazer-se mais amigo dos dois (esposa e o
suspeito). Porque depois de muito namorarem distante ou as escondidas, um dia eles
ho-de namorar prximo de ti. O mais importante mostrar-se simptico e lhes dar
bebida, do resto ser fcil.
Nalguns voc basta fingir-se que voc est demasiado bbedo, eles podem fazer
sexo em sua prpria casa.

Na nossa cultura no se deve acusar o outro de ter namorado com a sua esposa
sem ter ou apresentar provas concretas. Quem assim fizer deve pagar Ukoy ao acusado.
Por isso ningum acusa ningum sem provas. E para apanha-los em flagrante baste ter
calma e ser inteligente. Porque se mostrar desconfiana nunca os ir apanha-los. Porque
eles estaro sempre muito atentos antes de praticar o sexo.

H quem diga que em casos de pobreza, o esposo pode concordar com a suas
esposas para esta assediar algum que tenha bois, para dali resultar o Ukoy. Soba,
podes confirmar isso?

O soba riu-se longamente por alguns minutos, depois abanou a cabea e disse:
isto uma autntica utopia. Isto no cabe na cabea de um homem normal. Olha
quando uma mulher faz sexo extra-conjugal, ela nunca diz ao esposo. Mesmo quando
se tem toda prova, ela procura esconder a verdade porque vergonhoso. E ningum
gosta de se envergonhar.
Mesmo em caso de pobreza extrema, isto no deve e nunca foi a sada para
conseguir bens. Imaginem que ela aceite fazer este negcio e o homem consiga
acumular riqueza. Se um dia voc lhe bater ela dir publicamente que voc a usou para
conseguir bois. Por uma questo de justia a famlia dela pode reclamar e receber os
bois que voc ganhou injustamente.
E se ela tiver o azar de morrer primeiro, o esposo no ter a felicidade de gozar
esta riqueza que ganhou por intermdio do assdio sexual da esposa. Porque a alma
dela h-de clamar na sepultura. E o senhor no poder viver muito tempo gozando
aquilo que foi conseguido sacrificando a mulher. Mandar a mulher fazer sexo para
conseguirem bois sacrificar a mulher. impensvel

E se da relao extra-conjugal a mulher engravidar?


Um homem nunca deve se preocupar com isso. Cabe-lhe receber o ukoy e, ponto
final. Mesmo quando temos a nossa esposa em casa, nunca sabemos se a gravidez
nossa. S a mulher sabe realmente quem pai dos filhos. Por isso que na nossa

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cultura dissemos que os filhos pertencem sempre a famlia da me. E isso justifica o
facto deles (os filhos) no terem herana dos pai. Por isso que se um filho cometer
adultrio, o pai no obrigado a pagar o ukoy. Pagar ukoy, foi sempre obrigao dos
tios, porque eles tm toda a certeza de que quem adulterou mesmo o filho da irm.

H um caso de adultrio que no resulta em ukoy


Isto Kwliepa, uma prtica muito comum no municpio dos Gambos.
Kwliepa acontece s entre colegas de circunciso. Neste caso os casais
combinam, e trocam de esposa durante algum tempo. Por se tratar de algo j bem
combinado ningum paga ningum e a tradio permite isso.

Casos de homicdios ou justia por mos prprios?


Quando algum apanha a sua esposa em flagrante, e chega a matar um ou os
dois, o indivduo que praticou o assassinato levado as cadeias, e os seus familiares
devem pagar uma multa muito pesada aos familiares da vtima.
Se chegar a matar os dois, o assassino levado a priso, os seus parentes pagam
uma multa pesada s famlias das duas vtimas.
Por isso que difcil haver caso de homicdio nestes casos. Porque fica mais
pesado para quem praticou o assassinato e para os seus familiares.

Porque que a mulher no tem direito a herana?


Isto uma questo antiga de cujos tempos h no memria. Mesmo quando se
perguntasse aos mais velhos, estes diziam sempre que a questo bastante antiga.
Houve algumas poucas pessoas que j pensaram o contrrio (dar mulher o
direito a herana dos bens de casa) Mas, o que certo que na cultura nhaneca isto
no aceite de maneiras nenhuma. A mulher deve por direito herdar os bens dos tios
ou de outros familiares dela, tal qual os filhos.

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VIII. 2 Ponto de vista de outro soba 2
O Ukoy multa que as autoridades tradicionais aplicam quem tenha praticado
sexo com a uma esposa de algum com o objectivo de aplacar ou acalmar a ira do
lesado.

Segundo o Soba; o Ukoy uma pratica muita antiga e graas a ele muita
violncia decorrente de infidelidade conjugal tem sido evitada.
A infidelidade conjugal to antiga como o prprio homem e est quase
presente em todas sociedades. Perante esta realidade os nhanecas tiveram que encontrar
uma maneira mais pacfica para lidar com este tipo de situaes, dai a instituio do
Ukoy.
Outros grupos etnolingusticos tentam fingir que da parte deles no h casos de
infidelidade conjugal, dali a razo de muitos povos apontarem ou criticarem os
nhanecas como sendo os mais infiis.
Uma mulher bonita sempre cobiada pelos outros homens. Disto ningum
tem dvidas. E para ns, uma mulher quando no cobiada por outros homens sofre
uma presso dupla: 1 que ela pessoalmente vai sentir-se que uma mulher feia, 2 o
esposo e a famlia podero aborrece-la constantemente por suporem que se um dia for
divorciada nunca mais voltar ser pretendida. Logo, h muitos factores que fazem com
os casos de infidelidade conjugal sejam um pouco mais frequentes na cultura nhaneca.
Mas, a infidelidade como tal, no existe apenas na cultura nhaneca.
Todo homem que for apanhado a praticar sexo com uma mulher casada ou j
pretendido levado ao soba e paga o ukoy.

TIPOS DE UKOY:
1. Apanhado em flagrante. Quando um homem for apanhado a
praticar sexo com a mulher de algum, deve pagar ukoy. Geralmente o
infractor paga um boi e um cabrito. O boi entregue ao esposo lesado e o
cabrito fica com o soba.

2. Por tentativa de violao. Quando um homem tenta agarrar a


fora uma mulher, e ela gritar em busca de socorro, o homem (mesmo que
no tenham feito sexo) levado ao soba e paga ukoy

3. Denncia voluntria da esposa. Tambm h aqueles casos em


que mulher diz voluntariamente ao esposo que teve relaes sexuais com o
sicrano ou beltrano. Nestes casos no se exige prova material, basta que a
esposa diga isso ao soba. O amante chamado e deve pagar ukoy.
Estes casos s acontecem quando o amante j no quer continuar
com a relao amorosa. Durante o namoro as escondidas a mulher j estava
habituada a receber do amante alguns bens, ela tende a continuar a relao
por mais tempo. Se um dia o amante dizer que j no quer continuar, a
mulher diz: se no queres continuar mais comigo ( porque arranjaste outra
amante) agora eu vou te queixar ao meu marido para pagares o ukoy

Quando o homem que paga o ukoy estiver muito apaixonado e interessado em


ficar com amante (pela qual pagou o ukoy), diz isso na presena do esposo, do soba e

14
de outros membros da comunidade. Quando assim acontece o homem paga o ukoy
correspondente a multa e, lhe exigido pagar tambm (ovitele) que traduzido quer
dizer bagagem. Significa que o infractor deve pagar quantos bois lhe forem exigidos,
comeando pela devoluo do (alambamento) boi que o noivo entrega a famlia da
noiva na altura do pedido, e outros gastos adicionais que o esposo foi fazendo enquanto
durou o matrimnio.

Para algumas famlias, uma boa esposa aquela que trs economia em casa
(deve ser apanhada com amantes para resultar em ukoy). Tambm em alguns casos o
esposo combina com a esposa, para esta assediar um homem que tem bois. Se a esposa
conseguir assediar o homem que tem bois, ela deve dar ao esposo informaes que
facilitem apanha-los em flagrante e por conseguinte ganharem mais bois.
Como na cultura nhaneca os filhos e a esposa no herdam os bens de casa em
caso de morte do pai ou esposo, sempre que o casal entra em acordo para a esposa
assediar algum deve haver mecanismo que salvaguardem os interesses econmicos da
esposa. Nestes casos prefervel que o ukoy seja uma vaca. Se for um boi, deve
trocado ou vendido para poderem comprar uma vaca.
A medida que a vaca for parindo, o casal reparte-se por igual as crias, de tal
maneira que, em caso de divrcio ou morte do esposo a mulher leva consigo as crias
que lhe cabem por direito. Com estes bens, a esposa j tem recursos para sustentar-se a
si aos seus filhos

15
VIII. 3 Ponto de vista de um Soba 3
(Secretario Provincial dos Sobas na Huila)
Ukoy

O ukoy praticado em quase todo o pas mas, nos nhanecas onde ele praticado de
maneira aberta. Em outras culturas se uma mulher casada comete infidelidade conjugal,
ela comete uma vergonha quer para a famlia do esposo quer para a famlia dela. Esta
mulher sentir-se-a discrimida na famlia do esposo, na sua prpria famlia, na Igreja e
na comunidade em geral. E se esta mulher for expulsa de casa por tal pratica, ela nunca
encontrar um pretendente em comunidades vizinhas. Dai a razo de falar-se pouco em
ukoy em outros povos do pas. Porem no significa que no existe multas para os que
cometem infidelidade conjugal.

Para os nhanecas o ukoy uma pratica aberta (institucionalizada) e conhecida at das


crianas, e as mulheres que cometem tal pratica sentem-se to a vontade como se nada
tivesse acontecido. Alias as famlias de ambas as partes (esposo e esposa) consideram
normal que uma mulher v envolver-se sexualmente com outro homem. O mais
importante que a mulher d rendimento econmico. Segundo o soba, at a maridos
que aliciam as usas esposas a assediarem outros homens. Em muitos casos quando uma
mulher no tem amantes tida como feia.
.
O soba entende que o ukoy poder servir como uma, multa, perdo, ou sinal de amor

Multa. Pode ser entendido como uma multa que se aplica ao indivduo que
tenha tido relaes sexuais com a esposa do outro. Nestes casos o transgressor
paga um boi (ukoy) ao dono da esposa e todos continuam a ser amigos.

Perdo. Tambm pode ser um smbolo de perdo. A bblia diz que a nica
coisa que pode separar o casal s a morte ou o adultrio. Os sobas no podem
nem devem influenciar que o homem que tenha encontrado sua esposa em
adultrio continue a viver maritalmente com ela, por isso que quem pede o
ukoy nunca o soba, o esposo da mulher. O soba apenas deve conduzir o
processo de tal maneira que no haja violncia. O ideal para o soba que haja
entendimento. No entanto tem havido aqueles homens que pensam antes nas
consequncias que um divrcio ou separao pode acarretar para os filhos, estes
acabam por decidir em perdoar as suas esposa e, em troca o transgressor paga o
ukoy. Nestes casos a recepo do boi a garantia de que no haver vingana
contra o transgressor. Logo, o ukoy o smbolo de que o esposo perdoou a sua
esposa e o transgressor.

Amor, O ukoy tambm sinal de amor. Muitos homens dizem que se a mulher
comete infidelidade conjugal, deve sair do lar irremediavelmente. H homens
que at aproveitam-se da infidelidade conjugal para se libertarem de uma
esposa que j nem sequer amavam. Porque at mesmo entre os nhanecas onde a
pratica do ukoy algo normal, h aqueles homens que dizem, se apanhar a
minha esposa com outro homem, o casamento termina. Logo, aqueles homens
que aceitam continuar com as suas esposas mesmo depois destas cometerem
infidelidade conjugal, porque amam a suas esposas. Dai o facto do ukoy ser

16
tambm o sinal de amor que muitos homens tm pelas suas esposas porque
estes compreendem que ningum perfeito.

POLIGAMIA
A poligamia nem sempre sinal de amor. At porque os homens preferem ter muitas
mulheres simplesmente para fazer delas trabalhadoras. Geralmente as mulheres
realizam maior parte do trabalho no campo e os homens tratam de outras questes. E
quando os homens decidem fazer os negcios do produto que foi produzido pelas
mulheres, estas, no so consultadas.

CAUSAS DA INFIDELIDADE CONJUGAL


H muitas causas que se podem apontar. Mas enquanto soba, tenho constatado que a
causa principal da infidelidade conjugal tem haver com a reduo da potncia sexual
dos homens. Geralmente, no princpio de qualquer relao amorosa, os homens tm
muita potencia sexual. Habituam as suas namoradas ou esposas a fazer sexo com
frequncia ou seja todos os dias. E as mulheres vo se habituando esta dinmica
sexual.

O que acontece entre homens e mulheres algo bastante paradoxo. Quando o homem e
mulher comeam a namorar (geralmente jovens), o homem sexualmente potente,
muitas vezes os homens so capazes de fazer sexo todos dias; enquanto que a apetite
sexual da mulher s comea a ficar mais activa para l dos trinta anos de idade. Logo,
quando a mulher esta activa sexualmente, os homens muitas vezes j no
correspondem, ou porque esto sempre ocupados ou porque fisicamente esto
gradualmente debilitados. Dizem que as mulheres so activas sexualmente entre 30- 45
anos; numa altura em que muitos homens j no esto em condies de corresponder
sexualmente. No de admirar quando muitas vezes aparecem velhas que conquistam
jovens. Por isso que o adulto no deve casar com uma jovem.
A infidelidade conjugal um fenmeno muito antigo. Nos tempos dos nossos avos
no havia tanto interesse financeiro (alias naquela altura no havia tanta carncia nem
tanta vaidade) mas, j havia infidelidade. Havia infidelidade por que as necessidades
afectivas das pessoas de todos os tempos so sempre as mesmas.

EXEMPLOS PRATICOS
O soba disse que dos muitos casos de infidelidade conjugal que foram parar no seu
embala, h mulheres chegaram a dizer abertamente: eu fui fazer sexo com este homem
porque o meu marido s faz sexo uma vez por semana. E nos dias em que ele estiver a
beber muito at se esquece que tem mulher em casa. S vai cama para dormir

Quando se est perante a cobrana de ukoy, o soba disse que tem havido mulheres que
defendem que o amante no deve pagar o ukoy dizendo: este senhor no pode pagar
ukoy ao meu marido porque se eu fui l fora o meu esposo o culpado. Eu tenho
necessidades afectivas, se no encontro resposta dentro de casa, devo encontra-lo fora
ou seja procurar satisfazer as minhas necessidades recorrendo a quem estiver
disponvel
O soba disse que quando se esta perante casos desta natureza difcil exigir ukoy.
Segundo ele, tem havido casos desta natureza que as mulheres dizem: isto deve ser
tratado no Tribunal. E ali os Juzes no conseguem culpar o amante, porque a mulher

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cometeu infidelidade conjugal na base de uma necessidade que o esposo no consegue
dar resposta.
O soba disse que os problemas de infidelidade so mais frequentes naqueles casais em
que a mulher j teve um esposo e por qualquer motivo se separaram ou naqueles casos
em que antes de se casar a mulher esteve habituada a muitos parceiros sexualmente
fortes. E quando esta mulher casar-se com algum que no lhe satisfaz da mesma
maneira que o marido ou namorado anterior, ento a tendncia procurar um
companheiro.

H tambm aquelas que cometem infidelidade por interesses econmicos. Tem havido
mulheres dizem: o meu marido passa o dia a beber e no se preocupa em arranjar
mantimento para as crianas. Se me apareceu algum que me d dinheiro para casa em
troca do sexo eu prefiro atende-lo e ter de comer para os meus filhos

AS MULHERES TM PAGO UKOY OUTRAS MULHERES?


Tem havido casos em que as mulheres cujos esposos adulteraram com outra mulher
tm solicitado que sejam pagos. Mas isto no tem surtido efeitos. Porque os sobas
procuram compreender as causas. H mulheres muito frias sexualmente. At h aqueles
que para o homem fazer sexo preciso pedir favor. Esta tem sido a principal causa de
muitos homens irem procurar satisfao fora do lar.
E quando os homens apresentam razoes como estas, geralmente aconselha-se as
esposas a preocuparem-se com os seus esposos de maneira a que estes no vo
procura de satisfao sexual fora do lar.
O mesmo tem acontecido com os homens que exigem ser pagos ukoy, quando
sexualmente no satisfazem as suas esposas. Ao invs de serem pagos o ukoy,
aconselhasse que preocupem em satisfazer o lado afectivo das esposas

Segundo o soba, h mulheres que utilizam um produto tradicional que torna o sexo
mais agradvel e atraente (o soba tem alguns destes produtos no seu embala).
Geralmente algumas mulheres quando sabem que determinado homem tem a sua
esposa, elas utilizam tais produtos. E com estes produtos o homem dificilmente se
lembrar da esposa l em casa.

18
IX. QUE DIZEM OS ACADEMICOS SOBRE O UKOY?

IX.1 Ponto de vista de uma Professora e Tcnica de Desenvolvimento


Comunitria
.
O Ukoy uma multa que se atribui um homem por ter abusado sexualmente a
mulher de outrem.
Geralmente o homem que tenha tido relaes sexuais com a esposa de outro paga
de multa uma vaca. Caso o animal pago (ukoy) seja um boi, este deve ser trocado por
uma vaca, de tal modo que a medida que a vaca for parindo, alternadamente o esposo
vai dando alguns vitelos sua esposo em sinal de agradecimento pela sua beleza.
Porque quando uma mulher casada no conquistada por outros homens ela sente-se
triste pelo facto de sentir-se feia; em alguns casos pressionada pela famlia do marido
pelo facto de no trazer riqueza. Uma boa mulher aquela que pode aliciar outros
homens conquista-la. E quando consegue faze-lo, deve ser recompensada pelo
esposo, recebendo alguns vitelos que vo nascendo da vaca de ukoy.
Sempre que se esta perante um caso de ukoy, a famlia da esposa deve ser avisada
e se possvel presenciar o acto. Assim a famlia da mulher estar sempre informada dos
bois que a sua parente j conseguiu obter. A mulher pode ficar em casa do esposo com
os seus bois, o mais importante que tanto a famlia do esposo bem como a famlia
dela saibam. normal uma mulher casada ter um amante. Mas, ir alm deste numero
significaria prostituio.
Em alguns casos uma mulher casada pode fazer vida com o seu amante por muito
tempo em casa de sua cunhada (irm do marido). Isto s acontece quando as duas
cunhadas so muito amigas e confiam-se mutuamente, desta maneira fica vedada a
possibilidade de um homem namorar com as duas cunhadas. Em outros casos a mulher
pode fazer vida com o seu amante em casa de sua me. O mais importante que o
amante d sempre algum apoio cunhada ou a me de sua amante.
Sempre que se esta perante o ukoy e a pessoa implicada no tenha a possibilidade
de pagar, a famlia deve fazer tudo para ajudar a pagar. Porque o que esta em causa o
nome da famlia. O crime da famlia ou do cl e no do homem que cometeu. Quando
quem comete o ukoy no tem bois a famlia paga. Mas, a pessoa que pecou deve pagar
indirectamente este boi atravs de servios que vai prestando famlia (trabalhando na
lavra ou servindo de correio).
O boi na cultura nhaneca tem muito valor. A riqueza comea de uma galinha.
Ningum consegue ter bois sem apoio de um membro da famlia. Durante a meninice ou
a juventude a famlia oferece uma galinha ou um cabrito. A medida que estes animais
forem procriando, o jovem tem a possibilidade de trocar ou vender e desta maneira ele
consegue um boi. E a famlia vai acompanhando todo este processo. Por isso que se
diz que a riqueza dos nhanecas tm sempre uma historia. Dai que ningum mata o boi
por prazer, tem que haver motivos de fundo e com o consentimento dos mais velhos.
Por isso que os casos de ukoy envolvem sempre as famlias e no unicamente o
individuo directamente implicado. Quem quer que seja que tenha bois entre os
nhanecas, teve sempre ajuda de algum.

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Quando algum se casa e no tem bois, a famlia deve arranjar uma junta de bois e
duas vacas e dar ao novo casal para poder lavrar o campo e ordenhar. No como aqui
nas cidades onde as pessoas trabalham e conseguem acumular dinheiro para depois
comprarem bois.

Porque que h pobres entre os nhanecas?

Quando algum se casa e no tem bois, a famlia deve arranjar uma junta de bois e
duas vacas para o novo casal para poder lavrar o campo e ordenhar. O que pode
acontecer o novo casal no ter responsabilidade de cuidar ou gerir os bens que lhe
foram entregue. Quando assim acontece, a famlia v-se na obrigao de no mais
ajudar o individuo. Assim esta pessoa ou o casal corre o risco de no mais ser ajudado e
dai tornar-se pobre.
Mas, em casos de ukoy, a famlia deve unir-se porque esta em causa a dignidade
do cl.

Para alguns cls nhanecas chamam o ukoy de OTCHIKALO, o traduzido quer


dizer coxa. Isto quer dizer que quando algum pago o ukoy, pagou apenas a coxa e isto
no lhe d o direito de ficar com a esposa de outrem nem to pouco a possibilidade de
continuar com a relao amorosa. O boi que se paga apenas um valor simblico. Se
tivesse que se pedir a multa pelos danos morais que isto causa famlia, (tendo em
conta que o crime contra a famlia) seria muito pesado.

O UKOY SEMPRE UM BOI?

O ukoy mais caro aquele se pede de algum que se envolveu sexualmente com
uma viuva. Este ukoy vai de 10 15 bois.
Quando uma mulher tornasse viva, ela deve permanecer em casa do ex-esposo
durante um ano. Findo este perodo, a mulher deve ir viver em casa de seus parentes.
Mas, isto no lhe d a liberdade de livremente casar-se.
Ela deve ficar com os seus parentes. Se por acaso aparecer um pretendente, ela
deve informar aos familiares do ex-esposo. Caber a famlia chamar o novo noivo e
dizer-lhe que esta mulher ainda lhes pertence. Assim eles explicam
pormenorizadamente sobre o tempo que esta mulher viveu com o ente querido e por
conseguinte os gastos feitos para ela durante a vigncia do matrimnio. Se o senhor
estiver interessado em ficar com ela, ele deve pagar o OVITELE, o que quer dizer
bagagem. Ao pagar o Ovitele, o novo pretendente paga a famlia todos os gastos feitos
pelo ex-marido a favor da mulher (desde o alambamento, despesa do casamento e outras
despesas decorrente da vigncia do matrimnio). Esta despesa em geral pode ir at 5
bois.
Mas, se a viva for apanhada em relaes sexuais sem que estes passos tenham
sido cumpridos, o senhor paga uma multa muito pesada que pode ir at 15 bois. Pois
que ao proceder desta maneira considerasse uma falta de respeito ao esposo j falecido.
Muitos tem dito: se voc quer ficar pobre se envolva sexualmente com uma viva

CAUSAS DE INFIDELIDADE
H muitas causas que se podem apontar, entre elas as seguintes:

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1. O facto de que uma mulher casada que no tem amantes ser sinonimo de
feia
2. Casamentos por interesse. Muitas vezes as mulheres ou famlias de casam
por interesses econmicos. H famlias que dizem as suas filhas: mona
wange tavela, oko kuna onongombe) traduzido : minha filha aceita
casar-se porque l h bois. As mes dizem com frequncia as suas filhas,
vai ou aceita casar-se naquela famlia porque l h moscas. Para os
nhanecas, as moscas s vo l onde h lixo. Onde est limpo nunca h
lixo. O lixo significa bois, porque as moscas s acompanham os bois.
Onde h fome no h moscas.
Muitas vezes quanto as mulheres se casam por interesses econmicos,
mais tarde acabam por se apaixonar com outros homens. Dai a
infidelidade.

3. Poligamia. Quando os homens so polgamos, no conseguem satisfazer


afectivamente os suas mulheres. Isto leva muitas vezes as mulheres h
encontrar satisfao afectiva e sexual fora do lar.

POLIGAMIA
Porque os homens so polgamos?
Os homens no conseguem satisfazer sexualmente duas mulheres. Logo so polgamos
porque gostam explorar a fora das mulheres nos trabalhos de lavoura. Se com uma
mulher o piro no lhes falta, o que que procuram mais outra mulheres!
Procuram apenas explorar a fora das mulheres.
Nas aldeias a mulher deve trabalhar na sua lavra e deve tambm trabalhar na lavra do
marido. A mulher paga frete ao marido. O marido desbrava/charrua as lavras das suas
mulheres, mas, e em retribuio estas so obrigadas a sachar na sua lavra. Em geral as
famlias no devem ajudar a charruar as filhas ou ims casadas, porque na cultura
nhaneca diz-se deve se ajudar o homem e no a mulher logo se a mulher no ir sachar
na lavra do marido no ter quem ir lhe ajudar. E embora o marido tenha a sua lavra, o
consumo vem do celeiro das mulheres. O seu mantimento serve para fazer negcios.

A Primeira Mulher mais Considerada.


A primeira mulher sabe todos segredos do marido. A segunda sabe metade dos
segredos. As demais no sabem nada do marido, nem sequer recebem afecto.
Porm a primeira mulher quando se comporta mal pode perder o prestigio em
detrimento da segundo.
H casos em que so as primeiras mulheres que pretendem a segunda. Ou seja, quando
o casal j tem alguma idade e a esposa ver que na aldeia h uma rapariga que tem bom
comportamento. Ela diz ao seu esposo de que gosta tanto daquela moa e que gostaria
que viesse viver junto deles como segunda esposa do marido. Se o marido concordar a
esposa vai ao encontra da moa, e lhe diz que gostaria tanto que viesse morar no seu
quimbo como segunda esposa.
Segunda a nossa entrevistada, muito vantajoso quando a outra mulher que te vem
pretender. Nestes casos a primeira esposa tem a responsabilidade de aconselhar e
ensinar a segunda em todos aspectos. H muita confiana e amizade entre as duas.

AS MULHERES DEVEM PAGAR UKOY S OUTRAS MULHERES?

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J h comunidades em que as mulher pagam ukoy s outras, e isto est a funcionar.
Mais so casos soltos.

HERANA

O facto dos filhos no terem directo a herana, tem haver com a infidelidade conjugal.
Porque a partir do momento em que se paga o ukoy, o homem no pode mais falar sobre
o caso independentemente da relao sexual extra-conjugal ter resultado em gravidez.
Mas, j se comea a inverter o quadro, dando direito a herana aos filhos. Porque esta
provado em quase todas comunidades que quando se d aos sobrinhos o directo a
herana, estes procuram acelerar a morte do tio para ficarem com os bens.

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IX.2 Funcionaria Snior do MINFAMU
Chefe de seco)
O ukoy deve ser entendido como um processo educativo ou disciplinar.
educativo porque serve para regular o comportamento dos homens que ousam
fazer relaes sexuais com as esposas de outros na comunidade. Quando se fala de
ukoy, preciso que se compreenda que h dois tipos de ukoy: O ukoy normal e, o
ukoy dos ps sujos.
Um ukoy normal aquele em que um homem e uma mulher que no vivem na
mesma comunidade se encontram em algum sitio e se apaixonam, mas, nenhum dos
dois conhece o conjugue de outro. Nestes casos, se os dois forem apanhados a
adulterar, o caso levado ao soba. Como os dois no se conheciam antes, e o amante
no conhece o esposo da mulher com que se envolveu sexualmente, o soba decido que
o indivduo pague o ukoy (um boi) ao esposo da mulher com se envolveu.
O ukoy dos ps sujos aquele em que algum sabe que uma mulher casada e
conhece bem o esposo mas, mesmo assim se envolve sexualmente com esta mulher.
Tradicionalmente diz-se que o adltero subiu na cama do outro com os ps sujos.
Para estes casos, o senhor apanhado em adultrio deve para entre 10 15 bois.
Tambm h situaes em que os homens utilizam as suas esposas como isca
para arrecadar riquezas. Nestes casos, o homem pergunta a sua esposa se no bairro ao
na aldeia h homem que tem tido tendncia de lhe conquistar. Se mulher dizer que h
um homem no bairro que gosta muito dela, o esposo diz sua esposa para que v e se
oferea a ele de modos a que te conquiste. O esposo diz a sua esposa para que pelos
menos aceite fazer sexo duas vezes com o tal amante. Quando tiverem que fazer sexo
pela terceira vez, a esposa deve dar informaes precisas ao marido para facilitar que
os apanhe em flagrante com o amante. Depois de os apanhar, o caso levado ao soba.
Como o senhor apanhado em flagrante da aldeia e conhece o esposo da mulher com
quem se envolveu, diz-se que se esta perante um caso de ukoy com os ps sujos. O
esposo recebe de ukoy 10 ou 15 bois. Do numero de bois recebidos, o esposo tem
obrigao de dar metade sua esposa. Por regra a esposa deve guardar os seus bois na
sua famlia.

Porque que mulher deve guardar os bois na sua famlia?


Na cultura nhaneca no h comunho de bens. Mesmo o cultivo no campo,
nunca conjunto. A esposa tem a sua lavra, e o esposo tem a sua. Durante a vigncia do
matrimnio a famlia come do produto do celeiro da mulher. O celeiro do esposo no
deve ser utilizado. O produto do esposo serve para negcios e comprar bens de casa. O
homem deve apenas dar um pouco de mantimento famlia de casa em casos de
grandes estiagens.
Quando o homem vende milho do seu celeiro para dar de vestir a famlia de casa,
ele deve tomar notas destes gastos. Mesmo em casos de estiagens, quando o homem d
mantimento famlia de casa, ele deve anotar e guardar tudo na memria.
Se um dia o casal tiver que divorciar-se, o homem exige que lhe seja pago todos
gastos que foi fazendo. Os homens pedem que lhes sejam devolvidos at aqueles gastos
feitos a partir do dia em que este se apresentou oficialmente famlia da noiva, os
gastos feitos no alambamento que em geral um boi, incluindo os gastos feitos na festa
do casamento.

23
Importa dizer que na cultura nhaneca os filhos so da mulher, por isso as
despesas que o pai vai fazendo para a sade dos filhos, devem pesar no bolso da
mulher, e so exigidos de volta em caso de divrcio.
Em geral, a famlia do homem (especialmente os sobrinhos) controla os seus
bens para herdarem em caso de morte.
A mulher utilizada de isca para o homem acumular riqueza, mas em caso
de divorcio, os homens querem que elas saam de casa quase nuas.
Por isso uma mulher deve guardar na sua famlia os seus bois resultantes do
ukoy.

A mulher utilizada como isca para arrecadar riquezas, quer pelos esposos
quer pela sua prpria famlia Disse a nossa entrevistada.

Importa dizer que a senhora que prestou esta informao, nhaneca.

Ela disse: Em 1970 o meu esposo teve que ausentar-se da vila para frequentar
um curso em Benguela. Como o meu esposo teria que ficar muito tempo fora de casa,
eu tive que ir morar em casa da minha tia. Duas semanas depois, a minha tia chamou-
me e disse: Minha filha, quando vieste c, eu j estava contente porque esperava ter
alguns panos. Agora passam j duas semanas, mas, no vejo nenhum papa (amante) a
vir te procurar
Geralmente os amantes oferecem sempre alguns bens aos familiares (a me e a
tia) das amantes.
Os homens podem fazer de isca as suas esposas de outra maneira. Ex:
A tempos chegaram a Direco Provincial da Famlia e Promoo da Mulher um
caso de um homem que encontrou pela terceira vez a sua esposa com um mesmo
homem. Pela primeira e segunda vez que o senhor os apanhou; o amante pagou o ukoy.
Mas, pela terceira vez o amante disse que no pagaria mais ukoy. O caso foi tratado ao
nvel de um dos municpios junto de sobas e autoridades tradicionais, mas o indivduo
apanhado em flagrante dizia sempre: eu no pago o ukoy pela terceira vez. Foi assim
que o caso foi transferido Direco provincial. Mas, o senhor dizia que no pagaria
pela terceira vez.
Depois de muitas interrogaes, percebeu-se o esposo daquela mulher tinha
outras esposas ( polgamo) e no conseguia satisfazer sexualmente todas as esposas.
As necessidades que um homem tem, so as mesmas que as das mulheres. Logo, para
satisfazer as suas necessidades sexuais, aquela mulher teve que arranjar um amante .
Ento a direco provincial disse para o senhor que queria ser pago pela terceira
vez: Este homem que dormiu com a sua mulher vai pagar-te o terceiro boi, isto no
problema. Mas a sua esposa tambm vai ter de pagar trs bois a esposa do senhor que
dormiu com a sua esposa. Voc ests ofendido, mas esposa do senhor tambm esta
lesada, pelo que tem direito a indemnizao e a sua esposa vai ter que paga-la trs bois.
O senhor que reclamava ser pago, disse: a minha esposa no tem bois para pagar.
A Funcionaria do MINFAMU disse-lhe: se a tua esposa no tem bois para pagar
a outra, onde que este senhor vai tirar o terceiro boi para te pagar? Chefe de Seco
na Direco provincial do MINFAMU

24
IX. 3. Chefe de Departamento do MINFAMU

Os problemas de ukoy no so resolvidos pelo Ministrio da Famlia e Promoo


da Mulher e quando estes casos chegam no MINFAMU, so encaminhados s
autoridades tradicionais. O MINFAMU guia-se pelo Cdigo da Famlia. E no Cdigo da
Famlia no se encontra nada sobre o ukoy. At porque a Lei Constitucional de Angola
defende a monogamia (um esposo e uma esposa)
O ukoy algo da nossa cultura e no se pode negar que ele existe. O MINFAMU
defende que se os homens so pagos ukoy quando as esposas so apanhadas em
adultrio, as esposas cujos maridos foram apanhadas a adulterar tambm devem ser
pagas. Ou seja, o homem paga ukoy ao homem lesado. Da mesma maneira a mulher que
adultera com o esposo da outra, tambm deve pagar ukoy a outra mulher.

A questo de infidelidade conjugal, um caso que merece uma anlise muito sria.
preciso perceber porque que as mulheres casadas adulteram.
H mulheres cujos maridos tm e lhes do boas condies materiais e financeiras,
mas, mesmo assim ainda elas arranjam ou aceitam amantes. O que que no vai bem?
preciso ir ao fundo das coisas para percebe-las.
Hoje h homens que tm trs ou quatro empregos, e ganham bem. E do condies
as esposas. Do aulas em dois ou trs colgios e a noite so estudantes. Aos fins de
semanas esto ligados a Internet preocupados em escrever teses de fimde curso ou
doutoramento. Em casa no tm tempo para prestar ateno os filhos porque o trabalho
demasiado. E quando vo a cama s espantam de manha, e esto logo a correr porque
s pensam no trabalho. Claro so efeitos da globalizao.
Quando a esposa diz ao companheiro para descansar um pouco, ele responde: se eu
no trabalhar vocs vo comer o qu? Pensas que os teus dezasseis mil que ganham na
funo pblica sustentam a casa?
Os homens se esquecem que para alm de darem uma boa casa, um bom carro ou
boa alimentao, as mulheres tm o seu lado afectivo. Precisam de ateno e um pouco
de carinho. Hoje o corre e corre pela vida, faz com que os homens se esqueam do lado
afectivo das esposas. As mulheres no casam apenas porque querem uma boa casa ou
boas condies. Alias, muitas mulheres vem de famlias onde estas condies j
existem. Casam-se, porque precisam de afecto, de carinha e ateno especial de um
homem que possa ama-la. Quando no encontram este lado nos lares, elas buscam-no
fora.
Os angolanos no discutem abertamente os seus problemas mais srios e mais
ntimos ou sentimentais. Se perguntarmos as mulheres, quando h relaes sexuais nos
lares quem toma a iniciativa? A maioria das mulheres responderia que a iniciativa tem
sido sempre dos homens. E se perguntssemos porque que vocs no tomam a
iniciativa para fazer sexo; elas diriam que mete vergonha pedir ao marido para fazer
sexo. Mas, as mulheres tem necessidades biolgicas, logo, tambm gostam de fazer
sexo. Porm tm receio de pedir aos maridos quando lhes apetece faze-lo. Este um
problema srio que deve ser discutido nos lares para evitar muitos casos de infidelidade
conjugal.
Agora imaginemos! Um homem que est sempre ocupado. D aulas em trs
colgios, director na escola pblica e como se no bastasse, a noite vai escola, e s

25
volta as 23 horas completamente cansado. Aos fins de semanas esta a investigar ou a
preparar os planos de aulas para a semana seguinte. Se de um lado est esposa que tem
necessidades afectivas por satisfazer, de outro esta um marido que esta sempre ocupado
e nem tem tempo para pensar na mulher. A possibilidade de infidelidade comea ali.
A mulher espera que o marido tome a iniciativa para fazer sexo. E este nunca est
interessado em fazer. E de outro lado a mulher v-se a braos com algum que esta
sempre a conquista-la na rua no trabalho, na escola etc, algum que quer preencher um
vazio que nem sequer sabe que existe nesta mulher: No se esqueam que a necessidade
afectiva est ali, ali dentro dela todos os dias. Talvez dali a infidelidade no meio urbano.
Claro, como j disse so os efeitos da globalizao.

Chegou aqui na Direco Provincial do MINFAMU um casal que vive junto a 50


anos. Os ancios chegaram porque a esposa dizia que tinham que divorciar-se. O marido
lhe tinha ofendido gravemente. A velha dizia que durante os 50 anos nunca o esposo lhe
tinha ofendido daquela maneira. Mas, a velha no queria dizer a ofensa que tinha
recebido do esposo. Porque segundo ela, a pessoa que estava a ouvi-las no MINFAMU,
tinha a idade de sua filha mais nova. Assim o casal decidiu sair do edifcio com a
deciso de divorciarem-se naquele dia. Mas, quando iam descendo as escadas, a velha
decidiu voltar e explicar a ofensa que esposo lhe tinha feito.
Ela disse, minha filha estou zangada, vivo com este teu pai a 50 anos. Nos
encontramos moos, e nunca conheci um outro homem. Ontem o meu esposo disse-me:
estas to velha to velha que at na hora de fazer sexo entro com cabea e as pernas.
Estou velha porque tenho a idade que tenho e j temos dez filhos. O meu desgaste
vaginal tem haver com o nmero de partos que fiz com ele. Acontece que o meu esposo
encontrou por ali uma velhinha cuja vagina est bem conservada, e veio me ofender
desta maneira.

26
1 Exemplo
Certa vez, a esposa de um senhor, cujo casal j tem uma idade considervel e que ate
gozam de muita confiana na Igreja, na famlia, no bairro e no loca de trabalho comeou a
lamentar do seu relacionamento no lar. Ela dizia que estava a pensar divorciar-se.
Amiga lhe perguntava sempre porque que que voc pensa em divorciara-se uma
vez que sois um casal bem feliz na rua, em casa e no local de trabalho? Porque o casal era
tido como exemplar e conselheiro de muitos outros lares na Igreja e na famlia.
Um dia a amiga quebrou o receio e decidiu a contar tudo a amiga. Ela comeou
assim:
Somos um casal feliz, nunca brigamos, e muitos tm-nos como um casal exemplar o
que at me orgulha. Mas que o meu esposo to ocupado que no tem muito tempo para
mim. De dia vai trabalhar, a noite esta est sempre a escrever. Em casa ele fica ligado ao
seu computador at quase a madrugada. Eu vou a cama e l fico toda fria a espera que ele
venha. Quando ele vem cama fica s um pouco j manh. Isso j leva algum tempo.
Nos meses de frio isto irritante. J vamos seis meses que no temos contacto sexual,
porque ele s pensa no trabalho e passa quase toda a noite ligado seu computador.
Eu no penso em infidelidade conjugal, at porque j somos idosos. Por isso, penso
em divorciar-se do meu esposo. Mas, fico tambm a pensar no eventual homem que hei
de encontrar. No ser ele um seropositivo e arruinar a minha vida? Fazer sexo com
algum fora quando toda gente sabe que tenho o meu marido, uma loucura que nem
posso fazer. Mas, estou cansada viver assim.
_

A nossa interlocutora disse que h maneiras das mulheres se manterem fisicamente


conservadas por muito tempo. Talvez aquela velha nunca tinha aprendido, nem nunca
conversaram sobre higiene corporal no lar. Este mais um indicador de que os casais
devem conversar sobre vrios assuntos da sua vida conjugal. E preciso que se prestem
ateno mutuamente. Os tempos so trabalhosos, todos procuramos ter dois ou trs
empregos e como no bastasse ainda queremos ia a escola terminar a faculdade. Mas, no
meio de tudo isso preciso que cada uma das partes saiba que temos necessidades
econmicas e necessidades afectivas, de carinha e precisamos dar ateno uns aos
outros.
H quem comete infidelidade por ter mesmo necessidades econmicas. Ela precisa
um emprego, mas no tem possibilidade de consegui-lo. Precisa pagar propinas no
colgio, mas no tem recursos. So casos que no podemos ignora-los. Existem estes
problemas. H muito que fazer na nossa sociedade

Para complementar o seu ponto de vista a senhora contou duas experincias:

2 Exemplo
Houve aqui na nossa cidade um casal que vivia junto a j bom tempo. Mas, um dia
o esposo encontrou a sua esposa com outro homem. O esposo ficou to zangado que no

27
pensou em outra coisa seno o divrcio. At parece ter lgica.
A esposa humildemente disse: J que pedes divorcio, eu aceito. Mas, como somos
verdadeiramente casados, o caso tem que ser decidido pelo Tribunal.
Foi assim que o casal se apresentou ao Tribunal. A esposa dizia que j que o esposo
insiste em divrcio, ela concordava. Ela estava pronta a sair de casa, mas que o esposo
ficasse com a responsabilidade de sustentar os filhos, se estes fossem com ela. O esposo
dizia que o culpado por toda situao negativa era a esposa, por isso ela deveria assumir
as consequncias resultantes da infidelidade conjugal.
Depois do juzo analisar profundamente o caso, o Tribunal decidiu pelo divorcio, j
que o marido insistia sempre nisso. O tribunal achou que a esposa que cometeu o
adultrio tinha o direito de ficar com a casa e os filhos. E o esposo teve que sair.

O que ter levado a esposa a cometer o adultrio no se sabe. Porque que que o
tribunal decidiu a favor da mulher, tambm no se sabe.
A nossa entrevistada terminou dizendo: H muito que se diga sobre a infidelidade
conjugal. Nem sempre as mulheres vo fora porque so viciadas, elas tm o seu lado
afectivo, h causas que as pessoas nunca procuram saber
Chefe de Departamento do MINFAMU na Huila

IX. 4. Directora Provincial do Departamento da Cultura na Huila e professora


Universitria

Em entrevista concedida a Doutora Marcelina Gomes, Directora Provncia do


Departamento da Cultura na provinca da Huila. Ela comeou de um modo pessoal a
dizer que ao falar sobre a maneira como praticado o ukoy, no se deve generalizar.
Para ela pessoalmente, quando falamos de ukoy na perspectiva dos nhanecas, preciso
compreender que no mesmo quando se fala dos mumuila, handas, muquilengues,
muquipungo, mungambue ou humbi. Embora todos estes subgrupos tratiquem o ukoy,
preciso saber que h especificidades em cada um deles.
Do ponto de vista da Doutora Marcelina, ukoy uma penalizao que se aplica a um
individuo que tenha se envolvido sexualmente com a esposa de outro. Esta
indemnizao apenas para amenizar o estado de tenso que o dono da esposa sente
pela falta de respeito e infidelidade havido. O estado de tenso s amenizado e
ultrapassado quando o infractor pagar o Ukoy. Geralmente o ukoy nunca passa de dois
bois. O numero de bois a pagar depende muito da humildade e reconhecimento do erro
por parte de quem cometeu. Porm o normal paga-se um boi. E pode se dizer que o boi
que o individuo paga apenas um valor simblico, porque o boi na cultura nhaneca no
significa apenas o acumular de riquezas. Ele tem um valor que vai para l da riqueza.
Por isso na cultura deste povo o boi s se deve matar quando houver motivos de fundo
que o justifiquem.

O pagamento do ukoy no uma oportunidade de acumular riqueza por parte de quem


o recebe. O ukoy foi sempre um momento carregado de grande tristeza e pesar quer da
parte de quem paga, quer de quem recebe e at da prpria mulher apanhada em
adultrio. Geralmente a cerimonia pblica.
um momento de tristeza para quem paga, porque ao pagar ele reconhece
publicamente que pecou contra algum, pecou contra os princpios culturais que
concorrem para a harmonia na comunidade. Por um acto praticado em poucos minutos

28
ele perde a considerao que gozava na comunidade e deve pagar o boi (geralmente o
boi tem grande valor e significado na famlia e no deve sair sem o consentimento dos
mais velhos da famlia). O individuo tido publicamente como algum que no tem
respeito pela propriedade alheia. Doravante passa a ser visto como um atrevido e
conquistador de mulheres de outros, e um suma um suspeita na comunidade.

O ukoy pesado tambm para quem recebe o boi, porque ele assumi publicamente que
aceita continuar a viver com a mulher que lhe foi infiel, ele est aceita-la
independentemente das consequncias resultantes da relao extraconjugal que ela
teve. Ao receber o boi ele est a dizer publicamente que perdoou a esposa e o amante e,
est a prometer publicamente nunca mais falar do assunto. Porque quando se recebe o
boi, o assunto esta completamente arrumado e nunca em circunstancia alguma pode ser
evocado.
Tambm pesado para a mulher que cometeu porque sente-se bastante humilhada.
Quando o amante paga o boi ela est a assumir publicamente que ela uma adltera.
Ela est comprometer at a imagem da sua prpria famlia. E a sociedade toda saber
que ela foi infiel perante o esposo. A nossa entrevistada que para alm de ter estudado
profundamente os hbitos e costumes dos povos nhaneca, muhanda e muquipungo, ela
j assistiu alguns destes momentos. Segundo a Doutora Marcelina , a cerimonia de
ukoy nunca foi um momento de alegria, alias, at h pessoas que choram e raramente
voltam a praticar o mesmo erro.

O caso de haver homens que aliciam suas esposas a assediar algum para poderem
obter riqueza, isto no tradicional nas nossas culturas. Isto algo que comea
aparecer agora por interesses comerciais e no se pode dizer que faz parte da tradio.
Isso uma influncia de pessoas do meio urbano ou com apetncia de ser rico. Do
ponto de vista tradicional uma mulher apanhada mais de duas vezes, j no se est
perante um caso de adultrio, isto j prostituio. E no vulgar nas comunidades
rurais.
E se uma mulher for apanhada mais de duas vezes preciso procurar saber ao fundo a
questo. Eventualmente haja um problema no casal. Porque o ukoy tradicionalmente
falando algo muito triste e pesado quer para quem recebe quer para quem paga e at
para a prpria mulher. Um homem normal nunca aceitaria receber ukoy duas vezes.

VANTAGENS
Nas comunidades nhanecas e outros subgrupos onde praticado o ukoy, pode
facilmente se ver que isto apresenta muitas vantagens.
Eis algumas:
Casamentos so mais durveis
As pessoas cultivam a capacidade de perdoar
As pessoas aprendem a ser humildes (ganham a conscincia de reconhecer que
praticaram algo errado e devem pagar pelos seus erros),
H muito respeito pela vida (ningum mata o outro pelo facto lhe ter
encontrado com a sua esposa)

AS MULHERES DEVEM PAGAR UKOY AS OUTRAS?

No. preciso compreender que o ukoy no uma questo comercial, onde o homem

29
servisse da mulher para ganhar bois. Isto no faz parte da cultura do povo nhaneca nem
de outros subgrupos. O ukoy uma indemnizao que se d para ultrapassar o erro
cometido e manter a harmonia na comunidade. um momento de tristeza e acima de
tudo um momento de perdoar algum que pecou. Logo seria incoerente que as
mulheres tivessem que ser pagas. Porque o homem que recebe o boi nunca fica feliz
pelo facto da esposa ter cometido adultrio. Ele aceita-a como esposa para manter a
unio da famlia tendo em conta que os filhos no podem sofrer pelo erro que a me
cometeu. Geralmente o homem no obrigado a pedir ukoy. Quando acontece uma
infidelidade conjugal, perguntasse ao homem se quer perdoar a sua esposa. Da mesma
maneira perguntasse a esposa se quer ficar com o amante com que foi apanhada ou
prefere continuar a viver com o seu esposo. Mas, por causa dos filhos e da
considerao que as famlias de ambos os lados tm uma pela outra, o homem
aconselhado a perdoar a sua esposa.
Mas se a esposa decidir que deve ficar com o amante, a comunidade aceita. s que
nestes casos o amante no paga apenas o ukoy, paga tambm o OVITELE, ou seja
paga todos os gastos que o esposo foi fazendo durante o tempo que viveu com a esposa,
(isto raramente acontece porque acarreta muitas despesas, como se no bastasse os
filhos sofrem por uma situao da qual no so culpados)

Qualquer alterao que se possa fazer que leve as mulheres a pagarem as outras
mulheres pelo danos morais causados ao envolver-se com o esposo da outra, deve
nascer da situao de desenvolvimento da prpria cultura. Deve surgir a partir das
prprias comunidades e no deve ser importado do ocidente nem deve ser uma
influencia das pessoas que vivem mo meio urbano. As pessoas das cidades vivem um
estilo de vida ocidental, e devem deixar que as comunidades rurais vivam as suas vidas
deixando que a prpria situao cultural evolua. As comunidades rurais devem viver o
que melhor para si.
A nossa Lei do ponto de vista antropolgico, algo herdado do colonialismo e nalguns
casos copiado de outros pases cujo contexto nada tem haver com o nosso. Antes do
colonialismo chegar j tnhamos a nossa forma de organizao, tnhamos as nossas Leis
Autctones (Direito Consuetudinrio) que regiam e regulavam a vida nas nossas
comunidades. Felizmente, hoje o Ministrio da Justia j reconhece a existncia destas
Leis Autctones. E j tem conscincia de que a actual Lei positiva no suficiente para
regular a vida nas comunidades rurais.
As sociedades so dinmicas, as culturas evoluem. preciso dar tempo ao tempo para
que a necessidade e conscincia de mudana comea das prprias comunidades.
Ensinar que as mulheres devem pagar ukoy as outras mulheres, estaramos a impor as
comunidades, tal como o colonialismo nos imps a suas Leis. Basta ver que nas cidades
onde impera a Lei positiva (importada ou copiada) a infidelidade conjugal
caracterizada por violncia e morte, o que no acontece no meio rural. Nas cidades o
respeito pela vida um valor que se vai perdendo aceleradamente.
Neste momento no coerente que se diga que uma mulher deve pagar ukoy a outra
mulher.

DIREITOS IGUAIS
Direitos iguais significa que cada um no lar deve cumprir as suas responsabilidades. E
nos igualdade no sentido dizer: j que o homem faz, eu tambm devo fazer. O homem
nunca ser igual a mulher e vice-versa. Mas todos podem e devem ter igualdade de
oportunidades de formao, emprego, salrios iguais entre outras coisas.

30
A POLIGAMIA NO SINNIMO DE EXPLORAO DAS MULHERES
Nas comunidades tradicionais, a poligamia no uma questo de explorao do homem
em relao a mulher. S tem mais de uma mulher, o homem que j tem bens. Nenhuma
famlia no meio rural aceita que sua filha se v casar com um homem que no tem
meios para sustenta-la. E quando uma mulher e sua famlia aceitam ser a segunda
mulher, porque a primeira mulher do senhor vive bem. A poligamia sinal de
prestgio, honra e respeito. Um homem que consegue ter duas ou trs mulheres a sua
volta porque prestvel e socivel. Este homem consegue sustentar as pessoas.
E uma mulher idosa, no se sentiria feliz ser a nica esposa de seu marido, isto pode
ate significar que ela no social, no prestvel. Quando um homem procura a
segunda mulher, a primeira sente mais honrada e respeitada e passa a chamar-se Tempo
Ye Umbo o que significa dizer que ela a dona do quimbo ou seja a Primeira-dama.
Ela a esposa legtima e a nica para sair com o esposo em grandes eventos ou
cerimnias especiais.
No como acontece no meio urbano em que quando o homem arranja a segunda
mulher, abandona a primeira at se esquece de que tem filhos por sustentar. A
poligamia nunca foi uma explorao do homem em relao as mulheres. Se hoje forem
s comunidades rurais, vai se constatar que todo homem pobre tem apenas uma mulher.
S casa duas mulheres o homem que tem recursos para sustenta-las.

XI. SUMARIO

Objectivo da pesquisa: Obter informaes aos vrios nveis (literatura acadmicos,


sobas) para
perceber ate que ponto o Ukoy serve para aumentar a desigualdade entre homens e
mulheres

Resultados:
1. Obtido uma diversidade de informaes sobre o ukoy tendo em conta a
diversidade dos subgrupos etnolingustico, mas, que todas elas levam a perceber
que h preconceitos errados sobre o ukoy,
2. Percebido que a maioria dos angolanos vivem com padres duplos e, que uma
abordagem sobre o gnero unicamente na perspectiva do enfoque de cima para
baixo(a partir das convenes e protocolos internacionais, regionais e nacionais)

31
no coerente;
3. Obtido informaes que permitem a ASY incluir a abordagem sobre o Gnero
nas comunidades em que trabalha.

Desafio:
1. Continuar com a Pesquisa, ouvindo pessoas de outros municpios afastados do
Lubango
2. Transformar a informao obtida em conhecimentos (ACCES) atravs de
Projectos concretos.

XII. LIMITAES E DIFICULDADES


Foi necessrio estudos preliminares para perceber o estado de evoluo do Ukoy
na regio, tendo contactado acadmicos, estudantes e investigadores.
Tendo em conta que este trabalho apenas uma experincia piloto realizado na
base de um conjunto de formaes que fomos recebendo da ATOL e de outros
processos, acreditamos que faltou ouvir mais autoridades tradicionais. O projecto de
Pesquisa-Acao foi concebido inicialmente para trabalhar na comunidade do Poiares,
porm como o ukoy praticado em quase 80% da provncia da Huila e considerando os
diferentes subgrupos que temos na regio, houve necessidade de auscultar outras
pessoas fora da comunidade do Poiares. Tambm tivemos que auscultar as autoridades
tradicionais e acadmicos no municpio sede do Lubango, as algumas autoridades
tradicionais da Humpata.
Para um trabalho completo seria preciso que a pesquisa levasse mais tempo e
abrangesse outros municpios da provncia para perceber melhor a questo. ps que
alongo das nossas entrevistas aos Sobas, tambm constamos que h Sobas que no
sabem profundamente o ukoy. Talvez a existncias de variantes dentre do mesmo grupo
etnolingustico esteja na base desta diferena e ignorncia.
Pela razoes acima referenciadas acreditasse que este trabalho seja ainda
superficial, e gostaramos fazer um trabalho mais aturado em prximos tempos caso os
meios e circunstancias permitam.
No faltaram dificuldades e podemos apontar em primeira instancia a falta de
material corrente (Impressora, papel, transporte e suporte logstico)

XIII. CONCLUSES
O processo de pesquisa foi um momento importante na medida em que permitiu
obter muitos conhecimentos do tema escolhido e simultaneamente fazer novos amigos
ao longo das s entrevistas. Inicialmente, at supnhamos que sabamos o suficiente mas,
a medida que fomos caminhando ficamos percebendo que a aprendizagem pela aco
o melhor mtodo de aprender. Em muitos casos ficamos surpresos ao perceber que
pessoas que lidam diariamente com o ukoy, sabiam muito pouco sobre o assunto.
Tambm foi possvel perceber que os diferentes pontos de vistas sobre um mesmo
assunto, tem haver com o facto dos diferentes sub grupos Nhanecas apresentarem
especificidades concretas quer na sua estruturao quer na filosofia por detrs de tais
procedimentos.
Gostaramos continuar com o processo, focalizando-se a cada um dos diferentes
sub grupos etnolingusticos e se possvel abranger outras provncias onde se presente a
cultura do Ukoy, para melhor perceber as questes de Gnero e elaborar propostas de

32
Projectos na base de uma Pesquisa real no qual deveramos trabalhar com outros actores
governamentais e no s.
Sendo uma primeira experincia, estamos abertos a contribuies para enriquecer
o nosso trabalho.

XIV. AGRADECIMENTOS

O nosso especial agradecimento a ATOL no s por ter promovido este processo


de formao mais tambm pelos recursos financeiros colocados a disposio das
Organizaes envolvidas no processo. Podemos afirmar sem sombra de duvida que a
Formao sobre Gesto de Conhecimentos, para alm de ser um grande desafio na sua
execuo, trouxe muitas inovaes na maneira de trabalhar e se relacionar com as
nossas comunidades focais. A nossa gratido especial a senhora Caroo, que mesmo
quando estando fora de Angola nunca deixou de prestar ateno ao evoluir do nosso
trabalho enviando sempre alguns subsdios metodolgicos que permitiram dar mais
alento ao processo.
Sem laivos de hipocrisia, agradecemos o apoio prestado pela SNV, em especial o
senhor Guilherme Santos que teve a responsabilidade de orientar e dinamizar as
Organizaes envolvidas no processo de Pesquisa-Acao atravs do apoio
metodolgico, tcnico, bibliogrfica e moral ao longo de todo processo. Estes
agradecimentos so extensivos todo pessoal administrativo da SNV pelo acolhimento
e ateno que nos tm prestado, sobretudo nos ltimos dias.
Tambm queremos de forma especial agradece ao senhor Antnio Cebola consultor
lingustico - pela correco de todas verses que antecederam ao relatrio final e pelo
material bibliogrfico que foi de muita impotncia para a estruturao do Relatrio.

Igualmente equipa agradecer a colaborao de todos quantos deram o seu contributo


para a realizao do estudo nas diferentes povoaes e comunas do municpio do
Lubango, e muito especialmente aos Sobas que se predispuseram e colaboraram dando
parte do seu tempo para partilhar a preciosa informao de que dispunham de modos a
que pudssemos compreender e conhecer alguns hbitos e costumes da nossa terra.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADAS
1.
2. Igualdade de Gnero em Angola
3. Livro de Carlos Sternman
4. Entrevistas Sobas e actores sociais
5. Entrevista com acadmicos

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