Desenvolvimento Sustentavel
Desenvolvimento Sustentavel
Desenvolvimento Sustentavel
Resumo
O texto a seguir foi construído através de pesquisa bibliográfica e documental.
Objetiva resgatar alguns movimentos históricos e reflexões teóricas que deram origem
ao conceito de desenvolvimento sustentável. O tema será abordado, contrapondo
diferentes interpretações. Pretende-se, assim, visibilizar a controvérsia em torno do
assunto e convidar para a reflexão criativa e contextualizada sobre o mesmo. Assim,
Meadows destaca a importância das questões ambientais no planejamento econômico e
sugere a estagnação como estratégia de recuperação ambiental. Trata-se de uma
abordagem a partir do “primeiro mundo”. O contraponto deste enfoque é dado pelo
Clube de Bariloche, que inscreve as perspectivas terceiromundistas neste debate.
Outro eixo do debate concentra-se em torno do ecodesenvolvimento, que gravita
em torno dos problemas ambientais e sociais das regiões rurais da Ásia, África e América
Latina, explicando o subdesenvolvimento a partir das relações de exploração praticadas
pelos países ricos. A Declaração de Cocoyok vai por outro caminho, centrando o foco nas
limitações locais e inerentes aos próprios países. Somam-se a estes, uma variedade de
debates vinculados predominantemente ao enfoque do tema proposto pela ONU. O que
se observa neste percurso é que o desenvolvimento sustentável é uma demanda do atual
modelo de produção das sociedades capitalistas. São abordadas então perspectivas
alternativas que discordam da perpetuação deste sistema socialmente injusto.
Introdução
O termo desenvolvimento sustentável foi utilizado pela primeira vez em 1987, no
Relatório de Brundtland, produzido pela Organização das Nações Unidas (ONU), com a
seguinte definição: “Desenvolvimento sustentável é desenvolvimento que satisfaz as
necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as futuras gerações
satisfazerem as suas próprias necessidades” (appud BRÜSEKE, 1995). Esta nova
proposta de desenvolvimento aponta medidas globais para solucionar problemas de
degradação ambiental, de modo a evitar o colapso de um sistema de produção. A
temática convida a repensar o modelo econômico utilizado por quase todos os países, as
conseqüências sociais e ambientais daí decorrentes e o modo como o documento
produzido pela ONU pensa solucionar tais problemas, ou evitar que se agravem. Para
refletir sobre estes assuntos é imprescindível que se faça uma discussão sobre a relação
global & local. O texto a seguir pretende resgatar alguns movimentos históricos e
reflexões teóricas que deram origem ao conceito. Estes serão tratados na forma de
tensões, através da contraposição de interesses diferentes. Pretende-se ainda contribuir
com idéias alternativas a forma como a problemática está mundialmente posta.
3
A Declaração de Cocoyok resultou de uma reunião da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio-
Desenvolvimento) e do UNEP (Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas), em 1974.
civil e iniciativa privada deve abordar a inter-relação dos três fatores para delinear um
desenvolvimento mais sadio e sustentável.
O relatório apresenta uma lista de medidas a serem seguidas mundialmente: a)
limitação do crescimento populacional, b) garantia da alimantação a longo prazo, c)
preservação da biodiversidade e dos ecossistemas; d) diminuição do consumo de energia
e desenvolvimento das tecnologias que admitem o uso de fontes energéticas renováveis;
e) aumento da produção industrial nos países não-industrializados à base de tecnologias
ecologicamente adaptadas, f) controle da urbanização selvagem e integração entre
campo e cidades menores; g) as necessidades básicas devem ser satisfeitas h) as
organizações do desenvolvimento devem adotar a estratégia do desenvolvimento
sustentável; i) a comunidade internacional deve proteger os ecossistemas
supranacionais; j) guerras devem ser banidas; k) a ONU deve implantar um programa de
desenvolvimento sustentável (appud Brüseke, 1995).
Após a incumbência da ONU de elaboração de um programa de desenvolvimento
sustentável, seguiram-se várias conferências mundiais que abordaram temas relativos à
economia, política, sociedade e meio ambiente. Entre elas destacam-se: Rio de Janeiro
(1992), Nova York ou Rio+5 (1997) e a de Johannesburgo ou Rio+10 (2002). Assim,
depois de 20 anos de discussões, firma-se a entrada da questão ambiental nos debates
sobre política econômica.
É interessante observar o movimento de estudos e teorias acadêmicas a respeito
da crise econômica, sócio-política e ambiental diagnosticada, até se chegar a um plano
político mundial a ser desenvolvido pela ONU. Neste percurso, as críticas severas feitas
às grandes economias industriais por autores como Strong foram habilidosamente
contornadas por esforços diplomáticos para se chegar ao desenvolvimento sustentável,
que deve ser mundialmente implantado. Isto não significa, porém, que o movimento de
tensões em relação a esta temática tenha cessado. Muito pelo contrário: a formalização
da proposta e a visibilidade que lhe foi conferida, suscitam inúmeros debates sobre a
questão, envolvendo inclusive mais áreas acadêmicas, coma a História, a Geografia e a
Sociologia.
Um aspecto não considerado no relatório de Brundtland, é que a democratização
desta discussão envolve a contraposição de interesses de diferentes países e de distintas
camadas da sociedade. A ONU assume mais uma vez o discurso da neutralidade,
presente desde de sua fundação, e coloca a implantação da proposta como um bem para
toda humanidade. É claro que o relatório aponta alguns avanços, mas não abrange a
complexidade da temática, na medida em que aponta metas globais, que não
possibilitam problematização.
O que parece, num primeiro momento, uma política que deverá ser construída com
a base local revela-se, através do relatório de Brundtland, como um conjunto de medidas
imposto globalmente para cada localidade.
O Brasil, que efetivamente participou das conferências mundiais, agora é sede de
muitos debates, que, em certa medida, criticam o “desenvolvimento sustentável”, da
forma como é definido pelos órgãos da ONU e as políticas de sua implantação.
Para a análise destas críticas cabe ainda verificar como o desenvolvimento
regional sustentável é abordado em uma publicação recente da ONU (da comissão
CEPAL)4, de autoria de Jimenez (2002).
Neste documento a depredação ambiental em países em desenvolvimento é
explicada principalmente pela exploração demasiada dos recursos naturais. Tratam-se de
países exportadores primários. O documento da CEPAL admite a mesma justificativa
dada pelo relatório de Cocoyok (questão discutida na 2a. tensão) e avança na
problemática, quando propõe um caminho para a superexploração dos recursos naturais:
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CEPAL: Comissão Econômica para a América Latina - comissão pertencente ao Conselho Econômico e Social da ONU
a solução apontada, na ótica da ONU de “desenvolvimento regional sustentável”, é a
industrialização destes países.
“Una manera de revertir el encadenamiento perverso apertura-exportación de
recursos naturales-mayor vulnerabilidad ambiental, sería mediante el
procesamiento e industrialización de dichos recursos (...)”(JIMÉNEZ, 2002, p.25)
Considerações finais
Os debates sobre “desenvolvimento sustentável” realizados até então permitem
que se reflita sobre a relação entre ser humano e natureza e também sobre a relação dos
seres humanos entre si. É preciso, porém, como alerta Diegues (1992), fazer esforços
para que esta discussão não se foque na primeira relação, ser humano e natureza,
resultando apenas em “conservação ambiental entendida em sua dimensão mais restrita,
isto é, a luta contra poluição gerada pelo sistema sócio-econômico”, de forma a
perpetuar uma lógica de consumo, poluição, e preocupação somente com um futuro
imediato.
Na perspectiva de refletir sobre as relações humanas, que o “desenvolvimento
sustentável” também trás, está a possibilidade de uma real mudança. Neste sentido, a
Universidade pode desempenhar um papel fundamental, já que é espaço de ensino,
produção de conhecimento e reflexão. Quando estas dimensões acadêmicas estão
ligadas ao espaço social no qual se insere a instituição, a Universidade se torna lugar de
ressignificar conhecimentos, para que estes interajam com e mudem a realidade local. A
Universidade, neste sentido se torna um espaço de resistência a forma como o
“desenvolvimento sustentável” está globalmente posto, e se torna o centro de gestação
de uma nova cultura, uma nova política, de novas relações do ser humano com a
natureza e de relações dos seres humanos entre si.