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Dicionrio enciclopdico ilustrado trilnge da lngua de sinais brasileira 197

Dicionrio enciclopdico ilustrado trilnge da lngua


de sinais brasileira

CAPOVILLA, Fernando Csar; RAPHAEL, Walkria


Duarte (Ed). Dicionrio enciclopdico ilustrado trilnge da
lngua de sinais brasileira. 2. ed. Ilustraes de Silvana
Marques. So Paulo: USP/Imprensa Oficial do Estado,
2001.v. I: sinais de A a L e v. II: sinais de M a Z.

Resenhado por Enilde Faulstich*

O Dicionrio Enciclopdico Ilustrado Trilnge da Lngua de Sinais


Brasileira uma obra complexa porque procura dar conta no s da
proposta lexicogrfica em trs lnguas, portugus, ingls e libras, mas
tambm de uma srie de textos com diretrizes relativas educao e surdez
e tecnologia em surdez, constituindo-se, portanto, em um misto de
dicionrio e de manual descritivo-explicativo. uma obra com relevante
contribuio aos que se interessam pelo estudo da educao de Surdos e
queles que se aperfeioam no ensino de Libras no Brasil. O trabalho de
pesquisa e de construo do dicionrio foi feito por pesquisadores ouvintes
com a colaborao de profissionais Surdos e seguiu um ritual de atividades
que envolveu etapas, tais como:
 busca de consenso sobre a forma precisa de conjuntos de sinais;
 produo de ilustraes e descries quirmicas;
 registro em SignWriting;
 elaborao de definies semnticas;
 indicao de classificao gramatical;
 incluso de exemplos de uso funcional para cada um dos sinais e
 validao de cada detalhe de cada sinal.
A obra, em dois volumes, apresenta peculiaridade de estrutura no
que diz respeito dicionarstica. O primeiro volume, com 832 pginas,

* Doutora em Filologia e Lngua Portuguesa pela Universidade de So Paulo, Ps-doutorado


em Lingstica e Polticas Lingsticas pela Universit Laval de Qubec, Canad.

PERSPECTIVA, Florianpolis, v. 24, n. Especial, p. 197-201, jul./dez. 2006 http://www.perspectiva.ufsc.br


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apresenta nas 126 primeiras, alm da folha de rosto com informaes de


praxe ttulo, volume, sinais de a a l, edio, autores e editoras , uma
biografia breve dos editores Fernando Csar Capovilla e Walkria Duarte
Raphael; seguem a estas informaes a equipe editorial, muito bem
detalhada, o sumrio, a dedicatria, os agradecimentos, trs apresentaes
da obra, escritas por especialistas dedicados rea da surdez, trechos de
cartas acerca do Dicionrio, resumo, abstract e prefcio. Na seqncia destas
informaes vm os captulos introdutrios com informaes
paralexicogrficas de grande relevncia para os usurios do dicionrio.
Na parte dedicada a explicitar o uso do dicionrio, os autores
explicam com detalhes a composio dos verbetes, bem como a
funcionalidade de cada informao posta dentro dessa microestrutura que
constitui, de fato, o Dicionrio Ilustrado Trilnge. Segue o Alfabeto manual
da Libras, nmeros em Libras e formas adicionais de mo usadas em Libras.
Com o intuito de bem informar o leitor, os autores apresentam o
texto Como ler e escrever os sinais da Libras: a escrita visual direta de sinais SignWriting,
no qual procuram contextualizar o Sistema de Escrita Visual Direta de Sinais
como instrumento que permite escrever e ler os sinais da Lngua de Sinais
Brasileira com vistas ao desenvolvimento cognitivo das crianas surdas. A
riqueza de informao e o detalhe na descrio dos movimentos com as
mos fazem desta parte da obra de Capovilla e Raphael um exemplar
manual de uma gramtica que contempla um sistema de escrita de
movimentos.
No segundo volume, encontram-se ainda, aps o lxico descrito,
captulos de educao em Surdez, denominados, respectivamente, A evoluo
nas abordagens educao da criana surda: do oralismo comunicao total, e desta ao
bilingismo, em que Capovilla rev alguns fatores psicossociais e concepes
histricas acerca da Surdez, assim como demonstra resultado de anlise de
dados de pesquisa que auxiliam a compreender alguns motivos subjacentes
mudana de orientao do oralismo comunicao total e desta ao
bilingismo, observada na filosofia educacional em relao ao Surdo ao
longo de um perodo de mais de 120 anos (p. 1489). Seguem-se captulos
sobre A escrita visual direta de sinais SignWriting e seu lugar na educao da criana
Surda, Compreendendo o processamento do cdigo alfabtico: como entender os erros de
leitura e escrita das crianas Surdas.
Na seqncia, ao final do Dicionrio, encontram-se captulos de
tecnologia em Surdez que abrangem O implante coclear em questo: benefcios e

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problemas, promessas e riscos, texto de carter avaliativo, explicativo e didtico.


Em outro captulo, trata do SignoFone: sistema computadorizado de sinais
animados e falantes da Libras, selecionveis pelo piscar, para
telecomunicao de Surdos e comunicao do Surdo paralisado com o
ouvinte. Neste captulo, os autores descrevem o sistema de multimdia
SignoFone, baseado nos sinais animados da Libras, que pode ser usado
por Surdos para comunicao face a face nas formas sinalizada, escrita e
falada, e para telecomunicao em rede local e Internet (p. 1572). No captulo
seguinte BuscaSigno: sistema computadorizado de busca quirmica da
Libras que recupera sinais por configurao de mo e no verbete ou
classe semntica os autores descrevem o prottipo do sistema
computadorizado que permite ao usurio Surdo localizar, diretamente,
qualquer um dentre milhares de sinais da Libras.
O segundo volume, que vai da pgina 849 a 1620, contm, ao final,
copiosa e atualizada bibliografia, em portugus e em lnguas estrangeiras,
voltada para os contedos expostos no dicionrio, que serve aos propsitos
de qualquer um que pretenda conhecer, profundamente, o universo da
Educao e da Surdez.
De acordo com os contedos expostos, pode-se afirmar que os
dois volumes contm diversas obras dentro de uma s, que acabou por
ser denominada Dicionrio. H textos paralexicogrficos e
metalexicogrficos que ampliam enormemente o objeto e o objetivo
lexicogrfico em si que , de fato, o dicionrio. Os textos paralexicogrficos
do conta das informaes bsicas e necessrias para o uso efetivo de um
dicionrio, tais como, apresentao da obra, prefcio, bibliografia; os
metalexicogrficos procuram informar acerca dos dicionrios com base
em sua histria, estrutura, tipologia, metodologia, entre outros aspectos,
diretamente relacionados forma de lexicografar as palavras sob descrio.
O Dicionrio em referncia vai muito alm disso, pois apresenta textos
mais afetos psicologia, informtica especializada em surdez, sade
relativa audio do que lexicografia das palavras selecionadas para
compor um dicionrio. Observe-se que h, eventualmente, alguma
discrepncia entre o registro do ttulo de um captulo no sumrio e no
lugar em que aparece.
No que se refere efetivamente ao tratamento lexicogrfico, o Dicio-
nrio Trilnge segue a forma de organizao dos dicionrios tradicionais,
em que as palavras ou entradas so expostas seqencialmente em ordem

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alfabtica. E no caso especfico do Dicionrio de Capovilla e Raphael, a


entrada se d pelo portugus, cuja seqncia alfabtica , conseqentemente,
a do portugus. Essa opo dos autores torna o dicionrio uma obra de
consulta para falantes do portugus ou para Surdos que tm pleno domnio
do portugus. Assim sendo, no um dicionrio dirigido para a
comunidade Surda escolar que aprende ou que vai aprender o portugus,
mas para ouvintes que j dominam nossa lngua e sabem procurar a palavra
na ordem do portugus; secundariamente identificam a palavra escrita em
portugus com o sinal de libras e, depois, encontram o equivalente em
ingls. Depois disso, na organizao estrutural do verbete, aparecem a
categoria gramatical e o gnero da entrada em portugus; aps vem a
definio ou sinnimo, sendo que este, muitas vezes, aparece no lugar da
definio, primordialmente quando a entrada um verbo. Os autores incluem
contextos que servem para demonstrar como a palavra usada no
portugus, porm nem sempre a frase funcional, nem sempre cumpre
com a funo de demonstrar como se usa tal palavra porque uma
parfrase da definio. Vale observar que esses contextos so, por vezes,
de construo complexa cuja compreenso torna-se difcil at mesmo para
um falante adulto do portugus que tenha um bom domnio da lngua.
Pela estrutura dos verbetes possvel considerar o Dicionrio mais
de natureza bilnge portugus-libras do que, efetivamente, trilnge
portugus-ingls-libras, pois a palavra do portugus aparece seguida pela
definio, enquanto a do ingls aparece como palavra equivalente, sem
definio e acompanhada de outras palavras que nos deixam a dvida se
so palavras sinnimas entre si ou da entrada em portugus. E, como a
Lngua Brasileira de Sinais somente brasileira, possivelmente os sinais
correspondentes no sirvam para o ingls, que acaba por ser equivalente
somente do portugus. Ao final de cada verbete, os autores descrevem a
configurao das mos como um indicativo para a realizao do sinal;
acredita-se que essa informao seria melhor aproveitada se fosse registrada
aps as figuras que desenham o movimento em libras.
As definies em portugus nem sempre satisfazem a boa tcnica
lexicogrfica, ou porque so compilaes de definies defeituosas j
apresentadas em nossos dicionrios tradicionais, como se encontra em
muitos casos nas definies de substantivos e adjetivos, ou porque listam
uma srie de sinnimos, como ocorre primordialmente com os verbos
e com alguns adjetivos.

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Em sntese, convm acentuar que os dois grossos volumes do


Dicionrio Enciclopdico Ilustrado Trilnge da Lngua de Sinais Brasileira
uma obra de referncia que serve a todos aqueles que querem penetrar
no universo da educao de Surdos, bem como a quem quer compreender
de que aparatos se servem os docentes para o ensino de lnguas e os
discentes, alvo de adequada aprendizagem, seguindo os procedimentos
que as novas tecnologias oferecem.

Referncias
BJOINT, Henri; THOIRON, Philipe. Les dictionnaires bilnges. Bruxelles:
Aupelf-Uref Editions Duculot, 1996
FAULSTICH, Enilde. Produo lexicogrfica no Brasil no Brasil e suas
finalidades em funo do pblico alvo. In: CABRAL, Amlcar (Org.). Le
portugais, langue internationale. Canad, Universit de Montreal, Les
publications du Centre de Langue Patrimoniales, 1994.
SALLES, H. et al. Ensino de lngua portuguesa para surdos: caminhos para a
prtica pedaggica. Braslia: MEC/SEESP, 2003.

Enilde Faulstich
Universidade de Braslia
Campus Universitrio Darcy Ribeiro, ICC
Norte, Mdulo 20, Subsolo Asa Norte
CEP: 70910-900 Braslia DF
Telefone: (61) 3307 2740
Fax: (61) 3273 3681 Recebido em: 27/06/2006
E-mail: [email protected] Aprovado em: 20/08/2006

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